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Título da disciplina Teoria Constitucional e Direitos Fundamentais Conceitos e classificações da Constituição Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os principais conceitos sobre a Constituição, sua classificação e suas espécies. 1 Teoria Geral da Constituição Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito • Direito constitucional é um conjunto de normas fundamentais que institui o Estado e regem a sociedade, localizado no vértice da pirâmide jurídica e é um ramo do direito público. • Constituição é o foco central do direito constitucional, envolvendo normas fundamentais que estabelecem a instituição do Estado e a vida em sociedade. • O direito público abrange a relação entre o Estado e a sociedade, e o direito constitucional é uma de suas vertentes principais. • O estatuto do direito constitucional se deu através de ideias liberais com o objetivo de limitar a intervenção do Estado na vida privada, mas atualmente regula diversos direitos e prestações positivas do Estado. Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito • O direito constitucional é elaborado a partir de três vertentes: • Todas as outras áreas do direito se relacionam com o direito constitucional, uma vez que todas as leis e atos normativos devem obedecer à Constituição para serem válidas. Direito constitucional positivo (ou especial) É o estudo das normas constitucionais positivadas em determinado ordenamento jurídico. Direito constitucional comparado É o estudo comparativo entre a Constituição brasileira e a de outros países, a fim de compreender o contexto do Brasil e dos seus institutos jurídicos. Direito constitucional geral É o estudo da teoria de Direito constitucional, especialmente dos conceitos e institutos que fundamentam essa disciplina. Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito • Relação do direito constitucional com outras disciplinas jurídicas: Estuda normas constitucionais sobre a administração pública. Direito Administrativo Aborda competências tributárias e limitações constitucionais ao poder de tributar. Direito Tributário Observa os direitos e garantias fundamentais da Constituição no âmbito civil. Direito Civil Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito Considere as garantias como o devido processo legal e a ampla defesa presente na Constituição. Direito Processual Civil Estuda garantias fundamentais relacionadas à liberdade humana, como a garantia de certas penas. Direito Penal Analisa garantias processuais no âmbito penal, como as regras de prisão. Direito Processual Penal Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito Contempla os direitos trabalhistas como direitos sociais na Constituição. Direito do Trabalho Aplicação de garantias processuais ao processo trabalhista. Direito Processual do Trabalho Princípios asseguram às relações internacionais e regras para atuação internacional do Brasil. Direito Internacional Conceito de direito constitucional e suas relações com outros ramos do direito A Seguridade Social é regulada na Constituição, influenciando o estudo da disciplina. Direito Previdenciário Estuda o Direito ambiental constitucional a partir do art. 225 da Constituição. Direito Ambiental Constitucionalismo e neoconstitucionalismo • Constitucionalismo é o movimento de criação de Constituições como normas básicas para o convívio em sociedade. • Existem três fases principais do Constitucionalismo: Antigo São os registros longínquos de normas bases, principalmente não escritas, que limitavam o poder político do Estado em sociedades antigas. Moderno Começou com a Revolução Francesa e a Revolução Americana, introduzindo as primeiras Constituições escritas com limites claros ao poder do Estado e foco na liberdade individual. Contemporâneo É marcado pela ampliação das Constituições na garantia de direitos, incluindo direitos sociais, tornando o Estado mais proativo na sociedade. Constitucionalismo e neoconstitucionalismo • O neoconstitucionalismo é uma nova abordagem do papel da Constituição no sistema jurídico, considerando-a como norma fundamental de todas as normas e com força normativa para resolver casos concretos. • Os marcos do Neoconstitucionalismo, ou seja, os pontos de partida do surgimento, de sua origem, são: Marco histórico Desenvolvimento do Estado Constitucional de Direito no pós-guerra. Marco filosófico Pós-positivismo, centralidade dos direitos fundamentais e reaproximação de Direito e Ética. Marco teórico Conjunto de mudanças que contribuiu para a nova interpretação constitucional (força normativa da Constituição). Constitucionalismo e neoconstitucionalismo • O neoconstitucionalismo atribui força normativa à norma constitucional e busca aproximar o Direito da Ética. • Constitucionalização do Direito é o processo de considerar a Constituição Federal como parâmetro máximo do ordenamento jurídico, abrangendo todos os ramos do Direito. • Luís Roberto Barroso destaca que a Constituição ocupa o centro do sistema jurídico, com supremacia material e axiológica, filtrando toda a legislação infraconstitucional. Isso é chamado de constitucionalização do Direito. Conceito e origem da Constituição • Constituição tem múltiplas acepções e é entendida sob dois pontos de vista. Confira! Ponto de vista político A Constituição é considerada uma decisão política fundamental sobre o poder político, os direitos fundamentais e outros aspectos essenciais relacionados à vida em sociedade. Ponto de vista jurídico Esse ponto de vista é dividido em dois tópicos. No primeiro ponto, a Constituição é entendida em sentido material como o conjunto de normas que organizam a vida em sociedade e, no segundo ponto, no seu sentido formal, como a norma superior que fundamenta a validade das demais leis. Conceito e origem da Constituição • O Brasil adota o modelo de considerar todas as normas da Constituição em sentido formal, independentemente do seu conteúdo. • A Constituição cria ou reconstrói o Estado, organizando e limitando o poder político, estabelecendo direitos fundamentais e regulando as normas que integram a ordem jurídica. • As primeiras Constituições escritas surgiram na "Era das Revoluções", baseadas nos valores do Iluminismo e com o objetivo de limitar o poder do Estado e assegurar direitos fundamentais. • A primeira Constituição brasileira foi promulgada em 1824, sendo sucedida por outras que ampliaram direitos e garantias ao longo do tempo. • Com a Emenda Constitucional nº 45/2004, tratados e convenções internacionais com o mesmo quórum de votação das emendas constitucionais passaram a ser considerados normas constitucionais, constituindo o chamado "bloco de constitucionalidade". Concepções sobre a constituição A doutrina ao longo do tempo tentou explicar o conceito e a natureza da Constituição. As concepções a seguir merecem destaque. Confira! Sentido sociológico A Constituição corresponde à somatória dos fatores reais de poder dentro da sociedade, as normas constitucionais são aquilo que se aplica de fato na vida social. Sentido sociológico A Constituição é composta apenas pelas normas relativas à decisão política fundamental do Estado, havendo hierarquia entre Constituição e "Lei Constitucional". Concepções sobre a constituição Sentido jurídico A norma constitucional corresponde ao "dever ser", relacionada à estrutura formal do direito, distanciando-se de aspectos sociológicos, políticos e filosóficos. Sentido culturalista A Constituição é resultado de um fato cultural e engloba elementos históricos, sociais, racionais, fatores reais e espirituais presentes na sociedade. Concepções sobre a constituição Confira os principais teóricos das concepções apresentadas. Veja! Ferdinand Lassalle, inspirou o Sentidointerventiva é proposta pelo procurador-geral da Justiça e julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado. • A decisão da representação interventiva tem caráter político-administrativo e não é passível de recurso extraordinário ou controle político. Estado de defesa e estado de sítio Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais características e diferenças do estado de defesa e de sítio. 2 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio Defesa do Estado e das instituições democráticas: aspectos introdutórios • O Presidente da República pode decretar estado de defesa ou estado de sítio para manter ou restabelecer a ordem constitucional em momentos de anormalidades. • Esses instrumentos são induzidos e têm como objetivo proteger a ordem pública e a paz social. • A decretação desses instrumentos deve obedecer a procedimentos como excepcionalidade, taxatividade, temporariedade, cooperação geográfica, sujeição a controle, publicidade e proporcionalidade. • Os instrumentos podem restringir alguns direitos fundamentais, mas o Poder Judiciário pode reprimir abusos e ilegalidades durante o estado de crise por meio de mandado de segurança ou habeas corpus, desde que dentro dos limites estabelecidos. Estado de defesa • O estado de defesa é uma medida temporária destinada a preservar ou restabelecer a ordem pública ou a paz social em locais restritos e certos. • A decretação do estado de defesa é realizada pelo Presidente da República, após consulta ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa Nacional, mas suas opiniões não são vinculativas. • O decreto do estado de defesa deve determinar sua duração, a área abrangida e as medidas coercitivas que vigorarão durante sua vigência. • As medidas coercitivas podem restringir alguns direitos fundamentais, como reunião, sigilo de correspondência e comunicação, além de permitir a prisão por crime contra o Estado. Estado de defesa • O estado de defesa pode ser objeto de controle político pelo Congresso Nacional e por uma comissão da Mesa do Congresso, controle jurisdicional por meio de mandado de segurança ou habeas corpus, e controle jurisdicional sucessivo para responsabilizar executores por crimes cometidos durante o estado de defesa. • É possível que o Poder Judiciário faça controle jurisdicional imediato em casos de abuso de direito ou desvio de intenção na decretação do estado de defesa, embora isso seja considerado excepcional. • O estado de defesa tem duração máxima de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30 dias uma única vez, mantendo-se as razões para sua decretação. • As medidas coercitivas não podem ser aplicadas de forma generalizada, mas sim em locais restritos e certos. Estado de sítio • O estado de sítio é uma medida temporária mais grave que o estado de defesa, podendo ser decretado em três hipóteses: comoção grave de repercussão nacional, ineficácia de medida durante o estado de defesa, ou declaração de guerra ou resposta a agressão estrangeira. • A decretação do estado de sítio é feita pelo Presidente da República, após ouvir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, e requer autorização prévia do Congresso Nacional. • Se o Congresso Nacional autorizar o estado de sítio, o Presidente poderá ou não decretá-lo, pois possui discricionariedade política. • Se o Congresso reprovar o estado de sítio, o Presidente não poderá decretá- lo pelo mesmo motivo, sob pena de crime de responsabilidade. Estado de sítio • O decreto do estado de sítio deve conter a duração da medida, conforme as normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais que serão suspensas. • Durante o estado de sítio, podem ser adotadas medidas coercitivas mais duras, divididas em razão das hipóteses de decretação. • O estado de sítio também pode ser objeto de controle político e jurisdicional, com controle prévio, concomitante e sucessivo pelo Congresso Nacional, e controle concomitante e sucessivo pelo Poder Judiciário. • O estado de sítio pode ser decretado por até 30 dias, podendo ser prorrogado por prazo igual em uma única vez, exceto no caso de declaração de guerra ou agressão armada estrangeira, que pode durar enquanto perdurar a situação. Atribuições das Forças Armadas e da Segurança Pública Ao final deste módulo, você será capaz de listar as atribuições das Forças Armadas e da segurança pública. 3 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio Forças Armadas • As Forças Armadas são reconhecidas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica e têm como finalidade a defesa da pátria, a garantia dos poderes constitucionais e a manutenção da lei e da ordem. • O Presidente da República é a autoridade suprema das Forças Armadas, sendo responsável por nomear os comandantes da Marinha, Aeronáutica e do Exército, promover oficiais-generais e nomeá-los para cargas privativas. • A base das Forças Armadas é a superior e a disciplina, com aplicação de superioridade disciplinares administrativas a militares de baixa autoridade. • O art.. 142, § 3º da CF/88 disposições provisórios para militares, incluindo patentes, reservas, proibições, direitos complementares e outras questões relativas à carreira militar. Forças Armadas • O ingresso nas Forças Armadas é regulado por lei, que define os limites de idade, estabilidade, remuneração, deveres, direitos e outras condições específicas da carreira. • As Forças Armadas podem ser empregadas na garantia da lei e da ordem em casos admitidos, de forma secundária e eventual, após esgotados os instrumentos previstos no art. 144 da CF/88. • Não cabe habeas corpus em relação a punições disciplinares militares, e existe a previsão constitucional do serviço militar obrigatório com algumas garantidas. • As mulheres e os eclesiásticos são dispensados do serviço militar obrigatório em tempos de paz, e é possível o serviço alternativo para aqueles que alegarem imperativo de consciência no alistamento eleitoral. Segurança pública • A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e busca preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio. • É constituído por cinco órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis e Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. • A polícia administrativa atua de forma preventiva e é representada pelas polícias federais, rodoviárias federais e federais, bem como pelos corpos de bombeiros e polícias militares estaduais. • A polícia judiciária atua de forma repressiva e é representada pelas polícias federais e estaduais (polícia civil). • A Polícia Federal é organizada em carreira, com diversas atribuições, como apurar infrações penais e reprimir o tráfico de drogas. Segurança pública • A Polícia Rodoviária Federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo das rodovias federais e também tem carreira estruturada. • A Polícia Ferroviária Federal ainda não possui um plano de carreira definido. • A segurança pública estadual é atribuída às polícias civis, militares e ao corpo de bombeiros, organizadas e mantidas pelos estados, mas observando as normas gerais da União. • As autoridades do Distrito Federal e municípios também são regidas por normas federais, sendo organizadas e mantidas pela União. • A segurança viária é competência dos estados, Distrito Federal e municípios, que devem realizar a educação, engenharia e fiscalização do trânsito para assegurar a mobilidade urbana eficiente. TEORIA CONSTITUCIONAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS Slide 1 Teoria geral da constituição - Módulo 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Teoria geral da constituição - Módulo 2 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Teoria geral da constituição - Módulo 3 Slide 28 Slide 29 Slide30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Poder constituinte e princípios fundamentais da constituição - Módulo 1 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47 Slide 48 Slide 49 Slide 50 Slide 51 Slide 52 Slide 53 Slide 54 Slide 55 Poder constituinte e princípios fundamentais da constituição - Módulo 2 Slide 56 Slide 57 Slide 58 Slide 59 Slide 60 Slide 61 Slide 62 Slide 63 Slide 64 Slide 65 Slide 66 Slide 67 Slide 68 Direitos fundamentais - Módulo 1 Slide 69 Slide 70 Slide 71 Slide 72 Slide 73 Slide 74 Slide 75 Slide 76 Slide 77 Slide 78 Slide 79 Direitos fundamentais - Módulo 2 Slide 80 Slide 81 Slide 82 Slide 83 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação - Módulo 1 Slide 84 Slide 85 Slide 86 Slide 87 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação - Módulo 2 Slide 88 Slide 89 Slide 90 Slide 91 Slide 92 Slide 93 Slide 94 Slide 95 Slide 96 Slide 97 Slide 98 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação - Módulo 3 Slide 99 Slide 100 Slide 101 Slide 102 Slide 103 Slide 104 Slide 105 Slide 106 Slide 107 Slide 108 Slide 109 Slide 110 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio - Módulo 1 Slide 111 Slide 112 Slide 113 Slide 114 Slide 115 Slide 116 Slide 117 Slide 118 Slide 119 Slide 120 Slide 121 Slide 122 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio - Módulo 2 Slide 123 Slide 124 Slide 125 Slide 126 Slide 127 Slide 128 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio - Módulo 3 Slide 129 Slide 130 Slide 131 Slide 132 Slide 133sociológico. Carl Schmitt, inspirou o Sentido sociológico. Hans Kelsen, inspirou o Sentido jurídico. Espécies de constituição A doutrina classifica os tipos de Constituição de diversas maneiras, partindo sempre de critérios específicos, a fim de categorizá-los. Vejamos! • Espécies de Constituição segundo a origem: Outorgada, Promulgada, Cesarista, Pactuada. • Espécies de Constituição segundo a alterabilidade: Rígida, Flexível, Transitoriamente flexível, Semirrígida, Super-rígida, Fixa, Imutável. • Espécies de Constituição segundo o conteúdo: Material, Formal. • Espécies de Constituição segundo a extensão: Sintética, Analítica. • Espécies de Constituição segundo a forma: Escrita, Costumeira. • Espécies de Constituição segundo a maneira de criação: Dogmática, Histórica. Espécies de constituição • Espécies de Constituição segundo a sistemática: Reduzida, Variada. • Espécies de Constituição segundo a dogmática: Ortodoxa, Eclética/Compromissória. • Espécies de Constituição segundo a representação da realidade ou a conformidade da realidade: Normativa, Nominalista, Semântica. • Espécies de Constituição segundo o sistema: Principiológica, Preceitual. • Espécies de Constituição segundo a função: Provisória, Definitiva. • Espécies de Constituição segundo o início de sua promulgação: Heterônoma, Autônoma. Espécies de constituição Além dessas classificações, vale ainda destacar três nomenclaturas utilizadas pelos autores: Constituição garantia Restringe o poder do Estado, criando áreas de não inserção do poder público na vida dos indivíduos. Constituição balanço Estabelece um degrau de evolução ideológica da vida em sociedade. Constituição dirigente /compromissória Estabelece um projeto de Estado, com programas e projetos, com a finalidade de alcançar certos ideais políticos. Aqui são elencadas muitas das normas de eficácia programática. Supremacia da constituição Pirâmide representando a estrutura jurídica. • Constituição brasileira é concebida sob o ponto de vista formal, sendo norma jurídica constitucional toda aquela que integre o texto constitucional, na forma definida. • A estrutura jurídica da Constituição confere validade a todo o sistema, subordinando legislação e atos normativos infralegais ao seu teor. • No ordenamento jurídico brasileiro, a rigidez da Constituição exige um processo mais sofisticado e dificultoso para modificar suas normas, caracterizando sua supremacia formal em relação a outras normas infraconstitucionais. Categorias de normas constitucionais Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as diversas categorias de normas constitucionais. 2 Teoria Geral da Constituição Espécies de normas constitucionais • Normas constitucionais não estão apenas no texto principal da Constituição, mas também em emendas constitucionais (ECs), atos das disposições constitucionais transitórias (ADCT) e tratados/convenções internacionais sobre direitos humanos. • As ECs podem modificar o texto da Constituição e incluir artigos isolados que se tornam normas constitucionais. • Os artigos do ADCT são considerados normas constitucionais e possuem o mesmo nível hierárquico da Constituição. • Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo Congresso Nacional, têm equivalência às emendas constitucionais. • A reunião dessas normas é conhecida como "bloco de constitucionalidade", que serve como parâmetro de constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro. Classificações das normas As normas constitucionais podem ser classificadas a partir de diversos tipos, de acordo com o critério adotado pelo doutrinador. Aqui, especificamente, apresentaremos algumas classificações indicadas no livro Curso de Direito constitucional contemporâneo, de Luís Roberto Barroso. Normas constitucionais: No mais alto grau hierárquico do ordenamento jurídico. Normas infraconstitucionais: Leis e atos normativos abaixo da Constituição e devem ser compatíveis com ela. Classificação segundo a hierarquia Normas de ordem pública: Não podem ser afastadas por convenção das partes. Normas de ordem privada: Podem ser afastadas por autonomia da vontade das partes. Classificação segundo a imperatividade Classificações das normas Normas preceptivas: Estabelecem uma obrigação ou ação positiva. Normas proibitivas: Proíbem um comportamento ou ação. Normas permissivas: Estabelecem faculdade ou direito a alguém. Classificação segundo a natureza do comando Normas de conduta: Regulam comportamentos, estabelecendo ações, proibições ou faculdades. Normas de organização: Estabelecem a estrutura e organização, como a criação de órgãos e atribuição de competências. Classificação segundo a estrutura do enunciado normativo Eficácia e efetividade das normas Eficácia plena A regra constitucional possui uma eficácia originária, que independe de regulamentação e não pode ser restringida. Eficácia contida A eficácia da norma inicia totalmente (plena), mas pode ser contida, com o passar do tempo, pelo legislador ordinário. Eficácia limitada A eficácia da norma inicia limitadamente, mas pode ser ampliada com uma regulamentação legal. As normas constitucionais também são classificadas quanto à eficácia. Vejamos como José Afonso da Silva (2012) as classifica. Confira! Eficácia e efetividade das normas • Essas normas exigem a edição de um ato normativo para produzirem seus efeitos. • A Constituição permite uma ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) no STF, mas somente os legítimos constitucionalmente podem propô-la. • As normas constitucionais de eficácia limitada não produzem a totalidade dos seus efeitos enquanto reguladas, elas possuem dois efeitos mínimos, descritos a seguir. Efeito revogador Com a edição da norma constitucional de eficácia limitada, ficam revogadas todas as normas anteriores e contrárias ao seu texto. Efeito inibidor Não poderão ser editadas leis futuras retirando o Direito constitucional que foi assegurado pela norma constitucional de eficácia limitada, sob pena de inconstitucionalidade. Eficácia e efetividade das normas Também é importante saber que, segundo a doutrina, a normatização da eficácia limitada se subdivide nas normas descritas a seguir. Normas definidoras de princípios institutivos Criam estruturas, órgãos e entidades, que, para existir, dependem de lei (ex.: arts. 33, 88, 91, § 2º). Normas definidoras de princípios programáticos Estabelecem programas (ações) para o Estado, dependendo de lei para que tenham aplicação prática. A Constituição apenas traça princípios que devem ser cumpridos pelos seus órgãos (arts. 3º, 7º, XX, XXVII, 173, § 4º, 196, 205, 216, § 3º, 217). Interpretação constitucional e seus princípios Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os critérios de destaque da interpretação constitucional e seus princípios. 3 Teoria Geral da Constituição Interpretação jurídica e constitucional • A interpretação jurídica é praticada no âmbito da hermenêutica e segue princípios e métodos específicos. • A compreensão das normas jurídicas não pode ser feita ao arbítrio de qualquer pessoa. • No Direito constitucional, é necessário identificar princípios e métodos próprios de interpretação devido à natureza das normas constitucionais. • Inocêncio Mártires Coelho destaca a diferença entre Lei e Constituição, especialmente a estrutura normativa-material das cartas políticas, que compreende os chamados direitos fundamentais. • As normas constitucionais têm um texto mais aberto em comparação com as leis em geral, pois são a base fundamental do ordenamento jurídico. • A doutrina busca estabelecer diretrizes específicas para a interpretação das normas constitucionais, além das diretrizes gerais do Direito. Princípios e métodos de interpretação da Constituição Vamos abordar os princípios e métodos usados na interpretação constitucional. Os princípios são diretrizes que ajudam o interpretara dar sentido às normas. Já os métodos podem ser entendidos como caminhos utilizados para chegar a uma conclusão na interpretação. A seguir veremos os princípios utilizados para interpretar a Constituição. Confira! É guiada por princípios que o intérprete deve considerar ao atribuir significado à Constituição. Esses princípios são compilados a seguir pela doutrina. Princípios de interpretação constitucional Princípios e métodos de interpretação da Constituição A Constituição possui supremacia hierárquica em relação a todas as outras normas, sendo o topo da pirâmide normativa. O intérprete deve sempre levar em conta esse status hierárquico das normas constitucionais ao atribuir significado às mesmas. A declaração de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos incompatíveis com a Constituição reforça essa supremacia. Portanto, ao interpretar as normas constitucionais, o objetivo é garantir o sentido que assegura sua posição no topo da autoridade normativa. Princípio da supremacia da Constituição É um princípio que orienta a aplicação das normas infraconstitucionais de acordo com o texto constitucional. O Supremo Tribunal Federal (STF) utiliza essa técnica compatível em seus julgados para atribuir às leis e atos normativos o sentido com as normas da Constituição. Princípio da interpretação conforme a Constituição Princípios e métodos de interpretação da Constituição Assume que todas as leis em vigor são consideradas constitucionais até que se prove o contrário. O intérprete deve presumir que as leis são compatíveis com a Constituição que sejam impugnadas até de meios apropriados, como a ADI. Embora exista essa presunção, o Poder Judiciário pode declarar a inconstitucionalidade de leis, tornando-as nulas retroativamente (ex tunc). No entanto, é possível modular os efeitos dessa decisão com base na Lei nº 9.868/99, permitindo efeitos prospectivos ou retroativos em casos de inconstitucionalidade. Princípio da presunção de constitucionalidade das leis Destaca que a norma constitucional deve ser interpretada como um todo coeso e ordenado, sem contradições. Em caso de conflito entre normas constitucionais, a técnica de ponderação deve ser aplicada para encontrar a solução mais adequada, considerando a proporcionalidade e razoabilidade. O intérprete deve buscar sempre a compatibilização dos preceitos do texto constitucional, não analisando os artigos de forma educativa. Princípio da unidade da Constituição Princípios e métodos de interpretação da Constituição Busca harmonizar os bens constitucionais protegidos, evitando negar alguma garantia da Constituição. Em conflitos entre direitos (exemplo: direito à vida e liberdade religiosa), o intérprete deve buscar uma solução equilibrada e conciliatória no caso específico. Princípio da concordância prática ou harmonização Orienta o interpretar a dar precedência à interpretação que torne as normas constitucionais concretas e eficazes. Mesmo em casos com linguagem aberta, o intérprete deve resolver com base nas normas constitucionais, atribuindo-lhes força normativa. Esse princípio está relacionado ao conceito de neoconstitucionalismo, onde a Constituição é central no ordenamento jurídico e deve ser conferida força normativa pelo intérprete ao analisar casos concretos. O objetivo é garantir a atualidade e permanência da Constituição como fonte principal do direito. Princípio da força normativa Princípios e métodos de interpretação da Constituição Ligado também ao princípio da força normativa, estabelece a orientação ao intérprete de buscar sempre extrair a maior aplicabilidade das normas constitucionais, sem modificação do seu teor. Nesse sentido, entre as interpretações possíveis, deve o intérprete optar pela que confira máxima efetividade na aplicação prática da norma constitucional. Princípio da máxima efetividade ou eficiência Orienta o intérprete a escolher, entre possíveis interpretações, aquela que promova a integração social e a unidade política, visando garantir uma coesão do sistema. Nesse sentido, deve o intérprete considerar os contextos social e político para encontrar uma solução que seja adequada não apenas do ponto de vista individual/subjetivo, mas também do ponto de vista mais amplo. Princípio do efeito integrador ou da eficácia integradora Princípios e métodos de interpretação da Constituição O princípio da estrita separação de poderes prevê que a interpretação deve preservar a estrutura organizacional do Estado, respeitando as atribuições dos poderes protegidos constitucionalmente. Ele orienta a evitar que se possa violar as competências de cada poder, de acordo com o princípio da independência e harmonia entre os Poderes da União: Legislativo, Executivo e Judiciário. Esse princípio está relacionado ao debate atual sobre "ativismo judicial" e levanta a questão do limite de atuação do Poder Judiciário. O intérprete deve buscar a conformidade funcional e apenas em suas tentativas, considerando a separação de poderes como base para a análise. Princípio da conformidade funcional ou da justeza Princípios e métodos de interpretação da Constituição A proporcionalidade e razoabilidade são os princípios extraídos do devido processo legal (art. 5º, LIV) e amplamente utilizados pelo STF e outros órgãos do Poder Judiciário. Eles têm origem no devido processo legal material, que busca garantir decisões justas e adequadas. Esses princípios são aplicados em três diretrizes: Adequação: A medida deve ser coletivamente para alcançar o objetivo desejado. Necessidade: A medida deve ser a menos restritiva possível. Proporcionalidade em sentido estrito: Os benefícios da medida devem ser maiores que seus custos. A ideia é que a proporcionalidade e razoabilidade levem a decisões mais justas em casos concretos, especialmente quando se trata de políticas públicas, onde o administrador deve optar pelo meio menos gravoso quando vários forem igualmente eficientes. Princípios da proporcionalidade e da razoabilidade Métodos de interpretação constitucional Além dos princípios, a interpretação constitucional também se vale de métodos específicos para chegar à conclusão nos casos concretos. • Método Jurídico ou Hermenêutico Clássico: Utiliza técnicas tradicionais de interpretação, como o método lógico, histórico e teleológico. • Método Tópico-Problemático: Parte dos problemas apresentados no caso concreto, busca no diálogo e encontra a solução mais adequada. • Método Hermenêutico-Concretizador: Parte da Constituição para o caso concreto, limitando a liberdade do intérprete pela norma e escolhendo a opção mais adequada. Métodos de interpretação constitucional • Método Científico-Espiritual: Leva em conta o contexto científico e espiritual da sociedade no momento da interpretação. • Método Normativo-Estruturante: Considera a estrutura da norma para sua aplicação prática. • Método de Comparação Constitucional: Comparação de ordenamentos jurídicos constitucionais de diferentes países. • Mutação Constitucional: Procedimento informal de mudança do sentido de disposições da Constituição, evoluindo com a dinâmica social e mudanças de interpretação. Exemplo: interpretação do art. 226, § 3º, da Constituição que permite a união homoafetiva. Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as caraterísticas do Poder Constituinte Originário e do Poder Constituinte Derivado. 1 Poder constituinte e princípios fundamentais da constituição Conceito de poder constituinte O Poder Constituinte é o poder de criar ou de mudar uma Constituição. Anterior a qualquer regulamentação jurídica, é conhecido por ser a autoridade suprema de um ordenamento jurídico. De acordo com a doutrina, o poder constituinte é dividido em: Estrutura do poder constituinte. Poder constituinte originário – conceito e características O Poder Constituinte Originário é um poder político supremo responsável por estabelecer a Constituiçãode um Estado. Inova na ordem jurídica com um diploma supremo: a Constituição. De acordo com a doutrina, o Poder Constituinte Originário manifesta-se por meio de: Deliberação O “nascimento” da Constituição é o resultado da deliberação formal de um grupo (Poder Constituinte Concentrado) ou por meio de um processo informal, como o modo de vida da sociedade de um país (Poder Constituinte Difuso). Manifestação Quando há a primeira manifestação do poder constituinte em uma Constituição (Poder Constituinte Histórico) ou quando ela é fruto de uma revolução (Poder Constituinte Revolucionário). Elaboração Quando definem o conteúdo da Constituição (Poder Constituinte Material), e logo em seguida a concretizam (Poder Constituinte Formal). Poder constituinte originário – conceito e características A natureza jurídica do Poder Constituinte Originário enfrenta duas correntes que analisam a sua relação precedente ou posterior à existência do Estado: Concepção jusnaturalista O Poder Constituinte Originário é considerado uma autonomia de direito, com base em uma fundamentação no Direito Natural. Este último é caracterizado por princípios morais e éticos que derivam da natureza humana e ideais de justiça, como direito à vida, liberdade e igualdade. O Poder Constituinte é anterior ao Estado e tem a função de organizá- lo através da Constituição. Concepção juspositivista Defende que não há como existir a possibilidade de se pensar o direito antes de uma preexistência do Estado. Portanto, o Poder Constituinte é tido como poder político. Importante destacar que esse é o pensamento que predomina. Poder constituinte originário – conceito e características • A titularidade do Poder Constituinte é do povo. O povo tem o poder de elaborar os contornos normativos de um Estado. • A legitimidade do Poder Constituinte é dividida do ponto de vista: Subjetivo Relaciona-se à titularidade (povo) e ao exercício do poder (Assembleia Nacional Constituinte). Objetivo Relaciona-se ao equilíbrio entre o conteúdo da Constituição e os anseios dos seus titulares. Poder constituinte originário – conceito e características Acerca do exercício do Poder Constituinte, é importante destacar as formas como ele poderá ser expresso. Existem duas possibilidades: Democrático indireto O povo escolhe representantes para elaborar a nova Constituição. Autocrático A Constituição é estabelecida por um indivíduo ou grupo sem participação popular. Poder constituinte originário – conceito e características A doutrina elenca como características do Poder Constituinte Originário: Inaugura a ordem jurídica, sendo a base da construção da ordem. Inicial Não há limitação por ordem jurídica anterior. Ilimitado Poder constituinte originário – conceito e características Não se submeta a procedimentos formais. Incondicionado Não se submeta a procedimentos formais. Autônomo Não se esgota na Constituição e pode ser exercido novamente em novas condições políticas. Permanente Poder constituinte originário – conceito e características De acordo com Jorge Miranda (2000), existem limitações materiais fora do direito positivo interno, sendo elas: Valores da sociedade se impõem à vontade do Estado (princípio da proibição do retrocesso). Transcendentes Limitações referentes à soberania ou à forma do Estado. Imanentes Provenientes de outros ordenamentos jurídicos, como as obrigações estabelecidas por meio de tratados internacionais. Heterônomos Poder constituinte originário – conceito e características • Existem debates sobre o respeito a normas precedentes pelo Poder Constituinte Originário, como o princípio da vedação ao retrocesso. • Em relação ao direito adquirido, algumas correntes entendem que não há direitos adquiridos em uma nova Constituição, mas a Constituição de 1988 assegura o direito adquirido como direito fundamental. • O Poder Constituinte Supranacional é uma questão discutida que envolve restrições impostas por organismos internacionais. Poder constituinte derivado – conceito e limitações • Poder Constituinte Originário é responsável por criar outros poderes limitados, também chamados de poderes constituídos. • Poder Constituinte Derivado é um poder de direito com características que limitam e condicionam sua atuação. • O Poder Constituinte Derivado se divide em três espécies: Reformador Tem o poder de alterar formalmente a Constituição, por meio de emendas, para atualizar o seu sentido e as suas disposições a novas vivências da sociedade. Revisor Revisão da Constituição depois de 5 anos de sua promulgação, conforme o Art. 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Já passou e não existe mais na atualidade. Decorrente Poder originário dos Estados membros de produzirem suas próprias Constituições. Poder constituinte derivado – conceito e limitações • Poder Constituinte Derivado Reformador (PCR) altera a Constituição por meio de emendas constitucionais. • A Constituição de 1988 é rígida, requisitos formulados mais robustos para a aprovação de emendas. • O PCR possui explicitamente: Poder Constituinte Derivado Reformador Procedimento legislativo formal e quesitos bem definidos para aprovação das emendas. Formais Impedem a alteração em certos assuntos (cláusulas pétreas). Materiais Impedem a alteração em situações específicas (vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio). Circunstanciais Poder constituinte derivado – conceito e limitações • Não há limites temporais na Constituição de 1988. • Existem também restrições implícitas decorrentes da interpretação sistemática constitucional, como a titularidade do Poder Constituinte e a preservação do mínimo existencial, mesmo que não expressamente mencionadas como cláusula pétrea. Poder Constituinte Derivado Reformador Poder constituinte derivado – conceito e limitações • Poder Constituinte Derivado Revisor (PCR) refere-se à revisão do texto constitucional. • O PCR foi instituído pelo Art. 3º do ADCT, podendo ser exercido uma única vez, cinco anos após a promulgação do Texto Constitucional. • A revisão requer o voto da maioria absoluta do Congresso Nacional em sessão unicameral. • O PCR possui delimitação: Poder Constituinte Derivado Revisor A revisão só pode ocorrer uma vez, após cinco anos da promulgação da Constituição. Limitação temporal O procedimento de revisão é menos rígido que o de reforma, aprovado pela maioria absoluta do Congresso Nacional em sessão unicameral. Limitação formal Os materiais delimitados e circunstanciais do Poder Reformador também se aplicam ao PCR. Limitação material e circunstancial Poder constituinte derivado – conceito e limitações • Poder Constituinte Derivado Decorrente (PCD) é um poder de direito dos Estados-membros para criar suas próprias Constituições. • Os Estados têm autonomia para se organizar, mas devem obedecer à Constituição Federal de 1988. • Existem três correntes sobre a natureza do PCD: inicial e inaugural nos Estados, decorrência do Poder Originário, ou ligada à capacidade de auto-organização. Poder Constituinte Derivado Decorrente Poder constituinte derivado – conceito e limitações • O PCD está dividido nos seguintes princípios: Poder Constituinte Derivado Decorrente Que justificam a ADI- Interventiva. Constitucionais sensíveis Normas de organização da federação que se aplicam aos estados. Constitucionais extensíveis Regras expressas no texto constitucional que incidem sobre a autonomia estadual. Constitucionais garantidos • O Distrito Federal tem Poder Constituinte Decorrente, mas os municípios não possuem, pois estão condicionados à Constituição Estadual e à Constituição Federal. • Territórios federais não têm Poder Constituinte Decorrente, pois são autarquias da União. Direito constitucional intertemporal • A nova Constituição, como resultado do Poder Constituinte Originário, possui superioridadehierárquica e todos os outros atos jurídicos devem ser compatíveis com ela. • O Direito Constitucional Intertemporal estuda os efeitos das normas constitucionais novas em relação ao ordenamento jurídico precedente. • A edição de uma nova Constituição acarreta a revogação total da Constituição anterior. • A teoria da recepção admite que as normas infraconstitucionais anteriores que sejam compatíveis com a nova Constituição serão recepcionadas e aplicadas. • Normas incompatíveis com a nova Constituição não são recepcionadas e não geraram crise de constitucionalidade. • A mudança constitucional é um procedimento informal de mudança do sentido de provisões da Constituição sem alteração do texto, adquirida de interpretações evolutivas e dinâmicas da norma. • A mutação constitucional está limitada pelo texto constitucional e não pode extrapolar o seu sentido original. Princípios Fundamentais da Constituição Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os Princípios Fundamentais da Constituição, suas aplicabilidades e diferenças. 2 Poder constituinte e princípios fundamentais da constituição Princípios estruturantes • Os princípios estruturantes são normas que indicam as diretrizes básicas da ordem constitucional brasileira. • Os princípios estruturantes, de acordo com o Art. 1º da CF/88, são: Princípio republicano Transfere o poder para o povo, representado por governantes temporários e responsáveis perante a sociedade. Princípio federativo Estabelece um governo central e regional, com a população tendo esferas de poder em seu território. Princípio do Estado democrático de direito Garante a coexistência da democracia com o respeito aos direitos fundamentais e ao Estado de Direito. Fundamentos da república federativa do Brasil • Os fundamentos da República Federativa do Brasil são considerados valores essenciais que compõem a estrutura do país. Eles atuam de forma direta, como quando fundamentados em um caso concreto, e de forma indireta, como um guia de diretrizes para outras normas, sendo eles: Descrito no art. 1º, I, da Constituição Federal de 1988, inicialmente refere-se ao poder do governante em relação ao povo (âmbito interno). Com o tempo, o conceito de soberania ampliou-se, dividindo-se em supremo (ilimitado dentro do Estado) e independente (independência em relação a outros países). Pode ser subdividido em soberania externa (independência internacional) e soberania interna (supremacia no território). Além disso, há uma nova visão do princípio relacionado ao constitucionalismo globalizado e ao Poder Constituinte Supranacional. Soberania Fundamentos da república federativa do Brasil Descrito no Art. 1º, II, da Constituição Federal de 1988, está relacionado à participação política dos cidadãos no país. Abrange os direitos políticos, como a capacidade eleitoral ativa e passiva, bem como outros direitos e deveres fundamentais. Envolvem diversas formas de participação política, como plebiscitos e referendos. Cidadania Descrito no Art. 1º, III, da Constituição Federal de 1988, é um valor supremo e diretriz para todas as normas do ordenamento jurídico. Surgiu como resposta aos eventos cruéis do fascismo e nazismo na Segunda Guerra Mundial, levantando o debate sobre a proteção de todas as pessoas, independentemente de características pessoais. Possui uma tripla dimensão normativa: como metanorma, orienta a interpretação e criação de outras normas; como princípio, impõe ao Poder Público garantir os meios para uma vida digna; e como regra, impõe tanto ao Poder Público quanto aos particulares o dever de evitar ações que atentem contra a dignidade da pessoa humana. Dignidade da pessoa humana Fundamentos da república federativa do Brasil Descrito no Art. 1º, IV, da Constituição Federal de 1988 reconhece os valores sociais do trabalho e a livre iniciativa como fundamentos da República Federativa do Brasil. Esses princípios têm significados distintos: Os valores sociais do trabalho enfatizam a importância do trabalho humano para a promoção da dignidade da pessoa humana, garantindo privilégios biológicos indevidos e protegendo as relações trabalhistas contra exploração e trabalho forçado. A livre iniciativa é baseada no ideal do liberalismo econômico e respeita a liberdade de empresa e contrato. Contudo, deve equilibrar-se com os valores sociais do trabalho para assegurar uma existência digna do trabalhador, considerando o local de trabalho, a remuneração e o horário laboral. Esses princípios são fundamentais na Ordem Econômica do Brasil, garantindo o livre exercício de atividades físicas, desde que respeitem os direitos dos trabalhadores e a proteção dos valores do trabalho, afastando o modelo de estado absenteísta do liberalismo. Valores sociais e da livre iniciativa Fundamentos da república federativa do Brasil Pluralismo político • O pluralismo político não se restringe apenas aos direitos políticos, mas abrange a diversidade e a liberdade na sociedade brasileira. Se baseia no respeito à pessoa humana e sua liberdade. • A Constituição Federal de 1988 reconhece o pluralismo em várias áreas, como partidos políticos, religiosos, econômicos, culturais e instituições de ensino. • O pluralismo é fundamental na herança da pessoa humana, garantindo a construção de identidades próprias e vedando a exclusão e intolerância. • Em casos concretos, o pluralismo pode ser ponderado com outros princípios caso haja conflito de normas. O pluralismo político possui um sentido amplo, incluindo o pluralismo econômico, político- partidário e ideológico. Princípio da separação dos poderes • O princípio da separação dos poderes, descrito no Art. 2º da Constituição Federal de 1988, estabelece um sistema de freios e contrapesos para evitar abusos de poder. • Montesquieu e John Locke influenciaram essa ideia, que se baseia na divisão das funções estatais entre os poderes para evitar abusos. • A Constituição Brasileira de 1988 consagra a separação dos poderes e protege esse princípio como cláusula pétrea. • O Brasil adota o modelo de três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. • Cada poder possui funções típicas e atípicas, e há controle mútuo entre eles para evitar excessos. Montesquieu – Criador da teoria de separação dos poderes. Objetivos fundamentais • Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, conforme o Art. 3º da Constituição Federal de 1988: Objetivo 3 Erradicar a pobreza e a marginalização. Objetivo 4 Promova o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de identificação. Objetivo 1 Construir uma sociedade livre, justa e solidária. Objetivo 2 Garantir o desenvolvimento nacional. Objetivos fundamentais • O Estado pode adotar políticas afirmativas para alcançar a igualdade social e o equilíbrio social. • Deve ter programas governamentais relacionados à indústria privada e empregos para garantir o desenvolvimento nacional. • O acesso da população a condições mínimas e dignas para a subsistência humana é essencial para erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Princípios regentes das relações internacionais • Princípios que regem as relações internacionais do Brasil, conforme o Art. 4º da Constituição Federal de 1988: Destaca a soberania do Brasil nas relações exteriores. Independência nacional Defende a dignidade da pessoa humana e a promoção dos direitos humanos nas relações internacionais. Prevalência dos direitos humanos Princípios regentes das relações internacionais Respeita a autonomia política e cultural de outras nações. Autodeterminação dos povos Impõe que o Brasil se abstenha de interferir nos assuntos de outros países. Não intervenção Busca tratamento jurídico igualitário para todas as nações. Igualdade entre os estados Princípios regentes das relações internacionais Promove a convivência do Brasil com outras nações. Defesada paz Incentiva a resolução de contendas externas sem o uso de conflitos armados. Solução de conflitos Reforça a posição militante do Brasil na defesa dos direitos humanos. Repúdio ao terrorismo e ao racismo Princípios regentes das relações internacionais Visa ao desenvolvimento mútuo e ao progresso da humanidade. Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade Implica na proteção a pessoas perseguidas por motivos políticos em outros países. Concessão de asilo político Direitos fundamentais: conceito e classificações Ao final deste módulo, você será capaz de compreender o conceito de direito fundamental e as suas classificações. 1 Direitos fundamentais Breve histórico dos direitos fundamentais • Reconhecimento de direitos pontuais ao longo da história, como o decreto de Ciro II permitindo o retorno dos povos exilados e a restrição de penas corporais no Império Romano. • Marco moderno na Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia (1776) e a Constituição dos Estados Unidos, com emendas garantidas de direitos fundamentais. • Importância da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) na luta contra o absolutismo, e a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) da ONU, reconhecendo direitos como dignidade humana e liberdade. Ciro II e os hebreus. Breve histórico dos direitos fundamentais • A partir desse processo histórico, podemos falar em três gerações de direitos fundamentais que surgiram ao longo do tempo: Primeira geração Direitos individuais e liberdades perante os abusos do Estado. Segunda geração Direitos que favoreceram a ação do Estado, buscando direitos sociais e coletivos. Terceira geração Direitos difusos, associados à solidariedade e fraternidade, como o direito ao meio ambiente equilibrado. • Discussões sobre uma possível quarta geração de direitos fundamentais relacionados ao desenvolvimento tecnológico e biológico. • A consolidação dos direitos fundamentais é fruto de um longo processo histórico, acentuado após a Segunda Guerra Mundial, buscando proteger os seres humanos de abusos e autoritarismos. Conceito de direitos fundamentais • A Constituição de um Estado democrático, como o Brasil, tem a função de proteger os direitos fundamentais, o que é refletido em sua topografia, com o catálogo de direitos no início do texto constitucional. • Os direitos fundamentais são respeitados cláusulas pétreas, que não podem ser suprimidos nem por emenda constitucional. • Vejamos as diferenças entre os conceitos de direitos fundamentais. Confira! Direitos humanos Tratados no âmbito do direito internacional, respeitam a todos os seres humanos, independentemente de características específicas de cada país. Direitos fundamentais Tratados de maneira diferente por cada Estado, de acordo com suas próprias Constituições, e nem sempre correspondem ao rol de direitos humanos. Conceito de direitos fundamentais • José Afonso da Silva prefere a expressão "direitos fundamentais do homem", referindo-se a situações jurídicas essenciais para a realização e sobrevivência da pessoa humana. • Diferença entre direitos e garantias fundamentais: Direitos fundamentais Enunciados que estabelecem o conteúdo de um direito (ex.: direito à vida, liberdade religiosa). Garantias fundamentais Instrumentos previstos na Constituição para a defesa e proteção dos direitos fundamentais (ex.: habeas corpus para proteger o direito à liberdade de locomoção). Características dos direitos fundamentais Vejamos a seguir as principais características dos direitos fundamentais apontadas pela doutrina: São para todas as pessoas, independentemente de características específicas, como nacionalidade ou etnia. Universalidade Não são absolutos e podem sofrer restrições, especialmente em casos de colisão com outros direitos. Relatividade Foram conquistados ao longo da história e sua interpretação pode ser influenciada pelas mudanças sociais. Historicidade Características dos direitos fundamentais Não têm conteúdo econômico e não podem ser negociados ou transferidos. Inalienabilidade Não se extinguem pelo decurso do tempo e não têm prazo para serem exercidos. Imprescritibilidade Embora não possam ser exercidos, os direitos fundamentais não podem ser renunciados. Irrenunciabilidade Características dos direitos fundamentais Conforme normas definidas dos direitos fundamentais têm aplicação imediata, não necessitando de regulamentação para surtirem efeitos. Aplicabilidade imediata Não se limitam ao catálogo previsto na Constituição e podem ser encontrados em tratados internacionais ou na sequência dos princípios adotados na Constituição. Não exaustividade ou atipicidade Classificações Existem inúmeras classificações que variam conforme o autor e o critério adotado. Uma delas, por exemplo, divide os direitos fundamentais de acordo com o conteúdo: Englobam a liberdade, igualdade e propriedade, reconhecendo autonomia aos particulares. Direitos fundamentais do homem-indivíduo Definem a nacionalidade. Direitos fundamentais do homem-nacional Referem-se aos direitos políticos, como o direito de votar e ser votado. Direitos fundamentais do homem-cidadão Classificações Asseguram direitos nas relações sociais e culturais, como o direito à saúde e educação. Direitos fundamentais do homem-social Abrangem direitos coletivos, como o direito de petição e de greve. Direitos fundamentais do homem membro de uma coletividade Incluem direitos mais recentes, como o direito ao meio ambiente, à paz e ao desenvolvimento. Direitos fundamentais da terceira geração ou do homem-solidário • Com base no texto da Constituição Federal de 1988 há outras classificações, como: Engloba direitos individuais, direitos à nacionalidade, direitos políticos, direitos sociais, direitos coletivos e direitos solidários. Além disso, também existem os direitos projetados na Ordem Econômica e Financeira da Constituição. Eficácias dos direitos fundamentais • Aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais gera questionamentos sobre sua eficácia. • Tradicionalmente, os direitos fundamentais aplicavam-se na relação entre indivíduo e Estado (eficácia vertical). • Surgiu a ideia de eficácia horizontal, aplicando direitos fundamentais em relações privadas. • A teoria da influência indireta defende que o legislador deve aplicar direitos fundamentais nas relações privadas. • A teoria da força direta defende que os juízes devem aplicar diretamente direitos fundamentais em causas privadas. • As cláusulas gerais de direito privado podem ser usadas para concretizar e promover direitos fundamentais. Direitos fundamentais na Constituição Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o tratamento dado pela Constituição Federal aos direitos fundamentais. 2 Direitos fundamentais Direitos individuais e coletivos consagrados na Constituição • Direitos individuais reconhecem autonomia aos particulares e garantem independência perante o Estado e a sociedade. • Direito de propriedade tem limites definidos pela função social e requisitos para propriedade rural. • Liberdade de expressão é essencial para a democracia, permitindo pluralidade de ideias e debate público. Vejamos a seguir os direitos individuais e coletivos estabelecidos pela CF de 1988. Direitos individuais e coletivos consagrados na Constituição • A liberdade religiosa inclui o direito de professar uma religião ou nenhuma, e proteger o proselitismo religioso. • Sacrifício de animais em ritos religiosos é amparado pela liberdade religiosa e proteção cultural. • Liberdade de reunião garantida o direito de se reunir pacificamente para manifestações políticas ou sociais. Direitos sociais • Direitos sociais são prestações positivas do Estado para conceder melhores condições de vida aos indivíduos. • Na segunda geração de direitos fundamentais, o Estado deve atuar para proteger e concretizar os direitos. • O artigo6º da Constituição lista os direitos sociais, como educação, saúde, trabalho, moradia, entre outros. • O direito à saúde é um tema polêmico, e o STF estabelece parâmetros para a interferência judicial. • O direito à alimentação e à moradia são fundamentais para uma vida digna e têm sido vistos em programas sociais. • O artigo 7º da Constituição prevê direitos sociais aos trabalhadores, como irredutibilidade do salário e décimo terceiro salário. O Direito fundamental à liberdade Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o direito fundamental à liberdade de ir e vir e a possibilidade de sua legítima limitação em casos de pandemia. 1 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação O Estado democrático de direito • A democracia é um regime político previsto na Constituição Federal de 1988, caracterizado pela participação popular e fiscalização dos atos dos gestores públicos. • No Estado Democrático de Direito, o princípio da vinculação à lei é fundamental, assegurando a participação democrática e a justiça social. • A participação popular é essencial para a legalidade dos atos do Estado. • A democracia é um regime em constante transformação, baseado na liberdade de participação dos cidadãos e no respeito à conquista humana. • A dignidade humana é central no ordenamento constitucional e garante o mínimo existencial para todos os indivíduos. • A liberdade e a igualdade são fundamentais para a dignidade humana e devem ser interpretadas como critérios primordiais na Constituição. Liberdade de ir e vir • O valor da liberdade é central na dimensão da consciência e da crença individual, incluindo a liberdade de expressão e a autodeterminação do indivíduo. • Os direitos de liberdade decorrem do princípio de igual respeito e consideração, garantindo liberdades iguais para todos os cidadãos. • O exercício da liberdade não é absoluto e deve ser responsável, respeitando os princípios do devido processo legal. • A privação da liberdade é excepcional e só é permitida mediante processo judicial justo e participativo. • Os direitos fundamentais são constitucionalizados, garantindo a pensão moral do regime democrático. • Os direitos fundamentais são valores superiores da ordem constitucional e jurídica, assegurando uma sociedade mais livre e igual, com base na preservação da vida e da salvaguarda humana. Restrição da liberdade de ir e vir em tempos de pandemia • A liberdade assegurada humanamente e a autodeterminação individual. • O Estado não pode intervir arbitrariamente na liberdade de escolha, exceto em casos de interesse coletivo ou proteção de outros direitos. • A privação da liberdade só é possível mediante o devido processo legal e a presunção de inocência. • A liberdade é um aperfeiçoamento da igualdade no exercício dos demais direitos fundamentais. • Em tempos de pandemia, o Estado pode limitar excepcionalmente o direito de liberdade de locomoção para proteger a saúde pública. Limitações do Direito fundamental da Liberdade de expressão Ao final deste módulo, você será capaz de identificar possíveis limitações ao direito fundamental à liberdade de expressão. 2 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação Direito fundamental à liberdade de expressão • A liberdade é um direito conquistado ao longo da história e está relacionado à autodeterminação e conquista humana. • A Constituição Federal assegura a liberdade em diversos pontos, incluindo a liberdade de associação e de expressão. • A liberdade de pensamento é um dos pilares da democracia e permite a comunicação de ideias e opiniões. • A censura prévia é antidemocrática e limita a liberdade de expressão. Protesto contra a censura. Direito fundamental à liberdade de expressão • A liberdade de expressão deve ser exercida de forma legítima, respeitando os direitos fundamentais de outros indivíduos. • O discurso de ódio não é protegido pela liberdade de expressão e tem consequências jurídicas. • A liberdade individual permite o pleno desenvolvimento do potencial de cada indivíduo e influência nas decisões coletivas. • A liberdade de expressão é um ato democrático e contribui para a participação da sociedade na elaboração e aplicação das leis. Liberdade de expressão não inclui discurso de ódio. Liberdade de expressão e participação popular • Exercício democrático do direito à liberdade de expressão através do direito de participação popular e soberania popular. • Coletividade como parte integrante na prática e fiscalização dos atos praticados por agentes públicos. • Princípios da publicidade e impessoalidade autorizando o direito dos destinatários serem coautores e participarem diretamente no controle da legalidade dos atos. • Processo legislativo no Estado Democrático de Direito permite que população e sociedade civil sejam autoras de propostas legislativas através da iniciativa popular. População indígena no planalto. Liberdade de expressão e participação popular • Disposições constitucionais relacionadas à iniciativa popular no processo legislativo nacional, estadual e municipal. • Direito dos destinatários finais dos provimentos jurisdicionais serem coautores, especialmente em processos coletivos que afetam toda a coletividade. • Direito à liberdade de expressão no âmbito do Poder Executivo permite aos cidadãos fiscalizarem a legalidade e moralidade administrativa dos atos praticados pelos gestores públicos, como no caso de processos licitatórios. • O direito fundamental à liberdade de expressão no Estado Democrático requer a análise do direito à igualdade e à diferença na sociedade plural e diversa. • A proteção democrática deve abranger todos os cidadãos, sem demonstrar com base em diferenças. • O respeito à diversidade é corolário do direito à igualdade e não é juridicamente viável usar a norma jurídica para discriminar com base no direito à diferença. • O reconhecimento da diversidade é essencial para garantir a humana liberdade de expressão. • As ciências médicas e jurídicas têm sido utilizadas para segregar pessoas que fogem aos padrões homogêneos de impostos pela sociedade. Multiculturalismo. Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença • A legislação elenca dois tipos de igualdade. Vejamos quais são elas! Igualdade formal A igualdade formal é a que garante idêntico tratamento a todos perante a lei. Igualdade material Leva em consideração as diferenças, de modo a possibilitar o tratamento desigual àqueles que estão em situações desiguais. • A dignidade humana é fundamento da República Federativa do Brasil, e a proteção integral da pessoa humana exige o respeito à diferença e o reconhecimento do outro como igual nos direitos civis. Liberdade de expressão e o direito à igualdade e à diferença • O direito à diferença é uma luta pelo reconhecimento das minorias sociais e é essencial para equilibrar as relações humanas e desconstruir as estruturas de dominação. • Na visão de Farias (2015), a tutela do direito à diferença ocorre em três eixos: Eixo repressivo Defende que o Direito Penal pode proteger as identidades individuais e grupais e promover a cidadania. Um exemplo disso é a Lei 7.716/1989, que trata dos crimes de preconceito por raça, cor, etnia, credo ou nacionalidade. Eixo preventivo Atua por meio de políticas públicas voltadas para a defesa dos direitos humanos — como a educação, por exemplo —, partindo do pressuposto de que é fundamental auxiliar as pessoas a reconhecerem o que é dignidade e a exercerem a cidadania. Eixo inclusivo Consiste em ações afirmativas do poder público ou privado para eliminar desigualdades históricas, como cotas raciais e políticas para minorias (LGBTQI+). Respeitar a diferença é garantir liberdade de expressão e autonomia sem compreender. Liberdade de expressão e discursos violentos Compromissos assumidos pelo EstadoDemocrático de Direito: • Proteção dos direitos humanos. • Repressão do discurso de ódio contra minorias. • Regulamentação dos limites constitucionais da liberdade de expressão. • Efetividade do princípio da não discriminação. • Repúdio a tornar invisível o direito à diferença. Manifestação contra o racismo. Liberdade de expressão e discursos violentos • A liberdade de expressão não é um direito ilimitado, encontra limites em outros valores e na segurança da comunidade política. • Preconceito e ódio não podem ser considerados exercícios da liberdade individual; pensar a liberdade de expressão na democracia implica observância dos direitos fundamentais. • O discurso de ódio pode afetar a identidade humana, causando danos físicos e psicológicos, e subjugando minorias à marginalização social. • O Brasil apresenta dados alarmantes sobre violência contra minorias, como mulheres, negros e LGBTQI+. Manifestação contra a homofobia. Possibilidades de limitação ao direito de liberdade de expressão • Ser livre inclui poder expressar indivíduos, crenças, valores e concepções de mundo, mas essa liberdade não é absoluta. • O Estado tem o direito de regular o exercício da liberdade de expressão para proteger os direitos de outros indivíduos. • A democracia vai além da forma de Estado e de governo, implicando a participação do povo, conferindo legitimidade à ação do Estado. • O ordenamento jurídico brasileiro proíbe o discurso de ódio contra minorias sociais, com punições nas esferas cívicas e criminais. • A liberdade de expressão não é um direito absoluto, e há limites constitucionais para proteger outros direitos fundamentais. • Todo cidadão tem o direito de se expressar, mas é importante respeitar os limites para preservar os direitos fundamentais de todos. Limitações às garantias constitucionais Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as limitações às garantias constitucionais do processo. 3 Garantias constitucionais e possibilidades de sua limitação O processo constitucional democrático • O direito constitucional permite a aquisição da condição de cidadãos através da proteção dos direitos fundamentais e princípios constitucionais. • A hermenêutica constitucional, o controle de constitucionalidade e aplicabilidade dos direitos fundamentais são importantes para fiscalizar os atos estatais. • A Constituição é o parâmetro para interpretar as normas jurídicas e limitar os excessos do Estado e do julgador. • A soberania popular e o processo constitucional possibilitam a participação do povo no controle dos atos estatais. • A constitucionalização do processo permite o debate de questões controversas e assegura a legitimidade democrática das decisões finais. Promulgação da Constituição em 1988. O processo constitucional democrático • A efetivação dos direitos expressos na Constituição pode ser solicitada, e as ações constitucionais são essenciais para exercer esses direitos. • O processo constitucional é o "lugar" de discursividade isonômica e isomênica dos direitos fundamentais, garantindo o exercício da cidadania. • O Judiciário, por meio das ações constitucionais, garante a eficácia e o exercício dos direitos fundamentais. • O modelo de processo constitucional democrático supera o entendimento clássico do processo como relação hierarquicamente superior entre juiz, autor e réu. Escola paulista de processo • A Escola Paulista de Processo, ou Escola Instrumentalista, considera o processo como um instrumento para o exercício da jurisdição, permitindo ao juiz proferir decisões unilaterais e autocráticas. • No processo constitucional democrático, as partes diretamente atendidas têm o direito de participar da construção da decisão judicial. • A superação do instrumentalismo processual é necessária para garantir a segurança jurídica através da fundamentação racional das decisões. • Para a Escola Instrumentalista, a jurisdição é um poder pessoal do magistrado, com fins valorativos como sociais, políticos, psicológicos e morais. Escola paulista de processo • A jurisdição autocrática legítima o protagonismo e a discricionariedade judicial, permitindo ao juiz utilizar seus poderes pessoais como fundamentos das decisões. • No processo constitucional democrático, a jurisdição é vista como um direito fundamental, e as partes podem ser coautoras do conteúdo decisório. • O princípio do amplo acesso à justiça garante a todos os cidadãos o direito de levar suas pretensões ao Judiciário para obter uma decisão fundamentada racionalmente. • A desconstrução do protagonismo judicial visa privilegiar a proteção dos direitos fundamentais e humanos, fundamentando as decisões em racionalidade crítica e constitucional. Movimento sindical participando da sessão deliberativa ordinária. Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático Com base nas proposições críticas do modelo de processo e jurisdição autocráticos defendidos pela Escola Instrumentalista, e apresentando como contraponto argumentativo estudos sistematizados no âmbito do processo constitucional democrático e da jurisdição como direito fundamental, vamos iniciar o exame dos princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático: Garante igualdade de debate aos sujeitos do processo sobre pontos controversos da demanda. Contraditório Assegura o direito de fala, produção de provas e argumentação durante o processo. Ampla Defesa Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático Procedimentaliza a resolução de conflitos, garantindo igualdade argumentativa às partes. Devido Processo Legal Todos os sujeitos têm possibilidades iguais de produzir provas e alegações. Isonomia Processual O advogado é essencial para garantir uma ampla defesa técnica e democratizar o acesso à justiça. Indispensabilidade do Advogado Princípios regentes do modelo de processo e jurisdição constitucional democrático Assegura o amplo acesso à justiça e o direito de debate das alegações. Inafastabilidade do Controle Jurisdicional Prevê a transparência dos atos processuais para fiscalização e reclamação. Publicidade Direito de fiscalizar para revisar fundamentos de fato e de direito. Duplo Grau de Jurisdição Reconhecer a importância de conceder a vantagem das pessoas ao longo do processo. Dignidade Humana no Direito Processual Remédios constitucionais Agora, vamos examinar o objeto das ações constitucionais, vistas como espaços hábeis a assegurar o exercício e a implementação dos direitos fundamentais previstos no plano constituinte e instituinte: Mandado de Segurança Ação constitucional prevista no artigo 5°, inciso LXIX da Constituição, que protege "direito líquido e certo" não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando violado por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público. Objetivo Assegurar proteção jurídica às pessoas físicas e jurídicas em seus direitos fundamentais líquidos e certos previstos constitucionalmente. Requisitos É necessário que a violação do direito líquido e certo seja documental e pré-constituída, não permitindo dilatação probatória. Remédios constitucionais Rito próprio A ação possui um rito especial previsto na Lei 12.016/2009. Concessão de liminares É possível a concessão de liminares sem a audiência da parte contrária, desde que o demandante prove o "fumus boni iuris" e o "periculum in mora", demonstrando o risco iminente de dano pela violação do direito alegado. Possibilidades de limitação das garantias constitucionais do processo É possível limitar as garantias constitucionais do processo democrático em situações atípicas, como em casos de pandemia? Resposta A existência de fatos externos, como pandemia, não justifica a restrição do espaço processual de debate democrático e constitucional das questões controversas em uma demanda judicial.Possibilidades de limitação das garantias constitucionais do processo • As garantias constitucionais do processo democrático são normas jurídicas cogentes, de aplicação obrigatória, e sua interpretação e aplicabilidade não são casuísticas. Portanto, não podem ser relativizadas por fatores sociais, naturais, políticos, psicológicos ou morais, incluindo situações de pandemia. • Dessa forma, temos alguns princípios inalteráveis: Contraditório, ampla defesa, devido processo legal, duplo grau de jurisdição, isonomia processual, indispensabilidade do advogado, inafastabilidade do controle jurisdicional e garantia humana são normas jurídicas cogentes, cuja aplicação não pode ser relativizada por fatores sociais, naturais, políticos, psicológico ou moral. Processo constitucional de intervenção Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as hipóteses e o processo constitucional de intervenção. 1 Intervenção, estado de defesa e estado de sítio Intervenção federal e intervenção estadual Antes de iniciarmos o estudo sobre intervenção federal e intervenção estadual, é necessário entendermos como os Estados são organizados. A organização e a estruturação dos Estados são divididas em três: Caracterizada pelo modelo institucional de administração de uma sociedade. Forma de governo Caracterizada pela forma como o poder político é exercido e dividido na sociedade. Sistema de governo Caracterizada pelo modo de exercício do poder político em função do território. Forma de Estado Intervenção federal e intervenção estadual Quanto às formas de governo, temos a seguinte divisão: República Surgiu como governo de oposição à Monarquia, baseado em ideais de liberdade e igualdade, com representatividade dos governantes e participação dos cidadãos no governo. Presidencialismo Une as chefias do Estado, do Governo e da administração pública em uma só pessoa eleita pelo voto popular, podendo potencializar riscos de regimes autoritários. Federação União de Estados autônomos que cedem parte de sua soberania para um órgão central responsável pela centralização e unificação. Intervenção federal e intervenção estadual • A Federação surgiu a partir da união dos Estados norte-americanos para se protegerem contra ameaças e secessão, cedendo parte de sua soberania a um órgão central. • O modelo federativo brasileiro foi estabelecido em 1889 e consolidado em 1891. • Existem diferentes tipos de federalismo Embora sejam independentes e autônomos, os Estados abrem mão de parte de sua soberania para se agregarem entre si e formarem um novo Estado, passando a ser autônomo (ex.: Estados Unidos). Federalismo por agregação Quando o Estado unitário (unidade de poder sobre o território) resolve descentralizar-se em outros Estados (ex.: Brasil). Federalismo por desagregação Intervenção federal e intervenção estadual As atribuições de cada ente federativo são rígidas, não havendo cooperação ou interpenetração entre eles. Federalismo dual As atribuições de cada ente federativo são exercidas de forma concorrente, aproximando-se por meio da atuação conjunta. Federalismo cooperativo Tanto a cultura quanto o desenvolvimento dos entes federativos são homogêneos/iguais. Federalismo simétrico Pluralidade de língua e cultura em um mesmo território (ex.: Canadá). Federalismo assimétrico Intervenção federal e intervenção estadual Os Estados fazem parte do mesmo “organismo”, pelo qual a manutenção do todo é feita em detrimento da parte. Federalismo orgânico Preponderância do governo central em detrimento dos demais entes. Desse modo, as características do modelo federativo são atenuadas. Federalismo de integração Aqui, busca-se a harmonia entre os entes, reforçada pelas instituições. Federalismo equilíbrio Feita por meio dos municípios pela observância de dois graus (Constituição Federal e Constituição do respectivo Estado). Federalismo de segundo grau Intervenção federal e intervenção estadual Vejamos as características comuns do modelo federativo: • Descentralização política realizada pela Constituição através dos poderes políticos. • Repartição de competências para garantir autonomia entre os entes federativos. • Inexistência do direito de secessão após a criação do pacto federativo. • Auto-organização dos Estados por meio da elaboração das Constituições Estaduais. • Possibilidade de intervenção da União ou do Estado em situações de crise para assegurar o equilíbrio federativo. Intervenção federal e intervenção estadual Aspectos da organização e estrutura do Estado brasileiro: • República (forma de governo). • Presidencialismo (sistema de governo). • Federação (forma de Estado). Autonomia conferida aos entes federados brasileiros: • Capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração e auto legislação. • Importante ressaltar que autonomia não é sinónimo de soberania. Intervenção federal e intervenção estadual O tema “intervenção” tem relação justamente com a autonomia dos entes que compõem a Federação brasileira. Embora o art. 18 da CF/88 estabeleça que os entes são autônomos, existem hipóteses excepcionais e anormais em que a autonomia pode sofrer interferência com base constitucional. Essas hipóteses devem ser interpretadas de forma restritiva e seu rol é taxativo. A intervenção pode ser feita de duas formas: Federal Quando a União intervém nos estados, Distrito Federal (art. 34 da CF/88) ou nos municípios localizados em território federal (art. 35 da CF/88). Estadual Quando o estado intervém em seus municípios (art. 35 da CF/88). Intervenção Federal • Intervenção federal consiste no afastamento temporário da autonomia política dos estados ou municípios em território federal, com base nas hipóteses taxativas do artigo 34 da CF/88. • Existem quatro finalidades para a intervenção: defesa do estado, defesa do princípio federativo, defesa das finanças governamentais e defesa da ordem constitucional. • A decretação e a execução da intervenção são competências privativas do Presidente da República, podendo ser espontâneas, solicitadas ou requisitadas. • A decretação pode ser objeto de controle político pelo Congresso Nacional ou controle jurisdicional pelo Supremo Tribunal Federal. • O controle político é dispensado em certas situações específicas, enquanto o controle jurisdicional não analisa o mérito da intervenção, mas sua observância com os ditames constitucionais. Intervenção Estadual • A intervenção estadual é a interrupção temporária da autonomia da política dos municípios, com base nas hipóteses taxativas do artigo 35 da CF/88. • Os materiais adquiridos para a intervenção estadual incluem situações como não pagamento da dívida fundada por dois anos consecutivos, falta de prestação de contas adequadas, não aplicação do mínimo exigido em educação e saúde, e provimento do Tribunal de Justiça para assegurar princípios da Constituição Estadual ou a execução de lei ou decisão judicial. • Os pedidos formais referem-se às regras processuais para a decretação e execução da intervenção. • A intervenção estadual também passa por controle político pelas Assembleias Legislativas, com o decreto sendo subordinado à guarda no prazo de 24 horas. O controle é dispensado em certas situações específicas. Representação interventiva • A representação interventiva é um mecanismo de controle de constitucionalidade que visa resolver conflitos de natureza federativa. • O procurador-geral da República (PGR) tem competência para requerer a intervenção em um ente federativo por meio da representação interventiva federal. • A representação interventiva federal ocorre quando há violação de princípios sensíveis constitucionais ou recusa à execução de lei federal. • O Supremo Tribunal Federal processará e julgará a representação interventiva federal, decidindo se a norma estadual viola os princípios sensíveis ou impede a execução de lei federal. • Em nível estadual, a representação