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TEORIA DA CONSTITUIÇÃO - resumo ap. 1 de Dir. Const. - grancursos DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITO PÚBLICO Conceito de Direito constitucional - José Afonso da Silva - ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e as normas fundamentais do Estado. J. H. Meirelles Teixeira - Conjunto de princípios e normas que regulam a existência do Estado moderno, na sua estrutura e no seu funcionamento, o modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e interesses fundamentais. Objeto - o conhecimento científico e sistematizado da organização fundamental do Estado, por meio da investigação e do estudo dos princípios e das regras constitucionais relativos à forma de Estado, à forma e ao sistema de governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, à composição e ao funcionamento de seus órgãos, aos limites de sua atuação e aos direitos e garantias fundamentais. Forma de Governo - República; Sistema de governo - Presidencialismo; Forma de estado - Federados; Regime - Democrático. FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL. 1. Constituição - principal fonte formal + tratados internacionais de direitos humanos aprovados em dois turnos de votação, em cada Casa do Congresso, obtendo 3/5 de votos -§ 3o do artigo 5º 2. Jurisprudência, em especial, do STF, já que a Corte tem papel de suma importância na jurisdição constitucional. 3. Doutrina constitucional - não só interpreta o conteúdo das leis constitucionais, como também cria, inova e estabelece novos parâmetros constitucionais, transformando a realidade. 4. Costume - fonte complementar, mas não primária do direito constitucional - CONCEITO E OBJETO DE CONSTITUIÇÃO Constituição é a norma de maior hierarquia em um ordenamento jurídico, que organiza o Estado e os seus Poderes, além de tratar dos direitos e garantias individuais. Objeto - José Afonso da Silva - estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo e aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins socioeconômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais. Neoconstitucionalismo - coloca a pessoa humana no centro do sistema, em uma posição de destaque. KONRAD HESSE explica que a Constituição deve ser entendida como a ordem jurídica fundamental de uma comunidade. Por ter status de norma jurídica, ela seria dotada de força normativa suficiente para vincular e impor os seus comandos. SENTIDOS/CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO. A Constituição pode ser analisada sob várias acepções, quais sejam: sentido sociológico, político, jurídico, material, formal, pós-positivista, ontológico, culturalista, força normativa da constituição e sociedade aberta dos intérpretes. Cada uma dessas acepções está ligada a um autor, que viveu em um país em determinada época. 1. Sentido Sociológico Autor: Ferdinand LasSalle (Alemanha – antiga Prússia) Obra: A Essência da Constituição (1862) Sob essa ótica, a Constituição transcende a ideia de norma, de forma que o seu texto positivo seria apenas um reflexo da realidade social do país, reproduzindo, o legislador constituinte, o momento e as influências que recebe. A Constituição não é uma norma jurídica, mas um fato social. Segundo Lassalle, duas Constituições podem ser encontradas ao mesmo tempo em um Estado: · A Constituição REAL E EFETIVA, corresponde à SOMA DE FATORES REAIS DE PODER; e · A Constituição escrita, solene, que só é legítima se corresponde à Constituição real, caso contrário, é apenas uma “folha de papel”. 2. Sentido PolíTico Autor: Carl SchmiTt (Alemanha) Obra: Teoria da Constituição (1928) A Constituição sistema fechado de normas decorrentes de DECISÃO POLÍTICA FUNDAMENTAL. A Constituição é um conjunto de opções políticas de um Estado e não um reflexo da sociedade. Para Schmitt, há diferença entre: · Constituição: decisão política norteadora da ação da Constituinte; e · Leis Constitucionais: se reveste de forma de Constituição, mas não trata de matéria tipicamente constitucional (não diz respeito à decisão política). Para defender a Constituição, ele advoga a favor da existência de um poder neutro, exercido pelo Chefe de Estado (ditador) capaz, inclusive, de suspender a aplicação das leis constitucionais em defesa da Constituição (decisão política). 3. Sentido JurídiKo Autor: Hans Kelsen (Áustria) Obra: Teoria Pura do Direito (1934) A Constituição é norma pura, irrelevantes questões filosóficas, políticas ou sociológicas, extraída sua validade do campo lógico, da norma hipotética fundamental. Essa norma positiva suprema regula a criação de outras normas e dá validade a todo o ordenamento jurídico. Seu pensamento pode ser classificado em dois planos: · Plano lógico-jurídico: corresponde a uma norma fundamental hipotética, que dá validade às normas jurídicas. Trata-se de vontade coletiva não codificada, dispositivos lógicos tacitamente admitidos pelo povo. · Plano jurídico-positivo: consiste na criação de normas jurídicas supremas e positivadas que norteiam todo o processo de criação e de atualização das demais leis integrantes do ordenamento jurídico. 4. Sentido Material A Constituição é DEFINIDA PELO SEU CONTEÚDO (organização do Estado em todos os seus aspectos fundamentais e estruturais), sendo irrelevante a forma pela qual foi inserida no mundo jurídico. NÃO HÁ ESTADO SEM CONSTITUIÇÃO (escrita ou não escrita), porque toda sociedade politicamente organizada contém uma estrutura mínima. 5. Sentido Formal Constituição diz respeito a existência de um DOCUMENTO ESCRITO, SOLENE, que apenas admite alteração mediante processo legislativo árduo e bem mais restrito do que o aplicado na alteração de leis comuns. Por essa visão, o assunto não é importante, podendo a Constituição versar sobre qualquer conteúdo. 6. Sentido Ontológico Autor: Karl Loewenstein (Alemanha) Obra: Teoria da Constituição (1959) A Constituição teria por função precípua institucionalizar a distribuição do exercício do poder político, porém, a existência de uma Constituição escrita não tem por si condições de garantir esse cenário, porque as normas constitucionais podem estar em desacordo com a realidade do Estado. Loewenstein propôs uma classificação ontológica das Constituições, de acordo com a sua compatibilidade com a realidade: · A Constituição Normativa é respeitada por todos os Poderes, fruto de uma educação política, da consolidação da democracia, que proporciona uma plena integração entre os cidadãos e o Estado. · A Constituição Nominal, em contrapartida, é juridicamente válida, mas o processo político não se adapta totalmente às suas normas, ou seja, não há uma plena integração das normas com a situação fática social. Ela possui função educativa e objetiva se tornar normativa. · A Constituição Semântica não é juridicamente válida, constitui mera formalização da situação imposta pelos detentores do poder político em benefício exclusivo deles mesmos. Objetiva legitimar e perpetuar o poder de poucos sob aparência de legalidade. 7. Sentido Pós-positivista A Constituição é a lei suprema do Estado, é o fundamento de validade do ordenamento jurídico, mas não é apenas norma jurídica, havendo uma aproximação entre o Direito e a ética, o direito e a justiça. O trabalho do intérprete das normas constitucionais deve ter em vista a preservação da sua dignidade como ser humano. A Constituição deve apresentar correspondência com a realidade social, elevando ao topo do ordenamento jurídico os direitos fundamentais. Trata-se de um conjunto aberto de normas que estão em constante evolução interpretativa. 8. Força Normativa da Constituição Autor: Konrad Hesse (Alemanha – antiga Prússia) Obra: Força Normativa da Constituição (1991) Hesse combateu o pensamento de Lassalle ao defender que nem sempre os fatores reais de poder prevalecem sobre uma Constituição normativa, pois admitir o contrário seria limitar o Direito Constitucional à interpretação de fatos políticos, com vistas a justificar a atuaçãodos poderes dominantes. Ele declarou a força normativa da Constituição, capaz de fixar ordem e conformação à realidade política e social. A Constituição normativa restringe o arbítrio desmedido de alguns e protege o Estado. 9. Sociedade Aberta dos Intérpretes Autor: Peter Häberle (Alemanha) Obra: Hermenêutica Constitucional (1975) A Constituição tem objeto dinâmico e aberto, a fim de se adequar às novas expectativas e necessidades do cidadão. A Constituição admite mudanças formais (emendas) e informais (mutação constitucional) e processo de interpretação é fruto da participação de todos os cidadãos, já que a titularidade do Poder Constituinte é do povo. 10. Sentido Culturalista Autor: Hermann Heller (Alemanha) Obra: Teoria do Estado (1968) Defende a existência de uma Constituição total formada por aspectos jurídicos, econômicos, filosóficos e sociológicos. A Constituição recebe influências da cultura total de um povo e também, por meio de sua força normativa, interfere na própria cultura. Conclusões - Seja qual for a concepção, é certo que a Constituição é a Lei Suprema do Estado, que dá validade a todo o ordenamento jurídico, fruto da vontade do povo, manifestada por Assembleia Constituinte e motivada por uma necessidade concreta de organização sociológica, política, econômica e cultural, de forma a atender aos anseios da comunidade e a frear uma ação estatal contra os direitos da humanidade. SENTIDO PENSADOR EXPRESSÃO IDENTIFICADORA Sociológico Ferdinand Lassale A Constituição precisa refletir a somatória dos fatores reais de poder. Do contrário, não passaria de uma folha de papel. Político Carl Schmitt Constituição seria a decisão política fundamental do país. Pensador diferencia Constituição (conteúdo verdadeiramente constitucional) de leis constitucionais (está na Constituição, mas o conteúdo não é constitucional). Jurídico Hans Kelsen Constituição é norma pura, sem interferência da filosofia, sociologia ou ciência política. Constituição reside no mundo do dever ser, e não do ser. Contraposição às ideias de Lassale. Sentido lógico-jurídico: norma fundamental hipotética, pressuposto de validade da Constituição. Sentido jurídico-positivo: norma suprema, fundamento de validade das demais normas. Normativo Konrad Hesse Por ter status de norma jurídica, Constituição seria dotada de força normativa suficiente para vincular e impor os seus comandos. Culturalista J.H. Meirelles Teixeira Constituição é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir. A concepção culturalista levaria ao conceito de Constituição Total (abrange aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos). CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 1) Quanto ao Conteúdo Material (substancial): matérias tipicamente constitucionais, não importando se estão ou não codificadas em um único documento. Formal: trata de assuntos variados, mas todos constam do mesmo documento. 2) Quanto à Forma (ou apresentação) Escrita (instrumental): organizada em um documento solene de organização do Estado. Não-escrita (costumeiras ou consuetudinárias): encontrada em leis esparsas, costumes, jurisprudências. 3) Quanto ao Modo de elaboração Dogmática: feita em dado momento - por um órgão constituinte em um único documento. Histórica (costumeira): da lenta evolução histórica de um povo, por isso encontrada em variados documentos. 4) Quanto à Extensão Analítica (extensa/prolixa): trata de assuntos diversos, por isso o texto é extenso. Sintética (negativa): só trata de assuntos fundamentais para a existência do Estado, por isso seu texto é conciso. 5) Quanto à Finalidade (sentido teleológico) Garantia: apenas limitar poderes estatais (1ª dimensão) e organizar a estrutura mínima do Estado. Dirigente (programática): tem a finalidade de dirigir o Estado acerca de variados assuntos. Cria programas vinculantes para o legislador ordinário. Balanço (Constituição do ser): Espelha certo período político, findo o qual é formulado um novo texto constitucional para o período seguinte. 6) Quanto à Origem Outorgada: imposta pelo governante - sem participação popular. Promulgada (democrática, popular): Assembleia Nacional Constituinte - eleita diretamente pelo povo. Cesarista (Bonapartista): outorgada, consulta popular por referendo, mas a participação não é democrática. Pactuada (dualista): fruto do acordo entre duas ou mais forças políticas. 7) Quanto à Estabilidade (durabilidade) Imutável: não admite nenhuma modificação ao seu texto. Flexível: é atualizada da mesma forma que a lei comum. Semirrígida (semiflexível): um pedaço do texto exige um processo de modificação mais rigoroso que o destinado à alteração das leis comuns e outra parte de seu texto é alterada da mesma maneira das leis. Rígida: processo legislativo mais rigoroso que o da lei. Superrígida - defendida por Alexandre de Moraes (minoritária) - devido as cláusulas pétreas. 8) Quanto à correspondência com a realidade (critério Ontológico) Semântica: sem valor jurídico, é instrumento de legitimação de poder. Sem correspondência com a realidade. Nominal: tem valor jurídico, mas não apresenta completa correspondência com a realidade. Normativa: legitimamente criada e plena correspondência com a realidade. 9) Quanto à Ideologia (dogmática) Ortodoxa: uma ideologia. Eclética (heterodoxa/compromissória): diferentes ideologias opostas. 10) Quanto à Origem da Decretação Autoconstituição (homoconstituição): produzida e aplicada no mesmo país. Heteroconstituição: decretada fora do Estado, a partir da atuação de um órgão internacional ou de um órgão constituinte de outro Estado. 11) Quanto ao Objeto (conteúdo ideológico) Liberal: pautada na limitação do Estado - liberdade individual e na intervenção mínima do Estado. Social: pautada na igualdade (2ª dimensão) e na obrigatoriedade de que o Estado desenvolva políticas públicas em defesa dos hipossuficientes. 12) Quanto ao Sistema Principiológica: base fundamental os princípios constitucionais - contém normas de alta abstração, enumera valores que precisam ser perquiridos pelo Estado. Preceitual: critério básico as regras constitucionais, prima por elas, mesmo havendo princípios. 1. Conteúdo - material / formal 2. Forma - escrita (instrumental) / não-escrita (costumeira) 3. Modo de Elaboração - dogmática / histórica 4. Finalidade (teleológica) - garantia / dirigente / balanço 5. Origem - outorgada / promulgada / cesarista / pactuada 6. Decretação (Origem da) - autoconstituição / heteroconstituição 7. Extensão - analítica / sintética 8. Estabilidade - imutável / rígida / flexível / semirrígida 9. Ontologia (correspond. Com a realidade) - semântica / nominal / normativa 10. Ideologia - ortodoxa / eclética 11. Objeto - liberal / social 12. Sistema - principiológica / preceitual. MNEMÔNICO - C F ME F O D E2 O I O S = FORMAL ESCRITA DOGMÁTICA DIRIGENTE PROMULGADA AUTOCONSTITUIÇÃO ANALÍTICA RÍGIDA NORMATIVA ECLÉTICA SOCIAL PRINCIPIOLÓGICA FO ES DO DI PRO AUTO ANAL RI NO EC SO PRIN 5 ELEMENTOS DAS CONSTITUIÇÕES - José Afonso da Silva - SEcLFaO ELEMENTOS CONTEÚDO Orgânicos Regulam a estrutura do Estado e do Poder. Ex.: Títulos III e IV - Organização do Estado e Organização dos Poderes. Limitativos Limitam a ação dos poderes estatais. Ex.: Título II – Direitos e Garantias Fundamentais. Socioideológicos Ligado aos direitos sociais (artigos 6o a 11) e à Ordem Social (artigos 193 a 232). Direitos de 2a geração/dimensão. Estabilização Constitucional Usados em situação de grave perturbação. Ex.: estado de defesa e estado de sítio. A ADI também entra aqui, porque serve para tirar normas inconstitucionais do sistema. Formais De Aplicabilidade Encontram-se nas normas que estabelecem regras de aplicação das Constituições. Exemplos: a) preâmbulo; b) disposições constitucionais transitórias; c) art. 5.o, § 1.o, quando estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.---//--- Artigo 1o da CRFB/88 - "[...]todo Poder emana do povo [...]". O titular do poder é o povo, exercido por meio dos representantes eleitos (representativo). O Poder Constituinte pode ser conceituado como o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, mediante a supressão, modificação ou acréscimo de normas constitucionais. O poder constituinte pode ser dividido em originário e derivado e em poder constituinte difuso e o supranacional. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO (PCO) Poder Constituinte Inicial, inaugural, de primeiro grau, genuíno ou primário. Se o Estado é novo - poder constituinte originário histórico, ou; Se uma Constituição é substituída por outra, em Estado já existente (poder constituinte revolucionário). O poder constituinte originário gera e organiza os poderes do Estado, instaurando o próprio Estado constitucional. Características: P I P I A I 1. Político: é um poder de fato, extrajurídico, anterior ao direito. É o responsável por criar um ordenamento jurídico; 2. Inicial: Dá início a uma nova ordem jurídica, rompendo com a anterior; 3. Incondicionado: não se sujeita a qualquer forma ou procedimento predeterminado em sua manifestação; 4. Permanente: Pode se manifestar a qualquer tempo. Ele não se esgota com a elaboração de uma nova Constituição; 5. Ilimitado juridicamente: Não se submete a limites determinados pelo direito anterior; 6. Autônomo: tem liberdade para definir o conteúdo da nova Constituição. OBS: a) Não existe a invocação de direito adquirido frente ao PCO; b) O legislador ordinário e o PCD (reformador, revisor e decorrente) precisam respeitar o direito adquirido. Demais classificações do Poder Constituinte Originário I. Quanto ao momento de sua manifestação Histórico (fundacional): é o responsável pela criação da primeira Constituição de um Estado; Pós-fundacional (revolucionário): cria uma nova Constituição para o Estado, em substituição à anterior. Essa nova Constituição poderá ser fruto de uma revolução ou de uma transição constitucional. II. Quanto às dimensões Material: antecede o momento formal; é o poder material que determina quais serão os valores a serem protegidos pela Constituição. É nesse momento que se toma a decisão de constituir um novo Estado; Formal: O poder formal sucede o poder material e fica caracterizado no momento em que se atribui juridicidade àquele que será o texto da Constituição. Graus de retroatividade da norma constitucional: mínimo, médio ou máximo STF - normas constitucionais fruto da manifestação do PCO têm, em regra, a chamada retroatividade mínima. Elas serão aplicadas a fatos que venham a ocorrer após a sua promulgação, mesmo que relativos a negócios firmados no passado. PODER CONSTITUINTE DERIVADO Poder Constituinte de 2º/Constituído/Instituído/Secundário/Remanescente. Consiste no poder de Modificar a Constituição Federal e Elaborar as Constituições Estaduais. Características: 1. Jurídico: é regulado pela Constituição, estando, portanto, previsto no ordenamento jurídico vigente; 2. Derivado: criado pelo Poder Constituinte Originário; 3. Limitado ou subordinado: é limitado pela Constituição, não podendo desrespeitá-la, sob pena de inconstitucionalidade; 4. Condicionado: a forma de seu exercício é determinada pela Constituição; Subdivisões do Poder Constituinte derivado 1. Poder Constituinte Derivado Reformador: consiste no poder de modificar a Constituição; 2. Poder Constituinte Decorrente: poder conferido pela CF aos estados-membros de se auto organizarem, por meio da elaboração de suas próprias constituições; 3. Poder constituinte Revisor: previsto em nosso ordenamento no art. 3º do ADCT, com a seguinte redação: Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. O Poder Constituinte REVISOR encontra-se com sua eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada, já que se passaram 5 anos da promulgação da Constituição Federal de 1988. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE Possibilidade de os Estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto-organizarem por meio de suas Constituições Estaduais, sempre respeitando os princípios colocados na Constituição (art. 25). Princípios a serem respeitados: a) Princípios constitucionais sensíveis: se violados, autorizam a decretação de intervenção federal. art. 34, VII, CRFB. b) Princípios constitucionais estabelecidos (organizatórios): "aqueles que limitam, vedam ou proíbem a ação indiscriminada do Poder Constituinte Decorrente. Funcionam como balizas reguladoras da capacidade de auto-organização dos Estados”: I – Limites explícitos vedatórios ou mandatórios: proíbem os estados de praticar atos ou procedimentos contrários aos fixados pelo Constituinte Originário (Ex.: artigo 19), ou impõem restrições à liberdade de organização. Ex: art. 18, § 4º. II – Limites inerentes: implícitos ou tácitos, vedariam qualquer possibilidade de invasão de competência por parte dos estados-membros. III – Limites decorrentes: assim chamados por decorrerem das disposições expressas. c) Princípios constitucionais extensíveis: integram a estrutura da federação brasileira, relacionado-se, por exemplo, com a forma de investidura em cargos eletivos (artigo 77), o processo legislativo (arts. 59 e ss), os orçamentos (arts. 165 e ss), os preceitos ligados à Administração Pública (arts. 37 e ss). OBS: o poder constituinte derivado decorrente NÃO foi estendido aos Municípios (politicamente organizados por lei orgânica). POIS a lei orgânica do município se submete a um duplo grau de imposição legislativa, devendo ser compatível com a Constituição Federal e com a Estadual. OBS: O confronto entre uma lei municipal x lei orgânica municipal é chamado de controle de legalidade, e não de constitucionalidade. OBS: O confronto entre uma lei distrital x lei orgânica distrital configura inegável controle de constitucionalidade. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: [...] VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. PODER CONSTITUINTE x DERIVADO REVISOR (ECR) Eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada - Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR (EC) acréscimos, supressões ou modificações do texto constitucional. apresentam limitações: - Explícitas (limitações procedimentais, materiais e circunstanciais), previstas no art. 60 da Constituição. Implícitas, extraídas da orientação doutrinária e jurisprudencial. Direitos individuais nos 5 grupos seguintes: direito à vida; à intimidade; de igualdade; de liberdade; de propriedade Limitações ao poder de emenda à Constituição: OBS: o presidente da República NÃO promulga, não sanciona e NÃO veta as emendas à Constituição. A única fase em que ele pode participar é na iniciativa, propondo a PEC. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II – do Presidente da República; III – de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando- se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. OBS: CF.Art. 60, § 3º, A EMENDA À CONSTITUIÇÃO será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO Quando a nova Constituição, ao invés de revogar a anterior, opta por recebê-la com status de lei (infraconstitucional). RECEPÇÃO MATERIAL Na recepção material, as disposições da Constituição anterior são recebidas com status de normaconstitucional. OBS: Assim como a desconstitucionalização, a recepção material só será possível caso haja a previsão expressa na nova Constituição. Do contrário, volta-se para a regra da revogação total (ab-rogação). PODER CONSTITUINTE DIFUSO (MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL) - Poder constituinte difuso, procedimento de mudança informal da Constituição ou mutação constitucional (o mais conhecido). - A modificação produzida pelo poder constituinte difuso se instrumentaliza de modo informal e espontâneo, como verdadeiro poder de fato, e que decorre dos fatores sociais, políticos e econômicos. PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL - Poder que cria uma Constituição, na qual cada Estado cede uma parcela de sua soberania para que uma Constituição comunitária seja criada. O titular deste Poder não é o povo, mas o cidadão universal. EX.: União Europeia PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS – A IDEIA DA SUPREMACIA Da ConsTiTuiÇÃo - Atos normativos primários - assim chamados por retirarem sua força normativa diretamente da Constituição, o que implica dizer que eles estão sujeitos a controle de constitucionalidade. - STF não admite a teoria da inconstitucionalidade de normas originária - Não existe hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais - Não há hierarquia entre (LO) e (LC). Apenas são diferentes âmbitos de atuação. - Jurisprudência do STF - uma LC pode ser revogada por uma LO (desde que a LC tenha tratado de matéria própria de LO). - Em regra, tratados internacionais têm status (força) de lei ordinária. Encaixam-se entre os atos normativos primários. - A incorporação de tratados em nosso ordenamento é ato complexo, com a manifestação do Executivo e do Legislativo. Tanto para ingressar no ordenamento quanto para ele ser denunciado é necessária a participação do Presidente e do Congresso (ADI 1.625). - Atos primários se submetem a controle de constitucionalidade, os secundários se sujeitam a controle de legalidade - Controle de Convencionalidade. - Verificação de compatibilidade entre os atos primários e as normas supralegais, que lhes são superiores. - Os atos primários se sujeitam a duplo controle: de constitucionalidade e de convencionalidade. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Exemplos de normas limitadas: artigos 3o (objetivos da RFB); 4o (princípios nas relações internacionais); 6o (direitos sociais); 196 (direito à saúde); e 205 (direito à educação). Dois grandes grupos: normas de princípio institutivo (ou organizativo) e normas de princípio programático. As normas de eficácia limitada, declaratórias de princípios institutivos ou organizativos (ou orgânicos) contêm esquemas gerais (iniciais) de estruturação de instituições, órgãos ou entidades. Ex.: Art. 18, § 2º; 22, parágrafo único; 25, § 3º; 33; 37, VII; 37, XI; 88; 90, § 2º; 91, § 2º; 102, § 1º; 107, § 1º; 109, VI; 109, § 3º; 113; 121; 125, § 3º; 128, § 5.o; 131; 146; 161, I; 224...11 As normas de eficácia limitada, declaratórias de princípios programáticos, veiculam programas a serem implementados pelo Estado, visando à realização de fins sociais (arts. 6o — direito à alimentação; 196 — direito à saúde; 205 — direito à educação; 215 — cultura; 218, caput — ciência, tecnologia e inovação (EC n. 85/2015); 227 — proteção da criança...). HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL - métodos de interpretação 1. Método jurídico ou hermenêutico clássico - A CF como uma lei; o intérprete deve seguir diferentes elementos tradicionalmente usados (genético, gramático ou filológico, lógico, sistemático, histórico, teleológico ou sociológico, popular, doutrinário e evolutivo) para descobrir o verdadeiro significado e sentido da norma. 2. Método tópico-problemático - deve partir de um problema concreto para a norma. 3. Método hermenêutico-concretizador - parte da Constituição para o problema, valendo-se de diferentes pressupostos interpretativos. Os pressupostos são subjetivos (relativo ao papel criador do intérprete) e objetivos (inerentes às circunstâncias e o contexto no qual se desenvolve tal atividade). Relação entre o texto e o contexto. Processo contínuo e nunca se esgota ou se estabiliza, ESPIRAL HERMENÊUTICA de Gadamer. 4. Método científico-espiritual - a análise da norma constitucional NÃO se fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da Constituição. 5. Método normativo-estruturante - “a norma constitucional abrange um ‘pedaço da realidade social’; ela é conformada não só pela atividade legislativa, mas também pela jurisdicional e pela administrativa” 6. Método da comparação constitucional - a interpretação deve partir da comparação de institutos jurídicos, normas e conceitos nos vários ordenamentos jurídicos. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO 1. Princípio da Unidade da Constituição - Afastar as aparentes antinomias. Obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão. 2. Princípio do Efeito Integrador (ou eficácia integradora) - Dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política. 3. Princípio da Máxima Efetividade (ou interpretação efetiva ou eficiência) - ligado ao princípio da força normativa da constituição. Interpretar as normas constitucionais para dar maior eficácia aos direitos fundamentais, no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla efetividade social. 4. Princípio da Justeza (ou conformidade funcional ou correção funcional) - o intérprete (STF) não pode alterar a repartição de funções constitucionalmente estabelecidas pelo constituinte originário, como é o caso da separação de poderes, no sentido de preservação do estado de Direito. Não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional constitucionalmente estabelecido (EHMKE) 5. Princípio da concordância prática (ou da harmonização) - ligado ao princípio da unidade preza “pela coexistência harmônica entre bens constitucionalmente protegidos que estejam em uma aparente situação de conflito entre eles, evitando-se o sacrifício total de um deles em detrimento do outroTem por fundamento a inexistência de hierarquia entre os princípios. 6. Princípio da força normativa da Constituição - imposição (ou conselho) para que os intérpretes da Constituição, na solução dos problemas jurídico-constitucionais, procurem dar preferência aos pontos de vista que, ajustando historicamente o sentido das suas normas, confiram-lhes maior eficácia. Não pode o intérprete reduzir a eficácia do texto constitucional, devendo, em verdade, conferir-lhe a máxima aplicabilidade. 7. Princípio da interpretação conforme a Constituição - Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (as que admitem mais de uma interpretação), deve-se dar preferência à interpretação que lhes compatibilize o sentido com o conteúdo da Constituição. Lenza - “Não se aceita a interpretação conforme a Constituição quando, pelo processo de hermenêutica, se obtiver uma regra nova e distinta daquela objetivada pelo legislador e com ela contraditória, em seu sentido literal ou objetivo”. OBS: Para se aplicar a interpretação conforme à Constituição não há a necessidade de submeter o julgamento ao Plenário ou ao órgão especial do Tribunal, pois as normas nascem com presunção (relativa) de constitucionalidade. Já a cláusula de reserva de plenário, prevista no artigo 97 da Constituição, só precisa ser observada na declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto. 8. Princípio da proporcionalidade (ou da razoabilidade) - “Exige a tomada de decisões racionais, não abusivas, e que respeitem os núcleos essenciais de todos os direitos fundamentais. Por meio dele, analisa-se se as condutas são adequadas, necessárias e trazem algum sentido em suas realizações”. Conta com três subprincípios: - Necessidade/Exigibilidade: adoção da medida que possa restringir direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se puder substituí-la por outra menos gravosa; - Adequação/pertinência/idoneidade:significa que o meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido; - Proporcionalidade em sentido estrito: medida necessária e adequada, deve-se investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido, supera a restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima efetividade e mínima restrição.” CONSTITUCIONALISMO E NEOCONSTITUCIONALISMO Constitucionalismo - teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. O constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. O conceito transporta um claro juízo de valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo. Neoconstitucionalismo - movimento que busca reaproximar do direito da ética e da moral. Fundado em três relevantes marcos, quais sejam, o histórico, o filosófico e o teórico. Reação ao positivismo. Segundo este, o Direito restringe-se ao que está positivado, vale dizer, ao que foi estabelecido pelo agente competente. Dentre os positivistas, destacam-se dois paradigmáticos: Hans Kelsen e Herbert Lionel Adolphus Hart. O neoconstitucionalismo na verdade é a concretização de valores consagrados na Constituição Federal. É um movimento teórico de REVALORIZAÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL, de sorte a conferir uma nova abordagem do papel da constituição no sistema jurídico, com base em novas premissas como a difusão e o desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentais e a força normativa da constituição, objetivando a transformação de um ESTADO LEGAL ⇒ ESTADO CONSTITUCIONAL. Dentre suas principais características podem ser mencionados: a) positivação e concretização de um catálogo de direito fundamentais; b) onipresença dos princípios e de regras - busca do caráter axiológico da CF; c) inovações hermenêuticas; (*ex: decisões manipulativas) d) densificação da força normativa do Estado: e) desenvolvimento da justiça distributiva” Os 3 grandes marcos: Histórico - Filosófico - Teórico a) Marco Histórico: com o fim da 2ª Guerra Mundial, acentuou-se a preocupação com o resgate da dignidade da pessoa humana; Na Europa Continental, foi o constitucionalismo do pós-guerra. No Brasil, foi a Constituição de 1988 e o processo de redemocratização que ela ajudou a protagonizar; b) Marco Filosófico: pós-positivismo, superação da dicotomia entre positivismo e jusnaturalismo e reaproximação entre direito e ética; c) Marco Teórico: força normativa da constituição, expansão da função jurisdicional (maior ativismo judicial) e desenvolvimento de nova interpretação constitucional (princípios da unidade da Constituição, da concordância prática, da correção funcional, da eficiência integradora como norteadores da interpretação constitucional). As perspectivas do neoconstitucionalismo se enveredam pelas seguintes teses: Constitucionalização do direito, com a irradiação das normas constitucionais e valores constitucionais, sobretudo os relacionados aos direitos fundamentais (busca pela efetividade dos direitos fundamentais, tendo em vista sua eficácia irradiante) para todos os ramos do ordenamento; Reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e a valorização da sua importância no processo de aplicação do direito; Reaproximação entre o direito e a moral; Judicialização da política e das relações sociais, com um significativo deslocamento de poder da esfera do legislativo e do Executivo para o Poder Judiciário (o Judiciário passa a ser um poder protagonista das ações); Ponto de críticas - posturas neoconstitucionalistas que podem conduzir a um verdadeiro decisionismo e subjetivismo exacerbado por parte do Poder Judiciário. Este, na busca pela efetivação dos direitos fundamentais, bem como por suprir as omissões dos outros poderes e por tentar proibir o excesso dos outros poderes, pode se tornar ele mesmo o excesso ilimitado - excesso de poder no judiciário. Releitura da teoria da norma (com o reconhecimento da normatividade dos princípios e a exigência de procedimentos complexos como o da ponderação para solucionar a colisões entre eles), da teoria das fontes (com o fortalecimento do papel do Judiciário) e da teoria da interpretação (necessidade de novas posturas interpretativas à luz do papel assumido pela Constituição no que tange à sua centralidade e força normativa). fim da ap. 01 image2.png image3.png image4.png image5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png image1.png