Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 72 OLHARES PLURAIS - Artigos BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A EVOLUÇÃO DO TRABALHO HUMANO: DO PRIMATA ÀS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO1 Igor de Araújo Falcão2 RESUMO Este trabalho apresenta uma análise das fases iniciais do trabalho humano, desde sua origem primitiva até as primeiras regulamentações legais. Menciona características presentes nas fases anteriores ao surgimento do Direito do Trabalho, sobretudo durante os períodos da escravidão, servidão e corporações de ofício. A pesquisa, eminentemente bibliográfica, utiliza obras relacionadas à Teoria Geral do Direito do Trabalho e à História Geral, além de referências cinematográficas. Conclui-se que, até o surgimento do Direito trabalhista, o que em verdade existia era a exacerbada exploração da mão de obra, e só há pouco tempo o homem começou a experimentar garantias e melhores condições de trabalho. Palavras-chave: Trabalho humano. Exploração do trabalho. História do trabalho. INTRODUÇÃO Ao estudarmos Direito do Trabalho, bem como qualquer ramo das ciências jurídicas, parece existir uma necessidade natural de explicarmos sua origem, isso por que o Direito está intrinsecamente relacionado às constates mudanças que ocorrem no bojo da sociedade, sendo esta a principal responsável por lhe fornecer contornos e lhe adaptar às condições políticas, econômicas e culturais presentes em cada período histórico. Um entendimento histórico possibilita perceber de que maneira se deu a construção de certa disciplina, além de permitir a definição de seus rumos. Logo, estudar o passado não é algo meramente ilustrativo, pelo contrário, é uma tentativa de compreender o presente, ou, como diria Nieto (apud MEDAUAR, 2003, p. 13): “O rumo não se fixa só com relação ao ponto de chegada, mas ligando este ao ponto de partida.” Ao tentar entender o atual estágio da condição humana e vislumbrar seus destinos, é preciso ter em vista o passado, é ele que permite evoluções mais seguras e evita falhas e equívocos outrora cometidos. Como ensina Martins (2002, p. 33) “[...] o tempo passa e as coisas não são exatamente iguais como eram, mas precisam ser estudadas para se compreender o futuro. Para 1 Trabalho desenvolvido para a avaliação da disciplina Teoria Geral do Direito do Trabalho, sob a orientação da Profa. Me. Sofia Vilela de Moraes e Silva. 2 Graduado em Direito pela Sociedade de Ensino Universitário do Nordeste – SEUNE. Atualmente, pós- graduando em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário pelo Centro Universitário - CESMAC. Email: igorfamf@hotmail.com. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 73 OLHARES PLURAIS - Artigos se fazer um estudo sobre o que pode acontecer no futuro, é necessário não perder de vista o passado.” Este texto pretende analisar, de forma sucinta, os momentos iniciais do trabalho humano, desde sua origem primitiva até as primeiras regulamentações normativas introduzidas pelo Direito do Trabalho, sem, contudo, dissertar sobre todos as fases e marcos envolvidos no estudo do tema, tendo em vista a riqueza de detalhes e a profundidade histórica que este possui. Acrescente-se que serviram de base para a pesquisa jurídico-teórica que se seguirá obras relacionadas às disciplinas: História Geral e Teoria Geral do Direito do Trabalho; caracterizando um estudo eminentemente bibliográfico. 1 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A EVOLUÇÃO DO TRABALHO HUMANO: DO PRIMATA ÀS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO Ao que parece, desde sua existência o homem teve a necessidade de trabalhar, inicialmente para obter alimentos e sobreviver em um ambiente primitivo, no qual a caça era sua principal atividade, posteriormente, ao se sentir ameaçado diante de animais selvagens e de outros seres humanos, começa a fabricar armas, como lanças, machados e facas (período que coincide com a descoberta da pedra lascada). Entretanto, este é um cenário que nem sempre é citado pelos doutrinadores trabalhistas como sendo o marco inicial do trabalho humano. Autores como Martins (2002) e Nascimento (2002) introduzem suas considerações acerca do tema a partir da chamada sociedade pré-industrial, que se iniciou com a escravidão, passou pela servidão e se encerrou com as corporações de ofícios e locações. Assim, observa-se que para tais estudiosos o trabalho deve ser entendido como uma relação que contém um polo ativo e outro passivo, pressupondo a existência de ao menos duas pessoas, uma vez que só se pode falar em escravidão quando existe aquele que escraviza e aquele que é escravizado; em servidão quando existe aquele que serve (servo) e aquele que é servido (senhor feudal) e em corporações quando existem mestres, companheiros e aprendizes. Outro argumento que pode explicar a relação feita por alguns doutrinadores ao associarem a primeira forma de trabalho à escravidão é a origem latina do termo. “Trabalho vem do latim tripalium, que era uma espécie de instrumento de tortura ou uma carga que pesava sobre os animais.” (MARTINS, 2002, p. 33). OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 74 OLHARES PLURAIS - Artigos Respeitadas posições doutrinárias diversas, acreditamos que o trabalho já existia desde o surgimento do próprio homem, antes mesmo de qualquer relação escravocrata, uma vez que compreendemos o vocábulo trabalho como sendo a atividade humana despendida com a finalidade de obter qualquer retorno (alimentício ou econômico) que não seja natural do próprio homem, ou seja, que necessite de um esforço, físico ou mental, para que seja obtido, independentemente de envolver uma ou mais pessoas. Esclarecemos que tal posicionamento não se confunde com relação de trabalho, este, como sabemos, é instituto que pressupõe a bilateralidade. Vianna (2005) explica que durante o período paleolítico, ao travar combates contra seus semelhantes, o homem tinha por hábito matar seus inimigos, que serviam de alimento ou eram mortos para evitar novos conflitos. Todavia, com o passar do tempo, percebeu que em vez de dar fim a seus rivais, seria mais útil mantê-los sob seu poder para se servir de sua força de trabalho, deu-se início, então, à escravização. Os mais valentes e os chefes, que faziam maior número de prisioneiros, não podendo utilizar a todos em seu serviço pessoal, passaram a vendê-los, trocá-los ou alugá-los. Aos escravos eram dados os serviços manuais exaustivos não só por essa causa como, também, porque tal gênero de trabalho era considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres. (VIANNA, 2005, p. 27). Percebe-se que o labor, sob o ponto de vista histórico, era visto como algo vergonhoso, sobretudo o de natureza manual. Vale ressaltar que a escravidão, em algumas civilizações, como a romana, não se deu, somente, devido a uma imposição de poder, exercida por uma classe economicamente mais forte sobre outra mais fraca, tanto é que podiam ser escravos desde simples pastores até filósofos e poetas. Situação essa retratada no famoso longa-metragem, dirigido por Ridley Scott, “O Gladiador”, no qual o personagem interpretado por Russel Crowe, um importante general do império romano, é transformado em escravo após ser derrotado em uma batalha. Na Grécia, as circunstâncias não eram diferentes, lá o trabalho também possuía sentido pejorativo. Martins (2002) explica que mesmo grandes filósofos, como Platão e Aristóteles, interpretavam o labor como um encargo menos importante, do qual os escravos deveriam se encarregar, ficando as atividades mais nobres, como a política, cometidas a outras pessoas. Tido como mero objeto a disposição de seu dono, é possível concluirmos que não existiam quaisquer direitos que resguardassem a figura do escravo, não se tratava, pois, de um sujeito de direitos, mas de uma propriedade. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 75 OLHARES PLURAIS - Artigos A escravização também possibilitou a criação de um grande mercado relacionado à venda e locação da força de trabalho escrava, era a chamada Locatio Conductio, que segundo Martins (2002, p. 34, itálico no original) era dividida de três formas: “(a) locatio conductio rei, que era o arrendamento de uma coisa; (b) locatio conductio operarum, em que eram locados serviços mediante pagamento; (c) locatio conductio operis, que era a entrega de uma obra ou resultado mediante pagamento (empreitada).” Como se sabe, o trabalho escravo não é uma situação presente apenas em períodos remotos da história, tendo perdurado nos tempos medievais, durante o qual até mesmo a Igreja lhe tirou proveito. Vianna (2005) sublinha como momento emblemático desse período a situação em que o Rei Fernando, conhecido como O Católico, oferece dez escravos ao Papa Inocêncio VIII, que os distribui entre seus Cardeais. Já no período Moderno, do qual fazem parte as grandes navegações e o descobrimento da América, a exploração da mão de obra assumiu variadas formas de trabalho compulsório. A respeito do sistema colonial espanhol, Figueira (2002, p. 147) destaca que embora os índios do novo mundo fossem considerados vassalos livres pelas leis da Espanha, isso não impediu que os conquistadores submetessem os nativos à escravidão, para tanto, utilizavam-se da premissa de que estes eram “fracos, amigos do ócio, da bebedeira e da luxúria” e de que, justamente por tais motivos, “deveriam ser compelidos a trabalhar e receber a doutrina da fé católica”. Como afirmamos, o escravo era tratado como um objeto a disposição de seu proprietário, sem leis que lhe possibilitassem quaisquer direitos ou garantias, entretanto, Figueira (2002, p. 147, grifos no original) afirma que: “De acordo com as leis espanholas, os indígenas deveriam receber um salário e ter assegurada boa condição de trabalho, mas isso nem sempre se cumpria. Os colonos referiam-se às leis com uma frase pitoresca: “‘Se acata, pero no se cumple’”. Com a chegada da Revolução Francesa e de seus ideais de liberdade, a escravidão começa gradativamente a ser extinta, ao menos em seus moldes tradicionais. Com isso, a forma de trabalho humano que se seguiria era a representada pela servidão, que, em verdade, não passava de uma forma de escravidão com pequenas distinções. Nascimento (2002, p. 27) afirma que: “Não diferiu muito a servidão, uma vez que, embora recebendo certa proteção militar e política prestada pelo senhor feudal dono das terras, os trabalhadores também não tinham uma condição livre.” Os servos eram compelidos a trabalhar nas propriedades de seus senhores entregando-lhes boa parte do que produziam como forma de pagamento pela permanência nas OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 76 OLHARES PLURAIS - Artigos terras e pela “defesa” que recebiam. Interessante notar que durante o período feudal, ainda que um feudo mudasse de senhor, os vassalos que ali se encontravam não poderiam sair, pois estavam presos à terra, passando a prestar serviços ao novo senhor. Para melhor esclarecermos as diferenças entre servos e escravos utilizamo-nos das palavras de Kominsky (apud FIGUEIRA, 2002, p. 72): Havia diferenças, de fato, entre o servo e o escravo. O servo tinha o direito à sua vida, garantia que o escravo não conhecia, pois podia até ser morto pelo amo. Além disso, ainda que entregasse grande parte da colheita ao senhor, o servo produzia sua própria economia. Entretanto, a condição de exploração de ambos era semelhante. Os servos ficavam à mercê de circunstâncias quase tão cruéis quanto as enfrentadas pelos escravos. Como se pode presumir, aos servos não eram garantidos quaisquer direitos trabalhistas, embora Vianna (2005) ressalte que a eles era possível recorrer aos juízes contra os senhores das terras, mas somente nos casos em que estes pretendessem se apossar do arado e dos animais daqueles. Outro ponto de contato entre servos e escravos era o livre modo que os senhores feudais tinham para dispor de seus serviços, tanto é que podiam mobilizá-los compulsoriamente para guerras, além de cedê-los, sob forma de contrato, aos proprietários das fábricas e oficinas que começavam a surgir, estes, aliás, foram os responsáveis pelo surgimento de uma nova forma de trabalho, conhecida como corporações de ofício. As severas condições a que eram submetidos levaram os servos a fugirem dos campos, concentrando-se em cidades e vilarejos distantes da influência da nobreza; lá, desenvolveram o comércio e o artesanato. Esses locais, como explicam Arruda e Piletti (2000), geralmente ficavam próximos aos burgos (fortalezas que sediavam os tribunais e as moradias dos grandes senhores, além de servirem de refúgio às populações mais próximas em caso de invasão inimiga) ou às abadias (mosteiros fortificados que serviam para abrigar monges e representantes da Igreja Católica – situação que pode ser observada no filme “O Nome da Rosa” de 1986, dirigido por Jean-Jacques Annaud). O crescimento populacional em tais localidades proporcionou o desenvolvimento do mercado. Troncoso (apud VIANNA, 2005) afirma que a identidade profissional serviu como elemento de aproximação entre os homens, compelindo-os a se unirem, o que proporcionou o gradativo surgimento das corporações de ofício. Assim, os artesãos e comerciantes formaram o principal núcleo das comunidades urbanas. As unidades de produção típicas eram as oficinas. O mestre era o detentor da matéria-prima e das ferramentas; ao final da produção, ficava com os produtos fabricados e, por conseguinte, com os lucros das vendas. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 77 OLHARES PLURAIS - Artigos O homem, que até então, trabalhava em benefício exclusivo do senhor da terra, tirando como proveito próprio a alimentação, o vestuário e a habitação, passara a exercer sua atividade, sua profissão, em forma organizada, se bem que ainda não gozando de inteira liberdade. É que, senhor da disciplina, não só profissional, mas também pessoal do trabalho, surgia a figura do “mestre”. (VIANNA, 2005, p. 31, grifo no original). Outras figuras que surgiram nesse cenário eram os oficiais ou companheiros, que auxiliavam nas atividades da oficina, e os aprendizes, jovens que recebiam dos mestres os ensinamentos da profissão. Segundo Martins (2002, p. 34), as corporações de ofício tinham como características: “[...] estabelecer uma estrutura hierárquica; regular a capacidade produtiva; regulamentar a técnica de produção. Os aprendizes trabalhavam a partir de 12 ou 14 anos, e em alguns países já se observava prestação de serviços com idade inferior.” Martins (2002) ainda chama a atenção para o fato de que os aprendizes, que permaneciam sob a responsabilidade dos mestres, ficavam passíveis de sofrer castigos de natureza corporal. A jornada de trabalho era longa, variando de 12 a 14 horas por dia; com a invenção do lampião a gás, em 1792, chegou-se a registrar jornadas de 18 horas diárias, pois muitas oficinas começavam a produzir durante o período noturno. Como se pode imaginar, inexistiam normas de proteção aos trabalhadores das oficinas, todavia, Vianna (2005) menciona que, na Espanha, os monarcas da Corte de Valladolid proibiram o penhor dos instrumentos de trabalho e extinguiram a prisão dos trabalhadores por motivo de dívida; tais medidas, aparentemente, pareciam demonstrar o surgimento de melhores condições de trabalho, porém, uma das intenções dos imperadores era incentivar a produção para aumentar a arrecadação dos impostos. Parece claro que o sistema das corporações de ofício não se diferenciava muito das formas servis e de escravidão, mas ao contrário destas últimas conseguiu provocar o surgimento de grupos de trabalhadores interessados em melhorar suas condições de trabalho e proclamar os ideais de liberdade, até então incompatíveis com as condições vigentes. Para Martins (2002), as corporações de ofícios foram enfraquecidas pela Revolução Francesa e suprimidas de vez pelo Decreto d’Allarde e pela Lei Le Chapelier, de 1791; esta última proibia a criação de oficinas, bem como qualquer forma semelhante de agrupamento entre trabalhadores. Era o início do Estado Liberal. A Revolução Francesa, ocorrida no século XVIII, representou um marco para as mudanças estruturais do Estado: “Desse modo, tornou-se [...] gênero de importantíssimas renovações institucionais, na medida em que içou, a favor do Homem, a tríade da liberdade, igualdade e fraternidade, decretando, com seus rumos, o presente e o futuro da civilização.” (BONAVIDES, 2009, p. 30). OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 78 OLHARES PLURAIS - Artigos Como sabemos, o liberalismo defendia um Estado não intervencionista, alheio, principalmente, à área econômica e distante de interferências na vida da comunidade. A Revolução Industrial, o surgimento da máquina de fiar e da máquina a vapor são tidos pela doutrina trabalhista como os acontecimentos responsáveis por transformar o trabalho em emprego, e, mais que isso, foram determinantes para o desenvolvimento do trabalho assalariado, dos contratos de trabalhos e, por conseguinte, do próprio Direito do Trabalho. Havia necessidade de que as pessoas viessem, também, a operar as máquinas não só a vapor, mas as máquinas têxteis, o que fez surgir o trabalho assalariado. Daí nasce uma causa jurídica, pois os trabalhadores começaram a reunir-se, a associar-se, para reivindicar melhores condições de trabalho e de salários, diminuição das jornadas excessivas [...] e contra a exploração de menores e mulheres. Substituía-se o trabalho adulto pelo das mulheres e menores, que trabalhavam mais horas, percebendo salários inferiores. A partir desse momento, surge uma liberdade na contratação das condições de trabalho. O Estado, por sua vez, deixa de ser abstencionista, para se tornar intervencionista, interferindo nas relações de trabalho. (MARTINS, 2002, p. 36). A citação acima explica bem o momento de transição entre o trabalho efetuado sem nenhuma proteção de ordem legal e o trabalho visto como emprego, regulamentado por normas; estas, apesar de parecerem pouco efetivas num primeiro momento – como é o caso, lembrado por Martins (2002), da Lei de Peel, que proibia o trabalho aos menores de 09 anos, mas previa uma jornada de 12 horas diárias para as crianças com idade superior – foram importantes para demonstrar que o Estado começava a se preocupar com as condições de trabalho de seus cidadãos. A partir de então, diversas regulamentações começaram a surgir, provenientes, inclusive, da Igreja, que se manifestou através das Encíclicas Rerum Novarum (1891), Quadragesimo Anno (1931), Divini Redemptoris (1961), entre outras. A primeira Constituição que viria a tratar sobre questões trabalhistas foi a do México (1917) e a seguinte a de Weimar (1919), conforme leciona Martins (2002). Por fim, é importante ressaltar que apesar de inúmeras Leis, Decretos e Constituições estarem relacionados ao estudo histórico do Direito do Trabalho e, por esse motivo, mereçam ser lembrados, optamos por concentrar o estudo da disciplina nos momentos que lhe antecederam e que, logicamente, lhe deram origem, ou seja, nos períodos relacionados ao trabalho escravo, à servidão e às corporações de ofício. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 79 OLHARES PLURAIS - Artigos CONCLUSÃO Em quaisquer fases históricas em que se resolva olhar para o trabalho humano, é possível a identificação de uma série de peculiaridades distintas. Para cada etapa do desenvolvimento trabalhista, associam-se características políticas, sociais, jurídicas e econômicas diversas. Entretanto, antes do surgimento da matéria que viria a regulamentar as garantias e os direitos dos trabalhadores, ou seja, do Direito do Trabalho, existiram, pelo menos, três formas de labor que colocavam o homem em posição de extrema passividade em relação aos que se aproveitavam de sua força de trabalho, trata-se, pois, da escravidão, servidão e corporações de ofícios. A escravidão surgiu com as primeiras batalhas travadas entre os homens, os derrotados eram forçados a trabalhar para os vencidos indefinidamente e eram vistos como meros objetos ou propriedades, disponíveis por meio de contratos de venda ou locação. Essa forma de exploração, como dissemos, talvez seja a que mais tenha deixado vestígios, visto que é possível identificá-la tanto na época da servidão como na das corporações de ofício, e porque não dizer, desde as primeiras civilizações até as sociedades contemporâneas. Não muito diferente da escravidão se encontrava a forma servil de prestação de serviços. Apesar de o servo não possuir a condição jurídica de escravo (objeto), não dispunha de liberdade. A escravidão prendia o homem a seu dono, a servidão prendia-o à terra. Um dos poucos diferenciais parecia ser mesmo o fato de que aos servos era permitido ficar com parte do que produziam nos feudos e acumular alguns bens, já que a maior parte destes era retida pelos senhores. A formação das cidades fez surgir uma nova espécie de trabalho, as corporações de ofício, que, semelhante a suas antecessoras, teve na exploração demasiada sua principal característica. O que a tornava peculiar era a forma hierarquizada com que os trabalhadores se organizavam (mestres, companheiros e aprendizes) e os primeiros sinais de atividades assalariadas, porém distantes de quaisquer proteções. Se considerarmos que só a partir da Revolução Industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII, brotaram as primeiras tentativas de libertar o trabalhador e amenizar as rigorosas condições de trabalho, chegaremos a seguinte conclusão: durante toda sua história o homem sempre esteve submetido à exploração de sua força laborativa; as primeiras leis surgiram mais para regulamentar essa exploração que para dignificar a figura do trabalhador, que há apenas dois séculos e meio começou a experimentar as lentas e gradativas mudanças que lhe beneficiariam. OLHARES PLURAIS – Revista Eletrônica Multidisciplinar, Vol. 1, Nº. 4, Ano 2011 ISSN 2176-9249 80 OLHARES PLURAIS - Artigos REFERÊNCIAS ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História: História geral e História de Brasil. 11 ed. São Paulo: Ática, 2000. BONAVIDES, Paulo. Do estado liberal ao estado social. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. FIGUEIRA, Divalte Garcia. História: A ocupação do Continente Americano. São Paulo: Ática, 2002. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 28 ed. São Paulo: LTR, 2002. VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do Trabalho: Antecedentes Históricos. 22 ed. São Paulo: LTR, 2005.
Compartilhar