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BRAILLARD, Philippe. Teoria das Relações Internacionais Ed. Fundação 
Caluoste Gulbekian. Lisboa, 1990. Pág. 500-515 
TAXONOMIA SISTEMICA DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS· 
Philippe Braillard 
Existe no procedimento científico uma etapa que se situa antes da construção de 
modelos e da elaboração teórica propriamente dita e que lhe está ordenada2. Esta etapa 
pode ser qualificada de taxonomica. Por taxonomia entendemos um quadro conceptual 
que compreende um certo número de teorias ou de classes que constitui a base de uma 
distinção e de uma e classificação dos diversos fenômenos e elementos que se podem 
encontrar no estudo de qualquer domínio, bem como conceitos que se podem utilizar 
para descrever e estudar estes fenômenos. 
No interior das categorias assim diferenciadas e classificadas poderão ordenar-se 
diversas variáveis3, às quais lançaremos mão para dar conta dos fenômenos 
pertencentes ao domínio estudado e, particularmente, para elaborar os modelos desses 
fenômenos. Numa taxonomia bem feita a existência de categorias, a que se podem 
referir as diversas variáveis utilizadas, permite distinguir melhor uma vez escolhido o 
fenômeno que queremos analisaras variáveis consideradas dependentes (o que 
procuramos explicar) das que são consideradas independentes (o que observamos como 
elementos explicativos). 
Uma taxonomia pode, permitir uma maior coerência na investigação no sentido 
em que, de uma etapa para outra dessa investigação, e mesmo de uma investigação para 
a outra, por muito que uma taxonomia possa ser largamente aceite, pode-se obter uma 
certa continuidade graças a um quadro de categorias claramente estabelecido e 
ordenado. A taxonomia é, assim, um dos elementos que permitem dar ao procedimento 
científico um caráter mais cumulativo, no quadro do estudo de um domínio pelo 
menos4. Daí a grande utilidade, diríamos mesmo, a necessidade da etapa taxonomica 
em todo o procedimento científico. 
Note-se, porém, que toda a taxonomia deve responder a certas exigências, deve 
cumprir certas condições, a fim de poder ser utilizada com proveito na investigação. 
 2
Consideramos como exigências mínimas isso decorre, aliás, logicamente da definição 
que demos de taxonomia uma coerência interna, uma grande precisão quanto aos 
conceitos utilizados, uma generalidade e uma flexibilidade que lhe permita estar aberta 
aos progressos da investigação, designadamente à criação de novas variáveis. 
Não pode, por outro lado, esquecer-se o fato de que toda a taxonomia pressupõe, 
como seu fundamento, um certo modelo, uma certa representação mais ou menos 
grosseira da realidade sobre a qual incide. Uma taxonomia, embora deva libertar-se o 
mais possível de todo o pressuposto teórico, nunca é neutra, livre de todo o postulado. 
Poder-se-á dizer, por outras palavras, que uma taxonomia é sempre elaborada com base 
numa certa perspectiva, em função da qual se atribui uma certa ordem aos fenômenos, 
se estabelece a quadro conceptual que permite classificar as diversas variáveis em 
categorias bem distintas. Chegamos então ao conceito de sistema e à sua capacidade que 
se supõe estar na base de uma taxonomia como a das relações internacionais. Com 
efeito, quando falamos desse conceito como quadro taxonomico para o estudo das 
relações internacionais, consideramos que a perspectiva sistêmica pode, aplicada a estas 
relações, constituir esse pré-modelo essa base conceitual sobre a qual pode ser 
construída uma taxonomia das relações internacionais. A importância da etapa 
taxonomica no processo científico justifica que se considere atentamente essa 
contribuição possível do conceito de sistema para o estudo destas relações (...). Quando 
procuramos traçar as grandes linhas de uma taxonomia sistêmica das relações 
internacionais, algumas notas se impõem imediatamente. Uma tal taxonomia deve poder 
aplicar-se ao estudo de todo o sistema internacional, isto é, ela deve ser válida aos dois 
níveis de referência possíveis na análise, a saber, o do sistema internacional geral e o 
dos subsistemas, internacionais. Com efeito, as categorias de variáveis não são 
diferentes num nível de referência e no outros dado que nos encontramos perante 
sistemas sociais do mesmo tipo. O que pode mudar de um nível para o outro são os 
modelos que se podem elaborar e as variáveis que se devem tomar em consideração. As 
duas unidades de base de toda a taxonomia sistêmica das relações internacionais são os 
elementos dos sistemas internacionais e as relações e interações entre esses elementos. 
As duas unidades são igualmente importantes. Elas constituem os dois primeiros eixos 
da nossa taxonomia, sendo os outros eixos representados pela estrutura do sistema, o 
ambiente do sistema e as relações entre o sistema e o seu ambiente. Se tentarmos situar 
 3
sobre cada um destes eixos um certo número de categorias de variáveis que podem ser 
necessárias para o estudo dos sistemas internacionais, obtemos então o quadro a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de comentar detalhadamente este quadro taxonomico, faremos duas notas 
gerais. Primeiro, não pretendemos em caso algum evidenciar com precisão e exaustão 
todas as categorias possíveis de variáveis. Querer fazê-lo seria pretensioso e vão porque 
o domínio estudado pode evoluir, adquirir novas dimensões, e, sobretudo o 
conhecimento que dele temos pode desenvolver-se, refinar-se, levando-nos a descobrir 
dimensões não desvendadas ou negligenciadas, susceptíveis de fazer surgir novas 
Os eixos de uma taxonomia sistêmica das relações internacionais 
 
 
1. Elementos Estados-nação 
Indivíduos 
Entidades subnacionais atributos físicos 
Entidades transnacionais destes estruturais 
Organizações internacionais elementos culturais 
(em casos limitados) 
etc. 
 
 Tipo de relações natureza das interações 
 
II. Relações Cooperação Econômica as interações 
Oposição Política implicam 
Dependência Cultural a existência de comunicações 
 etc. Ecológica entre os elementos. 
 etc. 
 
 
III. Estrutura do hierarquia dos atores (ou elementos) 
do sistema homogeneidade do sistema 
 coesão do sistema 
 Regras do jogo admitidas pelos atores 
 Etc. 
 
 
IV. Ambiente do Elementos constitutivos do ambiente 
Sistema Características ou atributos desses elementos 
 Estrutura do ambiente 
 
 Tipo de relações natureza das interações 
V. Relações e Cooperação política 
Interações do Oposição econômica 
Sistema Dependência cultural 
e do seu ambiente etc. ecológica etc. 
 
 4
categorias de variáveis. No entanto, o que nós pensamos poder afirmar é que estas novas 
categorias situar-se-ão sobre um ou outro dos eixos referidos aqui, o que implica que 
operemos uma distinção precisa e uma enumeração, exaustiva desses eixos 
taxonomicos. A colocação em evidência destes últimos representa, aliás, a conseqüência 
direta e tangível do recurso ao conceito de sistema no plano taxonomico para o estudo 
das relações internacionais, enquanto a enumeração das categorias que podemos situar 
sobre cada um destes eixos é uma conseqüência secundária e indireta. 
Seguidamente, uma tal taxonomia, com os seus diversos eixos e as categorias de 
variáveis que com eles se ligam, não significa que, um modelo sistêmico das relações 
internacionais deva compreender variável de todas as categorias. Isso não teria sentido. 
Ela não representa mais do que uma enumeração e classificação de um certo número de 
categorias de variáveis possíveis, dependendo a escolha das variáveis a tomar em 
consideração em cada modelo sistêmico do tipo de fenômeno preciso de que queremos 
dar conta e das características do modelo utilizado, designadamente o grau de abstração. 
Uma tal escolha apela para a intuição, à perspicácia do investigador e implica um certo 
número de hipóteses. É a eficácia do modelo para representar o fenômeno estudado e a 
sua utilidade na elaboração teórica que devem mostrar se a escolha operada está 
justificada.Detenhamo-nos agora em cada um dos eixos taxonomicos que distinguimos. Os 
elementos dos sistemas internacionais constituem para nós o primeiro eixo taxonomico. 
Vimos na discussão epistemológica das páginas precedentes a importância fundamental 
dos elementos para toda a taxonomia sistêmica. No caso das relações internacionais 
pode considerar-se que os elementos dos sistemas internacionais são entidades sociais 
(grupos sociais) ou, em certos casos, os indivíduos diretamente. Nós distinguimos mais 
precisamente de entre as entidades sociais, os Estados, as entidades subnacionais, as 
entidades transnacionais e certas organizações internacionais. 
Esta distinção dos diversos atores internacionais não constitui, todavia, o único 
grupo possível de variáveis no eixo taxonomico dos elementos. É necessário, com 
efeito, ter em conta também os atributos, as características dos diversos elementos dos 
sistemas internacionais. Estas características são a fonte de toda uma série de variáveis5. 
 5
Operamos aqui uma distinção entre três categorias de atributos dos elementos 
dos sistemas internacionais: as características físicas, estruturais e culturais6. Note-se 
que na nossa época as grandes diferenças entre estas características de um ator para 
outro, designadamente no que aos atores estatais concerne, obstam a que consideremos 
estes atores como entidades iguais e intermutáveis. Estas diferenças são, aliás, a fonte da 
heterogeneidade e numerosos sistemas internacionais, como o sistema internacional 
global contemporâneo. 
Precisemos ainda que não consideramos que cada categoria de elementos dos 
sistemas internacionais impliquem um nível diferente de análise, porque entendemos 
que na análise sistema das reações internacionais, todas estas entidades devem ser vistas 
ao mesmo nível, isto é, enquanto atores de sistemas. Podemos certamente colocá-los 
numa escala que vai, por exemplo, do indivíduo aos grupos transacionais ou se situa de 
um lado e de outro de um nível de referência idêntico ao da entidade nacional, mas não 
se trata aí de diferentes níveis da análise sistêmica. 
O segundo eixo da nossa taxonomia é o das relações e interações entre os 
elementos dos sistemas internacionais, sendo essas relações e interseções, juntamente 
com os elementos, as unidades constitutivas dos sistemas internacionais. Com base na 
distinção entre relação e interação7 estabelecemos dois quadros de categorias. O das 
relações que se distinguem segundo o seu tipo, podendo cada tipo constituir uma 
categoria de variáveis. Em seguida, o das interações que se distinguem de acordo com a 
sua natureza econômica, política, cultural, etc., donde resulta outra série de categorias 
de variáveis. As diversas interações entre os elementos dos sistemas internacionais 
implicam um certo número de comunicações entre esses elementos e a existência de 
uma rede de comunicação8. Não há, com efeito, interação social sem comunicação. 
Poder-se-á, por isso, situar em cada uma das categorias de variáveis do quadro das 
interações uma ou mais variáveis referentes às comunicações. É possível, no entanto, 
para facilitar a análise, integrar as variáveis e comunicações das diferentes categorias de 
interação numa só variável que podemos designar por comunicações entre os atores 
internacionais. 
Quando nos debruçamos sobre as interações internacionais, é indispensável não 
reconduzir as relações internacionais às relações puramente interestatais, entendidas no 
sentido de relações governamentais e tomar em consideração os processos importantes 
 6
que se desenrolam no plano internacional -. Há, na verdade, toda uma série de relações, 
em determinados domínios9, entre agentes sociais que pertencem aos diferentes 
sistemas nacionais. Estas relações transnacionais não dependem diretamente das 
autoridades governamentais dos vários Estados, embora estes últimos procurem por 
vezes influenciá-las, limitando-as ou favorecendo-as, e devem em todo o caso contar 
com elas muitas vezes, o que implica que elas possam intervir ao nível das interações 
entre os próprios governos e constituir uma esfera que se pode qualificar de política 
transnacional10. 
No estudo das interações e na escolha das variáveis a considerar é necessário não 
esquecer a referência humana e, portanto, também a dimensão psicológica de toda a 
interseção internacional. Como salientamos já, o indivíduo é a unidade última de todo o 
sistema social e só através dele e das suas ações as entidades sociais existem, agem e 
entram em interação. Compreende-se, assim, a importância que pode ter a consideração 
das variáveis perceptuais no estudo das interações. Estas variáveis que têm a sua fonte, 
em grande parte, ao nível dos atributos estruturais e culturais dos atores, podem sem 
dúvida alguma ser mais determinantes para o decurso das interações do que as variáveis 
relativas à dimensão puramente material de tais interações. 
Note-se finalmente que as categorias situadas no quadro que intitulamos 
natureza das interações são importantes na medida em que podem estar na base de uma 
distinção entre diversos sub-sistemas internacionais. Indicamos efetivamente que os 
diversos sub-sistemas internacionais se distinguem por uma intensidade ou uma 
especificidade particulares nas interações entre os seus membros. Esta especificidade 
pode ser exprimida precisamente por meio de variáveis que pertencem a uma ou outra 
das categorias mencionadas. 
A estrutura dos sistemas internacionais constitui o terceiro eixo da nossa 
taxonomia. Por estrutura entendemos a configuração que manifestam num dado 
momento os elementos de um sistema através das suas relações e interseções. Pode 
dizer-se também que a estrutura traduz a organização de um sistema. Entre as categorias 
que podemos situar nesse eixo parece-nos particularmente importante a que concerne à 
hierarquia dos atores. Graças a ela, podemos dissecar bem as características da 
estruturas de um sistema internacional. É preciso realçar o fato de que uma tal 
hierarquia não pode ser estabelecida unicamente com, base nos atributos dos diferentes 
 7
atores ou, por outras' palavras, unicamente com base nas capacidades potenciais de cada 
ator, porque é necessário ter em conta a, natureza e a forma dos processos de interação 
em que os atores estão envolvidos. Um grupo essencial a este nível é o das variáveis 
perceptuais que exprimem a_ percepção que têm de um ator os outros atores que 
intervêm no processo de determinação da importância real de cada ator no sistema11. 
Urna outra das nossas categorias requer também alguns comentários. Trata-se da 
que diz respeito à homogeneidade do sistema. A homogeneidade de um sistema 
internacional pode ser vista de diferentes maneiras e pode, por isso, implicar variáveis 
bastante diversas. Este pode ser também o grau de similitude ou de diferença entre os 
regimes dos vários Estados que constituem um sistema internacional12. Este pode ser 
também o grau de disparidade econômica, tecnológica ou cultural que existe entre os 
vários atores internacionais. 
Notamos já que ao nível dos atores estatais existia, particularmente na nossa 
época, para além de uma estrutura formal horizontal, uma grande heterogeneidade do 
sistema internacional global13 implicando, sobretudo fortes desigualdades entre estes 
atores, nomeadamente quanto ao seu nível de desenvolvimento e quanto ao seu poder. 
Esta heterogeneidade marca, aliás, o conjunto dos atores internacionais e tem a sua 
fonte na diversidade dos atributos físicos, estruturais e culturais desses atores. Vê-se 
então facilmente que esta categoria de variáveis está em parte ligada à que exprime a 
hierarquia dos atores. 
Com o ambiente dos sistemas internacionais chegamos ao quarto eixo da nossa 
taxonomia. Como no estudo de um sistema não se pode considerar sempre o ambiente 
como uma caixa negra, mas é necessário determinar os limites precisos, as partes 
constitutivas desse ambiente e tanto quanto possível a sua estrutura interna,nós 
distinguimos uma categoria dos elementos do ambiente14, uma categoria das 
características ou atributos destes elementos e uma categoria das variáveis estruturais 
que permitem exprimir a estrutura desse ambiente. É preciso, contudo, referir que as 
categorias que acabamos de distinguir se reportam a um ambiente considerado de modo 
concreto e não a um ambiente visto numa perspectiva analítica (seria necessário falar 
então em contexto). 
 8
O último eixo da nossa taxonomia sistêmica é o das relações e interações entre 
os sistemas internacionais e o seu ambiente. Por mais que consideremos o ambiente de 
um sistema internacional num sentido concreto e é o que fazemos aqui podemos 
estabelecer quadros de categorias semelhantes àqueles que distinguimos a propósito das 
relações e interações entre os elementos dos sistemas internacionais. No quadro da 
elaboração de um modelo de relação e interação entre um sistema internacional e o seu 
ambiente, é necessário considerar as relações e interações desse sistema com as diversas 
partes constitutivas do ambiente, por mais que esse ambiente comporte várias partes, 
por exemplo, vários subsistemas internacionais. 
Poderia surpreender o fato de através da nossa taxonomia não propormos 
qualquer classificação dos diversos tipos de sistemas internacionais em função das 
características que eles possam ter. Uma tal classificação não deve, quanto a nós, situar-
se diretamente neste nível taxonomico sistêmico. Na verdade, se os critérios de 
classificação dos diferentes sistemas têm o seu fundamento numa tal taxonomia, mais 
precisamente nas suas categorias, a escolha daqueles que queremos considerar depende 
da perspectiva que se adota na análise e, no fim de contas, do tipo de modelo sistêmico 
que elaborarmos e das variáveis sobre que nos debruçarmos. 
Como conclusão deste capítulo, duas notas importantes se impõem. Em primeiro 
lugar, uma taxonomia é um instrumento da análise e nada mais. Ela não é um fim em si 
mesma porque, como referimos já, se destina à elaboração teórica e designadamente à 
construção de modelos15. Depois, o quadro taxonomico bastante geral que 
apresentamos aqui é apenas um esboço que procura evidenciar o sentido da contribuição 
possível do conceito de sistema a este nível. Ele deve ser sujeito a discussão no plano 
epistemológico e susceptível de ser completado, modificado ou corrigido no que 
respeita às categorias que ele compreende, na seqüência das diversas tentativas de 
elaboração teórica que podem ser realizadas numa perspectiva sistêmica. 
 
 
2
 Ver Rapoport, Anatol, * The uses of Mathematical Isomorphism in General Systems Theory-, op. cit., p. 
45. 
 
3
 É necessário entender aqui a noção de variável num sentido lato. *Estabeleceu-se nas ciências sociais o 
hábito de falar em variáveis a propósito não só de caracteres aos quais se podem associar valores 
contínuos, como a idade, mas também de caracteres aos quais se podem associar valores ordenados, como 
a posição hierárquica ou mesmo a propósito de classes simplesmente distintas (o sexo). A extensão do 
 9
 
conceito de variável é correlativa à extensão da noção de medida. BOUDON, Raymond, Lánalise 
mathematique des faits sociaux, Paris, Plon, 1967, p. 30 (colecção -Recherche en sciences humaines-, 21). 
Ver também a respeito disto FAUPEL, Klaus, Messkonzepte und Skalen: Einige erkenntnistheoretische, 
methodologische und terminologische Vortragen zur allgemeinen Systemtheorie, in Systemtheorie, 
Systemanalyse und Entwicklungslândeijorschung. Einführung und Kritik, Dieter Oberndõrfer, Ursg. 
Berlin, Duncker und Humblot, 1971, pp. 148-150. 
 
4
 Nós dizemos, a propósito da taxonomia, que ela constitui só um dos elementos que favorecem um 
procedimento científico mais cumulativo. Com efeito, não são de negligenciar outros elementos, em 
particular a existência de um paradigma admitido na investigação consagrada a um domínio. Segundo 
Thomas Kuhn, é no quadro da *ciência normal, implicando a existência de um paradigma largamente 
admitido, que se manifestam os processos cumulativos na investigação (ver a sua obra, La structure des 
révolutions scientifiques, Paris, Flammarion, 1972, p. 194), enquanto, para ele, as revoluções científicas 
não manifestam tais processos cumulativos na medida em que elas implicam uma mudança de paradigma 
(ibid. pp. 107-108, 115, 119-120, 127-128 e 169). Pode-se, no entanto, discutir esta afirmação de Kuhn de 
que as revoluções científicas são desprovidas desse caráter cumulativo. 
 
5
 Ao contrário do que poderia pensar-se à primeira vista acerca da associação freqüente do qualificativo 
ecológico com o conceito de ambiente ou acerca da origem ecológica deste conceito é entre estas 
características de elementos dos sistemas internacionais que se podem situar as variáveis ditas ecológicas 
(como a alimentação, a habitação, a população, a tecnologia, etc.), que ganham uma importância 
crescente nas relações internacionais atuais. Nada impede numa perspectiva analítica considerar estas 
variáveis fora do sistema internacional, como se formassem o contexto desse sistema. 
 
6
 Retiramos esta distinção de SINGER, J. David, A General Systems Taxonomy for Political Science, op. 
vit. pág. 18. Note-se que Singer distingue ainda, no interior da categoria dos atributos físicos, três sub-
categorias: a dos atributos geográficos, a dos atributos demográficos e a dos atributos tecnológicos. A 
bem dizer, esta distinção não é inteiramente satisfatória. Ela apresenta certos inconvenientes, 
designadamente porque ela não se aplica bem às características do indivíduo enquanto ator, pois 
dificilmente se pode falar, a propósito deste último, de variáveis geográficas, demográficas e 
tecnológicas. No entanto, como não vislumbramos outra distinção que seja inteiramente satisfatória, 
adaptamos esta reconhecendo a estas categorias, como, aliás, a todas as categorias referidas nesta 
taxonomia, um caráter hipotético. 
 
7
 No caso dos sistemas sociais podemos distinguir analiticamente as relações das interseções e afirmar 
que as relações ou a interdependência que podem existir entre os elementos desses sistemas são 
conseqüência de 
 
8
 Poder-se-á também dizer que, num certo sentido, as comunicações entre os atores internacionais 
representam uma forma de interação. 
 
9 Por exemplo, certos movimentos de capitais, os movimentos especulativos sobre certas moedas, as 
associações sindicais, religiosas ou ideológicas internacionais, os movimentos de pessoas entre os 
diversos países, etc. um certo número de interações entre estes, servindo freqüentemente de base para o 
desenvolvimento dessas interseções. 
 
Veja-se SINGER J. David, ibid. págs. 19-20. 
 
 
10
 A propósito destas relações transnacionais e dos processos políticos transnacionais que elas induzem, 
veja-se KAISER, Kari, Transnational Politics: toward a Theory of Multinational Politics, op. cit. 
 
11
 Pode ver-se a este Propósito SINGER, J. David, SMALL, Melvin, The Composition and Status 
Ordering of the international System, 1815-1940, World Politics, vol. XVIII, 1966, em particular, as notas 
da pág. 238. 
Note-se que a percepção não desempenha apenas um papel na constituição de uma hierarquia entre os 
atores, mas intervém também na determinação do estado de hostilidade entre os vários atores e é, no fim 
de contas, uma determinante importante das ações dos atores internacionais. Veja-se BOULDING, 
Kenneth, National lmages and International Systems, in Journal of Conflict Resolution, vol. 111, 
 10 
 
1959'pág. 121. Veja-se também HOLSTI, Ole R., BRODY,Richard A., NORTH, Robert C., Measuring 
Affect and Action in International Reaction Models, in Journal of Peace Research, vol. l 1964, págs. 170-
187, embora estes autores não tenham adotado um quadro de análise sistêmico e possamos, assim, 
questionar o seu método de análise. 
 
12
 Tal como nota Panayis Papaligouras, na Theorie de Ia Societé Internationale, op. cit. pág. 244 e segs. 
 
13
 Ao nível de certos sub-sistemas regionais obtém-se, porém, uma relativa homogeneidade, devida 
designadamente à pertença dos atores de tais sistemas a uma mesma cultura. 
 
14
 Não é necessário entender aqui *elemento* no sentido de ator internacional, mas simplesmente no 
sentido de parte do ambiente. 
 
 
15
 O mesmo sucede com toda a taxonomia sistêmica. Veja-se as notas de RUMMEL, Rudolph J., A Ficid 
Theory of Social Action with Application to Conflict within Nations, in General Systems, vol. X, 1965, 
págs. 183-184, insistindo este autor no fato de que não podemos ficar, na idéia de sistema, a um nível de 
pura classificação. 
 Como O Procedimento científico tem natureza circular, se a taxonomia Pode servir de base ao 
desenvolvimento da elaboração teórica ela pode ser, em compensação, modificada e enriquecida pelos 
resultados obtidos nesse desenvolvimento.

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