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PROCESSOS FONOLÓGICOS

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Ricardo Cavaliere
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 O sistema linguístico vive em constante mudança;
Os processos fonológicos representam tema ordinário nos estudos diacrônicos.
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CONDICIONADAS: ligadas ao ambiente sonoro em que o som se manifesta, ou seja, em face da posição silábica, da vizinhança fonêmica, da intensidade etc. 
Ex.: transformação das consoantes surdas nas homorgânicas sonoras quando situadas em ambiente fonológico intervocálico: lupu > lobo, site > sede, amicu> amigo etc.
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B) INDEPENDENTES: manifestam-se sem motivação definida, de tal sorte que se atribui ao próprio som, qualquer que seja o ambiente fonológico em que é pronunciado.
 São mudanças cujas motivações ainda não sejam conhecidas.
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Há casos em que a alteração de um dado fonema não se verifica sistemicamente, mas em um único vocábulo. 
Havendo dificuldade de justificar o fato em face do ambiente fonológico em que o som é pronunciado, costuma a Linguística Histórica recorrer à analogia.
 
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Há uma tendência em se regularizar o subjuntivo de “estar” e de “ser” a partir da relação analógica com o subjuntivo de “cantar”;
Temos aqui, pois, uma analogia por motivação morfológica.
 
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A explicação de fatos como esses pelo caminho da analogia é combatido pelos que não acreditam em mudança fonológica sem motivação sistêmica;
Denominam-se comumente mutações as mudanças súbitas, que não se atribuem à lenta ação dos processos fonológicos no decurso do tempo. 
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Outro viés deste tema diz respeito aos fatores de resistência à mudança que se notam com extraordinária nitidez no trato social;
Um exemplo reside no fenômeno do rotacismo, pelo qual o /l/ é substituído por /r/, sobretudo nos grupos consonantais: “fragrante por flagrante, “probrema” , “pobrema” por problema etc.
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O rotacismo remonta à passagem do latim vulgar para o português, como nos exemplifica a evolução “plicare > pregar”;
Trata-se de um dos principais alvos da resistência à mudança.
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Distribuem-se os processos fonológicos em quatro tipos: 
por adição;
 b) por supressão; 
c) por transposição e 
d) por transformação.
 
 
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Prótese: surgimento de um fonema no início da palavra, como em mostrar > amostrar, levantar > alevantar etc. 
Atualmente, estas formas denotam linguagem popular, não obstante sejam tradicionalíssimas; a forma alevantar, por exemplo, tem registro de datação no século XII. 
Casos há em que a vogal protética era originalmente um artigo, como em anão de a + não < nanu.
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Epêntese: surgimento de um fonema no interior da palavra, caso típico de destruição de grupos consonantais no português do Brasil. 
 
 Ex.: dizemos “decepição” por “decepção”, “ritimo” por “ritmo” etc.
Paragoge: inclusão de um fonema no fim da palavra. 
Ex.: estrangeirismos terminados em consoante, como club>clube, sant > estande etc.
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Aférese: trata-se da supressão de um ou mais fonemas iniciais, como em “tá” por “está”. A palavra cajá vem do tupi acajá.
 
Síncope: ocorre a supressão do fonema no interior da palavra, caso de “xicra”, por “xícara”, “paralepípedo” por “paralelepípedo”. 
A síncope geralmente busca encurtar um polissílabo, sobretudo quando proparoxítono: “principinho” por “principizinho”, “facinho” por facilzinho” etc.
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Apócope: resulta da queda de um fonema final, como em “manda”, “dize”, “senhô” por mandar, dizer e senhor.
Crase: processo muito comum na língua atual, em que uma de duas vogais idênticas é suprimida, como em “alcol” por “álcool”.
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Hiperbibasmo: consiste no avanço ou recuo do acento de intensidade. Ex.: “monolito” por monólito, “biotipo” por biótipo etc. 
No caso de “catéter” por cateter, como se percebe na linguagem médica, o hiperbabismo talvez busque a eufonia.
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Metátese: fenômeno genérico em que um fonema toca de posição, via de regra para melhor acomodação eufônica. 
Ex.: “mulçumano” por mulçumano, “estrupo” por estupro, “areoporto” por aeroporto etc.
 
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Assimilação: ação assimilatória de um fonema sobre o outro, de que resulta uma modificação desse último a ponto de dele aproximar-se (assimilação parcial) ou a ele igualar-se (assimilação total).
Em “pidido” por pedido, por exemplo, a harmonização da vogal pretônica com a alta tônica resulta de um caso de assimilação total regressiva, visto que a vogal modificada iguala-se à modificadora e está em posição anterior a essa. 
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Diferenciação: ruptura da continuidade de uma posição articulatória, seja segmentando um som único, seja intensificando a diferença entre sons semelhantes e contíguos:
a) diferenciação criada, pois ocorre entre fases sucessivas de um só fonema; 
diferenciação aprofundada, visto que apenas reforça diferenças já existentes.
No caso da diferenciação aprofundada situam-se os chamados hiatos átonos portugueses, como em mágoa, entreabrir, que frequentemente pronunciam-se como ditongos. 
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Dissimilação: alteração fonêmica que diferencia a articulação de fonemas contíguos, via de regra por motivo eufônico. 
Um caso exemplar em português está na forma bêbedo (do latim bibitum), que se difundiu no Brasil como bêbado, em que a dissimilação parece evitar a sequência de vogais análogas em favor de uma pronúncia mais clara.
 
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CAVALIERE, Ricardo. Pontos essenciais em fonética e fonologia. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
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