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Panorama Histórico da Linguística

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CIDADE UNIVERSITÁRIA JOSÉ ALOÍSIO DE CAMPOS
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS - 2012
UNIDADE 1 - LINGUÍSTICA
PANORAMA GERAL DA HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA LINGUÍSTICA
Leilane Ramos da Silva
Embora se reconheça a juventude da ciência Linguística — final do século XIX / início do século XX—, parece lúcida a afirmação de que, desde a Antiguidade, a linguagem já era foco de discussão entre os homens. Sob essa constatação, pretende-se traçar um panorama histórico-elucidativo das mais relevantes preocupações inerentes à linguagem, focalizando da Idade Antiga até à definição da Linguística propriamente dita, com suas teorias e implicações no rol dos estudos atuais.
	Conforme dito anteriormente, a Antiguidade foi cenário para inúmeros questionamentos em torno da linguagem. No entender de Mattoso Câmara (1975), falar sobre a importância da abordagem linguística desenvolvida nesse período impõe a necessidade de chamar a atenção para três grandes berços da civilização: Índia, Grécia e Roma.
	No que concerne à Índia, o referido estudioso assinala que o tratamento dado à linguagem esteve intimamente relacionado a interesses religiosos — notadamente, estabelecer, valendo-se da palavra, uma comunhão com Deus. A propósito, ainda segundo Mattoso Câmara, o mais significativo tratado da linguagem feito por esse povo — o Nirukta — ,cuja autoria é comumente atribuída a Yãska (Séc. V a C), consiste numa explicação acurada do Rigveda, o seu livro sagrado. De modo geral, os estudos desenvolvidos na Índia ganharam considerável importância no século XIX, com a redescoberta do sânscrito.
	De igual sorte, as discussões geradas em função da linguagem dividiram os antigos gregos em duas correntes opostas: anomalistas e analogistas. Aqueles acreditavam que a língua era produto de uma convenção entre os homens e, portanto, era assistemática. Estes defendiam a ideia de que a língua era imitativa da natureza, originada em princípios eternos e imutáveis. Em outras palavras, era sistemática e regular.
	Dada a sapiência desse povo, muitos vultos gregos merecem destaque. Entre eles estão os sofistas (séc. V a.C.), ou seja, os profissionais que percorriam o país dando aulas e escrevendo sobre oratória. Exemplo de sofista é a figura de Protágoras, responsável pela distinção de gêneros em grego. Outros nomes gregos de referência para a abordagem linguística são os de Platão que, dentre outras coisas, lançou as bases da sintaxe e o de Aristóteles, a quem coube o desenvolvimento do estudo lógico e retórico da linguagem.
	Em Roma, os estudos linguísticos voltaram-se à retórica e à gramática. Estabelecido o “bom estilo”, muitas foram as advertências contra erros e vulgarismos e, ao mesmo tempo, as recomendações das “figuras ideais” ao discurso. Indubitavelmente, os romanos receberam grande influência dos gregos, sobretudo no que diz respeito ao modelo gramatical.
	Caracterizada por uma visão teocêntrica do mundo, a Idade Média desencadeou estudos linguísticos voltados para a Teologia. A educação medieval centrou-se, particularmente, nas sete artes liberais (trivium: gramática, dialética e retórica; quadrivium: música, aritmética, geometria e astronomia). Herdando valores das antiguidades grega e latina, o estudo do latim foi ponto de referência na observação de outras línguas faladas e, dessa inquietação, nasceu o estudo das línguas estrangeiras. Também nesse período ocorreram a criação do estilo gótico e a fundação das primeiras universidades.
	Outros fatos que exemplificam a atenção dispensada à linguagem por homens de remotas épocas poderiam ser registradas aqui. Todavia, julga-se oportuno pôr em relevo,agora, dois momentos-chave para a configuração da Linguística como ciência: o século XVII e o século XIX.
	Tecer comentários acerca dos estudos da linguagem, no século XVII, traz à tona, inevitavelmente, uma palavra de ordem: racionalismo. Isso porque os estudiosos da época conceberam a linguagem como expressão de pensamento e buscaram mostrar como as línguas são regidas por princípios gerais e racionais. Nesse sentido, pensaram a linguagem em sua generalidade.
	Sob esse prisma, insistia-se na orientação de que os falantes deveriam ser precisos ao fazer uso da linguagem, separando o que é (ou não) interessante para a sua expressão linguística. Na verdade, os pensadores vislumbravam uma língua ideal, universal, mediadora de todo tipo de comunicação verbal humana. 
	Muitas foram as gramáticas projetadas nesse momento, mas foi a Gramática de Port Royal — dos franceses C. Lancelot e A. Arnaud, 1960 — a que teve maior aceitação entre os gramáticos do século XVII.
	Antes de remeter aos trabalhos originados no século XIX, é mister salientar que grande foi a importância do século XVIII para o alvorecer da perspectiva norteadora dos estudos gerados nesse período, à medida que a Filologia — criada, pelo menos oficialmente, em 1777, por F. A. Wolf — preparou terreno para o surgimento da Linguística Histórica, ao comparar textos de distintas épocas, analisando a língua (estilo) de cada autor e decifrando inscrições registradas em línguas arcaicas e/ou obscuras.
	No século XIX, foi instaurada uma abordagem que enfocava a linguagem do ponto de vista histórico, cujo objetivo residia em mostrar que as mudanças operadas nas línguas não se dão por acaso, mas atendem a uma necessidade, obedecendo a determinadas regularidades. As línguas passaram, então, a ser comparadas entre si, a fim de serem estabelecidos os graus de semelhança entre elas e, evidentemente, de se definir um “tronco-comum”, a “língua-mãe”, também chamada de “indo-europeu”.
	O principal trabalho desse período — Sistema de Conjugação do Sânscrito — consiste numa comparação do sânscrito com o grego, o latim, o persa e o germânico e, dada a sua representatividade, é tido como fundador da Linguística Histórica.
	Subjacente a esse primeiro estágio da linguística histórico-comparada, os europeus aperfeiçoaram um sistema de descrição fonético-fonológico superior ao dos hindus. Shelezel, Humboldt, Grimm e Diez foram os representantes máximos do referido método. A partir de então, aflorou uma vasta literatura sobre a linguística, com estudos sobre oralidade e escrita, forma e substância e, ainda, sobre o papel da glote na emissão da voz.
	Para sintetizar, esses estudos foram ricos quanto às preocupações com os aspectos gramaticais. No entanto, o que se verifica é uma ênfase dada à história e às relações das línguas entre si e não uma busca pela definição científica do objeto de estudo linguístico.
	De qualquer forma, esses trabalhos ofereceram os subsídios necessários para que Saussure vislumbrasse o objeto da Linguística: a língua (langue – sistema abstrato, social, geral, virtual), em detrimento da fala (parole, entendida como a realização concreta da língua pelo usuário, sendo circunstancial) e logo essa cientificidade é assegurada pela publicação do Curso de Linguística Geral, em 1916. Importa salientar, entretanto, que a obra inaugural da Linguística foi uma publicação póstuma, tendo sido organizada por dois discípulos do mestre suíço: Ch. Bally e A. Secheaye.
	No fundamental, para Saussure, a língua é definida como um “sistema de signos”, como uma reunião de unidades articuladas entre si. O signo, por sua vez, consiste na associação entre significante (imagem acústica — a que é projetada no cérebro) e o significado (conceito).
	Essa associação (significante x significado), de acordo com Saussure, é arbitrária e convencional, não havendo razões precisas para que um dado elemento se chame X e não Y. A propósito dessa característica, subjaz uma outra: o valor de um signo é relativo e negativo. Assim, X é X, porque não é Y nem Z.
	Ao lado dessas questões, emergiram algumas dicotomias importantes: língua x fala (já comentada), sincronia x diacronia, relações paradigmáticas x associativas.
	Grosso modo, pode-se afirmar que a distinção saussuriana para os conceitos de sincronia e diacroniaimplica a forma por meio da qual o estudioso pode lançar mão, ao fazer uma abordagem (descrição) linguística. Isso porque os estudos rotulados de sincrônicos analisam os fatos linguísticos num dado momento de desenvolvimento histórico e aqueles que são tidos como diacrônicos descrevem os fenômenos linguísticos a partir das relações que estes mantêm com outros fenômenos, que o precedem ou o sucedem, na linha do tempo.
	Por considerar incompatível a noção de sistema e de evolução, Saussure exclui a diacronia do domínio da Linguística, situando-a numa condição periférica, ao lado da fala.
	Com a noção de sistema, a bem da verdade, ganhou vez a ideia de que os elementos se definem em função do valor que ocupam na cadeia de relações que forma o sistema completo da língua.
	Orlandi (1986), ao remeter à importância desses pormenores, diz que Saussure instituiu a Linguística como ciência com os conceitos de língua, valor e sincronia.
	Quanto à oposição relações paradigmáticas e sintagmáticas, outrora mencionadas, diz-se que elas representam os eixos da organização do sistema da língua. O primeiro desses eixos — o paradigmático — organiza as relações de oposição (ou X ou Y), em que os elementos se substituem (bate / late); o segundo — o sintagmático — valida o plano da combinação das unidades (b +a + t + e, por exemplo).
	Todas as observações feitas por Saussure constituíram e vêm constituindo, também nos dias de hoje, valiosas contribuições para a reflexão/evolução do pensamento linguístico. Em alguns casos, são mantidos e tomados como incontestáveis (a exemplo da noção de valor para os primeiros estruturalistas); em outros, despertam/despertaram questionamentos em torno da exclusão de determinados conceitos, acarretando a inserção desses conceitos no rol dos estudos linguísticos (como, por exemplo, a fala como campo de investigação linguística, sobretudo para o viés pragmático da linguagem).
	Por essa razão, Dubois et alii (1998) assinalam que todo estudo linguístico deve ser definido como surgido “antes” ou “depois” de Saussure.
	Como o saber científico não cessa, muitas correntes linguísticas ganharam e estão ganhando o seu lugar de reflexão. Basta considerar algumas das vertentes contemporâneas — a Sociolinguística Variacionista, a Etnolinguística, a Sociologia da Linguagem, a Pragmática e suas sub-vertentes, a Análise do Discurso de Linha Francesa (...) — e logo fica evidente a importância de cada uma delas na evolução do pensamento linguístico contemporâneo.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso.História da Linguística. Rio de Janeiro: Vozes, 1975.
DUBOIS, Jean et alli. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1998.
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 14ª ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
ORLANDI, Eni. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999. (Coleção Primeiros Passos; 184)
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 24ª ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e linguística. Tradução de Rodolfo Ilari e revisão técnica de Ingedore Villaça Koch e Thaís Cristófaro Silva. São Paulo: Contexto, 2004.
TEORIAS LINGUÍSTICAS (DE SAUSSURE AOS DIAS DE HOJE)
Leilane Ramos da Silva
	Sabe-se que antes do advento da Linguística — final do século XIX / início do século XX — a natureza da linguagem já era foco de discussão entre homens de diferentes épocas. Como afirma Orlandi (1986), “a sedução do homem pela linguagem existe desde sempre”. Dessa forma, por que se atribui a Saussure a constituição da ciência da linguagem? Quais as implicações teóricas oriundas da publicação do Curso de Linguística Geral (1916)? Que teorias linguísticas são subjacentes ao lançamento de tal obra? Quais as atuais correntes de investigação linguística? Qual a importância desses vertentes para a desmistificação do universo da linguagem?
Responder a essas perguntas impõe um certo cuidado, no sentido de demarcar o que é ou não relevante explicitar. Segue, então, uma tentativa de resposta.
Genericamente, pode-se dizer que, apesar de terem existido inúmeras indagações em torno da linguagem desde a Idade Antiga, essas preocupações não precisaram o que, de fato, representava estudá-la. De qualquer forma, esses questionamentos — sobretudo aqueles registrados nos séculos XVII (estudos racionalistas) e XIX (estudos comparatistas) — ofereceram os subsídios necessários para que Saussure vislumbrasse uma ciência cujo objeto de análise consistiria na própria língua (langue — sistema abstrato, social, geral, virtual), em detrimentos da fala (parole, entendida como a concretização da língua pelo usuário, sendo circunstancial e variável).
A publicação do Curso de Linguística Geral (de Saussure, em 1916) deu aos estudos da linguagem um caráter científico, à medida que precisou um objeto de investigação. Daí porque dizer que Saussure é o pai da Linguística, tal como é concebida nos dias de hoje. Importa salientar, entretanto, que a obra inaugural da Linguística foi uma publicação póstuma, tendo sido organizada por dois alunos do mestre suíço: Ah. Bally e A. Secheaye.
	No fundamental, para Saussure, a língua é definida como um “sistema de signos”, como uma reunião de unidades articuladas entre si. O signo, por sua vez, consiste na associação entre significante (imagem acústica — a que é projetada no cérebro) e o significado (conceito).
	Essa associação (significante x significado), d e acordo com Saussure, é arbitrária e convencional, não havendo razões precisas para que um dado elemento se chame X e não Y. A propósito dessa característica, subjaz uma outra: o valor de um signo é relativo e negativo. Assim, X é X, porque não é Y nem Z.
	Ao lado dessas questões, emergiram algumas dicotomias importantes: língua x fala (já comentada), sincronia x diacronia, relações paradigmáticas x associativas.
	Grosso modo, pode-se afirmar que a distinção saussuriana para os conceitos de sincronia e diacronia implica a forma por meio da qual o estudioso pode lançar mão, ao fazer uma abordagem (descrição) linguística. Isso porque os estudos rotulados de sincrônicos analisam os fatos linguísticos num dado momento de desenvolvimento histórico e aqueles que são tidos como diacrônicos descrevem os fenômenos linguísticos a partir das relações que estes mantêm com outros fenômenos, que o precedem ou o sucedem, na linha do tempo.
	Por considerar incompatível a noção de sistema e de evolução, Saussure exclui a diacronia do domínio da Linguística, situando-a numa condição periférica, ao lado da fala.
	Com a noção de sistema, a bem da verdade, ganhou vez a ideia de que os elementos se definem em função do valor que ocupam na cadeia de relações que forma o sistema completo da língua.
	Orlandi (1986), ao remeter à importância desses pormenores, diz que Saussure instituiu a Linguística como ciência com os conceitos de língua, valor e sincronia.
	Quanto à oposição relações paradigmáticas e sintagmáticas, outrora mencionadas, diz-se que elas representam os eixos da organização do sistema da língua. O primeiro desses eixos — o paradigmático — organiza as relações de oposição (ou X ou Y), em que os elementos se substituem (bate / late); o segundo — o sintagmático — valida o plano da combinação das unidades (b +a + t + e, por exemplo).
	 Todas as observações feitas por Saussure constituíram e vêm constituindo, também nos dias de hoje, valiosas contribuições para a reflexão/evolução do pensamento linguístico.
	Hoje, conta-se com um grande número de correntes de investigação linguística. Em todas elas, Saussure parece se fazer presente, quer para ser rechaçado, quer para ser resgatado pelo grande pensador que foi. O fato é que ele está sempre originando distintas reflexões. Tamanha é a sua importância que Dubois et alii (1998) assinalam que os estudos linguísticos devem ser definidos como surgidos “antes” ou “depois” de Saussure. Pois bem: dá-se o nome deEstruturalismo à corrente linguística subjacente aos princípios desenvolvidos por Saussure. Sobre tal vertente, seguem alguns comentários.
Intimamente relacionado à noção de estrutura (denominada por Saussure de sistema), o Estruturalismo valorizava a ideia de que os elementos linguísticos se definem em função do valor que ocupam na cadeia e relações que formam a língua.
Ao longo dos anos, o Estruturalismo ofereceu princípios teóricos a várias ciências, ao tempo que se manifestou de diferentes formas. Entre essas formas de abordagem, está o Funcionalismo, cujo objetivo consistia em decifrar as funções inerentes aos elementos linguísticos, quanto aos aspectos fônicos, gramaticais ou semânticos.
No que concerne aos aspectos fônicos, entre as contribuições mais significativas reside a noção de traço distintivo, ou seja, o elemento fônico responsável pela oposição, numa mesma língua, de dois signos diversos. Para efeito de ilustração, sabe-se que as formas pata e bata se distinguem em função do traço da sonoridade, em que um é surdo e o outro é sonoro, respectivamente.
Tal distinção também foi utilizada na descrição de unidades gramaticais e semânticas. Para tanto, os estruturalistas tiveram que aperfeiçoar seu método de descrição, em razão das dificuldades geradas nesses planos de investigação. Encontrar traços para diferenciar o significado (aspecto semântico) de palavras como afeto e carinho ou, ainda, de formas gramaticais como amei e amava (plano morfológico) representava uma dificuldade para eles. Assim, passaram a considerar os diversos tipos de relações na caracterização do percurso de combinação das unidades entre si.
Nesse sentido, destacaram a relevância dos dois eixos — paradigmático e sintagmático — de organização do sistema da língua apontados por Saussure (já abordados anteriormente). Apesar do esforço desses estudiosos, essas considerações não acrescentaram muito à descrição dos significados (perturbação que acompanhou os estruturalistas ao longo do tempo), parecendo mais convincentes aos campos da Fonologia e da Sintaxe.
Paralelamente à ênfase atribuída à noção de relação, o termo função também foi concebido diferenciadamente, conforme os tipos de Funcionalismo surgidos. Na verdade, remeter à palavras “Funcionalismo” traz à tona algumas correntes estruturalistas que tomam impulso após o Curso de Linguística Geral e que nasceram entre as duas grandes guerras: a Escola de Genebra (cujo maior expoente é o trabalho de Saussure), o Círculo Linguístico de Praga, o Círculo Linguístico de Copenhague (na Europa) e a Escola Mecanicista de L. Bloomfield, nos EUA.
Em se tratando, especificamente, dos trabalhos desenvolvidos sob o viés funcionalista oriundo do CLP (criado pelo tcheco Mathesius e iniciado com um manifesto apresentado, em 1928, em Haya, pelos russos Troubetskoy, Karcevsky e R. Jakobson), pode-se salientar a importância dada às funções constitutivas da natureza da linguagem. Tais funções, postuladas por R. Jakobson, dizem respeito à ênfase que cada um dos elementos da comunicação (o referente, o receptor, o código, a mensagem e o contato) recebe no enunciado e assim se distribuem: referencial, emotiva, conativa, fática, metalinguística e poética. Essa abordagem, além de trazer à tona os aspectos fundamentais da comunicação, aproximou a Linguística da Literatura.
Os trabalhos decorrentes do Círculo Linguístico de Copenhague (iniciado em 1931), entretanto, excluíram qualquer referência à literatura, voltando-se para princípios lógico-matemáticos (a propósito, elaborar uma teoria linguística universal foi um de seus objetivos). Foi nesse contexto que o dinamarquês L. Hjemslev lançou a oposição entre denotação (sentido primário) e conotação (sentido secundário), separando os planos lógico e afetivo do efeito poético.
Nos EUA, os estudos estruturalistas tiveram L. Bloomfield como mentor.Ancorado numa perspectiva comportamental (behaviorista) dos fatos linguísticos, ele propôs explicações fundadas no esquema estímulo-resposta. Essa teoria (desenvolvida, sobretudo, por seus alunos) costuma receber o nome de distribucionalismo (ou, ainda, de mecanicismo).
Segundo essa perspectiva teórica, os elementos que formam a língua pertencem a um sistema e, em virtude dessa condição, ocupam uma posição definida, uns em relação a outros. Encontram-se, portanto, distribuídos de maneira organizada. Para fazer valer uma descrição baseada na distribuição dos elementos, o método distribucional excluiu o historicismo e a referência ao significado desses elementos. O que, aliás, desencadeou as maiores críticas em relação ao método.
Apesar de ter sido discípulo de um distribucionalista ferrenho chamado de Z. Harris (de acordo com E. Lopes, (1972), o principal representante do método), Noam Chomsky, nos anos 50, sugeriu uma reflexão linguística que, em lugar de valorizar tão somente dados, destacasse a importância de uma teoria X.
Valendo-se, então, dos princípios racionalistas e lógicos dos estudos da linguagem, Chomsky propôs uma Gramática, cuja maior preocupação esteve centrada na sintaxe. Essa gramática foi denominada de Gerativa e recebeu tal nome porque se fundamentava no princípio de que, a partir de um número finito de regras, o falante produz um número infinito de sentenças.
Com essa gramática, foram gerados, entre outros, conceitos como os de competência (capacidade que os usuários têm de produzir e interpretar as sentenças de uma língua) e performance (a concretização/ o desempenho linguístico dos usuários).Sob a ótica chomskyana, a tarefa do lingüista é descrever o primeiro desses. Na verdade, sua teoria privilegiou a ideia de um falante ideal, o que, aliás, a conduziu ao universalismo. A faculdade da linguagem passou a ser entendida como algo inato à espécie humana. Razão porque os estudos de Chomsky ganharam tanta importância para a análise da aquisição da linguagem.
Para dar conta da descrição da competência do falante, Chomsky elegeu uma sintaxe (gramática) transformacional, estabelecendo que as sentenças produzidas (chamadas de estruturas superficiais -ES) eram derivadas de estruturas profundas –EP, através de regras transformacionais. Nesse sentido, institui-se na Linguística uma escrita formal, com uma formalização cada vez maior dos seus estudos.
Muitas foram as críticas a esse método — principalmente em relação à ênfase dada à sintaxe — o que, além de ter desencadeado algumas reformulações (pelo próprio Chomsky), propiciou o nascimento de outras teorias, a exemplo da Semântica Gerativa desenvolvida por George Lakoff, centrada no poder gerativo da semântica e não da sintaxe.
No bojo dessas reformulações, convém ressaltar outra teoria introduzida por Chomsky: a Tória dos Princípios e Parâmetros, que, ao retomar alguns argumentos em prol do inatismo, fez emergir a ideia de que existem os universais linguísticos. Num domínio estritamente cognitivo, admitiu-se que o ser humano vem equipado com uma Gramática Universal – GU e esta, por sua vez, é dotada de princípios universais inerentes à faculdade da linguagem (em toda língua natural, há noção de sujeito e predicado, por exemplo) e de parâmetros “fixados pela experiência”.
Evidentemente, todos os estudos até então apontados foram (e continuam sendo) bastante válidos para a evolução da Linguística como um todo e juntos constituem a tendência formalista de investigação linguística, por deixar de lado o uso real da língua pelo falante (Saussure com a exclusão da fala e Chomsky da performance). Ocorre, porém, que a Linguística, pelo próprio campo de investigação, ciência da língua (sistema) e das línguas (idiomas) comporta, também, estudos cuja tônica incide na observação da linguagem a partir da noção de contexto, de sociedade e de história, por exemplo.
Contemporaneamente, muitas são as áreas de concentração da Linguística, cada uma delas com sua particularidade e relevância. Sem negligenciar outras correntes, mas antes disso, dando ênfase a três tendências — a que encara a linguagem do pontode vista social, a que observa a relação da linguagem como o usuário e a que a relaciona com a exterioridade —, eis algumas observações importantes.
Ligadas à análise do social, há muitos domínios linguísticos, mas, para efeito de ilustração, basta citar a Sociolinguística Variacionista, a Etnolinguística e a Sociologia da Linguagem.
A primeira dessas — a Sociolinguística Variacionista — observa a linguagem a partir dos reflexos advindos das estruturas sociais, visando à sistematização das variações existentes na língua. Para tanto, analisa dados, buscando relacionar as variantes linguísticas com as sociológicas. O modelo proposto por Labov é um dos mais representativos.
Paradoxalmente à Sociolinguística Variacionista, a Etnolinguística concebe a linguagem como causa (e não como reflexo), competindo-lhe a organização do mundo.
A Sociologia da Linguagem, por sua vez, prega que não há separação entre as ações linguísticas e as sociais. Inserem-se nessa perspectiva trabalhos que focalizam as funções da linguagem, levando em conta os aspectos socioculturais.
Por tratar de uma multiplicidade de temas e, evidentemente, por ser fruto de discussões filosóficas distintas, muitas são as correntes da Pragmática, com seus direcionamentos específicos.
Guimarães, movido pelo interesse de generalizar os diferentes caminhos que a Pragmática tem assumido e, ao mesmo tempo, acreditando que esta é o estudo da relação do usuário com a linguagem, afirma que há, pelo menos, cinco tipos de Pragmática. Ou melhor, três tipos, sendo o último subcategorizado em três direções.
Dessa forma, há uma Pragmática Indicial, subsiária da Semântica Lógica, à medida que toma a relação linguagem-usuário como indispensável à explicação da linguagem-objeto. Limita-se, então, ao tratamento de atos como os de ordenar, perguntar, etc. como decorrentes do ato de informar.
O segundo tipo de Pragmática é o que se verifica, por exemplo, na perspectiva de Charles Morris, segundo o qual o usuário é o interpretante do signo, reconhecendo o seu valor de verdade por conviver com as situações em que este é utilizado.
A terceira vertente é uma linha de investigação centrada no papel do usuário como interlocutor. Subdivide-se em três ramos principais, a saber: a Pragmática Conversacional, a Pragmática Ilocucional e a Semântica da Enunciação.
Nascida a partir das observações feitas por Grice (1975), a Pragmática Conversacional, tal como foi dito acima, considera o usuário como um interlocutor, observando a intenção do locutor e o reconhecimento dessa intenção pelo interlocutor.
Para a Pragmática Ilocucional, a linguagem é uma forma de ação entre locutor e interlocutor. Nesse sentido, tamanha é a intenção do locutor durante a produção de um ato de fala e o reconhecimento dessa força intencional pelo ouvinte. Aqui, a função informativa não é tida como “a” função da linguagem, mas como apenas “uma” entre as demais. A ênfase dada à máxima de Austin (1960) de que “dizer é fazer”.
A Semântica da Enunciação, por sua vez, reúne essas duas abordagens anteriores. Os usuários são encarados como interlocutores e a linguagem também é vista como forma de ação. O diferencial consiste no acréscimo do entendimento de que a significação é tida como eminentemente dialógica.
Quanto à abordagem que focaliza a linguagem a partir da relação com a exterioridade (as chamadas “condições de produção”: o falante, o ouvinte, o contexto de comunicação e o contexto histórico-social/ideológico), é clarividente a relevância dos estudos desenvolvidos pela Análise do Discurso de Linha Francesa (AD).
Esse domínio disciplinar originou-se em 1960, na França, reunindo preocupações advindas da Psicologia, do Marxismo e da própria Linguística. Como ele, ganham atenção especial, entre outros, a noção de sujeito como uma posição e a de discurso como veiculador de efeitos de sentido. 
De modo geral, a AD busca mostrar o funcionamento dos textos, considerando a articulação existente com as formações ideológicas e, dessa forma, desloca-se em direção às Ciências de caráter social. Daí as suas freqüentes críticas às teorias que propagam a ideia de que o sujeito é o dono do seu dizer (como a Pragmática). Para ela, a linguagem é produzida pelo sujeito, mas em condições determinadas, cabendo ao analista esclarecer esse processo de produção.
Logicamente, essas correntes não esgotam as maneiras de se pensar a linguagem nos dias atuais, mas já demonstram alguns dos caminhos que o analista pode seguir para desvendar alguns de seus fenômenos. Parece igualmente verdade dizer que nenhuma se sobrepõe a outra, pois cada uma tem sua importância, à medida que guarda como propósito comum a desmistificação do universo da linguagem.
DUBOIS, Jean et alli. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1998.
CÂMARA JR., Joaquim Mattoso.História da Linguística. Rio de Janeiro: Vozes, 1975.
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 14ª ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
ORLANDI, Eni. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, 1999. (Coleção Primeiros Passos; 184)
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 24ª ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e linguística. Tradução de Rodolfo Ilari e revisão técnica de Ingedore Villaça Koch e Thaís Cristófaro Silva. São Paulo: Contexto, 2004.

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