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INTRODUÇÃO À 
FONOAUDIOLOGIA 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. José Pedro Auzier Neto 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Fundamentos da comunicação humana 
Nesta etapa, exploraremos os fundamentos essenciais que sustentam o 
campo da fonoaudiologia, abordando tanto a comunicação humana como o 
impacto dos distúrbios comunicativos no indivíduo, além das estratégias para o 
diagnóstico e tratamento. A compreensão desses aspectos é essencial para a 
formação de um fonoaudiólogo competente, capaz de avaliar e intervir de 
maneira eficaz nos diferentes contextos clínicos. 
O primeiro assunto trata dos Fundamentos da Comunicação Humana, no 
qual iremos estudar os elementos e processos da comunicação e os modelos 
teóricos que fundamentam nossa compreensão sobre como os seres humanos 
interagem e transmitem informações. A comunicação é uma habilidade 
complexa e multifacetada, e entender seus componentes é essencial para 
diagnosticar e tratar distúrbios comunicativos. Discutiremos também os modelos 
teóricos que foram desenvolvidos ao longo do tempo para explicar esse 
processo, como o modelo linear, interativo e transacional, analisando suas 
contribuições para a prática fonoaudiológica. 
Em seguida, abordaremos as Bases Neurofisiológicas da Comunicação, 
explicando o papel crucial do sistema nervoso central e periférico na produção 
da fala, linguagem, voz e fluência. A comunicação está profundamente ligada à 
função cerebral, e é vital entender como o cérebro processa as informações 
necessárias para essas habilidades. Vamos também discutir o desenvolvimento 
neurobiológico da comunicação, desde a infância até a fase adulta, identificando 
os marcos importantes para o desenvolvimento das habilidades comunicativas. 
O terceiro tópico se dedica à Classificação dos Distúrbios da 
Comunicação, com foco nos distúrbios da fala e da linguagem e nos distúrbios 
da voz e da fluência. Aqui, vamos estudar as principais condições que afetam 
essas áreas, discutindo suas causas, características e formas de diagnóstico. 
Os distúrbios da fala, como dislalias e apraxias, e os distúrbios da fluência, como 
a gagueira, têm um impacto significativo na vida dos indivíduos, e entender suas 
diferenças e abordagens terapêuticas é crucial para a prática clínica. 
Depois, discutiremos os impactos dos distúrbios da comunicação na vida 
do indivíduo, abrangendo tanto as repercussões psicossociais e educacionais 
quanto as profissionais e pessoais. Distúrbios da comunicação podem afetar a 
 
 
3 
autoestima, as relações sociais e o desempenho escolar e profissional. Vamos 
analisar como esses distúrbios impactam a vida cotidiana e quais são as 
abordagens necessárias para mitigar esses efeitos, promovendo a inclusão e o 
bem-estar dos indivíduos afetados. 
Por fim, trataremos das abordagens diagnósticas e terapêuticas em 
fonoaudiologia. Aqui, exploraremos os métodos de avaliação e diagnóstico, 
como testes, observações e entrevistas, fundamentais para a identificação de 
distúrbios comunicativos. Também discutiremos as estratégias terapêuticas e de 
reabilitação, que são essenciais para promover a recuperação ou aprimoramento 
das funções comunicativas, seja por meio de técnicas tradicionais ou tecnologias 
assistivas, sempre visando a qualidade de vida do paciente. 
TEMA 1 – ELEMENTOS E PROCESSOS DA COMUNICAÇÃO 
 A comunicação é um fenômeno complexo e multifacetado que 
desempenha um papel central na vida humana. Ela permite a transmissão de 
informações, a expressão de emoções, o estabelecimento de relações 
interpessoais e a construção do conhecimento social e cultural. Segundo 
McCroskey (2006), a comunicação pode ser definida como "um processo pelo 
qual as pessoas utilizam mensagens para gerar significado dentro e através de 
diferentes contextos". Esse processo envolve elementos fundamentais, como 
linguagem verbal e não verbal, cognição, audição e percepção. 
Ao longo da história, diferentes teóricos e pesquisadores buscaram 
compreender os mecanismos da comunicação humana. Aristóteles, um dos 
primeiros estudiosos do tema, descreveu a comunicação como um processo 
persuasivo baseado em três pilares: ethos (credibilidade do orador), pathos 
(apelo emocional) e logos (argumentação lógica). Já no século XX, estudiosos 
como Shannon e Weaver (1949) desenvolveram modelos matemáticos para 
descrever a transmissão da informação, enquanto Jakobson (1960) propôs um 
modelo funcionalista da linguagem, destacando diferentes funções 
comunicativas. 
Para a Fonoaudiologia, compreender os fundamentos da comunicação é 
essencial, pois permite analisar não apenas a estrutura linguística e fonética da 
fala, mas também os aspectos cognitivos e sociais que influenciam a interação 
humana. A comunicação eficaz é resultado de processos neurológicos, 
psicológicos e fisiológicos interconectados, e qualquer falha nesses processos 
 
 
4 
pode levar ao desenvolvimento de distúrbios da fala, linguagem e audição 
(Behlau, 2008). 
1.1 Elementos e processo da comunicação 
O processo comunicativo envolve uma série de componentes essenciais 
para garantir a eficácia da transmissão de mensagens. De acordo com Shannon 
e Weaver (1949), os elementos básicos da comunicação incluem: 
• Emissor – aquele que formula e envia a mensagem; 
• Mensagem – o conteúdo transmitido; 
• Canal – o meio pelo qual a mensagem é enviada (som, escrita, gestos 
etc.); 
• Receptor – aquele que recebe e interpreta a mensagem; 
• Ruído – fatores que interferem na comunicação (barulho, falhas 
cognitivas, déficits auditivos etc.); 
• Feedback – a resposta do receptor, que confirma a recepção e 
compreensão da mensagem. 
Embora esse modelo tenha sido um marco na teoria da comunicação, ele 
é limitado por sua visão linear e mecânica do processo. Schramm (1954) ampliou 
esse modelo ao incluir o conceito de "experiência compartilhada", enfatizando 
que a comunicação depende do conhecimento prévio e do contexto social dos 
interlocutores. Isso se aproxima da abordagem interacional da comunicação, na 
qual os participantes desempenham papéis simultâneos de emissores e 
receptores 
Do ponto de vista fonoaudiológico, a comunicação não se restringe 
apenas à linguagem verbal. Estudos de Ekman e Friesen (1969) demonstraram 
que expressões faciais, gestos e postura corporal desempenham papel crucial 
na transmissão de mensagens. Já Hall (1966) investigou a importância da 
comunicação não verbal no contexto cultural, destacando como fatores como 
proximidade física e contato visual influenciam a interação. Essas descobertas 
reforçam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar na análise dos 
distúrbios da comunicação. 
 
 
 
5 
1.2 Modelos teóricos da comunicação 
 Diversos modelos teóricos foram desenvolvidos para explicar os 
processos comunicativos e suas implicações. O modelo funcionalista de 
Jakobson (1960) propôs seis funções da linguagem: 
• Referencial – transmite informações objetivas (ex.: textos científicos); 
• Emotiva – expressa sentimentos e emoções (ex.: expressões faciais, 
entonação da voz); 
• Conativa – busca influenciar o interlocutor (ex.: publicidade, discursos 
persuasivos); 
• Fática – mantém o contato entre os interlocutores (ex.: "alô?", "tá 
ouvindo?"); 
• Metalinguística – usa a linguagem para explicar a própria linguagem (ex.: 
definições de dicionário); 
• Poética – enfatiza a estética da mensagem (ex.: poesias, músicas). 
Esse modelo é amplamente utilizado na análise linguística e 
fonoaudiológica, pois permite identificar quais funções da linguagem podem 
estar prejudicadas em indivíduos com distúrbios comunicativos. 
Outro modelo relevante é o sociointeracionista, proposto por Vygotsky 
(1978), que argumenta que a comunicação não ocorre de forma isolada, mas 
sim dentro de um contexto social e cultural. Para ele, a linguagem se desenvolve 
por meio da interação com os outros, sendomediada por ferramentas culturais, 
como a escrita e os gestos. Esse modelo tem grande relevância para a 
Fonoaudiologia, pois reforça a necessidade de abordagens terapêuticas que 
considerem o contexto social do paciente 
Além disso, Levelt (1989) descreveu o processo de produção da fala em 
três estágios: 
• Conceitualização – formulação da ideia a ser comunicada; 
• Formulação – transformação da ideia em estrutura linguística; 
• Articulação – produção motora da fala. 
Distúrbios da comunicação podem afetar qualquer um desses estágios, 
desde dificuldades na organização do pensamento (como na afasia de 
Wernicke) até problemas motores na produção da fala (como na disartria). 
 
 
6 
O estudo dos fundamentos da comunicação é essencial para a prática 
fonoaudiológica, pois fornece subsídios teóricos para o diagnóstico e tratamento 
de distúrbios comunicativos. Modelos como os de Shannon e Weaver, Jakobson, 
Vygotsky e Levelt oferecem diferentes perspectivas sobre o funcionamento da 
comunicação, permitindo uma análise abrangente dos fatores envolvidos na 
interação humana. A aplicação desses modelos na Fonoaudiologia possibilita 
intervenções mais eficazes, considerando tanto os aspectos linguísticos quanto 
os contextos sociais e cognitivos dos pacientes. 
TEMA 2 – BASES NEUROFISIOLÓGICAS DA COMUNICAÇÃO 
A comunicação humana é um processo complexo que envolve diversas 
estruturas e funções do sistema nervoso. Desde a recepção até a produção da 
fala e da linguagem, o cérebro e o sistema nervoso desempenham um papel 
fundamental na mediação dessas interações. Compreender as bases 
neurofisiológicas da comunicação é essencial para a fonoaudiologia, pois 
permite a identificação e o tratamento de distúrbios que afetam a fala, a 
linguagem e a audição. Estudos neurocientíficos indicam que a comunicação 
resulta da interação entre áreas cerebrais específicas, redes neurais e circuitos 
motores e sensoriais (Hickok; Poepel, 2007). Dessa forma, a investigação das 
bases neurofisiológicas fornece embasamento para práticas terapêuticas e 
reabilitadoras, favorecendo a adaptação dos indivíduos com dificuldades 
comunicativas 
2.1 O papel do Sistema Nervoso Central e Periférico 
O sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP) 
desempenham funções essenciais para a comunicação. O SNC, composto pelo 
cérebro e pela medula espinhal, coordena e processa informações sensoriais e 
motoras, enquanto o SNP estabelece a conexão entre o SNC e os órgãos 
efetores, como os músculos da fala e os receptores auditivos. 
No cérebro, as áreas primárias da comunicação incluem o córtex motor, 
responsável pela articulação da fala, e o córtex auditivo, que processa os sons 
da linguagem. Além disso, a área de Broca, localizada no lobo frontal, é crucial 
para a produção da fala, enquanto a área de Wernicke, no lobo temporal, está 
envolvida na compreensão da linguagem (Kandler, 2019). Estudos indicam que 
 
 
7 
danos nessas regiões podem resultar em distúrbios como afasias, que 
comprometem a expressão e a compreensão verbal (Benson; Ardila, 1996). 
O SNP, por sua vez, é responsável por transmitir impulsos nervosos entre 
o SNC e os músculos envolvidos na comunicação. Os nervos cranianos, 
especialmente o trigêmeo (V), o facial (VII), o glossofaríngeo (IX), o vago (X) e o 
hipoglosso (XII), são essenciais para a movimentação dos músculos orofaciais 
e laríngeos. Alterações nesses nervos podem ocasionar disartrias, disfagias e 
outros déficits motores da comunicação oral (Dodd, 2013). 
A interação entre o SNC e o SNP é crucial para a comunicação eficiente. 
A neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso de se reorganizar após 
lesões, tem sido um tema central na reabilitação fonoaudiológica, permitindo 
adaptações que favorecem a recuperação da fala e da linguagem em pacientes 
com distúrbios neurológicos (Pulvermüller; Berthier, 2008). 
2.2 Desenvolvimento neurônio lógico da comunicação 
O desenvolvimento da comunicação humana está diretamente 
relacionado à maturação do sistema nervoso. Segundo Befi-Lopes (2015), desde 
a vida intrauterina, as estruturas cerebrais envolvidas na linguagem começam a 
se desenvolver, estabelecendo conexões essenciais para o processamento 
auditivo e a produção da fala. Estudos indicam que a aquisição da linguagem 
está associada à atividade neural nas áreas corticais auditivas e motoras 
(Capovilla; Capovilla, 2010). 
A plasticidade neural tem um papel fundamental nesse processo, 
permitindo que estímulos sensoriais e interações sociais modifiquem as 
conexões neurais envolvidas na comunicação. De acordo com Andrade e Befi-
Lopes (2017), nos primeiros anos de vida, ocorre a poda sináptica, um 
mecanismo pelo qual conexões neuronais são fortalecidas ou eliminadas 
conforme a experiência e a necessidade do ambiente, assegurando um 
desenvolvimento comunicativo eficiente. 
Fatores genéticos e ambientais desempenham um papel crucial nesse 
desenvolvimento. A exposição à linguagem falada e a interações sociais 
adequadas são fundamentais para a aquisição das habilidades linguísticas 
(Lamônica; Ferreira-Vasques, 2018). Alterações no desenvolvimento 
neurobiológico podem comprometer a comunicação, como observado em 
 
 
8 
condições que afetam a fala e a linguagem, incluindo transtornos do espectro 
autista e atrasos no desenvolvimento da linguagem (Puglisi et al., 2016). 
O estudo do desenvolvimento neurobiológico da comunicação é essencial 
para compreender os processos envolvidos na aquisição da linguagem, 
possibilitando intervenções precoces e estratégias terapêuticas mais eficazes na 
fonoaudiologia (Pupo, 2019). 
TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO 
A comunicação humana envolve uma série de processos complexos que 
permitem aos indivíduos interagirem com o mundo à sua volta. Ela engloba a 
fala, a linguagem, a voz e a fluência e qualquer disfunção em uma dessas áreas 
pode afetar a qualidade da comunicação, prejudicando a interação social e o 
desenvolvimento cognitivo. A classificação dos distúrbios da comunicação visa 
organizar as diferentes manifestações clínicas que comprometem essas 
habilidades, permitindo um diagnóstico preciso e estratégias de intervenção 
adequadas. Tais distúrbios podem ser classificados com base em suas áreas de 
comprometimento: fala, linguagem, voz e fluência. A compreensão dos aspectos 
fundamentais de cada categoria é essencial para o trabalho clínico 
fonoaudiológico e para a promoção da inclusão comunicativa. 
3.1 Distúrbios da fala 
Os distúrbios da fala referem-se a dificuldades na produção dos sons da 
fala, envolvendo problemas articulatórios e motores. As dislalias, por exemplo, 
caracterizam-se por erros na articulação de fonemas, como a troca, omissão ou 
adição de sons (Navas; Garcia, 2015). Já a disartria é um distúrbio motor que 
afeta a coordenação dos músculos envolvidos na fala, resultando em uma 
produção disrítmica e pouco inteligível (Gonçalves; Silva, 2014). A apraxia de 
fala, outra condição importante, envolve uma falha na programação motora para 
a produção da fala, levando a dificuldades em articular palavras corretamente, 
apesar de não haver alterações musculares evidentes (Braz; Lima, 2017). 
No campo da linguagem, os distúrbios estão relacionados a dificuldades 
na compreensão e produção de frases, palavras e significados. A disfasia, por 
exemplo, é um transtorno específico de linguagem que compromete o 
desenvolvimento da capacidade de expressar e compreender a linguagem 
 
 
9 
verbal, sem a presença de outras deficiências cognitivas ou neurológicas 
(Valença; Mendes, 2013). A aquisição da linguagem pode ser atrasada ou 
prejudicada, impactando a comunicação social e acadêmica da criança (Lemos, 
2010). 
3.2 Distúrbio da voz e da infância 
Os distúrbios da voz envolvem alterações na qualidade vocal, podendo 
afetar a intensidade, o tom e o timbre davoz, prejudicando a produção verbal e 
a comunicação interpessoal. A disfonia é o distúrbio vocal mais comum, e pode 
ter origem em fatores funcionais, orgânicos ou neurológicos (Cardoso; Almeida, 
2016). Em muitos casos, as alterações na voz estão relacionadas ao uso 
inadequado ou excessivo da musculatura vocal, o que pode resultar em 
rouquidão, cansaço vocal e, em situações mais graves, a perda total da voz 
(Soares, 2018). Do ponto de vista clínico, é essencial diferenciar as causas das 
disfonias, que podem variar desde infecções e lesões nas cordas vocais até 
doenças neurológicas que afetam o controle motor da voz (Pereira; Silva, 2019). 
Já os distúrbios da fluência dizem respeito a alterações no ritmo da fala, 
sendo as formas mais conhecidas a gagueira e a taquilalia. A gagueira é 
caracterizada por interrupções involuntárias do fluxo verbal, como repetições, 
bloqueios e prolongamentos de sons (Gonçalves, 2014). A taquilalia, por outro 
lado, é caracterizada pela fala excessivamente acelerada, o que compromete a 
inteligibilidade e pode gerar dificuldades de compreensão por parte do ouvinte 
(Figueiredo, 2017). A fluência verbal é fundamental para a comunicação efetiva 
e a interação social, e seu tratamento requer abordagens que envolvem terapia 
da fala, estratégias comportamentais e, em alguns casos, o uso de dispositivos 
auxiliares. 
TEMA 4 – IMPACTOS DOS DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO NA VIDA DO 
INDIVÍDUO 
Os distúrbios da comunicação podem ter efeitos profundos e duradouros 
na vida do indivíduo, afetando diferentes aspectos do seu desenvolvimento e 
bem-estar. Além das dificuldades óbvias na interação social e na participação 
em atividades cotidianas, esses distúrbios podem gerar repercussões 
psicossociais, educacionais e profissionais significativas. O impacto desses 
 
 
10 
distúrbios não se limita à comunicação verbal, mas também pode envolver o 
processo de aprendizagem, a autoestima e as relações interpessoais, exigindo 
uma abordagem terapêutica integrada que leve em consideração o indivíduo 
como um todo. 
4.1 Repercussões psicossociais e educacionais 
As repercussões psicossociais dos distúrbios da comunicação são 
evidentes em muitas áreas da vida do indivíduo. Crianças com dificuldades de 
fala e linguagem podem enfrentar desafios emocionais, como frustração, 
ansiedade e baixa autoestima, especialmente quando têm dificuldades em se 
expressar ou entender os outros. Segundo Bevilacqua (2013), o estigma social 
associado a esses distúrbios muitas vezes resulta em exclusão e 
marginalização, afetando diretamente as interações sociais e a construção da 
identidade do indivíduo. Além disso, a falta de comunicação eficaz pode gerar 
sentimento de impotência e isolamento social, impactando o bem-estar 
emocional (Lima; Costa, 2016). 
Na esfera educacional, os distúrbios da comunicação podem 
comprometer o desempenho acadêmico e o processo de aprendizagem. 
Crianças com dificuldades de linguagem podem ter problemas para 
compreender instruções, participar de discussões em sala de aula ou se 
expressar de forma adequada durante atividades escolares. Conforme 
argumenta Andrade (2018), esses desafios podem levar a dificuldades de leitura, 
escrita e compreensão, resultando em desempenho abaixo do esperado. O 
ambiente escolar, muitas vezes, não está preparado para lidar com essas 
dificuldades, o que pode agravar ainda mais o impacto educacional, além de 
prejudicar a inclusão e a participação ativa do aluno nas atividades pedagógicas. 
4.2 Repercussões profissionais e pessoais 
Os distúrbios de comunicação, além de impactarem o ambiente 
educacional e social, podem trazer sérias consequências nas esferas 
profissionais e pessoais do indivíduo. No contexto profissional, as dificuldades 
na expressão verbal, compreensão e interação podem afetar diretamente a 
capacidade de comunicação no ambiente de trabalho, prejudicando as relações 
interpessoais e a realização de tarefas que exigem habilidades comunicativas, 
 
 
11 
como a argumentação, negociações e liderança (Mendes; Figueiredo, 2018). A 
falta de habilidades linguísticas adequadas pode levar a mal-entendidos, atrasos 
no cumprimento de tarefas e, em casos mais graves, a exclusão ou 
desvalorização do indivíduo no seu meio de trabalho (Pereira, 2017). 
Pessoalmente, os distúrbios de comunicação podem causar sérios 
impactos nas relações familiares e sociais. Indivíduos que apresentam 
dificuldades para se expressar ou entender os outros frequentemente enfrentam 
isolamento social e dificuldades para construir e manter vínculos afetivos 
(Soares, 2015). Além disso, a insegurança gerada pela dificuldade de 
comunicação pode prejudicar a autoestima e o bem-estar emocional do 
indivíduo, gerando frustração, ansiedade e estresse. Estudos indicam que 
pessoas com distúrbios de comunicação frequentemente se sentem excluídas 
em ambientes sociais, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos 
emocionais como depressão e ansiedade (Silva; Oliveira, 2016). 
TEMA 5 – ABORDAGENS DIAGNÓSTICAS E TERAPÊUTICAS EM 
FONOAUDIOLOGIA 
A fonoaudiologia desempenha um papel essencial no diagnóstico e 
tratamento dos distúrbios da comunicação, utilizando abordagens e estratégias 
que visam restaurar ou melhorar as habilidades comunicativas do indivíduo. O 
processo de avaliação, que envolve métodos precisos e atualizados, é o ponto 
de partida para a compreensão das necessidades do paciente e para o 
planejamento de intervenções eficazes. A intervenção terapêutica, por sua vez, 
deve ser adaptada às características individuais de cada paciente, considerando 
aspectos como a gravidade do distúrbio, a idade e as condições psicossociais. 
Essas abordagens não apenas tratam os distúrbios da comunicação, mas 
também contribuem para o desenvolvimento integral do indivíduo, melhorando 
sua qualidade de vida e promovendo a inclusão social. 
5.1 Método de avaliação e diagnóstico 
A avaliação fonoaudiológica é um processo fundamental que busca 
identificar as dificuldades de comunicação do paciente, compreender a extensão 
dessas dificuldades e determinar as causas subjacentes. Existem diversos 
métodos de avaliação que são utilizados para examinar a fala, a linguagem, a 
 
 
12 
voz e a fluência, e cada um deles deve ser escolhido conforme a necessidade 
do paciente e a natureza do distúrbio. Entre os métodos mais utilizados estão as 
entrevistas, a observação direta, os testes padronizados e as escalas de 
avaliação. 
A entrevista com os familiares ou responsáveis é uma das primeiras 
etapas do processo avaliativo, pois fornece informações cruciais sobre o 
histórico do paciente e os primeiros sinais do distúrbio (Rodrigues; Santos, 
2016). Os testes padronizados, por sua vez, são fundamentais para avaliar as 
habilidades linguísticas, articulares e fonológicas de forma quantitativa e 
comparativa, permitindo um diagnóstico mais preciso (Oliveira; Silva, 2017). 
Além disso, a observação direta do comportamento comunicativo do paciente 
em situações naturais é uma ferramenta importante para identificar as 
estratégias que o paciente utiliza para se comunicar, facilitando a construção de 
um plano terapêutico individualizado (Gomes, 2015). 
5.2 Estratégias terapêuticas e reabilitação 
O tratamento fonoaudiológico envolve uma série de estratégias 
terapêuticas que são aplicadas conforme as necessidades específicas do 
paciente, com o objetivo de melhorar ou restaurar suas habilidades 
comunicativas. Essas estratégias são adaptadas para cada tipo de distúrbio da 
comunicação, podendo envolver desde terapias individuais até intervenções 
mais complexas que exigem o uso de recursos tecnológicos e a colaboração 
com outros profissionais da saúde. 
No caso dos distúrbios da fala, como a dislalia e a apraxia de fala, a 
terapia geralmente foca na correção da articulação e no aprimoramento da 
coordenação motora para a produçãodos sons (Cardoso; Almeida, 2018). Em 
distúrbios da linguagem, como a disfasia, as estratégias terapêuticas envolvem 
o desenvolvimento da compreensão e expressão verbal, com ênfase na 
ampliação do vocabulário e no uso de estruturas gramaticais adequadas (Lemos; 
Souza, 2019). Já os distúrbios da voz, como a disfonia, podem requerer técnicas 
de reabilitação vocal, com ênfase na correta utilização da musculatura vocal e 
na prevenção de lesões (Ferreira; Lima, 2017). Em distúrbios da fluência, como 
a gagueira, a intervenção terapêutica busca melhorar o ritmo da fala e reduzir a 
ansiedade associada à fala, utilizando métodos como a fluência controlada e a 
dessensibilização (Santos, 2016). 
 
 
13 
A reabilitação fonoaudiológica também pode envolver o uso de 
tecnologias assistivas, como sistemas de comunicação alternativa e aumentativa 
(CAA), que são utilizados para pacientes não verbais ou com dificuldades graves 
de expressão verbal (Silva, 2018). Essas tecnologias, aliadas a terapias 
comportamentais, oferecem alternativas eficazes para a comunicação, 
promovendo a inclusão social e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. 
NA PRÁTICA 
Para consolidar o conhecimento sobre os distúrbios da comunicação e 
sua classificação, vamos analisar um caso clínico e refletir sobre os desafios 
enfrentados pelo indivíduo, bem como as estratégias terapêuticas aplicadas. 
Ana, uma adolescente de 14 anos, começou a apresentar dificuldades na 
comunicação, mas sua família acreditava que o problema se resolveria 
naturalmente com o tempo. Na escola, os professores perceberam que Ana 
evitava participar de apresentações orais e interações em grupo, muitas vezes 
optando por escrever em vez de falar. Quando se comunicava, sua voz era muito 
fraca, com pouca ressonância e dificuldade em sustentar a fala por períodos 
prolongados. Além disso, sua mãe relatava que Ana frequentemente se queixava 
de dor na garganta e fadiga vocal ao final do dia. 
Após avaliação fonoaudiológica, foi constatado que Ana apresenta 
disfonia funcional, um distúrbio da voz caracterizado por mau uso e abuso vocal, 
sem lesões estruturais nas pregas vocais. Sua dificuldade em projetar a voz e o 
esforço excessivo para falar levaram ao desenvolvimento de hábitos 
compensatórios prejudiciais à sua comunicação. 
Intervenção fonoaudiológica 
Diante desse quadro, a terapia fonoaudiológica foi planejada para atuar 
em três frentes principais: 
• Reeducação vocal – exercícios específicos para melhora da 
coordenação pneumofonoarticulatória, como sopro fricativo e 
ressonância, foram implementados para reduzir a tensão ao falar e 
melhorar a projeção vocal; 
• Mudança de hábitos vocais – a conscientização sobre o uso adequado 
da voz foi essencial, com a introdução de pausas na fala, hidratação e 
técnicas de relaxamento para diminuir o esforço vocal; 
 
 
14 
• Treino da autoconfiança comunicativa – como Ana evitava falar por 
medo de ser mal compreendida, foi necessário um trabalho voltado para 
ampliar sua segurança e habilidades de interação social, com exercícios 
de leitura em voz alta e simulação de conversas espontâneas. 
Este caso evidencia a importância de uma abordagem integrativa na 
fonoaudiologia. Os distúrbios da comunicação vão além dos aspectos 
fisiológicos, influenciando o comportamento, a autoestima e as relações sociais 
do indivíduo. 
Diante disso, alguns questionamentos surgem: como o ambiente escolar 
pode auxiliar no tratamento de Ana? Que estratégias podem ser utilizadas para 
prevenir a disfonia funcional em adolescentes e adultos jovens? Essas reflexões 
são essenciais para ampliar nossa compreensão sobre os impactos dos 
distúrbios comunicativos e a necessidade de uma intervenção precoce e eficaz. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, exploramos a classificação dos distúrbios da comunicação, 
compreendendo suas diferentes manifestações e impactos na vida dos 
indivíduos. Inicialmente, abordamos os distúrbios da fala e da linguagem, 
diferenciando dificuldades articulatórias, fonológicas e transtornos mais 
complexos, como a afasia. Em seguida, analisamos os distúrbios da voz e da 
fluência, destacando condições como a disfonia e a gagueira, que afetam não 
apenas a produção vocal, mas também a interação social dos indivíduos. 
Também discutimos os impactos psicossociais, educacionais, 
profissionais e pessoais desses distúrbios, enfatizando como as dificuldades 
comunicativas podem comprometer a autoestima, o desempenho acadêmico e 
as oportunidades de trabalho. Além disso, refletimos sobre a importância de uma 
abordagem terapêutica precoce e individualizada, considerando as 
necessidades específicas de cada paciente. 
Por fim, por meio do caso clínico de Ana, vimos na prática como um 
distúrbio da comunicação pode influenciar o dia a dia de uma pessoa e quais 
estratégias terapêuticas podem ser utilizadas para sua reabilitação. Esse 
exemplo reforça a necessidade de uma atuação fonoaudiológica baseada em 
evidências, promovendo a qualidade de vida e a inclusão social dos indivíduos 
com dificuldades comunicativas. 
 
 
15 
Ao concluir essa etapa, fica evidente que o conhecimento sobre os 
distúrbios da comunicação é essencial para o trabalho do fonoaudiólogo, 
permitindo diagnósticos precisos e intervenções eficazes. Como profissionais da 
área, cabe a nós não apenas tratar, mas também conscientizar a sociedade 
sobre a importância da comunicação na construção das relações humanas e no 
desenvolvimento social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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