Prévia do material em texto
AGROSTOLOGIA AULA 3 Prof. José Victor Pronievicz Barreto 2 CONVERSA INICIAL Formação, manejo e recuperação de pastagem Em conteúdos anteriores, foram apresentados os princípios da agrostologia e da forragicultura, com ênfase em produção animal. Os temas abordados nos permitiram conhecer as características das principais plantas forrageiras utilizadas em produção animal, quer sejam gramíneas, quer leguminosas, com o estudo das características gerais de raízes, caules, folhas, inflorescências e suas formas de crescimento. Abrangemos alguns termos gerais e específicos, bem como o seu correto uso, dada a suma importância dessa área para a produção animal e para a atuação do médico veterinário. Ao analisarmos as principais espécies de forrageiras gramíneas e leguminosas, foi possível notar que as suas características individuais exigem atenção ao tipo de pastejo a ser adotado, assim como ao plantio, à formação, ao manejo e à recuperação das pastagens, que são alvo de estudo nesta etapa. TEMA 1 – LOTAÇÃO CONTÍNUA E ROTATIVA Sempre que conversarmos sobre produção de forrageiras para produção animal a pasto, leve em consideração que é necessário dar ênfase à produtividade animal estável e persistente ao longo de um determinado prazo. E, para isso, três princípios devem ser seguidos, conforme Congio e Meschiatti (2019): 1. produzir grande quantidade de forragem, de valor nutritivo adequado, em consonância com as necessidades dos animais; 2. garantir o consumo voluntário, em níveis ideais; 3. obter índices de conversão alimentar satisfatórios. Para que isso seja exequível, o médico veterinário deve conhecer as características das plantas forrageiras empregadas em um sistema de pastejo. Uma forrageira explorada intensivamente, e de forma errônea, pode sofrer redução na sua produtividade e vida útil, o que, acima de tudo, prejudica a produtividade animal e gera reflexos econômicos, por conta da degradação da pastagem (Congio; Meschiatti, 2019). O correto manejo das pastagens, portanto, é fundamental, pois os ecossistemas de pastagens cultivadas são, em grande maioria, incapazes de se 3 autossustentarem, pois o seu consumo de nutrientes é superior à reposição deles. Logo, o pastejo gera reflexos positivos e negativos sobre o ecossistema. Os animais ingerem aproximadamente 30% da produção primária e excretam uma porção pequena dos nutrientes ingeridos. A redução da área foliar decorrente da eliminação de meristemas apicais e a diminuição de nutrientes são impactos negativos do pastejo. Mas o pastejo é benéfico para o aumento da penetração de luz, a remoção de folhas em senescência, o aumento na proporção de folhas novas e a ativação dos meristemas na base do caule e dos rizomas (Costa et al., 2004). O ato de pastejar, por ação do pisoteio dos animais, gera consequências físicas e químicas no solo e no ecossistema. O movimento dos animais sobre o solo faz a dispersão de sementes e de excreções, mas também quebra a crosta superficial do solo, o que melhora a percolação de água, redistribuindo e removendo nutrientes. Não obstante, a remoção de nutrientes do solo acelera a sua mineralização, pela excreção de fezes e urina (Alves et al., [S.d.]; Mittelmann, 2006). Diante dessas considerações, o manejo das pastagens deve ser cuidadoso e personalizado conforme a forrageira presente no ecossistema. Basicamente, o manejo da pastagem é preconizado com base nos dias de ocupação, nos dias de descanso e na pressão de pastejo (Congio; Meschiatti, 2019). Vamos entender cada um destes termos: • Dias de ocupação: período no qual os animais permanecem em uma área, pastejando. • Dias de descanso: intervalo subsequente ao pastejo e necessário para a rebrota da forrageira. • Pressão de pastejo: é a relação entre o peso vivo dos animais e a matéria seca da forragem disponível (expressa em kg de matéria seca – MS/kg de peso vivo – PV). Diferentemente da taxa de lotação, que é um conceito de proporção entre carga animal e área, em que não se considera a disponibilidade de forragem, a pressão de pastejo é um conceito dado em porcentagem. De forma simples, uma pressão de 5% indica que há 5 kg de MS disponível para cada 100 kg de PV/dia. A denominação pastejo, porém, é pouco precisa e inadequada à finalidade de 4 permanência dos animais em determinada área, tecnicamente denominada lotação (Martha Júnior et al., 2003). Existem duas formas de lotação: a contínua e a rotacionada (também denominada intermitente). A lotação contínua consiste basicamente em um método de pastejo em que os animais têm acesso irrestrito e ininterrupto à pastagem por longos períodos, muitas vezes indeterminados. A lotação rotacionada é um método de pastejo que restringe a área de acesso dos animais e determina o seu tempo de permanência, fazendo um rodízio entre piquetes (Martha Júnior et al., 2003). A produção de forragem e a produtividade animal muitas vezes não são igualmente alcançáveis, independentemente de a lotação ser contínua ou intermitente; mas sabe-se que a pressão de pastejo é um importante fator para isso. Se a pressão de pastejo é baixa e a disponibilidade de forragem é alta, ocorrem o subpastejo e a seleção do consumo da forragem, afetando o desempenho animal e vegetal, pois com isso pode haver acúmulo de material senescente. Por isso, o médico veterinário deve primar por manter a pressão de pastejo em um nível ótimo, que não permita ganhos máximos por animal, mas garanta maiores ganhos por área, propiciando que a pastagem expresse o seu potencial sem degradação ou seleção (subpastejo) (Ruggieri, 2011). Figura 1 – Sistema de produção com diversos piquetes, restringindo a área de permanência de pastejo dos animais Crédito: Patrick Jennings/Shutterstock. 5 Num sistema de lotação contínua bem manejado, há a desfolha constante, que estimula a capacidade de perfilhamento e beneficia a interceptação da luz de forma eficiente, favorecendo assim a fotossíntese, a geração de novas folhas, uma maior densidade de perfilhos. Mas, caso o sistema de lotação contínua seja mal manejado, ele pode resultar em baixa densidade de perfilhos e, assim, baixa fotossíntese. Esse sistema é de investimento inicial mais baixo, porém de produtividade e rentabilidade igualmente menores em relação à lotação rotacionada (Alves et al., [S.d.]; Ruggieri, 2011). No sistema de lotação rotacionada – por óbvio, se bem manejado –, o campo de pastejo crescerá mais rapidamente durante a rebrota do que durante o período de ocupação. Mas, deve-se cuidar para não ocorrer a seleção ou a degradação do sistema de pastagem durante o pastejo, pois a remoção de folhas jovens sinteticamente ativas e/ou a permanência de folhas velhas, além do pisoteio dos animais, pode(m) afetar severamente a taxa de interceptação luminosa e a fotossíntese (Oliveira; Corsi, 2005). TEMA 2 – TAXA DE LOTAÇÃO VERSUS CAPACIDADE DE SUPORTE Para evitar um processo irreversível de degradação dos sistemas de pastagem ou mesmo o destino evitável de recursos extras para a recuperação de uma área degradada, quer seja em lotação pelo método contínuo, quer seja pelo intermitente, é fundamental que sejam respeitados os limites de resistência e tolerância das forrageiras à ação animal, suas exigências em relação ao solo, umidade, clima etc. Cada espécie forrageira tem características de altura de pastejo, massa de forragem, desempenho e produção de forragem; e, respeitando-se tais características, deve-se tentar controlar fatores como o período de descanso e a taxa de lotação, sempre que possível (Martha Júnior et al., 2003). A taxa de lotação é primordial para garantir a eficiência de utilização de uma forrageira destinada ao pastejo. Se a taxa de lotação for mal calculada, pode ocorrer o subpastejo, caracterizadopor sobras de forragem decorrentes do número subestimado de animais; mas pode resultar ainda em superpastejo, quando falta forragem disponível para consumo, em decorrência do excesso de animais por área de pastagem (Martha Júnior et al., 2003; Raven; Evert; Eichhorn, 2014). 6 Desajustes na taxa de lotação são lesivos à saúde das forrageiras, pois o superpastejo reduz a área foliar, esgota as reservas de carboidratos não estruturais e também expõe e erradica meristemas (Raven; Evert; Eichhorn, 2014). O valor nutritivo de forrageiras é prejudicado pelo aumento da taxa de senescência, redução da capacidade fotossintética e redução da produção de carboidratos não estruturais, consequências de subpastejo (Martha Júnior et al., 2003). Em situações de desfolhação frequente e excessiva, como ocorre em lotação contínua com alta taxa de lotação, a intercepção de luz (fotossíntese) é pequena e produz folhas menores e aumenta a densidade dos perfilhos. Em casos de lotação intermitente, ocorre uma competição maior pela luz durante a rebrotação e, por isso, mudanças na qualidade e quantidade de luz absorvida e na estrutura do dossel fazem com que os vegetais desenvolvam folhas mais longas e reduzam a taxa de perfilhamento (Morrison, 1966). Figura 2 – Pastagem apresentando forrageira extremamente próxima ao solo, compatível com superpastejo Créditos: Floratta/Shutterstock. O método de lotação exerce influência direta sobre a eficiência de utilização da pastagem, na proporção da produção e na retirada da vegetação pela ação dos animais. Em lotação contínua, pode haver a remoção constante e subsequente deficiência da recuperação de tecido foliar, subutilizando-se o potencial da forragem. Por outro lado, na lotação intermitente, fatores como os 7 períodos de descanso e ocupação, o número e o tamanho dos piquetes e a taxa de acúmulo de forragem podem predizer a retirada da vegetação pela ação dos animais. Logo, ajustes na taxa de lotação e no período de ocupação podem minimizar as perdas foliares e, dessa forma, manter a alta eficiência de utilização da pastagem (Martha Júnior et al., 2003). Propriamente dito, o conceito de taxa de lotação refere-se à relação entre número de animais (ou unidades animais) e área de unidade de manejo ocupada durante um período de tempo (Martha Júnior et al., 2003). A taxa de lotação pode ser calculada pela fórmula: MSF x AP x 100 / DO x OF, em que: • MSF (kg/hectare): massa seca de forragem (soma da massa seca pré- pasto com a taxa de acúmulo de forragem); • AP (hectare): área de pasto; • DO (dias): dias de ocupação; • OF (kg/MS/100 kg PV): oferta de forragem. Divide-se, então, o valor encontrado pelo peso médio do rebanho ou por 450 quilos (1 unidade animal – UA). Na prática, se a massa seca de forragem pré-pastejo é de 2.000 kg/hectare, a taxa de acúmulo de forragem, de 50 kg MS/ha/dia, o período de ocupação é de 15 dias, o peso médio do lote, 450 kg de PV e a oferta de forragem, de 18 kg/MS/100 kg de PV (18%), logo: 2.050 x 1 x 100 / 15 x 18 = 205.000 / 270 = 759,26 Por fim, para calcular o número de cabeças por hectare ou o número de unidades animais por hectare, deve-se dividir o valor encontrado pela média de peso do rebanho ou por 450 kg (1 UA): 759,26 / 450 = 1,68 O resultado final da taxa de lotação é expresso em cabeças/ha ou UA/ha; logo, neste último caso, tem-se 1,68 UA/ha. Compreendido o conceito, fundamentado o cálculo da taxa de lotação, o próximo conceito fundamental para o entendimento do manejo de pastagens é a capacidade de suporte, que corresponde à taxa máxima de lotação de uma área, em um determinado período, que proporcione um determinado nível de desempenho animal sem causar a deterioração do ecossistema. Ou seja, a capacidade de suporte expressa a taxa de lotação adequada a uma pressão ótima do pastejo, em que se obtém um ganho máximo por área, em um 8 determinado momento, sem que isso resulte em degradação da pastagem. Logo, o cálculo da capacidade de suporte é fundamental para evitar o sub ou o superpastejo (Martha Júnior et al., 2003). A capacidade de suporte (CS) pode ser calculada por meio da seguinte fórmula (Martha Júnior et al., 2003): CS (UA/ha/ano) = produção anual de forragem/ha/ano / consumo por unidade animal a cada ano Na prática, se uma forragem apresenta produção de 25 t/ha/ano, com considerando uma média de consumo de 15%, sua capacidade de suporte seria: CS = 25.000 / (450 x 0,15 x 365 dias) = 25.000 / 24.637,5 = 1,01 UA/ha/ano A fórmula foi executada da seguinte maneira: a produção total por ano foi dividida pelo consumo de uma unidade animal ao longo de um ano, em uma pastagem. O resultado final da capacidade de suporte é expresso em UA/ha/ano. Logo, nesse caso, tem-se 1,01 UA/ha/ano. Mas, deve-se lembrar que 75% da produção das forragens ocorre na época das chuvas (que dura, aproximadamente, 210 dias); e que, durante a seca (aproximadamente, 155 dias), ocorre a produção dos outros 25%. Logo, a capacidade de suporte deve ser ajustada no decorrer do ano (Ruggieri, 2011). TEMA 3 – ASPECTOS DO PREPARO DO SOLO E DO PLANTIO DAS FORRAGEIRAS Para a produção de pastagem, aqueles três princípios que comentamos na seção anterior precisam ser respeitados (produzir grande quantidade de forragem, de valor nutritivo adequado, em consonância com as necessidades dos animais; garantir o consumo voluntário em níveis ideais; obter índices de conversão alimentar satisfatórios) (Alves et al., [S.d.]). Partindo do princípio de que produziremos pastagem do ponto inicial, para que alcancemos esses princípios, devem ser conhecidas as características das plantas forrageiras a serem utilizadas no sistema de criação. Resumidamente, o crescimento das plantas, a sua utilização e a sua conversão são três fases distintas e importantes da produção animal a pasto (Raven; Evert; Eichhorn, 2014; Ruggieri, 2011). Vamos detalhar cada uma delas a seguir. Durante o crescimento da forrageira, é necessário que a planta receba água, energia luminosa e nutrientes, para, assim, converter isso em tecido 9 vegetal e massa de forragem. A eficiência desse processo é dependente das condições de clima e solo, que devem ser estudadas antes mesmo da escolha da forrageira, até porque se deve implementar uma forrageira hábil para produção em determinado local, que favoreça a produtividade animal sem custos exorbitantes, sendo, pois, economicamente viável. Medidas corretivas devem ser levadas em consideração para garantir o ambiente mais adequado ao desenvolvimento da vegetação, como preparo do solo, adubação, calagem, fosfatagem, entre outras, o que abordaremos no decorrer de nossos estudos (Raven; Evert; Eichhorn, 2014; Ruggieri, 2011). Após o crescimento da forrageira, teremos um ecossistema favorável para a produção animal, aliás, independentemente de se tratar de pastejo ou corte (produção de alimentos conservados). Logo, surge a fase de utilização da gramínea ou leguminosa, iniciando-se o manejo de desfolha, que deve obedecer às diretrizes de taxa de ocupação e capacidade de suporte, conforme estudamos anteriormente. A fase de utilização está diretamente associada ao manejo de desfolha e tem impacto na conversão, uma vez que se relaciona com a parte do dossel que será consumida (folhas e colmo) e, por isso, afeta a ingestão de nutrientes (Raven; Evert; Eichhorn, 2014; Ruggieri, 2011). Vamos, a partir de agora, estudar as condições de solo e clima (condições edafoclimáticas). Para a tomada de decisões de qual forrageira requer cuidados especiais na escolha da área para o cultivo das forrageiras na propriedade, deve- se então estudar a média de pluviosidade, topografia e fertilidade do solo. A obtenção dessas medidas direcionará as correções necessárias para a melhor adaptação da forrageira (Raven; Evert; Eichhorn, 2014;Ruggieri, 2011). Em relação à topografia, podemos dividi-la conforme a região específica, mas, em geral, resume-se em (Zonta et al., 2012): • Leito menor: região marcada pela presença de fontes de água, como minas, córregos etc. • Leito maior: área de inundação periódica e de rápido escoamento. • Terraço: campo plano e não susceptível a encharcamento, de ótima fertilidade natural e susceptível a mecanização, bom para o cultivo de coast-cross e Panicum maximum. • Meia-encosta: é uma região demográfica que recebe sedimentos provenientes das áreas mais superiores, também de alta fertilidade, e que é apta ao cultivo de plantas com alta produção de biomassa. 10 • Morro: é uma área de baixa fertilidade natural e que oferece dificuldade para mecanização; logo, destina-se às forragens tolerantes a adversidades como solos ácidos e pouco férteis, com rápida cobertura, como as do gênero Brachiaria. • Topo do morro: região de ainda mais baixa fertilidade. Determinada a região da propriedade mais adequada à implementação da pastagem, deve-se prosseguir à coleta de amostras de solo para análises laboratoriais químicas e de textura, cujos resultados auxiliarão na tomada de decisões para correção e adubação do solo conforme a necessidade da forrageira; ou mesmo para escolha de uma forrageira que se adapte às condições preexistentes (Ruggieri, 2011). O preparo do solo deve ter como objetivo deixá-lo uniforme, firme e com ausência de torrões. As técnicas utilizadas para isso consistem na aração e na gradagem. A aração consiste em revirar as camadas mais superficiais do solo, para melhorar a permeabilidade de água, otimizar a penetração de fertilizantes no solo e permitir o trânsito de ar no solo. A gradagem deve ser realizada após a aração, para desfazer torrões resultantes da aração, tornando o solo mais homogêneo (Congio; Meschiatti, 2019). 11 Figura 3 – Solo submetido a aração, ainda com presença de grandes torrões Créditos: Alex_Po/Shutterstock. Figura 4 – Solo submetido a aração e gradagem, já com menor quantidade de torrões Créditos: Vinicius Abe/Shutterstock. Sobre a época de plantio, deve-se levar em total consideração a espécie ou cultivar da forrageira, assim como suas características morfológicas, fisiológicas, exigências nutricionais, condições de crescimento e de adaptação a 12 solo e clima, formas de criação e estrutura da propriedade. Em geral, a semeadura ocorre desde o início até o fim do período chuvoso (Costa et al., 2004). A semeadura pode ser manual, o que normalmente é empregado em pequenas áreas ou quando não é possível o acesso de maquinário agrícola, quer seja por uso de sementes, quer de mudas. A semeadura mecanizada pode ser realizada a lanço, com equipamento para a utilização de calcário; em sulcos, com emprego de mudas; e também por semeadura aérea (Ruggieri, 2011). Por regra, a densidade da semeadura encontra-se entre 10 kg/ha a 15 kg/ha, mas ela sofre influência da qualidade das sementes; ou pode-se semear na proporção de 2 kg de sementes puras viáveis por 1 hectare de terra (Martha Júnior et al., 2003). TEMA 4 – MANEJO DE PASTAGEM E FORMAÇÃO DE PIQUETES Já ficou claro que os métodos de pastejo interferem na produção vegetal e, consequentemente, na produtividade animal. Por isso, é fundamental que a intensidade da desfolha seja sistematicamente controlada, a fim de se proporcionar um bom consumo e desempenho animal sem prejudicar a forrageira. Cada forrageira apresenta características ideais de pastejo, com estatura ideal de entrada e saída dos animais, independentemente do sistema de lotação (Alves et al., [S.d.]; Ruggieri, 2011). A Tabela 1 lista algumas medidas para os diferentes tipos de manejo de forrageiras. Tabela 1 – Medidas de altura para pastejo em diferentes tipos de manejo de forrageiras Gramínea Alturas mínimas de pastejo (cm) Lotação contínua Lotação intermitente Entrada Saída Brachiaria brizantha 30 a 40 80 a 100 25 a 30 B. decumbens 20 a 25 30 a 40 15 a 20 B. humidicola 15 a 20 30 a 40 10 a 15 Cynodon dactylon spp. 15 a 20 25 a 30 10 a 15 Panicum maximum cv. Tobiatã/Mombaça 40 a 50 120 a 140 30 a 40 P. maximum cv. Tanzânia 40 a 50 80 a 120 30 a 40 P. maximum cv. Massal 25 a 30 50 a 70 20 a 25 13 Cada espécie forrageira também demanda um período médio de descanso, conforme Tabela 2. Tabela 2 – Período de descanso, em dias, para gramíneas forrageiras Espécie Período de descanso (dias) B. brizantha 28 a 42 B. decumbens 28 a 42 B. humidicola 20 a 30 C. dactylon spp. 25 a 35 P. maximum spp. 28 a 42 Em relação às leguminosas, vamos dar ênfase à alfafa, por ser a leguminosa mais difundida na criação animal e pelo fato de seu manejo ser fundamental no sucesso dessa criação. O primeiro corte não pode ser feito antes de 35 a 42 dias, no outono-inverno, e de 28 a 32 dias, na primavera-verão, porque a planta precisa ter condições de acumular reservas para a sua rebrota. Ressaltamos que a planta madura da alfafa apresenta altura entre 60 cm a 90 cm, e que o seu pastejo deve ocorrer com altura mínima de 8 cm a 10 cm do solo (Morrison, 1966). 14 Figura 5 – Ovinos pastejando em área de cultivo de alfafa Créditos: Gonzalo de Miceu/Shutterstock. Na hora de definir as dimensões dos pastos e o número de piquetes, devemos considerar todos os aspectos anteriormente mencionados, respeitando as características de cada forrageira, evitando assim o subpastejo, o superpastejo e a degradação da área (Martha Júnior et al., 2003). Quando o produtor opta por lotação contínua, ele deve saber que existe uma maior seletividade na coleta da forragem pelos animais e distribuição irregular de fezes e urina, na área. Por isso, a adequação da carga animal é importante, ainda mais diante da fatídica estacionalidade da produção de forragens (25% de crescimento no período seco versus 75%, no período das águas). Por isso, indica-se calcular uma taxa de lotação maior para o período chuvoso e uma menor para o seco. E, se a carga animal é fixa, deve-se utilizar como referência a capacidade de suporte do período seco. Se o produtor opta por lotações rotacionadas, deve estar claro que há um maior investimento em instalações. Contudo, esse sistema de manejo de pastagem proporciona melhores resultados, devido à melhor distribuição dos animais e das excretas, assim como a menor seletividade e período de descanso das plantas, permitindo sua plena recuperação (Martha Júnior et al., 2003). 15 Finalmente, definidos os dias de ocupação e de descanso das forrageiras, calcula-se o número de piquetes necessários por meio da fórmula (Martha Júnior et al., 2003): NP = (PD / PO) + 1 em que: NP é o número de piquetes, PD, o período de descanso; PO, o período de ocupação. TEMA 5 – RECUPERAÇÃO DA PASTAGEM Ficou claro, pelos últimos conceitos estudados, que a degradação da pastagem pode ocorrer devido a seu uso incorreto. Esse processo culmina com a diminuição da produtividade e da capacidade natural de recuperação necessária para garantir a produção de matéria vegetal que servirá como alimento ao animal. Além disso, pastagens degradadas tornam-se susceptíveis às agressões causadas pelas pragas e doenças (Oliveira; Corsi, 2005; Zonta et al., 2012). Entre os fatores que podem contribuir para a ocorrência desse processo, podemos ressaltar: • Características físicas e químicas do solo • Aspectos relacionados à espécie forrageira • Presença de pragas e doenças • Má formação da pastagem, pelo seu estabelecimento inadequado • Compactação e erosão do solo • Falta de correção e adubação do solo • Taxa de lotação inadequada • Capacidade de suporte subestimada • Aparecimento de espécies invasoras Para minimizar os impactos da degradaçãodas pastagens, algumas medidas podem ser tomadas para a sua recuperação. A degradação de uma pastagem pode ocorrer por naturezas diversas, por isso é difícil definir a causa primária de uma degradação. Normalmente, observa-se uma queda acentuada na produção de forragens, acompanhada da redução da capacidade de lotação e performance animal. Pode-se também notar a presença de pragas invasoras que competem com a forrageira. Recursos naturais também podem ser prejudicados, pois, com a degradação do solo, podem surgir alterações em sua 16 estrutura, resultando em compactação, diminuição das taxas de infiltração e da capacidade de retenção de água, inclusive com presença de erosão e assoreamento de nascentes, lagos e rios. Nesses casos, deve-se fazer o estudo da degradação para aplicar, conforme a necessidade levantada, a limpeza da área de pastagem e técnicas de conservação do solo, como estabelecimento estratégico de curvas de nível, tanto para descompactação do solo, como para controle da erosão (Oliveira; Corsi, 2005; Zonta et al., 2012). Figura 6 – Pastagem, em morro, apresentando severa degradação por erosões Créditos: Mhmatsu/Shutterstock. 17 Figura 7 – Pastagem apresentando degradação por erosões e compactação do solo Créditos: Kleyton Kamogawa/Shutterstock. NA PRÁTICA Você foi contratado(a) para fazer gestão e assessoria em uma propriedade de bovinocultura de corte. O seu primeiro passo será calcular a taxa de lotação da pastagem disponível, considerando que a MS de forragem pré- pastejo é de 1.900 kg/ha, a taxa de acúmulo de forragem, de 40 kg de MS/ha/dia, o período de ocupação é de 14 dias, o peso médio do lote, de 350 kg de PV, e a oferta de forragem, de 13 kg/MS/100 kg de PV (13%). Além disso, é necessário calcular o número de piquetes necessários para respeitar o período de ocupação de 14 dias e o período de descanso de P. maximum spp., de 42 dias. Faça os cálculos como se fosse apresentá-los na reunião de planejamento da fazenda. FINALIZANDO A denominação pastejo é pouco precisa e inadequada à finalidade de permanência dos animais em determinada área, por isso tecnicamente denominada lotação. Dessa forma, existem duas formas de lotação, a contínua 18 e a rotacionada (também denominada intermitente). A lotação contínua consiste basicamente em um método de pastejo em que os animais têm acesso irrestrito e ininterrupto à pastagem por longos períodos, muitas vezes indeterminados. A lotação rotacionada é um método de pastejo que restringe a área de acesso dos animais e determina o tempo de permanência, fazendo um rodízio entre piquetes. Para evitar um processo irreversível de degradação dos sistemas de pastagem, ou mesmo o destino evitável de recursos extras para a recuperação de uma área degradada, quer seja em lotação pelo método contínuo, quer pelo intermitente, é fundamental que sejam respeitados os limites de resistência e tolerância das forrageiras à ação animal, suas exigências em relação ao solo, umidade, clima etc. Cada espécie forrageira tem características de altura de pastejo, massa de forragem, desempenho e produção de forragem; e, respeitando-se tais características, deve-se tentar controlar fatores como o período de descanso da forrageira e a taxa de lotação, sempre que possível. Em situações de desfolhação frequente e excessiva, como ocorre em lotação contínua com alta taxa de lotação, a intercepção de luz (fotossíntese) é pequena e produz folhas menores e aumenta a densidade dos perfilhos. Em casos de lotação intermitente, ocorre uma competição maior pela luz durante a rebrotação e, por isso, mudanças na qualidade e quantidade de luz absorvida e na estrutura do dossel fazem com que os vegetais desenvolvam folhas mais longas e reduzam a sua taxa de perfilhamento. Estudamos ainda que a taxa de lotação pode ser calculada pela fórmula MSF x AP x 100 / DO x OF, assim como a capacidade de suporte (CS) (produção anual de forragem/ha/ano / consumo por unidade animal a cada ano). Para a produção de pastagem, estes três princípios que comentamos precisam ser respeitados: produzir grande quantidade de forragem, de valor nutritivo adequado, em consonância com as necessidades dos animais; garantir o consumo voluntário em níveis ideais; obter índices de conversão alimentar satisfatórios. Partindo do princípio de que produziremos pastagem do ponto inicial, para que alcancemos esses princípios, devem ser conhecidas as características das plantas forrageiras a serem utilizadas no sistema de criação. Resumidamente, o crescimento das plantas, a sua utilização e conversão são três fases distintas e importantes na produção animal a pasto. 19 O preparo do solo deve ter como objetivo deixá-lo uniforme, firme e com ausência de torrões. As técnicas utilizadas para isso consistem na aração e na gradagem. Já ficou claro que os métodos de pastejo interferem na produção vegetal e, consequentemente, na produtividade animal. Por isso, é fundamental que a intensidade da desfolha seja sistematicamente controlada para, assim, proporcionar um bom consumo e desempenho animal, sem se prejudicar a forrageira. Cada forrageira apresenta características ideais de pastejo, com estatura ideal de entrada e saída dos animais, independentemente do sistema de lotação. A degradação da pastagem pode ocorrer devido a seu uso incorreto, o que culmina com a diminuição da produtividade e da capacidade natural de recuperação necessária do solo para garantir a produção da matéria vegetal que servirá na alimentação animal. Para minimizar os impactos dessa degradação, algumas medidas devem ser tomadas para a recuperação das pastagens. 20 REFERÊNCIAS ALVES, S. J. et al. Espécies forrageiras recomendadas para a produção animal. São Paulo: Unesp, [S.d.]. 82 p. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022. CONGIO, G. F. S.; MESCHIATTI, M. A. P. Forragicultura. 1. ed. Porto Alegre: Sagah, 2019. COSTA, N. L. et al. Fisiologia e manejo de plantas forrageiras. Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2004. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022. MARTHA JÚNIOR, G. B. et al. Área do piquete e taxa de lotação no pastejo rotacionado. Comunicado Técnico [do] Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Planaltina, n. 101, dez. 2003. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022. MITTELMANN, A. Principais espécies forrageiras. In: PEGORARO, L. M. C. (Ed.). Noções sobre produção de leite. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2006. 153 p. MORRISON, F. B. Alimentos e alimentação dos animais. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1966. OLIVEIRA, P. P. A.; CORSI, M. Recuperação de pastagens degradadas para sistemas intensivos de produção de bovinos. Circular Técnica [da] Embrapa, São Carlos, n. 38, mar. 2005. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. RUGGIERI, A. C. Formação de pastagens. Jaboticabal: Unesp, 2011. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022. 21 ZONTA, J. H. et al. Práticas de conservação do solo e de água. Circular Técnica [da] Embrapa, Campina Grande, n. 133, set. 2012. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022.