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O direito canônico

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DIREITO CANÔNICO
Primeiramente vamos conceituar o que é Direito Canônico:
“Conjunto de normas jurídicas, de origem divina ou humana, reconhecidas ou promulgadas pela autoridade competente da Igreja Católica, que determina a organização e atuação da própria Igreja e de seus fiéis, em relação aos fins que lhe são próprios”. (Rafael Llano Cifuentes).
O Direito Canônico teve seu surgimento na Europa na Idade Média, início do século XI, quando a Igreja Católica se fortalecia como poder político, relacionando-se de forma privilegiada com a nobreza. Junto com o poder espiritual difundindo a maneira exigida de pensar e comportar, a Igreja conquistava poder econômico, pois passava a deter enormes extensões territoriais em forma de propriedades. Para sustentar este poder intocável, foi necessário estabelecer normas que garantissem a continuidade do estado das coisas. Estas normas convinham tanto à Igreja em seu proceder interno (nomeações), como serviam ao seu relacionamento com as demais classes sociais, defendendo o feudalismo e impondo a opressão aos camponeses e servos. 
O Direito Canônico é proveniente da lei da Igreja Católica e da Anglicana e regula a vida da comunidade eclesial, ou seja, os católicos espalhados pelo mundo. Todas as suas características estão regulamentadas no Código do Direito Canônico e a Igreja Católica mantém um Tribunal Eclesiástico que faz julgamentos baseados no mesmo.
No século XII o Direito Canônico começa a ser sistematizado, no formato de códigos, onde a Igreja desenvolvia um trabalho de recolhimento, certificação e elaboração intelectual de uma tradição (fonte canônica) que remonta a uma igreja juridicizada.
Fonte Canônica é a origem das normas jurídicas eclesiásticas. O estudo das fontes pode versar sobre sua razão de existir, chamadas de fontes de ser, constitutivas ou materiais. Pode-se dizer que a história das fontes se identifica com a história das coleções canônicas, cujo conhecimento se obtém através da pesquisa, qualificação, procedência, valor, etc.
O Direito Canônico retira suas regras dos preceitos divinos revelados nos livros sagrados (Antigo e Novo Testamento) e diversas fontes relacionadas à Igreja, mas espalhadas em várias partes do mundo, como, por exemplo, da Igreja nascente (século I e II), as leis conciliares, provenientes de concílios diversos ocorridos entre os anos 300 e 660; os decretais (cartas e decretos) de pontífices romanos; coleções orientais, como a Syntagma; Cartaginese IV e XVII como fonte africana; a Epítome hispânica e a Novariense, coleções da Ibéria; entre as coleções insulares (Irlanda e Inglaterra) estão os Livros Penitenciais Célticos da Igreja Irlandesa, Penitencias de Cumeano, Penitenciais de Teodoro de Cantuária e Coleção Irlandesa; coleções da Gália, etc. Porém, foi na Itália que houve a maior compilação da legislação eclesiástica ocidental. A mais famosa foi a Dionisiana, que reúne num só volume documentação jurídica de séculos anteriores à sua época (século V).
A catalogação de leis próprias e internas (chamadas cânones, que, em sua origem grega, significam "ordens") é costume datado da época primitiva da Igreja. Prova da existência de um Direito Canônico (fonte) é a advertência do Papa Celestino I aos Bispos da Apúlia e da Calábria, em 21 de julho de 429, na qual consta a lembrança do Romano Pontífice de que não é lícito aos sacerdotes ignorar os cânones.
Em seu auge, o Direito Canônico era um sistema jurídico completo, versando sobre todos os aspectos da vida do ser humano, do nascimento, passando por todas as atividades em vida e até sua morte. A unidade e a uniformidade do Direito Canônico foram proclamadas pelo papa Gregório VII.
A Igreja não se identificou com qualquer Estado, porque pretendia se ocupar apenas das almas, mas reconhece a existência de um direito laico, daí a distinção entre ius canonici e ius civile. O Direito Canônico permanece em vigor e continua a reger as relações entre membros da comunidade cristã. A hierarquia e organização do clero ainda são regidas por ele.
O atual Código de Direito Canônico vigente para a Igreja Católica foi promulgado em 25 de janeiro de 1983, pelo Papa João Paulo II, entrando em vigor no dia 27 de novembro do mesmo ano.
 
O atual código está disposto em 1.752 cânones, divididos em 7 livros: Das Normas Gerais; Do Povo de Deus; Do Múnus de Santificar da Igreja; Do Múnus de Ensinar da Igreja; Dos Bens Temporais da Igreja; Das Sanções na Igreja e Dos Processos. Por sua vez, os livros dividem-se em partes, estas em seções, que se subdividem em títulos, capítulos e artigos. A norma celular básica – o nosso artigo, no Direito Estatal – é o cânon, que pode ter prescrições em parágrafos e incisos.
Ele manteve-se, durante toda a Idade Média, como o único direito escrito e universal. A jurisprudência romana subsistiu-se de certa forma através do direito eclesiástico, uma vez que a igreja desenvolveu-se à sombra do Império Romano, não podendo furtar-se a sua influência. 
De forma geral, o Direito Canônico é semelhante ao modelo legislativo e judicial vigente no Ocidente, porém não é idêntico. As regras que são definidas pela Igreja Católica e pela Igreja Anglicana, inclusive, são frutos de um Concílio Ecumênico, ou seja, trata-se de um direito tecido completamente no âmbito da religião. 
Nele distinguem-se três grupos: 1º) Ao que se atribui diretamente a Deus e, portanto, são propostos somente pela Igreja. Trata-se de prescrições de direito natural (descobertas na natureza humana), ou de direito divino positivo (formuladas verbalmente na Bíblia; por exemplo, os dez mandamentos). 2º) Elaborado pelos dirigentes das Igrejas, considerando-se que são dotados de um poder legislativo para implementar as Constituições Apostólicas. 3º Proveniente de ordenamentos jurídicos estatais que são aprovados pela Igreja (exemplo: adoção, contratos).
Sua sistematização merece destaque, pois inicialmente pensado para o meio eclesiástico, trouxe grandes influências para o chamado direito laico. 
Muitos dos institutos existentes no direito ocidental moderno foram inspirados ou copiados do Direito Canônico, pela funcionalidade que este revela para com os fins a que foi criado. A Igreja intitula-se como soberana dentro do seu campo de atuação, assim como o Estado, o que gera uma apreensão de ambos em cultivar um ordenamento jurídico eficaz aos seus intentos e às necessidades nascidas das relações sociais manifestadas entre seus seguidores ou governados. O direito estatal e o eclesiástico colaboram-se mutuamente, devido às manifestações sociais reveladas no Estado também serem de interesse religioso e vice versa, como exemplo, o casamento e a instituição da família.
No direito eclesial as normas também são emanadas de uma autoridade competente e direcionadas a um povo: os católicos. Além disso, esse Direito mobiliza advogados, juízes eclesiásticos, notários e centenas de pessoas que recorrem à justiça eclesiástica no afã de solucionar problemas de ordem jurídico-moral.
O Código Canônico constitui-se em direito objetivo. Apesar de não ser possuidor de eficazes mecanismos sancionadores como o estatal, ele também prevê punições em caso do descumprimento de seus cânones. A mais pesada sanção imposta pela Igreja é a excomunhão. 
A clássica divisão entre direito público e direito privado tem seu berço no direito romano. Esta divisão, também está presente no direito canônico: o direito administrativo canônico e o direito processual canônico são ramos do direito público eclesial, e o direito privado canônico é “o sistema de leis mediante as quais se determinam os direitos e deveres dos membros da Igreja, para com o seu governo e santificação”.
É notória a influência dos institutos do Processo Civil Canônico sobre a legislação processual civil laica. Por exemplo, o procedimento sumário foi recepcionado pelas legislações laicas, sendo que uma de suas características decisivas, a oralidade, é conservada até os dias atuais no rito sumário de nossa legislação civil.Outros significativos legados que o Direito Canônico concedeu ao direito ocidental moderno são: a teoria da pessoa jurídica, que sempre se discerniu como uma universalidade e preocupou-se em enfrentar problemas relacionados ao patrimônio comum, representação e responsabilidade; princípios, como autonomia da associação (direito de corporação); direito de a corporação jurisdicionar sobre seus componentes; direitos de os membros da corporação serem ouvidos sobre pena de nulidade de alguns atos; ideia de patrimônio comum entre os membros da corporação, ideia de delito coletivo, se este fosse cometido pela maioria dos membros da corporação. 
Em relação à formação da cultura jurídica, pode-se afirmar que a primeira classe de juristas profissionais surgiu com os canonistas. Eles foram os responsáveis por formalizar e racionalizar o direito, já que foi a Igreja que inventou o direito como disciplina oficial dentro das universidades, principiado em face do Direito Canônico.
O negócio jurídico também teve como fonte de sua teoria o Direito Canônico, iniciando-se esta quando os canonistas encetaram estudos pormenorizados sobre a variedade de casos do direito matrimonial. 
Também o direito público teve seus primeiros contornos geridos pelo Direito Canônico. Toda a problemática envolvendo o comportamento estatal em face de particular foi, inicialmente, de maneira análoga, manifestada no início do Direito Canônico, quando este delegava seus atos administrativos e já definia os motivos que poderiam gerar nulidade ou revogabilidade destes.
É enorme a influência do Direito Canônico no desenvolvimento do direito. Apesar de no Direito Romano existir o processo, com a decadência daquele passou a ocorrer um total descrédito da população à organização propiciada pelo Estado, beneficiando à ascensão do Direito Canônico, que passou a exercer grandiosa implicação nas relações sociais vigentes. 
Documentos promulgados pelo poder eclesiástico na Idade Média, como o Decreto de Graciniano, trouxeram uma enorme contribuição para uniformização do estudo jurídico e os posteriores Decretais, que foi o ajuntamento das leis eclesiásticas e sucederam o supramencionado Decreto. 
O Papa Gregório VII, planejando afirmar a independência da Igreja ante as instituições estatais, antecipou todo “o desenvolvimento racional e formal do processo: petição inicial, contestação, citação, oitiva de testemunhas de acusação, oitiva de testemunhas de defesa, alegações finais e sentença”. Posteriormente, reis e príncipes europeus copiaram estas instituições.
Percebe-se, portanto, a abundância de conceitos e características herdadas pelo direito processual moderno: trata-se de processos conduzidos por profissionais do direito; reconhece um sistema de recursos; adquiriu uma natureza inquisitorial mais do que adversarial; impôs a escrita sobre a oralidade. Até o surgimento do processo canônico, as contendas eram compostas mediante a aplicação dos juízos de Deus ou ordálias (prova judiciária). O Direito Canônico suavizou as penas atrozes, funcionando também como um fator persuasivo na consciência das autoridades seculares.
Conforme Sampel, “se fôssemos discorrer a respeito de todas as notáveis influências que o direito processual civil moderno sofreu do Direito Canônico, teríamos de dedicar uma tese unicamente para este objetivo”.
Até mesmo no aparecimento de figuras jurídicas o Direito Canônico influenciou. No processo escrito surgiu a figura do notário. O direito atual adotou similar personagem, representado pelos chamados escreventes (no Brasil), dotados de fé pública, responsáveis por reduzir a termo informações importantes dentro do processo e dando celeridade a muitos feitos processuais, como as audiências de testemunhas.
Outro profissional presente no direito moderno, de imprescindível importância, que foi criado pelo Direito Canônico, é o próprio advogado. 
Existem também matérias definidas como mistas, que se referem ao mesmo tempo a um fim espiritual e a um fim temporal e que, portanto, caem sob o domínio direto da Igreja e do Estado. Daí que nesse setor jurisdicional comum venha a ser necessário um acordo que delimite claramente as competências. Entre estas matérias, temos: o matrimônio, ensino religioso e secular, reconhecimento de filhos ilegítimos, questões relativas ao direito à vida (aborto, eutanásia etc.), união de fato, assistência religiosa nas instituições totais (caserna, hospitais, internatos etc.).
Conhecer e estudar o Direito Canônico é importante por diversos fatores: jurídico-histórico, demonstração da evolução do Direito em seu aparecimento e desenvolvimento, mudanças e variações; jurídico-prático, interpretação para uma compreensão melhor de sua aplicação; histórico-eclesiástico, explicação de certos acontecimentos da história da Igreja, dada a conexão entre o Direito e os costumes; teológico-histórico, alegações de textos teológicos onde se verificam reciprocidades entre o jurídico e teológico; Apologético, avaliando-se o antigo Direito, mais facilmente se defende a Igreja no campo jurídico.
Conclusão
O Direito encontra-se onde existe vida em sociedade. Sendo a Igreja uma organização onde as relações sociais entre seus seguidores são manifestadas intensamente de várias maneiras, foi necessário o surgimento de um ordenamento jurídico específico para atender aos anseios humanos e divinos, nos moldes essenciais da própria criação daquela instituição.
Observa-se que várias são as heranças fornecidas pelo Direito Canônico ao direito ocidental moderno. Desde a Idade Média, a Igreja vem criando institutos jurídicos e cuidando de manifestações sociais e comunitárias de seu interesse, expressando excelência em organização, formalidade e funcionamento. Por isso, o Estado insere institutos análogos ou totalmente iguais aos que funcionam no ordenamento jurídico eclesiástico.
Se a Igreja é capaz, através de seu ordenamento jurídico, agregar milhões de fieis seguidores e suas leis estabelece uma funcional ordem normativa, é natural o Estado aplicar, paralelamente, aos seus cidadãos, os mesmos mecanismos, pois os fieis da igreja são os mesmos que vivem sob o amparo estatal. 
Bibliografia
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