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DIREITO CANONICO

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DIREITO CANÔNICO I
CURSOS DE GRADUAÇÃO– EAD
Direito Canônico I – Prof. Dr. Valdinei de Jesus Ribeiro
Olá! Meu nome é Valdinei de Jesus Ribeiro. Nasci em Santos – SP, 
mas, atualmente, resido em Curitiba – PR. Sou graduado em 
Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (1986), 
graduado em Teologia pelo Centro Universitário Salesiano de São 
Paulo, campus Pio XI (1991), especialista em Counseling 
(aconselhamento) pelas Faculdades Bagozzi de Curitiba – PR 
(2004), mestre e doutor em Utroque Iure (Direito Canônico e 
Direito Civil) pela Pontifícia Universidade Lateranense (Cidade do 
Vaticano – 1996-2000).
Atualmente, leciono na Ação Educacional Claretiana (Studium 
Theologicum) em Curitiba – PR, no Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae em 
Ponta Grossa – PR, na Faculdade Vicentina (FAVI) em Curitiba – PR, na Escola Diaconal da 
Arquidiocese de Curitiba – PR e no curso de mestrado em Direito Canônico realizado na 
cidade de Londrina – PR (vinculado ao Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico 
do Rio de Janeiro). Atuo, também, no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Iª e IIª 
Instância de Curitiba – PR. Em minhas atividades acadêmicas, praticamente me ocupo de 
quase todas as disciplinas relacionadas com o direito canônico.
e-mail: vjribeiro@brturbo.com.br
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
DIREITO CANÔNICO I
Valdinei de Jesus Ribeiro
Batatais
Claretiano
2014
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014
 
 343 R372d 
 
 Ribeiro, Valdinei de Jesus 
 Direito canônico I / Valdinei de Jesus Ribeiro – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 
 362 p. 
 
 ISBN: 978-85-8377-223-1 
 
 1. Direito Canônico. 2. Justiça. 3. Condição humana. 4. Teologia. 5. Obrigações 
 e direitos. 6. Órgãos do governo. 7. Organização da Igreja. 8. Vida sagrada. 
 9. Formação catequética. I. Direito canônico I. 
 
 
 
 
 
 CDD 343 
 
 
 
 
 
 
 
 CDD 658.151 
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação 
Aline de Fátima Guedes
Camila Maria Nardi Matos 
Carolina de Andrade Baviera
Cátia Aparecida Ribeiro
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Martins
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza
Patrícia Alves Veronez Montera
Raquel Baptista Meneses Frata
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Simone Rodrigues de Oliveira
Bibliotecária 
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão
Cecília Beatriz Alves Teixeira
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rafael Antonio Morotti
Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa 
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai 
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi 
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer 
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na 
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do 
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Claretiano - Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 10
UnidAdE 1 – DIREITO CANÔNICO: QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 65
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 65
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 66
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 67
5 A EXPRESSÃO "DIREITO CANÔNICO" E A QUESTÃO TERMINOLÓGICA........ 68
6 DIREITO E A CONDIÇÃO HUMANA .................................................................. 72
7 DIREITO E JUSTIÇA ........................................................................................... 75
8 DIREITO E IGREJA ............................................................................................. 81
9 DIREITO CANÔNICO E TEOLOGIA .................................................................... 83
10 HISTÓRIA DAS FONTES DO DIREITO CANÔNICO ........................................... 89
11 CODIFICAÇÃO DO ATUAL DIREITO ECLESIAL.................................................. 94
12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 102
13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 103
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 103
UnidAdE 2 – O POVO DE DEUS I
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 105
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 105
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 106
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 107
5 O LIVRO II DO CIC E ALGUNS ASPECTOS DE ORDEM ECLESIOLÓGICA ......... 108
6 A IGREJA COMO POVO DE DEUS E OS PRINCÍPIOS QUE REGEM SUA 
ORGANIZAÇÃO ................................................................................................. 116
7 A FIGURA DO FIEL E OS DIVERSOS ESTADOS DE VIDA NA IGREJA ............... 118
8 OBRiGAÇÕES E diREiTOS FUndAMEnTAiS dOS FiÉiS (CÂnn. 208-223) ...... 122
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 145
10 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 145
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 146
UnidAdE 3 – O POVO DE DEUS II
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 147
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 147
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 147
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 149
5 OBRiGAÇÕES E diREiTOS dOS FiÉiS LEiGOS (CÂnn. 224-231) ..................... 150
6 OBRiGAÇÕES E diREiTOS dOS FiÉiS CLÉRiGOS (CÂnn. 273-289) ................. 164
7 AS ASSOCIAÇÕES DE FIÉIS .............................................................................. 179
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................196
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 197
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 197
UnidAdE 4 – O GOVERnO dA iGREJA EM ÂMBiTO UniVERSAL
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 199
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 199
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 199
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 201
5 PREMISSAS ........................................................................................................ 201
6 A SACRA POTESTAS (POdER SAGRAdO, POTESTAdE SAGRAdA) .................. 203
7 O PRIMADO DO ROMANO PONTÍFICE E A COLEGIALIDADE EPISCOPAL ..... 207
8 ÓRGÃOS DE GOVERNO DA IGREJA UNIVERSAL ............................................. 209
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 229
10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 229
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 229
UnidAdE 5 – O GOVERnO dA iGREJA EM ÂMBiTO PARTiCULAR
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 231
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 231
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 232
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 233
5 A IGREJA PARTICULAR ...................................................................................... 233
6 OS BiSPOS EM GERAL (CÂnn. 375-380) .......................................................... 243
7 OS BISPOS DIOCESANOS, COADJUTORES E AUXILIARES .............................. 250
8 A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS IGREJAS PARTICULARES ............................ 264
9 A PARÓQUIA ..................................................................................................... 271
10 PÁROCO, O ADMINISTRADOR PAROQUIAL E O VIGÁRIO PAROQUIAL ........ 274
11 OS CONSELHOS PAROQUIAIS .......................................................................... 277
12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 278
13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 278
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 279
UnidAdE 6 – A VIDA CONSAGRADA NA IGREJA
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 281
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 281
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 281
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 283
5 A VIDA CONSAGRADA ...................................................................................... 284
6 ECLESIALIDADE DA VIDA CONSAGRADA ........................................................ 286
7 A NORMATIVA COMUM A TODOS OS IVC ...................................................... 288
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 306
9 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 306
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 307
UnidAdE 7 – A FUNÇÃO DE ENSINAR DA IGREJA
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 309
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 309
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 310
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 311
5 QUESTÕES PRELIMINARES .............................................................................. 312
6 PRinCÍPiOS FUndAMEnTAiS (CÂnn. 747-755) .............................................. 315
7 O MiniSTÉRiO dA PALAVRA EM GERAL (CÂnn. 756-761) ............................. 326
8 A PREGAÇÃO dA PALAVRA dE dEUS (CÂnn. 762-772) ................................. 329
9 A FORMAÇÃO CATEQUÉTiCA (CÂnn. 773-780) .............................................. 336
10 A AÇÃO MiSSiOnÁRiA dA iGREJA (CÂnn. 781-792) ...................................... 340
11 A EdUCAÇÃO CATÓLiCA (CÂnn. 793-821) ...................................................... 347
12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 360
13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 360
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 361
Claretiano - Centro Universitário
EA
D
CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Compreensão dos fundamentos e da importância do direito na realidade humana 
e, sobretudo, eclesial. Estudo dos diversos aspectos e conteúdos da organização 
jurídica da Igreja. Aprofundamento da estrutura orgânica da Igreja, tendo como 
referência principal a visão eclesiológica do Concílio Vaticano II.
Livros II e III do CIC: do Povo de Deus: dos fiéis, da constituição hierárquica da 
Igreja, da suprema autoridade da Igreja, das Igrejas particulares e das entidades 
que as congregam, dos institutos de vida consagrada e sociedades de vida apos-
tólica. Do múnus de ensinar da Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo! A partir deste momento, você iniciará o es-
tudo de Direito Canônico I, que compõem os Cursos de Graduação 
oferecido na modalidade EaD do Claretiano.
Neste curso, você terá a oportunidade de conhecer, um pou-
co mais de perto, o direito na e da Igreja. Você se encontrará pe-
rante uma realidade muito ampla e complexa e, portanto, não será 
© Direito Canônico I10
possível tratar de tudo aqui. Sendo assim, achamos por bem prio-
rizar uma série de temas de particular interesse e relevância que, 
porém, serão apresentados em uma espécie de visão panorâmica. 
Dessa forma, você irá se deparar com muitas informações que, de 
alguma forma, estão conexas com o dia a dia da vida eclesial. Caso 
deseje ir além, não faltarão indicações bibliográficas e outras refe-
rências para lhe auxiliar em sua busca de conhecimento e de apro-
fundamento dos temas propostos e, também, de outros.
O conteúdo programático está dividido em sete unidades, 
que serão mais bem detalhadas em nosso Caderno deReferência 
de Conteúdo.
Desejamos que se sinta motivado e desafiado para esse iti-
nerário que agora iniciamos. 
Boa sorte!
2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO
Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais 
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de 
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. No entan-
to, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico 
necessário a partir do qual você possa construir um referencial te-
órico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro 
exercício de sua profissão, você a exerça com competência cogniti-
va, ética e responsabilidade social. 
Talvez você esteja em dúvida sobre a presença deste Cader-no de Referência de Conteúdo no curso pelo qual optou, pois, afi-
nal de contas, se propôs a estudar teologia e não direito, não é 
verdade? Muitas vezes nos deparamos com alguma situação na 
qual o direito canônico se fez presente. Por exemplo: em uma ou 
outra ocasião lhe foi dito que era preciso observar esta ou aque-
Claretiano - Centro Universitário
11© Caderno de Referência de Conteúdo
la norma para realizar um determinado sacramento (o batismo, 
a Eucaristia, a confirmação e assim por diante), ou, então, para 
organizar o funcionamento desta ou daquela atividade pastoral 
em uma determinada comunidade, não é? Pois bem. Saiba que 
na humanidade, como também na Igreja, existe uma experiência 
jurídica tão antiga quanto ambas. Por isso, é importante se interar 
um pouco sobre ela, procurando esclarecer o seu fundamento e 
significado, contribuindo, assim, para aprimorá-la, pois o direito é 
uma realidade dinâmica. 
Outro aspecto a considerar é que no estudo do direito ca-
nônico você logo perceberá que o ordenamento jurídico da Igre-
ja possui profundas raízes teológicas e, portanto, da teologia ele 
depende, razão pela qual este caderno se encontra presente na 
grade curricular de um curso de teologia.
Feitas essas considerações preliminares vamos, aos princi-
pais tópicos que serão desenvolvidos nesta abordagem geral. Des-
ta forma você já saberá, de antemão, o itinerário que iremos per-
correr, ou seja, noção; terminologia; direito e Igreja; as fontes do 
direito canônico; temas relevantes.
Noção
As pessoas em geral não fazem a menor ideia do que vem a 
ser o direito canônico e, talvez, poucos tenham uma vaga imagem 
sobre o assunto. Por isso, como ponto de partida, vamos esclare-
cer o significado da expressão "direito canônico".
Esta expressão tem a ver com a experiência jurídica na Igreja 
católica. Trata-se, portanto, de um direito que vincula uma grande 
comunidade humana, pois a Igreja católica é formada por pesso-
as de diversos povos e nações e de diversas tradições e culturas. 
Tais pessoas se encontram espalhadas pelo mundo inteiro, viven-
do em diferentes comunidades políticas, conhecidas pelo nome de 
Estado, e muitas de suas relações são regidas tanto pelas leis civis 
quanto eclesiais.
© Direito Canônico I12
Quando, portanto, falamos em "direito canônico" a primeira 
associação que normalmente se faz, e que é a mais usual, seria a 
seguinte: trata-se de um complexo de normas, propostas, elabora-
das ou aprovadas pela competente autoridade eclesiástica, tendo 
por fim assegurar uma ordenada convivência entre os fiéis e dirigir 
suas atividades em direção às finalidades da Igreja. Tais normas, 
obviamente, regulam a vida dos católicos, como ocorre, por exem-
plo, para o batismo de um filho, para se casar na Igreja, para se 
organizar as diversas atividades eclesiais em âmbito paroquial e 
diocesano, para se estruturar as diversas associações de fiéis, etc.
Não obstante esta primeira associação que normalmente 
se faz, é preciso ter presente que, também, existem normas que 
regem a relação da Igreja católica (representada pelo Papa) com 
outras sociedades, particularmente com os Estados e com a comu-
nidade internacional. Assim, o direito da Igreja católica acaba por 
ter uma dupla dimensão: uma interna (que regula a vida da Igreja 
católica em seu interior) e outra externa (que regula a relação da 
Igreja católica com os Estados e a comunidade internacional). 
Além desta compreensão do direito canônico em sua dupla 
dimensão (interna – ad intra e externa – ad extra) podemos, tam-
bém, a ele nos referir em uma perspectiva bem mais profunda. Va-
mos tentar, aqui, explicitá-la de modo que possa ampliar sua visão.
A Igreja, enquanto Corpo de Cristo, encarna-se em um corpo 
social no qual existem carismas, funções e ministérios e, por meio 
dos quais, se estabelecem entre as pessoas relações que, também, 
são jurídicas, pois elas geram direitos e obrigações. Portanto, antes 
mesmo de falarmos de um complexo de normas, sejam elas inter-
nas ou externas, é preciso perceber que existe uma estrutura que 
precede a atividade jurídica. Os elementos essenciais desta estru-
tura (Igreja em sua dimensão institucional) derivam da Revelação 
e nela o elemento jurídico também se faz presente. Assim, esta 
realidade jurídica fundamental e constitutiva, anterior à norma ju-
Claretiano - Centro Universitário
13© Caderno de Referência de Conteúdo
rídica concreta, é o direito canônico em uma perspectiva mais es-
sencial (seria o direito na Igreja e não somente o direito da Igreja).
Inicialmente pode parecer um tanto difícil compreender 
isso, mas lembre-se, por ora, que antes mesmo da Igreja criar nor-
mas para reger a própria vida e suas relações com os Estados (o 
direito da Igreja), ela possui uma estrutura fundamental, derivada 
da Revelação, que é anterior a toda e qualquer norma por ela pro-
duzida e na qual já está presente uma dimensão jurídica (o direito 
na Igreja). Aqui teríamos, portanto, o direito na Igreja e, não, so-
mente, o direito da Igreja. A existência de uma dimensão jurídica 
na estrutura essencial da Igreja é um tema de particular interesse 
para os estudiosos de uma disciplina chamada "teologia do direi-
to". Cabe a eles explicitar teologicamente as razões da presença de 
uma experiência jurídica na vida da Igreja.
É preciso esclarecer, ainda, antes de concluirmos este pri-
meiro tópico, mais duas coisas, desta vez bem mais simples. 
Por "direito canônico" entendemos, também, a ciência que 
estuda a Igreja em sua dimensão jurídica (o direito na Igreja) e a 
experiência jurídica que nela se produz (o direito da Igreja). Em 
outras palavras, trata-se aqui de uma ciência que indaga sobre o 
direito na Igreja e sobre as normas que regem a vida da comunida-
de eclesial, como, também, sobre as formas e funcionamento da 
organização eclesiástica.
Por fim, por "direito canônico" se compreende, ainda, a dis-
ciplina objeto de estudo e ensino nas instituições formativas da 
Igreja (universidades, faculdades, seminários, etc.), como é o caso 
deste curso que possui em sua grade uma disciplina chamada "di-
reito canônico".
Qual desses cinco significados é, enfim, o mais utilizado 
quando usamos a expressão "direito canônico"? Sem dúvida o pri-
meiro: um complexo de normas que regem a vida dos fiéis. Por 
isso, neste Caderno de Referência de Conteúdo, você terá a opor-
© Direito Canônico I14
tunidade de entrar em contato direto com a normativa da Igreja 
relativa a uma série de temas importantes e que, acreditamos, irá 
surpreendê-los positivamente. 
Uma vez que clarificado o significado da expressão "direito 
canônico", vamos, agora, dar um segundo passo. Você poderá se 
perguntar sobre o sentido etimológico destas duas palavras: "di-
reito" e "canônico". Portanto, é o momento de esclarecer.
Terminologia
Em relação à terminologia esclareceremos o significado das 
duas palavras que compõem a expressão "direito canônico". Co-
meçamos com a primeira: "direito".
Aquilo que em português é denominado direito em outras 
línguas latinas corresponde a droit (francês), derecho (espanhol), 
diritto (italiano). 
Este termo traz a sua origem da palavra latina directum. To-
davia, saiba que o nome mais antigo dado ao direito é o termo la-
tino ius e não directum. Os romanos o utilizavam com uma variada 
gama de significados. 
Em seu significado originário e mais profundo o termo ius 
possuía uma conotação ética, pois se referia àquilo que é justo. 
Tratava-se, portanto, da ordem justa, da justa divisão das coisas 
do mundo, feita a partir de princípios de justiça distributiva e co-
mutativa. Assim, em sua origem, o termo ius não se identificava 
simplesmente com lei, regra ou norma, pois a lei era apenas um 
instrumento para atuar a justiça.
Aliás, é bom que você saiba que hoje o termo "lei", muito 
difuso e utilizado, sobretudo, pelos profissionais do direito, não ti-
nha no latim dos romanos o significado que atualmente lhe é atri-
buído. Para os antigoso termo "lei" indicava não apenas um ato 
normativo colocado por quem legisla, mas, também, as diversas 
regras de conduta que guiavam a vida das pessoas.
Claretiano - Centro Universitário
15© Caderno de Referência de Conteúdo
No latim medieval o termo directum (di-rectus) indicava o 
jurídico já entendido como um comportamento ou ação reta por-
que realizava em conformidade com um comando dado por quem 
tinha autoridade (o imperador ou rei). Portanto, temos aqui uma 
mudança importante.
No uso corrente e atual com a palavra direito se quer indicar 
o complexo de normas que coordena as atividades das pessoas 
de modo a garantir a ordem estabelecida e a certeza nas relações 
sociais. Para alguns tais normas seriam jurídicas apenas e tão so-
mente porque são dotadas de uma autoridade derivada de um ato 
normativo. Este elemento (a autoridade do legislador) distinguiria 
as normas jurídicas daquelas morais. 
Como dissemos anteriormente, a palavra "direito" não pos-
sui um significado unívoco. Se isso ocorre com a palavra, imagine, 
então, a abrangência da reflexão a respeito do que vem a ser o 
direito em sua essência e não apenas de como ele se apresenta 
(normas). Essa é uma discussão que cabe à filosofia do direito, mas 
algo sobre isso será visto ao longo do curso.
Esclarecido o significado da palavra direito, passamos, agora, 
para o termo "canônico". Esta palavra, aplicada ao direito da Igreja, 
provém do grego kánon, e significa: regra, como, também, régua de 
carpinteiro, guia, catálogo, norma, critério para se medir, norma de fé.
 No início do cristianismo os kánones indicavam as regras que 
disciplinavam a vida eclesial em seus vários âmbitos, em oposição 
aos nómoi que correspondiam às leis que disciplinavam a vida civil 
dos povos organizados politicamente.
Do concílio de Nicéia (325 d.C.) em diante os concílios da 
Igreja passaram a formular os seus cânones, entendendo com isso 
indicar as normas prescritivas (jurídicas) emanadas pela autori-
dade eclesiástica competente para regular a vida da comunidade 
cristã, distinguindo-as, portanto, dos cânones da fé (princípios 
dogmáticos) e dos costumes (princípios da moral).
© Direito Canônico I16
Foi somente a partir do século 8º que a expressão "direito 
canônico" passou a ser utilizada para se referir especificamente ao 
direito da Igreja. Mesmo assim, na história da Igreja, o seu direito 
recebeu outros nomes como, por exemplo, ius sacrum, ius decre-
talium, ius pontificium e ius eclesiasticum.
Embora a expressão "direito canônico", cujo significado já 
explicitamos, seja a mais usual, após o Concílio Vaticano II (1962-
1965) adquiriu grande força a expressão "direito eclesial", pois 
exprime a íntima conexão entre o elemento jurídico e o horizon-
te eclesial no qual o jurídico encontra a sua adequada colocação. 
Hoje é possível falar indistintamente de direito canônico ou de di-
reito eclesial para se referir ao direito da Igreja, pois na prática 
essas expressões se equivalem.
Dessa maneira, a expressão "direito eclesiástico" adquiriu na 
linguagem jurídica atual um significado diferente da expressão "direi-
to canônico". Por "direito eclesiástico" passou-se a entender aquelas 
normas colocadas pelo legislador estatal para disciplinar o fenômeno 
religioso e, particularmente, as confissões religiosas. Assim, a expres-
são "direito eclesiástico" atualmente significa uma parte do direito 
estatal que se ocupa de tais normas, como, também, a ciência que as 
coloca como objeto de estudo. Portanto, não convém utilizá-la para se 
referir ao direito da Igreja. Quando for se referir ao direito da Igreja, 
utilize a expressão "direito canônico" ou, então, "direito eclesial".
Após termos nos ocupado da noção e da terminologia, con-
vidamos você para mais um passo adiante. Neste terceiro tópico 
veremos a relação que há entre direito e Igreja.
Direito e Igreja
Este tópico toca em uma questão muito antiga e atual: por 
qual motivo o direito se faz presente na Igreja? Porque a Igreja 
possui um direito?
Não resta dúvida que o fenômeno jurídico por ser uma reali-
dade humana e, portanto, universal também se faz presente na Igre-
Claretiano - Centro Universitário
17© Caderno de Referência de Conteúdo
ja. Contudo, não podemos deixar de nos interrogar sobre a presença 
do direito na Igreja. Tal pergunta é pertinente porque alguns, ainda 
hoje, são da opinião de que a Igreja, enquanto realidade espiritual, 
sacramental e carismática, transcende a dimensão espaço-temporal 
e possui finalidades essencialmente voltadas para a salvação das 
pessoas. Sua preocupação teria, então, como foco apenas e tão so-
mente a consciência dos indivíduos. Se assim o fosse, não faria mui-
to sentido afirmar que a Igreja precisa do direito, pois este se ocupa 
da secularidade, da sociabilidade, das relações externas, do homem 
que vive na história. O que dizer disso, então?
Ao longo dos séculos muitos movimentos e correntes de 
pensamento no interior da Igreja colocaram em "xeque" o seu ca-
ráter jurídico e, portanto, o direito canônico. Basta lembrar o gnos-
ticismo dos primeiros séculos, os movimentos espirituais da Idade 
Média, a reforma protestante e os fenômenos de contestação nos 
anos sucessivos ao Concílio Vaticano II. No fundo, os que são con-
trários a um direito na Igreja têm em comum o fato de compreen-
dê-la como uma realidade apenas carismática e espiritual na qual 
a única lei possível seria o Evangelho.
A oposição entre direito e Igreja baseia-se em uma visão re-
ducionista da própria Igreja. A Tradição e o Magistério sempre in-
sistiram na ideia de que a Igreja é, ao mesmo tempo, uma realida-
de visível e invisível, espiritual e social, carismática e institucional, 
sacramental e jurídica. 
Não resta a menor dúvida de que a Igreja entendida enquan-
to comunidade daqueles que já partiram deste mundo e que, por-
tanto, se encontram fora do tempo e da história, não precisa de 
um direito e nem vive juridicamente. De fato, a Igreja dos santos, 
dos mártires e de todos os que morreram e se encontram na gra-
ça de Deus não precisa de direito algum. Todavia, a Igreja que se 
encontra neste mundo, no espaço e no tempo, entendida como 
comunidade de pessoas de "carne e osso" que na história procura 
viver o Evangelho, esta sim, vive juridicamente e do direito precisa.
© Direito Canônico I18
Temos que reconhecer que embora o direito canônico tenha 
como fim último a salvação das pessoas é evidente que não pode 
por si só assegurá-la e nem possui tal pretensão. Contudo, também 
é verdade que ordenando, segundo a justiça, a vida da comunidade 
eclesial e as relações que são estabelecidas em seu interior, favorece 
a realização dos fins da Igreja, dentre os quais a salvação das pessoas.
Todavia, é preciso reconhecer que a dimensão humana e 
histórica da Igreja não esgota a sua realidade que é muito mais 
articulada e complexa. Se fôssemos usar uma imagem, a dimensão 
humana e histórica da Igreja seria como a ponta de um iceberg, 
pois representa uma pequena parte (visível) de algo muito maior 
(invisível). Mas não há como deixar de reconhecer que esta dimen-
são visível não é de tudo diferente das outras formas de agregação 
humana na qual o direito se faz presente.
É certo que a Igreja organizada como povo de Deus se apre-
senta no contexto dos grupos sociais humanos como um fenôme-
no único e peculiar: pela sua natureza, pela sua estrutura, pela sua 
finalidade. Mas, também é certo, que do ponto de vista sócio-ju-
rídico é muito semelhante às outras formas de associações huma-
nas. Assim, se é natural que cada grupo social humano se organize 
e, portanto, se dê um complexo de normas jurídicas, é, também, 
natural que a Igreja, que vive no tempo e na história (aplicação 
do princípio da Encarnação), enquanto grupo humano organizado, 
produza direito e viva segundo o direito. 
Por fim, convém destacar que o que dissemos até aqui é con-
firmado pela própria história, pois a Igreja, desde as suas origens, se 
apresentou como uma realidadeorganizada e dotada de um sistema 
normativo finalizado a disciplinar a sua vida interna. No início era ape-
nas uma "semente" e nos dias de hoje se tornou uma "grande árvore".
As fontes do direito canônico
Como você pode notar, a Igreja desde suas origens se apre-
sentou como uma realidade organizada e dotada de um sistema 
Claretiano - Centro Universitário
19© Caderno de Referência de Conteúdo
normativo e, portanto, de um direito, finalizado a disciplinar a sua 
vida interna. Chegou o momento de nos ocuparmos das fontes 
deste direto.
O estudo do direito canônico pressupõe e exige um constan-
te contato com as suas fontes, termo com o qual podemos indicar 
realidades diversas: fontes de produção, fontes de conhecimento 
e fontes históricas. 
Fontes de produção
A expressão "fontes de produção" possui um duplo significa-
do. Indica tanto os órgãos e os procedimentos mediante os quais 
são produzidas as normas canônicas (legislador individual, legisla-
dor coletivo, a comunidade), quanto às "formas" que tais normas 
assumem (lei, costume, decreto, etc.).
Para uma adequada compreensão destas fontes precisamos 
destacar e esclarecer, de antemão, a peculiaridade fundamental do 
ordenamento jurídico da Igreja. Esta é uma instituição de origem 
sobrenatural e com finalidades sobrenaturais. Sendo assim, o seu 
ordenamento jurídico está fundado e radicado em uma realidade 
conhecida pelo nome de "direito divino". Tal realidade vincula pro-
fundamente toda a produção jurídica realizada pelos competentes 
órgãos eclesiais, pois dela não pode se afastar o direito positivo 
produzido na Igreja. Mas o que seria, então, este direito divino?
Por direito divino entendemos um complexo de normas que 
não foram simplesmente colocadas pelo legislador eclesiástico, 
isto é, por uma autoridade meramente humana, embora caiba a 
essa fazê-lo valer. Tais normas são divididas em dois grupos: o di-
reito divino natural (ou simplesmente direito natural) e o direito 
divino positivo (ou simplesmente direito revelado).
O direito natural consiste em um conjunto de princípios que 
não se encontram escritos e nem foram objeto de uma explícita reve-
lação de Deus na história, mas foram impressos por Deus na consci-
ência do homem, possuindo, portanto, um valor universal. Trata-se de 
© Direito Canônico I20
um direito meta-positivo, no sentido que subsiste antes da vontade 
de qualquer legislador positivo; possui um valor intrínseco; é superior 
a qualquer ordenamento positivo, no sentido de ser um modelo pe-
rante o qual todo e qualquer ordenamento deve se conformar. A sua 
obrigatoriedade deriva de sua origem divina e não humana.
Enquanto tal o direito natural vincula não apenas a sociedade 
civil, mas, também, a sociedade eclesial. Embora a Igreja seja uma 
sociedade peculiar pela sua origem, meios e fins, é formada de pesso-
as e, portanto, não pode ignorar as regras naturais de toda formação 
social. É sempre bom lembrar que, à luz do mistério da Encarnação, a 
Igreja é chamada a se encarnar em um organismo social e, portanto, 
não pode se subtrair às normas que visam guiar a vida do corpo social.
Ao direito natural certamente podemos vincular os direitos 
humanos, isto é, tudo o que é reconhecido como devido ao ho-
mem pelo fato de possuir uma dignidade própria enquanto pessoa 
humana. Sendo assim, os direitos humanos também se fazem pre-
sente e vinculam o ordenamento da Igreja. 
O direito revelado é constituído pelas normas que vieram 
até nós por Revelação divina e não pela natureza das coisas. A elas 
chegamos ao contato com a Sagrada Escritura e com a Tradição da 
Igreja constituída pelo ensinamento dos apóstolos e seus sucesso-
res: o Papa e os Bispos.
Entre o direito natural e o direito revelado pode ou não haver 
um nexo. Por exemplo, o direito à vida se baseia tanto no fato do 
homem possuir uma dignidade que deriva do fato de ser pessoa 
humana, quanto no fato de ser imagem e semelhança de Deus e, 
em Cristo, filho adotivo de Deus. Por outro lado o governo da Igre-
ja difere sensivelmente do direito civil, pois se estrutura a partir 
de uma vontade divina que nos deixou o Romano Pontífice como 
sucessor de Pedro e os Bispos como sucessores dos Apóstolos. 
O direito divino revelado contém uma série de princípios que 
estão intimamente e estruturalmente conexos com a Igreja, enquan-
to uma entidade fundada por Jesus Cristo, o qual deu a ela especí-
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21© Caderno de Referência de Conteúdo
ficas finalidades, meios para realizá-las e regras de governo, como, 
também, critérios básicos de pertença. Tais princípios constituem o 
núcleo essencial e irreformável da constituição da Igreja: essencial 
porque determina sua estrutura e funcionamento; irreformável por-
que definido por Deus e, portanto, não passível de qualquer mudan-
ça por parte de qualquer autoridade humana, mesmo eclesiástica.
É importante destacar uma nota da Igreja que certamente 
está em conexão com o fato de ser uma realidade institucional di-
vina. A Igreja, de fato, não se enquadra nas duas grandes confi-
gurações que a doutrina jurídica reconduz as pessoas morais: as 
associações e as fundações. A Igreja participa das duas realidades, 
sem, contudo, ser uma ou outra. 
Participa da figura da associação porque sociologicamente é 
constituída por um grupo organizado de pessoas, mas, diferente-
mente do que ocorre com as associações, a sua existência, a sua 
finalidade, os meios para realizá-la, as condições para dela se fazer 
parte, as regras de sua organização, não são determinadas pela 
vontade constitutiva dos associados contemplada nos estatutos, 
como ocorre com as associações em geral. 
Participa, também, da figura da fundação porque é um ente 
que tem finalidades e meios determinados pela vontade de um 
fundador, mas é caracterizada por uma base pessoal e não patri-
monial. Sendo assim a Igreja, desde um ponto de vista jurídico, 
poderia ser vista como uma "associação institucionalizada".
Embora tenhamos afirmado que o direito divino é imodifi-
cável, isto não significa que não possa ser objeto de um contínuo 
aprofundamento no devir histórico da Igreja. Como nos recorda o 
Catecismo da Igreja católica, mesmo que a Revelação esteja com-
pletada, caberá à fé cristã colher gradualmente todo o seu alcance 
ao longo dos séculos (CIC 66). 
Problema fundamental para a ciência do direito canônico diz 
respeito à modalidade com a qual o direito divino (natural e reve-
lado) se torna vigente no ordenamento positivo canônico.
© Direito Canônico I22
No passado, sob a influência de concepções positivistas do 
direito, se sustentou que os princípios e as disposições do direito 
divino entrariam no ordenamento jurídico positivo mediante um 
ato de vontade do legislador eclesiástico. Esta forma de pensar o 
direito divino não possui fundamento algum, pois o direito divino 
(natural ou revelado) vige enquanto tal, independentemente de 
qualquer vontade do legislador humano. O problema da dinâmica 
entre direito divino e humano deve ser enquadrado e resolvido 
não em termos de duas ordens jurídicas distintas, mas em termos 
de explicitação dos princípios de direito divino sob o plano do di-
reito meramente humano. Como dito, o direito humano está su-
bordinado ao direito divino que possui uma superioridade axioló-
gica em relação a este último.
Esclarecida a questão do direito divino temos, também, na 
Igreja o direito humano ou eclesiástico, isto é, o direito posto pelos 
sujeitos que na Igreja possuem autoridade para isso. Enquanto co-
locado por uma autoridade humana este direito é historicamente 
contingente e mutável, pois decorre de escolhas concretas feitas 
pelo legislador no devir histórico da Igreja. Trata-se de um direito 
não perfeito, mas sempre perfectível, que, contudo, se encontra 
necessariamente vinculado ao respeito absoluto pelo direito natu-
ral e revelado. Caso entrasse em contradição com o direito divino, 
perderia sua legitimidade e não seria observável. 
Vista a relaçãoentre direito divino e direito humano, pode-
mos, agora, elencar as principais fontes de produção do direito ca-
nônico. 
Uma posição de absoluta preeminência é ocupada pela LEI. 
Esta pode ser classificada a partir de critérios diversos:
• Por autor: pontifícias, conciliares, episcopais, capitulares;
• Por tipologia: universais/particulares; gerais/especiais; 
territoriais/pessoais.
À lei se acrescenta, como fonte de produção, o "Costume", 
que também é direito objetivo, embora não escrito, o qual é gera-
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23© Caderno de Referência de Conteúdo
do por uma determinada comunidade organizada que assume um 
comportamento reforçado pela convicção geral de sua juridicidade 
e necessidade.
De particular interesse, entre as fontes canônicas, temos, 
ainda, a "Jurisprudência", ou seja, as sentenças pronunciadas 
pelos competentes órgãos judiciais da Igreja. Convém esclarecer, 
logo de início, que embora no ordenamento canônico o juiz seja 
chamado apenas a aplicar a lei, não podendo, portanto, criar no-
vas normas, todavia, ele opera no âmbito de um ordenamento que 
não é fechado, mas aberto ao direito natural e revelado, cujos pre-
ceitos também são "direito", mesmo se estão formalizados pelo 
legislador eclesiástico. Por isso, o juiz eclesiástico não está vincula-
do unicamente ao direito formalmente produzido pelo legislador 
eclesiástico, mas está obrigado a aplicar no próprio juízo o direito 
divino seja em si mesmo, seja como critério de interpretação das 
normas positivas que irá usar. Isso poderá levá-lo, inclusive, a não 
aplicar uma norma de direito positivo lá onde esta se afaste, no 
caso concreto, da justiça. Seria o caso, por exemplo, da eqüidade 
canônica que é um instituto de correção da lei quando em circuns-
tâncias concretas a sua aplicação possa produzir injustiça ao invés 
de justiça, contrastando com a caridade e com as exigências espi-
rituais próprias do ordenamento canônico. 
É evidente que neste contexto bem determinado a jurispru-
dência, isto é, uma orientação já assumida no passado por vários 
juízes (em geral dos tribunais pontifícios), ao interpretar e aplicar a 
lei canônica aos casos concretos, adquire certa relevância normati-
va. E desde este ponto de vista o direito eclesial se aproxima muito 
daquele de orientação anglo-saxão. 
Por fim a "Doutrina", quando se torna parecer comum e 
constante dos juristas, pode assumir o caráter de fonte normativa 
subsidiária (cân. 19). De fato, caso haja alguma lacuna no ordena-
mento, isto é, quando o legislador não previu e disciplinou uma 
determinada fattispecie, o parecer constante e comum dos cano-
© Direito Canônico I24
nistas, juntamente com a analogia, os princípios gerais do direito, 
a jurisprudência dos Tribunais e a práxis da Cúria Romana, pode 
constituir critério para decidir uma causa, desde que não se trate 
de um processo penal. 
Fontes de conhecimento
Com a expressão "fontes de conhecimento" se quer indicar 
aquelas coleções e documentos nos quais está contida a normativa 
canônica. As principais fontes de conhecimento do direito vigente 
na Igreja católica em sua dimensão universal são: o CIC (1983), a 
Pastor Bonus (1980) e o CCEO (1990) que, em seu conjunto, for-
mam o novo Corpus Iuris Canonici. 
Fontes históricas
Por "fontes históricas" entendemos aquelas coleções nas 
quais encontramos as normas canônicas produzidas ao longo da 
história da Igreja, mas que atualmente não estão mais em vigor. De 
todas elas a mais importante é, sem dúvida, o Corpus Iuris Canoni-
ci (veremos em seguida o que é) e o CIC de 1917. Convém recordar 
que no direito canônico as leis não mais vigentes adquirem uma 
relevância particular, diferentemente do que acontece nos orde-
namentos seculares. Isso porque não é incomum para interpretar 
corretamente uma disposição atual recorrer às razões originárias, 
às modificações que esta sofreu ao longo do tempo, ao modo 
como foi interpretada e aplicada na vida da Igreja. Por isso, as co-
leções jurisprudenciais e doutrinais do passado podem ajudar na 
interpretação e aplicação do direito vigente, não se reduzindo a 
uma peça de museu. Portanto, faremos um breve resumo da his-
tórica das fontes do direito canônico.
Breve resumo da história das fontes
Normalmente a experiência jurídica da Igreja é dividida pe-
los autores em quatro grandes períodos históricos: 
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25© Caderno de Referência de Conteúdo
1) primeiro milênio (período pré-Graciano); 
2) período clássico (do século 12 ao 15); 
3) período moderno (do século 16 ao 19);
4) período contemporâneo (do século 20 aos nossos dias). 
Vejamos resumidamente cada período, destacando alguns 
aspectos de particular relevância.
Primeiro milênio
É chamado de pré-Graciano porque anterior a uma obra que 
na história do direito canônico foi uma espécie de divisor de águas: 
o decreto de Graciano (século 12). 
Nos primeiros três séculos, ou seja, das origens da Igreja ao 
edito de Constantino (313 d.C), que fez cessar as perseguições con-
tra a Igreja e reconheceu o cristianismo como uma religião lícita no 
império romano, as bases fundamentais do direito canônico são 
constituídas pelo direito divino contido nas Sagradas Escrituras, 
particularmente os Evangelhos e demais escritos do Novo Testa-
mento. Encontramos, ainda, outras fontes presentes na literatura 
cristã antiga como é o caso dos escritos dos padres apostólicos 
(Barnabé, carta de São Clemente Romano aos Coríntios (95 d.C), 
Inácio, Policarpo e o pastor de Hermas – 140-150 d.C) e dos padres 
da Igreja (do século 2º ao 7º) como é o caso de Ambrósio, Agosti-
nho, Jerônimo e outros. Neste período começa a se constituir uma 
importantíssima fonte de conhecimento do direito divino que é 
dada pela Tradição, isto é, pelo ensinamento dos Apóstolos e de 
seus sucessores que propiciam um aprofundamento dos conteú-
dos da fé cristã e de seus princípios morais. 
Neste primeiro milênio é possível observar que o direito das 
primeiras comunidades cristãs era essencial, pouco normativo, 
devedor, em grande parte, do direito hebraico devido ao vínculo 
inicial entre judaísmo e cristianismo. Com a expansão do cristia-
nismo no Ocidente e devido a um contato cada vez maior com o 
mundo romano, o direito canônico das origens começou a adquirir 
elementos jurídicos extraídos da experiência romana. 
© Direito Canônico I26
A estruturação da Igreja em Igrejas particulares territorial-
mente individuadas levou à constituição dos primeiros núcleos de 
uma legislação local realizada pelos Bispos que conferia a cada co-
munidade um rosto particular, sem, contudo, ferir a unidade entre 
elas. Portanto, inicialmente temos na Igreja uma legislação episco-
pal e não pontifícia.
As primeiras obras que nos permitem reconstruir a disciplina 
da Igreja na idade apostólica são: 
• para o Oriente: a Didaché ou Doutrina dos doze apóstolos 
(século 2º). Temos, ainda, a Didascalia, composta na se-
gunda metade do século 3º provavelmente na Síria; 
• para o Ocidente: a Traditio Apostolica de Santo Hipólito, 
escrita em Roma por volta do ano 218. Estas obras se tor-
naram a referência ou modelo para outras que surgiram 
depois. Todas elas, porém, possuem duas características 
comuns: a não distinção entre normas jurídicas e normas 
morais e a atenção dispensada ao culto e aos sacramentos.
Com o edito de Teodósio (380 d.C), que tornou o cristianismo 
a religião oficial do império romano, observa-se o início de uma 
importante experiência conciliar necessária para enfrentar as no-
vas exigências das comunidades cristãs que aumentaram conside-
ravelmente, tanto em relação ao território quanto ao número de 
pessoas. Os Concílios são reuniões de Bispos de uma determinada 
região ou, então, de toda a Igreja (chamados Ecumênicos), para 
tratar de questões doutrinais e disciplinares de maior relevância.
Nos Concílios é que foi fixado o "Credo", como, também, 
normas jurídicas (receberam o nome de "cânones") destinadas a 
regular,juntamente com o direito divino, a vida da Igreja. Surgem, 
então, as primeiras coleções de decisões conciliares. Entre as mais 
importantes, também pela influência que teve no tempo, desta-
ca-se uma coleção encomendada pelo Papa Adriano a Dionísio e 
que foi redigida entre o final do século 5º e as primeiras décadas 
do século 6º. Inicialmente recebeu o nome de Codex canonum ou 
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27© Caderno de Referência de Conteúdo
Corpus canonum. Mais tarde, já na época carolíngia (século 8º), 
a obra ficou conhecida pelo nome de Collectio Dionisio-Adriana. 
Quanto ao conteúdo esta coleção recolhe as decisões conciliares e 
as decretais dos romanos pontífices. Isso é muito importante para 
o estudo das instituições porque nos revela a existência do exer-
cício do primado do Papa sobre toda a Igreja e que não se tratava 
simplesmente de um título honorífico, mas, também, de uma re-
alidade jurídica, pois as decretais eram procedimentos de caráter 
administrativo ou normativo mediante os quais o Papa intervinha 
na vida das Igrejas locais. Portanto a Collectio Dionisio-Adriana 
nos dá um primeiro testemunho do desenvolvimento do papel do 
Papa no governo da Igreja universal.
A partir do século 7º ativa-se o processo de separação e dis-
tinção entre a Igreja do Oriente e do Ocidente que marcará e con-
dicionará profundamente a vida jurídica de uma e de outra, mas 
sobre isso não nos ocuparemos aqui.
O desenvolvimento do direito canônico no Ocidente conhe-
ceu nos últimos séculos do primeiro milênio, algumas experiências 
interessantes, como é o caso, por exemplo, dos Canones poeniten-
tiales apostolorum, que surgiu na Irlanda e na Inglaterra entre o 
final do século 6º e o início do século 7º, espalhando-se, em se-
guida, por toda a Europa Ocidental. Mesmo não existindo nestes 
textos uma nítida distinção entre moral e direito, entre pecado e 
delito, tal experiência constitui um momento importante para a 
formação do direito penal moderno, tanto canônico quanto civil, 
pois introduziu sistemas classificatórios dos pecados e crimes, se-
gundo o critério da gravidade, com uma conseqüente graduação 
nas penas.
O período clássico (século 12 ao 16) 
O período clássico inicia-se por volta da metade do século 12 
graças à contribuição dada pelo Decretum de Graciano (1140 d.C) 
à ciência e à prática do direito. Graciano era um monge professor 
© Direito Canônico I28
na Universidade de Bolonha. Por motivos didáticos recolheu uma 
multiplicidade de fontes canônicas, frequentemente contrastantes 
entre si, e tentou oferecer uma interpretação coerente que pos-
sibilitasse a superação das contradições encontradas nos textos. 
Por esse motivo sua obra foi chamada de Concordia discordantium 
canonum. Embora fosse uma compilação privada e destinada ao 
estudo e ambiente acadêmico, teve um enorme sucesso a ponto 
de se tornar, juntamente com algumas coleções oficiais, parte do 
Corpus Iuris Canonici, isto é, daquela grande compilação dos tex-
tos normativos da Igreja que adquiriu o caráter de fonte oficial do 
direito da Igreja até o advento do Código de 1917. 
Além do Decretum o Corpus Iuris Canonici era composto por 
mais três coleções oficiais e duas privadas. Tal título foi dado pelo 
Papa Gregório XIII (1580).
1) Decretais de Gregório IX (1234), também chamada de Liber 
Extra: contém uma coleção das decretais dos Papas agru-
padas em cinco livros e foi organizada por São Raimundo 
de Penhafort a pedido do Papa Gregório IX. É uma coleção 
autêntica, publicada aos 05 de novembro de 1234.
2) Liber Sextus de Bonifácio VIII (1298): é a coleção de leis 
posteriores às Decretais de Gregório IX, também agrupa-
das em cinco livros. É uma coleção autêntica publicada 
aos 03 de março de 1298.
3) Clementinae ou Constituições Clementinas: que contém 
as decretais de Clemente V. Foi publicada pelo Papa por 
João XXII aos 25 novembro de1327.
4) Extravagantes Ioannis XXII: recebeu este nome por não 
se encontrar em nenhuma das coleções anteriores. É 
uma coleção privada que contém 20 decretais do Papa 
João XXII (1316-1334).
5) Extravagantes communes: é formada pelas decretais de 
vários papas até 1498, não incluídas as coleções anterio-
res. É uma coleção privada.
Todas as coleções acima mencionadas foram objeto de glo-
sas, isto é, anotações feitas na margem do texto por parte da dou-
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29© Caderno de Referência de Conteúdo
trina jurídica. O nascimento e o enorme desenvolvimento das uni-
versidades na idade média (a universidade de Bolonha conhecida 
por seus estudos jurídicos nasceu por volta do ano 1088) favorece-
ram o desenvolvimento da ciência jurídica em geral e dos estudos 
do direito canônico em particular. Surgiu, então, uma importante 
literatura jurídica: a dos "decretistas", isto é, dos comentadores do 
Decreto de Graciano, e a dos "decretalistas", isto é, dos comenta-
dores das decretais dos Papas. Acrescente-se a isso, em âmbito 
civil, os comentadores ou glosadores dos textos recuperados do 
direito romano.
Outro aspecto que merece destaque é que o direito de ori-
gem pontifícia vigente para toda a Igreja adquire cada vez mais 
força e observa-se uma progressiva restrição do direito episcopal 
(aquele produzido pelos bispos diocesanos e concílios provinciais). 
Aos poucos se afirma aquela categoria que mais tarde passou a 
ser chamada de causae maiores, isto é, as questões que acabam 
sendo reservadas exclusivamente ao Papa.
A última parte deste período clássico foi caracterizada pelas 
contribuições oferecidas pelo Concílio de Trento (1545-1565) no 
contexto da Reforma Protestante. O Concílio foi convocado para 
responder a uma série de problemas de ordem doutrinal e discipli-
nar que surgiram na Igreja do Ocidente com o movimento realizado 
por Martinho Lutero (1517). Na verdade o Concílio quis responder 
à Reforma Protestante com a Reforma Católica (recebeu o nome de 
Contra-Reforma), adotando uma série de medidas de caráter dou-
trinal e disciplinar e, portanto, jurídico, destinadas a marcar a vida 
da Igreja desde aquela época até os nossos dias. Particularmente o 
Concílio emanou uma série de decretos, isto é, medidas de caráter 
normativo, que se juntaram ao Corpus Iuris Canonici já existente e 
que tinham por finalidade reformar a vida da Igreja. A tais decisões 
se juntaram posteriormente os atos dos Pontífices recolhidos em 
ordem cronológica (recebeu o nome de Bullarii) como, também, as 
disposições administrativas emanadas pela Cúria Romana e aquelas 
judiciais emanadas pelos tribunais pontifícios
© Direito Canônico I30
O período moderno (século 17-19) 
No período moderno destacamos, sobretudo, os séculos 16 
a 18 no qual se consolida a experiência de centralização romana. 
Desta forma o direito canônico, entendido como um sistema de 
normas, torna-se, na prática, um direito pontifício, ou seja, pro-
duzido pelo Papa e válido para toda a Igreja. Ao mesmo tempo 
observa-se que no plano organizativo as decisões começam a pas-
sar necessariamente por Roma, limitando-se, desta forma, a au-
tonomia legislativa e administrativa das Igrejas locais, fenômeno 
este já iniciado no período anterior. 
Ambos os fenômenos respondem a uma lógica bem precisa que 
é aquela de defender a unidade da Igreja dos perigos que poderiam 
ameaçá-la tanto internamente (a Reforma Protestante) quanto exter-
namente (o Estado soberano que pretende se colocar acima da Igreja).
Contra a política e a legislação eclesiástica criadas pelos Esta-
dos para controlar a Igreja, conhecida pelo nome de "jurisdicionalis-
mo", os canonistas se posicionam defendendo a liberdade da Igreja 
e a não sujeição desta ao poder político. Afirmam, pelo contrário, a 
sua independência, pois, tal como o Estado, a Igreja seria uma socie-
dade juridicamente perfeita. Desenvolve-se, assim, uma nova área 
na ciência jurídica canônica denominada de direito público eclesiás-
tico externo (ius publicum ecclesiasticum externum). Nela, partindo-
-se da premissa de queo Estado e a Igreja são, cada um em seu pró-
prio âmbito (temporal e espiritual), uma sociedade juridicamente 
perfeita, chega-se à conclusão de que ambos são independentes. 
Isso trouxe como consequência a convicção de que as relações entre 
ambos devem se construir sobre uma base que é paritária e não de 
subordinação tal como se verifica nos dias de hoje. 
A situação de conflito e, posteriormente, de separação entre 
Igreja e Estado historicamente se reflete no direito canônico por 
meio de uma progressiva separação deste do direito civil, sobre-
tudo, a partir da revolução francesa no século 18. Assim, o direito 
canônico perdeu a sustentação que tinha do direito secular e deve 
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31© Caderno de Referência de Conteúdo
que caminhar por si. Neste novo desafio o legislador canônico op-
tou por trilhar o caminho da codificação, já desejada pelo Concílio 
Vaticano I (1869-1870), querida pelo Papa Pio X (1903-1914) e pro-
mulgada pelo Papa Bento XV (1914-1922). Portanto, o advento do 
CIC de 1917 é, ao mesmo tempo, efeito e sinal do fim da solidarie-
dade entre direito eclesial e direito estatal. Vejamos melhor isso!
Com o fim da cristandade, nos modernos estados absolutis-
tas que se mantiveram católicos, o direito canônico tinha se desen-
volvido em uma espécie de simbiose com o direito estatal. Ape-
sar do "jurisdicionalismo" os estados confessionais, não obstante 
tudo, reconheceram, protegeram e apoiaram o direito canônico. 
Com a revolução francesa, o fim do ancien régime e o advento do 
Estado liberal, separatista e laico (às vezes até laicista) o direito 
canônico passou a ser marginalizado. Não havendo mais uma rela-
ção de solidariedade entre direito canônico e direito secular, o pri-
meiro tornou-se inaplicável e inexigível dentro do ordenamento do 
Estado. Os efeitos eram graves, pois cessando o vínculo de união 
entre direito secular e direito canônico inegavelmente a Igreja per-
dia sua influência sobre a sociedade e, além disso, o direito secular 
tornava menos eficiente o direito canônico na própria Igreja. 
Neste contexto a codificação do direito da Igreja significou 
uma espécie de revisão e reformulação do direito canônico, par-
tindo-se, agora, de outra premissa: a não colaboração do direito 
secular. Não foi por acaso que o pontificado de Pio X marcou o 
momento do máximo isolamento da Santa Sé nas relações inter-
nacionais e de uma acentuada restrição das relações diplomáticas.
A ideia de um codex exprimia, portanto, a ideia de um direi-
to canônico que agora estaria todo ele voltado para a sociedade 
eclesial e toda a sua força se verificaria no âmbito interno desta 
mesma sociedade. 
O período contemporâneo (do século 20 aos nossos dias)
O momento central e dominante deste último período da 
história das fontes do direito canônico é, sem dúvida, o Concílio 
© Direito Canônico I32
Vaticano II, querido por João XXIII (1958-1963), juntamente com a 
revisão do CIC de 1917. Não resta a menor dúvida de que o Con-
cílio deu um grande impulso para a renovação da Igreja, também 
em seu direito.
A intenção de proceder a revisão do CIC de 1917 foi mani-
festada por João XXIII aos 25 de janeiro de 1959 em uma reunião 
com os Cardeais realizada na basílica de São Paulo fora dos mu-
ros. Todavia, no momento do anúncio não estava ainda previsto o 
âmbito e os limites de um trabalho do gênero. Imaginava-se que 
ocorreriam mudanças setoriais e muito pontuais e não uma rees-
truturação completa do direito, pois o Papa havia falado apenas 
em revisão. Quando, então, a comissão encarregada dos trabalhos 
concluiu a primeira sessão plenária aos 12 de novembro de 1963 o 
Concílio já havia iniciado. Por isso, os Cardeais resolveram que os 
trabalhos fossem suspensos até a conclusão do Concílio, porque 
não seria sensato seguir os trabalhos durante o em andamento de 
um Concílio Ecumênico.
O fato é que uma das características imediatamente obser-
vável do CIC de 1983 é aquela de ser em muitos aspectos profun-
damente diferente do CIC de 1917. Trata-se não apenas de uma 
diversidade formal (possui uma nova estrutura), mas, sobretudo, 
substancial (em relação às normas que o integram). Se fôssemos 
efetuar uma comparação é perfeitamente verificável que o CIC 
de 1917 em relação ao Corpus Iuris Canonici a ele anterior não 
apresentou grandes novidades, pois simplesmente ordenou e sis-
tematizou toda uma normativa anteriormente existente (período 
clássico e moderno, sobretudo Trento e o Vaticano I) dando a ela 
a estrutura de um Código. Já o CIC de 1983, ao contrário, teve que 
efetuar uma harmonização entre o direito vigente e os princípios 
do Concílio Vaticano II, adequando o primeiro ao segundo.
O esforço de harmonização do direito canônico com os prin-
cípios conciliares produziu, dentre outras coisas, uma notável acen-
tuação das distinções e das particularidades do CIC em relação às 
modernas codificações civis. Se no CIC de 1917 os codificadores apro-
Claretiano - Centro Universitário
33© Caderno de Referência de Conteúdo
ximaram o direito canônico do direito civil no que tange à estrutura e 
a determinados conceitos, justamente para marcar a separação entre 
teologia e direito e, sobretudo, para aproximar o direito canônico dos 
direitos seculares, com o CIC de 1983 se verifica justamente o movi-
mento contrário. Harmonizar o CIC de 1983 com o Concílio Vaticano II 
significou, logo de início, levar em conta as linhas diretivas aprovadas 
pelo sínodo dos Bispos de 1967, contendo dez princípios norteadores 
da reforma do qual não nos ocuparemos aqui.
É necessário, também, lembrar que a Igreja católica é uma 
comunhão de Igrejas e abarca, portanto, duas grandes Tradições: 
o Oriente e o Ocidente. Cada tradição produziu um direito pró-
prio. Por isso, atualmente, quando nos referimos às fontes atuais 
do direito da Igreja não podemos de forma alguma deixar de fazer 
menção ao CCEO que rege a vida das Igrejas orientais católicas, 
promulgado pelo Papa João Paulo II em 1990. Este direito possui 
uma longa história, mas dela não nos ocupamos devido ao tempo 
que dispomos. Assim nos dias de hoje a história das fontes de co-
nhecimento do direito canônico nos coloca diante de três grandes 
codificações que formam o novo Corpus Iuris Canonici: o CIC de 
1983, a Pastor Bonus (1988) e o CCEO de 1990.
Convém ter presente que o código latino (CIC), digo isso por-
que temos, também, o Código das Igrejas Orientais (CCEO), pode ser 
definido como um "corpus", ou seja, um "corpo de leis" distribuídas 
de maneira sistemática em um código. Contudo, tal sistemática não 
tem a ver com aquela adotada nos códigos civis, pois, simplesmen-
te, se parte da compreensão daquilo que a Igreja é e de sua missão, 
e não daquilo que sociedade é e de como se organiza. 
As leis contidas no Código chamam-se cânones. A caracterís-
tica fundamental do CIC é a de constituir um corpo orgânico com 
valor normativo, vinculando diretamente um vasto campo de rela-
ções eclesiais.
A língua oficial do CIC é o latim, mas existem versões em 
todas as principais línguas correntes. As traduções requerem, po-
© Direito Canônico I34
rém, uma autorização da conferência dos Bispos de cada país, ten-
do por base os seguintes critérios: 
• 1º O texto base com valor jurídico é sempre e unicamente 
o latim;
• 2º A tradução tem apenas a função de ajudar a compre-
ensão do texto originário latino e não possui, portanto, 
um valor oficial.
O CIC atual se compõe de 1752 cânones, distribuídos em 
sete livros. São eles:
1) I. Normas Gerais. 
2) II. O povo de Deus. 
3) III. A função de ensinar da Igreja. 
4) IV. A função de santificar da Igreja. 
5) V. Os bens temporais da Igreja.
6) VI. As sanções na Igreja. 
7) VII. Os processos.
As maiores novidades do código atual em relação ao anterior 
se encontram nem tanto no esquema, mas, sim, nos conteúdos. Se 
no CIC precedente se procurou conservar a disciplina em vigor na 
época, apresentado-a de maneira moderna e coerente, no CIC atu-
alencontramos um grande esforço de traduzir para uma lingua-
gem jurídica a eclesiologia do Concílio Vaticano II, como, também, 
sua rica teologia. 
Por fim, no CIC atual, encontramos os grandes temas conci-
liares: a Igreja povo de Deus; a eclesiologia de comunhão; a Igre-
ja particular e sua relação com a Igreja universal; a colegialidade 
episcopal; a acolhida do princípio de igualdade fundamental entre 
todos os fiéis e a sua participação aos ofícios de Cristo sacerdote, 
profeta e rei; o empenho pelo ecumenismo. 
Encerrada esta parte histórica, passemos, então, para o últi-
mo tópico no qual chamarei a sua atenção para alguns temas que 
serão objeto de estudo neste Caderno de Referência de Conteúdo.
Claretiano - Centro Universitário
35© Caderno de Referência de Conteúdo
Temas relevantes
Agora que você já sabe que a Igreja possui uma ampla norma-
tiva contida em dois códigos (o latino e o oriental) e na Pastor Bonus, 
sem falar das inúmeras legislações particulares existentes, quere-
mos, para encerrar este encontro, destacar alguns temas relevantes 
que serão objeto de estudo neste caderno que você irá estudar. 
O Concílio Vaticano II ao se referir à Igreja na Constituição 
Dogmática Lumen Gentium se valeu de algumas imagens, dentre as 
quais destacamos a do "povo de Deus". Ora, este "povo de Deus" do 
qual todos nós fazemos parte, se apresenta de maneira ordenada e 
organizada. Esta ordem tem a sua raiz na estrutura fundamental da 
Igreja, na qual encontramos carismas, funções e ministérios a partir 
dos quais os fiéis encontram o seu lugar e se relacionam.
Esta relação entre os fiéis é regida por um conjunto de nor-
mas que têm por objetivo garantir a cada pessoa o necessário es-
paço de liberdade para viver plenamente a vocação para a qual foi 
chamada. Tais normas garantem uma série de direitos, como, tam-
bém chamam a atenção para determinados deveres e obrigações. 
Creio que seja muito importante conhecê-las, como, também, o 
espírito que as anima, pois muitas vezes, o desconhecimento disso 
pode gerar tensões e conflitos. No andamento do curso você irá 
se deparar com elas e espero que ao conhecê-las isso o ajude na 
vivência da fé. 
Outro aspecto relevante é que a Igreja possui uma estrutura 
de governo. Essa estrutura é bem diferente daquelas existentes 
nos diversos países. Por isso, é importante que se intere de como 
essa estrutura funciona, descobrindo quem na Igreja possui fun-
ções de governo; em que elas se fundamentam; como tais fun-
ções se articulam; qual o espírito que deve animar a ação dos que 
nos governam; quais os direitos e deveres que possuem; e em que 
medida os demais fiéis participam disso. Entrar em contato com 
essa normativa irá clarificar a relação existente entre nós e nossos 
pastores.
© Direito Canônico I36
Na Igreja existe, ainda, uma forma de vida que você conhe-
ce, pois, ao menos alguma vez, se deparou com "freiras", "freis", 
"irmãos" e "irmãs", usando, muitas vezes, uma roupa diferente 
dos demais. Valeria a pena conhecer um pouco mais quem são, 
como vivem, qual a razão da existência deste estilo de vida na Igre-
ja e como isso a enriquece. Refiro-me aqui à vida consagrada em 
suas mais variadas formas e você no curso terá a oportunidade de 
conhecê-la melhor. 
Por fim, para concluir, no dia-a-dia das comunidades temos 
uma série de atividades ligadas ao ministério da palavra, como, 
por exemplo, a catequese. Saiba que existe no CIC um livro de-
dicado à função de ensinar da Igreja. Ali encontramos uma vasta 
normativa que se ocupa do anúncio do Evangelho em suas mais 
variadas formas. Portanto, também, dedicaremos um espaço para 
que dela possa se interar. 
 Esperamos que no final desta abordagem geral, na qual cha-
mamos a atenção para uma série de questões ligadas ao direito 
canônico, você sinta-se motivado para conhecê-lo um pouco mais.
Bom estudo!
Glossário de Conceitos 
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um 
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de 
conhecimento dos temas tratados em Direito Canônico I. Veja, a 
seguir, a definição dos principais conceitos: 
1) Acta Apostolicae Sedis (AAS) : trata-se da única revis-
ta oficial da Santa Sé. Esta revista é, desde sua origem 
em 1909, um instrumento que possui várias funções. 
Indubitavelmente a AAS contém, sobretudo, leis e atos 
jurídicos, mas, também, outros documentos da Santa 
Sé de caráter doutrinal. O cân. 8 nos recorda que as leis 
eclesiásticas são promulgadas pela publicação na AAS, a 
não ser que, em casos particulares, tenha sido prescrito 
Claretiano - Centro Universitário
37© Caderno de Referência de Conteúdo
outro modo de promulgação. Por isso, é importante tê-
-la como objeto de consulta para conhecer as normas 
universais da Igreja.
2) Ad validitatem: termo que significa "para a validade". As 
diversas leis em geral não tornam nulo o ato contrário a 
elas. Trata-se de um princípio de respeito do legislador 
pela liberdade das pessoas que são chamadas a respei-
tar as leis com uma adesão consciente e livre. Caso a 
pessoa aja contra a lei viola um princípio jurídico, agin-
do, portanto, ilicitamente. Porém, tal ato de um ponto 
de vista jurídico não é nulo, isto é, não deixa de produzir 
os seus efeitos. Todavia, há casos ou situações em que 
o legislador reage a determinados comportamentos ile-
gítimos de modo mais severo, declarando inválido o ato 
realizado de modo contrastante com aquilo que foi esta-
belecido pela lei ou por uma pessoa inábil. Veja-se, por 
exemplo, os cânn. 1108 e 656.
As leis que prevêem a nulidade do ato quando não rea-
lizado em conformidade com o que estabelece a lei são 
chamadas de irritantes ou inabilitantes. Tais leis são ne-
cessárias para evitar lides, abusos de poder, prepotên-
cias, incertezas e situações perigosas para a moralidade 
e garantir a certeza do direito.
Portanto, no direito, a expressão ad validitatem é impor-
tante, pois se refere a algo que é necessário observar 
para a validade do ato jurídico. Caso isso não seja feito, 
o ato jurídico é inválido, ou seja, não produz os efeitos 
jurídicos desejados, o que acarreta não poucos proble-
mas. O que é necessário observar para a validade do ato 
jurídico o estabelece o cân. 124§1.
3) Administrador diocesano: é aquele que assume tem-
porariamente o governo de uma diocese durante a va-
cância da sé episcopal. O can. 416 nos recorda que a sé 
episcopal se torna vacante pela morte do Bispo dioce-
sano, pela renúncia aceita pelo Romano Pontífice, pela 
transferência e pela privação intimada ao Bispo.
© Direito Canônico I38
O administrador diocesano geralmente é eleito pelo co-
légio dos consultores (a respeito do qual nos fala o cân. 
502), tendo as mesmas obrigações e o mesmo poder do 
Bispo diocesano, com exclusão do que se excetua pela 
natureza da coisa ou pelo próprio direito (cân. 427). 
A eleição do administrador diocesano deve ser realizada 
em conformidade com os cânn. 165-178 e os requisitos 
necessários para a função são fixados pelo cân. 425. 
4) Anacoreta/Eremita: eremita (do latim eremus = deser-
to) é aquele que se retira ao deserto para uma vida de 
oração e penitência. Chama-se também anacoreta, pa-
lavra de origem grega que significa "retirado, afastado". 
No atual ordenamento jurídico da Igreja o eremita ou 
anacoreta é um fiel que, não pertencendo a nenhum ins-
tituto de vida consagrada, professa publicamente os três 
conselhos evangélicos mediante votou ou outro vínculo 
sagrado, nas mãos do Bispo diocesano e segue sua for-
ma própria de vida sob a direção deste (cân. 603 §2). 
5) Ato administrativo: os diversos atos administrativos 
singulares possuem cada um o seu significado específi-
co e características peculiares. Todavia, possuem, tam-
bém, elementos comuns, justamente porque participam 
do gênero ato administrativo singular e, neste sentido, 
podem ser regulados por uma normativa comum. Nos 
cânn. 35-47 encontramos umconjunto de normas que 
regulam esses atos administrativos. 
Por ora basta que saiba que por ato administrativo sin-
gular podemos entender uma disposição dada pela com-
petente autoridade (pessoa física ou jurídica) executiva 
(cân. 35) ou legislativa (cân. 76 §1), na forma estabele-
cida pelo direito, para um caso particular e com eficácia 
jurídica limitada a tal caso.
Às vezes o ato administrativo singular contém uma de-
claração de vontade (licença – cân. 1124; admissão – 
cân. 641; dispensa – cân. 1127 §2; punição – cân. 1375; 
transferência – cân. 190; revogação – cân. 141) e, outras 
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39© Caderno de Referência de Conteúdo
vezes, uma decisão de juízo ou de certificação (certifica-
do, autenticação, parecer, etc.). 
6) Bens eclesiásticos: por bens eclesiásticos devemos en-
tender todos os bens temporais que pertencem à Igreja 
universal, à Santa Sé e às pessoas jurídicas públicas ecle-
siásticas, à norma do cân. 1257 §1. Não são bens ecle-
siásticos os que pertencem a qualquer pessoa jurídica 
canônica, mas, apenas a uma pessoa jurídica pública, 
como é o caso, por exemplo, de uma diocese, de uma 
paróquia, de um instituto religioso, etc.
7) Bula pontifícia: o Romano Pontífice exercita o seu ofício 
com uma grande variedade de atos e documentos, orais 
e escritos, dotados de diversos graus de respeitabilidade.
Os documentos orais mais comuns são as homilias feitas 
nas celebrações litúrgicas, as alocuções dirigidas a gru-
pos diversos de fiéis em várias ocasiões ou circunstân-
cias (congressos, audiências, etc.) e as mensagens tele-
visivas ou radiofônicas. 
Os documentos escritos possuem variadas formas e no-
mes. O termo bula refere-se não propriamente ao con-
teúdo ou à solenidade do documento enquanto tal, mas, 
sim, à forma externa que apresenta. Pode vir com uma 
pequena bola (em latim bulla) de cera ou metal. Os mais 
respeitáveis são selados com chumbo. Os demais são se-
lados com cera. Sobre outros, ainda, se coloca apenas 
um simples carimbo. Entre os documentos selados de 
maneiras tão diversas, os mais respeitáveis são as consti-
tuições apostólicas, as cartas apostólicas, as cartas encí-
clicas e as exortações apostólicas, pois normalmente são 
endereçados a toda a Igreja. As bulas são usadas, tam-
bém, para a concessão de privilégios, reconhecimentos 
e favores.
8) Cabido da catedral: o cabido de cônegos, seja da ca-
tedral, seja colegial, é o colégio de sacerdotes, ao qual 
compete realizar as funções litúrgicas mais solenes na 
igreja catedral (cabido da catedral) ou colegial (em ou-
© Direito Canônico I40
tra igreja colegial). Além disso, compete ao cabido da 
catedral desempenhar as funções que lhe são confiadas 
pelo direito ou pelo Bispo diocesano (cân. 503). A pa-
lavra cônego provém do latim canonicus, que, por sua 
vez, deriva de cânon, palavra grega que significa regra. 
Etimologicamente, pois, cônego é aquele que vive sob 
uma regra. Por sua vez, cabido é a forma portuguesa do 
latim capitulum, ou seja, reunião sob uma cabeça (ca-
put), quer dizer, sob um superior. Historicamente, os ca-
bidos surgiram durante a Idade Média, como grupos de 
clérigos que viviam comunitariamente (ou, pelo menos, 
num recinto comum: o claustro das catedrais), em tor-
no do Bispo, principalmente para assegurar o esplendor 
das funções litúrgicas na igreja catedral. Paulatinamen-
te, foram assumindo, também, as funções de conselho 
ou senado do Bispo, nome com que o Código de 1917 
os designava. Governavam também a diocese durante 
a vacância, chegando em alguns lugares, a ter o direito 
de escolher o novo Bispo. Hoje o cabido possui, apenas, 
funções litúrgicas e não é um colégio de constituição 
obrigatória (cf. nota de roda pé do CIC de 1983, na qual 
o Pe. Jesus Hortal, SJ faz um comentário ao cânon 503).
9) Concílio Ecumênico: Concílio significa originariamente 
uma reunião ou assembléia para dirimir diferenças. No 
uso eclesiástico desde os primeiros séculos chamaram-
-se concílios as assembléias em que havia uma prevalên-
cia de Bispos. Sempre, porém, houve presença de outras 
pessoas (presbíteros e mesmo leigos). Aos concílios cabe 
deliberar sobre questões de ordem doutrinal, disciplinar 
e pastoral. Já a palavra Ecumênico é utilizada como sinô-
nimo de universal. A Igreja católica reconhece como ecu-
mênicos 21 concílios, o primeiro dos quais foi o de Nicéia 
(325 dC) e o último o Vaticano II (1962-1965). A normativa 
sobre o Concílio Ecumênico encontra-se explicitada nos 
cânn. 337-341 (cf. nota de roda pé do CIC de 1983, na qual 
o Pe. Jesus Hortal, SJ faz um comentário ao cânon 337).
10) Decano do Colégio dos Cardeais: o Colégio dos Cardeais é 
presidido por um decano a quem compete, dentre outras 
coisas, convocar o conclave quando a Sé Apostólica esti-
Claretiano - Centro Universitário
41© Caderno de Referência de Conteúdo
ver vacante. Tradicionalmente a presidência deste colégio 
cabia ao Cardeal que tinha o título de Bispo da Diocese 
de Óstia e correspondia ao mais antigo dos Cardeais-Bis-
pos. Todavia, o cân. 353 §2 estabelece atualmente que o 
decano do referido Colégio deve ser eleito pelo grupo de 
Cardeais titulares de uma Igreja suburbicária, ou seja, de 
uma das Igrejas próximas a Roma. O nome do eleito deve 
ser levado ao Papa a quem compete aprovar o escolhido.
11) Decretais: as decretais em sua origem eram respostas 
que o Papa dava a organismos locais, particularmente 
a Bispos, a respeito de algum caso ou situação que tais 
organismos não podiam ou não queriam resolver. Nas 
decretais o Papa respondia ao problema apresentado, 
formulando uma norma que cabia aos organismos locais 
aplicar ao caso concreto. 
Inicialmente, como afirmamos, a resposta pontifícia e a 
regra por ela formulada valiam, apenas, para o autor da 
consulta e para o caso específico para o qual foram da-
das. Todavia, em pouco tempo, a autoridade do Bispo 
de Roma fez com que tais respostas passassem a ter um 
valor geral. Portanto, aos poucos, as decretais se trans-
formaram em um instrumento mediante o qual o Papa 
exercia o seu poder legislativo.
Convém observar que não havia uma terminologia uní-
voca para se referir a tais repostas dadas pelo Romano 
Pontífice, pois além do nome de decretais, também 
eram utilizados os termos: decretalis epistula, decretum, 
constitutio, responsio, decreta, etc.
Assim como aconteceu com os cânones dos concílios, as 
decretais chegaram a nós por intermédio das coleções 
canônicas. Tais coleções contribuíram para a sua difusão. 
Nunca é demais lembrar que o Corpus Iuris Canonici, de 
particular importância no estudo das fontes históricas 
do direito canônico é uma coleção jurídica composta por 
três coleções oficiais e três coleções não oficiais. As co-
leções oficiais são: as Decretais de Gregório IX, o Livro 
Sexto de Bonifácio VIII e as Clementinas. As coleções não 
oficiais são: o Decreto de Graciano, As Extravagantes de 
João XXII e as Extravagantes Comuns. 
© Direito Canônico I42
12) Dicastério: o Romano Pontífice, no exercício de suas 
funções, conta com a ajuda de uma estrutura conheci-
da pelo nome de Cúria Romana. Segundo a constituição 
apostólica Pastor bonus, a Cúria Romana é o conjunto 
dos dicastérios e dos organismos que ajudam o Romano 
Pontífice no exercício do seu ofício pastoral para o bem 
e o serviço da Igreja universal e das Igrejas particulares, 
exercício com o qual se reforçam a unidade da fé e a co-
munhão do povo de Deus e se promove a missão própria 
da Igreja no mundo (PB art. 1). Portanto, a palavra "di-
castério" é o nome tradicionalmente utilizado para se re-
ferir às instituições da Cúria Romana, embora o CIC atual 
as chame simplesmente de "organismos" (instituta). 
Os dicastérios são juridicamente paritários entre si e em 
relação aos outros organismos que compõem a Cúria Ro-
mana e, geralmente, são compostos por um Cardeal pre-
feito ou um Arcebispo presidente; por um determinado 
número de Cardeais e alguns Bispos, com a ajuda do Se-
cretário. Há, também,

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