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DIREITO CANÔNICO I CURSOS DE GRADUAÇÃO– EAD Direito Canônico I – Prof. Dr. Valdinei de Jesus Ribeiro Olá! Meu nome é Valdinei de Jesus Ribeiro. Nasci em Santos – SP, mas, atualmente, resido em Curitiba – PR. Sou graduado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (1986), graduado em Teologia pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, campus Pio XI (1991), especialista em Counseling (aconselhamento) pelas Faculdades Bagozzi de Curitiba – PR (2004), mestre e doutor em Utroque Iure (Direito Canônico e Direito Civil) pela Pontifícia Universidade Lateranense (Cidade do Vaticano – 1996-2000). Atualmente, leciono na Ação Educacional Claretiana (Studium Theologicum) em Curitiba – PR, no Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae em Ponta Grossa – PR, na Faculdade Vicentina (FAVI) em Curitiba – PR, na Escola Diaconal da Arquidiocese de Curitiba – PR e no curso de mestrado em Direito Canônico realizado na cidade de Londrina – PR (vinculado ao Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro). Atuo, também, no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Iª e IIª Instância de Curitiba – PR. Em minhas atividades acadêmicas, praticamente me ocupo de quase todas as disciplinas relacionadas com o direito canônico. e-mail: vjribeiro@brturbo.com.br Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação DIREITO CANÔNICO I Valdinei de Jesus Ribeiro Batatais Claretiano 2014 © Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP) Versão: dez./2014 343 R372d Ribeiro, Valdinei de Jesus Direito canônico I / Valdinei de Jesus Ribeiro – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 362 p. ISBN: 978-85-8377-223-1 1. Direito Canônico. 2. Justiça. 3. Condição humana. 4. Teologia. 5. Obrigações e direitos. 6. Órgãos do governo. 7. Organização da Igreja. 8. Vida sagrada. 9. Formação catequética. I. Direito canônico I. CDD 343 CDD 658.151 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 10 UnidAdE 1 – DIREITO CANÔNICO: QUESTÕES INTRODUTÓRIAS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 65 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 65 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 66 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 67 5 A EXPRESSÃO "DIREITO CANÔNICO" E A QUESTÃO TERMINOLÓGICA........ 68 6 DIREITO E A CONDIÇÃO HUMANA .................................................................. 72 7 DIREITO E JUSTIÇA ........................................................................................... 75 8 DIREITO E IGREJA ............................................................................................. 81 9 DIREITO CANÔNICO E TEOLOGIA .................................................................... 83 10 HISTÓRIA DAS FONTES DO DIREITO CANÔNICO ........................................... 89 11 CODIFICAÇÃO DO ATUAL DIREITO ECLESIAL.................................................. 94 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 102 13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 103 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 103 UnidAdE 2 – O POVO DE DEUS I 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 105 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 105 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 106 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 107 5 O LIVRO II DO CIC E ALGUNS ASPECTOS DE ORDEM ECLESIOLÓGICA ......... 108 6 A IGREJA COMO POVO DE DEUS E OS PRINCÍPIOS QUE REGEM SUA ORGANIZAÇÃO ................................................................................................. 116 7 A FIGURA DO FIEL E OS DIVERSOS ESTADOS DE VIDA NA IGREJA ............... 118 8 OBRiGAÇÕES E diREiTOS FUndAMEnTAiS dOS FiÉiS (CÂnn. 208-223) ...... 122 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 145 10 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 145 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 146 UnidAdE 3 – O POVO DE DEUS II 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 147 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 147 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 147 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 149 5 OBRiGAÇÕES E diREiTOS dOS FiÉiS LEiGOS (CÂnn. 224-231) ..................... 150 6 OBRiGAÇÕES E diREiTOS dOS FiÉiS CLÉRiGOS (CÂnn. 273-289) ................. 164 7 AS ASSOCIAÇÕES DE FIÉIS .............................................................................. 179 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................196 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 197 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 197 UnidAdE 4 – O GOVERnO dA iGREJA EM ÂMBiTO UniVERSAL 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 199 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 199 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 199 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 201 5 PREMISSAS ........................................................................................................ 201 6 A SACRA POTESTAS (POdER SAGRAdO, POTESTAdE SAGRAdA) .................. 203 7 O PRIMADO DO ROMANO PONTÍFICE E A COLEGIALIDADE EPISCOPAL ..... 207 8 ÓRGÃOS DE GOVERNO DA IGREJA UNIVERSAL ............................................. 209 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 229 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 229 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 229 UnidAdE 5 – O GOVERnO dA iGREJA EM ÂMBiTO PARTiCULAR 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 231 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 231 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 232 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 233 5 A IGREJA PARTICULAR ...................................................................................... 233 6 OS BiSPOS EM GERAL (CÂnn. 375-380) .......................................................... 243 7 OS BISPOS DIOCESANOS, COADJUTORES E AUXILIARES .............................. 250 8 A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS IGREJAS PARTICULARES ............................ 264 9 A PARÓQUIA ..................................................................................................... 271 10 PÁROCO, O ADMINISTRADOR PAROQUIAL E O VIGÁRIO PAROQUIAL ........ 274 11 OS CONSELHOS PAROQUIAIS .......................................................................... 277 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 278 13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 278 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 279 UnidAdE 6 – A VIDA CONSAGRADA NA IGREJA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 281 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 281 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 281 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 283 5 A VIDA CONSAGRADA ...................................................................................... 284 6 ECLESIALIDADE DA VIDA CONSAGRADA ........................................................ 286 7 A NORMATIVA COMUM A TODOS OS IVC ...................................................... 288 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 306 9 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 306 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 307 UnidAdE 7 – A FUNÇÃO DE ENSINAR DA IGREJA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 309 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 309 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 310 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 311 5 QUESTÕES PRELIMINARES .............................................................................. 312 6 PRinCÍPiOS FUndAMEnTAiS (CÂnn. 747-755) .............................................. 315 7 O MiniSTÉRiO dA PALAVRA EM GERAL (CÂnn. 756-761) ............................. 326 8 A PREGAÇÃO dA PALAVRA dE dEUS (CÂnn. 762-772) ................................. 329 9 A FORMAÇÃO CATEQUÉTiCA (CÂnn. 773-780) .............................................. 336 10 A AÇÃO MiSSiOnÁRiA dA iGREJA (CÂnn. 781-792) ...................................... 340 11 A EdUCAÇÃO CATÓLiCA (CÂnn. 793-821) ...................................................... 347 12 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 360 13 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 360 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 361 Claretiano - Centro Universitário EA D CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Compreensão dos fundamentos e da importância do direito na realidade humana e, sobretudo, eclesial. Estudo dos diversos aspectos e conteúdos da organização jurídica da Igreja. Aprofundamento da estrutura orgânica da Igreja, tendo como referência principal a visão eclesiológica do Concílio Vaticano II. Livros II e III do CIC: do Povo de Deus: dos fiéis, da constituição hierárquica da Igreja, da suprema autoridade da Igreja, das Igrejas particulares e das entidades que as congregam, dos institutos de vida consagrada e sociedades de vida apos- tólica. Do múnus de ensinar da Igreja. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Seja bem-vindo! A partir deste momento, você iniciará o es- tudo de Direito Canônico I, que compõem os Cursos de Graduação oferecido na modalidade EaD do Claretiano. Neste curso, você terá a oportunidade de conhecer, um pou- co mais de perto, o direito na e da Igreja. Você se encontrará pe- rante uma realidade muito ampla e complexa e, portanto, não será © Direito Canônico I10 possível tratar de tudo aqui. Sendo assim, achamos por bem prio- rizar uma série de temas de particular interesse e relevância que, porém, serão apresentados em uma espécie de visão panorâmica. Dessa forma, você irá se deparar com muitas informações que, de alguma forma, estão conexas com o dia a dia da vida eclesial. Caso deseje ir além, não faltarão indicações bibliográficas e outras refe- rências para lhe auxiliar em sua busca de conhecimento e de apro- fundamento dos temas propostos e, também, de outros. O conteúdo programático está dividido em sete unidades, que serão mais bem detalhadas em nosso Caderno deReferência de Conteúdo. Desejamos que se sinta motivado e desafiado para esse iti- nerário que agora iniciamos. Boa sorte! 2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. No entan- to, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial te- órico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cogniti- va, ética e responsabilidade social. Talvez você esteja em dúvida sobre a presença deste Cader-no de Referência de Conteúdo no curso pelo qual optou, pois, afi- nal de contas, se propôs a estudar teologia e não direito, não é verdade? Muitas vezes nos deparamos com alguma situação na qual o direito canônico se fez presente. Por exemplo: em uma ou outra ocasião lhe foi dito que era preciso observar esta ou aque- Claretiano - Centro Universitário 11© Caderno de Referência de Conteúdo la norma para realizar um determinado sacramento (o batismo, a Eucaristia, a confirmação e assim por diante), ou, então, para organizar o funcionamento desta ou daquela atividade pastoral em uma determinada comunidade, não é? Pois bem. Saiba que na humanidade, como também na Igreja, existe uma experiência jurídica tão antiga quanto ambas. Por isso, é importante se interar um pouco sobre ela, procurando esclarecer o seu fundamento e significado, contribuindo, assim, para aprimorá-la, pois o direito é uma realidade dinâmica. Outro aspecto a considerar é que no estudo do direito ca- nônico você logo perceberá que o ordenamento jurídico da Igre- ja possui profundas raízes teológicas e, portanto, da teologia ele depende, razão pela qual este caderno se encontra presente na grade curricular de um curso de teologia. Feitas essas considerações preliminares vamos, aos princi- pais tópicos que serão desenvolvidos nesta abordagem geral. Des- ta forma você já saberá, de antemão, o itinerário que iremos per- correr, ou seja, noção; terminologia; direito e Igreja; as fontes do direito canônico; temas relevantes. Noção As pessoas em geral não fazem a menor ideia do que vem a ser o direito canônico e, talvez, poucos tenham uma vaga imagem sobre o assunto. Por isso, como ponto de partida, vamos esclare- cer o significado da expressão "direito canônico". Esta expressão tem a ver com a experiência jurídica na Igreja católica. Trata-se, portanto, de um direito que vincula uma grande comunidade humana, pois a Igreja católica é formada por pesso- as de diversos povos e nações e de diversas tradições e culturas. Tais pessoas se encontram espalhadas pelo mundo inteiro, viven- do em diferentes comunidades políticas, conhecidas pelo nome de Estado, e muitas de suas relações são regidas tanto pelas leis civis quanto eclesiais. © Direito Canônico I12 Quando, portanto, falamos em "direito canônico" a primeira associação que normalmente se faz, e que é a mais usual, seria a seguinte: trata-se de um complexo de normas, propostas, elabora- das ou aprovadas pela competente autoridade eclesiástica, tendo por fim assegurar uma ordenada convivência entre os fiéis e dirigir suas atividades em direção às finalidades da Igreja. Tais normas, obviamente, regulam a vida dos católicos, como ocorre, por exem- plo, para o batismo de um filho, para se casar na Igreja, para se organizar as diversas atividades eclesiais em âmbito paroquial e diocesano, para se estruturar as diversas associações de fiéis, etc. Não obstante esta primeira associação que normalmente se faz, é preciso ter presente que, também, existem normas que regem a relação da Igreja católica (representada pelo Papa) com outras sociedades, particularmente com os Estados e com a comu- nidade internacional. Assim, o direito da Igreja católica acaba por ter uma dupla dimensão: uma interna (que regula a vida da Igreja católica em seu interior) e outra externa (que regula a relação da Igreja católica com os Estados e a comunidade internacional). Além desta compreensão do direito canônico em sua dupla dimensão (interna – ad intra e externa – ad extra) podemos, tam- bém, a ele nos referir em uma perspectiva bem mais profunda. Va- mos tentar, aqui, explicitá-la de modo que possa ampliar sua visão. A Igreja, enquanto Corpo de Cristo, encarna-se em um corpo social no qual existem carismas, funções e ministérios e, por meio dos quais, se estabelecem entre as pessoas relações que, também, são jurídicas, pois elas geram direitos e obrigações. Portanto, antes mesmo de falarmos de um complexo de normas, sejam elas inter- nas ou externas, é preciso perceber que existe uma estrutura que precede a atividade jurídica. Os elementos essenciais desta estru- tura (Igreja em sua dimensão institucional) derivam da Revelação e nela o elemento jurídico também se faz presente. Assim, esta realidade jurídica fundamental e constitutiva, anterior à norma ju- Claretiano - Centro Universitário 13© Caderno de Referência de Conteúdo rídica concreta, é o direito canônico em uma perspectiva mais es- sencial (seria o direito na Igreja e não somente o direito da Igreja). Inicialmente pode parecer um tanto difícil compreender isso, mas lembre-se, por ora, que antes mesmo da Igreja criar nor- mas para reger a própria vida e suas relações com os Estados (o direito da Igreja), ela possui uma estrutura fundamental, derivada da Revelação, que é anterior a toda e qualquer norma por ela pro- duzida e na qual já está presente uma dimensão jurídica (o direito na Igreja). Aqui teríamos, portanto, o direito na Igreja e, não, so- mente, o direito da Igreja. A existência de uma dimensão jurídica na estrutura essencial da Igreja é um tema de particular interesse para os estudiosos de uma disciplina chamada "teologia do direi- to". Cabe a eles explicitar teologicamente as razões da presença de uma experiência jurídica na vida da Igreja. É preciso esclarecer, ainda, antes de concluirmos este pri- meiro tópico, mais duas coisas, desta vez bem mais simples. Por "direito canônico" entendemos, também, a ciência que estuda a Igreja em sua dimensão jurídica (o direito na Igreja) e a experiência jurídica que nela se produz (o direito da Igreja). Em outras palavras, trata-se aqui de uma ciência que indaga sobre o direito na Igreja e sobre as normas que regem a vida da comunida- de eclesial, como, também, sobre as formas e funcionamento da organização eclesiástica. Por fim, por "direito canônico" se compreende, ainda, a dis- ciplina objeto de estudo e ensino nas instituições formativas da Igreja (universidades, faculdades, seminários, etc.), como é o caso deste curso que possui em sua grade uma disciplina chamada "di- reito canônico". Qual desses cinco significados é, enfim, o mais utilizado quando usamos a expressão "direito canônico"? Sem dúvida o pri- meiro: um complexo de normas que regem a vida dos fiéis. Por isso, neste Caderno de Referência de Conteúdo, você terá a opor- © Direito Canônico I14 tunidade de entrar em contato direto com a normativa da Igreja relativa a uma série de temas importantes e que, acreditamos, irá surpreendê-los positivamente. Uma vez que clarificado o significado da expressão "direito canônico", vamos, agora, dar um segundo passo. Você poderá se perguntar sobre o sentido etimológico destas duas palavras: "di- reito" e "canônico". Portanto, é o momento de esclarecer. Terminologia Em relação à terminologia esclareceremos o significado das duas palavras que compõem a expressão "direito canônico". Co- meçamos com a primeira: "direito". Aquilo que em português é denominado direito em outras línguas latinas corresponde a droit (francês), derecho (espanhol), diritto (italiano). Este termo traz a sua origem da palavra latina directum. To- davia, saiba que o nome mais antigo dado ao direito é o termo la- tino ius e não directum. Os romanos o utilizavam com uma variada gama de significados. Em seu significado originário e mais profundo o termo ius possuía uma conotação ética, pois se referia àquilo que é justo. Tratava-se, portanto, da ordem justa, da justa divisão das coisas do mundo, feita a partir de princípios de justiça distributiva e co- mutativa. Assim, em sua origem, o termo ius não se identificava simplesmente com lei, regra ou norma, pois a lei era apenas um instrumento para atuar a justiça. Aliás, é bom que você saiba que hoje o termo "lei", muito difuso e utilizado, sobretudo, pelos profissionais do direito, não ti- nha no latim dos romanos o significado que atualmente lhe é atri- buído. Para os antigoso termo "lei" indicava não apenas um ato normativo colocado por quem legisla, mas, também, as diversas regras de conduta que guiavam a vida das pessoas. Claretiano - Centro Universitário 15© Caderno de Referência de Conteúdo No latim medieval o termo directum (di-rectus) indicava o jurídico já entendido como um comportamento ou ação reta por- que realizava em conformidade com um comando dado por quem tinha autoridade (o imperador ou rei). Portanto, temos aqui uma mudança importante. No uso corrente e atual com a palavra direito se quer indicar o complexo de normas que coordena as atividades das pessoas de modo a garantir a ordem estabelecida e a certeza nas relações sociais. Para alguns tais normas seriam jurídicas apenas e tão so- mente porque são dotadas de uma autoridade derivada de um ato normativo. Este elemento (a autoridade do legislador) distinguiria as normas jurídicas daquelas morais. Como dissemos anteriormente, a palavra "direito" não pos- sui um significado unívoco. Se isso ocorre com a palavra, imagine, então, a abrangência da reflexão a respeito do que vem a ser o direito em sua essência e não apenas de como ele se apresenta (normas). Essa é uma discussão que cabe à filosofia do direito, mas algo sobre isso será visto ao longo do curso. Esclarecido o significado da palavra direito, passamos, agora, para o termo "canônico". Esta palavra, aplicada ao direito da Igreja, provém do grego kánon, e significa: regra, como, também, régua de carpinteiro, guia, catálogo, norma, critério para se medir, norma de fé. No início do cristianismo os kánones indicavam as regras que disciplinavam a vida eclesial em seus vários âmbitos, em oposição aos nómoi que correspondiam às leis que disciplinavam a vida civil dos povos organizados politicamente. Do concílio de Nicéia (325 d.C.) em diante os concílios da Igreja passaram a formular os seus cânones, entendendo com isso indicar as normas prescritivas (jurídicas) emanadas pela autori- dade eclesiástica competente para regular a vida da comunidade cristã, distinguindo-as, portanto, dos cânones da fé (princípios dogmáticos) e dos costumes (princípios da moral). © Direito Canônico I16 Foi somente a partir do século 8º que a expressão "direito canônico" passou a ser utilizada para se referir especificamente ao direito da Igreja. Mesmo assim, na história da Igreja, o seu direito recebeu outros nomes como, por exemplo, ius sacrum, ius decre- talium, ius pontificium e ius eclesiasticum. Embora a expressão "direito canônico", cujo significado já explicitamos, seja a mais usual, após o Concílio Vaticano II (1962- 1965) adquiriu grande força a expressão "direito eclesial", pois exprime a íntima conexão entre o elemento jurídico e o horizon- te eclesial no qual o jurídico encontra a sua adequada colocação. Hoje é possível falar indistintamente de direito canônico ou de di- reito eclesial para se referir ao direito da Igreja, pois na prática essas expressões se equivalem. Dessa maneira, a expressão "direito eclesiástico" adquiriu na linguagem jurídica atual um significado diferente da expressão "direi- to canônico". Por "direito eclesiástico" passou-se a entender aquelas normas colocadas pelo legislador estatal para disciplinar o fenômeno religioso e, particularmente, as confissões religiosas. Assim, a expres- são "direito eclesiástico" atualmente significa uma parte do direito estatal que se ocupa de tais normas, como, também, a ciência que as coloca como objeto de estudo. Portanto, não convém utilizá-la para se referir ao direito da Igreja. Quando for se referir ao direito da Igreja, utilize a expressão "direito canônico" ou, então, "direito eclesial". Após termos nos ocupado da noção e da terminologia, con- vidamos você para mais um passo adiante. Neste terceiro tópico veremos a relação que há entre direito e Igreja. Direito e Igreja Este tópico toca em uma questão muito antiga e atual: por qual motivo o direito se faz presente na Igreja? Porque a Igreja possui um direito? Não resta dúvida que o fenômeno jurídico por ser uma reali- dade humana e, portanto, universal também se faz presente na Igre- Claretiano - Centro Universitário 17© Caderno de Referência de Conteúdo ja. Contudo, não podemos deixar de nos interrogar sobre a presença do direito na Igreja. Tal pergunta é pertinente porque alguns, ainda hoje, são da opinião de que a Igreja, enquanto realidade espiritual, sacramental e carismática, transcende a dimensão espaço-temporal e possui finalidades essencialmente voltadas para a salvação das pessoas. Sua preocupação teria, então, como foco apenas e tão so- mente a consciência dos indivíduos. Se assim o fosse, não faria mui- to sentido afirmar que a Igreja precisa do direito, pois este se ocupa da secularidade, da sociabilidade, das relações externas, do homem que vive na história. O que dizer disso, então? Ao longo dos séculos muitos movimentos e correntes de pensamento no interior da Igreja colocaram em "xeque" o seu ca- ráter jurídico e, portanto, o direito canônico. Basta lembrar o gnos- ticismo dos primeiros séculos, os movimentos espirituais da Idade Média, a reforma protestante e os fenômenos de contestação nos anos sucessivos ao Concílio Vaticano II. No fundo, os que são con- trários a um direito na Igreja têm em comum o fato de compreen- dê-la como uma realidade apenas carismática e espiritual na qual a única lei possível seria o Evangelho. A oposição entre direito e Igreja baseia-se em uma visão re- ducionista da própria Igreja. A Tradição e o Magistério sempre in- sistiram na ideia de que a Igreja é, ao mesmo tempo, uma realida- de visível e invisível, espiritual e social, carismática e institucional, sacramental e jurídica. Não resta a menor dúvida de que a Igreja entendida enquan- to comunidade daqueles que já partiram deste mundo e que, por- tanto, se encontram fora do tempo e da história, não precisa de um direito e nem vive juridicamente. De fato, a Igreja dos santos, dos mártires e de todos os que morreram e se encontram na gra- ça de Deus não precisa de direito algum. Todavia, a Igreja que se encontra neste mundo, no espaço e no tempo, entendida como comunidade de pessoas de "carne e osso" que na história procura viver o Evangelho, esta sim, vive juridicamente e do direito precisa. © Direito Canônico I18 Temos que reconhecer que embora o direito canônico tenha como fim último a salvação das pessoas é evidente que não pode por si só assegurá-la e nem possui tal pretensão. Contudo, também é verdade que ordenando, segundo a justiça, a vida da comunidade eclesial e as relações que são estabelecidas em seu interior, favorece a realização dos fins da Igreja, dentre os quais a salvação das pessoas. Todavia, é preciso reconhecer que a dimensão humana e histórica da Igreja não esgota a sua realidade que é muito mais articulada e complexa. Se fôssemos usar uma imagem, a dimensão humana e histórica da Igreja seria como a ponta de um iceberg, pois representa uma pequena parte (visível) de algo muito maior (invisível). Mas não há como deixar de reconhecer que esta dimen- são visível não é de tudo diferente das outras formas de agregação humana na qual o direito se faz presente. É certo que a Igreja organizada como povo de Deus se apre- senta no contexto dos grupos sociais humanos como um fenôme- no único e peculiar: pela sua natureza, pela sua estrutura, pela sua finalidade. Mas, também é certo, que do ponto de vista sócio-ju- rídico é muito semelhante às outras formas de associações huma- nas. Assim, se é natural que cada grupo social humano se organize e, portanto, se dê um complexo de normas jurídicas, é, também, natural que a Igreja, que vive no tempo e na história (aplicação do princípio da Encarnação), enquanto grupo humano organizado, produza direito e viva segundo o direito. Por fim, convém destacar que o que dissemos até aqui é con- firmado pela própria história, pois a Igreja, desde as suas origens, se apresentou como uma realidadeorganizada e dotada de um sistema normativo finalizado a disciplinar a sua vida interna. No início era ape- nas uma "semente" e nos dias de hoje se tornou uma "grande árvore". As fontes do direito canônico Como você pode notar, a Igreja desde suas origens se apre- sentou como uma realidade organizada e dotada de um sistema Claretiano - Centro Universitário 19© Caderno de Referência de Conteúdo normativo e, portanto, de um direito, finalizado a disciplinar a sua vida interna. Chegou o momento de nos ocuparmos das fontes deste direto. O estudo do direito canônico pressupõe e exige um constan- te contato com as suas fontes, termo com o qual podemos indicar realidades diversas: fontes de produção, fontes de conhecimento e fontes históricas. Fontes de produção A expressão "fontes de produção" possui um duplo significa- do. Indica tanto os órgãos e os procedimentos mediante os quais são produzidas as normas canônicas (legislador individual, legisla- dor coletivo, a comunidade), quanto às "formas" que tais normas assumem (lei, costume, decreto, etc.). Para uma adequada compreensão destas fontes precisamos destacar e esclarecer, de antemão, a peculiaridade fundamental do ordenamento jurídico da Igreja. Esta é uma instituição de origem sobrenatural e com finalidades sobrenaturais. Sendo assim, o seu ordenamento jurídico está fundado e radicado em uma realidade conhecida pelo nome de "direito divino". Tal realidade vincula pro- fundamente toda a produção jurídica realizada pelos competentes órgãos eclesiais, pois dela não pode se afastar o direito positivo produzido na Igreja. Mas o que seria, então, este direito divino? Por direito divino entendemos um complexo de normas que não foram simplesmente colocadas pelo legislador eclesiástico, isto é, por uma autoridade meramente humana, embora caiba a essa fazê-lo valer. Tais normas são divididas em dois grupos: o di- reito divino natural (ou simplesmente direito natural) e o direito divino positivo (ou simplesmente direito revelado). O direito natural consiste em um conjunto de princípios que não se encontram escritos e nem foram objeto de uma explícita reve- lação de Deus na história, mas foram impressos por Deus na consci- ência do homem, possuindo, portanto, um valor universal. Trata-se de © Direito Canônico I20 um direito meta-positivo, no sentido que subsiste antes da vontade de qualquer legislador positivo; possui um valor intrínseco; é superior a qualquer ordenamento positivo, no sentido de ser um modelo pe- rante o qual todo e qualquer ordenamento deve se conformar. A sua obrigatoriedade deriva de sua origem divina e não humana. Enquanto tal o direito natural vincula não apenas a sociedade civil, mas, também, a sociedade eclesial. Embora a Igreja seja uma sociedade peculiar pela sua origem, meios e fins, é formada de pesso- as e, portanto, não pode ignorar as regras naturais de toda formação social. É sempre bom lembrar que, à luz do mistério da Encarnação, a Igreja é chamada a se encarnar em um organismo social e, portanto, não pode se subtrair às normas que visam guiar a vida do corpo social. Ao direito natural certamente podemos vincular os direitos humanos, isto é, tudo o que é reconhecido como devido ao ho- mem pelo fato de possuir uma dignidade própria enquanto pessoa humana. Sendo assim, os direitos humanos também se fazem pre- sente e vinculam o ordenamento da Igreja. O direito revelado é constituído pelas normas que vieram até nós por Revelação divina e não pela natureza das coisas. A elas chegamos ao contato com a Sagrada Escritura e com a Tradição da Igreja constituída pelo ensinamento dos apóstolos e seus sucesso- res: o Papa e os Bispos. Entre o direito natural e o direito revelado pode ou não haver um nexo. Por exemplo, o direito à vida se baseia tanto no fato do homem possuir uma dignidade que deriva do fato de ser pessoa humana, quanto no fato de ser imagem e semelhança de Deus e, em Cristo, filho adotivo de Deus. Por outro lado o governo da Igre- ja difere sensivelmente do direito civil, pois se estrutura a partir de uma vontade divina que nos deixou o Romano Pontífice como sucessor de Pedro e os Bispos como sucessores dos Apóstolos. O direito divino revelado contém uma série de princípios que estão intimamente e estruturalmente conexos com a Igreja, enquan- to uma entidade fundada por Jesus Cristo, o qual deu a ela especí- Claretiano - Centro Universitário 21© Caderno de Referência de Conteúdo ficas finalidades, meios para realizá-las e regras de governo, como, também, critérios básicos de pertença. Tais princípios constituem o núcleo essencial e irreformável da constituição da Igreja: essencial porque determina sua estrutura e funcionamento; irreformável por- que definido por Deus e, portanto, não passível de qualquer mudan- ça por parte de qualquer autoridade humana, mesmo eclesiástica. É importante destacar uma nota da Igreja que certamente está em conexão com o fato de ser uma realidade institucional di- vina. A Igreja, de fato, não se enquadra nas duas grandes confi- gurações que a doutrina jurídica reconduz as pessoas morais: as associações e as fundações. A Igreja participa das duas realidades, sem, contudo, ser uma ou outra. Participa da figura da associação porque sociologicamente é constituída por um grupo organizado de pessoas, mas, diferente- mente do que ocorre com as associações, a sua existência, a sua finalidade, os meios para realizá-la, as condições para dela se fazer parte, as regras de sua organização, não são determinadas pela vontade constitutiva dos associados contemplada nos estatutos, como ocorre com as associações em geral. Participa, também, da figura da fundação porque é um ente que tem finalidades e meios determinados pela vontade de um fundador, mas é caracterizada por uma base pessoal e não patri- monial. Sendo assim a Igreja, desde um ponto de vista jurídico, poderia ser vista como uma "associação institucionalizada". Embora tenhamos afirmado que o direito divino é imodifi- cável, isto não significa que não possa ser objeto de um contínuo aprofundamento no devir histórico da Igreja. Como nos recorda o Catecismo da Igreja católica, mesmo que a Revelação esteja com- pletada, caberá à fé cristã colher gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos (CIC 66). Problema fundamental para a ciência do direito canônico diz respeito à modalidade com a qual o direito divino (natural e reve- lado) se torna vigente no ordenamento positivo canônico. © Direito Canônico I22 No passado, sob a influência de concepções positivistas do direito, se sustentou que os princípios e as disposições do direito divino entrariam no ordenamento jurídico positivo mediante um ato de vontade do legislador eclesiástico. Esta forma de pensar o direito divino não possui fundamento algum, pois o direito divino (natural ou revelado) vige enquanto tal, independentemente de qualquer vontade do legislador humano. O problema da dinâmica entre direito divino e humano deve ser enquadrado e resolvido não em termos de duas ordens jurídicas distintas, mas em termos de explicitação dos princípios de direito divino sob o plano do di- reito meramente humano. Como dito, o direito humano está su- bordinado ao direito divino que possui uma superioridade axioló- gica em relação a este último. Esclarecida a questão do direito divino temos, também, na Igreja o direito humano ou eclesiástico, isto é, o direito posto pelos sujeitos que na Igreja possuem autoridade para isso. Enquanto co- locado por uma autoridade humana este direito é historicamente contingente e mutável, pois decorre de escolhas concretas feitas pelo legislador no devir histórico da Igreja. Trata-se de um direito não perfeito, mas sempre perfectível, que, contudo, se encontra necessariamente vinculado ao respeito absoluto pelo direito natu- ral e revelado. Caso entrasse em contradição com o direito divino, perderia sua legitimidade e não seria observável. Vista a relaçãoentre direito divino e direito humano, pode- mos, agora, elencar as principais fontes de produção do direito ca- nônico. Uma posição de absoluta preeminência é ocupada pela LEI. Esta pode ser classificada a partir de critérios diversos: • Por autor: pontifícias, conciliares, episcopais, capitulares; • Por tipologia: universais/particulares; gerais/especiais; territoriais/pessoais. À lei se acrescenta, como fonte de produção, o "Costume", que também é direito objetivo, embora não escrito, o qual é gera- Claretiano - Centro Universitário 23© Caderno de Referência de Conteúdo do por uma determinada comunidade organizada que assume um comportamento reforçado pela convicção geral de sua juridicidade e necessidade. De particular interesse, entre as fontes canônicas, temos, ainda, a "Jurisprudência", ou seja, as sentenças pronunciadas pelos competentes órgãos judiciais da Igreja. Convém esclarecer, logo de início, que embora no ordenamento canônico o juiz seja chamado apenas a aplicar a lei, não podendo, portanto, criar no- vas normas, todavia, ele opera no âmbito de um ordenamento que não é fechado, mas aberto ao direito natural e revelado, cujos pre- ceitos também são "direito", mesmo se estão formalizados pelo legislador eclesiástico. Por isso, o juiz eclesiástico não está vincula- do unicamente ao direito formalmente produzido pelo legislador eclesiástico, mas está obrigado a aplicar no próprio juízo o direito divino seja em si mesmo, seja como critério de interpretação das normas positivas que irá usar. Isso poderá levá-lo, inclusive, a não aplicar uma norma de direito positivo lá onde esta se afaste, no caso concreto, da justiça. Seria o caso, por exemplo, da eqüidade canônica que é um instituto de correção da lei quando em circuns- tâncias concretas a sua aplicação possa produzir injustiça ao invés de justiça, contrastando com a caridade e com as exigências espi- rituais próprias do ordenamento canônico. É evidente que neste contexto bem determinado a jurispru- dência, isto é, uma orientação já assumida no passado por vários juízes (em geral dos tribunais pontifícios), ao interpretar e aplicar a lei canônica aos casos concretos, adquire certa relevância normati- va. E desde este ponto de vista o direito eclesial se aproxima muito daquele de orientação anglo-saxão. Por fim a "Doutrina", quando se torna parecer comum e constante dos juristas, pode assumir o caráter de fonte normativa subsidiária (cân. 19). De fato, caso haja alguma lacuna no ordena- mento, isto é, quando o legislador não previu e disciplinou uma determinada fattispecie, o parecer constante e comum dos cano- © Direito Canônico I24 nistas, juntamente com a analogia, os princípios gerais do direito, a jurisprudência dos Tribunais e a práxis da Cúria Romana, pode constituir critério para decidir uma causa, desde que não se trate de um processo penal. Fontes de conhecimento Com a expressão "fontes de conhecimento" se quer indicar aquelas coleções e documentos nos quais está contida a normativa canônica. As principais fontes de conhecimento do direito vigente na Igreja católica em sua dimensão universal são: o CIC (1983), a Pastor Bonus (1980) e o CCEO (1990) que, em seu conjunto, for- mam o novo Corpus Iuris Canonici. Fontes históricas Por "fontes históricas" entendemos aquelas coleções nas quais encontramos as normas canônicas produzidas ao longo da história da Igreja, mas que atualmente não estão mais em vigor. De todas elas a mais importante é, sem dúvida, o Corpus Iuris Canoni- ci (veremos em seguida o que é) e o CIC de 1917. Convém recordar que no direito canônico as leis não mais vigentes adquirem uma relevância particular, diferentemente do que acontece nos orde- namentos seculares. Isso porque não é incomum para interpretar corretamente uma disposição atual recorrer às razões originárias, às modificações que esta sofreu ao longo do tempo, ao modo como foi interpretada e aplicada na vida da Igreja. Por isso, as co- leções jurisprudenciais e doutrinais do passado podem ajudar na interpretação e aplicação do direito vigente, não se reduzindo a uma peça de museu. Portanto, faremos um breve resumo da his- tórica das fontes do direito canônico. Breve resumo da história das fontes Normalmente a experiência jurídica da Igreja é dividida pe- los autores em quatro grandes períodos históricos: Claretiano - Centro Universitário 25© Caderno de Referência de Conteúdo 1) primeiro milênio (período pré-Graciano); 2) período clássico (do século 12 ao 15); 3) período moderno (do século 16 ao 19); 4) período contemporâneo (do século 20 aos nossos dias). Vejamos resumidamente cada período, destacando alguns aspectos de particular relevância. Primeiro milênio É chamado de pré-Graciano porque anterior a uma obra que na história do direito canônico foi uma espécie de divisor de águas: o decreto de Graciano (século 12). Nos primeiros três séculos, ou seja, das origens da Igreja ao edito de Constantino (313 d.C), que fez cessar as perseguições con- tra a Igreja e reconheceu o cristianismo como uma religião lícita no império romano, as bases fundamentais do direito canônico são constituídas pelo direito divino contido nas Sagradas Escrituras, particularmente os Evangelhos e demais escritos do Novo Testa- mento. Encontramos, ainda, outras fontes presentes na literatura cristã antiga como é o caso dos escritos dos padres apostólicos (Barnabé, carta de São Clemente Romano aos Coríntios (95 d.C), Inácio, Policarpo e o pastor de Hermas – 140-150 d.C) e dos padres da Igreja (do século 2º ao 7º) como é o caso de Ambrósio, Agosti- nho, Jerônimo e outros. Neste período começa a se constituir uma importantíssima fonte de conhecimento do direito divino que é dada pela Tradição, isto é, pelo ensinamento dos Apóstolos e de seus sucessores que propiciam um aprofundamento dos conteú- dos da fé cristã e de seus princípios morais. Neste primeiro milênio é possível observar que o direito das primeiras comunidades cristãs era essencial, pouco normativo, devedor, em grande parte, do direito hebraico devido ao vínculo inicial entre judaísmo e cristianismo. Com a expansão do cristia- nismo no Ocidente e devido a um contato cada vez maior com o mundo romano, o direito canônico das origens começou a adquirir elementos jurídicos extraídos da experiência romana. © Direito Canônico I26 A estruturação da Igreja em Igrejas particulares territorial- mente individuadas levou à constituição dos primeiros núcleos de uma legislação local realizada pelos Bispos que conferia a cada co- munidade um rosto particular, sem, contudo, ferir a unidade entre elas. Portanto, inicialmente temos na Igreja uma legislação episco- pal e não pontifícia. As primeiras obras que nos permitem reconstruir a disciplina da Igreja na idade apostólica são: • para o Oriente: a Didaché ou Doutrina dos doze apóstolos (século 2º). Temos, ainda, a Didascalia, composta na se- gunda metade do século 3º provavelmente na Síria; • para o Ocidente: a Traditio Apostolica de Santo Hipólito, escrita em Roma por volta do ano 218. Estas obras se tor- naram a referência ou modelo para outras que surgiram depois. Todas elas, porém, possuem duas características comuns: a não distinção entre normas jurídicas e normas morais e a atenção dispensada ao culto e aos sacramentos. Com o edito de Teodósio (380 d.C), que tornou o cristianismo a religião oficial do império romano, observa-se o início de uma importante experiência conciliar necessária para enfrentar as no- vas exigências das comunidades cristãs que aumentaram conside- ravelmente, tanto em relação ao território quanto ao número de pessoas. Os Concílios são reuniões de Bispos de uma determinada região ou, então, de toda a Igreja (chamados Ecumênicos), para tratar de questões doutrinais e disciplinares de maior relevância. Nos Concílios é que foi fixado o "Credo", como, também, normas jurídicas (receberam o nome de "cânones") destinadas a regular,juntamente com o direito divino, a vida da Igreja. Surgem, então, as primeiras coleções de decisões conciliares. Entre as mais importantes, também pela influência que teve no tempo, desta- ca-se uma coleção encomendada pelo Papa Adriano a Dionísio e que foi redigida entre o final do século 5º e as primeiras décadas do século 6º. Inicialmente recebeu o nome de Codex canonum ou Claretiano - Centro Universitário 27© Caderno de Referência de Conteúdo Corpus canonum. Mais tarde, já na época carolíngia (século 8º), a obra ficou conhecida pelo nome de Collectio Dionisio-Adriana. Quanto ao conteúdo esta coleção recolhe as decisões conciliares e as decretais dos romanos pontífices. Isso é muito importante para o estudo das instituições porque nos revela a existência do exer- cício do primado do Papa sobre toda a Igreja e que não se tratava simplesmente de um título honorífico, mas, também, de uma re- alidade jurídica, pois as decretais eram procedimentos de caráter administrativo ou normativo mediante os quais o Papa intervinha na vida das Igrejas locais. Portanto a Collectio Dionisio-Adriana nos dá um primeiro testemunho do desenvolvimento do papel do Papa no governo da Igreja universal. A partir do século 7º ativa-se o processo de separação e dis- tinção entre a Igreja do Oriente e do Ocidente que marcará e con- dicionará profundamente a vida jurídica de uma e de outra, mas sobre isso não nos ocuparemos aqui. O desenvolvimento do direito canônico no Ocidente conhe- ceu nos últimos séculos do primeiro milênio, algumas experiências interessantes, como é o caso, por exemplo, dos Canones poeniten- tiales apostolorum, que surgiu na Irlanda e na Inglaterra entre o final do século 6º e o início do século 7º, espalhando-se, em se- guida, por toda a Europa Ocidental. Mesmo não existindo nestes textos uma nítida distinção entre moral e direito, entre pecado e delito, tal experiência constitui um momento importante para a formação do direito penal moderno, tanto canônico quanto civil, pois introduziu sistemas classificatórios dos pecados e crimes, se- gundo o critério da gravidade, com uma conseqüente graduação nas penas. O período clássico (século 12 ao 16) O período clássico inicia-se por volta da metade do século 12 graças à contribuição dada pelo Decretum de Graciano (1140 d.C) à ciência e à prática do direito. Graciano era um monge professor © Direito Canônico I28 na Universidade de Bolonha. Por motivos didáticos recolheu uma multiplicidade de fontes canônicas, frequentemente contrastantes entre si, e tentou oferecer uma interpretação coerente que pos- sibilitasse a superação das contradições encontradas nos textos. Por esse motivo sua obra foi chamada de Concordia discordantium canonum. Embora fosse uma compilação privada e destinada ao estudo e ambiente acadêmico, teve um enorme sucesso a ponto de se tornar, juntamente com algumas coleções oficiais, parte do Corpus Iuris Canonici, isto é, daquela grande compilação dos tex- tos normativos da Igreja que adquiriu o caráter de fonte oficial do direito da Igreja até o advento do Código de 1917. Além do Decretum o Corpus Iuris Canonici era composto por mais três coleções oficiais e duas privadas. Tal título foi dado pelo Papa Gregório XIII (1580). 1) Decretais de Gregório IX (1234), também chamada de Liber Extra: contém uma coleção das decretais dos Papas agru- padas em cinco livros e foi organizada por São Raimundo de Penhafort a pedido do Papa Gregório IX. É uma coleção autêntica, publicada aos 05 de novembro de 1234. 2) Liber Sextus de Bonifácio VIII (1298): é a coleção de leis posteriores às Decretais de Gregório IX, também agrupa- das em cinco livros. É uma coleção autêntica publicada aos 03 de março de 1298. 3) Clementinae ou Constituições Clementinas: que contém as decretais de Clemente V. Foi publicada pelo Papa por João XXII aos 25 novembro de1327. 4) Extravagantes Ioannis XXII: recebeu este nome por não se encontrar em nenhuma das coleções anteriores. É uma coleção privada que contém 20 decretais do Papa João XXII (1316-1334). 5) Extravagantes communes: é formada pelas decretais de vários papas até 1498, não incluídas as coleções anterio- res. É uma coleção privada. Todas as coleções acima mencionadas foram objeto de glo- sas, isto é, anotações feitas na margem do texto por parte da dou- Claretiano - Centro Universitário 29© Caderno de Referência de Conteúdo trina jurídica. O nascimento e o enorme desenvolvimento das uni- versidades na idade média (a universidade de Bolonha conhecida por seus estudos jurídicos nasceu por volta do ano 1088) favorece- ram o desenvolvimento da ciência jurídica em geral e dos estudos do direito canônico em particular. Surgiu, então, uma importante literatura jurídica: a dos "decretistas", isto é, dos comentadores do Decreto de Graciano, e a dos "decretalistas", isto é, dos comenta- dores das decretais dos Papas. Acrescente-se a isso, em âmbito civil, os comentadores ou glosadores dos textos recuperados do direito romano. Outro aspecto que merece destaque é que o direito de ori- gem pontifícia vigente para toda a Igreja adquire cada vez mais força e observa-se uma progressiva restrição do direito episcopal (aquele produzido pelos bispos diocesanos e concílios provinciais). Aos poucos se afirma aquela categoria que mais tarde passou a ser chamada de causae maiores, isto é, as questões que acabam sendo reservadas exclusivamente ao Papa. A última parte deste período clássico foi caracterizada pelas contribuições oferecidas pelo Concílio de Trento (1545-1565) no contexto da Reforma Protestante. O Concílio foi convocado para responder a uma série de problemas de ordem doutrinal e discipli- nar que surgiram na Igreja do Ocidente com o movimento realizado por Martinho Lutero (1517). Na verdade o Concílio quis responder à Reforma Protestante com a Reforma Católica (recebeu o nome de Contra-Reforma), adotando uma série de medidas de caráter dou- trinal e disciplinar e, portanto, jurídico, destinadas a marcar a vida da Igreja desde aquela época até os nossos dias. Particularmente o Concílio emanou uma série de decretos, isto é, medidas de caráter normativo, que se juntaram ao Corpus Iuris Canonici já existente e que tinham por finalidade reformar a vida da Igreja. A tais decisões se juntaram posteriormente os atos dos Pontífices recolhidos em ordem cronológica (recebeu o nome de Bullarii) como, também, as disposições administrativas emanadas pela Cúria Romana e aquelas judiciais emanadas pelos tribunais pontifícios © Direito Canônico I30 O período moderno (século 17-19) No período moderno destacamos, sobretudo, os séculos 16 a 18 no qual se consolida a experiência de centralização romana. Desta forma o direito canônico, entendido como um sistema de normas, torna-se, na prática, um direito pontifício, ou seja, pro- duzido pelo Papa e válido para toda a Igreja. Ao mesmo tempo observa-se que no plano organizativo as decisões começam a pas- sar necessariamente por Roma, limitando-se, desta forma, a au- tonomia legislativa e administrativa das Igrejas locais, fenômeno este já iniciado no período anterior. Ambos os fenômenos respondem a uma lógica bem precisa que é aquela de defender a unidade da Igreja dos perigos que poderiam ameaçá-la tanto internamente (a Reforma Protestante) quanto exter- namente (o Estado soberano que pretende se colocar acima da Igreja). Contra a política e a legislação eclesiástica criadas pelos Esta- dos para controlar a Igreja, conhecida pelo nome de "jurisdicionalis- mo", os canonistas se posicionam defendendo a liberdade da Igreja e a não sujeição desta ao poder político. Afirmam, pelo contrário, a sua independência, pois, tal como o Estado, a Igreja seria uma socie- dade juridicamente perfeita. Desenvolve-se, assim, uma nova área na ciência jurídica canônica denominada de direito público eclesiás- tico externo (ius publicum ecclesiasticum externum). Nela, partindo- -se da premissa de queo Estado e a Igreja são, cada um em seu pró- prio âmbito (temporal e espiritual), uma sociedade juridicamente perfeita, chega-se à conclusão de que ambos são independentes. Isso trouxe como consequência a convicção de que as relações entre ambos devem se construir sobre uma base que é paritária e não de subordinação tal como se verifica nos dias de hoje. A situação de conflito e, posteriormente, de separação entre Igreja e Estado historicamente se reflete no direito canônico por meio de uma progressiva separação deste do direito civil, sobre- tudo, a partir da revolução francesa no século 18. Assim, o direito canônico perdeu a sustentação que tinha do direito secular e deve Claretiano - Centro Universitário 31© Caderno de Referência de Conteúdo que caminhar por si. Neste novo desafio o legislador canônico op- tou por trilhar o caminho da codificação, já desejada pelo Concílio Vaticano I (1869-1870), querida pelo Papa Pio X (1903-1914) e pro- mulgada pelo Papa Bento XV (1914-1922). Portanto, o advento do CIC de 1917 é, ao mesmo tempo, efeito e sinal do fim da solidarie- dade entre direito eclesial e direito estatal. Vejamos melhor isso! Com o fim da cristandade, nos modernos estados absolutis- tas que se mantiveram católicos, o direito canônico tinha se desen- volvido em uma espécie de simbiose com o direito estatal. Ape- sar do "jurisdicionalismo" os estados confessionais, não obstante tudo, reconheceram, protegeram e apoiaram o direito canônico. Com a revolução francesa, o fim do ancien régime e o advento do Estado liberal, separatista e laico (às vezes até laicista) o direito canônico passou a ser marginalizado. Não havendo mais uma rela- ção de solidariedade entre direito canônico e direito secular, o pri- meiro tornou-se inaplicável e inexigível dentro do ordenamento do Estado. Os efeitos eram graves, pois cessando o vínculo de união entre direito secular e direito canônico inegavelmente a Igreja per- dia sua influência sobre a sociedade e, além disso, o direito secular tornava menos eficiente o direito canônico na própria Igreja. Neste contexto a codificação do direito da Igreja significou uma espécie de revisão e reformulação do direito canônico, par- tindo-se, agora, de outra premissa: a não colaboração do direito secular. Não foi por acaso que o pontificado de Pio X marcou o momento do máximo isolamento da Santa Sé nas relações inter- nacionais e de uma acentuada restrição das relações diplomáticas. A ideia de um codex exprimia, portanto, a ideia de um direi- to canônico que agora estaria todo ele voltado para a sociedade eclesial e toda a sua força se verificaria no âmbito interno desta mesma sociedade. O período contemporâneo (do século 20 aos nossos dias) O momento central e dominante deste último período da história das fontes do direito canônico é, sem dúvida, o Concílio © Direito Canônico I32 Vaticano II, querido por João XXIII (1958-1963), juntamente com a revisão do CIC de 1917. Não resta a menor dúvida de que o Con- cílio deu um grande impulso para a renovação da Igreja, também em seu direito. A intenção de proceder a revisão do CIC de 1917 foi mani- festada por João XXIII aos 25 de janeiro de 1959 em uma reunião com os Cardeais realizada na basílica de São Paulo fora dos mu- ros. Todavia, no momento do anúncio não estava ainda previsto o âmbito e os limites de um trabalho do gênero. Imaginava-se que ocorreriam mudanças setoriais e muito pontuais e não uma rees- truturação completa do direito, pois o Papa havia falado apenas em revisão. Quando, então, a comissão encarregada dos trabalhos concluiu a primeira sessão plenária aos 12 de novembro de 1963 o Concílio já havia iniciado. Por isso, os Cardeais resolveram que os trabalhos fossem suspensos até a conclusão do Concílio, porque não seria sensato seguir os trabalhos durante o em andamento de um Concílio Ecumênico. O fato é que uma das características imediatamente obser- vável do CIC de 1983 é aquela de ser em muitos aspectos profun- damente diferente do CIC de 1917. Trata-se não apenas de uma diversidade formal (possui uma nova estrutura), mas, sobretudo, substancial (em relação às normas que o integram). Se fôssemos efetuar uma comparação é perfeitamente verificável que o CIC de 1917 em relação ao Corpus Iuris Canonici a ele anterior não apresentou grandes novidades, pois simplesmente ordenou e sis- tematizou toda uma normativa anteriormente existente (período clássico e moderno, sobretudo Trento e o Vaticano I) dando a ela a estrutura de um Código. Já o CIC de 1983, ao contrário, teve que efetuar uma harmonização entre o direito vigente e os princípios do Concílio Vaticano II, adequando o primeiro ao segundo. O esforço de harmonização do direito canônico com os prin- cípios conciliares produziu, dentre outras coisas, uma notável acen- tuação das distinções e das particularidades do CIC em relação às modernas codificações civis. Se no CIC de 1917 os codificadores apro- Claretiano - Centro Universitário 33© Caderno de Referência de Conteúdo ximaram o direito canônico do direito civil no que tange à estrutura e a determinados conceitos, justamente para marcar a separação entre teologia e direito e, sobretudo, para aproximar o direito canônico dos direitos seculares, com o CIC de 1983 se verifica justamente o movi- mento contrário. Harmonizar o CIC de 1983 com o Concílio Vaticano II significou, logo de início, levar em conta as linhas diretivas aprovadas pelo sínodo dos Bispos de 1967, contendo dez princípios norteadores da reforma do qual não nos ocuparemos aqui. É necessário, também, lembrar que a Igreja católica é uma comunhão de Igrejas e abarca, portanto, duas grandes Tradições: o Oriente e o Ocidente. Cada tradição produziu um direito pró- prio. Por isso, atualmente, quando nos referimos às fontes atuais do direito da Igreja não podemos de forma alguma deixar de fazer menção ao CCEO que rege a vida das Igrejas orientais católicas, promulgado pelo Papa João Paulo II em 1990. Este direito possui uma longa história, mas dela não nos ocupamos devido ao tempo que dispomos. Assim nos dias de hoje a história das fontes de co- nhecimento do direito canônico nos coloca diante de três grandes codificações que formam o novo Corpus Iuris Canonici: o CIC de 1983, a Pastor Bonus (1988) e o CCEO de 1990. Convém ter presente que o código latino (CIC), digo isso por- que temos, também, o Código das Igrejas Orientais (CCEO), pode ser definido como um "corpus", ou seja, um "corpo de leis" distribuídas de maneira sistemática em um código. Contudo, tal sistemática não tem a ver com aquela adotada nos códigos civis, pois, simplesmen- te, se parte da compreensão daquilo que a Igreja é e de sua missão, e não daquilo que sociedade é e de como se organiza. As leis contidas no Código chamam-se cânones. A caracterís- tica fundamental do CIC é a de constituir um corpo orgânico com valor normativo, vinculando diretamente um vasto campo de rela- ções eclesiais. A língua oficial do CIC é o latim, mas existem versões em todas as principais línguas correntes. As traduções requerem, po- © Direito Canônico I34 rém, uma autorização da conferência dos Bispos de cada país, ten- do por base os seguintes critérios: • 1º O texto base com valor jurídico é sempre e unicamente o latim; • 2º A tradução tem apenas a função de ajudar a compre- ensão do texto originário latino e não possui, portanto, um valor oficial. O CIC atual se compõe de 1752 cânones, distribuídos em sete livros. São eles: 1) I. Normas Gerais. 2) II. O povo de Deus. 3) III. A função de ensinar da Igreja. 4) IV. A função de santificar da Igreja. 5) V. Os bens temporais da Igreja. 6) VI. As sanções na Igreja. 7) VII. Os processos. As maiores novidades do código atual em relação ao anterior se encontram nem tanto no esquema, mas, sim, nos conteúdos. Se no CIC precedente se procurou conservar a disciplina em vigor na época, apresentado-a de maneira moderna e coerente, no CIC atu- alencontramos um grande esforço de traduzir para uma lingua- gem jurídica a eclesiologia do Concílio Vaticano II, como, também, sua rica teologia. Por fim, no CIC atual, encontramos os grandes temas conci- liares: a Igreja povo de Deus; a eclesiologia de comunhão; a Igre- ja particular e sua relação com a Igreja universal; a colegialidade episcopal; a acolhida do princípio de igualdade fundamental entre todos os fiéis e a sua participação aos ofícios de Cristo sacerdote, profeta e rei; o empenho pelo ecumenismo. Encerrada esta parte histórica, passemos, então, para o últi- mo tópico no qual chamarei a sua atenção para alguns temas que serão objeto de estudo neste Caderno de Referência de Conteúdo. Claretiano - Centro Universitário 35© Caderno de Referência de Conteúdo Temas relevantes Agora que você já sabe que a Igreja possui uma ampla norma- tiva contida em dois códigos (o latino e o oriental) e na Pastor Bonus, sem falar das inúmeras legislações particulares existentes, quere- mos, para encerrar este encontro, destacar alguns temas relevantes que serão objeto de estudo neste caderno que você irá estudar. O Concílio Vaticano II ao se referir à Igreja na Constituição Dogmática Lumen Gentium se valeu de algumas imagens, dentre as quais destacamos a do "povo de Deus". Ora, este "povo de Deus" do qual todos nós fazemos parte, se apresenta de maneira ordenada e organizada. Esta ordem tem a sua raiz na estrutura fundamental da Igreja, na qual encontramos carismas, funções e ministérios a partir dos quais os fiéis encontram o seu lugar e se relacionam. Esta relação entre os fiéis é regida por um conjunto de nor- mas que têm por objetivo garantir a cada pessoa o necessário es- paço de liberdade para viver plenamente a vocação para a qual foi chamada. Tais normas garantem uma série de direitos, como, tam- bém chamam a atenção para determinados deveres e obrigações. Creio que seja muito importante conhecê-las, como, também, o espírito que as anima, pois muitas vezes, o desconhecimento disso pode gerar tensões e conflitos. No andamento do curso você irá se deparar com elas e espero que ao conhecê-las isso o ajude na vivência da fé. Outro aspecto relevante é que a Igreja possui uma estrutura de governo. Essa estrutura é bem diferente daquelas existentes nos diversos países. Por isso, é importante que se intere de como essa estrutura funciona, descobrindo quem na Igreja possui fun- ções de governo; em que elas se fundamentam; como tais fun- ções se articulam; qual o espírito que deve animar a ação dos que nos governam; quais os direitos e deveres que possuem; e em que medida os demais fiéis participam disso. Entrar em contato com essa normativa irá clarificar a relação existente entre nós e nossos pastores. © Direito Canônico I36 Na Igreja existe, ainda, uma forma de vida que você conhe- ce, pois, ao menos alguma vez, se deparou com "freiras", "freis", "irmãos" e "irmãs", usando, muitas vezes, uma roupa diferente dos demais. Valeria a pena conhecer um pouco mais quem são, como vivem, qual a razão da existência deste estilo de vida na Igre- ja e como isso a enriquece. Refiro-me aqui à vida consagrada em suas mais variadas formas e você no curso terá a oportunidade de conhecê-la melhor. Por fim, para concluir, no dia-a-dia das comunidades temos uma série de atividades ligadas ao ministério da palavra, como, por exemplo, a catequese. Saiba que existe no CIC um livro de- dicado à função de ensinar da Igreja. Ali encontramos uma vasta normativa que se ocupa do anúncio do Evangelho em suas mais variadas formas. Portanto, também, dedicaremos um espaço para que dela possa se interar. Esperamos que no final desta abordagem geral, na qual cha- mamos a atenção para uma série de questões ligadas ao direito canônico, você sinta-se motivado para conhecê-lo um pouco mais. Bom estudo! Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá- pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados em Direito Canônico I. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos: 1) Acta Apostolicae Sedis (AAS) : trata-se da única revis- ta oficial da Santa Sé. Esta revista é, desde sua origem em 1909, um instrumento que possui várias funções. Indubitavelmente a AAS contém, sobretudo, leis e atos jurídicos, mas, também, outros documentos da Santa Sé de caráter doutrinal. O cân. 8 nos recorda que as leis eclesiásticas são promulgadas pela publicação na AAS, a não ser que, em casos particulares, tenha sido prescrito Claretiano - Centro Universitário 37© Caderno de Referência de Conteúdo outro modo de promulgação. Por isso, é importante tê- -la como objeto de consulta para conhecer as normas universais da Igreja. 2) Ad validitatem: termo que significa "para a validade". As diversas leis em geral não tornam nulo o ato contrário a elas. Trata-se de um princípio de respeito do legislador pela liberdade das pessoas que são chamadas a respei- tar as leis com uma adesão consciente e livre. Caso a pessoa aja contra a lei viola um princípio jurídico, agin- do, portanto, ilicitamente. Porém, tal ato de um ponto de vista jurídico não é nulo, isto é, não deixa de produzir os seus efeitos. Todavia, há casos ou situações em que o legislador reage a determinados comportamentos ile- gítimos de modo mais severo, declarando inválido o ato realizado de modo contrastante com aquilo que foi esta- belecido pela lei ou por uma pessoa inábil. Veja-se, por exemplo, os cânn. 1108 e 656. As leis que prevêem a nulidade do ato quando não rea- lizado em conformidade com o que estabelece a lei são chamadas de irritantes ou inabilitantes. Tais leis são ne- cessárias para evitar lides, abusos de poder, prepotên- cias, incertezas e situações perigosas para a moralidade e garantir a certeza do direito. Portanto, no direito, a expressão ad validitatem é impor- tante, pois se refere a algo que é necessário observar para a validade do ato jurídico. Caso isso não seja feito, o ato jurídico é inválido, ou seja, não produz os efeitos jurídicos desejados, o que acarreta não poucos proble- mas. O que é necessário observar para a validade do ato jurídico o estabelece o cân. 124§1. 3) Administrador diocesano: é aquele que assume tem- porariamente o governo de uma diocese durante a va- cância da sé episcopal. O can. 416 nos recorda que a sé episcopal se torna vacante pela morte do Bispo dioce- sano, pela renúncia aceita pelo Romano Pontífice, pela transferência e pela privação intimada ao Bispo. © Direito Canônico I38 O administrador diocesano geralmente é eleito pelo co- légio dos consultores (a respeito do qual nos fala o cân. 502), tendo as mesmas obrigações e o mesmo poder do Bispo diocesano, com exclusão do que se excetua pela natureza da coisa ou pelo próprio direito (cân. 427). A eleição do administrador diocesano deve ser realizada em conformidade com os cânn. 165-178 e os requisitos necessários para a função são fixados pelo cân. 425. 4) Anacoreta/Eremita: eremita (do latim eremus = deser- to) é aquele que se retira ao deserto para uma vida de oração e penitência. Chama-se também anacoreta, pa- lavra de origem grega que significa "retirado, afastado". No atual ordenamento jurídico da Igreja o eremita ou anacoreta é um fiel que, não pertencendo a nenhum ins- tituto de vida consagrada, professa publicamente os três conselhos evangélicos mediante votou ou outro vínculo sagrado, nas mãos do Bispo diocesano e segue sua for- ma própria de vida sob a direção deste (cân. 603 §2). 5) Ato administrativo: os diversos atos administrativos singulares possuem cada um o seu significado específi- co e características peculiares. Todavia, possuem, tam- bém, elementos comuns, justamente porque participam do gênero ato administrativo singular e, neste sentido, podem ser regulados por uma normativa comum. Nos cânn. 35-47 encontramos umconjunto de normas que regulam esses atos administrativos. Por ora basta que saiba que por ato administrativo sin- gular podemos entender uma disposição dada pela com- petente autoridade (pessoa física ou jurídica) executiva (cân. 35) ou legislativa (cân. 76 §1), na forma estabele- cida pelo direito, para um caso particular e com eficácia jurídica limitada a tal caso. Às vezes o ato administrativo singular contém uma de- claração de vontade (licença – cân. 1124; admissão – cân. 641; dispensa – cân. 1127 §2; punição – cân. 1375; transferência – cân. 190; revogação – cân. 141) e, outras Claretiano - Centro Universitário 39© Caderno de Referência de Conteúdo vezes, uma decisão de juízo ou de certificação (certifica- do, autenticação, parecer, etc.). 6) Bens eclesiásticos: por bens eclesiásticos devemos en- tender todos os bens temporais que pertencem à Igreja universal, à Santa Sé e às pessoas jurídicas públicas ecle- siásticas, à norma do cân. 1257 §1. Não são bens ecle- siásticos os que pertencem a qualquer pessoa jurídica canônica, mas, apenas a uma pessoa jurídica pública, como é o caso, por exemplo, de uma diocese, de uma paróquia, de um instituto religioso, etc. 7) Bula pontifícia: o Romano Pontífice exercita o seu ofício com uma grande variedade de atos e documentos, orais e escritos, dotados de diversos graus de respeitabilidade. Os documentos orais mais comuns são as homilias feitas nas celebrações litúrgicas, as alocuções dirigidas a gru- pos diversos de fiéis em várias ocasiões ou circunstân- cias (congressos, audiências, etc.) e as mensagens tele- visivas ou radiofônicas. Os documentos escritos possuem variadas formas e no- mes. O termo bula refere-se não propriamente ao con- teúdo ou à solenidade do documento enquanto tal, mas, sim, à forma externa que apresenta. Pode vir com uma pequena bola (em latim bulla) de cera ou metal. Os mais respeitáveis são selados com chumbo. Os demais são se- lados com cera. Sobre outros, ainda, se coloca apenas um simples carimbo. Entre os documentos selados de maneiras tão diversas, os mais respeitáveis são as consti- tuições apostólicas, as cartas apostólicas, as cartas encí- clicas e as exortações apostólicas, pois normalmente são endereçados a toda a Igreja. As bulas são usadas, tam- bém, para a concessão de privilégios, reconhecimentos e favores. 8) Cabido da catedral: o cabido de cônegos, seja da ca- tedral, seja colegial, é o colégio de sacerdotes, ao qual compete realizar as funções litúrgicas mais solenes na igreja catedral (cabido da catedral) ou colegial (em ou- © Direito Canônico I40 tra igreja colegial). Além disso, compete ao cabido da catedral desempenhar as funções que lhe são confiadas pelo direito ou pelo Bispo diocesano (cân. 503). A pa- lavra cônego provém do latim canonicus, que, por sua vez, deriva de cânon, palavra grega que significa regra. Etimologicamente, pois, cônego é aquele que vive sob uma regra. Por sua vez, cabido é a forma portuguesa do latim capitulum, ou seja, reunião sob uma cabeça (ca- put), quer dizer, sob um superior. Historicamente, os ca- bidos surgiram durante a Idade Média, como grupos de clérigos que viviam comunitariamente (ou, pelo menos, num recinto comum: o claustro das catedrais), em tor- no do Bispo, principalmente para assegurar o esplendor das funções litúrgicas na igreja catedral. Paulatinamen- te, foram assumindo, também, as funções de conselho ou senado do Bispo, nome com que o Código de 1917 os designava. Governavam também a diocese durante a vacância, chegando em alguns lugares, a ter o direito de escolher o novo Bispo. Hoje o cabido possui, apenas, funções litúrgicas e não é um colégio de constituição obrigatória (cf. nota de roda pé do CIC de 1983, na qual o Pe. Jesus Hortal, SJ faz um comentário ao cânon 503). 9) Concílio Ecumênico: Concílio significa originariamente uma reunião ou assembléia para dirimir diferenças. No uso eclesiástico desde os primeiros séculos chamaram- -se concílios as assembléias em que havia uma prevalên- cia de Bispos. Sempre, porém, houve presença de outras pessoas (presbíteros e mesmo leigos). Aos concílios cabe deliberar sobre questões de ordem doutrinal, disciplinar e pastoral. Já a palavra Ecumênico é utilizada como sinô- nimo de universal. A Igreja católica reconhece como ecu- mênicos 21 concílios, o primeiro dos quais foi o de Nicéia (325 dC) e o último o Vaticano II (1962-1965). A normativa sobre o Concílio Ecumênico encontra-se explicitada nos cânn. 337-341 (cf. nota de roda pé do CIC de 1983, na qual o Pe. Jesus Hortal, SJ faz um comentário ao cânon 337). 10) Decano do Colégio dos Cardeais: o Colégio dos Cardeais é presidido por um decano a quem compete, dentre outras coisas, convocar o conclave quando a Sé Apostólica esti- Claretiano - Centro Universitário 41© Caderno de Referência de Conteúdo ver vacante. Tradicionalmente a presidência deste colégio cabia ao Cardeal que tinha o título de Bispo da Diocese de Óstia e correspondia ao mais antigo dos Cardeais-Bis- pos. Todavia, o cân. 353 §2 estabelece atualmente que o decano do referido Colégio deve ser eleito pelo grupo de Cardeais titulares de uma Igreja suburbicária, ou seja, de uma das Igrejas próximas a Roma. O nome do eleito deve ser levado ao Papa a quem compete aprovar o escolhido. 11) Decretais: as decretais em sua origem eram respostas que o Papa dava a organismos locais, particularmente a Bispos, a respeito de algum caso ou situação que tais organismos não podiam ou não queriam resolver. Nas decretais o Papa respondia ao problema apresentado, formulando uma norma que cabia aos organismos locais aplicar ao caso concreto. Inicialmente, como afirmamos, a resposta pontifícia e a regra por ela formulada valiam, apenas, para o autor da consulta e para o caso específico para o qual foram da- das. Todavia, em pouco tempo, a autoridade do Bispo de Roma fez com que tais respostas passassem a ter um valor geral. Portanto, aos poucos, as decretais se trans- formaram em um instrumento mediante o qual o Papa exercia o seu poder legislativo. Convém observar que não havia uma terminologia uní- voca para se referir a tais repostas dadas pelo Romano Pontífice, pois além do nome de decretais, também eram utilizados os termos: decretalis epistula, decretum, constitutio, responsio, decreta, etc. Assim como aconteceu com os cânones dos concílios, as decretais chegaram a nós por intermédio das coleções canônicas. Tais coleções contribuíram para a sua difusão. Nunca é demais lembrar que o Corpus Iuris Canonici, de particular importância no estudo das fontes históricas do direito canônico é uma coleção jurídica composta por três coleções oficiais e três coleções não oficiais. As co- leções oficiais são: as Decretais de Gregório IX, o Livro Sexto de Bonifácio VIII e as Clementinas. As coleções não oficiais são: o Decreto de Graciano, As Extravagantes de João XXII e as Extravagantes Comuns. © Direito Canônico I42 12) Dicastério: o Romano Pontífice, no exercício de suas funções, conta com a ajuda de uma estrutura conheci- da pelo nome de Cúria Romana. Segundo a constituição apostólica Pastor bonus, a Cúria Romana é o conjunto dos dicastérios e dos organismos que ajudam o Romano Pontífice no exercício do seu ofício pastoral para o bem e o serviço da Igreja universal e das Igrejas particulares, exercício com o qual se reforçam a unidade da fé e a co- munhão do povo de Deus e se promove a missão própria da Igreja no mundo (PB art. 1). Portanto, a palavra "di- castério" é o nome tradicionalmente utilizado para se re- ferir às instituições da Cúria Romana, embora o CIC atual as chame simplesmente de "organismos" (instituta). Os dicastérios são juridicamente paritários entre si e em relação aos outros organismos que compõem a Cúria Ro- mana e, geralmente, são compostos por um Cardeal pre- feito ou um Arcebispo presidente; por um determinado número de Cardeais e alguns Bispos, com a ajuda do Se- cretário. Há, também,
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