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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU ANDRÉA MENDES FIGUEIREDO PPRREEVVAALLÊÊNNCCIIAA EE CCAARRAACCTTEERRÍÍSSTTIICCAASS CCLLÍÍNNIICCOO-- EEPPIIDDEEMMIIOOLLÓÓGGIICCAASS DDOO CCÂÂNNCCEERR BBUUCCAALL EE DDEE CCAABBEEÇÇAA EE PPEESSCCOOÇÇOO NNOO HHOOSSPPIITTAALL EESSTTAADDUUAALL DDEE BBAAUURRUU//SSPP.. BAURU 2013 ANDRÉA MENDES FIGUEIREDO Prevalência e características clínico-epidemiológicas do câncer bucal e de cabeça e pescoço no Hospital Estadual de Bauru/Sp Dissertação apresentada a Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva no Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas, na área de concentração Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Dr.José Roberto de Magalhães Bastos. Versão corrigida BAURU 2013 Nota: A versão original desta dissertação/tese encontra-se disponível no Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB/USP. Figueiredo, Andréa Mendes Prevalências e características clínico- epidemiológicas do câncer bucal e de cabeça e pescoço no Hospital Estadual de Bauru/SP/ Figueiredo/ Andréa Mendes . – Bauru, 2013. 87 p. : il. ; 31cm. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de São Paulo Orientador: Prof. Dr. José Roberto Magalhães Bastos F469 Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação/, por processos fotocopiadores e outros meios eletrônicos. Assinatura: Data: Comitê de Ética da FOB-USP Protocolo nº: 156/2011 Data: 26/10/2011 DEDICATÓRIA À DEUS, fonte de sabedoria e perseverança e fiel companheiro de nossas dúvidas, dificuldades e vitórias. Dedico este trabalho aos meus pais, João e Yolanda, que da melhor maneira possível, me proporcionaram estudos de ótima qualidade fazendo que eu chegasse até aqui. Obrigada à minha mãe, pelo amor, dedicação exclusiva com suas filhas, orientações e paciência ao longo de nossas vidas. Ao meu amado marido Denilson pelo amor, carinho e paciência, e aos meus filhos Otávio e Maria Luiza, meus eternos amores e razão da minha preocupação em me atualizar na carreira profissional. Obrigada por me apoiar neste objetivo. Agradeço a minha avó Genoefa, pela alegria, amor e exemplo em vida da luta contra o câncer, nos mostrando ser uma mulher guerreira até seus últimos dias de sua vida. A minha eterna Júlia, pelo pequeno e precioso tempo entre nós, tempo este recheado de cheiros, boas lembranças e luta pela vida contra esta doença tão devastadora. Às minhas queridas irmãs Flávia e Kenny, pela amizade, carinho e incentivo profissional. A todos que, direta ou indiretamente, me incentivaram nesta importante trajetória profissional. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. José Roberto de Magalhães Bastos, pelo incentivo, ajuda e disponibilidade em me orientar neste trabalho, e por todo apoio, simpatia, amizade e ensinamentos nestes 2 anos de mestrado, um agradecimento especial. A todos os professores do departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP, Profa. Magali, Prof. Arsênio, Profa. Silvia, Prof. Heitor, Prof. Lauris, Prof. Roosevelt e Profa. Nilce, pelo enriquecimento profissional e crescimento pessoal que me proporcionaram neste tão agradável período. Agradecimento a querida Ângela pela ajuda nos momentos duvidosos, nas famosas planilhas do excel e pelos esclarecimentos com sua experiência acadêmica. As amigas que se tornaram pessoais, Thaisa e Maristela, pelo convívio, risadas e angústias compartilhadas. Temos certeza que isso tudo se prolongará pelos anos de Doutorado. Aos amigos de mestrado e de departamento, pelo convívio agradável, pela ajuda recíproca e pelas agradáveis companhias em eventos profissionais. As secretárias do departamento de Saúde Coletiva, Rosinha e Silvinha, pelo carinho, ajuda e disponibilidade para me ajudar nos momentos difíceis e pelo carinhoso relacionamento. Ao Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Estadual de Bauru, que me concedeu o direito de realizar esta pesquisa em prontuários médicos e à Adriana Feltrin pelo apoio oferecido. “A oncologia foi a especialidade que por excelência, se viu confrontada com a necessidade de avaliar as condições de vida dos pacientes que tinham sua sobrevida aumentada devido aos tratamentos realizados, já que muitas vezes, na busca de acrescentar anos à vida, era deixada de lado a necessidade de acrescentar vida aos anos.” Fleck et al., 1999. RESUMO O câncer tem sido considerado uma doença de países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo que a maior parte do ônus global do câncer é observada nos países em desenvolvimento, convertendo-se em um evidente problema de saúde pública mundial. Devido a sua alta incidência, prevalência e mortalidade, o câncer de cabeça e pescoço, é considerado um dos principais tumores no Brasil e no mundo, sendo o câncer bucal um dos tipos mais incidentes, correspondendo a 10% de todos os tumores malignos, com aproximadamente 390.000 novos casos a cada ano. As taxas de incidências variam conforme as regiões do Brasil, tendo a região sudeste e sul as maiores taxas de incidência do mundo, sendo a região sudeste responsável por 42% do número total de casos o Brasil. Os fatores de risco são tabagismo, alcoolismo, hábitos alimentares, radiação solar, vírus, idade, sexo, irritação mecânica/química, nível socioeconômico além de fatores genéticos. Embasados neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência, perfil clínico e epidemiológico do câncer bucal e de cabeça e pescoço de pacientes registrados no Hospital Estadual de Bauru/SP, um hospital público no interior do estado de São Paulo, através de revisão de prontuários no período de junho de 2008 à janeiro de 2011, apresentando dados como: localidade, idade, sexo, etnia, prevalência da região anatômica, sintomas, tipo de encaminhamento, tipo histológico, estadiamento, fatores de risco, tratamento, índice de óbito, sobrevida e se o paciente tinha familiares. Foram analisados 177 prontuários, sendo 54% (96) dos pacientes provenientes de Bauru/Sp. Do total de pacientes, 156(88,14%) eram do gênero masculino e 21 (11,86%) do gênero feminino, com médias de idade respectivamente de 60,2 anos e 54,0 anos. Houve predomínio de indivíduos brancos com 141 (80,20%) casos. As regiões anatômicas mais acometidas foram a hipofaringe com 34(19,20%) casos e a língua com 30(16,95%) casos. Os sintomas relatados foram emagrecimento, dor, disfagia, disfonia, rouquidão, otalgia, hemorragia oral, trismo, xerostomia, necrose e odor fétido, os quais ocorreram associados ou isolados. Apenas 1 (0,06) paciente foi encaminhado pelo dentista, e quanto a diferenciação histológica, houve predomínio de carcinoma espinocelular com 98,30% dos pacientes. Foi constatado o câncer em grau III e IV (avançado) em 114 (64,40%) pacientes, com metástase em 45,20% (80) dos casos totais. Ficou evidenciado o consumo associado do fumo e álcool em 76 (42,94%) dos prontuários. Os tratamentos predominantes foram a quimioterapia isolada ou associada à radioterapia, considerada predominante devido ao avanço da doença. Do número total de casos, 83 (46,89%) pacientes foram à óbito com sobrevida média de 1,05 anos. Fundamentados em nossos resultados, ao aumentoda expectativa de vida, do envelhecimento da população e da elevada magnitude do problema, sugerimos reavaliar medidas de promoção e prevenção de saúde a população e profissionais de saúde sobre o autoexame bucal e redução do consumo de fatores de risco. Programas educacionais para populações de alto risco com auxílio das Políticas Públicas de Saúde do município em meios de comunicação acessíveis as classes menos favorecidas, podem ser fundamentais para atenuar o número de casos novos de câncer. Palavras-chave: Câncer bucal. Câncer de cabeça e pescoço. Prevalência. Epidemiologia. Tabagismo. Alcoolismo. Qualidade de vida.ar 27 milhões ABSTRACT prevalence and clinical and epidemiological characteristics of oral cancer and head and neck in the state hospital bauru/sp Cancer has been considered a disease of developed and developing countries, because of the greater part of the global cancer burden be observed in developing countries, becoming evident at a public health problem worldwide. Because of its high incidence, prevalence and mortality, cancer of the head and neck, is considered one of the main tumors in Brazil and worldwide, and oral cancer one of the most insidious types, corresponding to 10% of all malignant tumors, with approximately 390,000 new cases each year. The incidence rates vary according to region of Brazil, with the southeastern and southern highest incidence rates in the world, being the southeast accounted for 42% of the total number of cases in Brazil. The risk factors are smoking, alcohol, diet, radiation, viruses, age, gender, mechanical irritation / chemical, socioeconomic status as well as genetic factors. Grounded in this context, the aim of this study was to determine the prevalence, clinical and epidemiological profile of oral cancer and head and neck patients enrolled in the State Hospital of Bauru / SP, a public hospital in the state of São Paulo, by reviewing medical records from June 2008 to January 2011, presenting data such as location, age, gender, ethnicity, prevalence of anatomic, symptoms, type of referral, histological type, staging, risk factors, treatment, mortality was , survival and whether the patient had family. 177 records were analyzed, 54% (96) of the patients from Bauru / Sp. Of all patients, 156 (88.14%) were male and 21 (11.86%) females, with a mean age of 60.2 years respectively and 54.0 years. There was a predominance of white individuals with 141 (80.20%) cases. The anatomical regions most affected were the hypopharynx with 34 (19.20%) cases and the tongue with 30 (16.95%) cases. Reported symptoms were weight loss, pain, dysphagia, dysphonia, hoarseness, earache, oral bleeding, trismus, xerostomia, necrosis and foul odor, which occurred isolated or associated. Only 1 (0.06) patient was referred by the dentist, and the histologic differentiation predominated squamous cell carcinoma with 98.30% of the patients. Cancer was found in grade III and IV (advanced) in 114 (64.40%) patients with metastasis in 80 (45.20%) of the total cases. Evidenced the associated con- sumption of tobacco and alcohol in 76 (42.94%) of the charts. The treatments were predominant chemotherapy alone or combined with radiotherapy, considered predominantly due to disease progression. Of the total cases, 83 (46.89%) patients died at the median survival of 1.05 years. Based on our results, the increase in life expectancy, an aging population and the high magnitude of the problem, we suggest reevaluate measures to promote prevention and population health and health professionals about oral self-examination and reduction of risk factors . Educational programs for high-risk populations with the aid of Public Health Policies of the municipality in media accessible to the lower classes, can be critical to mitigate the number of new cancer cases. Keywords: Oral cancer. Cancer of the head and neck. Prevalence. Epidemiology. Smoking. Alcoholism. Quality of life. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Países com altas taxas de incidência e de óbitos por câncer de cabeça e pescoço (SAMAN, 2009). .................................... 29 Figura 2. Representação espacial das taxas brutas de incidência nos estados brasileiros por 100.000 mil homens, estimadas para o ano de 2012, segundo Unidade da Federação (neoplasia maligna da cavidade oral). ............................... 30 Figura 3. Representação espacial das taxas brutas de incidência nos estados brasileiros por 100.00 mil mulheres, estimadas para o ano de 2012, segundo Unidade da Federação (neoplasia maligna da cavidade oral) ................................ 31 LISTA DE TABELAS E QUADROS - TABELAS Tabela 1. Distribuição de pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço conforme faixa etária. ............................................ 51 Tabela 2. Distribuição dos pacientes conforme faixa etária e região anatômica do câncer de cabeça e pescoço. ............................. 52 Tabela 3. Região anatômica primária dos pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço, de acordo com CID-10 e distribuição por gêneros no Hospital Estadual de Bauru/SP. ............................................................................................ 53 Tabela 4. Distribuição dos grupos étnicos de acordo com a região anatômica do câncer. .......................................................................... 54 Tabela 5. Sintomas relevantes dos pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço no Hospital Estadual de Bauru/SP. ............................................................................................ 55 Tabela 6. Distribuição dos sinais e sintomas de acordo com a região anatômica do câncer. ............................................................... 55 Tabela 7. Distribuição do estadiamento (grau) do câncer de acordo com a região anatômica.......................................................... 56 Tabela 8. Distribuição da frequência de metástase de acordo com a região anatômica do câncer.............................................................. 57 Tabela 9. Distribuição do fator de risco "FUMO" de acordo com o número total de câncer da região anatômica. ..................................... 58 Tabela 10. Distribuição do fator de risco "ÁLCOOL" de acordo com o número total de câncer da região anatômica. ................................... 58 Tabela 11. Distribuição do consumo associado de fumo e álcool de acordo com o número total de casos de câncer da região anatômica. ................................................................................ 59 Tabela 12: Distribuição dos tipos de tratamento de acordo com a região anatômica do câncer. ............................................................... 60 Tabela 13. Distribuição dos índices de óbito de acordo com a região anatômica do câncer ................................................................ 61 Tabela 14. Distribuição do índice de óbito e tempo de sobrevida de acordo com o acordo com o total de casos de câncer da região anatômica. .............................................................. 62 - QUADROS Quadro 1. Estadiamento (em grau) do câncer e características clínicas. ................................................................................................ 33 Quadro 2: Estadiamento (em grau) e respectiva taxa de sobrevida do câncer bucal (NEVILLE, 2008). ...................................................... 36 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS CEC Câncer Espinocelular CID Classificação Internacional de Doenças DNA Ácido Desoxirribonucleíco HEB Hospital Estadual de Bauru HPV Vírusdo Papiloma Humano HTLV Vírus Linfotrópico da Célula Humana IARC International Agency of Research on Cancer INCA Instituto Nacional do Câncer NEP Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Estadual de Bauru OMS Organização Mundial da Saúde RNA Ácido Ribonucleíco SUS Sistema Único de Saúde UICC União Internacional de Combate ao Câncer SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 13 2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 19 2.1 Fatores de risco ...................................................................................... 21 2.1.1 Fatores de risco extrínsecos ................................................................... 21 2.1.1.a. Tabagismo ............................................................................................... 22 2.1.1.b Alcoolismo................................................................................................ 22 2.1.1.c Hábitos alimentares ................................................................................ 23 2.1.1.d Radiação solar ......................................................................................... 24 2.1.1.e Vírus ........................................................................................................ 25 2.1.1.f Idade e sexo ............................................................................................ 25 2.1.1.g Irritação mecânica ou química ................................................................. 26 2.1.1.h Nível socioeconômico .............................................................................. 26 2.1.2 Fatores de risco intrínsecos ..................................................................... 27 2.1.2.a Imunológicos ............................................................................................ 27 2.1.2.b Genéticos ................................................................................................. 27 2.2 Incidência ................................................................................................. 28 2.3 Aspectos clínicos ..................................................................................... 31 2.4 Diagnóstico clínico e estadiamento .......................................................... 32 2.5 Tipos de tratamento e reações adversas ................................................. 34 2.6 Sobrevida e qualidade de vida ................................................................. 36 3 PROPOSIÇÃO ......................................................................................... 39 3.1 Objetivo geral ........................................................................................... 41 3.2 Objetivos específicos ............................................................................... 41 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................ 43 4.1 Aspectos éticos ........................................................................................ 45 4.2 Opção metodológica ................................................................................ 45 4.3 Composição da amostra .......................................................................... 45 4.4 Variáveis de estudo ................................................................................. 46 5 RESULTADOS ........................................................................................ 49 6 DISCUSSÃO ............................................................................................ 63 7 CONCLUSÕES ........................................................................................ 71 8 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 75 1- Introdução Introdução 15 1 INTRODUÇÃO A definição científica de câncer refere-se ao termo neoplasia, especificamente aos tumores malignos, como sendo uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado de células transformadas geneticamente, o qual persiste mesmo após a cessação dos estímulos que o geraram, devido às alterações genéticas e fatores associados. Possuem a capacidade de, através da corrente linfática ou sanguínea, implantar-se em outros sítios, formando novos tumores chamados metástases (FOYE; SENGUPTA, 1996; PORCARO-SALLES, 2007). Conhecido há muitos séculos o câncer foi amplamente considerado como uma doença dos países desenvolvidos, porém há aproximadamente quatro décadas a situação vem mudando, e a maior parte do ônus global do câncer pode ser observada em países em desenvolvimento, convertendo-se em um evidente problema de saúde pública mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, no ano 2030, pode-se esperar 27 milhões de casos incidentes de câncer, com maior prevalência em países de baixa e média rendas (INCA, 2012). Em razão de sua significativa incidência, prevalência e mortalidade, o câncer de cabeça e pescoço é considerado um dos principais tumores no Brasil e no mundo. No Brasil, um país em desenvolvimento, as estimativas para 2012, do Instituto Nacional do Câncer-INCA, apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos de câncer, demonstrando a magnitude do problema no país. Dentre os tipos mais incidentes, evidencia-se o câncer bucal, que de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é a forma mais comum de câncer de cabeça e pescoço, com aproximadamente 390.000 novos casos a cada ano, e que mundialmente correspondem à 10% de todos os tumores malignos (BRASIL, 2004). As taxas de incidência e de mortalidade dos cânceres bucal e de cabeça e pescoço apresentam variações entre as diferentes regiões do Brasil. As taxas de incidência da cidade de São Paulo e de Porto Alegre estão entre as mais altas relatadas na América Latina e alcançam as maiores incidências do mundo, tendo a região sudeste do Brasil 42% do número total de casos desses cânceres no Brasil (WUNSCH-FILHO, 2002). 16 Introdução Os cânceres localizados na cabeça e pescoço afetam as seguintes regiões anatômicas: lábio, cavidade bucal (mucosa dos lábios superior e inferior, mucosa julgal, áreas retromolares, vestíbulo bucal, rebordo gengival superior e inferior, palato duro, assoalho da boca e língua); orofaringe (área glossoepiglótica- base de língua e valécula); parede lateral (amígdala, fossa amigdaliana e pilar amigdaliano, prega glossopalatina); parede posterior; parede superior (inferior do palato mole e úvula); nasofaringe (parede póstero-superior- desde o nível da junção do palato duro com o palato mole até a base do crânio); parede lateral; parede inferior - superfície superior do palato mole; hipofaringe - junção faringo-esofageana, seio piriforme, parede posterior da faringe; laringe (supraglote, epiglote, supra-hióidea, prega ariepiglótica, face laríngea, aritecnóide, epiglote infra- hióidea, bandas ventriculares; glote (cordas vocais, comissura anterior, comissura posterior); subglote, seios maxilares, cavidade nasal e seios etmoidais, glândulas salivares e glândula tireóide. Do ponto de vista histológico, 90% desses tumores são carcinomas epidermóides, também chamados espinocelulares (BRASIL, 2004). Apesar de ainda não haver uma clara compreensão da etiologia do câncer, vários fatores determinantes têm sido detectados e investigados, os quais constituem a base para uma prevenção efetiva da doença. Mesmo sendo o câncer bucal uma doença multifatorial, o tabaco e o álcool são os dois fatores de risco mais importantes não só para odesenvolvimento da neoplasia, como também para seu prognóstico. Agentes infecciosos como o papiloma vírus também são citados como um dos responsáveis pelo desenvolvimento da doença (SHIU; CHEN, 2004; LUCENTEFORTE et al., 2009; LI, YANG;KAO, 2011; SYRJANEN et al., 2011). Vários estudos têm observado o aumento da incidência do câncer de cabeça e pescoço com o aumento da idade. Na Europa, 98% dos pacientes com câncer bucal têm idade superior a 40 anos e apenas 4 a 6% são indivíduos mais jovens. Entretanto, a incidência nesta faixa etária tem aumentado em vários países e os mecanismos envolvidos na tumorigênese de pacientes jovens são pouco conhecidos (IAMAROON et al.,2004; LLEWELLYN et al., 2004; DOBROSSY, 2005; GILROY et al., 2005 ). Para avaliar o prognóstico, simultaneamente aos fatores de risco, é de suma importância conhecer a região anatômica, tamanho e espessura, comprometimento ganglionar, tratamento e diferenciação tumoral (BUNDGAARD;BENTZEN;WILDT, 1994; TRALONGO et al., 1999). O tratamento dessas neoplasias é complexo, de caráter multidisciplinar e multimodal. As taxas de controle local e de sobrevida aumentaram com tratamentos Introdução 17 loco--regionais avançados nos últimos 30 anos, porém, sem mudanças significativas. Contudo, o paciente com câncer é afetado por diversas condições não infecciosas decorrentes do tratamento oncológico, seja cirúrgico, quimioterápico ou radioterápico, ocasionando alterações na cavidade bucal. Dentre as principais complicações causadas pelos tratamentos, estão: xerostomia (boca seca), hemorragia (principalmente na língua e gengiva), dermatite, mucosite, osteorradionecrose, trismo (espasmos musculares nos músculos mastigatórios e da articulação temporomandibular) e mutilação (FRANCESCHI et al., 1993; NEVILLE et al.,1998; MIGLIORATI; MIGLIORATI, 2000). Diferentes estudos demonstraram que o atraso no diagnóstico de câncer bucal tem sido ligado a pacientes, profissionais ou a ambos e tem sido atribuído a diversos fatores, como sociais e culturais, dentre outros. A precocidade diagnóstica e terapêutica determina o melhor prognóstico para o paciente. Além disso, o atraso terapêutico explica o aumento do sofrimento do paciente por perda de funções e mutilação, mas também na elevação do custo do tratamento, na rejeição social e na má qualidade de sobrevida, o que significa uma qualidade de vida discutível (KOWALSKI et al., 1994; WILDT; BUNDGAARD; BENTZEN, 1995; KERDPON; SRIPLUNG, 2001). Para mudar o panorama atual do câncer, é imprescindível que haja estimulo à busca de informações precisas e de qualidade, sobre a incidência e prevalência da doença nas populações, propiciando a implantação de politicas públicas que levem a realização de ações efetivas de prevenção e detecção precoce, visando a redução de danos, taxas de mortalidade e despesas publicas (RODRIGUES; FERREIRA, 2010). Com fundamento na alta incidência do câncer bucal e de cabeça e pescoço no Estado de São Paulo, ao fato da grande maioria da população, principalmente as menos favorecidas socioeconomicamente, estar exposta para os fatores de risco da doença, principalmente o tabagismo e o etilismo e à escassez de estudos populacionais sobre o tema, foi decidido realizar um levantamento epidemiológico sobre esses tipos de cânceres no interior do Estado de São Paulo, no Hospital Estadual de Bauru, o qual possui o setor de Oncologia e onde os atendimentos são feitos apenas através do Sistema Único de Saúde (SUS), visando contribuir com os dados epidemiológicos dos casos atendidos neste hospital. 18 Introdução 2- Revisão de Literatura Revisão de Literatura 21 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Fatores de Risco Os conceitos modernos de oncogênese são baseados na associação de fatores extrínsecos (ambientais e sociais) e fatores intrínsecos (imunológicos e genéticos), considerando que os fatores epidemiológicos extrínsecos nos permitem identificar grupos de pacientes com maior risco de desenvolvimento de câncer de boca e delinear campanhas de prevenção. A exposição a determinados agentes químicos, físicos ou biológicos pode levar ao desenvolvimento da doença em um paciente geneticamente predisposto, ao promover mutações genéticas que desencadearão a formação do tumor maligno (PORCARO-SALLES, 2007). Geneticamente, uma célula pode sofrer alterações em sequências específicas do DNA, os genes, recebendo instruções erradas para suas atividades. As alterações podem ocorrer em genes especiais, os protoncogenes, que a princípio controlam a proliferação em células normais. Quando mutados, os protoncogenes transformam-se em oncogenes, sendo estes os genes que vão causar malignização (cancerização) das células normais, gerando as células cancerosas (PEREIRA, 2003). Para que uma célula normal se transforme em neoplásica, são necessárias diversas alterações. Mutações em um único gene por si só não são capazes de levar a tal transformação, no entanto, podem predispor a célula a sofrer novas alterações (SOUZA et al., 2004). Dados do estudo de Schwartsmann (1991), afirmam que o câncer bucal e de cabeça e pescoço, apresentam os mesmos fatores de risco e tem seu desenvolvimento estimulado pela interação dos fatores extrínsecos e intrínsecos e intimamente vinculado à resposta genética celular. 2.1.1 Fatores de risco extrínsecos * ambientais: tabagismo, alcoolismo, hábitos alimentares, radiação solar e vírus; * sociais: idade, sexo, irritação crônica ou química e nível socioeconômico. 22 Revisão de Literatura 2.1.1.a. Tabagismo O fumo é um dos mais potentes agentes cancerígenos que o ser humano introduz voluntariamente no organismo. No tabaco e na fumaça que dele se desprende, podem ser identificadas cerca de 4.700 substâncias tóxicas. Dentre estas, 60 apresentam ação carcinogênica conhecida, destacando-se os hidrocarbonetos policíclicos e as nitrosaminas específicas do tabaco. O calor desprendido pela combustão do fumo potencializa as agressões sobre a mucosa da cavidade bucal (a temperatura na ponta do cigarro aceso varia de 835 a 884 graus centígrados). As úlceras bucais permitem o contato direto dessas substâncias cancerígenas, favorecendo agressões profundas e extensas sobre a mucosa bucal. O uso do tabaco, fumado (cigarro, cachimbo, cigarro palha, charuto), mascado (fumo de rolo), ou aspirado (rapé), constitui um dos principais fatores de risco do câncer da cavidade oral confirmado em estudos epidemiológicos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1995). Nos países onde o hábito do fumo é predominante, o índice de câncer bucal (principalmente do tipo histológico espinocelular) se eleva muito. O Brasil é um país onde 1/5 da população fuma cerca de 130 bilhões de cigarros por ano, ou seja, 1.105 cigarros per capita/ano, ocupando o 5º lugar no mundo (WERNER; FONTANELLA, 2009). Um estudo realizado por Franco e colaboradores (1989) em três regiões metropolitanas do Brasil, em 1989, mostrou que o risco relativo de desenvolvimento de câncer bucal, entre os fumantes de industrializados, cachimbos e cigarros feito à mão, foi, respectivamente, 6,3, 13,9 e 7,0 maior em comparação com o risco de não- tabagistas. Considerando-se apenas o uso de cigarros industrializados, observou-se um risco de câncer de língua 15 vezes maior para os fumantes ditos pesados( consumo maior que 100 maços/ano cumulativos) e 7 vezes maior para os fumantes ditos leves (1 a 25 maços/ano cumulativo) em comparação com não-fumantes. 2.1.1.b Alcoolismo Existem atualmente suficientes evidências sobre o potencial carcinogênico do álcool para o homem, apesar dos mecanismos pelos quais as bebidas alcoólicas podem causar câncer aindanão serem claros. A ação carcinôgenica do álcool é Revisão de Literatura 23 atribuída principalmente a um de seus metabólitos, o acetaldeído, que tem a capacidade de causar mutações no DNA da célula com as quais entra em contato. Por outro lado, características individuais que determinam uma maior velocidade de transformação do etanol em acetaldeído no organismo podem, em parte, explicar porque algumas pessoas desenvolvem câncer e outras não (IARC, 1988). Estudos confirmam que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta cerca de 9 vezes o risco de câncer bucal, e quando associado ao tabagismo esse risco torna- se 35 vezes maior. Bebidas como cerveja e vinho aumentaram mais o risco de câncer bucal do que whisky. Contudo, a quantidade total de álcool ingerida e o tempo de duração do hábito são mais importantes do que o tipo de bebida alcoólica ingerida. Em várias populações, a faixa etária dos indivíduos consumidores de álcool, tem sido cada vez mais baixa (MASHBERG; GARFINKEL; HARRIS, 1981; KATO; NOMURA, 1994; ALMEIDA-FILHO et al., 2004; FERIGOLO, 2004). O tipo de álcool ingerido pode ser importante, mas isso varia em diferentes partes do mundo. Na França, a cachaça parece ser associada com maior risco de câncer bucal, enquanto que nos Estados Unidos, esse risco está fortemente associado ao consumo de cerveja. Segundo o INCA, é comprovado que o vinho é mais maléfico do que a cachaça no que se refere ao câncer de língua (OLIVEIRA; ODDEL, 2000; INCA, 2003) 2.1.1.c Hábitos Alimentares A dieta é a maior determinante da saúde e doença do homem, quando considerada tanto do ponto de vista nutricional quanto toxicológico, consideram Grewall, Kenkins e Friedmans (1993). Segundo Navarro (1996), o carcinoma bucal pode sofrer influência da dieta, assim, o excesso ou a deficiência vitamínica pode afetar o metabolismo e a ativação específica dos carcinógenos. A vitamina C, por exemplo, é capaz de inibir a nitrosação de aminas secundárias, evitando consequentemente a formação de nitrosaminas. As deficiências nutricionais (como exemplo os antioxidantes) e dietas inadequadas funcionam como fontes de radicais livres (RL) que seriam responsáveis por alterações no DNA. Uma dieta rica em gorduras, álcool ou pobre em proteínas, 24 Revisão de Literatura vitaminas (A, E, C, B2) e alguns minerais, tais como cálcio e selênio, é considerada um importante fator de risco (GREWALL; JENKINS; FRIEDMANS , 1993). Neville et al.(1998), afirmam que a deficiência de vitamina A produz uma ceratinização excessiva da pele e membranas mucosas, tendo sido sugerido que a vitamina desempenha um papel protetor ou preventivo em relação ao pré-câncer e cânceres bucais. Os níveis sanguíneos de retinol e de betacaroteno ingeridos na dieta parecem ser inversamente proporcionais ao risco do carcinoma de células escamosas orais e leucoplasias. 2.1.1.d Radiação Solar Outro fator importante a ser citado é a radiação solar que está intimamente ligada ao câncer bucal, especialmente o de lábio inferior naqueles indivíduos que ficam expostos à luz solar por longos períodos, devido às suas profissões, principalmente agricultores, marinheiros, pescadores, pedreiros e desportistas (WERNER; FONTANELLA, 2009). Sabe-se que a radiação solar não é ionizante, pois não possui capacidade suficiente para deslocar elétrons e provocar ionizações ao longo de uma passagem pelo tecido vivo. Apesar disso, ela é capaz de, a longo prazo, de produzir lesões de significativa importância biológica. Como exemplo, a exposição repetida e excessiva aos raios solares (raios ultravioleta) por períodos superiores a 15-30 anos, provoca alterações dos lábios capazes de evoluir para o câncer. Pessoas de cor clara, com pouca pigmentação melânica, são as que possuem maior risco de desenvolver a doença (SPITZ, 1994). A irradiação X diminui a reatividade imunológica e produz anormalidades no material cromossômico. Logo, não deve ser surpreendente que a radioterapia na área de cabeça e pescoço possa aumentar o risco de posterior desenvolvimento de uma nova malignidade bucal primária, um carcinoma ou um sarcoma, sendo que este efeito depende da dose. A pequena quantidade de radiação, nas radiografias dentárias auxiliares diagnósticas de rotina, não tem sido associada a carcinoma da mucosa bucal (NEVILLE et al., 1998). Revisão de Literatura 25 2.1.1.e Vírus Os vírus parecem ter um potencial para induzirem neoplasias, embora não se tenha provado a participação de qualquer vírus no carcinoma bucal. Os vírus oncogênicos podem ser do tipo DNA (herpes vírus, papilomavírus e adenovírus) ou RNA, chamados de retrovírus. O HPV (Vírus do Papiloma Humano) pode estar envolvido no desenvolvimento de lesões bucais sendo que em 70% dos casos de câncer bucal pode-se constatar a presença de vírus (NAVARRO, 1998; FURRER et al., 2006). Segundo o INCA, outros vírus como herpes tipo 6, o citomegalovírus, o vírus tipo C da hepatite, o do Epstein Barr e o HTLV-vírus da leucemia e linfoma T do ser humano têm sido indicados como promotores ou indutores do câncer bucal (INCA, 2003). 2.1.1.f Idade e Sexo Entre as características mais prevalentes nos pacientes portadores de câncer de boca, a idade é um importante fator. A doença afeta preferencialmente pessoas com mais de 50 anos de idade, o que pode ser explicado pelo fato de ter havido, ao longo dos anos, mais tempo para ação cumulativa de agentes externos e para expressão de genes que apresentam mutação. Entretanto, há o mito da doença ser mais agressiva quando acomete indivíduos jovens, porém esse dado não é confirmado pela literatura (FRANCO et al., 1993; LLEWELYN et al., 2004). Em vários levantamentos epidemiológicos de câncer bucal e de cabeça e pescoço tem sido verificado haver maior acometimento em indivíduos do gênero masculino acima dos cinquenta anos de idade. Língua e lábio têm se mostrado os sítios anatômicos bucais mais afetados por esta doença (SOUZA; PEREIRA, 1981; GERVASIO et al., 2001; KERDPON; SRIPLUNG, 2001). No Brasil, assim como em outros países, os homens são as principais vítimas do câncer bucal, sendo a proporção entre homens e mulheres de 10:1 e a predominância do gênero masculino muito maior do que aquela observada nos países desenvolvidos. A incidência relativa entre os sexos, reflete uma maior exposição aos fatores de risco, como vício do tabaco e ingestão do álcool, e isso 26 Revisão de Literatura pode justificar parcialmente a maior predominância de câncer bucal no Brasil (OLIVEIRA; ODDEL, 2000). 2.1.1.g Irritação Mecânica ou Química Fatores, como irritação mecânica (próteses dentárias mal adaptadas, fraturas e ausência de elementos dentários) ou química (uso de soluções de higiene bucal, exposição à alguns produtos químicos), além da má higiene bucal, também têm sido relatados como possíveis fatores de risco para o câncer de boca (WERNER; FONTANELLA, 2009). Fonseca, Areias e Figueiral (2007), citam em seu estudo que a colocação de uma prótese provoca uma alteração quantitativa e qualitativa da placa bacteriana, deste modo irá propiciar um aumento dos processos inflamatórios na cavidade oral. 2.1.1.h Nível socioeconômico Estudos relacionam a associação entre câncer bucal e de cabeça e pescoço com a pobreza, onde os indicadores de mortalidade e morbidade são ruins nas áreas de baixo nível socioeconômico. As características culturais do povo, o nível socioeconômico da sociedade e o grau de acesso ao tratamento e tecnologia nos serviços públicos de saúde determinam a variação da incidência do câncer bucal no mundo . No Brasil, a prevalência de analfabetos entre os portadores de câncer bucal tem variado de 28% a 74% (FRANCO;KOWALSKI;OLIVEIRA, 1989; LEITE; KOIFMAN, 1999; BOING; ANTUNES, 2001) Uma pobre higiene bucal pode agir sinergicamente com o álcoolque nessas condições, aumenta a produção de acetaldeído na saliva, um metabólito do etanol que contribui para o desenvolvimento do câncer (DOBROSSY, 2005). O estilo de vida e as variações geográficas ou regionais de uma população podem refletir a apresentação clínica e as características do tumor, é o que mostra um estudo realizado no Brasil, país em desenvolvimento, revelando diferenças estatisticamente significantes dessas características quando comparado àquelas de pacientes provenientes de uma instituição de país desenvolvido, os Estados Unidos da América (CARVALHO et al., 2004). Revisão de Literatura 27 Numa revisão de literatura sobre aspectos socioeconômicos conduzida por Boing e Antunes no ano de 2011, houve associação direta entre piores condições socioeconômicas e câncer de cabeça e pescoço em pesquisas conduzidas em diversos países ao longo de quase três décadas, mostrando a desigual distribuição da doença entre os estratos sociais. No Brasil, os indivíduos de baixa renda apresentam maior necessidade de consumo e cuidados médicos, são excluídos dos benefícios dos seguros privados de saúde e possuem dificuldade de acesso aos serviços públicos, implicando os diagnósticos tardios da doença e precariedade no tratamento. A consequência disso é a morte precoce e evitável das pessoas mais carentes da população (FONSECA; GUTIERREZ; ADAMI, 2006, PESSOTO et al., 2007) 2.1.2 Fatores de risco intrínsecos 2.1.2.a Imunológicos As deficiências imunológicas estão relacionadas ao aparecimento de neoplasias malignas. Sem um sistema imunológico competente, as células malignas não são reconhecidas, consequentemente, não são destruídas, o que permite o desenvolvimento das neoplasias malignas. Atualmente, é documentada o aumento da incidência em imunossuprimidos, como os pacientes infectados pelo vírus HIV e os indivíduos submetidos a regimes de imunossupressão pós transplante de órgãos (LLEWELLYN et al., 2004). 2.1.2.b Genéticos Considerando que apenas uma pequena parcela dos indivíduos expostos a agentes carcinogênicos desenvolve a doença, fica claro que uma suscetibilidade intrínseca tenha papel importante, sobretudo em pacientes de pouca idade. Há evidências de que a herança familiar desempenhe papel decisivo no seu aparecimento. Entretanto, no câncer de boca, o risco relativo para pacientes que relatam casos na família é menor do que nos cânceres de faringe ou laringe. O maior problema na interpretação desses dados é distinguir se a doença ocorre em 28 Revisão de Literatura função da hereditariedade ou do estilo de vida semelhante entre os familiares (HASSANEIN; MUSGROVE; BRADBURY, 2005). O impacto de variações genéticas levando ao carcinoma espinocelular (CEC) ainda não é totalmente conhecido. Para a elucidação desses mecanismos, estudam- se as anormalidades genéticas presentes em pacientes que desenvolveram a doença. As interações entre genes e carcinógenos são significativas para ocorrência dos polimorfismos. O desenvolvimento do câncer bucal se deve a vários eventos moleculares que promovem alterações cumulativas em genes específicos. Tem-se demonstrado que a instabilidade genômica é um sinal precoce de transformação maligna (VISSCHER et al., 1999). 2.2 Incidência O câncer de cabeça e pescoço é um problema que afeta a saúde pública mundial, estando o câncer bucal entre os dez cânceres mais frequentes na população, apresentando taxas de incidência e de mortalidade entre as mais elevadas do mundo. Estimativas anuais de incidência são de 275.000 novos casos de câncer bucal e 130.300 na região da cabeça e pescoço, sendo que dois terços destes casos ocorrem em países em desenvolvimento. Há uma ampla variação geográfica na incidência destes tipos de cânceres (SAMAN, 2009). A Figura 1. mostra os países com altas taxas de incidência e de óbito que são: Sul e Sudeste da Ásia (exemplo: Sri Lanka, Índia, Paquistão e Taiwan), partes do oeste (França) e da Europa Oriental exemplo: Hungria, Eslováquia e Eslovénia), partes da América Latina e Caribe (exemplo: Brasil, Uruguai e Porto Rico) e algumas regiões do Pacífico (exemplo: Nova Guiné e Melanésia) (SAMAN, 2009). Revisão de Literatura 29 Figura 1. Países com altas taxas de incidência e de óbitos por câncer de cabeça e pescoço (SAMAN, 2009). Em países como Bangladesh, Índia, Paquistão e Sri Lanka, a boca é o sítio de câncer mais frequente. As taxas de incidência mais altas foram registradas no gênero masculino, em algumas localidades da França (incidência anual superior a 40/100.000), onde estão associadas com o hábito de fumar e o elevado consumo de álcool. Na Índia, a alta incidência entre as mulheres (incidência anual é superior a 10/100.000), está associada ao hábito de mascar folhas de Betel (OLIVEIRA et al., 2007). Segundo a Organização Mundial de Saúde (1995), o número estimado anual de casos novos de câncer passará de 10 milhões em 2000 e para 15 milhões em 2020, sendo que 60% dos casos novos ocorrerão em regiões menos desenvolvidas do mundo, em países que possuem menos do que 5% de recursos necessários para o controle do câncer. Em virtude das desigualdades sociais existentes na América Latina, o mapa global de distribuição dos tipos de câncer nesta região segue uma superposição semelhante à encontrada no perfil de morbimortalidade. Neste contexto, o Brasil destaca-se como uma área interessante para monitoramento e controle das 30 Revisão de Literatura tendências na incidência de câncer, assim como para estudo das variações geográficas nos padrões desta doença (GUERRA et al., 2005). Estimativas para o ano de 2012 do INCA-BRASIL mostram que, o câncer da cavidade oral em homens é o quarto mais frequente na região Nordeste (6/100 mil), quinta posição nas regiões Sudeste (15/100 mil) e Centro-Oeste (9/100 mil), enquanto nas regiões Sul (12/100 mil) e Norte (3/100 mil) é o sexto mais frequente. Para as mulheres, é o oitavo mais frequente na região Nordeste (3/100 mil), ocupa a nona posição nas regiões Sudeste (6/100 mil) e Norte (2/100 mil), enquanto nas regiões Centro-Oeste (3/100 mil) e Sul (3/100 mil), é o 12º e o 15º mais incidente. Uma das regiões em destaque no mapa, como mostram a seguir as Figuras 2 e 3, é a Sudeste que concentra 32% e trata cerca de 42% de todos os casos de câncer bucal do país, tendo a cidade de São Paulo a maior taxa de incidência do continente americano. Nessa população, os fatores de riscos compartilhados são específicos e os mesmos que estão presentes em populações que vivem na Argentina e Uruguai como o consumo demasiado de tabaco e álcool (WUNSCH- FILHO, 2002; INCA, 2004). Figura 2. Representação espacial das taxas brutas de incidência nos estados brasileiros por 100.000 mil homens, estimadas para o ano de 2012, segundo Unidade da Federação (neoplasia maligna da cavidade oral). Revisão de Literatura 31 Figura 3. Representação espacial das taxas brutas de incidência nos estados brasileiros por 100.00 mil mulheres, estimadas para o ano de 2012, segundo Unidade da Federação (neoplasia maligna da cavidade oral) Estudos apontam que os pacientes mais acometidos por esses cânceres, são principalmente pacientes do gênero masculino entre a quinta e a oitava década de vida, tabagistas e/ou etilistas crônicos e de baixa condição socioeconômica, sendo pouco frequente em pacientes com menos de 45 anos de idade (KOWALSKI et al.,1994) 2.3 Aspectos Clínicos Os carcinomas espinocelulares (CEC) são agressivos e constituem 90-95% dos cânceres da cavidade oral. Se apresentam mais comumente como uma úlcera ou massa esbranquiçada, endurecida, irregular, aderida a planos profundos e mal delimitada, com odor, sangramento, disfagia, odinofagia, trismo, perda de peso e linfadenopatia cervical. O carcinoma exibe normalmente um fundo granulosoe grosseiro, com bordas elevadas circundando a lesão. No entanto, outras doenças podem se manifestar como lesões ulceradas e causar confusão diagnóstica com o câncer, como é o caso das doenças que estimulam no organismo reação tipo 32 Revisão de Literatura granulomatosa, como a leishmaniose, a tuberculose e, principalmente, a paracoccidiomicose e o cancro sifilítico (SHAH; LIDIATT, 1999; PORCARO-SALLES, 2007). Citamos como os carcinomas menos frequentes na cavidade oral os adenocarcinomas de glândulas salivares menores, sarcomas, linfomas, melanomas e tumores metastásicos (PORCARO-SALLES, 2007). Em casos avançados, a visualização do câncer bucal é extremamente fácil. O grande desafio, no entanto, é considerar a possibilidade de uma lesão ser maligna, a despeito de sua aparência inofensiva, especialmente porque não existem sintomas específicos de câncer em suas fases iniciais. Assim ao examinar qualquer indivíduo, principalmente os que se excluem do grupo considerado de risco, deve-se observar alterações de mucosa, buscando detectar aquelas que tenham maior potencial de malignização como lesões brancas: aquelas cuja coloração acinzentada ou esbranquiçada contrasta com a coloração róseo-avermelhada da mucosa normal, sendo as principais: leucoplasias, líquen plano e ceratose actínica; ou lesões vermelhas: são aquelas que apresentam coloração mais avermelhada que a da mucosa normal da boca, sendo as eritroplasias as que mais apresentam risco de câncer (PINDBORG, 1981). 2.4 Diagnóstico clínico e Estadiamento Em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, o diagnóstico e o estadiamento (ou classificação) do tumor fornecem diretrizes para a escolha do tratamento mais adequado. O diagnóstico do câncer envolve o diagnóstico clínico anatômico macroscópico (local, tamanho, relações com a pele e com estruturas profundas adjacentes, mobilidade relativa ao plano ósseo e feixe vásculo-nervoso), diagnóstico etiológico (definição de fatores de risco), diagnóstico anatomopatológico e, por fim, o diagnóstico funcional (análise do comprometimento da função tanto devido ao câncer quanto ao seu tratamento). O estadiamento descreve aspectos do câncer, como localização, disseminação e metástases (GENTIL; LOPES, 1991). A fim de avaliar o estadiamento clínico do câncer, a União Internacional de Combate ao Câncer (UICC), desenvolveu o sistema conhecido como TNM, que tem como base a avaliação da dimensão do tumor (T), a extensão da disseminação em Revisão de Literatura 33 linfonodos regionais (N) e a presença ou não de metástase à distância (M). A com- binação das diversas variantes de T, N e M determinam o estádio clínico da doença em graus que vão de 1 à 4 e são indicados por algarismos romanos (NEVILLE et al., 1998). São classificados como bem, moderadamente, pouco diferenciados e indiferenciados, ou seja, de graus I a IV, respectivamente. Os tumores bem diferenciados ou grau I mostram células escamosas com características citológicas semelhantes às células normais. São grandes, com núcleos vesiculosos discretamente atípicos, raras mitoses, e “pérolas córneas”. À medida que vão ficando menos diferenciados, as “pérolas córneas” tendem a diminuir ou mesmo desaparecer e as atipias nucleares e mitoses tornam-se frequentes. Os indiferenciados são, às vezes, difíceis de serem diagnosticados e técnicas de imunohistoquímica devem ser usadas para confirmação diagnóstica (PORCARO- SALLES, 2007). O Quadro 1 descreve o estadiamento (em grau) do câncer bucal e de cabeça e pescoço e as características clínicas conforme descrição do Hospital A.C.Camargo (CAMARGO, 2012). Quadro 1. Estadiamento (em grau) do câncer e características clínicas. Estadiamento (em grau) Características clínicas Grau I - Tumor tem 2 cm ou menos e não atingiu gânglios linfáticos ou órgãos distantes. Grau II - Tumor entre 2-4 cm e não atingiu gânglios linfáticos ou órgãos distantes. Grau III - Tumor com mais de 4 cm, atingiu um gânglio linfático do mesmo lado que a região anatômica primária e não atingiu órgãos distantes. Grau IV - Tumor com mais de 4 cm, atingiu um gânglio linfático e órgãos distantes. Evidencia-se na literatura que as taxas de sobrevivência são maiores nos casos em que a doença esta localizada (grau I) e menores quando se estende além do órgão de origem (grau IV) (DAHER et al., 2008). 34 Revisão de Literatura 2.5 Tipos de Tratamento e Reações Adversas O objetivo principal do tratamento é curar o paciente do câncer. A escolha do tratamento depende de fatores como localização, estadiamento clínico, da gradação histopatológica, e das condições físicas do paciente como envolvimento ósseo, capacidade de preservar a fala, capacidade de preservar a função da deglutição, o estado físico e mental do paciente. Também são avaliadas, de maneira criteriosa, as complicações de cada terapia. Se a lesão não for curada pela terapia inicial, as opções para o tratamento podem ser limitadas, e a probabilidade de cura reduzida (EPSTEIN et al.,1999). A cirurgia ou a radiação é usada com o propósito curativo no tratamento do câncer bucal. A quimioterapia é uma adjunta às modalidades terapêuticas principais de radiação e cirurgia. Cirurgia ou radiação pode ser utilizada para lesões menos avançadas (grau I/II), contudo, a cirurgia, combinada com radiação, é geralmente necessária para a doença mais avançada (grau III/IV). Contudo, para a doença avançada, a quimioterapia é utilizada em combinação com cada uma ou ambas as modalidades primárias de tratamento (SPAULDING et al., 1991; HONORATO et al., 2009). Muitos dos pacientes que apresentam câncer de cabeça e pescoço são submetidos a altas doses de radioterapia em extensos campos de radiação que irão incluir a cavidade bucal, maxila, mandíbula e glândulas salivares. Desta forma, a terapia anticâncer está associada a diversas reações adversas. Essas reações podem ocorrer em uma fase aguda (durante ou nas semanas imediatas ao tratamento) ou em uma fase crônica (meses ou anos após a radioterapia). A gravidade das complicações bucais agudas irá depender do grau de inclusão dessas estruturas no campo de irradiação ( BARASCH; SAFFORD; EISEBERG, 1998; SPETCH, 2002). A cirurgia radical do câncer de boca evoluiu sobremaneira, com a incorporação de técnicas de reconstrução imediata, permitindo largas ressecções e uma melhor recuperação do paciente. As deformidades, porém, são ainda grandes e o prognóstico dos casos, intermediário (WERNER; FONTANELLA, 2009). As diversas modalidades de tratamento apresentam reações agudas ou tardias como: Revisão de Literatura 35 Mucosite: na mucosa bucal, os agentes quimioterápicos atuam sobre as células que têm um alto índice mitótico podendo provocar a formação de lesões ulceradas nas mucosas (FILHO; FERREIRA, 1991); Hiposalivação: a irradiação das glândulas salivares gera alteração do fluxo salivar, inicialmente espesso, mas que pode evoluir para a hiposalivação com a continuidade do tratamento, podendo durar de 3 a 6 meses, podendo apresentar candidíase associada (FILHO; FERREIRA, 1991); Cárie de radiação: consequência secundária da hiposalivação (NEVILLE et al, 1998); Hemorragia intra-oral: é uma complicação aguda, relacionada à quimioterapia, sendo a mucosa labial, língua e gengiva as regiões mais acometidas (NEVILLE et al, 1998); Osteorradionecrose: surge após o período de radiação, sendo caracterizada como uma exposição óssea prolongada, em período acima de 3 meses, com ulceração ou necrose da mucosa bucal, podendo ocorrer ou não uma infecção secundária. Outros fatores como fumo, álcool, má higiene bucal e fatores nutricionais podem causar essa alteração patológica (NEVILLE, 1998; BUENO; CARVALHO, 1997) Xerostomia: é a alteração do paladar causada pela radioterapia, acarretando maior ingestãode sal e açúcar, sendo restituído em torno de 4 meses após o tratamento (FILHO; FERREIRA, 1991); Mutilação: é a consequência deletéria da cirurgia oncológica, ocorrendo dano funcional e modificação do fluxo salivar, quando há remoção parcial ou total de glândulas salivares (GENTIL; LOPES, 1991); Trismo: caracterizado por espasmos musculares tônicos e pela dificuldade de abertura da boca, resultante da irradiação excessiva dos músculos da mastigação. Dificulta o uso de próteses dentárias e uma adequada higiene bucal (NEVILLE et al, 1998). 36 Revisão de Literatura 2.6 Sobrevida e Qualidade de Vida Os cânceres bucal e de cabeça e pescoço, não apresentaram grandes alterações nas últimas três décadas relacionados ao índice de sobrevida, apesar dos avanços na terapia, permanecendo a taxa de 50% de sobrevida em 5 anos, ou menos. Esta taxa pode ser aumentada quando as lesões são diagnosticadas em estádios menos avançados. Por isso, acredita-se que detectar o câncer bucal em estágio precoce é o meio mais efetivo de reduzir a morbidade, complexidade e magnitude do tratamento (HONORATO et al., 2009). Neville e colaboradores (2008) mostram em seu trabalho as taxas de sobrevida para o carcinoma bucal de células escamosas conforme o estadiamento clínico, mostrando a concordância com outros trabalhos na literatura, relatando o alto índice de sobrevida quando o diagnóstico é precoce. Quadro 2: Estadiamento (em grau) e respectiva taxa de sobrevida do câncer bucal (NEVILLE, 2008). Estadiamento (em grau) Taxa sobrevida de 5 anos Grau I 85% Grau II 66% Grau III 41% Grau IV 9% Muitos pacientes que obtém sucesso com o tratamento do câncer bucal e de cabeça e pescoço, sofrem as consequências desses tratamentos. Diversos estudos mostram que, os pacientes afetados com esses tipos de cânceres, têm a saúde física e mental comprometida pelo tumor, o qual influencia negativamente nas atividades sociais e de outras áreas da qualidade de vida. A função e a aparência da região cabeça e pescoço são decisivas para a autoimagem. O bem estar físico, social e psicológico é bastante influenciado pela deformidade e pela disfunção decorrentes do tipo de tratamento (MOROI; OKIMOTO; TERADA, 1999; SPECHT, 2002). Revisão de Literatura 37 Biazevic e colaboradores (2006) após trabalharem com aplicação do questionário UW-QOL para avaliar a qualidade de vida dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço, anteriormente e 1 anos após a cirurgia, concluiram que a avaliação da sobrevida e da qualidade de vida pode contribuir para antecipar intervenções destinadas a reduzir a incidência de limitações funcionais nestes pacientes. 3- Proposição Proposição 41 3 PROPOSIÇÃO 3.1 Objetivo geral Este estudo teve como objetivo descrever a prevalência, perfil clínico e epidemiológico dos pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço atendidos no Hospital Estadual de Bauru/SP (HEB), no qual os atendimentos são feitos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período compreendido entre junho de 2008 à janeiro de 2011. 3.2 Objetivos específicos a) Analisar os aspectos clínicos dos pacientes a fim de apresentar dados como gênero, faixa etária, etnia, localidade de procedência do paciente, hábitos como fumo e álcool, sintomas no momento do diagnóstico, se o paciente foi encaminhado para tratamento por médico ou cirurgião dentista, tipo histológico, região anatômica, estadiamento clínico, tipo de tratamento, índice de óbito e tempo de sobrevida; b) Relacionar a prevalência do câncer de cabeça e pescoço no Hospital Estadual de Bauru/SP de acordo com a região anatômica acometida nos pacientes do referido período. 4- Material e Métodos Material e Métodos 45 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Aspectos Éticos Inicialmente, o projeto de pesquisa, sob número 156/2011, foi integralmente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de Bauru- FOB/USP e pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP) do Hospital Estadual de Bauru (HEB). (ANEXOS 1 e 2) 4.2 Opção Metodológica Foi realizado um estudo descritivo retrospectivo por meio de revisão de prontuários médicos do serviço de Oncologia do Hospital Estadual de Bauru (HEB), o qual é um hospital de médio porte localizado na cidade de Bauru, interior do estado de São Paulo (Sudeste do Brasil), e oferece tratamento gratuito para pacientes de baixa renda, pois seu atendimento é unicamente pelo SUS, tendo completo atendimento ambulatorial e hospitalar. O setor de Oncologia no HEB, teve início no ano de 2008. No entanto, não se trata de um hospital de referência do câncer bucal e de cabeça e pescoço, mas possui tratamento especializado. 4.3 Composição da amostra A amostra do presente estudo foi composta dos 177 prontuários de pacientes que tiveram o diagnóstico de câncer bucal e de cabeça e pescoço confirmados por biópsia, em um período de 2 anos e 6 meses ( junho de 2008 até janeiro de 2011), e que foram submetidos a tratamento médico neste hospital. Para obtenção dos números dos prontuários, foi solicitado previamente ao setor de Estatística do HEB, uma planilha contendo os números dos prontuários a serem analisados, nos quais os tipos de cânceres de cabeça e pescoço foram 46 Material e Métodos definidos conforme a Classificação Internacional de Doenças - 10ª revisão (CID-10) da Organização Mundial da Saúde. 4.4 Variáveis de Estudo As variáveis analisadas nos prontuários informam características sócio- demográficas (gênero, idade e etnia), comportamentais (hábitos tabagista e etilista), estado clínico (sintomas no primeiro atendimento médico, região anatômica primária, estadiamento clínico, diferenciação histológica, tratamento e metástase), e outras covariáveis como índice de óbito e tempo de sobrevida. Também foram incluídos dados como local de procedência do paciente e tipo de encaminhamento. Gênero e etnia: homens e mulheres, sendo consideradas as cores de pele branca, negra, amarela e parda; Faixa etária: foram utilizados valores de corte conforme critério da Organização Mundial de Saúde (OMS): 15 à 19 anos - adolescentes; 20 à 34 anos - adultos jovens; 35 à 59 anos - adultos e 60 anos ou mais - idosos; Tabagismo e Etilismo: quanto ao consumo de fumo e álcool, classificamos em: “sim” (pacientes que faziam o uso, independente da quantidade e do tipo consumido), “não” (nunca fizeram uso) e “ex” para aqueles indivíduos que relataram experiência com consumo de fumo e álcool; Região Anatômica Primária: citada nos prontuários médicos conforme Classificação Internacional de Doenças - 10ª revisão (CID-10). O termo “região anatômica inespecífica” foi adotado nos casos onde não foi possível identificar a região anatômica primária devido ao avanço da doença. Foram consideradas neste estudo as seguintes regiões anatômicas: lábio (CID.C00); língua (CID.C02); assoalho da boca (CID.C04); palato (CID.C05); glândula parótida (CID.C07); amígdala (CID.C09); orofaringe (CID.C10); nasofaringe (CID.C11); recesso piriforme (CID.C12); hipofaringe (CID.C13) e laringe (CID.C32); Material e Métodos 47 Estadiamento clínico: foi classificado de acordo com as normas da União Internacional de Combate ao Câncer (UICC), nas quais os tumores são considerados grau I/II/III/IV de acordo com a fase da doença; Tratamento: quimioterapia, radioterapia, cirurgia epaliativo (adotado apenas para amenizar o sofrimento do paciente); Sobrevida: calculada a partir do início do tratamento no HEB até a data de óbito do paciente. A análise dos prontuários foi feita pela pesquisadora com conferência do orientador, para que não ocorresse viés na pesquisa. Dados não obtidos no momento da análise de prontuários, foram citados como não informados (NI), considerando-se a obtenção da maioria dos dados de todos os pacientes. Os resultados foram compilados para uma planilha específica no programa Microsoft Excel, e estatisticamente foram usadas frequências relativas e absolutas por se tratar de um estudo descritivo. 5- Resultados Resultados 51 5 RESULTADOS Foram analisados os dados de 177 pacientes registrados com câncer bucal e de cabeça e pescoço atendidos no período de junho de 2008 à janeiro de 2011 no Hospital Estadual de Bauru/SP (HEB), diagnosticados no próprio hospital em atendimentos ambulatoriais ou encaminhados de outras localidades da região de Bauru. Houve predomínio de 96 (54%) pacientes da cidade de Bauru, enquanto 81 (46%) pacientes eram de outras localidades. Ressalta-se que do número total de 177 pacientes, apenas 1 (0,06%) foi encaminhado ao médico pelo cirurgião dentista devido à uma lesão na cavidade oral, tendo o paciente aguardado aproximadamente 1 ano para procurar o atendimento médico especializado. Entretanto, a maioria dos pacientes procurou atendimento médico devido aos sinais e sintomas da doença em fase avançada. Os familiares foram citados em 92 (51,97%) prontuários, sempre acompanhando os pacientes em consultas, tratamento e nas internações. Não constava esta informação em 81 (45,78%) prontuários, e apenas 4 (2,25%) pacientes moravam sozinhos. Com relação ao gênero, constatou-se que houve estatisticamente um maior percentual de homens. Dos pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço, 156 (88,14%) eram do gênero masculino e 21 (11,86%) do gênero feminino, permitindo calcular uma relação de 7,4:1. A faixa etária dos indivíduos variou entre 18 e 87 anos, com média de 59,3 anos, sendo 60,2 anos para o gênero masculino e 54,0 anos para o gênero feminino como mostra a Tabela 1. Tabela 1. Distribuição de pacientes com câncer bucal e de cabeça e pescoço conforme faixa etária. Faixa Etária Frequência (anos) n % 15-19 1 0,57 20-34 2 1,13 35-59 87 49,15 60ou+ 87 49,15 Total 177 1100,00 52 Resultados A distribuição dos tipos de câncer, de acordo com a faixa etária dos pacientes, mostra a predominância entre os adultos e idosos em 174 (98,35%) dos casos estudados, independente da região anatômica, contrastando com a fase da adolescência, com apenas 1 (0,56%) paciente acometido e 2 (1,12%) pacientes na faixa de 35-39 anos de idade. (Tabela 2) Tabela 2. Distribuição dos pacientes conforme faixa etária e região anatômica do câncer de cabeça e pescoço. Região Anatômica Faixa etária (anos) (total de casos) 15-19(%) 20-34(%) 35-59(%) 60ou+ (%) Hipofaringe (34) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 17 (50,00) 17 (50,00) Língua (30) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 15 (50,00) 15 (50,00) Laringe (26) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 11 (42,30) 15 (57,70) Orofaringe (20) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 10 (50,00) 10 (50,00) Recesso Piriforme (15) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 11 (73,33) 4 (26,67) Amígdala (14) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 9 (64,29) 5 (35,71) Assoalho da Boca (11) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 4 (36,36) 7 (63,64) Nasofaringe (9) 1 (11,11) 1 (11,11) 3 (33,33) 4 (44,45) Glândula Parótida (6) 0 ( 0,00 ) 1 (16,67) 2 (33,33) 3 (50,00) Palato (6) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 3 (50,00) 3 (50,00) Lábio (3) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 1 (33,33) 2 (66,67) Inespecífica (3) 0 ( 0,00 ) 0 ( 0,00 ) 1 (33,33) 2 (66,67) A tabela 3 informa o número de casos conforme região anatômica acometida e gêneros, revelando que as regiões anatômicas mais acometidas foram a hipofaringe com 34 pacientes (19,20%) e língua com 30 pacientes (16,90%). Nota-se também a predominância de indivíduos do gênero masculino em 88,14% dos casos e a baixa frequência do gênero feminino em 11,86% dos casos. Resultados 53 Tabela 3. Região Anatômica (primária) dos pacientes com Câncer Bucal e de Cabeça e Pescoço, de acordo com CID-10 e distribuição por gêneros no Hospital Estadual de Bauru/SP. Gêneros Região Anatômica Número de Pacientes Masculino Feminino n (%) n (%) n (%) Hipofaringe 34 (19,21) 32 (18,08) 2 (1,13) Língua 30 (16,96) 26 (14,70) 4 (2,26) Laringe 26 (14,70) 23 (13,00) 3 (1,70) Orofaringe 20 (11,30) 20 (11,30) 0 (0.00) Recesso Piriforme 15 ( 8,47 ) 9 ( 5,08) 6 (3,39) Amígdala 14 ( 7,91 ) 14 ( 7,91) 0 (0,00) Assoalho da Boca 11 ( 6,21 ) 9 ( 5,08) 2 (1,13) Nasofaringe 9 ( 5,08) 7 ( 3,95) 2 (1,13) Glândula Parótida 6 ( 3,38) 5 ( 2,82) 1 (0,56) Palato 6 ( 3,38) 6 ( 3,38) 0 (0,00) Lábio 3 ( 1,70 ) 2 ( 1,14) 1 (0,56) Inespecífica 3 ( 1,70 ) 3 ( 1,70) 0 (0,00) Total 177 (100,00) 156 (88,14) 21 (11,86) A cor da pele (etnia) foi estudada e subdividida em 4 grupos: brancos, negros, amarelos e pardos. Houve predomínio dos brancos (caucasianos) em 142 (80,22%) dos casos estudados e, no outro extremo somente 2 indivíduos amarelos (1,12%). (Tabela 4) 54 Resultados Tabela 4. Distribuição dos grupos étnicos de acordo com a região anatômica do câncer. Etnia Região Anatômica Brancos Negros Amarelos Pardos Total n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) Hipofaringe 28 (15,82) 2 (1,13) 0 (0,00) 4 (2,26) 34 (19,21) Língua 26 (14,69) 0 (0,00) 0 (0,00) 4 (2,26) 30 (16,95) Laringe 18 (10,17) 2 (1,13) 0 (0,00) 6 (3,40) 26 (14,69) Orofaringe 16 ( 9,04) 2 (1,13) 1 (0,57) 1 (0,56) 20 (11,31) Recesso Piriforme 10 (5,65) 3 (1,70) 0 (0,00) 2 (1,13) 15 (8,48) Amígdala 13 (7,34) 1 (0,56) 0 (0,00) 0 (0,00) 14 (7,90) Assoalho da Boca 6 (3,39) 2 (1,13) 1 (0,57) 2 (1,13) 11 (6,23) Nasofaringe 8 (4,52) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (0,56) 9 (5,08) Glândula Parótida 5 (2,82) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (0,56) 6 (3,39) Palato 6 (3,39) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (3,39) Lábio 3 (1,70) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (1,69) Inespecífica 3 (1,70) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (1,69) Total 142 (80,23) 12 (6,78) 2 (1,14) 21(11,86) 177(100,00) Referente ao grau de diferenciação histológica, houve predominância do carcinoma espinocelular (CEC) em 98,30% dos pacientes e em 1,70% dos casos este dado não foi informado pelos médicos. Quanto a sintomatologia inicial relatada pelos pacientes no momento do atendimento clínico, foram representativos: emagrecimento intenso (48,02%), com perda de peso de 20-30kg em um mês, tornando-se caquético; dor intensa (42,37%) irradiadapelo câncer, ocasionando perda de apetite, fraqueza e perda do sentido, sentindo esta dor por 10 meses antes de procurar tratamento médico; lesão (33,89%) decorrente do sitio primário com aspectos e tamanhos variados, atingindo dimensões de 6 cm na língua e caroço na boca por 1 ano; disfagia (32,76%) há meses ou anos, ocasionando engasgos e falta de ar; relatos de disfonia (15,25%) por períodos de até 2 anos ocasionando perda da fala; rouquidão (10,73%), otalgia (6,77%) por período de até 8 meses consecutivos e sangramento (4,51%) na cavidade oral. Outros sintomas relatados pelos médicos foram: tosse produtiva, trismo, xerostomia, anorexia, necrose e odor fétido. (Tabela 5) Resultados 55 Tabela 5. Sintomas relevantes dos pacientes com Câncer Bucal e de Cabeça e Pescoço no Hospital Estadual de Bauru/SP. n(177) Prevalência(%) Emagrecimento 85 48,02 Dor 75 42,37 Lesão 60 33,89 Disfagia 58 32,76 Disfonia 27 15,25 Rouquidão 19 10,73 Otalgia 12 6,77 Hemorragia Oral 8 4,51 Os sintomas citados na Tabela 5 ocorreram na maioria das vezes associados, podendo o mesmo paciente apresentar vários sintomas graves de acordo com a região anatômica acometida. Ressalta-se que, os cânceres de hipofaringe, língua, laringe o orofaringe foram os que mais apresentaram sintomas associados devido ao avanço da doença, e à procura tardia por tratamento. (Tabela 6) Tabela 6. Distribuição dos Sinais e Sintomas de acordo com a região anatômica do câncer. Sinais e Sintomas Região Anatômica Emagrecimento Dor Lesão Disfagia Disfonia Rouquidão Otalgia Hemorra gia Oral n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) n(%) Hipofaringe 17(20,00) 6(21,33) 8(13,33) 16(27,59) 8(29,63) 5(26,32) 0 (0,00) 0 (0,00) Língua 13(15,29) 115(20,00) 14(23,33) 10(17,24) 2(7,41) 2(10,53) 5(41,67) 1(12,50) Laringe 16(18,82) 1 10(13,33) 2 (3,33) 12(20,69) 1 10(37,04) 5(26,32) 2(16,67) 1(12,50) Orofaringe 9(10,59) 9 (12,00) 6(10,00) 6(10,34) 2(7,41) 2(10,53) 2(16,67) 2(25,00) Recesso Piriforme 10(11,76) 8 (10,67) 1 (1,67) 5(8,62) 1(3,70) 3(15,79) 0(0,00) 1(12,50) Amígdala 8 (9,41) 7 ( 9,33) 8(13,33) 4(6,90) 1(3,70) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) Assoalho da Boca 5 (5,88) 6 (8,00) 5 (8,33) 2(3,45) 1(3,70) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) Nasofaringe 3 (3,53) 3 (4,00) 7(11,67) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 2(16,67) 0(0,00) Glândula Parótida 2 (2,35) 0 (0,00) 2 (3,33) 0(0,00) 1(3,70) 1(5,26) 0(0,00) 1(12,50) Palato 2 (2,35) 1 (1,33) 2 (3,33) 2(3,45) 1(3,70) 1(5,26) 1(8,33) 1(12,50) Lábio 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (5,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) Inespecífica 0 (0,00) 0 (0,00) 2 (3,33) 1(1,72) 0(0,00) 0(0,00) 0(0,00) 1(12,50) 56 Resultados Constatamos em nosso estudo o predomínio do câncer em grau avançado em 114 pacientes (64,40%) confirmados na avaliação clínica com câncer grau III e IV, 50 pacientes (28,25%) com grau I e II, em estadiamento menos avançado, e em 13 pacientes (7,35%) não foi informado o grau de estadiamento no prontuário médico. O diagnóstico prevalece tardio e avançado nos cânceres de hipofaringe, língua, laringe e orofaringe. (Tabela 7) Tabela 7. Distribuição do estadiamento (grau) do câncer de acordo com a região anatômica. Grau Região Anatômica I II III IV Não Informado Total n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n(%) Hipofaringe 0 (0,00) 7 (20,59) 10 (29,41) 17 (50,00) 0 (0,00) 34 (100,00) Língua 0 (0,00) 6 (20,00) 12 (40,00) 8 (26,67) 4 (13,33) 30 (100,00) Laringe 0 (0,00) 7 (26,92) 10 (38,46) 7 (26,92) 2 (7,70) 26 (100,00) Orofaringe 1 (5,00) 7 (35,00) 3 (15,00) 8 (40,00) 1 (5,00) 20 (100,00) Recesso Piriforme 0 (0,00) 2 (13,33) 9 (60,00) 4 (26,67) 0 (0,00) 15 (100,00) Amígdala 0 (0,00) 4 (28,57) 6 (42,86) 4 (28,57) 0 (0,00) 14 (100,00) Assoalho da Boca 0 (0,00) 3 (27,28) 2 (18,18) 4 (36,36) 2 (18,18) 11 (100,00) Nasofaringe 0 (0,00) 5 (55,56) 2 (22,22) 2 (22,22) 0 (0,00) 9 (100,00) Glândula Parótida 0 (0,00) 2 (33,33) 0 (0,00) 2 (33,33) 2 (33,34) 6 (100,00) Palato 1 (16,67) 3 (50,00) 1 (16,67) 1 (16,66) 0 (0,00) 6 (100,00) Lábio 1 (33,33) 1 (33,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (33,34) 3 (100,00) Inespecífica 0 (0,00) 0 (0,00) 2 (66,67) 0 (0,00) 1 (33,33) 3 (100,00) Total 3 (1,70) 47 (26,55) 57(32,20) 57(32,20) 13 (7,35) 177 (100,00) Mediante análise dos prontuários, evidencia-se que a metástase está presente em 80 (45,20%) casos de câncer bucal e de cabeça e pescoço, ocorrendo em regiões proximais ou distais da região anatômica primária, e mostrando a gravidade da doença. (Tabela 8) Resultados 57 Tabela 8. Distribuição da frequência de metástase de acordo com a região anatômica do câncer. Metástase Região Anatômica Sim Não Não informado Total n(%) n(%) n(%) n(%) Hipofaringe 16 (47,06) 4 (11,76) 14 (41,18) 34 (100,00) Língua 16 (53,33) 2 (6,67) 12 (40,00) 30 (100,00) Laringe 8 (30,77) 3 (11,54) 15 (57,69) 26 (100,00) Orofaringe 8 (40,00) 1 (5,00) 11 (55,55) 20 (100,00) Recesso Piriforme 9 (60,00) 1 (6,67) 5 (33,33) 15 (100,00) Amígdala 7 (50,00) 0 (0,00) 7 (50,00) 14 (100,00) Assoalho da Boca 7 (63,64) 0 (0,00) 4 (36,36) 11 (100,00) Nasofaringe 4 (44,44) 1 (11,11) 4 (44,44) 9 (100,00) Glândula Parótida 1 (16,67) 2 (33,33) 3 (50,00) 6 (100,00) Palato 1 (16,67) 0 (0,00) 5 (83,33) 6 (100,00) Lábio 0 (0,00) 1 (33,33) 2 (66,67) 3 (100,00) Inespecífica 3 (100,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Total 80 (45,20) 15 (8,47) 82 (46,32) 177 (100,00) Em relação ao fumo e álcool, fatores de risco analisados em nosso estudo, os resultados evidenciam grande impacto nos cânceres bucais e de cabeça e pescoço. Não foi relatado o tempo de consumo dos mesmos, devido a esta informação não estar presente em todos os prontuários. Mesmo em fase de tratamento, em estados iniciais, avançados ou terminais, foram relatados pelos clínicos o uso contínuo dos hábitos por alguns pacientes. Registramos fumantes/alcoolistas como “sim”, nunca fizeram uso “não”, deixaram de fumar/beber “ex” e os que não tinham esta informação no prontuário “NI”. (Tabelas 9 e 10) 58 Resultados Tabela 9. Distribuição do fator de risco "FUMO" de acordo com o número total de câncer da região anatômica. Fator de risco: Fumo Região anatômica sim (%) não (%) ex (%) NI (%) Total (%) Hipofaringe 22 (64,71) 3 (8,82) 6 (17,65) 3 (8,82) 34 (100,00) Língua 20 (66,67) 2 (6,67) 7 (23,33) 1 (3,33) 30 (100,00) Laringe 18 (69,23) 3 (11,53) 4 (15,38) 1 (3,84) 26 (100,00) Orofaringe 10 (50,00) 2 (10,00) 5 (25,00)3 (15,00) 20 (100,00) Recesso Piriforme 10 (66,67) 1 (6,67) 4 (26,67) 0 (0,00) 15 (100,00) Amígldala 9 (64,29) 4 (28,57) 1 (7,14) 0 (0,00) 14 (100,00) Assoalho da Boca 7 (63,63) 4 (36,36) 0 (0,00) 0 (0,00) 11 (100,00) Nasofaringe 3 (33,33) 3 (33,33) 2 (22,22) 1 (11,11) 9 (100,00) Glândula Parótida 3 (50,00) 3 (50,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (100,00) Palato 3 (50,00 1 (16,67) 2 (33,33) 0 (0,00) 6 (100,00) Lábio 1 (33,33) 1 (33,33) 1 (33,33) 0 (0,00) 3 (100,00) Inespecífica 2 (66,67) 1 (33,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Total 108 (61,00) 28 (15,81) 32 (18,08) 9 (5,08) 177 (100,00) Tabela 10. Distribuição do fator de risco "ÁLCOOL" de acordo com o número total de câncer da região anatômica. Fator de risco: Álcool Região anatômica sim (%) não (%) ex (%) NI(%) Total (%) Hipofaringe 19 (55,89) 5 (14,70) 7 (20,59) 3 (8,82) 34 (100,00) Língua 10 (33,33) 8 (26,67) 11 (36,67) 1 (3,33) 30 (100,00) Laringe 14 (53,85) 7 (26,92) 5 (19,23) 0 (0,00) 26 (100,00) Orofaringe 9 (45,00) 3 (15,00) 5 (25,00) 3(15,00) 20 (100,00) Recesso Piriforme 9 (60,00) 2 (13,33) 4 (26,57) 0 (0,00) 15 (100,00) Amígldala 6 (42,86) 4 (28,57) 4 (28,57) 0 (0,00) 14 (100,00) Assoalho da Boca 7 (63,63) 3 (27,27) 1 (9,09) 0 (0,00) 11 (100,00) Nasofaringe 2 (22,22) 6 (66,67) 0 (0,00) 1 (1,11) 9 (100,00) Glândula Parótida 3 (50,00 3 (50,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (100,00) Palato 3 (50,00) 2 (33,33) 1 (16,67) 0 (0,00) 6 (100,00) Lábio 0 (0,00) 2 (66,67) 0 (0,00) 1 (33,33) 3 (100,00) Inespecífica 2 (66,67) 1 (33,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Total 84 (47,46) 46 (25,99) 38 (21,47) 9 (5,08) 177 (100,00) Resultados 59 Evidencia-se em nosso estudo, o consumo associado do fumo e álcool em 42,94% (76) dos prontuários analisados e em 11,30% (20) dos casos, os pacientes relataram já terem feito uso dos hábitos simultaneamente. Esses resultados foram comparados ao número total de pacientes (177) registrados no Hospital Estadual de Bauru. (Tabela 11) Tabela 11. Distribuição do consumo associado de fumo e álcool de acordo com o número total de casos de câncer da região anatômica. Fumo + Álcool Região anatômica Sim (%) Ex (%) Hipofaringe (34) 17 (50,00) 5 (14,70) Língua (30) 9 (30,00) 5 (16,67) Laringe (26) 12 (46,15) 2 (7,69) Orofaringe (20) 9 (45,00) 5 (25,00) Recesso Piriforme (15) 8 (80,00) 2 (20,00) Amígldala (14) 5 (35,71) 0 (0,00) Assoalho da Boca (11) 6 (85,71) 0 (0,00) Nasofaringe (9) 2 (22,22) 0 (0,00) Glândula Parótida (6) 3 (50,00) 0 (0,00) Palato (6) 3 (50,00) 1 (16,66) Lábio (3) 0 (0,00) 0 (0,00) Inespecífica (3) 2 (66,67) 0 (0,00) Total (177) 76 (42,93) 20 (11,30) Na análise dos tipos de tratamento adotados pelos médicos, nota-se que as indicações para Quimioterapia, isolada ou associada à Radioterapia é predominante devido à fase avançada da doença. Os 25 (14,12%) pacientes que tiveram apenas tratamento paleativo também nos sugerem a procura extremamente tardia para o tratamento. Contudo o irrelevante número de 1 (0,56%) paciente que fez uso somente da Radioterapia revela o baixo número da doença em fase menos avançada.(Tabela 12) 60 Resultados Tabela 12: Distribuição dos Tipos de Tratamento de acordo com a região anatômica do câncer. Tipos de Tratamento Q R C Q/R Q/R/C Paliativo NI Total Região Anatômica n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n(%) n (%) Hipofaringe 11 (32,25) 0 (0,00) 0 (0,00) 15 (44,12) 1 (2,94) 6 (17,65) 1 (2,94) 34 (100,00) Língua 12 (40,00) 1 (7,69) 4 (13,33) 8 (26,67) 2 (6,67) 3 (10,00) 0 (0,00) 30 (100,00) Laringe 5 (19,23) 0 (0,00) 0 (0,00) 13 (50,00) 2 (7,69) 5 (19,23) 1 (3,84) 26 (100,00) Orofaringe 7 (35,00) 0 (0,00) 1 (5,00) 5 (25,00) 1 (5,00) 6 (30,00) 0 (0,00) 20 (100,00) Recesso Piriforme 6 (40,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 9 (60,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 15 (100,00) Amígdala 3 (21,43) 0 (0,00) 0 (0,00) 8 (57,14) 1 (7,14) 2 (14,29) 0 (0,00) 14 (100,00) Assoalho da Boca 2 (18,18) 0 (0,00) 3 (27,27) 5 (45,45) 0 (0,00) 1 (9,10) 0 (0,00) 11 (100,00) Nasofaringe 1 (11,11) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (66,67) 0 (0,00) 2 (22,22) 0 (0,00) 9 (100,00) Glândula Parótida 2 (33,33) 0 (0,00) 4 (66,67) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (100,00) Palato 4 (66,66) 0 (0,00) 1 (16,67) 1 (16,67) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 6 (100,00) Lábio 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Inespecífica 2 (66,67) 0 (0,00) 0 (0,00) 1 (33,33) 0 (0,00) 0 (0,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Total 55(31,07) 1(0,56) 16(9,04) 71(40,12) 7(3,96) 25(14,12) 2(1,13) 177(100,00) A distribuição do índice de óbito desses pacientes mostra que em 177 casos analisados, 83 (46,90%) pacientes foram à óbito, enquanto em 33 prontuários (18,64%) não havia essa informação ou tiveram alta hospitalar mesmo em estado avançado, sendo em alguns casos, a pedido dos familiares, ou do próprio paciente. (Tabela 13). Resultados 61 Tabela 13. Distribuição dos índices de óbito de acordo com a Região Anatômica do Câncer. Óbito Região Anatômica Sim Não NI Total n % n % n % n % Hipofaringe 15 (44,12) 10 (29,41) 9 (26,47) 34 (100,00) Língua 14 (46,67) 10 (33,33) 6 (20,00) 30 (100,00) Laringe 13 (50,00) 9 (34,62) 4 (15,38) 26 (100,00) Orofaringe 10 (50,00) 6 (30,00) 4 (20,00) 20 (100,00) Recesso Piriforme 11 (73,33) 3 (20,00) 1 (6,67) 15 (100,00) Amígdala 7 (50,00) 5 (35,71) 2 (14,29) 14 (100,00) Assoalho da Boca 7 (63,64) 2 (18,18) 2 (18,18) 11 (100,00) Nasofaringe 1 (11,11) 6 (66,67) 2 (22,22) 9 (100,00) Glândula Parótida 1 (16,67) 4 (66,66) 1 (16,67) 6 (100,00) Palato 2 (33,33) 2 (33,33) 2 (33,34) 6 (100,00) Lábio 0 (0,00) 3 (100,00) 0 (0,00) 3 (100,00) Inespecífica 2 (66,67) 1 (33,33) 0 (0,00) 3 (100,00) Total 83 (46,90) 61 (34,46) 33 (18,64) 177 (100,00) A sobrevida média dos pacientes que foram a óbito foi de 1,05 anos. Nesse período, os pacientes fizeram uso do tratamento hospitalar paleativo e internações devido ao estado grave da doença, ao intenso sofrimento e dor. A Tabela 14 mostra a distribuição do índice de óbito de acordo com a região anatômica acometida e o tempo estimado de sobrevida dos pacientes.62 Resultados Tabela 14. Distribuição do índice de óbito e tempo de sobrevida de acordo com o total de casos de câncer da região anatômica. Região Anatômica Óbito Sobrevida média Total n % (anos) (casos /%) Hipofaringe 15 (44,12) 1,16 34 (100,00) Língua 14 (46,67) 0,99 30 (100,00) Laringe 13 (50,00) 1,69 26 (100,00) Orofaringe 10 (50,00) 0,37 20 (100,00) Recesso Piriforme 11 (73,33) 1,00 15 (100,00) Amígdala 7 (50,00) 0,77 14 (100,00) Assoalho da Boca 7 (63,64) 1,09 11 (100,00) Nasofaringe 1 (1,11) 0,91 9 (100,00) Glândula Parótida 1 (16,67) 1,41 6 (100,00) Palato 2 (33,33) 0,70 6 (100,00) Inespecífica 2 (33,33) 1,41 3 (100,00) Total 83 (46,89) 1,05 177 (100,00) 6- Discussão Discussão 65 6 DISCUSSÃO Devido ao fato do câncer bucal e de cabeça e pescoço estarem associados aos fatores socioeconômicos e a alta incidência na região sudeste do Brasil decidimos fazer esse estudo em hospital público do interior do Estado de São Paulo. O Hospital Estadual de Bauru (HEB) foi selecionado para esta pesquisa por atender pacientes exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e pelo fácil acesso da pesquisadora ao local para a revisão dos prontuários. Neste hospital, os atendimentos oncológicos tiveram início no ano de 2008 e não se trata de um hospital de referência para câncer de cabeça e pescoço. De acordo com Kligerman (1998), os procedimentos ambulatoriais atingem cerca de 80% da assistência oncológica do SUS e são prestados, em sua grande maioria, por instituições estaduais e municipais. Além disso, os tratamentos quimioterápicos orais não estão disponíveis pela assistência privada. O câncer bucal, também chamado de câncer oral, é um tipo de câncer que atinge os tecidos da região da boca. Está envolvido nos cânceres de cabeça e pescoço que acometem uma gama extensiva de tumores em várias regiões da cabeça e da região do pescoço. Neste estudo, no qual fizemos uma análise descritiva retrospectiva de prontuários médicos, mostramos características clínico- epidemiológicas da população acometida por esses cânceres. Entre as características mais prevalentes nos pacientes, a idade é um importante fator. Nossos dados mostram que em 98,30% dos prontuários analisados, houve predomínio de pacientes na faixa etária compreendida entre adultos e idosos, sendo concordante com outros trabalhos citados na literatura. Entretanto, há estudos que apontam o aumento de casos em adultos-jovens, não concordante com a incidência encontrada em nosso trabalho (1,13%) nesta faixa etária (KOWALSKI; NISHIMOTO, 2000; LYPE, 2001; LLEWELLYN et al., 2001; PARKIN; BRAY; PISANI, 2002). Os indivíduos do gênero masculino foram os mais acometidos com 88,13%, estabelecendo uma relação de 7,4:1 com o gênero feminino, sendo maior do que a relatada em outros estudos (OLIVEIRA; ODDEL, 2000; OLIVEIRA; RIBEIRO-SILVA; ZUCOLOTO, 2006). No Brasil, assim como em outros países, os homens são as 66 Discussão principais vítimas do câncer bucal, com predominância muito maior do que a observada nos países desenvolvidos, refletindo uma maior exposição aos fatores de risco, como o vício do fumo e a ingestão do álcool. Quanto à etnia, verificamos o predomínio de 79,66% dos indivíduos com pele branca em relação aos demais, o que vem se mantendo no Brasil. Pacientes negros e amarelos são pouco acometidos pelo câncer em nossa pesquisa, fato confirmado na literatura por razões distintas. Enquanto os negros sofrem exclusão social, não tendo acesso a programas de prevenção, os amarelos, por questões genéticas, são pouco acometidos (WUNSH-FILHO, 2002; CHOI et al., BERTO et al., 2006) Em relação a região anatômica do câncer, em nosso estudo, prevaleceram os cânceres de hipofaringe (19,20%) e de língua (16,95%), sendo considerados como predominantes as prevalências acima de 15,00%. Em concordância com outros estudos, encontramos a língua como uma das regiões anatômicas mais acometidas (GELLRICH et al., 2003) Nos prontuários analisados, não havia relatos médicos sobre histórico familiar de câncer, pois na literatura há estudos comparativos de pacientes que tinham câncer de língua com história familiar de câncer (IYPE et al., 2001). O carcinoma espinocelular (CEC) foi o tipo histológico mais representativo com 98,30% dos casos, sendo coerente com outros estudos nos quais 90,0% e 96,7% dos casos de câncer de cabeça e pescoço são do tipo espinocelular (CASIGLIA; WOO, 2001; ALVARENGA et al., 2008). Numa estratificação entre as diversas regiões anatômicas acometidas com exposição aos principais fatores de risco, o tabagismo teve igualmente forte impacto em 66,67% dos casos de câncer na língua, recesso piriforme e regiões inespecíficas devido ao avanço da doença. Já o álcool foi mais impactante comprometendo as regiões do assoalho bucal (63,63%), e relativamente igual às regiões do recesso piriforme e regiões inespecíficas em 66,67% dos casos. Esses fatores de risco quando associados acometem principalmente o recesso piriforme e o assoalho bucal, em respectivamente, 80,00% e 85,71% dos casos desses cânceres no HEB. Nossos dados são coerentes com outros estudos que mostram que o fumo exerce um papel de destaque na carcinogênese bucal, especialmente quando sua ação é potencializada pelo álcool. Em contrapartida, há outros trabalhos que citam a alta incidência do câncer em pacientes que não fazem uso associado de fumo e álcool. A cachaça, proveniente da cana-de-açucar e de custo baixo para os brasileiros, se Discussão 67 consumida entre as classes menos privilegiadas causa queda da imunidade, problemas de articulação e beneficia o câncer em desenvolvimento (NEVILLE,1998; WUNSH-FILHO, 2002; HASHIBE et al., 2007). Conforme o ponto de vista de Minayo (1996), o indivíduo é responsável por ter adoecido através de fatores hereditários e de comportamento sobretudo a partir da sociedade, isto é, do equilíbrio entre as relações sociais de determinado grupo e dele com seu meio, onde o grupo familiar se insere. A possível dificuldade de acesso da população aos serviços de saúde e a pouca atenção da rede básica de saúde podem ser demonstradas em nosso estudo, no qual 64,40% dos pacientes tiveram o estadiamento do câncer avaliado em graus III e IV, com fácil visualização devido ao avanço da doença. Em contrapartida, 28,30% dos casos estavam menos avançados em graus I e II. A grande magnitude observada para os casos avançados sugere atraso no diagnóstico e estabelecimento de medidas terapêuticas, preocupando os profissionais de saúde. Ao avaliar a epidemiologia da doença no país, Kowalski (1991) afirmou que, embora evitável e detectável em estágios iniciais, o câncer oral não tem recebido atenção suficiente da população, e segundo Vanderlei et al. (1998), o câncer poderia ser facilmente visto ou palpado pelo paciente. Concordante com nossos dados, um estudo no ano de 2000 observou que 50% dos pacientes chegaram aos serviços de saúde no estágio IV (avançado) da doença, havendo a necessidade de procedimentos mais invasivos (WUNSCH-FILHO, 2002). Há estudos que mostram que os sintomas do câncer e as condições bucais são influenciados pelos níveis de tolerância do indivíduo e pela sociedade em que estáinserido, e geram um impacto sobre sua qualidade de vida diária. Neste contexto, boas práticas de higiene oral são dependentes do estrato socioeconômico e instalações sanitárias. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2002 mostram que no Brasil, 22,2% da população não têm acesso à água tratada, proveniente de serviços de abastecimento e 37,8% não têm instalações sanitárias (IBGE, 2002; LLEWELLYN; WARNAKULASURIYA, 2003 ). Considerando que as lesões iniciais do CEC podem ser lesões brancas, vermelhas ou ulcerativas de aparência suficientemente inofensiva para passar despercebida pelo paciente e profissionais de saúde, preconiza-se que uma lesão de etiologia desconhecida não desaparece em duas semanas e deve ser considerada preocupante (PORCARO-SALLES, 2007). 68 Discussão Os sinais e sintomas citados pelos pacientes e pelos clínicos do nosso estudo apontam a desorientação da população frente à gravidade do problema. Apesar de sintomas clássicos do CEC como trismo e xerostomia terem sido relatados, alguns deles foram relevantes: relatos de dor intensa por meses subsequentes levando o paciente a perdas acentuadas de peso, lesões perceptíveis de grandes dimensões na cavidade oral, sangramentos abundantes, otalgia persistente, disfagia contínua impedindo o paciente de se alimentar, rouquidão intensa, odor fétido na maioria dos casos, levando os pacientes ao sofrimento. Esses sintomas podem ser perceptíveis pelo paciente e pela própria família, podendo ser de fundamental importância para o prognóstico e para a detecção precoce da doença. A presença de metástase do câncer bucal e de cabeça e pescoço foi diagnosticada em 80 (45,19%) pacientes do nosso estudo, não sendo um evento que ocorre no estágio inicial do câncer, estando presente em diversas regiões anatômicas. Neville e colaboradores (2004) citam em seu trabalho, que devido ao atraso no diagnóstico, 21% dos pacientes apresentaram metástases cervicais no momento do diagnóstico. O conhecimento do tipo de metástase auxilia na escolha do tratamento, se este deverá ser mais ou menos agressivo, levando em consideração alterações funcionais e condições médicas gerais do paciente (GENTIL; LOPES, 1991). Com relação às terapêuticas empregadas pelos clínicos do HEB, 71 (40,11%) pacientes tiveram como tratamento, a quimioterapia associada à radioterapia e 55 (31,07%) apenas a quimioterapia. Podemos inferir que as condutas adotadas foram predominantes na totalidade dos casos de câncer, inclusive nas regiões anatômicas mais prevalentes, e que em 25 pacientes (14,12% dos casos) o câncer foi considerado irressecável, sendo apenas realizados cuidados paliativos devido à gravidade da doença. Porcaro-Salles (2007) cita que um tumor é considerado irressecável quando não há expectativa de alcançar margens cirúrgicas livres da doença, e que a quimioterapia tem sido indicada como tratamento paliativo e considerada terapia padrão para pacientes com metástases, recidivas ou doença persistente, tendo como objetivo a paliação dos sintomas e/ou prolongamento da vida. Neste contexto, o paciente com câncer bucal e de cabeça e pescoço é afetado por diversas condições decorrentes do tratamento oncológico, seja cirúrgico, quimioterápico ou radioterápico, e em casos de sobrevivência, afetam a função oral Discussão 69 do paciente nos processos que envolvem a mastigação, deglutição e fonação, além de causarem desfiguração e trauma psicológico, influenciando diretamente na qualidade de vida (QV) dos pacientes. Estudos afirmam que os locais de diagnóstico e tratamento de câncer devem acompanhar o paciente e seus familiares, garantindo um suporte para melhorar sua QV (ROGERS et al., 2002a; WHARTON, 2002; DAHER, 2008). Nossos resultados revelam que nos 177 prontuários analisados, 83 (46,90%) pacientes com o câncer em estágio avançado, evoluíram à óbito com uma sobrevida média de 1,05 anos. Até alguns anos atrás, a sobrevida dos pacientes era o único índice de sucesso ou fracasso do tratamento do câncer. Embora continue a ser o índice principal, não se pode deixar de considerar que muitos sobrevivem, mas com pobre qualidade de vida. Logo, a manutenção da vida com qualidade deve ser o objetivo maior do tratamento, entretanto no câncer bucal esse objetivo nem sempre é alcançado, visto que são muitas as variáveis que o influenciam. Estudos indicam que o diagnóstico precoce do câncer da cavidade oral leva o paciente a ter mais de cinco anos de sobrevida (COSTA; MIGLIORATI, 2001). Os resultados apresentados neste trabalho justificam o diagnóstico tardio da doença na maioria dos casos de câncer bucal e de cabeça e pescoço e a alta prevalência destes cânceres neste hospital, apesar de não se tratar de um hospital de referência. Estudos de mortalidade por neoplasias pode demonstrar o impacto diferencial dos fatores de risco, sendo influenciado por variações de quantidade e qualidade dos serviços de saúde, ficando evidente a necessidade da antecipação do diagnóstico e a introdução precoce dos recursos terapêuticos disponíveis (ANTUNES et al., 2001; BIAZEVIC et al.,2006) O câncer merece abordagem diferenciada pelo aumento da sua prevalência, por utilizar grande volume de recursos financeiros, por representar importante ônus institucional e social e ainda por sua crescente importância como causa de adoecimento, incapacidade produtiva, e de morte no país. Requer ainda profissionais especializados, alta tecnologia e medicação de alto custo (KLIGERMAN, 2000) As inúmeras internações presentes durante o tratamento dos pacientes foram observadas neste estudo. Segundo dados de bases administrativas dos sistemas de informação do SUS no Brasil, os custos totais das internações e dos procedimentos 70 Discussão de quimioterapia alcançaram $316.083.126,11 para ambos os sexos, dos quais $114.668.026,34 (36,3%) podem ser atribuídos ao tabagismo (PINTO; UGA, 2010). O fumo, álcool e higiene bucal negligenciada, são fatores de risco evitáveis, estimando-se que até 80% dos casos de câncer de cabeça e pescoço poderiam ser evitados diminuindo-se a exposição das pessoas aos mesmos, ao longo de suas vidas (TOMATIS, 1990). O pouco conhecimento sobre a doença entre pacientes, o medo do diagnóstico e as dificuldades para acessar o sistema de saúde são causas importantes para o diagnóstico. A detecção precoce do câncer de boca pela rede básica de saúde deve ser seriamente considerada. A universalização do acesso aos meios de diagnóstico possibilita a intervenção precoce ao câncer bucal através do diagnóstico precoce e do pronto tratamento representando não só uma forma de prevenção secundária, mas também um meio de aumentar a sobrevida (WERNER, 2009). Não se pode afirmar que os valores descritos no presente estudo sejam referência como um todo, pois o estudo não possui característica de amostra probabilística. No entanto, o presente estudo pôde inferir que o autoexame bucal é de extrema importância para que o câncer seja diagnosticado precocemente. Este exame não oferece dificuldades, podendo ser realizado pelo próprio indivíduo e nas unidades básicas de saúde. Embasados no câncer bucal e de cabeça e pescoço, a saúde bucal se torna fundamental para a qualidade de vida do indivíduo. Hobdell e colaboradores (2003) citam como objetivos da Organização Mundial da Saúde para o ano de 2020, a redução aos fatores de risco, a detecção precoce do câncer e a diminuição do número de pacientes acometidos com a ajuda de equipes multiprofissionais. Dessa forma, considerando que a saúde bucal é um conjunto de condições biológicas e psicológicas que permitem o ser humano exercer várias funções, desenvolver a autoestima e relacionar-se socialmente sem constrangimento, os indivíduos afetados pelo câncer bucal e de cabeça e pescoço possuem limitações como a perda defunções bucais básicas e a deformidade facial, que contribuem para o desenvolvimento da depressão e ansiedade, que por sua vez exacerbam o sentimento de piora da qualidade de vida, causando profundo impacto na vida pessoal e de seus familiares (LACAN, 1998; NARVAI, 2008). Discussão 71 Em função do contexto apresentado, do aumento da expectativa de vida, do envelhecimento da população e da elevada magnitude e tendência crescente para mortalidade por câncer, sugerimos a necessidade de reavaliar medidas de promoção da saúde, proteção específica e prevenção, conscientizando a população e profissionais de saúde sobre o autoexame bucal e a redução de fatores de risco como o consumo de tabaco e álcool. Programas educacionais preventivos para populações de alto risco com auxilio das Políticas de Saúde do município em meios de comunicação acessíveis a classes socioeconômicas menos favorecidas, podem ser fundamentais para atenuar o número de casos novos do câncer 7-Conclusões 7 CONCLUSÕES Fundamentados em dados do nosso estudo, podemos considerar que os aspectos clínicos e epidemiológicos do câncer bucal e de cabeça e pescoço são de extrema relevância para que sejam adotadas medidas de prevenção à níveis regionais, levando em pauta a prevalência desses cânceres em hospital público de Bauru, no interior do Estado de São Paulo. A alta prevalência de câncer em estágios avançados e o pouco tempo de sobrevida, indicam falhas no processo de detecção precoce do câncer. Conclusões 75 8- Referências 79 Referências REFERÊNCIAS ALMEIDA-FILHO, N. et al. Alcohol drinking patterns by gender, ethnicity, and social class in Bahia, Brazil. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 1, p.45-54, 2004. 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