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! [CH A CATALOGUA FICA C!P-ßrasiL Cataloyaçdo rta-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livras. RJ Ruüio, Frans Victor H821i Introduzo ào projcíodepesquisa científica/Franz Victor Rudîc*. 34. «d, - Peirópoli ̂Vozes, 2007* Apèndicc: Um luoddo üiüáticu para ü projeto. ISBN 978£&-31íü4H>27‘l Bibliografia. 1. Pesquisa* I. Tiiulu. 784)134 CDD - 001.43 CIJU - 001.891 FRANZ VICTOR RUOIO INTRODUÇÃO AO PROJETO DE PESQUISA CIENTÍFICA ítt EDITORA VOZES Pelròpolis MBLIOTECAS PESPSP 3 * 5 1 ? Class. COL .^3 A X . .2 , © 1978, Editora Vozes Ltda, Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópoíis, JiJ Internet; http://www:vozesxom.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia c gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. ISBN 978-85-326-0027-1 Este livro foi composto c impresso pela Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100, Petrópoíis* RJ - Brasil CliP 25689-900 Caixa Postal 90023 - Tel.: (24) 2233-9000 Fax.: (24) 2231-4676. SUMÁRIO INTRODUÇÃO, 7 l \ PI TU LO I: O PROBLEMA METODOLÓGICO DA PESQJJISA, 9 1. Noções prelim inares, 9 2. Conhecim ento da realidade empírica, 9 i Características do método da pesquisa científica, 16 CAPÍTULO Jf: COMUNICAÇÃO E CONHECIMENTO CIENTÍFICO, 22 1. Noções prelim inares, 22 2. ü uso de term os, 24 3. A definição dc term os, 29 CAPÍTULO 111: A OBSERVAÇÃO, 39 1. Noções prelim inares, 39 2. A observação assistemática, 41 3. A observação sistemática, 44 4. A observação docum ental, 48 CAPÍTULO IV: O PROJETO DC PESQUISA, 53 1. Noções prelim inares, 53 2. Como elaborar um projeto dc pesquisa?, 55 3. População e am ostra , 60 4. Exemplos de modelos p a ra projetos de pesquisa, 65 CAPÍTULO V: PESCIUISA DESCRITIVA E PESQUISA EXPERIMENTAL, 69 1. Noç&es prelim inares, 69 1. Distinção entre a pesquiso descritiva e a experimental, 7 I 3 .0 experimento, 75 CAPÍTULO VI: O PROBLEMA DA PESQUISA, S7 1. Noções prelim inares, 87 2. O tem a da pesquisa, 89 3. Formulação tio problem a, 93 CAPÍTULO VII: O ENUNCIADO DAS HIPÓTESES, 97 1. Noções prelim inares, 97 2. A hipótese: guia para a pesquisa, 98 3. A hipótese estatística, 105 CAPÍTULO VIII: COLETA, ANÁLISE [í 1NTERPRETAÇAO DOS DADOS, I i 1 X, Noções prelim inares, 111 2. Instrumentos de pesquisa, 114 3. Análise e in terpretação dos dados, 122 CONCLUSÃO, 130 APÊNDICE: MODELO DE UM PROJETO DE PESQUISA, 132 BIBLIOGRAFIA, 143 INTRODUÇÃO I slc trabalho se destina aos principiantes^ isto é, aos qiitr rsLào sc iniciando no estudo dc métodos c técnicãs depesquisã r h ntifiCii. E .seu objetivo é servir de roteiro para ajudar os . ilutms a acom panharem as explicações e outras orientações dadas pelo professor. O nosso in tu ito é apresentar, de m aneira simples, as noções básicas necessárias à elaboração dc r/m projeto dc pcsqnisíi la rem os con tinuam en te indicações de como se c.\et u ta r um a pesquisa; en tre tan to este procedimento tem apenas a funçao dc m o stra r com o se prepara um projeto, lalvez devassemos a inda acrescentar: o meio m áis eficaz ■ ̂ alguém realizar unia boa pesquisa e elaborar u m bom projeto da mesma, Deve ser p e rm an en tem en te lem brado pelo leitor o cará te r in tro d u tó rio deste nosso estudo e que está lidan- do com noções e lem en ta res , cu ja finalidadè é se rem u l tra p a s s a d a s pela reflexão e experiência, cru busca de [i uiior próí undidade. No começo, este traba lho foi m ím eografado, Alguns colegas tiveram a delicadeza de utiliza-lo ent sala dc aula, lanto destes com o de ou tros, que liveram a bondade de lê-lo, recebemos valiosas críticas e sugestões que serviram pára refundi-lo c apresentá-lo, tal com o aparece agora, esperando novas críticas e sugestões. Como sc to rn a im possível, em tao pequeno espaço, dizer da contribuição de cada um , m anifesto a todos, de m aneira global, os m eus 7 sinceros agradecim entos. E se for verdade, com o disse ram , que este livro será útil aos alunos (e de fato para isto foi feito), penso que um a das m ais g ra ta s recom pen sas é saber que os esforços de colaboração beneficiaram a quem se desejava. 0 AUTOR CAPÍTULO 1 0 problema metodológico da pesquisa 1. Noções preliminares "Pesquisa", no sentido m ais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determ inado conhecimento. A fim de merecer o qualificativo de cientí fica, a pesquisa deve ser feita de m odo sistem atizado, utilizando para isto m étodo próprio e técnicas específicas e prot tirando um conhecim ento que se refira à realidade empírica. Os resultados, assim obtidos, devem ser ap re sentados de form a peculiar Desta m aneira, a pesquisa científica se distingue de ■ hit ra m odalidade qualquer de pesquisa pelo método, pelas tá nicas, por estar voltada para d realidade empírica c pela forma de comunicar o conhecim ento obtido. Vejamos agora, n um a visão resum ida e de conjunto, o que significa cada um destes conceitos: a) conhccínicnto da realidade empírica e b) características do método de pesquisa científica, E, no capítulo seguinte, verem os c) co municação e conhecimento científico. 2* Conhecimento da realidade empírica O te rm o "realidade" se refere a tudo que existe, em oposição ao que é m era possibilidade, ilusão, imaginação e mera idealização* "Empírico" refere-se à experiência* Cham a-se de "realidade empírica" tudo que existe e pode 9 ser conhecido através cia experiência. Por sua vez, "expe riência" c o conhccim cnto que nos é transm itido pelos sentidos e pela consciência. Fala-se de "experiência exter na" para indicar o que conhecem os por meio dos sentidos corpóreos, externos. A “experiência interna" indica o co nhecim ento de estados c processos interiores que obtem os através da nossa consciência. Denomina-se 'in trospecção" á ação de conhecer pela experiência in terna o que se passa dentro de nós. A realidade em pírica se revela a nós por meio de fa to s . Este term o - "fato" - possui diversos significados. Nós o usarem os para indicar qualquer coisa que existe na reali dade. Assim, por exemplo, este livro é u m fato. Mas, tam bém , e um fato que o íeííor esfá tendo este Livro. As pãíãVrás que se encontram escritas neste livro sào fatos. Mas não são fatos as idéias que elas contêm, pois não existem na realidade. Q uando o leitor, vendo as palavras, age m entalm ente para transfo rm a-las em idéias, a ação que está realizando, de elaboração mental, torna-se um fato. O livro t as palavras que o livro contém e o leitor está lendo este livro são fatos percebidos pela experiência exter na, A elaboração m ental, peia qual as palavras se transfo r m am em idéias, é u m fato que pode ser percebido pela experiência in terna. Utiliza-se frequentem ente a expressão "isto é um fato" para sc a firm ar que algo é verdadeiro. Ora, na ciência um fato não c falso c nem verdadeiro: ele é simplesmente o que é. Não tem sentido, por exemplo, alguém dizer que é falso ou verdadeiro o fato de que a áijaa do mar ésalgada. 0 que, no entanto, pode estar certo ou errado é o conhe cimento ou a íntcrpreídfáo que alguém tem de uni fato, p. ex., supondo que a água do m a r era doce quando, real mente, é salgada. O hom em pode p roduzir/a tos e isto acontece inúm eras vezes na ro tina de cada dia como, por exemplo, cum pri 10 m entar alguém , vestir-se, alim entar-se, etc. O homem m uitas vezes cria fa tos com a única finalidade de estudá- los, como acontece, por exemplo, nas situações experi m entais de laboratório. E ntretanto um a grande parte dos esforços, realizados pela ciência, destina-se ao conheci m ento d e fatos que já existem, produzidos pela natureza, c que o hom em ainda desconhece ou, pelo menos, não sabe todo o alcance de suas implicações. Neste caso,, por exemplo, para o estudo explo- u in r io de um a pesquisa. Mas nao e propriam ente um a i U'mentos im portan tes que o campo da observação deve ilíranger: a) população (a que ou a quem observar); b) - jm ín s íán aas (quando observar); c) local (onde observar). li smo procurando determ inar estes elementos, o campo .linda aparece m u ito am plo para a observação. Como este livro tem finalidade didática, talvez ajude, para que o leitor possa observar a realidade, dividir o * unpo da observação em partes, a que denom inarem os de unidades de observação* Estas são agrupam entos de pessoas, coisas, acontecim entos, etc., que, sob o ponto de vista de nossos conceitos (ou compreensão que temos dos mesmos), possuem características com uns e, de algum a forma, significativas para a pesquisa que estamos fazendo. Se considerarmos que o termo serve para indicar algum a coisa na realidade (p. ex.: cadeira) e ao mesmo tempo para indicar o conceito que tem os da coisa (p. cx.: o que pensa m os da cadeira), en tão a. unidade de observação c u m modo de classificâr conceitos, distinguindo e ag rupando m ental m ente o que existe n a realidade. Certas modalidades ou características das unidades de observação denom inam -se 'Variáveis", m as isto iremos estudar mais adiante. Vejamos um exemplo. Im aginem os que estam os assis tindo (observando) a u m jogo dc futebol* O campo de observação é constituído pelos seguintes elementos: ü) população: os jogadores de futebol; b) circunstância: en qu an to d ispu tam a partida; c) local: no cam po em que jogam . Para as unidades de observação c suas respectivas variáveis podem os dar os seguintes exemplos: A) quan to à população: os jogadores fo rm ando agrupam entos de acordo com o time a que pertencem (unidade de observa ção) c o entusiasmo ou desânimo com que jogam (variá veis); 13) q u an to à n rn m síán ria : primeiro e segundo tempos da d ispu ta do jogo (unidades de observação) e se houve ou não gol para cada um dos times em cada um cios tempos (variáveis; C) q u an to ao local: cada parte do campo que m entalm ente dividimos para acom panhar o jogo, p. ex.: perto das traves, centro do campo, etc. (unidades de observação) e se cada u m a das partes está em boa conser vação, bem gramada, etc. (variáveis). 1 Bravo diz que "ns unidades dc observação são pessoas, grupos, objetos, atividades, instituições c acontecimentos sobre os quais versa a pesquisa" (veja op, d t . , p. 32). 46 A observação sistem ática pode ser feita de m odo direto, Mo é, aplicando-se im ediatam ente os sentidos sobre o liMòmeno que se deseja observar ou, de m odo indireto, utilizando-se in strum en tos para registrar ou medir a informação que se deseja obter. A diferença entre um a e nu tra não está propriam ente 1 1 0 uso de instrum entos, mas 1 1 1 1 se, para obter a inform ação, é necessário o u não um a tnferência, isto é, se a partir do que foi registrado ou medido e necessário ou não concluir a inform ação que se deseja. Desta form a, pode-se fazer, por exemplo, a obser- \ação indireta da inteligência, através de um teste, m as usar um binóculo, que apenas aum en ta a capacidade \ isual, perm itindo, no entanto , que os sentidos continuem diretam ente aplicados sobre o fenômeno, não to rna a observação indireta. Para a pesquisa, m elhor são os instrum entos que * i iisejam o resultado das informações em símbolos n u m é ricos e não apenas em palavras. De fato, os núm eros ní erecem m aior precisão c m elhor oportunidade de discri minação. Na verdade, se alguém diz: "Observei que Pedro • um pouco m elhor do que A ntônio em m atem ática" é menos preciso e menos discrim inatório do que afirm ar: Apliquei u m a prova para saber qual o aproveitam ento dos meus alunos em m atem ática: Pedro tirou 10 e Antô nio, 9,5", A linguagem num érica para os fins da pesquisa e melhor do que a linguagem verbal. Entretanto, Reuchlin fít evine que "a utilização de um a linguagem quantita tiva por parte do observador supõe que ele tenha sabido cons tru ir ou buscar instrum en tos apropriados que lhe tornem possível medir, o rdenar e con tar e que ele tenha sido capaz de sistem atizar a m aneira de pô-los em açao".“1 M, M. Reuchlin, Os AírloJai em Psicologia, p. .34. 47 4* A observação documental Rigorosamente falando, o te rm o observação deve se referir apenas a fa to s existentes na realidade empírica. Entretanto vam os utilizá-lo n u m sentido mais extensivo, aplicando-o tam bém ao "uso dn biblioteca", tan to porque nela se encontram as observações e experiências que os ou tros já fizeram, com o tam bém porque nela se acham as bases conceituais, sem as quais nâo pode haver verdadeira obs ervaçà o científica. Alguém pode supor apressadam ente que, como na pesquisa se faz ta n ta questão da experiência, o "uso da biblioteca" parece supérfluo. E, no entanto, não se pode fazer um a pesquisa válida sem consultar livros e ou tras obras, cm cada um a das fases do processo. De fato, logo no início, para a escolha e definição do tem a da pesquisa, é necessário recorrer à biblioteca, não apenas para buscar subsídios que orientem a escolha e ajudem o enunciado, m as tam bém para saber se o assu n to que se pretende estudar já foi ou não m otivo de o u tras pesquisas, Seria, no m ínim o, desagradável alguem afirm ar que está fazen do u m trabalho original, quando não passa de um a repe tição do que ou tros já fizeram, ou, então, dizer que é u m a repetição, quando, de fato, o que se está fazendo é dife rente do que o o u tro já fez. De qualquer m aneira, seja original ou repetição, é necessário saber como os outros procederam na delimitação do tem a e na realização de cada um a das fases do método, quer a pesquisa seja idêntica à nossa ou apenas sem elhante sob algum aspecto. É de m áxim a im portância definir com exatidão a área de conhecim ento h u m a n o (psicologia, sociologia, educa ção, etc.) a que pertence o nosso tem a e determ inar os fundam entos teóricos que lhe servem de base, isto é, estabelecer quais as relações entre o assun to da nossa pesquisa c a Teoria Científica que desejamos utilizar. Al guns consideram que, se não for possível estabelecer um 48 iui ulo determ inado com algum a teoria, falta consistên- i i i e a pesquisa se to rna ociosa, pois, dizem, a finalidade di s la é verificar, validar ou am pliar os conhecimentos m ui idos n u m a teoria, O conhecimento e aprofundam ento (lesta, bem como a resolução de dúvidas que sobre a iui sina eventualm ente possa aparecer, obtém -se pelo es tudo e consulta de livros, obras, etc. H aym an explica que o uso da biblioteca é necessário, prim eiramente para a form ulação do problem a da pesqui- '«•I pelos seguintes motivos: a revisão da litera tura ajuda +lo pesquisador delimitar e definir o problema, fazendo tom que se evite o m anejo de idéias confusas e pouco definidas. Além disto, faz o pesquisador evitar os setores i st éreis do problem a, considerando as tentativas anterio- 1 1 que já foram feitas neste âmbito, e evitando a dupli- • .iç.lo de dados já estabelecidos por outros*A revisão da hl* r.du ra pode, ainda, a judar o pesquisador na revisão da metodologia que pretende usar pelas sugestões e o p o rtu nidades de deduções, recomendadas por pesquisas ante- i lores para as que fossem feitas depois.2j O pesquisador deve tam bém usar a biblioteca para enunciar suas hipóteses, garantindo-lhes validade e con- i lenda e fazendo que estejam sintonizadas, tan to com o i onliecimento global da ciência como com a área específi- i .i, em cujo dom ínio se realiza a pesquisa. Ainda devem ' i consultadas obras apropriadas para a construção do ii »Irumento de pesquisa e sua aplicação, como tam bém par a serem elaborados corretam ente os planos necessários 1 1 oleta de dados, bem com o serem determ inados adequa- I nnente os procedimentos necessários à sua codificação e iilnilação. Finalmente, ou tras pesquisas e trabalhos diver- ■os, feitos na m esm a área, servirão de indicação preciosa l * lohn L. I layinan, Vnvc.si^ariíSn y edueâción, p 49 c 50. 49 para a análise e à interpretação das informações que foram obtidas. Tudo isto são apenas referências bem gerais. Na prática, o uso da biblioteca depende evidentemente das necessidades, experiências e iniciativa dc cada um , de acordo com o que lhe for sugerido pelas suas consultas, reflexões pessoais c interesses da pesquisa que está fazendo. Temos em pregado a expressão "uso da biblioteca" para indicar tudo que se encontra dentro dela e que pode ser utilizado com algum proveito para o trabalho da pesquisa. Inclui, portanto, enciclopédias, livros, catálogos, revistas especializadas ou não-esperializadas, jornais, monografias, comunicação pessoal de cientista, filmes, gravações, etc. Os livros e as revistas especializadas têm valor diferente para o trabalho de pesquisa. Estas - revistas especializadas - são mais úteis do ponto de vista da atualização. Servem para inform ar sobre estudos recentes do assunto que nos interes sa, Os livros dão geralmente unia visão global, mais com pleta; en tre tan to , com o levam mais tem po para serem publicados, perdem, por isso, m uito de sua atualidade. Para to rn a r o uso da biblioteca mais produtivo, Best apresenta um "m étodo para tom ar notas" que, resum ida mente, é o seguinte: a) antes dc começar a tomar nota, folhear a fon te dc referência: é básica um a visão de conjun to, global, antes de se poder decidir qual o material que deve ser recolhido e usado; b) manter em cada ficha um tema ou titulo determinado. Colocar o tem a na parte supe rior da ficha c, na parte inferior, deve-se fazer a citação bibliográfica completa; c) incluir somente um tem a em cada ficha e, se as notas são extensas, u sa r várias fichas num eradas consecutivam ente; d) antes de guardá-las, ter a certeza de que as fichas estão completas e são com preen didas com facilidade; e) fazer, na ficha f distinção entre resumo, citação direta do autor; referenda à fonte do autor e a expressão avaliadora pessoal de quem fa z a fichai f) copiar cuidadosamente as notas da primeira vez, sem fazer projeto 50 de passar a limpo e nem de to rn a r a copiar, pois isto é perda de tem po e dá possibilidade a erros e confusões; g) p.ira onde for, levar sempre consigo alguma ficha: pode ic i epente surgir a lg um a idéia; h) cuidado para não perder as fichas; i) procurar guardar as fichas sempre em ordem.1" O au to r dá os dois exemplos de fichas que vão abaixo. \ primeira é ficha dc conteúdo (tam bém cham ada doeu- nu ntãl) que pode apresentar um a ciíafáo ou u m resumo J icha de conteúdo \ \ i tureza intuitiva do conhecimento angélico Por outra parte, no anjo nào se dá a obscuridade do conheci- iiMito imperfeito, nem tampouco imperfeição em suas poten- * n s O entendimento angélico está sempre cm ato com relaçào .iM í|iie pode entender. Entretanto, os anjos possuem também u.is limitações naturais. Sua mente nao esgota a realidade, nem i Best, Como investigar, p. 57s. 51 b) Fichei bibliográfica 373.1 MEILt, R. Manual de diagnóstico psicológica. Madrid, Ed. Morata 1955, Explica detalhadamente a técnica, análise e comprovação dos testes. Inclui apêndice e bibliografia seletiva. 52 i:aijítulo iv 0 projeto de pesquisa I Noções preliminares \ pesquisa científica deve ser planejada, antes de ser i xm itada . Isso s e faz a tra ves de um a elaboraçao que se di nomina "projeto de pesquisa", Embora, m uitas vezes, i . i\\prfôsões projeto de pesquisa e plãfiO dc pesquisa sejam ■ Miiadas com o sinônimos, farem os efistinçãè em nosso ■ ítidor dizendo que projeto é um tõdo, constituído por l> vi tes a que cham arem os, cada u m a delas, de plano: o )>l no serã, po rtan to , u m a parte do projeto. 1 iolanda explica que um planejam ento, ate alcançar a i(ii ina de um projeto, passa pelas seguintes fases: a) rstudos preíímínares, cu ja objetivo é o equacionam ento i r. i! do problema, fornecendo subsídios p a ra a orientação l.i pesquisa ou identificando obstáculos que evidenciam a m viabilidade do projeto; b) anteprojeto que é um estudo in.iis sistemático dos diversos aspectos que deverão inte grar o projeto final, m as ainda em bases gerais, sem iU ini-lo com rigor e precisão; c) projeto fin a l ou definitivo t o estudo dos diversos aspectos do problema, j à apresen tando detalham ento , rigor e precisão. A diferença entre iinteprojeto c projeto final não se pode estabelecer com nitidez e precisão. E, com pletando as etapas do planeja mento, o au to r acrescenta: d) montagem c execução: colo- caçHo em funcionam ento; e) funcionamento normal.1. 17 Nilson Holanda, Plfl/içaintrrtíK c Projetos, p- 102, 53 Para d a r um exemplo simples dc com o se começa um projeto de pesquisa, im aginemos que, n u m a determ inada Escola, o Diretor solicite ao O rientador Educacional para verificar o resultado de u m novo m étodo de ensino que vai scr aplicado* A verificação solicitada deve ser feita a través de u m a pesquisa e, p a ra realizá-la, é necessário elaborar u m projeto, O O.E. tem, com o ponto de partida, estudos preliminares (ou estudos exploratórios), a fim de poder delim itar o tem a do projeto e colher subsídios que ajudem a elaborá-lo* Nesta etapa, os esforços do O rienta dor estarão certam ente dirigidos em três direções im por tantes: a) conhecimento teórico do novo m étodo de ensino que sc pretende im plan tar e do método tradicional que já c utilizado pela Escola. Além disto, fará ou tros estudos em plano m ais amplo, p. ex.: de Psicologia, Sociologia, etc. p a ra conhecer mais p rofundam ente as implicações e con seqüências que podem ter a Teoria de Aprendizagem do novo m étodo a ser aplicado; b) conhecimento prático a tra vés da observação das salas de aula, professores, alunos, estratégias utilizadas cm classe, etc., n u m a palavra, expe riência, conhecim ento e com preensão, através de um a observação exploratória, do cam po de observação em que vai trabalhar; c) análise e avaliação dos elementos que vão sendo progressivam ente encontrados em a e b (pelo co nhecim ento teórico e prático), selecionando os que pare cem aproveitáveis p a ra serem usados no projeto de pesquisa e definindo, pelo menos a "grosso modo", como serão utilizados, quando tiver que fazer a elaboração do referido projeto; d) adequação ao projeto dos elementos selecionados, isto é, um a vez que os elementos foram selecionados(como foi dito no item c) precisam um "tra tam ento" para ajustarem -se convenientem ente à elabora ção do projeto, O primeiro cuidado é fo rm ar um conceito adequado, claro c distinto dos elementos que foram sele cionados (dc acordo com o que foi dito no cap. II sobre o uso dos term os). Depois e necessário determ inar os clc- 54 m entos que precisam ser definidos e, neste caso, dar-lhes, l) medida do possível, um a definição de referência empíri ca, isto é, que os to rn em suscetíveis de serem observados na realidade empírica, dentro da perspectiva que interessa a pesquisa. A elaboração de u m projeto se faz através da construção de um q u ad ro conceituai e, p ara construí-lo, precisamos colocar cada elemento que foi selecionado (isto é, cada conceito considerado relevante para a pesquisa) no seu respectivo lugar, fazendo com que se integrem uns com os outros. Para a ju d ar o leitor neste trabalho, vam os oferecer mais adiante, em Apêndice, um modelo que indica como sc distribui os elem entos selecionados, num fo rm u lário a fim de se e labo rar o projeto. 2. Como elaborar um projeto de pesquisa? Um principiante pode supor que elaborar projetos é perder tem po e que o m elhor é com eçar im ediatam ente o trabalho da pesquisa. No entanto, a experiência vai lhe ensinar que o início de urna pesquisa, sem projeto, é lançar-se à im provisação, to rnando o trabalho confuso, dando insegurança a o m esmo, rcduplicando esforços inu tilmente e que, agir desta maneira, e m otivo de m uita pesquisa começada e não term inada, num lastimoso es banjam ento de tem po e recursos. Além disto, se a pesqui sa, que a lguém p re ten d e fazer, é p a ra organizações nacionais e internacionais, então certam ente será obriga- lória a aprovação an te r io r de um projeto, com o condição para aceitá-la ou financiá-la. Fazer u m projeto de pesquisa é traçar um cam inho eficaz que conduza ao fim que se pretende atingir, livrando o pesquisador do perigo de sc perder, antes de o ter alcançado. Diz C hurchm an que ''planejar significa traçar um curso de ação q u e podemos seguir para que nos leve ii.s nossas finalidades desejadas". íl diz tam bém que o objetivo do p lanejam ento é organ izar a ação de tal m anei 55 ra que nos leve a evitar surpresas, pois, "para o planejador, a su rp resa é um a situação insatisfatória", e que "se pen sarm os bem naquilo que vam os fazer, com antecedência, 'TMestarem os em melhores condições". ' Diz Belchior que projeto c a "mobilização de recursos para a consecução de um objetivo predeterm inado, ju s t i ficado econômica ou socialmente, cm prazo tam bém de te rm in a d o , com o e q u a c io n a m e n to cia o rigem dos recursos e deta lham ento das diversas fases a serem efeti- * * vadas até à sua execução".* Aqui, a definição é mais restrita , visando diretam ente objetivos econômicos e ad m inistrativos. Mas serve tam bém para o projeto de pes quisa científica. De fato, neste, o objetivo predeterminado e a solução que se pretende alcançar para um determ inado problem a. Para encontrá-la, far-se-á mobilização de recur sos, tan to hum anos como materiais, bibliográfico, in s tru m ental e financeiro. Deve-se provar que os recursos m o bilizados, o tempo e as despesas que serão gastos justifi cam a solução que se procura pela pesquisa. No projeto deve existir detalhamento das diversas fases a serem efeti vadas, apresentando-se tam bém , n um cronogram a, o tempo que será necessário para executá-lo e o que será feito cm cada m om ento dele, Para Belchior, um projeto serve essencialmente para responder às seguintes perguntas: o que fazer? por que, para que e para quem fazer? onde fa zer? como, com que, quanto e quando fazer? com quanto fazer? como pagar? quem vai fazer? A proveitando estas indagações de Belchior, dam os abaixo os pontos fundam entais de u m projeto de pesquisa. 28. C. West Churrfiinan. à liorïâ dos Sistemas, p. 190. 29 . Procópio ü.O. Belchior, PkinejdmcnlQ c dãborãçáo, p. 11, 56 rara isto, como já foi dito, considerarem os o projeto como um todo, integrado por partes, que são os planos. Em Apêndice, no fim deste livro, encontra-se um mo- tldo de projeto dc pesquisa, elaborado por nós, de acordo com estes pontos fundam entais que passarem os a apre sentar e com o objetivo didático de ser devidamente preen chido pelo leitor, como exercício prático de elaboração de um projeto de pesquisa. PONTOS FUNDAMENTAIS DE UM PROJETO DE PESQUISA {Obs.: para ilustrar a organização dos diversos planos que seguem, iremos utilizar sempre o mesmo exemplo hipo tético que é "testar a eficácia de um novo método dc ensino aplicado aos alunos do 1° grau do Colégio X".) 1) O QUE FAZER? {Planos da natureza e formulação do problema e do enunciado das hipóteses) 1.1. formular o problema 1.2. enunciar as hipóteses 1.3. definir os termos do problema e das hipóteses 1.4. estabelecer as bases teóricas, isto é, a relação que existe entre a teoria, a formulação do problema c o enunciado das hipóteses {por que e de que modo a formulação do problema e o enunciado das hipóteses se refere à teoria?) 1.5. conseqüência para a escola e/ou para a teoria se as hipó teses forem aceitas ou, ao contrário, se forem rejeitadas. 2) POR QUÊ? PARA QUÊ? E PARA QUEM FAZER? (rlanos dos objetivos e da justificativa da pesquisa) 2.1. POR QUÊ? {justificativa da pesquisa) 2.1.1, motivos que justificam a pesquisa: 2.1.1.1. motivos de ordem teórica. 2.1.1.2. motivos de ordem prática. 57 I 2.2, PARA QJLIÊ? {objetivos gerais da pesquisa) 2.2 A. definir, de modo geral, o que se pretende alcançar com a execução da pesquisa {visão global c abrangente). 2.3, PARA QUEM? {objetivos específicos da pesquisa) 2.3.1. fazer aplicação dos objetivos gerais a situações par ticulares: 23.1.1. do Colégio X, 2.3.1.2. de professores, alunos, etc., do mesmo Colégio, 3) ONDE FAZER? COMO? (plano do experimento) COM QUÊ? QUANTO? a) população e amostragem QUANDO? 1)) controle de variáveis c) instrumento de pesquisa d) técnicas estatísticas e) cronograma. I 3.1. ONDE? COMO? {campo dc observação) j 3.1.1. descrever o campo dc observação com suas unidxdes de observação e variáveis que interessam à pesquisa: 3.1.1.1. população com suas características 3.1.1:2. se for utilizar amostra, justificar, dando os moti vos, e apresentar o modo como a amostra será selecionada e suas características 3.1.1.3. local 3.1.1.4. unidades de observaçao relevantes para a pesquisa 3.1.1.5. quais as variáveis que serão controladas, como serão controladas, qual o plano de experimento que será utilizado. 3.2. COM QUÈ? {instrumento de pesquisa) 3 2 .1. descrever o instrumento da pesquisa que vai ser utilizado 3.2.2. que informações se pretende obter com eles 3.2.3. como o instrumento será usado ou aplicado para obter estas informações. 58 i i í. QUANTO? (utilização de prova.s estatísticas) 3 3 .1. quais as hipóteses estatísticas enunciadas 3.3.2. como os dados obtidos serão codificados 3.3.3. que tabelas serão feitas e como serão feitas 3.3.4. que provas estatísticas serão utilizadas para verificar as hipóteses 3.3.5. em que nível de significância 3.3.6. previsão sobre interpretação dos dados. 3.4, QUANDO? (cronograma) 3.4.1. definir o tempo que será necessário para executar o projeto, isto é, para realizar a pesquisa, dividindo o processo em etapas e indicando que tempo é neces sário para a realização de cada etapa. I) COM QUANTO FAZER E COMO PAGAR? (Plãno dos custos da pesquisa) 4.1. prever os gastos que serão feitos com a realização da pesquisa, especificando cada um deles. ri)QlIEM VAI FAZER? (P/ano do pessoal responsável pela pesquisa) 5.1. coordenador da pesquisa e/ou responsável pela mesma 5.2. entidades co-participantcs, se for o caso 5.3. participantes de nível técnico 5.4. pessoal auxiliar. num projeto de pesquisa, o quesito referente ao item 5 - que, para seguir a ordemdas perguntas, colocamos em último lugar - é colocado geralmen te em primeiro lugar, começando por ele a apre sentação do projeto.) Alguns term os que acabam os dc u tilizar nestes 'Ton tos fundam entais de um projeto dc pesquisa" já foram estudados an terio rm ente como: definir, campo de observa ção e unidade de observação. O utros foram apresentados 59 superficialm ente e vo ltarão a ser tra tados com m aior profundidade em capítulos posteriores como; form ular problema c enunciar hipóteses. Outros, ainda, sào term os novos, que serão explicados em capítulos que virão depois, como: experimento, controle de variáveis, instrumento de pesquisa c provas estatísticas. E agora, logo em seguida, querem os apresen tar u m conceito que assum e grande im portância na pesquisa e, conseqüentem ente, no projeto da m esm a e que se cham a "am ostra", I 3, População c amostra Já foi dito que a pesquisa científica não está interessa da cm es tudar indivíduos isolados ou casos particulares. Seu objetivo é, antes, estabelecer generalizações, a partir dc observações em grupos ou conjunto de indivíduos cham ados dc "população" ou "universo" c que já tivemos a oportun idade de indicar, quando, anteriorm ente, estu dam os os com ponentes de um campo dc observação. O te rm o população, usado no sentido vulgar, indica apenas um conjunto de pessoas que habita determ inada área geográfica. Em pesquisa o conceito é mais amplo. Designa a totalidade de indivíduos que possuem as mes m as características, definidas p ara um determ inado estu do. O conceito é, portan to , "fluido", dependendo, em cada caso, das especificações dc características que forem feitas. Se, por exemplo, as cspecifkaçÕcs forem pessoas c residen tes em Recife, a população será constituída por todas as pessoas residentes cm Recife. 5c as especificações forem ovelhas e cam pos do Rio Grande do Sul, a populaçào será fo rm ada por iodas as ovelhas que se encontrarem nos cam pos do Rio Grande do SuL Se as especificações forem pé de café, atacado pela ferrugem e no Estado de 5ao Paulo, a população será constitu ída por todos os pes dc café, ataca dos pela ferrugem, existentes no Estado de São Paulo. Se as especificações forem alucinação, doentes paranóicos e Casa 60 (/aspecto, não servin do, conseqüentem ente, os resultados obtidos nesta am os tra, para se fazer u m a generalização para a população norm al". Podemos, por exemplo, desejar não generalizar 63 para a população, mas obter idéias, num a situação quase exatamente análoga àquela em que alguns especialistas são chamados com o conselheiros, para um caso médico difícil. Esses conselheiros não são convocados para qtie se obtenha um a opinião média de todos os médicos, mas, sim, precisa m ente por sua m aior competência e experiência. B) Amostras probabilísticas: a) amostra casual simples - é o planejam ento básico da am ostra probabilfstica, em que esta é selecionada por um processo que não apenas dá a cada elem ento da população um a oportunidade igual de ser incluído na am ostra , m as tam bém to rn a igualm ente provável a escolha de todas as combinações possíveis do núm ero desejado de casos. Suponha-se, por exemplo, que desejemos u m a am o stra casual simples de dois casos n um a população de cinco casos. Os casos sào A, B, C, D e E e há dez possíveis pares de casos: AB, AC, AD, AE, BC, BD, BE, CD, CE, DE. Escreve-se cada combinação n u m papel, colocam-se os dez papéis n u m chapéu, m istura-se com pletam ente os papéis e faz-se com que um a pessoa, de olhos vendados, retire um dos papéis. Os dois casos, correspondentes às letras no papel que foi selecionado, constituem a desejada am ostra casual simples; t>) amosfra casuaí estratificada - nesta, como na am ostra por quotas, a população e inicialmente dividida em dois ou mais estratos, podendo estes ser baseados n u m só critério, p. ex., sexo, que d ará dois estratos: homens e mulheres ou n u m a com binação de dois ou mais critérios, p. ex., idade e sexo. Obtém-se, depois, um a am ostra casual simples de cada estra to e as subam ostras são todas reunidas para fo rm ar a am o stra total; c) amostragem por agrupamentos - nesta, chegam os ao conjunto final, através de am o stra gem inicial de feixes maiores. Suponham os, por exemplo, que desejamos fazer um levantam ento de crianças do sétimo ano em algum Estado. Podemos proceder da se guin te m aneira: p reparar u m a lista de distritos escolares, classificados talvez pelo tam anho da comunidade, e scle- 64 i ionar u m a am ostra casual simples ou estratificada. Para r a d a um dos distritos escolares, incluídos na am ostra, enum erar as esco las e delas tirar u m a am ostra casual sim ples o u estratificada. Se todas as escolas, assim selc- cionadas para a am ostra , ou algum as delas, têm num ero maior de classe do sétimo ano do que aquelas q u e podem ser estudadas, é possível obter um a am ostra destas classes em cada um a das escolas. Os instrum entos da pesquisa podem então ser aplicados a todas as crianças destas classes ou a um a am ostra de c r ian ç as /“ 4. Exemplos dc modelos para projetos dc pesquisa Para concluir este capítulo, oferecemos ao leitor dois modelos de projetos de pesquisa. Geralmente, cada enti dade tem o seu modelo próprio, apresentado como for mulário a ser preenchido e contendo todos eles, com al- ijiimas variações, quesitos semelhantes. A) PRIMEIRO MODELO t)titlo: modelo de solidtaçao de apoio financeiro para a execução dc um projeto de estudo ou de pesquisa educacional a) Nâ primeira páginã 1) ao diretor do (nome da entidade) assunto: solidtaçao de apoio financeiro para a execução dc um projeto de estudo/pesquisa educacional 2) entidade i) endereço e telefone 11 coordenador do projeto • i participantes em nível técnico: área de graduação (a que cada um pertence) - (os currículos devem ir em anexo) 12. Scllliz, Jahoda, Deulsch c Cook, op. cil., p, 578 a 60.3. 65 6) entidades co-partidpantes {se for o caso) 7) título do projeto 8) prazo previsto para a entrega do relatório final 9) a ss in a tu ra do coordenador do projeto 10) data 11) assinatura b) Na segunda página 12) justificativa c) Na tcrccira página 13) definição do problem a 14) hipóteses d) Na quarta página 15) área para a execução do projeto (região, estado, município, bairro, etc\) 16) indicação dos instrumentos que serão utilizados (relacio nar: questionários, testes a serem aplicados, ficha de coleta de dados em cadastros, etc. - anexar um exemplar de cada via ao presente modelo) 17) plano para a coleta de dados (inclusive identificação do universo e da amostra selecionada. Em caso de amostra, justificar o dimensionamento e o esquema da amostragem adotados) e) Na quinta pagina 18) especifieaçào dos quadros de saída (relacionar os quadros de saída simples, os cruzamentos duplos, triplos, etc., que vfio oferecer informações para os objetivos da pesquisa) 19) análise estatística dos quadros de saída (cm caso de amostra para os quadros de saída que conduzam a uma hipótese a ser testada, justificar a escolha do teste a ser empregado. Dar, cm anexo, uma nota técnica com a descrição sucinta sobre o modo de aplicação de cada teste) 66 IJ Na sexta página e seguintes 20) fases do projeto e cronograma 11) previsão das despesas: 21.1. remuneração do pessoal 21.2. aplicaçao dos in s trum en tos de pesquisa 21.3. codificação dos dados tabulados 21.4. tabulação dos dados 21.5. uiárias 11.6. passagens 21.7. serviço gráfico 21.8. outros serviços 21.9. material de consumo 21.10. custo de execução do projeto {quadro ^eral) B) SEGUNDO MODELO Este segundo modelo pertence a uma entidade internacional Dcve-se primeiramente definir bem claramente a natu reza do problema, em que se inscreve a possível pesquisa, e diagnosticar as conseqüências negativas da situação que se pretende resolver. b) Partindo da referida descrição, dcvc-sc definir o objetivogeral r os objetivos específicos da pesquisa. E necessário ter muito cuidado, I ura não conf undir metas com procedimentos. Os objetivos devem indicar claramente o que pretende fazer a pesquisa para contribuir, alenuar ou resolver o problema exposto, c) A luz dos pontos anteriores, deve-se antecipar o esquema de organização da pesquisa, incluindo etapas, metas, metodologia r pessoal. Sobre este último, devem ser apresentados resumos d js antecedentes dos pesquisadores, mostrando a idoneidade que possuem para resolver o problema exposto. dj Deve-se apresentar um quadro, com tres ou mais colunas, nas quais se indicará o montante dc contribuição da entidade i licitante (em dinheiro efetivo, em serviços ou em ambos), na 'HiIra, a contribuição que se espera do (entidade que faz estas indicações para o projeto) e, na terceira, a fusão dos totais. e) O documento preliminar, que apresenta a solicitação, não deve exceder a dez páginas do tamanho carta com duplo espaço. 67 Foi dito que o projeto é u m plano de ação para a pesquisa. Elaborando-o, o indivíduo nâo apenas recolhe e organiza o m aterial necessário para agir, como tem u m a visão de conjunto, e se dispõe ao que vai fazer, com previsão específica do que realizará em cada m om ento. N outras palavras, um projeto bem feito não apenas ga rante ao pesquisador a orientação que deve seguir, m as tam bém coloca a su a disposição, no m om ento oportuno , o que ele necessita para executar seus objetivos, além de su s ten ta r um desenvolvimento metódico para o que ele pretende atingir. 68 CAPÍTULO V Pesquisa descritiva e pesquisa experimental 1. Noções preliminares Sob o ponto de vista que interessa ao nosso trabalho, a pesquisa pode ser descritiva e experimental. Uma das diferenças mais fundam entais que existem entre as duas é que, na primeira, o pesquisador procura conhecer e interpretar ã realidade, sem nela interferir para modificá-la. Na pesquisa experimental, o pesquisador mafiipií/a delibe radamente algum aspecto da realidade, dentro de condições anteriorm ente definidas, a fim de observar se produzcertos efeitos. A este procedim ento denom ina-se experi mento: não existe pesquisa experim ental sem experimento. Para se realizar a pesquisa (tan to descritiva como experimental) é necessário trab a lh a r com variáveis, m as, de m aneiras diferentes, conform e o tipo de pesquisa que está sendo efetivada. Este term o - 'Variáveis" - constan temente usado na ciência, tem sua origem no campo da matemática, onde serve para designar um a quantidade que pode tom ar diversos valores, geralmente considerados em relação a outros valores. Para se compreender o sentido que recebe na pesquisa, imaginemos um a unidâde de observação, p. ex,, os alunos de um a determinada classe de um Colégio. Para caracterizá-los, podemos fazer apelo a certas proprie dades que possuem: ídade, sexo, etc. A idade, entre eles, pode variar (p. ex. 18, 19, 20 anos, etc.) como tam bém o sexo (masculino e feminino). C ham am os, então, de 'Va- 69 riáveis" a estas propriedades que os indivíduos possuem para caracterizá-los e que podem tomar diferentes valores. De acordo com o seu nível de abstração, podemos distin guir três tipos dc variáveis, que Bravo explica da seguinte m aneira: a) variáveis gerais - referem-se à realidade, mas nào são ainda imediatamente empíricas e mensuráveis (p. ex*: separar, por suas características, os alunos de um a sala de aula); b) variáveis intermediárias - mais concretas c mais perto da realidade do que as anteriores (p, ex.: separar, por características físicas, os alunos de um a sala de aula) e c) variáveÍ5 empíricas ou indicadoras - que apresentam aspec tos da realidade, diretam ente m ensuráveis e observáveis (p. ex., separar os alunos por sexo, colocando os indivíduos masculinos de um lado c os fem ininos do outro). Dentre os modos em que se pode classificar as variáveis, o mais relevante para a pesquisa e distingui-las cm inde pendentes e dependentes, tendo em vista a relaçao que se estabelece entre elas. Atribui-se à variável independente um papel de preparador, contribuinte e causador da segunda, isto é, da variável dependente que assume, então, o papel subordinado, de efeito. Entre um a c ou tra pode surgir a variável intermediária ou interveniente, que produz um efeito sobre a relação da variável independente com a dependente. Esta form a de considerar as variáveis e m eram ente contex tuai. Isto significa que a variável independente num contex to pode ser dependente noutro e vice-versa. Assim, por exemplo, nestas duas situações: "aluno estudioso (variável independente) é aluno que sabe (variável dependente)" e "aluno que sabe (variável independente) é a luno aprovado (variável dependente)". 33. R. Sierra Bravo, op cii.t p. 49. 70 2. Distinção entre a pesquisa descritiva e a experimental A diferença que geralm ente se estabelece entre os conceitos descrever c explicar pode, aproxim adam ente, indicar como a pesquisa descritiva se distingue da experi menta]. Descrever é n a rra r o que acontece. Explicar é dizer por que acontece. Assim, a pesquisa descritiva está interes sada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los, A pesquisa ex perimented pretende dizer de que modo ou por que causas o fenômeno é produzido. Estudando o fenômeno, a pesquisa descritiva deseja conhecer a sua natureza, sua composição, processos que o constituem ou nele se realizam. Para alcançar resultados válidos, a pesquisa necessita ser elaborada corretam ente, subm etendo-se às exigências do método. O problema será enunciado em term os de indagar se um fenômeno acon tece ou nào, que variáveis o constituem , como classificá- lo, que semelhanças ou diferenças existem entre deter minados fenômenos, etc. Os dados obtidos devem ser analisados e interpretados e podem ser qualitativos, utili zando-se palavras p a ra descrever o fenôm eno (como, por exemplo, num estudo de caso) ou quantitativos, expressos mediante símbolos num éricos (como, por exemplo, o total de indivíduos n u m a determ inada posição da escala, na pesquisa de opinião). A pesquisa descritiva pode aparecer sob diversas for mas, como, por exemplo: pesquisa de opinião, onde sc procura saber que atitudes, pontos de vista e preferências têm as pessoas a respeito de algum assunto, com intuito geralm ente de se to m ar decisões sobre o mesmo. Com este nome - pesquisa de opinião (ou pesquisa de atitude) - abrange-se u m a faixa m u ito extensa de investigação, feita com o objetivo de identificar falhas ou erros, descrever procedimentos, descobrir tendências, reconhecer interes 71 ses, valores, etc., pesquisa de motivação para saber as ra zoes inconscientes e ocultas que levam, por exemplo, o consum idor a u tilizar determ inado produto , etc*; estudo dc caso - onde se faz u m a pesquisa de u m determ inado indivíduo, família, g rupo ou com unidade com o objetivo de realizar u m a indagação em profundidade para se exa m inar o ciclo de sua vida ou a lgum aspecto particu lar desta; pesquisa para análise de trabalho a fim de identificar deficiências, e laborar p rogram as de capacitação, d istribuir tarefas, de te rm inar norm as, etc.; pesquisa documental - em que os docum entos são investigados a fim de se poder descrever e com para r usos e costumes, tendências, dife renças, etc. (distingue-se da pesquisa históricd porque esta se volta para o passado, enquan to que a pesquisa docu m ental faz estudos de presente), etc. A pesquisa experimental está interessada em verificar a relação de causalidade que se estabelece entre variáveis, isto é, em saber se a variável X (independente) determ ina a variável V (dependente). E, para isto, cria u m a situação de controle rigoroso, procurando evitar que, nela, estejam presentes influências alheias à verificação que se deseja fazer Depois interfere-se d iretam ente na realidade, dentro de condições que foram preestabelecidas, m anipulando a variável independente para observar o que acontece com a dependente. Nestas circunstâncias, X (variável inde pendente) será causa de Y (variável dependente) se: a) Y não apareceu antes dc X; b) se Y varia quando há tam bém variação em X; c) se ou tras influencias nào fizeram X aparecer ou variar. Assim, como exemplo, imaginemos que desejamos verificar se num determ inado grupo dc hom ens o fum o (variável independente) p roduz câncer de pu lm ão (variável dependente). Para que a nossa resposta seja positiva (o fum o e causa do câncer) é necessário observar-se: A) o câncer não apareceu antes dos hom ens com eçarem a fum ar; B) existe um a correlação positiva entre quantidades de fum antes e quantidade de câncer de 72 pulmão; C) não existem ou tros fatores capazes de explicar o surg im ento do câncer, a nao ser o fato de alguém ser fum ante. É sobretudo para g a ran tir este ú ltim o item que, na pesquisa experimental, se cria aquela situação de ''con trole rigoroso" de que falam os acima. A pesquisa experim ental estuda, portan to , a relação entre fenôm enos procurando saber se u m é causa do outro. Mas acontece que, tam bém na pesquisa descritiva, pode haver o estudo da relação entre fenômenos, p rocu rando-se conhecer se u m é causa do outro . Como, então, distinguir um a da ou tra , isto é, a descritiva da experim en tal? Podemos dizer, de m odo geral, que a resposta se encontra no modo de se obter os resultados. Mas, em seguida, vam os explicar m elhor Entre os diversos tipos de pesquisa descritiva, há u m que se denom ina "estudos causais com parativos", Van Dalen c Meycr dizem que sua finalidade e descobrir de que maneira e porque ocorrem os fenômenos. Dizem que é um procedimento m uito difundido usar tal tipo de pesquisa. E explicam: "quando os cientistas estudam as relações de causalidade, preferem em pregar o m étodo experimental, mas em alguns casos o m étodo causal com parativo é o único adequado para en frentar um problema". Dizem que, ao fazer um experim ento, "o pesquisador controla Iodas as variáveis, com exceção das independentes que ele m aneja de diversas m aneiras para observar as variações que in troduz. Mas, por causa da complexidade da n a tu reza dos fenôm enos sociais, nem sempre se pode selecio nar, contro lar e m an ip u la r todos os fatores necessários para estudar as relações de causalidade". Os tipos mais representativos de estudos causais com parativos feitos nos Estados Unidos são: análise diferencial do jogo entre adolescentes, diferenças existentes entre alunos c o n fo r mistas c inconform istas, diferenças q u an to à conduta entre crianças superdotadas e "normais", etc. 73 Para estabelecer a diferença entre os estudos cansais comparativos e a pesquisa experimental, dizem os autores: "em u m experimento, o pesquisador pode supor que, subm etendo os a lunos a experiência A, se observará o resultado ß. Em conseqüência decide m anipu lar a variável independente A; para isto, expõe o g ru p o experim ental a experiência A, efetua as verificações necessárias, m ediante um g ru p o de controle e observa os resultados. Num estado causal com parativo, o pesquisador inverte o procedim en to: parte da observação do fenôm eno B, que foi produzido, c p rocura achar, entre as m últip las causas possíveis, os fatores - variáveis independentes - que sc relacionam com o fenôm eno ou contribuem p ara determ inar seu apareci m ento. N um estudo causal com parativo, o pesquisador analisa um a situação vital, onde os indivíduos já experi m en ta ram o fenôm eno que deseja pesquisar*. Depois de estudar as sem elhanças e diferenças que existem entre as duas situações, poderá descrever os fatores que parecem explicar a presença do fenôm eno n u m a situação c sua ausência na ou tra". Assim, por exemplo, pode-se estabe lecer as "causas" de acidentes nas rodovias, com parando m otoris tas que foram acidentados com os que não foram e determ inando quais os fatores presentes naqueles e que não existiam nestes: excesso de velocidade, alcoolismo, etc. Finalmente, analisando a im portância que pode ter o referido tipo de pesquisa descritiva, os au tores dizem: "'os estudos causais com parativos possuem certas limitações e geralm ente não fornecem inform ação tão precisa e confiável com o o que é possível obter através de estudos experim entais rigorosos. Em troca, proporcionam -nos in s trum en to s para abordar os problem as que não podem estudar-se em condições de experim ento e oferecem-nos valiosos indícios sobre a n a tu reza dos fenôm enos”; 34. D.B. Van Dalcti c WJ. Meyer, o/>. clt-, p. 245 a 250. 74 Ainda, sob possíveis sem elhanças entre a pesquisa experimental e certos tipos de pesquisa descritiva, convém não confundir a prim eira com as "pesquisas de correla ção". Estas utilizam técnicas para determ inar até que ponto duas variáveis se relacionam entre si, por exemplo, 0,1. c rendim ento em m atem ática. Neste caso, em bora oferecendo valiosas indicações, a través do coeficiente de correlação, do g rau de relação que existe entre duas variáveis, não determ ina que esta relação seja de causali dade, diferente, portan to , da pesquisa experimental, cujo propósito é sem pre a causalidade. E, para encontrá-la utiliza-se, neste caso, o experimento. 3. O e x p e r im e n to O experimento se diferencia da experiência e da observa ção. Sc, por exemplo, um professor tem sua atenção voltada na tu ra lm en te para u m aluno que está tendo um procedimento peculiar em sala de aula, está tendo u m a experiência espontânea. Se, de agora cm diante, duran te algum tempo, tem o propósito dc "acom panhar" o aluno, prestando atenção no que ele faz, então, ao cum prir o propósito, tem um a experiência intencional Mas, se esta for planejada, ou pelo menos houver o objetivo dc se registrar, para estudo, as informações obtidas, então o procedimento é de observação (científica). Sc quisesse fazer um experimento, o professor deveria de algum modo, m as planejada mente, interferir na realidade (variável dependente) para observar a com/ufa do aluno (variável dependente) ou interferir nesta (variável independente) para observar um determinado re sultado (variável dependente). O experimento é um a situação, criada em laboratório, com a finalidade de observar, sob controle, a relação que existe entre fenômenos. O term o controle serve para indi car os esforços feitos para se eliminar ou, pelo menos, redu zir ao m ínim o possível os erros que possam surgir n um a 75 observação. Estes esforços são concretizados na fornia de procedim entos, que visam isolar a observação, dc fatores ou influências capazes dc nela intervir, falseando-a. Num sentido m ais amplo, cham a-se tam bém dc experim ento a situações criadas, m esm o fora dc laboratório, m as onde são utilizadas técnicas rigorosas, com o objetivo de exercer controle sobre as variáveis que vão ser observadas. Num experimento, a observação tem como pressupos to a lei da variável única, enunciada por S tuart Mi 11 e que Best resum e da seguinte m aneira; "5e duas situações sào iguais sob todos os aspectos e um elemento é acrescentado a uma, mas nãoà outra, qualquer diferença, que resulte, cefeito da açao do elemento acrescentado. Ou, se duas situações sao iguais sob todos os aspectos e um elemento é retirado de uma, mas nao da outra, qualquer diferença, que resulte, pode ser atribuída ao elemento r e t i r a d o Im aginem os este exem plo: Se a classe A e a classe b de u m determ inado Colégio sao iguais sob todos os aspectos (inclusive no m étodo de ensino adotado e na média do rendim ento escolar alcan çada por seus alunos) e se for aplicado um novo m étodo de ensino à classe A, continuando a classe B com o método anterior, e se, depois de a lgum tempo, o rendim ento da classe A for m aior (ou m enor) do que a classe B, pode-se a firm ar que este m aio r (ou m enor) rendim ento é efeito do fa tor experimental, isto é, do elemento que foi acrescentado (no exemplo, o novo m étodo de ensino)* E se o novo m étodo de ensino for tam bém aplicado à classe B (esta suposição c apenas para esclarecer o exemplo c não para indicar que em todo o experim ento os grupos devam ser equiparadas pela aplicação do m esm o fator experimental, o que, de fato, nao acontece), ficando esta, agora, igual a classe A sob todos os aspectos (inclusive no método de ensino e na média do rendim ento escolar de seus alunos), 35. Apud J.W- Best, op. cit., |>. 109, 76 e se o m étodo de ensino for retirado da classe A, m as não da classe B, e se o rendim ento da classe A se to rn a r inferior (ou superior) ao da classe B, pode-se a f irm ar que esta diferença foi ocasionada pela ausência do fator experimen tal, isto é, do novo m étodo de ensino. Utiliza-se, num experimento, dois (ou mais) grupos: aquele onde se aplica ou se retira o fa to r experimental denom ína-se "grupo experimental"* Nos exemplos dados acima, a classe A funciona com o grupo experimental. O ou tro se cham a "grupo de controle" (nos exemplos dados acima é a classe B) e serve de com paração para o grupo experimental, aplicando-se nele u m /a fo r de controle ou, mais com um ente, apenas não se aplicando nele o fator experimental. Num experim ento pode haver mais de um grupo experimental e mais de um g ru p o de controle. Dentro do contexto da pesquisa, o experim ento é um meio que se utiliza com finalidade de verificar hipóteses. Por o u tro lado, foi dito tam bém no capítulo II que a lei é um a hipótese verificada. Desta m aneira, pode-se dizer que um experim ento tem por objetivo verificar se um a lei existe ou não. As leis servem para afirm ar relações cons tantes, existentes entre variáveis. E, sendo que estas ca racterísticas podem receber valores diferentes, como já foi explicado, então pode-se dizer que um alei científica pre tende a firm ar duas coisas: a) a existência de certas carac terísticas que se relacionam ; b) a persistência desta relação, independentem ente dos valores diversos que as variáveis podem assumir. Para isto, a lei se baseia em duas hipóteses, assim anunciadas por Bunge: 1) - "Dados dois objetos reais quaisquer, exisieao menos uma variável que não tem o mesmo valor para os dois". Este enunciado move o cientista a buscar a diversidade, diante da aparente iden tidade das coisas; II) - "Dados dois objetos reais quaisquer, há pelo menos uma variável cujo valor é comum a ambos". Se todo objeto real fosse inteiram ente diferente de qual quer o u tro objeto real, a ciência seria impossível e, além 77 disto, o conceito de variável seria inútil, bastando, para identificar cada coisa, o nom e que esta tivesse 1 (Lembra mos ao leitor o que já foi dito no capítulo II, que a coisa se identifica m elhor pela definição - isto é, pela apresen ta ção de suas características - # do que pelo termo, vale dizer, pelo "nome" que serve p a ra indicá-la). Q uando u m arqu ite to pretende constru ir um a casa, elabora, antes, u m desenho da m esma, esboçando a dis posição da obra que pretende edificar. Sem elhantem ente, pode-se falar em planos de experimento para indicar esbo ços que servem de guia para a realização do mesmo. Iremos ver, prim eiram ente, o plano clássico do experimento e, depois, a lgum as de suas variações. PLANO CLÁSSICO DO EXPERIMENTO A fim de explicar o plano clássico, im aginem os que, para de term inada pesquisa, form ulou-se o seguinte p ro blema: '‘que resultados produz, para os alunos do 2o grau de um determinado colégio, a aplicação dc um novo método de ensino?" Imaginemos, ainda, houvesse a intenção de saber se o novo método c causa destes resultados. Para verificar esta relação de causalidade, teríam os então que utilizar um experimento. O nosso interesse agora não c dizer como se faz a pesquisa, m as dar a lgum as indicações a respeito do experim ento. E, para isto, vam os ainda supor que o "novo m étodo dc ensino" se refira à rruítua ajuda dos a lunos no processo de aprendizagem . No problem a form ulado, o campo dc observação é constituído: a) pelos alunos do 2° g rau (população) de u m determ inado b) colégio (local) c) enquanto estão subm eti dos a novo m étodo de ensino (circunstância). Este campo de observação pode ser "melhorado", do ponto de vista dc 36. M ário Rungc, op. í it,, p. 336. 78 referência empírica, se indicarmos exatam ente dc que í ofegio e de que método dc ensino se tra ta , m ostrando tam bém a fo rm a observável na verificação dos resultados. fintão, o problem a da pesquisa pode ser reform ulado da seguinte m aneira: "que rendimento escolar produz, aos alunos do 2° grau do Colégio O (indicando-se o nom e do Colégio), a aplicação do método Z de ensino (indicando-se o novo método de ensino pelo 'nom e' ou, de a lgum a form a, que possa ser identificado pela observação)?" Para este problem a, poderíam os enunciar a seguinte hipótese, para ser verificada por meio do experimento: "a aplicação do método Z de ensino produz melhor rendimento escolar para os alunos do 2° grau do Colégio O do que a aplicação do método W (indicando-se por IV o método que é adotado atualm ente). Suponham os que vamos utilizar o plano clássico para realizarm os o experim ento e que se apresente da seguinte form a: Grupo experimental (G.E.) Grupo de controle (G.C.} Antes Depois T, Ti T, n Comparações (feitas por meio de técnicas estatísticas): G.E. = Tj - T, = R G.C = T1 - T, = R' Resultados possíveis: R = K' R R1 Fara realizarm os o experimento, devemos selecionar dois grupos de alunos que pertençam ao 2° grau do Colégio O {chame-os de G.E. e de G,C.) c que sejam equivalentes to m relação às características relevantes para a pesquisa. Esta equivalência é obtida procurando-se m anter nos dois 79 grupos as mesmas variáveis relevantes e tendo-se cuidado para que não sc torne presente, num dos grupos, u m a variável que não se encon tra no ou tro grupo. Vamos supor, ainda, te rm os chegado à conclusão, por nossos estudos, de que as variáveis relevantes para a nossa pes quisa são: a) com relação aos alunos: nível intelectual, g rau de aproveitam ento escolar anterior, s ta tus socioeconômi- co e idade; b) com relação aos professores: competência na disciplina que leciona, capacidade de liderança entre os alunos, conhecim ento teórico e experiência prática com o m étodo Z); c) com relação a sala de aula (para aplicação do método Z): possibilidade de dispor as carteiras em círculos, possibilidade de serem utilizados determ inados recursos audiovisuais, sala clara, silenciosa e arejada* O leitor já deve ter reparado que algum as variáveis apresen tadas sâo, qu an to ao nível de abstração, gerais e ou tras, intermediárias. Devem, portanto , para a pesquisa, ser transfo rm adas em empíricas ou indicadoras (p. ex.: nível intelectual dado por Q /., g rau de aproveitam ento escolar an terior apresentado pela média fin a l que o aluno teve no semestre passado, etc.) e devem estar presentes equivalen tem ente nos dois grupos. E os indivíduos, que constitu irão cada u m deles, devem ser selecionados por meio de técni cas especiais* a fim de ser m antida a equivalência. As variáveis, cuja relação será observada no experi m ento, são as seguintes: a) aplicação do método Z (variável independente) e b) rendimento escolar dos alunos do 2° g rau do Colégio X (variável dependente). Q uanto ao nível de abstração, estas variáveis sâo gerais. Podemos transfo r m á-las cm intermediárias, dizendo: a) trabalho em grupof realizado segundo os planos contidos no método Z (aplicação # Veja, por ex.r Setltíz, Jahoda, Ürutsch e Cook, op. t i l . , p. 112. 80 do m étodo Z que, cm nossa suposição, feita m ais acima, e para os alunos se a judarem m u tu am en te no processo de aprendizagem), e b) aproveitamento dos alunos, medido por meio de testes. Finalmente, podemos converter estas variá veis em indicadoras, dizendo: a) trabalho em grupo segundo as características a, b, c e d (apresentam-se as características básicas, necessárias e suficientes para identificar o trabalho em grupo} e b) aproveitamento dos alunos, medido, no experimento, por meio da comparação de um pós-teste com um pré-teste. Como se viu, no enunciado as variáveis podem ser gerais, con tan to que se saiba qual a dimensão empírica, que realm ente possuem , para se poder trabalhar com elas no experimento. Tendo-se equiparado os dois grupos, q u an to ás variá veis relevantes e, tendo os mesmos, desta maneira, se tor nado equivalentes, entao, aplica-se o fator experimental (o método Z) ao G.E., enquanto que o G>C. terá a "ausência" tio mesmo fator. É necessário que, durante todo o experi mento, perm aneça a equivalência dos grupos com relaçao a todas variáveis relevantes, m enos q u an to ao fator experi mental, que foi aplicado ao G.E. m as não ao G ,C O "antes", que se encontra em cima da prim eira caseia do plano clássico do experimento, indica que, antes de ser aplicado o fa to r experim ental ao G.E. (e, conform e o caso, antes tam bém de ser aplicado o fa to r de controle ao G.C), mede-se o rendim ento escolar, tan to do G.E. q u an to do G.C., usando-se, possivelmente, testes iguais para os dois grupos. É depois disto que sc aplica ao G.E. o fator experimental, do m odo e pelo tem po que a teoria do método Z indica ser necessário p ara se obter determ inado resultado* C um prido o que foi prescrito, aplica-se nova m ente ("depois") aos dois g ru p o s um teste para se verificar o rendim ento final. O teste inicial, de entrada, cham a-se tam bém pré-teste e o resu ltado nele alcançado aparece, no plano clássico do experim ento, indicado por Ti (para 8 1 significar a m edia das no tas que nele teve oG.E.) c por T 'i {para a m edia das notas do G*C) R\ Se R for igual ou menor do que R', en tão nâo se pode a f i rm a r que a variável independente ocasiona a variável dependente, isto é, nào foi verificado que o m étodo Z p ro d u z m elhor rend im en to escolar para os a lu n o s do 2° g ra u do Colégio O do que o m étodo W; em o u tra s pa lav ras , n âo foi verificado que o novo m étodo de ensino p rodu z resu ltados m ais sa tisfa tórios do que o que já es tá sendo aplicado. Se R for signi/ícatiVamenfe m aior do que R', pode-se en tão a f irm a r que foi verificada relação de causalidade entre a variável independente e a dependente, isto é, que o m étodo Z é "causa" de m aio r ren d im en to escolar para os a lunos que constituem a popu lação da pesquisa que foi realizada. Este significa tivam ente maior bem com o a com paração entre T 2 e T i, T ' 2 e T 'i e R e R' são feitos pela aplicação de técnicas estatísticas, cuja escolha e utilização dependem das p a r ticu laridades de cada projeto de experim ento. Pelo que foi dito, conclui-se que o plano clássico de experim ento perm ite-nos, sob controle, verif icar se a apli- caçào do fator experim ental afeta o grtipo experimental e como o a/c*fa. Sum ariam ente, o plano clássico segue o seguinte processo: 82 VARIAÇÕES DO PLANO CLÁSSICO a) Piano com grupo de controle, mas onde se utiliza apenas o pós-teste - Imaginemos que n u m a determ inada Escola existam, na m esm a série, duas classes, consideradas equivalentes, a classe A e a classe B. No começo do ano foi 83 aplicado u m novo m étodo de ensino (fator experimentai) à ciasse A m as nao à classe B. No fim do ano, deseja-se saber sc o novo m étodo p roduz m elhor aprendizagem do que o antigo , Pode-se, neste caso; co m p ara ra s duas classes através da aplicação de u m teste, sendo este considerado, entao, com o um pós-teste> Se a média obtida pela classe A (R) for significativam ente m aior do que a m édia da classe B (R') seremos levados a considerar que o novo m étodo de ensino foi responsável pela diferença. Entretanto, como nao foi aplicado u m pré-teste, não podemos saber com certeza se a diferença foi realmente flcasionada pelo novo método. Podia ser, por exemplo, que desde o começo do ano o rendim ento da classe A (que nao foi medido no pré-teste) já era superior ao da classe R. Além disto, a suposição de que os grupos são equivalentes é um desvio das exigências do plano, m as é m uitas vezes um a concessão que se faz às p 0 S 5 lb i lidades e limitações da realidade, Sc há o in tu ito de se aplicar o fa to r experimental c de se medir depois os resultados, deve-se procurar, desde o começo, um a real equivalência dos grupos, como j á foi explicado acima. O pfauo com grupo de controle, m ás onde se utiliza apenas o pós-teste, é o seguinte: Grupo experim ental Grupo de Controle A nte ; Depois tiio existe Tâ nao exiüte n Comparação (feito por meio de técnicas estatísticas): Ti“ Ta Resultados possíveis; T, = n T, T , Sc T2 for significativamente maior do que r ' 2 então pode-se su po r que o fa to r experim ental tem influência sobre o G.L. ruis variáveis que s3c> observadas. Se for ígi T, Grupo experimental Grupo dc controle Antes Depois nao existe nào existe 85 5c Ti é significaíivâmente maior do que Ti podemos supor que o novo m étodo tenha influência na m aior participação dos alunos. Mas, se T 2 for iguaí ou menor do que T j, en tão nào podemos supor que o novo m étodo tenha influência no au m en to da participação* c) Grupo único somente com pós-teste - É o estudo de características relevantes, cujas informações foram obti das por u m pós-teste apenas, "depois1' da aplicação de um fa to r experimental. Pode-se, por exemplo, aplicar um de term inado método de ensino n u m a dasse e, depois, inda gar aos a lunos e professores o que pensam do mesmo. A puradas as respostas, podem os relacioná-las com certas características, sabendo, por exemplo, se o método ag ra dou m ais aos indivíduos do sexo feminino ou masculino, quem se considera m ais beneficiado: os m ais velhos ou os m ais novos, etc. Este plano perm ite pouco controle e os dados reunidos são de yaíor {imitado por não se possuir base de com paração: nem em ou tro g rupo (como seria o G ,C) e nem "antes" e "depois" da aplicação do fator. O plano é o seguinte: Depois T Uma das diferenças mais fundam entais entre a pesquisa descritiva c a experimental é que esta utiliza o experimento como meio de observar a relação entre fenômenos. Numa aproximação, a pesquisa descritiva, como o nome está di zendo, descreve os fenômenos, enquanto que a pesquisa expe rimental explica-os. As duas são muito importantes, cada um a na missão que deve cumprir, para ajudar o homem a descobrir cada vez mais e compreender melhor o mundo em que vivemos, permitindo-lhe prever acontecimentos e con trolar, para o seu bem, a realidade que o c e r c a . 86 CAPÍTULO VI O problema da pesquisa 1, Noções p re l im in a re s Toda pesquisa científica começa pela formulação de um problema e tem por objetivo buscar a solução do mesmo. O problema da pesquisa costum a ser apresentado geral m ente n a fo rm a de u m a proposição interrogativa, por exemplo; 'A aplicação de u m novo m étodo de ensino aos alunos do 2° g rau do Colégio X produzirá aum en to de rendim ento escolar?" Ou, então, pode aparecer sem form a interrogativa direta, m as com o expressão concreta e clara da mesma, p. cx*; "Deseja saber se a aplicação dc um novo m étodo dc ensino traz au m en to de rendim ento escolar aos alunos do 2o g rau do Colégio X". Asti Vera diz que "form alm ente um problem a é um enunciado ou um a fórm ula . Do pon to de vista semântico, é um a dificuldade, aindasem solução, que é mister deter m inar com precisão para intentar, em seguida, seu exame, avaliação, crítica c solução":17 No sentido m ais amplo, o problema é u m a questão proposta para ser discutida e resolvida pelas regras da lógica e dc ou tros meios de que sc dispõe. Carosi diz que "urna questão é um enunciado acerca de u m dado objeto, proposto de m aneira in terro gativa, de modo que se possa responder por dois term os 57. Armando Asti Vera, Afrfottofôjtâ dã Ptsqitisa, p 94, 87 de u m a alternativa, contrad itoriam ente opostos entre »1 j i si". 1 Se, por exemplo, trabalhando num laboratório, um cientista pergunta: "A droga X cura a doença Y?" está p ropondo u m a questão acerca da droga (ou da doença, conform e o contexto)* A questão está enunciada na form a de u m a proposição, in terrogativa e lógica (não estamos interessados agora nos seus aspectos propriam ente g ra maticais), constituída por dois term os: S (sujeito: a droga X) e P (atributo do predicado: a doença Y), ligados pelo predicado (cura: é curativa). Para responder a esta ques tão, são possíveis duas hipóteses alternativas: a) a droga X cura a doença Y (chamemo-la de proposição A) e b) a droga X não cura a doença Y (chamemo-la de proposição O). As proposições A e O são contraditórias (usamos o term o no sentido da lógica e não 1 1 0 vulgar), pois um a é positiva e o u tra negativa, recusando um a o que é afirm ado pela anterior. Ambas não podem ser ao mesmo tempo verdadei ras e nem ao mesmo tempo falsas: se um a é verdadeira, a o u tra é fa lsa / Desta maneira, se for comprovada a hipótese que a droga X cura a doença Y será au tom aticam ente rejeitada a o u tra hipótese, de que a droga X não cura a doença Y e vice-versa. Sabendo, po rtan to , disto e tam bém que um a hipótese é solução (provisória) que se dá para um problem a, ninguém pode evidentemente colocar, ao m es mo tempo, duas proposições contraditórias como hipóte ses p ara o problem a de um a pesquisa. De fato, com o um a será a solução certa e o u tra inevitavelmente a solução errada, quem colocasse as duas estaria indicando para a sua pesquisa um a solução que não convém (a errada). Assim, é imprescindível que seja escolhida apenas uma - a 38. Paulo Carosi, Curso de Filosofia (vol. T). |> 375. * Discute-se sobre a validade de afirmar que uma hipótese é verdadeira" (uu "falsa")* Alguns dizem que estas categorias são filosóficas, inadequadas para o campo científico. Entào, será melhor talvez falar-se em hipóteses que foram verificadas, tendo sido comprovadas ou não. 88 que parece m ais conveniente para a pesquisa - quando as proposições são contraditórias. Caso não sejam, então não se estabelece qu an tas devam ser colocadas. Para resolver a dificuldade, form ulada tin problema - p . ex,; a droga X cura a doença Y? - o pesquisador nao pode apenas adivinhar, fazer suposições gratu itas ou emitir opi niões superficiais e inconsistentes, m as deve realizar um processo pelo qual, ao mesmo tempo, se busca, examina e prova a solução e ao qual se denomina pesquisa científica. 2. O tema da pesquisa No sentido com um , ícma é u m assun to que se deseja p rovar ou desenvolver. Do ponto de vista da música, o tema constitui o m otivo, o ponto de partida de um trecho musical. Para isto, deve com preender elementos bem ca- racterizados, a fim de fornecer m atéria para o desenvol vim ento da composição e apresen tar unidade e coerência nos planos dinâmico, melódico, rítm ico c harm ônico, No estudo que vam os fazer, nao interessa som ente saber que o tem adapesquisa indica u m assun to (aparecendo às vezes de m odo vago, geral, indefinido), m as o im portan te é a elaboração que se realiza, para que ele se to rne "concreto", determ inado, preciso, de fo rm a bem caracterizada e com limites bem definidos* Sc alguém dissesse, por exemplo, "desejo fazer u m a pesquisa sobre delinqüência juvenil", estaria certam ente apresentando um assunto , m as não estaria ainda definin do, com precisão, um tem a de pesquisa. Para term os os conhecimentos necessários, a fim de tran sfo rm ar um assun to geral (ainda nao convenientem ente especificado) n u m tem a de pesquisa, é necessário observarm os a reali dade, de m aneira cuidadosa e persistente, no âm bito do assun to que pretendem os pesquisar. Concom itantem ente, devemos consu ltar livros, obras especializadas, periódi- 89 cos, pessoas entendidas ou interessadas no assunto , etc. Talvez u m a boa orientação seja a seguinte: tan to m elhor podem os definir o tema, q u an to mais aptos estivermos p a ra descrever, com acerto, o seu campo de observação, com as respectivas unidades de observação e variáveis. Se alguém nos diz que vai fazer um a pesquisa sobre "delinqüentes juvenis", com esta afirm ação, está indican do apenas, de m odo ainda vago e geral, um dos elementos cio cam po de observação: a população. Se, além disto, acrescenta que seu interesse é por "crimes", cometidos pelos referidos delinqüentes, está nos dando, então, u m a das variáveis a serem observadas. Se nos afirm a, ainda m ais, que deseja saber se certos crimes, cometidos por delinqüentes juvenis, são ocasionados pelo efeito do "uso de tóxicos", expressa-nos, então, a intenção que tem de relacionar duas variáveis: se o uso de tóxicos (variável independente) ocasiona crimes (variável dependente), co metidos por delinqüentes juvenis. Precisamos ter agora u m a visão de conjunto do campo de observação (e não apenas de alguns de seus elementos com o acabam os de ver acima) procurando, ao m esm o tem po, caracterizá-los. Para isto é necessário que se espe cifique: a) a população, isto é, a quem observar, indicando idade, sexo, tipo de delinqüência e de toxicomania que in teressam à pesquisa, etc, (p, cx.: jovens tle 15 unos ou m ais de 21 anos ou menos, de ambos os sexos, viciados em haxixe, que cometeram crime de homicídio)*; b) localt isto é, onde a população será observada (p. cx.: na cidadc de São Paulo) e c) í'/rcrí/Lsíáncias, isto £\ quando a população será observada (p+ cx.: tendo agido sob o efeito de tóxico). * Falando a respeito de haxixe, Vftllejo-Nagera diz que a sua grav idade é por sua associarão com íitos criminosos (V ínírtkíufãc à Psiquiatria, p. 26^). 90 É preciso agora definir as unidades de observação e as variáveis, consideradas relevantes para a pesquisa. Desta maneira: A) Unidades de observação: a) quanto à população (p, cx\: jovens delinqüentes distribuídos de acordo com a faixa etária, sexo, l ipo de delinqüência, etc*); b) quan to ao local (casas de detenção, reformatarias e similares da cidade de São Paulo que abrigam delinqüentes juvenis c toxicômanos); c) quanto à circunstância (p. ex.: sob os diversos efeitos de haxixe). B) Variáveis (segundo o nível de abstração): a) variáveis gera is: "uso de tóxico" e ''com portam ento crimino so"; b) variáveis intermediárias: " tom ar haxixe" e "cometer homicídio"; c) variáreis empíricas: "mastigar ou fum ar ha xixe" c "usar as próprias m ãos ou utilizar outros meios ou instrum entos para tirar a vida dc um a pessoa" (certamente o leitor está lembrado que geral, intermediário c empírico são níveis diferentes de abstração da mesma variável). Assim, definidos todos os elementos do campo de ob servação, com suas respectivas unidades de observação e variáveis relevantes para a pesquisa, podemos, então, enunciar o seu tem a: Influência de tóxicos cm crimes de homicídio cometidos por delinqüentes juvenis na cidade de São Paulo, Alguém poderá supor que, para enunciado tão simples, não valeu a pena tan to trabalho para a sua elaboração. De fato nao é assim, pois agora sabemos o que significa cada um dos termos que com põem o enunciado e qual a sua compreensão e extensão. Desta m aneira, estam os p rep a rad o s ta n to p a ra u tilizá -lo s ap ro p r ia d am en te , quando tiverma pesquisa é utilizada para fazer "descobertas". Revelações como estas foram m anifestadas, por exemplo, quando se deu a conhecer que a ferra é redonda, que gira em torno do solf que há organismos microscópicos causadores de fermentação r de doenças infecciosas, etc. Kohan lem bra que "o objetivo principal de u m a ciên cia, mais do que a m era descrição dc fenôm enos em píri cos, é estabelecer, m ediante leis e teorias, os princípios gerais com que se pode explicar e p rognosticar os fenô m enos em píricos".1 A preocupação da ciência gira em to rn o de fenômenos empíricos* Para alguns o term o "fenômeno" indica apenas um sinônim o para "fato", Entretanto, pode-se estabelecer um a distinção, dizendo-se que "fenômeno" é o fa to , tal como é percebido por alguém. Os fa to s acontecem na reali dade, independentem ente de haver ou não quem os conhe ça. Mas, quando existe um observador, a percepção que este tem do fato é que se cham a fenômeno. Pessoas diversas podem observar, no m esm o fato, fenômenos diferentes* Yssim, por exemplo, um jovem viciado em drogas pode ser v i s to por um medico como um fenômenofisiológicor por um psicólogo com o fenômeno psicológico, por u m jurista como fenômeno jurídico , etc. I. \ nriij Cor Lado ilr Koliiin, AfcUUtâJ prtfrJ i40. 14 exemplo dado por Sclltiz e ou tros a respeito de um fenó m eno - vício com entorpecentes - a fim de considerarm os as causas que criaram a s ituação /1 Uma cansa e necessária quando, sem ela, o fenômeno não pode ser reproduzido; p. ex.: experim entar o en torpe cente ê causa necessária para o vício, pois sem experim en tá-lo o indivíduo não pocic ficar viciado. A causa suficiente é aquela que, colocada, produz inevitavelmente o fenôm e no, p. ex.; o vício prolongado em entorpecentes produz distúrbios psicológicos. Uma causa pode ser necessária sem ser suficiente. Assim, p. ex,, experim entar en torpe cente não leva o indivíduo necessariamente ao vício, pois há pessoas que o experim entaram , sem ficarem viciadas. Outros tipos dt causas são confrífruinícs, contingentes e afícrnaíivas. As prim eiras são as que aum en tam a probabilidade (contribuem) do aparecim ento do fenôm e no, sem garan tir que inevitavelmente surgirá. Estudosos dc fo rm u lar o problema, com o para dar a definição dc cada um , conform e o interesse e no lugar que a nossa pesquisa exigir. N um a palavra: o esforço de elaboração de um tem a de pesquisa não tem com o resul tado final apenas o enunciado form al de um a proposição. Mas é a oportunidade de nos fam iliarizarm os com os term os, "treinando" para conceituá-los de fo rm a adequa da e precisa, habilitando-nos a utilizá-los, de m odo con veniente, no contexto pedido pela pesquisa. 91 De qualquer m aneira, u m enunciado bem feito de um tem a de pesquisa é ao m esm o tem po ponto de partida (para a pesquisa) e de chegada (da elaboração que se fez), Pode ser que no começo o indivíduo tenha apenas um a idéia, u m a intuição, sobre a pesquisa que deseja fazer, sentindo até dificuldade de expressar com palavras o que pensa. Neste m om ento , pode dizer, por exemplo, "desejo fazer u m a pesquisa sobre crimes cometidos por menores m as ainda não sei exatam ente o que pretendo". Depois de a lgum tem po de observação, estudo e reflexão, pode en con tra r term os mais adequados para indicar seu pensa m ento: "a pesquisa que desejo fazer c sobre delinqüência juvenil (e não mais "sobre crimes e menores"). Entretanto, para to rn a r a pesquisa possível, o indivíduo deve ainda determ inar, progressivam ente, os aspectos mais concretos que lhe interessam , no estudo da delinqüência juvenil, e a relação deste aspecto com outros e ou tras situações. É, com o já foi dito, o trabalho de definir o campo de observação, a unidade de observação e as variáveis. Assim, o tem a da pesquisa, ao ser finalmente enunciado, deve indicar, não apenas o assunto que se pretende tratar, m as o seu campo de observação e limites, m ostrando as variáveis relevantes que serão utilizadas e o tipo de relação que se estabelece entre elas. O trabalho de definir adequadamente o tema perdura du ran te toda a pesquisa, sendo freqüentemente revisto, c o seu enunciado final servirá, provavelmente, como título do relatório da referida pesquisa, apresentando de forma sin tética, resumida, m as abrangente e compreensiva, todo o assunto que nela será tratado. O interesse por um assun to de pesquisa pode ser m otivado por diversas razoes: curiosidade intelectual, desejo de am pliar o conhecim ento científico, tentativa de resolver u m a questão de ordem prática, ganho financeiro, etc. Um cientista, por exemplo, pode estar interessado em verificar se a droga X cura a doença Y, a fim de fazer um a descoberta que lhe dê renom e ou porque tem em mente abrir um laboratório , onde possa fabricar o remédio para 92 vendê-lo ou, ainda, porque, sendo um estudioso de bio química, está interessado em am pliar os conhecimentos científicos sobre os efeitos da droga X * Mas pode ser tam bém que ele esteja procurando alcançar sim ultanea m ente dois ou todos os três objetivos: ter renome, g an har dinheiro e testar os efeitos da droga X. Os motivos, portanto , podem ser variados. Entretanto , quaisquer que sejam, para que a pesquisa tenha valor científico, é neces sário ser fundam en tada e realizada através dc m étodo próprio e técnicas específicas. A fonte, isto é, a situação que deu origem à prim eira intuição ou idéia sobre o assunto, pode ser tam bém as mais diversas; a observação d a realidade empírica e dos fatos que acontecem em to rno de nós, experiências pessoais no setor profissional ou em outros, específicos do saber hum ano , sugestões aparecidas em cursos ou cm o u tras reuniões dc estudo ou não, leitura dc livros, revistas espe cializadas, etc, Nào só a "idéia" pode surgir em situações m uito diversas com o tam bém em qualquer m om ento, em qualquer lugar, q u an do m enos se espera, sem elhante a u m raio de luz ou sem ente que pede cultivo para produzir frutos. Entretanto, o simples fato de se ter um a intuição nao é suficiente para se começar im ediatam ente um a pesquisa. Mas é necessário, como já foi dito, enunciar o tema, e, depois disto, fo rm u lar o problem a, levantar hipóteses, e tudo o mais, com o pede o método, 3. Formulação do problema Krick diz que "o tem po em pregado na form ulação dc um problem a é, no mínimo, um tão vantajoso investi m ento como aquele de todas as dem ais fases necessárias à sua solução".39 Lem brar isto c m uito im portante. Ein- 39, Edward V Krick, Métodos e Sistema (vol. I), p. 22, 93 hora a formulação do problema possa parecer, às vezes, tarefa cansativa e m onótona e exista quem de tal m aneira nela sc em aranha, que nào consegue passar adiante, é, no entanto, exigência imprescindível c condição fundam ental para que possam surgir as outras etapas do método. Sem um a for- mulaçao bem feita do problema, não se sabe que solução se procura c, conseqüentemente, é impossível encontrá-la. Formular o problema consiste cm dizer, de m aneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a difi culdade, com a qual nos defrontam os e que pretendem os resolver, lim itando o seu cam po e apresentando suas características. Desta form a, o objetivo da form ulação do problema da pesquisa é torná-lo individualizado, específico, inconfundível. Sc alguém diz que o tem a de sua pesquisa é "Influência de tóxicos em crimes de homicídios, com eti dos por delinqüentes juvenis na cidade de São Paulo", possivelmente o interesse está em resolver problemas que poderiam ser form ulados, por exemplo, da seguinte m a neira: A maior incidência de homicídios, cometidos por de linqüentes juvenis na cidade de São Paulo, se encontra entre os que são viciados em tóxicos? (note-se que não é necessário colocar na indagação do problema: "... sc encontra ou não, entre os que são viciados..." pois a resposta "sim" ou "nao" pertence à solução), ou até que ponto os homicídios cometidos por delinqüentes juvenis, toxicômanos, na cidade de São Riu lo, são ocasionados como efeito de tóxicos, c outros semelhantes? Além das características de ser explícita, clara, com preensiva c operacional, a form ulação do problema deve possuir a inda as qualidades seguintes: a) enunciar uma questão, cujo melhor modo de solução seja uma pesquisa. Assim, por exemplo, esta form ulação de quantos dias consta o ano civil? nao é "boa" para u m a pesquisa. De fato, a resposta e conhecida. E, sc alguém não a soubesse, poderia facilm ente consu ltar u m calendário. Da m esm a fo rm a nao há m otivo para se repetir um a pesquisa que já 94 foi feita se a única razão é conhecer o resultado já alcan çado, Pode haver, no entanto, ou tros m otivos que justif i quem a repetição, como a dúvida sobre a validade ou adequação dos procedim entos empregados, a suspeita de algo não ter sido alcançado pelo processo, o desejo de se confirm ar que tais procedimentos levam a tais fins, a aprendizagem no sentido de se alcançar u m determ inado resultado através de tais meios, etc*; b) apresentar uma questão que possa ser resolvida por meio de processos cientí ficos. Assim, não servem as seguintes form ulações: quais as cores das asas dos anjos? ou a dlma humana c imortal? porque a ciência não tem meios de observar anjos (asas de anjos) c nem a lm a - Ainda sob este aspecto não serve a seguinte form ulação: no ano de 2001 haverá o mesmo índice de audiência aos programas de TV que houve em 1977?, pois a ciência não possui meios capazes de medir a quantidade de telespectadores que haverá no ano 2001 (poderá fazer previsões, mas que não passam de meras hipóteses, até serem verificadas); c) ser factível, tanto com relação ã compe tência do pesquisador, quanto a disponibilidade de recursos, Assim, por exemplo, um a pesquisa que poderia scr feita com os recursos técnicos e financeiros de um a grande Universi dade não pode ser realizada apenas com os parcos recursos de um estudante que, para efetivá-la, conta apenas com o que possui. Ou, então, um assunto complexo, cuja utilização paraa pesquisa exige conhecimento e capacidade de um perito, não pode servir para um principiante. Para concluir este capítulo sobre a form ulação do problem a da pesquisa, apresentam os os critérios estabe lecidos por Best, que tan to poderão orien tar o leitor nas suas formulações com o tam bém poderão, talvez, servir de indicação para avaliar até que ponto foram bem feitas: a) este problema pode realmente ser resolvido pelo processo de pesquisa científica? b) o problema ésuficientemente relevante a ponto de justificar que a pesquisa seja fe ita (se não é tão relevante, existe, com certeza, ou tros problem as m ais im 95 portan tes que estão esperando pesquisa para serem resol vidos)? c) trata-se realmente de um problema original? d) a pesquisa é factível? c) ainda que seja "bom", o problema é adequado para mim? f) pode-se chegar a uma conclusão valiosa? g) tenho a necessária competência para planejar e executar um estudo deste tipo? h) os dados, que a pesquisa exige, podem realmente ser obtidos? i) há recursos financeiros disponíveis para a realização da pesquisa? j) terei tempo de terminar o projeto? 1) serei persistente?4U Finalmente, convém o leitor estar a ten to para o se guinte: quase o m esm o trabalho que se realiza p ara obter elem entos a fim de enunciar o tema serve para aformulação do problema. Podemos, no entanto , considerar que o tem a e u m a proposição m ais abrangente e a form ulação do problem a é m ais específica; em ou tras palavras, o prim ei ro, estabelecendo um a relação entre variáveis, de modo geral, nao indica exatamente qual a dificuldade que se pretende resolver: esta se encontra definida na indagação do problem a. 40, J.W Best, op. tií., p 36. 96 CAPÍTULO VII O enunciado das hipóteses 1. Noções p re l im in a re s Cham a-se de "enunciado de hipóteses" a fase do mé todo de pesquisa que vem depois da form ulação do proble ma. Sob certo aspecto, podemos aí ir m ar que toda pesquisa científica consiste apenas em enunciar e verificar hipóteses. Hipótese é u m a suposição que se faz na tentativa dc explicar o que se desconhece. Esta suposição tem por característica o fa to dc ser provisória, devendo, p o rtan to , scr tes tada p a ra se verificar sua validade. Trata-se, en^ tão, de se antecipar u m conhecim ento, na expectativa cie ser com provado p ara poder ser adm itido . Diz 0 'N eil: "como as h ipóteses são con je tu ras feitas p a ra explicar a lgum con ju n to de dados observados, podem os dizer que servem p ara p reencher lacunas que ficam em nosso conhecim ento pela observação" .^ Na verdade, as hipó teses servem p ara preencher "lacunas dc conhecimento". Entretanto, pelo m enos no que se refere às hipóteses das pesquisas científicas, parece inadequado dizer que são "conjeturas". ts ta palavra, no sentido com um , significa um a "opinião com fundam ento incerto". Ora, a hipótese da pesquisa é um a suposição objetiva c não um a m era "opinião". Além disto, precisa ter bases sólidas, assentadas 41, VM. 0'N dl, Introducción al método, p. 124. 97 e garan tidas por "boas" Teorias c por m atérias-prim as consistentes da realidade observável e, po rtan to , nâo pode ter "fundam ento incerto1'. Em nossa vida diária, costum am os utilizar hipóteses p a ra suprir "lacunas do conhecimento"* Mesmo neste caso, não sc pode dizer que sejam m eras "conjeturas", pois sem pre buscam os a lgum a base lógica ou de observação p ara enunciá-las. Para exemplificar esta utilização na vida quotidiana, im aginem os a situação dc alguém que deseje fa lar u rgen tem ente ao telefone e constate que não está funcionando. Há, então, um a "lacuna dc conhecimento": nao.se sabe por que o telefone nao funciona. Esta dificuldade, assim confirm ada, faz su rg ir um problema que precisa ser resolvido: "o que terá este telefone para não funcionar?" Im ediatam ente aparece um a série de hipóteses, todas como tentativas dc solucionar o problema: a) talvez tenha h a vido esquecimento de pagar a conta c a Telefônica tenha desligado o aparelho; b) pode ser que, na rua, o fio de ligação esteja cortado; c) pode scr que o aparelho esteja com algum defeito, etc. Note-se que, ao levantar as hipóteses a, h e c o indivíduo ainda nâo sabe qual delas é a 'Verdadeira” para resolver o problema. Vai, então, "tom ar providências", isto é, obter informações, orientando-se pelas próprias hipóteses para saber em qual delas está a solução. Para isto: A) indaga sc as contas do mês foram pagas à Telefônica e recebe a resposta: foram; B) m anda ver se os fios de ligação estào cortados: não estão; C) m anda cham ar um técnico que examina o aparelho e verifica: está com defeito, Esta última é, então, a hipótese comprovada, que pode ser aceita, enquan to que as outras devem ser rejeitadas. Nela, portanto, se encontra a solução do problema, 2. A hipótese: guia para a pesquisa No exemplo do telefone, que acabam os de apresentar, os procedim entos indicados pelas letras A, B c C foram 98 orientados respectivamente pelas hipóteses a, b c c, que serviram , não apenas para dar explicação provisória ao que sc desconhecia, m as tam bém funcionaram como setas indicadoras de um caminho a seguir: i. é, guias para os procedim entos em busca da "verdadeira" solução a ser descoberta. Assim, quando sc enunciam hipóteses para um a pesquisa, deve-se ter diante dos olhos esta dupla função que ela desempenha: dar explicações provisórias e ao m esm o tem po servir de guia na busca dc informações para verificar a validade destas explicações. O enunciado das hipóteses, para ser bem feito, depende da iniciativa e originalidade do pesquisador: cada um escolhe a que ju lga mais adequada para solucionar o seu problem a de pesquisa. Ninguém e obrigado a justificar por que fez tal opção e não outra : o enunciado se apresenta com o expressão da livre escolha, da intuição, do bom senso, da experiência e da competência de cada um . Mas isto nao significa que deva ser feito de m odo confuso e desordenado. C ostum a-se indicar a lguns critérios, que surgem como balizas dem arcando um campo, dentro do qual as hipóteses podem ser enunciadas com toda a liber dade. No entanto , nao sc pode ir além das balizas, pois a u ltrapassagem é sinal da form ulação estar defeituosa e, por isso, ser inválida. Respeitar a dem arcação c, portan to , condição para g a ran tir o valor da hipótese. Como critérios apresentados, geralm ente pede-se que a hipótese seja: a) plausível; b) consistente; c) específica; d) verificável; e) clara; f) simples; g) econômica; h) explicativa. Todas estas características devem se encontrar na form ulação de u m a hipótese para ser considerada válida. Vejamos, agora, o que significam estes critérios. E, para m elhor explicá-los, iremos fazer referência ao exem plo que segue mais abaixo. Antes, porém , torna-se neces sário u m ligeiro esclarecim ento: n a orientação n ão - diretiva, cham a-se de "resposta" ao procedim ento verbal, 99 m ímico ou gestual cio terapeu ta como reação ao que é m anifestado pelo cliente. Tanto na situação de Aconselha m ento, específico do Orientador Educacional, como na de Psicoterapia, específico do Psicólogo (que tam bém pode fazer Aconselhamento) são utilizados, de m odo geral, os m esm os tipos de respostas. Como professor de u m curso de Form ação de Psicólo gos e, ao m esm o tempo, de ou tro , p a ra fo rm ar O rienta dores Educacionais, fizemos u m exercício para "saber, de m odo simples, até que pon to um g ru p o pode aceitar as m esm as respostas dadas por ou tro" . Os alunos de Orien tação Educacional constitu íram o Grupo I e os de Form a ção de Psicólogo eram integrantes do G rupo 11, Notem que não se tra tav a de g rupo experim ental e de g rupo de controle, u m a vez que os dois g rupos não eram equiva lentes sob todos os aspectos. Era, antes, um grupo único, ondefoi aplicado um fato r experim ental (o exercício dado) a fim de se observarem as respostas e com pararem deter m inadas variáveis. Para o trabalho que tentam os fazer com os grupos, podem os ter o seguinte problem a fo rm u lado da seguinte m aneira: "existe diferença significativa entre as respostas dadas por alunos de O.E, e por alunos de F,P, quando se encontram diante dos m esm os casos, apresentados pelos m esm os clientes?"* Vamos, agora, descrever os critérios, indicando, para cada u m deles, um exemplo de hipótese mal enunciada* E só ao final apresentarem os à crítica do leitor as hipóteses, que nos parece cum prir as exigências dos critérios: a) a hipótese deve ser plausível, isto é, deve indicar uma situaçao possível de ser adm itida, de ser aceita. Assim, não serve o seguinte enunciado: "existe u m a diferença total: * Veja Franz Victor Rudio, Oríenlàfâo nâo-din tiva , p 95s. 100 os a lunos de ER apresentam respostas adequadas e corre tas e os alunos de O.E. apresen tam respostas inadequadas e incorretas". De faio, não é admissível que, tendo decor rido o m esm o tem po de estudo, relativo ao m esm o con teúdo, houvesse tal diferença entre os dois grupos; b) ã consistência indica que o enunciado não está etn contradição nem com a Teoria e nem com o conhecimento científico mais amplo , bem como que não existe contradição dentro do próprio enunciado. Assim, não serve esta fo rm u lação: "as respostas dos alunos de O.E. e dos alunos de F.R são todas incorretas e inadequadas, pois não se pode saber quando há respostas corretas em Aconselham ento c Psi- coterapia". De fato, a inconsistência aparece sob dois aspectos: 1) no próprio enunciado, com relação a si m es mo: se não se pode saber quando as respostas sào adequa das e corretas, como se pode a f irm ar que as respostas são inadequadas e incorretas?; II) com relação a própria Teoria que, em bora colocando limites na aprendizagem que se possa ter, p rocura ensinar e treinar os alunos para darem respostas corretas e inadequadas; III) com relação ao conhecim ento científico m ais am plo ao ensinar que se pode fazer aprendizagem , tan to de relacionam ento h u m a no como, particularm ente, de atividades psicoterápicas; c) o enunciado deve ser especificado, dando as caracte rísticas para identificar o que deve ser observado. Assim, nao serve esta form ulação: "em qualquer caso ou em qualquer situação as respostas dadas pelos alunos de F.R sào sempre superiores às dadas pelos alunos de O.E.". De fato, e impossível observar qualquer caso, qualquer situação esão sempre superiores. Estas expressões devem ser "traduzidas" em term os de referência empírica para indicar o que deve ser observado na realidade; d) a hipótese deve ser verificável pelos processos cienti- ßcos f atualm ente empregados* Assim, não serve esta for mulação: "não existe diferença significativa entre os a lu 101 nos dc O.E. e dc FP nas respostas dadas, sob a perspectiva da reação im ediata que tiveram na profundidade do in consciente". De fato, não se pode saber, por processos científicos atuais, qual a reafào imediata que alguém possui na profundidade do inconsciente; e) a cia reza refere-se ao modo de se fa zer o enunciado, isto c, que sejam constituídos por termos que ajudem real mente a compreender o que se pretende afirmar e indiquem, de modo denotativo, os fenômenos a que se referem. Assim, não serve a seguinte form ulação: "o ideal dos a lunos dc F.H c de O.E. transcendendo as incompatibilidades das respostas, que aparen tem ente possam existir, garan tem o m esm o nível de significação, equiparando-as na essencia- 1 idade". De fato, o enunciado está confuso, não se com preendendo exatam ente o que se pretende afirmar. Além disto, possui um a série de term os que não convém à hipótese, por não terem referência empírica: ideai, íraRs1- cendendo, incompatibilidade, aparentemente, nível de signi ficação, essencial idade; f) para ser simples, o enunciado deve ter todos os termos e somente os termos que são necessários à compreensão, Assim, não serve a seguinte form ulação: "com relação ao problem a dado, podemos levantar a seguinte hipótese: não existe diferença entre as belíssimas respostas dadas pelos esforçados a lunos de O.E. c as dos inteligentes alunos dc FH". De fato, o enunciado deve possuir um a linguagem substantiva. Assim, não tem sentido utilizar palavras com a finalidade de embelezar ou "com por" a frase, como, por exemplo, belíssimas, esforçados, inteligentes. Além disto, toda a parte inicial do enunciado é inútil: com relação a o problema dado, podemos levantara seguinte hipótese... bas tando que se diga apenas: Hipótese: não existe diferença, etc. Por ou tro lado, faltou um a palavra im portante para caracterizar a diferença: "significativa" (mais apropriada m ente, na linguagem de estatística, se diz significante). O 102 enunciado, então, poderia ser: Hipótese: Não existe diferen ça significativa, etc.; g) a economia do enunciado supõe a simplicidade e consiste em u tilizar todos os termos c somente os termos necessários à compreensão mas na menor quantidade possí vel Assim, na seguinte form ulação, os term os que não estão sublinhados são inúteis: "O conjunto das respostas, emitidas pelos alunos dc O.E., na solução de cada caso, não apresenta diferença significativa com a solução de cada caso, apresentada pelo con jun to de respostas, dadas pelos alunos de F.R" (HAs respostas emitidas pelos alunos dc O.E. não apresentam diferença significativa das respostas da das pelos alunos de FR"); h) uma das finalidades básicas da hipótese é servir de explicação para o problema que fo i enunciado. Se isso /iào acontece, a hipótese não tem razão dc existir Assim, não serve a seguinte form ulação: "os casos de aconselham ento são m elhor resolvidos pelos alunos de O.E. e os casos dc Psicoterapia pelos a lunos de FR" De fato, no problem a se pergun ta se há diferença significativa entre as respostas dadas c não quem c m elhor cm Aconselhamento ou Psi coterapia. A hipótese c po rtan to inválida por não possuir a força explicativa para o problem a form ulado. Colocamos agora à analise c apreciação do leitor as seguintes hipóteses que levantamos para responderem às exigências dos critérios: a) "não existe diferença significativa, entre as respostas dadas pelos alunos de O.E. c pelos dc F.Pp quanto ã correção, isto c, quando se ju lga que as respostas dadas possuem as características de ser não-diretivas; b) "não existe diferença significativa, entre as respostas dadas pelos alunos de 0,E. e pelos de F.R, quanto à adequação, isto é, quando sc ju lga que as respostas dadas convêm ao caso a que sc referem e não a outro"; c) "no total das respostas dadas, os alunos de FP apresentam m aior grau de discrimi nação e precisão do que os alunos dc O.E." 103 Pelos exemplos que acabam os de apresentar, o leitor viu que urna hipótese nao é enunciada em form a in terro gativa e nem cm fo rm a condicional, mas é uma afirmação (provisória) que se faz. Diz Bunge: "o fato de que a m aioria das hipóteses científicas se form ulem de um modo cate górico nào nos deve confundir. Nào é paradoxal que um a proposição categórica expresse um a hipótese, O paradoxo se desvanece quando se substitu i o velho nom e tradicional de hipotéticas que se dava a estas proposições "se - entao" J 3 pelo m oderno nom e de condicional" ‘ " O u tro aspecto, que deve ser igualm ente lembrado, é que u m a hipótese nàt? é apenas um enunciado repetitivo da form ulação do problem a. A nteriorm ente, neste trabalho, deu-se um exemplo de u m problem a com a seguinte form ulação: 'A droga X cura a doença Y?" E foram apre sentadas as seguintes proposições alternativas como hi póteses: a) "a droga X cura a doença Y" e b) "a droga X nao cura a doença Y". O leitor deve estar lem brado de que isto foi feito para explicara Zógica que relaciona a hipótese com o problem a e não p ara m o stra r com o u m a hipótese deve ser enunciada* Vejamos u m exemplo para m ostra r que a hipótese não e repetitiva. Imaginem os um problem a form ulado nos seguintes term os: 'Ate que ponto a delin qüência juvenil, na cidade de São Paulo, é ocasionada pela toxicomania?" Sabe-se que, neste caso, existem duas va riáveis: toxicomania (variável independente) e delinqüência juvenil (variável dependente). Suponham os que, para o interesse da pesquisa, se inclua apenas o estudo de roubo e de homicídio para a rfeliru/ücncía ju ven il Neste caso, poderíamos, talvez, enunciar para o problem a as seguin tes hipóteses: a) ''entre os delinqüentes juvenis de São Paulo existe u m a quan tidade significativamente m aior de 42. Mário [Huige, op. cit., p. 252, 104 crimes de homicídio, causados pelo uso dc drogas que por ou tros motivos"; b) "entre os delinqüentes juvenis de São Paulo não existe diferença significativa entre os crimes de roubo, cometidos por causa do uso das drogas, e os cometidos por o u tras causas". Como se ve, o enunciado da hipótese não repete m a terialm ente a form ulação do problem a. E, isto, de m aneira especial, porque deve possuir força explicativa (geralmen te a simples repetição possui u m a força explicativa m uito pequena, às vezes insignificante, quando possui), que aparece, no exemplo, pelo m enos sob três aspectos: l) responde se os crimes são o u não ocasionados pelas d ro gas, m encionando um m odo de verificar a resposta; b) indica que variáveis in teressam ao estudo da pesquisa, discrim inando as situações em que am bas se encontram ; c) diz o tipo de relação que se estabelece entre as variáveis, orientando, neste caso, se a pesquisa deve ser descritiva ou experimental. 3, A h ip ó tese e s ta t ís t ic a Um a hipótese pode ser constituída apenas de «ma variável, p. ex.: "os estudantes universitários de Recife são favoráveis ao divórcio". Pode ter duas ou mais variáveis, relacionadas entre si, sem vínculo dc causalidade, p. ex.: "aum entando a desnutrição au m en ta a religiosidade entre os favelados do Rio de Janeiro". Pode, finalmente, ter duas ou mais variáveis, relacionadas com vinculo de causalidade, p. ex.: "o aum en to da religiosidade entre os jovens de Vitória ocasiona o au m en to de sua freqüência H igreja" (Evidentemente não é o simples enunciado de u m a hipó tese, m as é a realização de um a pesquisa, que nos dirá se existe ou nao relação de causalidade entre variáveis. A hipótese faz um a m enção que poderá ou não ser com pro vada). Para se verificarem as hipóteses, obtêm-se infor mações na realidade empírica, e este procedim ento cons- 105 titui a fase que, no método, se denom ina coleta de dados e que verem os no próxim o capítulo. Obtidas as informações, precisamos decidir se com pro vam ou não as hipóteses enunciadas. Esta decisão não é efetivada pela simples com paração dos dados obtidos ou através unicam ente do raciocínio lógico, mas exige que se recorra a procedim entos específicos de estatística. Aqui, se o próprio pesquisador não é perito em estatística, deve recorrer a u m d e le s / A utilização da estatística é meio: não sc deve confundir pesquisa com estatística, em bora esta seja p ara aquela um recurso indispensável, obrigatório. A fim dc com provar as hipóteses, a estatística nos dirá se os resultados obtidos, a partir das inform ações colhidas, são significativos ou m eram ente fru to do acaso. Ajuda-nos, portan to , a termos confiança na decisão sobre os resu lta dos, m as explica nem com o estes foram alcançados e nem quais as suas causas, pois estas questões devem scr respondidas pelo processo de pesquisa e não pela estatís tica. Para a estatística nos ajudar, é necessário que as hipóteses sejam enunciadas com exatidão e apresentadas na fo rm a de linguagem num érica. Devemos distinguir a hipótese da pesquisat isto é, aque la que foi enunciada logo depois da form ulação do p ro blem a e a hipótese da estatística , isto é, aquela que vai ser utilizada para aplicação das técnicas estatísticas. Geral m ente a segunda não é mais do que a prim eira "traduzida" em linguagem num érica. Vejamos u m exemplo. Im agine mos o seguinte problem a de pesquisa: “A m aior q u an tid a de de toxicôm anos, entre os estudantes universitários da cidade N, é constitu ída de rapazes ou moças?" Para este # Quando são necessárias a orientação e colaboração do perito em estatística, este deve ser procurado logo no início da elaboração do projeto, isto c. desde a formulação do problema ou, talvez, antes, para definir que participação terá tanto na elaboração do projeto como na execução da pesquisa, se for o caso. 106 problema, poderíam os enunciar, por exemplo, a seguinte hipótese: "A m aio r quantidade de estudantes viciados em drogas, entre os universitários da cidade X, encontra-se nos indivíduos do sexo m asculino" (simplificou-se o en u n ciado para facilitar a explicação que segue). Esta é a hipótese da pesquisa . Mas, para poder ser verificada esta tisticamente, ela deve ser ' traduzida" em linguagem n u m érica, Assim, poderíam os, talvez, dizer: "Entre os estudantes universitários da cidade X, viciados em drogas, 83,27% são constituídos por indivíduos do sexo m asculi no". Entretanto, aqui vem a dificuldade: não é fácil encon tra r a "quantidade" exata para se fazer a previsão: por que 83,27% e não 83,28% ou 82,56% etc.? Em que nos pode mos basear para prever, na hipótese, que sao precisamente 83,27% (depois que a pesquisa for feita, saberemos, m as a hipótese e enunciada antes)? 5c escolhêssemos 83,27% e, ao fazer a pesquisa, constatássem os que a "quantidade" é de 83,20%, a nossa hipótese deveria ou não ser rejeitada por m argem tào pequena (independentemente do que nos revelasse a estatística)? Assim, para evitar todas estas dificuldades, o modo mais com um é enunciar a hipótese estatística na fo rm a da hipótese nula. Para explicar no que esta consiste, Garret diz que "em sua form a m ais simples esta hipótese estatui que nâo há diferença entre duas médias de população e que a diferença que se adm ite existir entre médias de am ostra é, portan to , acidental e sem importância. A hi pótese nula é análoga ao princípio legal de que u m hom em é inocente até que seja provada su a culpabilidade".4* Q uando pretendem os fazer com parações estatísticas, u ti lizamos a média, e, quando com param os am ostras, deve mos to m ar u m a decisão. A hipótese nula afirm a que a 43. H, Garret, Estatística na Psicologia, vol. II, p. 3. 107 diferença entre as médias das am ostras é igual a zero, isto é, que elas sào iguais entre si. Em ou tras palavras, isto indica que elas são da m esm a população e não de p o p u lações diferentes. A hipótese nula é enunciada por motivos operacionais, porque perm ite, no ponto de vista estatísti co, um tra tam en to eficaz. M uitas vezes ela já é enunciada com a intenção expressa de ser rejeitada. Assim, no exem plo acima, dado p o r nós, previm os que existe, entre os to xicômanos, um a quantidade m aior de indivíduos perten centes ao sexo m asculino, E, no entanto , podemos, para a nossa pesquisa, enunciar a seguinte hipótese nula: "Não existe diferença significativa entre a quantidade de indiví duos do sexo m asculino e os de sexo feminino, entre os estudantes universitários, viciados em drogas, da cidade N". Na hipótese da pesquisa, supusem os que a diferença existe. Entretanto, para a eficácia do tratam ento estatístico, agimos como se a diferença fosse nula, isto é, igual a zero. Devemos, depois, aplicar um a prova de estatística para verificar se realmente a diferença existe ou não. E, neste caso, se a hipótese nula (representada por Ho) for rejeitada - isto é, se a diferença for comprovada devemos então aceitar a hipótese alternativa (representadapor Hi). Caso contrário, aceitamos Ho c rejeitamos Hi- A hipótese levantada para nossa pesquisa é a alternativa (Hi). Desta maneira, ela só pode ser aceita se a hipótese nula for rejeitada. Siegel apresenta os seguintes passos para decidir, por tra tam en to estatístico, se um a hipótese nula deve ser aceita ou rejeitada: a) enunciado da hipótese nula (Ho); b) escolha de uma prova estatística, com seu respectivo modelo estatístico, para provar Ho- Das provas capazes de serem usadas, num plano de pesquisa, deve-se escolher aquela cujo modelo mais se aproxime das condições da pesquisa.,, e cujos requisitos de medida satisfaçam as medidas usadas na pesquisa; c) especificação da signijicância (a) cdo tamanho da amostra (N); d) apresentação (ou suposição) da distribuição da amostra da prova estatística conforme Ho; e) sobre as bases de b, c e d 108 definição da região crítica; f) cálculo do valor da prova estatística com os dados obtidos da amostra. Se o valor sc encontra na região da rejeição deve ser rejeitado, se estiver fora da região da rejeição não se pode rejeitar Ho no nível de significância escolhido. 44 Com relação ao item b, a escolha dc u m a prova esta tística será considerada "boa", quando houver pequena probabilidade dc se rejeitar a hipótese nula, quando esta é "verdadeira" ou, então, de accitá-la, quando é "falsa", A escolha da prova depende de u m a serie de circunstâncias: do objetivo que se pretende alcançar com a pesquisa, da m aneira com o a am ostra foi selecionada, do in s trum en to que se utilizou para a coleta dc dados, da m aneira de m edir as variáveis, etc. Q uanto à especificação da significância, convém n o ta r o seguinte: se um a hipótese for rejeitada, quando devia ser aceita, diz-se que foi cometido um erro tipo I. Se, por o u tro lado, for aceita um a hipótese que devia ser rejeitada, diz-se que foi cometido um erro tipo II. O desejável seria que nenhum dos dois erros fosse cometido* Entretanto, a possibilidade dc se com eter o erro tipo I, ao testar um a hipótese, é dada pelo nível de significância, isto é, por. Q uanto mais sc au m en ta o valor de a mais se corre o perigo de se rejeitar a hipótese nula, sendo esta "verda deira". Na prática, geralm ente se adota o nível de signifi cância igual a 0,05 ou 0,01. No prim eiro (a = 0,05) há probabilidade de que em 95% dos casos se tom e u m a decisão acertada, isto é, que em cinco dentre cem casos a Ho seja rejeitada quando devia ser aceita. Diz-se, então, que a hipótese nula é rejeitada ao nível de significância dc 0,05. Na prática, o nível de significância deve ser expresso, logo depois dc se ter enunciado a hipótese n u la e de se ter definido que prova estatística vai ser aplicada, c antes da 44 . Sidney Siegel, E s t í i t ís t ic â n o p a r a m é t r ic a , p 27. 109 seleção da am ostra . É neste m om ento que, ju n tam en te com o nível de significância, deve-se apresen tar o tam anho da am o stra que será selecionada. Relativamente à região da rejeição, deve-se observar o seguinte: tendo como referencia a curva norm al, o espaço que contém 95% dos casos (quando a — 0,05) e + 1 ,96a e - 1 ,96a e o espaço que contém 99% dos casos (quando a = 0,01) e + 2 ,58a c - 2,58a. O espaço compreendido entre um e ou tro conform e a é denom inado região da aceitação e o espaço que fica fora e acim a ou abaixo da região da aceitação é denom inado de região de rejeição da hipótese, o que se verifica para cada caso através de provas estatísticas. Para concluir este capítulo, convem lembrar, com o já foi dito, que a diferença, indicada na hipótese nula, refe- re-se a um a interpretação estatística. Ao com pararm os dois g rupos e ao a firm arm os que, entre elesr não existe diferença significativa, estam os querendo indicar qu ees ía - tisticamente eles não sao diferentes. Se, tendo em vista o fenômeno a respeito do qual são com parados, eles realmente são ou não-diferentes depende de a pesquisa ter sido ou não bem feita. Se o modo de proceder na pesquisa foi correto, en tão o fato de não haver estatisticam ente diferença sig nificativa pode a judar à inferência de que tam bém quan to ao fenôm eno, que serve para com pará-los, não há dife rença significativa e que qualquer diferença encontrada se deve apenas ao acaso. 110 CAPÍTULO VIII Coleta, análise e interpretação dos dados 1. Noções p re l im in a re s Chama-se de "coleta dc dados" à fase do método de pesquisa, cujo objetivo c obter informações da realidade. A fase seguinte, cm continuação a esta, é o processo dc anali sar c interpretar as informações obtidas e denomina-se "análise e interpretação dc dados". Iremos ver as duas neste capítulo. De acordo com o tipo dc informações que se deseja obter, há u m a variedade de instrum entos que podem ser utilizados c maneiras diferentes de operá-los, Os instrum entos mais úteis á pesquisa sao os que, além de assinalar a presença ou ausência de um fenômeno, são ainda capazes de quantificá- lo, dando-nos um a medida sobre o mesmo. Assim, por exemplo, a balança pode acusar que o hom em pesa, mas tem um a utilidade m aior porque, além disto, pode indicar quan to pesa, p. ex.: 80kg. Nas ciências com por ta mentais, preferem- se tam bém instrum entos que possam medir o fenômeno, por isto, p. cx>, um teste de inteligência é útil, porque além dc acusar que o hom em c inteligente pode oferecer um a medida a fim de se avaliar o seu CU- O term o medir serve para indicar a atribuição de núm e ros a fenômenos, permitindo que, desta forma, se possa efetuar determinadas operações. E as medidas, para isto, podem se apresentar em quatro níveis: nominal, ordinal, dc intervalo e de proporção, cujos significados são os seguintes: a) escedã nominal c o nível mais elem entar que existe para a medida* Nela os números são utilizados apenas para indicar que os fenômenos pertencem a classes diferentes* Os nú 111 meros servem, então, para rfistir^gnir uma classe da outra. E o que acontece, por exemplo, com núm eros de telefone. Em Recife, o prefixo 326 indica que o telefone pertence à classe de telefones de Boa Viagem, e 429, à classe de telefones de Olinda. Neste caso, não tem sentido dizer que 429 c m aior ou superior a 326. Na escala nominal, os núm eros servem também para indicar igualdade ou equivalência entre os elementos que pertencem a m esm a classe. Assim, todos os telefones com o prefixo 429 são iguais e equivalentes quanto ao fato de pertencerem à classe de telefones de Olinda; b) quando os números são utilizados para estabelecer uma ordem entre os indivíduos, en tao se diz que fo rm am u m a escala ordinal. Assim, por exemplo, à medida que chegam a u m A m bulatório, as pessoas vão recebendo u m a ficha num erada . Aqui, o núm ero de cada ficha indica □ ordem de chegada e o conjunto de fichas fo rm a um a escala o rd in a l Neste caso, os números já não indicam mais equi valência,, mas que um, sob algum aspecto, é mais {ou maior) do que o outro (p. ex.: o que chegou prim eiro c mais pontual do que o segundo, que é mais pontual do que o terceiro, que é mais pontual, etc.). Isto tam bém acontece com os núm eros, quando são utilizados para a classificação esco lar: o 1° é mais do que o 2o, que é mais do que o 3o etc,; c) na escala de intervalo dos números, além da ordem, indicam uma distância entre eles. Assim, por exemplo, no term ôm etro , os graus de tem pera tu ra : 36, 37, 38, etc. O prim eiro indica um a tem p era tu ra "normal", o segundo um começo de febre, o terceiro o au m en to da febre, etc. Embora no te rm ôm etro o pon to zero seja arbitrário , em qualquer um deles a distancia entre os números permanece sempre a mesma, dando iguais medida e classe de informação, mantendo a unidade de medida, comum e constante; d) a esrafa de proporção possui as m esm as caracterís tica s da escala de intervalo, tendo, no entanto, mais o fato de sua origem ser o ponto zero. Assim, por exemplo, os 112 núm eros que, n u m a balança, servem para pesar, form am um a escala de proporção. As escalas oferecem u m interesse particu lar p a ra a pesquisa científica porque definem tra tam en tos estatísti cos específicos que devem ser usados em cada um a delas. A este respeito, Siegel apresenta o seguinte quadro: OS QUATRO NÍVEIS DE MEDIDA E AS ESTATÍSTICAS APRO PRIADAS A CADA NÍVEL Relações definidas Exemplos de esta tísticas apropriadas Provas estatís ticas apropriados Nominal Equivalência Ordinal Intervalo \ Proporção 1. Equivalência 2. Dc maior para menor 1. Equivalência 2. Dc maior para menor 3. Proporção conhecida dc um intervalo a qualquer outro 1. Kquivalência 2. Dc maior para menor 3. Proporão conhecida de um intervalo a qualquer outro 4. Proporção conhecida dc um intervalo da escala a qualquer outro M od o Freqüência Coeficiente de con tingência Percentis Spearman r$ Kendall r Kendall W Média Desvio-pad rüo Correlação de Pearson Correlação múltipla Média geométrica Coeficiente de variação Provas estatísticas / nao-paramétricas Provas estatísticas 1 paramétricas e näO'pararnetricas Fonte: Sidney Siegel^1 45. Sidney Siegel, Esíarf&fíca, p. 5 I. 113 2. Instrumentos dc pesquisa C ham a-se de " instrum ento dc pesquisa" o que é utili zado para a coleta de dados. Pelo fato dc serem m uito freqüentem ente em pregados nas ciências com portam en- tais, vam os apenas considerar, em nosso estudo, o ques tionário e a en frm sta . Estes dois instrum entos têm, de com um , o fato de serem constituídos por um a lista de indagações que, respondidas, dão ao pesquisadoras infor mações que ele pretende atingir. E a diferença, entre um e outro , c ser o questionário feito de perguntas, entregues por escrito ao in form ante c às quais ele tam bém responde por escrito, enquan to que, na entrevistaf as perguntas são feitas oralm ente, quer a um indivíduo em particular quer a um grupo , e as respostas são registradas geralm ente pelo próprio en trev istador Para que se possa ter confiança em aceitar as inform a ções dc um instrum en to de pesquisa, este precisa ter as qualidades de validade e fidedignidade. Diz-se que um in s trum en to c válido quando mede o que pretende medir e é fidedigno quando aplicado á mesma amostra oferece con- sistentemente os mesmos resultados, Os questionários e entrevistas possuem técnicas próprias de elaboração c aplicação, que precisam ser obedecidas, como garantias para a sua validade e fidedignidade. Uma coisa é a construção de um instrum ento de pesqui sa e, outra , é a sua aplicação. Quanto à primeira, tanto o questionário como a entrevista são formados por uni con junto de questões, enunciadas como perguntas, de form a organizada e sistematizada, tendo como objetivo alcançar determinadas informações. Ao conjunto de questões, enun ciadas com estas características, dá-se o nome de "formulá rio''. Geralmente se preferem, para o quest ionário, perguntas fechadas e, para a entrevista, perguntas abertas ou simples mente tópicos„ De fato, como nesta últim a o entrevistador se encontra ju n to ao inform ante, bastam apenas íridica- 1 14 ções mais amplas, podendo fazer, no m om ento oportuno, as adaptações e com plcm entações que forem necessárias, o que não acontece no questionário onde o inform ante se encontra sozinho e sem n en h u m a ajuda* Perguntas fechadas sao as que alguém responde assi nalando apenas u m 5Í/n ou não ou, ainda, m arcando u m a das alternativas, ja an terio rm en te fixadas no form ulário , Deve ser indicado o m odo tie o in form ante assinalar a a lternativa que escolher. Eis um exemplo: "Em cãda pergunta abaixo, cscolha a alternativa que serve para a sua resposta, assinalando-a com um X que deve ser colocado no respectivo parêntese: 1. É a primeira vez que você vem a São Luís? ( ) sim ( ) não ( ) não me lembro ou não sei responder 2. Há quanto tempo você se encontra nesta cidade? ( ) há uma semana ou menos de uma semana ( ) de mais de uma semana a menos de IS dias ( ) de 15 dias a menos de um mês ( ) de um mês a mais de um mês 3 . Em que condução wcc chegou ã esta cidade? ( ) automóvel { ) ônibus ( ) trem ( ) avião { ) barco/navio { ) outros meios de condução 4. Qual foi a impressão que, ao chegar, a cidade lhe causou: ( ) agradável { ) muito agradável ( ) desagradável ( ) muito desagradável ( ) indiferente 115 5. Qitãl ã sua opinião sobre a seguinte frase: "Sào Luís é uma das cidades mais belas do ftrasil" ( ) concordo plenamente ( ) concordo muito ( ) discordo plenamente ( ) discordo muito ( ) concordo ( } discordo { } nào tenho opinião form ada As perguntas abertas são as que permitem uma livre resposta do informante, por exemplo: 1, É a primeira vez que você vem a São Luís? 2. Há q uan to tem po você se encontra nesta cidade? 3. Sem e n t r a r em de ta lhes , diga q u a l foi a p rim e ira im pressão que você teve ao chegar a esta cidade? Justifique sua resposta de m odo bem resumido: 4, Dê, na ordem de im portância - e a começar da mais im portan te para você três sugestões que, na sua opi nião, se forem executadas, transfo rm arão Sào Luís num dos pólos de m aior a traçào turística do Brasil: D ....................................................................................................................................................................................................... 116 II) III) * + + a, ■ ■ « * ! * 4 * i + 1 * * r m m m m m + k * - * ■ ■ ■ ■ Um questionário pode ser constituído só dc perguntas abertas ou só dc perguntas fechadas ou, s im ultaneam en te, dos dois tipos de perguntas. Q uan to à entrevista, os itens que a orientam podem ser apresentados em fo rm a de perguntas abertas e /ou pergun tas fechadas com o tam bém em form a de tópicos, por exemplo: "Formulário (para orientação do entrevistador) 1. Perguntar se c a primeira vez que o entrevistado vem a São Luís (anotar apenas uma das três respostas: sim - nào - não me lembro ou nao sei responder). 2. Saber a quanto tempo d e se encontra na cidade. 3 . Solicitar sugestões para transformar Sao Luís em pólo turístico brasileiro (anotar as sugestões na ordem de impor tância e a partir da que ele considera mais importante}". Antes dc com eçar a redigir o form ulário (tanto p a ra o questionário com o para a entrevista), é necessário estabe lecer um piam?, para que as pergun tas sejam apresentadas de modo ordenado c n um a seqüência lógica, que dê uni dade e eficácia às inform ações que se pretende obter: o form ulário não c um a colcha de retalhos, mas um todo 117 organizado, com o objetivo de conseguir determ inadas inform ações. Assim é necessário, antes de construí-lo, definir exatam ente quais as informações que precisam ser obtidas, a fim de que nele só sejam feitas indagações pertinentes e relevantes. Colocar perguntas, visando, por exemplo, apenas satisfazer curiosidade, é distorcer o ob jetivo do fo rm ulário , H necessário, tam bém , que as per g u n tas sejam relevantes, dc m odo que justifiquem tan to os esforços do pesquisador, em construir c aplicar o fo rm u lário, como o trabalho do informante, para respondê-lo. Aconselha-se que, ao estabelecer a ordem das perguntas, sejam prim eiram ente colocadas as mais fáceis c, no fim, as mais difíceis, a judando o inform ante no desenvolvi m ento do pensam ento lógico à medida que vai dando suas respostas. Igualm ente, as perguntas, que exigem respos tas de cunho m ais íntim o, devem ser colocadas posterior mente e preparadas por indagações mais impessoais e comuns, que devem estar no começo, O questionário deve ser claro e preciso nas instruções que der, atraente na apresentação, havendo, depois de cada pergunta, um espaço suficiente p ara o tam anho da resposta que se espera,levan do-se em consideração se é fechada ou aberta. Tanto o questionário com o a entrevista servem para obter inform ações que não podem ser colhidas através dc ou tros meios. Assim, não tem sentido, por exemplo, apli car um questionário, para que os alunos de um a Escola respondam que notas obtiveram no ano passado (a não ser que, neste pedido, o u tra questão, de fato relevante, esteja sendo buscada), pois podemos obtê-las, consultando sim plesmente as fichas dos referidos alunos. Antes de aplicar o questionário, é necessária a certeza dc que o in fo rm an te está em condições de respondê-lo (isto é, se sabe ier e escrever, se conhece o assunto indagado, etc.) e que está suficientem ente motivado e disposto a faze-lo. Convém indicar em term os gerais, na introdução n a do questionário, o objetivo dc sua aplicação e o que se espera do inform ante, por exemplo: "0 Governo M unicipal pretende fazer um planejamento, tornando São Lufe um dos pólos turísticos dopais. Para isto, está pedindo a colaboração de pessoas interessadas e/ou entendidas no assunto. Esta éa razão pela qual nos dirigimos a VS., solicitando responder este questionário, de acordo com as instruções que seguem, etc. " No começo do questionário, devem ser colocadas as indagações, que servem para caracterizar o inform ante, e necessárias à pesquisa, p. ex.: sexo, idade, estado civil, etc. Convém decidir sc é im portante para a pesquisa o inform an te colocar seu nome. Q uando o indivíduo não c obrigado a sc identificai; geralm ente pode responder com mais liber dade e sinceridade, sobretudo sc as perguntas sc referem a assuntos delicados ou m uito pessoais. Um a série de precauções devem ser tom adas, na for m ulação das perguntas, para que sejam claras, facilmente compreendidas, evitando-se toda a confusão e am bigüi dade, A lguns casos podem ser considerados: a) cada item deve conter uma só pergunta. Sc existe m ais dc um a, além de criar dificuldade para o in form ante responder, pode-se to rn a r inválida para o pesquisador. Assim, por exemplo: "Você acha que a Secretaria de Educação deve oferecer aos professores atividades, du ran te as férias, como cursos de aperfeiçoamento?" Vamos supor que alguém responda "não", dc que estará discordando: í) de que a Secretaria ofereça atividades? Il) de que estas sejam duran te as férias? III) dc que as atividades sejam cursos de aperfeiçoamento? b) quando se trai a r dc perguntas fechadas é necessário se ter cuidado para não colocar alternativas inadequadas. Assim, por exemplo: "Você é casado ou solteiro?", a esta p e rg u n ta como devem responder os viúvos, desquitados, divorciados, etc,? c) a formulação da pergunta não deve ser equivoca. Assim, por exemplo: "Você acha que o pa trim ô 119 nio histórico m aranhense dcvc ser cuidado de São Luís"? d) quando o termo empregado no formulário corre o perigo de não scr entendido (por não ser m uito comum, por ser m uito geral, por estar sendo utilizado num sentido m uito específico ou por ou tra razao qualquer) deve ser explicado. Assim, por exemplo: "Na sua opinião que obras históricas (igrejas, prédios, praças, etc.) devem constar do roteiro turístico da cidade?" e) deve-se evitar perguntas "tendenciosas", isto c, que, pelo seu enunciado, j á estejam, de algum modo, orien tando a resposta, por exemplo: "Voce não acha que o equipam ento tão deficitário do nosso laboratório é capaz de prejudicar o nosso curso de Biologia?" M ann refere-se a um a "arte de p e rg u n ta r" e diz que para a m esm a existem cinco problemas: a) perguntas ambíguas são aquelas que podem ser interpretadas pelo inform ante de mais de um a form a; b) perguntas capciosas, que, pela form a de serem enunciadas, tendem a influenciar a resposta; c) perguntas duplas - situação em que, no mesmo enunciado, existem duas respostas a serem dadas, onde se pede apenas um a; d) jargãoe terminologia técnica inacessíveis ao informante; c) perguntas emocionais que, envolvendo o informante, impedem ou dificultam um a resposta hones ta ,P o d ía m o s , talvez, acrescentar um a atitude que se deve ter sempre que se aplica um questionário: para garantir que, nele, se encontrem as respostas realmente tão necessárias, é preciso que o seu preenchimento seja feito somente pelo informante, sem a interferência de terceiros. Q uan to ã entrevista, costum a-se insistir no contato inicial entre entrevistador e entrevistado, como sendo de grande im portância para m otivar e p reparar o in fo rm an te, a fim de que suas respostas sejam realm ente sinceras e adequadas. E, no decorrer da entrevista, as perguntas, 46- Peter H. .VWitm, Métodos dc investigação, p. 153 1.15. E 20 que por ele não forem compreendidas, devem ser repetidas e, se for o caso, enunciadas de fo rm a diferente. Deve-se dar tem po suficiente para que o entrevistado reflita e responda às pergun tas com tranqüilidade. Pode-se fazer o registro da entrevista ao mesmo tempo em queelã está sendo realizada, cuidando-se, no entanto , para que este proce dim ento não traga inibição ao entrevistado e nem o obri gue a co rtar seu pensam ento ou a ficar esperando ou, ainda, a ser in terrom pido a cada instante, para as ano ta- çoes serem feitas. Pode-se tam bém fazer estas anotações depois da entrevista* Mas, aqui, e necessário ter boa m e m ória p ara pelo m enos g u ard a r o essencial, sem distorcer o que foi dito pelo entrevistado. Q uando se tra ta de fazer pesquisa de opinião, costum a- se utilizar um fo rm ulário com Escalas de Opinião ou Escalas de Atitude. Estes dois term os - atitude e opinião - em bora in tim am ente relacionados entre si, não são sinô nimos. O prim eiro indica que o indivíduo seníe ou sua disposição de ânimo diante das coisas, pessoas e aconteci mentos. Como Best explica, "é difícil, para não dizer impossível, descrever c m edir as atitudes. O pesquisador fica, então, na dependência do que o indivíduo diz sobre seus ju ízos e sentim entos. Esta é a área da opinião. Me diante o uso de pergun tas ou convertendo a reaçao m ani festada pelo indivíduo n u m a afirm ação, obtém -se um a am ostra de sua opinião. Desta afirm ação de u m a opinião pode-se deduzir ou consta ta r um a atitude: o que o indi víduo realm ente sente e ju lga" .47 N um a palavra, atitude c l\ disposição interior, referindo-se ao que o indivíduo pensa, julga ou sente. Opinião é a expressão deste estado interior m anifestado pelo que o indivíduo d iz , E a pesquisa de opinião é u m a situação em que se verifica o que o indivíduo pensa, ju lg a ou sente, criando-se, para isto, u m a condição em que ele deve se manifestar, "dizendo" a lgum a coisa* A 47. J W Best, op. c i t p. 125. 121 "condição" pode ser u m a pergun ta direta: “Você acha que a Prefeitura deve reunir, num só programa oficial, lodao invés de cinco, houvesse sete posições, que, conservada a simetria, poderiam ser estas: ótima - muito boa — boa - indiferente - m á - m uito m á - péssima. Final mente, a pergunta, para verificar a opinião, poderia tam bém ser indireta, p ex.: "Será que os participantes da festa junina de nossa cidade preferem vv-Uis reunidas numa só programação oficial? Dê sua opinião sublinhando uma das seguintes alter nativos: preferem - não preferem - não sei 3* Análise e interpretação dos dados Obtidos os dados, o pesquisador terá diante de si um am on toado de respostas, que precisam ser ordenadas e 122 organizadas, para que possam ser analisadas e interpre tadas. Para isto, devem ser codificadas e tabuladas, come çando-se o processo pela classificação. Classificar é dividir um todo cm partes, dando ordem às partes e colocando cada uma no seu lugar. Para que haja classificação e necessário que um todo ou universo seja dividido cm suas partes, sob u m determ inado critério ou fundamento, que é a base da divisão a ser feita. -Assim, por exemplo, os alunos, dentro de um a sala de aula, podem ser considerados um todo ou universo. Podemos ter o "sexo" como critério c eles serão divididos em duas partes: m ascu lina e feminina. Cada um a das partes e cham ada "classe" ou "categoria". Assim, no exemplo, os alunos, quanto ao sexo, foram divididos em duas categorias: masculina e feminina. Um todo pode ser constituído de pessoas, de coisas, de acontecimentos, de características ou de ideais. Uma classificação, para ser adequada, não pode ser feita arbitrariam ente, mas c necessário que obedeça determ ina das norm as, sendo, geralmente, indicadas as seguintes: a) na mesma classificação não pode haver mais de um critério. Não se pode, portanto, dividir os alunos de um a sala de aula em: masculinos, femininos e adiantados; b) as categorias em que o todo é dividido deve abranger cada um dos indivíduos, pertencentes ao universo, sem deixar nenhum ck fora. Não se pode, portanto, dar apenas as categorias solteiro e casado para dividir os professores de um a Faculdade, pois ficariam fora os viúvos, desquitados, etc.; c) a classificação deve ser constituída por categorias que se excluam mutuamente, de forma que não seja possível colocar cada indivíduo em mais de uma categoria. Não se pode dar, portanto, as seguintes categorias para dividir, por faixa etária, os alunos de um a sala de aula: 16-18 anos, 18-20 anos, 20-22 anos e 22-24 anos porque os alunos de 18, 20 e 22 anos poderiam ser colocados cm mais de um a categoria; d) a classificação não deve ser demasiadamente minuciosa, pois se houver excessivas categorias, com m uitas divisões e subdivisões, ao invés de clareza ter-se-á obscuridade e confusão. 12.3 Do ponto de vista do nosso estudo, a classificação é u m a form a dc discrim inar e selecionar as informações obtidas, a fim de reuni-las cm grupos, de acordo com o interesse da pesquisa. Mas, para que isto aconteça, ainda são necessárias duas operações, que passam os a estudar: a codificação e a tabulação. Codificar* é o processo pelo qual se coloca um a deter m inada inform ação (ou, melhor, o "dado" que ela oferece) na categoria que lhe compete, a tribu indo-se cada catego ria a um item e dando-se, para cada item e para cada categoria, um símbolo. Este pode ser apresentado na fo rm a de palavras ou, bem preferivelmente, na fo rm a dc linguagem numérica* Im aginem os, p a ra exemplo, que foi aplicado a u m g ru p o de alunos da Faculdade W um questionário som ente com a seguinte pergunta fechada: "Qual o seu julgamento, de modo geral, sobre a competência dos professores desta Faculdade? Sublinhe a alternativa que indica sua resposta: ótima - boa - regular ~ má - péssima Para codificar as respostas obtidas, é necessário, primeiro, classificar as indagações do questionário, tendo em vista u m a previsão das diversas possibilidades de serem respon didas. Assim, vam os supor, então, que haja um item A, referente às características dos informantes (no começo do questionário) e um item B, referente ás respostas para a pergunta (foi um a só) do questionário . Como se vê, para cada item foi assinalado um símbolo, respectivamente 'A" e "B". Im aginem os que para o item A fo ram pedidas apenas duas características: idade e sexo. Podemos, então, atribuir para o primeiro o símbolo I e, para o segundo, o símbolo II. Mas estas duas categorias ainda devem ser subdivididas. Teremos, então, para o item A - Características dos informan tes: A. 1 - Sexo: A. 1 .1 - masculino e A. 1.2 - feminino. E, para * O uso dc máquina de computação e de processamento de dados na análise não entra no objetivo desle trabalho, que é de introdução simples (V, p. cx,: Rummel, Franeis J., Jntnwíufào aos procedimentos, p. 209s). 124 A,2 - Idade: A.2,1 - ate 18 anos completos; A.2.2 - de mais de 18 até 19 anos; A.2.3 - dc mais dc 19 ate 20 anos completos; A.2.4 - de mais dc 20 ate 21 anos completos (imaginemos que na referida classe não exista ninguém de m enos de 18 anos e nem de m ais de 21 anos). E teremos para o item B - Respostas para a pergunta: B.l - ótima; B,2 - boa; B.3 - regular; B.4 - má; B,5 - péssima, Com a classificação que fizemos, atribuindo itens, categorias e símbolos ô totalidade das respostas dadas ao questionário, podem os agora fazer u m a folha-sum ário onde estarão presentes, de m odo organizado e resumido, todos os dados obtidos de todos os casos que o questioná rio contém* A van tagem desta "folha" é, entre outras, de dispensar o trabalho direto com os instrum entos da pes quisa (isto é, ao invés de se trab a lhar com todos os questionários teremos, então, apenas afolhã-sum ário, que funciona como "espelho" fiel de todos os casos e respostas dadas), Eis o exemplo de um a/of/ia-sim iário: Exemplo de uma folha-sumário para os resultados hipotéticos de um questionário Iftfn rn u n lrt llctn A icu rjc tc rb tica dus in fo m u in tti) Il cm » {respostas ynra os perguntas) A, 1 (scxjt) A,2 (idaik} A. 2,4 i l l B.2 B.3 R 4 8.5 TotalA.1.1 A 1.2 A.2,1 A.2.2 A.2.3 1 1 iiH'Ti^ürü.] X X X 1 J ü tf X X J ' " X J fötal O que fizemos acim a foi um a íabuiafáo, Este term o serve para designar o processo, pelo qual se apresentam graficam ente os dados obtidos das categorias, em colunas verticais e linhas horizontais, permitindo sintetizar os dados dc observação, de m aneira a serem compreendidos e inter pretados rapidamente e ensejando apreender-se com um só 125 olhar as particularidades e relações dos mesmos. Best dá o seguinte exemplo, a fim de explicar como fazer um a tabulação: "suponham os que estamos analisando respos tas "sim" - "não" de um questionário que foi distribuído cm seis cursos de um a Faculdade dc Filosofia e Letras e respondidos por alunos e alunas do 3o, 4o e 5° períodos. Uma das perguntas do questionário poderia ser: I. Vinotas e materiais não autorizados ruim exame fina l do último trimes tre? ( ) sim ( ) não. As etapas para tabular as respostas deveriam ser estas: a) selecionar os questionários em seis grupos: um para cada curso (Filosofia, Pedagogia, História, Línguas Clássicas, Línguas Semíticas c Línguas Modernas); b) dividir cada um das seis grupos em três (um para cada período); c) separar cada um destes dezoito grupos cm dois (um para cada sexo). Assim, teremos trinta e seis grupos que podem ser tabulados por "sim" ou "não", mediante um a só m anipulação dos questionários. Podem-se obter facilmente por adição os totais para qualquer subdivisão (todos os alunos do 4° período; todos os alunos de Pedagogia, etc.). O modelo para a tabulação pode ser o seguinte: Formulário dc tabulaçao para análise da resposta 1 Período Filosofia Pedagogia 1 listória Línguas Clássicas Línguas Semíticas Línguas Modernas 3 sim não 4 sim nâo 5 sim não Fonte: JAV. Rest4íí 48. J.YV Besl, op cit., p. 169 a 171. 126 Aindaque o procedimento de coleta de dados exigisse m aior núm ero de respostas, o sistem a de pré-seleçao seria igual. Mas aconselha-se a preparar um a folha de tabula ção para cada um dos cursos, porque um a folha só ficaria sobrecarregada. O au to r dá ainda ou tro exemplo para tabular um a questão com cinco respostas possíveis como a seguinte: "Um tribunal de honra deveria expulsar os a hinos que roiam nas provas? () concordo - () inclino-me a concordar-() não posso dar a min/ta opinião - () inclino-me a discordar - () discordo". Formulário de tabulação para a análise de 40 categorias possíveis, baseadas sobre as respostas a questão 1 de um questionário suposto49 Períodos Concordo Indmo-mc concordar Sem opinião Inclino-me a discordar Discordo H 1 M H 2 M H 3 jV I II A M Fonte: J.VV Itcst Uma vez que os dados foram codificados e tabulados, e necessário agora ana/isá-íos a fim de se ver o que signi ficam para a nossa pesquisa. Selltiz e ou tros fazem algu- 49. JAY BcsL, op. ciL, pfeitos com famílias de viciados consta taram que a au sên cia da figura pa terna no lar, duran te a infância, e causa nm tribuinte para o aparecim ento posterior do vício no h lho As condições favoráveis, criadas para que a causa conlribuinte possa aluar, constituem a causa contingente do fenômeno. Assim, constatou-se que o vício em entor- pci ■ ntes, dos jovens que tiveram ausência paterna no lar, só acontece quando, nos bairros em que eles m oram ou f requentam há disseminação de entorpecentes e não acon- tece quando o uso não está difundido. As causas alterna tivas são as diversas modalidades de causas contribuintes que to rnam provável o fenômeno. Assim, se a causa contribuinte ê a ausência da figura paterna no lar, as causas a lternativas que apareceram no estudo feito sobre o vício de entorpecentes foram: a) jovens que cresceram -i iti t íJjíc/, p. 93 a 97, 15 sem pais; b) filhos que tinham pais, m as que foram tratados por estes com liostilidade. O modo próprio que a ciência tem para obter conheci mento da realidade empírica é a pesquisa. E, entre as diversas formas de faze-la, as que vão nus interessar neste estudo são a descritiva e a experimental. A primeira tem por objetivo obter informação do que existe, a fim tie poder Escrever e ínterçínríar a realidade, A segunda, a experimental, está in teressada, não tanto em descrever os fenômenos tais como já existem na realidade, mas cm criar condições pdrã interferir no aparecimento ou na modificação de fatos a fim de poder explicar o que ocorre quando dois ou mais fenômenos são relacionados. A pesquisa experimental inclui os objetivos da pesquisa descritiva indo, no entanto, mais além. 3. Características do método de pesquisa científica Van Dalen e Meyer lem bram que "o trabalho do pes quisa nao é de na tu reza mecânica, m as requer im aginação criadora e iniciativa individual", E acrescentam: "entre tan to , a pesquisa não é um a atividade feita ao acaso, porque todo o trabalho criativo pede o emprego de proce dim entos e disciplinas determ inadas"/' Talvez um a das m aiores dificuldades, de quem se inicia na pesquisa científica, seja a dc im aginar que basta um roteiro m inucioso, detalhado, p a ra seguir e logo a pesqui sa estará realizada, Na verdade, o roteiro existe: são as diversas fases do m étodo. Entretanto, um a pesquisa devi dam ente planejada, realizada e concluída, não è um sim ples re su ltad o au to m ático de n o rm as cum pridas ou roteiro seguido, M as deve ser considerada como obra de criatividade, que nasce da intuição do pesquisador e recebe Ileobtjld VtiTidiilcn c W illia m J. M ay cr, de Técnka... [5 143 , 16 a m arca dc sua originalidade, tan to nu m odo de em preen de-la como no de com unicá-la. As fases do método podem ser vistas como indicadoras dc um cam inho, dando, po rém, a cada u m a oportun idade de m anifestar sua inic ia tiva e seu m odo próprio de expressar-se. Fazer um a pesquisa cientifica não e fácil, Além da inicia tiva e originalidade de que já falamos, exige do pesquisador persistência, dedicaçao ao trabalho, esforço contínuo e pa ciente, qualidades que tom am sua feição específica e são reconhecidas por cada um em si mesmo, quando alguém vivência a sua própria experiência de pesquisador E, no entanto, c um a das atividades mais enriquecedoras para o ser hum ano e, de modo geral, para a ciência. Embora enfatizando o valor da criatividade, convém lembrar que a pesquisa cientifica não pode ser fruto apenas da espontaneidade e intuição do indivíduo, m as exige submissão tan to aos procedimentos do método co mo aos recursos da técnica, O m étodo é o cam inho a ser percorrido, dem arcado, do começo ao fim, por fases ou etapas. E como a pesquisa tem por objetivo um problema ,i ser resolvido, o m étodo serve de guia para o estudo sistemático do enunciado, com preensão e busca de solução lIo referido problema. Exam inado m ais atentam ente, o método da pesquisa científica não c o u tra coisa do que a elaboração, consciente e organizada, dos diversos proce dimentos que nos orientam para realizar o ato reflexivo, isto é, a operação discursiva de nossa mente, VVhitney nos recorda que costum am os utilizar o p ro cesso reflexivo quando nos encontram os diante dc um a situação, que consideram os problem a e sentim os a exi gência de resolvê-lo. Em atos mais simples, como o de am arra rm o s os cordões do sapato, barbearm o-nos, pro cedermos diante cie am igos, estranhos ou inimigos, o nosso procedimento é espontâneo t’ reagimos sem reflexão ou quase sem reflexão. Estes m esm os atos, hoje tão fáceis 17 e familiares, foram considerados por nós, cm outros tempos, com o problem as mais ou m enos complexos, que tivemos de resolver. O m esm o au to r faz referência a Kelly para dizer que í/í/í ato completo do pensamento reflexivo compòc-se das seguintes fases: a) uma dificuldade é sentida; b) procura-se então com preender e definir esta dificuldade; c) dá-se para a inesma uma solução provisória; d) elabora-se mentalmente umã solução (elaborando-se, também, se for necessário, soluções provisórias complementares) dá qual se tem; c) a convicção de ser a solução correta; f) comprova-se experimentalmente a mesma; g) procu ra-se avaliar adequadamente os dados experimentais, que con duzem à aceitação da solução mental e a uma decisão sobre a co/utafa imediata ou ao abandono e á retificação da necessidade sentida, donde nasceu a dificuldade. O processo se repete até que se obtenha uma solução comprovada, imediatamente utilizável; h) procura-se ter uma visão de futurof ou seja, a formação de um quadro mental de situações futuras para as quais a situação atual cpertinente.7 As fases do método de pesquisa são semelhantes ãs que acabam os de indicar, compreendendo: A) form ulação do problema da pesquisa (correspondente aos itens a e b ); I?) em uiaado de hipóteses (correspondente aos itens cf d e e); C) coleta dos dados (correspondente ao item f); D) análise e interpretação dos dados (correspondente aos itens g eh ). Embora sejam estas as fases do método, não se apresentam sem pre necessariam ente em núm ero de quatro . Alguns au tores preferem desdobrar, p. cx., um a em duas ou, en tão, sintetizar duas em um a. Assim, a primeira fase pode aparecer desdobrada cm duas: eminriadfl do problema e definição dos termos do problema. Ou, então, a terceira e q uarta podem surgir sintetizadas num a só: coleta e inter pretação de dados. 7, Fiedmck l.ainson WhiLncy, Elrmcníojí rff }>. 1 a 1 'i. 18 i A prim eira fase do método é a formulação de um pro blemai. A lgum principiante, ansioso por "começar logo a pesquisa", pode supor que o m elhor c pensar imediata mente na elaboração de questionário. Não ha duvida que e m uito com um encontrar pessoas que confundem pes quisa com m era aplicação de questionário. Este procedi mento, porém, pertence à coleta de dados que, na ordem por nós colocada, encontra-se na terceira fase. Na verdade, não se pode fazer pesquisa sem ter um problema, devidamente enunciado, para resolver Diz Dewey que "não form ular o problema e andar às cegas, no escuro, A maneira pela qual a .1 11 r-inação da hipótese com informações obtidas na reali dade empírica. Se existe concordância, a hipótese foi com- provada c pode ser aceita. Caso contrário, a hipótese foi rejeitada. Para obter as informações, o pesquisador obsena , 1 realidade. Como resultado da observação, o pesquisador registra determ inadas informações, que são os dados ob tidos. E, ao processo de alcançá-los, denom ina-se "colcta de dados". h k>hn lU ut y, /nfWjgffidã c investigação..., p. 245. 19 Mas o simples fato de obter dados não resolve o problem a da pesquisa. Para isto, torna-se necessário ciar aos m esm os um a form a de organização, que possibilite serem exam inados c avaliados, transform ando-se, assim, cm m aterial útil à verificação das hipóteses. Ao conjunto destes procedim entos denom ina-se "análise de dados", Teremos, em seguida, a "interpretação de dados", que consiste em dizer a verdadeira significação que os dados obtidos possuem para os propósitos da pesquisa, genera lizando-se, depois, os resultados, no âm bito que a pesqui sa perm ite e a lógica consente. C ostum a-se te rm inar o relatório da pesquisa com um a "c o n c lu s ã o Embora o assunto fuja ao a mb í to deste tra balho, que visa apenas dar as noções básicas para a elaboração de um projeto, convém, no entanto, de passa gem, lem brar algum as indicações. Castro diz que "na conclusão deve-se re tom ar a visão am pla apresentada na in trodução e ten ta r avaliar o impacto da pesquisa sobre aquela perspectiva... buscando destilar as contribuições m ais im portan tes da pesquisa, bem com o avaliar-lhes os pontos fracos c controvertidos... Em term os formais, a conclusão apresen ta um sum ário com entado dos princi pais resultados, realçando sua contribuição à disciplina.., Um a pesquisa sobre novas perspectivas sugere áreas em que nosso conhecim ento é precário e abala convicções antigas; tais implicações devem ser exploradas no capítulo das conclusões"^ Em cada um a das fases do método, o pesquisador deve u sa r certos recursos, que são apresentados na form a de procedim entos técnicos, com o o de selecionar a am ostra, constru ir e aplicar instrum entos de pesquisa, etc. e que serão vistos por nós em lugar oportuno, mais adiante. Para análise c in terpretação dos dados recorre-se a técnicos 9. Cláudio de Moura Caslro, Esírnfitrafãn e apresentação, p. 1 l c 12. 20 tic estatística. Além disto, du ran te todo o processo da pesquisa devem ser usadas, pelo m enos implicitamente, técnicas de raciocínio lógico. Antes de concluir este capítulo convém lem brar que o método, acim a descrito, não é apenas um conjunto de procedimentos form ais ou um complexo dc norm as cuja finalidade é ser usado unicam ente na pesquisa. Já foi dito que ele constitui a orientação básica do pensam ento refle xivo. Além disto (ou por causa disto) é considerado tam bém eficaz para o aum ento de saber, no indivíduo que o utiliza, e meio adequado para am pliar o conhecimento, na área da ciência. Popper diz que "o problema central da epistemologia sempre foi e continua a ser o problema do aum ento do saber". E o método eficiente para alcançá-lo consiste "cm enunciar ciaramente um problema e examinar criticamente as várias soluções propostas. Importa realçar: sempre que propomos um a solução para um problema devemos tentar, l,u> in tensam ente quan to possível, pôr abaixo a m esm a aflição, ao invés de defendê-la. Infelizmente poucos de nós observamos este preceito, felizmente ou tros farão as 1 1 ilicas que nós deixarm os de fazer. A crítica, porém, só ri a frutífera se enunciarm os o problem a tão precisamen- U quan to nos seja possível, colocando a solução por nos proposta em form a suficientemente definida - form a suscetível de ser criticam ente exam inada \ 10 \Lm conclusão, podemos utilizar o método como condição necessária para realizarmos um a pesquisa. Ou, fora desta, ; iodemos tam bém usá-lo quando quisermos adquir ir algum conhecimento pessoal- Num e noutro caso, a sua eficácia depende de nosso estado dc espírito: um a atitude de desa pego. para que a crítica, própria e de ou tros, possa lapidar o nosso pensam ento até encontrar a verdade. 10. Kiirl Popper, A lógica da pesquisa, p. 536. 21 CAPITULO II Comunicação e conhecimento científico 1. Noções preliminares Nos livros de m etodologia tia pesquisa, o título deste capítulo pode servir p ara tra ta r de assuntos como, por exemplo, da fo rm a que deve ter u m relatório de pesquisa. Mas a perspectiva que vam os ter para abordá-lo é ou tra : focalizaremos o aspecto do uso c da definição dos termos que, na verdade, c tão útil e im portan te para a elaboração de projetos, com o é para a execução da própria pesquisa, e tão imprescindível para o indivíduo produzir os seus próprios pensam entos, com o para com unicar os resu lta dos a que tiver chegado. Começaremos lem brando que toda experiência, exter na ou interna, deixa em nós um sinal do que aconteceu, denom inado idéia ou conceito. Estes dois term os, sinóni mos, indicam a fo rm a mais simples do pensam ento e pela qual conhecemos as coisas e estas ficam representadas em nossa mente. Para m elhor compreensão, vejamos um exemplo. Q uando conheço u m a pessoa, posso "guardar" a imagem dc sua fisionomia, to rnando-se esta im agem a pessoa representada dentro de mim. Pois bem, quando eu falo em '"conceito", que tenho da pessoa, não é a esta im agem que estou me referindo. De fato, a im agem pode oferecer-me a "representação" da pessoa sob diversos a s pectos. Assim, por exemplo, fechando os olhos, posso recordar sua fisionomia (imagem visual), sua voz (irna- 22 gem auditiva), etc. O conceito é m enos sensível do que a imagem, digam os que é imaterial. Aparece como resultado de uni trabalho da nossa mente, p rocurando apreender o que a pessoa t f enquan to que a im agem indica apenas como liil pessoa se manifesta. O conceito é um a atividade m ental que produz um conhecimento, to rnando inteligível não apenas esta pessoa 0 1 1 esta coisa, m as todas as pessoas e coisas da m esm a espécie. Além de ser a representação da coisa em alguém , o conceito é o meio que o indivíduo tem l>ara reconhecer esta coisa (ou o u tra qualquer da m esm a espécie), compreendendo-a, to rn an d o -a inteligível para si. O conceito é diferente do ju ízo . Q uando, por exemplo, .ilguém diz o que entende por aluno e por bom, está mitindo conceitos. Mas quando afirm a: "o aluno é bom", i stá form ulando um ju ízo (mais apropriadam ente está apresentando um a proposição, que é a manifestação visível do juízo, form ulado em sua mente). O juízo, portanto , é um a relação entre conceitos. Os conceitos, que alguém atualm ente possui, não i| ireeeram de repente, de um a só vez, m as foram form a- dtis progressivamente e o processo de sua form ação con- 1 .....a Assim, por exemplo, n idéia que tínham os dc alunos quando éram os crianças foi gradualm ente se modificando i liqje já é bem diferente. No começo era m uito simples e i lrm en ta r Mas a nossa própria experiência como alunos ■ . 1 que tivemos com os ou tros nos deram novos elemen tos, fizeram -nos perder ou tros e transfo rm ar alguns, purificando, am pliando e enriquecendo o conceito ante- : i o i \ Para isto, além das experiências, foi necessário tam - íinn que utilizássemos a nossa capacidade de reflexão, ei rnparando e relacionando os novos elementos, que iam M iuío adquiridos, com os antigos, que já possuíamos. Um dos pontos mais fundam entais para o desenvolvimento nilelectual do ser hum ano consiste 1 1 0 a largam ento , aper- U içoamento e aprofundam ento dos conceitos, dando ao 23 indivíduo um a visão, cada vez mais precisa e adequada, dc si e do m undo em que vive, Sob este aspecto, compreen de-se, então, que, para alguém definir o conceito de algum a coisa, não c apenas repet ir palavras talvez já decoradas,mas é manifestar o que sabe sobre esta coisa e que foi aprendido, sobretudo através das experiências. Sob este aspecto, a finalidade do nosso curso é ajudar o aluno a ter um conceito cada vez mais adequado de um projeto de pesquisa. 2. O uso dos termos O hom em , porque é capaz de conceituar, pode utilizar a linguagem falada ou escrita para se com unicar com os ou tro s hom ens. Pela linguagem , o hom em pode transm itir os seus conceitos através de sons e traçou (palavras) con- I vencionais e pode, por meios idênticos, saber o que os ou tros pensam ou sentem a respeito das pessoas, coisas, I acontecim entos, etc. Se pergun tarm os qual o conceito que alguém possui I de ãiunof poderemos receber, por exemplo, as seguintes I respostas: a) "é aquele que aprende"; b) "é o indivíduo do I sexo m asculino ou feminino, m atriculado em estabeleci- | m ento de ensino, com n objetivo de realizar u m a apren- I dizagem". Temos, então, duas form as (e poderiam ter sido I apresentadas m uitas outras) de se enunciar o conceito de ] a/imo* Assim, o m esm o conceito pode ser apresentado de I m aneiras diferentes. Os elementos que alguém distingue num conceito e utiliza para explicá-lo denom inam -se ''notas" ou "carac terísticas" do conceito. Assim, no exemplo acima, o con- I ceito de a luno possui as seguintes características no item b: indivíduo - sexo masculino e feminino - matriculado - estabelecimento de ensino - aprendizagem como objetivo a realizar. É pela apresentação de suas características que chegamos a com preender u m conceito. Desta forma, de- I nom ina-se "compreensão de u m conceito" à apresentação das características que o constituem . Geralmente, quanto mais características forem apresentadas, m elhor será a com preensão que se terá do conceito* Cham a-se de "ex- leiisão de um conceito" a aplicação que se pode fazer dele aos indivíduos, coisas, acontecim entos, etc. Q uanto m aior i compreensão m enor a extensão c vice-versa. Q uando se diz, por exemplo, que professor é todo aquele que ensina deu-se ao conceito um a extensão m uito am pla c, em conseqüência, u m a compreensão m u ito pequena (apenas mna característica: que ensina). Q uando se diz qucprofes- ’>01 é portador de um diploma de curso superior, devidamente a /trovado por um departamento universitário, com a finali- dade de ministrar aulas de uma determinada disciplina e orientar os alunos em atividades discentes deu-se ao concei to um a compreensão grande m as dim inuiu-se m uito a í \lensão {comparando-se, no prim eiro caso - professor é o que ensina -, o conceito se aplicava a m uita gente e, agora, restringiu-se muito esta aplicação). Na ciência não basta apenas o indivíduo saber, mas enmidcra-se de grande im portância que o seu conheci- 1 1 1 « nlo seja constituído por conceitos adequados, claros e í/iWm/üs. Um conceito c adequado quando nele se encon- b ui 1 Iodas as características próprias, que o compõem. i aso contrário é inadequado. Assim, por exemplo, concei- I iiar horrialuno como o que "tira boas notas" é inadequado, pois faltam outros elementos com o "dedicação aos estu dos', "participação em atividades discentes", "responsabi lidade em sua própria form ação profissional", etc. Um 1 0 1 1 ceito c claro quando, por ele, entre diversas outras i oisas, pode-se reconhecer a coisa a que ele se refere. Caso • ontrário , é obscuro, No exemplo dado acima, de que bom aluno i orneie que "'tira boas notas", esta característica li va a confundir, pelo m enos em certos casos, bom aluno tom aluno que cola, aluno de sorte, etc* Um conceito é dist into quando, levando-se em consideração as suas pró- 24 prias características, é capaz de distinguir um as das o u tras. Caso contrário , c confuso. Assim (aproveitando a própria definição dc conceito para darm os o exemplo), se disserm os que conceito e a representação mental dos elemen tos que compõem a coisa estam os dando, sobre o mesmo, um a idéia confusa. Para to rná-la d is tin ta , precisamos explicar melhor; que o conceito representa somente aqueles elementos que são absolutamente essenciais à coisa e, por tanto, comuns a todas as coisas da mesma espécie, deixando fora os elementos que são apenas particular izadores e indi vidual izadores de uma coisa. A condição para nos com unicarm os bem com os o u tros é apresen tarm os convenientem ente os conceitos e u tiliza rm o-nos apropriadam ente das palavras ou termas. Estes, com o sabemos, são constituídos por um conjunto de sinais visíveis que podem to m ar a fo rm a dc sons (palavras ou term os orais) ou de traços (palavras ou term os escritos), A palavra é em pregada com a finalidade de transm itirm os aos ou tros o que se passa dentro dc nós: nossos pensãtnentos e senfimen/as. Para que o processo dc com unicação seja eficaz c necessário que as palavras sir vam realm ente para a judar o ou tro a representar na m ente o que estamos representando na nossa e que dese jam o s transm itir. Assim, por exemplo, penso num deter m inado in strum en to que m arca o tempo. Utilizando um a serie de traços, escrevo a palavra "relógio". Neste caso, o m eu desejo é que a pessoa, lendo o que escrevi, represente tam bém na sua m ente o m esm o ins trum en to que pensei. A ciência não está interessada nas palavras em si. E nem as utiliza apenas para embelezar as frases ou para lhes dar toques emocionais. A ciência rejeita, com o espú ria, qualquer fo rm a de psitacismo, isto t, da utilização de palavras sem idéias correspondentes. Mas, pelo contrário, com o as palavras devem servir sem pre dc meios para revelar um pensamento e /o u para mostrar algo na realidade, a atenção da ciência se localiza, dc modo especial, no signi ficado e no referente que a palavra pretende indicar. Sabe-se liqje que a relação estabelecida entre a palavra c a coisa que ela designa é m eram ente convencional. Os novos primitivos imaginavam que a palavra fazin parte da própria natureza da coisa, como se fosse, digamos, um "pedaço" dela. Na magia, supunha-se que alguém pudesse ser prejudicado pelo simples fato de se utilizar a palavra, que indicava seu nome, para se fazer nela, ou com ela, a "maldade" que se desejava para o indivíduo. Mas isto pertence a um a época pré-cien- tíiica. A ciência não tem o culto da palavra e utiliza-a somente como instrum ento eficaz para a elaboração do in nsamento e para a comunicação. Assim, dentro de ccrtos limites, o cientista pode inventar u m a palavra ou modifï- a conexão entre o referentee a p a l a v r a 1 ‘ Para a judar a estabelecer o referente de determ inadas palavras talvez ajude a distinção que se coloca entre significado extensional e íntmswnal. O m undo extensional é aquele que podem os conhecer através cie nossa própria experiência, O significado extensional é aquilo que ele ap o n ta no m undo extensionaL Assim, por exemplo, qu an do alguém diz "cadeira", o significado desta palavra é algo existente na realidade e que pode ser conhecido pela expe riência. Diz H ayakaw a que "um m odo fácil de nos lem b rarm os disto, consiste em taparm os a boca e ap o n ta r o objeto com o dedo, sempre que alguém nos pedir um significado extensional".12 Um term o qualquer que possa "ap o n ta r" u m objeto no m undo extensional é cham ado "denotativo". Por exemplo, cadeira é um term o denotati vo. O significado intensional é aquele que, pronunciada a palavra, é sugerido na form a de diversas idéias que s u r gem na m en te de cada um , O term o que sugere estas idéias se cham a "conotativo". Assim, por exemplo, nesta frase; durante o sono apareceu-lhe um anjo, a palavra sono e denotativa porque podem os ap o n ta r u m a pessoa d o rm in do. Mas anjo não possui significado extensional: não pode ser visto, não pode ser tocado, sua presença não pode ser detectada por nenhu m instrum ento científico. Para expli car o que significa, cada um tem que fazer apelo a sua própria idéia, que tem de anjo. Pode ser até que nem existam anjos e, neste caso, um a palavra está sendo usada sem referente algum . 11. iVÍ. l\teatlierall, AfríCíJo dentífico, p. 26 12. S-I- E fayakawar A linguagem no pensamento, p. 47, 48, Estudamos, mais acima, a compreensão e a extensão do conceito. Agora, podemos dizer que os term os denotãtivos tem referência com a extensão e os conotativos dizem respeito a compreensão. Mas o m esm o term o pode ser apresentado com significado extensional, quando o possui (p. ex*: a cadeira, explicada tal como existe na realidade), c com o intensional (p. ex.: a cadeira explicada de acordo com um ponto de vista pessoal, isto é, o m odo próprio pelo qual alguém 'Vê" u m a cadeira, podendo não coincidir com I» que existe na realidade). No prim eiro caso, o term o foi tom ado no seu sentido peculiar, denotativo e, no segundo, assume u m sentido conotativo. A pesquisa científica tem como referentes os fenômenos que podemos apontar, ver, tocar ou cuja presença pode ser pode parecer fácil selecionar os que devem ser definidos. Entretanto, há m u ita s dificuldades para se fazer a discriminação. Assim, por exemplo, p ara o pesquisador que j á conhece bem sua área de estudo e vive cm contato perm anente com o assun to de seu trabalho, todos os term os, ou pelo menos a m aioria deles, podem ser considerados como não ofere cendo dificuldade p ara a compreensão. Diz Bachrach: "Se você perguntasse a um psicoterapeuta o que entende por esta palavra, ele poderia dizer: bem, todos sabem o que m elhor significa..." E o au to r acrescenta: "'Dizer que todos sabem é repetir a pergu n ta e evitar o assun to principal da clareza c precisão da definição. Conform e Quine sugeriu, a suposição m ú tu a de com preensão é um a abordagem im a tu ra do m étodo científico".16 Não existem regras padronizadas para alguém saber, com certeza, quais os term os que devem ser selecionados para definição* Isto depende do discernim ento do pesqui sado r Mas a lguns pontos poderfi ser indicados como sugestão, por exemplo, ten ta r ler o que escrevemos com 15, Paulo Carosi, Curso iie Filosofia, vol. I, p. 272. 16. Arthur J- Bathrach, /nírot/ufao à fíesquisa. p. 55. 32 os olhos dos outros", isto c, como os ou tros poderiam ler ' unnpreender- É bom tam bém lem brarm o-nos dos estór ia ■ que fizemos para chegar a entender certos termos, que hi>je nos parecem simples e claros, m as que, antigam ente, nos pareciam obscuros c confusos. Precisamos, ainda, levar cm consideração a divergência relativa a certas I i.ilavras c expressões, cujos significados são discutíveis de at oi do com as teorias, áreas de conhecimento, etc. Sera de gr ande valor, além da nossa reflexão pessoal e autocrítica, m insultarm os determ inadas pessoas, especializadas ou • iilendidas no assun to e ou tras que, por algum motivo mais sério, ju lgam os poderem ser úteis e nos ajudarem . Bachrach referindo-se à definição, considerada cm si mrsm a, diz que "estam os de tal m odo acostum ados às dcliniçoes de dicionário, que temos a tendência de consi derá-las claras, inequívocas e reais. Neste pon to eu gosta- i í.i de observar que u m dos m aiores erros do método |iir os fregueses pretos são tratados pelos garçons e demais pessoal dc serviço do restaurante de modo diferente do que to ,ücndidos os outros fregueses, não sendo observada, para a diferença do atendimento, outra razão d não ser a diferença tle cor existente entre os fregueses. \gora, u m ou tro exemplo m uito simples que tivemos iiii nossa experiência de professor. Um grupo de alunos sejava realizar um a pesquisa, para saber até que ponto o ilnidimento, dado pelos funcionários de um supermercado n I iamemo-lo de supermercado X), estava agradando às m u lheres que costumavam ir até lá fa/.er compras (na pesquisa, tnuíheres aparecia como consumidores do sexo feminino). Sabendo que um dos procedimentos m ais im portantes num a pesquisa é a definição dos termos, os alunos procu- i iram explicar o que entendiam por consumidores do sexo feminino> Mas fizeram -no da seguinte maneira: a) "con sumidor " - "aquele que com pra para gastar no seu próprio M - o b ) "sexo" - "conform ação particular que distingue ii macho da fêmea"; c) "feminino"*- "o que é próprio da mulher". Evidentemente, esta definição, tirada do dicio- iiiirio, nào servia para que um observador pudesse íden- lilicar, no superm ercado X, os consumidores do sexo feminino. Os alunos talvez tivessem esquecido que definir, p.ira um a pesquisa, nào é apenas u m cum prim ento me- i.inico de um dever escolar, m as um procedimento cujo resultado deve ser funcional. E - digam os num a com pa ração m uito elem entar - como alguém que prepara um binóculo, com o objetivo de poder utilizá-lo para enxergar ■ I realidade. Assim, os alunos deviam ter definido a expres- io inteira (ronsií/mV/ores do sexo feminino) e não cada um a de suas partes. Podiam, então, ter dito, por exemplo, que li expressão significava: mulheres de qualquer idade oií de um a Teoria Científica. Neste caso, recebe a definição que aí se encon tra. Portanto, quando fazem os alusão a um a leoria não podemos "inventar" definições para os term os que, nela, já se encontram definidos. A o u tra situação é aquela em que devemos, por iniciativa nossa, elaborar um a defini ção, Neste caso, em bora sendo coerente com as bases teóricas adotadas para a pesquisa, a definição depende dos nossos conhecimentos e da nossa inventividade, E, como vai servir para indicar que observações devem ser feitas, a definição pode variar, de acordo com o contexto a ser observado (m antendo-se, no entanto , para o m esm o con texto, as m esm as definições). Voltando ao exemplo dado acima, por conveniência de observação, foi definido que consumidores do sexo fem inino são: mulheres de qualquer idade c condição que vão fa ze r compras no supermercado X. I Im aginem os, agora, o u tra situação observacional, a de um fabricante de fum o, que deseja lançar no mercado um produ to caro para consumidores do sexo feminino. Neste caso, a expressão poderia ser definida, por exemplo: mu- *1 ■ ■ ■ qm fumam pelo menos 10 (clez) cigarros por dia e que l*\ i h mi - mi ,t t lasse média-alta e classe a lta r * mo\ i rn lazer um a observação a respeito da insístên- i M h de sua ligação lógica com o de referência empírica. itn poi exemplo, na orientação não-diretiva, a expres- ..... fi Mi/àiria ao desenvolvimento indica que, na ausência dl ld oi es perturbadores graves, o desenvolvimento psi- Hiln^no sc dirige espontaneam ente para a m aturidade, d h i i .lo não pode ser observado diretam ente do ponto de i i i psicológico. Entretanto, a afirm ação se baseia num patalclo estabelecido entre o desenvolvimento psicológico e i oh ,i i vaçao direta que se faz do desenvolvimento fisioló- ijiii' dos organismos. \ fim de assegurar a precisão e referência empírica das di linições, evitando que esta se reduza a um simples jogo di palavras, sustenta-se, às vezes, que o m elhor modo de li hiMr e descrever as operações que são observadas, me didas ou registradas de u m determ inado fenômeno, Diz \ \ \ atheraíl: "Diante de qualquer palavra equívoca é con- vMiiente considerar o que alguém faz para representar ■ •liiilo a que ela se refere. O que este alguém faz pode ser driiominado operação e esta fo rm a de agir é freqüente mente denom inada definição operacional" . 1 0 Assim, para • li Unir operacionalm ente a inteligência podemos dizer que ria r o resultado medido pela execução de tarefas comumente mi M. Mfeathtral], op. c i t p. 28. 37 chamadas de 'intelectual' como o cálculo aritmético, comple tar relações verbais, etc. Não há dúvida nenhum a que a definição operacional, quando pode ser usada, ajuda a com preender u m conceito, orien tando-nos para determ inada experiência no m undo extensionaK Entretanto, é bom não exagerar o seu valor. De fato, m uitos conceitos científicos podem não servir para ser observados, medidos ou registrados através dc "operações". Além disto, a "operação7' apresenta um valor relativo, no sentido de que o m odo dc operar dc u m indivíduo não c exatam ente igual ao dc outro . Finalmente, ao invés dc a "operação" determ inar o conceito, podem os supor que é o contrário: alguém precisa ter prim eiram ente o conceito para depois definir os modos de operação que lhe são aptos. Para concluir o que foi dito neste capítulo, convém lem brar que o pesquisador não está interessado direta m ente nas palavras m as nos conceitos que cias indicam e nos aspectos da realidade empírica que elas m ostram . Para alcançar o significado e o referente o pesquisador necessita das definições. A adequação no uso dos term os e a utiliza ção de definições corretas são meios dc que dispõem o pesquisador p ara fazer raciocínios apropriados e desven dar para si m esm o e para os ou tros o conhecim ento que tem do m undo em que vive. 38 CAPÍTULO II! A observação I* Noções preliminares O cam po específico da ciência c a realidade empírica. I la tem em m ira os fenômenos que se podem ver, sentir, l:ocarf etc. Daí a im portância que tem a ofeservafão. Deve mos considerá-la como ponto de partida p a ra todo estudo científico e meio para verificar c validar os conhecimentos adquiridos. Nâo se pode, portanto , falar em ciência sem lazer referência a observação. Mas o te rm o 'observação' deve ser tom ado aqui num sentido bem am plo. Como diz Minon: "Não se tra ta apenas de ver, mas de examinar. Não se tra ta som ente de entender mas de auscultar. Trata-se tam bém de ler docum entos (livros, jo rnais , impressos diversos) na medida em que estes não som ente nos in form am dos resultados das ob servações e pesquisas feitas por ou tros mas traduzem lambem a reação dos seus autores".“ E, por ser tão amplo, [iodemos dizer que, de m odo geral, a observação abrange, de um a fo rm a ou de ou tra , todos os procedimentos utili zados na pesquisa. Na vida quotidiana, a observação é um dos meios mais f reqüentem ente utilizado pelo ser h u m an o para conhecer e compreender pessoas, coisas, acontecimentos e situações. -í I, Paul Minon, Vniírafujn attx méthodcs, p. 20. Nas pessoas, podemos observar diretamente suas palavras, gestos e ações. Indiretamente, podemos também observar os seus pensamentos e sentimentos, desde que se m anifes tem na fo rm a de palavras, gestos e ações. Da m esm a fo rm a indireta, podemos, ainda, observar as atitudes de alguém , isto é, o seu ponto dc vista c predisposição para com determ inadas coisas, pessoas, acontecimentos, etc. Entretanto, não podemos observar tudo ao m esm o tempo. Nem m esm o podemos observar m uitas coisas ao m esm o tempo. Por isso um a das condições fundam entais de se observar bem é lim itar e definir com precisão o que se deseja o bse rv a r Isto assum e tal im portância na ciência, que se to rna u m a das condições imprescindíveis p a ra g a ran tir a validade da observação, No sentido m ais simples, observar é aplicar os sentidos a fim de obter uma determinada informação sobre algum aspecto d a realidade. Existe u m a observação vulgart da qual acim a já falamos, e ejue é fonte constante de conhecimento para o hom em a respeito dc si m esm o e do m undo que o circunda. Assim, pela observação cie conhece e aprende o que é útil e necessário para sua vida, desde coisas m uito simples como, por exemplo, qual o ônibus que o leva ao trabalho, qual o ponto em que deve tom ar o ônibus e deve saltar, qual o estado de h um or do "chcfe", pela fisionomia que apresenta, etc. Estes conhecimentos nos ajudam a dis cernir as reações que devemos ter diante dc cada situação. Através da observação vulgar chegamos, ainda, a um certo conhecimento e compreensão do m undo, da natureza que, em bora imprecisa e dc ccrta form a inadequada, nos ajudam, no entanto, a explicá-la e a fazermos previsões* O pescador, pela "prática", c capaz de conhecer as nuvens c ventos que ocasionam chuva e pode prever sc esta vai acontecer ou não. É ainda capaz dc explicar as circunstâncias m aríti mas, que favorecem ou prejudicam a pesca e, deste modo, dizer se o dia será piscoso o u não. Entretanto, a observação 40 migar, além de oferecer compreensão e previsões m uito limitadas e superficiais, está sujeita a freqüentes enganos ide curá-las através de ervas c benzimentos. A observação cientifica surge, não para destru ir e negar d valor da observação vulgar, m as para valer-se das possibilidades que ela oferece, com pletando-a, enrique- cendo-a e aperfeiçoando-a, a fim de lhe dar m aior valida de, fidedignidade e eficácia. £, para estudá-la, vam os dividi-la, agora, em dois aspectos: a observação assis te mática e a sistemática. 2. A observação assistemática A observação assistemática - cham ada tam bém de "ocasional", "simples", "nao estru tu rada" - é a que se realiza, sem planejam ento e sem controle an terio rm ente elaborados, como decorrência de fenômenos que surgem de imprevisto, im aginem os que u m psicólogo esteja pas sando por um a ru a e veja um prédio ser atingido por u m incêndio de grandes proporções. Ele pode tran sfo rm ar o evento, a que por acaso assiste, cm oportunidade para estudar, por exemplo, o com portam ento dos indivíduos diante dc um a tragédia. Para con tinuar o seu estudo pode, depois, com pletar a observação com fotos, filmes, g rava ções, noticiários de jornais, etc. Para as ciências do com portam ento hum ano , a obser vação ocasional é m uitas vezes a única oportunidade para estudar determ inados fenômenos. Muitos destes não po dem ser reproduzidos para serem verificados n u m a situa- ção de controle, porque isto seria impossível ou imoral ou ilegal, ou teria, ao m esm o tempo, todos estes im pedim en tos. Assim, por exemplo, além de ser ilegal é tam bém 41 imoral atear-sc fogo n u m prédio para estudar a reaçao dos indivíduos d iante de u m a tragédia. Mesmo em casos extremos, como, por exemplo, dc um condenado à m orte (num país onde a pena existe), considera-se ilegal e imoral causar-lhe danos físicos ou psicológicos, 1 1 0 in tuito de se fazer de term inada pesquisa. Por isso, o meio que sc tem para estudar certos fenôm enos é de se aproveitar o acon tecim ento fortu ito . Neste caso, a condição para se obser var c não perder a oportunidade dc 'Ver" o que está acontecendo. Isto exige do pesquisador um a atitude de prontidão , isto é, de estar sem pre preparado e atento ao que vai acontecer, na área da pesquisa cm que está inte ressado. Esta prontidão , este es tar-a ten to -ao-que-vai- acontecer deu ocasião a grandes descobertas e inventos da hum anidade, fato que já se to rn o u até lendário, a firm an do-se m esm o que "'as grandes invenções foram feitas por acaso". Nao há dúvida que o acontecim ento pode ter surgido dc m odo inesperado* Entretanto, só produziu o efeito da "invenção" o u da “descoberta" porque foi "visto" por alguém que estava preparado para observá-lo, em bora sem saber o m om en to em que haveria de su rg ir Sob este aspecto, podem os a firm ar que a invenção c m uito mais decorrência da atenção do observador do que da esponta neidade do acontecim ento. Entretanto, o fato dc se dizer que, na observação assistem ática, o acontecim ento se dá de modo imprevisto não significa que seja necessariamente dc repente, sem n en h u m a previsão do pesquisador. Mas pode indicar tam bém que o acontecim ento era esperado, desconhecendo- se, no en tan to , em g rau m aior ou menor, o m om ento em que havia de surgir. Caracteriza a observação assistem á- tica o fato de o conhecim ento ser obtido através dc um a experiência casual, sem que se tenha determ inado de an tem ão quais os aspectos relevantes a serem observados e que meios u tilizar para observá-los: isto vai depender da iniciativa do observador, enquanto está a tento ao que 42 acontece. Neste caso, há duas situações possíveis: a) o « >l >scrvador é não-participantc: aparece com o um elemento *|i ic* 'Vê de fora“, u m estranho, um a pessoa que não está envolvida na situação, como, por exemplo, um professor mleressado em conhecer o com portam ento dos alunos na hora do recreio e que os observa de um a janela; b) o observador é participante, faz parte da situação e nela desempenha um a função, um papel, como, por exemplo, alguém que observa a reação dos alunos n u m a sala de aula, da qual ele mesmo é o professor O observador pode começar como não-participante e depois tornar-se participante e \ ice-versa. Costum a-se advertir que q uan to mais alguém c participante mais pode estar envolvido emocionalmente, perdendo a objetividade e prejudicando com isso a obser vação. Entretanto, pelo menos em determ inadas circuns tancias, to rna-se m uito difícil (ou m uito superficial) a observação de situações das quais não se participa. Kaplan, citando Hanson, diz que "o observador-pâdrào não é o hom em que vé e relata o que todos os observadores normais vêem e relatam , m as o hom em que vê em objetos familiares o que n inguém viu antes".22 Para quem deseja se dedicar à pesquisa esta idéia é m u ito im portante. Só para dar um exemplo, o problema dã pesquisa, início de todo processo, nasce freqüentem ente da intuição de a lg u ma dificuldade existente na realidade ou n um a Teoria. Esta dificuldade, em geral percebida casualm ente, é fru to da itenção, perspicácia e discernim ento de quem é capaz de selecioná-la, entre m uitas ou tras que poderiam ser vistas