Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assunto: Comparando o Regime Próprio de Previdência Social com o INSS. ANÁLISE A Previdência Social no Brasil é um direito previsto pela Constituição Federal e se organiza por três regimes previdenciários independentes, sendo: Regime Geral de Previdência Social – RGPS, Regime Próprio de Previdência Social – RPPS e Regime de Previdência Complementar – RPC. O RGPS é administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS e abrange os trabalhadores da iniciativa privada, os servidores públicos celetistas, comissionados, temporários e os agentes políticos. Nos municípios onde não há regime próprio de previdência os servidores efetivos também são segurados do INSS. O RPPS é um regime previsto pela CF/88 especialmente para os servidores efetivos estatutários. Sua criação se dá por lei do ente federativo que deverá prever uma entidade jurídica para administrá-lo, podendo ser um órgão, autarquia, fundação etc. O RPC é facultativo, organizado de forma autônoma e paralela aos outros regimes, tem caráter privado e seu objetivo é proporcionar benefícios complementares para incremento de renda. Aprofundando a análise sobre o RPPS verifica-se que as regras trazidas no art. 40 da CF são direito do servidor efetivo, visto que a Carta Magna diz que “é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário [...] e o disposto neste artigo.” Em complemento ao raciocínio supra, observa-se o art. 149 da CF, que em seu §1° diz que os entes federativos “[...] instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40 [...].” A questão que emerge instantaneamente é: havendo direito do servidor efetivo as regras do RPPS, sua instituição pelos entes federativos é facultativa ou obrigatória? Sob nossa ótica os dois comandos constitucionais são imperativos, expressam ordem, não havendo lugar para se interpretar que a instituição de RPPS seja facultativa. Essa interpretação coaduna com o posicionamento da maioria dos doutrinadores do direito previdenciário pátrio e, principalmente, com as mais recentes decisões emanadas pelo Poder Judiciário, que certifica o caráter impositivo dos textos constitucionais supracitados. Na mesma linha têm entendido os Tribunais de Contas de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses tribunais têm notificado os municípios que ainda estão vinculados ao INSS a complementarem os valores das aposentadorias dos servidores efetivos ao valor a que teriam direito se aplicadas as regras do art. 40 da CF. Assim, a obrigatoriedade da implantação de RPPS é tese que tem se firmado e difundido cada vez mais. Outra questão que emerge então é se o RPPS é mais vantajoso que o INSS. Nesse sentido é possível elencar várias vantagens para os servidores e para os municípios. Inicialmente cabe observar que a União, todos os Estados Membros, o Distrito Federal e mais de 2.000 municípios brasileiros, incluídas todas as Capitais, já instituíram seus RPPS. VANTAGENS PARA O SERVIDOR INSS RPPS Não aplica as regras especiais previstas para o servidor titular de cargo efetivo no art. 40 da CF e sim as regras gerais do art. 201 da CF e Lei Federal 8.213/91. Aplica as regras previstas no art. 40 da CF e nas emendas constitucionais n° 20/98, 41/03, 47/05 e 70/12. Exige carência de 15 anos para as aposentadorias por tempo de contribuição, por idade e especial. Não exige carência. Mas exige 10 anos de serviço público, sendo que destes os 5 últimos devem ser no cargo em que se dará a aposentadoria. Exige carência de 1 ano para a aposentadoria por invalidez. Não exige carência. Não exige tempo mínimo de serviço público e cargo. O reajuste dos benefícios segue a regra da preservação do valor real. A regra geral é a preservação do valor real, mas há algumas regras de transição que preveem a paridade absoluta com as remunerações pagas aos servidores em atividade. Há teto de contribuição e de benefício, sendo que em 2013 está estipulado em R$ 4.159,00. Não há teto de contribuição, nem de benefício previsto em valor determinado. O único teto previsto é a última remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria. O cálculo dos proventos leva em consideração o “fator previdenciário”, sendo que há uma perca de 30% (em média) em relação ao valor que o servidor ganha em atividade. Não se aplica o fator previdenciário. A regra geral prevê o cálculo de uma média aritmética de 80% das maiores remunerações do servidor considerando o período desde julho de 1994 até a data da aposentadoria. Algumas regras de transição dão direito a última remuneração do servidor no cargo efetivo. Exige carência de 1 ano para o auxílio- doença. Não exige carência. Exige carência de 10 meses para o salário-maternidade. Não exige carência. Nem todos os municípios tem agência do INSS, sendo que os servidores precisam se deslocar a outro município para requerer e acompanhar os pedidos de benefícios. O RPPS sempre tem sede no próprio município, gerido e fiscalizado pelos próprios servidores. O INSS atende a todos os trabalhadores, sendo que atualmente é controlado por senha. Mas as filas virtuais que surgiram duram até dois ou três meses de espera. No RPPS o atendimento é exclusivo para os servidores estatutários, havendo agilidade no atendimento e menor burocracia. VANTAGENS PARA O MUNICÍPIO (PREFEITURA) - economia com alíquotas: as alíquotas de contribuição patronais no INSS são fixas de 22% sobre a folha de pagamentos. No RPPS as alíquotas podem variar entre 11% no mínimo e 22% no máximo, de acordo com avaliação atuarial realizada anualmente. Isso significa uma economia possível de até 50% com os encargos previdenciários. - economia com base de cálculo: no INSS a base de cálculo patronal incide sobre todas as verbas da folha de pagamento. No RPPS a base de cálculo patronal incide somente sobre as verbas permanentes e incorporáveis. Essa diferença na base de cálculo pode representar uma economia expressiva e passar de 20%. Assim, os dois itens anteriores juntos podem chegar a uma economia de até 80% com encargos previdenciários patronais. - recursos financeiros: no INSS os recursos das contribuições previdenciárias vão para o Governo Federal. No RPPS as contribuições são controladas pela própria unidade gestora do RPPS e investidas no mercado financeiro através das agências bancárias do próprio município. Muitas prefeituras conseguem atrair novos bancos para abrir agências em seus municípios por conta dos recursos que seus RPPS tem para investir e movimentar. Isso favorece a geração de empregos e a economia local. - controle administrativo: no INSS os benefícios são concedidos a revelia da administração municipal, que normalmente é a última a saber que seu funcionário foi aposentado. No RPPS a administração tem controle total da concessão dos benefícios e pode se programar para substituir o servidor que adquire direito a aposentadoria. - limite de gasto com pessoal (LRF): os encargos previdenciários integram o cálculo do limite de gasto com pessoal previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Implantando o RPPS o município tem uma queda considerável com seus encargos e melhora seu índice com o gasto de pessoal. - compensação financeira: implantando o RPPS o município passa a ser credor do INSS, podendo realizar a compensação financeira previdenciária, buscando recursos no INSS e capitalizandocada vez mais seu RPPS. - regime jurídico celetista: os municípios que ainda tem o regime celetista como regime jurídico único para os servidores titulares de cargo efetivo são obrigados a arcar com uma despesa adicional de 8% referente ao FGTS e são filiados obrigatoriamente ao INSS. Antes de implantar seu RPPS, esses municípios devem alterar o regime jurídico desses servidores, passando-os para o regime estatutário. Isso representará uma economia imediata de 8%, tendo em vista que o servidor estatutário não tem direito ao FGTS. Exemplo de uma Aposentadoria pelo INSS e outra pelo RPPS: No INSS – Com Fator Previdenciário - Salário de R$ 1.000,00 – média apurada (regra) -Servidor Homem não professor . Idade: 60 anos . Anos de Contribuição: 35 . Benefício: R$ 1.000,00 x 0,874 = R$ 874,00 No RPPS – Não há Fator Previdenciário - Salário de R$ 1.000,00 - Servidor Homem não professor . Idade: 60 anos ou 57,5 (EC 41 e 47) . Anos de Contribuição: 35 ou 37,5 . Benefício: R$ 1.000,00 (EC 20, 41 e 47) e Regra Geral R$ 1.000,00 Em suma, os servidores públicos segurados do Regime Próprio de Previdência Social poderão se aposentar por regras de aposentadoria mais benéficas, que por vezes antecipam a aposentação sem limite máximo para os benefícios previdenciários, recebendo atendimento fácil e rápido no próprio município, sem contar na proximidade entres os segurados e a administração do Instituto de Previdência Municipal. A economia realizada com a implantação do RPPS pode chegar a 80% dos valores despendidos com encargos patronais no INSS, trazendo fôlego e possibilitando investimentos no próprio funcionalismo. Por fim, vislumbramos que o RPPS é o futuro da previdência e do servidor público, sendo que sua implantação está sendo cada vez mais incentivada pelo Ministério da Previdência Social – MPS. Goiânia, outubro de 2013. Mauro André Branquinho Ferreira1 OAB/GO 26.853 1 Advogado e Consultor Jurídico de regimes próprios de previdência social; Pós- graduado: Especialização em Gestão Previdenciária e Regimes Próprios de Previdência; Pós- graduando: Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad del Museo Social Argentino – UMSA – Buenos Aires/ Argentina; Membro do Instituto Goiano de Direito Previdenciário – IGDP; Membro da Comissão de Direito Previdenciário e Securitário da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/GO; Professor de pós-graduação – MBA em Gestão Estratégica Financeira, Empresarial, Bancária e Pessoal na Faculdade Cambury.
Compartilhar