Buscar

CONCEITO e PARTIDO ARQUITETÔNICO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Disciplina : Projeto Arquitetônico I I 
Período: 3º arquitetura e urbanismo 
Pesquisa: Prof. Ricardo Albuquerque de Oliveira e Prof. Ruisdael de Freitas Lima Neto 
 
Partido e Conceito Arquitetônico 
 
O conceito é algo abstrato que vai permear toda decisão de projeto, é uma espécie de pauta para dar coerência ao conjunto sem 
achismo. Partido é a informação mais pura de como esta arquitetura vai acontecer. 
 
Um exemplo com uma obra bem conhecida é a catedral de Nossa Senhora em Brasília. Conceitualmente ela procura (a) uma 
relação claro-escuro igual à das igrejas paleocristãs, procura (b) uma expressão síntese do cristianismo que, não por acaso, 
exprime também o espírito de partilha e igualdade comunista do autor. [processo:] Niemeyer, do gesto de partir a hóstia, 
depreende o ato do partir o pão. Do movimento de quebrar a hóstia sai o desenho das 12 colunas repetidas e uma peça circular 
(hóstia)estrutura as 12 peças em cima. 
 
O partido do projeto pode ser sintetizado como: [uma mesma peça estrutural, curva, repetida 12 vezes] + [acesso enterrado para 
conseguir a zona escura e o efeito]. Tudo isso expresso num desenho que tem mais informações. 
 
O partido pode até ser escrito, mas em geral é um desenho ou maquete que expressa esta síntese. Depois, elaborando melhor o 
projeto, o arquiteto vê como os vidros vão fechar a lateral, define como a estrutura é possível ajustando as curvas, vê o quanto 
enterra pra conseguir o efeito, etc. Mas o que sustenta a busca do projeto é 1º o conceito, que em caso de alteração no partido, é 
o primeiro parâmetro e em 2º lugar o partido, que norteia a elaboração do projeto com clareza do que define sua expressão 
 
O Conceito X O Partido 
Aqui vai um pequeno apanhado geral para tirar as dúvidas entra as definições de conceito e partido na arquitetura. 
 
O CONCEITO 
No processo de projeto, o arquiteto define um conceito. O conceito expressa a ideia subjacente no desenho e orienta 
as decisões de projeto em uma determinada direção, organizando e excluindo as variantes (LEUPEN, 2004). 
 
 
Milwaukee Art Museum – Santiago Calatrava 
Conceito situa-se num plano abstrato, pode-se admitir várias soluções espaciais e formais viáveis, que devem ser 
testadas quanto às suas qualidades formais, construtivas ou funcionais para a definição do melhor partido. No dicio-
nário Conceito é definido como: 
 
1. Representação de um objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais; 
2. Ação de formular uma ideia por meio de palavras, definição, caracterização; 
3. Pensamento, ideia, opinião. 
 
O PARTIDO 
O partido arquitetônico define as características gerais do projeto, como uma “consequência formal derivada de uma 
série de condicionantes ou determinantes, como um resultado físico da intervenção sugerida” (RABELLO, 2007). 
Entre as condicionantes ou determinantes que norteiam o partido arquitetônico estão o clima, condições físicas e 
topográficas do local escolhido, assim como seu entorno legislação pertinente, as técnicas construtivas disponíveis e 
o orçamento pré-definido. (SILVA, 1983). 
O partido arquitetônico só pode ser imaginado após ter-se clareza plena dos aspectos conceituais do tema, do 
programa arquitetônico, das articulações de suas partes, de seu pré-dimensionamento e dos aspectos físicos do 
terreno, de sua forma, de seu relevo, da sua orientação solar e de ventos, de sua posição na malha urbanística, de 
seus acessos e das exigências da legislação. 
 
 
 Determinantes do projeto 
 
O Partido arquitetônico pode surgir: 
1- Da análise do terreno- Localização / Fotos do local / Entorno / Visitas / Ligações / Acessos. 
 
2- Do programa de necessidades – Setorizarização/ Arranjo vertical / horizontal 
 
3- Dos Aspectos da implantação-Orientação / Insolação / Luz natural / Privilegiar o meio ambiente existente. 
 
4- Dos Aspectos Construtivos - Materiais / Partido estrutural 
 
5- Do Volume pretendido - Forma / Fachadas / Movimento / Transparência / Cor / Linhas curvas ou retas 
 
6- Dos Fluxos - Distribuição espacial das funções / Circulação principal / Integração espacial / Eixo norteador. 
 
7- Da Identidade - Imagem do lugar 
 
8- Dos Aspectos conceituais - Tema / História... 
 
9- Dos Critérios de viabilidade do Projeto - Econômica / Tecnico-construtiva / Respeito ao Meio Ambiente 
 
10- Da Posição Arquitetônica - determinado Arquiteto e/ou Tendência Contemporânea 
 
11- De Teorias / Idéias (Fruto de leituras, análises de projeto e reflexão sobre o tema). 
 
12- Da necessidade de Flexibilidade do projeto ( para crescimento futuro e/ou adaptações possíveis) 
 
13- Da legislação regulamentadora ( Código de obras, Leis de uso do solo, Ambiental,etc..) 
 
 
 
 
 
 
Partido Arquitetônico - Professor Alfredo Coelho 
Entre todos os aspectos componentes de um projeto de Arquitetura, o conforto térmico e acústico bem como a 
funcionalidade são itens de extrema importância. O conforto térmico leva em conta aspectos naturais como 
ventilação e iluminação, aspectos estes que são obtidos tirando-se proveito da situação e condições topográficas do 
terreno. Já a funcionalidade depende muito da articulação das peças (salas, quartos, cozinha etc. e ou outros 
elementos, quando é o caso) os quais devem estar racionalmente distribuídas atendendo a um fluxograma que 
contemple os três setores (social, íntimo e serviço) sem atropelos e misturas; tudo isso de modo a atender às 
necessidades do cliente. 
O Arquiteto ao conceber um projeto, este deverá ser capaz de traduzir as expectativas do cliente em relação a 
diversos atributos, muitas vezes subjetivos como, por exemplo, conforto, requinte e beleza, que são atributos únicos 
inerentes a cada pessoa. Cada um apresenta conceitos diferentes para entender e aceitar os conceitos de conforto, 
requinte e beleza. Um adulto e uma criança têm interesses bem diferentes e veem as coisas mais diferentes ainda, 
assim como acontece com o homem e uma mulher, os quais ainda sofrem influências pela classe social, níveis 
culturais, formação, assim como outros condicionantes que advém das necessidades de cada um. O gosto é uma 
questão de várias sugestões, tudo influencia e, cabe ao arquiteto está comprometido com o interesse do cliente; e 
esse é o desafio: conseguir compreender os seus desejos e atender as suas necessidades e expectativas de morar 
ou mesmo de empreender, se for o caso. 
O arquiteto deve agregar valor ao seu projeto, isto é, deve atender a todos os atenuantes visando sempre um menor 
custo, mas sem agredir o acabamento e bom gosto. O arquiteto ao atender aos “horripilantes” Códigos de Obras não 
deve sacrificar as suas ideias e a funcionalidade do projeto, não deve por em cheque o bom funcionamento entre as 
peças, e dispor de artifícios que venham, num futuro próximo, prejudicar e macular o seu trabalho. O arquiteto entes 
de tudo deve ser um “sertanejo”, segundo Euclides da Cunha: “um forte”. Um arquiteto comprometido com o seu 
cliente; comprometido com os códigos reguladores e a ética, jamais se dá por vencido e entregue a interesses vil. Ele 
segue em frente à procura de melhores soluções. 
A maior arma do arquiteto chama-se: PARTIDO ARQUITETÔNICO. É com essa arma que o arquiteto consegue êxito 
em seu labor, segundo Lucio Costa. 
... “enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais - não é ainda arquitetura; mas quando - popular ou 
erudita - aquele que a ideou para e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilar ou de relação entre 
altura e largura de um vão e se detém na procura obstinada da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos 
volumes esubordinação deles a uma lei e se demora atento ao jogo de materiais ao seu valor expressivo - quando 
tudo isso vai a pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas também àquela 
intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinados sentido toda essa massa confusa e contra-
ditória de detalhes, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza - o que confere à obra o seu 
caráter de permanência. Isto sim é arquitetura". 
Sempre que o arquiteto se depara com um projeto, ele se depara com um terreno, se depara com um cliente que tem 
as suas necessidades, ele se depara com um código de obras e principalmente, se depara com a fruição de suas 
ideias, e aí existe o perigo de as ideias fluírem na direção de uma contradição entre as técnicas a e funcionalidade e 
com essa contradição não chegar a um ritmo, a uma expressão a uma unidade e a uma clareza o que não qualificaria 
o seu projeto como ARQUITETURA. É por isso que o partido arquitetônico deve ser bem estudado e analisado em 
todos os seus parâmetros. 
 
O Partido Arquitetônico é um conjunto de diretrizes e parâmetros que são levados em conta na realização de um 
projeto arquitetônico e ou urbanístico. 
 
Os parâmetros sempre estão combinados e nunca um único parâmetro produzirá um partido. Quanto maior o número 
de parâmetros seguidos, melhor caracterizado ficará o PARTIDO ARQUITETÔNICO. 
 
 
DEZ PARÂMETROS QUE DETERMINAM UM PARTIDO ARQUITETÔNICO: 
 
1. Terreno: Quanto ao terreno levam-se em conta os elementos de topografia:Altimetria e planimetria, área, entorno e 
sua paisagem, localização, acessos e implantação. 
 
2. Finalidade: As finalidades podem ser várias: Residencial, uni e pluridomiciliar, comercial, pública de edificações, de 
equipamento ou urbanística. 
 
3. Implantação: O parâmetro implantação oriundo do parâmetro terreno depende muito da geografia do terre-no: 
orientação, insolação, prevalência de luz natural, prevalência do meio ambiente existente. 
 
4. Programa: 
Os programas estão muitos atrelados a finalidades, são determinados pelo cliente ou consequência da finalidade 
específica do projeto. Setorização e distribuição dos cômodos, arranjos horizontais ou arranjos verticais simples ou 
adaptados. 
 
5. Conceitos: 
Os conceitos são elementos teóricos vindos de influências históricas e de estilos arquitetônicos frutos de leituras e 
pesquisas. Linhas seguidas pelo arquiteto, tendências clássicas, tendências modernas ou tendências contemporâ-
neas. 
 
6. Legislação: Estes parâmetros estão relacionados a questões regulamentadoras. Planos diretores, código de obras, 
leis de uso do solo e leis ambientais. 
 
7. Elementos construtivos: Este parâmetro depende muito dos parâmetros programa e conceito. Nele são levados em 
conta os materiais e o tipo de estrutura frutos do estilo arquitetônico adotado. 
 
8. Forma e volume: Este parâmetro é mais um que está associado aos parâmetros programa e conceito. Aqui se obser-
va a proporção entre cheios e vazios, as vistas, movimentação volumétrica e linhas. 
 
9. Flexibilidade: Um projeto arquitetônico deve conter condição de alterações e remanejamento a qualquer momento 
que se torne necessário. 
 
10. Viabilidade: Está sujeita aos critérios de viabilidade econômica, viabilidade técnica e construtiva, está de acordo com 
as legislações e em respeito ao meio ambiente. 
 
 
 
 
 
Teoria e Prática do Partido Arquitetônico 
Mario Biselli 
 
 
 
Nam June Paik Croquis de Mario Biselli 
 
 
Muitos autores acadêmicos têm se debruçado recentemente sobre temas e termos correntes da arquitetura na tenta-
tiva de compreender e explicar o processo de projetação. 
 
O aprofundamento recente destas pesquisas e reflexões tem produzido noções sempre mais didáticas e esclarecedo-
ras, tanto para estudantes e professores como para arquitetos com interesses teóricos e mesmo para leigos e aman-
tes da arquitetura. 
 
A história é rica em exemplos do interesse em resumir o projeto a um processo linear, possuidor de uma técnica de 
realização passo a passo, como montar uma máquina, como cultivar soja, primeiro isto, depois aquilo e aquilo outro, 
e assim por diante numa seqüência de procedimentos idêntica a tantas outras técnicas e disciplinas inventadas pelo 
homem. 
 
 
Escola Coreana Croquis de Mario Biselli 
 
Um aspecto interessante da atividade de projeto é justamente a quantidade de teorias, metodologias, manuais de 
procedimentos e técnicas as mais diversas da qual foi objeto historicamente. 
 
Mais interessante ainda é observar que, embora partes do processo de produção do projeto possam estar sujeitas a 
uma seqüência de procedimentos, o processo inteiro jamais poderá se enquadrar neste modelo, e, portanto, as 
metodologias não se sustentam enquanto sistemas universais, embora seja obrigatório conhecê-las, pois a nenhum 
arquiteto é permitida a ignorância sobre a experiência acumulada que compõe a história da arquitetura. 
 
O termo projetação tem sido pouco usado no Brasil, mas é o termo que define a produção do projeto de arquitetura 
como um processo. Este processo tem um momento crítico e imponderável que foge a qualquer metodologia, mesmo 
quando a projetação estava sujeita às regras da composição clássica. 
 
Este momento crítico é o momento que envolve as decisões relativas ao que conhecemos por partido arquitetônico, 
termo que em outros lugares é também conhecido como estratégia ou conceito. 
 
Bienal de Arte de SP Croquis de Mario Biselli 
 
 
Para efeito desta reflexão usarei o termo partido arquitetônico por ser o mais comum no Brasil e, creio, mais especí-
fico do campo da arquitetura do que estratégia ou conceito, os quais são muito comuns em outras áreas. 
 
Com base na experiência pode-se também dizer que “partido” é o termo comum à linguagem própria dos arquitetos, 
o assunto central, senão único, entre arquitetos no âmbito da produção, do julgamento de concursos de arquitetura, 
do ensino de projeto, das conversas informais. 
 
E não creio se tratar de um exagero cogitar a exclusividade do assunto, dado que em “partido” se compreende a dis-
cussão de aspectos como estratégia de implantação e distribuição do programa, estrutura e relações de espaço, 
todas elas questões centrais para os arquitetos. 
 
Outros temas relativos às atividades criativas – como composição, estilo, estética etc. – embora tenham sido objeto 
de interesse da teoria da arquitetura recentemente, são tratados no âmbito da prática com pudor e desinteresse, se-
não como meros epifenômenos. 
 
A definição de partido arquitetônico, portanto, e as reflexões sobre seu significado, dado o interesse geral, tem sido 
tarefa de vários autores e todas elas contêm aspectos novos e esclarecedores. O exame destas definições é um 
primeiro objeto de meu interesse. 
 
Escola Cáritas 
Croquis de Mario Biselli 
 
Desde o período acadêmico até as primeiras definições modernas, o projeto de arquitetura tem sido descrito como 
resultado de um raciocínio lógico. EmTeoria e projeto na primeira era da máquina, Banham compara Guadet, para 
quem a composição era o tema perene, e Choisy, que enfatiza a construção, ambos teóricos da composição 
arquitetural, para quem a natureza lógica da concepção constitui o tema mais destacado: 
“a forma como conseqüência lógica da técnica – que torna a arte da arquitetura sempre e em toda parte a 
mesma. 
 
[Para Choisy] a essência da arquitetura foi sempre a construção, a função do arquiteto sempre foi esta: fazer 
uma avaliação correta do problema com que se deparava, após a qual a forma do edifício seguir-se-ia 
logicamente dos meios técnicos a seu dispor” (1). 
 
Autores modernos, como Carlos Lemos, também propõemdefinições fazendo uso dos termos “conseqüência” e 
“resultado”, nos quais uma idéia de lógica permanece implícita: 
 
“A mencionada definição é a seguinte: Arquitetura seria, então, toda e qualquer intervenção no meio ambiente 
criando novos espaços, quase sempre com determinada intenção plástica, para atender a necessidades 
imediatas ou a expectativas programadas, e caracterizada por aquilo que chamamos de partido. Partido seria 
uma conseqüência formal derivada de uma série de condicionantes ou de determinantes; seria o resultado físico 
da intervenção sugerida. Os principais determinantes, ou condicionadores, do partido seriam: 
 
a. a técnica construtiva, segundo os recursos locais, tanto humanos, como materiais, que inclui aquela intenção 
plástica, às vezes, subordinada aos estilos arquitetônicos. 
 
b. o clima. 
 
c. As condições físicas e topográficas do sítio onde se intervém. 
 
d. o programa das necessidades, segundo os usos, costumes populares ou conveniências do empreendedor. 
 
e. as condições financeiras do empreendedor dentro do quadro econômico da sociedade. 
 
f. a legislação regulamentadora e/ou as normas sociais e/ou as regras da funcionalidade” (2). 
 
É certo que todo arquiteto defende seu projeto como um produto da aplicação da lógica face aos dados fornecidos 
para sua elaboração. Mas, em arquitetura parece que temos uma lógica para cada projetista, pois se dependês-
semos meramente da lógica, o processo seria universal e já não caberia qualquer preocupação sobre o assunto. 
Talvez, neste caso, a ação de projetar e construir já teriam sido integralmente resolvidos pela indústria, através de 
seus computadores e máquinas. 
 
E o que se vê é justamente o contrário, há um claro incômodo a respeito – “Esa incómoda situación del partido”, 
afirma Corona-Martinez (3) –, sempre surgem novas explicações e teorias, como se sempre mais estivéssemos 
interessados em desvendar um mistério, perscrutar as mentes criadoras para pôr às claras algo nebuloso, abrir uma 
“caixa preta”: 
“Le Corbusier enfatizou ainda mais o uso da lógica matemática de Descartes ao dizer que o início do processo 
de criação é a definição da planta arquitetônica, que por sua vez é a representação do programa arquitetônico 
(função da edificação). Assim, a projeção vertical da planta resultaria, segundo ele, nas paredes que por sua 
vez se tornariam volumes: linhas que se transformam em planos que se transformam em volumes; é a 
seqüência linear e crescente do raciocínio cartesiano. 
 
Embora se saiba que Descartes ainda é apreciado nas escolas de arquitetura do Brasil para o ensino-aprendiz-
agem do projeto arquitetônico, sabe-se também que em algum momento do processo de criação surge algo es-
tranho que parece não caber na lógica cartesiana: é a caixa preta; um conceito usualmente utilizado pelos 
arquitetos para significar o momento em que a subjetividade psicológica do arquiteto define, por meio de um 
rabisco (croqui) o partido do projeto. 
 
Apesar dos arquitetos conhecerem esse processo, ninguém até hoje explicou o que acontece dentro dessa 
caixa preta, dizem que é inexplicável” (4). 
 
Duas publicações recentes abordam estes temas, suas reflexões são a base para uma compreensão e críticas 
contemporâneas desta problemática. São elasAdoção do partido em arquitetura, de Laert Pedreira Neves 
e Composição, partido e programa – uma revisão de conceitos em mutação, de Anna Paula Canez e Cairo 
Albuquerque da Silva, este último se tratando de uma coletânea de ensaios de vários autores. 
 
Escola Cáritas Croquis de Mario Biselli 
 
Destes textos emergem duas idéias principais. Em primeiro lugar, a de que o partido é a idéia inicial de um projeto e 
em segundo, que esta idéia é uma criação autoral e inventiva, e artística na medida em que faz uso da composição. 
Vemos em Neves as definições nesta seqüência. Em primeiro lugar: “Denomina-se Partido Arquitetônico a idéia 
preliminar do edifício projetado. 
Idealizar um projeto requer, pelo menos, dois procedimentos: um em que o projetista toma a resolução de 
escolha dentre inúmeras alternativas, de uma idéia que deverá servir de base ao projeto do edifício do tema 
proposto; e outro em que a idéia escolhida é desenvolvida para resultar no projeto. É do primeiro procedimento, 
o da escolha da idéia, que resulta o partido, a concepção inicial do projeto do edifício, a feitura do seu esboço” 
(5). 
Antes, no texto introdutório: 
“É importante ressaltar que projetar um edifício é, na essência, o ato de criação que nasce na mente do 
projetista. É fruto da imaginação criadora, da sensibilidade do autor, de sua percepção e intuição próprias. É re-
sultado do trabalho do pensamento. Sendo assim, constitui-se em algo de difícil controle, interferência e ordena-
mento” (6). 
Em Composição, partido e programa – uma revisão de conceitos em mutação, o texto de Rogério de Castro Oliveira 
faz uso de uma linguagem mais complexa, mas de conteúdo similar e complementar. Primeiramente uma argumen-
tação genérica: 
 
“Em suma, no projeto de arquitetura, a concepção do partido arquitetônico pressupõe a proposição de confi-
gurações que descobrem, ou inventam, relações espaciais e programáticas a partir de uma dispersão inicial, 
indeterminada, de possibilidades projetuais. 
 
A coerência de tais construções deriva, antes, de um progressivo fechamento interno do que de determinação 
externa. O partido é, por hipótese, uma prefiguração do objeto, que o projetista elege como ponto de partida e 
fio condutor: cabe à investigação epistemológica construir contextos de explicitação das razões que asseguram 
pertinência e validade a essas arquiteturas projetadas” (7). 
 
Escola Cáritas Croquis de Mario Biselli 
 
 
Ainda no mesmo texto, quando se dedica a uma comparação entre os projetos de Le Corbusier e Lúcio Costa para a 
Cidade Universitária do Rio de Janeiro em 1939: 
 
“Para Lúcio Costa... ao contrário, tomar partido implica dar início a um percurso inventivo que se traça sobre um 
campo de relações em constante formação e renovação, ainda que aos tateios e sujeito a inúmeros e 
imprevisíveis retornos e desvios. 
 
Tais relações simultaneamente externas e internas ao objeto projetado implicam a construção de correspon-
dências entre formas e conteúdos, organizando-se progressivamente em esquemas que conectam partes antes 
separadas. Este dinamismo atribui à construção do partido um sentido eminentemente operativo, antecipador 
das configurações compositivas que conduzirão à finalização do projeto” (8). 
 
Todas estas definições, desde as mais simples como as de Neves, às mais sofisticadas, como as de Rogério de 
Castro Oliveira, procuram sempre mais elucidar, ilustrar e compreender o projeto de arquitetura e o momento de 
adoção do partido arquitetônico. 
 
Nota-se que no âmbito da experiência prática no Brasil, e em face da maneira como o tema tem sido abordado tradi-
cionalmente, que cada autor, cada arquiteto poderia igualmente descrever a projetação de maneira muito similar, 
alterando a ênfase neste ou naquele aspecto, simplificando ou elaborando mais e mais o texto, mantendo, contudo a 
sua essência. 
 
Deste modo pode-se concluir, a partir destes teóricos brasileiros, que o Partido Arquitetônico é a idéia inicial de um 
projeto, que a sua formulação é uma criação autoral e inventiva com base na coerência e na lógica funcional, e que, 
o partido, sendo uma prefiguração do projeto, faz da projetação um processo que vai do todo em direção à parte. 
 
 
Aeroporto de Florianópolis Croquis de Mario Biselli 
 
Este conceito de Partido Arquitetônico parece ser um dos traços mais característicos da herança corbusiana no 
Brasil: 
“Le Corbusier abordava o programa de arquiteturapartindo de princípios de ordem geral, adaptando-os em se-
guida à situação real. O projeto era definido pelo partido que se organizava do geral para o particular. [...] A ca-
sa Baeta projetada por Vilanova Artigas em 1956, segundo o conceito de partido de Le Corbusier, define-se 
pelas empenas das fachadas da frente e dos fundos e pelas aberturas das fachadas laterais, é organizada em 
meios níveis” (9). 
Também empiricamente, em cada situação específica baseada na prática de concursos e avaliações no âmbito 
universitário, é possível identificar a preponderância deste conceito nas discussões entre arquitetos, professores e 
membros das comissões julgadoras, sendo esta a característica fundamental que acaba por se estabelecer como um 
invariante, uma estrutura de pensamento que, pode-se supor, continua válida como aspecto central da teoria de 
projeto e da projetação no Brasil, teoria tributária também dos princípios acadêmicos e modernos herdados pelos 
grandes mestres modernos brasileiros tanto cariocas quando paulistas, em face do seu carisma e de sua longe-
vidade, para além dos fatores conjunturais históricos, resumidos por Futagawa desta maneira: 
"Durante os períodos antes e depois da Segunda Guerra Mundial, a arquitetura brasileira passou por desenvol-
vimento específico através das obras criativas dos arquitetos pioneiros como Lucio Costa, Afonso Reidy, Oscar 
Niemeyer, Vilanova Artigas e Lina Bo Bardi. 
Os princípios do modernismo foram aplicados e adaptados às condições locais do contexto brasileiro, como se 
a idéia do modernismo simpatizasse com o clima tropical do Brasil e da cultura das pessoas que lá vivem. Mais 
tarde, veio à luz uma forma única e original de arquitetura, que só existe no Brasil, e que vai além do movimento 
modernista original. 
O regime militar instalado no Brasil em 1964 provocou vinte anos de estagnação cultural, mas, ao mesmo tem-
po, também isolou a área de arquitetura do movimento pós-moderno que envolvia todo o mundo naquela época. 
Portanto, o Brasil se tornou um dos raros países que conta com sucessores legítimos do movimento modernis-
ta, e esse pano de fundo influencia fortemente a produção dos jovens arquitetos atuais, seguindo o princípio do 
modernismo entre as novas gerações" (10). 
Quero propor a seguir algumas reflexões sobre estes temas acima citados em busca dos novos significados e usos 
destas terminologias, bem como uma compreensão contemporânea a respeito destes mesmos processos. 
 
 
 
 
Ginásio Barueri Croquis de Mario Biselli 
 
 
 
Em primeiro lugar, sobre o que é partido arquitetônico. 
Quando se usa a expressão “adoção do partido”, deve-se observar o fato de que esta afirmação pode pressupor uma 
biblioteca de partidos adotáveis, como se estivessem todas as possibilidades já dadas e catalogadas. Convenhamos, 
analogamente, que adotar um filho é muito diferente de conceber um filho”. 
 
A afirmação de que o partido é a idéia preliminar do edifício a ser construído, ou uma prefiguração do objeto, que o 
projetista elege como ponto de partida e fio condutor, não abrange a totalidade dos modos de projetar, portanto não é 
universal, como também não o é o movimento do todo em direção à parte. Um claro exemplo disto são os projetos 
que envolvem tecnologias de pré fabricação de componentes para aplicação em série, invertendo, portanto, o 
raciocínio, a parte precede o todo (projetos de James Stirling, tais como para o Andrew Melville Hall, 1968, e 
University of St. Andrews Student Residence, 1967). 
 
Proponho aqui pensar sob o pressuposto de que o modo como cada arquiteto projeta é menos relevante do que o 
resultado final do seu trabalho. A sua metodologia, que é sempre particular, tem um interesse menor neste momento. 
Considerando, portanto, o cenário contemporâneo de grande diversidade arquitetônica, o partido arquitetônico é 
compreendido como a idéia que subjaz ao projeto, aquela identificada como idéia principal ou central, quando o 
projeto já se apresenta concluído, não importando quando esta idéia surgiu. É a idéia que o projeto é capaz de 
veicular ou expressar, o conteúdo intelectual de um edifício ou projeto enquanto manifestação, mediada por uma 
linguagem. É da avaliação destas idéias que se ocupam as comissões julgadoras em concursos, professores em 
avaliação etc. 
 
 
 
Igreja Tamboré Croquis de Mario Biselli 
 
De fato, a idéia central de um projeto pode nascer no início do processo ou durante o processo - tal como descrito 
nos textos anteriormente citados – ou pode mesmo anteceder ao processo, como é o caso dos arquitetos teóricos, 
cujas reflexões oportunamente se aplicarão na prática. Analisemos alguns exemplos de definições enunciadas por 
arquitetos que questionaram a teoria do projeto, revisando as tradicionais concepções da coerência e lógica, 
funcional e construtiva, do modernismo. É possível observar também que em seus projetos há sempre uma idéia 
central, não obstante a diferença de abordagem. 
 
Robert Venturi propõe o abrigo decorado, um caixa funcional inexpressiva acrescida de uma fachada bidimensional 
ornamentada e comunicativa segundo a natureza do edifício. 
 
"Venturi prefere os abrigos decorados, porque ele afirma que a sua comunicação é mais eficaz, embora os 
arquitetos modernos tenham se dedicado durante muito tempo a projetar 'patos'. O pato é, em termos semió-
ticos, um signo icônico, porque o significante (forma) tem certos aspectos em comum com o significado (com-
teúdo). O abrigo decorado depende de outros significados – a escrita ou a decoração – que são 
signos simbólicos" (11). 
 
Aldo Rossi propõe: a forma fica, a função muda. Por que então a função deve determinar a forma? A forma deve ser 
determinada pelo ‘lugar’. 
“A primeira grande crítica de Rossi foi ao que denominou de funcionalismo ingênuo do movimento moderno, que 
ao priorizar a explicação da cidade apenas pela função, deixava de entendê-la pelo que tinha mais significativo: 
o conhecimento da arquitetura pelo mundo de suas formas. A função era de uma circunstância que fazia uso da 
forma como um ato social. Ela nunca ia além de seu tempo, enquanto a forma permanecia” (12). 
Peter Eisenman sobrepõe à realidade do projeto – função, programa, lugar, topografia – disciplinas ou conceitos 
sobre os quais explorar ou deconstruir a forma, tal como assim se define: 
 
“Os conceitos, nos quatro projetos, transitam, se justapõe, interagem em ato. Malhas, escalas, rastros e dobras 
são freqüentemente concomitantes. Na exposição foram pensados como detonadores de pensamento, como 
balizas para a percepção e inteligibilidade da obra de Peter Eisenman. Mas a concomitância entre inteligibili-
dade e percepção, este movimento duplo parece ser recorrente e indissociável na reflexão e produção da arte” 
(13). 
 
 
 
Igreja Tamboré Croquis de Mario Biselli 
Mais recentemente Herzog e de Meuron adotam modelos de exploração e geração de forma, caracterizado como um 
processo contínuo com auxílio do computador e sem final determinado, como no projeto para o Pavilhão Jinhua 
Structure II – Vertical Basilea (ver AV Proyectos 007 2005, p. 40). 
 
E numa postura contemporânea mais radical, no sentido de uma autonomia da forma, sobrepujando tudo o mais, 
destaca-se os projetos de Frank Owen Gehry (Guggenheim Bilbao, 1997, e Walt Disney Concert Hall, 2003) e Zaha 
Hadid (tais como Contemporary Arts Center, 2003, em Cincinatti e MAXXI Museo, 2010, em Roma). 
 
A idéia central (ou Partido) pode ser identificada mesmo em situações onde a configuração funcional é um dado, uma 
condicionante ou determinante, fato comum quando em projetos para estádios, ginásios esportivos, teatros e em 
alguns casos, aeroportos. Via de regra configurações funcionais rígidas por tradiçãoou quando o próprio cliente é a 
autoridade no que tange às funções, muito comum no ramo das indústrias. 
 
Em todos esses casos, a despeito dos limites, o arquiteto encontrará espaço para introduzir uma idéia, ora migrando 
da forma para a matéria (Herzog & de Meuron, Estádio Allianz Arena, 2005, na Alemanha, e Estádio Nacional "Ninho 
do Pássaro", 2008, na China), ora enfocando radicalmente o design (como em Massimiliano Fuksas, no projeto do 
Aeroporto Internacional Shenzhen na China, ver AV proyectos 026 2008, p. 46) ou a tecnologia construtiva (Renzo 
Piano, Estadio de Bari, 1990, na Itália, e Richard Rogers, Aeroporto de Barajas, 2006, Espanha), etc. 
 
Em segundo lugar, cabe indagar, o que é a “caixa preta”? 
O que ainda pode ser dito sobre a adoção/ invenção/ formulação do Partido Arquitetônico, o momento crítico 
imponderável, a caixa preta? 
 
Igreja Tamboré Croquis de Mario Biselli 
 
 
Vamos admitir que os arquitetos fazem projetos e isto é um fato; portanto, em algum momento um determinado 
conjunto de informações se torna uma idéia para um edifício. O campo das idéias em arquitetura implica em um vasto 
campo de estudo da teoria e da história, mas este não é o espaço para desenvolver esse tipo de exercício intelectual 
e acadêmico. 
 
Vamos apenas considerar, de maneira mais simples, que este fato se relaciona com um fenômeno humano de 
grande interesse das ciências humanas, por um lado, e da filosofia, passando no século XX pelo estruturalismo, 
semiologia e semiótica: o fenômeno da linguagem, compreendida como manifestação e processo intrínsecos às 
diversas mediações sígnicas. 
 
A capacidade humana de inventar linguagens, a possibilidade de inventar distintas linguagens – verbais e não 
verbais – e transitar e fazer transposições entre estas (transtextualidade) são os mecanismos do intelecto típicos da 
arte e da arquitetura. Compreendida em maior ou menor grau como linguagem, a arquitetura é uma atividade desta 
mesma natureza de mediação e manifestação da idéia (14). 
 
Assim procedem os artistas, um poeta descreve uma paisagem (transposição do ícone para o texto), um escritor 
descreve um personagem (ícone para texto), um desenhista produzindo um retrato falado (ícone para texto e de novo 
para ícone), e tantas outras atividades do homem, um artista pintando um retrato (ícone para ícone), um ator em 
cena (texto para texto mais imagem), sempre pressupondo interpretação de um conteúdo numa linguagem seguido 
de uma expressão em outra. 
 
O partido arquitetônico, neste contexto, se dá no momento em que o texto, compreendido como articulação 
semântica – pensamento e idéia - expressa na linguagem verbal, se transforma em ícone, transposição da linguagem 
verbal para a linguagem não verbal, ou de maneira mais precisa, a operação que faz o arquiteto é de texto e ícone 
para ícone, pois o programa é texto e o lugar é ícone. 
 
Casa LPVM, Guaecá Croquis de Mario Biselli 
 
 
 
 
As transposições entre linguagens podem inicialmente sugerir a idéia de tradução, mas as tentativas empreendidas 
no sentido de estudar a arquitetura - tanto como história como prática projetual - a partir das estruturas da língua de 
forma automática – como tradução literal - apenas exacerbaram as diferenças estruturais entre estas linguagens, 
diferenças que implicam, para a arquitetura, num grau superior de liberdade no nível da expressão, dada a ausência 
de vínculos com as regras e convenções a que está sujeita a linguagem fala/texto: 
 
“O que se deve evitar nessa análise é a aplicação mecânica do modelo da linguagem à arquitetura, como 
fizeram diversos estudos semióticos. A aplicação mecânica de um modelo especificamente desenvolvido para a 
linguagem em outros sistemas semióticos, como a arquitetura, apenas permite reconhecer o que é semelhante 
à linguagem no nível da ideologia, mas não define as diferenças de estrutura interna entre a linguagem e, outros 
sistemas semióticos. 
 
Mesmo que seja possível conceber a linguagem como um sistema complexo de regras subjacentes, e, portanto, 
que seja viável compará-la com os sistemas explícitos e implícitos de regras da arquitetura, as regras 
arquitetônicas são definidas por uma determinada facção de uma determinada classe social, ao passo que a 
língua não é propriedade de ninguém, nem em geral nem em particular.. 
 
Os sistemas de regras arquitetônicas não exibem nenhuma das propriedades da langue – não são finitos, não 
tem uma organização simples nem determinam a manifestação do sistema. Ademais, as regras arquitetônicas 
estão em constante fluxo e mudam radicalmente. 
 
A aplicação mecânica do modelo da língua/fala à arquitetura ocidental fortalece a ideologia arquitetônica, 
porque nega as diferenças entre a arquitetura e a língua e ignora o lugar da linguagem natural na arquitetura. 
 
Além disso, o fato mais importante talvez seja que essa aplicação automática nega a presença de “algo” que 
define uma importante diferença entre a arquitetura e a linguagem – o aspecto criativo da arquitetura. Na língua, 
o indivíduo pode usar, mas não modificar o sistema da linguagem (langue). O arquiteto, ao contrário, pode e faz 
modificações no sistema, que é inventado a partir de um sistema de convenções” (15). 
 
 
 
 
Teatro de Natal Croquis de Mario Biselli 
 
 
E mesmo o referido sistema de convenções, ou contrato social, compreendido como base da linguagem, constitui um 
elemento limitador para a expressão em arquitetura: 
 
“Não havia nenhuma razão especial para que os ingleses designassem um animal de Bull, os franceses o 
chamassem de boeuf e os alemães de Ochs. [...] Mas porque a relação entre significante e significado era 
arbitrária, devia ser respeitada por todos. Ninguém pode mudar isso unilateralmente; há um contrato social entre 
todas as pessoas que falam inglês de que elas devem usar a palavra bulltoda a vez que quiserem se referir a 
esse animal específico. 
 
Se alguém usar outra palavra, ou inventar uma nova palavra para esse fim, ninguém o compreenderá; ele terá 
quebrado o contrato social. Note-se de passagem que, com poucas exceções, não existe um contrato social 
para o significado da arquitetura, e esta é uma diferença fundamental entre a arquitetura e a linguagem” (16). 
 
O homem de início pensou sobre as coisas, depois começou a pensar sobre o próprio pensamento, principalmente 
depois de Descartes, que levou tudo para dentro do intelecto (“je pense, donc je suis” – Discours de la Méthode, 
1637). 
 
Com os arquitetos não haveria de ser diferente. Em meio a dificuldades de solução para um projeto o arquiteto 
freqüentemente se interroga sobre seu pensamento, seu método (que em projetos anteriores funcionara tão bem!). 
 
Mas o projeto de arquitetura, embora circundado de problemas técnicos e profundamente vinculado ao uso, é por 
natureza um processo criativo avesso a enquadramentos, formatações, metodologias ou fórmulas. Permanece, 
portanto, e como desde sempre, aberto à infinita inovação, ao espírito dos tempos, à antecipação de tendências, à 
revisão de paradigmas, e, no pólo oposto, a novas visitas e itinerários interpretativos pelas tradições do passado. 
 
Torres Empresariais na Rua Afonso Brás Croquis de Mario Biselli 
 
 
notas 
1 
BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo, Perspectiva, 1979, p. 40. 
2 
LEMOS, Carlos. O que é arquitetura. São Paulo, Brasiliense, 2003, p. 40-41. 
3 
Alfonso Corona Martinez. Prefacio. In: CANEZ, Ana Paula; SILVA, Cairo Albuquerque (org). Composição, partido e 
programa – uma revisão de conceitos em mutação. Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2010, p. 35. 
4 
AMARAL, Cláudio Silveira. Descartes e a caixa preta no ensino-aprendizagemda arquitetura. Arquitextos, São Paulo, 
n. 08.090, Vitruvius, nov. 2007 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.090/194>. 
5 
NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador, Edufba, 1998, p. 15. 
6 
Idem, ibidem, p. 9. 
7 
OLIVEIRA, Rogério Castro de. Construção, composição, proposição: o projeto como campo de investigação 
epistemológica. In: CANEZ, Ana Paula; SILVA, Cairo Albuquerque (org). Op. cit., p. 35. 
8 
Idem, ibidem, p. 16. 
9 
ACAYABA, Marlene Milan. Brutalismo caboclo e as residências paulistas.Projeto, São Paulo, n. 73, 1985. 
10 
FUTAGAWA, Yukio. Modernism Architecture of Brazil. GA Houses, Tóquio, n. 106, p. 8. No original em inglês: 
“Throughout the periods before and after the World War II, Brazilian architecture went through some unique 
development conducted by the creative works of those pioneering architects such as Lucio Costa, Alfonso Reidy, 
Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi. The principle of the modernism was fostered and adapted to the 
unique, local conditions and contexts of Brazil, as if the idea of the modernism sympathized with Brazil´s tropical 
climate and the culture of the people who reside there. Later on, a unique and original form of the architecture only 
found in Brazil has brought to light, which goes beyond the original modernism movement. 
The military regime founded in 1964 brought a 20 years of cultural stagnancy to Brazil, but at the same time that also 
caused their architecture field to be isoladed from the postmodernism movement that had involved all over the world 
at that time. Consequently Brazil has become one of the rarest countries that remain with the legitimate successors of 
the modernism movement, and this background strongly affected to produce today´s young architects following the 
modernism priciple among new generations” 
11 
JENCKS, Charles. The Language of Post-modern Architecture. Nova York, Rizzoli, 1977, p. 45. No original em inglês: 
“Venturi would prefer more decorated sheds, because he contends, they communicate effectively, and modern 
architects have for too long only designed ‘ducks’. The duck is, in semiotic terms, an iconic sign, because the signifier 
(form) has certain aspects in common with the signified (content). The decorated shed depends on learned meanings 
– writing or decoration – which are symbolic signs.” 
12 
SPADONI, Francisco. Rossi: figura, memória e razão. In: Informe arqlab(boletim informativo do Laboratório de 
Arquitetura do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Belas Artes), São Paulo, n. 1, fev. 1998, p. 3. 
13 
SUMNER, Anne Marie. Prefácio. In: Gridings, Scalings, Tracings and Foldings in the work of Peter Eisenman. 
Catálogo de exposição. São Paulo, Masp, 1993. 
14 
Abordagens acerca do mesmo fenômeno, ver: 
TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e limites I (1980). In: NESBIT, Kate (org.).Uma nova agenda para a arquitetura. São 
Paulo, Cosac Naify, 2006, p. 172-177. 
TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e limites II (1981). In: NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 177-182. 
TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e limites III (1981). In: NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 183-188. 
TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e limites III (1981). In: NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 183-188. 
TSCHUMI, Bernard. Introdução: notas para uma teoria da disjunção arquitetônica (1988). In: NESBIT, Kate (org.). Op. 
cit., p. 188-191. 
EISENMAN, Peter. Diagram Diaries. Londres, Thames & Hudson, 1999. 
ABASCAL, Eunice Helena S.; ABASCAL BILBAO, Carlos . Arquitetura e ciência. Reflexões para a constituição do 
campo de saber arquitetônico. Arquitextos, São Paulo, n. 11.127, Vitruvius, dez. 2010 
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.127/3688>. 
15 
AGREST, Diana; GANDELSONAS, Mario. Semiótica e arquitetura: consumo ideológico ou trabalho teórico. In 
NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 137-138. 
16 
BROADBENT, Geoffrey. Um guia pessoal descomplicado da teoria dos signos na arquitetura. In NESBIT, Kate (org.). 
Op. cit., p. 153. 
 
 
sobre o autor 
Mario Biselli é arquiteto formado pela FAU Mackenzie, mestre em Arquitetura e Urbanismos pela mesmo instituição. 
É sócio do escritório Biselli & Katchborian arquitetura e professor do Departamento de Projeto da FAU Mackenzie

Outros materiais