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ATUAÇÃO POLICIAL FRENTE AOS GRUPOS VULNERÁVEIS Hellen Keuren Siqueira Feijó 2° Ten QOPM – PMAM APRESENTAÇÃO Prezado aluno, neste momento você iniciará seu ciclo de estudos acerca da atenção policial voltada especificamente aos grupos vulneráveis com o intuito de aprimorar sua vida profissional e prestar melhor atendimento à população, gerando desta forma maior sensação de segurança na comunidade. Ao final desta disciplina você será capaz de: · Definir grupos vulneráveis correlacionados aos conceitos dos Direitos Humanos; · Identificar os principais grupos vulneráveis; · Apontar as atitudes corretas na atuação em ocorrências envolvendo integrantes de grupos vulneráveis; · Realizar abordagens e buscas, em integrantes dos grupos vulneráveis, em atendimento às diretrizes de Direitos Humanos; · Conscientizar e sensibilizar os profissionais de Segurança Pública acerca de sua importância como promotores da equidade. Vamos iniciar os estudos os conscientizando sobre a definição e importância dos Direitos Humanos na atuação policial e para o policial enquanto sujeito de direitos. AULA 1: PARA QUEM SÃO OS DIREITOS HUMANOS? Esta pergunta remete-nos a várias respostas como: - "para todos, mas só alguns os têm"; - "para todos, mas não passam do papel"; - "Direitos Humanos para humanos direitos"; - "para proteger marginais"; - "são para todos os cidadãos". Esse tipo de manifestação demonstra claramente que grande parte das pessoas não está sensibilizada para o tema Direitos Humanos, faltando-lhe uma visão mais clara sobre o que é ter direito. Na verdade, as normas de Direitos Humanos foram criadas para dar garantias de direitos a todas as pessoas. Essa resposta conduz-nos a outra pergunta: - Quem realmente acredita que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas? Muitos não acreditam totalmente, ou em parte, que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas. O policial é um promotor dos Direitos Humanos e, por isso, deve acreditar, sem nenhuma sombra de dúvida, que esses Direitos foram criados para todas as pessoas. Direitos Humanos não são algo abstrato. São algo perceptível que está no dia-a-dia das pessoas, como o direito à vida, à propriedade, e o de constituir uma família. Se os Direitos Humanos são de todos e para todos, quem deve protegê-los? Sem dúvida, por nossa Constituição Federal, a segurança pública é responsabilidade de todos e dever do Estado. O policial tem papel fundamental na proteção dos Direitos Humanos, pois ele é a autoridade mais comumente encontrada nas ruas e emblematiza o Estado. As pessoas têm o policial como alguém em quem cofiam e trazem a perspectiva de que ele irá solucionar seus problemas. Por isso, o policial deve estar preparado tecnicamente para agir com imparcialidade e humanismo, em todos os seus contatos com o público. As entidades de defesa dos Direitos Humanos, governamentais ou não, contribuem para que o papel do Estado se materialize, completando sua ação de proteção. No momento atual, quando se evidencia o recrudescimento da violência no País, principalmente nos grandes centros urbanos, é imprescindível que façamos um mutirão da paz, congregando esforços e trabalhando junto a essas entidades de Direitos Humanos, por meio de parcerias, abrindo portas para um conhecimento mútuo, trabalhando não apenas com a denúncia de ações policiais incorretas, mas dando ênfase ao anúncio de ações integradas em prol da construção da cidadania e da paz social. O policial em sua missão de proteger o direito das pessoas deve sempre ter em mente que ele não está sozinho. Outras pessoas estão envolvidas na busca de soluções dos problemas que afligem a sociedade. Essas pessoas compõem órgãos municipais, estaduais e nacionais ou organizações não-governamentais (ONG) que trabalham na elaboração e execução de projetos, diretrizes e outras atividades que estão relacionadas com a promoção dos Direitos Humanos. O Policial, sempre que possível, deve estabelecer contatos com essas pessoas, para formar rede de intercâmbio. A postura de cada policial influenciará na imagem institucional, formulada por nossos parceiros. Lembrem-se, policiais, de que ONGs, e outros órgãos ligados a Direitos Humanos estão todos direcionados para o mesmo objetivo: proteger os direitos das pessoas. Por isto, devemos evitar críticas e nos empenhar-nos em na busca conjunta de soluções. AULA 2: IDENTIFICAÇÃO DOS GRUPOS VULNERÁVEIS Grupo Vulnerável é um conjunto de pessoas com características especiais, em decorrência das quais podem tornar-se mais suscetíveis à violação de direitos. Os cinco principais grupos são: a) mulheres; b) crianças e adolescentes; c) idosos; d) LGBTT; e) pessoas com deficiência física ou sofrimento mental. Faz-se mister a distinção entre grupos vulneráveis e minorias, pois estas são consideradas: "Um grupo de cidadãos de um Estado, constituindo minoria numérica e em posição não-dominante no Estado, dotada de características étnicas, religiosas ou linguísticas que diferem daquelas da maioria da população, tendo um senso de solidariedade um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva de sobreviver e cujo objetivo é conquistar igualdade com a maioria, nos fatos e na lei" (sic). Os Grupos Vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas, dentro dessa minoria, têm uma característica que as difere das demais e as torna parte de um outro grupo. Por exemplo: uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo islâmico, num país católico, e também portadora de deficiência física. Ela pertence a uma minoria religiosa (islã) e integra outro grupo vulnerável por ter deficiência física. A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos. Os grupos vulneráveis estão relacionados com as características especiais que as pessoas adquirem em razão de tenra idade, gênero, idade avançada, orientação sexual e deficiência física ou sofrimento mental. MULHERES: a igualdade é a essência de toda a sociedade democrática comprometida com a justiça e os direitos humanos. Em praticamente todas as atividades e esferas sociais, a mulher é alvo de desigualdades, por lei e de fato. Essa situação é causada e agravada pela existência de discriminação na família, na comunidade e no local de trabalho. A discriminação contra a mulher mantém-se na sobrevivência de estereótipos (do homem e da mulher), de culturas tradicionais e crenças prejudiciais às mulheres. Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo que tenha como objetivo ou efeito comprometer ou destruir o gozo ou o exercício pelas mulheres, seja qual for seu estado civil, com base na igualdade garantida a homens e mulheres, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais no campo político, econômico, social, cultural, civil ou de qualquer outra natureza ou espécie. A violência doméstica é outra violação dos direitos humanos e crime (na maioria dos países) que os policiais podem ajudar a prevenir. Os homens que batem em suas mulheres ou companheiras estão normalmente confiantes em que o podem fazer com impunidade - de que não serão denunciados à polícia e, mesmo que o sejam, conseguirão escapar da punição. As autoridades policiais, de uma forma geral, contribuíram para tal situação, ao se recusarem não só a tratar a violência doméstica como crime, mas a intervir para acabar com a violência, baseados supostamente na errônea noção de que isso fosse um problema de família. A violência doméstica não é um problema só de família - é um problema da comunidade, e esta, em sua quase-totalidade, é responsável pela continuação desse delito. São os amigos e vizinhos que ignoram ou encontram desculpas para as provas evidentes de violência. É o médico que apenas cuida dos ossos quebrados e machucados. São a polícia e o tribunal que se recusam a intervir em assunto particular. Os policiais podem ajudar a prevenir a violência doméstica, ao tratá-la como crime. Eles são responsáveis por assegurar e protegero direito da mulher à vida, à segurança e à integridade corporal, e incorrem em evidente abdicação dessa responsabilidade, quando falham de preservar a mulher da violência no lar. Em uma ocorrência de violência doméstica o policial militar deve ser imparcial e legalista, não se deixando envolver por questões pessoais ou tomando juízo de valor. Deve tão somente restringir-se à qualidade no serviço prestado à comunidade, escutando a vítima e encaminhando as partes à delegacia mais próxima. O policial militar em hipótese alguma deverá liberar as partes em caso de crime, pois se trata de ação incondicionada e não depende da vontade da vítima, mas tão somente do dever do Estado. Página 1 Página 40 Página 9 CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Crianças e adolescentes têm direitos próprios que estão previstos em diversos instrumentos internacionais e na legislação brasileira. A Constituição Federal relaciona em seu art. 227 direitos destinados a garantir às crianças e adolescentes absoluta prioridade no atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência familiar e comunitária, lazer, profissionalização, liberdade e integridade. Além disso, é dever de todos (Estado, família e sociedade) livrar a criança e adolescente de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Crianças e adolescentes têm primazia em receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, precedência no atendimento por serviços públicos ou de relevância pública, destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e juventude, programas de prevenção e atendimento especializado aos jovens dependentes de entorpecentes e drogas afins. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece um rol de direitos exclusivos dessas pessoas, bem como regras especiais para o adolescente infrator. Considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade, e adolescente aquela de entre doze e dezoito anos. O ECA também regula casos excepcionais de jovens que receberam medidas que se esgotarão até depois dos dezoito anos, como no caso do prolongamento da medida de internação e no caso de assistência judicial. Ato infracional é a ação tipificada como contrária à lei que tenha sido praticada pela criança ou adolescente. São inimputáveis todos os menores de dezoito anos e não poderão ser condenados a nenhuma pena. Recebem, portanto, tratamento legal diferente dos réus imputáveis (maiores de dezoito anos) a quem cabe a penalização. A criança acusada de crime deverá ser encaminhada à presença do Conselho Tutelar ou Juiz da Infância e da Juventude. Se efetivamente praticou ato infracional, ser- lhe-á aplicada medida especial de proteção como orientação, apoio e acompanhamento temporário, frequência obrigatória a ensino fundamental, requisição de tratamento médico e psicológico, entre outras medidas. Adolescente em caso de flagrância de ato infracional será levado à autoridade policial especializada. Os adolescentes não são igualados a réus ou indiciados nem são condenados a nenhuma pena (reclusão e detenção), como ocorre com os maiores de dezoito anos. Recebem medidas socioeducativas, sem caráter de apenação. É ilegal a apreensão do adolescente para averiguação. Fica apreendido, e não preso. A apreensão somente ocorrerá, quando for em flagrância ou por ordem judicial, e, em qualquer das hipóteses, esta apreensão será comunicada, de imediato, ao juiz competente, bem como à família do adolescente. O adolescente que cometer ato infracional estará sujeito às seguintes medidas socioeducativas: advertência, liberdade assistida, obrigação de reparação do dano, prestação de serviços à comunidade, internação em estabelecimento especial, entre outras. IDOSOS: Uma das principais causas que levam as pessoas da terceira idade ao abandono ou descrédito é a situação de relaxamento e falta de execução de normas. Assim, o afastamento da família, o internamento dessas pessoas em locais inadequados a seu completo restabelecimento, manutenção de seu estado físico e mental, o abandono pela sociedade, a começar pela própria família, caracterizam situação que coloca em risco sua garantia e proteção integral, nos termos da Constituição, desprezando, desta forma, todos aqueles que deram sua vida em prol de nossa nação e aqueles que lutam para vencer o preconceito e ser integrados à sociedade. A pessoa idosa deve ter tratamento que lhe garanta o direito à vida e participação na comunidade, como defesa de sua dignidade e bem-estar. É bom deixar claro que na Lei Magna é declarado que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar os idosos. É necessário o engajamento de todos nessa causa, para que esse fundamento seja implementado e torne-se realidade. O policial deve estar ciente dessas premissas, quando, em sua rotina operacional, deparar com situação que envolva pessoa de terceira idade. Na atuação do policial em relação à pessoa idosa, ele, sempre que possível, tomará os seguintes cuidados: a) o idoso deve ter tratamento especial. Dentro de uma delegacia, será convidado a assentar-se; b) também será ótimo oferecer-lhe um cafezinho e água. Com isso, o policial estabelecerá clima de confiança e respeito; c) se o idoso for suspeito, o policial deve respeitar sua idade e condições de saúde, e manter com ele prévia conversa sobre o ato cometido, para que ele comece a refletir sobre as consequências e esteja preparado para assumi-las, resguardados os aspectos de segurança do policial; d) será esclarecida ao idoso a ajuda jurídica que ele receberá do Estado, com outras informações acerca da trâmite da investigação ou processo; e) o idoso, sempre que possível, será acompanhado por algum membro familiar; f) o policial deverá evitar agressão verbal ou física aos familiares do idoso, vítima de crime, para não causar-lhe problemas sérios ou até complicações à saúde. image4.jpeg image5.jpeg image6.jpeg image2.jpeg image3.jpeg