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Sumário ORIENTAÇÕES GERAIS ............................................................................................................ 2 CONSTITUCIONAL .................................................................................................................... 4 DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................................... 4 MANDADO DE SEGURANÇA .............................................................................................. 6 COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS .......................................................................................... 6 PODER JUDICIÁRIO .............................................................................................................. 8 PODER LEGISLATIVO ............................................................................................................ 9 MINISTÉRIO PÚBLICO ......................................................................................................... 10 DEFENSORIA PÚBLICA ........................................................................................................ 11 ADVOCACIA PÚBLICA ...................................................................................................... 13 ADMINISTRATIVO ................................................................................................................... 14 SERVIDORES PÚBLICOS ...................................................................................................... 14 CONCURSOS PÚBLICOS .................................................................................................... 16 DIREITO DO CONSUMIDOR ................................................................................................... 17 PLANO DE SAÚDE ............................................................................................................... 18 RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................................. 18 DIREITO TRIBUTÁRIO ............................................................................................................... 20 ANTERIORIDADE ................................................................................................................. 20 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA ..................................................................................................... 20 IMPOSTOS ESTADUAIS ....................................................................................................... 21 IMPOSTOS MUNICIPAIS ..................................................................................................... 22 DIREITO FINANCEIRO ............................................................................................................. 23 DIREITO PREVIDENCIÁRIO ..................................................................................................... 25 APOSENTADORIA ............................................................................................................... 25 DIREITO ELEITORAL ................................................................................................................. 25 DIREITO CIVIL .......................................................................................................................... 27 DIREITO REAIS ..................................................................................................................... 28 PROCESSO CIVIL .................................................................................................................... 28 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ....................................................................................... 29 NULIDADES .......................................................................................................................... 31 INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA (IAC) .................................................... 31 EXECUÇÃO FISCAL ............................................................................................................ 31 DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 34 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .................................................................................... 34 DOSIMETRIA DA PENA ....................................................................................................... 34 CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ........................................................................ 35 CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ......................................................................... 36 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO ................................................................................. 37 LEI DE DROGAS 11.343/2006 ............................................................................................ 38 LEI MARIA DA PENHA ........................................................................................................ 38 DIREITO PROCESSUAL PENAL ................................................................................................ 40 INQUÉRITO POLICIAL ......................................................................................................... 40 COMPETÊNCIA ................................................................................................................... 41 PROVAS ............................................................................................................................... 43 PRISÃO E LIBERDADE .......................................................................................................... 46 TRIBUNAL DO JÚRI .............................................................................................................. 47 NULIDADES .......................................................................................................................... 47 RECURSOS ........................................................................................................................... 48 EXECUÇÃO PENAL ............................................................................................................. 49 JUIZADOS ESPECIAIS.......................................................................................................... 50 EMPRESARIAL .......................................................................................................................... 50 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................................................................................. 50 CONTRATOS EMPRESARIAIS .............................................................................................. 51 PROCESSO COLETIVO ........................................................................................................... 51 LEGITIMIDADE ..................................................................................................................... 51 ORIENTAÇÕES GERAIS • O objetivo deste material é revisar a jurisprudência para primeira fase, com olhos na segunda fase. Por isso, os julgados foram trazidos para cá, organizados por matéria, grifados e foi incluído um resumo dos principais fundamentos. Ainda está em construção, por isso não estão neste arquivo todos os julgados que já saíram nos informativos de 2023. • Legenda: em negrito e tamanho 12 foi incluído o resumo do julgado. Em tamanho 10 o resumo dos fundamentos. • Legenda dos grifos: a) azul: repercussão geral b) rosa: IAC e repetitivos STJ c) amarelo- demais julgados, sem efeitos vinculantes- palavras chaves para correr o olho em uma revisão muito rápida. • Foram usadas caixas coloridas para destacar Súmulas e Jurisprudência em teses, conforme cores abaixo: • SÚMULAS • JURISPRUDENCIA EM TESES • Como encontrar o julgado/fundamento cobrado na questão do simulado? ao- Volume único. 11ª ed. Salvador: JusPodivm, 2019, p. 1637-1638). Na vigência do antigo Código de Processo Civil, os honorários da fase de cumprimento de sentença eram fixados no recebimento da inicial, sendo devidos desde o esgotamento do prazo para pagamento voluntário, inclusive na hipótese de parcelamento prevista no art. 745-A do CPC/1973.STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 920.284-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 14/2/2023 (Info 764). NULIDADES É relativa a nulidade advinda da não suspensão do feito em virtude da morte de coexecutado, sendo imprescindível a comprovação do prejuízo processual sofrido pela parte a quem a nulidade aproveitaria.STJ. 3ª Turma. REsp 2.033.239-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Q46 • O art. 313, I do CPC objetiva preservar interesse particular do espólio, assim como dos herdeiros do falecido. Por isso, deve ser alegada na primeira oportunidade por quem a aproveita. INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA (IAC) A assunção de competência, em homenagem à segurança jurídica, deve ser admitida somente quando a questão de direito tiver sido objeto de debates, com a formação de um entendimento firme e sedimentado no âmbito das Turmas do STJ, evitando, com isso, a fixação de tese de observância obrigatória que não reflita uma decisão amadurecida do Tribunal ao longo do tempo, a partir do sopesamento dos mais variados argumentos em uma ou outra direção. Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos. (...) § 4º Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante questão de direito a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal. STJ. 2ª Seção. QO no REsp 1882957-SP, Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/2/2023 (Info 764). Q47, Q48. EXECUÇÃO FISCAL É constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), tendo natureza processual o prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos. STF. Plenário. RE 636562/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Repercussão Geral – Tema 390) (Info 1083). Q19, Q26, Q27, Q28, Q29, Q30. • Necessidade de lei complementar para regular a prescrição de crédito em virtude da previsão constitucional do art. 146, III, “b”, da CF/88? • Exigência de lei complementar tem o propósito de dar tratamento uniforme ao instituto e, como consequência, a sujeitos passivos que se encontram em situações equivalentes. • Não há vício de inconstitucionalidade no art. 40 da LEF, pois o legislador se limitou a transpor o modelo estabelecido pelo art. 174 do CTN, adaptando- o às particularidades da prescrição verificada no curso de uma execução fiscal. Há uma compatibilidade entre o CTN e a LEF. LEF apenas prevê um marco processual para a contagem do prazo, sem deixar de observar o prazo de 5 anos estabelecido pelo CTN. • Nas execuções fiscais, após a suspensão anual da execução, independentemente do arquivamento do feito, deve-se iniciar a contagem do prazo da prescrição intercorrente. • A previsão da LEF atende ao art. 22, I, da CF/88, porque compete à União legislar sobre direito processual. Atende, assim, a garantia de tratamento uniforme da matéria. • A prescrição no direito tributário é diferente da prescrição civil. Em matéria tributária, por força do art. 156, V, do CTN, a prescrição é hipótese de extinção do crédito tributário. • Prescrição ordinária tributária é disciplinada elo art. 174 do CTN que prevê o prazo de 5 anos, a partir da data de constituição definitiva do crédito tributário. Baliza, portanto, o exercício da pretensão de cobrança pelo credor, de modo a inviabilizar a propositura da ação após o exaurimento do prazo. • Prescrição intercorrente tributária: disciplinada pelo art. 40 da Lei de Execução Fiscal, segundo o qual, não sendo localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, o juiz suspenderá a execução fiscal. Requer, portanto, o prévio ajuizamento da ação de execução fiscal. Assim, veda-se o prosseguimento dos atos para a cobrança. Atende aos princípios da segurança jurídica e do devido processo legal, além de servir uma política judiciária de não eternização dos litígios judiciais. Não é uma punição do credor que não promoveu o regular prosseguimento da execução fiscal, pois a inércia não é requisito para a caracterização da prescrição intercorrente. Não é privilégio do devedor que não honra com suas obrigações perante o Estado (é apenas um meio executivo ineficaz). É presumido , em regra, o rateio em partes iguais do numerário mantido em conta corrente conjunta solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de responsabilidade solidária dos correntistas pelo pagamento de dívida imputada a um deles. B) Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta solidária no âmbito de execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira mantenedora, sendo franqueada aos cotitulares e ao exequente a oportunidade de demonstrar os valores que integram o patrimônio de cada um, a fim de afastar a presunção relativa de rateio. STJ. Corte Especial. REsp 1.610.844-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/06/2022 (Tema IAC 12) (Info 741).O STJ decidiu que esse entendimento também se aplica para as execuções fiscais. Na conta corrente conjunta solidária presume-se a divisão do saldo em partes iguais, ficando eventual penhora limitada à metade do numerário do total encontrado, na hipótese de execução movida por pessoa distinta da instituição financeira mantenedora.STJ. Corte Especial. EREsp 1734930- MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/9/2022 (Info Especial 10). Q25 e Q49 • Atenção: A questão pode ser, portanto, assim resumida: 1) Para fins de execução, em regra, considera-se que os valores existentes na conta corrente conjunta solidária são divididos, em partes iguais, entre os cotitulares. Assim, se são dois titulares da conta, presume-se que 50% pertencem a um e 50% pertencem ao outro. Se são quatro titulares, presume-se que cada um deles é proprietário de 25% do dinheiro ali depositado. 2) Essa presunção é relativa. A parte exequente pode comprovar que o executado (que é um dos cotitulares) tem um percentual maior e assim conseguir uma penhora em percentual superior à presunção. De igual modo, o cotitular que não é executado pode provar que ele é proprietário de um percentual superior ao da mera divisão das cotas. 3) Essa presunção também pode ser afastada se houver algum dispositivo de lei ou contrato dizendo que, naquele caso, os cotitulares são devedores solidários. 4) Se o exequente for o banco no qual os valores estão depositados, será possível a penhora da integralidade dos valores. Isso porque todos os cotitulares da conta são considerados devedores solidários em relação ao banco por força do contrato de conta-corrente. O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido como anuidade pelos Conselhos de fiscalização profissional.STJ. 2ª Turma. REsp 2.043.494-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Q50 DIREITO PENAL PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA É inviável a aplicação do princípio da insignificância ao furto praticado quando, para além do valor da res furtiva exceder o limite de 10% do valor do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o acusado é multirreincidente, ostentando diversas condenações anteriores por crimes contra o patrimônio.STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1992226/RS. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/11/2022 (Info Especial10). Q51, Q52, Q53 • REQUISITOS PARA CONFIGURAR A INSIGNIFICÂNCIA: mínima ofensividade da conduta do agente; inexistência de periculosidade social na ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada. • Causa de excludente de tipicidade material. • multirreincidência pela prática de outros crimes contra o patrimônio evidencia acentuada reprovabilidade do comportamento, incompatível com a adoção do princípio da insignificância. DOSIMETRIA DA PENA A utilização, por bacharel em direito, de seus conhecimentos acerca do exame da OAB para participar de esquema de fraude a essa seleção justifica a valoração negativa da culpabilidade do agente. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2101521-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/10/2022 (Info Especial 10). Q54 • Maior desvalor da conduta; não utilizou conhecimento adquiridos na faculdade de direito para defender o estado democrático de direito; descaso com a advocacia e demais candidatos regularmente aprovados para o exercício da profissão. A ocultação de drogas na região pélvica, por si só, não constitui fundamento idôneo para negativar a culpabilidade.STJ. 6ª Turma. REsp 1.923.803-AC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/9/2022 (Info Especial 10). Q55 • Modus operandi é uma das formas mais comuns utilizadas para o ingresso de entorpecentes em estabelecimento prisional. Portanto, não há uma grau maior de reprovabilidade da conduta. A confirmação pelo tribunal do júri da dissimulação e do uso de meio que dificultou a defesa da vítima deve ensejar uma única elevação em decorrência da qualificadora contida no art. 121, § 2º, IV, do Código Penal, ainda que quesitadas individualmente e não guardem relação de interdependência entre si.STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.918.273/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/2/2023 (Info 764). Q56 • Neste caso, os jurados responderam três quesitos diferentes, e responderam que o agente praticou o crime por motivo torpe, mediante dissimulação e por meio de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O juiz usou o motivo torpe para qualificar o crime e uso a dissimulação e a impossibilidade de defesa da vítima na segunda fase, como agravante autônoma, na forma do art. 61, II, “c” do CP. • Para o STJ, isso configurou ofensa à proibição de bis in idem devendo incidir apenas a qualificadora. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL Mesmo antes das alterações introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, o Ministério Público já era parte LEGÍTIMA para propor a ação penal pública incondicionada destinada a verificar a prática de crimes sexuais contra crianças. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.012.086/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/11/2022 (Info 764) Q57, Q58, Q59. • O estupro de vulnerável somente foi inserido em 2009, pela Lei n. 12.015. Antes do art. 217-A, as condutas de praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com menor de 14 anos já eram considerados crimes (arts. 213, 214, 224 CP), mas a ação era pública condicionada à representação. • Com a edição do art. 217-A do CP não ocorreu abolitio criminis, mas sim continuidade normativa típica. • A Lei nº 12.015/2009 alterou o art. 225 do CP e passou a prever expressamente que, nos crimes contra a dignidade sexual, a ação seria pública incondicionada se a vítima fosse menor de 18 anos ou pessoa vulnerável. • Mesmo antes das alterações introduzidas pela Lei n. 12.015/2009, a jurisprudência do STJ já entendia que o MP era parte legítima para propor ação penal pública incondicionada se o crime sexual tivesse sido praticado contra crianças. Esse entendimento era baseado em uma leitura do CPP à luz da Constituição Federal, que prevê a proteção integral à infância como dever do Estado. • Não se pode condicionar à opção dos representantes legais da vítima, ou ao critério econômico, a persecução penal dos crimes definidos pela CF como hediondos, excluindo da proteção do Estado as crianças submetidas à prática de delitos dessa natureza. • É descabida a necessidade de iniciativa dos pais quando o bem jurídico protegido é indisponível, qual seja, a liberdade sexual de criança, que, conquanto não tenha violência real, não possui capacidade plena para determinação dos seus atos, dada a sua vulnerabilidade. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA O fato de a referida dívida ativa estar garantida por contrato de seguro no bojo de execução fiscal movida contra o contribuinte NÃO descaracteriza a materialidade dos crimes fiscais. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 173.258/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Q60. • A defesa garantiu a execução fiscal pediu a aplicabilidade do art. 83 da Lei n. 9430/96: Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei n.°8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337- A do Decreto-Lei n.° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. (Redação dada pela Lei nº 12.350/2010)(...)§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011) • Para o STJ, a garantia não é o mesmo que pagamento. • Além disso, neste caso concreto, a inicial acusatória mencionava prejuízo de grande vulto aos cofres públicos do Estado e, por consequência, à coletividade. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO Tendo havido a indicação de que os delitos, autônomos, resultaram de ações distintas, não incide o concurso formal aos tipos penais dos artigos 306 (embriaguez ao volante) e o art. 309 (direção de veículo automotor sem a devida habilitação) do Código de Trânsito Brasileiro. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 749440-SC, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 23/8/2022 (Info Especial 10). Q61 e Q62. • Os tipos penais do art. 306 e 309 do CTB possuem momentos consumativos distintos: o crime de embriaguez ao volante (art. 306 do CRB) é de perigo abstrato, de mera conduta; o crime de direção de veículo automotor sem a devida habilitação (art. 309 do CTB) é de perigo concreto. • É impossível aplicar o concurso formal de crimes no presente caso, pois há duas ações isoladas, com desígnios de vontades autônomas e com dois resultados distintos. • O momento em que o acusado passou a conduzir a motocicleta em via pública, com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool (art. 306 do CTB), não se confunde com aquele que é flagrado dirigindo referido automóvel, sem a devida habilitação ou permissão para dirigir (art. 309 do CTB), em zigue-zague entre as duas pistas de rolamento, quase atropelando pedestres que atravessavam a rua, gerando, assim, perigo de dano. • Assunto paralelo: O STJ possui entendimento no sentido de que “não se mostra socialmente recomendável” substituir a PPL por PRD de multa quando o preceito secundário do tipo penal já possuir previsão de multa cumulada com a pena privativa de liberdade. Neste caso, deve-se privilegiar a incidência de duas medidas restritivas de direitos. STJ. 5ª Turma. HC 470.920/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe 15/10/2018. LEI DE DROGAS 11.343/2006 A elevada quantidade de drogas apreendidas, a multiplicidade de agentes envolvidos na trama criminosa - que perpassa pela contratação e pela proposta de pagamento -, a forma de transporte da substância entorpecente, a distância entre os estados da federação e a nítida divisão de tarefas entre os membros do grupo descaracterizama condição de pequeno traficante - ou traficante ocasional - impedindo o reconhecimento do benefício do tráfico privilegiado. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2115857-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Ministro Jorge Mussi, julgado em 25/10/2022 (Info Especial 10). STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1769697-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/3/2021. Q63 e Q64. • A expressiva quantidade de droga apreendida, por si só, não tem o condão de descaracterizar a condição de mula do tráfico. • O fato de o indivíduo ser mula do tráfico não é causa determinante para aplicar o redutor de pena descrito no art. 33, §4º, da Lei n. 11.343/2006. • O julgador deverá analisar, de forma fundamentada, as atividades delitivas praticadas e o seu envolvimento com a organização criminosa, com base nas peculiaridades do caso concreto. • No caso do julgado foi apreendida grande quantidade de droga (uma tonelada de maconha). Percebeu-se, no caso concreto, a interestadualidade do tráfico, a preparação do veículo para condicionamento da droga em compartimentos ocultos, a existência de batedor visando garantir a eficácia da atividade criminosa e a comissão apurada de R$ 20.000,00, circunstâncias que, em conjunto, determinaram o afastamento da redução de pena. LEI MARIA DA PENHA O juízo do domicílio da vítima em situação de violência doméstica é competente para processar e julgar o pedido de medidas protetivas de urgência, independentemente de as supostas condutas criminosas que motivaram o pedido terem ocorrido enquanto o autor e a vítima encontravam-se em viagem fora do domicílio desta. STJ. 3ª Seção. CC 190.666-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 8/2/2023 (Info 764) Q65, Q66, Q67, Q68. • Aplicabilidade da teoria do juízo imediato. • Inicialmente, esse princípio foi incorporado pelo art. 147 da L8069/90, no art. 147. Também está previsto no Estatuto da Pessoa Idosa (art. 80 da Lei 10.741/03). • Em casos de diplomas normativos que protegem determinado grupo de pessoas, deve-se reconhecer a competência do juízo que estiver mais próximo da pessoa protegida. A aplicação do princípio do juízo imediato na apreciação dos pedidos de medidas protetivas de urgência facilita o acesso da mulher vítima de violência doméstica a uma rápida prestação jurisdicional, que é o principal objetivo perseguido pelas normas processuais especiais que integram o microssistema de proteção de pessoas vulneráveis que já se delineia no ordenamento jurídico brasileiro. • O acesso rápido e efetivo à tutela jurisdicional assume especial relevo na situação de risco em que a mulher se encontra quando solicita medidas protetivas de urgência. É justamente o seu caráter de urgência que reclama a aplicação do princípio do juízo imediato, tendo em vista que o juízo do domicílio normalmente é o primeiro ao qual a mulher tem acesso e o que tem interação mais próxima com a vítima. • Em relação à Lei Maria da Penha, o art. 15 adotou expressamente o princípio do juízo imediato em relação aos processos de natureza cível, atribuindo competência concorrente para estas ações, por opção da vítima, também ao juizado de violência doméstica e familiar do domicílio ou residência da mulher. • Portanto, não há previsão específica de aplicação do princípio do juízo imediato aos pedidos de medidas protetivas de urgência de caráter penal . Mas o art. 13 da L11340/06 determina a aplicação da legislação relativa à criança, ao adolescente e a o idoso às causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. • Cuidado: A competência para julgar o crime, em tese, praticado contra a mulher é do local em que o delito foi praticado (art. 70 do CPP). Destarte, a competência do juízo do domicílio da vítima para conhecer e julgar o pedido de medidas protetivas de caráter urgente não altera ou modifica a competência do juízo natural para o processamento e julgamento de eventual ação penal. DIREITO PROCESSUAL PENAL INQUÉRITO POLICIAL Embora o prazo de 30 (trinta) dias para o término do inquérito com indiciado solto (art. 10 do Código de Processo Penal) seja impróprio, sem consequências processuais imediatas se inobservado, isso não equivale a que a investigação se prolongue por tempo indeterminado, por anos a fio, devendo pautar-se pelo princípio da razoabilidade. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 690299-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 9/8/2022 (Info Especial 10). Q69 • Possibilidade de realizar, por meio de HC, o controle acerca da razoabilidade da duração da investigação, resultando no trancamento do inquérito policial, no caso de verificar-se excessiva demora. • Aspectos que devem ser analisados para saber se ocorreu excesso de prazo: a) se há um excessivo número de acusados; b) se existe grande quantidade de testemunhas para ser ouvidas, com maior ou menor número de diligências, tais como cartas precatórias ou rogatórias; c) a complexidade da matéria envolvida, com necessidade de perícias e demais providências; e d) razões de força maior. • O inquérito é um procedimento temporário. Não é possível que a conclusão do IP seja prorrogada indefinidamente. Necessidade de preservação da duração razoável do processo. É LEGAL o compartilhamento com a Controladoria-Geral da União de informações coletadas em inquérito em que se apura suposta prática de crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. STJ. Corte Especial. AgRg na Pet 15.270/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/2/2023 (Info 764). Q70 • Respaldo no art. 3º, VIII, da Lei n. 12.850/13: Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:(...)VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. • Fundamento também em Tratados promulgados pelo Brasil e introduzidos no ordenamento pátrio com status de lei ordinária. • O art. 3º, VIII, da Lei nº 12.850/2013 prevê textualmente a possibilidade de cooperação entre órgãos federais na busca de provas e informações de interesse da investigação criminal. Essa previsão legal foi inserida na legislação penal especial em cumprimento a Tratados firmados pela República Federativa do Brasil. • A Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional), promulgada pelo Decreto nº 5.015/2004, constitui o principal instrumento global de combate ao crime organizado. O referido documento, aplicável aos delitos de crime organizado, lavagem de capitais e corrupção, prevê que cada Estado-parte garantirá que as autoridades responsáveis pela detecção, repressão e combate à lavagem de dinheiro tenham a capacidade de cooperar e trocar informações em âmbito nacional, criando, inclusive, canais de comunicação para facilitar a rápida e segura troca de informações relativas a todos os aspectos das infrações previstas na presente Convenção (arts. 7, item 1, e 27, item 1). • O compartilhamento de informações, encontra, ainda, suporte no art. 14, item 1, da Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a corrupção, documento promulgado pelo Decreto nº 5.687/2006), Tratado em que cada Estado-parte se comprometeu a garantir que as autoridades de administração e as encarregadas de combater a lavagem de dinheiro sejam capazes de intercambiar informações no âmbito nacional, fortalecendo medidas para combater de forma mais eficaz a corrupção. • No mesmo sentido, destaca-se a Convenção Interamericana contra a Corrupção (Convenção de Caracas), promulgada pelo Decreto nº 4.410/2002, documento que, em seu artigo II, destaca o fortalecimento, por cada um dos Estados-partes, dos mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a corrupção.COMPETÊNCIA O que importa para configurar a violação dos direitos indígenas e, por conseguinte, atrair a competência da Justiça Federal para o processamento do feito, é o impacto negativo da atuação dos acusados nas tradições, modo de viver e terras que os indígenas habitam e utilizam, sendo despiciendo discutir se ocorreu ou não a efetiva demarcação da terra como território indígena.STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 175.037/AM, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 26/10/2022 (Info Especial 10). Q71, Q72 e Q73. • Competência disciplinada pelo art. 109, XI, da CF: compete aos juízes federais processar e julgar: a disputa sobre direitos indígenas. • Abrange tanto ações cíveis quanto as criminais. • Competência que protege os direitos indígenas, isto é, há necessidade de envolver indígenas coletivamente considerados. • Em regra, a competência para julgar crime no qual o indígena figure como autor ou vítima é da Justiça Estadual. • Súmula 140-STJ: Compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. • Exceção: a competência será da justiça federal quando o crime praticado estiver relacionado com questões ligadas à cultura e aos direitos dos indígenas sobre suas terras ou no caso de genocídio contra os indígenas, considerando que, neste caso, o delito é praticado com o objetivo de acabar com a própria existência de uma determinada etnia. • Art. 231 da CF: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. • É desnecessário discutir se ocorreu ou não a efetiva demarcação da terra como território indígena, pois o que importa para configurar a violação dos direitos indígenas e, por conseguinte, atrair a competência da Justiça Federal para o processamento do feito, é o impacto negativo da atuação dos acusados nas tradições, modo de viver e terras que os indígenas habitam e utilizam. A reunião dos feitos por força de conexão não ostenta natureza absoluta, sendo adequado excepcionar a sua incidência na hipótese em que a aplicação ensejaria um atraso na tramitação de ação em estágio avançado (instrução encerrada).STJ. 3ª Seção. CC 190.445-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/9/2022 (Info Especial 10). Havendo sentença prolatada quanto ao delito conexo, a competência para julgamento do delito remanescente deve ser aferida isoladamente. STJ. 3ª Seção. CC 193.005-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 8/2/2023 (Info 764). Súmula 235 STJ (também aplicável na esfera penal): A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. PROVAS O simples fato de o tráfico de drogas configurar crime permanente não autoriza, por si só, o ingresso em domicílio sem o necessário mandado judicial. Exige-se, para que se configure a legítima flagrância, a demonstração posterior da justa causa ou, em outros termos, de fundadas razões quanto à suspeita de ocorrência de crime no interior da residência. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2004877-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 10). Q74 • Inviolabilidade do domicílio; art. 5º, XI, CF. • Tráfico de drogas= vários verbos do art. 33 são delitos permanentes. • TEMA 280 STF: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados. • No caso analisado, a invasão decorreu de denúncia anônima. Não houve prévia investigação, monitoramento ou campanas no local. • Em recente julgamento no HC 598.051/SP, sobre caso similar, a 6ª Turma do STJ decidiu que o consentimento do morador para a entrada dos policiais no imóvel será válido apenas se documentado por escrito e, ainda, for registrado em gravação audiovisual (STJ. 6ª Turma. HC 598.051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021. Info 687). O fato de policiais, em diligência para intimar testemunha, considerarem suspeita a atitude do irmão desta, por si só, não justifica a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para ingresso forçado no domicílio.STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 708400-RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 12/12/2022 (Info Especial 10). Q75 A “autópsia psicológica” constitui prova atípica admissível no processo penal, cabendo ao magistrado controlar a sua utilização no caso concreto.STJ. 6ª Turma. HC 740.431-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/9/2022 (Info Especial 10). Q76 • Autópsia psicológica: “pode ser definida como um tipo de avaliação psicológica realizada retrospectivamente através de uma investigação imparcial, que objetiva compreender os aspectos psicológicos de uma determinada morte. Busca-se compreender o que havia na mente do indivíduo. Ela visa reconstruir a vida psicológica de um indivíduo, analisando o seu estilo de vida, a personalidade, a saúde mental, os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos precedentes a morte, a fim de alcançar um maior entendimento sobre as circunstâncias que contribuíram para o fato. Além disso, a autópsia psicológica pode auxiliar no esclarecimento do modo da morte, que pode ser natural, acidental, por suicídio ou homicídio (Clark & Horton-Deustch, 1992; Gavin e Rogers, 2006; Isometsä, 2001; Jacobs e Klein-Benheim, 1995; Shneidman, 1992, 1994, 2004).” (MIRANDA, Tatiane Gouveia de. Autópsia psicológica: compreendendo casos de suicídio e o impacto da perda. Dissertação (mestrado), Universidade de Brasília. Brasília, 2014. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream /10482/16392/1/2014_ TatianeGouveiaMiranda.pdf) Ainda de acordo com a pesquisadora acima citada, a autópsia psicológica envolve basicamente dois procedimentos principais: 1) entrevistas com pessoas que conheciam e conviviam com o falecido, como cônjuge, parentes, amigos, empregados, profissionais que o acompanharam, entre outros; e 2) coleta e análise de documentos relevantes, como prontuários, registros clínicos, diários pessoais, nota de suicídio, se houver”. • Busca pela verdade no processo penal encontra limitação nas regras de admissão, de produção e de valoração do material probatório, o qual servirá de suporte ao convencimento do julgador. Afinal, os fins colimados pelo processo penal são tão importantes quanto os meios de que se utiliza (STJ. 3ª Seção. Reclamação 36.734/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti, DJe 22/2/2021). • O rol de provas nominadas do CPP não é exaustivo. • Ausência de taxatividade das provas nominadas no Código de Processo Penal. • Não existe um dispositivo específico que trate sobre as provas atípicas no CPP. É possível utilizar, por analogia - como autoriza o art. 3º do CPP -, o art. 369 do Código de Processo Civil, que dispõe: Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a https://repositorio.unb.br/bitstream%20/10482/16392/1/2014_%20TatianeGouveiaMiranda.pdf https://repositorio.unb.br/bitstream%20/10482/16392/1/2014_%20TatianeGouveiaMiranda.pdf verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. • Autópsia psicológica não é prova ilícita, mas deve ser analisada com cautela. Se a suposta prática de crime de peculato ocorreu por meio que deixou vestígios, consubstanciada em fraude na escrituração contábil da municipalidade, mostra-se indispensável a prova pericial, sob pena de ofensa ao art. 386, II, do Código de Processo Penal.STJ. 6ª Turma. REsp 1.958.753-SP, Rel. Min. LauritaVaz, julgado em 14/9/2022 (Info Especial 10).Q77 • O juiz pode indeferir as provas que concluir serem desnecessárias para a solução da controvérsia, ou, ainda, aquelas que entender protelatórias, sem que isso caracteriza ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa, desde que o faça fundamentadamente. • Tendo a suposta prática dos peculatos ocorrido por meio que deixou vestígios, qual seja, fraude na escrituração contábil da municipalidade, mostrava-se indispensável a prova pericial, nos termos do art. 158 do CPP: quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. No caso em que a audiência para oitiva da vítima e da testemunha é realizada por meio de videoconferência, a interpretação mais consentânea com o objetivo do disposto no art. 217 do CPP é a de que o réu também pode ser impedido de acompanhar os depoimentos. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.961.441/MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 2/8/2022 (Info Especial 10). Q78 É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, dado que, pela natureza dessa atividade profissional, diariamente em contato com fatos delituosos semelhantes, o decurso do tempo traz efetivo risco de perecimento da prova testemunhal por esquecimento. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.995.527-SE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 19/12/2022 (Info 764). • Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. Súmula 415 STJ O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada. Súmula 455 STJ A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo. Jurisprudência em Teses (ed. 32) Tese 6: A citação por edital do acusado não constitui fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva, uma vez que a sua não localização não gera presunção de fuga. • A oitiva de testemunhas pode ser considerada urgente, para os fins do art. 366 do CPP, desde que as circunstâncias do caso revelem a possibilidade concreta de perecimento. • É justificável a antecipação da colheita da prova testemunhal com arrimo no art. 366 do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais, uma vez que lidam constantemente no combate à criminalidade, o que expõe o agente de segurança pública a inúmeras situações conflituosas. Deste modo, as peculiaridades de cada uma acabam se perdendo em sua memória, seja pela frequência com que ocorrem ou pela própria similitude dos fatos, se que isso configure violação à garantia da ampla defesa do acusado. • Não há ofensa ao direito da defesa, pois é realizada na presença do defensor nomeado. Se o réu comparecer ao processo será permitido que ele requeira a produção das provas que julgar necessárias para sua defesa e até mesmo requerer a repetição d aprova produzida antecipadamente, desde que apresente argumento idôneo para isso. PRISÃO E LIBERDADE A periculosidade do agente e a intimidação de testemunha justificam a decretação da prisão preventiva para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 735.745- MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/9/2022 (Info Especial 10). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#art312. • A prisão preventiva é compatível com o regime prisional semiaberto, desde que seja realizada a efetiva adequação ao regime intermediário. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 760.405-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/8/2022 (Info Especial 10). • O tema é polêmica e há duas posições: 1) a prisão preventiva é compatível com o regime prisional semiaberto, desde que seja realizada a efetiva adequação ao regime intermediário, ou seja, permanecerá preso e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença (STJ e alguns julgados do STF, inclusive confirmando essa posição do STJ); 2) a fixação do regime de cumprimento semiaberto afasta a prisão preventiva, pois seria mais benéfico que o réu renunciasse ao direito de recorrer e iniciasse imediatamente o cumprimento da pena no regime estipulado, o que viola a proporcionalidade. A solução dada no item 1, representa, na verdade, a execução provisória da pena, o que é, atualmente, vedado pelo STF. TRIBUNAL DO JÚRI A sentença de pronúncia deve limitar-se a um juízo de dúvida a respeito da acusação, evitando considerações incisivas ou valorações sobre as teses em confronto nos autos.STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 673.891-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 23/8/2022 (Info Especial 10). • Juiz deve usar termos sóbrios e comedidos, a fim de evitar que fique demonstrado na decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado. O juízo de certeza cabe ao tribunal do júri. • O exagero é chamado de excesso de linguagem ou de eloquência acusatória. • Os jurados recebem cópia da sentença de pronúncia e o exagero do juiz pode influenciar a opinião do jurado. • O Tribunal, ao reconhecer que ocorreu o excesso, deve anular a decisão de pronúncia e os atos processuais que dela decorrem. Outra decisão deverá ser prolatada. Não é suficiente o envelopamento. NULIDADES Se o magistrado prolator da sentença estava designado pelo Programa CGJ-Apoia para atuar como cooperador na respectiva vara, não há abalo ao princípio da identidade física do juiz.STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 523.501-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 14/11/2022 (Info Especial 10). • O princípio da identidade física do juiz está previsto no art. 399, §2º do CPP. Razão de ser desta previsão: juiz que instruiu o processo é a pessoa mais indicada para decidir considerando que foi ele quem teve contato pessoal e direto com as provas (especialmente os testemunhos e interrogatório) e, com isso, pode formar sua convicção de maneira mais precisa. • Também não há ofensa ao princípio do juiz natural: não houve escolha de magistrados para julgamento deste ou daquele processo. Pelo contrário, a designação se deu de maneira ampla e indiscriminada para a atuação em período certo de tempo, de modo a conferir eficiência à prestação jurisdicional e efetividade ao princípio da duração razoável dos processos. Não há que se falar em atuação de rotina dos órgãos de polícia fazendária, apta a dispensar o mandado judicial de busca e apreensão domiciliar, quando o caso concreto evidencia a realização de verdadeira força-tarefa entre diferentes órgãos de polícia administrativa (Receita Federal, Ministério Público e Polícia Federal). STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 676091-PA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 10). • As prerrogativas destinadas aos órgãos de persecução penal encontram limites óbvios no devido processo legal e no princípio acusatório, cuja finalidade, em essência, é a proteção do indivíduo diante do aparato estatal instituído para a proteção dos bens jurídicos mais relevantes. • É imprescindível o juízo de valor a ser emitido pelos magistrados acerca da idoneidade traduzida no conceito de adequação das medias cautelares constritivas admitidas no processo penal. Essa adequação pode ser: qualitativa (aptidão para alcançar os fins previstos na lei processual) e quantitativa (referente à necessidade de respeitar os limites para que seja alcançada a finalidade perseguida). RECURSOS É possível a aplicação da fungibilidade no uso do recurso de apelação em detrimento do recurso em sentido estrito, desde que demonstradas a ausência de má-fé e a tempestividade do instrumentoprocessual. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2011577-GO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/9/2022 (Info Especial 10). • Princípio da fungibilidade (também chamado de teoria do recurso indiferente, teoria do tanto vale, princípio da permutabilidade dos recursos) é previsto expressamente no CPP, art. 579: Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível. • A parte recorrente não será prejudicada se interpôs o recurso errado, desde que esteja de boa-fé, não tenha sido um erro grosseiro e o recurso incorreto tenha sido manejado no prazo do recurso certo. EXECUÇÃO PENAL Após as alterações promovidas pela Lei n. 13.964/2019, é possível a execução em separado de cada uma das guias de execução, de modo que o cálculo para obtenção de benefícios que dizem respeito à execução penal deve considerar a primariedade em parte da pena, a reincidência comum em outra e a reincidência específica apenas nas guias que dizem respeito a crimes de mesma natureza. STJ. 6ª Turma. HC 654.870-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/9/2022 (Info Especial 10). A remição pelo trabalho pressupõe o exercício de atividade laboral mediante subordinação e controle de horário, não se admitindo o autocontrole de carga horária.STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 709901-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 27/9/2022 (Info Especial 10). Q79 • Caso concreto: não foi admitida a remição com base em autodeclaração na qual o apenado afirmou que é proprietário de imóvel rural e, portanto, explorador de atividade econômica. • Incompatibilidade com a fiscalização do cumprimento da pena, exigida pela Lei de Execuções Penais. DIVERGÊNCIA: Não é cabível a remição penal por aprovação no ENEM ao reeducando que já havia concluído o ensino médio antes de ingressar no sistema prisional.STJ. 6ª Turma. REsp 1.913.757-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 7/2/2023 (Info 764). Cuidado: a 6ª turma do STJ, depois do julgado acima, entendeu de forma diferente: É cabível a remição da pena pela aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, ainda que o apenado já tenha concluído o ensino médio antes do encarceramento, excluído o acréscimo de 1/3 (um terço) com fundamento no art. 126, § 5º, da Lei de Execução Penal. JUIZADOS ESPECIAIS O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) não possui natureza investigativa, podendo ser lavrado por integrantes da polícia judiciária ou da polícia administrativa.STF. Plenário. ADI 6245/DF e ADI 6264/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 17/02/2023 (Info 1083). Q31 • Adi ajuizada contra o inciso XII do art. 47 do Anexo I do Decreto nº 9.662/2019, acrescentado pelo Decreto 10.073/2019 que conferiu à PRF a prerrogativa de lavrar o termo circunstanciado de ocorrência argumentando que é competência privativa da polícia judiciária, por se tratar de ato de procedimento investigativo. • Para o STF o TCO não é um inquérito policial, mas um instrumento legal que constata a ocorrência de crimes de menor potencial ofensivo (um BO mais detalhado), mas que não acarreta diligências para esclarecimento dos fatos ou da autoria delitiva. Por isso, não se trata de atividade investigativa. EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL A remuneração do administrador judicial é crédito extraconcursal, não se submetendo aos efeitos do plano de recuperação judicial. A fixação e a forma de pagamento dos honorários do administrador cabe ao magistrado, não sendo possível sua negociação quer com o devedor, quer com os credores, diante da necessidade de garantir a imparcialidade do auxiliar do juízo. STJ. 3ª Turma. REsp 1905591-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/2/2023 (Info 764). Q80. • O valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial são fixados pelo juiz, observados alguns critérios estabelecidos pelo art. 24 da Lei: capacidade de pagamento do devedor; grau de complexidade do trabalho; e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. • O responsável pelo pagamento da remuneração do administrador judicial é o devedor ou a massa falida. • É um crédito extraconcursal, pois o fato gerador ´posterior ao pedido de recuperação judicial (art. 49). No caso de falência também é assim caracterizado. • Não é adequada a submissão dessa discussão ao plano de credores. Não é matéria disponível às partes, não pode ser submetida à composição. CONTRATOS EMPRESARIAIS O importador nacional responde pelos valores pagos pelo banco confirmador ao exportador estrangeiro, na hipótese de insolvência do banco emissor de carta de crédito internacional (letter of credit - L/C) emitida ao amparo de operação de importação. STJ. 4ª Turma. REsp 1.324.978-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/2/2023 (Info 764). PROCESSO COLETIVO LEGITIMIDADE Em caso de dissolução, por decisão judicial, da associação autora de ação civil pública, é possível a substituição processual pelo Ministério Público.STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.582.243-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Vale ressaltar que, se a ação civil pública foi proposta na Justiça Estadual, pela associação posteriormente dissolvida, a legitimidade para substituir essa associação será do Ministério Público estadual, mesmo que o processo já esteja em fase de recurso no STJ. Ainda que o processo esteja em curso no Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público Federal não possui legitimidade para substituir associação extinta por decisão judicial em ação civil pública proposta perante a Justiça estadual.STJ. 4ª Turma. REsp 1678925- MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2023 (Info 764). • Artigo muito importante: Art. 5º (...) § 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. • Não cabe ao intérprete estabelecer distinções quando a própria lei não distinguiu. Por isso, é irrelevante ao deferimento da substituição processual a circunstância da associação haver sido extinta por decisão judicial. • Na hipótese de extinção da associação por decisão judicial, o objetivo legítimo consiste em não deixar desprotegidas as pessoas que de fato tinham o interesse naquela tutela e até então eram substituídas pela associação. O fundamento para o deferimento da substituição processual não depende de se tratar de desistência infundada ou de abandono da ação, mas, sim, da necessidade de proteger os consumidores. • Embora o Ministério Público Federal atue nas causas de competência do STJ, conforme art. 37, I, e art. 66, da LC75/1993, essa legitimidade não se estende para as ações que tramitaram na Justiça Estadual por não se enquadrarem na competência da Justiça Federal (art. 109 da CF/88). ORIENTAÇÕES GERAIS CONSTITUCIONAL DIREITOS FUNDAMENTAIS MANDADO DE SEGURANÇA COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS PODER JUDICIÁRIO PODER LEGISLATIVO MINISTÉRIO PÚBLICO DEFENSORIA PÚBLICA ADVOCACIA PÚBLICA ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS CONCURSOS PÚBLICOS DIREITO DO CONSUMIDOR PLANO DE SAÚDE RESPONSABILIDADE CIVIL DIREITO TRIBUTÁRIO ANTERIORIDADE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA IMPOSTOS ESTADUAIS IMPOSTOS MUNICIPAIS DIREITO FINANCEIRO DIREITO PREVIDENCIÁRIO APOSENTADORIA DIREITO ELEITORAL DIREITO CIVIL DIREITO REAIS BEM DE FAMÍLIA PROCESSO CIVIL HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NULIDADES INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA (IAC) EXECUÇÃO FISCAL DIREITO PENAL PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA DOSIMETRIA DA PENA CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO LEI DE DROGAS 11.343/2006 LEI MARIADA PENHA DIREITO PROCESSUAL PENAL INQUÉRITO POLICIAL COMPETÊNCIA PROVAS PRISÃO E LIBERDADE TRIBUNAL DO JÚRI NULIDADES RECURSOS EXECUÇÃO PENAL JUIZADOS ESPECIAIS EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL CONTRATOS EMPRESARIAIS PROCESSO COLETIVO LEGITIMIDADEfinal da ementa, depois do número do julgado e do número do informativo é citado o número da questão: EX. Q1, Q2. Você não encontrará, por exemplo, “a questão 1 está errada porque foi trocado x”. Você encontrará o julgado e os fundamentos para rever o posicionamento integral. • O ideal é que você leia os informativos no site dos tribunais superiores ou no site de sua preferência e somente depois utilize este material. Portanto, vale reforçar que a leitura deste material não dispensa o estudo regular dos informativos, pois aqui trazemos os principais julgados (e não necessariamente todos). Além disso, a transcrição dos fundamentos do julgado foi realizada tentando preservar ao máximo o que consta no julgado, mas também passaram pelo nosso critério pessoal. • Não há grandes aprofundamentos aqui (salvo se necessários pro nosso entendimento ou frases chaves pra colocar em prova escrita) • Há julgados sem os fundamentos que, por critério pessoal, foram entendidos como menos relevantes para carreira e /ou segunda fase e/ou porque a ementa bastava para a compreensão (na nossa visão). Porém, se você pensar diferente manda uma mensagem ou e-mail @cafeetoga ou cafeetoga@gmail.com para reavaliar. • Fonte deste material: Buscador do DOD/vídeo Prof. Ubirajara mailto:cafeetoga@gmail.com CONSTITUCIONAL DIREITOS FUNDAMENTAIS É inconstitucional a lei estadual que preveja o arquivamento de materiais genéticos de nascituros e parturientes, em unidades de saúde, com o fim de realizar exames de DNA comparativo em caso de dúvida. STF. Plenário. ADI 5545/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/4/2023 (Info 1090). Q88 e Q89 • A lei impugnada, embora pretendesse proteger o direito à filiação biológica, violou o direito à privacidade de pessoas em estado de extrema vulnerabilidade. • O direito à privacidade ainda estaria violado, se houvesse consentimento, pois a lei impugnada é vaga em relação ao tratamento dos dados genéticos armazenados. Os dados genéticos são classificados como sensíveis (art. 5º, II, LGPD). A lei, portanto, constitui severo risco à integridade digital dos indivíduos. • A lei viola a autonomia da vontade da parturiente e se vale de instrumento coercitivo desproporcional para a tutela de interesse eminentemente privado do destinatário da norma. Ainda, compromete a autodeterminação informativa dos titulares desses dados, pois os impede de decidir sobre sua divulgação e utilização. • A ausência de previsão quanto à destinação dos dados, bem como aos mecanismos para sistematizar a coleta, a guarda eficaz e a sua posterior exclusão, permite a utilização do material coletado para quaisquer interesses, como a mercantilização e o perfilamento dos dados, o que pode ocasionar uma série de violações a direitos fundamentais, como, por exemplo, a discriminação genética de pessoas com doenças congênitas. • Além disso, há medidas mais efetivas e menos custosas e interventivas na esfera privada dos indivíduos para se evitar a troca de bebês nas unidades de saúde. Exemplos disso são o uso de pulseiras numeradas na mãe e no filho, o uso de grampo umbilical, a identificação da gestante no momento da admissão, em conjunto com a posterior identificação do recém-nascido no momento do nascimento, e a possibilidade da permanência do pai no momento do nascimento do filho. • Deve-se registrar, por fim, que eventual coleta de material genético se mostra mais eficaz e menos lesivo se for feito única e exclusivamente a partir do instante em que ocorrer a dúvida sobre possível troca. Neste momento, será possível fazer um exame de DNA para comprovar a filiação biológica. É compatível com o sistema normativo-constitucional vigente, norma estadual que veda a promoção ou a participação de policiais em manifestações de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades ou contra atos da Administração Pública em geral.STF. Plenário. ADPF 734/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/4/2023 (Info 1090). Q90 e Q91 • Ponto central: ofensa à liberdade de expressão e de manifestação. • Liberdade de expressão não é direito absoluto. • É possível restringir direitos fundamentais em três situações:1) a própria CF prevê a limitação; 2) a CF autoriza o legislador ordinário expedir ato legal regulamentando o exercício ou limitando o direito; 3) ponderação, observando a proporcionalidade, com outros valores que possuam igual proteção constitucional. • Necessidade de conciliar: 1) a liberdade de expressão dos policias civis versus 2) segurança e ordem públicas, a hierarquia e a disciplina que regem as organizações policiais. • Áreas de segurança pública estão sujeitas aos princípios da hierarquia e da disciplina, a fim de manter a segurança interna, ordem pública e paz social. • Possibilidade de reuniões pacíficas e sem armas. Ofensa ao art. 5º, XVI, da CF, arts. 13 e 15 da Convenção Americana de Direitos Humanos, já que os agentes são armados. • Tema de repercussão geral relacionado. O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (Repercussão Geral – Tema 541) (Info 860). O art. 166 do Código Penal Militar (CPM) proíbe os militares de criticarem publicamente ato de seu superior, assunto atinente à disciplina militar ou a qualquer resolução do governo, sob pena de detenção. Esse tipo penal é compatível com a Constituição Federal. Isso porque as restrições por ele impostas são adequadas e proporcionais quando consideradas as peculiaridades das atribuições militares e a singularidade de suas carreiras. Os militares estão submetidos a regime disciplinar distinto do aplicado aos servidores públicos civis em geral. STF. Plenário. ADPF 475/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/4/2023 (Info 1090). MANDADO DE SEGURANÇA Em mandado de segurança, é vedada a oportunização ao impetrante de emenda à inicial para a indicação da correta autoridade coatora, quando a referida modificação implique na alteração da competência jurisdicional. STJ. 2ª Turma. REsp 1.954.451-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Q32, Q33 e Q34. Súmula 628 do STJ A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal. • Atenção: Apesar de a letra “c” da Súmula falar apenas em Constituição Federal, podemos encontrar inúmeros julgados do STJ afirmando que a teoria da encampação também não se aplica se isso implicar em mudança das regras de competência definidas na Constituição Estadual. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional — haja vista a competência suplementar dos estados federados para dispor sobre proteção do consumidor (art. 24, V e § 2º, da CF/88) — lei estadual que torna obrigatória a assinatura física de idosos em contratos de operação de crédito firmados por meio eletrônico ou telefônico com instituições financeiras. (ADI 7027/PB- Info 1080- Q1). • Controvérsia: competência privativa da União para legislar sobre direito civil e política de crédito, bem como o desrespeito aos princípios da isonomia, da proporcionalidade e ofensa à liberdade dos idosos. • Segundo o STF a lei não violou competência privativa da União, pois não interfere no objeto do contrato pactuado. • Normas que tratam da relaçãode consumo entre as instituições financeiras e os clientes e que não tratam de aspectos essencialmente contratuais (fixação de taxas, elaboração de requisitos para concessão de crédito ou formulação de critérios para a contratação de serviços) podem ser editadas pelos estados membros, em caráter suplementar às normas gerais expedidas pela União (art. 24, V, e §2º da CF/88). • A legislação resguarda o idoso ao exigir a assinatura física nas operações de crédito celebradas por via eletrônica ou telefônica, aumenta a proteção do consumidor em situação de vulnerabilidade, pois assegura que tais agentes tenham melhor conhecimento acerca da avença mediante o fornecimento de uma cópia do contrato no ato da sua assinatura. Portanto, atende aos arts. 230 da CF, art. 3º, §2º, II, da L10741/2003. • A medida é necessária, pois possibilita aos idosos o conhecimento acerca do conteúdo total da proposta; é adequada, porque não gera gravame excessivo às instituições financeiras e assemelhadas; e atende à proporcionalidade em sentido estrito, porquanto protege classe mais vulnerável de consumidores. É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e material bélico (art. 22, I e XXI, CF/88) — norma estadual que concede, de forma incondicionada, o porte de arma de fogo a agentes penitenciários. (STF. Plenário. ADI 5076/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/03/2023. Info 1086. Q10 e Q11) • Matéria relacionada a direito penal (portar arma é um crime, ordenamento prevê hipóteses em que a pessoa é autorizada a portar a arma e, logo, a ilicitude é afastada. Dessa forma, autorizar que o agente porte a arma afasta uma infração penal). • Competência privativa da União para: legislar sobre direito penal; autorizar a fiscalização da produção e comércio de material bélico, o que lhe viabiliza definir os requisitos sobre o porte funcional de arma de fogo. • Ofensa ao Estatuto do Desarmamento, pois a lei federal prevê a possibilidade do porte de arma de fogo pelos agentes penitenciários em dedicação exclusiva, com formação funcional e subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle interno. Contudo, essa autorização dependeria necessariamente de comprovação da capacidade técnica e de aptidão psicológica para o seu manuseio, atestadas nos termos dispostos no regulamento da lei. Portanto, o Estatuto não autorizou o porte de arma de fogo a agentes penitenciários de forma incondicionada. • Não há espaço legislativo para que o Estado atue em competência complementar ou suplementar. Agindo assim, inovou no ordenamento jurídico, elidindo as condições estabelecidas pela União a respeito do tema. A Atuação extrapola a repartição de competência constitucionalmente fixada. • A previsão contida na lei federal foi editada com o objetivo de atender aos interesses públicos prioritários e de fixar uma política criminal nacional uniforme à luz do pacto federativo, tratando de matérias de predominante interesse geral. PODER JUDICIÁRIO É inconstitucional norma de lei estadual que autorize a Secretaria de Estado de Fazenda a reter o valor correspondente às contribuições previdenciárias devidas pelo Poder Judiciário, seus membros e servidores.(STF. Plenário. ADI 4859/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/03/2023. Info 1086. Q12, Q13 e Q14. • Lei analisada previa que os membros e servidores do Poder Judiciário deveriam ficar vinculados obrigatoriamente ao regime próprio de previdência social do Estado (não ter um regime específico) e participar do financiamento do sistema previdenciário estadual, inclusive mediante o custeio do abono de permanência dos seus membros e servidores (inclusive com a retenção na fonte das contribuições para o fundo da previdência). • Ponto central da análise: ofensa a autonomia financeira do Poder Judiciário e ao princípio da separação de poderes. • Independência do Poder Judiciário é um elemento essencial do Estado Democrático de Direito. • Independência do Poder Judiciário possui duas vertentes: 1) autonomia institucional: prerrogativas necessárias para que o Poder Judiciário, como instituição, possa funcionar, sem qualquer relação de subordinação com os demais poderes; 2) autonomia funcional: independência do magistrado para o exercício de suas atribuições técnicas, constitucionais e legais, o que é garantido por meio da vitaliciedade, inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos. Desdobra-se em: 2.1) autonomia administrativa: capacidade de autogestão, ou seja, expedir normas internas e praticar atos administrativos destinados à estruturação e organização da instituição e de seus agentes públicos, sem sofrer interferência de qualquer outro poder; 2.2) autonomia financeira e orçamentária: envolve a prerrogativa de elaborar a própria proposta orçamentária e o direito de receber os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, em duodécimos, até o dia 20 de cada mês. • Autonomia financeira e orçamentária confere ao Poder Judiciária o poder de influenciar a elaboração do orçamento e impedir o chefe do Poder Executivo de reduzir o montante destinado ao órgão caso tenham sido atendidos os limites impostos pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. É essa espécie de autonomia que também confere o direito de exigir o repasse das dotações orçamentárias previstas em seu favor no prazo assinalado pela Constituição, independentemente das circunstâncias vivenciadas pelo ente político. • A lei analisada, ao permitir a retenção na fonte das contribuições para o fundo de previdência afrontou a independência do Poder Judiciário. • A autonomia financeira e orçamentária, portanto, impede essa retenção, pois a verba destinada ao Judiciário deve ser enviada integralmente. • Assim, compete ao Judiciário calcular o montante destinado à quitação das contribuições e recolhê-las para o fundo de previdência em relação aos seus membros e servidores. A retenção será feita diretamente pelo próprio Tribunal, antes de realizar o pagamento dos subsídios e remunerações. • Por outro lado, é constitucional norma de lei estadual que imponha ao Poder Judiciário (i) participar, juntamente com os demais poderes e órgãos autônomos, da cobertura de déficit e do custeio do regime próprio de previdência social( pois, em resumo, se o sistema previdenciário está deficitário é dever do Estado destinar-lhe recursos para assegurar que os benefícios sejam pagos) e (ii) realizar o pagamento do abono de permanência dos seus membros e servidores(é incumbência de cada ente arcar com o pagamento dessa parcela). STF. Plenário. ADI 4859/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/03/2023 (Info 1086). • Atenção: mesmo raciocínio para o MP. Não vou transcrever o mesmo julgado aqui. PODER LEGISLATIVO É inconstitucional lei estadual que vincula a remuneração dos Deputados Estaduais à dos Deputados Federais. Essa vinculação é inconstitucional porque representa modalidade de reajustamento automático e, desse modo, viola o princípio da reserva legal (art. 27, § 2º, CF/88), o pacto federativo e a vedação à equiparação entre espécies remuneratórias (art. 37, XIII, CF/88). STF. Plenário. ADI 6545/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/4/2023 (Info 1090). Q81, Q82, Q83. • O subsídio dos deputados federais e senadores é fixado pelo Congresso Nacional por meio de decreto legislativo (art. 49, VII, CF). Já o subsídio dos deputados estaduais é estabelecido pela Assembleia Legislativa, por meio de lei estadual. O valor deste subsídio é de no máximo 75% daquilo que é pago aos Deputados Federais e Senadores (art. 27, §2º, CF). • A norma estadual não pode fixar o subsídio do deputado estadual em 75% do que percebe o Deputado Federal, pois isso é uma vinculação automática com o subsídio dos deputados federais. Essa vinculação afronta o princípio federativo e a autonomiado Estado-membro. • A vinculação acarreta o esvaziamento da autonomia administrativa e financeira dos Estados-membros, pois destitui os entes da prerrogativa de estipular o valor da remuneração de seus agentes políticos, impondo a observância ao quantum definido pela União. Assim, viola a autonomia do Estado-membro, pois de forma indireta, quem estará fixando a remuneração dos Deputados Estaduais será o Congresso Nacional. • O art. 37, XIII preconiza que é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público. • O art. 27, §2º da CF não autoriza a vinculação, pois prevê apenas o limite máximo da remuneração dos Deputados Estaduais. MINISTÉRIO PÚBLICO A vinculação entre os subsídios dos membros do Ministério Público, ou de função essencial à Justiça, e a remuneração da magistratura é vedada pelo art. 37, XIII, da CF/88.(STF. Plenário. ADI 570/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/03/2023. Info 1086. Q15 e Q16) • Atenção: o STF entendeu que é possível estabelecer gratificação por exercício de função essencial à Justiça, em favor de membro do Ministério Público com base no mesmo percentual e na mesma forma da gratificação dada ao magistrado, uma vez que o percentual incide sobre o vencimento base de cada qual e constitui apenas um parâmetro de cálculo. São constitucionais leis estaduais que dispõem sobre a criação de Grupos de Atuação Especial contra o Crime Organizado (GAECOs) — órgãos de cooperação institucional dentro da estrutura do Ministério Público local — com a finalidade de concretizar instrumentos procedimentais efetivos para a realização de planejamento estratégico e garantir a eficiência e a eficácia dos procedimentos de investigação criminal realizados para o combate à criminalidade organizada, à impunidade e à corrupção. Q84, Q85, Q86, Q87. • A CF/88 ampliou o papel do Ministério Público, transformando-o em um verdadeiro defensor da sociedade e do regime democrático e permitiu que a legislação ordinária fixasse outras funções, desde que compatíveis com a finalidade constitucional. • Estruturação do Gaeco garante ampla autonomia funcional aos seus membros, bem como autonomia administrativa e financeira. • O MP não exerce um controle interno da polícia, apenas coordena as tarefas do grupo, restringindo-se às atividades realizadas pelos agentes policiais que integram o GAECO e em razão das atribuições desse grupo. • O duplo vínculo hierárquico dos servidores de corporações policiais integrantes do GAECO, enquanto durar a sua atuação, não configura inconstitucionalidade. Trata-se de hipótese semelhante à que ocorre nos institutos da cessão e da requisição de servidores públicos, em que a vinculação disciplinar permanece na “carreira-mãe”, de modo que se cria uma vinculação apenas funcional para o exercício das funções inerentes ao próprio GAECO. • Tema de Repercussão Geral relacionado: O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição.STF. Plenário. RE 593727, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/05/2015 (Repercussão Geral – Tema 184). • Gaeco e juiz natural: o STJ tem jurisprudência no sentido de que a atuação do Gaeco não viola o princípio do juiz natural, desde que o promotor a quem distribuído livremente o feito solicite ou anua com a participação ou ingresso do Gaeco nas investigações (vide info 751). DEFENSORIA PÚBLICA É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para instaurar inquérito policial. (STF. Plenário. ADI 4346/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/03/2023. Info 1086. Q17). • O Poder de requisitar a instauração de inquérito policial está ligado à persecução penal e exige uma disciplina uniforme em todo o território nacional. • O legislador, no uso da atribuição conferida pelo art. 22, I, da CF/88, CPP já limitou essa atribuição à autoridade judiciária ou ao MP, conforme art. 5º do CPP. • A interpretação de que o Estado legislou com base no art. 24, XI e XIII, da CF/88 (competência concorrente para legislar sobre procedimentos em matéria processual e assistência jurídica e Defensoria Pública) não supre a inconstitucionalidade, tendo em vista a colisão com o CPP. Ofende a autonomia administrativa das Defensorias Públicas decisão judicial que determine a lotação de defensor público em localidade desamparada, em desacordo com os critérios previamente definidos pela própria instituição, desde que observados os critérios do art. 98, caput e § 2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT. (STF. Plenário. RE 887671/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 08/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 847). Info 1086. Q18). • A defensoria é uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado Democrático de Direito (art. 134, da CF). • O acesso à Justiça é um direito individual e social de primeira grandeza. • A Resolução 2656/14 da OEA: primeiro instrumento normativo aprovado pela OEA sobre o acesso à justiça como um direito autônomo. Neste documento, reconhece-se que a Defensoria Pública é a instituição eficaz para a garantia desse direito. Recomendou-se, portanto, que os Estados membros da OEA adotassem medidas que garantisse independência e autonomia dos Defensores Públicos. • O Brasil, visando cumprir as diretrizes, aprovou a EC 80/14 e inseriu o art. 98 no ADCT: Art. 98. O número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) § 1º No prazo de 8 (oito) anos*, a União, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observado o disposto no caput deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)§ 2º Durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos ocorrerá, prioritariamente, atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) • Portanto, a partir a partir da EC 80/2014, foi assegurado à Defensoria Pública o poder de autogoverno na tomada de decisões, razão pela qual lhe cabe, por meio de seus órgãos de direção, decidir onde deve lotar os seus membros, com a devida observância aos critérios por ela mesma preestabelecidos, em atenção especial à efetiva demanda, à cobertura populacional e à hipossuficiência de seus assistidos. • Assim, qualquer medida normativa ou judicial que suprima essa autonomia da Defensoria Pública implicará ofensa constitucional. ADVOCACIA PÚBLICA É inconstitucional norma de Constituição estadual que, após o advento da Constituição Federal de 1988, cria órgão de assessoramento jurídico auxiliar (“Assessoria Jurídica estadual”) em caráter permanente e vinculado expressamente à Procuradoria-Geral do Estado, às quais compete o exercício de atividades de representação judicial, consultoria e assessoramento jurídico.O princípio da unicidade da representação judicial e da consultoriajurídica dos Estados e do Distrito Federal veda a criação de órgão de assessoria jurídica na Administração direta e indireta diverso da Procuradoria do Estado para exercer parte das atividades que são privativas dos procuradores, ainda que haja previsão de vinculação à Procuradoria-Geral do Estado. STF. Plenário. ADI 6500/RN, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/03/2023 (Info 1086). Q35 e Q36. • Ofensa à unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal, previsto no art. 132 da CF/88: Procuradores dos Estados e DF serão os únicos responsáveis pela representação judicial e pela consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. No caso, os assessores atuavam como verdadeiros procuradores, não era simplesmente minutando, mas exercendo atividades privativas dos procuradores. • A PGE é responsável pela representação judicial e pela consultoria jurídica da administração direta (órgãos); autarquias e fundações (empresas públicas e sociedades de economia mista, não). Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por substituição a advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei. STF. Plenário. ADI 5519/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083). • Não existe fundamento constitucional obrigando a administração pública a pagar retribuição por substituição aos advogados públicos federais. • A concessão ou não dos benefícios configura juízo de discricionariedade do legislador ordinário, o que impede o Poder Judiciário de substituí-lo. • Súmula relacionada: Vinculante 37: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS Aos servidores públicos estaduais e municipais é aplicado, para todos os efeitos, o art. 98, § 2° e § 3°, da Lei nº 8.112/90. STF. Plenário. RE 1.237.867/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.097) (Info 1080). (Q2) • Controvérsia: Aplicação do art. 98, §§2º e 3º da Lei 8.112/90 aos servidores públicos municipais e estaduais (no caso era um servidor responsável por pessoa com deficiência) • Art. 98 (...)§ 2º Também será concedido horário especial ao servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica oficial, independentemente de compensação de horário.§ 3º As disposições constantes do § 2º são extensivas ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência. • A convivência e o acompanhamento familiar para o desenvolvimento e a inclusão das pessoas com deficiência são garantidos por normas constitucionais, internacionais e infraconstitucionais. • É razoável a adaptação no sentido da redução da jornada de trabalho dos servidores públicos sem redução de vencimentos. • Ausência de ônus excessivo à Administração Pública ; • Cumprimento de direitos e garantias das pessoas com deficiência; • Omissão do Poder Público não pode servir de justificativa para o não cumprimento de garantias previstas constitucionalmente, sobretudo quando envolvem o princípio da dignidade humana, o direito à saúde, o melhor interesse das crianças e as regras e diretrizes contidas na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD). O adicional de 1/3 (um terço) previsto no art. 7º, XVII, da Constituição Federal incide sobre a remuneração relativa a todo período de férias.STF. Plenário. RE 1.400.787/CE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.241) (Info 1080). Q3 • Controvérsia: Aplicação do 1/3 constitucional limitado a 30 dias. • O art. 7º, XVII, da CF/88 assegura ao trabalhador o gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal, sem limitar o tempo da sua duração; • Art. 7º (...)XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; • Esse direito também se estende ao servidor público por força do art. 39, § 3º, da CF/88. § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. • Assim, se a legislação garante mais de 30 dias de férias anuais para o servidor , o acréscimo de 1/3 incide sobre a o valor pecuniário correspondente, sendo incabível a restrição a 30 dias. Em se tratando de cargos constitucionalmente acumuláveis, descabe aplicar a vedação de acumulação de aposentadorias e pensões contida na parte final do art. 11 da Emenda Constitucional 20/98, porquanto destinada apenas aos casos de que trata, ou seja, aos reingressos no serviço público por meio de concurso público antes da publicação da referida emenda e que envolvam cargos inacumuláveis. STF. Plenário. RE 658.999/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 627) (Info 1080). (Q4, Q5, Q6) • Controvérsia: aplicação do art. 11 da EC 20/98, parte final aos casos de cumulação permitida pela Constituição Federal. • Art. 11. Da EC 20/98 A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição Federal, aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste mesmo artigo. • Este dispositivo se destina unicamente à hipótese excepcional de reingressos no serviço público por meio de concurso público antes de sua publicação e que envolva cargos não acumuláveis. • É possível cumular mais de um cargo ou emprego público nos casos descritos pelo art. 37, XVI, da CF: dois cargos de professor; um cargo de professor com outro técnico ou científico; dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas; em qualquer das hipóteses mencionadas é necessária a compatibilidade de horários. • A cumulação permitida admite: o recebimento acima do teto, pois o limite é definido separadamente para cada um dos vínculos; a aposentadoria nos dois cargos; em caso de morte do servidor, a pensão por morte em relação aos dois vínculos. Não tem direito à indenização de férias-prêmio o servidor estadual cujo vínculo com a Administração Pública, decorrente da Lei Complementar mineira 100/2007, foi declarado nulo, por inobservância dos princípios constitucionais que regem o ingresso no serviço público.STF. Plenário. RE 1.400.775/MG, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.239) (Info 1080). • O art. 7º da LC 100/2007 do Estado de Minas Gerais transformou diversos servidores que mantinham vínculo precário com a Administração Pública em titulares e cargos efetivos, sem concurso público. O vínculo foi declarado nulo na ADI 4.876/MG. • O STF decidiu que esses servidores não possuem direito à indenização a título de férias –prêmio (é devido apenas a remuneração pelo trabalho desempenhado e o depósito do FGTS). O art. 132, V, da Lei nº 8.112/90 prevê que: Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: (...) V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; A “incontinência pública” não se confunde com “conduta escandalosa, na repartição”. A incontinência pública é comportamento de natureza grave, tido como indecente, que ocorre de forma habitual, ostensiva e em público. A conduta escandalosa, por sua vez, pode ocorrer de forma pública ou às ocultas, reservadamente, sendo que, em momento posterior, chega ao conhecimento da Administração.A conduta escandalosa possui natureza autônoma, ostentando, via de consequência, requisitos próprios. Nesse contexto, a conduta praticada pelo ex-servidor - que “filmava, por meio de câmera escondida, alunas, servidoras e funcionárias terceirizadas”, caracteriza conduta escandalosa, prevista no art. 132, V, parte final, da Lei nº 8.112/90, o que atrai a pena de demissão do servidor público. STJ. 1ª Turma. REsp 2006738- PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/2/2023 (Info 764). • Inquérito policial arquivado, em virtude de a polícia entender que não houve crime, não influencia o processo administrativo. As instâncias cível, penal e administrativa são independentes. CONCURSOS PÚBLICOS É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que permite transposição, absorção ou aproveitamento de empregado público no quadro estatutário da Administração Pública estadual sem prévia aprovação em concurso público, nos termos do art. 37, II, da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 1232885/AP, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 13/4/2023 (Repercussão Geral – Tema 1.128) (Info 1090). Q97 e Q98. • O STF analisou dispositivo da Constituição Estadual do Amapá que permitia o aproveitamento de empregados, aprovados mediante concurso, no quadro de administração pública estadual, se ocorresse extinção, fusão, incorporação ou transferência de propriedade, para iniciativa privada ou para a União Federal, de sociedades de economia mista e empresas públicas. • MS impetrado por alguns funcionários. Concessão da segurança pelo Tribunal. Recurso Extraordinário questionando a constitucionalidade do dispositivo. Reconhecimento da repercussão geral. Pedido de desistência do MS. Rejeição. • Tese de repercussão geral relacionada: É lícito ao impetrante desistir da ação de mandado de segurança, independentemente de aquiescência da autoridade apontada como coatora ou da entidade estatal interessada ou, ainda, quando for o caso, dos litisconsortes passivos necessários, a qualquer momento antes do término do julgamento, mesmo após eventual sentença concessiva do ‘writ’ constitucional, não se aplicando, em tal hipótese, a norma inscrita no art. 267, § 4º, do CPC/1973.STF. Plenário. RE 669367, Relatora p/ Acórdão Min. Rosa Weber, julgado em 02/05/2013 (Repercussão Geral - Tema 530) • Na hipótese, o reconhecimento da repercussão geral gera a objetivação do processo. Aplicação do art. 998 e parágrafo único do CPC. • A CF prevê, no art. 37, II, a necessidade de prévia aprovação em concurso público. Respeito à isonomia de acesso a cargos públicos e na concretização dos princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade. Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido. DIREITO DO CONSUMIDOR PLANO DE SAÚDE É devida a cobertura do tratamento de psicoterapia, sem limite de sessões, admitindo-se que está previsto no rol da ANS, nos seguintes termos:a) para o tratamento de autismo, não há mais limitação de sessões no Rol;b) as psicoterapias pelo método ABA estão contempladas no Rol, na sessão de psicoterapia;c) em relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde - CONITEC, de novembro de 2021, elucida-se que é adequada a utilização do método da Análise do Comportamento Aplicada - ABA. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1900671/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 12/12/2022 (Info 764). Q37 RESPONSABILIDADE CIVIL Não se aplicam as Convenções de Varsóvia e Montreal às hipóteses de danos extrapatrimoniais decorrentes de contrato de transporte aéreo internacional. STF. Plenário. RE 1.394.401/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.240) (Info 1080) (Q7) • Conflito entre o CDC, que garante ao consumidor o princípio da reparação integral do dano (art. 14), e as convenções de Varsóvia e de montreal (art. 22), que determinam a indenização tarifada em caso de transporte internacional. • Segundo o STF, o art. 178 da CF determina que as convenções prevalecem sobre o CDC. • Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade. • Critérios usados para resolver a antinomia: 1) a Convenção de Varsóvia é um tratado internacional comum e, por isso, está no mesmo nível hierárquico que o CDC; 2) os acordos internacionais são mais recentes que o CDC (Critério cronológico);as convenções são normas especiais em relação ao CDC, pois disciplinam modalidade especial de contrato, qual seja, o contrato de transporte aéreo internacional. • O art. 22 da Convenção de Montreal não mencionou claramente a espécie de danos aos quais se referia, mas é preciso considerar que ela representou uma mera atualização da Convenção de Varsóvia, firmada em 1929, quando nem sequer se cogitava de indenização por danos morais. • Assim, se a norma original cuidou apenas de danos materiais, parece razoável sustentar que a norma atualizadora também se ateve a essa mesma categoria de danos. • Além disso, os prejuízos de ordem extrapatrimonial, pela sua própria natureza, não admitem tabelamento prévio ou tarifação . • Convenção de Montreal admitiu a possibilidade de o passageiro elidir o limite indenizatório nela previsto para os casos de extravio de bagagem, realizando uma declaração especial que indique o valor dos bens transportados. • Da mesma forma, o nº 4 do art. 22 deixa claro que a indenização devida em caso de destruição, perda, avaria ou atraso da carga deve levar em consideração o peso total ou o volume da carga transportada. • Seja porque a Convenção de Montreal representou mera atualização da Convenção de Varsóvia, que não tratou de danos morais; seja porque a quantificação dos danos extrapatrimoniais segue sistemática própria avessa a qualquer tipo de tarifação ou tabelamento; seja, finalmente, porque a própria Convenção de Montreal admitiu o afastamento do limite indenizatório legal quando feita declaração especial do valor da bagagem transportada, é possível concluir que ela não incluiu os danos morais. A empresa de administração hoteleira não tem responsabilidade solidária pelo inadimplemento do contrato de promessa de compra e venda de unidades imobiliárias em construção, porquanto não integra a cadeia de fornecimento relativa à incorporação formada pelas sociedades empresárias inadimplentes.STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1914177-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 13/12/2022 (Info 764). Q38 • A empresa de administração hoteleira, responsável pela futura administração de condomínio, não faz parte da cadeia de fornecimento de unidade imobiliária autônoma (apart-hotel) na planta, ainda que exista no contrato a previsão de que o consumidor se obriga a aderir por instrumento particular futuro pool hoteleiro previamente indicado. Logo, ela não possui responsabilidade solidária para integrar o polo passivo de eventual ação de rescisão/resolução decorrente do inadimplemento do contrato de promessa de compra e venda. Também não se trata de defeito relacionado à colocação de imóvel no pool. • Ademais, enquanto não concluída a construção da unidade imobiliária, sequer tem objeto o contrato de administração hoteleira. • Portanto, não há responsabilidade solidária de quem vai administrar um futuro pool hoteleiro, pois sua própria existência depende da conclusão com êxito da construção, o que é facilmente perceptível pelo consumidor. DIREITO TRIBUTÁRIO ANTERIORIDADE As modificações promovidas pelos Decretos nº 9.101/2017 e nº 9.112/2017, ao minorarem os coeficientes de reduçãodas alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a importação e comercialização de combustíveis, ainda que nos limites autorizados por lei, implicaram verdadeira majoração indireta da carga tributária e devem observar a regra da anterioridade nonagesimal, prevista no art. 195, § 6º, da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 1390517/PE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 13/4/2023 (Repercussão Geral – Tema 1.247) (Info 1090). Q99 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal alcança as receitas decorrentes de operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação negocial de sociedade exportadora intermediária. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/2/2020 (Info 966). STF. Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/2/2020 (Repercussão Geral – Tema 674 Q20). • Ponto central: a imunidade do art. 149, §2º, I, da CF é aplicada nas exportações indiretas? • Art. 149, §2º, I, da CF: Não poderá incidir contribuições sociais nem contribuições de intervenção no domínio econômico sobre receitas decorrentes de exportação. • Empresa comercial exportadora(ECE): atua como intermediária nas operações de exportação ou importação, funcionando como elo entre os fabricantes do produto e as empresas que querem compra-lo. • Tradind company (TC) é o nome dado para a empresa comercial exportadora que cumpriu os requisitos legais e obteve o certificado de registro especial, previsto no DL 1248/72. • Vendas por meio de ECE e TC são classificadas como exportações indiretas. • Tanto na exportação direta como na indireta a imunidade é aplicada. • Razões: máxima efetividade; interpretação teleológica do Sistema Tributário Nacional; cumprir o objetivo da imunidade que é desonerar a carga tributária sobre transações comerciais que envolvam venda para o exterior; objetivo do constituinte é cumprido, pois a imunidade visa evitar a exportação de tributos tornando os produtos nacionais mais competitivos. Não incide a contribuição para o PIS e a COFINS sobre as receitas auferidas pelo operador de transporte com o serviço de frete contratado por trading companies. STF. Plenário. RE 1.367.071 AgR- EDv/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/02/2023 (Info 1083). Q21 • Empresa que presta serviço de transporte para uma trade company, ainda que dentro do território nacional, de produtos destinados à exportação, tem direito à imunidade de pis e cofins sobre o valor do frete. • O preço do frete inclui a carga tributária por ele incidente. Se há o tributo sobre o frete automaticamente o preço será repassado pra TC e o produto exportado ficará mais caro. Entendimento contrário frustra o principal objetivo da imunidade que é desoneração das exportações. IMPOSTOS ESTADUAIS Os programas de diferimento ou postergação de pagamento de ICMS — a exemplo do FOMENTAR e do PRODUZIR, do Estado de Goiás — não violam o sistema constitucional de repartição de receitas tributárias previsto no art. 158, IV, da Constituição Federal, desde que seja preservado o repasse da parcela pertencente aos municípios quando do efetivo ingresso do tributo nos cofres públicos estaduais.STF. Plenário. RE 1.288.634/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.172) (Info 1080). (Q8) • A CF prevê que o Estado repassará 25% da receita do ICMS aos Municípios; a CF também prevê que receberão cotas maiores de repasse os Municípios em que ocorreram mais fatos geradores de ICMS. • As parcelas do ICMS que pertencem aos Municípios, na forma do art. 158, IV, da CF/88, são creditadas segundo os critérios e prazos previstos na LC 63/90. • Se o Estado-membro decidir conceder isenção ICMS, os Municípios não podem ser prejudicados na repartição constitucional do tributo. Repercussão Geral Tema 42. Neste tema, o ICMS já estava arrecadado. • Em Goias foi criado o programa “Fomentar”, posteriormente transformado no “Produzir”, que garantem o diferimento do recolhimento do ICMS, e , por consequência, causam o atraso do repasse aos municípios. • Os programas mencionados no parágrafo anterior são convalidados pelo Confaz, pela LC 160/2017 e não violam a CF. • A obrigação de transferência ao Município só ocorre quando há efetivo recolhimento do tributo, pois o ICMS postergado ainda não é considerado receita pública. É constitucional — pois preservada a sua destinação ao “Sistema S”, configurando pleno atendimento ao critério da pertinência entre o destino efetivo do produto arrecadado e a finalidade da tributação — a incidência da contribuição destinada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural. STF. Plenário. RE 816.830/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 801) (Info 1080). (Q9) IMPOSTOS MUNICIPAIS É constitucional a incidência de ISS sobre a cessão de direito de uso de espaços em cemitérios para sepultamento, pois configura operação mista que, como tal, engloba a prestação de serviço consistente na guarda e conservação de restos mortais inumados. Plenário. ADI 5869/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/02/2023 (Info 1083). Q39, Q40 e Q41. • No caso o autor da ADI defendia que sobre a cessão de uso de espaços em cemitérios para sepultamento não deveria incidir ISS, apesar da previsão expressa na lei, pois não há obrigação de fazer, esforço humano, oferecimento de utilidade para outrem conjugada com entrega de bem. • Para lembrar: a lista anexa à LC 116/2003 é taxativa; Cabe à LC disciplinar conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, Estados, CF e municípios (art. 146, I, CF); critério definido no art. 1º, §2º da LC 116/2003; operações mistas: contribuinte realiza prestação de serviço e também fornece mercadorias. Regra: incide ISS se o serviço estiver na lista. Não estando incide ICMS. Há exceções previstas na lei em que nas operações mistas incide ICMS e ISS. • São três as linhas principais de pensamento em relação à solução de conflitos entre ISS e ICMS: 1) teoria civilista: ISS apenas incide sobre obrigações de fazer; as obrigações de dar são reservadas à tributação estadual; 2) primazia da lista de serviços: fundamenta-se na literalidade da Constituição, a qual atribuiria a competência para dirimir os conflitos à LC.; 3) Bens tangíveis e intangíveis: os primeiros passíveis de tributação pelo ICMS e os segundos pelo ISS. • Quando a empresa faz a cessão do uso do espaço de cemitério para sepultamento ela está também prestando serviços que envolvem a guarda ou custódia dos cadáveres. Por isso, enquadra-se no conceito tradicional de serviços. Há, de fato, uma obrigação mista, mas que diante da previsão na LC 116 reclama o recolhimento de ISS. DIREITO FINANCEIRO É vedada a utilização das emendas do relator-geral do orçamento com a finalidade de criar novas despesas ou de ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, uma vez que elas se destinam, exclusivamente, a corrigir erros e omissões (art. 166, § 3º, III, alínea “a”, da CF/88). STF. Plenário. ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 19/12/2022 (Info 1080). • Orçamento secreto: Termo criado pela mídia, pois não era possível identificar qual deputado ou senador criou a emenda e/ou o destino da verba. • Há quatro tipos de emendas: As individuais (indicadas por um congressista específico); as de bancada (atendem às bancadas de cada unidade da federação ), de comissão (solicitadas por esses órgãos colegiados do Congresso) e de relator. • As usadas no orçamento secreto são as emendas de relator, sob o código RP9. Elas são incluídas pelo relator geral do orçamento, um parlamentar escolhido a cadaano para ser o responsável pela redação final do texto. • As emendas de relator costumavam ser usadas apenas para fazer pequenas correções no orçamento. Em 2020, uma regra mudou isso. Essas emendas passaram a destinar bilhões de reais para obras, compras de veículos e diversos outros gastos, sem transparência e às vezes ligados a indícios de corrupção. • Funcionava assim: o relator-geral incluía no orçamento uma emenda genérica destinando verbas extras a um órgão do governo- para o Ministério do Desenvolvimento Regional, por exemplo. Em seguida, os parlamentares que tinham acordos com o governo ou com o comando da Câmara e do Senado enviaram ofícios – não disponíveis ao público- ao respectivo órgão, pedindo a transferência de verbas de sua “quota” para, por exemplo, asfaltar vias de trânsito ou comprar tratores. O dinheiro era então repassado. • Razões pelas quais o STF decidiu pela inconstitucionalidade: As emendas do relator (classificadas sob o indicador RP 9) são incompatíveis com a CF em virtude de seu caráter anônimo, sem identificação do proponente. Isso porque operam com base na lógica da ocultação dos efetivos requerentes, por meio da qual todas as despesas nela previstas são atribuídas, indiscriminadamente, à pessoa do relator-geral do orçamento, entre parlamentares incógnitos e o orçamento público federal. • Assim, a sua utilização subverte o regramento constitucional para confecção do orçamento público (arts. 165 e 166 da CF). • É condição de validade dos atos que compõe o ciclo orçamentário a sua prática com atenção e fidelidade aos postulados republicados e com a transparência necessária à garantia de acesso de todos às informações de interesse público, desde a elaboração e o planejamento até a realização das despesas públicas (arts. 1º, caput, e parágrafo único; art. 5º, XXXIII; 37, caput e §3º, II, da CF/88). • Ademais, o condicionamento da liberação de recursos contemplados nas aludidas emendas à adesão de parlamentares aos interesses do governo em votações, ainda que potencial, evidência desvio de finalidade na distribuição dos recursos do orçamento, o que é incompatível com o princípio constitucional da separação dos poderes (art. 2º, da CF/88). • Portanto, as indicações de beneficiários e prioridades de despesas operacionalizadas, em caráter primário, por meio de emendas do relator-geral do orçamento, são incompatíveis com a ordem constitucional democrática e republicana, em especial porque não observam os critérios objetivos orientados pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência(art. 37, caput), além de desobedecerem os princípios da máxima divulgação, da transparência, da acessibilidade das informações, do fomento à cultura da transparência e do controle social, nos termos da lei de acesso à informação (art. 3º, I a V, da L 12527/2011). Fonte: vídeo prof Ubirajara. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NNL2tozif5g É constitucional a exigência legal de renúncia expressa e irrevogável pelos Estados-membros ao direito em que se fundam ações judiciais que discutem dívida ou contrato objeto de renegociação com a União.STF. Plenário. ADI 7168/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083). Q23 • A LC 156/2016 estabeleceu um plano de auxílio aos Estados e DF e a possibilidade de refinanciamento de dívidas dos E e DF com a União. Para ter direito ao benefício os entes deveriam renunciar ao direito sobre eventuais ações proposta contra a União questionando a dívida. • Discutiu-se, portanto, se a previsão vai de encontro à inafastabilidade da jurisdição. • Decidiu-se que não, pois é uma faculdade celebrar/aceitar a proposta. • Exigência garante que ocorra a apuração e consolidação segura dos saldos devedores, eliminando interferências externas. • Permitir o prosseguimento das demandas infringiria os deveres de lealdade e colaboração federativa. DIREITO PREVIDENCIÁRIO APOSENTADORIA A enfermidade ou doença mental, ainda que tenha sido estabelecida a curatela, não configura, por si, elemento suficiente para determinar que a pessoa com deficiência não tenha discernimento para os atos da vida civil. É inconstitucional — por ofensa aos princípios da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana — norma que prevê o pagamento da aposentadoria por invalidez decorrente de doença mental somente ao curador do segurado, condicionado à apresentação do termo de curatela, ainda que provisório.”.STF. Plenário. RE 918315/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1.096) (Info 1080).Q22 • A lei vai de encontro ao Código Civil e ao estatuto da pessoa com deficiência que não exige a curatela para todo portador de doença mental. DIREITO ELEITORAL A exceção à exigência de votação nominal mínima, prevista para a posse de suplentes, constante do art. 112, parágrafo único, do Código Eleitoral, não ofende a Constituição. STF. Plenário. ADI 6657/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083). Q24 • Inexistência de ofensa à soberania popular e ao princípio da adequada representatividade. • Os dispositivos constitucionais não trazem regra concreta e específica para as eleições proporcionais. Logo, compete à legislação infraconstitucional estabelecer as minúcias do sistema eleitoral proporcional. Decidir de forma contrária significaria afastar a vontade do legislador infraconstitucional. • Eventual futura vacância deve ser suprida por candidatos da mesma representação partidária (lembre-se a cadeira é do partido), com a finalidade de garantir a manutenção da vontade popular no curso da legislatura. • Exigir desempenho nominal mínimo dos suplentes para eventual assunção do mandato, especialmente em relação aos partidos menores, implicaria na supressão da representatividade legitimamente conquistada pela agremiação partidária, reduzindo a variedade de posições político ideológicas representadas no parlamento. • Para o STF a opção legislativa de excluir os suplentes da exigência de votação nominal mínima é razoável e prestigia o sistema proporcional e os partidos políticos. Em regra, nas eleições proporcionais, devem ser computados como válidos para os partidos políticos os votos dados aos candidatos “sub judice” cujos registros de candidatura estejam deferidos ou sem análise pela Justiça eleitoral na data da realização do sufrágio e que, após a votação, sejam indeferidos por decisão judicial. Por força dos princípios democrático, da soberania popular e da centralidade dos partidos políticos no sistema eleitoral proporcional, o parágrafo único do art. 16-A da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições) deve ser interpretado no sentido de excluir da contagem para as legendas apenas os votos atribuídos ao candidato sub judice cujo registro esteja indeferido no dia da votação. STF. Plenário. ADI 4513/DF, ADI 4542/DF e ADPF 223/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 13/4/2023 (Info 1090). Q92, Q93, Q94, Q95, Q96 • De início, destaque-se que a lei prevê que todos os atos relacionados ao registro de candidatura devem ser concluídos até vinte dias antes da data das eleições. Porém, nem sempre é possível julgar todos os registros antes do fim do prazo. • Artigo interpretado: Art. 16-A. (...) Parágrafo único.O cômputo, para o respectivo partido ou coligação, dos votos atribuídos ao candidato cujo registro esteja sub judice no dia da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato. • Esse dispositivo visa retirar os incentivos para que os partidos lancem ou mantenham na disputa candidatos manifestamente ilegíveis. O candidato com candidatura indeferida deve concorrer por sua conta e risco, ciente de que os votos não serão computados nem para o candidato, nem para o partido. • Problemas atuais do processo eleitoral: 1) permissão para as eleições acontecerem sem a definição de quais candidatossão elegíveis; 2) efeitos negativos sobre a soberania popular e princípio democrático, diante da insegurança jurídica;3)prejuízo à economicidade: autorização para a realização de propaganda eleitoral financiada com recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, por candidatos que não sabem se serão validamente habilitados ou de candidatos que tiveram os registros indeferidos, mas ainda não tiveram o recurso apreciado. • Candidaturas sub judice podem ser classificadas em : 1) registro indeferido e com recurso pendente; 2) registro deferido e com recurso pendente; 3) registro ainda não apreciado. Para o STF, o art. 16-A, parágrafo único, aplica-se somente para a primeira hipótese. As demais hipóteses são regidas pelo art. 175, §4º do Código Eleitoral, que dispõe que os votos obtidos pelos candidatos que tiveram o registro indeferido por decisão superveniente devem ser computados e considerados na definição do quociente partidário. • Enquanto não sanadas essas disfunções, os dispositivos correlatos devem ser interpretados sob a ótica dos princípios democrático e da soberania popular, dos quais decorre o postulado máximo do aproveitamento dos votos. • Por fim, o julgado ponderou que o entendimento firmado não se aplicaria à hipótese de candidatura que venha a ser posteriormente cassada por ilícitos eleitorais graves, a exemplo de falsidade, fraude, coação, captação ilícita de sufrágio, abuso de poder econômico, político ou uso indevido de meios de comunicação. Nessas situações, os votos são inválidos e anulados para todos os efeitos, inclusive para o partido político, como preceituam os arts. 222 e 237, do Código Eleitoral. • Tabelinha perfeita do dizer o direito para sintetizar o entendimento acima: DIREITO CIVIL DIREITO REAIS Nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções erguidas em desacordo com as regras urbanísticas ou ambientais é prescindível a citação dos coproprietários do imóvel para integrarem a relação processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário. STJ. 1ª Turma. REsp 1830821-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/2/2023 (Info 764). Q42, Q3, Q44. • Previsão de ação demolitória e ação de nunciação de obra nova no CPC 73. Ausência de previsão no CPC 15. Em razão disso, ações continuam existindo e deverão seguir o procedimento comum. • A ação de nunciação de obra nova revela-se como uma tutela preventiva, e a demolitória como uma tutela repressiva. • Desnecessidade de litisconsórcio. O direito de propriedade permanece intocado. A demolição da obra seria é apenas uma consequência natural do cumprimento da decisão judicial, que impôs a obrigação de demolir as construções erguidas ilicitamente, vale dizer, em desacordo com a legislação de regência. • (..)prescindível a citação do cônjuge, seja porque se está no âmbito de responsabilidade solidária, seja porque as ações traduzem pretensões conectadas à degradação da qualidade de vida ambiental ou urbanística, causada por atividade, empreendimento ou obra irregular, relação jurídica controvertida destituída, no núcleo central da sua natureza, de discussão acerca da propriedade ou posse do imóvel. • STJ. 2ª Turma. EDcl no AREsp 1.580.652/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/8/2020. BEM DE FAMÍLIA O fato de o bem imóvel ter sido adquirido no curso da demanda executiva não afasta a impenhorabilidade do bem de família. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 2.182.745-BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/4/2023 (Info 771). Q100. • Utilizar dinheiro, que é penhorável, para adquirir um bem impenhorável (casa para moradia, por exemplo) não configura, por si só, fraude à execução, tampouco afasta a proteção conferida ao bem de família. • Relatividade das regras que estabelecem a impenhorabilidade. Exceções previstas no art. 3º da Lei n. 8.009/90 devem ser demonstradas para afastar o direito. • Necessidade de analisar o art. 4º da Lei n. 8.009/90.Ausência de prova má-fé ou insolvência, no caso concreto. • Ausência de alienação ou oneração de outros bens. • A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. PROCESSO CIVIL HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Os honorários recursais não têm autonomia nem existência independente da sucumbência fixada na origem e representam um acréscimo ao ônus estabelecido previamente, motivo pelo qual, na hipótese de descabimento ou de ausência de fixação anterior, não há que se falar em honorários recursais. Assim, não são cabíveis honorários recursais na hipótese de recurso que mantém acórdão que reconheceu error in procedendo anulou a sentença, uma vez que essa providência torna sem efeito também o capítulo decisório referente aos honorários sucumbenciais e estes, por seu turno, constituem pressuposto para a fixação (“majoração”) dos honorários em grau recursal.STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 2004107-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2022 (Info 764). Q45 • Requisitos para fixação dos honorários recursais: 1) decisão recorrida pulicada a partir de 18.3.2016, quando entrou em vigor o CPC/15; 2) recurso não conhecido integralmente ou não provido, monocraticamente ou pelo órgão colegiado competente; 3) condenação em honorários desde a origem no feito em que interposto o recurso. • Os honorários recursais não têm autonomia nem existência independente da sucumbência fixada na origem e representam um acréscimo. • No caso analisado pelo STJ, existia a prolação de uma sentença com a condenação em honorários sucumbenciais, mas, posteriormente, ocorreu o superveniente provimento de recurso, com o reconhecimento de error in procedendo e a anulação da decisão. Assim, acarretou o desfazimento também da estipulação da sucumbência originária, de modo que, se não subsiste a condenação em honorários na origem, não há que se falar em sua majoração em sede recursal. • Error in procedendo. Vícios de atividade são entendidos como vícios formais do procedimento ou da própria decisão impugnada e comumente identificados pela expressão latina error in procedendo. Quando o vício é da própria decisão fala-se de error in procedendo intrínseco, tal como uma sentença extra petita ou um acórdão sem fundamentação. Nesse caso, o recorrente em regra pede a anulação da decisão e a devolução do processo ao órgão responsável por sua prolação para que nova decisão seja proferida em seu lugar. Aplicando-se a teoria da causa madura (art. 1.013, § 3º, do CPC), que já foi analisada no Capítulo 70, item 70.4.2, admite-se que, anulada a decisão, o próprio órgão competente para o julgamento do recurso profira uma nova decisão para substituir o pronunciamento impugnado. Sendo o vício do próprio procedimento, anterior à decisão impugnada, fala-se em error in procedendo extrínseco. Nessa espécie de vício é importante considerar o art. 278 do CPC, porque, sendo o vício de nulidade relativa, cumpre à parte argui-lo no primeiro momento em que falar nos autos, sob “pena” de preclusão, com a consequente convalidação do vício. Dessa forma, só poderá a parte alegar em recurso um error in procedendo extrínseco que gere uma nulidade relativa se a primeira vez que falar nos autos se der por meio do recurso. Já as nulidades absolutas não precluem, de forma que a parte poderá alegar tais espécies de vício em sede recursal, mesmo que o vício já exista antes da decisão impugnada e ela já tenha se manifestado anteriormente nos autos sem alegá-lo. Em regra, o error in procedendo extrínseco é dessa espécie, como a ausência de litisconsorte necessário, a ausência do Ministério Público em processo no qual deveria participar como fiscal da ordem jurídica etc.” (Manual de direito processual civil