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Sistemas de Transmissão de Potência Design de Máquinas Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Pe Sabóia de Medeiros (FEI) 53 pag. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark https://www.docsity.com/pt/ai/?utm_source=cta&utm_medium=document&utm_campaign=AIQR 3 - 1 Capítulo 3 Sistemas de Transmissão de Potência Um dos principais objetivos dos sistemas mecânicos é a transmissão e conversão de potência. A primeira parte deste capítulo tem como objetivo o estudo dos processos específicos através dos quais a energia é convertida, armazenada e transmitida através dos sistemas mecânicos enquanto a segunda parte foca principalmente nos sistemas de transmissão convencionais e epicicloidais. Tais sistemas tem adquirido importância devido ao seu alto rendimento e desempenho. 3.1 Introdução e Conceitos Fundamentais De maneira geral, a energia existe sob variadas formas, mas para os sistemas encontrados em engenharia, estas formas são: nuclear, química, mecânica, térmica, fluida e eletromagnética. Este capítulo trata principalmente dos sistemas mecânicos do ponto de vista da conversão e da transmissão de energia. Como exemplo inicial das transmissões e conversões de potência em um sistema mecânico cita-se a geração de potência por uma usina termoelétrica. Inicia-se com a energia química armazenada originalmente em combustíveis fósseis, a qual é convertida em energia térmica pela queima na caldeira. Através da passagem de um líquido pela tubulação da caldeira, a energia térmica é convertida em energia fluída pela evaporação desse líquido e aumento da pressão na tubulação. Em seguida a energia fluida é convertida em energia mecânica pela passagem do vapor superaquecido em uma turbina, a qual aciona um gerador elétrico. No gerador, a energia mecânica é convertida em energia elétrica pelo movimento rotativo de um imã móvel em um campo magnético. A energia elétrica é, então, transportada por linhas de transmissão até residências e fábricas onde, finalmente, é reconvertida em algumas das formas anteriores para o uso apropriado. Vê-se, portanto, que a energia pode ser convertida, transmitida e reconvertida segundo todas as formas anteriores. Em sistemas mecânicos é comum a utilização de diversos mecanismos e máquinas que fazem uso de movimentos lineares e rotativos. A transmissão de energia fluida se faz através de tubulações, bombas e acumuladores, enquanto que em sistemas elétricos utilizam- se linhas de transmissão, ondas magnéticas, etc. 3.1.1 Conversão e transmissão de energia O conceito de potência é definido como a taxa instantânea de transmissão de energia E que um determinado processo fornece ou requer, ou seja, P = Ė. Por processo entende-se aqui qualquer conversão ou transmissão de energia onde a variável tempo é implícita. No entanto, considerando as formas de energia descritas anteriormente, é comum que o conceito de potência seja descrito através da variação de dois parâmetros. Um desses parâmetros indica a capacidade ou potencial de realizar ou consumir trabalho, sendo chamado de parâmetro potencial. O outro indica o fluxo ou passagem da energia pelo sistema, sendo chamado de parâmetro dinâmico. Por convenção, o parâmetro potencial é sempre escrito através de letras maiúsculas e o dinâmico através de letras minúsculas. Por exemplo, é comum caracterizar o comportamento de saída de motores elétricos rotativos, turbinas e motores a combustão interna através do torque no eixo de saída em função da velocidade angular, ou seja T(ω), sendo torque o parâmetro potencial – com capacidade latente de realizar trabalho – e a velocidade o parâmetro dinâmico – no sentido de taxa de transformação. A tabela 3.1 apresenta os parâmetros mais utilizados para a caracterização da potência. Define-se, portanto, um conversor de energia como qualquer equipamento ou processo cujo objetivo principal é alterar a forma da energia transmitida. Por exemplo a conversão de energia elétrica em mecânica em um motor CA ou a conversão do movimento rotativo em linear em um fuso de esferas. Os equipamentos que podem operar nos dois sentidos de conversão ou transmissão Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 2 são chamados reversíveis, enquanto os que tem apenas uma direção de operação são chamados irreversíveis. As condições de reversibilidade ou irreversibilidade de um determinado equipamento dependem tanto de suas características físicas quanto da natureza do processo. processo potencial dinâmico mecânico (linear) força (F) velocidade linear (v) mecânico (rot) torque (T) velocidade angular (ω) elétrico voltagem (U) corrente elétrica (i) fluido pressão (P) vazão (q) térmico temperatura (T) fluxo de calor (qT) Tabela 3.1: parâmetros potencial e dinâmico A conversão entre as diversas formas de energia se faz através de vários equipamentos diferentes. A terminologia utilizada para tais equipamentos está indicada na figura 3.1. Por outro lado, a transmissão de potência utiliza equipamentos cujo objetivo não é mudar a forma, mas parâmetros específicos da energia sendo transmitida. É o caso, por exemplo, de trocadores de calor em sistemas térmicos, transformadores e linhas de transmissão em sistemas elétricos, caixas de engrenagens em sistemas mecânicos e tubulações em sistemas fluidos. Figura 3.1: conversões típicas de energia em sistemas mecânicos. Neste ponto é interessante lembrar o papel que a segunda lei da termodinâmica desempenha nos processos de conversão de energia. Observa-se experimentalmente em qualquer processo de conversão ou transmissão que uma parte da energia sendo transmitida é dissipada (usualmente sob a forma de calor), indicando a existência de certo grau de irreversibilidade. Tal irreversibilidade é característica inerente do processo e, na maior parte das vezes, do seu ponto de operação. É o caso dos motores à combustão, turbinas a vapor, geradores elétricos e bombas. Por outro lado, alguns sistemas de transmissão têm seu rendimento praticamente constante para uma ampla faixa de operação. É o caso das caixas de transmissão por engrenagens, motores elétricos CA e transformadores elétricos. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 3 Em sistemas termodinâmicos o grau de irreversibilidade é geralmente caracterizado através da propriedade física entropia, mas em sistemas mecânicos complexos que envolvem múltiplos fenômenos e/ou transformações, a irreversibilidade é melhor caracterizada através do fator de rendimento η característico do conversor ou processo, onde 0 ≤ ηonde P1 e P2 são as potências fornecidas às buchas, ou seja: Pmηrol3 ηeng2 ηcor = P1ηfuso + P2ηcrtηrolηfuso Assume-se que o peso do veículo seja igualmente dividido entre os fusos, de onde segue que R1 = R2 = mg onde m é metade da massa do veículo e g é a aceleração da gravidade. Consideranto que P1 = P2 = mgvbucha e Pm = Tmωm , a equação de potências pode ser reescrita como: Tmωmηrol3 ηeng2 ηcor = F. vbuchaηfuso + F. vbuchaηcrtηrolηfuso, onde vbucha é também a velocidade de subida do veículo. Relacionando agora a rotação ωm do motor com a velocidade da bucha: ωfuso = ωmi1i2i3 onde ωfuso = 2π. vbuchaz. p → ωm = 2π. vbucha . i1 i2 i3z. p onde i1, i2 e i3 são, respectivamente, as relações de transmissão dos pares 1-2, 3-4 e 5-6. Dessa forma, substituindo a equação acima na equação de continuidade, obtém-se a equação para o torque exigido do motor em termos da demanda: Tm = z. p2π. i1 i2 i3. ηrol3 ηeng2 ηcor ( R1ηfuso + R2ηcrtηrolηfuso) ou seja: Tm = 2 . 0,0052π . 2 . 4,5 . 2 . 0,993 . 0,982 . 0,985 (1300 . 9,80,52 + 1300 . 9,80,96 . 0,99 . 0,52) = 4,84 Nm Substituindo o valor de Tm na equação do motor e resolvendo para ωm obtém-se o ponto de equilíbrio do sistema: T(ω) = 7,1 − 2x10−4ω2 = 4,84 Nm resolvendo para ωm > 0 tem-se ωm = 106,3 rad/s ou nmotor = 1015 rpm. A velocidade de subida do veículo é calculada utilizando a equação para ωm, ou seja, ωm = 2π. vbucha . i1 i2 i3z. p → 106,3 = 2π. vbucha . 2 . 4,5 . 2 2 . 0,005 , vbucha = 0,0094 m/s = 0,56 m/min A potência consumida pelo motor no ponto de equilíbrio é calculada como: Pmotor = ω. T(ω) = 106,3 . (7,1 − 2x10−4106,32) = 514,5 W = 0,7 hp Finalmente, uma vez que este sistema possui múltiplas entradas/saídas, é mais conveniente calcular o rendimento total através de: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 29 ηtotal = ∑Psaída∑Pentrada = R1v + R2vPmotor = 1300 . 9,8 . 0,0094 + 1300 . 9,8 . 0,0094514,5 = 0,47 o que representa um rendimento moderadamente baixo. As perdas no conjunto são influenciadas principalmente pelo baixo rendimento dos fusos trapezoidais. Essas perdas e, portanto, a própria posição do ponto de equilíbrio, podem ser alteradas, aumentando ou diminuindo o número de entradas do parafuso. Deixa-se a cargo do leitor refazer os cálculos para o caso de um fuso com três entradas4. 3.2.3 Exemplo: sistema em paralelo com conversores de energia A figura a seguir ilustra um sistema mecânico que utiliza duas bombas centrífugas idênticas ligadas em série. Para garantir a mesma rotação nos rotores das bombas foi proposta a utilização de apenas um único motor de acionamento através de uma transmissão mecânica. São fornecidas curvas para a saída e eficiência das bombas individuais assim como a curva de saída do motor trifásico para certa tensão de alimentação. A curva do sistema a partir do ponto D é indicada como R(q), desprezando-se a perda de pressão entre os trechos C e D da tubulação. Os rendimentos dos elementos da transmissão mecânica são ηrol=0,99 e ηeng=0,98. Despreza-se a perda de potência nos acoplamentos. O objetivo deste exemplo é a determinação do ponto de operação do sistema levando-se em conta as perdas na transmissão mecânica. SOLUÇÃO: Inicia-se a solução pela determinação da curva de demanda do sistema vista pelo motor. Como as bombas são iguais e estão ligadas em série a vazão das duas é a mesma e a pressão no ponto D do sistema de bombeamento é obtida somando-se as pressões de cada bomba. Com isso obtém- se, a partir das curvas individuais, a curva da associação para as três rotações fornecidas (na verdade multiplica-se a pressão de saída de cada bomba por dois, já que as bombas são iguais). Tais curvas são indicadas, na figura a seguir pelas linhas tracejadas. Os pontos de intersecção entre a curva R(q) e as curvas do sistema de bombeamento representam os possíveis pontos de equilíbrio para as três rotações, indicados pelas letras A, B e C. Para o ponto A, referente à rotação de 40 rps, obtém-se q=16,3 m3/h e P=91,8 mca. Pelo gráfico de rendimento da bomba, com a vazão de 16,3 m3/h obtém-se um rendimento η=0,62 para este ponto. 4 Nesse caso, ηfuso = 0,62, Tm = 4,06 Nm e vbucha = 0,98 m/s Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 30 Para o ponto B, referente à rotação de 50 rps obtém-se q= 30,7 m3/h, P=100,7 mca e η=0,74 e, para o ponto C, q=40,5 m3/h, P=109,4 mca e η=0,81. Equacionando a transmissão de potência entre as bombas e o motor, tem-se (no SI): Tmotor ωmotor = P1. q1η1 ηrol ηeng + P2. q2η2 ηrol ηeng Onde os sub-índices 1 e 2 referem-se ao número da bomba. Na equação acima deve-se ter o cuidado de representar as pressões nas bombas individuais como a metade da pressão total Aplicando a equação acima para as diversas rotações obtém-se os pontos da curva de carga: Para nmotor = 40 rps = 251,3 rad/s: Tmotor . 251,3 = 91,8/2 . 9800 . 16,3/36000,62 . 0,99 . 0,98 + 91,8/2 . 9800 . 16,3/36000,62 . 0,99 . 0,98 → Tmotor = 26,945 Nm Para nmotor = 50 rps = 314,2 rad/s: Tmotor . 314,2 = 100,7/2 . 9800 . 30,7/36000,74 . 0,99 . 0,98 + 100,7/2 . 9800 . 30,7/36000,74 . 0,99 . 0,98 → Tmotor = 37,31 Nm Para nmotor = 60 rps = 377 rad/s: Tmotor . 377 = 109,4/2 . 9800 . 40,5/36000,81 . 0,99 . 0,98 + 109,4/2 . 9800 . 40,5/36000,81 . 0,99 . 0,98 → Tmotor = 40,71 Nm Tais pontos estão mostrados na figura abaixo. A curva que passa pelos pontos A, B e C representa a curva de demanda vista agora pelo motor. O ponto de intersecção da curva de demanda do sistema com a curva de performance do motor indica o ponto de equilíbrio real do motor, ocorrendo com Tmotor = 31,8 Nm e nmotor = 43,4 rps. A potência fornecida é de 8,67 kW. Para a determinação da vazão fornecida, retorna-se às curvas da associação de bombas, desta vez com a rotação imposta de 43,4 rps. O ponto de intersecção indica a vazão e a pressão na saída do sistema de bombeamento, ou seja, q=21,3 m3/h e P = 94,4 mca. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 31 Pode-se calcular, finalmente, o rendimento global do sistema de forma similar ao exemplo anterior: ηtotal = ∑Potsaída∑Potentrada = P. qPotmotor = 94,4 . 9800 . 21,3/36008670 = 0,631 É importante lembrar que a maioria das aplicações práticas que envolvem sistemas de bombeamento utilizam motores trifásicos NEMA A ou B, cuja característica principal é manter a rotação aproximadamente constante para uma ampla faixa de torques. Nesse caso não seriam necessárias as curvas das bombas para várias rotações e a solução do problema seria consideravelmente mais simples. Este tópico, presente na maioria dos catálogos de bombas, é discutido no exercício proposto (numero ?). 3.3 Sistemas de transmissão epicicloidal (planetários) As transmissões planetárias têm como características principais o alto rendimento e a possibilidade de alcançar relações de transmissão maiores que aquelas obtidas com engrenagens de eixos fixos. Além disso, tais sistemas tendem a ser mais compactos devido à divisão de carga entre os elementos da transmissão. Entretanto, o custo de tais sistemas é maior que os das transmissõesconvencionais. Em primeiro lugar os requisitos de fabricação, principalmente as tolerâncias geométricas, de forma e de posição, são muito mais exigentes. Em segundo, os materiais empregados e os custos de fabricação dos diversos elementos tendem a ser mais caros. O termo epiciclo foi primeiro utilizado pelos gregos Ptolomeu e Apolônio de Perga para descrever o movimento dos planetas e da lua (Hanson, 1960). De fato, já por volta de 150 AC, matemáticos gregos já utilizavam a teoria do movimento epicicloidal no famoso mecanismo de Antikytera (Edmunds, 2011). A figura 3.29 descreve o modelo astronômico criado por Ptolomeu e a sua contraparte atual. Nesse modelo, Ω representa a rotação do ponto B ao redor de A, ω a rotação de P ao redor de B e o epiciclo representa a trajetória do ponto P. Figura 3.29: Modelo astronômico criado por Ptolomeu e a contraparte atual 3.3.1 Definições O estudo cinemático de um trem epicicloidal começa com a definição dos elementos que o constituem. A identificação do papel dos diversos elementos do trem permitirá o estudo de sistemas muito mais complexos que aquele mostrado na figura 3.29, chamado doravante de planetário básico. Um sistema epicicloidal ou planetário é construído a partir dos seguintes elementos: a) satélites: são as engrenagens cujo eixo não é fixo, isto é, os eixos das engrenagens satélites sofrem translação curvilínea. Na figura 3.29 o satélite é representado pela engrenagem S. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 32 Embora haja três engrenagens satélites, só existe necessidade de indicar o movimento de uma delas, visto que o movimento das outras é idêntico. b) planetas: são as engrenagens cujo eixo não translada e que estão engrenadas a satélites. De acordo com essa definição, as engrenagens R e T na figura 3.29 são planetas. Em alguns textos, como por exemplo em Shigley (2003) ou Norton (1998) faz-se uma distinção entre engrenagem “solar”, representada pelo planeta T e anular, representada por R. Essa distinção, entretanto, só se aplica ao planetário básico da figura 3.29 e, por essa razão, será descartada no presente texto. c) braços: são os elementos que, ao girar, provocam a translação nos eixos das satélites. O elemento “braço” pode, inclusive, ser constituído por uma outra engrenagem, dependendo do sistema. Na figura, o braço é representado pela peça D. É importante notar que, para ocorrer o movimento epicicloidal nos satélites, é necessário que a rotação do braço seja independente das rotações dos planetas. d) engrenagens comuns: são as engrenagens cujo eixo não translada e que não se encontram engrenadas com nenhum satélite. e) caminho, percurso engrenado ou cadeia cinemática: define-se o caminho de um trem epicicloidal como uma sequência de elementos ligados através de vínculos cinemáticos criados a partir das relações de transmissão. Para definir o caminho deve-se seguir as regras abaixo: i. todo caminho deve ser iniciado em uma engrenagem com eixo fixo, preferencialmente em um planeta ii. as sequências A → B ou B → A só devem fazer parte do caminho se os elementos A e B estiverem ligados por vínculos cinemáticos, isto é, estiverem engrenados. iii. o caminho deve prosseguir até que todos os planetas do trem façam parte dele ou que não seja possível continuar devido à ausência de engrenamento. iv. caminhos que contém os mesmos elementos mas em uma ordem diversa são equivalentes. v. ao final do caminho indica-se os braços dos satélites contidos nele. Por exemplo, no trem básico da figura 3.29, os caminhos R→S→T, br D ou T→S→R, br D representam, ambos, caminhos possíveis equivalentes. f) número de estágios: o número de caminhos independentes necessários para conter todos os planetas define o número de estágios do trem epiciploidal. Para exemplificar a aplicação dessas definições, considera-se os trens epicicloidais mostrados na figura 3.30. Nestas figuras, os rolamentos indicam eixos impossibilitados de transladar. No primeiro trem, as engrenagens B e C são os satélites devido ao movimento circular da peça G ao redor do seu próprio eixo. Nota-se que a rotação de G é independente da de D e E uma vez que o seu eixo é montado com folga no furo feito em D e E (indicado pela presença das linhas pontilhadas). As engrenagens A e D são os planetas pois estão engrenadas com os satélites B e C e são impossibilitadas de transladar. E e F não estão engrenadas com satélites, sendo portanto engrenagens comuns. Para traçar os caminhos deste trem, deve-se iniciar por um planeta – por exemplo a engrenagem A. De A passa-se para B devido ao engrenamento. É importante observar que, pelas definições acima, não se pode passar de B para C pelo fato de B e C não estarem engrenadas (ainda que a rotação de B seja igual a C). Dessa forma, o caminho finaliza no satélite B. Como não foram incluídos todos os planetas, outro caminho deve ser construído. Iniciando-se em D, então, passa-se para C, onde este caminho finaliza pela ausência de demais engrenamentos. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 33 Dessa forma, vê-se que são necessários dois caminhos para passar por todos os planetas, o que indica a existência de dois estágios neste trem. Estes caminhos são representados como: caminho 1: A → B, br G caminho 2: D → C, br G Figura 3.30: Trens epicicloidais Para o segundo trem, os satélites são as engrenagens E e F devido à presença da rotação da peça curva. Percebe-se que a rotação dessa peça é a mesma da engrenagem A (braço). O satélite E está engrenado ao planeta G e o satélite F está engrenado ao planeta H. As engrenagens A, B, C e D são comuns. Nota-se que a engrenagem A é tanto comum, relativa ao par AB quanto braço, relativa aos satélites E e F. Os caminhos para este trem são: caminho 1: G → E, br A caminho 2: F → H, br A o que indica a existência de dois estágios para esse trem. 3.3.2 Sistemas de coordenadas girantes Sistemas de transmissão planetária são exemplos de movimento relativo. Dessa forma, em um determinado caminho são necessários dois sistemas de coordenadas para descrever adequadamente o movimento de todas as engrenagens existentes: a) sistema de coordenada fixo: externo ao trem e alinhado com o eixo de rotação do braço. Neste sistema são medidas rotações absolutas das engrenagens. b) sistema de coordenadas móvel: este sistema também deve ser alinhado com o eixo de rotação do braço. A rigor o sistema de coordenadas móvel pode ter rotação arbitrária, mas é mais fácil analisar a transmissão se o sistema móvel for solidário ao braço o tempo todo. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 34 Figura 3.31: Sistemas de coordenadas Dessa forma, através das equações do movimento relativo, as rotações no sistema fixo e no sistema móvel são dadas por: n⃗ abs = n⃗ rel + n⃗ arr (3.29) onde n⃗ abs é a rotação absoluta de um elemento, medida no sistema de coordenadas fixo, n⃗ rel é a rotação relativa do elemento no sistema móvel e n⃗ arr = n⃗ braço é a rotação do sistema girante, também chamada de rotação de arrasto, pois o braço “arrasta”o satélite quando gira. No caso de epicicloidais planos, onde o eixo de rotação dos diversos elementos é colinear, a equação 3.29 pode ser escrita levando-se em conta o sentido de rotação (horária ou anti-horária) dos diversos elementos. É o caso, por exemplo, das transmissões que utilizam engrenagens cilíndricas retas ou helicoidais, tal como o primeiro trem da figura 3.30. No caso de trens com engrenagens cônicas, os vetores rotação na equação 3.29 não são colineares e, dessa forma, as rotações na equação 3.29 não podem ser somadas ou subtraídas como se fossem colineares. 3.3.3 Método Tabelar O método tabelar, tal como descrito por Mabie e Ocvirk (1987) foi adaptado nesse texto para os casos em que a rotação do sistema móvel coincide com a rotação do braço, o que permite considerável simplificação no procedimento sem perda de generalidade. O método pressupõe a criação de uma tabela onde as linhas representam as diferentes rotações na equação 3.29. As colunas representam os diversos elementos da cadeia cinemática (caminho). O método requer a criação de uma tabela para cada caminho independente. Para ilustrar o estudo de trens planetários pelo método tabelar inicia-se com a análise do trem epicicloidal básico da figura 3.29, composto apenas por engrenagens cilíndricas. No presente caso, adota-se o caminho R→S→T, br D. A tabela 3.4 a seguir ilustra o lay-out básico do método para o caminho escolhido. → caminho R S T D narr nrel nabs Tabela 3.4: análise do trem epicicloidal básico Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 35 Para o preenchimento da tabela, inicia-se pela linha inferior. Sejam nR a rotação absoluta da engrenagem R, nS a rotação absoluta da engrenagem S e assim por diante. Dessa forma: → caminho R S T D narr nrel nabs nR nS nT nD Tabela 3.5: substituição das rotações absolutas Uma vez que o sistema de coordenadas girante é solidário ao braço, substitui-se narr = nD. Portanto: → caminho R S T D narr nD nD nD nD nrel nabs nR nS nT nD Tabela 3.6: rotação do sistema móvel O próximo passo corresponde à determinação das rotações no sistema de coordenadas girante. Sejam nrel R a rotação relativa da engrenagem R, nrel S a rotação relativa de S e assim por diante. Uma vez que o sistema móvel é solidário ao braço, segue imediatamente que nrel D = 0. Para a rotação relativa de R, aplica-se a equação 3.29 lembrando que os vetores n⃗ R, n⃗ D e n⃗ rel R são colineares. Assim, ao invés de escrever a equação na forma vetorial: n⃗ R = n⃗ rel R + n⃗ D pode-se escrever, simplesmente: nR = nrel R + nD → nrel R = nR − nD Substituindo-se estes resultados na tabela obtém-se: → caminho R S T D narr nD nD nD nD nrel nR − nD 0 nabs nR nS nT nD Tabela 3.7: rotações relativas de R e D Para a determinação das demais velocidades relativas, verifica-se pela tabela acima que, segundo o sistema de coordenadas relativo, o braço D não gira. Portanto, segundo esse sistema de coordenadas, as velocidades lineares relativas nos pontos de contato devem ser iguais. Em outras palavras, com o braço D parado não existe deslizamento relativo entre as engrenagens no ponto de contato. Dessa forma, pode-se escrever: ZSnrel S = +ZRnrel R → nrel S = +ZRZS nrel R = +ZRZS (nR − nD) (3.30) Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 36 O sinal + se faz necessário na equação 3.30 para indicar que, , as rotações relativas de S e D ocorrem no mesmo sentido no sistema de coordenadas girante devido ao engrenamento interno. Analogamente, conhecendo-se a rotação relativa de S se determina a rotação relativa de T: ZTnrel T = −ZSnrel S → nrel T = − ZSZT nrel S = − ZSZT [+ ZRZS (nR − nD)] = −ZRZT (nR − nD) (3.31) Nesse caso usa-se o sinal − na relação de transmissão entre T e S pois as rodas T e S giram em sentidos opostos devido ao engrenamento externo. A figura abaixo ilustra os sentidos das rotações relativas de R, S e T quando o sistema móvel acompanha o braço. Figura 3.32: Sentido das velocidades relativas no planetário básico Substituindo-se as equações 3.30 e 3.31 na tabela de rotações chega-se a: → caminho R S T D narr nD nD nD nD nrel nR − nD +ZRZS (nR − nD) −ZRZT (nR − nD) 0 nabs nR nS nT nD Tabela 3.8: tabela completa de rotações As equações para as engrenagens S e T são obtidas pela aplicação da equação 3.29 às várias colunas da tabela 3.8, ou seja: nS = nrel S + narr → nS = +ZRZS (nR − nD) + nD (3.32) nT = nrel T + narr → nT = −ZRZT (nR − nD) + nD (3.33) A aplicação da equação 3.29 aos elementos R e D resulta nas seguintes equações triviais: nR = nrel R + narr → nR = (nR − nD) + nD nD = nrel D + narr → nD = 0 + nD Portanto, doravante as equações para o início do caminho (também chamado de referência) e o elemento braço não serão apresentadas. Se, ao invés disso, fosse escolhido o caminho inverso, Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 37 isto é, T → S → R, br D, as equações resultantes seriam combinações lineares das equações 3.32 e 3.33. Deixa-se a cargo do leitor demonstrar tal propriedade. Observa-se, ainda, que as equações 3.32 e 3.33 são funções das rotações absolutas dos quatro elementos que compõe o caminho, ou seja, nR, nS, nT e nD. Dessa forma, duas dessas rotações devem ser conhecidas para que as outras duas possam ser calculadas através das equações 3.32 e 3.33. 3.3.4 Exemplo de Aplicação do Método Tabelar a um Trem com Engrenagens Cilíndricas No sistema de transmissão ao lado, o número de dentes (Z) das diversas engrenagens é dado pelo número entre parênteses. Determinar a rotação de todos os elementos sabendo que a rotação da engrenagem A é nA = +1200 rpm. SOLUÇÃO: Inicia-se o exemplo pela identificação do papel dos elementos que compõe o trem. Quando a engrenagem B gira, o eixo das engrenagens D e E é forçado a girar ao redor dos eixos de C e F. Dessa forma, tem-se: D e E: satélites C e F: planetas braço: B engrenagens comuns: A e B caminhos: C → D, br B e F → E, br B As tabelas de rotações para os dois caminhos são calculadas conforme os passos delineados anteriormente. caminho C → D, br B caminho F → E, br B C D B F E B narr nB nB nB narr nB nB nB nrel nC − nB + ZCZD (nC − nB) 0 nrel nF − nB − ZFZE (nF − nB) 0 nabs nC nD nB nabs nF nE nB As relações de transmissão entre as engrenagens C, D, F e E são calculadas como: ZDnrel D = +ZCnrel C → nrel D = + ZCZD nrel C = + ZCZD (nC − nB) ZEnrel E = −ZFnrel F → nrel E = − ZFZE nrel F = −ZFZE (nF − nB) onde o sinal + refere-se ao engrenamento interno entre C e D e o sinal – ao engrenamento interno entre F e E. As equações para as rotações absolutas de D e E são dadas pela aplicação sucessiva da equação 3.29. As equações para C, F e B (triviais) não são apresentadas. nD = nrel D + narr → nD = + ZCZD (nC − nB) +nB nE = nrel E + narr → nE = −ZFZE (nF − nB) + nB Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 38 Além das equações, a solução do problema requer a aplicação das condições de contorno: (i) nB = −ZAZB nA = −1842 . 1200 = −514,29 rpm (ii) nC = 0 (iii) nD = nE A condição (i) transfere a rotação de entrada nA para o braço B. Nessa equação é necessário utilizar o sinal − devido ao engrenamento externo entre A e B5. A condição (ii) aplica a condição de apoio rígido ao planeta C. A condição (iii) reproduz o vínculo rígido existente entre as engrenagens D e E. Aplicando a condição (iii): nD = nE → + ZCZD (nC − nB) + nB = − ZFZE (nF − nB) + nB e substituindo os valores de nC e nB obtém-se: +9025 [0 − (−514,29)] − 514,29 = −6017 [nF − (−514,29)] − 514,29 → nF = −10,29 rpm As rotações de D ou E podem ser calculadas diretamente através das equações para o trem: nD = + ZCZD (nC − nB) + nB = +9025 [0 − (−514,29)] − 514,29 = −1337,15 rpm onde o sinal negativo é interpretado como contrário à referência adotada (engrenagem A). A relação de transmissão total para o trem é calculada através das rotações de entrada e saída: itotal = nentradansaída = 1200−10,29 = −116,6 Finalmente, o sinal negativo da relação de transmissão total índica que a rotação de saída é oposta à de entrada. Tal sinal pode sem omitido nas aplicações de transmissão de potência onde a entrada e a saída já estão especificadas no fluxo de potência e no cálculo dos rendimentos. 3.3.5 Sistemas Epicicloidais com Engrenagens Cônicas Trens planetários que usam engrenagens cônicas tem aplicações industriais muito importantes. O mecanismo diferencial automotivo, inventado por Onesíforo Pecqueur6 e utilizado no trem de força de praticamente todos automóveis, é um trem planetário que faz uso de engrenagens cônicas de dentes retos. A principal diferença entre os epicicloidais de dentes retos e os cônicos é que, nesses, o vetor rotação das diversas engrenagens não é mais colinear. Dessa forma a utilização da forma vetorial da equação 3.29 apresenta certas dificuldades que serão resolvidas aqui através do estudo das velocidades relativas dos diversos elementos do caminho. A figura 3.33 ilustra um mecanismo planetário com engrenagens cônicas. Este mecanismo é análogo aquele da figura 3.29, razão pela qual as letras indicativas dos elementos serão mantidas. Observa-se que a peça D, ao girar provoca translação curvilínea no eixo de S e que os elementos 5 O sinal nas relações de transmissão deve ser utilizado mesmo nas transmissões que não fazem parte dos caminhos dos planetários. 6 Onesíforo era o chefe de oficina do Conservatório de Artes e Ofícios de Paris em 1827 quando inventou o diferencial automotivo Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 39 R e T não podem sofrer translação, seja pela coaxialidade com R ou pelos mancais mostrados. Dessa forma a engrenagem S é o satélite do trem, enquanto que R e T são os planetas. A peça D, responsável pela translação de S é o braço. A cadeia cinemática pode se iniciar por R ou T. Adotando a referência em R obtém-se: Satélite: S Planetas: R e T Braço: D Caminho: R → S → T, br D Figura 3.33: Planetário cônico básico A aplicação do método tabelar segue, inicialmente, os passos delineados no item anterior: → caminho R S T D narr nD nD nD nD nrel nR − nD 0 nabs nR nS nT nD Tabela 3.9: rotações da referência e do braço Após essa etapa procede-se à determinação das velocidades relativas de S e T. Embora R e S não tem vetores rotação colineares, pode-se escrever, no sistema de coordenadas rotativo: ZS |nrel S| = ZR |nrel R| ou nrel S = xZR ZS nrel R = xZR ZS (nR − nD) com x = ± 1. De forma análoga, para a relação de transmissão entre S e T: ZT |nrel T| = ZS |nrel S| → nrel T = yZS ZT nrel S = x y ZR ZT (nR − nD) onde y = ± 1. Completando a tabela de rotações: → caminho R S T D narr nD nD nD nD nrel nR − nD x ZR ZS (nR − nD) x y ZR ZT (nR − nD) 0 nabs nR nS nT nD Tabela 3.10: rotações da referência e do braço Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 40 As equações não-triviais para a cadeia cinemática R→S→T, br D são: nS = nrel S + narr → nS = x ZRZS (nR − nD) + nD (3.34) nT = nrel T + narr → nT = x y ZRZT (nR − nD) + nD (3.35) e, nesse caso, além da determinação das rotações dos elementos da cadeia cinemática deve-se determinar as variáveis desconhecidas x e y, representando os sinais utilizados nas relações de transmissão. A figura a seguir ilustra os sentidos das rotações relativas quando o sistema móvel acompanha o braço. Figura 3.34: Sentido das velocidades relativas de R, S e T Analisando as rotações relativas dos diversos elementos verifica-se, através da transmissão de velocidades, que as rotações relativas dos planetas R e T são colineares e opostas. Assim, quando nrel R for positiva, então nrel T será negativa e vice-versa. Dessa forma, comparando-se as expressões para essas velocidades, conclui-se que x.y = -1 uma vez que as relações ZR/ZS e ZR/ZT são, ambas, positivas. Outra propriedade necessária para a determinação dos sinais x e y vem da análise da velocidade absoluta do satélite S, dada pela equação 3.34. Uma vez determinadas as rotações nD e nR, esta equação tem duas soluções possíveis, sendo uma para x = +1 e outra para x= -1. Para determinar qual rotação é, de fato, verdadeira, faz-se uso da regra a seguir. A figura 3.35 ilustra a vista superior do satélite e dos planetas. Uma vez que o satélite é um corpo rígido cujo vetor de rotação é perpendicular ao plano ilustrado na figura, a localização do seu centro instantâneo de rotação (CIR) pode ser determinada a partir dos vetores velocidade vR e vT, os quais representam as velocidades tangenciais dos planetas, Isso ocorre porque, no ponto de engrenamento entre os planetas e o satélite, as velocidades tangenciais absolutas dos elementos em contato deve ser igual, a fim de prevenir deslizamento entre as partes. A distância L entre o CIR e o ponto C, representando o centro geométrico do satélite, é inversamente proporcional à rotação absoluta do satélite. Se a posição do CIR tende ao infinito, isto é, se vR e vT são paralelos e de mesmo sentido, então o satélite sofre translação curvilínea ao redor do eixo dos planetas mas não sofre rotação ao redor de si mesmo. Na primeira situação ilustrada na figura 3.35 vê-se a circunstância em que os vetores vR e vT tem o mesmo sentido. Nesse caso o CIR localiza-se afastado do ponto C e, portanto, a rotação do satélite é lenta. Na segunda situação inverte-se a rotação de uma das velocidades sem alterar seu módulo (no caso, vT) e, em consequência, o CIR se desloca para uma posição mais próxima do ponto C, fazendo com que o satélite gire mais rápido. Dessa forma pode-se estabelecer a seguinte regra: se os planetas giram para o mesmo lado (figura A, quando vR e vT tem o mesmo sentido) então a rotação do satélite será lenta. Se os planetas girarem para ladosopostos (figura C, quando vR e vT tem sentidos opostos), então a rotação do satélite será rápida. Nos casos em que só houver um planeta na cadeia cinemática ou quando um dos planetas não rotacionar (figura B), a análise é feita comparando-se a rotação do planeta girante com o braço. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 41 Figura 3.35: determinação do centro instantâneo de rotação do satélite Sistemas combinados pelo mesmo sistema de coordenadas relativos: Os trens epicicloidais da figura 3.36 representam sistemas planetários cuja análise requer a formulação de dois caminhos, indicados por G → E, br A e H → F, br A. A diferença entre os dois está no posicionamento do planeta H em relação ao satélite F. Na figura estão representadas também as rotações relativas dos diversos elementos. Nota-se que a rotação relativa do planeta H muda de sentido, dependendo da posição do planeta em relação ao seu satélite. A análise do trem requer a construção de duas tabelas separadas. Como os caminhos são idênticos para os dois trens, as tabelas também são as mesmas. Figura 3.36: caminhos diferentes com o mesmo sistema de coordenadas girante caminho G → E, br A caminho H → F, br A G E A H F A narr nA nA nA narr nA nA nA nrel nG − nA x. ZGZE (nG − nA) 0 nrel nH − nA y. ZHZF (nH − nA) 0 nabs nG nE nA nabs nH nF nA Tabela 3.11: rotações para os epicicloidais da figura 3.36 Desprezando as equações triviais para os planetas e para o braço, as equações que representam os trens são dadas por: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 42 nE = nrel E + narr → nE = x ZGZE (nG − nA) + nA (3.36) nF = nrel F + narr → nF = y ZHZF (nH − nA) + nA (3.37) Embora os satélites E e F fazem parte de caminhos diferentes, as suas rotações relativas são iguais. Isso pode ser visto igualando-se as rotações absolutas de E e F das equações acima (visto que estão rigidamente ligados) e cancelando o termo nA comum, ou seja: nrel E = nrel F → x ZGZE (nG − nA) = y ZHZF (nH − nA) (3.38) A solução desta equação pressupõe a uma relação formal entre os sinais desconhecidos x e y. No entanto, de forma distinta da equação 3.3.5 onde essa relação veio da comparação da rotação relativa do segundo planeta com a do primeiro, agora não existe um segundo planeta. No entanto, no primeiro trem da figura 3.36 vê-se que as rotações relativas de E e F tem sentidos opostos enquanto no segundo trem elas são no mesmo sentido. Sendo assim, para a solução da equação 3.38 impõe-se: a) para o primeiro trem: nrel E/nrel F = -1 → x.y = -1 b) para o segundo trem: nrel E/nrel F = +1 → x.y = +1 Finalmente, para encerrar este tópico, é importante notar que a comparação das rotações relativas dos satélites só é possível pois tais rotações são referenciadas no mesmo sistema de coordenadas girantes, isto é, os satélites têm o mesmo braço. 3.3.5 Exemplo de Trens Epicicloidais com Engrenagens cônicas A figura a seguir ilustra o funcionamento do diferencial automotivo de um veículo de passeio. O trem diferencial permite o acionamento das rodas trativas do veículo de forma independente pelo motor. Este veículo em particular tem bitola de 1600 mm, utiliza rodas de diâmetro 600 mm possui as relações ZB/ZA = 3,5 e ZC/ZE = 1,5. Considere e ZC = ZD. Pede-se determinar: a) a rotação da engrenagem A e a rotação relativa dos satélites quando o veículo trafega em linha reta a 50 Km/h b) a rotação do eixo de A e a rotação relativa dos satélites quando o veículo faz uma curva de raio 20 m a 50 Km/h conforme a figura Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 43 SOLUÇÃO: Na figura anterior, as engrenagens C e D transmitem movimento às rodas dos semieixos e2 e e3 através das seções ranhurada dos eixos. A engrenagem cônica B recebe o movimento através da engrenagem A, a qual é acionada pela junta universal H7. A engrenagem E tem seu eixo ligado ao movimento da engrenagem B através das garras G. No entanto a engrenagem E pode girar de maneira independente da B pois o pino F é montado com folga no seu assento. Dessa forma, ao girar, a engrenagem B fornece movimento de translação ao eixo da engrenagem E, a qual aciona as engrenagens C e D, fazendo as rodas do veículo girar. No trem diferencial automotivo, a engrenagem E é um satélite8, as engrenagens C e D são os planetas e a engrenagem B é o braço do trem, visto que sua rotação fornece translação à engrenagem satélite E. As engrenagens A e B são comuns pois não estão engrenadas ao satélite. Dessa forma, escolhendo-se o caminho C → E → D, br B , a tabela de rotações para o trem é: → caminho C E D B narr nB nB nB nB nrel nC − nB x ZC ZE (nC − nB) x y ZC ZD (nC − nB) 0 nabs nC nE nD nB Como as rotações relativas de C e D ocorrem em sentidos opostos, impõe-se x.y =-1. Substituindo- se as relações ZB/ZA e ZC/ZE, as equações para as engrenagens E e D são: nE = nrel E + narr → nE = 1,5x(nC − nB) + nB nD = nrel D + narr → nD = −(nC − nB) + nB as quais serão resolvidas quando o veículo se desloca em linha reta e em curva. a) Veiculo se deslocando em linha reta: Para o veículo se deslocando em linha reta a 50 Km/h, as rotações dos planetas C e D são: ωC = ωD = vveículorpneu = 50/3,60,62/2 = 44,8 rad/s → nC = nD = 427,8 rpm Dessa forma, utilizando a equação para nD, determina-se a rotação do braço B: nD = −(nC − nB) + nB → 427,8 = −(427,8 − nB) + nB , ou seja: nB = 427,8 rpm e a rotação da engrenagem A é obtida através da relação de transmissão entre A e B. Aqui omite- se o sinal da relação pois o objetivo é obter apenas a rotação absoluta de A: nA = ZBZA nB = 3,5 nB = 1497,3 rpm Para a rotação do satélite, observa-se que os planetas C e D giram, ambos, para o mesmo sentido. Dessa forma a rotação do satélite deve ser lenta. Resolvendo a equação para nE para x=+1 e para x=-1 obtém-se: 7 Em 1527, o matemático italiano Girolamo Cardano foi uma das primeiras pessoas a sugerir o uso de juntas universais uso para transmitir potência mecânica, 8 Na verdade, é comum a existência de dois ou quatro satélites, o que permite dividir a potência de acionamento entre eles ao mesmo tempo em que evita-se o desbalanceamento. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 44 𝑥 = +1 → nE = 1,5 (+1)(427,8 − 427,8) + 427,8 = +427,8 rpm 𝑥 = −1 → nE = 1,5 (−1)(427,8 − 427,8) + 427,8 = +427,8 rpm Nesse caso as rotações “lenta” e “rápida” são iguais por não dependerem do sinal x. Isso ocorre porque a rotação relativa do satélite é nula para x=+1 ou para x=-1: nrel E = xZC ZE (nC − nB) = (±1)1,5 (427,8 − 427,8) = 0 . Em outras palavras, quando o carro anda em linha reta as rotações dos planetas C e D sãoiguais e, portanto, o eixo F do satélite E não gira relativamente ao planeta B. B) Veiculo se deslocando em curva de raio 20m a 50 Km/h: Para o veículo se deslocando em curva, as rotações dos planetas C e D não são iguais. A roda ligada à engrenagem D pelo eixo e3 girará mais devagar por estar do lado interno da curva e a roda ligada à engrenagem C girará mais rápido. Uma vez que a variação de velocidades ao longo do raio da curva é linear, essas velocidades podem ser obtidas de acordo com a figura abaixo. Onde vC e vD são as velocidades das rodas ligadas, respectivamente, aos planetas C e D e P é o centro da curva. Dessa forma: vC = 20 + 0,820 . 50 = 52 Km/h vD = 20 − 0,820 . 50 = 48 Km/h As rotações dos planetas C e D são, portanto: ωC = vveículorpneu = 52/3,60,62/2 = 46,6 rad/s → nC = +444,9 rpm ωD = vveículorpneu = 48/3,60,62/2 = 43 rad/s → nC = +410,7 rpm A rotação do braço B é obtida como no item anterior: nD = −(nC − nB) + nB → 410,7 = −(444,9 − nB) + nB , ou seja: nB = 427,8 rpm e a rotação da engrenagem A é obtida através da relação de transmissão entre A e B: nA = ZBZA nB = 3,5 nB = 1497,3 rpm Nesse caso, entretanto, a velocidade relativa do satélite não será mais nula. Calculando-se a velocidade absoluta do satélite obtém-se: 𝑥 = +1 → nE = 1,5 (+1)(444,9 − 427,8) + 427,8 = +453,45 rpm 𝑥 = −1 → nE = 1,5 (−1)(444,9 − 427,8) + 427,8 = +402,15 rpm Adota-se a velocidade “lenta” devido aos planetas girarem para o mesmo. Portanto: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 45 nE = +402,15 rpm → x = −1 e y = +1 Finalmente, a rotação relativa do satélite é obtida inserindo-se x = −1 na equação para nrel E : nrel E = xZC ZE (nC − nB) = (−1)1,5 (444,9 − 427,8) = −25,65 rpm . É interessante observar que, no mecanismo diferencial automotivo, a diferença entre as rotações das rodas é compensada pelo aumento da rotação relativa do satélite. 3.3.6 Exemplo: O Multiplicador Humpage9 O multiplicador Humpage faz uso de dois trens epicicloidais encadeados pelo mesmo braço A. No multiplicador, a entrada é feita pela engrenagem E e a saída pode ser obtida em A ou C. No presente problema deve-se determinar as saídas em A e C para uma entrada em E de +10 rpm. Considere ZB = 41, ZC = 20, ZD = 48, ZE = 30, ZF = 36 SOLUÇÃO: Inicialmente os elementos do trem são classificados. As rodas cônicas D e F transladam ao redor do eixo de A à medida em que esta peça gira. Ao mesmo tempo D está simultaneamente engrenado a B e C enquanto que F engrena em E. Portanto D e F são os satélites do trem enquanto que B, E e C são os planetas. A peça A, responsável pelo movimento planetário de D e F é o braço do mecanismo. Os caminhos adotados são B → D → C, br A e E → F, br A. É importante observar que, no mecanismo Humpage, só existe um sistema de coordenadas móvel uma vez que um único braço é responsável pela translação dos dois satélites. As tabelas de rotações seguem, inicialmente, o procedimento do item 3.3.3 : caminho B → D → C, br A caminho E → F, br A B D C A E F A narr nA nA nA nA narr nA nA nA nrel nB − nA 0 nrel nE − nA 0 nabs nB nD nC nA nabs nE nF nA A transmissão de rotações relativas dos demais elementos segue o procedimento do item 3.3.5 uma vez que essas rotações não são colineares com as rotações das referências em B e E: 9 Thomas Humpage, Patente US 628469A de 30/12/1897 Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 46 nrel D = xZB ZD nrel B = xZB ZD (nB − nA) nrel C = yZD ZC nrel D = x y ZB ZC (nB − nA) nrel F = tZE ZF nrel E = tZE ZF (nE − nA) Onde x, y e t representam os sinais desconhecidos das relações de transmissão. Analisando o sentido das rotações relativas, verifica-se que nrel C ocorre no sentido oposto que nrel B e que nrel E ocorre no mesmo sentido que nrel B . Em outras palavras, (𝑛𝐵 − 𝑛𝐴) deve ter o mesmo sinal que (𝑛𝐸 − 𝑛𝐴) e sinal contrário a nrel C . Dessa forma substitui-se x.y = -1 e x.t = +1, ou seja x = t. Além disso o vínculo entre D e F impõe que nD = nF. Obtém-se, portanto, as tabelas de rotações completas: caminho B → D → C, br A caminho E → F, br A B D C A E F A narr nA nA nA nA narr nA nA nA nrel nB − nA x ZB ZD (nB − nA) −ZB ZC (nB − nA) 0 nrel nE − nA x ZE ZF (nE − nA) 0 nabs nB nD nC nA nabs nE nF nA Desprezando as equações triviais para A, B e E, as equações para as engrenagens D, C e F são: nD = nrel D + narr → nD = xZB ZD (nB − nA) + nA nC = nrel C + narr → nC = −ZB ZC (nB − nA) + nA nF = nrel F + narr → nF = xZE ZF (nE − nA) + nA Igualando as equações para nD e nF devido à conexão rígida entre os satélites tem-se: x ZB ZD (nB − nA) + nA = xZE ZF (nE − nA) + nA → 41 48 (0 − nA) = 30 36 (10 − nA) obtendo-se nA = +400 rpm. Utilizando, em seguida, a equação para nC obtém-se: nC = −ZB ZC (nB − nA) + nA = −41 20 (0 − 400) + 400 = +1220 rpm Para a determinação dos sinais das relações de transmissão retorna-se à equação para nD e substitui-se x=+1 e x=-1 . para x = +1: nD = ZB ZD (nB − nA) + nA = 41 48 (0 − 400) + 400 = +58,33 rpm para x = −1: nD = −ZB ZD (nB − nA) + nA = −41 48 (0 − 400) + 400 = +741,67 rpm Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 47 Para a determinação das rotações dos satélites, compara-se a rotação absoluta dos planetas para cada caminho. Para o satélite D utiliza-se o caminho B → D → C, br A. Como a rotação absoluta de B é zero, utiliza-se para a comparação a rotação do braço ao invés da rotação de B. Para o braço tem-se nA = +400 rpm e para o planeta C tem-se nC = +1220 rpm. Uma vez que ambos giram para o mesmo lado10 a rotação do satélite é lenta. Dessa forma, nD = +58,33 rpm, x = +1, y = -1 e t = +1. Como verificação adicional vê-se que as rotações relativas dos planetas estão de acordo com os sentidos determinados anteriormente, ou seja: nrel B = nB − nA = 0 − 400 = −400 rpm nrel C = −ZB ZC (nB − nA) = −41 20 (0 − 400) = +820 rpm nrel E = nE − nA = 10 − 400 = −390 rpm Nota-se que a determinação do sentido das velocidades relativas depende sempre do caminho escolhido. Em outras palavras, se, ao invés de ter-se escolhido a referência em B fosse escolhida a referência em C, então a relação que deveria ser empregada entre x e t seria oposta àquela escolhida anteriormente, ou seja, x.t = -1. 3.3.7 Potência e rendimento em trens epicicloidais O estudo da transmissão de potência em trens epicicloidais requer, como primeiro passo, a análise cinemática descrita nos itens anteriores. O objetivo desta análise inicial é determinar a distribuição de velocidades e torques através do mecanismo. A figura 3.37 ilustra a vista lateral do epicicloidal básico, onde A e B são planetas, C é o satélite e M denota o braço. Figura 3.37: planetário básico utilizado no cálculo do rendimento Para este estudo considera-se a transmissão de potência em um determinado caminho adota-se a convenção do torque ativo. Em outras palavras, nos elementos movidos o torque e a rotação atuam no mesmo sentido, enquanto que nos elementos motores, o torque atua em sentido contrário ao darotação. Na entrada do sistema, portanto, o sinal da potência é negativo enquanto que na saída a potência tem sinal positivo. Além da convenção dos sinais da potência e do torque, na presente análise fez-se uso das seguintes hipóteses: 10 O sentido de rotação de um elemento é dado pelo sinal da resp.ectiva rotação Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 48 a) em regime permanente, a soma dos torques atuando nos satélites é zero, b) em regime permanente, a soma dos torques ativos e reativos em um trem epicicloidal é zero, c) as perdas em um trem epicicloidal estão associadas principalmente ao movimento relativo entre os elementos do trem. A primeira hipótese se justifica considerando-se que o satélite é montado com folga no seu respectivo eixo, de modo que a sua rotação é independente da rotação do braço. Sendo assim, uma vez que o satélite não transmite torque, a soma de todos os outros torques aplicados ao satélite deve ser nula. A segunda hipótese é justificada considerando-se o equilíbrio estático do trem epicicloidal. Dessa forma, considerando-se a figura 3.37: a) TC = 0 b) TA + TB + TC + TM = 0 Para demonstrar a terceira hipótese faz-se uso da equação da conservação de energia e das hipóteses anteriores. Considera-se, inicialmente, a tabela de rotações para o trem da figura 3.37 utilizando para isso o caminho A → C → B e o braço M. Observa-se que, desta vez, é mais conveniente substituir a rotação n em rpm pela velocidade angular ω. caminho A → C → B, br M = caminho A → C → B, br M A C B M A C B M narr ωM ωM ωM ωM narr nM nM nM nM nrel ωrel A ωrel C ωrel B ωrel M nrel nA − nM −ZAZC (nA − nM) −ZAZB (nA − nM) 0 nabs ωA ωC ωB ωM nabs nA nC nB nM Tabela 3.12: rotações para o epicicloidal básico Observa-se que, nesse caso, as rotações relativas dos elementos C e B não foram colocadas em função da rotação relativa da engrenagem A conforme o procedimento do método tabelar. Aplicando a equação de conservação da energia para o caminho A → C → B, br M e somando as potências referentes aos elementos do caminho com a potência dissipada PD tem-se: Ptotal = TAnA + TBnB + TCnC + TMnM + PD = 0. (3.39) As rotações absolutas na equação acima são expressas em termos das rotações relativas e da rotação do sistema móvel, de acordo com a equação 3.29. Lembrando que TC = 0, tem-se: TA(nM + nrel A) + TB(nM + nrel B) + TM(nM + nrel M) + PD = 0 (3.40) ou seja: (TA + TB + TM)nm + TAnrel A + TBnrel B + TMnrel M + PD = 0 (3.41) Utilizando na equação 3.41 a hipótese (b), verifica-se que a potência dissipara PD é função apenas da velocidade relativa entre as engrenagens. Lembrando ainda que o sistema rotativo e o braço giram na mesma velocidade impõe-se, necessariamente, que nrel M = 0. Dessa forma: TAnrel A + TBnrel B + PD = 0 (3.42) A potência obtida pela multiplicação entre o torque e a rotação relativa dos elementos é conhecida em sistemas epicicloidais como potência de rolamento ou potência virtual e indicada Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 49 como Prol (LIMA, 1980). Desprezando-se a perda por atrito nos mancais, a potência dissipada é calculada, então, através da equação 3.1 em função da potência de rolamento na entrada do caminho. Entretanto, uma vez que o sentido da rotação relativa dos elementos A e B pode não coincidir com a rotação real, utiliza-se na equação para PD acima a potência cujo sentido do torque for inverso ao sentido da rotação relativa, de acordo com a convenção do torque ativo. Em outras palavras, PD é sempre calculada a partir da potência de rolamento na entrada no trem. A verificação do sentido do torque pode ser feita da seguinte maneira: a) Entrada de rolamento em A: Se Prol A = Tanrel A 0 ⇒ PD = (1 − ηBA)TBnrel B Onde ηBA é o rendimento da transmissão quando o braço M estiver fixo e a potência de rolamento fluir de B para A. Dessa forma, a equação 3.42 pode ser reescrita como: TAnrel A + TBnrel B + (1 − ηBA)TBnrel B = 0 (3.46) Ou seja, TBTA = −nrel Anrel B . ηBA−1 = −i0. ηBA−1 (3.47) Lembrando que o trecho entre A e B representa um sistema de perdas em série tem-se, segundo o item 3.2.1, que ηAB = ηBA = η. Dessa forma, as expressões 3.44 e 3.47 podem ser colocadas sob a forma geral: TB = −i0. ηWTA (3.48) onde o expoente w indica se o fluxo da potência de rolamento entra ou sai pela engrenagem A. Na prática o expoente w pode ser obtido a partir da seguinte expressão: w = − Prol A|Prol A| = − Tanrel A|Tanrel A| = ±1 (3.49) onde, para w = 1, o fluxo da potência de rolamento segue de A para B e, para w = -1, atua no sentido inverso. As equações 3.48 e 3.49 podem ser utilizadas para calcular o rendimento do trem epicicloidal básico sujeito a diversas condições de contorno. Substituindo a equação 3.48 na hipótese (b) e lembrando que TC = 0 obtém-se: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 50 TM = −(1 + i0ηW)TA (3.50) Através da hipótese (b) e da relação entre TA e TB obtém-se: ηe = TMnMTAnA = −TA(1 + i0ηw)TA nA nM⁄ = − i0ηw + 1iAM (3.51) onde iAM é a relação de transmissão entre a roda A e o braço M. Pela a equação 3.45, com nB = 0, i0 = nA − nMnB − nM = nM − nAnM = 1 − nAnM = 1 − iAM (3.52) ou seja: ηe = −(1 − iAM) ηw + 1iAM = (iAM − 1) ηw − 1iAM (3.53) Pode-se generalizar a equação 3.1 para um sistema com múltiplas entradas e saídas, o rendimento ηe de um trem epicicloidal pode ser escrito como: ηe = ∑Psaída∑Pentrada = ∑Pentrada − PD∑Pentrada (3.50) onde a potência dissipada PD é calculada em termos da potência de rolamento. Como exemplo inicial da aplicação do método, considera-se o caso onde a roda A é motriz com rotação nA e a roda B é estacionária. Nesse caso a potência de saída se dá pelo braço M com rotaçãonM, que pode estar no sentido da rotação nA ou contrária a esta. Assim: ηe = ∑Psaída∑Pentrada = TMnMTAnA Através da hipótese (b) e da relação entre TA e TB obtém-se: ηe = TMnMTAnA = −(TA + TB)nMTAnA = −TA(1 + i0ηw)TA nA nM⁄ = i0ηw − 1iAM (3.51) onde iAM é a relação de transmissão entre a roda A e o braço M. Pela a equação 3.45, com nB = 0, i0 = nA − nMnB − nM = nA − nMnM = nAnM − 1 = iAM − 1 (3.52) ou seja: ηe = (iAM − 1) ηw − 1iAM = ηw − 1 + ηwiAM (3.53) 3.3.8 Exemplo O braço M do trem epicicloidal da figura 3.37 foi ligado a um motor elétrico que, em certa situação, fornece 4,5 hp a 1200 rpm. Deseja-se determinar o rendimento, a rotação de saída e a potência útil na saída do trem quando nB = 0, ZA = 25 e ZB = 135. Considere ηENG = 0,97. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 51 SOLUÇÃO: Inicialmente procede-se a uma análise cinemática a fim de se terminar as diversas velocidades relativas do trem. Utilizando o caminho A→C→B, br M obtém-se as seguintes equações para os elementos C e B do trem: nC = nM − ZAZC (nA − nM) nB = nM − ZAZB (nA − nM) Utilizando a equação para nB obtém-se: nB = nM − ZAZB (nA − nM) → 0 = nM − 25135 (1200 − nM) → nM = +187,5 rpm A relação de transmissão entre a entrada e a saída do trem é iAM = nA/nM = 6,4. Calcula-se em seguida as velocidades relativas dos diversos elementos ao longo da cadeia cinemática: nrel A = nA − nM = 1200 − 187,5 = 1012,5 rpm nrel B = nB − nM = 0 − 187,5 = −187,5 rpm Adotando a referência na roda A motriz, utiliza-se PA= -5 hp e o torque TA com sinal negativo (em sentido contrário à rotação nA) segundo a convenção do torque ativo. Além disso, uma vez que nM é positivo, o torque TM na saída do redutor também será positivo. O valor do expoente w é obtido a partir da equação 3.49: w = − Tanrel A|Tanrel A| = − (−29,6 ). 1200|(−29,6 ). 1200| = +1 indicando que a potência de rolamento flui no sentido de A para B. Nesse caso, o rendimento de base η é calculado através da transmissão em série entre A e B, ou seja, η = ηeng2 = 0,941. O rendimento do trem é calculado através da fórmula 3.53: ηe = ηw − 1 + ηwiAM = 0,941 − 1 + 0,9416,4 = 0,638 O torque TA é calculado a partir da rotação imposta pelo motor de acionamento: TA = PA2π60 nA = (−5) . 7452π60 . 1200 = −29,6 Nm Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: HEIWOOD, J, ‘Internal Combus.tion Engine Fundamentals’, 1a ed, McGraw-Hill Education, New York, 2011. .. SANTOS, SL, ‘Bombas e Instalações Hidráulicas’, 1ª ed, Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro, RJ, 2010.. NICOLA TESLA, NY. Alternating Motor. US Patent 555.190, United States Patent Office, 1896 RUDENKO, N. ‘Máquinas de Elevação e Transporte’, 1a ed, Livros Técnicos e Científicos Ed Ltda, Rio de Janeiro, 1976. JOHNSON, W, Helicopter Theory, 1st ed, Dover Publications, 1994 LINO, T, MATSUMARA, S, HOUJOH, H , HACHIYA, T, ‘Calculation of the behavior of oil churning and its loss in a gearbox by a moving particle method’, Proceedings of the International Conference on Power Transmission, CRC Press/Balkema, London, UK. NIEMANN, G , WINTER, H. ‘Maschinenelemente: Schraubrad-, Kegelrad-, Schnecken-, Ketten-, Riemen-, Reibradgetriebe, Kupplungen, Bremsen, Freiläufe’ Springer Verlag, Berlin Heidelberg, vol. 3, 2nd edition, 1983. FLETCHER, HAG, BAMBOROUGH, J. ‘Effect of Oil Viscosity and Supply Conditions on Efficiency of Spur Gearing’, National Engineering Laboratory Report No. 138, East Kilbride Glasgow, Crown, 1964. YADA, T., ‘Relation of Frictional Loss of Gear to Speed and Torque’. Bull. JSME, vol. 16, no. 95, Maio, 1973. 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Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 53 Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark- engrenagens, correias e correntes - e no segundo caso tem-se, por exemplo, as perdas que ocorrem ao longo de uma tubulação quando utilizada para mover um fluido ou as linhas de transmissão elétrica que conectam as usinas geradoras às subestações. 3.1.2 Caracterização dos conversores de energia Conversores ou transmissores operam transformando parâmetros de entrada em parâmetros de saída. O fator de rendimento η é definido como a relação entre a potência de entrada no processo e a potência resultante na saída, ou seja: η = PSPe e PD = (1 − η). Pe (3.1) onde PS é a potência na saída do conversor, Pe a potência na entrada e Pd a potência dissipada, geralmente na forma de calor, durante o processo. Em conversores e transmissores é comum a existência de diversos tipos de perdas ou irreversibilidades ocorrendo simultaneamente. Por exemplo, um motor elétrico CA opera convertendo voltagem U e corrente i em torque T e rotação n. Pode-se citar, entre as irreversibilidades deste processo, o atrito nos mancais e nas escovas (se houver), efeito joule no primário e no secundário, ondas sonoras que se propagam pelo ambiente, vibração, deformação elástica do eixo sob torção, correntes parasitas nas bobinas, etc. Este processo é representado pelo diagrama de blocos da figura 3.2. Figura 3.2: parâmetros de entrada/saída. Da definição de rendimento e do balanço de energia obtém-se: η = PsPe = U. iT. ω e ΔT. qT = U. i − T.ω = (1 − η)U. i (3.2) e a entropia total ΔS associada ao processo é obtida através de: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 4 ΔS = qT = PDΔT = (1 − η)U. iΔT (3.3) Neste caso optou-se por representar a rotação de saída através da velocidade angular ω e a temperatura ΔT pela escala absoluta de Kelvin, para que as equações 3.2 e 3.3 sejam escritas diretamente no S.I. Em outras situações pode ser mais vantajoso expressar a velocidade de giro em rpm (rotações por minuto) ou rps (rotações por segundo). O comportamento dos conversores e transmissores é representado em um gráfico com o parâmetro potencial nas ordenadas e o parâmetro dinâmico nas abscissas. Quando os parâmetros de saída são considerados, os conversores podem ser agrupados em três grupos distintos, cujo comportamento típico pode ser visto na figura 3.3. Figura 3.3: comportamento típico dos conversores. tipo 1: conversores autônomos ou auto-induzidos São assim denominados os conversores cujo movimento gera as próprias condições para o seu funcionamento. É o caso dos motores a combustão interna, turbinas a gás e geradores indutivos com a bobina principal em série. A característica principal dos conversores autônomos é que o parâmetro potencial é nulo quando o conversor está parado, isto é, não existe “esforço inicial” para fazer o conversor iniciar. O conversor só se torna autônomo a partir de um certo ponto, indicado pela coordenada (a,A) na figura 3.3. No caso dos motores a combustão interna e turbinas a gás usa-se um motor de arranque para ultrapassar esse limite. Nos motores de combustão interna o torque e o rendimento variam acentuadamente com a rotação. Em baixas rotações o torque na saída é baixo devido à dificuldade em misturar adequadamente ar e combustível e ao tempo de abertura e fechamento das válvulas, que é geralmente calculado para rotações mais elevadas. Após o ponto de máximo, o torque diminui devido ao crescimento das perdas por atrito e à dificuldade da mistura ar-combustível em preencher completamente o cilindro (Heywood, 2011). A figura 3.4 representa o comportamento aproximado de um motor de combustão interna turbo-alimentado. Na figura TV e ωV são os parâmetros na saída do virabrequim, TC e ωC são os parâmetros de entrada do compressor e TS e ωS são os parâmetros de saída da caixa de transmissão. Alguns elementos, tais como bomba de combustível e alternador não estão representados. A figura 3.5 representa o modelo aproximado de uma turbina a gás no chamado ciclo Brayton. As variáveis Pcb e qcb representam a pressão e a vazão de saída da câmara de combustão, os quais são convertidos em torque e rotação pela turbina. Uma parte deste torque, representada por TC é utilizado para acionar o compressor na rotação ωC e o torque restante, representado por TS representa o torque de saída da turbina. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 5 Figura 3.4: esquema do funcionamento aproximado de um motor à combustão turbo-alimentado Figura 3.5: esquema de uma turbina a gás em ciclo Brayton tipo 2: conversores de deslizamento A característica dos conversores do tipo 2 é a diminuição gradativa do parâmetro potencial à medida em que o parâmetro dinâmico aumenta, indicando que existe algum tipo de “escorregamento” interno ao sistema. É o caso de compressores e bombas centrífugas, que funcionam pela ação de um rotor. Também é o caso de muitos tipos de motores elétricos AC e DC. Em bombas e compressores centrífugos a função do rotor é gerar pressão através da aceleração centrípeta imposta ao fluido pelo giro do rotor. A forma da caixa da bomba é chamada de voluta e seu propósito é recuperar a pressão que porventura possa ser extraída de algum excesso de velocidade imposta ao fluido pelo rotor. Portanto, devido à ação centrífuga do rotor, é costume descrever a curva característica de uma bomba através de uma equação parabólica do tipo: P(q) = P0 − c1. q2 onde P0 é a pressão medida na saída com a válvula fechada e c1.q2 é a perda de pressão devida à vazão na saída da bomba. Uma vez que P0 representa a pressão devida ao efeito centrífugo do rotor, ela é proporcional ao quadrado da rotação do rotor. Portanto: P(q) = c2. ω2 − c1. q2 (3.4) onde c1 e c2 são constantes, geralmente obtidas experimentalmente (SANTOS, 2007). Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 6 Outro exemplo deste tipo de conversor são os motores elétricos indutivos (figura 3.6, uma das patentes originais de N. Tesla). Estes motores possuem duas partes principais: estator e rotor. No estator estão localizadas bobinas fixas que geram campos magnéticos variáveis pela passagem de uma corrente elétrica alternada (Lei de Lenz). No rotor está localizado outro imã cujos pólos procuram se alinhar com o campo magnético girante produzido no estator. Ao tentar se alinhar, o imã do rotor provoca a rotação deste através da força eletromotriz – f.e.m. Uma característica deste tipo de motor é que f.e.m. produzida no rotor é proporcional à corrente elétrica que circula no estator e o número de espiras nas boninas do estator. Quando a corrente elétrica é ligada, a defasagem – daí o nome motores assíncronos – entre os campos magnéticos do rotor e do estator tende a diminuir à medida que o rotor ganha velocidade e, consequentemente, a f.e.m. aplicada no rotor diminui. Quando um torque externo é aplicado no eixo do rotor, a rotação diminuiprovocando um maior deslizamento entre os campos magnéticos, o que aumenta a f.e.m. e a corrente no estator (também chamado de primário). tipo 3: conversores lineares Os conversores do tipo 3 se diferenciam dos demais devido à relação linear entre os parâmetros potencial e dinâmico. Exemplos deste tipo de conversor incluem bombas e motores hidráulicos de deslocamento positivo, motores elétricos de imãs permanentes e geradores elétricos DC com excitação independente no estator e no rotor. No caso de bombas de deslocamento positivo, o objetivo principal é o aumento de pressão no fluído, já que o aumento da vazão é anulado devido à quase incompressibilidade do líquido sendo bombeado. A figura 3.7 indica um diagrama do funcionamento de uma bomba deste tipo. Figura 3.6: patente original de um motor elétrico de N. Tesla (1896) e a contrapartida atual de um motor de indução comercial (Fonte: The Tesla Institute) Figura 3.7: bomba de engrenagens de deslocamento positivo Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 7 Em uma bomba deste tipo, bolsões discretos de fluido são impulsionados através das engrenagens (ou lóbulos), daí o nome deslocamento positivo, não importando a diferença de pressão entre a entrada e a saída. Assim, se a válvula da figura 3.7 estiver fechada, o resultado seria, teoricamente, um valor infinito para a pressão de saída, razão pela qual se utilizam válvulas de alívio (não indicadas na figura). Assumindo que ocorrem pequenos fluxos reversos entre as engrenagens e que tais fluxos sejam proporcionais ao aumento de pressão de entrada, o fluxo na saída é dado em função da velocidade angular ω da bomba por: q = c3. ω − c4. P → P(q) = c3. ω − qc4 (3.5) onde c3 e c4 representam constantes características. O comportamento de uma bomba de deslocamento positivo pode ser representado pela curva 3, com a pressão como parâmetro potencial e a vazão como parâmetro dinâmico. Outro exemplo deste tipo de conversor são os motores elétricos DC com excitação independente no rotor e no estator, representado na figura 3.8. Neste tipo de motor, o campo elétrico gerado na bobina de campo LC é produzido pela aplicação da voltagem independente VC. No entanto, assim que o rotor começa a girar, surge a f.e.m. conta-induzida na armadura EA que deve ser equilibrada pela aplicação da voltagem externa VA. Portanto, para o circuito do induzido: VA = EA + iA. RA com EA = c5. iC. ω (3.6) onde iC é a corrente de campo e ω é a velocidade angular do rotor. O torque aplicado no eixo do rotor depende da corrente de campo iC, a qual pode ser controlada pela posição do reostato RC e da corrente na armadura iA. Dessa forma: T = c5. iA. iC → VA = c5. iC. ω + T.RAc5. iC (3.7) onde c5 é uma constante que depende dos detalhes construtivos do motor. Isolando o torque T: T(n) = c5. VA. iC − (c5. iC)2. ωRA (3.8) cujo comportamento também pode ser representado pela curva 3, já que T varia linearmente com ω. Uma vez que a resistência RA é pequena, a equação 3.8 prediz um alto torque de partida e uma grande inclinação negativa da curva T(ω). Devido ao elevado torque inicial, é comum encontrar esse tipo de motor no acionamento de máquinas com alta inércia. Outro exemplo são os motores DC de imãs permanentes (PMDC). De maneira distinta do motor com excitação independente, o fluxo magnético entre o rotor e o estator é produzido por imãs permanentes fixados no estator. Recentemente imãs de terras raras passaram a ser utilizados tanto no rotor como no estator, permitindo a geração de fluxos magnéticos muito maiores que os tradicionais imãs de ferrita, o que permite torques maiores. A figura 3.8 ilustra os componentes básicos deste tipo de motor e indica o torque e a rotação fornecidos pelo motor. Para o circuito da armadura, considerando regime permanente, a tensão externa aplicada deve equilibrar a força contra-eletromotriz no rotor e a queda de voltagem na armadura, portanto: VA = EA + iA. RA onde Ea = c6 ia ω (3.9) onde c6 é uma constante de proporcionalidade. O torque produzido no rotor é proporcional à corrente na armadura ia e ao fluxo magnético permanente Φ, ou seja, T=c6 Φ ia. Dessa forma a equação 3.9 pode ser reescrita em termos de torque e rotação como: T = VA c6 ΦRA − c6 2 ia Φ ω = Tp − c7 ω (3.10) Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 8 a qual representa uma relação linear entre T e ω. Nessa equação TP é o torque de partida e c7 é o coeficiente angular da reta T(ω). A rotação máxima de um PMDC é obtida fazendo T = 0 na equação 3.8. Figura 3.8: motores DC com excitação independente e de imãs permanentes 3.1.3 Ponto de equilíbrio e curva de demanda Para definir o conceito de ponto de equilíbrio de um sistema dinâmico considera-se inicialmente o sistema propulsor de um automóvel a combustão interna onde TR e n são, respectivamente, o torque disponível e a rotação do eixo das rodas de tração, dada em rpm. As curvas características representadas em vermelho na figura 3.10 indicam a variação de TR(n) considerando três posições de abertura da válvula de admissão. Considerando o movimento ao longo de uma via reta e horizontal, quanto maior a velocidade, maior a resistência ao movimento, causada principalmente pelo arrasto aerodinâmico e ao atrito de rolagem das rodas. Em consequência disso, admite-se a existência de uma relação funcional entre a força resistiva encontrada pelo veículo e o parâmetro dinâmico de saída (velocidade linear). Conhecendo-se o diâmetro das rotas do veículo, tanto a velocidade linear quanto a força resistiva podem ser representadas em termos da rotação das rodas nR e do torque resistivo R(nR) aplicado às rodas de tração. Esta relação, conhecida como curva de demanda, é plotada na figura 3.10 para duas configurações do veículo e indicadas como R1(n) e R2(n). A curva de demanda intercepta o eixo das abcissas no torque TS, conhecido como resistência estática ou inicial. Figura 3.9 Comportamento aproximado do trem de força de um automóvel Os pontos A, B e C onde TR(n) = R1(n), ou seja, nos pontos onde a curva de torque disponível intercepta a curva de demanda são conhecidos como pontos de equilíbrio. Na figura são identificados três pontos de equilíbrio, indicados pelas rotações nA, nB e nC, dependendo da porcentagem de abertura da válvula de admissão. Um ponto importante a considerar na determinação do ponto de equilíbrio é que uma mudança nas características do sistema, por exemplo, tornar o veículo mais aerodinâmico, altera a sua curva de demanda (por exemplo, para a curva R2), deslocando os pontos de equilíbrio. Nesse caso observa-se um aumento nas rotações de equilíbrio do sistema para uma mesma abertura da válvula de admissão de combustível. Por outro lado, uma mudança na resistência estática como, Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark3 - 9 por exemplo, fazer o veículo subir uma rampa, desloca a curva de demanda ao longo dos eixos das ordenadas, por exemplo de R1(n) para R1 ’(n), diminuindo a velocidade do veículo ou aumentando o torque necessário para uma dada velocidade. Figura 3.10: Pontos de equilíbrio do sistema de propulsão Outro ponto importante é a estabilidade ou natureza do equilíbrio. De fato, quando um sistema dinâmico atinge o ponto de equilíbrio, é importante para o engenheiro determinar se tal condição é estável quando ocorre uma perturbação nas condições de operação. Sistemas que operam em pontos de equilíbrio instáveis podem divergir facilmente destes pontos e assumir configurações inesperadas para as quais não foram projetados. Quando dois ou mais conversores operam em paralelo, a operação em pontos instáveis pode levar a divisões de carga desigual entre eles, particularmente quando a igualdade nas condições de operação não é forçada rigidamente. Para exemplificar este aspecto imagina-se, por exemplo, um motor rotativo que fornece potência para acionar uma carga e opera nas vizinhanças de um certo ponto de equilíbrio, onde T(ω) = R(ω). Sendo T(ω) a curva de torque do motor e R(ω) a curva de resistência ou de demanda. Através das equações da dinâmica, tem-se: T − R = Jm dωdt (3.11) onde Jm é o momento de inércia da carga visto pelo motor rotativo e ω(t) a velocidade angular. Considera-se agora uma variação Δω na rotação do motor com consequentes varações ΔT e ΔR nos torques do motor e da carga, respectivamente. Dessa forma a equação 3.11 é alterada para: (T + ∆T) − (R + ∆R) = Jm d(ω + ∆ω)dt (3.12) Substituindo a equação 3.11 em 3.12 obtém-se: ∆T − ∆R = Jm d(∆ω)dt (3.13) e considerando que T e R são funções de ω apenas, ΔT e ΔR podem ser obtidos pela expansão de T(ω) e R(ω) em termos das suas respectivas séries de potência. Desprezando-se os termos de segunda ordem e acima, a equação 3.13 se torna: ∂T∂ω∆ω − ∂R∂ω∆ω = Jm d(∆ω)dt (3.14) ou: c8 . ∆ω = Jm d(∆ω)dt com c8 = dTdω − dRdω (3.15) Integrando, então, os dois termos da equação 3.15 obtém-se: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 10 ∆ω = c9. ec8 tJm (3.16) onde c9 é uma constante de integração. No caso em que c8 T,ω , a flutuação Δω irá diminuir ao longo do tempo e o sistema retornará gradualmente ao ponto de equilíbrio. Por outro lado, no caso em que c8 > 0, o sistema irá se afastar da posição equilíbrio e assumir um novo ponto de equilíbrio, se houver. Sendo assim, quando o motor é ligado à carga, a condição de estabilidade de operação em termos de torque e rotação é dada por: equilíbrio estável ⇔ T(ω) = R(ω) com ∂R∂ω > ∂T∂ω (3.17) A figura 3.11 ilustra o comportamento de dois conversores distintos T1(ω) e T2(ω) para uma mesma carga R(ω), sendo o conversor 1 auto induzido com a curva T1(ω) existindo a partir de ω1 e o conversor 2 de deslizamento. O gráfico indica três possíveis pontos de equilíbrio. Calculando graficamente a constante C através da inclinação da reta tangente nos pontos de equilíbrio verifica- se que os pontos 2 e 3 são estáveis pois C2 > 0 e C3 > 0 enquanto o ponto 1 é instável pois C1 C2 > 0. Figura 3.11: Pontos de equilíbrio estáveis e instáveis Para finalizar este tópico, é importante ressaltar que a condição de estabilidade descrita pela equação 3.17 pode também ser aplicada para outros parâmetros potenciais e dinâmicos. Por exemplo, considerando-se o bombeamento de um certo fluido através de uma tubulação por meio de uma bomba centrífuga. 3.1.4 Forma geral da curva de demanda R De maneira geral as curvas de demanda impostas à saída de conversores ou transmissores podem se dar de duas formas distintas: a) pela exigência direta de energia a ser utilizada em algum processo, como é o caso do veículo do exemplo anterior, onde o torque e a rotação impostos pelo trem de força são convertidos em força trativa e velocidade linear ou b) na forma da demanda necessária para o acionamento de outro conversor de energia. É o caso, por exemplo, do acionamento de uma bomba hidráulica a partir da potência fornecida por um motor AC ou DC. Em se tratando de sistemas mecânicos, as forças de atrito têm influência fundamental na determinação das curvas de demanda de muitos processos físicos ocorrendo em regime estável. No caso de atrito viscoso faz-se uma analogia com a relação entre a pressão necessária para impulsionar um fluído ao longo de uma tubulação. Pode ser demonstrado que, ao longo de um tubo reto e horizontal, a relação entre a queda de pressão P e a vazão q é dada por: Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 11 P = c9 qm (3.18) onde c9 é um coeficiente que depende da viscosidade, densidade e parâmetros da tubulação. No caso de regime laminar a constante m é igual à unidade, mas, à medida em que a vazão aumenta, ocorre a mudança para regime turbulento e, em consequência o valor de m aumenta ao mesmo tempo em c9 diminui. No caso de atrito seco, o esforço resistivo é praticamente independente da velocidade. Para ilustrar o efeito da sobreposição desses mecanismos na curva de demanda, considera- se as curvas de torque de acionamento de uma bomba centrífuga, indicada como R1(n) e de um laminador de chapas, indicada como R2(n), plotadas na figura 3.12. A curva da bomba mostra, inicialmente, o efeito da transição que ocorre em baixas rotações entre os regimes laminar e turbulento. Após a transição o comportamento da curva é dado pela equação 3.18. A medida em que a rotação aumenta o efeito de atrito viscoso na tubulação em meio turbulento aumenta devido à circulação de fluido. Na curva do laminador, entretanto, ocorrem simultaneamente dois fatores distintos: inicialmente ocorre um leve aumento devido aos efeitos de atrito viscoso `pela lubrificação das suas partes móveis. Dieter (1976) admite o torque nesta região como aproximadamente constante e definido apenas pelas variáveis do processo de laminação. Para altas velocidades, a taxa de deformação imposta às chapas das aumenta, exigindo um torque ainda maior para o acionamento dos cilindros. Tal fenômeno é similar à influência da viscosidade na curva da bomba. A interpretação dos fenômenos envolvidos na curva de demanda dá ao engenheiro um entendimento muito melhor sobre a natureza dos processos envolvidos durante a transmissão de potência. Figura 3.12: Curvas de demanda de uma bomba centrífuga e de um laminador 3.1.6 Arranjo em série de conversores e transmissores Para se entender como as características de diversos conversores e transmissores afetam o processo de transmissão de energia, considera-se o exemplo de uma transmissão hidrostática acionada por um motor à combustão. Uma transmissão hidrostática é formada por uma bomba de deslocamentopositivo que aciona um motor hidráulico. Motores hidráulicos operam convertendo pressão e vazão na entrada em torque e rotação na saída, trabalhando de maneira inversa a de uma bomba de engrenagens como a da figura 3.7. A característica de uma transmissão hidrostática é a operação com baixas vazões e altas pressões, daí não ser costume a utilização de bombas centrífugas, que são utilizadas em condições de altas vazões e baixas pressões. Esta é uma situação comum encontrada em muitas máquinas autônomas, tais como tratores e escavadeiras. Os parâmetros de entrada e saída dos diversos elementos estão ilustrados na figura 3.13. A pressão P e a vazão q entre a bomba e o motor hidráulico correspondem aos valores líquidos, uma vez que estes componentes geralmente operam em circuitos fechados com pressões diferentes na entrada e na saída. A irreversibilidade dos conversores é representada através dos Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 12 respectivos fatores de rendimento η, expressos como funções do parâmetro dinâmico na entrada ou na saída do conversor. Figura 3.13: sistema de transmissão hidrostática São fornecidas curvas de demanda para duas configurações distintas de saída, indicadas por R1 e R2. O objetivo deste exemplo é relacionar os parâmetros de saída do motor hidráulico (T2, ω2) com a posição s da válvula de admissão do motor à combustão. As curvas do motor hidráulico são fornecidas para três possíveis pressões, com P1do motor de acordo com a equação 3.23. No primeiro gráfico, as linhas inclinadas correspondem à variação de F(v) para diferentes valores da relação de transmissão, com i1+ 1,03n2 + 57,64n O ponto de máximo da função P1(n) com n2 > 0 é obtido através do cálculo elementar. Ou seja: maxP1(n) → dP1dn = 0 , ou seja: − 20,34n2 + 2,06n + 57,64 = 0 cuja raiz, para n > 0, é n1 = 1,735 rps. A potência máxima fornecida pelo cata-vento é obtida substituindo-se este valor na equação para P1(n), resultando Pmax = 67,7 Nm.rps = 425,3 W. Para se determinar a relação de transmissão do redutor, iguala-se a potência de saída do cata- vento à potência de entrada do gerador, uma vez que se está desprezando as perdas. Assim: (75. n22). n2 = 67,7 → n23 = 0,90 , ou seja n2 = 0,966 rps Portanto, a relação de transmissão do redutor será: i = n1n2 = 1,7350,966 = 1,8 Para se plotar a curva de demanda do gerador vista pelo cata-vento é necessário transmitir o torque T2 através do redutor. Considerando mais uma vez um sistema ideal, tem-se a relação: T2T1G = i → T1G = T2i = 75. n221,8 = 41,67. n22 = 41,67. (n11,8)2 ou seja: T1G = 12,86. n12 Mostra-se. na figura 3.22, a curva de torque disponível na saída do cata-vento e a curva de demanda do gerador vista pelo cata-vento. No encontro dessas curvas identifica-se o ponto de operação, que ocorre no ponto de máxima potência, conforme se verifica pelo ponto de tangência da hipérbole característica. A equação da hipérbole é dada pela equação 3.23 com Pmax = 67,7 Nm.rps. Figura 3.22: solução gráfica do exemplo anterior, indicando a curva do conversor T1(n), a curva de demanda do gerador T1G e a hipérbole indicadora do ponto de máxima potência Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 19 3.1.6 Influência do rendimento no ponto de operação Em um típico sistema de transmissão mecânica existem muitas formas da energia ser dissipada: atrito nos mancais e em engrenagens, estiramento e deslizamento de correias, propagação sonora, vibração, etc. Para se determinar as fontes de perda de uma transmissão deve- se, em primeiro lugar, seguir o fluxo de potência através da transmissão, uma vez que a potência dissipada na transmissão é, em geral, proporcional à quantidade de energia transmitida. No sistema de elevação visto anteriormente, as principais fontes de perda são o atrito nos mancais de rolamento, perdas no contato dos dentes do par engrenado, estiramento do cabo e atrito do mesmo ao se enrolar no tambor. Considerando que essas perdas são representadas na figura abaixo pelos respectivos coeficientes de rendimento, é possível se determinar a relação entre a potência Pm disponível no eixo do motor e a potência Ps disponível para a elevação da carga. Através da definição de rendimento, a relação entre a potência entregue pelo motor e a consumida no levantamento da carga é dada por: Ps = Pm. ηeng. ηrol. ηtamb , com: Ps = Mgv e Pm = T1n1 onde n1 é a rotação do motor em rpm, ηeng é o rendimento do par engrenado, ηrol é o rendimento dos mancais e ηtamb é o rendimento combinado do cabo e tambor. Para esse último, uma discussão completa da potência perdida e do rendimento em sistemas de elevação pode ser encontrada em Rudenko (1976). Isolando T1 obtém-se: T1 = M g ri. ηeng. ηrol. ηtamb Neste caso, como ηSegundo Niemann (1995) a potência perdida por agitação pode ser desprezada na maioria das análises e só deve ser levada em conta em casos de submersão completa da engrenagem motora e altas viscosidades, como é o caso daquelas encontradas em graxas e óleos viscosos a baixas temperaturas (Lino et ali, 2017). A perda por atrito no contato dente a dente é do tipo misto, isto é, a existência da lubrificação não consegue separar completamente as superfícies dos dentes em contato, onde ocorre tanto o deslizamento quanto o rolamento. Alguns autores, como Buckingham (2011) e Merrit (1972) apresentam resultados bastante detalhados, mas restritos a poucos casos de interessante. Por exemplo, Buckingham (2011) considera a variação da força de atrito ao longo da lateral do dente, mas seus resultados são restritos aos casos em que o grau de recobrimento ε é unitário e são utilizadas engrenagens sem correção fabricadas em aço endurecido. Para a maioria das situações, a seguinte expressão para o cálculo de L1 é considerada consistente com os resultados experimentais (Niemann e Winter, 1983): L1 = μ𝑒 πz1 (1 ± 1i) (1 − ε + ε12 + ε22) (3.27) onde z1 é o número de dentes do pinhão, μe é o coeficiente de atrito equivalente, i é a relação de transmissão e ε1 e ε2 são as componentes do grau de recobrimento no plano normal, indicado como ε= ε1 + ε2. O sinal positivo é utilizado em engrenagens externas enquanto o sinal negativo é utilizado em engrenagens internas. Quanto à determinação do coeficiente de atrito equivalente μe, diversos resultados experimentais conduzidos em engrenagens cilíndricas retas externas, entre eles Fletcher e Bamborough (1964), Yada (1973) e Ohlendorf e Richter (1964), indicam a existência de uma pequena variação de L1 com a velocidade tangencial do pinhão. Por exemplo, no estudo de Fletcher e Bamborough, o valor de μe variou de 0,10 para vt=2m/s até 0,14 para vt=15,2m/s enquanto que em Yada obteve-se μe=0,09 para vt=2m/s até 0,14 para vt=8,1m/s. Nesses estudos, o rendimento η variou entre 0,997 até 0,985. Com base nesses resultados experimentais, recomenda-se adotar o coeficiente de atrito na equação 3.27 conforme a tabela abaixo. Para engrenagens epicicloidais, deve-se utilizar a velocidade relativa do par. velocidade tangencial (m/s) μe 0 a 8,0 0,09 acima de 8,0 0,14 Tabela 3.3: valores do coeficiente de atrito equivalente para a equação 3.27 Um caso interessante da aplicação da equação 3.26 é a influência da correção de perfil no rendimento dos pares engrenados. Por exemplo, para z1=25, z2=43, m=5 mm e μe=0,09 obtém-se pela equação 3.27, L1= 1,3% para a correção com x1 = 0,33 e x2=0,17 e L1= 1,6% para as Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 22 engrenagens sem correção evidenciando um pequeno ganho em termos de rendimento para o caso de engrenagens corrigidas. A equação 3.27 também pode ser usada para o cálculo do rendimento em engrenagens de dentes helicoidais, cônicas retas ou zerol. No primeiro caso substitui-se o número de dentes do pinhão z1 por z1/cos3(β), onde β é o ângulo de inclinação do dente no plano primitivo, restringindo esses resultados aos casos em que ambas as engrenagens estão posicionadas no mesmo plano. No segundo caso, válido apenas para cônicas de dentes retos substitui-se z1 por z1/sen(δ1), onde δ1 é o ângulo do cone primitivo do pinhão. 3.1.8 Rendimento em transmissões por correias e CVT´s Em se tratando de correias e CVT´s, diferentes fenômenos contribuem para a perda de potência na transmissão, sendo os principais a relaxação da correia ao passar pela polia motora e a dissipação viscoelástica entre os lados tracionado e frouxo da correia. Fatores secundários incluem o atrito entre a correia e a polia, particularmente efetivo no caso de correias trapezoidais, o efeito do dobramento da correia ao redor das polias e o desalinhamento das polias. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 23 3.2 Sistemas de transmissão mecânica É comum classificar as transmissões utilizadas em sistemas mecânicos como hidráulicas ou mecânicas. Nas transmissões hidráulicas são utilizados conversores de torque, motores e bombas hidráulicas de deslocamento positivo cujo objetivo é converter a pressão e a vazão de um sistema de bombeamento em rotação e torque na saída do sistema. Nas transmissões mecânicas são utilizados trens de engrenagens, correias, correntes, fusos roscados, fusos de esfera, etc. Uma vez que o foco da disciplina de projeto de máquinas está nas transmissões mecânicas, serão estudadas principalmente as do segundo tipo. As transmissões puramente mecânicas, por sua vez, podem, ainda, ser divididas em continuamente variáveis ou transmissões discretas. No primeiro caso tem-se, por exemplo, as transmissões usadas em máquinas operatrizes CNC e em automóveis híbridos e elétricos. Essas transmissões utilizam principalmente variadores de frequência cujo propósito é alterar a frequência de rotação dos motores elétricos de maneira digital e aproximadamente contínua. No segundo caso têm-se as transmissões utilizadas em caixas de câmbio manual utilizadas em automóveis. máquinas de elevação e em máquinas operatrizes convencionais. 3.2.1 Classificação dos sistemas de transmissão Os sistemas mecânicos de transmissão de potência podem ser classificados em sistemas em série, paralelo ou combinados. Também é importante classificá-los quanto ao número de entradas e saídas e quais parâmetros são utilizados para caracterizar cada conversor. Sistemas em série: São assim classificados os sistemas de transmissão em que a energia percorre um único caminho entre a entrada e a saída. O sistema de elevação utilizado nos exemplos anteriores é um exemplo de um sistema em série. Outro exemplo é o sistema de acionamento do misturador da figura abaixo. Esse sistema utiliza um motor trifásico, um estágio de transmissão através de correia trapezoidal e um redutor de engrenagens de dupla redução. Para este sistema, valem as seguintes relações cinemáticas: i1 = ω1ω2 = d2d1 i2 = ω3ω4 = z4z3 i3 = ω5ω6 = z6z5 Em um sistema em série pode-se definir ainda uma relação de transmissão global entre a entrada e a saída do sistema. Considerando que ω2= ω3 e ω4= ω5 tem-se: itot = ω1ω6 = ω1ω2 ω3ω4 ω5ω6 = d2d1 z4z3 z6z5 = i1. i2. i3 onde ik , k=1...3, são as relações de transmissão dos pares 1-2, 3-4 e 5-6 respectivamente. Considerando agora o fluxo de potência através do sistema, onde Pm refere-se à potência disponível na saída do motor, tem-se o diagrama abaixo: Figura 3.24: sistema em série Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 24 É importante, neste tipo de análise, manter a ordem correta dos elementos. Após sair do motor, a primeira fonte de perda é a transmissão por correia. Em seguida têm-se as perdas nos mancais de rolamento do eixo e1 e após isso as perdas na transmissão do par de engrenagens 3- 4. As perdas nos rolamentos do eixo e1 precedem as perdas no par engrenado 3-4, pois estas estão geralmente associadas ao contato dos dentes das engrenagens.As perdas pelo engrenamento ocorrem quando a energia se encaminha ao eixo e2. Finalmente têm-se as perdas nos mancais do eixo e2, as perdas no par engrenado 5-6 e, por último as perdas nos mancais do eixo e3. Pode-se definir o rendimento global da transmissão como a relação entre a potência na entrada do sistema, Pm, e a potência disponível no eixo do misturador, Ps : ηtot = PsPm = Pm ηcor ηrol3 ηeng2Pm = ηcor ηrol3 ηeng2 Sendo assim, para um sistema em série, valem as seguintes relações: itot = ∏ijn j=1 e ηtot = ∏ηkm k=1 (3.28) onde ij é a relação de transmissão de cada estágio da transmissão, n o número total de estágios e ηk o rendimento de cada uma das partes que compõe a rota da energia através da transmissão. Sistemas em paralelo: São os sistemas onde ocorrem uma ou mais bifurcações no caminho da energia entre a entrada e a saída. Esses sistemas podem ser compostos de múltiplas entradas/saídas simultâneas, mas são mais comuns os casos de uma entrada/várias saídas ou várias entradas/uma saída. Na figura 3.25 observa-se a aplicação de um motor elétrico que, através de uma transmissão em paralelo, permite o uso de duas saídas, identificadas como P1 e P2. Para esse sistema valem as seguintes relações cinemáticas, lembrando que ω1 = ω 3 = ωmotor : i1 = ω1ω2 = d2d1 i2 = ω3ω4 = z4z3 Figura 3.25: sistema em paralelo Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 25 As saídas pelos eixos e1 e e2 são mutuamente independentes pois dependem apenas das relações de transmissão i1 e i2. Ao mesmo tempo é possível relacionar a potência Pm fornecida pelo motor com aquelas consumidas nas saídas P2 e P4. Aplicando a equação de continuidade para o ponto A indicado na figura obtém-se: Pm = P1ηcor. ηrol + P2ηeng. ηrol ou, em termos da demanda Tm: Tm = Tm1 + Tm2 = T2i12. ηcor. ηrol + T4i34. ηeng. ηrol onde T2 e T4 são as demandas impostas nas saídas do sistema e Tm é a demanda total imposta ao conversor. Nesse caso a demanda total aplicada é a soma das demandas parciais Tm1 e Tm2. Na figura 3.26 vê-se outro tipo de sistema em paralelo. Desta vez são utilizados dois conversores para uma única saída, indicada por PS. Uma característica da transmissão em eixos paralelos utilizada deste sistema é que as rotações dos motores não são independentes, visto que ω2 = ω4, ou seja: ω2 = d1d2 ω1 = z3z4 ω3 → ω1 = d2d1 z3z4 ω3 Figura 3.26: sistema em paralelo com saída única Impondo a equação de continuidade para o ponto A indicado na figura segue que: Ps = Pm1. ηcor. ηrol + Pm2. ηeng. ηrol ou, em termos dos torques nos conversores: TS = Tm1 d2d1 ηcor. ηrol + Tm2. z4z3 . ηeng. ηrol Sistemas combinados: São assim denominados os sistemas que possuem trechos em série combinados com trechos em paralelo. Como exemplo deste tipo de transmissão, a figura 3.27 ilustra o trem de força do helicóptero SIKORSKY VS-300, um dos primeiros protótipos de aeronave de asa rotativa. Na figura não estão indicados os mecanismos da hélice principal necessários para o controle de altitude e do avanço/recuo da aeronave. Seja a potência PA aquela consumida pelo rotor principal, PB a consumida pelo rotor de cauda e Pm a potência líquida fornecida pelo motor, já descantada a potência necessária para acionar o turbo-alimentador. Em helicópteros deste tipo PA >> PB, de tal forma que o fluxo principal Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 26 de energia percorre o caminho entre o motor e a hélice principal. Considerando a transmissão de velocidades no sistema tem-se: ωA = ω1i1ired e ωB = ω1i1i2 onde ired é a relação de transmissão da caixa redutora, i1 a relação do par 1-2 e i2 a relação do par 5-6. De maneira semelhante ao mecanismo da figura 3.25, as rotações ωA e ωB são independentes entre si pois as relações de transmissão ired e i2 podem ser arbitrárias. Figura 3.27: Modelo aproximado do fluxo de potência em um helicóptero convencional com motor turbo-alimentado Do ponto de vista da transmissão de potência, a curva de demanda vista pelo motor em termos de torque e rotação pode ser obtida utilizando a equação de continuidade de potências para o ponto A indicado na figura, que coincide com a saída da polia maior ou seja: Pmηcorηrol = PAηredηrol + PBηengηrol onde ηred é o rendimento da caixa redutora. Alternativamente, em termos da demanda Tm imposta ao motor, tem-se: Tm = TAηcorηredηrol2 i1ired + T𝐵ηcorηengηrol2 i1i2 onde TA(ω) e TB(ω) são as demandas impostas aos rotores principal e auxiliar. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 27 3.2.2 Exemplo: A figura abaixo ilustra o esquema básico de funcionamento de um elevador automotivo. O elevador utiliza dois fusos de rosca trapezoidal ligados através de uma corrente de rolos e um único motor, cuja curva de torque é dada pela equação T(ω) = 7,1 − 2x10−4ω2 (Nm, rad/s). Segundo o fabricante, o equipamento é capaz de elevar um veículo com peso máximo de 2600 kg. Pede-se determinar, para essa condição máxima, o ponto de equilíbrio do sistema, a potência consumida pelo motor e o rendimento total do sistema. Admite-se que o veículo está igualmente equilibrado pelas duas lanças e os rendimentos dos vários elementos de transmissão é constante. Figura 3.28: Elevador automotivo SOLUÇÃO: Inicialmente calcula-se o rendimento dos fusos trapezoidais, uma vez que estes são determinados através das características construtivas. Através do capítulo 4 obtém-se os dados relevantes dos fusos: φ=6,30, z=2 entradas, d2 = 25,5mm e p=5mm, onde p é o passo e d2 o diâmetro primitivo. Portanto, α = tan−1 zpπd2 = tan−1 2 . 5π . 25,5 = 7,120 → ηfuso = tanαtan(α + φ) = tan7,120tan(7,120 + 6,30) = 0,52 e, a partir da tabela 3.1, utilizando valores médios, obtém-se os rendimentos dos demais elementos: - rendimento da correia trapezoidal: ηcorreia = 0,985 - rendimento das engrenagens cilíndricas: ηeng = 0,98 - rendimento da corrente de rolos: ηcorrt = 0,96 - rendimento dos mancais de rolamentos para cada eixo: ηrol = 0,99 O equacionamento da transmissão de potência é feito através do mapeamento das perdas da figura 3.28. Os fusos neste exemplo são tratados como conversores de potência, ao invés de elementos da transmissão, uma vez que convertem torque e rotação em força e velocidade linear na bucha. Dessa forma, Dados: - d1=50mm, d2=100mm, z3=22, z4=99, z5=23, z6=46, g=9,8m/s2 - fusos: Tr 28x5x2, buchas em bronze lubrificadas - correias trapezoidais, engrenagens cilín- dricas fresadas, mancais de rolamentos, correntes de rolos - desprezar o atrito nas guias dos fusos - as coroas que movem a corrente tem o mesmo diâmetro, de modo que os fusos tem a mesma rotação. Document shared on https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/ Downloaded by: metalhammer-242001 (vininadur@gmail.com) https://www.docsity.com/pt/sistemas-de-transmissao-de-potencia/7761355/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 3 - 28 Figura 3.29: Fluxo de potência no elevador automotivo