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1 2 Olá, Alunos! Sejam bem-vindos! Esse material foi elaborado com muito carinho para que você possa absorver da melhor forma possível os conteúdos e se preparar para a sua 2ª fase, e deve ser utilizado de forma complementar junto com as aulas. Qualquer dúvida ficamos a disposição via plataforma “pergunte ao professor”. Lembre-se: o seu sonho também é o nosso! Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação! Com carinho, Equipe Ceisc ♥ 3 2ª FASE OAB | PENAL | 42º EXAME Direito Penal SUMÁRIO Competência 1.1. Jurisdição .......................................................................................................7 1.2. Competência ..................................................................................................8 1.2.1. Espécies de competência ............................................................................8 1.2.2. Critérios de fixação da competência:...........................................................9 1.2.3. Determinação do foro competente ............................................................10 1.2.4. Competência em crime continuado e crime permanente ..........................10 1.2.5. Competência pelo domicílio ou residência do réu .....................................11 1.2.6 Competência pela natureza da infração .....................................................11 1.2.7. Competência por distribuição ....................................................................12 1.2.8. Causas modificadoras da competência (conexão ou continência) ............12 1.2.8.1. Competência por conexão ......................................................................12 1.2.8.2. Competência por continência .................................................................13 1.2.9. Foro prevalente .........................................................................................14 1.2.10. Da competência por prevenção ...............................................................16 1.2.11. Da competência por prerrogativa de função ............................................17 1.2.12. Competência do Supremo Tribunal Federal: art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, CF .................................................................................................................17 1.2.13. Competência do Superior Tribunal de Justiça: art. 105, inciso I, alínea “a”, CF .......................................................................................................................17 1.2.14. Competência dos Tribunais Regionais Federais: art. 108, inciso I, alínea “a”, CF .................................................................................................................18 1.2.15. Competência dos Tribunais de Justiça: art. 96, inciso III, CF ..................18 1.2.16. Competência para julgar prefeitos municipais: art. 29, inciso X, CF ........19 Competência nos casos de crimes de homicídio: ...............................................19 1.2.17. Competência da Justiça Federal .............................................................20 1.2.18. Competência da justiça militar .................................................................25 4 1.2.19. Competência criminal da justiça eleitoral ................................................25 1.2.20. Justiça política ou extraordinária .............................................................26 1.2.21. Restrição ao foro por prerrogativa de função ..........................................26 1.2.22. Marco para o fim do foro .........................................................................26 1.2.23. Crime de moeda falsa .............................................................................27 1.2.24. Justiça estadual .......................................................................................27 Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para a 2ª Fase do 42º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe Ceisc. Atualizado em dezembro de 2024. 5 Para dar o soco missioneiro, leia os principais artigos sobre Competência: • Art. 51, CP; • Art. 52, CP; • Art. 53, CP; • Art. 70, CP; • Art. 73, CP; • Art. 74, CP; • Art. 2º, CPP; • Art. 69, I e II, CPP; • Art. 70, CPP; • Art. 71, CPP; • Art. 72, caput, §2º, CPP; • Art. 73, CPP; • Art. 74, §1º, §2º e §3º, CPP; • Art. 75, CPP; • Art. 76, CPP; • Art. 77, CPP; • rt. 78, CPP; • Art. 79, CPP • Art. 80, CPP; • Art. 81, CPP; • Art. 82, CPP; • Art. 83, CPP; • Art. 89, CPP; • Art. 366, CPP; • Art. 399, §2º, CPP; • Art. 492, CPP; • Art. 29, X, CF; • Art. 52, CF; • Art. 96, III, CF; • Art. 102, I, alínea B e C, CF; • Art. 105, I, alínea A, CF; • Art. 108, I, alínea A, CF; • Art. 124, CF; • Art. 125, §4º, CF; • Súm. 33, do STJ. • Súm. 38, do STJ. • Súm. 42, do STJ. • Súm. 73, do STJ. • Súm. 122, do STJ. • Súm. 140, do STJ. • Súm. 147, do STJ. 6 • Súm. 522, do STF. • Súm. 702, do STF. • Súm. 706, do STF • Art. 26, caput, da Lei 7.492/86; • Art. 239, da Lei 8.069/90; • Art. 241-A, da Lei 8.069/90; • Art. 61, da Lei 9.099/95; • Art. 18, da Lei 10.826/03; 7 Competência Prof. Mauro Stürmer @prof.maurosturmer 1.1. Jurisdição Conceito: Poder atribuído, com exclusividade ao Judiciário, para decidir um determinado litígio segundo as regras legais existentes. É o poder das autoridades judiciárias, regularmente investidas no cargo, para, diante do caso concreto, “dizer o direito”. Juris - dição: dizer o direito. Competência seria a parte da jurisdição que cada órgão jurisdicional pode legalmente exercer. SE LIGA: Não se pode confundir a jurisdição com a competência, sendo que esta é uma limitação daquela. Mecanismo de solução dos conflitos: • Autotutela: caracteriza-se pelo emprego da força para satisfação de interesses. A autotutela é vedada, salvo em hipóteses excepcionais, como a legítima defesa, estado de necessidade e prisão em flagrante; • Autocomposição: caracteriza-se pela busca do consenso dos conflitantes. Doutrinadores antigos não admitem isso no processo penal. Hoje não há como negar que a autocomposição é o objetivo dos Juizados Especiais, conforme menciona o artigo 98, inciso I, da Constituição Federal/88 que trata da autocomposição por meio da transação penal, nos casos de infrações de menor potencial ofensivo (Art. 61 da Lei 9.099/95). a) Princípio do juiz natural Art. 5º da Constituição Federal: [...] XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; [...] LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente 8 b) Lei processual que altera as regras de competência Art. 2º do Código de Processo Penal: A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. c) Características da jurisdição • Substitutividade: a Jurisdição é a atividade desenvolvida pelo órgão judicial em substituição as partes; • Inércia: Não há, como regra, prestação jurisdicional de ofício. O Poder Judiciário deve ser provocado; • Exceção: Concessão de Habeas Corpus de ofício. • Coisa Julgada: impossibilidade de decisão judicial se revista por órgão estranho ao poder judiciário. 1.2. Competência Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o juiz pode prestar jurisdição). Competência é a medida e o limite de jurisdição dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá dizer o direito. A jurisdição é una, é única, é uma só. No entanto, não pode se imaginar um únicojuiz exercendo a jurisdição, então, divide-se em competências para cada juiz. 1.2.1. Espécies de competência A doutrina tradicional distribui a competência considerando os seguintes aspectos diferentes: a) ratione materiae: estabelecida em razão da natureza do crime praticado. b) ratione personae: em razão da qualidade das pessoas acusadas. c) ratione loci (art. 69, incisos I e II, CPP): em razão do local. d) competência absoluta e competência relativa. 9 *Para todos verem: esquema. 1.2.2. Critérios de fixação da competência: Não sendo hipótese de foro por prerrogativa da função, deve-se estabelecer critério para fixação da competência. Nesse particular, necessário seguir os seguintes passos de forma articulada: 1º) Identificar qual a Justiça Competente. 2º) Identificar o foro competente. 3º) Identificar o Juízo competente. GUIA DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA – FERNANDO CAPEZ Competência originária – o acusado tem foro por prerrogativa de função? Competência de jurisdição – qual é a justiça competente? Competência territorial – qual a comarca competente? Competência de juízo – qual a vara competente? Competência interna – qual o juiz competente? Competência recursal – para onde vai o recurso? Competência ABSOLUTA Regra de competência criada com base no interesse público A regra de competência absoluta não pode ser modificada, ou seja, cuida-se de competência improrrogável ou imodificável. Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, enquanto não esgotada sua jurisdição pela prolação da sentença. Exemplos: ratione materiae, ratione personae e competência funcional. Competência RELATIVA Regra de competência criada com base no interesse preponderantemente das partes. A regra de competência relativa pode ser modificada, ou seja, cuida-se de competência prorrogável ou modificável Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, porém somente até o início da instrução processual, em virtude da adoção do princípio da identidade física do juiz (Art. 399, §2º, CPP). Não se aplica ao processo penal a Súmula nº 33 do STJ Exemplos: ratione loci, competência por distribuição, competência por prevenção (Súmula 706 do STF), conexão e continência. 10 Em relação à matéria, existe, basicamente, as de competência das Justiças Especiais (Justiça Militar e Justiça Eleitoral) e da Justiça Comum (Federal e Estadual). Nesse sentido, em primeiro lugar, deve-se verificar se o crime é da Justiça Especial Militar; num segundo momento, se não for da competência da Justiça Militar, analisar se é da competência da Justiça Eleitoral; para somente ao final, em não sendo da competência de nenhuma das justiças especializadas, passar à análise se é da competência da Justiça Comum Federal ou Estadual. 1.2.3. Determinação do foro competente Estabelecida a Justiça competente, deve-se, agora, proceder à análise do foro competente, que se traduz na competência em razão do lugar. Artigo 69 do Código de Processo Penal: Art. 69: Determinará a competência jurisdicional: I - O lugar da infração: II - O domicílio ou residência do réu; III - A natureza da infração; IV - A distribuição; V - A conexão ou continência; VI - A prevenção; VII - A prerrogativa de função. Regra geral: art. 70 do Código de Processo Penal Para a determinação da competência lugar do crime é o lugar da consumação, ou seja, onde terminam por se reunir todos os elementos da definição do crime. No caso de tentativa, a competência é determinada “pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” (Art. 70, caput, segunda parte, CPP). Conforme o artigo 70, § 4º, do CPP, incluído pela Lei nº 14.155/2021: “Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de- zembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.” 1.2.4. Competência em crime continuado e crime permanente Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção (art. 71, CPP). 11 Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. [...] Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa. 1.2.5. Competência pelo domicílio ou residência do réu Duas são as hipóteses: • A primeira delas encontra-se no artigo 72, caput, CPP: “Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.” • A segunda hipótese refere-se à ação privada exclusiva, em que o querelante poderá preferir o foro do domicílio ou residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. Art. 73, CPP: “Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.” Não sendo possível a aplicação das regras acima mencionadas por não ter o réu domicílio ou residência certa, sendo ignorado o seu paradeiro, é competente o juiz que primeiro tome conhecimento do fato (art. 72, § 2º, CPP): Art. 72: Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. §2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. 1.2.6 Competência pela natureza da infração Art. 74: A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. § 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada. § 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410 (atual 419, CPP); mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2º). Art. 492, CPP: § 1º Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 12 § 2º Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo. 1.2.7. Competência por distribuição Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da açãopenal. 1.2.8. Causas modificadoras da competência (conexão ou continência) 1.2.8.1. Competência por conexão Art. 76: A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas (simultaneidade), ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar (por concurso), ou por várias pessoas, umas contra as outras (por reciprocidade); II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; (lógica ou material) III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. (probatória) (com destaques e comentários pessoais). A conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos, propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro probatório. São efeitos da conexão: a reunião das ações penais em um mesmo processo e a prorrogação da competência. • Conexão intersubjetiva: art. 76, inciso I, CPP a) Conexão Intersubjetiva por Simultaneidade: Diante da primeira parte do artigo 76, CPP (conexão intersubjetiva por simultaneidade), há conexão se, ocorrendo duas ou mais infrações, “houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas”. Não há liame psicológico. Exemplo: o exemplo clássico é o de diversos expectadores de um jogo de futebol, ocasionalmente reunidos, praticarem depredações no estádio. b) Conexão Intersubjetiva por Concurso: 13 Pelo artigo 76, inciso I, 2ª parte, CPP, há conexão se as infrações forem praticadas “por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e lugar”. É a hipótese de concurso de pessoas em várias infrações. Exemplo: quadrilha que trafica entorpecentes em vários pontos da cidade. c) Conexão Intersubjetiva por Reciprocidade: Pelo artigo 76, inciso I, última parte, CPP, há conexão se os crimes forem praticados “por várias pessoas, umas contra as outras”. Exemplo: agressões entre componentes de dois grupos de pessoas em um baile. • Conexão objetiva, lógica ou material: art. 76, inciso II, CPP Nos termos do artigo 76, inciso II, CPP, a competência é determinada pela conexão se, no caso de várias infrações, “se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas”. • Conexão instrumental ou probatória: art. 76, inciso III, CPP Conforme o artigo 76, inciso III, CPP: “quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.” 1.2.8.2. Competência por continência Diz que há continência quando uma coisa está contida em outra, não sendo possível a separação. Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; (cumulação subjetiva) II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. (cumulação objetiva – concurso de crimes) (com destaques e comentários pessoais). • Continência em razão do concurso de pessoas: art. 77, inciso I, CPP (cumulação subjetiva) Justifica-se a junção de processos contra diferentes réus, desde que eles tenham cometido o crime em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado. Difere da conexão por concurso, porque nesta há vários agentes praticando vários fatos. • Continência em razão do concurso formal de crimes: art. 77, inciso II, CPP (cumulação objetiva) 14 OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: A referência feita aos artigos 51, 52 e 53 do Código Penal, atualmente corresponde aos artigos 70, 73 e 74 da mesma norma. O artigo 70 refere-se ao concurso formal de crimes, em que, com uma mesma conduta o agente pratica dois ou mais crimes. O artigo 73, 2ª parte refere-se ao erro de execução (aberratio ictus), em que, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, além de atingir a pessoa que pretendia ofender lesa outra. O artigo 74, 2ª parte, refere-se ao resultado diverso do pretendido (aberratio criminis), em que fora da hipótese anterior, o agente além do resultado pretendido, causa outro. Em todos os casos, está-se diante de concurso formal, razão pela qual, na essência, o fato a ser apurado é um só, embora existam dois ou mais resultados. 1.2.9. Foro prevalente • Competência prevalente do júri: art. 78, inciso I, CPP Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; • Jurisdição da mesma categoria: art. 78, inciso II, CPP Considera-se jurisdição da mesma categoria aquela que une magistrados aptos a julgar o mesmo tipo de causa. Ocorre, porém, que pode haver um conflito real entre esses magistrados. Exemplo: Furto e receptação (conexão instrumental). Cada inquérito foi distribuído a um juiz diferente. Havendo conexão instrumental, torna-se viável que sejam julgados por um único juiz. Como ambos são de idêntica jurisdição, estabelecem-se regras para escolha do foro prevalente: a) Foro onde foi cometida a Infração mais grave: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: 15 [...] Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; Tendo em vista que o primeiro critério de escolha é o referente ao lugar da infração, é possível que existam dois delitos sendo apurados em foros diferentes, tendo em vista que as infrações se originaram em locais diversos (como no furto e receptação). Assim, elege-se qual é o mais grave para a escolha do foro prevalente: se for um furto qualificado e uma receptação simples, fixa-se o foro do furto qualificado (pena mais grave) como o competente. b) Foro onde foi cometido o mais número de infrações: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: [...] Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: a) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; Exemplo: Imagine-se que três delitos de furto simples (art. 155, CP) estejam sendo apurados em Santa Maria/RS, enquanto um delito de receptação simples (art. 180, CP), praticados, em tese, em conexão, esteja sendo apurado em Santa Cruz do Sul/RS. Embora a pena do furto e da receptação sejam idênticas, o julgamento dos quatro crimes deve ser realizado em Santa Maria/RS, onde foi praticado maior número de infrações. c) Foro residual estabelecida pela prevenção: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: [...] Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: d) Firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos: Neste caso, havendo magistrados de igual jurisdição em confronto e não sendo possível escolher pela regra da gravidade do crime (exemplo: furto simples e receptação simples), nem pelo número de delitos (em ambas as comarcas foram praticados um delito), elege-se o juiz pela prevenção, isto é, aquele que primeiro conhecer de um dos processos torna-se competente para julgar ambos, avocando da Comarca ou Vara vizinha o outro. Não haverá unidade de processo, conforme artigo 79, CPP. Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - No concurso entre a jurisdição comum e a militar; 16 II - No concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. §1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152. (doença mental) § 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461. No caso de concurso de agentes onde um apresente uma doença mental superveniente ocorrerá suspensão do processo para o doente e prosseguimento para os demais. No caso da citação editalícia - artigo 366 do Código de Processo Penal, um dos acusados citado por edital não comparece e nem constitui advogado (o processo ficará suspenso em relação a ele, prosseguindo para os demais). SEPARAÇÃO FACULTATIVA: ARTIGO 80 E 81, CPP Art. 80: Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos. Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. AVOCAÇÃO DO PROCESSO: ART. 82, CPP Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas. 1.2.10. Da competência por prevenção Artigo 83 do Código de Processo Penal: 17 Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c). 1.2.11. Da competência por prerrogativa de função Determinadas pessoas, por exercerem funções específicas, possuem a prerrogativa de serem julgadas originariamente por determinados órgãos. ATENÇÃO! Importante atentar acerca de decisão recente do STF, a qual trouxe alterações significativas ao firmar o entendimento de que o foro por prerrogativa de função conferido aos deputados federais e senadores se aplica apenas a crimes cometidos no exercício do cargo e em razão das funções a ele relacionadas. Ainda, o relator da respectiva Ação Penal (AP 937), ministro Luís Roberto Barroso, estabeleceu que, após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. 1.2.12. Competência do Supremo Tribunal Federal: art. 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, CF O STF já firmou entendimento de que a expressão “infrações penais comuns” do artigo 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, CF, abrange todas as modalidades de infrações penais, inclusive os crimes eleitorais, militares e as contravenções penais. 1.2.13. Competência do Superior Tribunal de Justiça: art. 105, inciso I, alínea “a”, CF Nos termos do artigo 105, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal/88, compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, 18 dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais. 1.2.14. Competência dos Tribunais Regionais Federais: art. 108, inciso I, alínea “a”, CF Aos Tribunais Regionais Federais competem processar e julgar originariamente os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Na parte final do artigo 108, inciso I, alínea “a”, CF, contém a ressalva em relação aos crimes eleitorais, de modo que, se um desses agentes praticar um crime eleitoral, será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). 1.2.15. Competência dos Tribunais de Justiça: art. 96, inciso III, CF Nos termos do artigo 96, inciso III, da Constituição Federal/88, compete aos Tribunais de Justiça dos Estados julgar juízes estaduais e do Distrito Federal, bem como os membros do Ministério Público dos Estados. Contudo, a Constituição faz expressa ressalva à Justiça Eleitoral, de modo que, se qualquer desses agentes praticar crime eleitoral, será julgado no TRE. Os magistrados e os membros do Ministério Público devem ser julgados pelo Tribunal ao qual estão vinculados, pouco importando o lugar da infração, seguindo-se a competência estabelecida na Constituição Federal. Assim, caso um juiz estadual cometa um delito de competência da justiça federal será julgado pelo Tribunal de Justiça do seu Estado. O mesmo se dá com o juiz federal que cometa um crime da esfera estadual: será julgado pelo TRF da sua área de atuação. Frise-se que pouco importa o lugar da infração penal. Se um juiz estadual de São Paulo cometer um delito no Estado do Amazonas, será julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Em se tratando de crime de competência do Tribunal do Júri continua prevalecendo a competência por prerrogativa de função, pois também prevista na Constituição Federal, ou seja, o Juiz que praticar crime doloso contra a vida será julgado pelo Tribunal de Justiça. 19 1.2.16. Competência para julgar prefeitos municipais: art. 29, inciso X, CF Se o prefeito cometer um crime de competência de Justiça Comum Estadual, será julgado no Tribunal de Justiça. Contudo, se praticar um crime eleitoral, será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Se o delito for de competência da Justiça Federal será julgado pelo Tribunal Regional Federal (TRF). É o que se extrai da Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau”. ATENÇÃO: CASOS ESPECIAIS NO ARTIGO 89, CPP Art. 89: Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado. Competência nos casos de crimes de homicídio: EXCEÇÃO: Em crimes contra a vida, a competência será determinada pela teoria da atividade. Assim, no caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos de execução ocorreram em um lugar e a consumação se deu em outro, a competência para julgar o fato será do local onde foi praticada a conduta (local da execução).20 ESTE É O ENTENDIMENTO DO STJ E DO STF: (...) Nos termos do art. 70 do CPP, a competência para o processamento e julgamento da causa, será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumou a infração. 2. Todavia, a jurisprudência tem admitido exceções a essa regra, nas hipóteses em que o resultado morte ocorrer em lugar diverso daquele onde se iniciaram os atos executórios, determinando-se que a competência poderá ser do local onde os atos foram inicialmente praticados. 3. Tendo em vista a necessidade de se facilitar a apuração dos fatos e a produção de provas, bem como garantir que o processo possa atingir à sua finalidade primordial, qual seja, a busca da verdade real, a competência pode ser fixada no local de início dos atos executórios. (...) (HC 95.853/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 11/09/2012). 1.2.17. Competência da Justiça Federal *Para todos verem: Esquema. A competência da Justiça Federal é residual em relação às especiais; prevalece, por outro lado, sobre a Justiça Estadual, nos termos do artigo 78, inciso III, do Código de Processo Penal e Súmula 122 do STJ. Art. 78, inciso III, CPP: no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação. São órgãos da Justiça Federal (art. 106, CF) Tribunais Regionais Federais Juízes Federais 21 Súmula 122 do STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do artigo 78, inciso II, alínea “a”, do Código de Processo Penal. A competência da Justiça Federal está prevista no artigo 109 da Constituição Federal/88. I) Os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da justiça militar e da justiça eleitoral: artigo 109, inciso IV da Constituição Federal/88. Qualquer delito que atinja bens jurídicos de interesse da união será da competência da Justiça Federal. Não abrange as contravenções. Dispõe a Súmula 38 do STJ que “compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades”. Desse modo, mesmo que haja conexão entre um crime federal e uma contravenção penal, prevalece a regra constitucional, indicando a necessidade do desmembramento do processo, não se aplicando neste caso o teor da Súmula 122 do STJ. Há que se ressaltar o previsto na Súmula 147 do STJ no sentido de que é competente a Justiça Federal para processar e julgar os crimes praticados contra funcionário federal, quando relacionados com o exercício da função. Evidentemente, por lesarem serviços da União, são também da competência da Justiça Federal os crimes praticados por funcionários federais no exercício da função. Por se limitar o artigo 109, inciso IV, da Constituição Federal/88, às autarquias e empresas públicas, assentou-se no STJ que “compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento” (Súmula 42 do STJ). Por isso, não são da competência da Justiça Federal, mas da Justiça Estadual, os crimes praticados contra o Banco do Brasil, por exemplo. • Crimes contra os Correios: • Exploração direta pela ECT: JF • Franquia: Justiça Estadual 22 • Fundação Pública Federal – FURG • Justiça Federal • Bens Tombados • Depende de quem tombou. • Crimes Contrabando e Descaminho • Justiça Federal do local da apreensão dos bens. • STJ Súmula nº 140 - Competência - Crime - Índios - Processo e Julgamento Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. Recurso contra decisão que julgou o crime político, pela previsão no art. 102 da Constituição Federal: Art. 102: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: II - Julgar, em recurso ordinário: b) o crime político; II) Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando teve a execução iniciada no Brasil, consumando-se ou devendo consumar-se no exterior, ou vice-versa: artigo 109, inciso V da Constituição Federal/88 Compete, ainda, à Justiça Federal o processo e julgamento dos “crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente” (Art. 109, inciso V, CF). Exemplo: Súmula 522 do STF: “Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processamento dos crimes relativos a entorpecentes”. • Rol exemplificativo de crimes previstos em tratado e convenção internacional (Art. 109, inciso V da CF): • Tráfico internacional de armas de fogo: de acordo com o artigo 18 da Lei nº 10.826/03 - Estatuto do Desarmamento, que trata da conduta de importar, exportar armas de fogo, tendo como competência a justiça federal; • Transferência ilegal de criança ou adolescente para o exterior: previsto no artigo 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo a competência da justiça federal; • Pornografia infantil e pedofilia por meio da internet: previsto no artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo de competência da justiça federal. Mas, para que 23 a competência seja da justiça federal, deve ficar demonstrado que o início da execução ocorreu no Brasil e que a consumação da infração tenha ou devesse ter ocorrido no exterior, ou vice- versa. Quanto à competência territorial, a consumação ocorre no local de onde emanaram as imagens, pouco importando a localização do provedor. E o simples fato de armazenar fotos já é considerado crime de pedofilia. III) Causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º do art. 109: artigo 109, inciso V-A da Constituição Federal/88 Estipula o parágrafo 5º que nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Nesta hipótese, o deslocamento de um crime para a Justiça Federal somente deve dar- se quando realmente houver grave violação de direitos humanos, de caráter coletivo (como, por exemplo, um massacre produzido por policiais contra vários indivíduos). Tal medida teria a finalidade de assegurar o desligamento do caso das questões locais, mais próprias da Justiça Estadual, levando-o para a esfera federal, buscando, inclusive, elevar a questão à órbita de interesse nacional e não somente regional. IV) Crimes contra a organização do trabalho, quando envolver interesses coletivos dos trabalhadores: artigo 109, inciso VI da Constituição Federal/88 Compete à justiça FEDERAL processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de escravo (Art. 149, CP). O tipo previsto no art. 149, CP caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho e, portanto, atrai a competência da justiça federal (Art. 109, inciso VI da CF). STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 26/11/2015 (Info 809). V) Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira: artigo 109, inciso VI da Constituição Federal/88 Como previsto no artigo 26, caput, da Lei nº 7.492/86. 24 Também compete à Justiça Federal apreciar “os crimes contra organização do Trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiroe a ordem econômica e financeira” (Art. 109, inciso VI da CF). VI) Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, excetuados o da Justiça Militar: artigo 109, inciso IX da Constituição Federal/88 • Navio: é a embarcação apta para a navegação em alto mar; • Aeronave: é todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas. Segundo o STF e o STJ, navios são embarcações de grande cabotagem ou de grande capacidade de transporte de passageiros, aptas a realizar viagens internacionais. Logo, somente as embarcações de grande porte envolvem a Justiça Federal. As demais (lanchas, botes, iates, etc) ficam na esfera da justiça estadual. Os crimes cometidos a bordo de aeronaves terão competência sempre da Justiça Federal, pois a Constituição Federal mencionou os crimes cometidos a bordo de aeronaves e não de aviões de grande porte. ATENÇÃO! AERONAVE EM SOLO - COMPETÊNCIA STF - RHC 86998 - STJ - HC 108.478 STJ Pouco importa se a aeronave está em solo ou voando. 1ª Turma reconhece competência da justiça federal para crimes cometidos a bordo de aeronaves. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negou provimento (arquivou) ao Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) 86998, reconhecendo a competência da Justiça Federal para processar e julgar crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, conforme expresso no artigo 109, inciso IX da Constituição Federal. O recurso relata o roubo de numerário de dentro de um avião, ocorrido no aeroporto de Congonhas, em São Paulo/SP. O relator, ministro Marco Aurélio, afirmou que este roubo teria ocorrido quando a aeronave ainda estava no solo. E que poderia ter acontecido durante o deslocamento do carro da firma de transporte de valores. Para ele, o inciso IX tenta “definir o juízo competente ante o 25 espaço aéreo e as águas territoriais. Não é a proteção do deslocamento em si verificado mediante navios e aeronaves, porquanto surgiria o paradoxo em não englobar o transporte ferroviário e rodoviário”. Marco Aurélio ressalta que a norma constitucional busca estabelecer a área geográfica da prática criminosa e, portanto, a comarca competente para o julgamento. “O preceito não envolve situação concreta em que o crime ocorra enquanto atracado o navio ou estacionada a aeronave no aeroporto”, diz o ministro. Destaca que, nestes casos, tem-se como definir a competência, “e esta é a do juízo situado quer na área do porto, quer na localidade em que esteja o aeroporto”. Dessa forma, Marco Aurélio votou para prover o RHC e conceder a ordem, fixando a competência da justiça estadual onde verificado o roubo. Ele foi acompanhado pelo ministro Ricardo Lewandowski. Para a ministra Carmen Lúcia Antunes Rocha, no entanto, o dispositivo constitucional é taxativo e não deixa dúvidas, ao afirmar que cabe à Justiça Federal julgar e processar “crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves”. A ministra abriu divergência e votou pela negação do provimento, sendo acompanhada pelos ministros Carlos Ayres Britto e Sepúlveda Pertence. Assim, por maioria, acompanhando o voto da ministra Carmen Lúcia, a Primeira Turma negou provimento ao RHC 86998. 1.2.18. Competência da justiça militar Justiça Militar da União: art. 124 da Constituição Federal Crimes militares praticados por qualquer pessoa (inclusive civil). Justiça Militar Estadual: art. 125 da Constituição Federal Crime militares praticados apenas por militares dos estados (nunca julgará civil). Julga também questões cíveis relacionadas a punição disciplinares (§ 4º, do Art. 125 da CF). 1.2.19. Competência criminal da justiça eleitoral É fixada em razão da matéria, cabendo a Justiça Eleitoral o processo e julgamento dos crimes eleitorais. Os crimes eleitorais são aqueles previstos no Código Eleitoral e os que a lei, eventual e expressamente, defina como eleitorais. 26 ATENÇÃO! Quem julga crime eleitoral conexo a crime doloso contra a vida? O crime eleitoral é julgado pela Justiça Eleitoral e o crime doloso contra a vida será julgado pelo Tribunal do Júri, porque a competência desses crimes está prevista na CF. 1.2.20. Justiça política ou extraordinária Art. 52 da Constituição Federal: Art. 52: Compete privativamente ao Senado Federal: I - Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; 1.2.21. Restrição ao foro por prerrogativa de função As normas da Constituição Federal de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele. Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela primeira instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a seguinte tese: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900). 1.2.22. Marco para o fim do foro Término da instrução: Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900). 27 1.2.23. Crime de moeda falsa Em regra, é de competência da Justiça Federal, pois é de competência da União emitir moeda (Art. 21, inciso VII, CF). E mesmo se a falsificação for de moeda estrangeira, a competência continua sendo da Justiça Federal, porque compete ao Banco Central fiscalizar a circulação de moeda estrangeira em território nacional. Entretanto, quando a falsificação de moeda é grosseira, não se trata de crime de moeda falsa, pois se a falsificação é capaz de enganar alguém e se obteve a vantagem ilícita trata-se de crime de estelionato, logo, é de competência da justiça estadual, no teor da Súmula 73 do STJ. 1.2.24. Justiça estadual É a competência mais residual de todas, pois o crime somente será julgado na Justiça Estadual quando não for da competência da Justiça Especial (Militar ou Eleitoral) e da Justiça Comum Federal. A propósito, havendo conflito entre a Justiça Comum Federal e Estadual, prevalece a Justiça Federal, nos termos do art. 78, inciso III do Código de Processo Penal e Súmula 122 do STJ. Súmula 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal.” QUESTÕES PONTUAIS Crimes contra a honra praticados pelas redes sociais da internet: Competência da JUSTIÇA ESTADUAL (regra geral) STJ. CC 121.431-SE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/4/2012. Crime praticado em Banco Postal: Compete à JUSTIÇA ESTADUAL (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação penal na qual se apurem infrações penais decorrentes da tentativa de abertura de conta corrente mediante a apresentação de documento falso em agência do Banco do Brasil (BB) localizada nas dependências de agência da Empresa Brasileira de Correiose Telégrafos (ECT) que funcione como Banco Postal. STJ. 3ª Seção. CC 129.804-PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/10/2015 (Info 572). 28 29