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FUNDAMENTOS DE CLÍNICA NEUROLÓGICA LUIZ BRAZ MAZZAFERA MARÍLIA - SP 2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A coleta e a transmissão das impressões, das sensações, dos estímulos nervosos enfim, é feita através de um emaranhado de “fios neuronais” e que são levadas aos centros nervosos para reconhecimento e de onde emana uma resposta, uma ordem, correspondente a excitação. Esse circuito é feito a uma velocidade até então incomensurável. Trata-se de uma obra prima de engenharia da Divindade e, sobre esta realidade é que repousa a neurologia. Localizado o acometimento, haverá sempre ocorrerá uma resposta na sua exata correspondência. Fundamentada neste valor é que se assenta a clínica neurológica. Após um acurado exame neurológico, exames complementares nos darão outros valores tais como, a extensão de um processo expansivo ou o tipo do acometimento infeccioso, muscular, degenerativo etc. Assim. a neurologia objetivamente considerada, é nosso desiderato leva-la, de maneira simples, sem quaisquer rebuscamentos, ao generalista, ao residente, ao estudante e aos colegas que de uma ou de outra forma necessitarem de informação sobre a clínica neurológica Marília, SP, 2008 Luiz Braz Mazzafera 3 LIVRO I SEMIOLOGIA 4 1- HISTÓRIA CLÍNICA DO PACIENTE EXAME CLÍNICO GERAL Queixa Ao recebermos o paciente para o exame neurológico, torna-se prudente iniciarmos com o tradicional: “O que você sente?” À partir daí, já teremos uma vaga idéia das localizações, da urgência. Assim, o paciente nos dirá: “Tenho dores de cabeça há muito tempo” ou, “sofro ataques”, ou ainda, “minhas pernas não tem mais forças”, etc. Eis aí a queixa principal, o motivo da consulta História da doença atual A queixa nos dá a informação do porquê fomos procurados e os dados da história da doença colhida nos seus detalhes nos fornecem preciosos valores clínicos. “Uma história detalhada é fundamental para o diagnóstico”. Desse modo, devemos iniciar sempre o exame pela queixa e nunca pela história. Averiguaremos então, quando e de que modo a doença começou, se seu início foi lento e progressivo, se no seu curso ocorreram períodos de melhora, isto é, se evoluiu por surtos (“poussées”, impulsos dos franceses), ou então se sua instalação ocorreu de modo súbito. Os acidentes vasculares cerebrais têm instalação abrupta, as doenças degenerativas evoluem lenta e insidiosamente (traiçoeiramente), a nevralgia do trigêmeo tem como de suas características a incidência por surtos enquanto os tumores cerebrais evoluem progressivamente e o paciente refere sua constante piora. Importante é então anotar a seqüência do aparecimento dos sintomas. Resumindo, desde a instalação dos sintomas até o momento do atendimento, todos os elementos devem ser historiados e obedecida sua cronologia. Não nos esqueçamos do que colegas mais experientes nos transmitem: “uma boa história é meio diagnóstico” e, se associado a um bom exame clínico, estaremos dentro do ideal. Neto Realce Neto Realce Neto Realce Neto Realce 5 Antecedentes pessoais Vamos aqui procurar colher dados pessoais que possam correlacionar-se com a afecção atual. Assim, um epiléptico pode reconhecer a origem de seu problema na informação fornecida por sua mãe sobre um parto traumático ou numa cianose ocorrida num parto a termo. Verificaremos a época do início da marcha, da fala e do aprendizado escolar. Doenças próprias da infância e suas complicações como encefalites, a presença de convulsões com ou sem febre, são dados importantes. Fumo, alcoolismo, trabalho com defensivos e venenos, chumbo, mercúrio, doenças venéreas (sífilis), explicarão sérias patologias. Não nos esqueçamos também dos traumas de crânio e das afecções cardiovasculares. Antecedentes familiares Esses informes se revestem de importância face ao número de doenças com carga heredofamiliar. Exemplos: doença de Friedreich, doença de Wilson, coréia de Huntington etc. Exame geral Pressão arterial, pulso, temperatura, ausculta cárdiopulmonar, sistema ósseo, palpação de nervos, edemas, gânglios, são valores que devem ser pesquisados no exame clínico geral e que nem sempre foram anteriormente vistos. Desse modo, deve vê-los o neurologista e disso poderá decorrer o pedido de um eletrocardiograma ou mesmo de um exame de fezes, de urina ou um hemograma. Exame psíquico É atinente ao psiquiatra, mas dele o neurologista não pode se abster, porque alterações neurológicas podem reconhecer manifestações da esfera psíquica. Exemplos: coréia de Huntington, síndrome talâmica etc. Torna-se, pois, importante, a verificação do estado de consciência, da memória, do riso e do choro imotivados, da megalomania, dos comportamentos etc. Fácies e atitude Neto Realce Neto Realce Neto Realce 6 No momento em que o paciente adentra o consultório ou no momento em que é visto no leito, sua expressão facial, sua postura, sua atitude, podem nos induzir ao diagnóstico. A expressão facial dentro da neurologia somente perde importância para a endocrinologia. Assim, expressão congelada, dura, fixa, (“figée” dos autores franceses), a sialorreia, a pele seborreica, tornam extremamente simples o diagnóstico do mal de Parkinson. Um paciente sonolento demais nos sugere encefalite. O desencadeamento da dor ao tocarmos as chamadas “zonas de gatilho” , fazem com que o portador da nevralgia de trigêmeo demonstrem a expressão de medo ao ameaçarmos tocar sua face. Quanto a atitude, ela pode ela pode ser avaliada em função do equilíbrio estático, ou seja, com o paciente parado, ou, dinâmico, isto é, em movimento. O equilíbrio cinético nada mais é que o movimento de parte ou de todo o corpo que ficará numa nova posição onde se fixará. Fixo, está em equilíbrio estático novamente. Se desejarmos mover um membro inferior, estaremos dentro da motricidade voluntária a qual é subordinada a um sistema neurológico denominado sistema piramidal que adiante estudaremos. Se porém, quisermos dar um passo, o membro deslocado terá que se fixar na nova posição para que o outro inicie sua movimentação. O membro que se adiantou é “fixado” na nova posição por um fenômeno reflexo que age sobre os músculos, tendões e articulações e que se chama tono muscular. Estudando então, a atitude do doente, torna-se importante observar e analisarmos sua posição, seja em pé ou no leito. O meningítico toma a clássica posição em “gatilho de fuzil”, ou seja, deita-se lateralmente, nuca em extensão, pernas fletidas sobre as coxas e coxas fletidas sobre o tronco. A contratura de músculos dorsais colocam o tetânico em opistótono, quer dizer, fica numa posição como se fosse um arco sobre o leito. No emprostótono contraem-se os músculos flexores e no pleurostótono haverá contratura lateral. Estando todo o corpo rijo, duro como um bloco, estaremos em ortótono. No acidente vascular cerebral instala-se, em princípio, uma hemiplegia flácida. Depois, gradativamente, a hemiplegia torna-se espástica e o paciente toma a clássica atitude de Wernicke-Mann. Praxia Abotoar a camisa, fazer o sinal da cruz, pentear os cabelos, acender o cigarro, são atos práticos, coordenados e que objetivam um determinado fim. A praxia é a coordenação de movimentos para um determinado fim. Neto Realce 7 Na pesquisa da praxia, pode-se ou não usar objetos como um pente, um lápis etc. Se por exemplo o movimento do paciente para pentear-se ou fazer o sinal dacruz, é realizado corretamente diz-se que ele é eupráxico; se não, diremos ser apráxico e, quando realiza incorretamente, dispráxico. A consecução do fim colimado exige: 1- que se reconheça o objeto usado, por exemplo, o pente; 2- que se decida em pentear-se e que se tenha memorizados os movimentos para o pentear-se e, 3- finalmente, que os movimentos sejam executados. Se o paciente não reconhece o objeto (pente) haverá agnosia. O não reconhecimento do que seja um pente não implica haver propriamente uma apraxia, exatamente porque ele desconhece seu fim determinado, sua utilidade prática. Se, porém, o reconhece, se sabe para que serve o pente, mas não consegue executar os movimentos para pentear-se, estaremos efetivamente diante de um paciente apráxico. Qual a fisiologia disso? Em uma exposição muito simples diremos que o hemisfério cerebral esquerdo abriga um centro práxico. Próximo dele, mais acima, está um centro motor e mais abaixo o centro gnóstico. A incitação nervosa reconhecida pelo centro gnóstico atinge o centro práxico e, a partir daí, o centro motor (hemisfério esquerdo). Em seguida, pode atingir o núcleo motor da medula, cruzando para o lado oposto ou, atingir o centro motor do hemisfério direito, atravessando o corpo caloso e deste, retornar ao hemisfério esquerdo, percorrendo um trajeto igual àquele que partiu do centro motor do hemisfério esquerdo. Pela explicação acima, deduz-se haver necessidade de pesquisa da praxia de cada lado do corpo. Por quê ? Vejamos: o acometimento do centro eupráxico esquerdo determina apraxia bilateral, enquanto as lesões do corpo caloso determinam apenas acometimento do lado esquerdo. Exame da praxia Ordena-se ao paciente que abotoe e desabotoe a camisa, que faça o sinal da cruz com a mão direita e depois com a esquerda. Podem ocorrer três fatos: 1. Se o paciente entende, mentalmente concebe o ato e o explica, mas o membro que deveria executá-lo não o realiza, estamos diante de uma apraxia motora. Neto Realce 8 2. Se, porém, ele não concebe o ato, não o entende e seus membros movem-se bem, falta-lhe, então, o comando mental. Estamos diante de uma apraxia ideatória. 3. Em caso de hemiplégicos, observa-se a apraxia ideomotora, ocorrendo em um só dos lados do corpo. 9 2-MOTRICIDADE Compreende: 1) Motricidade voluntária Movimentos da cabeça, tronco e membros Força muscular – Manobras deficitárias Coordenação dos movimentos (taxia) Dismetria – diádococinesia 2) Motricidade passiva Tono muscular 3) Motricidade automática Marcha 4 Motricidade involuntária a-Espontânea Convulsões – mioclonias – balismos etc. b-Reflexa 1.1 – MOTRICIDADE VOLUNTÁRIA Vimos anteriormente que, no deslocamento de um membro, temos uma fase cinética (deslocamento) e outra, estática (fixação na nova posição). Na fase cinética, ocorrem as contrações clônicas e na fase estática as contrações tônicas. A movimentação de todo ou de parte do corpo pode ocorrer pela ação direta de nossa vontade. Nesse caso trata-se de uma motricidade voluntária . Assim quando desejar abro minha mão, movo um dedo etc. Na ocorrência de uma crise convulsiva, os movimentos não ocorrem por minha vontade; trata-se então de uma movimentação involuntária, ou melhor, de motricidade involuntária. Também consigo andar de bicicleta ou dirigir um carro, conversando com um companheiro sobre um assunto que nada tem a ver com aquilo que faço, isto é, não estou me dando conta de que pedalo ou que dirijo o carro. Faço-o automaticamente. É a motricidade automática. 10 Ordeno a um paciente que relaxe. Mudo então a posição de um de seus membros, que ficará na nova posição. Significa isso que, passivamente, ele admitiu o movimento e acabou por fixar o membro deslocado para nova posição. Estamos, então, diante da motricidade passiva (dependente do tono muscular). Estudemos melhor estes aspectos. Quando intentamos um movimento – motricidade voluntária - , a ordem parte da córtex cerebral, área motora, e, através dos cilindro-eixos das células nervosas, cruza no bulbo e chega às pontas anteriores da medula. Daí, via nervos periféricos, atinge os músculos próprios onde se efetua a contração. Esta via que preside os movimentos regidos pela nossa vontade é uma via superior, pois ela governa movimentos precisos, discretos, também chamados fásicos e compreende a denominada via motora direta ou via piramidal. Mas, se ando sem me dar conta do que faço, ou, se ao andar balanço os braços sem perceber, automaticamente, estaremos diante da motricidade automática. Para essa movimentação, a via não é mais a piramidal, embora as incitações nervosas também acabem nas pontas anteriores da medula e levados pelos neurônios motores periféricos atinjam os músculos. Esta forma de funcionamento ocorre, também, com a motricidade estática. Os centros e vias nervosas, cujas incitações não dependem de nossa vontade constituem-se na chamada via motora indireta ou via extra-piramidal. Concluindo: Via piramidal: - sob nossa vontade. Via extra-piramidal:- fora de nossa vontade. O sistema piramidal, ligado a motricidade voluntária contém, refreia, inibe a ação das motricidades automática e reflexa. Entendamos melhor. Na medida em que a criança se desenvolve, percebe-se que pouco a pouco, ela vai realizando movimentos mais precisos, de sorte que um sistema vai sobrepujando o outro e assim, se antes a criança se desequilibrava, passa a andar bem e finalmente, andará de bicicleta e chegará a automatizar seu deslocamento com esse veículo. O caminho inverso ocorre no acometimento do sistema piramidal por uma patologia qualquer quando então libertam-se os sistemas que lhe são subjacentes, assunto para o qual retornaremos posteriormente. Desse modo, no acidente vascular cerebral por exemplo, o paciente, com o tempo, adquire a espasticidade muscular, a hipertonia, o exagero de reflexos e os sinais que aparecem como conseqüência da lesão do piramidal são chamado sinais neurológicos de libertação. Na ocorrência de um acidente vascular cerebral, por exemplo, o paciente vai mostrar que tem seus movimentos limitados, exatamente 11 porque seu sistema piramidal foi lesado. A tais limitações mostradas pelo paciente chamamos sintomas de déficit. O estudo da via motora voluntária (piramidal) mostra que as fibras descem desde as células corticais de Betz, cruzam pelas pirâmides bulbares e atingem os núcleos das pontas anteriores da medula. Sobre isso já nos referimos, anteriormente, e seus detalhes foram vistos no estudo da neuranatomia, de sorte que essa referência tem apenas o significado de recordação. Vimos, então, que a lesão do sistema piramidal acarreta: 1) Sintomas neurológicos de déficit; 2) Sintomas neurológicos de libertação. Quais são esses sintomas? Veja o quadro sinótico abaixo; 1) Sintomas de déficit a. Atitude de Wernick-Mann b. Diminuição ou perda, transitória ou permanente, dos reflexos superficiais (abdominais, por exemplo) c. Hiperextensibilidade muscular d.Atrofia por desuso 2) Sintomas de libertação a. Sinal de Babinski b. Hipertonia c. Exaltação de reflexos d. Movimentos associados anormais (sincinesias) EXPLORAÇÃO DA MOTRICIDADE VOLUNTÁRIA Os movimentos, os deslocamentos, são possíveis graças às articulações. Assim, se ordenarmos ao paciente que execute movimentos como levantar os braços, dobrar os joelhos ou erguer os pés, ele mostrará nos seus movimentos a “energia” com que os executa, sua “amplitude”, sua “velocidade” e sua “pronta execução”. Essa observação deverá obedecer a um determinadocritério e, principalmente, dever-se-á comparar os dois lados do corpo. 12 Se o movimento não puder ser realizado haverá uma paralisia. Se o movimento é realizado abaixo do que seria considerado normal haverá uma paresia. Explicando melhor: se o movimento não for executado por uma causa de ordem muscular, teremos uma paresia ou paralisia miopática, mas se a causa estiver no trecho compreendido entre o núcleo motor das pontas anteriores da medula ou entre os centros motores dos pares cranianos e os músculos, portanto nos nervos periféricos, diremos que há uma paresia ou paralisia periférica. Quando ocorre a paralisia do hemicorpo (ou dimídio), damos o nome de hemiplegia. Podemos, ainda, encontrar monoplegia, diplegia ou tetraplegia. À diplegia dos membros inferiores chamamos de paraplegia crural (ou paraparesia crural se houver apenas diminuição dos movimentos). FORÇA MUSCULAR Para a pesquisa da força muscular, ordena-se um movimento e nos opomos a sua realização. A pesquisa sempre é feita comparativamente de um lado e de outro. Assim, o paciente tentará fletir o cotovelo e opomos resistência no seu antebraço; tentará fletir o joelho e, com a mão espalmada sobre ele, verificaremos sua força. Sempre, relembramos, comparando um lado com o outro. Além desse critério para pesquisa da força muscular, contamos com as manobras deficitárias que melhor evidenciam as alterações procuradas. MANOBRAS (OU PROVAS) DEFICITÁRIAS) Mais sensíveis, as manobras evidenciam até as discretas paresias, que veremos a seguir: a. Nos membros inferiores 1. Prova de Mingazzini Paciente em decúbito dorsal. Coxas fletidas em ângulo reto com a bacia e pernas em ângulo reto com as coxas. Membros superiores estendidos ao lado do corpo. O paciente em questão, deverá permanecer nesta posição em torno de 1 minuto. Observar-se-á se há oscilações, queda lenta ou queda abrupta. 13 2. Prova de Barré Paciente em decúbito ventral. Pernas em ângulo reto com as coxas. A prova pode ser senbilizada, diminuindo o ângulo para 45 graus. Poderemos observar oscilações e queda. 3. Prova do pé Paciente em decúbito dorsal. Havendo deficiência dos rotadores internos da coxa, o pé cai em abdução (lado externo). É o chamado pé de cadáver. b. Membros superiores 1. Prova de Raimiste Paciente em decúbito dorsal. Antebraços e mãos em linha reta que se colocam em ângulo reto com o braço. Sensibilizando, o ângulo poderá ser de 45 gráus. Haverá oscilações e queda. 2. Prova dos braços estendidos Sentado, o paciente estende os membros superiores na horizontal. Observar- se-ão oscilações e queda de um deles nas hemiparesias e hemiplegias. PARALISIAS: CENTRAL E PERIFÉRICA Diferenças a. Por lesão do neurônio motor central 1. Acometem vários músculos. Nunca um músculo individualmente. 2. hipertonia ou contratura 3. Atrofia por desuso 4. Reflexos ósteo-tendíneos conservados ou exaltados 5. Sinal de Babinski presente b. Por lesão do neurônio motor periférico 1. Pode acometer músculos individualmente 14 2. Flacidez ou atonia 3. Atrofia muscular 4. Reflexos ósteo-tendíneos diminuídos ou abolidos. 5. Ausência do sinal de Babinski COORDENAÇÃO DOS MOVIMENTOS Taxia Analisamos por diversas vezes, o sistema piramidal e o controle de movimentos ditos fásicos, movimentos finos, precisos como o conserto de um aparelho ou até de uma neurocirurgia. Mas, para a consecução desses movimentos, vários músculos ou grupos de músculos intervêm, numa perfeita conjugação para a obtenção da finalidade proposta. Diz-se então que o movimento é coordenado. É através dessa coordenação da atividade muscular que a criança respira, suga, que andará e um dia dirigirá um automóvel. Determinadas patologias porém, podem comprometer essa coordenação, ocasionando uma alteração a que se denomina ataxia a qual, uma vez instalada, tornará os movimentos inadequados, desordenados ou inseguros. Formas de ataxia 1. Ataxia estática 2. Ataxia dinâmica 1. Ataxia estática O paciente, em pé, oscila como um ébrio, porque os músculos que intervêm na sua postura, não agem em sincronismo, isto é, sinergicamente. 2. Ataxia dinâmica Observada durante a execução dos movimentos, mostra erros de direção ou de medida deles. Provas para constatação das ataxias A. Dinâmica 1. Membros superiores 15 Paciente abre ambos os membros superiores lateralmente ao corpo até atingir a horizontal. Tocará com a ponta do indicador, a ponta do nariz, primeiro com a mão direita, depois, com a mão esquerda, em seguida, chegando as duas juntas e, por fim, alternadas. A prova será sensibilizada se realizada com os olhos fechados. O paciente mostrará erro de direção e oscilações ao chegar próximo ao nariz. Pode-se também pedir que desabotoe e abotoe a camisa, que desenhe números no espaço etc. 2. Membros inferiores Em decúbito dorsal, o paciente coloca o calcanhar sobre o joelho da outra perna e o deslizará sobre a crista da tíbia chegando até ao pé. Observa-se que, quando o paciente vai colocar o calcanhar sobre o joelho, ocorre oscilações ou a queda do calcanhar para o lado. B. Estática Sinal de Romberg Pede-se ao paciente que permaneça em bípede estação com os pés juntos. Observar-se-á que ele oscila, que tem dificuldade para assumir esta posição. Fechando os olhos poderá até cair ou oscilará demais. Diz-se então que há Romberg positivo. Com o fechamentos dos olhos, o quadro piora, porque a correção de postura é feita pela visão, isto é, o paciente apóia sua posição na visão, daí falar-se em “muletas ópticas”. A alteração está ou nas vias da sensibilidade profunda, como nas polineurites periféricas (hipoestesia em bota) ou no labirinto (labirintopatias). Classificação das ataxias 1.Sensitiva 2.Cerebelar 3.Sensitivo-cerebelar 4.Labiríntica 1.Ataxia sensitiva a. Há predomínio no erro de direção b. Agrava com o fechamento dos olhos 16 c. Romberg presente Patologias: tabes, polineurites periféricas, afecções medulares. 2. Ataxia cerebelar a. Predomínio no erro da medida (dismetrias) b. O fechamento dos olhos não influi muito c. Não há sinal de Romberg Observa-se que o paciente ao segurar um copo com água, este oscila e derrama. Ainda, observa-se que quando ao tentar pegar o copo ou um objeto, um lápis por exemplo, o ultrapassará ou então não chegará até ele (hipermetria – hipometria). Acrescente-se, ainda, que o cerebelopata marcha como um ébrio (vide marcha). 3. Ataxia sensitivo-cerebelar (mista) Tem as características das alterações já vistas 4.Ataxia labiríntica A lesão está no sistema labiríntico. Observa-se: a. Presença do sinal de Romberg b. Ausência de dismetria c. Marcha em estrela d. A movimentação da cabeça agrava o equilíbrio 1.2 - Motricidade passiva Prosseguindo com o exame neurológico segundo uma ordem determinada, uma sistematização, vimos no capítulo anterior a motricidade voluntária e nela, en passant, analisamos a força muscular, manobras deficitárias, coordenação dos movimentos etc. Aqui é importante que se verifique o estado das articulações, isto é, a presença de anquiloses, se há limitação dos movimentos devido a problemas articulares, significando problemas atinentes ou não a neurologia. Normalmente, quando se faz a palpação da musculatura, estando o paciente em repouso, nota-se, percebe-se que ela mostra um estado de semicontração. A este estado de semicontração dos músculos denomina-se tono muscular, que é a base da motricidade estática. Trata-se de um fenômeno reflexo. 17 Imaginemos que um paciente desloqueum membro mudando-o portanto de posição; por exemplo, em pé, desloca um membro inferior para a frente, executando um passo. O membro na nova posição, terá que aí se fixar para que aquele que ficou para atrás execute o mesmo movimento. Temos então uma motricidade estática que permitirá a fixação das articulações na nova posição. Numa segunda situação, os outros grupos articulares do membro que ficou atrás se contraem cinéticamente e a marcha tem continuidade. Os estímulos para que o reflexo do tono se desencadeie, partem do próprio músculo, de sorte que cada músculo mantém o seu tono individual e seu estímulo mais importante é a distensão passiva. Chamou-se a isso de reflexo miotático (ou de tração), pois verificou-se que, se um músculo é distendido passivamente, reflexamente ele se contrai. O peso do corpo, a bípede estação, determina incitações que partem dos músculos, articulações ou de órgãos da sensibilidade profunda e, no total, teremos assegurado o tono muscular que somado às impressões táteis, de pressão e labirínticas, corroboram para uma perfeita postura e, portanto, para a motricidade. 1.2 - Exploração do tono muscular a. Inspeção Observemos se há a presença de sulcos delimitando os músculos; se forem nítidos, temos hipertonia, pois estão aumentados, mas se forem apagados ou não- visíveis, poderemos estar diante da hipotonia. b. Palpação Os músculos são palpados com a mão espalmada. Se estiverem rijos, são hipertônicos. Se forem moles, flácidos, serão hipotônicos. c. Movimentação passiva Balança-se o pé erguendo-o, segurando-se a perna próxima a articulação tíbio-társica. Do mesmo modo, segura-se o pulso e balança-se a mão. Se a mão e antebraço ou perna e pé formam um bloco rijo, estaremos diante da hipertonia, mas se a mão ou o pé ficam “soltos” , teremos hipotonia (é o chamado balanço passivo das articulações). Ocorrência 1. Hipotonia 18 A hipotonia é encontrada nas lesões do neurônio motor periférico, em casos de polineurites, tabes, poliomielites, seção de medula etc. 2. Hipertonia É encontrada em lesões centrais como nos casos de hemiplegias (A.V.C.), esclerose lateral, compressões medulares, mal de Parkinson etc. 1.3 - Motricidade automática Logo após o nascimento, alguns animais começam a andar depois de algumas tentativas para ficarem em pé. É o caso dos bovinos, eqüinos etc. Para o homem chegar a andar, requer-se um longo aprendizado, ao final do qual, ele passa a andar automaticamente e, num aprendizado mais sofisticado e especializado, dirige automóveis, pedala uma bicicleta, enquanto sua atenção fica totalmente desviada para outra coisa, às vezes fazendo até cálculos matemáticos. Essa automação exige uma conjugação, uma inteiração, verdadeira associação harmônica de trabalho muscular resultante de incitações nervosas. Essa inteiração, entre trabalho muscular e incitações nervosas, constitui o que denominamos sinergia. O andar, o balanço coordenado dos membros superiores demonstram uma seqüência de novas posições; também, durante a marcha, os membros ora estão à frente ora atrás, alternadamente, numa continuidade lógica de movimento. A isto denominados diadococinesia e sua alteração disdiadococinesia. Por derradeiro, a marcha exige que os passos na sua seqüência, sejam aproximadamente iguais na sua medida para se atingir o fim proposto. Há a exigência de eumetria. O cerebelo, com as modificações do tono muscular, é o coordenador da sinergia, diadococinesia e da noção de medida (eumetria). Exame da marcha O lugar onde se fará o exame, deve ser amplo; o paciente despido caminhará segundo uma reta. Observar-se-ão os desvios, oscilações, perdas de equilíbrio, modo de colocar os pés no chão (calcanhar ou ponta do pé). Se o paciente bate o calcanhar no chão (marcha talonante), podemos estar diante de um tábido. Se porém, apóia a ponta dos pés, tal como o casco do cavalo, a marcha será escarvante (polineurite). Se caminha como um bloco, inclinado para a frente como se andasse atrás de seu centro de gravidade, certamente será um parkinsoniano. 19 Observar-se-á também, o erguer-se da cadeira, sua parada, seu controle pelos olhos etc. Tipos de marcha 1. Parética 2. Espástica 3. Atáxica 4. Mista: espástico-parética, atáxico-parética, atáxico-espástica. 1. Marcha parética Paresia é uma paralisia incompleta. Ocorre quando um ou mais músculos não perdem inteiramente suas funções. Na marcha parética ocorre a paresia dos músculos dos membros inferiores que podem ser acometidos de flacidez ou contratura. Podem ser, uni ou bilaterais, resultado de acometimentos do sistema piramidal e raízes das pontas anteriores da medula. Uma vez lesado o sistema piramidal ocorrerá hipertonia (sinal de libertação). Estando nesse estado, os músculos hipertônicos acarretarão justamente a dificuldade para a marcha – a paresia. 2. Marcha espástica O espasmo muscular é a contração muscular involuntária, persistente, de um ou de um grupo de músculos. Este tipo de marcha observa-se no acidente vascular cerebral (hemiplegia capsular), onde há lesão do piramidal e portanto, hipertonia e paresia muscular. A marcha seria então pareto-espástica, embora predomine a espasticidade. Neste tipo de marcha, o paciente ergue o pé por deslocamento da bacia e o impulsiona para a frente fazendo-o roçar sua ponta interna, a qual descreve um arco no chão. Constitui a chamada marcha ceifante, helicópode, ou marcha de Todd. 3. Marcha atáxica Diferentemente das marchas parética e espástica, aqui o que está alterado é a coordenação e não o tono. Os membros inferiores se afastam, há oscilações do tronco e altera-se a eumetria (ocorre a dismetria). Observa-se a marcha atáxica nos acometimentos dos cordões posteriores da medula, nas lesões cerebelares e nas labirintopatias. No primeiro caso, nas lesões dos cordões posteriores da medula (ex. tabes), o paciente ergue mais o pé e, com violência, bate o calcanhar no chão (tacão) – é a marcha talonante. Nas lesões 20 cerebelares, o paciente não caminha em linha reta, mas como um bêbado – é a marcha ebriosa. Finalmente, nas labirintopatias, observa-se que, se pedirmos para o paciente, estando de olhos fechados, por diversas vezes caminhar alguns passos para a frente e retornar de fasto, acabará inscrevendo no chão uma estrela – é a marcha em estrela. Outros tipos de marcha 4. Marcha de pequenos passos – Observada na doença de Parkinson. 5. Marcha de pato – Observada nas doenças musculares, como na distrofia muscular progressiva. O paciente anda balançando os ombros para os lados como um pato. 6. Marcha de clown (palhaço) – Observada na coréia. O paciente faz caretas, joga os ombros abruptamente, descoordenadamente ou oscilando. 1.4 – MOTRICIDADE INVOLUNTÁRIA Compreende os movimentos realizados involuntariamente, independentes portanto, de nossa vontade. Pode ser: a. Espotânea – Efetiva-se independentemente de excitação: Transitória (convulsões) Permanente (coréias) b. Reflexa - Responde a uma excitação. a. Motricidade involuntária Aqui os movimentos são geralmente patológicos e transitórios (paroxísticos), podendo porém, serem permanentes, Na motricidade voluntária , atua o sistema piramidal, já na motricidade involuntária deparamos com o sistema extra-piramidal. Sua lesão se correlaciona com o aparecimento das coréias, atetoses, balismos, mioclonias, parkinsonismo etc. 21 Os sistemas extra-piramidais não são bem definidos pela neurofisiologia. Sabe-se porém, serem fundamentalmente eferentes e neles se considera o córtex cerebral e os núcleos da base, profundamente situados no cérebro.Do exposto acima, deduz-se que as lesões extra-piramidais serão fundamentalmente motoras e, atualmente tem-se que interferem no aparecimento de alterações do tono muscular e nos movimentos automáticos associados. Como movimentos automáticos, temos como exemplo, o andar de bicicleta sem nos darmos conta do ato de pedalar, ou os movimentos instintivos de recolher violentamente a mão ao tocar inadvertidamente em algo muito quente ou a tendência de correr, de se afastar ao ouvir uma explosão. Em verdade, são movimentos defensivos. No caso de balançar os braços, trata-se de um movimento associado ao movimento voluntário de andar. Resumo: Sistema extra-piramidal a. Tono: -Hipertonia b. Motricidade automática: -Mímica (fácies congelada no parkinsonismo. Hipercinesias (tremor), coréia, distorções, balismos, atetoses, mioclonias, espasmos, convulsões etc. c. Associada. Considerações sobre os sistemas piramidal e extra-piramidal O ser humano somente chega a andar, após passar por diferentes fases de aprendizado que, em verdade, se constituem numa superposição de valores, de sistemas neurológicos, e termina com a realização de movimentos finos, fásicos, submetidos ao sistema piramidal , ou seja, à sua vontade. Por outro lado, o inverso dessa caminhada evolutiva dar-se-á, quando, acometido o sistema piramidal, libertam-se certos sintomas até então inibidos, como que contidos, e que fazem parte do sistema imediatamente inferior – o extra- piramidal. Nesta mesma escala, piramidal e extra-piramidal, atuam inibidoramente sobre o tono muscular. Estes sistemas terão então que trabalhar concomitantes e harmonicamente, para que não ocorram os excessos, os exageros, que cada um deles pode 22 desencadear no paciente uma vez libertos do sistema imediatamente superior. Assim, se forem lesados, liberta-se o tono com seu exagero – a hipertonia muscular, isto porque as incitações dos dois sistemas superiores, partindo dos centros nervosos corticais e subcorticais, atingem os núcleos motores dos nervos cranianos e raquidianos e daí, por esses nervos, chegam aos músculos. Da mesma forma, na hemiplegia capsular (acidente vascular cerebral), acometido o sistema piramidal, liberta-se o extra-piramidal e observar-se-á a hemiplegia, a marcha ceifante e, pela espasticidade, a contratura. Nota-se então, que o antebraço flete-se sobre o braço, a mão se fecha, parecendo que os últimos quatro dedos seguram o polegar. Por sua vez, ao contrário do membro superior, o membro inferior distende-se e parece querer se apoiar na ponta interna do pé. Esta é a atitude de Wernicke-Mann. Se o lesado for o sistema piramidal, observaremos a presença da hipertonia muscular, olhar fixo, pele seborreica, exagero dos reflexos profundos, sialorréia etc. Estaremos então diante da doença de Parkinson. Movimentos involuntários mais encontradiços na clínica diária Coréias Aqui os movimentos involuntários são bruscos, violentos, descoordenados e sem uma finalidade definida. 1.Encontramos esses valores clínicos na Coréia de Sydenhann (ou doença de S. Guido ou coréia minor), de origem reumática e que acomete crianças. 2.Na coréia crônica progressiva de Huntigton, os movimentos são menos intensos e a doença possui carga heredofamiliar. Acomete adultos (ao redor dos 25 anos) com transtornos psiquiátricos que terminam na demência. 3.Coréia gravídica. Atetoses Nas atetoses os movimentos involuntários podem se limitar aos dedos e aos artelhos. São lentos e contínuos. Com a execução de um movimento voluntário, eles se acentuam. Diferem dos movimentos coreicos pela lentidão. Mioclonias São contrações musculares bruscas, involuntárias e acometem um ou grupos musculares, mas não chegam a determinar movimentos. 23 Convulsões Serão estudadas, dada sua importância clínica, com as epilepsias. Motricidade involuntária reflexa. Na motricidade involuntária reflexa estuda-se os reflexos. A toda incitação ocorre uma resposta reflexa, que por sua vez, pode se traduzir em uma atividade motora, secretória ou nutritiva. Diremos então que: Reflexo é a resposta motora, secretora ou nutritiva independente da vontade, provocada imediatamente pela aplicação de um estímulo, podendo ou não, ser consciente. Assim, se percutirmos o tendão rotuliano a perna se estende; ao chegar ao estômago o alimento provoca a secreção gástrica (reflexo de Pavlov); o olho lacrimeja ao entrar em contato com a fumaça, poeira etc. A incitação recolhida percorre uma via aferente, ganha o centro nervoso e retorna pela via eferente. Tal é o arco reflexo simples. Não nos esqueçamos porém, de pesquisarmos os reflexos de cada lado e comparativamente. Reflexos 1. Profundos 2. Superficiais 1. Reflexos profundos (ósteo-tendíneos) Ao se percutir um tendão obtém-se como resposta, a contração muscular involuntária, imediata e de curta duração. Só a medula intervém na sua produção, não alcançando então, níveis superiores. Trata-se de um reflexo simples. No exame o paciente deverá ficar calmo, sem se preocupar com o que será feito, mantendo relaxada sua musculatura. Para a pesquisa usa-se o martelo de reflexos (existem vários modelos no mercado) e, na sua ausência, pode-se usar o dedo em forma de martelo, uma colher ou mesmo o estetoscópio. a. Reflexos profundos dos membros inferiores Reflexo Aquileu (ou aquiliano) 24 Pode ser pesquisado com o paciente deitado, sentado ou em pé, com a perna fletida e apoiada sobre uma cadeira. Se deitado, dobra-se uma perna, colocando-a apoiada sobre o outro joelho. Segura-se o pé da perna fletida e percute-se o tendão de Aquiles. Se o paciente estiver sentado, as pernas ficarão pendidas. Apóia-se ligeiramente o pé e percute- se o tendão. A resposta será sempre a extensão do pé. Reflexo patelar O paciente fica em decúbito dorsal. Ergue-se seu joelho pelo cavo poplíteo e percute-se o tendão rotuliano. Estando sentado, com as pernas pendentes, percute- se o tendão. A resposta será a extensão da perna. b. Reflexos profundos dos membros superiores Reflexo estilo-radial Coloca-se o paciente com o antebraço em flexão sobre o braço descansando sua borda cubital sobre a mão do examinador. Percute-se sobre a apófise estilóide do rádio. Resposta: flexão do antebraço. Centro: região cervical Reflexo bicipital Percute-se o tendão do bíceps, na dobra do cotovelo onde se sobrepõe o polegar do examinador. Resposta: flexão do antebraço Centro: região cervical Reflexo tricipital Apóia-se o braço deixando o antebraço pendente em ângulo reto. Percute-se o tendão do tríceps. Resposta: extensão do antebraço. C- Reflexos profundos do tronco Reflexo médio-pubiano Coloca-se o paciente em decúbito dorsal. As pernas ficam fletidas sobre as coxas e os joelhos afastados. Percute-se a sínfise pubiana. 25 Resposta: aproximação das coxas, por ação reflexa de seus adutores. Centro: região dorso-lombar. d. Reflexos profundos da cabeça Reflexo nasopalpebral A percussão da região da raiz do nariz (frontal), com os olhos suavemente fechados, produz a contração do músculo orbicular das pálpebras. Via: trigêmio (sensitiva) – facial (motora). Centro: ponte. Reflexo masseterino Coloca-se o paciente com a boca entreaberta. Polegar do médico sobre o mento. Percute-se sobre o dedo do médico. Resposta: elevação da mandíbula. Via: trigêmino-trigeminal. Centro: ponte. 2. Reflexos superficiais Explorados os reflexos profundos (ósteo-tendíneos), explorar-se-ão os reflexos superficiais (cutâneo-mucosos). Por estes reflexos, obtêm-se contrações de um ou de um grupo de músculos através de excitaçõesna pele ou na mucosa correspondente. Para isso, pode-se usar algodão, alfinete, cabo do martelo etc. Reflexo superficial do membro inferior a. Reflexo plantar – Sinal de Babinski A excitação da parte externa da planta do pé provoca a flexão dos artelhos. Este é o reflexo plantar. Se, pelo contrário, observar-se a extensão do grande artelho e a flexão dos demais ou então eles que eles se abrem em leque, estaremos diante do que se denomina Sinal de Babinski. O que significará este sinal? Nos primeiros um ou dois anos de vida, a existência desse sinal pode ser considerada normal pela inocorrência da mielinização das fibras nervosas. Sua presença significa sempre acometimento do sistema piramidal e ele aparece na medida em que a medula recobra seu automatismo. É, portanto, um sinal de conhecimento obrigatório pelo clínico. 26 b. Reflexo superficial do tronco Reflexo cutâneo abdominal O paciente posiciona-se em decúbito dorsal. Estimula-se a pele do abdome com uma ponta romba (lápis por exemplo), nas regiões supra, infra e umbelical. A resposta é o desvio da cicatriz umbelical para o lado estimulado. Centro: região dorsal. c. Reflexo superficial da cabeça Reflexo córneo-palpebral Excita-se a córnea ou a conjuntiva com um fiapo de algodão e o orbicular da pálpebra se contrai. Via: Trigêmino-trigeminal Centro: ponte. 3. Sincinesias Ao se consumar um movimento, no geral voluntário ou passivo, pode-se observar que um outro movimento se lhe associa. A este fenômeno denominamos sincinesia, que difere do reflexo, porque, neste, há uma incitação e naquele um movimento voluntário ou passivo. Sua explicação, sua fisiopatologia, não está bem aclarada, poder-se-ia dizer tratar-se de uma lesão do sistema piramidal com suas conseqüências no sistema liberado no lado paralisado. As sincinesias não são pesquisadas rotineiramente e três são suas formas: a. Sincinesia de imitação Exemplo: um hemiplégico fechando fortemente a mão do lado são, faz com que a mão do lado paralisado imite esse movimento. Isoladamente, ele não conseguirá fechar a mão do lado hemiplégico. b. Sincinesia global Exemplo: ordena-se ao hemiplégico (espástico) que efetue um movimento do lado são e nos opomos ao movimento determinado. Observaremos que enquanto o membro superior flexiona, o inferior distende. c. Sincinesia de coordenação 27 O hemiplégico, deitado, tenta sentar-se no leito (flexionar o tronco sobre os membros inferiores). Observar-se-á a elevação do membro inferior parético. 28 3- SENSIBILIDADE A sensibilidade dá ao organismo o conhecimento das modificações que o cercam. Pela sensibilidade protegemo-nos do calor, frio ou de algo que possa nos molestar e está presente até nos animais inferiores, mesmo os mais simples na escala biológica evolutiva. Assim, toque-se uma ameba e ela recuará. A isso chamamos sensação. Estímulos sensíveis colhidos são levados aos centros superiores (via aferente) que os reconhecem, havendo um retorno, (via eferente ou efetora), que nos protege. Mas nem sempre o organismo tem consciência do estímulo, pois há os que não atingem a consciência ou, se o fazem, é de modo impreciso, difuso. Esta é a sensibilidade inconsciente, ou não consciente, que produz a ação reflexa e que interessa a nossa clínica. Poderíamos, então compreender a 1. Sensibilidade superficial consciente (pele) 2. Sensibilidade profunda (muscular e ósteo-tendínea) RECEPTORES ESPECIAIS Na sensibilidade tátil encontramos os corpúsculos de Meissner. Na sensibilidade térmica, os corpúsculos de Krause (para o frio) e Ruffini (para o calor). Na sensibilidade dolorosa (não há receptor especial) SENSIBILIDADE SUPERFICIAL CONSCIENTE – (Pele) Esta sensibilidade compreende: Sensibilidade tátil; Sensibilidade térmica e Sensibilidade dolorosa As incitações dolorosas se efetuam na pele através de receptores especiais:- os corpúsculos de Meissner recebem as incitações táteis, os corpúsculos de Krause, as incitações pelo frio e os corpúsculos de Ruffini, as de calor. A dor se inicia pela excitação das terminações nervosas da epiderme e da derme e que pode ser desencadeada por ações mecânicas, térmicas, químicas, físicas, dependente da intensidade. 29 Não há portanto, estímulo próprio para a dor. Pesquisa da sensibilidade tátil Roça-se a pele com um pedaço de papel, algodão ou simplesmente com os dedos. O paciente dirá se sente ou não ou se mais ou menos intensamente. Nas polineurites periféricas, a sensibilidade diminui nas extremidades dos membros tal como, se calçassem botas ou luvas. Lembramos que a perda da sensibilidade tátil ou barestésica1 na planta dos pés ocasiona o sinal de Romberg, já estudado. Pesquisa da sensibilidade térmica Estando o paciente com os olhos fechados, usa-se dois tubos de ensaio com água quente e fria. Descontinuamente toca-se sua pele e inquirimos se tem a sensação de frio ou quente. Pesquisa da sensibilidade dolorosa Toca-se o paciente com uma agulha e ele acusará a picada. Poderá até discriminar se foi tocado pela ponta metálica ou pela ponta do dedo do examinador. 2. SENSIBILIDADE PROFUNDA CONSCIENTE (Muscular e ósteo-tendínea) É a sensibilidade iniciada com incitações localizadas ao nível de músculos, tendões, articulações e ossos. Temos: a. Barestésica O paciente, além da pressão, poderá avaliar também o peso (barognosia2) sobre parte do corpo. Os receptores são os corpúsculos de Paccini. b.Palestésica (Sensibilidade vibratória) É pesquisada com o diapasão. 1 Barestesia=sensibilidade a peso ou pressão 2 Barognosia= capacidade de reconhecer o peso 30 Faz-se vibrar o diapasão (128 vibrações) e assenta-se seu pé sobre partes do corpo onde há revestimento direto do osso pela pele, tal como no meio do nariz, sobre a apófise estilóide do rádio, sobre o crânio, maléolos, rótula, testa etc. e o paciente nos dirá se sente ou não as vibrações. Batestésica Com os olhos fechados, o paciente nos dirá a posição em que está parte de seu corpo. Entra em ação o sentido das atitudes segmentares. ESTEREOGNOSIA Deve ocorrer o reconhecimento, através das sensibilidades tátil, térmica, barestésica etc, de objetos seguros pelo paciente e estando com os olhos fechados. Usa-se lápis, borracha ou uma caneta e ele descreverá o objeto que segura. Sensibilidade visceral O paciente acusará dor pela compressão dos olhos, músculos etc. 31 PARES CRANIANOS Iº - PAR – NERVO OLFATIVO IIº - PAR – NERVO ÓPTICO IIIº - PAR – NERVO ÓCULO-MOTOR (OU MOTOR OCULAR COMUM) IVº - PAR – NERVO TROCLEAR (OU PATÉTICO) VIº - PAR – NERVO ABDUCENTE (OU MOTOR OCULAR EXTERNO) Vº - PAR - NERVO TRIGÊMEO VIIº - PAR - NERVO FACIAL VIIIº–PAR – NERVO VESTÍBULO-COCLEAR (OU ESTÁTO- ACÚSTICO) IXº - PAR - NERVO GLOSSOFARÍNGEO Xº - PAR - NERVO VAGO (PNEUMOGÁSTRICO) XIº - PAR - NERVO ACESSÓRIO XIIº - PAR - NERVO HIPOGLOSSO ------------ 32 Iº PAR – NERVO OLFATIVO Este nervo mostra variações olfativas que vão desde a diminuição até a ausência ou as perversões e alucinações olfativas. A diminuição da capacidade olfativa denomina-se hiposmia e sua ausência, anosmia. As perversões olfativas constituem as parosmias. Lembramos que alucinações olfativas são sempre de origem cortical enquanto que a perversão olfativa, que torna agradável odores fétidos, constitui a cacosmia.Em sua grande parte, reconhecem-se como causas das anormalidades olfativas, os traumatismos e os tumores da face inferior dos lobos frontais. Eles podem acarretar a fratura da lâmina crivosa do etmóide, quando então as fibras provenientes da mucosa olfativa são lesadas e alteram a transmissão das sensações. Os tumores por sua vez, também agem sobre os bulbos e fitas olfativas por compressão direta, mecânica. Em outros casos, as meningites, diabetes ou alcoolismo, entre outras doenças, podem ser causa de anosmia. Em nossa clínica tivemos oportunidade de observar, com freqüência cada vez mais acentuada, a anosmia psíquica. Por último, lembramos que determinadas crises epilépticas tem como aura, sensações olfativas tais como cheiro de chifre queimado, sensações odorífícas indefinidas, mas no geral são sensações desagradáveis. Essas crises são denominadas crises uncinadas. Exploração Com os olhos fechados aproxima-se do paciente determinados odores, um de cada vez, tapando-se ora uma e outra narina, e ele irá identificá-los. Durante a exploração clínica, não se usarão irritantes para não excitar as terminações nervosas do trigêmeo. IIº PAR – NERVO ÓPTICO Impressões luminosas colhidas na retina pelo nervo óptico se dirigem ao quiasma óptico onde, em parte cruzam para o lado oposto e, afinal, pelos tratos ópticos, terminam no córtex cerebral (cisura calcarina). Muito resumidamente, sabemos que esta é a anatomia das vias ópticas. Importante no estudo deste segundo par é o conhecimento da campimetria, que nos oferece precisão na determinação do campo visual. A campimetria nos dá ainda o conhecimento de escotomas (visão de manchas fixas sobre o campo visual), além das hemianopsias (visão da metade do campo). 33 Este exame é realizado pelo oftalmologista, entrementes, o neurologista e o clínico geral podem obter, por pesquisas mais simples, dados absolutamente importantes para seu diagnóstico. O exame do fundo de olho (fundoscopia), rotina oftalmológica, também pode ser efetuado pelo clínico, sobre isto falaremos mais adiante. Exploração O médico posiciona-se diante do paciente de sorte a ficarem na mesma altura. O examinado olhará fixamente em um ponto (raiz do nariz do médico) e daí não desviará o olhar nem moverá a cabeça. Em seguida, o examinados distenderá, lateral e horizontalmente, seus braços e perguntará se o paciente percebe a movimentação de seus dedos. Depois, distenderá os braços na vertical, primeiro para cima, em seguida, para baixo, e perguntará sobre a movimentação de seus dedos. Outra maneira é pedir ao paciente que fixe o olhar no examinador, que deslocará, devagar, um lápis para a direita, depois, para a esquerda, para cima e para baixo. O examinado dirá, na medida do deslocamento do lápis, se está ou não continuando vê-lo. Não havendo visão em metade do campo dizemos que há hemianopsia. Se, porém, a hemianopsia se verificar em ambos os lados, esquerdos ou direitos, diremos que há uma hemianopsia homônima. Se a hemianopsia for encontrada em uma metade direita e em outra metade esquerda dizemos haver uma Hemianopsia heterônima. Se o paciente não enxerga as metades dos lados do nariz, a hemianopsia é dita bitemporal (porque a cegueira atingiu os lados temporais das retinas); caso contrário, se a cegueira acomete as retinas do lado temporal, teremos a hemianopsia binasal. A hemianopsia em quadrante é observada quando acometido ¼ do campo visual e as lesões serão retroquiasmáticas (radiação óptica). O campo visual nos permite, então, localizar a situação da lesão orgânica, se é pré-quiasmática, se está no quiasma (região hipofisária) ou se é retro-quiasmática. O diagnóstico de tumores hipofisários, em geral é feito partindo-se de alterações do campo visual em decorrência do acometimento do quiasma, que é como que empurrado pelo tumor (craniofaringeoma). Exame de fundo de fundo de olho (fundoscopia) É um exame de extrema importância e feito com o oftalmoscópio . 34 Para o neurologista, é fundamental o reconhecimento do estado das papilas ópticas, pois inúmeras patologias acarretam alterações papilares, em especial a hipertensão intracraniana causadora do edema de papila (papiledema), a congestão venosa e, num estágio mais avançado, hemorragias retinianas. São de enorme interesse para o neurocirurgião que busca o reconhecimento dos tumores cerebrais (processos expansivos de modo geral), notadamente os da fossa posterior, que mais precocemente produzem alterações fundoscópicas. A atrofia de papila é vista no oftalmoscópio como uma papila esbranquiçada, descorada, e de limites nitidamente desenhados, enquanto que no edema, a retina mostra veias congestas em oposição a artérias finas com a papila de bordos borrados, pouco nítidos (borramento papilar). Seja por neurite óptica ou por hipertensão, em estágio posterior ao edema, a papila poderá chegar à atrofia, isto é, à irreversível cegueira. IIIº PAR – OCULOMOTOR (OU MOTOR OCULAR COMUM) IVº PAR - TROCLEAR (PATÉTICO) VIº PAR - ABDUCENTE (MOTOR OCULAR EXTERNO) Estes três nervos são estudados em conjunto, porque são os responsáveis pela inervação dos músculos extrínsecos do olho. São, por isso denomimados nervos oculomotores. O acometimento da inervação extrínseca do olho faz com que, em determinadas situações, haja diplopia (visão dupla). Temos uma visão binocular com a sensação de unicidade, porque, sendo as pupilas simétricas, a imagem de um objeto é projetada simétricamente nas retinas. Se, porém, a posição das pupilas é desigual, as imagens projetar-se-ão em pontos não simétricos e, disso advém então, a visão dupla ocasionada pela paresia dos músculos ora em estudo. Deste modo, se taparmos um dos olhos, a sensação da visão será normal. Dependendo do estado do músculo paresiado (ou paralisado), o olho pode mover-se, mas somente o faz para o lado acometido, pois o músculo age como se “puxasse” o olho para si, fazendo o equilíbrio tensional entre os músculos antagônicos. Exploração Examinar: Movimento dos olhos 35 Pupilas Nistagmo 1. MOVIMENTO DOS OLHOS IIIº PAR – ÓCULOMOTOR A ptose palpebral se dá pela paralisia do elevador da pálpebra e, portanto, o olho não se abre contrariamente ao acometimento do VIIº par, por isso o olho não oclui. No estrabismo externo, o músculo reto externo traciona o olho para fora, porque o reto interno está paralisado; associado a ele ainda há oftalmoplegia com midríase paralítica (perda do reflexo fotomotor e acomodação). Vamos lembrar que o óculomotor contrai a pupila e o simpático dilata-a. Portanto, o diâmetro da pupila depende desse equilíbrio. IVº PAR – TROCLEAR A paralisia por lesão desse nervo é raríssima e seu reconhecimento muito difícil; além disso, na clínica dificilmente, esse acometimento se apresenta de forma isolada. VIº PAR – ABDUCENTE –(MOTOR OCULAR EXTERNO) Este par inerva o músculo reto externo. Quando este músculo paralisa, o reto interno o traciona. Por isso, ocorrerá um estrabismo convergente (para o lado nasal) e, quando o paciente tenta olhar para o lado lesado com o olho são, surgirá a diplopia. Pupilas A alteração da forma das pupilas é denominada discoria. Quando elas são iguais dizemos isocóricas e, quando desiguais, anisocóricas. A dilatação pupilar corresponde a midríase e a contração, miose. A miose espasmódica é provocada pela excitação do nervo óculomotor; por outro lado, a miose paralítica é provocada pelo simpático. Como distingui-las? A diferenciação se faz instilando atropina no saco conjuntival; se for espasmódica, a pupila irá se dilatar, porque o simpático ficará bloqueado. Deduz- 36 se, portanto, que a isocoria está noequilíbrio entre o óculomotor (que contrai) e o simpático (que dilata). a. Reflexo fotomotor Na presença de luz, as pupilas se contraem. Este é o reflexo fotomotor que se verifica com o auxílio de uma lanterna e cujo exame se faz em cada olho, separadamente, com o paciente tapando um olho, depois o outro. b. Reflexo consensual Observa-se que quando a luz incide sobre um olho a pupila do outro se contrai. c. Reflexo à acomodação Quando o paciente olha um objeto próximo, a pupila se contrai (miose), porque o músculo ciliar se contrai e o cristalino aumenta sua convexidade. Ao dirigir o olhar para um ponto distante e em seguida para um objeto próximo: a pupila se contrai. d. Reflexo de Argyl Robertson É no geral, o sinal que traduz neurolues e consiste em perda do reflexo fotomotor (pode haver miose) conservando a reação a convergência e a acomodação. A patogenia deste reflexo não está bem elucidada. Patologias com acometimento do IIIº par (oculomotor): acidentes vasculares, meningites, tumores do tronco cerebral, encefalites, esclerose lateral, traumatismos (com os demais oculomotores), avitaminoses, miastenias etc. Patologias com acometimento do IVº par (troclear): são dificilmente observáveis. Patologias com acometimento do VIº par (abducente): hipertensão intracraniana, meningites, diabetes. Nistagmo Consiste em tremores ou oscilações involuntárias dos globos oculares, em geral bilaterais e simétricos. Estas oscilações podem ser horizontais (forma mais comum) ou verticais (pendular). O nistagmo rotatório, combinação de ambas as formas, é de difícil observação. Determinam o aparecimento de nistagmo as lesões vestibulares e cerebelares. Exploração 37 Explora-se o nistagmo ficando o paciente com a cabeça imóvel e acompanhando com o olhar o deslocamento da mão ou de um objeto do examinador, para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. Vº PAR – TRIGÊMEO É um nervo misto e, dentre os doze pares cranianos, é o que tem maior volume. Compreende os nervos: Oftálmico Maxilar superior e Maxilar inferior (mandibular) É um nervo misto, porque se une ao mastigador (motor). Portanto a investigação do trigêmeo compreende a parte sensitiva e os reflexos (Vide distribuição sensitiva do trigêmeo na pele). a. Sensibilidade Será tátil, térmica e dolorosa na pele e mucosa. Na rotina pesquisa-se somente a tátil, usando um pedaço de algodão, que roçará a pele na face e as mucosas nas pálpebras. b. Motricidade O paciente abrirá e fechará a boca, fazendo movimentos de mastigação e de deglutição. Lembramos que o nervo mandibular inerva os 2/3 anteriores da língua. Nevralgia do trigêmeo (tic doloroso) Nesta patologia surgem dores intensas de acometimento súbito, mais freqüentes no território do infra-orbitário e mandibular. Em geral acometem pessoas idosas. Nunca a vimos em jovens. Elas são despertadas a partir de determinados pontos-chaves, ou pontos- origens (pontos de Valleix). Assim, se roçarmos o dedo pelo supercílio, asa do nariz ou lábios, desencadeia-se a dor. Estas zonas são, por isso, denominadas zonas de gatilho (trigger zone). A nevralgia do trigêmeo é sempre unilateral. Ás vezes, a dor é tão intensa que o paciente nos diz que, ao falar, o simples toque da língua na gengiva ocasiona a dor, tal como uma descarga elétrica. Não nos esqueçamos de que a nevralgia trigeminal é periódica. 38 VIIº PAR – FACIAL Este par também é nervo misto. Ao estudarmos o trigêmeo, percebemos a predominância sensitiva. Aqui a predominância é motora e a parte sensitiva é representada pelo nervo intermediário de Wrisberg (N. intermediário). O facial inerva, praticamente, todos os músculos superficiais da face, dando- lhes a movimentação necessária para determinar expressões faciais (daí ser chamado de nervo da mímica ou da expressão) e seu ramo sensitivo (N. intermediário) colhe as sensações gustativas dos 2/3 anteriores da língua, do conduto auditivo externo e parte do pavilhão da orelha. Exploração Sua exploração inicia-se pela observação que irá demonstrar a ausência ou diferença entre os sulcos nasolabiais de cada lado, a ausência de piscamento de um olho, como também a ausência de sulcos em uma das metades da testa. Temos que distinguir então, a paralisia facial central (ou ausência de sulcos supra nucleares), e a periférica (compreendida pela ausência de sulcos nucleares e infra-nucleares). a. Paralisia facial periférica Acometido o facial na sua porção periférica, isto é, desde sua origem bulbo- pontina, ocorrerá: 1.Desaparecimento das rugas da fronte. O paciente não ergue o supercílio. 2.A fenda palpebral fica entreaberta no lado paralisado, quando se tenta fechar os olhos. 3.O paciente refere correr lágrimas pelo ângulo externo do olho paralisado (epífora). 4.Ao tentar fechar os olhos, o globo ocular move-se para cima, chegando a esconder-se atrás da pálpebra (Sinal de Bell). 5.Ao tentar olhar para cima, nota-se que o olho paralisado fica mais alto que o do lado são (Sinal de Negro). 6.O paciente queixa-se de que, ao tentar beber água ou tomar sopa, o líquido sai pelo canto da boca e, como recurso, ele comprime a bochecha. 7.Ao abrir a boca, a rima bucal é desviada. O paciente não consegue assobiar. 8.Dependendo da localização da lesão, haverá perda da gustação nos 2/3 anteriores da língua. O paciente acusa não sentir o gosto do alimento, quando mastiga do lado paralisado. A paralisia facial periférica era denominada paralisia a frigore, pois pensava-se ser devida ao frio. Embora reconheçamos que possa não ser esta a 39 causa, temos que admitir, também por observação em nossa clínica, que sua incidência se dá, preponderantemente, na época fria do ano. Na maior parte dos casos desconhece-se sua origem. De qualquer modo, não nos esqueçamos das neurites, diabetes, lues, leucemia, do herpes etc. b.Paralisia facial central Aqui o paciente enruga a testa, fecha os olhos e não são observados os sinais de Bell e de Negro. Entrementes, observa-se que o fechamento dos olhos não é conseguido com força do lado paralisado e também não é possível o piscamento isolado. Podemos encontrar a paralisia facial central nos casos de abcessos, tumores e hemorragias cerebrais. VIIIº PAR – VESTÍBULOCOCLEAR (ESTATOACÚSTICO, AUDITIVO OU ACÚSTICO) É um nervo exclusivamente sensitivo que se liga ao equilíbrio e a audição. Como o nome diz, é composto pelo nervo coclear (ligado a audição) e pelo nervo vestibular (ligado ao equilíbrio). Atualmente, o uso de aparelhos mais sensíveis nos da maior precisão diagnóstica (exame otoneurológico), porém na clínica diária, o diapasão de 128 vibrações nos dará uma boa idéia da audição, porque, para o clínico, o som emitido pela vibração deste instrumento servirá como base de pesquisa da audição em cada ouvido. O nervo vestibular conduz as sensações labirínticas e dá orientação espacial, bem como o equilíbrio do corpo. O paciente revelará ainda, sensações de vertigem e zumbidos. A primeira é uma sensação desagradável produzida pelas alterações do equilíbrio e o examinado relata a sensação de que seu corpo roda (vertigem subjetiva) ou de que os objetos circundantes o fazem (vertigem objetiva), enquanto ele fica parado. Às vezes, essas duas sensações se associam. O resultado final é o paciente sentir náuseas, vômitos, sudorese, apresentar palidez e até queda. Ainda, nas lesões vestibulares podem ocorrer o nistagmo, anteriormente estudado. É importante verificar a postura nas lesões labirínticas mais graves, em que o paciente inclina a cabeça para o lado doente e dirige o olhar para o lado são. Existem provas especiais para a verificação donistagmo como a da cadeira rotatória, a prova calórica feita com água quente e fria etc., mas, que sobretudo, interessam ao especialista. Já nas lesões irritativas ocorre postura inversa. 40 Sinal de Romberg (labiríntico) O examinado estando em bípede estação, pés juntos, mãos junto às coxas (posição militar de sentido) ao fechar os olhos oscila lateralmente. Esta prova pode ser sensibilizada, colocando-se um pé frente ao outro. Marcha em estrela ou Marcha cega - (vestibular) No acometimento vestibular, o paciente caminha para frente e para trás numa extensão de aproximadamente três a quatro metros (sensibilização: olhos fechados) momento em que se observa que vai se desviando na trajetória descrevendo no chão a figura de uma estrela (vide exame da marcha). Patologia do VIIIº par – Nervo periférico No acometimento periférico do vestibular registram-se: labirintites, alterações vasculares do labirinto (Síndrome de Menière), aterosclerose, traumatismos, tumores. Patologia do VIIIº par – central No acometimento central do vestibular, verificam-se as seguintes patologias: hipertensão intracraniana, tumores, esclerose em placas etc. IXº PAR – GLOSSOFARÍNGEO O IXº par é um nervo misto com funções sensitivas, motoras, secretora e vaso dilatadora. É o nervo mais importante do sentido do gosto. Suas fibras motoras relacionam-se a alguns movimentos da faringe e véu do paladar enquanto as sensitivas relacionam-se com o terço posterior da língua. A recepção de estímulos gustativos é feita nos 2/3 anteriores pelo nervo mandibular. Exploração A exploração desse nervo far-se-á pesquisando a sensibilidade da língua no seu terço posterior. Consiste em tocar-la com algodão embebido com sabores doce, salgado, azedo e amargo. Esta pesquisa não é feita rotineiramente. Nevralgia do glossofaríngeo Este nervo pode acusar: dores de curta duração, freqüentes, que se manifestam com o deglutir, tossir ou ao fazer movimentos com a cabeça. Suas causas podem ser encontradas nas neurites, traumas e tumores. 41 Xº PAR – VAGO (PNEUMOGÁSTRICO) Trata-se também de um nervo misto. Sua exploração semiológica é complexa e de difícil acesso. Assim, deve-se explorar a sensibilidade da parede posterior da faringe, laringe e véu do paladar. O vago relaciona-se com a freqüência do pulso, modificações dos batimentos cardíacos e dos movimentos respiratórios. No exame do véu do paladar, abre-se a boca do paciente, baixa-se a língua e observa-se sua simetria e a úvula. Se acusar voz rouca, nasalada e bitonal, significa que há acometimento da laringe quando o exame deverá ser feito com o laringoscópio. XIº PAR – ACESSÓRIO (ESPINHAL) Chamado acessório do vago é um nervo essencialmente motor e destinado aos músculos esternocleidomastoideo e trapézio. São causas de seu acometimento: neurite, traumatismos, tumores, aneurismas etc. XIIº PAR – HIPOGLOSSO Dele depende a movimentação da língua. Portanto, é um nervo motor. Na sua exploração deve-se verificar a presença de fibrilações e atrofias da língua. Para demonstrar isso, o paciente moverá a língua para fora, para cima e para os lados. Se houver atrofia, a palpação da língua mostrará ser mole e atônica. Acometem o hipoglosso certas patologias como neurite, aneurismas, tumores, esclerose múltipla e traumatismo. 42 LÍQUIDO CÉFALORRAQUIDIANO (LIQUOR) PROGRAMA DE ESTUDO PARTE GERAL Anatomia Punções Laboratório a. Exame físico b. Citologia c. Bioquímica d. Reações de fixação de complemento e de floculação e. Bacteriologia f. Eletroforese PARTE ESPECIAL Interpretação clínica do Exame do LCR a. O LCR normal b. Síndromes liquóricas 43 PARTE GERAL 1. Anatomia Sabemos de neuroanatomia, que o sistema nervoso central (SNC) é envolto pelas meninges (duramáter, piamáter e aracnóride) as quais, entre outras, têm a função de protetoras do neuroeixo. Aderente ao tecido nervoso, e altamente vascularizada, encontramos a piamáter e, subjacente à duramáter a aracnóide. O espaço subaracnóideo é preenchido pelo líquido céfalorraquidiano (LCR), o qual atinge também as cavidades constituídas pelos ventrículos laterais (onde chegam através do orifício de Monro), terceiro e quarto ventrículos (pelo aqueduto cerebral (Sylvius) e, através os orifícios de Luschka e Magendie, fica aberto o caminho para a circulação liquórica entre as cavidades centrais e o espaço subaracnóide. Nervos cranianos, nervos raquidianos, artérias e veias atravessam o espaço subaracnóide, mas não entram em contato com o LCR por estarem revestidos por estas estruturas que se transformam em verdadeiros canais para suas passagens. Sabemos que a medula chega até o nível da 1ª ou 2ª vértebra lombar, mas o canal raquidiano se prolonga até ao sacro, que contém a cauda eqüina e forma o chamado saco dural. Facilmente compreensível se torna então, que o maior volume de LCR se encontre no espaço subaracnóide. As cavidades encefálicas, por sua vez, são revestidas, forradas, por um epitélio ependimário – o epêndima. Se observarmos um pouco mais as cavidades encefálicas e o espaço subaracnóide, nos ventrículos laterais e no 4º ventrículo encontraremos estruturas vasculares, verdadeiros enovelados de vasos sanguíneos, os quais como que empurram para dentro da cavidade seu epitélio de revestimento, o conhecido epêndima. Esses enovelados vasculares constituem-se nos chamados plexos corióides, onde se admite que ocorra a produção do LCR. Mas, se for aí que se opera a produção do LCR, para onde iria todo o excesso de sua produção? Esse excesso, ou o LCR, cuja função já tenha sido cumprida, seria então, reabsorvido ao nível dos chamados corpúsculos de Pachioni, vilosidades pioaracnóideas dos seios venosos e, também através das bainhas dos nervos cranianos e raquidianos. Este é o conceito existente sobre a circulação liquórica. Com o advento dos isótopos, mostrou-se que tal circulação não ocorre de modo tão simples como nos referimos. De qualquer forma porém, não parece 44 haver dúvidas de que a maior parte do LCR seja produzida na altura dos plexos corióides e, para nós, na clínica diária, o importante é sabermos que há uma produção e uma reabsorção do líquor produzido, ou seja, há uma circulação de um líquido que desempenha funções vitais. Melhor atentando-se para essa movimentação, para essa troca sangue-líquor e liquor-sangue, pergunta-se: porque então, todos eles não têm a mesma composição? Significa isso dizermos que essa passagem não é feita indiscriminadamente, isto é, nem todos os elementos que se encontram no sangue são livremente franqueados para o líquor. Há, pois, entre eles uma espécie de “alfândega” (se assim podemos comparar) que seleciona os elementos que entram e saem do sistema nervoso. Trata-se da chamada barreira hematoliquórica ou hemoliquórica. O conhecimento de sua existência é essencial, pois que, apenas para realçar sua importância, lembramos que nem todos os medicamentos, principalmente antibióticos, a atravessam e, por conseguinte, nem todos os antibióticos podem ser usados no tratamento das meningites. O volume do LCR oscila nos adultos, em torno de 130 a 160 ml, nos lactentes entre 40 e 60 ml e, nas crianças maiores entre 60 e 120 ml. São portanto valores aproximados. 2. Punções O LCR, para exame, é obtido através de um punção que pode ser realizada nos ventrículos laterais, na cisterna magna (punção suboccipital) e na região lombar. a. Punção ventricular Em se tratando de crianças de pouco idade, pode-se puncionar os ventrículos laterais através da fontanela bregmática (brégma)seguindo suas margens externas. É importante este detalhe, uma vez que puncionamos nas proximidades do seio sagital superior. Com esta punção, pesquisa-se também a existência de possíveis coleções subdurais, ou pode-se proceder ao estudo da hidrocefalia e outros acometimentos. Tratando-se de paciente adulto, a punção só será factível através de orifício de trépano. b. Punção suboccipital (sod = suboccipital deitado) 45 É feita com o paciente em decúbito lateral. Oferece a vantagem de ser mais fácil nos obesos, de não causar cefaléia pós punção e, portanto, pode ser feita ambulatorialmente. Além disso, não oferece dificuldades em pacientes portadores de anciloses3, desvios e outras anormalidades da coluna cervical. Por outro lado, exige experiência, segurança, e muito cuidado, pois não é totalmente isenta de riscos. Devido a essa argumentação, nem todos os serviços de neurologia a adotam como rotina. c. Punção lombar Usada principalmente nas patologias medulares e periféricas. A punção é praticada preferentemente na altura de L4-L5, ou L5-S1 com o paciente sentado ou em decúbito lateral, pernas fletidas sobre as coxas e estas, sobre o tronco. Após a punção deverá permanecer deitado, sem travesseiro ou com travesseiro baixo, durante pelo menos 1 ou 2 dias, tempo que ocorrerá o fechamento do orifício causado pela punção e terminado o gotejamento extradural do LCR causador de variação de pressão liquórica e subsequente cefaléia. É importante lembrar que a punção raquiana nunca deve ser feita em casos de hipertensão intracraniana, tal como ocorre nos tumores, exatamente porque a retirada do LCR acarretará um desequilíbrio de pressão porque sendo a pressão do canal raquidiano menor que a do espaço intracraniano (devido a um tumor), haverá a tendência de descida do conteúdo intracraniano. Essa descida converge para o forame magno, onde as estruturas cerebrais serão comprimidas contra as bordas do orifício (engasgamento das amígdalas cerebelares, com compressão do tronco cerebral) e morte imediata. 3. LABORATÓRIO a. Exame físico O LCR é límpido e incolor. É clássico até dizer-se que é como água de rocha, pode porém, apresentar-se turvo, opalescente e até purulento. Estes aspectos dependem do número de células que contenha. Assim, pode tomar desde o aspecto de água com suco de limão e até mesmo tornar-se purulento quando então é muito alto o número de células que contenha (meningite). 3 Acampsia=ancilose 46 Liquor hemorrágico O LCR pode tomar o aspecto hemorrágico em duas situações: Numa primeira, por decorrência um acidente de punção quando então o LCR fluirá hemorrágico. Movendo-se porém a agulha puncionante, ou simplesmente deixando-o fluir livremente, o gotejamento, pouco a pouco, vai clareando. Se isso não ocorrer podemos lançar mão de duas provas: 1ª. – Prova dos 3 tubos Colhe-se em seqüência o LCR em 3 tubos de ensaio. Se os tubos mostrarem diferenças de coloração (cada vez mais claros), tratar-se-á de acidente de punção. Se porém, a coloração permanecer sempre a mesma é porque houve uma hemorragia antes da punção. 2ª. – Prova da centrifugação Centrifuga-se o LCR hemorrágico colhido. Se o sobrenadante for límpido e incolor, trata-se de acidente de punção, mas se ocorrer o contrário ou for xantocrômico, a hemorragia terá ocorrido anteriormente à punção. Xantocromia A xantocromia pode ocorrer nas meningites, hemorragias em fase de reabsorção do sangue, nos casos de estase conseqüente a bloqueios do canal raquiano. Ela resulta, na maior parte dos casos, da desintegração hemoglobínica, mas pode decorrer de outros casos como a encefalopatia bilirrubínica dos recém-natos, nos chamados líquidos de estase. Por último, a cor do LCR pode tomar uma tonalidade esverdeada, observada nas afecções pneumocócicas ou azulada, quando da ocorrência do bacilo piociânico. Manometria Feita a punção, inicia-se o gotejamento do LCR. Imediatamente após o início, adapta-se um manômetro à agulha puncionante e teremos o valor da pressão inicial (PI). Sempre preferimos puncionar com o paciente em decúbito lateral, tal como vimos anteriormente. Colhem-se então 10 ml de LCR (seja por gotejamento ou por aspiração com seringa) e mede-se a pressão final (PF). O manômetro mais usado para estes casos é o aneróide, tipo Claude, mas pode-se usar o manômetro de tubos, tipo Strauss, ambos graduados em centímetros de água. 47 O paciente permanecerá calmo, pois o choro, a contração abdominal ou qualquer esforço, modificarão os valores. Valores normais de pressão liquórica 1. Pressão inicial (obtida de imediato após a punção) 5 a 20 cm de água (paciente em decúbito lateral) Valores médios: Punção ventricular....................................0 a 5 cm de água Punção SOD (sub-occipital deitado)........10 cm de água Lombar......................................................15 cm de água 2. Pressão final (após retirada de 10 ml) A pressão deve cair em torno da metade da pressão inicial Atenção !!! PI (pressão inicial) alta PF (pressão final) alta, significam aumento da massa sólida. Causa provável: tumor Provas manométricas 1. Prova de Queckenstedt-Stookey (Rotineiramente: Prova de Stookey) Praticada a punção lombar (paciente em decúbito lateral), conecta-se à agulha o manômetro e obtém-se o valor da pressão inicial (PI). Em seguida, comprimem- se as duas jugulares durante 10 segundos (conta-se de 1 a 10) e verificaremos se, durante a compressão houve aumento de pressão (cerca do dobro da pressão inicial) com retorno, após a descompressão, com aproximadamente a mesma velocidade ao do valor inicial. Isto significa que, ao comprimirmos as jugulares, ocorre um aumento de pressão intracraniana que se transmite para todo o canal raquiano. Se, por exemplo, existir um tumor bloqueando o canal, a pressão não se transmitirá e, portanto, não haverá variação da pressão no manômetro. Se o canal raquiano, estiver parcialmente bloqueado, observaremos uma subida e uma descida lenta de pressão. 48 Nestes casos, rotineiramente, pratica-se um contra-prova que consiste na compressão do abdome e se observará que com esse expediente, a pressão se elevará. Temos então que, pela compressão da jugulares a pressão não se eleva, mas pela compressão abdominal, o manômetro mostrará aumento da pressão. Isto ocorre face à estase que se determina ao nível dos plexos venosos lombares. Finalmente, se entendermos que os valores não foram convincentes, retiram- se 7 ml (convencionalmente) e repete-se a prova. 2. Prova de Tobey-Ayer (Rotineiramente: prova de Tobey) Após a punção, comprime-se isoladamente cada jugular. Não ocorrendo modificação da pressão, digamos pela compressão da jugular direita, significará comprometimento do seio venosos esquerdo e vice versa. Esta prova é importante no estudo das tromboses b. Citologia Quando se colhe o LCR, pode-se proceder a uma contagem rápida – contagem global – dos seus elementos celulares, tendo-se então à mão, valores que nos auxiliam a entrar com a terapêutica que a urgência requer, ou então, pode- se esperar pela contagem específica – que exige mais tempo para sua realização, e feita em esfregaços, usando-se técnicas especiais de coloração e, onde, em termos percentuais, são expressos os tipos celulares identificados. Normalmente, encontramos células no LCR, cujo número varia de 0 a 8 por mm3, mononucleados, na maioria linfócitos, mas não encontramos hemácias. Esses linfócitos representam de 80 a 90 % das células contadas e os monócitos se constituem no restante das células. Alguns autores dão como valores normais de 0 a 3 células/mm3, outros
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