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Insuficiência Cardíaca Conceito Incapacidade do coração de manter um débito cardíaco que atenda às necessidades metabólicas do organismo, ou fazê-lo somente através de elevadas pressões de enchimento. Epidemiologia Afeta 37,7 milhões de pessoas no mundo. Sobrevida de 5 anos após o diagnóstico de apenas 35%. Prevalência aumenta com a idade → idade mediana 64 anos; Registro BREATHE: mortalidade no Brasil maior que os registros internacionais. ● Controle inadequado da HAS, DM, doença reumática e doença de Chagas. Etiologia: ● ICFER → mais comum em homens com antecedente de isquemia coronária. ● ICFEP → mais comum em mulheres idosas com comorbidades, como FA, HAS e sobrepeso. ● No Brasil, a principal etiologia de insuficiência cardíaca é a cardiopatia isquêmica crônica (DAC). ● DICA DE PROVA: Isquêmica → alteração no ECG; HAS → dilatação concêntrica; Doença valvar → alteração valvar descrita; Chagas → aneurisma apical no ECG. Fatores de risco: ● Doença isquêmica cardíaca (DAC); ● HAS; ● Consumo de álcool; ● Tabagismo; ● Exposição a drogas quimioterápicas cardiotóxicas (doxorrubicina, ciclofosfamida, trastuzumabe); ● Doença de Chagas; ● Cardiomiopatia dilatada (CMD) idiopática; ● Doenças tireoidianas; LES; amiloidose. Insu!ciência cardíaca 02/04/2025, 17:49 Página 1 de 11 Fisiopatologia O coração lesado - por causas diversas - perde sua força de contratilidade. A perda da força de contração leva à redução do débito cardíaco. A redução do débito cardíaco é “sentida” pelos órgãos alvo (barorreceptores), sendo principalmente o SNC e o sistema renal. A hipoperfusão renal ativa o SRAA. Efeitos da: ● Angiotensina II → Vasoconstrição periférica → aumento da pós-carga → dificulta o esvaziamento do coração e agrava a situação contrátil. ○ ↑ PA, ↑DC. ● Aldosterona → retenção de sódio e água, ↑ volemia, ↑ DC → edema pulmonar, edema sistêmico. ○ Aumenta a deposição de fibroblastos no miocárdio → fibrose cardíaca. Ocorre dilatação de VE + alterações no interstício cardíaco → contração mais descoordenada e menos eficaz. 02/04/2025, 17:49 Página 2 de 11 Manifestações clínicas Sinais típicos: ● Ortopneia; ● Dispnéia paroxística noturna; ● Dispnéia; ● Intolerância ao exercício físico; ● Fadiga/cansaço; ● B3 - ritmo de galope (disfunção sistólica); ● B4 - disfunção diastólica (ICFEp); ● Refluxo hepatojugular; ● Pressão venosa jugular aumentada; ● Ictus cordis desviado para esquerda; ● Edema → gravitacional e que poupa face e MMSS. Sinais menos típicos: ● Tosse noturna; ● Perda de apetite; ● Palpitações; ● Ganho de peso; ● Noctúria e oligúria; ● Dor abdominal; ● Taquicardia; ● Crepitações pulmonares; ● Extremidades frias; ● Edema periférico; 02/04/2025, 17:49 Página 3 de 11 ● Hepatomegalia e ascite; ● Respiração de Cheyne-Stokes; Diagnóstico Anamnese + exame físico; Definição Universal da Insuficiência Cardíaca: ● Síndrome caracterizada por: ○ Sinais e sintomas causados por anormalidade cardíaca estrutural e ou funcional, como: ■ Fração de ejeção 4,5 kg em 5 dias com tratamento); ↓ capacidade funcional em ⅓ prévia; Taquicardia (FC > 120 bpm). Classificação Quanto ao débito: ● Alto débito (hipermetabolismo) → Anemia, sepse, tireotoxicose, hipertireoidismo, fístulas arteriovenosas, “shunt” AV … ● Baixo débito → DAC, HAS, doença de Chagas… Quanto ao predomínio de sintomas: ● IC direita → congestão sistêmica (edema MMII, hepatomegalia, ascite…) ● IC esquerda → congestão pulmonar (crepitações, ortopneia, DPN…). NYHA - Gravidade dos sintomas: ● I → Dispneia ao grandes esforços; ● II → Dispneia aos esforços moderados; ● III → Dispneia aos pequenos esforços; ● IV → Dispneia de repouso; ● Quanto maior o grau do paciente, menor a sobrevida. ● É dinâmica, pode mudar com a evolução do paciente. AHA - Tempo e progressão da doença: ● É estática! Conforme o paciente evolui, não volta para categorias iniciais. ● Pode-se usar ecocardiograma para definir fase. ● A (sob risco) → Fator de risco para IC, sem doença estrutural nem sintomas; ● B (pré-IC) → Doença cardíaca estrutural, sem sintomas; ● C → Sintomas de IC, atuais ou pregressos; ● D (IC avançada) → Sintomas refratários ao tratamento clínico. Requer intervenção especializada. Fração de ejeção de ventrículo esquerdo (FEVE): ● Função sistólica reduzida → FEVE ou = 50%; ● IC com fração de ejeção melhorada (ICFEm) → FEVE inicial ≤ 40%, com aumento ≥ 10 pontos e uma segunda medida com medida > 40%. ○ Tratamento realizado na ICFEr deve ser mantido na melhorada. Exames Complementares Laboratório clínico: 02/04/2025, 17:49 Página 5 de 11 ● Hemograma, glicemia, creatinina, TSH, K+, Na+, Lipidograma, Urina → fatores de risco cardiovasculares e causas de descompensação. ○ Marcadores de pior prognóstico → anemia, hiponatremia, insuficiência renal e hepática. ● Peptídeo natriurético cerebral (BNP) e fração N-terminal do peptídeo natriurético do tipo B (NT- pro BNP): ○ Liberados na presença de distensão da parede do miocárdio ventricular; ○ Têm ação oposta ao SRAA, causando vasodilatação e natriurese; ○ Valores elevados aumentam a probabilidade de IC; ○ Nos pacientes ambulatoriais em tratamento, quanto menores os valores do BNP/NT-proBNP, melhor o prognóstico. ○ É mais alto em mulheres, idosos e pacientes com FC; ○ É menor em obesos. *Para ICFEp → ambulatorial BNP > 50; NT-proBNP > 125. ECG: ● ↑ VPN; ● Avaliar o ritmo cardíaco; ● Identificar IAM prévio e detectar evidências de hipertrofia de VE; ● Achados mais comuns: ○ Sobrecargas de câmaras esquerdas; ○ Onda Q patológica; ○ Bloqueio de ramo direito ou esquerdo (implica em pior prognóstico); ○ BRD com hemi-BRE - muito sugestivo de Chagas; ○ Arritmias; Ecocardiograma: ● Avaliação quantitativa da função ventricular esquerda; ● Confirma fração de ejeção da IC; ● Avaliação do tamanho de VE e VD, motilidade parietal regional (indicador de IAM prévio), avaliação das válvulas cardíacas e diagnóstico de hipertrofia de VE. 02/04/2025, 17:49 Página 6 de 11 Raio X de tórax: ● Cardiomegalia (índice cardiotorácico > 0,5); ● Sinais de congestão pulmonar (cefalização de trama, linhas B de Kerley, congestão hilar, derrame pleural). Ultrassom (POCOS): ● Mais sensível e específico para avaliação de congestão pulmonar que o exame físico e a radiografia de tórax. ● No edema pulmonar pode-se achar mais de três linhas B (linhas verticais, em rabo de cometa) por campo avaliado, que interrompem as linhas A (horizontais) presentes no parênquima normal e a presença de derrame pleural. Outros - situações específicas: ● Cintilografia → avaliação de isquemia miocárdica. ● RM cardíaca → avaliar fibrose pelo realce tardio, presença de doenças de depósito ou miocardite no diagnóstico diferencial da etiologia da IC. Tratamento Tratamento por estágios da doença: ● A →Corrigir fatores de risco, MEV - atenção primária; ● B → IECA ou BRA + B-bloqueador (carvedilol, bisoprolol, succinato de metoprolol); ● C → IECA ou BRA ou INRA + B-bloqueador + Espironolactona + iSGLT 2. ○ Pensar em Furosemida + Digoxina. ● D → Tudo do “C”; Avaliar: ressincronização (RS) {FEVE 7 /dia); ● Restrição hídrica → pcts descompensados e hipervolêmicos realizar restrição de 1.000 a 1.500 mL. 02/04/2025, 17:49 Página 7 de 11 ● Cessar tabagismo e reduzir ingestão de álcool; ● Prática de atividade física; ● Vacinação: ○ Influenza; COVID; pneumococo; Tratamento farmacológico - ICFEr: ● IECA ou BRA ou inibidores da neprilisina e antagonistas dos receptores de angiotensina II (INRA) [sacubitril/valsartana] + betabloqueador + antagonista de mineralocorticoide + iSGLT2. ● IECA e BRA: ○ Utilizar em todos os pacientes com FEVE 5,5 mmol/l. ○ Não associar IECA e BRA → aumento nos efeitos colaterais. ● Betabloqueadores: ○ Usar → carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol; ○ Devem ser utilizados em pacientes sintomáticos (C) e assintomáticos (B). ○ Contraindicações → bradicardia, broncoespasmo, congestão (esperar melhorar para iniciar). ● Antagonistas dos receptores mineralocorticoides (ARM) - Espironolactona: ○ Indicados para pacientes com ICFER sem resposta satisfatória com IECA ou BRA + BB e sintomáticos (estágio C e classe funcional II a IV); ○ Contraindicados em caso de insuficiência renal (RFG 6.0 mmol/l). ● Inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (sacubitril/valsartana): ○ Usar em substituição do IECA ou BRA em pacientes sintomáticos já em uso de terapêutica otimizada com terapia tripla. ○ Não deve ser usado com IECA → aumenta muito o risco de angioedema; aguardar 36 horas após suspensão de IECA para iniciar. ○ Contraindicado em insuficiência renal e hipercalemia. ○ Não usar em classe IV - poucos estudos. ○ !!! Lembrar → altera BNP (↑↑), dosar pro BNP. ● Inibidores do SGLT2: ○ Dapaglifozina e empaglifozina; ○ Indicações → ICFEr em pacientes sintomáticos (CF II a IV) com terapia otimizada (IECA/BRA +BB+ ARM). ○ Contraindicações → DM tipo I, hipotensão, desidratação, TFG dose de betabloqueador tolerada), em ritmo sinusal e FC ≥ 70 bpm. ○ Inibe os canais responsáveis pelo ritmo cardíaco. ○ Contraindicada em pacientes com fibrilação atrial e bradiarritmias. ● Digitálicos (digoxina) → Indicada para disfunção de VE sintomática, apesar de terapêutica otimizada com terapia tripla, para reduzir sintomas e hospitalizações. 02/04/2025, 17:49 Página 8 de 11 ○ Cuidado com idosos e pcts com insuficiência renal - intoxicação digitálica e visão amarelada. ○ Colher de pedreiro no ECG. ● Diuréticos de alça (furosemida) e tiazídicos → utilizados para o controle de sintomas de congestão. ○ Usados na menor dose e pelo menor tempo possível → efeitos colaterais (piora da função renal e distúrbios hidroeletrolíticos). ● Reposição de ferro EV → IC sintomática e deficiência de ferro (IST 90 mmHg avaliar necessidade de inotrópico. ● Reduzir ou suspender Beta-bloqueador. L - tem congestão e tem baixa perfusão - frio e seco; ● Causa principal → hipovolemia; ● Tratamento com prova volêmica com cristalóides (soro fisiológico 0,9% ou ringer lactato 250 mL) e reavaliações frequentes. 02/04/2025, 17:49 Página 10 de 11 ● Respostas após a prova volêmica: ○ Melhora do baixo débito sem congestão (perfil A) → paciente pode ter alta, com redução da dose do diurético. ○ Melhora do baixo débito, mas evoluindo com congestão (perfil B) → paciente deve receber diurético com parcimônia e vasodilatadores. ○ Sem melhora do baixo débito e evolução com congestão (perfil C) → devem ser introduzidos diuréticos com parcimônia e inotrópico Prevenção Tratamento de hipertensão, com foco na hipertensão sistólica; Qualquer intervenção que reduza o risco de um primeiro IAM ou IAM recorrente; Em pacientes com ICFEr, os IECA, bloqueadores de aldosterona e os β-bloqueadores previnem ou adiam a disfunção e a dilatação ventricular progressivas e o início ou agravamento da IC. Referências bibliográficas Vídeoaula - prof. José Maria Peixoto. | Slides - prof. Christiano. Goldman L, Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 24a Edição. Rio de Janeiro:ELSEVIER, 2015. (cap. 58 e 59). http://sociedades.cardiol.br/sc/profissional/acervo/palestras/22-09-2006/08- DrIlmarKohler_ICcongestiva.pdf Material - Sanar Residência Médica - CLM - Cardiologia. 02/04/2025, 17:49 Página 11 de 11