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ASPECTOS FILOSÓFICOS 
E SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS 
DA EDUCAÇÃO
(Dimensões Filosóficos 
e Socioantropológicos 
da Educação) 
Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik;
Mauricio Tinori Piqueira;
Lísia M. Macedo Soares.
Aspectos Filosó icos 
Socioantropológicos da Educação
(Dimensões Filosóficos 
e Socioantropológicos 
da Educação) 
© by Editora Telesapiens
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação 
poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por 
qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, 
gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, 
da Editora Telesapiens.
LIBLIK, Carmen Silvia da Fonseca Kummer / PIQUEIRA, 
Mauricio Tintori / SOARES, Lísia M. Macedo
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação.
ISBN: 978-65-81507-18-3
I.Filosofia. II.Socioantropologia. III. Educação.
Fundador e Presidente do Conselho de Administração: 
Janguê Diniz 
Diretor-Presidente: 
Jânyo Diniz 
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira
Créditos Institucionais
Todos os direitos reservados
©2022 by Telesapiens
Aspectos Filosóficos 
Socioantropológicos 
da Educação
OS AUTORES
CARMEM SILVIA DA FONSECA 
KUMMER LIBLIK
Olá. Meu nome é Carmem Silvia da Fonseca Kummer 
Liblik. Sou formada em Bacharelado e Licenciatura em 
História, com Mestrado e Doutorado em História pela UFPR. 
Também sou formada em Química Ambiental pela UTFPR, 
com especialização em Tutoria em EAD pela UNINTER. 
Tenho experiência profissional na área de ensino e produção 
de material didático há 14 anos. Passei por empresas como a 
UNINTER, PUC-PR e UFPR. Sou apaixonada pelo que faço e 
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão 
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora 
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou 
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo 
e trabalho. Conte comigo!
 
MAURICIO TINTORI PIQUEIRA
Olá. Meu nome é Mauricio Tintori Piqueira. Sou doutor 
em Ciências Sociais e mestre em História pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com uma 
experiência de docência na área de Ciências Humanas de mais 
de 14 anos. Sou professor universitário e do Ensino Médio, 
com experiência como professor e coordenador do curso de 
História da Faculdade de Ribeirão Pires e, docente na Rede 
Pública do estado de São Paulo. Sou apaixonado pelo que faço 
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão 
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora 
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou 
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo 
e trabalho. Conte comigo!
LÍSIA M. MACEDO SOARES
Olá. Meu nome é Lísia M. Macedo Soares. Sou formada 
em Psicologia, especialista em Gestão Saúde Mental e Mestra 
em Administração. Tenho experiência técnico-profissional 
como Docente nos cursos de Enfermagem, Ciências Contábeis, 
Engenharias e Administração. Nestes cursos de graduação, tive 
o prazer de lecionar a disciplina Estudos Socioantropológicos. 
Na minha última experiência, fundei um núcleo de Atendimento 
Educacional ao discente – NAED, onde atuei como Psicóloga 
oferecendo aos alunos apoio psicopedagógico. Sou apaixonada 
pelo que faço e adoro compartilhar minha experiência de vida 
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui 
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você 
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
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OBJETIVO
Breve descrição do objetivo 
de aprendizagem;
OBSERVAÇÃO
Uma nota explicativa 
sobre o que acaba de 
ser dito;
CITAÇÃO
Parte retirada de um texto;
RESUMINDO
Uma síntese das 
últimas abordagens;
TESTANDO
Sugestão de práticas ou 
exercícios para fixação do 
conteúdo;
DEFINIÇÃO
Definição de um 
conceito;
IMPORTANTE
O conteúdo em destaque 
precisa ser priorizado;
ACESSE
Links úteis para 
fixação do conteúdo;
DICA
Um atalho para resolver 
algo que foi introduzido no 
conteúdo;
SAIBA MAIS
Informações adicionais 
sobre o conteúdo e 
temas afins;
EXPLICANDO 
DIFERENTE
Um jeito diferente e mais 
simples de explicar o que 
acaba de ser explicado;
SOLUÇÃO
Resolução passo a 
passo de um problema 
ou exercício;
EXEMPLO
Explicação do conteúdo ou 
conceito partindo de um 
caso prático;
CURIOSIDADE
Indicação de curiosidades 
e fatos para reflexão sobre 
o tema em estudo;
PALAVRA DO AUTOR
Uma opinião pessoal e 
particular do autor da obra;
REFLITA
O texto destacado deve 
ser alvo de reflexão.
SUMÁRIO
UNIDADE 1
Origens e Conceito da Filosofia..........................................14
Origens da Filosofia........................................................... 14
Crítica aos Sofistas............................................................. 18
Conceito de Filosofia......................................................... 19
Sócrates, Platão, Aristóteles e seus Lugares na História da
Filosofia................................................................................23
Sócrates............................................................................. 23
Platão................................................................................. 28
Aristóteles......................................................................... 34
Conhecimento Mítico e Conhecimento Filosófico..............41
A Questão do Saber: o Conhecimento e sua Tipologia......45
Os Tipos de Conhecimento................................................ 47
Conhecimento Popular ou Senso Comum................ 47
Conhecimento Filosófico......................................... 48
Conhecimento Científico......................................... 49
Conhecimento Teológico ou Religioso.................... 51
UNIDADE 2
Filosofia e Pensamento Educacional na Modernidade .....56
Leitura e Recortes Acerca de Educação e Filósofos da 
Modernidade .......................................................................60
René Descartes .................................................................. 60
Jean Jacques Rousseau ...................................................... 64
Immanuel Kant ................................................................. 67
Georg Hegel ...................................................................... 70
Tendências e Correntes Filosóficas: Contexto Histórico e 
Pressupostos ........................................................................75
Correntes Filosóficas: Abordagens e Suposições ..............79
Positivismo ....................................................................... 79
Utilitarismo ....................................................................... 82
Pragmatismo ..................................................................... 88
Materialismo ..................................................................... 92
Fenomenologia.................................................................. 96
Existencialismo ............................................................... 100
UNIDADE 3
Compreendendo as diferenças entre o senso comum e o 
conhecimento científico.....................................................108
O senso comum e o conhecimento científico ....................108 
O conhecimento como um atributo do ser humano...........109 
O senso comum...............................................................112 
O conhecimento científico...............................................114 
É possível a convivência entre ciência e senso comum?....117
As ciências sociais..............................................................120
As áreas das ciências sociais............................................121 
Os objetos dee semelhança, e meditar 
sobre o que dizem os textos sagrados.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 53
Popular
Valorativo
Reflexivo
Assistemático
Verificável
Falível
Inexato
Filosófico
Valorativo
Racional
Sistemático
Não
verificável
Infalível (se
coloca como)
Exato (se
coloca como)
Científico
Real (factual)
Contingente
Sistemático
Verificável
Falível
Aproximadamente
exato
Religioso
Valorativo
Inspiracional
Sistemático
Não
verificável
Infalível (se
coloca como)
Exato (se
coloca como)
RESUMINDO
Veja no quadro a seguir um resumo deste nosso estudo acerca do 
conhecimento, seus tipos e suas características principais.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação54
UNIDADE
02
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação56
Filosofia e Pensamento Educacional na 
Modernidade
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de interpretar 
as características e o contexto histórico, em que foi gestada a 
filosofia e o pensamento educacional na modernidade...
No curso do século XVI a concepção medieval começou 
a declinar, e aos poucos surgiram forças que forjaram o atual 
mundo moderno. Grandes movimentos marcam o período de 
transição, que se estende do declínio da Idade Média até o grande 
surto de progresso do século XVII, a saber: 1) o Renascimento 
italiano; 2) a Reforma Luterana; 3) o avanço da investigação 
científica; 4) o projeto filosófico humanista; 5) o Absolutismo 
francês; 6) posteriormente o Iluminismo.
É em meio a esse quadro que nasce e se desenvolve o 
pensamento moderno, marcado pela confiança na razão. Trata-
se de conferir à razão a tarefa de significar o mundo, reproduzi-
lo e representá-lo, afastando do pensamento o que é disperso, 
desconexo, mítico e sobrenatural.
O período conhecido como Filosofia Moderna, portanto, 
estende-se por pouco mais de dois séculos e meio de história. 
Como todo período histórico da Filosofia, é bastante difícil 
fixarmos uma data para seu início. Embora alguns autores 
considerem a Filosofia do Renascimento, nos séculos XV e 
XVI, como parte da Filosofia Moderna, em geral, aceita-se 
que o filósofo que iniciou a Filosofia Moderna tenha sido René 
Descartes (1596-1650) no século XVII, uma vez que seus 
trabalhos definiram e deram corpo aos métodos filosóficos de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 57
tal período. Entretanto, como afirma Franklin e Pinheiro (2014), 
alguns outros filósofos, anteriores a Descartes, como Montaigne 
(1533-1592) e Francis Bacon (1561-1626), aparecem também 
como membros da Filosofia Moderna. 
Da mesma forma, o trabalho de Ludwing Wittgenstein 
é considerado o término de tal período, iniciando o que é 
normalmente chamado de período pós-moderno. O período 
da Filosofia Moderna não é caracterizado por uma escola ou 
doutrina específica, mas por um estilo de trabalhar as questões 
filosóficas e por certas premissas ou hipóteses comuns.
As áreas exploradas nessa época incluíam a filosofia da 
mente, especialmente o problema mente-corpo identificado por 
Descartes, epistemologia e metafísica. Por não possuir uma 
escola única, a Filosofia Moderna é normalmente dividida pelas 
correntes filosóficas, que exploraram os principais temas dessa 
época. Os principais nomes foram organizados posteriormente 
em dois grupos: os racionalistas e os empiristas. Os próprios 
autores não se identificavam dessa forma, mas posteriormente 
foram assim organizados em termos de história da Filosofia.
Entre os racionalistas encontramos filósofos franceses e 
alemães, que defendiam que todo conhecimento deve originar-
se de algum tipo de ideias inatas na mente (aquelas ideias 
que são nativas, já nascem com a pessoa). Contudo, alguns 
racionalistas afirmaram ainda que todo o conhecimento é inato 
ou provido por meio do raciocínio dedutivo, enquanto outros 
racionalistas aceitavam um maior papel da experiência. Entre os 
principais racionalistas encontramos René Descartes, o logicista 
e matemático Gottlob Frege e Baruch Spinoza. 
Tendo como principais figuras os filósofos britânicos John 
Locke, George Berkely e David Hume, o empirismo era o opositor 
natural do racionalismo. Essa posição defendia que a mente era 
uma tábula rasa, termo introduzido por Locke, significando que 
não possuímos ideias inatas e que o conhecimento é impresso 
em nossa mente, por meio dos dados dos sentidos. Com isso, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação58
defendeu ainda que existiam duas formas para o surgimento das 
ideias, pela sensação e pela reflexão, com ideias podendo ser 
simples ou complexas.
Tabela 1: Pontos em Comum e Discordâncias
Pontos em comum Pontos de discordância
Racionalismo
Tentam resolver 
o problema da 
capacidade de nosso 
pensamento para 
captar a realidade 
externa; partem de 
convicções teóricas 
fundamentais 
que permitem 
a constituição 
do problema: a 
indubitabilidade das 
nossas representações 
e a existência da 
realidade exterior a 
elas.
Caracteriza-se pela 
pressuposição de 
princípios inatos 
e conhecimentos 
a priori. O visível 
esconde aquilo que 
está para além dele.
Empirismo
Nega os princípios 
inatos e a 
possibilidade de 
conhecer a priori. O 
visível, nesse caso, 
é revelador por si 
só. A sensibilidade 
é tomada como a 
relação primeira 
com o real.
Fonte: (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 72.)
Nessa direção, devemos entender que o Iluminismo 
europeu pretende debater a educação a partir de uma abordagem 
epistemológica empirista que ressalta o papel das experiências 
vividas pelos homens. No entanto, o mesmo empirismo, em 
Locke, por exemplo, aponta para a importância da educação 
em elucidar o vivido e/ou preparar para compreendê-lo mais 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 59
plenamente. Portanto, como aponta Novelli (2001) a educação 
adquire aqui um papel de superação em relação ao antigo regime 
caracterizado pela centralização do ensino e pela concentração 
de conhecimentos entre poucos escolhidos.
Kant apresentou ainda um sistema filosófico sofisticado 
que causou uma verdadeira transformação na filosofia alemã. 
Embora seu objetivo de encerrar a disputa entre racionalistas e 
empiristas, pela unificação de ambas as posições, não tenha sido 
atingido, Kant promoveu grandes mudanças e novas correntes 
na filosofia de sua época, sendo particularmente responsável 
pelo surgimento da corrente filosófica conhecida como 
Idealismo Alemão. O idealismo veio a afirmar que o mundo e 
a mente devem ser entendidos segundo as mesmas categorias, 
estabelecendo quais categorias seriam estas, o principal trabalho 
neste sentido foi a Crítica da Razão Pura, de Kant, publicada em 
1781. Este desenvolvido levou também ao trabalho do filósofo 
Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
RESUMINDO
Neste capítulo, abordamos o nascimento e o desenvolvimento 
do pensamento moderno da filosofia e a importância deles para 
a educação na modernidade.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação60
Leitura e Recortes Acerca de Educação e 
Filósofos da Modernidade
OBJETIVO
A seguir, aprofundaremos as ideias filosóficas de Kant, Hegel 
e Jean Jacques Rousseau, bem com suas contribuições para 
a Filosofia da Educação. Além disso, também será melhor 
definida a diferença entre os filósofos racionalistas e empiristas 
no contexto da Filosofia Moderna..
René Descartes
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e 
matemático francês, uma das figuras mais importantes da Filosofia 
Moderna e da Revolução Científica. O filósofo defende a ideia 
de que a razão serve como guia para o conhecimento. Encontra-
se aqui justificado o título de racionalismo ao pensamento de 
Descartes. Suas principais obras são:
 �Discurso (1637).
 �Meditações (1641).
 �Os princípios da Filosofia (1644).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 61
Figura 1: René Descartes
Fonte: @commons. 
Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, 
inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadasmais 
tarde, surgiria nas ilhas Britânicas um movimento filosófico 
que, de certa forma, seria o seu oposto – o empirismo, com John 
Locke e David Hume. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação62
A teoria do conhecimento de Descartes começa com 
a busca pela certeza, por um ponto de partida ou fundamento 
indubitável, sem cuja base o progresso não seria possível.
Deste modo, o filósofo é conhecido por lançar a “dúvida 
metódica”, que se baseia numa reflexão, que deixa de lado 
qualquer crença cuja verdade possa ser contestada. A intenção 
de Descartes era mostrar que, mesmo partindo de uma posição 
cética, pode-se alcançar o conhecimento. A “dúvida”, portanto, 
pode ser usada como ferramenta filosófica. Em virtude desse 
posicionamento, já podemos perceber a importância que terá 
Descartes no desenvolvimento das ideias filosóficas, que se 
dirigem para as questões pertinentes à educação. Também 
consiste o método do conhecimento de quatro regras básicas:
 �Verificar se existem evidências reais e indubitáveis 
acerca do fenômeno ou da coisa estudada.
 �Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas 
unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples.
 � Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades 
estudadas em um todo verdadeiro.
 �Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, 
a fim de manter a ordem do pensamento.
Descartes começou submetendo suas crenças a uma série 
de argumentos céticos cada vez mais rigorosos, questionando 
como podemos ter certeza da existência de qualquer coisa. 
O mundo que conhecemos pode ser apenas uma ilusão? Não 
podemos confiar em nossos sentidos com base segura para o 
conhecimento, porque todos já fomos “iludidos” por eles com 
alguma certa frequência. Ele dizia que talvez estivéssemos 
sonhando, e o mundo aparentemente real não fosse mais que um 
mundo de sonho. 
Com efeito, Descartes considerava que era preciso colocar 
todos os conhecimentos, que temos à prova da dúvida: podemos 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 63
duvidar de tudo, metodicamente, de maneira sistemática e 
hiperbólica (de modo exagerado).
Para além das reflexões de um “mundo ilusório, Descartes 
compreendeu, que havia uma crença da qual ele não podia 
duvidar: a crença na própria existência. Cada um de nós pensa ou 
diz: “Sou, existo” – e enquanto pensamos ou dizemos isso, não 
podemos estar errados. Em sua obra Discurso sobre o método, ele 
apresentou o axioma “Penso, logo existo”. 
Apesar de muitas críticas, ao localizar a certeza na própria 
consciência de mim, Descartes introduz um tom de primeira 
pessoa, na teoria do conhecimento que dominou os séculos 
seguintes.
É importante salientar que Descartes não esperava 
alcançar certezas absolutas e inquestionáveis. Ele argumentou: 
“Arquimedes exigia apenas um ponto de apoio a fim de mover a 
Terra inteira”. Para Descartes, a certeza sobre a própria existência 
era esse apoio, pois ela o salvava das dúvidas, fornecia-lhe 
uma base firme e permitia iniciar a jornada de volta, isto é, 
do ceticismo ao conhecimento. Foi crucial para seu projeto de 
investigação, mas não o alicerce de sua epistemologia.
DEFINIÇÃO
Conceito de epistemologia
Teoria do conhecimento ou “conhecimento do conhecimento”. 
Algumas de suas questões centrais são: a origem do conhecimento, 
o lugar da experiência e da razão na gênese do conhecimento; a 
relação entre o conhecimento e a certeza, e entre o conhecimento 
e a impossibilidade de erro; a possibilidade de ceticismo 
universal; e as formas de conhecimento, que emergem das novas 
conceitualizações do mundo. (BLACKBURN, 1997, p. 118).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação64
Na continuidade de seu raciocínio, o famoso dualismo 
cartesiano associado à separação da mente e da matéria (corpo) 
em duas substâncias diferentes, mas em interação. O filósofo 
percebe, que é necessário haver uma disposição divina para 
assegurar a existência de quaisquer relações entre os dois 
domínios divididos.
Jean Jacques Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante 
filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata. 
É considerado um dos principais filósofos do Iluminismo, 
precursor do romantismo e, sobretudo, grande referência para a 
filosofia da educação. 
Figura 2: Jean Jacques Rousseau
Fonte: @commons. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 65
Suas principais obras são:
 �Discurso sobre a desigualdade entre os homens.
 �Contrato social.
 �Confissões.
 �Emílio ou da Educação.
 Rousseau foi fortemente influenciado pelo Romantismo 
europeu. Além do Iluminismo, deve-se atentar ainda para 
a presença e atuação do Romantismo, que também insistia 
sobre o determinante papel da educação. Segundo Novelli 
(2001), o Romantismo constitui-se numa reação contra a 
frieza racionalista do Iluminismo, chamando a atenção sobre a 
natureza, a vida, o instinto, enfim, a sensibilidade. Desse modo 
pretendia-se um homem completamente realizado em todas as 
suas potencialidades.
Sem sombra de dúvidas, Emílio, ou, da Educação, escrito 
em 1762, é a obra mais enriquecedora, que Rousseau nos 
deixou a fim de pensarmos sobre os processos de educação 
nesse contexto do Iluminismo e do Romantismo, bem como as 
etapas da infância e as formas como os sujeitos se inserem na 
sociedade. Hoje se considera o primeiro tratado sobre filosofia 
da educação no mundo ocidental. Explica, por conseguinte, 
como o indivíduo pode conservar sua bondade natural (Rousseau 
sustenta que o homem é bom por natureza), enquanto participa 
de uma sociedade inevitavelmente corrupta.
O texto se divide em cinco “livros”, os três primeiros 
dedicados à infância de Emílio, o quarto à sua adolescência, e o 
quinto à educação de Sofia, a “mulher ideal” e futura esposa de 
Emílio, e à vida doméstica e civil deste, incluindo a formação 
política.
Rousseau intenciona mostrar a natureza da arte de educar, 
que consiste em superar os obstáculos e em criar melhores 
condições que possibilitem o desenvolvimento dos indivíduos. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação66
A infância é compreendida, como uma etapa, que tem uma 
finalidade importante para o desenvolvimento de qualquer 
sujeito, e a ela não se deve impor uma “cultura adulta” por meio 
da autoridade. Vejamos o que Rousseau diz acerca deste assunto:
A natureza quer que as crianças sejam crianças 
antes de serem homens. Se quisermos perverter 
essa ordem, produziremos frutos temporões, que 
não estarão maduros e nem terão o sabor, e não 
tardarão em se corromper; teremos jovens doutores 
e velhas crianças. A infância tem maneiras de ver, 
de pensar e de sentir que lhes são próprias; nada 
é menos sensato do que querer substituir essas 
maneiras pelas nossas, e para mim seria a mesma 
coisa exigir que uma criança tivesse cinco pés de 
altura e que tivesse juízo aos 10 anos. Com efeito, 
de que lhe serviria a razão nessa idade? Ela é o 
freio da força, e a criança não precisa desse freio. 
(ROUSSEAU, 1999, p. 86.)
Para ele, as instituições educativas corrompem o homem 
e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem e de 
uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo 
com a Natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos 
e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar por 
si mesma. Logo, é possível afirmar, que a ideia central da 
educação, para Rousseau, é a “conformidade com a natureza”. 
Trata-se da busca rousseauniana da verdade na própria natureza 
e no homem, como ponto de convergência da universalidade.
No entanto, o objetivo que permeia a tarefa educacional, 
mesmo trabalhada de forma individual e particular, é o da 
formação do homem para o convívio com seus semelhantes. 
O objetivo maior do projeto pedagógico rousseauniano 
sintetiza seus dois ideais, fundindo-os numa só máxima: a de 
recriar o homem natural dentro da sociedade. E a educação é o 
instrumento mais propício para essa recriação e transformação 
AspectosFilosóficos Socioantropológicos da Educação 67
pessoal que invariavelmente poderá propiciar mudanças na 
sociedade. (PAIVA, 2011, p. 9). Podemos afirmar, dessa forma, 
que educação para Rousseau não é uma tarefa, que se limita ao 
ambiente escolar, a programas ou a instituições específicas. Mas 
sim uma ação global de desenvolvimento do homem em todas as 
suas necessidades. Isso é claro logo no início de sua obra:
Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos 
desprovidos de tudo, temos necessidade de 
assistência; nascemos estúpidos, precisamos de 
juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que 
precisamos adultos, é nos dado pela educação. 
(ROUSSEAU, 1999, p. 8).
Essa educação, conforme ressaltam Franklin e Pinheiro 
(2014), nos ensina a importância de respeitar a criança em seu 
próprio mundo repleto de necessidades próprias. Ela não dá 
virtudes, mas previne vícios: enfim, ela dispõe a criança, tudo o 
que pode levar ao verdadeiro, quando ela já detém a condição de 
entender, e de amar. Para Rousseau, a civilização é um grau de 
desenvolvimento superior da própria natureza. 
 Immanuel Kant
Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na Prússia Oriental 
e, durante toda a sua vida, jamais se afastou de sua cidade 
natal, Königsberg. Não seria exagero afirmar, que ele foi um 
dos filósofos mais importantes da modernidade, uma vez que 
refletiu temas, que são debatidos até nos dias de hoje, como 
a objetividade, o saber, a vontade e o juízo. Ele estabeleceu o 
que chamamos de Filosofia Crítica, “mantendo o equilíbrio 
entre a posição extrema do empirismo britânico, por um lado, 
e os princípios inatos do racionalismo cartesiano, por outro”. 
(RUSSEL, 2013, p. 368). 
Na filosofia kantiana, há um ponto de inflexão importante 
acerca da análise e do conhecimento da relação entre ser e 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação68
pensar, entre verdade e certeza, entre objetividade e subjetividade. 
Deriva-se desses temas um conjunto de trabalhos desenvolvidos 
pelo filósofo: Crítica da razão pura, Crítica da razão prática Crítica 
do juízo. Resumidamente, é possível afirmar que sua Crítica está 
baseada na possibilidade de uma fundamentação da articulação 
entre sujeito e objeto que não se situe no âmbito da fé ou da crença.
Figura 3: Immanuel Kant
Fonte: @commons. 
IMPORTANTE
O sentido da Crítica efetuado por Kant não é aquele do senso 
comum da desaprovação, e sim da análise. Sua busca é pela 
compreensão da maneira pela qual podemos conhecer as coisas, 
e não apenas “qual o significado das coisas”.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 69
A educação, para Kant, é um objeto importante de reflexão. 
Ele defende a ideia de que o homem é a única criatura que 
precisa ser educada, sendo que a educação tem como objetivo 
encaminhar o homem em direção a uma finalidade, qual seja, a 
perfeição. Uma educação que consegue atingir sua finalidade, 
vai de encontro com a filosofia moral e política, sendo que o 
homem moral é o ideal a ser seguido no processo de educação.
Tendo como intenção a formação do homem ideal, 
Kant estabelece a disciplina e a coação como pressupostos 
fundamentais no processo de educação. Por meio do rigor, da 
coação e da obediência, o filósofo visa a formação do caráter. 
Disciplina e coação são colocadas como fundamentos necessários 
para a liberdade e a moral. A autonomia, princípio básico do bom 
uso da razão, depende desse primeiro momento da educação 
(FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p. 96). Apenas em função de 
uma educação baseada na disciplina e na coação será possível 
postularmos um sujeito autônomo.
Outro aspecto importante é a defesa da ideia de que 
a educação deveria conduzir o homem à liberdade. Dito 
de outra forma, a educação para a liberdade necessita de 
exercícios e ensinamentos de modo a permitir gradativamente 
o desenvolvimento da inteligência. O homem, por ser racional, 
ultrapassa a ordenação mecânica de todo o sentido de sua 
existência, proporcionando a si mesmo a libertação dos instintos 
por meio de sua própria razão (RIBEIRO, ZANCANARO, 2011). 
“O homem não deve ser guiado por instintos, pois foi dado a ele 
razão e liberdade da qual deve tirar tudo de si mesmo”. Assim, 
na era moderna, cresceu o clamor da liberdade geral e sustentou-
se que uma ordem social apropriada só poderia acontecer a partir 
de indivíduos livres e emancipados, em que o sujeito só poderá 
ser racional e livre ao desenvolver todas as suas potencialidades 
de acordo com a vontade. 
 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação70
IMPORTANTE
Por meio da educação, o indivíduo se torna plenamente 
responsável por seu destino, consciente dos valores morais, 
do dever e de sua natureza enquanto fim em si. Esse fim é um 
fim racional, que supõe um valor pessoal, dado pelo próprio 
homem a si mesmo, em todas as circunstâncias, como condição 
necessária sob a qual somente ele mesmo e sua existência são 
metas finais. O progresso imposto pela educação, ao formular a 
disciplina, cultura e moralidade como metas a serem cumpridas, 
possibilita a postulação da formação do homem, com vistas à 
inteira humanidade (FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p. 97).
Georg Hegel
Georg Hegel (1770-1834) nasceu em Stuttgat, hoje cidade 
da Alemanha. Quando jovem, conheceu Schelling e Holderlin, 
iniciando uma amizade que duraria décadas. O esforço de Hegel 
concentra-se num objetivo muito claro: a compreensão do 
presente, a partir da explicação do sentido do desenvolvimento 
histórico. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 71
Figura 4: Georg Hegel
Fonte: @commons. 
A filosofia hegeliana caracteriza-se, nessa medida, por um 
intenso compromisso com a realidade. E o que é a realidade? Ela 
se caracteriza justamente por seu aspecto mutável em todos os 
níveis, principalmente no histórico. Uma das questões iniciais do 
projeto hegeliano é avaliar até que ponto os conceitos formulados 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação72
por diferentes sistemas filosóficos dão conta desse dinamismo, 
ou, ao contrário, dividem-no em blocos estanques que se mantêm 
imóveis. A mudança – que a filosofia denomina devir – sempre 
foi considerada apenas sob o aspecto dos resultados, ou seja, 
aquilo que manifesta a relativa estabilidade do real em cada 
momento, que se apresenta para o nosso conhecimento.
Esse, todavia, não é o ponto que mais interessa a Hegel. 
Interessa-lhe considerar o aspecto de processo, que a mobilidade 
do real envolve. Para ele, é preciso explicar as condições de 
modificação e o sentido que as mudanças apresentam em todos 
os aspectos da realidade, desde a percepção sensível até as 
revoluções políticas. Compreender a realidade significa entender 
o modo como esse processo transcorre e, se possível, as leis que 
o regem.
A obra em que Hegel procura expor essa trajetória é a 
Fenomenologia do Espírito (1807), o primeiro livro em que seu 
sistema aparece plenamente delineado.
SAIBA MAIS
Hegel afirmava que a filosofia é filha de seu tempo apontando, 
assim, a importância da história. Nesse sentido Hegel situa-se 
dentro do debate sobre a educação de sua época, pois, além 
de encontrar-se nesse contexto, toda a sua vida ficou marcada 
pela atividade docente. Hegel foi preceptor, professor, diretor 
de ginásio, conselheiro escolar, professor e reitor universitário 
e consultor do governo para assuntos educacionais. Hegel viveu 
de perto as reformas educacionais na Alemanha tanto no período 
do ginásio como na universidade.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 73
Segundo Novelli (2001), Hegel não ficou indiferente à 
educação em sua época, mesmo porque os efeitos do Iluminismo 
na França e na Inglaterra se estenderam à Alemanha. A 
necessidade de libertar o homem retirando-o de sua minoridade, 
passava pela possibilidade de recepção do saber segundo o 
Iluminismo. Certamente seria válido investigar como a dialética 
hegeliana, proporciona contribuições para o que ocorre em sala 
de aula. Aliás, como nos informaNovelli é estranho dentro 
do hegelianismo, desvincular a sala de aula das concepções e 
políticas educacionais (NOVELLI, 2001).
A pedagogia hegeliana remete muito mais à compreensão 
do que é e como vem a ser o homem. O homem, em Hegel, é 
contínua passagem, contínuo vir-a-ser, sempre filho de seu tempo, 
do que o precedeu e do que está por vir enquanto resultado de 
sua própria atividade no dia a dia. Certamente é dessa concepção 
de homem, que se deve erguer toda uma proposta pedagógica, 
que tão somente viabilize esse homem. 
Provavelmente por isso não se encontra em Hegel uma 
sistematização da questão pedagógica e talvez seja um exagero 
procurar remeter passagens da obra de Hegel à referida questão. 
No entanto, pode-se operar um esforço no sentido de pensar, 
como a filosofia hegeliana apresenta contribuições à temática 
educacional. A seguir, escolhemos alguns pontos importantes 
dessa proposta:
 �A educação proporciona o segundo nascimento do 
indivíduo, porque o torna autônomo, senhor de si no convívio 
de seu povo. A autonomia é uma conquista do indivíduo, porque 
ele precisa aderir à proposta de seu povo e renunciar suas 
particularidades e exclusivismos. 
 �O aprender ocorre por intermédio de alguém, isto é, por 
um processo necessariamente mediado. 
 �O indivíduo precisa passar por diversos estágios em sua 
formação. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação74
 �A tarefa do indivíduo é adquirir o que lhe é apresentado 
e apropriar-se da cultura de sua época. Essa apropriação é o 
acesso à cultura universal da qual participam todos os povos. 
Finalmente, Hegel assume uma preocupação marcante 
com o conteúdo da prática docente (sem considerar muito a 
questão metodológica). Há em Hegel uma certa desconfiança 
em relação aos formalismos, métodos e técnicas. Dessa maneira, 
o conteúdo torna-se determinante, pois deve ser a apresentação 
das verdadeiras riquezas criadas pelos homens ao longo de sua 
existência. 
O que se pode inferir, apesar de tudo, sobre a postura 
hegeliana, é que ele insiste na contribuição, que o acesso ao 
conhecimento acumulado pode proporcionar ao aluno. Nesse 
sentido, a preocupação com o conteúdo é crucial, pois aí se 
encontra algo a ser sabido e ao qual se tem direito. A metodologia, 
a técnica adotada, o processo de comunicação desse conteúdo 
acabam sendo secundários (NOVELLI, 2001). Contudo, Hegel 
entende que não basta comunicar, mas é necessário garantir que 
ocorra a comunicação
RESUMINDO
 Neste capítulo, abordamos as ideias filosóficas de René 
Descartes, Jean Jacques Rousseau, Immanuel Kant, Georg Hegel, 
bem com suas contribuições para a Filosofia da Educação. Você 
aprendeu a definição e a diferença entre os filósofos racionalistas 
e empiristas no contexto da Filosofia Moderna.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 75
Tendências e Correntes Filosóficas: 
Contexto Histórico e Pressupostos
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de explicar as 
características e o contexto histórico das tendências e correntes 
filosóficas do século XIX e início do XX. 
A Filosofia Contemporânea situa-se cronologicamente 
entre o século XIX até os dias atuais. No entanto, alguns 
especialistas em filosofia preferem classificar os pressupostos 
teóricos e os pensamentos filosóficos produzidos a partir do 
século XIX como parte da Filosofia Moderna. Permitindo-se 
fazer uma análise mais conceitual e historiográfica, ao invés de 
uma análise estritamente cronológica, preferimos compreender 
que as produções filosóficas do século XIX e início do XX 
aproximam-se muito mais daquilo que foi produzido nos 
séculos posteriores do que nos períodos anteriores. Dessa forma 
escolhemos o termo “filosofia contemporânea”..
Além disso, o pensamento predominante no século XX, 
as escolas filosóficas, as interpretações, a pós-modernidade, 
enfim, tudo o que há de diferente na Filosofia Ocidental nos dias 
de hoje, foi gestado a partir de obras de filósofos do século XIX, 
como Auguste Comte, Friedrich Nietzsche, Søren Kierkegaard, 
Arthur Schopenhauer, Karl Marx, entre outros.
Como vimos na seção 3, durante o Iluminismo, no fim 
da modernidade, havia uma crença comum de que o avanço 
das ciências, das técnicas e do conhecimento, articulados à 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação76
popularização desse conhecimento por meio da educação, 
trariam a realização moral e a liberdade das sociedades ditas 
modernas. No século XIX, o positivismo de Auguste Comte 
permanece, de certo modo, numa linha iluminista, porém traz a 
necessidade de um conhecimento científico (técnico), bem como 
da ordem social para que ocorra o almejado avanço social. Já o 
materialismo dialético, de Karl Marx, afirma a necessidade de 
se entender a história humana como história de sua produção 
material.
Considerando os fatos históricos inerentes do final do 
século XVIII e que permearam todo século XIX, os que mais 
influenciaram o pensamento contemporâneo foram as revoluções 
Francesa e Americana, e especialmente a Revolução Industrial. 
Em termos práticos, as revoluções políticas e sociais trouxeram 
um novo modo de governar, afastando o absolutismo 
monárquico do Antigo Regime, enquanto a Revolução Industrial 
desencadeou um importante e amplo avanço técnico e científico 
nos países europeus.
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, opondo-se à 
visão romântica e idealista e aos pensamentos totalizantes da 
razão moderna, que pretendiam enquadrar os sujeitos em um 
modelo inteiramente racional, lança o conceito de Vontade 
como uma força motriz da natureza que tudo causa, ao acaso, 
independentemente de qualquer vontade divina. 
Kierkegaard, por sua vez, lança a ideia de que a Filosofia 
deve prestar atenção à vida do sujeito, para que o próprio ser 
humano entenda e se conforme com a sua condição, que muitas 
vezes é permeada pela angústia.
Mas de todos os pensadores que marcaram o início 
da contemporaneidade, talvez seja Friedrich Nietzsche o 
responsável pela maior ruptura com a filosofia moderna, além 
de ser enunciador do que viria no século XX. Este filósofo foi 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 77
um grande crítico do que se tornou a filosofia produzida entre 
Sócrates e Kant (com exceção de Spinoza), ou seja, quase toda a 
Filosofia ocidental. Nietzsche criticou a pretensão do ser humano 
de querer alcançar uma verdade objetiva, única e puramente 
racional, fundamentando o conhecimento, que ele chamou de 
perspectivismo. Além da crítica à teoria do conhecimento e a 
elaboração de um método filosófico para compreender o mundo, 
Nietzsche tece uma crítica aos sistemas morais, que pretendem 
estabelecer uma valoração unilateral e desprezam a origem 
histórica e cultural dos mesmos.
O início do século XX, por conseguinte, traz a suspeita 
de que as teorias iluministas e modernas talvez não fossem tão 
certas. A Primeira Guerra Mundial foi um desses fatores e o 
Holocausto engendrou o começo do pessimismo contemporâneo 
em relação à ciência e à técnica. Theodor Adorno e Max 
Horkheimer, no livro Dialética do Esclarecimento, classificam 
o holocausto como o ápice da barbárie, que a humanidade 
chegou devido ao que eles chamaram de “razão instrumental”. 
A razão instrumental é a utilização não reflexiva da ciência e das 
técnicas visando a uma finalidade. 
Desde o século XVIII o capitalismo já vinha se utilizando 
da racionalidade como instrumento de poder, e o nazismo, por 
meio da câmara de gás e dos experimentos científico cruéis, 
que utilizavam prisioneiros de campos de concentração como 
cobaias, marcaram a contemporaneidade como uma época em 
que o avanço científico não garantiu o avanço moral humano.
Nesse contexto, uma dificuldade que aparece a partir 
de agora no estudo da Filosofia é o surgimento de correntes 
filosóficas. No período contemporâneo, as correntes passam 
a ser mais exatas e claras, isto é, há uma classificação mais 
detalhada de cada posição e abordagem filosófica.Busca-se, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação78
nesse sentido, aproximar ou distanciar os filósofos conforme as 
principais ideias contidas nelas.
RESUMINDO
Neste capítulo, abordamos a situação cronológica da filosofia, 
para compreender o surgimento das tendências e correntes 
filosóficas, por meio de análise mais conceitual e historiográfica 
das principais ideias dos filósofos desse período.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 79
Correntes Filosóficas: Abordagens e 
Suposições
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de identificar 
e as correntes filosóficas do século XIX e do XX. 
Positivismo
Impulsionado pelo otimismo decorrente da crença no 
progresso tecnológico, o positivismo empenhou-se em tornar 
o homem consciente de seu destino histórico, e especialmente 
comprometido com a vocação tecnocientífica do século XIX. Seu 
maior representante é o francês Auguste Comte (1798-1857), 
aluno da Escola Politécnica de Paris, professor de Filosofia 
e fundador da corrente em questão. De sua obra destacam-se 
Curso de Filosofia Positiva (1830-1842), Sistema de Política 
Positiva (1851-1854), Catecismo Positivista (1852) e Síntese 
Subjetiva (1856).
O pensamento positivista influenciou grande parte da 
cultura europeia em diversos âmbitos, como na Filosofia, 
na Pedagogia, na Política e na Historiografia. As grandes 
transformações decorrentes do processo de industrialização no 
século XIX, o avanço da Ciência e da tecnologia, o surgimento 
de grandes cidades, o aumento da produção de bens materiais 
e de riqueza permeiam o contexto em que o positivismo foi 
pensado por Comte. 
Comte dividiu o progresso humano em três estágios: 1) 
o primeiro diz respeito ao período teológico, representado 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação80
pela Idade Média e caracterizado pela crença no sobrenatural, 
nas explicações fantásticas e míticas; 2) o segundo estágio, 
denominado de metafísico, Comte defende a ideia de que a 
especulação sobre a natureza da realidade passou por uma 
grande evolução e que as noções abstratas substituíram o papel 
das divindades e, finalmente 3) a era positivista (científica) que 
ajudaria a criar uma nova ordem social, baseada nas regularidades 
observáveis e escritas pelas Ciências.
Tendo em vista sua teoria, estaríamos no estágio científico 
da história da humanidade, apesar de que seria necessário, ainda, 
aplicar seu método aos fenômenos sociais. Ou seja, a finalidade 
disso seria findar as crises pelas quais a sociedade estava passando 
para alcançar uma “ordem social”. A sociologia científica seria 
capaz de interromper o estado de crise, em que as sociedades 
mais civilizadas se encontravam a fim de conquistarem a ordem 
social, que Comte defendia com entusiasmo.
Comte não defendia a Filosofia como um corpo teórico 
que tem seu próprio saber pois, o mais importante, segundo 
sua perspectiva, eram os objetivos de classificação e ordenação 
do conhecimento. Em outras palavras, a filosofia positiva 
possui um teor enciclopédico – não no sentido dos conteúdos e 
saberes apresentados – mas de sua organização, classificação 
e hierarquização. A filosofia se submete ao quadro do saber 
já consolidado pela observação e aplicação dos métodos 
considerados científicos.
Nesse sentido, não seria incorreto afirmar que o positivismo 
creditava uma especial confiança no progresso, na capacidade da 
ciência em resolver os problemas das sociedades e, por extensão, 
no vínculo entre conhecimento e ciências naturais. 
Ademais, o vínculo estabelecido pelo positivismo entre 
lógica, ciência, política e moral, mostra que o cientista deve ter 
um papel social importante. Para Comte, é impossível considerar 
a lógica sem considerar um programa ético e político. Nesse 
sentido, Ciência e Filosofia são “como espécie de sacerdócio, de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 81
apostolado da razão, cujo objetivo é a redenção da humanidade” 
(ABRÃO, 1999, p. 398). Esse pensamento conduziu o filósofo 
a instituir a “Religião da Humanidade”, caracterizada pelo culto 
à razão, presença de rituais e calendários próprios, e adoração 
aos grandes personagens do progresso humano (em sua maioria, 
homens ilustres).
De forma resumida, apresentamos um quadro com as 
principais características do Positivismo:
 �As Ciências promovem, exclusivamente, o método de 
conhecimento e o próprio conhecimento.
 �Esse método é válido para o estudo da sociedade, ou 
seja, para a sociologia e historiografia.
 �A Ciência soluciona todos os problemas humanos.
 �O progresso das sociedades e também da humanidade é 
visto de uma perspectiva otimista.
 �A História é vista a partir da perspectiva messiânica.
 �Os fatos do conhecimento popular ou senso comum são 
compreendidos como o verdadeiro conhecimento. 
 �Crença na racionalidade científica.
 �Combate às concepções idealistas e espiritualistas da 
realidade. (FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p. 109)
Comte enfrentou duras críticas ao seu pensamento, 
especialmente à Religião da Humanidade que, nos dias de 
hoje, é pouco reconhecida e valorizada no corpo teórico do 
pensamento positivo. Porém, ainda na contemporaneidade 
percebemos sinais do positivismo nas sociedades ocidentais, 
tais como: a ciência para o progresso da humanidade; crítica ao 
pensamento metafísico não provado; ideia da sociologia como 
ciência autônoma; a importância da tradição; o reconhecimento 
da historicidade dos fatos humanos e da própria ciência; a 
unicidade do método científico e seu valor cognoscitivo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação82
SAIBA MAIS
O positivismo exerceu grande influência sobre os principais 
líderes republicanos brasileiros, quase todos ex-alunos da 
Escola Politécnica de Paris. Entre eles destacam-se Luís Pereira 
Barreto, Raimundo Teixeira Mendes, Miguel Lemos (fundador 
da Igreja Positivista do Brasil) e Benjamin Constant, responsável 
pela divisa “Ordem e Progresso” (ideal comtiano) inscrita na 
bandeira do Brasil.
Utilitarismo
O advento da Revolução industrial, o crescimento das 
cidades, a divisão do trabalho, a circulação de capital e o 
aumento de produtos de bens materiais trouxeram consigo uma 
certa ênfase a tudo que dizia respeito à “utilidade”. O movimento 
denominado utilitarismo, portanto, recebeu esse nome devido a 
uma doutrina ética, que remonta ao teólogo e filósofo Francis 
Hutcheson (1694-1746) que a defendeu em 1725. Essa teoria 
afirma que o bem é prazer e o mal, a dor. O melhor estado que 
podemos alcançar é aquele em que o prazer supera a dor. 
Esse ponto de vista foi adotado por Jeremiah Bentham 
(1748-1832), passando a ser conhecido como utilitarismo, que 
nada mais é que um conjunto de teorias éticas. Seu princípio 
fundamental é: a máxima felicidade possível para o maior 
número de pessoas. Trata-se então de uma moral eudemonista, 
mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos 
considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. 
Além de Bentham, o utilitarismo contou com os filósofos James 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 83
Mill (1773-1836), John Stuart Mill (1806-1873), Henry 
Sidgwick (1838-1900) e muitos outros que responderam a todas 
as questões acerca do que fazer, o que admirar ou como viver 
bem. 
Bentham se interessou sobretudo pela jurisprudência, 
campo em que se inspirou em Helvétius e Beccaria. Para Bentham, 
a ética era uma base para estudar os meios legais de promover 
o melhor estado de coisas possíveis. Ele ainda foi o líder de um 
grupo de homens conhecidos como “radicais filosóficos”, que se 
preocupavam muito com as reformas sociais e com a educação, 
e em geral se opunham à autoridade da Igreja e aos privilégios 
restritivos da classe social dominante. Porém, como nos informa 
Bertrand Russel, Betham era um homem de temperamento 
reservado e partia de pontos de vista não especialmente radicais 
(RUSSEL, 2013, p. 409).
Bentham preocupava-se muitocom a educação e 
compartilhava com seu grupo de uma suprema confiança nos 
ilimitados poderes da mesma. O fornecimento de uma educação 
adequada, foi vista como um dos grandes remédios para todos 
os males sociais. De certa forma, os utilitaristas estão certos 
quando afirmam que determinados problemas não podem ser 
devidamente enfrentados, a menos que exista um entendimento 
bastante difundido do que está em jogo, e isto requer, em verdade, 
um certo grau de educação.
É importante lembrar que, naquela época, a Inglaterra 
contava apenas com duas universidades, e de acesso restrito aos 
que professavam o anglicanismo. Logo, a intenção de Bentham 
era proporcionar oportunidades de educação universitária, aos 
que não preenchiam as estritas qualificações exigidas pelas 
instituições existentes. Consequentemente, participou do grupo, 
que ajudou a fundar o University College, de Londres, em 
1825, instituição na qual não se impunham testes religiosos aos 
estudantes.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação84
De modo geral, a filosofia de Bentham se baseia em duas 
ideias predominantes que remontam o início do século XVIII: (1) 
a associação, (2) a máxima felicidade. A primeira diz respeito à 
noção de dependência causal em função da associação de ideias, 
tornando-se o mecanismo central da psicologia. O segundo 
princípio, da maior felicidade, já mencionamos. Esta teoria 
vincula-se também à psicologia, uma vez que, para Bentham, 
o que os homens tendem a fazer é conseguir para si mesmos a 
maior felicidade possível. Felicidade significa, aqui, o mesmo 
que prazer. A função da lei é garantir que, ao buscar o seu 
próprio prazer máximo, ninguém prejudique idêntico propósito 
dos demais.
Ao mesmo tempo, o princípio da maior felicidade 
possibilita outra interpretação: na concepção dos economistas 
liberais, tornou-se uma justificativa para o laisser-faire e para o 
livre-comércio, pois assumia-se que a busca livre e sem controle, 
por parte de cada indivíduo, do seu maior prazer, produziria a 
maior felicidade à sociedade (RUSSEL, p. 411). 
IMPORTANTE
Para além de uma teoria ética, o utilitarismo foi, de fato, a 
concepção de vida implícita na maior parte do planejamento 
político e econômico moderno, na medida em que supõe que a 
felicidade também pode ser medida em termos de econômicos. 
Em Economia, o utilitarismo pode ser entendido como um 
princípio ético no qual o que determina se uma decisão ou ação é 
correta, é o benefício intrínseco exercido à coletividade, ou seja, 
quanto maior o benefício, tanto melhor a decisão ou ação será.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 85
John Stuart Mill foi um homem de “grande talento, mas 
desperdiçado pela falta de densidade filosófica do utilitarismo” 
(FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p. 112). Foi fortemente 
influenciado pelo seu pai, James Mill, homem muito atuante 
politicamente na Inglaterra e defensor do liberalismo como 
pensamento político mais apropriado àquele contexto. 
Na formulação da doutrina de Stuart Mill, as ações são 
corretas proporcionalmente à sua tendência para promover a 
felicidade, e erradas se tendem a promover o que é contrário 
à felicidade. Esta perspectiva constitui uma forma, como diz 
Simon Blackburn (1997) de consequencialismo, em que as 
consequências relevantes são identificadas em termos de graus 
de felicidade. Diferentes concepções de felicidade separaram a 
versão de Mill, que reconhecia diferenças qualitativas entre os 
diferentes tipos de prazer, da tentativa assumida de Bentham, 
para reduzir todas as questões de felicidade à presença de prazer 
ou dor.
Para Mill, todos os nossos conhecimentos são de 
conhecimento popular ou do senso comum, inclusive as 
proposições das ciências dedutivas como a geometria. Com 
efeito, as proposições da geometria também são verdades 
experimentais e resultantes da observação. A importância de 
Stuart Mill para a educação se estabelece nessa problemática 
dos processos indutivos e dedutivos do conhecimento, uma 
vez que muitas das pesquisas utilizam esse método lógico para 
referendar teorias que são retiradas da experiência, tornando-as 
gerais (FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p. 113).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação86
SAIBA MAIS
Não foi somente à teoria utilitarista que Stuart Mill se dedicou, 
pois foi um dos primeiros filósofos homens a se preocupar com a 
causa das mulheres. O filósofo publicou em 1869 a famosa obra 
Sujeição das mulheres, em meio a um importante movimento 
histórico no qual as mulheres reivindicavam direitos de cidadania. 
No primeiro capítulo de sua obra, Stuart Mill apresenta muitas 
indagações relacionadas à subjugação das mulheres. O filósofo 
atentava para o fato de que, apesar de o mundo ter avançado muito 
até aquele momento para a libertação de povos escravizados, as 
mulheres continuavam sendo subjugadas e oprimidas pelo sexo 
oposto. Consequentemente, as mulheres continuavam sendo 
vistas como seres inferiores e sem autonomia, não só no âmbito 
público, mas também no âmbito privado (OLIVEIRA, 2013). 
A obra nos dá a possibilidade de pensar o questionamento do 
filósofo, quanto à causa da sujeição das mulheres pelos homens 
e a aceitação desta condição. Mill assumia a tarefa de entender 
o porquê de a sociedade aceitar como “natural” a situação de 
inferioridade da mulher diante do homem, isto é, a sujeição e o 
conformismo da maioria: a sociedade não questionava as razões 
pela qual as mulheres se mantinham sob o jugo masculino.
A seguir, apresentamos as características fundamentais do 
utilitarismo: 
 �Princípio do bem-estar: O “bem” é definido como 
sendo o bem-estar. Diz-se que o objetivo pesquisado em toda 
ação moral se constitui pelo bem-estar, que pode ser físico, 
moral e intelectual.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 87
 �Consequencialismo: As consequências de uma ação 
são a única base permanente para julgar a moralidade desta 
ação. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos agentes 
morais, mas pelas ações – as qualidades morais do agente não 
interferem no “cálculo” da moralidade de uma ação, sendo então 
indiferente se o agente é generoso, interessado ou sádico, pois 
são as consequências do ato que são morais. Há uma dissociação 
entre a causa (o agente) e as consequências do ato. Assim, para o 
utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato 
pode ser moral ou imoral, dependendo se suas consequências 
são boas ou más.
 �Princípio da agregação: O que é levado em conta 
no cálculo é o saldo líquido (de bem-estar, numa ocorrência) 
de todos os indivíduos afetados pela ação, independentemente 
da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global 
de bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta 
quantidade. Sendo assim, é considerado válido «sacrificar uma 
minoria”, cujo bem-estar será diminuído, a fim de aumentar o 
bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na 
ideia de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo 
bem-estar dos outros. Se o saldo de compensação for positivo, a 
ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito sacrificial é um 
dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo.
 �Princípio de otimização: O utilitarismo exige a 
maximização do bem-estar geral, o que não se apresenta como 
algo facultativo, mas sim como um dever.
 � Imparcialidade e universalismo: Os prazeres e 
sofrimentos são considerados da mesma importância, quaisquer 
que sejam os indivíduos afetados. O bem-estar de cada um tem o 
mesmo peso dentro do cálculo do bem-estar geral. Este princípio 
é compatível com a possibilidade de sacrifício. A princípio, todos 
têm o mesmo peso, e não se privilegia ou se prejudica ninguém 
– a felicidade de um rei ou de um cidadão comum é levada 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação88
em conta da mesma maneira. O aspecto universalista consiste 
numa atribuição de valores do bem-estar que é independente das 
culturas ou das particularidades regionais.Como o universalismo 
de Immanuel Kant, o utilitarismo pretende definir uma moral 
que valha universalmente.
Pragmatismo
Primeira corrente filosófica que se originou nos Estados 
Unidos no final do século XIX, o pragmatismo viveu seu auge 
nas primeiras décadas do século XX. Apesar de ter sido pensado 
sob diversas formulações, o pragmatismo parte da crença de que 
o significado de uma doutrina é idêntico aos efeitos práticos 
que resultam de sua adoção. Em outras palavras, “o significado 
de um conceito é o efeito sensorial de seu objeto”, é conhecida 
como máxima pragmática. Ou então: a “verdade” é a descrição 
da realidade que melhor funciona para nós.
Um dos seus principais representantes é Charles Sanders 
Peirce (1839-1914). Uma das coisas fundamentais que Peirce 
tentava mostrar é que muitos debates na ciência, filosofia e 
teologia não têm sentido. Ele afirmava que muitas vezes são 
debates sobre palavras, e não sobre a realidade, uma vez que 
neles nenhum efeito sobre os sentidos pode ser especificado.
O pragmatismo peirceano era a teoria de que não 
adquirimos conhecimento apenas observando, mas fazendo, e 
que contamos com esse conhecimento somente enquanto ele nos 
é útil, no sentido de que explica adequadamente as coisas para 
nós. Quando esse conhecimento não cumpre mais essa função 
ou explicações melhores tornam-no obsoleto, o substituímos. 
As antigas suposições funcionaram de forma adequada em sua 
época, ainda que não fossem verdadeiras. Isso demonstra como 
o conhecimento, como ferramenta explicativa, é diferente dos 
fatos.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 89
Exemplo:
Podemos ver, ao olhar para a história, como nossas ideias 
sobre o mundo mudaram constantemente, do pensamento de que 
a Terra é plana até saber que ela é redonda, da suposição da 
Terra como centro do universo até a compreensão de que se trata 
apenas de um planeta no vasto cosmos.
O ideário de Peirce torna-se importante para as concepções 
educativas, porque articula-se à apreensão de como podemos 
conhecer as coisas. Para ele, nosso conhecimento nasce de uma 
fixação de crenças, que podem ser reduzidas a quatro métodos, 
quais sejam:
Tabela 2: Charles Peirce - Como tornar claras nossas ideias (1878)
Método da Tenacidade
O método da tenacidade é uma 
forma de comportamento do 
“avestruz”, que esconde a cabeça 
quando o perigo se aproxima. Esse 
é o caminho de quem está seguro, 
apenas na aparência e em seu 
interior está extremamente inseguro. 
Essa insegurança emerge quando 
é confrontado com outras crenças, 
tomadas igualmente como boas.
Método da Autoridade
O método da autoridade consiste 
na utilização da ignorância, do 
terror e da inquisição para alcançar 
a concordância de quem pensa de 
forma diversa e quem não pensa da 
mesma forma que o grupo ao qual 
pertence. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação90
Método a priori
É aquele que concebe que suas 
próprias proposições fundamentais 
estão de acordo com a razão. Mas 
Peirce alerta que a razão de um 
filósofo não é a razão de outro. 
O método apriorístico leva ao 
insucesso, pois se baseia também 
como autoridade.
Método científico
É superior aos três primeiros, 
que inevitavelmente levam ao 
insucesso e não se sustentam. Para 
estabelecermos a validade de nossas 
crenças, ele é o único correto.
Fonte: Franklin; Pinheiro, 2014, p. 116.
Todavia, as crenças científicas podem ser falíveis, uma 
vez que as experiências podem desmentir os significados das 
conjeturas levantadas. Por isso, as hipóteses estarão sempre 
colocadas à prova nas experiências e nas tessituras das conclusões. 
Tal método científico é muito significativo, para a realização de 
pesquisas acadêmicas, e para comprovar as respectivas teorias.
O pragmatismo teve outro filósofo como grande referência, 
o norte-americano, filósofo e psicólogo William James (1842-
1910), que foi amigo de Peirce e teve mais notabilidade que este. 
Para James, a verdade de uma ideia depende do quanto ela é 
útil, isto é, se ela responde o que dela se exige. Por isso, se uma 
ideia não contradiz os fatos (as leis da ciência, por exemplo) não 
pode haver razão para não considerá-la verdadeira. A verdade 
de uma ideia não é uma propriedade estagnada inerente a ela: 
a verdade acontece a uma ideia, tornando-se verdadeira pelos 
acontecimentos. Sua veracidade é um acontecimento, um 
processo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 91
IMPORTANTE
Qualquer ideia, se trabalhada, é considerada como verdadeira 
pela ação que tomamos: colocar a ideia em prática é o processo 
pelo qual ela se torna verdadeira.
A realidade é um processo dinâmico e ativo, da mesma 
forma que a verdade é um processo.
James também julga que a crença numa ideia é um 
fator importante na escolha para agir sobre ela, e dessa forma 
a crença é parte do processo que torna uma ideia verdadeira. 
Na perspectiva de James, quase todas as crenças poderão ser 
respeitáveis, e até mesmo verdadeiras, desde que funcionem 
(mesmo que este funcionar não seja uma questão tão simples 
para James). 
SAIBA MAIS
O pragmatismo proposto por James e Peirce estabeleceu os 
Estados Unidos como um centro significativo para o pensamento 
filosófico no século XX, considerando que toda tradição 
filosófica do ocidente tinha sido gestada nos países europeus. 
A interpretação de James sobre a pragmática da verdade 
influenciou o psicólogo e pedagogista John Dewey, que será 
apresentado na Unidade 3. Outros filósofos influenciados pela 
corrente pragmática foram: Richard Rorty, Bertrand Russel e 
Ludwig Wittgenstein; enquanto os escritores foram: Virginia 
Woolf e James Joyce.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação92
Materialismo
A influência de Hegel no pensamento filosófico do 
século XIX foi fundamental na produção de ideias, que tinham 
em comum, entre outras coisas, a desconstrução religiosa, 
especialmente por meio de críticas ao cristianismo. Temos 
Bruno Bauer (1809-1882) e Edgar Bauer (1821-1866), que 
apresentaram um ateísmo idealista. Max Stirner (1806-1856) 
por sua vez, dizia que não podia ser mais cristão, tampouco 
ateísta. Mas foi Ludwig Feuerbach (1804-1872) que influenciou 
radicalmente todos os filósofos chamados materialistas. Sua tese 
principal é a de que, por trás de toda teologia, não há nada além 
de antropologia.
A partir desse grupo formado e influenciado por Hegel, 
temos Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-
1859) que inspiram até os dias de hoje o pensamento filosófico, 
político, econômico e social. Ambos romperam com Feuerbach 
ao questionarem a sua concepção especulativa, sobre a natureza 
do homem apartada da política e da história, bem como do 
desenvolvimento de si próprio desvinculado das condições reais 
de sua existência.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 93
IMPORTANTE
Ressalta-se a importância de compreender Marx e seu pensamento 
conforme o contexto histórico e social do século XIX, em que 
suas ideias foram concebidas. Marx viveu numa época em que a 
Europa se envolvia em conflitos, tanto no campo das ideias, como 
no das instituições. Já na universidade, as doutrinas socialistas 
e anarquistas se encontravam no centro das discussões dos 
grupos que Marx frequentava. Alguns dos pensadores que então 
alimentavam as esperanças transformadoras dos estudantes hoje 
são chamados de socialistas utópicos, como o britânico Robert 
Owen (1771-1858) e os franceses Charles Fourier (1772-1837) 
e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Dois momentos da 
história europeia foram vividos por Marx intensamente e tiveram 
importantes reflexos em sua obra: as revoltas antimonárquicas 
de 1848 – na Itália, na França, na Alemanha e na Áustria – e 
a Comuna de Paris, que, durante pouco mais de três meses em 
1871, levou os operários ao poder, influenciados pelas ideias do 
próprio Marx. A insurreição acabou reprimida, com um saldo de 
20 mil mortes, 38 mil prisões e 7 mil deportações. 
Como informado por Franklin e Pinheiro(2014), Marx 
aceita o método dialético de Hegel (o poder da contradição), 
porém aplica a única realidade que admite: a matéria. Com isso, 
Marx elabora definições de materialismo histórico. Nas Teses 
sobre Feurbach (1845) e Ideologia Alemã (1846) inicia-se o 
interesse de Marx pelas diversas formas da sociedade humana 
e pela sua sucessão evolutiva que, na sociedade, surge em 
resposta às contradições (ou tensões insolúveis que se dão entre 
as diferentes forças produtivas ou classes). 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação94
DEFINIÇÃO
Materialismo Histórico
É uma concepção marxista da História. É descrito como procura 
da grande força, que faz mover todos os acontecimentos históricos 
importantes no que se refere à economia de uma sociedade, às 
mudanças dos modos de produção, à divisão da sociedade em 
classes distintas e, finalmente, à luta das classes que se opõem. 
Segundo o materialismo histórico, as mudanças nas forças 
produtivas de uma sociedade conduzem a conflitos sociais, e 
as formas específicas de organização social refletem a estrutura 
subjacente dos meios de produção (BLACKBURN, 2004, p. 240).
Sabe-se que a educação não aparece nos textos de Marx 
como objeto central de interpretação, análise ou o como 
fundamento de alguma proposição. O tratamento do tema se dá 
mais como uma das consequências da realização de uma teoria 
crítica da economia e sociedade capitalista daquela época. 
Marx elaborou alguns princípios importantes que devem 
ser levados em consideração se quisermos estabelecer uma 
prática educacional transformadora do contexto social. Em 
Teses sobre Feuerbach, publicado em 1845, Marx defende 
a ideia de que algumas vertentes da doutrina materialista 
equivocadamente entendem, que os homens são produtos das 
circunstâncias externas, dito de outro modo, do meio ambiente. 
Dessa forma, segundo essa concepção, é necessário transformar 
as circunstâncias para só depois transformar os homens. Marx 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 95
discorda dessa ideia, afirmando justamente o contrário, para ele 
são os homens que transformam as circunstâncias e, por isso, é 
necessário primeiro mudar os homens e sua consciência para só 
depois mudar as circunstâncias.
Na décima primeira tese a Feuerbach, Marx argumenta que 
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes 
maneiras; mas o que importa é transformá-lo”. Desta forma 
ele critica uma postura contemplativa da filosofia, que apenas 
observava e nunca fazia intervenção na realidade. Para Marx, 
é necessário que se estabeleça uma prática revolucionária, uma 
teoria viva, que passa a existir a partir da prática concreta, da 
luta, da revolução. Na terceira unidade, veremos correntes 
pedagógicas que apostavam na transformação social, como 
importante fundamento da prática educativa. Em suma, “o 
indivíduo exerce o principal papel na construção da nova 
sociedade e, consequentemente, numa dimensão dialética, de 
um novo homem”.
Por essa forma, podemos afirmar, com base nesses 
princípios, que Marx propõe uma prática educacional 
transformadora, onde a escola teria basicamente um duplo papel: 
1. Esclarecer e identificar todas as relações sociais 
(relações de dominação e exploração) estabelecidas no âmbito 
da sociedade, tornando cada indivíduo consciente da realidade 
social na qual ele está inserido.
2. Agir pela erradicação das grandes desigualdades 
sociais, pelo fim da dominação e exploração de uma classe sobre 
outra.
Finalmente, combater a alienação e a desumanização 
era, para Marx, a função social da Educação. Para isso seria 
necessário aprender competências que são indispensáveis para a 
compreensão do mundo físico e social. O filósofo alertava para 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação96
o risco de a escola ensinar conteúdos sujeitos a interpretações de 
partido ou de classe. Ele valorizava a gratuidade da Educação, 
mas não o atrelamento a políticas de Estado – o que equivaleria 
a subordinar o ensino à religião. 
Marx via na instrução das fábricas, criada pelo capitalismo, 
qualidades a ser aproveitadas para um ensino transformador – 
principalmente o rigor com que encarava o aprendizado para 
o trabalho. O mais importante, no entanto, seria ir contra a 
tendência profissionalizante, que levava as escolas industriais 
a ensinar apenas o estritamente necessário para o exercício de 
determinada função. Marx entendia que a Educação deveria ser 
ao mesmo tempo intelectual, física e técnica. Essa concepção, 
chamada de onilateral (múltipla), difere da visão de Educação 
integral, porque esta tem uma conotação moral e afetiva que, 
para Marx, não deveria ser trabalhada pela escola, mas por outros 
adultos. O filósofo não chegou a fazer uma análise profunda 
da Educação, com base na teoria que ajudou a criar. Isso ficou 
para seguidores como o italiano Antonio Gramsci (1891-1937), 
o ucraniano Anton Makarenko (1888-1939) e a russa Nadia 
Krupskaia (1869-1939).
Fenomenologia
A Fenomenologia é um termo que surgiu no século 
XVIII, nas obras de Johann Heinrich Lambert (1728-1777) e 
de Immanuel Kant, para denotar a descrição da consciência e 
da experiência, abstraindo de considerações sobre seu conteúdo 
intencional.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 97
DEFINIÇÃO
Conceito de intencionalidade
Qualidade de estar dirigido para algo, possuída por muitos, 
se não todos, os estados conscientes. Nossos pensamentos, nossos 
anseios, nossas crenças nossos sonhos e desejos relacionam-se 
ao termo intencionalidade. O problema da intencionalidade é 
compreender em que consiste a relação, que se verifica entre 
um estado mental, ou sua expressão, e as coisas acerca das quais 
esse estado mental se constitui como tal. Mais difundida é a 
opinião de que, uma vez que o conceito de intencionalidade é 
indispensável, temos de declarar que a ciência é incapaz de lidar 
com a característica da mente, ou alternativamente, temos de 
explicar como a ciência poderá abranger a intencionalidade. 
Fonte: BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1997, p. 206.
Para Hegel, a fenomenologia é, em vez disso, a investigação 
histórica da evolução da autoconsciência que se desenvolve a 
partir da experiência sensorial elementar, até alcançar processos 
de pensamento completamente racionais e livres capazes de 
engendrar conhecimento.
Mas no século XX, o termo está associado à obra e à 
escola de Edmund Husserl (1859-1938), que foi um dos poucos 
filósofos contemporâneos sem formação filosófica, pois havia 
estudado Matemática. Somente ingressou o terreno da Filosofia 
por influência de seu mestre, Franz Bretano. Envolveu-se com a 
Filosofia construindo sua carreira em universidades e lecionando 
esta disciplina. 
Husserl percebeu que a intencionalidade era a marca 
característica da consciência, e viu nela um conceito suscetível 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação98
de ultrapassar o dualismo da mente-corpo. Defendeu o ponto 
de vista de que o principal problema ao tentar compreender o 
pensamento, é explicar o modo como um conteúdo intencional 
pode pertencer ao fenômeno mental que o exibe. Assim, os 
fenômenos mentais são alicerçados nos dados dos sentidos.
A intencionalidade é, assim, a recusa da noção clássica de 
representação. Mas, então, se nossa consciência é intencional, 
se ela é sempre em direção a um objeto, a tarefa primeira da 
fenomenologia será verificar quais as sínteses que se encontram 
na origem desse efeito: temos consciência de um mundo a 
despeito da veracidade das perspectivas que possamos ter sobre 
ele (ABRÃO, 1999, p. 439). 
Enquanto em nossa experiência efetiva existe um fluxo 
permanente de manifestações ou fenômenos de objetos, a 
capacidade sintética de nossa consciência faz com que, por meio 
dessa multiplicidade de fenômenos, tenhamos consciência de um 
objeto uno e idêntico. E Husserl vai perseguir incansavelmente 
os mecanismos da “estruturasintética” da consciência para 
desvelar seu funcionamento e, assim, descobrir como existe, 
para nós, algo como consciência de objeto.
O problema de reconciliar a natureza subjetiva ou 
psicológica da vida mental com seu conteúdo objetivo e 
lógico ocupou Husserl a partir de então. Por exemplo, para 
Husserl, nossos atos psíquicos são acontecimentos de senso 
comum, individuais, enquanto os conceitos aritméticos são 
universalmente válidos e aceitos. Assim, reconduzir “conceitos 
universalmente válidos a fatos individuais significava demolir a 
objetividade das matemáticas” (ABRÃO, 1999, p. 438).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 99
A ciência aspira à certeza em relação ao mundo
Mas a ciência é de senso comum: depende da experiência
A experiência é sujeita a suposições e predisposições
ENTÃO, A EXPERIÊNCIA, POR SI, NÃO É CIÊNCIA
As teorias científicas baseiam-se na experiência. Mas 
Husserl acreditava que a experiência, sozinha, não constituía 
ciência, porque a experiência está repleta de toda espécie de 
suposições, predisposições e equívocos. O filósofo queria 
expulsar essas incertezas para conferir à ciência bases 
absolutamente incontestáveis. Para solucionar esse embate, 
Husserl sugeriu que, se adotarmos uma atitude científica em 
relação à experiência, deixando de lado toda suposição particular 
(incluindo a suposição de que um mundo externo exista fora 
de nós), então poderemos começar a filosofar, ato livre de 
inferências. 
Husserl chamou essa abordagem de fenomenologia: uma 
investigação filosófica sobre os fenômenos da experiência. 
Precisamos olhar para a experiência com uma atitude científica, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação100
deixando de lado (ou colocando entre parênteses, como dizia 
Husserl) cada uma de nossas suposições.
A fenomenologia de Husserl é geralmente conhecida como 
um método de investigação. Porém, diferentes filósofos que 
seguiram o método de Husserl chegaram a resultados diferentes, 
ou seja, houve pouca concordância sobre o que era realmente 
este método e como se colocaria em prática. No final da carreira, 
Husserl escreveu que o sonho de conferir bases sólidas para as 
ciências, tinha acabado. Embora a fenomenologia de Husserl 
tenha fracassado em fornecer aos filósofos uma abordagem 
científica à experiência, ela deu origem a uma das mais ricas 
tradições do pensamento do século XX: o existencialismo. 
Existencialismo
O existencialismo é a corrente filosófica que surge no 
centro da reflexão sobre a existência individual, a liberdade e 
as escolhas pessoais. Portanto, é uma corrente que se diferencia 
dos grandes sistemas filosóficos, pois abarca uma múltipla 
diversidade de pensamento que se preocupa com temas como 
a existência individual, a subjetividade, a liberdade e as 
escolhas dos sujeitos. O pensamento do século XX reencontra 
os problemas tradicionais da filosofia, não mais dispostos no 
rigor da ordem clássica, ou mesmo na hierarquia rígida do 
positivismo. A compreensão da experiência singular e própria 
de cada indivíduo, atrelada ao contexto histórico, fortaleceu 
o sentido dado aos fatos e enfraqueceu a pretensão dada às 
verdades eternas e imutáveis. 
Com efeito, o campo da Filosofia voltou-se à complexidade 
do mundo e da vida dos sujeitos, atravessados por determinadas 
contingências e singularidades de causas diversas. Com isso, 
é nesse contexto que nascem as filosofias da existência. Ao 
tratarmos delas, é necessário lembrar que não podemos nos 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 101
referir a elas no singular, afirmando, por exemplo, que existe 
um existencialismo. Pelo contrário, pois o que caracteriza 
as filosofias da existência é “a multiplicidades de direções, a 
diversidade de influências e as maneiras como se situam frente 
à tradição (ABRÃO, 1999, p. 441). Mesmo assim, é possível 
verificar alguns traços comuns na maneira como formulam o 
problema geral do homem frente à adversidade, o que faz dessas 
filosofias verdadeiros testemunhos da complexidade histórica 
do século XX. Nota-se que a preocupação sobre a existência 
humana é o ponto de partida e o objeto privilegiado de análise.
Desde Platão, grande parte dos filósofos defendem que o 
bem moral funciona da mesma maneira para toda humanidade. 
Porém, no século XIX, o filósofo dinamarquês Søren 
Kierkegaard (1813-1855) pode ser considerado o primeiro 
filósofo existencialista que se opõe a essa tradição. Kierkegaard 
afirma que o homem não pode encontrar o sentido da sua vida 
de outro modo, a não ser por meio da descoberta de sua única 
vocação. Isto é, o homem deve escolher sua própria vida sem 
se referir aos critérios ditos universais. Se opondo à concepção 
tradicional da escolha moral, que implica o julgamento do bem 
e do mal, os existencialistas não admitem a existência de uma 
base, de um fundamento objetivo, universal e racional nas 
decisões morais (FRANKLIN; PINHEIRO, 2014, p, 131).
A filosofia de Kierkegaard desenvolveu-se em reação ao 
pensamento idealista alemão que dominou a Europa continental 
em meados do século XIX, particularmente o de Georg Hegel. 
Kierkegaard refutou a ideia de sistema filosófico de Hegel – 
que definia a humanidade como parte de um desenvolvimento 
histórico inevitável – defendendo a ideia de uma abordagem mais 
subjetiva e singular. Ele desejava investigar o que “significa ser 
um ser humano”, não como parte de um grande corpo filosófico, 
mas como indivíduo autônomo. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação102
Kierkegaard acreditava que as vidas dos homens são 
determinadas por suas ações, e elas próprias determinadas por 
escolhas, de modo que a maneira como se faz essas escolhas 
é tema crucial para ele. Assim como Hegel, ele considerava 
as decisões morais como uma escolha entre o hedonismo (que 
gratifica a si mesmo) e o ético. Mas enquanto Hegel julgou que 
essa escolha era condicionada em grande parte pelas condições 
históricas, Kierkegaard acredita que as escolhas morais são livres 
e, acima de tudo, subjetivas. É exclusivamente a nossa vontade 
que determina nosso julgamento, dizia o filósofo. Longe de ser 
uma razão para a felicidade, a liberdade total de escolha nos 
provoca um sentimento de angústia ou apreensão.
O sentimento de angústia foi debatido por Kierkegaard 
na obra O conceito de angústia. Como exemplo, ele citou um 
homem no alto de um penhasco. Se esse homem olha para baixo, 
sente dois tipos de medo: o medo de cair e o medo causado pelo 
impulso de lançar-se ao vazio. Esse segundo tipo de medo, ou 
angústia, surge a partir da compreensão de que ele tem liberdade 
absoluta para escolher se pula ou não. Nesse sentido, o filósofo 
defendeu a ideia de que sentimos a mesma angústia em todas 
as nossas escolhas morais, quando compreendemos que temos 
a liberdade de tomar até as mais difíceis e terríveis decisões. 
Ele descreveu essa angústia como “a vertigem da liberdade”, 
e foi além ao explicar que, embora ela cause desespero, pode 
também nos livrar de respostas impensadas, pois nos torna mais 
conscientes das escolhas disponíveis. 
Na filosofia de Kierkeggard é importante percebermos 
a existência de uma reflexão voltada para temas existenciais 
e subjetivos, em que o filósofo chama atenção, com muita 
frequência, para o estado de autoconsciência, que se opõe ao 
estar “alheio de si”. Estar consciente é saber se orientar no 
caminho da própria interioridade, voltando-se sobre si mesmo. 
Na obra O desespero humano, Kierkegaard elabora o sentimento 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 103
do desespero sob o viés da consciência ou da ausência dela no 
processo reflexivo. Ou seja:
Que importa então que o desesperado desconheça 
seu estado, se nem por isso deixa de desesperar? 
Se é desvario esse desespero, a ignorância ainda 
o torna maior. Isto é estar ao mesmo tempo 
desesperado e em erro. Essa ignorância está para 
o desespero, como está para a angústia, a angústia 
do nada espiritual reconhece-seprecisamente pela 
segurança vazia de espírito. No âmago, todavia, a 
angústia está presente, assim como o desespero. E 
quando suspende o encantamento das ilusões dos 
sentidos, já que a existência vacila, o desespero 
que se ocultava, surge (KIERKEGAARD, 2003, 
p. 45).
Muitas das ideias de Kierkegaard foram rejeitadas por 
seus contemporâneos, mas se mostraram muito influentes nas 
gerações posteriores, que veremos adiante. O alemão Friedrich 
Nietzsche (1844-1900) foi, sem dúvida, um dos filósofos mais 
importantes da filosofia existencialista que teve continuidade 
depois de Kierkegaard. No limiar do pensamento contemporâneo, 
a filosofia enfrenta um desafio crucial: o questionamento do valor 
absoluto que se atribuía aos critérios que serviam como base à 
civilização ocidental. Com Nietzsche, tem início a exposição 
da fragilidade das certezas universais e seculares. A maior parte 
de suas obras foi escrita na forma de aforismas, marcada por 
sobreposição de observações acerca de diversos temas. Suas 
principais obras são:
 �Humano, demasiado humano.
 �O viandante e sua sombra.
 �Aurora.
 �A gaia da ciência.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação104
 �Assim falou Zaratustra. 
 � Para além do bem e do mal.
 �O caso Wagner.
 �Crepúsculo dos ídolos. 
 �Genealogia da moral.
 �Ecce homo.
 �O anticristo.
Temas como a moral, as ciências, a religião e as artes 
povoam suas reflexões. A simples enumeração desses temas 
indica que o objeto privilegiado da análise desse filósofo é, no 
conjunto, a nossa “civilização”. O objetivo de se compreender 
a “civilização”, no interior do campo filosófico, seria alcançar 
a “educação superior da humanidade”, tarefa que não se 
restringiria à mera pedagogia. Em Assim falou Zaratustra, 
Nietzsche mostra o percurso do Ocidente, que se resume em três 
períodos, indicados pela metamorfose do espírito. 
EXPLICANDO DIFERENTE+++
A civilização ocidental passou, primeiramente, pelo estágio “tu 
deves”, isto é, pelo primado da moral e da religião; a segunda 
etapa refere-se ao domínio do “eu quero”, que designa o fim do 
mundo do dever e o reconhecimento da vontade; e, finalmente, 
o “eu sou”, domínio que explica uma nova relação do indivíduo 
com sua existência. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 105
Nietzsche declara que é tarefa do indivíduo decidir o valor 
moral de seus atos e das ações dos outros. Ao questionarmos 
o valor dos valores aos quais estamos submetidos, devemos 
estar preparados para o desafio de viver por nossa conta e risco, 
sem mais tutela e o comando de algo superior. Logo, somos 
responsáveis pelo o que escolhemos. 
A filosofia nietzschiana para alguns estudiosos, está 
dividida em três fases. Na fase denominada “metafísica de 
artista”, Nietzsche assumiu um posicionamento veementemente 
contrário a uma educação controladora, disfarçada como 
propulsora da cultura, mas que na realidade, mantinha os jovens, 
tanto do ensino nos ginásios como na universidade, à mercê dos 
interesses estatais, científicos e comerciais. Entre outras análises, 
o filósofo criticou a tendência à ampliação máxima da cultura e a 
tendência ao enfraquecimento desta. 
Quanto à ampliação, o objetivo da educação seria conduzir 
o máximo de pessoas à cultura, mas com a intenção de estarem 
a serviço das ambições estatais. O máximo de conhecimento e 
cultura geraria uma grande produção de necessidades, assim, 
a utilidade seria o objetivo e fim da educação (NIETZSCHE, 
2003). Quanto à redução da cultura, Nietzsche aponta, por 
exemplo, para a cultura da especialização impulsionada pela 
Ciência, como o trabalho do homem erudito, o especialista que 
se ocupa de tal modo com uma determinada área a ponto de se 
despreocupar com todas as outras (NIETZSCHE, 2003).
O filósofo contesta a educação do seu tempo, que visava 
imprimir nos indivíduos as virtudes do rebanho: “quem aspira 
e quer promover a cultura de um povo deve aspirar a promover 
esta unidade suprema e trabalhar conjuntamente na aniquilação 
deste modelo moderno de formação.” (NIETZSCHE, 2003, p. 
43). A crítica se dirige contra um tipo de vida igualitário, que por 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação106
força das ideias coletivistas, enfraquece o que é próprio tanto de 
uma nação, como dos homens particularmente.
“O filósofo questiona a compreensão distorcida 
de cultura que domina na modernidade que, com 
a sua tendência à generalização, à abstração, à 
dependência do mercado onipotente, aniquila a 
singularidade de cada grupo, de cada nação, de 
cada povo.” (VIEIRA, 2011, p. 38)
RESUMINDO
Neste capítulo, abordamos as correntes: Positivismo, Utilitarismo, 
Pragmatismo, Materialismo, Fenomenologia e Existencialismo. 
Você aprendeu que a consciência está na origem do fato de ela 
ser sempre consciência de algo e que o sentimento de angústia 
aumenta nossa consciência e senso de responsabilidade social.
UNIDADE
03
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação108
Compreendendo as diferenças entre o senso 
comum e o conhecimento científico
Ao término desta unidade você será capaz de entender a 
diferença entre o senso comum e o conhecimento científico. 
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão docente. 
As pessoas que tentaram atuar na área sem a devida instrução 
tiveram problemas ao longo de sua carreira. E então? Motivado 
para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!
OBJETIVO
O senso comum e o conhecimento científico 
A busca pela compreensão do mundo e de seus fenômenos está 
presente a milhares de anos nas sociedades humanas. A cada problema 
enfrentado por essas sociedades, desde a necessidade de alimentar 
os integrantes de um grupo social até satisfazer as suas necessidades 
espirituais, suscitavam a busca por um conhecimento que atendesse 
as expectativas de superar esses problemas. Entretanto, no decorrer 
da maior parte da História humana, a busca pelo conhecimento estava 
delimitada pela crença de que todos os fenômenos existentes eram 
“naturais”, ou decorrentes da ação dos deuses, sem interferência dos 
seres humanos. Ainda na atualidade, muito dessa percepção está 
presente no que denominamos de senso comum. 
Apenas a partir do período do Renascimento (século XVI) 
e, principalmente, da emergência do Iluminismo (século XVIII) 
no continente europeu, é que os fenômenos da natureza e sociais 
começaram a ser problematizados, vistos como resultado de 
leis comprovadas empiricamente ou como inerentes da própria 
ação humana. Nesse contexto, emergiu o que denominamos de 
conhecimento científico, que procura explicar e analisar tanto 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 109
os fenômenos naturais como a vida de homens e mulheres em 
sociedade. 
O conhecimento como um atributo do ser 
humano
Os seres humanos têm diversos comportamentos similares aos 
dos animais. Como qualquer espécie animal, são capazes de se reunir, 
conviver, competir, se acasalar e reproduzir, etc., sempre de acordo 
com o meio-ambiente em que vivem. Dessa forma, todas as espécies 
animais, incluindo o ser humano, desenvolvem estilos próprios de 
comportamento, permitindo que sobrevivam e se reproduzam, 
garantindo a existência de sua espécie no planeta. Dessa forma, 
homens e mulheres adquirem hábitos instintivos, ou seja, ações e 
reações que se desenvolvem de forma espontânea, como é o caso 
de andar, respirar e se alimentar. Além disso, homens e mulheres 
desenvolveram também genes hereditários presentes em seu corpo 
que os tornam capazes de sentir medo, prazer, frio e de expressar seus 
próprios sentimentos. 
Entretanto, os seres humanos desenvolveram habilidades 
que não estão presentes nas demais espécies animais, despertadas 
devido a diferentes fatores, como as dificuldades impostas pela 
própria natureza e as próprias particularidades da espécie humana. 
Assim, os grupos humanos foram capazes de adquirirem habilidades 
e comportamentos culturais, ou seja, um conjunto de crenças, 
valores,estudo das ciências sociais e suas metodologias 
de pesquisa......................................................................128
A História da Sociologia..................................................134
Os antecedentes intelectuais da Sociologia.....................135 
As transformações sociais decorrentes da Revolução 
Industrial .......................................................................138
Os primórdios da Sociologia...........................................142
O Surgimento da Sociologia Educacional......................148
Émile Durkheim: o ideólogo da Educação.......................149
Karl Marx: a educação como meio de conformação e 
transformação social........................................................152
Max Weber e a educação como instrumento de “status 
social”.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155
Antropologia e seu campo de estudo...................................157
O nascimento da Antropologia.........................................157
O que é Antropologia ............................................161 
 Campo de atuação da Antropologia.......................161 
Antropologia e ciências afins................................163
Etnocentrismo.....................................................166
O que é etnocentrismo ?...................................................167
Relativismo cultural.........................................................170
Relativismo cultural: conceito e aplicabilidade.................170
Antropologia educacional.................................................174
Conexão entre Antropologia e Educação........................175
Antropologia educacional: suas origens...........................177
UNIDADE 4
Concepções e Contribuições da Filosofia da Educação...182
Filosofia da Educação e Formação Docente..................187
Filosofia da Educação e Educação Brasileira..................192
Filosofia da Educação, Contemporaneidade e 
Subjetividade.....................................................................202
Produção de Subjetividades.............................................210
Filosofia da Educação e Pós-Modernidade.....................217
REFERÊNCIAS...............................................................225
UNIDADE
01
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação14
OBJETIVO
Origens e Conceito da Filosofia
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de explicar o 
conceito da Filosofia e estabelecer relação com as suas origens.
Origens da Filosofia
Toda civilização que atinge certo grau de desenvolvimento 
sente-se naturalmente inclinada à prática da educação, da 
Filosofia, da ciência e das artes. No mundo ocidental, as bases 
que contribuíram para a origem e o desenvolvimento dessas 
grandes áreas de produção de conhecimento vieram da Grécia 
Antiga, especialmente a partir do século VI a.C. A Filosofia, a 
ciência e as artes, como as conhecemos, são invenções gregas.
Para o filósofo Bertrand Russel:
[...] o advento da civilização grega que produziu 
tal explosão de atividade intelectual é um dos 
acontecimentos mais importantes da história do 
mundo ocidental. No curto espaço de dois séculos 
os gregos produziram na arte, na literatura, na 
ciência e na Filosofia uma assombrosa torrente de 
obras-primas, que estabeleceram os padrões gerais 
da civilização ocidental. (2013, p. 14)
O início da Filosofia se caracteriza pela compreensão de 
explicações racionais para a realidade humana. Os primeiros 
filósofos, chamados então de pré-socráticos, buscavam 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 15
explicações relacionadas ao mundo físico ou da natureza. 
Esses filósofos tinham pensado no dinamismo universal, 
como o nascer, crescer, morrer, como característica essencial 
do princípio (arché), que gera, sustenta e absorve todas as 
coisas. A Filosofia da natureza (physis) se caracteriza pela 
busca pela unidade e harmonia, inserindo na cultura grega a 
ideia do uno, do qual todas as coisas derivam.
A civilização ocidental, que brotou das fontes gregas, se 
baseia numa tradição filosófica científica que começou com 
Tales de Mileto há 2.500 anos e nisso difere de outras grandes 
civilizações ocidentais. Conforme Russel, a noção predominante 
que percorre toda a Filosofia grega é o logos, termo que tem a 
conotação, entre outras, de “palavra” e “medida”. Portanto, o 
discurso filosófico e a investigação científica estão intimamente 
vinculados. “A doutrina ética surgida desse vínculo vê o bem 
no conhecimento, objeto de investigação desinteressada” 
(RUSSEL, 2013, p. 19).
Tales de Mileto (624-546), considerado o primeiro filósofo 
pré-socrático, afirma que o princípio originário único de todas as 
coisas é a água. Esse filósofo estabeleceu um princípio a partir 
do qual trabalharia, formulando, para tanto, a seguinte pergunta: 
“Qual é a matéria-prima básica do cosmos”? A noção de que 
tudo no universo pode ser reduzido a uma única substância 
é a teoria do monismo, e Tales e seus seguidores foram os 
primeiros a propor isso dentro da Filosofia ocidental. Tales 
concluiu, portanto, que toda matéria, independentemente de 
suas aparentes propriedades, deve ser água em algum estágio de 
transformação. Essa intenção pode ser considerada a primeira 
tentativa de explicação para a origem da vida.
Para Anaximandro (611-546), discípulo de Tales 
de Mileto e o primeiro cartógrafo grego, o infinito e o 
indeterminado seriam a origem de todas as coisas. Em outras 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação16
palavras, o ilimitado seria uma reserva infinita de material, 
que se estende em todas as direções. Dele surge o mundo e a 
ele retornará no final.
Anaxímenes (586-525) admite que o ar, em função de 
sua grande mobilidade na natureza, seria o princípio de todas 
as coisas. As diferentes formas de matéria que encontramos 
à nossa volta surgem do ar, por meio de processos de 
condensação e rarefação. Para ele, o ar é a substância de que 
é feita a alma e, assim, mantém os seres vivos e o mundo.
Contudo, Heráclito (535-470) problematiza essa questão 
ao afirmar que “tudo se move, nada permanece imóvel e fixo, 
tudo muda”. Esse elemento expressa de modo exemplar as 
características de mudança contínua, que ocorre no mundo 
físico. Enquanto outros filósofos procuravam explicações 
científicas para a natureza física do cosmos, Heráclito o 
entendia como governado por um logos divino, às vezes 
interpretado como “razão” ou “argumento”. O filósofo em 
questão considerava o logos uma lei universal, cósmica, que 
de acordo com a qual todas as coisas começam a existir e 
todos os elementos materiais do universo são mantidos em 
equilíbrio. Heráclito ainda sugeriu que o equilíbrio dos opostos 
– dia e noite, quente e frio, por exemplo – levava à unidade 
do universo. Tudo seria parte de um único e fundamental 
processo ou substância – o princípio central do monismo. 
Por outro lado, ele afirmou que uma tensão é constantemente 
gerada entre esses pares de opostos, de forma que tudo está 
em permanente estado de fluxo e mudança.
E finalmente temos Demócrito (460-370) e Leucipo 
(início do século V a.C.), que desenvolveram a teoria dos 
átomos para explicar a composição de todas as coisas, ou seja, 
que tudo era composto de partículas minúsculas, indivisíveis 
e imutáveis. Eles afirmaram que um espaço vazio separa os 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 17
átomos, permitindolhes que se movam livremente. Ao se 
movimentarem, os átomos podem colidir uns com os outros, 
formando assim novas composições de átomos. Conhecida 
como atomismo, a teoria concebida por Demócrito e Leucipo 
ofereceu a primeira visão mecanicista completa do universo, 
sem qualquer recurso à noção de um ou mais deuses. Ela 
também identificou propriedades fundamentais da matéria, 
que se provaram importantes para o desenvolvimento das 
ciências físicas – particularmente a partirpadrões de comportamento, hábitos cotidianos e formas 
de organização do trabalho que se desenvolvem coletivamente, são 
transmitidos de geração em geração e se transformam conforme a 
passagem do tempo. 
Como um indivíduo que vive e pensa de acordo com a sua 
cultura, os seres humanos desenvolveram a capacidade de elaborar 
sistemas simbólicos necessários para se comunicarem entre si e 
transmitirem toda a sua bagagem de conhecimento por meio da 
socialização, que nada mais é do que o convívio entre os indivíduos 
em um grupo social. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação110
Mas, como podemos definir o conhecimento? O conhecimento 
pode ser definido como o conjunto de toda a prática adquirida, cuja 
memória e transmissão capacita o indivíduo a realizar as tarefas 
exigidas no seu cotidiano. Quando um indivíduo age de acordo com 
a sua experiência de vida, ele expressa a sua forma de conhecimento 
do mundo, aprendida em um contexto social, mas que é assimilada de 
forma diferente por cada ser humano. Nas mais variadas situações, os 
seres humanos aprendem conhecimentos uns com os outros.
Figura 1 - Pai ensinando o filho a andar de bicicleta
Fonte: Freepik
Ao longo de sua história, os seres humanos desenvolveram 
diferentes formas de conhecimento. Entre elas, podemos citar 
o conhecimento religioso, relacionado à busca da compreensão 
do sentido da vida, das formas de encarar a inevitabilidade da 
morte e o que poderia ocorrer após ela, a crença em divindades 
superiores aos seres humanos que comandariam os fenômenos 
da natureza e da vida humana e da necessidade de seguir 
determinados procedimentos morais para conquistar a “salvação” 
após a morte, etc.; e o conhecimento filosófico, que assim como 
o conhecimento religioso, também busca uma compreensão do 
sentido da vida, mas de forma racional e lógica, apesar de não 
prescindir de uma verificação empírica, como ocorre com o 
conhecimento científico, cujas características veremos adiante. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 111
Além destes, também temos outras duas formas de 
conhecimento que norteiam a nossa visão de mundo, no caso 
o senso comum e o conhecimento científico, ambos presentes 
no dia a dia da maior parte das pessoas e que, muitas vezes, 
entram em conflito, embora estes também possam algumas 
vezes complementarem-se. 
Podemos definir religião (palavra originada do latim religio, cujo 
significado era “respeito pelo sagrado”, como um conjunto de 
crenças e práticas relacionadas à fé na existência de uma ou mais 
divindades, que determina os preceitos morais a serem seguidos 
por uma comunidade de seguidores, influenciando na visão de 
mundo. Diversas formas de práticas religiosas estão presentes em 
praticamente todas as civilizações humanas desde o início de sua 
História. Já filosofia (palavra originada do grego philossophia, 
que significa “amor ou amizade pela sabedoria) trabalha de forma 
racional e lógica questões importantes para o ser humano, como 
valores morais, estéticos, e do conhecimento em suas mais variadas 
vertentes, mas sem ter a pretensão de construir uma “verdade 
absoluta” sobre esses temas. A origem da filosofia remonta ao 
século VI a.C., na Grécia Antiga, quando alguns homens aspiraram 
construir um conhecimento que se distinguisse tanto da religião 
(mais precisamente, da mitologia) quanto do senso comum. Na 
realidade, no pensamento grego, ciência e filosofia eram duas 
instâncias que não se separavam. Apenas a partir do Renascimento, 
entre os séculos XVI e XVII, que a ciência passou a ter métodos e 
objetos de estudo específicos, diferenciando-se assim da filosofia. 
CURIOSIDADE
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação112
O senso comum
O senso comum corresponde ao conhecimento espontâneo, 
aquele que é adquirido por meio das experiências cotidianas 
nas quais procura, autonomamente, resolver os dilemas de sua 
existência. Não é um processo que realiza individualmente, 
mas sim por meio da troca de informações com os indivíduos e 
instituições com quem convive. Tais conhecimentos também são 
adquiridos de forma hereditária por meio da família, que passa 
de geração para geração. 
Podemos delimitar as características principais do senso 
comum da seguinte forma:
Ametódico e Assistemático: surge da tentativa dos 
seres humanos resolverem seus problemas da vida cotidiana, 
não se apresentando de forma sistemática, ou seja, organizada. 
O camponês aprende a cultivar a terra a partir das práticas de sua 
família, esse conhecimento é transmitido de pai para filho. 
Empírico: é baseado na experiência do dia a dia das 
pessoas, de sua própria vivência.
Ingênuo: é um conhecimento acrítico, pois não se coloca 
como problema, mas sim como algo “natural”, espontâneo e 
desprovido de qualquer reflexão mais aprofundada.É construído 
a partir de uma observação que se prende apenas à aparência do 
fenômeno, sem aprofundar uma reflexão sobre as suas causas.
Uma cozinheira sabe que, ao bater uma clara de ovo, ela ficará 
esbranquiçada e crescerá, mas desconhece o porquê e como ela 
fica dessa forma . 
Aparente: está preso ao que é observável a primeira 
vista, o que pode levar uma pessoa às conclusões equivocadas. 
Para quem observa o céu sem telescópio, o Sol parece que gira 
em torno da Terra, que aparentemente está estática, posicionada 
no centro do Universo. Até o século XVI, a Igreja Católica 
referenciava tal teoria a partir do senso comum das pessoas. 
Entretanto, o uso do telescópio e os estudos realizados por 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 113
Nicolau Copérnico (1473-1543) e Galileu Galilei (1564-1642) 
desmentiram tal tese de forma científica, sendo a primeira mostra 
da oposição entre senso comum e ciência. 
Fragmentário: não estabelece conexões entre 
conhecimentos que poderiam ser complementares, impedindo 
que o indivíduo tenha uma visão global de determinados 
fenômenos. O homem comum é incapaz de estabelecer uma 
relação entre a queda de um objeto com a lei da gravidade que 
rege o movimento dos corpos no planeta. 
Particular: parte do entendimento de um fenômeno 
específico para fazer generalizações com pretensões de 
universalidade. Ou seja, o que acontece com um indivíduo 
também acontece da mesma forma, para todos. Se uma pessoa 
passou mal após comer manga, logo todas as pessoas podem 
passar mal se comerem da mesma fruta. 
Subjetivo: depende de juízos individuais a respeito 
das coisas, muitas vezes baseado em emoções e valores 
morais de uma determinada coletividade e que geralmente não 
aceita opiniões contrárias, impedindo a consolidação de uma 
visão baseada no princípio da alteridade. O homem comum, 
geralmente, ao observar o comportamento de outros indivíduos 
originários de outras culturas tende a considerá-los estranhos, 
perigosos, atrasados, etc., pois só é capaz de julgar o outro a 
partir dos valores de sua própria cultura. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação114
Figura 2 - Para muitos, a crueldade cometida contra os escravos no Brasil do século XIX seria algo natural 
devido a suposta superioridade do europeu frente ao africano e seus descendentes.
Fonte: Wikimedia Commons
Devido a tais características, muitos consideram que o senso 
comum seria um conhecimento limitado, precário, distorcido e, 
algumas vezes, perverso. Por isso, muitos defendem que esse deve 
ser superado através das formas consideradas mais sofisticadas 
de conhecimento, como a filosofia e a ciência. Entretanto, 
outros acham que, ao desprezar o senso comum, boa parte da 
população estaria sujeita a tutela dos “indivíduos esclarecidos”, 
o que poderia estabelecer uma forma de dominação. 
O conhecimento científico
Historicamente, o conhecimento científico é uma recente 
conquista da humanidade. Sua origem remonta ao século 
XVII, inicialmente a partir das descobertas e inovações do 
astrônomo italiano Galileu Galilei, tido como o criador do 
método científico moderno. Também foram importantesnesse 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 115
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 3 – Galileu Galilei 
O conhecimento científico caracteriza-se pela utilização 
de métodos rigorosos visando atingir um tipo sistemático de 
conhecimento, objetivo e universal, capaz de analisar o objeto 
de estudo, identificar a regularidade de um fenômeno permitindo 
prever acontecimentos e planejar a ação humana sobre a natureza.
Entre as principais características do conhecimento 
científico, podemos citar as seguintes:
processo as contribuições do filósofo e matemático francês René 
Descartes (1596-1650), criador do racionalismo cartesiano que 
pode ser sintetizado pela famosa frase: “penso, logo existo”, e 
pelo Iluminismo do século XVIII. 
Galileu Galilei foi o criador do moderno método científico, 
em meados do século XVII. Entretanto, o cientista italiano 
enfrentou perseguições promovidas pela Igreja Católica, que via 
em suas descobertas uma ameaça aos seus dogmas
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação116
Particular: há diversos campos delimitados de pesquisa, 
com seus próprios métodos que permitem um determinado 
campo tornar-se uma disciplina específica. No campo das 
ciências, nós temos diversas disciplinas, como a física, que 
estuda o movimento dos corpos; a química, cujo objeto é análise 
da transformação dos elementos presentes nos corpos, etc.
Geral: as conclusões de uma pesquisa não são válidas 
apenas para os fenômenos observados nela, mas também para 
todos os outros com os quais se assemelham. Quando uma 
pesquisa afirma que “a água é uma substância composta de 
hidrogênio e oxigênio”, essa conclusão é válida para qualquer 
porção de água encontrada pelos seres humanos.
Regular: os cientistas ocupam-se em tentar identificar 
a regularidade com que determinados fatos acontecem. Um 
astrônomo calcula a periodicidade em que ocorrem os eclipses 
solares e como esses interferem no planeta.
Abstrato: O objeto de pesquisa geralmente é isolado 
para a realização do estudo, e as conclusões são utilizadas para 
a elaboração de leis gerais que analisam fenômenos similares. A 
partir da observação da queda de uma maçã, o físico inglês Isaac 
Newton (1643-1727) elaborou a teoria geral da gravidade.
Objetivo: qualquer cientista pode chegar às mesmas 
conclusões, pois estas são construídas de forma racional e 
metódica, de forma distanciada que evita a subjetividade. 
Independente da opinião subjetiva do cientista, os movimentos 
dos astros podem ser explicados por meio de leis gerais e 
imutáveis, consolidada na comunidade científica.
Linguagem Rigorosa: os diversos campos e áreas 
da ciência utilizam conceitos precisos com o intuito de evitar 
dúvidas e ambiguidades. 
Entretanto, é importante enfatizar que tais características 
correspondem às Ciências Exatas (matemática, física) e 
Naturais (biologia). Já as Ciências Humanas (história, geografia, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 117
sociologia e filosofia) são mais permeáveis a algum grau de 
subjetividade do pesquisador que relativizam conclusões mais 
deterministas.
É possível a convivência entre ciência e 
senso comum?
A relação entre o conhecimento científico e o senso comum 
é objeto de vários debates. Podemos considerar que, ao longo da 
história, formaram-se dois grupos distintos. De um lado, aqueles 
que defendem que a Ciência é um conhecimento superior ao 
senso comum. Do outro, aqueles que acreditam na possibilidade 
de estabelecer uma relação entre cientificidade e senso comum, 
com um complementando o outro. 
A defesa da superioridade da Ciência sobre o senso 
comum surgiu com o Iluminismo europeu do século XVIII. 
Os intelectuais iluministas consideravam o senso comum um 
com um conhecimento irracional da realidade, geralmente 
manipulado pelos detentores do poder, na época a Monarquia 
Absolutista e a Igreja Católica. Já a Ciência, um conhecimento 
neutro, racional e lógico, desmascararia o caráter supersticioso 
do senso comum, possibilitando o progresso da humanidade. 
Tal entendimento ganhou força no século XIX, 
principalmente com a emergência do Positivismo, que defendia 
não apenas a superioridade da Ciência com relação aos demais 
tipos de conhecimento, mas também a considerava o único tipo 
de conhecimento válido e útil para a humanidade, sendo a única 
forma de investigar e conhecer a realidade e resolver todos os 
empecilhos que impediam a humanidade de conquistar o tão 
desejado progresso. 
O Positivismo foi uma corrente do pensamento filosófico 
criada pelo francês Augusto Comte (1798-1857), que defende 
a ideia de que apenas com a ciência a humanidade poderia 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação118
conquistar o progresso. Além disso, o positivismo defendia que 
os métodos de pesquisa científica presentes nas Ciências Exatas 
e Naturais deveriam ser usados para o estudo e análise dos 
fenômenos sociais.
Entretanto, essa crença na infalibilidade da ciência 
começou a ser questionada no século XX. As duas guerras 
mundiais demonstraram que a ciência poderia, ao mesmo tempo, 
permitir à humanidade alcançar o progresso tecnológico, mas a 
um preço bem alto: a mortandade de milhões de pessoas, vítimas 
da utilização das inovações científica para a fabricação de armas 
com capacidade destrutiva cada vez maior. Além disso, muitos 
intelectuais passaram a valorizar a cultura popular, sendo boa 
parte dela embasada no senso comum, identificando no “culto 
à ciência” uma forma de impor o poder de um determinado 
grupo social sobre os demais. Segundo o sociólogo português 
Boaventura de Souza Santos, se a oposição entre ciência e 
senso comum era justificável nos séculos XVIII e XIX, na 
atualidade não fazem mais sentido, pois, ao contrário dos séculos 
precedentes, é possível popularizar o conhecimento científico, o 
que poderia fazer o senso comum tornar-se mais crítico e menos 
receptivo a crenças desprovidas de fundamentos racionais, 
lógicos e objetivos. Assim, ciência e senso comum se tornariam 
complementares, deixando de serem conhecimentos opostos.
Boaventura de Souza Santos nasceu em Coimbra, Portugal, 
no ano de 1940. É especialista em Sociologia do Direito e grande 
defensor da relação complementar entre ciência e senso comum. 
Ativista, considera importante a atuação dos movimentos sociais 
para a superação das crises da atualidade. 
O sociólogo português Boaventura de Souza Santos 
defende que o conhecimento científico e o senso comum são 
complementares. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 119
Figura 4 – Boaventura de Souza Santos
Fonte: Wikimedia Commons
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à 
seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Livro: “Uma 
nova ciência para um novo senso comum” (LOPES, 2012), 
acessível pelo link http://books.scielo.org/id/qdy2w (Acesso em 
18/05/2019).
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo 
o que vimos. Você deve ter aprendido que o conhecimento é 
um atributo do ser humano, que o diferencia dos demais 
animais. Entre as diversas formas de conhecimento, podemos 
citar o religioso, o filosófico, o senso comum e o científico. Na 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação120
atualidade, persiste o debate sobre a relação do senso comum 
com o pensamento científico. Para compreendermos tal debate, 
vimos inicialmente as características mais marcantes desses 
dois tipos de conhecimento, sendo que a Ciência costuma se 
sobrepor ao senso comum, pois o primeiro é um saber construído 
metodicamente, de forma rigorosa e crítica, enquanto o segundo 
é influenciado pela vivência do cotidiano, principalmente das 
classes populares. Nas últimas décadas, alguns intelectuais 
vão questionando esse tipo de hierarquização, defendendo a 
importância de estabelecer uma relação dialógica entre ciência 
e senso comumpara efetivar a popularização do conhecimento 
científico. 
As ciências sociais
A sociedade tornou-se um objeto do conhecimento 
científico a partir do Renascimento (século XVI), com a 
emergência da Ciência Política, responsável pela desvinculação 
entre a política e a ética, comuns nas análises filosóficas 
sobre o tema. Em outras palavras, foi nesse contexto em que 
alguns intelectuais procuraram analisar um fenômeno social a 
partir da própria dinâmica das relações reais entre os homens, 
distanciando-se das especulações filosóficas ou das justificativas 
religiosas manipuladas pelo poder do alto clero e dos monarcas 
absolutistas. 
Entretanto, a solidificação das Ciências Sociais ocorreu 
apenas entre a virada do século XVIII e no decorrer do século 
XIX, quando as transformações sociais, políticas e econômicas 
decorrentes da crescente hegemonia do modo de produção 
capitalista no mundo, instigaram pesquisadores e intelectuais a 
analisarem cientificamente os aspectos que influenciavam tais 
mudanças. 
Influenciada pelas ciências já estabelecidas, como a 
física, a matemática e as Ciências Naturais, as Ciências Sociais 
adaptaram métodos dessas ciências para realizar as suas 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 121
pesquisas e análises. Entretanto, no decorrer do processo de 
desenvolvimento das Ciências Sociais, tal metodologia começou 
a ser questionada, abrindo o espaço para o desenvolvimento de 
métodos próprios para a análise da vida em sociedade. 
As áreas das ciências sociais
As Ciências Sociais integram as Ciências Humanas, 
conjuntamente com disciplinas como História, Geografia e 
Filosofia. Assim como elas, as Ciências Sociais tem como 
objeto de estudo o ser humano, ou mais precisamente, a vida 
em sociedade, na qual podem ser observados os mais variados 
tipos de relações sociais. Tal estudo possibilitou que as Ciências 
Sociais fossem divididas em três áreas que, geralmente, 
realizam um intenso diálogo entre si, construindo uma forma de 
conhecimento interdisciplinar que tanto caracteriza essa ciência 
que estuda o homem em sociedade. 
As três áreas das Ciências Sociais são: Ciências Sociais, 
Sociologia e Antroplogia, conforme veremos em detalhes, a 
seguir:
Ciência Política: tem como objeto de estudo e análise os 
sistemas políticos existentes nas diversas sociedades espalhadas 
pelo planeta. A origem da Ciência Política remonta o período 
do Renascimento Cultural na Europa Ocidental do século XVI, 
inicialmente com filósofos que, decepcionados com a opressão 
de regimes políticos tirânicos identificados com as monarquias 
absolutistas, escreveram livros de ficção que, partindo das 
instituições existentes, imaginavam uma sociedade alternativa 
na qual o autoritarismo monárquico dava lugar para um mundo 
sem tirania e desigualdades sociais. Entre as diversas obras 
fictícias da época, teve destaque o livro A Utopia, do filósofo 
inglês Thomas Morus.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação122
Thomas Morus (1478-1535) foi um filósofo e político 
inglês nascido em Londres. Foi autor de A Utopia, uma obra 
que usava a ficção para criticar o sistema político existente na 
época. Chegou a ser o principal conselheiro do rei Henrique 
VIII. Entretanto, opôs-se ao divórcio do casamento entre o 
monarca inglês e a rainha Catarina de Aragão e continuou 
fiel à Igreja Católica, recusando-se a jurar fidelidade à Igreja 
Anglicana, fundada por Henrique para desafiar o poder do papa 
na Inglaterra. Acabou preso a mando do rei, sendo condenado à 
morte e executado. 
Figura 5 –Thomas Morus
Fonte: Wikimedia Commons
Entretanto, coube ao filósofo e político italiano Nicolau 
Maquiavel a realizar as primeiras reflexões mais realistas sobre 
a política, contidas principalmente no livro O Príncipe, que 
tornou-se uma espécie de manual de ação política, colocando 
como principal objetivo dessa a conquista e a manutenção do 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 123
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 6 –Nicolau Maquiavel 
poder. Na obra, Maquiavel faz uma clara e precisa análise sobre 
as bases de sustentação do poder político, sendo ainda hoje 
considerada básica para o estudo e análise da política. Muitos 
estudiosos consideram O Príncipe como a obra que inaugurou 
a Ciência Política e uma das primeiras (senão a primeira) 
que analisa um fenômeno social através da própria realidade, 
afastando-se das questões relacionadas à ética (comuns nas 
reflexões sobre a política por parte dos filósofos greco-romanos) 
e à religião. 
Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi um filósofo, político e 
diplomata nascido na cidade italiana de Florença. Suas principais 
obras, como O Príncipe, foram escritas na época em que estava 
exilado devido a divergências com Lourenço de Médici, o 
principal estadista e homem mais poderoso de Florença. É 
considerado o fundador da Ciência Política. 
Influenciada pelas ciências já estabelecidas, como a 
física, a matemática e as Ciências Naturais, as Ciências Sociais 
adaptaram métodos dessas ciências para realizar as suas 
pesquisas e análises. Entretanto, no decorrer do processo de 
desenvolvimento das Ciências Sociais, tal metodologia começou 
a ser questionada, abrindo o espaço para o desenvolvimento de 
métodos próprios para a análise da vida em sociedade. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação124
Sociologia: tem como objeto de estudo a sociabilidade 
(relações sociais) e as estruturas sociais. Etimologicamente, a 
palavra sociologia significa “estudo da sociedade” (socio – 
sociedade; logia – estudo). A sociologia emergiu como uma 
ciência voltada para o estudo da sociedade em meados do século 
XIX, inicialmente na França com o Positivismo. Na realidade, ela 
compunha uma das disciplinas do curso de filosofia positivista 
ministrados por Augusto Comte e tinha como objetivo analisar as 
transformações da sociedade naquele período visando auxiliar, 
de forma científica, as tomadas de decisão por parte do Estado 
que abrissem caminho para o progresso. Veremos a história da 
sociologia no próximo capítulo desta unidade. 
Augusto Comte (1798-1857) foi um filósofo francês 
fundador do Positivismo, cujo nome relaciona-se com o terceiro 
estágio no qual acreditava que a humanidade deveria chegar para 
alcançar o seu estágio de perfeição, o positivo. Considerava que 
a humanidade só poderia alcançar tal estágio se concentrasse 
esforços para conquistar o progresso tecnológico. Mas, como 
haveria grupos que fariam oposição a tal projeto, acreditava que 
apenas através da ordem, imposta pelos detentores “esclarecidos” 
do poder, seria possível alcançar o progresso desejado. Muitos 
estudiosos atribuem a Comte a condição de criador da Sociologia, 
inicialmente uma das disciplinas da filosofia positiva, cuja 
função era estudar cientificamente a sociedade com o objetivo 
de identificar as “leis” que a regeriam. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 125
Figura 7 –Augusto Comte 
Fonte: ©Jean-Pierre Dalbéra from Paris, France / Wikimedia Commons
Antropologia: a partir da etimologia da palavra (antro – 
homem; logos – estudo), podemos definir a antropologia como 
o estudo do homem, ou tudo o que se refere ao humano. Como 
definiram Hoebel e Frost (1981), a antropologia é “a ciência 
da humanidade e da cultura”. A partir de tal conceituação, a 
antropologia é uma disciplina que tem como objetivo dar conta 
de todos os aspectos referentes às sociedades humanas que não 
são nem biológicos, nem naturais, sendo transmitidos por meio 
da linguagem que constitui o seu universo simbólico. 
Dessa forma, a antropologia considera que a diversidade 
das sociedades humanas podem ser explicadas por meio da 
cultura, entendida como o conjunto de valores e práticas 
aprendidos na convivência social, cuja configuração ocorre a 
partir das escolhas e experiências históricas vivenciadas pelas 
diversas comunidades, povos e civilizações. 
As origens da Antropologia moderna remontam à 
Inglaterrada segunda metade do século XIX. Em um contexto 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação126
marcado pelo neocolonialismo, no qual as potências imperialistas 
europeias disputaram o domínio de diversas regiões da África 
e da Ásia, a disciplina emergiu com o objetivo de estudar e 
analisar os hábitos culturais dos povos não-europeus por meio 
de uma visão etnocêntrica, na qual a cultura europeia era 
considerada “superior” as culturas “primitivas” e “selvagens” 
dos povos do continente africano e asiático. Tal perspectiva 
foi fundamentada a partir do conceito de cultura definido 
pelo antropólogo britânico Edward Tylor. Influenciado pelo 
positivismo e pelo evolucionismo darwinista, Tylor acreditava 
que o destino da humanidade era o progresso, mas esse só seria 
alcançado pelas civilizações que se mostrassem mais “aptas” 
para o desenvolvimento industrial, sendo elas as “vencedoras” 
dessa seleção natural. Mas, se tais ideias são questionáveis na 
atualidade, o antropólogo britânico teve o mérito de conceber a 
cultura como um conjunto de crenças, arte, moral, leis, costumes 
e qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem 
em sua convivência na sociedade. 
Edward Tylor (1832-1917) foi um antropólogo britânico 
cuja principal obra foi Cultura Primitiva, lançada em 1871, 
onde estabeleceu o conceito moderno de cultura, que influencia 
a antropologia até os dias atuais. Entretanto, ele concebia as 
diferenças culturais como resultante dos diferentes estágios 
evolutivos das civilizações, considerando a civilização europeia 
superior às demais, sendo um “espelho” de como as demais 
civilizações deveriam ser no futuro. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 127
Figura 4 –Edward Tylor 
Fonte: ©Wikimedia Commons 
O neocolonialismo foi uma nova fase do avanço colonial 
das grandes potências europeias (Grã-Bretanha, Alemanha 
e França), acrescidas de países industrializados emergentes 
como os Estados Unidos e o Japão, que estabeleceram colônias 
na África, Ásia e Oceania, com o objetivo de conquistar 
mercados de matéria-prima para abastecerem as suas indústrias 
e consumidores para os seus produtos industrializados. O auge 
desse movimento ocorreu entre os anos de 1870 e 1914, sendo 
uma das causas da I Guerra Mundial (1914-1918). Nessa época, 
alguns estudos antropológicos, de viés evolucionista, serviram 
como base ideológica para justificar o avanço imperialista sobre 
tais continentes.
A antropologia evolucionista justificava a exploração e o 
domínio dos povos africanos e afrodescendentes pela civilização 
europeia. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação128
Figura 8 – Exploração e domínio dos povos africanos
Fonte: ©Wikimedia Commons 
Os objetos de estudo das ciências sociais e 
suas metodologias de pesquisa
Na área das Ciências Sociais existem inúmeros 
conceitos, interpretações, análises e referenciais teóricos 
instrumentalizados pelos pesquisadores para a análise de 
seus objetos de pesquisa. Os cientistas sociais propõem-se 
estudar realidades aparentes que, para uma compreensão mais 
aprofundada, devem ser inseridos em um contexto social mais 
amplo. Assim, o conhecimento construído pelo cientista social é 
resultado da relação dialética entre as mais variadas formas que 
os fenômenos sociais se apresentam na sociedade e a percepção 
individual do pesquisador, composta pelo seu capital cultural, 
visão de mundo, ideologia, entre outros aspectos. 
O cientista social delimita o seu objeto de pesquisa a partir 
dos seus próprios valores e concepções que delimitam as suas 
escolhas e problematizações. A metodologia, as hipóteses e os 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 129
objetivos da pesquisa são escolhas individuais do pesquisador, 
influenciadas pelo contexto social no qual está inserido, sendo 
essas compostas tanto por indagações presentes na sua própria 
vivência quanto por temas relevantes para a comunidade no qual 
está inserido. Em outras palavras, é o próprio tempo presente 
que se impõe tanto como critério como objeto da reflexão do 
cientista social, e a problemática, as hipóteses e possibilidades 
de interpretação estão diretamente relacionadas com o universo 
cultural no qual o cientista social está inserido. Assim, a escolha 
do pesquisador em estudar um aspecto da realidade social (e não 
outro) será feita a partir da perspectiva histórica do seu próprio 
tempo e do lugar no qual está inserido na sociedade. 
Atualmente, há diversos temas relevantes pesquisados 
pelas Ciências Sociais relacionados diretamente à sua vida 
cotidiana, como a criminalidade, as questões de gênero, a 
sociabilidade, a juventude, o envelhecimento, a violência 
doméstica, a religiosidade, a saúde e a afetividade. E as análises 
dessas diversas temáticas servem de subsídio para a elaboração 
e planejamento de políticas públicas por parte do Estado, além 
de instigarem debates na sociedade por meio dos diversos meios 
de comunicação utilizados para a divulgação das pesquisas 
acadêmicas, podendo influenciar o senso comum, tornando-o 
mais crítico. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação130
Podemos citar como exemplo de uma pesquisa que procura 
cumprir a sua função social, Juventude, juventudes: o que une 
e o que separa, publicada em 2006 pela UNESCO (órgão das 
Nações Unidas dedicado a questões relacionadas à educação e à 
cultura).Ela ocorreu por meio da participação de dez mil jovens 
brasileiros de 15 a 29 anos, cujas informações foram utilizadas 
para elaborar questões, hipóteses e análises relacionadas à gênero, 
escolaridade, região e moradia. A pesquisa tinha como objetivo 
elaborar políticas públicas relacionadas à juventude a partir de 
temas como inclusão digital, religiosidade, lazer, sexualidade e 
trabalho. Além disso, a pesquisa, disponibilizada para o público, 
foi importante para alguns jovens analisarem criticamente o seu 
próprio comportamento e experiência de vida. Para maiores 
informações, ver http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-
this-office/unesco-resources-in-brazil/studies-and-evaluations/
violence/youth-in-brazil/
Quanto às metodologias de pesquisa em Ciências Sociais 
existem dois tipos de abordagens:
A Pesquisa Quantitativa: tem como base a análise 
estatística, utilizando gráficos, levantamentos estatísticos, 
porcentagens, entre outros instrumentos matemáticos para 
analisar tendências de comportamento, intenções de voto, 
opiniões, etc., da sociedade. 
Na pesquisa quantitativa, é necessário selecionar uma 
amostra de um determinado grupo social (ou seja, um percentual 
de indivíduos a serem entrevistados, cujo recorte deve ser 
elaborado visando representar, em escala menor, as principais 
características da totalidade dos indivíduos do grupo). 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 131
A opção pelo método quantitativo de pesquisa exige que 
seja utilizado um questionário como principal instrumento do 
pesquisador, que deve ser elaborado com questões e alternativas 
de respostas objetivas. 
[[Exemplo]]: Na Sociologia, é considerada uma obra 
pioneira e exemplar quanto a utilização do método quantitativo 
de pesquisa a obra do sociólogo francês Émile Durkheim, 
O Suicídio, publicado em 1897. O autor utilizou dados 
estatísticos sobre o número de suicídios em vários países 
europeus durante um ano, comparou-as com o número total de 
habitantes estabelecendo uma taxa anual de suicídio para cada 
100 mil habitantes. Por meio desses dados, Durkheim chegou 
a conclusão de que o número de suicídios aumentam nos anos 
de crise econômica, comprovando a tese defendida por ele de 
que o suicídio é um fenômeno social decorrente da falta de 
normas sociais suficientes para evitar um mal-estar insuportável 
ao indivíduo em um contexto marcado pela falta de emprego e, 
consequentemente, dinheiro para a subsistência. 
A Pesquisa Qualitativa: a principal característica da 
pesquisa qualitativa é o contato direto e pessoal do pesquisadorcom a comunidade estudada, um método utilizado inicialmente 
pela antropologia que acabou sendo assimilado pelas demais 
Ciências Sociais. Dentre as diversas técnicas, destacamos a 
observação participante, na qual o pesquisador procura o maior 
e mais próximo contato possível com o grupo social a ser 
pesquisado. Por meio da inserção do pesquisador ao contexto 
social objeto da pesquisa, torna-se possível para o pesquisador 
identificar as diversas maneiras de agir, sentir e pensar daquele 
grupo social. Muitas vezes, chega-se ao ponto do pesquisador 
assimilar os hábitos socioculturais daquele grupo social, 
afastando-se de uma visão etnocêntrica preconcebida e, muitas 
vezes, preconceituosa e adotando uma perspectiva de alteridade 
diante do objeto pesquisado. Além disso, a convivência próxima 
do pesquisador geralmente proporciona que ele, com o tempo, 
seja recebido com naturalidade pela comunidade, facilitando 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação132
ainda mais o processo de pesquisa. 
Para utilizar tal método de pesquisa, o pesquisador deve 
se preparar e adotar alguns procedimentos, como se preparar 
teoricamente para ter a percepção do que realmente irá observar e 
elaborar hipóteses referentes a possível conclusões que ele pode 
chegar no final da pesquisa. Sem tal preparo, a probabilidade da 
pesquisa mostrar-se insuficiente e infrutífera é enorme. 
Outro procedimento básico para a realização de uma 
pesquisa qualitativa é a utilização de um diário de campo, onde 
o pesquisador irá anotar todas as experiências e impressões 
adquiridas no processo de convivência com o grupo social 
pesquisado. Tais anotações servem como autêntica matéria-
prima para a realização da análise do pesquisador. 
Para a realização de uma pesquisa qualitativa sobre a relação 
dos jovens com a política, o pesquisador deve inicialmente fazer 
um recorte no qual define o campo a ser pesquisado (o local 
da pesquisa, que poderia ser um shopping center ou a saída 
de uma escola) e se haverá mais de um campo onde os dados 
serão levantados (importante se o pesquisador quiser analisar 
as diferenças de opinião a partir das perspectivas de classe 
social, faixa etária, etnia, etc.). Entretanto, não se deve iniciar a 
pesquisa sem antes estabelecer as hipóteses e os objetivos que o 
pesquisador deseja alcançar. É apenas no final da pesquisa, e não 
antes, que o pesquisador terá a certeza de que as hipóteses e os 
objetivos estabelecidos foram confirmados e alcançados. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 133
Figura 6 – Pesquisas em Ciências Sociais 
Fonte: Pixabay
Quer se aprofundar neste tema? Leia o artigo: “Aprendendo 
a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais” 
(LOPES, 2012), acessível pelo link https://periodicos.ufsc.br/
index.php/emtese/article/view/18027/16976 
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir 
tudo o que vimos. Você viu que as Ciências Sociais originou-
se no período do Renascimento Cultural e Artístico europeu 
(século XVI), mas que ganhou um impulso, principalmente, 
em um contexto marcado por intensas transformações sociais 
decorrentes do avanço do capitalismo industrial (século XIX). 
As Ciências Sociais são compostas por três áreas: a Ciência 
Política (cujo objeto de pesquisa são as relações, as estruturas 
e as instituições políticas), a Sociologia (que analisa a vida em 
sociedade) e a Antropologia (estuda os aspectos culturais dos 
mais variados grupos sociais). Na atualidade, as Ciências 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação134
Sociais desenvolvem pesquisas nos mais variados temas 
considerados relevantes para a vida cotidiana, como questões 
evolvendo as relações entre as classes sociais, gênero, etnias, 
violência, etc., sendo que boa parte destas servem como subsídio 
para o planejamento de políticas públicas. Tais pesquisas são 
desenvolvidas por meio de dois tipos de métodos: o quantitativo 
(levantamento de dados estatísticos) e qualitativo (pesquisa 
de campo). Mas, independente da metodologia adotada, o que 
prevalece nas Ciências Sociais é o rigor com o qual as pesquisas 
devem ser desenvolvidas, visando atender as suas expectativas. 
A História da Sociologia
Nesse item você verá o contexto histórico no qual o 
desenvolvimento do conhecimento sociológico está inserido. 
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão docente. 
As pessoas que tentaram atuar na área sem a devida instrução 
tiveram problemas ao longo de sua carreira. E então? Motivado 
para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!
Reflexões sobre a vida social são tão antigas quanto a 
própria humanidade. Entretanto, a Sociologia, como uma área 
delimitada do conhecimento científico, só emergiu na Europa 
de meados do século XIX. Para compreender esse processo, é 
necessário entender o amplo quadro de mudanças econômicas, 
políticas e sociais que ocorreram no continente europeu, com 
implicações em todo planeta, a partir do século XVI, e as 
correntes de pensamento filosófico que se tornaram a base 
ideológica da modernidade – o racionalismo, o empirismo e o 
Iluminismo. 
Nesse período, a Europa passou por um contexto marcado 
pela instabilidade, representada nas diversas formas de crises 
(econômica, social, cultural, religiosa e moral). Foi em meio a 
essa turbulência que surgiu a Sociologia, um modo de interpretar 
o “caos” vivenciado por uma sociedade em constante processo 
de transformação. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 135
Os antecedentes intelectuais da Sociologia
Até o século XVIII, a maioria dos campos de conhecimento 
eram considerados integrantes dos grandes sistemas filosóficos, 
uma tradição que vinha desde a Antiguidade greco-romana. 
A constituição do atual conceito de ciência e da constituição 
de disciplinas específicas do conhecimento ocorreram em um 
contexto marcado por intensas transformações vivenciadas na 
Europa que contribuíram para mudar essa concepção de longa 
duração. 
Um dos momentos importantes de tal processo foi a 
Reforma protestante, iniciada no século XVI, pois tal movimento 
contestou a autoridade da Igreja Católica que monopolizava a 
interpretação dos textos sagrados e a absolvição dos pecados 
dos fiéis. Na realidade, o movimento iniciado pelo monge 
agostiniano alemão Martinho Lutero deslocou para o indivíduo 
a responsabilidade pelos seus próprios atos e por sua consciência 
diante deles, sendo um aspecto importante para a disseminação 
do individualismo e da concepção de que o destino do homem 
depende de si mesmo, e não da “vontade divina” ou das “forças 
da natureza”. 
Martinho Lutero (1483-1546) foi um monge agostiniano 
alemão que se opôs às práticas e dogmas da Igreja Católica de 
sua época, condenando principalmente a venda de indulgências, 
ou seja, a compra do perdão dos pecados (que, segundo a Igreja, 
poderia ser concedido pelo clero católico) por parte de homens 
ricos arrependidos de seus atos. Lutero foi o precursor do 
princípio de que a fé em Deus é manifestada de forma individual, 
sendo o próprio indivíduo responsável tanto por suas atitudes 
como pelo verdadeiro arrependimento dos pecados cometidos. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação136
Figura 10 –Martinho Lutero
Fonte: ©Lucas Cranach the Elder (1472-1553) / Wikimedia Commons
Dessa forma, fortaleceu-se concepções que começaram 
a ter relevância entre os intelectuais do Renascimento 
cultural e artístico, cujo processo histórico ocorria quase 
concomitantemente com o início da Reforma protestante. 
Emergia assim o racionalismo, a crença de que a razão é capaz 
de captar as dinâmicas existentes no mundo material, abalando 
as velhas crenças que sustentavam o poder da Igreja Católica e 
das monarquias absolutistas europeias. Com essa base, tornou-
se possível o surgimento do empirismo e do racionalismocartesiano, além do avanço das ciências experimentais. Com 
isso, alicerçavam-se os princípios da ciência moderna. 
Nesse processo, no século XVIII, tivemos o surgimento do 
movimento filosófico conhecido como Iluminismo, sendo um de 
seus princípios a confiança na razão e no conhecimento como 
impulsionadores do progresso da humanidade, possibilitando 
a conquista definitiva da natureza pelo homem, essencial para 
a conquista da felicidade universal e terrena. Tal perspectiva 
possibilitou um enorme impulso para a investigação e 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 137
interpretação da realidade social. É importante ressaltar que o 
Iluminismo tornou-se a base ideológica da burguesia europeia, 
que acreditava no racionalismo como instrumento para trazer 
ordem ao mundo, superando a desordem e o atraso resultantes 
da dominação do Antigo Regime, sustentado pelas elites 
decadentes compostas pelo alto clero católico e pela nobreza. 
Para os iluministas e burgueses que apoiavam o movimento, seria 
possível, com a vitória dos valores iluministas, educar as massas 
(cuja maioria era relegada pela antiga ordem ao analfabetismo) 
e tornar todos os seres humanos, independente da classe social, 
bons e iguais. 
A busca por explicações realistas, racionais e concretas 
sobre a origem, a natureza e os possíveis rumos de uma 
sociedade em constante processo de transformação fez com que 
temas como a liberdade, a moral, as leis, o direito, as obrigações, 
a autoridade e a desigualdade social fossem importantes objetos 
de pesquisa por parte de diversos filósofos iluministas que 
tornaram-se precursores do pensamento sociológico. 
Entre os filósofos iluministas, podemos citar dois 
que influenciaram o conhecimento sociológico: o Barão de 
Montesquieu (1689-1755), que utilizou dos seus próprios 
conhecimentos históricos e de dados empíricos para fundamentar 
a validade de suas teses sobre os sistemas políticos e a necessidade 
de dividir os poderes para aplacar o poder absoluto dos reis, o 
que resultou na teoria da divisão dos poderes em três instâncias 
(Executivo, Legislativo e Judiciário); Jeân-Jacques Rousseau 
(1712-1778), pioneiro na análise das causas da desigualdade 
social presentes na obra Discurso sobre a desigualdade, na qual 
atribui ao conceito de propriedade privada, a causa principal das 
diferenciações entre as classes sociais. Rousseau, ao abordar tal 
temática, influenciou posteriormente a Sociologia.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação138
Figura 2 – Jean-Jacques Rousseau 
Fonte: ©Wikimedia Commons
As transformações sociais decorrentes da 
Revolução Industrial
A emergência do conhecimento científico foi importante 
para a introdução de diversas inovações tecnológicas, inicialmente 
na Grã-Bretanha, que estimularam e impulsionaram importantes 
transformações sociais em um processo que ficou conhecido 
como Revolução Industrial, que instigaram o surgimento da 
Sociologia, cuja proposta inicial era, justamente, analisar e 
compreender cientificamente tais transformações. 
No decorrer do século XVIII, diversas invenções 
impulsionaram a produção da indústria manufatureira britânica, 
que desde meados do século XVII passava por um processo de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 139
crescimento decorrente da conquista do monopólio do comércio 
internacional de tecidos por parte da Grã-Bretanha. Entre estas 
invenções, podemos citar a lançadeira, construída por John Kay 
em 1733, o tear mecânico, inventado por John Kay e Lewis Paul 
em 1738, a máquina a vapor, criado por James Watt entre os 
anos de 1761 e 1768. Inicialmente, tais inovações multiplicaram 
a capacidade de produção da indústria têxtil britânica, sendo que 
essas seriam adaptadas para outros ramos da produção industrial 
e, em meados do século XIX, para os meios de transporte e 
comunicação, possibilitando que o comércio se tornasse cada 
vez mais globalizado, importante para o avanço do modo de 
produção capitalista, sob a hegemonia do capital industrial, por 
todo o planeta. 
Esse avanço do modo de produção capitalista desestruturou 
a ordem social tradicional da Europa Ocidental de forma rápida, 
profunda e intensa, influenciando transformações nas bases da 
vida cotidiana, material de todos os indivíduos em todos os 
seus aspectos, abalando crenças e princípios morais, religiosos, 
jurídicos e filosóficos que sustentavam o Antigo Regime. O 
feudalismo e sua ordem social baseada no princípio da ordem 
“natural e divina” presente nos estamentos (a forma como a 
sociedade francesa era dividida hierarquicamente desde a Idade 
Média), nos quais estavam garantidos os privilégios da nobreza 
e do alto clero que mantinham sua posição por meio do seu 
monopólio do exercício do poder político (no qual a emergente 
burguesia estava excluída) e na servidão dos camponeses, 
vigente desde o período medieval, desabou rapidamente com as 
revoluções inglesas de meados do século XVII e, principalmente, 
com a Revolução Francesa, ideologicamente influenciada pelo 
Iluminismo, no final do século XVIII, sendo tal movimento 
propagado por toda a Europa através das guerras napoleônicas 
(1799-1815). 
Uma nova ordem social emergiu a partir das ruínas do 
feudalismo. Nas primeiras décadas do século XIX, já eram 
perceptíveis as mudanças na paisagem das cidades europeias. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação140
Surgiram grandes fábricas cujas chaminés começaram a despejar 
fumaça pelos céus e que empregava uma mão de obra relegada 
ao desalento com o desaparecimento das antigas propriedades 
comunais, obrigadas a abandonar o campo e migrar para as cidades 
para garantir a sua sobrevivência, além de serem obrigados a 
trabalhar nas fábricas para evitar punições severas previstas por 
leis redigidas pela nova classe dominante: a burguesia. Assim, 
nas grandes cidades europeias, enquanto as famílias burguesas 
começavam a ostentar o seu poder e riqueza em mansões e 
palacetes construídos nas partes centrais de Londres e Paris, 
uma nova classe, o proletariado (também conhecido como 
classe operária ou classe trabalhadora) começava a morar em 
bairros periféricos, desprovidos de higiene e saneamento básico, 
tornando-os vulneráveis a todo tipo de doenças. Além disso, a 
classe operária estava sujeita a fome devido aos baixos salários 
pagos pelos proprietários das fábricas, além de serem obrigados 
a exercerem longas jornadas de trabalho em um ambiente 
insalubre, que chegava a 12 e até 16 horas diárias. A tais precárias 
condições de trabalho estavam sujeitos não apenas os homens, 
mas também mulheres e crianças, que recebiam salários menores 
do que os já baixos salários dos homens. Muitas vezes, todos os 
membros de uma família proletária empregavam-se nas fábricas 
para obterem rendimentos que garantissem o mínimo para a sua 
sobrevivência. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 141
Os efeitos contraditórios das transformações sociais vivenciadas 
na Europa no decorrer do século XIX podem ser percebidas a 
partir de alguns dados referentes à expectativa média de vida na 
França. Enquanto apenas 7% da população tinha a expectativa 
de chegar aos 60 anos, nas primeiras décadas do século XIX, 
44% da população tinha a expectativa de chegar, apenas, aos 20 
anos. 
Figura 3 – A casa de uma família proletária 
Fonte: ©David Henry Friston, fl. 1850s to late 1880s / Wikimedia Commons
Houve também mudanças profundas nos aspectos 
culturais da emergente sociedade burguesa europeia do século 
XIX. O antigo patriarcalismo começou a ser questionado pelas 
mulheres (inicialmente nas famílias burguesas), que começaram 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação142
a reivindicar por direitos sociais mais igualitários e justos com 
relação aos homens. Além disso, as crianças foram reconhecidas 
como seres humanos em formação, e não mais como adultos em 
miniaturas que deveriam auxiliar os de fato adultos nas tarefas 
cotidianas,algo que impulsionou mudanças profundas na área 
da educação. Há que se destacar também que, com relação 
aos casamentos, os indivíduos das elites foram conquistando 
autonomia para tentarem concretizar o seu imaginário de “amor 
romântico”, ou seja, de contraírem matrimônio com as pessoas 
que elas escolhessem e pelas quais teriam afeto, não aceitando 
mais passivamente a velha tradição dos casamentos combinados 
pelos pais visando à manutenção das riquezas e do status social. 
Foi nesse contexto de intensas transformações sociais nas 
mais variadas áreas da vida cotidiana que impulsionaram estudos 
e análises que permitiram o surgimento da ciência cujo objeto é, 
justamente, as relações sociais e as transformações decorrentes 
destas, no caso a Sociologia. 
Os primórdios da Sociologia
As origens da Sociologia teve ligação direta com o 
ativismo político de Claude Henri de Rouvroy, o conde de Saint-
Simon. Ele foi um dos primeiros a fundamentar uma análise 
da sociedade a partir dos conflitos entre as classes sociais. 
Uma de suas principais obras, Parábola, publicada em 1819, 
apontava que a nova sociedade moderna (capitalista) na França 
era marcada pelos conflitos entre o que denominava de “classe 
industrial”, que segundo o autor era formada pela junção entre 
a burguesia industrial e a classe operária, que seriam o conjunto 
de produtores; e a elite ociosa, formada pela nobreza, alto clero e 
a alta burocracia estatal. Para Saint Simon, a “classe industrial” 
representava o ”progresso”, enquanto a elite ociosa era o atraso 
e o retrocesso, uma forte barreira para o desenvolvimento de 
seu país. Para ele, o destino já havia reservado a vitória para 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 143
a “classe industrial”, que voltaria toda a produção industrial e 
agrária para a satisfação das necessidades de todos os membros 
da sociedade. Assim, todos deveriam cooperar para a felicidade 
social, enquanto os ociosos deveriam ser excluídos da sociedade. 
Mais tarde, Saint Simon reviu algumas de suas posições, sendo 
uma delas a fé na burguesia industrial, rebaixada para a classe 
ociosa, enquanto apenas os trabalhadores teriam condições de 
assegurar o progresso social. 
Tal concepção era a base, segundo Saint Simon, de 
uma nova ciência: a Fisiologia Social. O objeto de estudo 
deveria ser a ação humana que incessantemente transforma o 
meio social, enquanto a metodologia de pesquisa deveria ser 
o método positivo, trazido das Ciências Físicas e Naturais. 
A base da sociedade seria a produção material, a divisão do 
trabalho e a propriedade privada, enquanto as vidas individuais 
corresponderiam a meras engrenagens cuja função era contribuir 
para o progresso da humanidade,
A Fisiologia Social de Saint-Simon, portanto, era uma 
ciência social “positiva”, cuja principal tarefa seria revelar as 
leis do desenvolvimento da história da sociedade, algo de suma 
importância para organizar racionalmente a vida social.
Claude Henri de Rouvroy, mais conhecido como conde de 
Saint-Simon (1760-1825), foi um filósofo e economista francês 
socialista que teve grande atuação na cena política francesa por 
um longo período que vai da Revolução Francesa até a restauração 
Bourbon. Sua obra influenciou duas correntes antagônicas do 
conhecimento social: o positivismo e o materialismo histórico. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação144
Figura 4 – O conde de Saint-Simon 
Fonte: Wikimedia Commons
A Fisiologia Social de Saint-Simon foi a base do que seria 
a Sociologia, termo utilizado pela primeira vez por Augusto 
Comte para designar a disciplina do positivismo dedicada ao 
estudo da sociedade. Na realidade, Comte havia sido secretário 
de Saint-Simon e, posteriormente, acabou usando muitas de 
suas ideias para elaborar os fundamentos da filosofia positivista. 
Entretanto, Comte deu um viés mais conservador aos conceitos 
elaborados inicialmente por Saint-Simon. Isso foi decorrente do 
fato de que o criador do positivismo considerava que a sociedade 
de sua época vivia um tempo turbulento de caos e desordem 
que, fatalmente, impediriam o progresso da sociedade francesa. 
Assim, fazia-se necessária uma autoridade que defendesse o 
coletivo, que colocasse seus interesses acima do indivíduo e 
de seus desejos considerados mesquinhos. Em outras palavras, 
que uma autoridade disposta a impor a “ordem” em prol do 
“progresso”. 
A sociologia de cunho positivista considerava que as 
diferentes e diversas sociedades poderiam ser classificadas em 
estágios diferentes de progresso, com algumas delas sobressaindo-
se às outras. Tais aspectos se alargaram e reforçaram por meio 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 145
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 5 – Herbert Spencer 
da influência do evolucionismo, baseado nas descobertas do 
britânico Charles Darwin e sua Teoria das Espécies, que defende 
a existência de estágios diferentes de desenvolvimento dos 
animais, com os mais “aptos” sobrevivendo às dificuldades 
impostas pela natureza, enquanto os demais encontravam 
maiores barreiras para sobreviverem em um ambiente hostil. 
Um dos sociólogos que ficaram marcados pela miscigenação 
entre positivismo e evolucionismo foi o britânico Herbert 
Spencer, considerado um dos principais difusores do chamado 
darwinismo social que tornou-se base para justificar injustiças 
e barbaridades sobre os povos da Ásia e da África cometidas 
descaradamente pelas grandes potências industriais. 
Herbert Spencer (1820-1903), sociólogo britânico 
influenciado pelo positivismo conteano e pela teoria evolucionista 
darwinista, mesclando as duas escolas em uma teoria social 
que teve relevância no século XIX, denominada “darwinismo 
social”, usado muitas vezes para justificar a política imperialista 
das nações industrializadas. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação146
A partir do final da década de 1840, em um contexto 
marcado pelas revoluções sociais que ocorreram em boa parte da 
Europa em 1848, uma nova abordagem de análise da sociedade, 
mais crítica quanto a realidade social do capitalismo industrial e 
reivindicando o status de ciência, emergiu dos trabalhos conjunto 
dos filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, conhecido 
como materialismo histórico dialético. Tal teoria é considerada 
pelos sociólogos como uma das abordagens clássicas da 
disciplina, ao lado do funcionalismo e do método compreensivo. 
Veremos mais detalhadamente o materialismo histórico e as 
demais teorias clássicas da Sociologia mais adiante. 
Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX, 
a Sociologia tornou-se uma disciplina acadêmica, conquistando 
oficialmente a condição de conhecimento científico. Nesse 
processo, foram importantes as contribuições do sociólogo 
francês Émile Durkheim, seguidor do positivismo e fundador 
da Escola Funcionalista, e do alemão Max Weber, criador do 
Método Compreensivo, que conjuntamente com o Marxismo 
(como também é conhecido o materialismo histórico) constituem 
as teorias clássicas da Sociologia.
No decorrer do século XX e início do XXI, a Sociologia 
vem contribuindo para a compreensão e análise de diversas 
questões complexas que estão presentes na sociedade moderna. 
Mas, tais contribuições não se restringem a teoria, pois as 
hipóteses e considerações produzidas em inúmeros trabalhos 
auxiliam diversos agentes sociais no planejamento de suas ações 
e na busca de resoluções e compromissos visando a construção 
de uma sociedade mais justa e solidária. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 147
Quer se aprofundar neste tema? Leia o artigo: “O futuro das 
Ciências Sociais – A sociologia em questão” (LOPES, 2012), 
acessível pelo link http:// http://www.scielo.mec.pt/pdf/spp/n48/
n48a03.pdf 
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o 
que vimos. Você viu alguns aspectos dahistória da Sociologia. 
Vimos que o conhecimento científico sobre a sociedade passa 
a ser buscado em um contexto de intensas transformações 
econômicas, sociais e culturas na Europa e, posteriormente, no 
mundo, decorrente da expansão do modo de produção capitalista. 
A partir do século XVIII, com o Iluminismo, alguns pensadores 
como Montesquieu e Jeân-Jacques Rousseau fizeram reflexões 
sobre a sociedade europeia relacionadas à concentração do poder 
nas mãos da monarquia e as causas da desigualdade social. Já no 
início do século XIX, com a Revolução Industrial, a constituição 
da ordem social burguesa sob as ruínas do mundo feudal 
estimularam intelectuais como Saint-Simon a refletirem sobre o 
contexto social visando encontrar caminhos para construir uma 
sociedade mais condizente com a modernidade que emergia 
no horizonte. As ideias de Saint-Simon influenciaram diversas 
teorias sociológicas, como o positivismo e o materialismo 
histórico dialético. Outras teorias sociológicas de impacto da 
época foram o darwinismo social e o já citado materialismo 
histórico, que conjuntamente com o funcionalismo e o método 
compreensivo, constituem as teorias clássicas da Sociologia. 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação148
O Surgimento da Sociologia Educacional
Chegamos ao quarto item desta unidade. Nela você será capaz de 
refletir sobre a contribuição do conhecimento sociológico para 
a análise do papel da educação na sociedade contemporânea. 
Isso será fundamental para o exercício de sua profissão docente. 
As pessoas que tentaram atuar na área sem a devida instrução 
tiveram problemas ao longo de sua carreira, pois tiveram 
dificuldade de compreender a influência da realidade social em 
sua prática pedagógica. E então? Motivado para desenvolver 
esta competência? Então vamos lá. Avante!
OBJETIVO
A Educação é um dos principais objetos de pesquisa da 
Sociologia desde o seu surgimento como conhecimento científico. 
Os teóricos clássicos da disciplina (Émile Durkheim, Max Weber 
e Karl Marx) abordaram o tema, apesar de apenas Durkheim tenha 
realizado estudos específicos que resultaram em obras consideradas 
as pioneiras do que seria denominada Sociologia Educacional.
Na realidade, como o ser humano se capacita a exercer 
inúmeras atividades, além de formar a sua consciência e de tornar-
se um ser social, por meio da educação, essa se tornou um objeto 
prioritário tanto de pesquisas quanto de projetos com o objetivo de 
reproduzir ou transformar hábitos culturais da sociedade. Entretanto, 
enquanto na sociedade capitalista, a educação ser direcionada 
para a formação de mão de obra para o mundo do trabalho, boa 
parte dos sociólogos concebem uma educação que vá além dos 
interesses do capital, tendo como objetivo a formação plena do 
cidadão, observando principalmente os aspectos relacionados à 
capacidade do indivíduo conviver em uma sociedade cada vez mais 
diversificada e complexa.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 149
Figura 10 - Educação e Sociedade
Fonte: Pixabay
Émile Durkheim: o ideólogo da Educação
Émile Durkheim deu uma atenção especial à Educação em 
sua obra. Foi o primeiro autor a afirmar que a educação é um 
processo social, e, como tal, deve ser objeto de estudo e análise 
da Sociologia. Não por acaso, Durkheim é considerado o 
fundador da Sociologia da Educação. Para o sociólogo francês, 
o sistema educacional tem a função de perpetuar os valores da 
coletividade. Em outras palavras, a educação deve integrar os 
indivíduos à sociedade, convencendo-os de que devem seguir 
as normas determinadas por ela. Dessa forma, a educação teria 
como função social a perpetuação da ordem social, reproduzindo 
a organização social para as novas gerações. Assim, a escola teria 
um papel tanto de formar as crianças como de impedir o caos 
social (denominada por ele de anomia) que ameaça a coesão 
social. Nas palavras de Durkheim (apud LOPES, 2012,p.6): “a 
educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um 
certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe 
exigem a sociedade no seu conjunto e o meio ao qual se destina 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação150
particularmente”. Percebe-se aqui uma forte influência do 
positivismo, do qual Durkheim era um seguidor e continuador 
das teorias de Augusto Comte. 
Durkheim defende que a escola deve ser pública e 
laica, embora não seja contrário às iniciativas privadas na 
área, mas desde que estejam submetidas aos interesses da 
sociedade, representados pela ação do Estado. Max Weber e 
Karl Marx abordaram o tema, apesar de que apenas Durkheim 
tenha realizado estudos específicos que resultaram em obras 
consideradas as pioneiras do que seria denominada Sociologia 
Educacional.
A educação, segundo Durkheim, deve atuar para a 
consolidação da coesão social, enfatizando na mediação de 
conhecimentos relacionados à formação moral, à qualificação 
profissional e à aprendizagem da estrutura social e o papel que 
o indivíduo deve exercer nessa engrenagem social, ou seja, o 
indivíduo deve se submeter aos interesses da sociedade.
Para Durkheim (apud LOPES, 2012, p.6), a educação 
é uma ação exercida pelos pais e professores sobre a criança, 
que deve ocorrer de forma ininterrupta, formando-a tanto como 
indivíduo quanto como um ser social, embora o principal foco 
seja “perpetuar e reforçar a homogeneidade entre os membros 
de uma sociedade, fixando com antecedência na alma da criança 
as similitudes que a vida coletiva exige”. Assim, a educação é 
um processo ininterrupto de socialização do indivíduo, com a 
finalidade de fazer do aluno um ser realmente humano, pois para 
o sociólogo francês, um homem só é plenamente humano se for 
um ser social. Entretanto, isso não o deve afetar a sua formação 
como um indivíduo com interesses particulares, pois indivíduo e 
sociedade se complementam, na visão do fundador da sociologia 
funcionalista. 
O sistema educacional proposto por Durkheim deve ser 
meritocrático, no qual as individualidades mais capacitadas são 
premiadas. Além disso, a educação, a partir de certa idade, não 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 151
deve ser a mesma para todos, sendo direcionada a partir daí 
para a especialização, visando a formação do aluno para uma 
sociedade marcada pela divisão social do trabalho, onde esse 
irá ser formado nas profissões que a sociedade mais necessita. 
Segundo Durkheim (apud LOPES, 2012, p.7): “é a sociedade 
que, para poder subsistir, precisa que o trabalho se divida entre 
os seus membros (...). É por isso que prepara com suas próprias 
mãos, pela via da educação, os trabalhadores especializados de 
que precisa”.
O papel do professor, segundo Durkheim (apud LOPES, 
2012, p.7), é representar os interesses da sociedade, interpretando 
e transmitindo “as grandes ideias morais do seu tempo e de 
seu país”. Entretanto, tais ideias variam conforme o contexto 
histórico, sofrendo mudanças conforme a passagem do tempo. 
Para ele, educação e pedagogia são coisas distintas. A primeira é 
a relação entre os educadores (pais e professores) e as crianças, 
que deve ser voltada para a formação das novas gerações dentro 
das normas sociais, visando a sua integração e a consequente 
reprodução dos valores hegemônicos de uma determinada 
sociedade. Já a segunda seria a reflexão sobre os fatos que 
envolvem a educação, como uma ciência que deve contribuir 
para o próprio desenvolvimento do processo educativo. 
A Sociologia Educacional de Émile Durkhein influenciou 
as práticas pedagógicas consideradas tradicionais e que ainda 
estão presentes em várias salas de aulas em diversas partes do 
mundo. A disposição das carteiras em fileiras e a postura do 
docente como “mestre do saber”, hierarquicamente superior aos 
alunos, são exemplos de uma organização do espaço escolar 
influenciada pelas perspectivas durkheimianas. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação152
Figura 2 –A sala de aula tradicional 
Fonte: Wikimedia Commons
Karl Marx: a educação como meio de 
conformação e transformação social
Karl Marx, diferentemente de Émile Durkheim, não 
escreveu nenhuma obra especificamente sobre educação, mas 
abordou o tema ao longo de suas obras críticas em relação 
à sociedade capitalista. Segundo o materialismo histórico 
dialético, a educação faria parte da superestrutura da sociedade 
(assim como a política, a cultura e a legislação), sendo um 
instrumento de legitimação do modo de produção capitalista, de 
sua divisão social do trabalho e de formação de mão de obra. 
Além disso, ela teria também a função ideológica de legitimar e 
transmitir a ordem social capitalista, com a escola exercendo um 
papel central nesse processo. 
Na sociedade burguesa, o professor assumiria o papel de 
transmitir a ideologia das classes dominantes para os alunos, 
principalmente os da classe operária, que acabariam formando 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 153
uma “falsa consciência de classe” ao assumir para si os valores 
burgueses e considerando a sua própria exploração algo 
“natural”. 
Para romper com tal quadro de coisas (algo que só seria 
possível, segundo o materialismo histórico, apenas por meio 
da revolução socialista que colocaria um fim na história do 
capitalismo) e transformar o sistema educacional de instrumento 
de dominação de classe para um mecanismo de emancipação 
social, Marx sugere algumas medidas importantes que deveriam 
ser tomadas São elas:
Educação pública e gratuita para todos: a educação se 
tornaria um direito dos cidadãos, ou seja, qualquer homem ou 
mulher poderiam ter acesso a ela nas escolas mantidas pelo 
Estado, sem nenhum custo para as famílias. Curiosamente, 
essa reivindicação marxista acabou assimilada (e adaptada, de 
acordo com o espírito conservador do positivismo) por Émile 
Durkheim, sendo comum em quase todos os países a existência 
de um sistema educacional no qual a escola tem gratuidade e 
universalidade;
Educação voltada para a formação do indivíduo como 
um trabalhador: para Marx, é a partir do trabalho que o homem 
construiu a sociedade e, dessa forma, tal atividade tem uma 
centralidade na história humana. Pensando na superação do 
capitalismo e a constituição de uma sociedade socialista, 
o pensador alemão concebeu uma formação integral do 
aluno que abrangeria três aspectos: 1- a Educação intelectual 
(historicamente restrita às elites, até então); 2- a Educação 
corporal (a Educação Física, composta por exercícios de ginástica 
e até exercícios militares); 3- a Educação tecnológica, o ensino 
da ciência, da produção industrial e iniciação ao manuseio de 
máquinas utilizadas na produção industrial. Nesse modelo de 
educação, tanto homens quanto mulheres seriam capacitados 
para exercer mais de uma profissão, rompendo-se a barreira que 
existia entre o trabalho intelectual e o manual, um dos fatores 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação154
Figura 3 – O ensino integral profissionalizante
Fonte: Pixabau
A abordagem do materialismo histórico assume que a 
educação tem uma função social política, que revertida para 
a construção de uma sociedade sem dominação e exploração 
de uma classe social sobre a outra, pode ser um instrumento 
de emancipação de homens e mulheres, algo essencial para a 
construção de uma nova sociedade, segundo Karl Marx. 
que estabeleciam a divisão social do trabalho e a sociedade 
de classes. Paradoxalmente, esse foi outra proposta de origem 
marxista que acabou sendo assimilada pelo sistema educacional 
da sociedade capitalista e utilizada para os seus fins de gerar 
lucro e formar mão de obra. 
As escolas de ensino profissionalizante e de tempo integral 
são exemplos da influência das propostas de Karl Marx para a 
educação, apesar da finalidade atual dessas estarem distantes 
das perspectivas do fundador do materialismo histórico, mais 
voltada para a formação de uma sociedade sem classes sociais. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 155
Em países socialistas, como China e Cuba, parte das 
perspectivas dos fundadores do materialismo histórico estão 
presentes em seus respectivos sistemas educacionais. 
Max Weber e a educação como 
instrumento de “status social”
 Assim como Karl Marx, Max Weber também considera 
a educação como um instrumento de dominação na sociedade 
capitalista. Entretanto, Weber analisa outros aspectos dessa 
dominação, pois essa não se restringiria à exploração de uma 
classe social sobre a outra ou à formação de mão de obra para 
o mundo do trabalho, mas seria um instrumento que legitimaria 
o monopólio dos empregos e cargos mais valorizados para os 
portadores de diplomas universitários. Ou seja, na perspectiva 
weberiana, a universidade exerceria não apenas o papel de 
formar, mas de realizar provas visando selecionar os indivíduos 
mais aptos para exercerem ocupações privilegiadas na sociedade 
e, dessa forma, conquistarem “status social”. Através disso, a 
educação se torna um meio para o indivíduo conquistar ascensão 
social, prestígio e maiores salários na sociedade capitalista.
Inserida na estrutura burocrática do Estado, a escola, 
segundo Weber, seria um local também marcado, como outras 
instituições, pelas relações de poder. Como tais relações resultam 
em três tipos de dominação (a carismática, a humanística e a 
racional-burocrática), cada uma delas resultam em três tipos 
diferentes de educação:
1 - Educação carismática: estaria relacionada a despertar 
o “talento natural” do indivíduo, associada simbolicamente com 
as “qualidades heroicas” ou com “dons mágicos”;
Nesse tipo de educação emergem as pessoas que 
aparentemente tem um “talento nato” para exercerem tal 
atividade, destacando-se das demais. Seriam os casos de um 
Mozart ou um Beethoven na música clássica. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação156
2- Educação humanística: direcionada para a formação 
intelectual do indivíduo. Aqueles que demonstram maiores 
aptidões na assimilação do conhecimento destacam-se sobre os 
demais; é na educação humanística que se revelam os intelectuais 
de todas as áreas, que se destacam pelo seu conhecimento em 
uma ou várias áreas do conhecimento filosófico e científico. 
Nessa área, podemos citar a capacidade intelectual de um Freud 
ou de um Einstein. 
3 - Educação racional-burocrática: é aquela voltada 
à especialização do indivíduo, ao qual aquele que formar-
se especialista em uma determinada função irá ter maiores 
possibilidades de ascensão na estrutura burocratizada das 
instituições da sociedade capitalista. Esse é o caso daqueles 
que conseguem os diplomas universitários e, ao exercerem 
cargos hierarquicamente superiores na estrutura burocrática do 
Estado ou das empresas privadas, sobressai-se sobre os demais, 
conquistando status e ascensão social. 
Quer se aprofundar neste tema? Leia o artigo: “Educação, 
Sociologia da Educação e Teorias Clássicas” (LOPES, 2012), 
acessível pelo link http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-
ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf (Acesso em 
23/05/2019).
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 157
Antropologia e seu campo de estudo
A antropologia pode ser definida com uma ciência que 
estuda a humanidade, suas convicções, seu comportamento 
e sua cultura. De acordo com Marconi e Presotto (2010), visa 
compreender a existência do homem na sua totalidade dividido 
como membro de grupos organizados, com a sua história, crença, 
linguagem e também na evolução da sua espécie. 
Ao término capítulo você será capaz de entender as semelhanças 
e diversidade existente nas inúmeras culturas humanas. será 
fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que 
não aceitam a heterogeneidade do homem têm problemas ao se 
depararem com o oposto. E então? Motivado para desenvolver 
competência? Então vamos lá. Avante!
OBJETIVO
O nascimento da Antropologia
Desde a antiguidade o homem sempre questionoue 
observou a si mesmo e seus semelhantes. A descoberta da 
América pelos europeus - o Novo Mundo marca a origem da 
reflexão antropológica sobre os habitantes que viviam naquelas 
terras ainda desconhecidas. Pode-se afirmar que o contato com 
os povos distintos provocou uns dos primeiros questionamentos 
antropológicos: E povos pertencem à humanidade? Possuem 
alma? 
Naquela época, utilizava-se a religião para regulamentar 
o indivíduo como humano. As primeiras observações sobre os 
povos “distantes” eram trazidas pelos viajantes e missionários 
jesuítas. Além do critério religioso, os europeus utilizaram 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação158
a partir do século XIV, alguns julgamentos para definir se os 
índios encontrados eram humanos, são eles: andavam nus ou 
vestidos com “peles de animais”; se alimentavam com “carne 
crua” e utilizavam uma linguagem que não era compreendida, 
denominada como “uma língua ininteligíve”. 
Percebe-se, portanto que, o encontro dos europeus com as 
índios marcam a grande dificuldade humana de aceitar e entender 
a disparidade entre os seus semelhantes. Na carta titulada como 
“História das Índias”, Cornelius de Pauw (1955) escreve que 
os índios por sua natureza são ociosos, sujos, de má condição, 
mentirosos, pecadores e que por isso, Senhor permitiria que 
fossem banidos da . 
Por outro lado havia também curiosidade por parte 
dos índios sobre os comportamentos, vestimentas e crenças 
dos desbravadores. O autor Lévi- Strauss (1961), citado 
por Laplantine, François (2003) destaca que, porquanto os 
espanhóis pesquisavam se os índios possuíam ou não uma alma, 
e afundavam os corpos dos europeus na água por um longo 
período e observavam se os seus cadáveres também iriam passar 
pelo processo de putrefação, como aconteciam com os corpos 
dos seus semelhantes. Percebe-se, portanto que, a curiosidade de 
classificar os sujeitos europeu e o índio como humanos ou não 
pertenciam aos dois grupos simultaneamente . , a excentricidade, 
ou seja, aquilo que é diferente, sempre instigou o homem a 
encontrar respostas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 159
Figura 1 - Pai ensinando o filho a andar de bicicleta
Fonte: Pixabay
Em meados do século XVIII, a versão de que os selvagens 
eram de “natureza má” é lentamente transformada em possível 
“bom selvagem”. Os primeiros viajantes começaram a destacar 
características positivas sobre os indígenas, classificando-os 
como pessoas bonitas, mansas, de corpo elegante, ingênuos, 
afáveis, liberais e felizes. Desse modo, a imagem que os europeus 
tinham com as diferenças entre os indígenas começaram a 
oscilar entre dois pêndulos: uma vertente positiva – representada 
pelo encantamento pelo exótico e outra, negativa – como uma 
rejeição à disparidade (característica do que é díspar;. 
Dianteparadoxo, iniciaram-se vários questionamentos, 
dentre os quais, um merece destaque que é levar em consideração 
que a civilização indígena não é inferior ou superior, e sim, 
diferente. Os viajantes do século XVI e XVII coletavam 
“curiosidades”, já no século XVIII a preocupação voltou-se para 
de que forma poder-se-ia coletar e interpretar e, o que foi coletado 
sobre essas curiosidades. Com a revolução industrial inglesa e 
revolução política francesa, houve mudanças significativas na 
sociedade francesa. século XIX em um contexto geopolítico 
novo, período colonial, emigração em massa é que a antropologia 
os primeiros passos para uma disciplina científica.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação160
Com os progressos da civilização, o indígena, antes 
denominado como “selvagem”, tornou-se o “primitivo”, ou seja, 
o antecessor do civilizado. Dessa forma, a antropologia destina-
se inicialmente os seus estudos ao conhecimento do primitivo, 
da origem humana – considerando o progresso técnico e 
econômico das cidades coloniais como prova da evolução 
histórica dos europeus. Dessa forma, os pioneiros pesquisadores 
definiram como objeto de pesquisa as sociedades primitivas e 
não ocidentalizadas. 003).
Vale ressaltar que na segunda metade do século XIX ainda não 
existiam antropólogos. Os pesquisadores não eram especialistas 
se julgavam como observadores consciente guiados por cientistas 
preocupados em criticar fontes.
EXPLICANDO DIFERENTE+++
Deduz-se que os estudos rudimentares da antropologia 
consistiam em analisar grupos “diferentes” e distantes da sua 
cultura. O primeiro objeto de estudo da corrente antropológica 
foram às sociedades primitivas e método de pesquisa, inicialmente 
utilizados eram os dados coletados pelos observadores e, 
posteriormente, instaurou-se a técnica do trabalho de campo que 
consiste no contato intenso e prolongado entre o pesquisador e 
as pessoas e/ou grupos escolhidos para serem estudadas (novo 
conceito será detalhado nos próximos capítulos). forma, o 
trabalho do antropólogo consiste em estar em contato com a 
pessoa que é diferente e transformar essa diferença em um fazer 
científico.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 161
O que é Antropologia 
Pode-se definir o significado de Antropologia em uma 
abordagem mais ampla da seguinte maneira:
“(...) ciência que estuda o homem, suas produções e seu 
comportamento. O seu interesse está no homem como 
um todo (...). Tenta compreender a existência humana em 
todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo 
do princípio de uma estrutura biopíquica.” (MARCONI e 
PRESOTTO, 2010, p. 2).
Como visto no capítulo anterior, a Antropologia iniciou os 
seus estudos visando os grupos primitivos “diferentes”, aqueles 
que não pertenciam à sociedade ocidental. Acreditava-se que 
ao entender a sua linguagem, comportamento modo de viver, 
estariam identificando a origem humana, como o ser humano 
vivia antes da civilização.
Campo de atuação da Antropologia
Portanto, o objetivo da Antropologia no estudo do homem 
em sua plenitude avalia o ser como biopsicocultural – como 
ser biológico pensante e como produtor de cultura e elemento 
integrante da sociedade. Como a esfera de investigação é 
extensa, a Antropologia é dividida em dois campos de atuação: 
Antropologia Física ou Biológica e Antropologia Cultural.
Na antropologia física ou biológica são investigadas as 
características físicas do homem, no qual consiste compreender 
a estrutura anatômica, sua origem e evolução, a estrutura, os 
processos fisiológicos e características raciais do ser humano 
ancestral e civilizado. Como uma ciência interdisciplinar, a 
Antropologia se apoia na Medicina, Fisiologia, Zoologia, entre 
outras. (MARCONI E PRESOTTO, 2010).
Para facilitar o entendimento do campo de atuação da 
Antropologia, um explicativo das áreas e subáreas ciência.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação162
Figura 2 – Campos de atuação da Antropologia Física ou Biológica
Fonte: Autora com base em MARCONI PRESOTTO, 2010 / Editorial
Verifica-se, portanto que, a Antropologia Física ou 
Biológica é decomposta em cinco subáreas: paleontologia 
humana – estuda a origem e evolução humana através dos 
fosseis; Somatologia – avalia as diferenças individuais físicas 
e sexuais; Raciologia – classificação da espécie humana em 
raça; Antropometria – utiliza-se de técnicas quantitativas para 
medir o corpo humano e Estudos comparativos do crescimento 
– ampliação da somatologia com o intuito de conhecer as 
diferenças grupais relativas ao crescimento convergentes com 
atividade física, alimentação, etc.
A antropologia cultural consiste na análise do homem 
como ser cultural, promotor de sua própria cultura. A sua 
essência abarca em conhecer e analisar o conhecimento cultural 
humano adquirido por aprendizado em todas as suas proporções. 
É considerado o campo mais extenso dentro da ciência 
antropológica. 
Observe o esquema a seguir representando as subáreas do 
campo de atuação da Antropologia Cultural.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 163
Figura 3 – Campos de atuação da Antropologiado século XVIII 
– até as teorias atômicas que revolucionaram a ciência no 
século XX.
A vitória de Atenas sobre os persas, em 479 a.C., marca 
também a consolidação da democracia na cidade. Dentre os 
novos valores que surgem está o da educação. Trata-se de 
formar cidadãos aptos à vida pública. Para tanto, exige-se 
deles que sejam excelentes oradores e que saibam argumentar 
em público. Dessa educação encarregam-se os sofistas (sábios), 
cuja característica era a reflexão sobre o homem e sua vida 
em sociedade. Os principais temas que emergiram dessa 
relação foram: a ética, a política, a arte, a religião, a retórica, 
a educação, ou seja, tudo aquilo que compõe o que chamamos 
de cultura.
Por outro lado, os sofistas não se preocupavam com o 
que uma argumentação, pode ter de justo ou injusto, moral 
ou imoral. Basta-lhes que seus discípulos aprendam a falar – 
não importa o quê, mas bem, de modo convincente – e que os 
remunerem pelo ensino. Se os sofistas não se preocupam com 
o conteúdo de um argumento, é porque compartilham com 
os atenienses a experiência da democracia, em que o mundo 
humano aparece como uma criação do próprio homem. Nesse 
mundo não há um único princípio que a tudo comande, mas 
apenas convenções em que os homens estabelecem para depois 
abandonar. Os valores e as verdades são instáveis e relativos. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação18
 A própria linguagem, essa capacidade essencialmente humana, 
também não passa de convenção, sem poderes para expressar 
a verdade, a não ser verdades relativas de cada um.
O estabelecimento da democracia grega coincide com 
o aparecimento dos sofistas, que ensinavam tudo a qualquer 
um que desejasse, especialmente no que se refere ao homem 
que quisesse obter ensinamentos a fim de obter êxito nas 
assembleias. A demanda intelectual desse contexto histórico 
não admitia mais a superioridade intelectual restrita aos 
aristocratas. A concepção de virtude (areté) não poderia ser 
mais considerada algo transmitido de pai para filho.
“A construção de uma concepção de virtude como 
aprendizado se fortalecia e necessitava de professores que 
acreditassem nessa possibilidade. os sofistas eram esses 
homens” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 22). Porém, 
os sofistas foram muito criticados, é o que veremos a seguir.
Crítica aos Sofistas
De acordo com Franklin e Pinheiro (2014), há 4 questões 
principais que resumem as críticas aos sofistas.
A primeira questão referia-se à concepção do saber como 
tal. Tornou-se consenso, para os sofistas, que tudo poderia ser 
ensinado, desde a virtude até a arte da política. Devido a isso, 
suas maiores preocupações debruçavam-se na arte pedagógica, 
ou seja, como levar o outro ao saber. São claros seus impactos 
pedagógicos, pois todo professor necessita de alunos e para 
a satisfação de seus alunos era necessário delegar-lhes o que 
mais desejavam, ou seja, a sabedoria prática.
A segunda questão choca-se com os princípios morais 
aristocráticos. Os sofistas geralmente eram estrangeiros 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 19
 e exigiam remuneração por seus ensinamentos. Eles preenchiam 
uma lacuna deixada pela forma aristocrática de ver o ensino. 
Os sofistas não tinham posses e, por isso, cobravam pelos 
ensinamentos, tornando a venda do saber uma profissão: 
a profissão do mestre e do professor.
A terceira questão se relacionava ao apego à sociedade. 
Sendo os sofistas professores itinerantes, nômades, não 
poderiam respeitar os limites da cidade-estado (polis), 
o paradigma do Estado-Ideal, segundo Platão e Aristóteles. 
Aos olhos modernos, os sofistas superaram seus opositores, 
pois alargaram as dimensões das cidades, transportando 
ideias e costumes para além de seus limites, tornando-se 
assim homens do mundo (panhelênicos).
A quarta questão para discussão dizia respeito à liberdade 
de espírito em relação à tradição e às normas estabelecidas 
pela cidade. Os sofistas tinham uma inabalável confiança na 
capacidade e habilidade do homem em compreender todos os 
tipos de inovações e situações.
Conceito de Filosofia
“Amigo da sabedoria”: eis a definição da palavra 
Filosofia, constituída do termo filon, que equivale a amigo, 
e do termo sofia, que equivale à sabedoria. A Filosofia não é 
apenas atividade de pensadores brilhantes e excêntricos como 
popularmente se pensa. Filosofia é o que todos fazemos, quando 
estamos livres de nossas atividades cotidianas e temos uma 
chance de nos perguntar o que é a vida, o universo, a morte, 
o amor, a tristeza e todos os infindáveis temas que intrigam 
a humanidade. Nós, humanos, somos criaturas naturalmente 
curiosas e não conseguimos deixar de fazer perguntas sobre 
o mundo à nossa volta e o nosso lugar nele. Também somos 
dotados de uma capacidade intelectual, que nos permite tanto 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação20
raciocinar quanto divagar, atributos importantes para a prática 
do pensamento filosófico.
Chegar às respostas para as questões fundamentais 
é menos determinante para a Filosofia do que o próprio 
processo de busca dessas respostas pelo uso da razão, em vez 
de aceitar sem questionamentos as visões convencionais ou a 
autoridade tradicional.
A Filosofia, como aponta Thomas Nagel, é diferente 
da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, ela não 
se apoia em experimentos ou na observação, mas apenas 
na reflexão. E, ao contrário da matemática, não dispõe de 
nenhum método formal de verificação. “Ela se faz pela simples 
indagação e arguição, ensaiando ideias e imaginando possíveis 
argumentos contra elas, perguntando-nos até que ponto nossos 
conceitos de fato funcionam” (NAGEL, 2001, p. 2).
A principal ocupação da Filosofia da Filosofia 
é questionar e entender ideias muito comuns, que todos 
nós usamos no dia a dia sem nem sequer refletir sobre elas. 
O historiador perguntará o que aconteceu em determinado 
tempo do passado, enquanto o filósofo indagará: “o que é 
o tempo”? O matemático investigará as relações entre os 
números, ao passo que o filósofo perguntará: “o que é um 
número”? O psicólogo talvez pesquise como a criança aprende 
a linguagem, mas a indagação do filósofo será: “o que dá 
sentido a uma palavra?” (NAGEL, 2001, p. 3). Compreender 
filosoficamente a realidade é compreender, como as pessoas 
se constituem em grupos, em comunidades, em sociedades e 
como organizam suas ideias.
Na história do pensamento que a humanidade 
vem construindo ao longo do tempo, muitos foram os 
pensadores e pesquisadores que deram uma definição ou um 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 21
conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram 
complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase 
incompreensíveis. Mas de maneira geral, como argumenta 
Cipriano Luckesi, “a Filosofia é um corpo de conhecimento, 
constituído a partir de um esforço, que o ser humano vem 
fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, 
um significado compreensível” (1993, p.22). Corpo de 
conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente 
e organizado de entendimentos sobre a realidade.
A leitura de um texto de Filosofia nos proporciona 
o entendimento dos valores e sentidos, que seu autor desenvolve 
a partir do contexto que o cerca. O ato de filosofar permite, 
assim, a sistematização dos desejos e aspirações dos seres 
humanos, bem como o sentido para a relação com as pessoas, 
o amor, a amizade, o mundo do trabalho, a ciência, a educação, 
a política, a cultura, entre outros. Dito de outro modo, 
a Filosofia pode ser compreendida como um campo de 
construção de ideias/concepções, que permite a reflexão de 
assuntos do cotidiano (como as relações entre as pessoas) até 
as questões políticas de uma nação.
Para além de uma mera atividade abstracionista ou 
idealista, a Filosofia oferece um direcionamento para as ações 
dos sujeitos, ou seja, um rumo para ser seguido. Ela estabelece, 
como afirma Luckesi, um quadro organizado e coerenteCultural
Fonte: Elaborado pela Autora com base em MARCONI e PRESOTT / Editorial
O campo da Antropologia cultural é subdividido em 
sete subáreas, a Arqueologia – análise das culturas do passado 
de reestruturação de amostras duráveis ao longo do tempo; 
Etnografia – descrição/conhecimento material e imaterial das 
sociedades que apresentam culturas simples e “diferentes”; 
Etnologia – consiste na análise, interpretação e comparação entre 
múltiplas culturas ressaltando suas semelhanças e diferenças; 
Linguística – pesquisa a linguagem (meio de comunicação) em 
culturas diversas; Folclore – avalia a cultura autêntica de grupos 
humanos urbanizados ou rurais; Antropologia social – explora 
os processos culturais e da estrutura social das instituições e 
sociedades; Cultura e personalidade – examina as inter-relações 
entre cultura e personalidade do individuo. 
É possível perceber a variedade dos campos de atuação 
da Antropologia que está correlacionada com diversos outros 
campos do saber, o que fundamenta a sua eficiência como ciência 
ao estudar o homem em sua totalidade. 
Antropologia e ciências afins
Como detalhado no item anterior, a Antropologia para 
realizar um estudo do ser humano integrado busca fundamentação 
teórica e prática em outras ciências. 
Vale ressaltar que existem outras disciplinas que também 
tem o ser humano como objeto de estudo. A Sociologia, 
Psicologia, Economia, Política, Geografia e Biologia estão entre 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação164
Tabela 1 – Antropologia e sua relação com ciências afins
Sociologia
Enfatiza o conceito de 
sociedade e compreensão dos 
fatos práticos e presentes.
Psicologia
Interpretação das diferenças 
individuais que, determinam 
os inúmeros tipos de 
personalidade básicos da 
cultura.
Economia 
Avaliar a organização 
econômica de grupos, 
baseado no seu trabalho e 
recursos disponíveis.
Política
Compreender a organização 
política de um grupo (poder, 
ordem e integridade).
História 
Investiga a reconstrução de 
culturas passadas, revelando 
fenômenos que estão ligados 
a origem humana.
Geografia
Adaptação e modificação 
do homem em seu meio 
ambiente físico.
Fonte: Elaborado pela autora com base em MARCONI e PRESOTTO, 2010
as ciências que perpetuam uma relação multidisciplinar com 
a Antropologia. Todas emprestam e trocam dados de pesquisa 
mutuamente respeitando a fundamentação teórica de cada uma 
delas. 
A tabela a seguir irá detalhar a contribuição, importância e 
correlação de cada área para o campo do saber da Antropologia.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 165
Apesar de a Antropologia ser reconhecida como ciência do 
homem, a cooperação de outras ciências nas suas análises é de 
extrema importância, já que estudos de problemas específicos 
relacionado ao ser humana requisita a utilização de técnicas ao 
diálogo entre as ciências, pois contribui para agregar valor de 
dados mensuráveis e embasamento teórico reflexivo acerca do 
estudo mais detalhado e profundo sobre o ser humano.
IMPORTANTE
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo 
o que vimos. Você deve ter aprendido que a antropologia é uma 
ciência que estuda o ser humano em sua totalidade, ou seja, visa 
examina-lo em todas as suas dimensões bio-psíquico-social. Foi 
relatado também no capítulo, um breve histórico do surgimento 
da Antropologia no qual explicamos a definição do seu objeto 
de estudo que foram os povos indígenas. A antropologia surgiu 
para explicar o “outro” distante, aquilo que era “diferente” da 
civilização europeia, ou seja, entender como existiam pessoas 
que se alimentavam, vestiam, reproduziam, tinham rituais 
religiosos excêntricos e se comunicavam de outra forma. Em 
seguida, foram demonstrados os diversos campos de atuação 
da Antropologia como ciência e por fim, foi explicitada a inter-
relação da mesma com outras ciências no qual contribuem para 
uma compreensão técnico-científica mais precisa do homem 
e seu meio.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação166
Etnocentrismo
No decorrer do capítulo 1 foi abordada a dificuldade 
que o ser humano apresenta desde a época da colonização em 
aceitar a diferença. A intolerância em admitir o “outro” com 
suas particularidades se enquadra no conceito de etnocentrismo, 
definido por Rocha (1988) como uma visão de mundo no qual 
um grupo considera os seus valores, modelos e definições no 
centro de tudo.
Figura 4: Olhar etnocêntrico
Fonte: Freepik
Ao término deste capítulo você será capaz de compreender o 
conceito de etnocentrismo, de relativismo cultural e por fim, 
correlacionar os dois temas com exemplos práticos da sociedade 
contemporânea.
OBJETIVO
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 167
O que é etnocentrismo ?
O etnocentrismo pode ser definido como um choque 
cultural entre grupos diferentes. A dificuldade em encarar e 
aceitar o excêntrico acompanha o homem desde a sua origem. O 
autor Rocha (1988) elucida o etnocentrismo da seguinte forma:
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” 
grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas 
parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos 
mesmos deuses, (...). Aí, então, de repente nos deparamos 
com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, 
nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz 
é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, 
mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua 
maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que 
diferente, também existe. (...) O grupo do “eu” faz, então, 
da sua visão a única possível ou, mais discretamente se 
for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo 
do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, 
absurdo, anormal ou ininteligível. (ROCHA, 1998, p.5.)
Portanto, é possível perceber a falta de compreensão do 
ser humano com a disparidade entre os seus semelhantes. Essa 
visão de que a maneira como o “nosso” grupo se comporta, 
veste e se comunicam é a melhor e única. O que vem do “outro” 
é estranho, incompreensível e até mesmo, considerado errado e 
fora da normalidade.
Lembra-se de como os europeus interpretaram o estilo de 
vida e hábitos dos índios americanos? O julgamento era como se 
os mesmos não fosse humanos apenas pelo fato de se vestirem, 
alimentarem e comunicarem de uma forma totalmente diferente 
da civilização europeia.
O etnocentrismo defende a ideia de que as diferenças do 
grupo A em relação ao grupo B, torna-se padrões de julgamentos 
no qual o primeiro se considera superior ao segundo e que pode 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação168
Foi citado anteriormente exemplo de atitude etnocêntrica 
no passado. E, atualmente, qual atitude da nossa sociedade 
contemporânea pode ser classificada como etnocêntrica?
REFLITA
A atitude ou visão etnocêntrica ocorre quando há um 
bloqueio de aceitação da heterogeneidade do outro. Dessa forma, 
o preconceito está intimamente correlacionado ao etnocentrismo. 
Quando se julga que a cultura dos índios no Brasil é “atrasada” 
porque não sabem utilizar a tecnologia, ou quando consideramos 
que as pessoas do nordeste brasileiro são “intelectualmente 
menos favorecidas” que a região do sudeste, está praticando o 
etnocentrismo. 
FIGURA 4: Índios da floresta amazônica
Fonte: Freepik
ser intitulado como estranho, sem inteligência, inferiorizados, 
entre outras características. Portanto, o etnocentrismo analisa o 
outro conforme sua visão e de seu grupo de valores culturais 
e morais, o que é diferente do ponto de vista é taxado com o 
julgamento de inferioridade. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 169
Portanto, todas as vezes que não se respeita as características 
particularizadas do outro, a individualidade, o seu sotaque, a sua 
forma de vestir, o seu jeito de falar é considerada uma prática 
etnocêntrica.Atrelado a isso, temos exemplos atuais de bullying, 
machismo, racismo, entre outros.
Outro exemplo bem contemporâneo sobre etnocentrismo 
são os discursos do atual presidente dos Estados Unidos – Donald 
Trump. Todas as opiniões, conceitos, ações e estilo de vida que 
se distanciam do sistema de valores do presidente são taxados 
de maneira preconceituosa. Trump, recentemente rotulou os 
mexicanos de “criminosos” e instaurou no seu governo uma 
batalha contra os imigrantes ilegais, chamando-os de “animais”.
Figura 5 – Discurso etnocêntrico
Fonte: Pixzabay
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação170
De acordo com Rocha (1988, p. 9) “nossas próprias 
atitudes frente a grupos sociais nas grandes cidades são, muitas 
vezes, repletas de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos 
estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto 
cotidiano com a diferença”. Portanto, há limite tênue entre a 
aceitação do outro com suas particularidades e o preconceito 
explicito com a disparidade entre grupos sociais.
Para entender melhor o que é etnocentrismo, assista o vídeo 
Cultura: Etnocentrismo e Relativismo Cultural, disponível no 
link: https://www.youtube.com/watch?v=EZXKWdQ5eps
ACESSE
Relativismo cultural
Relativismo cultural em uma linguagem simples ocorre 
quando há a compreensão do “outro” sem julgamento de valores. 
É uma ideia que se contrapõe a do Etnocentrismo. Os autores 
Marconi e Presotto (2010 p. 17 ) destacam que “este princípio 
permite ao observador ter uma visão objetiva das culturas cujos 
padrões e valores são tidos como próprios e convenientes nos 
seus integrantes”. Ou seja, é visualizar e respeitar o “outro” e sua 
cultura com suas particularidades, sem hierarquizar as diferenças 
encontradas como melhor ou pior, superior ou inferior, etc.
Relativismo cultural: conceito e 
aplicabilidade
O conceito de relativismo nos ensina que uma cultura deve 
ser compreendida dentro dos seus padrões de comportamentos e 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 171
Figura 6 – “Mulheres girafas” – Tribo Padaung
Fonte: Pixabay
regras morais únicos, mesmo que ao olhar dos “outros” grupos, 
tais esquemas de vida se pareçam “estranhas” ou “exóticas”.
A significância do relativismo para a Antropologia consiste 
em respeitar outras culturas e sociedades – ao invés de taxar os 
costumes próprios como “incomuns” aprender algo novo sobre o 
ser e sociedade. A prudência com a objetividade – o pesquisador 
fica imerso na cultura a ser estudada com o objetivo de captar o 
sentido da sua organização e por último a não interferência entre 
tentativas de modificar seus costumes e tradições. (MENESES, 
1999). 
O homem como produtor de sua própria cultura construiu de 
maneira única e particular as suas crenças, regras de convivência 
em grupo e rituais específicos de cada comunidade, ou seja, 
peculariedades da sua maneira de viver e de se relacionar com 
a natureza e com o “outro”. Tais propriedades tornam possível 
a existência de inúmeras culturas distintas. Os autores Hoebel e 
Frost (1981) destacam que, os padrões de valores (certo/errado) 
e os costumes são inerentes ao seu respectivo meio cultural.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação172
A figura ilustra uma das integrantes da Tribo Padaung, 
localizada no norte da Tailândia. Pelo fato de por muitos anos, 
evitarem contato com a sociedade, porque viviam escondidas, 
as mulheres foram consideradas por muito tempo, como figuras 
mitológicas. A tribo possui a tradição cultural milenar que são 
colocarem argolas de cobre no pescoço das mulheres. Afinal de 
contas, por que utilizam estas argolas? Não se sabe ao certo 
porque esse ritual começou, para muitos estudiosos seriam uma 
competição de beleza, quanto mais argolas, o pescoço mais 
longo e assim teriam mais admiradores, em contrapartida, outros 
pesquisadores ressaltam que as argolas seriam uma proteção no 
passado contra ataques de tigres. Na tribo, são as mulheres que 
sustentam a casa vendendo os artesanatos que produzem. Os 
homens ficam em casa, cuidam das crianças e vestem saias. A 
tradição é ainda preservada nos tempos atuais e as mulheres são 
visitadas como atração turística da região. 
Para saber mais detalhes sobre a cultura da Tribo Padaung, assista 
ao vídeo Mulheres-girafa são atração na Tailândia, exibido pelo 
programa Fantástico no ano de 2002, disponível no link: https://
www.youtube.com/watch?v=M2HQGIh1jgQ.
ACESSE
Sobre a tradição das argolas da Tribo Padaung. Qual a sua 
opinião, aluno, sobre a utilização das argolas nas mulheres da 
tribo? 
Entre as características do relativismo cultural, vale 
destacar que, os elementos de uma cultura só tem validade 
quando estão inseridos no seu meio, ou seja, imerso dentro de 
um contexto. As culturas também são relativas, cada um traz em 
si o seu padrão, não existe uma referencia universal a ser seguida 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 173
e por último, suspensão de juízo. (MENESES, 1999).
Os valores culturais e normativos de cada sociedade tem 
sentido apenas para os integrantes que convivem em seu meio. 
A compreensão pelo viés da antropologia só é possível quando 
o pesquisador se coloca no lugar do “outro” e vivencia junto 
com os demais todos os rituais da sua cultura, sem critérios de 
julgamentos do que é certo ou errado.
Marconi e Presotto (2010) destacam que o relativismo 
cultural proporciona ao antropólogo atitude mais neutras e leva 
em consideração princípios humanitário: 
Direito à autonomia tribal – Os grupos humanos têm 
direito de possuir e fazer desenvolver a própria cultura, 
sem interferências externas. (...) Valores culturais – 
As formas de pensar e agir de grupos diferentes deve 
merecer o maior respeito possível e, por isso, seria 
injusta a introdução deliberada de mudanças no interior 
dessas culturas. (...) Da mesma forma, os costumes que 
diferem muito dos da sociedade civilizada devem ser 
considerados e avaliados dentro da configuração cultural 
a que pertencem (MARCONI E PRESOTTO 2010, p.17-
18).
Por mais excêntrico que possa parecer cada cultura 
desenvolvida pelo ser humano é única e deve ser respeitada 
em todas as suas singularidades. Nenhuma deve se sobrepor ás 
demais e todas devem conviver em harmonia e aceitação mútua. 
Assim sendo, não existem comunidades com culturas melhores 
ou piores que as outras, o que há são inúmeras e ricas culturas 
no Brasil e no mundo.
 E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente 
entendeu o tema de estudo neste capítulo, vamos resumir tudo 
o que vimos. Você deve ter aprendido que o relativismo cultural 
representa a oposição ao conceito de etnocentrismo. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação174
No relativismo não há julgamento de valor com outras 
culturas que não é semelhante a sua, que existem inúmeras 
culturas com diversidades únicas e que é característica central 
do homem criar estilos de vida para organizar a comunidade, 
conviver em harmonia com os seus semelhantes e com a natureza. 
Foi aprendido também que para o Antropólogo pesquisar e 
entender outras culturas, esse profissional deve vivenciar a 
cultura do “outro” dentro do seu próprio contexto cultural, já 
que apenas dessa forma serão interpretados os significados 
verdadeiros. Além disso, o antropólogo não deve colocar a 
sua cultura como centro de tudo, a sua visão deve ser neutra e 
livre de julgamentos. Sendo assim, o conceito antropológico de 
relativismo cultural nos ensina a entender e aceitar as diferenças 
para vivermos em harmonia com a nossa sociedade. 
Será que a escola atual está preparada para lidar e aceitar 
diferentes culturas?
REFLITA
Antropologia educacional
A visão de que a Antropologia é a ciência que estuda o 
ser humano em sua totalidade e que o respeito primordial é 
alteridade entre as culturas, já foi amplamente discutido nos 
capítulos anteriores. Nestecapítulo será abordada a essênciada antropologia educacional e como esta, se relaciona com as 
teorias contemporâneas da educação.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 175
Ao término deste capítulo você será capaz de entender como a 
significância da antropologia educacional, o seu objeto de estudo 
e as considerações práticas desta disciplina. E então? Motivado 
para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!
OBJETIVO
Conexão entre Antropologia e Educação
Torna-se válido iniciar este capítulo ressaltando a 
semelhança entre o conceito de antropologia e educação. Ambas 
lidam com a intenção de compreender um conhecimento que não 
é nosso, as duas devem visualizar o olhar do “outro” e, para que 
isso aconteça é primordial ser empático, ou seja, se colocar no 
lugardesse “outro” (GUSMÃO, 1997). Tais características são 
fundamentais tanto para o antropólogo como para o educador.
Para compreender a comunicação entre Antropologia e 
educação torna-se necessário ressaltar alguns pontos históricos 
marcantes. Já estudamos no capítulo 1 o nascimento da 
Antropologia. Ela,surge como ciência em meados do século 
XIX, na Europa e tem como objeto de estudo a compreensão 
do “outro” que fica distante e é diferente do “nosso”. De acordo 
com Gusmão (1997, p. 4), a educação nesse período consistia 
em uma “modalidade de ajustamento psicossocial que resulta 
numa forma de controle social, com base na organização social 
e no horizonte cultural partilhado por um grupo.” Ou seja, por 
meio de regras de condutas e técnicas educativas, as sociedades 
elaboravam mecanismos com o objetivo de incentivar e punir o 
comportamento de seus integrantes desde o período da infância 
até a fase adulta. 
Dessa forma, historicamente, tanto a antropologia quanto a 
educação por meio do desenvolvimento colonial tentaram impor 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação176
a “sua” cultura tida como única e correta ao “outro”. Com o 
intuito de eliminar qualquer alteridade, visavam padronizar uma 
sociedade com o modelo de vida cultural unificado.
Revise o que já foi estudado no capítulo 1 – “O nascimento 
da Antropologia”. 
O discurso entre a antropologia e a educação se instaura 
após a crítica ao etnocentrismo, e início do relativismo cultural 
no qual a antropologia busca compreender outras sociedades e 
culturas. Gusmão ressalta que:
“(...) O diálogo revela como ponto comum a cultura, 
entendida como instrumento necessário para o homem 
viver a vida, distinguir os mundos da natureza e da 
cultura e, ainda, como lugar a partir do qual o homem 
constrói um saber que envolve processos de socialização 
e aprendizagem. No primeiro caso trata-se de diferentes 
formas de transmissão de conhecimento, de habilidades 
e aspirações sociais; no segundo, trata-se de das formas 
de transmissão de herança cultural, através de gerações 
implicando processos de apropriação de conhecimentos, 
técnicas, tradições e valores. Tudo em acordo com a 
criação dos homens em situações sociais, concretas e 
historicamente determinadas”. (GUSMÃO, 1997, p.5).
Percebe-se, portanto que, a cultura representa a interseção 
entre a antropologia e a educação. Na vertente antropológica, está 
relacionada a uma ferramenta utilizada pelo homem para viver 
harmoniosamente entre os seus semelhantes do grupo ao qual 
pertencem. Já no âmbito da educação, a cultura está associada à 
aprendizagem de técnicas tradicionais de um povo e também ao 
processo de socialização – pertencimento de um grupo.
Na unidade 4, o conceito de cultura será mais detalhado. 
No próximo subitem, serão abordadas as bases teóricas que 
sustentam a ciência antropológica e sua evolução no conceito de 
antropologia educacional.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 177
Antropologia educacional: suas origens
Conforme detalhado nos capítulos anteriores, a 
Antropologia firmada como ciência instituiu a alteridade como 
questão norteadora de seus princípios. E, como uma disciplina, 
ela busca se basear em diferentes teorias que fornecem amparo 
técnico-científico. 
O evolucionismo foi uma das primeiras teorias 
antropológicas que considerava o modelo europeu como único no 
mundo. Baseava-se o etnocentrismo, no qual coloca a sua cultura 
no centro do universo, como “modelo” a ser seguido e as demais 
culturas são consideradas como “atrasadas” e inferiores”. Lewis 
Morgan e seu aluno Frans Boas eram importantes evolucionistas 
em meados do século XIX (GUSMÃO, 1977).
E você? Está lembrado do conceito etnocêntrico? Caso 
tenha esquecido, não se preocupe e faça uma revisão do capítulo 
2 – “Etnocentrismo”.
No princípio do século XX, Frans Boas entra em oposição 
com o seu mestre L. Morgan ao considerar a teoria de que cada 
grupo tem sua história e cultura singular. Boas introduziu o 
conceito de culturalismo no qual defendia a ideia de que não 
existia somente uma cultura e sim, 
“culturas” diferentes com hábitos, costumes e 
valores individualizados. Ainda no mesmo século, a 
Antropologia afirmava que “(...) a condição humana só 
poderia ser pensada no interior da cultura (...). Cultura 
como realidade múltipla, plural e diversa”. (GUSMÃO, 
2008, p.60).
A cultura, portanto, se torna uma ferramenta essencial para 
compreensão das condutas humanas. Por meio da cultura, o ser 
humano se diferencia dos animais, define o seu papel na natureza 
e ainda, utiliza de costumes, padrões, hábitos desenvolvidos pelo 
próprio ser humanos como meios para dar sentido à vida.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação178
Para saber mais sobre o que é cultura, assista ao vídeo 
Cultura: O que é Cultura? Tylor, Malinowski, Franz Boas e 
Lévi Strauss, disponível no link: https://www.youtube.com/
watch?v=v8HaLIrJxV0. 
ACESSE
Nesse mesmo período, apesar da evolução na vertente de 
conhecimento da Antropologia, na área educacional, os recursos 
pedagógicos ainda seguiam os regulamentos de uma educação 
marcada por um modelo único, na qual a escola estava inserida. 
Diante disso, Boas iniciou também críticas aos sistemas 
educativos e práticas pedagógicas das escolas americanas. 
O antropólogo alegava que o sistema de ensino americano 
não possibilitava independência e autonomia aos indivíduos 
inseridos no seu contexto. A escola desconsiderava a pluralidade 
da comunidade escolar, tinha como centro um aluno-modelo e 
utilizava do autoritarismo para contenção do mesmo. 
As instituições de ensino atuais reconhece a diversidade cultural 
dos seus alunos?
REFLITA
Também em oposição ao conceito evolucionista, entre os 
anos de 1920 e 1930 surge um novo conceito de origem inglesa, 
o funcionalismo e tem como fundador o antropólogo Bronislaw 
Malinowski.
Centrado na concepção de função e de sistema, o 
funcionalismo compreende a sociedade de uma forma 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 179
Para saber mais sobre as aventuras do Antropólogo Bronislaw 
Malinowski e das suas descobertas com a pesquisa de campo leia 
no livro de Everardo Rocha - “O que é etnocentrismo” o capítulo 
“Voando Alto”.
Sobre o incentivo do funcionalismo, a Antropologia da 
Educação ganha força ainda no interior dos sistemas coloniais 
vigentes, entre os anos de 1920 e 1930. Nesse período histórico, 
as culturas populares eram consideradas como obstáculos 
à modernização da sociedade. Visando o desenvolvimento 
da comunidade, a escola surge como tentativa de uma ordem 
em mudança. Seria necessário que se instalasse uma cultura 
significativa que tinha por objetivo impor “ordem” à civilização. 
integrada, em que o todo resulta de partes integradas, ao 
mesmo tempo em que as partes contem em si o todo. Os 
procedimentos de análise do social podem então, eleger a 
parte e, por dedução, explicar a totalidade da vida social. 
(GUSMÃO, 2008, p.62).
Assim sendo, o funcionalismo tem como pilar o estudo 
de outras culturas. Malinowski por meio do trabalho de campo, 
que consiste na observação, coleta de dados e interpretação dos 
acontecimentos que acontecem dentro do contextode cada grupo 
pesquisado, identificou que as sociedades possuíam problemas 
básicos semelhantes (como por exemplo, na alimentação e 
na organização do grupo) e que cada sociedade encontrava 
soluções diferentes para os mesmos problemas de sobrevivência 
da humanidade. E que cada atitude que a sociedade faz em sua 
cultura tem uma função, daí o nome de funcionalismo. Portanto, 
as necessidades de um grupo ou sociedade e suas respostas 
encontradas estão intimamente relacionadas com a sua cultura.
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação180
Geralmente o sentido da “mudança” era baseado nos 
objetivos do Estado que visava o progresso e a modernização 
na sociedade urbana. A escola, nesse contexto de mudanças, do 
mesmo modo que fundamentava a estrutura funcionalista, era 
organizada em um sistema de ensino integrado por suas partes 
que era constituída por: pais, alunos e funcionários. (GUSMÃO, 
2008).
Note, portanto que apesar de já aceita a ideia da existência 
de múltiplas culturas humanas, a escola, surge como uma 
instituição que visava instaurar a ordem e mudança preconizando 
a instauração de um modelo de cultura homogêneo, com vista 
a garantir a modernização da sociedade e desconsiderando a 
riqueza e pluralidade das culturas populares.
Em vista dos aspectos abordados acima, vale destacar 
que a relação entre educação e antropologia é essencial para o 
desenvolvimento da civilização humanas. As duas lidam com o 
ensinar – conhecimento e aprender – novas culturas. No decorrer 
dos anos, tanto a antropologia como a educação passaram por 
muitas transformações. A antropologia ampliou a sua vertente 
e atualmente. Visa entender a pluralidade humana e estudar 
grupos sociais diferentes. A educação, inicialmente ainda 
atrelada á época colonial, visava homogeneizar as culturas com o 
objetivo de instaurar a ordem e modernização das comunidades. 
Atualmente, a educação tem como desafio pedagógico absorver 
e dialogar com as diferenças e diversidade social e cultural do 
nosso povo. E então, caro aluno, será que a Escola moderna 
conseguiu atingir este objetivo?
UNIDADE
04
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação182
Concepções e Contribuições da Filosofia 
da Educação
OBJETIVO
Já aprendemos que o filósofo alemão Immanuel Kant reflete que 
“O homem é a única criatura que precisa ser educada” (KANT, 
1996, p. 11). Afirma ainda que, ao contrário dos animais, os 
humanos necessitam de cuidados para sobreviver, crescer e, 
devido à nossa natureza racional, precisamos não apenas de 
cuidados físicos, mas também emocionais e intelectuais. Esses 
apontamentos sugerem que todo ser humano necessita de 
educação para tornar-se humano, uma vez que nenhum sujeito 
nasce “pronto”. Essa necessidade confere à nossa espécie uma 
necessidade gregária, ou seja, dependemos definitivamente de 
outros para nos tornarmos o que somos. 
A Educação está vinculada a todos os registros humanos, 
como o dos sentidos, das emoções, do conhecimento e até 
mesmo do caráter. Ao mesmo tempo, temos as relações de uns 
para com os outros e a relação para consigo mesmo. A análise 
sobre as ideias que fundamentam teorias pedagógicas pode ser 
uma das perspectivas do trabalho em Filosofia da Educação, 
como também podemos elucidar as questões dos sujeitos como 
construção cultural, social e histórica.
A Educação pode ser compreendida como uma atividade 
que intenciona cumprir uma finalidade, tanto no sentido de 
preservar/manter quanto de transformar/modificar a realidade 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 183
e a sociedade. Como toda área de conhecimento, à educação 
são articulados pressupostos e conceitos que fundamentam e 
orientam seus caminhos norteadores. Nesse sentido, como bem 
nos informa Cipriano Luckesi, “não pode ser a prática educacional 
que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica 
sobre a educação dentro de uma sociedade” (LUCKESI, 1990, 
p. 31). Enquanto a educação se envolve com o desenvolvimento 
de jovens e adultos, a filosofia da educação trata da reflexão 
sobre o quê e como devem ser ou desenvolver esses indivíduos.
Como vimos nas unidades anteriores, muitos filósofos do 
Ocidente tiveram como tema de suas reflexões a educação. Os 
chamados filósofos pré-socráticos, os sofistas, Sócrates, Platão 
foram os intérpretes das aspirações de seus respectivos tempos, 
apresentando-se como educadores. Séculos depois, na Idade 
Moderna, Kant, Hegel, Descartes e Rousseau, por exemplo, 
também refletiram o processo de adquirir conhecimento, o 
desenvolvimento pessoal do sujeito e, cada um da sua forma, 
as noções que representariam a educação. De certo modo, é 
possível dizer que todos eles tiveram uma preocupação com 
a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada por 
meio dos processos educacionais.
Filosofia e Educação são, portanto, dois fenômenos que 
estão presentes em todas as sociedades: a primeira se dedica à 
interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de uma 
determinada sociedade, enquanto a segunda se responsabiliza 
pela veiculação dessa interpretação.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação184
Figura 1: Filosofia e Educação
Fonte: @freepik
IMPORTANTE
A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade 
na qual está situada, sobre o educando, o educador, a ação 
pedagógica e para onde esses elementos podem caminhar. 
Faz parte desse cenário a reflexão sobre o que se faz em sala 
de aula a fim de se realizar uma ação educativa consciente. 
Logo, não há como se processar uma ação pedagógica sem 
uma correspondente reflexão filosófica, no sentido de que esta 
estabeleça pressupostos para ela.
Contudo, se a reflexão filosófica não for realizada 
intencional e conscientemente, ela o será sob a forma do “senso 
comum”, assimilada ao longo da convivência dentro de um 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 185
grupo. Se considerarmos que a ação pedagógica não se processa 
a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se 
processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores 
que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural. Nessa 
mesma linha de pensamento, Luckesi adverte que: 
Quando não se reflete sobre a educação, ela se 
processa dentro de uma cultura cristalizada e 
perenizada. Isso significa que nada mais há para 
ser descoberto em termos de interpretação do 
mundo (LUCKESI, 1990, p.32). 
De forma inconsciente, muitos educadores - com ou 
sem experiência - adaptam-se a essa interpretação do mundo, 
a qual permanece como a única linha norteadora para eles. É 
essencial para e na ação pedagógica, o ato de filosofar sobre ela, 
questionando-a e buscando novos sentidos e interpretações de 
acordo com as transformações pelas quais a sociedade passa. 
REFLITA
Filosofia e educação estão intimamente articuladas no tempo e no 
espaço, ou seja, no contexto histórico de cada sociedade e numa 
determinada época. Você sabe distinguir quais são as principais 
características do atual momento cultural, social, político e 
econômico do nosso país e que refletem diretamente na ação 
pedagógica? Para além destas quatro dimensões, ainda podemos 
perceber a grande importância dos registros psicológicos, 
antropológicos, religiosos e de saúde, que também interferem 
na dinâmica nos processos educativos. Filosofar, hoje, pode 
significar a análise questionadora dessa conjuntura, sem perder 
a dimensão da pluralidade de respostas e elaborações reflexivas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação186
De certa forma, podemos afirmar que “Uma pedagogia” 
inclui na sua práxis uma quantidade considerável de elementos 
que ultrapassam os limites dos pressupostos de qualquer linha ou 
corrente filosófica. Temos que incluir, obviamente, os processos 
socioculturais e econômicos, a concepção psicológica do educando 
e do educador, a forma de organização do processo educacional em 
termos de políticas públicas, entre outros. Porém,esses elementos 
compõem uma Pedagogia à medida que estão aglutinados e 
articulados a partir de um pressuposto, de um direcionamento 
filosófico. A reflexão filosófica sobre a educação é que fornece 
uma orientação à pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos 
valores que hoje direcionam a prática educacional.
Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem 
de fundamentos e proposições filosóficas, uma vez que tudo 
depende desse direcionamento. Cabe, nesta análise, lembrar que 
a Pedagogia Montessori, a Pedagogia Piagetiana, a Pedagogia 
da Libertação, entre outras, sustentam-se em uma linha filosófica 
sobre a educação. Muitas vezes, as proposições filosóficas estão 
subjacentes, mas nem por isso são inexistentes.
Frequentemente a Filosofia da Educação é confundida 
com as próprias noções e concepções pedagógicas. Esse fato, 
conforme elucida Franklin e Pinheiro (2014), contribuiu para que 
a própria Filosofia assumisse que essa tarefa estava mais próxima 
de pedagogos que de filósofos. Contudo, essa compreensão 
é errônea, pois desde a origem do pensamento filosófico 
sistematizado, Filosofia e Educação estão intrinsicamente 
ligadas. Tanto uma como outra forma de pensamento e ação 
fazem parte da reflexão sobre os humanos e seu mundo. Essa 
preocupação conjunta conduz a Filosofia para o centro da ação 
pedagógica, transformando-se em Filosofia da Educação.
A educação precisa ser vista, enfim, como um exercício para 
construir a realidade educacional, e não simplesmente como um 
dos “fundamentos da educação” ou como uma reflexão acerca 
das questões educacionais. Ademais, ele fala sobre as chances 
de se recorrer a um exemplo que já representou transgressão no 
passado e que, atualmente, é um mero clichê, como o uso do 
termo caixa de ferramentas, por exemplo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 187
Filosofia da Educação e Formação 
Docente
OBJETIVO
De que forma o educador compreende a filosofia? A partir de 
quais pressupostos teórico-filosóficos ele poderá nortear sua 
prática pedagógica? Qual é a importância desse campo de saber 
para a educação? Qual é o papel da Filosofia na formação do 
educador? Essas questões são centrais para a Filosofia da 
Educação e, a partir de suas respostas, podemos compreender 
como ocorre na ação educativa a aplicação dos pressupostos 
filosóficos. 
A atitude filosófica emerge no momento que o educador 
suscita a reflexão crítica sobre os problemas existentes. O ato 
de ensinar exige que o educador acredite na mudança, devendo 
escolher metodologias que proporcionem ao educando o 
interesse e a curiosidade pelo conhecimento, formando os 
educandos para atuar e intervir ativamente na realidade. O ponto 
de partida para refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem 
no contexto educacional inclui a ideia de inacabamento do ser 
que toma consciência dos seus atos e assimila a capacidade de 
aprender, não apenas para se adaptar à realidade, mas com o 
anseio de reconstruí-la.
Em relação à escola primária, o campo filosófico tornou-
se importante no processo educativo a partir da década de 
1970 em função dos trabalhos de Matthew Lipman e Gareth 
Matthew. Ambos atuavam no Institute of Philosophy for 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação188
Children de Montclair State College e estavam preocupados 
com as soluções para um sistema educacional que julgavam 
ineficiente. Não só eles, mas outros grupos de professores, 
argumentavam que era necessário uma reforma do ensino que 
pudesse atender, especialmente as camadas da população que se 
encontravam em desvantagem educacional. 
Nessa direção, os autores mencionados defendiam a ideia 
de que o grau de suscetibilidade dos estudantes está articulado 
diretamente com aos danos causados pela ineficiência dos 
processos educacionais. E o que isso pode significar? Podemos 
afirmar que, num primeiro momento, não são as dificuldades 
pontuais dos alunos que devem ser o foco da busca por 
remediações, mas sim uma nova forma do professor conceber e 
conduzir as ações educativas.
REFLITA
Se partimos do princípio que todos os indivíduos, sejam crianças, 
adolescentes ou adultos, buscam significados que possam 
conferir sentidos às suas experiências de vida, em que medida 
a escola fornece isso a eles? Muitas informações e poucos 
significados?
A referência da qual parte Lipman é Dewey, que em 1916 
já havia alertado para a íntima associação entre Filosofia e 
Educação. Lipman analisa as expectativas de pais e crianças com 
respeito à escola, e quase todas são frustradas. Uma das formas 
de se compreender essa situação é perceber que os adultos tem 
muita dificuldade de ouvir as demandas por significados das 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 189
crianças e adolescentes, uma vez que estes, por seu turno, tem 
dificuldades argumentativas de expressar-se diante dos adultos. 
Segundo Lipman, as crianças acreditam em nossas palavras 
e têm pouca autoconfiança para questionarmos. Quando 
elas protestam (mais através do que não conseguem fazer do 
que pelo que fazem ou dizem), alegam não serem capazes de 
perceber os significados do que ensinamos (LIPMAN; SHARP; 
OSCANYAN, 1997, p. 23).
A fim de contornar essa situação, pais e educadores utilizam 
o argumento da autoridade para se esquivar da responsabilidade 
de educar com significados. Ora, educar com significados não 
está articulado com o método originário da Filosofia?
“A ênfase ao termo descobrir não é por acaso. A informação 
pode ser transmitida, as doutrinas podem ser incutidas, os 
sentimentos podem ser compartilhados, mas os significados têm de 
ser descobertos (LIPMAN; SHARP; OSCANYAN, 1997, p. 23).
É de extrema importância desenvolver uma metodologia de 
ensino que possa conduzir as crianças à descoberta dos significados, 
pois não é possível simplesmente “dar” significados para os 
outros. As crianças se frustram e não conseguem compreender 
a importância do que está sendo ensinado justamente porque a 
escola fundamenta-se em “dar” conhecimento compartimentado 
em disciplinas, cujas especificidades não são articuladas ao todo 
e, principalmente, às suas vivências. Vejamos o que Lipman diz 
a respeito:
Assim como todo mundo, as crianças anseiam por uma 
vida repleta de experiências ricas e significativas. Elas 
não querem simplesmente ter e compartilhar, mas ter e 
compartilhar de modo significativo, não simplesmente 
gostar e amar, mas sim gostar e amar significativamente; 
as crianças querem aprender mais significativamente. 
(LIPMAN; SHARP; OSCANYAN, 1997, p. 25)
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação190
Aliado a isso, Lipman chama atenção para o papel de 
mediação do professor na prática educativa: 
Qualquer criatura viva passa por um processo de 
crescimento, mas a ampliação da capacidade de 
crescer é algo só pode ocorrer sob a influência de 
um professor cuidadoso, interessado e que sabe o 
que faz. (LIPMAN, 1998, p. 96) 
Uma das ações solicitadas aos professores é de reconhecer 
e lidar com as capacidades e os estilos de pensar de seus alunos, 
incentivando tanto a criatividade quanto o rigor intelectual. Ao 
ensinar, o professor deve estar preparado para alimentar uma 
profusão de estilos de pensar e ao mesmo tempo insistir em que o 
pensamento de cada um seja tão claro, coerente e compreensivo 
quanto possível, desde que o conteúdo do pensamento não fique 
comprometido. (LIPMAN, 1998, p. 127).
A contribuição do professor é ajudar a expressar a 
individualidade de sua experiência e a originalidade de seu 
ponto de vista. É nesse intenso processo de conviver com formas 
de pensar e se comunicar diferentes que as crianças aprendem 
umas com as outras. 
Cada criança é um indivíduo e, ao mesmo tempo, faz 
parte da comunidade. Esses dois fatos são indissociáveis. Como 
indivíduo, a criança é única e pode desenvolver suas capacidades 
específicas de acordo com o papel que desempenha no grupo. 
Sua especialidade individual se revelará na diferença que faz no 
grupo,e cada diferença deve fazer uma diferença. (LIPMAN, 
1998, p. 210) 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 191
Figura 2: A criança
Fonte: @freepik
A ação investigativa pode ser ampliada no âmbito 
escolar transformando-se numa prática para todas as áreas de 
conhecimento. Nesta prática pode ser desenvolvido o pensar 
matemático, pensar artístico, pensar histórico, pensar científico, 
pensar religioso, entre outros. Além disso, estas formas de 
pensar se entrecruzam proporcionando um intenso processo 
inter e multidisciplinar. Por que não tentar?
A criança é única 
e pode desenvolver suas 
capacidades específicas 
de acordo com o papel que 
desempenha no grupo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação192
Filosofia da Educação e Educação 
Brasileira 
OBJETIVO
Em relação ao tema “Filosofia da Educação e educação 
brasileira”, pretendemos abordar o pensamento de alguns autores, 
e os temas mais trabalhados que influenciaram a formação de 
professores brasileiros nas últimas décadas do século XX. Neste 
momento, é importante estarmos informados, sobre quais foram 
as matrizes filosóficas, que mais influenciaram a formação de 
professores no Brasil, bem como a influência das metodologias 
e procedimentos de ensino que foram sendo implementados no 
país no final do século passado. 
A obra Filosofia da Educação, de Cônego Ângelo A. de 
Siqueira reflete a educação brasileira na primeira metade do 
Séc. XX. Publicada em 1948, a obra tem o intuito de debater 
seguintes temas: Educação física, a Constituição Brasileira de 
1946 e a Pedagogia Comunista. E qual seria, fundamentalmente, 
a concepção filosófica de educação de Siqueira? Para ele, a 
educação está diretamente associada à filosofia cristã católica, 
em especial, às ideias de São Tomás de Aquino. Atribui à 
educação o papel de formar a mente humana de acordo com os 
valores religiosos e sua intelectualidade, pautada num raciocínio 
científico aristotélico. O autor explica também como seria 
a relação dos professores com seus alunos: o educando é um 
sujeito ativo, isto é, seguindo uma concepção filosófica tomista, 
o professor deve intervir pouco e nos momentos certos, e que o 
aluno é o responsável por construir seu pensamento.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 193
Dessa forma, a atuação dos professores era respaldada 
pelo princípio de ativismo do educando, Isso quer dizer que seu 
papel era de conduzir e orientar os estudos de seus educandos, 
não cabendo ao mestre transferir todo o seu conhecimento a ele. 
Porém, essa conduta não retira da figura do mestre sua autoridade 
perante o aluno. 
Intitulada Filosofia da educação, a obra dos americanos 
John Redden e Francis Ryan, foi aceita e publicada no Brasil 
em 1964. Tal como Siqueira, os autores tiveram como objetivo 
apresentar a filosofia da educação baseada na filosofia católica. 
O livro intenciona alcançar esse objetivo por meio da exposição 
dos princípios da educação segundo a filosofia escolástica, a qual 
serve de parâmetro para “apreciação crítica de falsas filosofias 
da educação”. (REDDEN e RIAN, 1964, p. 7). Além disso, 
por meio da obra, defendem uma educação católica afirmando 
que esta [...] leva em conta o ‘homem integral’, porque nela se 
compreende o desenvolvimento e a disciplina de todas [sic] as 
potencialidades do corpo e da alma e, por isso, é essencialmente 
religiosa, moral, liberal, cultural e universal. (REDDEN e RIAN, 
1964, p. 7).
Desviando-se da pretensão de articular a filosofia da 
educação com a religião católica, um marco importante para 
a Filosofia da Educação brasileira foi a presença de Dermeval 
Saviani, com a publicação do livro Educação: do Senso Comum 
à Consciência Filosófica, em 1996.
O autor estabelece os sentidos e as intenções da Filosofia 
da Educação, sendo que o ponto de partida refere-se ao 
“problema” e à “reflexão”, ambos colocados no centro da 
atividade filosófica. Suas preocupações voltam-se à “noção de 
problema”, “os usos da palavra problema”, a “necessidade de 
se recuperar a problematicidade do “Problema”, a “noção de 
reflexão” e “as exigências da reflexão filosófica”. As principais 
conclusões que Saviani desenvolve a partir desses temas incide 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação194
no que ele denomina Esquematização da dialética “ação-
problema-reflexão-ação” (1996). 
Na tentativa de definir ou de discutir o papel da filosofia 
da educação e da história da educação no Brasil, Saviani diz 
que a Filosofia da Educação só poderá prestar um serviço à 
formação dos educadores na medida em que contribuir para que 
estes adotem esta postura reflexiva para com a problemática 
educacional. 
Se, ao contrário, nós, enquanto educadores, nos 
limitarmos a tomar conhecimento de determinados 
resultados a que se chegou a partir de determinadas 
reflexões, então não estaremos desenvolvendo a 
reflexão filosófica propriamente dita. (SAVIANI, 
1996, p. 29).
Por conseguinte, Saviani publicou um importante artigo 
na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, qual seja: “A 
filosofia da educação no Brasil e sua veiculação pela revista 
brasileira de estudos pedagógicos” (1984). Neste artigo, o autor 
analisa a periodização das principais concepções de filosofia da 
educação no Brasil. Até 1944, a educação recebeu influência 
das seguintes correntes: primeiro foi fundada no espírito do 
Tomismo-Aristotélico, que trazia como modelo fundamental a 
Ratio Studiorum.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 195
DEFINIÇÃO
Ratio Studiorum
O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e 
Organização de Estudos da Companhia de Jesus), normalmente 
abreviada como Ratio Studiorum, é uma espécie de coletânea 
fundamentada em experiências vivenciadas no Colégio Romano, 
a que foram adicionadas observações pedagógicas de diversos 
outros colégios, cujo objetivo era instruir rapidamente todo o 
jesuíta docente sobre a natureza, a extensão e as obrigações 
do seu cargo. O Ratio surgiu com a necessidade de unificar o 
procedimento pedagógico dos jesuítas diante da explosão do 
número de colégios confiados à Companhia de Jesus como base 
de uma expansão em sua totalidade missionária. Constituiu-se 
numa sistematização da pedagogia jesuítica contendo 467 regras 
cobrindo todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao 
ensino e recomendava que o professor nunca se afastasse do 
estilo filosófico de Aristóteles, e da teologia de Santo Tomás de 
Aquino. Fonte: https://bit.ly/3nzI27t 
Esta orientação pedagógica deteve o monopólio do ensino no 
Brasil durante aproximadamente dois séculos. É justamente o 
tomismo que se encontra nos fundamentos da Ratio Studiorum 
a que limitava, na regra no 35, os livros de estudo à summa 
theologica de Santo Tomás de Aquino e à obra de Aristóteles. 
(SAVIANI, 1984, p. 274)
Ainda no início do século XX, houve também a influência 
da vertente liberal, que promoveu mudanças em relação à vertente 
religiosa. Na década de 1930, os ideais do escolanovismo, por 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação196
meio do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, fizeram 
oposição ao grupo dos católicos. Além disso, a aprovação da 
Constituição de 1934 revelou um equilíbrio de forças entre os 
católicos e os pioneiros no âmbito educacional. À resistência dos 
católicos correspondeu um progressivo avanço dos pioneiros que 
já no início da década de 1930 ocupavam os principais postos da 
burocracia educacional. (SAVIANI, 1984, p. 276).
Quanto à concepção, ou às concepções de filosofia da 
educação brasileira, o autor demonstra que o momento da Ratio 
é o que foi classificado de “Concepção Humanista Tradicional 
na sua vertente religiosa”. Enquanto o momento da educação, 
no início da república, é classificado de “Concepção Humanista 
Tradicional na sua vertente leiga”. Saviani coloca, ainda, que 
a “Concepção Humanista Moderna” ganha impulso a partir de 
1924, sendo que, após 1945, é que esta concepção se delineiapredominante. (SAVIANI, 1984, p. 275).
Após o ano de 1944 houve o predomínio da Concepção 
Humanista Moderna, que tem uma visão de homem centrada 
na existência, na vida, na atividade. Se na visão tradicional a 
educação se centrava no adulto (no educador), no intelecto, no 
conhecimento, na visão moderna o eixo do processo educativo 
se desloca para a criança (o educando), a vida, a atividade 
(SAVIANI, 1984, p. 276). A tendência educacional Humanista 
Moderna entrou em crise entre 1960 e 1968, período em que se 
articulou a tendência tecnicista.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 197
RESUMINDO
Dermeval Saviani (1984), ao analisar a Filosofia da Educação 
na RBEP, utiliza como critério a vinculação dos artigos por ela 
publicados com as correntes educacionais brasileiras. Ele baseia-
se numa periodização provisória dessas correntes educacionais 
constante de artigo publicado no ano anterior, assim: de 1945 a 
1960, concepção humanista moderna; de 1960 a 1969, articulação 
entre a concepção humanista moderna e a tecnicista; de 1969 em 
diante, em que domina a concepção tecnicista e as manifestações 
da filosofia analítica. Segundo a sua análise, até o ano de 1962 
são publicados exclusivamente artigos com enfoque humanista 
moderno (Escola Nova) e, a partir dessa data, também artigos 
com a visão tecnicista.
Outro importante autor que se debruçou sobre a Filosofia 
da Educação no Brasil é Moacir Gadotti. Seu livro publicado 
em 1987, Pensamento Pedagógico Brasileiro, faz apontamentos 
sobre a teoria da dependência, a teoria da Modernização e 
coloca a pedagogia progressista como fundamento de sua 
perspectiva. Para ele, a educação brasileira tem influência 
por duas concepções, e que vive numa encruzilhada entre a 
educação de cunho “liberal conservador e uma concepção 
democrática e popular que nasce do movimento de organização 
e de conscientização (...)”. (GADOTTI, 1987, p. 139)
O artigo chamado Ideias diretrizes para uma Filosofia 
da Educação, publicado em 1979 na revista Reflexão, Gadotti 
discute a situação da educação e da pedagogia naquele período. 
Para ele, a educação deve apresentar um desafio para a filosofia, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação198
o que denota de uma perspectiva de pensar a filosofia da educação 
pela práxis da ação educativa. Segundo suas palavras:
[...] a Filosofia da Educação não poderá tornar-se 
uma especialidade qualquer com seus “mestres” 
e seus “peritos”: ao meu ver, ela deve ser uma 
preocupação que concerne finalmente a todos os 
parceiros, todos os atores da educação. Promover 
uma filosofia da educação não significa dar o poder 
aos filósofos (em nome de uma doutrina ou de 
uma sabedoria dos quais eles seriam os guardiães, 
e teriam o monopólio), de decidir, do alto e pelos 
outros, o que a educação deveria ser, separando os 
que pensam daqueles que executam, o pensar, do 
trabalho. A filosofia da educação dever contribuir 
para indicar possíveis caminhos, para esclarecer, 
para suscitar o espírito de responsabilidade, de 
lucidez, de participação na solução dos problemas 
educacionais que são os nossos, os problemas do 
nosso tempo. (GADOTTI, 1979, p. 10)
Antônio Joaquim Severino, outro autor que se destaca 
devido às suas preocupações com a Filosofia da Educação, entre 
vária publicações, lançou em 1993 o livro Paradigmas filosóficos 
e conhecimento da Educação: limites do atual discurso filosófico 
no Brasil na abordagem da temática educacional. Seu objetivo é 
inserir a questão da presença das dimensões política e educacional 
no discurso filosófico que vem constituindo o tecido da reflexão 
sistemática da filosofia entre nós. (SEVERINO, 1993, p. 132)
O trabalho de Severino procura evidenciar as concepções 
que marcaram nossa cultura filosófica: a tradição metafísica 
clássica, a tradição positivista, a tradição subjetivista e a tradição 
dialética. Diz, ainda, que a reflexão filosófica atual no Brasil 
vem ensaiando alguns voos de autonomia sem se desvincular 
das grandes tradições e tendências da filosofia ocidental. 
(SEVERINO, 1993, p. 133). Resultado de uma pesquisa que 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 199
o autor realizou entre os professores de filosofia e filosofia de 
educação, explicita as “inspirações que marcam o pensamento 
filosófico atual no Brasil”. Para Severino,
É assim que se pode constatar que em nossa cultura 
filosófica atual se faz presente, ainda que numa 
condição de resistência, a tradição metafísica 
clássica, com sua perspectiva essencialista 
de compreender a realidade. Manifesta-se 
fundamentalmente nas expressões teóricas do 
neotomismo. Mas também tem forte presença entre 
nós, numa perspectiva de crescente consolidação, 
a tradição positivista, que se expressa nas correntes 
e vertentes neopositivistas e transpositivistas, 
mantendo, e até certo ponto ainda consolidado, as 
posturas cientificistas; por outro lado, a tradição 
subjetivista se faz presente através das tendências 
e correntes vinculadas aos neo-humanismos, 
à fenomenologia, à arqueogenealogia e ao 
culturalismo. Por fim, também vem adquirindo 
uma consistente expressão filosófica a tradição 
dialética, representada por correntes vinculadas 
às diversas vertentes do marxismo e, de modo 
especial, à dialética negativa fundada na teoria 
crítica frankfurtiana. (SEVERINO, 1993, p. 134).
Severino deu continuidade em suas reflexões na obra A 
filosofia contemporânea no Brasil: conhecimento, política e 
educação (1999), propondo um levantamento sobre a prática da 
filosofia no atual momento cultural brasileiro, buscando perceber 
as tendências, os temas e as abordagens que esse discurso 
filosófico vem assumindo. Nesse texto Severino aponta dados 
sobre a formação do pensamento filosófico brasileiro, falando 
da ligação entre a filosofia, a educação e a política como pontos 
para a construção de um projeto civilizatório.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação200
Quando se busca entender as atitudes fundamentais que 
delineiam os estilos específicos do filosofar brasileiro, duas 
constatações chamam logo a atenção. A primeira constitui uma 
verdadeira tradição: a grande maioria dos nossos pensadores 
desenvolve seu esforço teórico deixando-se guiar por algum 
modelo filosófico já constituído. (SEVERINO, 1999, 24)
A filosofia entre nós nem sempre revela uma preocupação 
em se posicionar explicitamente quanto ao sentido da tarefa do 
filosofar, aponta o autor. “(...) Esta ausência de conceituação 
expressa parece vincular-se à primeira constatação, decorrendo 
do fato de que ao se colocar na linha e ritmo de um modelo 
já constituído de filosofia, ele está assumindo simultaneamente 
três elementos: uma temática, uma teoria do filosofar e uma 
metodologia de reflexão. Filosofar parece, então, ser assumido 
como preceder de modo igual ao dos representantes mais 
significativos do modelo seguido” (SEVERINO, 1999, p. 25). 
No último capítulo, o autor trata da Filosofia da Educação como 
uma “dimensão política e educacional no discurso filosófico”. 
Este último capítulo trata do mesmo texto, com alguns ajustes, 
que anunciamos acima com data de 1993.
O que é Filosofia da Educação, livro publicado em 1999, 
sob a coordenação de Paulo Guiraldelli Jr., é uma coletânea 
de vários artigos: sendo quatro de autores estrangeiros e seis de 
brasileiros. Os textos estão assim colocados: “O que é filosofia 
da educação” – uma discussão metafilosófica: Do advento dos 
tempos modernos à reconstrução da Filosofia da Educação pelo 
Neopragmatismo nos tempos contemporâneos, escrito por Paulo 
Guiraldelli Jr. Segundo o próprio autor, o texto tenta responder 
à pergunta “o que é Filosofia da Educação”; este texto divide-se 
em seis partes:
 �O chamado pensamento moderno e a filosofia moderna, 
de base iluminista e romântica, nos quadros do humanismo. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 201
 �Crítica à filosofia da consciência ou filosofia do sujeito, 
o núcleo central,metafísico-epistemológico, do pensamento 
humanista e da filosofia da educação moderna. 
 �Exposição sobre o que alguns pensadores e algumas 
correntes reservaram à filosofia da educação nos tempos 
contemporâneos. 
 � Impasses da filosofia social e política da educação, 
ainda comprometida com o pensamento moderno e, portanto, 
sujeita às críticas desenvolvidas contra a filosofia da consciência 
e/ou filosofia do sujeito. 
 �O projeto neopragmatista. 
 �Avaliação das responsabilidades de uma filosofia da 
educação neopragmatista, incluindo uma definição a respeito da 
filosofia da educação. (GUIRALDELLI, 1999, p. 7). 
Outra produção, Filosofia da Educação, editado pela 
DP&A, em 2000, de Paulo GUIRALDELLI Jr, faz parte da 
coleção “o que você precisa saber sobre”. Segundo o autor, o 
livro trata dos debates internos à filosofia da educação moderna, 
destacando J. F. Herbart, Jonh Dewey, Émile Durkheim e Paulo 
Freire. Também disserta sobre o que acontece com a filosofia da 
educação em uma situação pós-moderna. Explica com detalhes 
e de forma didática as alterações nas teorias de verdade das 
filosofias, o nascimento de posturas minimalistas no campo das 
teorias de verdade e a ligação disso tudo com novas perspectivas 
na filosofia da educação. Destaca então a transição do moderno 
para o pós-moderno, enfatizando a colaboração dos filósofos 
atuais como Willard V. Quine, Donald Davidson e Richard 
Rorty. (GUIRALDELLI JÚNIOR, 2000).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação202
Filosofia da Educação, 
Contemporaneidade e Subjetividade
OBJETIVO
O período que compreende a Filosofia Contemporânea é de 
meados do século XX até os dias atuais. Nos anos de 1990, 
com o enfraquecimento da teoria marxista, os pensamentos dos 
filósofos pós-estruturalistas como Michel Foucault, Jacques 
Derrida, Giles Deleuze, Felix Guattari, Jean Baudrillard, 
Judith Butler, Luce Irigaray, Julia Kristeva, Hèlene Cixous e 
Jean-François Lyotard são verdadeiramente importantes para 
a Filosofia da Educação, especialmente no que se refere ao 
tratamento que eles fornecem aos problemas contemporâneos. 
Além da corrente francesa pós-estruturalista, ainda temos outros 
filósofos que conquistaram grande visibilidade, tais como: 
Frantz Fanon, Thomas Kuhn, Jugen Habermas, Richard Rorty, 
Edward Said, Henry Odera Oruka, Peter Singer e Slavoj Zizek. 
Os temas tratados por grande parte desses filósofos 
correspondem às questões próprias do século XX e início do século 
XXI. Temas nunca antes tratados como o multiculturalismo, o 
feminismo, seres sencientes, a sexualidade e a homossexualidade, 
por exemplo, foram inseridas no pensamento filosófico 
ocidental, bem como os assuntos referentes às questões raciais 
e étnicas. Do pós-modernismo, adquiriram-se os diversos tipos 
de relativismo, como o psicológico, epistemológico, cultural, 
entre outros. Vale ressaltar, contudo, que essas duas correntes 
intelectuais – o pós-modernismo e o pós-estruturalismo – não 
são delimitadas por diferenciações rigorosas no que diz respeito 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 203
às teorias educacionais, por isso é comum que as duas sejam 
enquadradas como pós-modernistas (PORTO, 2006).
Conforme nosso atual contexto sócio-histórico, o que 
compreendemos como educação na contemporaneidade revela 
os limites dos modelos ético-políticos das tradições racionalista 
e metafísica da modernidade. A educação começa a perpassar 
por um âmbito antropológico e psicológico, além naturalmente 
das dimensões éticas e políticas.
Um dos temas problematizados pela filosofia 
contemporânea é a questão da “verdade”. “Como ocorre 
que o sujeito humano se torne ele próprio um objeto de saber 
possível; por meio de que formas de racionalidade, de que 
condições históricas e, finalmente, a que preço?”, questionou 
Michel Foucault (2013, p. 334) em uma entrevista concedida 
ao filósofo Gérard Raulet, publicada em 1983, na revista Telos. 
Iniciar essa seção por meio do questionamento de Foucault – por 
uma pergunta que é, antes de tudo, genealógica sobre os modos 
como as verdades determinam, em maior ou menor grau, o que 
somos e o que podemos ser em um determinado contexto – nos 
permite trazer uma questão cada vez mais urgente e necessária: a 
necessidade de assumirmos uma postura problematizadora diante 
dos modos como nos constituímos como sujeitos inscritos nas 
políticas da verdade, sobretudo em suas dimensões ontológicas e 
epistemológicas. No tocante ao campo epistemológico, Foucault 
(2010) evidenciou como, a partir da modernidade, a relação 
do sujeito com a verdade se efetiva, muito singularmente, 
intermediada pela razão e pelo conhecimento. Para o autor, é a 
partir deles e de sua complementaridade irrenunciável, que as 
condições de acesso do sujeito à verdade podem ser definidas. 
Foucault (2014, p. 185) destaca,com base em Nietzsche, que, de 
fato, somos até hoje herdeiros dessa inextricável relação a partir 
da qual o que entendemos como conhecimento (na qualidade 
de produção de um sujeito cognoscente) se torna sinônimo de 
verdade.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação204
Qual a importância disso para as questões aqui discutidas e 
para a Filosofia da Educação? É no jogo do verdadeiro e do falso, 
em que o conhecimento ocupa lugar ímpar para a consolidação 
de um dado saber como verdade, que a dimensão ontológica 
da política da verdade emerge e atua na produção de sujeitos. 
Afirmar sobre o modo como a verdade atua ontologicamente 
implica entender o quanto ela se faz próxima, nos mínimos 
gestos, daquilo que somos (ou devemos ser) enquanto sujeitos. 
Entendida como forma também de poder, a verdade “aplica-
se à vida cotidiana imediata que categoriza o indivíduo, marca-o 
com sua própria individualidade, liga-o à sua própria identidade, 
impõe-lhe uma lei de verdade que devemos reconhecer e que os 
outros têm de reconhecer nele” (FOUCAULT, 2010a, p. 278). 
Logo, entendemos que a verdade pode, no sentido da sujeição, 
estabelecer relações de reconhecibilidade em que os marcos 
normativos de uma ontologia do sujeito, instituídos pelas redes 
de saber-poder, determinam o que é permitido ou proibido ao 
indivíduo:
Em Foucault, parece, há um preço por se dizer 
a verdade sobre si mesmo, precisamente porque 
o que constitui a verdade será enquadrado por 
normas e modos específicos de racionalidade que 
emergem historicamente e são, nesse sentido, 
contingentes. Na medida em que dizemos a 
verdade, conformamo-nos a um critério de 
verdade e aceitamos esse critério como o que 
nos vincula a nós mesmos. [...] Portanto, dizer a 
verdade sobre si mesmo vem com um preço e o 
preço é a suspensão de uma relação crítica com 
o regime de verdade em que se vive. (BUTLER, 
2005, p. 121-122)
O que Butler nos indica, baseada em Foucault, é que não 
somos meros efeitos dos regimes de verdade; antes disso, os 
atos de verdade a que somos convocados em nossa cultura nos 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 205
constituem (e, de modo paralelo, são por nós constituídos) a certo 
preço como sujeitos, e isso de modo historicamente contingente. 
Quando a autora afirma que esse preço implica a suspensão 
de uma relação crítica com um regime de verdade, ela mostra o 
quanto a adesão a ele implica uma negação de sua historicidade. 
Ou seja, Butler destaca que a edificação de certo conhecimento 
tido como a verdade pressupõe, em algum sentido, exorcizá-lo 
de sua historicidade, pressupondo-o como ahistórico. Como, 
então, se efetiva a resistência a um tipo de poder que não exige 
somente a obediência, mas que nos convoca a atos de verdade 
que correspondem à manifestação constante daquilo que se é – 
a atos de verdades que dizem respeito aos nossos desejos? É, 
pois, no conceito de crítica foucaultiano, que se encontra uma 
possibilidade de pensar em formas de resistência aos modos 
de sujeição às verdades. A crítica, concebida como uma atitude 
diante do mundo, nos coloca diante de uma questãotão direta 
como complexa: como não ser governado pelas verdades 
hegemônicas de nosso tempo?
Para Foucault, enquanto atividade questionadora dos 
modos como somos governados por certas verdades, a crítica 
diz respeito a uma atitude diante do mundo, um modo de 
transformação e mesmo de criação do pensamento:
Fazer a crítica é tornar difícil os gestos mais 
simples. Nessas condições, a crítica (e a crítica 
radical) é absolutamente indispensável para a 
transformação, pois uma transformação que 
ficasse no mesmo modo de pensamento, uma 
transformação que só fosse uma certa maneira de 
melhor ajustar o mesmo pensamento à realidade 
das coisas, não passaria de uma transformação 
superficial. Em compensação, a partir do momento 
que começamos a não mais poder pensar nas coisas 
como nelas pensamos, a transformação torna-se, 
ao mesmo tempo, muito urgente, muito difícil e 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação206
absolutamente possível. (FOUCAULT, 2013b, p. 
356-357).
IMPORTANTE
A crítica é uma forma de colocar em movimento uma 
transformação do pensamento, como um trabalho de constante 
questionamento do que somos e do que podemos ser. De algum 
modo, a crítica diz do ato de fraturar as verdades das quais 
somos sujeitos. Portanto, ela é um exercício que pode deslocar 
o pensamento da ordem da sujeição, inscrevendo-o, mesmo que 
de forma provisória, como possibilidade de resistência e de luta 
às formas instituídas pelas quais nos fazemos sujeitos em nossa 
cultura. 
Outro filósofo da corrente pós-estruturalista que escolhemos 
destacar nessa unidade dedicada à Filosofia Contemporânea 
é o francês Gilles Deleuze (1925-1995). Deleuze, na década 
de 1960 e início da década de 1970, realizou ensaios sobre o 
estruturalismo, tendo a intenção de fazer modificações e levá-
lo a radicalidade. No texto chamado Diferença e Repetição, ele 
reflete sobre o quanto que o estruturalismo poderia se tornar 
radical, vindo a ser, portanto, o pós-estruturalismo. Ao mesmo 
tempo, ele tem uma visão do pensamento de que os conceitos 
podem se modificar, resistindo à ideia de fixidez ou, em outras 
palavras, aos conceitos identitários. Aliás, o rígido para ele é 
sempre sinal de repetição e que não favorece os signos da 
diferença (os simulacros). Por isso, uma das questões centrais 
para entendermos sua filosofia refere-se ao tratamento da 
diferença no interior das repetições a fim de se evitar a repetição 
e a rigidez.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 207
DEFINIÇÃO
Simulacro
O conceito de simulacro tenta dizer que um signo não é uma 
relação entre identidades, mas uma sensação individual ligada a 
um movimento dentro de várias identidades e com variações dentro 
das estruturas. O simulacro deve ser pensado em termos de todos 
os processos que ele une. Só que isso não significa que podemos 
sintetizar uma representação total do simulacro. Ainda em relação 
aos simulacros, para Deleuze, Derrida e Foucault, não há nenhuma 
origem, ou um pensamento fundante, apenas uma cadeia de 
simulacros interconectados. Nada existe fora dessas cadeias.
Mas o que Deleuze entende por estruturalismo? Surpreen-
dentemente, para ele a estrutura não se define como um simples 
modelo teórico de uma coisa estruturada. Não é simplesmen-
te uma representação das coisas. Pelo contrário, ela é definida 
como uma condição necessária para a transformação e uma parte 
viva das coisas. Pós-estruturalismo, para ele, é a percepção de 
que a estrutura pode ser vista como o limite do conhecimento de 
qualquer coisa. E esse limite é a condição para possíveis trans-
formações.
Então, em relação ao estruturalismo e ao pós-
estruturalismo, podemos chegar à seguinte conclusão: ambos 
não podem ser entendidos de maneira oposicional. Eles 
se relacionam. O pós-estruturalismo deve ser visto com a 
transformação do estruturalismo. Temos que ir para além dos 
conceitos de representação e identidades fixas e imutáveis. As 
respostas que ele dá são em termos de características formais, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação208
e não de definições essenciais. Deleuze explica como as coisas 
funcionam, e não como elas são.
Estruturalismo e pós-estruturalismo trabalham com 
relações e mudanças que acontecem no interior de diferentes 
sociedades. Ambos operam com as condições relacionais para 
entender o aparecimento de situações, que podem ser referidas na 
linguagem, como também sentidas. Deleuze traz o estruturalismo 
a um compromisso com a rede de conexões e podemos dizer 
que isso é uma característica de sua filosofia. Para ele, é 
incoerente uma verdade final ou o conhecimento completo 
e absoluto sobre um conteúdo particularmente. Há sempre 
mais combinações possíveis além daquelas referidas numa dada 
situação. E, talvez o mais importante aqui para os educadores, 
é perceber que os signos são múltiplos, são estruturas móveis 
de relações aos invés de pares binários, sempre em oposição e 
imutáveis. Enfim, Deleuze propõe a abertura para entendermos 
os fenômenos da vida desde que haja oposição a uma única 
determinação causal. 
RESUMINDO
Em se tratando das relações estruturais, há uma determinação/
relação recíproca de uma estrutura pela outra. Uma relação 
numa estrutura não tem nenhum sentido independente. É uma 
via de mão dupla. Todas as coisas estão conectadas e não há 
nada transcendente ou que está num nível superior, causando a 
realidade. Deleuze, então, privilegia a multiplicidade de relações 
sobre seus elementos ou sobre suas relações individuais. A 
importância disso está no fato de que não compreendemos as 
situações e os fenômenos de uma maneira completa se não dermos 
conta das possíveis estruturas que são correlatas. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 209
Se o pós-estruturalismo se opõe a verdades fundantes, este 
posicionamento requer uma maneira diferente de formularmos 
perguntas e respostas. Aqui ele foca numa faceta muito 
importante do pós-estruturalismo, abordando a importância 
do conceito do problema, ao lado do conceito da questão. Na 
verdade, Deleuze privilegia os problemas mais que as questões. 
Os problemas são inacabados, contínuos e se inter-relacionam. 
Já as questões, são limitadas pelas respostas. Nesse sentido o 
autor dá exemplos de perguntas que devem ser evitadas em 
função de questões particularmente mais complexas. Enfim, 
para Deleuze, um problema é determinado pelo modo no qual 
diferentes estruturas se encontram e se chocam. Exemplo disso 
é o choque de culturas que, na perspectiva pós-estruturalista, tal 
choque acaba definindo elas mesmas.
Por conseguinte, a pretensão do sujeito como um “ser 
fundamento da verdade” (no conhecimento) ou não ação (pelo 
livre arbítrio) é ilusória. O sujeito perde sua estabilidade em 
razão da sua relação com lugares vazios de indeterminação e 
com eventos que fogem à sua compreensão. Sempre há algo que 
não podemos dar conta ou compreender. Só que Deleuze não 
se opõe ao sujeito. Suas observações sobre ele não têm nada 
a ver com a ideia de sua eliminação (fim do sujeito) ou com a 
ideia de que podemos ultrapassá-lo. O seu sujeito, portanto, não 
é fixo e não tem uma identidade única, pois ele é, conforme suas 
palavras, “móvel, nômade e singular”. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação210
REFLITA
O que é interessante pensar aqui é justamente sobre o lugar 
das diferenças entre os indivíduos. Essas diferenças exigem, 
então, uma nova política e ética, uma vez que nos levam a ir 
além das noções acerca de normas e valores intersubjetivos 
compartilhados. Ou seja, nos forçam a ir além das verdades 
significativas em comum e dos determinismos pré-estabelecidos. 
Por fim, para Deleuze não há propriamente uma forma 
verdadeira de pensamento externo, pois não há fundamento 
no qual ela pudesse se apoiar. Por isso o pós-estruturalismo é 
antifundacional e aberto a um modo construtivo do pensamento. 
As cadeias de pensamento começam com encontros ao acaso e 
por isso o pensamentoé uma relação com algo inesperado. Isso 
implica que ele deve ser uma prática criativa ao invés de um 
corpo fechado e definido de conhecimento.
Produção de Subjetividades
Com muita frequência vê-se a transformação do homem 
naquilo que ele precisa se tornar como uma responsabilidade 
da educação, ou da psicologia, no entanto, nem todos os 
teóricos concordam com essa visão. Contudo, a Filosofia da 
Educação na contemporaneidade precisa enfrentar justamente 
esse problema, quando se faz a relação entre a educação e o 
projeto antropológico. Pensar a constituição e a experiência da 
subjetividade na prática educativa é o maior desafio. 
O debate acerca do que se convencionou nomear 
amplamente de “subjetividade” vem de longe. Os esforços 
para enfrentar o desafio da compreensão da “vida subjetiva”, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 211
estabeleceram-se desde sempre no contraponto com a “vida 
objetiva”, explicitando duas dimensões fundamentais da 
condição humana: a objetividade – externa, material, coletiva, 
prática - e a subjetividade - interna, afetiva, espiritual, individual, 
emocional. Esses esforços podem ser apreendidos em boa parte 
da discussão acerca da relação entre indivíduo e sociedade, que 
sempre ressoou a relação entre a subjetividade e a objetividade.
Pode-se ponderar que não existem mais dúvidas a esse 
respeito no campo das ciências filosóficas, historiográficas 
e práticas sociais. Afinal, ninguém discordaria de um autor 
(filósofo, historiador, sociólogo, antropólogo, educador, entre 
outros) que postulasse as seguintes observações: 
 Que a relação entre indivíduo e sociedade implica a 
consideração da subjetividade e da objetividade na perspectiva 
da constituição recíproca de um e de outro. Este seria o campo 
da intersubjetividade. 
1. Que a determinação social da vida subjetiva e a 
determinação subjetiva na vida social não estão mais em questão 
porque esse é um pressuposto que restou suficientemente 
provado na história e no debate travado nas ciências humanas e 
sociais em geral. 
2. Que não é mais suficiente entregar a subjetividade 
somente à responsabilidade e aos contornos da Psicologia. 
3. Que não é possível continuar questionando 
socraticamente a psicologia para obrigá-la a confessar que não 
pode definir, por si, os fundamentos da subjetividade. 
4. Que a psicologia não detém o “segredo” da subjetividade 
porque esse “segredo” não é de ordem exclusivamente 
psicológica. Pode-se, enfim, ponderar que a questão da 
relação entre objetividade e subjetividade, entre sociedade e 
indivíduo, não estaria mais em questão e, portanto, não haveria 
mais por que indagá-la. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação212
Se assim fosse, estariam superadas, no pensamento 
contemporâneo, as tendências de se considerar o indivíduo e 
a sociedade, a subjetividade e a objetividade, como realidades 
distintas especialmente num momento em que se afirma e 
valoriza a subjetividade.
IMPORTANTE
Contudo, a realidade não confirma essa afirmação. O suposto da 
unidade entre objetividade e subjetividade é apenas retórico e 
o dilema secular se atualiza e se complexifica no presente, seja 
quando alterna a ênfase sobre o indivíduo e a sociedade, sobre 
a subjetividade e a objetividade, quando dilui um no outro ou 
quando conserva a integridade ativa e absoluta de um frente a 
passividade de outro.
Não seria exagero considerar que algo parece anunciar 
a emergência da subjetividade como uma, senão a grande 
novidade a ser enfrentada pelas ciências sociais e humanas 
na contemporaneidade. Estranhamente, é justo quando o 
processo de individualização do homem alcançou patamares 
nunca imaginados que se reportam à subjetividade como uma 
grande inovação contemporânea. Justo quando declinam, as 
possibilidades de autonomia e emancipação do sujeito, postula-
se o aparecimento da subjetividade como questão a ser debatida.
Para além da subjetividade, temos também outro 
importante conceito, a intersubjetividade. Ela refere-se à relação 
entre as várias dimensões que afetam o sujeito, à interação das 
várias particularidades e a tudo o que se refere à singularidade 
dos sujeitos. A própria comunidade dos indivíduos constitui 
uma rede de intersubjetividades na qual cada ponto afeta de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 213
alguma maneira o outro, produzindo indeléveis ou explícitas 
pressões que impõem um certo horizonte de possibilidades às 
experiências vividas. 
Nessa direção, acreditamos na possibilidade de vislumbrar 
a positividade da subjetivação como resistência, singularidade 
e produção de diferença. Para o francês Félix Guattari, na 
obra escrita com a brasileira Suely Rolnik, Micropolítica: 
Cartografias do desejo, importa pensarmos em uma subjetividade 
descentrada, múltipla, nômade, que dialoga com a superfície e 
não com o fundamento, a substância em si. Busca-se pensar uma 
subjetividade construída na imanência (aqui e agora). Ela não 
é mais substância ou fundamento fixo, mas superfície, fluxos 
de vida e singularidades. Guattari explica que devemos nos 
afastar da ideia de que as representações, papéis identitários 
e ideologias são colocadas às pessoas no que diz respeito à 
produção subjetiva.
IMPORTANTE
Contra a existência de uma lógica da identidade, Guattari mostra 
que os conceitos de “totalidade”, “unidade”, “fundamento” e 
“substância” são traços predominantes da filosofia metafísica 
e representacional. Por isso que ele faz um elogio ao campo 
da micropolítica: ao devir, ao transitório, à multiplicidade, ao 
diverso, à diferença, como elementos capazes de mostrar outro 
sentido para a compreensão da vida.
Para Guattari, conforme a filosofia metafísica, as 
subjetividades são cortadas de suas realidades políticas, de 
suas condições de produção, de sua polifonia constitutiva e de 
seu caráter processual, uma vez que elas se particularizam e se 
autonomizam na esfera individual. Isso é válido no sentido de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação214
não pensarmos a representação do mundo na consciência de um 
sujeito autônomo, mas que nele se exprimem uma multiplicidade 
de objetos e de signos concatenados para formar um gosto, um 
jeito de vestir, um modo de viver e pensar.
Devemos não mais falar em sujeito dado a priori, mas em 
agenciamentos coletivos de enunciação, “máquinas de produção 
subjetiva, concerto polifônico de vozes, devires imperceptíveis, 
mutações afetivas e outras sensibilidades” (GUATTARI; 
ROLNIK, 1999, p. 45). Devemos focar no descentramento da 
questão do sujeito para a da produção de subjetividade, pois esta, 
como nos diz Guattari (Ibid., p.28) “constitui matéria-prima de 
toda e qualquer produção”.
E quais condições podem estar relacionadas à produção 
de subjetividade dos indivíduos? Estão implicadas nesta questão 
a manifestação linguagem, as instâncias etológicas (costumes 
e hábitos de uma cultura), as experiências transgeracionais e 
familiares, as interações institucionais de diferentes naturezas, 
as referência musicais, literárias, artísticas e estéticas, as formas 
comunicacionais (vide as redes sociais e outros dispositivos 
ligados a rede mundial de computadores), entre outros. Para o 
educador, portanto, seria interessante considerar um universo 
múltiplo que constitui a subjetividade de seus alunos, e não 
somente instâncias tradicionais, como igreja, estado e escola.
Para Guattari e Rolnik, a subjetividade é uma trama que não 
está dada, mas que está em composição contínua com diferentes 
arranjos, sendo assim, ela não está na ordem do “identificado”, 
como uma espécie de moldura formatada e fixada que leva à 
padronização do indivíduo a ser conhecido e reconhecido, pois 
“a subjetividade não é passível de totalização ou centralidade no 
indivíduo” (por isso fala-se em sujeitos descentrados).
Ela está sempre em processo e identificada no registro 
social e cultural. Já que ela não pode ser identificada, como que 
o educador poderá falarde “visão 
de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição 
organizada para o agir (LUCKESI, 1993, p. 23). As finalidades 
das ações tomadas por todos nós são aquelas que configuram 
um sentido para a existência, em suas mais variadas dimensões.
É interessante notar que a Filosofia dos gregos revela, 
como aponta Russel, a influência de certo número de dualismos 
para compreender o mundo (verdade x falsidade, certo x errado, 
justo x injusto, bem x mal, bom x ruim, harmonia x discórdia 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação22
RESUMINDO
etc.). O pensamento ocidental, portanto, tem em sua base o 
dualismo como maneira de perceber e interpretar o mundo e 
seus fenômenos. Sob uma ou outra forma, esses continuaram 
sendo tópicos sobre os quais os filósofos escrevem e discutem. 
“Por conseguinte, vem o dualismo da aparência e da realidade, 
muito vivo nos dias de hoje” (RUSSEL, 2013, p. 21). Junto com 
eles temos as questões da mente e da matéria, da liberdade e da 
necessidade, além de existirem as questões cosmológicas, que 
se referem a perguntas como: se as coisas são uma ou muitas; 
simples ou complexas e, finalmente, os dualismos do caos e da 
ordem, do ilimitado e do limite.
Neste capítulo, abordamos o conceito da Filosofia e estabelecemos 
relação com as suas origens, além de estudarmos as principais 
críticas aos sofistas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 23
Sócrates, Platão, Aristóteles e seus 
Lugares na História da Filosofia
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de reconhecer 
as bases teóricas que fundamentam a história da Filosofia da 
Educação a partir dos estudos de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates
As três maiores figuras da Filosofia grega estão ligadas 
a Atenas. Sócrates e Platão eram atenienses de nascimento 
e Aristóteles ali estudou e mais tarde ensinou. Sócrates (469- 
399 a.C.) nasceu em Atenas e foi condenado por “impiedade”, 
ou seja, sua condenação foi baseada em acusações de não crer 
nos deuses da polis e corromper os jovens. Esse filósofo viveu 
o apogeu e a crise da democracia ateniense. Atenas, após a 
vitória sobre os persas, havia se tornado uma grande potência, 
estendendo sua influência por quase toda a Grécia (ABRÃO, 
1999, p. 41). A vida cultural é intensa, com grandes escultores 
e artistas, dramaturgos como Ésquilo, historiadores (Heródoto 
e Tucídides), o médico Hipócrates e os homens públicos como 
Péricles.
Contudo, a hegemonia de Atenas fez crescer rivalidades 
com Esparta, as quais culminariam na Guerra do Peloponeso 
em 431 a.C. O conflito durou décadas, findando em 404 a.C. 
com a derrota de Atenas. O regime democrático ateniense se 
enfraqueceu em função de intrigas, conspiração e corrupção. 
OBJETIVO
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação24
DEFINIÇÃO
 A crise de valores políticos e morais é muito significativa nesse 
contexto histórico de forma que a condenação de Sócrates, em 
399 a.C., é uma “triste metáfora da decadência da democracia 
e da própria Atenas” (ABRÃO, 1999, p. 42).
Encontramos em Sócrates um precursor das escolas 
estoica e cínica do período posterior da Filosofia grega. Com 
os cínicos, compartilha a sua própria despreocupação para com 
os bens terrenos e com os estoicos, o seu interesse pela virtude 
como o maior dos bens. Sabe-se que realizou seu ensino em 
locais públicos e era considerado um orador leigo. Como 
ele não deixou nada escrito, precisamos confiar nos escritos 
de dois de seus discípulos: o general Xenofonte e o Platão. 
O principal interesse de Sócrates, como mostra os diálogos 
de Platão, incide na busca e definição de termos éticos, como 
sabedoria, beleza, moderação, amizade, justiça e coragem. 
É interessante perceber que não nos são dadas respostas 
definitivas a tais questões, mas nos é mostrada a importância 
de fazê-las (RUSSEL, 2013, p. 77).
Terminologia ou expressões comumente ligadas ao 
filósofo: daimon (voz divina particular), maiêutica socrática, 
“conhece-te a ti mesmo”, alma (psyché), felicidade (eudaimonia).
O método de ensino socrático ficou conhecido como maiêutica, 
que significa “parto do conhecimento”, em que o aprendiz 
desenvolvia raciocínios dedutivos até gerar o conhecimento. A 
ação de Sócrates era induzir ao desvelar o que o aluno já tinha 
em sua alma (psyché), por meio de um rigoroso questionamento.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 25
Isto ressalta a linha fundamental do pensamento 
socrático. Embora ele sempre diga que nada sabe (“só sei 
que nada sei”), não considera que o conhecimento esteja 
além do nosso alcance. O importante é o dever de tentar a 
busca do saber. Sócrates sustenta que o que faz o homem 
errar é a falta de conhecimento pois, se soubesse, não erraria. 
A causa dominante do mal seria a ignorância de modo que, 
para se alcançar o Bem e o conhecimento, precisamos possuir 
conhecimento. O vínculo entre o Bem e o conhecimento é 
um marco presente em todo pensamento grego. É interessante 
notar que a ética cristã se opõe a esse pensamento. Para ela, 
o importante é o sujeito possuir um coração puro, e isto 
provavelmente se encontra com mais facilidade entre os 
ignorantes (RUSSEL, 2013, p. 77).
Sócrates tentou esclarecer os problemas éticos por meio da 
discussão. Esse modo de descobrir as coisas mediante perguntas 
e respostas é chamado de dialética, da qual Sócrates foi um 
mestre.
Para Sócrates, conhecer a virtude tornou-se o principal 
objetivo do verdadeiro conhecimento, de tal forma que 
virtude e conhecimento tornam-se sinônimos. Com Sócrates, 
as questões morais deixam de ser tratadas como convenções 
baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme 
as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas 
que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse 
sentido, ele é fundador da Ética. Pensar racionalmente as 
questões morais implica denunciar tudo aquilo que aparece 
como virtude, desmascarando-o na sua falsidade. Com isso, 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação26
SAIBA MAIS
Ética
Definição
Origem
Por que
seguimos
Flexibilidade
Exceções
Significado
Exemplo
Moral
A ética é o estudo e a reflexão 
sobre a moral, das regras de 
conduta aplicadas a alguma 
organização ou sociedade.
Individual
Porque acreditamos que algo 
é certo ou errado.
A ética é normalmente 
consistente, embora possa mudar 
caso as crenças de um indivíduo 
mudem ou dependendo de 
determinada situação.
Uma pessoa poderá ir contra 
sua ética para se ajustar a um 
determinado princípio moral, 
como o código de conduta de 
sua profissão.
Ética vem da palavra grega 
«ethos” que significa conduta, 
modo de ser.
João teve uma atitude antiética 
ao furar a fila do banco.
A moral se refere às regras de 
conduta que são aplicadas a 
determinado grupo e cultura.
Sociedade
Porque a sociedade nos diz o que 
é certo ou errado.
A moral tende a ser consistente 
dentro de um determinado contexto, 
sendo aplicado da mesma forma a 
todos. Porém, pode variar de acordo 
com cada cultura ou grupo.
Uma pessoa que segue 
rigorosamente os princípios 
morais de uma sociedade pode 
não ter nenhuma ética. Da mesma 
forma, para manter sua integridade 
ética, pode violar os princípios 
morais dentro de um determinado 
sistema de regras.
Tem origem na palavra latina 
“moralis”, que significa 
“costume”.
No Brasil é imoral ter mais 
de uma esposa, enquanto em 
alguns países, como a Nigéria, é 
moralmente aceito.
Fonte: https://www.diferenca.com/etica-e-moral/
Sócrates põe o dedo na ferida da própria Atenas, que havia 
mergulhado em corrupções e fingia ser justa.
Principal diferença entre moral e ética.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 27
Sócrates simplesmente questiona, não ensina nem quer 
aprender. Seu pensamento parece desprovido de conteúdo direto. 
Mesmo assim, ele propõe algo ao desestruturar as respostas 
fáceis de seus interlocutores, mostrando que o pensamento 
deve ser prudente. Se as respostas são formuladassobre a subjetividade? Percebendo-a 
como um processo em construção no registro social: ora, a 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 215
subjetividade não se situa no campo individual, “seu campo 
é o de todos os processos de produção material e social, de 
máquinas de produção e de agenciamentos de enunciação 
(GUATTARI, F. 1992, p. 11). A subjetividade está em circulação 
nos conjuntos sociais. Ela é essencialmente social, e assumida e 
vivida por indivíduos em suas existências particulares (os quais 
podem aceitar ou resistir por meio de processos singulares). 
A subjetividade é polifônica, é plural, “e que não há nenhuma 
uma única instância estruturante e dominante que a determine 
segundo uma causalidade unívoca” (GUATTARI, F. 1992, p. 
11). A subjetividade interage, sofre variações, produz sentidos, 
contra-sentidos, opera modos coletivos e heterogêneos. Há uma 
subjetividade que dialoga com o outro.
O subjetivo aqui não tem a ver com uma outra camada 
ligada à psique, aos sentimentos ou ao obscurecido. A 
subjetividade não é oposição binária ao material, mas ao 
contrário, “a produção de subjetividade constitui matéria-prima 
de toda e qualquer produção objetiva” (GUATTARI, 1992). 
Nesse sentido, para os autores, não existe uma contraposição 
entre relações econômicas e subjetivas, pois elas são ao mesmo 
tempo materiais e semióticas. A diferença está, portanto, no 
olhar que não deve estar atento para os fatores determinantes de 
uma produção ou outra, mas antes, perceber as linhas e conexões 
entre elas. Como o próprio autor mesmo declara: toda a questão 
está em elucidar como os agenciamentos de enunciação reais 
podem colocar em conexão essas diferentes instâncias.
É sempre possível resistir ao presente, escapar das 
modelizações dominantes e dos clichês, apropriar-se 
diferentemente do que nos é oferecido cotidianamente pela 
televisão, pelo cinema, pelo patrão, pelo cônjuge, pela escola 
ou pelo outdoor, pois “esse desenvolvimento da subjetividade 
capitalística traz imensas possibilidades de desvio e 
singularização” (GUATTARI; ROLNIK, 1999). Em resumo, 
é sempre possível atrever-se a singularizar (DELEUZE, 1997; 
GUATTARI; ROLNIK, 1999):
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação216
A essa máquina de produção de subjetividade 
eu oporia a ideia de que é possível desenvolver 
modos de subjetivação singulares, aquilo 
que poderíamos chamar de ‘processos de 
singularização’, uma maneira de recusar esses 
modos de codificação preestabelecidos, todos 
esses modos de manipulação e tele comando, 
recusá-los para construir, de certa forma, modos 
de sensibilidade, modos de relação com o outro, 
modos de produção, modos de criatividade que 
produzam uma subjetividade singular. Uma 
singularização existencial que coincida com um 
desejo, com um gosto de viver, com uma vontade 
de construir o mundo no qual nos encontramos, 
com a instauração de dispositivos para mudar os 
tipos de sociedade, os tipos de valores que não são 
os nossos. (GUATTARI; ROLNIK, 1999, p.16-17)
Quanto ao processo de singularização: ele é automodelador 
e tem o caráter de autonomia. Ele constrói seus próprios tipos de 
referências práticas e teóricas, sem ficar na posição de dependente 
em relação a um poder. Isso ocorre a partir do momento em que 
os grupos adquirem liberdade de viver seus processos, e assim 
eles passam a ter uma capacidade de ler suas próprias situações 
e aquilo se passa em torno deles. Essa capacidade é que vai lhe 
dar um mínimo de possibilidade de criação e permitir preservar 
esse caráter de autonomia que é tão importante. 
Por isso, o processo de singularização é algo que frustra 
os mecanismos de interiorização dos valores capitalísticos. 
Ele conduz a afirmações de valores num registro particular, 
independente das escalas de valor que nos cercam e espreitam. 
Guattari e Rolnik defendem, portanto, a ideia de um devir 
diferencial que recusa a subjetivação capitalística que teria como 
meta a padronização dos valores estéticos, artísticos, culturais, 
sentimentais, entre outros.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 217
Filosofia da Educação e Pós-Modernidade
O relacionamento entre a pós-modernidade e a Teoria 
Crítica, a Sociologia e a Filosofia é ferozmente contestado, e 
os termos “pós-modernidade” e “pós-modernismo” são difíceis 
de distinguir, sendo o primeiro muitas vezes o resultado do 
posterior. O período tem tido diversas ramificações políticas: 
suas “ideias anti-ideológicas” parecem ter sido positivamente 
associadas com o movimento feminista, aos movimentos de 
igualdade racial e a favor dos direitos dos homossexuais, a 
maioria das formas do anarquismo do final do século XX, 
de movimentos pacifistas e vários híbridos destes com os 
atuais movimentos antiglobalização. Apesar de nenhuma 
dessas instituições abarcarem inteiramente todos aspectos do 
Movimento Pós-Moderno, todos eles refletiram ou emprestaram 
alguma de suas ideias mais centrais.
Elegemos neste tópico tratar de alguns temas debatidos 
pela filósofa americana Judith Butler (1956-atual). No início 
do ensaio El no-pensamiento en nombre de lo normativo (2010), 
Butler diz que em um diálogo recente, o sociólogo britânico 
Chetan Bhatt, afirmou que na sociologia, assim como na teoria 
cultural ou nos estudos culturais, muitos de nós pressupomos 
um campo de verdades, um campo de conhecimento teórico 
ou e de inteligibilidade para descrever o “eu, o outro, o sujeito, 
a identidade e cultura”. E ele prossegue dizendo que não está 
seguro de que estas concepções tenham capacidade para abordar 
as transformações do mundo cotidiano, assim como a rápida 
transformação do que chamamos de identidade.
Em seguida, a própria estrutura discursiva do 
multiculturalismo ou dos direitos humanos, está tomando 
por suposição um tipo específico de sujeito que pode ou não 
corresponder às formas de vida que existem no tempo presente. 
Os sujeitos pressupostos pelos quadros liberais e multiculturais 
caracterizam-se por pertencer a certos tipos de identidades 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação218
concebidas como únicas, diferentes – ou individuais, ou então 
multiplamente determinados por listas de categorias que incluem 
etnia, classe, raça, religião, sexualidade e gênero.
Há questões muito importantes sobre se e como 
tais indivíduos podem ser representados no quadro desta 
normatividade. Dessa maneira, Judith Butler diz que é necessário 
fazermos perguntas para uma melhor compreensão de representar 
ou reconhecer os vários sujeitos. 
De fato, ela assume que nestas questões o problema é 
normativo, ou seja, devemos (1) interrogar qual é a melhor 
maneira, ao dispor do campo da política, para que possamos 
produzir o reconhecimento e a representação dos sujeitos. Não 
podemos responder a isso se, antes de tudo, não considerarmos 
a ontologia do sujeito cujo reconhecimento e representação 
está sendo avaliado. Mais ainda, qualquer indagação sobre a 
referida ontologia exige que consideremos outro nível em que 
opera o normativo, a saber, estamos situados mediante (2) 
normas que produzem a ideia de um humano merecedor de 
reconhecimento e representação. É necessário compreender a 
diferença de poder existente que distingue os sujeitos que seriam 
eleitos para o reconhecimento e os que não seriam. 
Neste ensaio, portanto, Butler tece suas críticas partindo 
do multiculturalismo e da política liberal. Já em artigo publicado 
originalmente em 1990, e depois em 1998 nos Cadernos Pagu, 
intitulado Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão 
do pós-modernismo, ela defende a ideia de que o feminismo, 
também deve estabelecer críticas sobre os processos que 
produzem e desestabilizam as categorias de identidade. No 
momento em que se invoca a categoria “mulheres”, descrevendo 
a clientela pela qual o feminismo fala, começa invariavelmente 
um debate duvidoso sobre o conteúdo descritivo do termo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 219Ela dá exemplos: há quem afirme haver uma especificidade 
ontológica das mulheres enquanto mães; há outras que entendem 
a maternidade como uma situação social específica da mulher; e 
há aquelas que recorrem a uma “especificidade feminina” que se 
manifesta nas comunidades e culturas.
Logo, qualquer esforço para dar conteúdo universal ou 
específico à categoria mulheres, ou “A Mulher”, produzirá 
necessariamente facções, e que, a “identidade”, como ponto 
de partida, jamais se sustentaria como base sólida de um 
movimento político feminista. As categorias de identidade nunca 
são meramente descritivas, mas sempre normativas e como tal, 
exclusivistas. Mas isso não quer dizer que o termo “mulheres” 
não deva ser usado. Ao contrário, se o feminismo pressupõe 
que “mulheres” designa um campo de diferenças indesignável, 
que não pode ser totalizado ou resumido por uma categoria de 
identidade descritiva, então o próprio termo se torna um lugar 
de permanente abertura e ressignificação. Desconstruir o sujeito 
do feminismo não é, portanto, censurar sua utilização, mas, ao 
contrário, liberar o termo num futuro de múltiplas significações, 
emancipá-lo das ontologias maternais às quais esteve restrito e 
fazer dele um lugar onde significados não antecipados podem 
emergir.
IMPORTANTE
A partir desta perspectiva, o cidadão é propriamente uma troca 
coalizada. Em outras palavras, Butler sugere que não há um 
sujeito individual (fixo) ou multiplamente determinado (fixo) 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação220
sem pensarmos num processo social dinâmico, um sujeito 
que está sendo constituído e reconstituído no transcurso do 
intercâmbio social. Quando se trata, então, de pensarmos sobre 
identidades, sujeito, entre outros, é claro que o problema não é 
somente ontológico, posto que as formas que tomam o sujeito, 
assim como os mundos cotidianos que não se enquadram nas 
categorias disponíveis, surgem à luz dos contextos históricos e 
geopolíticos. Não é somente atribuir ao sujeito o status de cidadão, 
mas é pensar que este status se determina e é reformulado nos 
transcurso das interações sociais. 
Em relação aos modos possíveis que podemos descrever os 
sujeitos, Butler prossegue em seu ensaio dizendo que poderíamos 
então sentir a tentação de formular uma nova concepção do 
sujeito, uma concepção que poderia denominar-se coalicional. 
Mas o que constituiriam as partes da dita coalizão? Diremos 
que existem vários sujeitos dentro de um único sujeito ou que 
existem partes que entram em comunicação umas com as outras? 
Cremos que a historiadora Guacira Lopes Louro, no livro Gênero, 
sexualidade e educação, nos ajuda com a seguinte reflexão: de 
fato, os sujeitos são, ao mesmo tempo, homens ou mulheres, 
de determinada etnia, classe, sexualidade, nacionalidade; são 
participantes ou não de uma determinada confissão religiosa ou 
de um partido político. Essas múltiplas identidades não podem, 
no entanto, ser percebidas como se fossem “camadas” que se 
sobrepõem umas às outras, como se o sujeito fosse se fazendo 
“somando-se” ou agregando-as. Em vez disso, é preciso notar 
que elas se interferem mutuamente, se articulam; podem ser 
contraditórias; provocam, enfim, diferentes “posições”. Essas 
distintas posições podem se mostrar conflitantes até mesmo para 
os próprios sujeitos, fazendo-os oscilar, deslizar entre elas – 
perceber-se de distintos modos. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 221
Ainda a respeito do sujeito coalicional, devemos perguntar 
também “o que exatamente é isso que seria reconhecido”. Por 
exemplo: é a homossexualidade da pessoa gay? É a crença 
religiosa do muçulmano? Se nossos quadros normativos 
pressupõem que esses traços ostensivamente definidores de 
sujeitos singularmente determinados com seus “próprios 
objetos”, então, o reconhecimento se converte em parte dessa 
mesma prática de ordenar e regular os sujeitos que seguem normas 
preestabelecidas. Se o reconhecimento reconsolida o “sujeito 
sexual”, o “sujeito cultural” e o “sujeito religioso”, entre outros, 
fazemos certo reconhecer os sujeitos por meio de tais motivos ou 
objetos? O que ocorre se os traços, mesmos que reconhecidos, 
resultam basear-se no fracasso do reconhecimento? 
Nesse sentido, como afirma Butler, o fato de que não 
pode surgir nenhum sujeito sem estar diferenciado tem várias 
consequências. No primeiro caso, um sujeito somente se torna 
“discreto” excluindo outras possíveis formações de si, ou uma 
série de “não eus”. No segundo caso, surge um sujeito mediante 
um processo de abnegação, descartando aquelas dimensões do 
ser que não se conformam com as figuras apresentadas pela 
normatividade do sujeito humano. 
De todo o resto, se o sujeito está sempre diferenciado, 
devemos entender que significa exatamente isto? Há uma 
tendência para entender a diferenciação tanto como um recurso 
interno de um sujeito constituído (o sujeito é diferenciado 
internamente e composto de várias partes que são mutuamente 
determinantes) e como um recurso externo. Sobre isto, Butler 
diz: “Qualquer diferenciação interna que eu poderia fazer entre 
as minhas partes ou minhas identidades resulta, de certa maneira, 
de unificar estas diferenças e, assim, reinstalar o sujeito como 
fundamento da diferença”(BUTLER, 2010, p. 63). Por sua vez, 
este sujeito obtém sua especificidade definindo-se contra o que 
está fora dele, de maneira que a diferenciação externa ressalta 
ser fundamental para explicar a diferença interna.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação222
A pessoa homossexual pode ser muçulmana ou não, e 
a pessoa muçulmana poder ser homofóbica ou não. Mas se o 
quadro do conflito cultural (gay frente o muçulmano) determina 
a maneira como concebemos estas identidades, então o 
muçulmano acabará definindo-se por sua ostensiva homofobia 
e o homossexual acabará definindo-se, segundo o quadro, 
como antimuçulmano e receoso da homofobia muçulmana. 
Isto é, ambas as posturas se definem a partir de uma relação 
mútua conflituosa, em cujo caso nos foram ocultados os pontos 
de convergência entre muçulmanos e gays. De fato, o marco 
da tolerância ordena a identidade segundo suas exigências e 
borra as completas realidades culturais das vidas dos gays e dos 
religiosos.
A consequência é que o quadro normativo opera sob certa 
ignorância sobre os “sujeitos” em questão, negando qualquer 
possibilidade de fazemos outras avaliações. Inclusive se necessita 
certo esforço para entender as realidades culturais designadas 
pelos “homossexuais” e “muçulmanos”, especialmente em seus 
mundos cotidianos e transnacionais. Afinal, entender esta relação 
implicaria considerar certo número de formações naquelas em 
que a sexualidade e a religião operam como veículos recíprocos 
ou, em algumas vezes, como antagonistas.
Com efeito, deve-se refletir sobre a afirmação, inclusive, de 
que a religião e a sexualidade podem constituir as únicas formas 
impulsionadoras para um determinado modo de vida. Trata-se 
então de criticarmos o quadro binário que dá por suposto que 
a religião e a sexualidade estão determinando por separada e 
exaustivamente a identidade do sujeito (como se houvesse 
duas identidades, distintas e opostas). Semelhante quadro não 
considera que, inclusive onde há antagonismos, isso não implica 
uma contradição ou um impasse com conclusões necessárias. 
O antagonismo pode ser vivido dentro e entre os sujeitos 
como uma força política e dinâmica. Assim, evita-se a forma 
de não-pensamento, ratificada por um modelo restritivamente 
normativo. Na realidade, o não pensamento é uma forma de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 223
avaliação que falsifica o mundo com o objetivo de apontar o 
juízo moral propriamente dito como signo de certo privilégio e 
de certa “perspicácia” cultural, uma maneira de manter tudo em 
ordem.
É importante ressaltar que Judith Butler, não obstante, 
não pretende refutar ou prejudicar as exigências regulamentares 
(soterraras normas), mas insistir que devemos conceber novas 
constelações de pensar sobre elas, pensar numa forma 
intelectualmente aberta e abrangente, a fim de capturar e 
avaliar o nosso mundo. Na realidade, ela caminha na mesma 
direção de Teresa de Lauretis (Feminist Studies/Critical Studies, 
1986), quando esta diz que “um quadro de referência feminista 
que sirva para tudo não existe. Ele tampouco deveria, jamais, 
ser um pacote pronto para usar. Nós precisamos continuar 
construindo esse quadro, um quadro absolutamente flexível e 
reajustável, a partir da própria experiência das mulheres com 
relação à diferença, a partir de nossa diferença em relação à 
noção “Mulher” e das diferenças entre as mulheres; diferenças 
que (...) são percebidas como tendo a ver tanto (ou mais) com 
a raça, a classe ou a etnia quanto o gênero ou a sexualidade. Na 
mesma direção, Judith Butler chama atenção para duas coisas: 
a. Expandir os atuais conceitos normativos de cidadania, 
reconhecimento e direitos, superando os impasses 
contemporâneos.
b. Fazer um pedido a favor de vocábulos alternativos fundados 
na convicção de que os discursos normativos derivados 
do liberalismo e do multiculturalismo são igualmente 
inadequados para a tarefa de captar tanto a nova formação 
do sujeito como as novas formas de antagonismo social e 
político.
Talvez o locus mais importante, em que aparece um 
impasse não seja entre o sujeito constituído pela minoria sexual 
e o sujeito constituído pela minoria religiosa, mas entre um 
quadro regulamentar que exige e produz aos ditos sujeitos em 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação224
mútuo conflito e uma perspectiva crítica que pergunte se e como 
existem tais sujeitos fora – ou em relações diversas – com esse 
presente antagonismo. Isso implica a consideração de como 
esse quadro depende de entender a complexidade do surgimento 
histórico das populações religiosas e sexuais das formações do 
sujeito, que não podem reduzir-se a nenhuma identidade. 
Por fim, Judith Butler, ao retomar Asad, sugere uma crítica 
de um certo tipo de sujeito liberal que converte a este mesmo 
sujeito em um problema político que deverá ser abordado 
explicitamente. Podemos tomar este sujeito como a base da 
política somente se aceitarmos pensar melhor nas condições de 
sua formação, de suas respostas morais e de suas reivindicações 
avaliativas. Recordamos o tipo de reivindicações fundamentais 
que se fazem no transcurso do debate “normativo” sobre estas 
questões; por exemplo, que existem “sujeitos”, muçulmanos 
ou homossexuais, que se encontram em uma posição política, 
que representam diferentes “culturas” ou diferentes “tempos 
de desenvolvimento histórico” ou que não se conformam às 
noções estabelecidas de cultura ou as concepções inteligíveis 
de “tempo”. Uma resposta a este quadro seria insistir que 
existem diferentes construções do sujeito, e que a maioria das 
versões do multiculturalismo erram ao pressupor que conhecem 
por adiantado qual deve ser sua forma. O multiculturalismo 
que necessita de certo tipo de sujeito, que institui de fato essa 
exigência conceitual como parte de suas descrições e de seus 
diagnósticos. Finalmente, gostaria de concluir que a coalizão 
exige um repensar sobre o sujeito no interior de uma série 
dinâmica de relações sociais.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 225
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Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 233
	Capa para impressão_2022.pdf
	eBook completo_IMPRESSÃO_Aspectos Filosóficos Socioantropológicos_v3.pdfde modo 
fácil é porque a pergunta não foi bem elaborada. Portanto, o 
que Sócrates propõe é formular perguntas adequadas, isto é, 
um método de investigação que encaminhe o pensamento em 
direção à essência das coisas, sem desvios.
Quando se indaga se o exercício militar torna um homem corajoso, 
as possíveis respostas sempre giram em torno das vantagens 
e das desvantagens que esse treinamento oferece, sem alcançar 
o verdadeiro problema: o que é a coragem. Discutem-se os meios 
(o exercício militar) para atingir os próprios fins (a coragem), 
em vez de examinar os próprios fins.
Sócrates, porém, não apresenta diretamente à questão 
“o que é...” ao seu interlocutor. Primeiro ouve a resposta 
e apresenta objeções aos argumentos dos outros. É como se os 
pensamentos tivessem de experimentar outras possibilidades 
antes de adentrar ao campo certo do conhecimento. O diálogo, 
ou a dialética, cumpre essa função de “experimentação”. 
O pensamento sempre necessita de um interlocutor, com quem 
possa discutir e o verdadeiro conhecimento nasce desse diálogo; 
“não é transmissível do mestre ao aluno, mas arrancado do 
interior de uma discussão – um verdadeiro trabalho de parto 
(a maiêutica)” (ABRÃO, 1999, p. 44).
EXEMPLO
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação28
Platão
Figura 1: Busto de Platão
Fonte: @pixabay
Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em 
que Platão (428-347 a.C.) ocupava o centro do pensamento 
filosófico da Grécia e em que todos os olhares convergiam 
para a fundação de sua escola, conhecida como Academia. 
Nascido numa família nobre em Atenas, foi batizado como 
Arístocles, mas ganhou o codinome de Platão, que significa 
“amplo”. Quando jovem, Platão começou a estudar com 
Crátilo, Heráclito e, por fim, Sócrates, sendo que seu objetivo 
era se preparar para a vida política por meio da Filosofia.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 29
SAIBA MAIS
A organização da Academia seguia o modelo das escolas 
pitagóricas do sul da Itália, com as quais Platão mantivera 
contato durante as suas viagens. A Academia é precursora das 
universidades que se desenvolveram a partir da Idade Média. 
Como escola, sobreviveu por mais de novecentos anos, período 
mais longo do que o de qualquer outra instituição antes ou 
depois. Em 529 d.C., foi definitivamente fechada pelo imperador 
Justiniano, cujos princípios cristãos se sentiam ofendidos por 
esta sobrevivência das tradições clássicas. Os estudos acadêmicos 
eram ministrados mais paralelamente às matérias tradicionais 
das escolas pitagóricas: aritmética, geometria plana e espacial, 
astronomia e som ou harmonia constituíam a base do currículo. 
Todas as matérias seguiam o método dialético. Num sentido 
bastante real, este continua sendo o objetivo genuíno da educação, 
até mesmo nos dias de hoje. Não é função de uma universidade 
mostrar aos estudantes o maior número possível de fatos. Sua 
verdadeira tarefa é ensinar hábitos de exame crítico, bem como a 
compreensão de cânones e critérios referentes às matérias. Com 
o ensino propiciado na Academia platônica, o movimento sofista 
declinou rapidamente (RUSSEL, 22013, p. 81-82).
Ainda hoje, definem-se as propriedades e características 
de uma corrente filosófica, seja ela qual for, pela sua relação 
com o platonismo. Todos os séculos da Antiguidade que se 
seguiram a este filósofo, ostentam na sua epistemologia traços 
da Filosofia platônica, especialmente o mundo greco-romano 
que se unificou sob a universal Filosofia do neoplatonismo.
Platão, o mais importante propagador e continuador 
da obra de Sócrates, é quem dá à Filosofia a sua primeira 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação30
sistematização. Todavia, Platão nunca escreveu um livro-
texto (seus escritos estão na forma de diálogos) e sempre se 
recusou a estabelecer a sua Filosofia como sistema. Parece ter 
percebido que o mundo, no todo, é complexo demais para ser 
comprimido num molde literário ou filosófico preconcebido. 
Seus principais diálogos são:
 ■ 399-387 a.C. Apologia, Críton, Górgias, Hípias maior, 
Mênon, Protágoras (primeiros diálogos);
 ■ 380-360 a.C. Fédon, Fedro, A República, O banquete 
(diálogos intermediários);
 ■ 360-355 a.C. Parmênides, Sofista, Teeteto (diálogos 
finais).
Desde as investigações dos filósofos pioneiros, sobre o 
princípio do mundo, ou as exigências lógicas de Parmênidas 
e Zenão, e os impasses a respeito da pluralidade das coisas, 
até as questões sobre os valores humanos (formuladas, por um 
lado, pelos sofistas e, de outro, por Sócrates), passando pelos 
rigorosos estudos matemáticos dos pitagóricos, todos esses 
aspectos, que constituíram os temas do pensamento ocidental, 
encontramse não apenas sintetizados, mas também colocados 
em novos termos por Platão. (ABRÃO, 1999, p. 46).
A cultura antiga, que posteriormente a religião cristã 
assimilou na Idade Média, era uma cultura inteiramente baseada no 
pensamento platônico. É só a partir dela que se pode compreender 
uma figura como Santo Agostinho, que traçou a fronteira histórico-
filosófica da concepção medieval do mundo, por meio da sua 
Cidade de Deus, tradução cristã da República de Platão.
Em 399 a.C., o mentor de Platão, Sócrates, foi condenado 
à morte. Como Sócrates não havia deixado nada escrito, Platão 
assumiu a responsabilidade de preservar para a posterioridade o 
que tinha aprendido com o mestre. Primeiro na Apologia, relato 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 31
sobre a defesa de Sócrates em seu julgamento, e depois ao usá-
lo como personagem de uma série de diálogos. Nesses diálogos, 
às vezes é difícil distinguir quais pensamentos são de Sócrates 
e quais ideias partiram do discípulo. No entanto, evidencia-se um 
retrato de Platão usando os métodos do mestre, especialmente 
a dialética, para explorar e explicar suas próprias concepções.
A República é provavelmente o mais famoso dos diálogos 
de Platão. A construção de um Estado ideal deu nome ao diálogo. 
Num primeiro momento, Platão tinha como preocupação 
buscar definições de valores morais como “justiça” e “virtude”. 
A Filosofia platônica recusa a solução dos sofistas para os quais 
a justiça e a injustiça não passam de convenções. Sócrates já 
havia apontado um caminho diferente: uma e outra confundem-se 
porque os homens não sabem verdadeiramente o que é a justiça, 
isto é, não conhecem a sua essência. Ao contrário, permanecem 
no nível das aparências, constituindo o mundo dos sentidos, o 
mundo sensível, em que tudo é instável e variável, de acordo 
com as circunstâncias e os pontos de vista. Vejamos a seguir 
como Platão desenvolve a noção de justiça:
Principiemos com o primeiro tópico indicado por 
mim, a saber, o que é a justiça e qual é a sua origem. 
Dizem que cometer injustiça é naturalmente bom 
e sofrê-la é naturalmente mau, mas que o mal 
de sofrer injustiça excede a tal ponto o bem de 
cometê-la que aqueles a cometeram e sofreram, 
tendo experimentado as duas posições, quando 
[afinal] lhes falta a capacidade de cometê-la e de 
se esquivarem de sofrê-la, decidem ser vantajoso 
estabelecer um acordo mútuo e comum de não a 
cometer nem a sofrer. O resultado é passarem a 
produzir leis e contratos e o que a lei determina 
classificam como justo e lícito. Isso, de acordo 
com eles, constitui a origem e a essência da justiça. 
É o meio-termo entre o melhor e o pior: o melhor 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação32
é perpetrar injustiça sem ser punido por isso, o pior 
é sofrê-la sem ser capaz de vingar-se. A justiça 
é um ponto mediano desses dois extremos. As 
pessoas a estimam não como um bem, mas porque 
são demasiado fracas para cometer injustiça com 
impunidade. Aquele, todavia, que possui o poder 
de cometê-la e é um homem autêntico, não faria 
acordo algum com ninguém para não fazer injustiça 
a fim de não a sofrer. Para ele isto seria loucura. 
Conforme tal teoria, Sócrates, eis aí a natureza da 
justiça e sua origem. (PLATÃO, 2006, p. 89)
ParaPlatão, a justiça reina quando cada um cuida da 
própria vida. Cada indivíduo realiza o trabalho que lhe compete, 
sem se imiscuir nos assuntos alheios. Nesse sentido, o sistema 
político funciona tranquila e eficientemente. A justiça, nesse 
sentido grego, está vinculada à noção de harmonia, o sereno 
funcionamento do todo por meio da adequada função de cada 
parte (RUSSEL, 2013, p. 94).
O raciocínio levou Platão a uma única conclusão: deve 
haver um mundo de ideias, ou formas, totalmente separado do 
mundo material. Ele concluiu que os sentidos humanos não 
conseguem perceber tal lugar, pois só nos é perceptível pela 
razão. Platão foi mais além ao afirmar, que o reino de ideias é 
de fato a “realidade”, e o mundo que nos cerca é moldado por 
essa outra realidade. Para ilustrar esse pensamento, que num 
primeiro momento pode ser confuso, Platão apresentou o que 
se tornaria conhecido como a “teoria da caverna”.
Ele nos convidou a imaginar uma caverna escura, na qual 
as pessoas estão aprisionadas desde o nascimento, amarradas e 
observando fixamente a parede ao fundo. Elas só podem olhar para 
frente, nunca para os lados. Atrás dos prisioneiros há uma chama 
brilhante que lança sombras na parede para a qual eles olham. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 33
Há também uma plataforma entre o fogo e os prisioneiros, 
na qual pessoas andam e exibem vários objetos de tempos em 
tempos, de modo que as sombras desses objetos são lançadas na 
parede. Tais sombras são tudo o que os prisioneiros conhecem 
do mundo, e eles não têm noção alguma sobre os objetos reais. 
Se um prisioneiro conseguir se desamarrar e se virar, verá ele 
mesmo os objetos. Mas, depois de uma vida de confinamento, 
ele provavelmente ficará muito confuso e talvez fascinado pelo 
fogo, e muito provavelmente se voltará de novo para a parede, 
a única realidade apresentada a ele desde o nascimento.
Platão discorre que tudo que nossos sentidos apreendem 
no mundo material não passa de imagens na parede da caverna, 
ou seja, são simples sombras da realidade. Essa crença é a base 
de sua teoria das formas: para cada coisa na terra que temos o 
poder de apreender com nossos sentidos, há uma correspondente 
“forma”(ou “ideia”) – uma eterna e perfeita realidade daquele 
objeto – no mundo das ideias. Como o que apreendemos pelos 
sentidos é baseado em uma experiência de “sombras” imperfeitas 
ou incompletas da realidade, não podemos ter um conhecimento 
real das coisas. No máximo, podemos ter opiniões, mas 
conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso 
só pode ser alcançado pela razão.
Essa separação em dois mundos distintos – um, da 
aparência, e outro, do que Platão considerou como realidade de 
fato – solucionou o problema da busca de constantes num mundo 
aparentemente em transformação. O mundo material pode estar 
sujeito à mudança, mas o mundo das ideias de Platão é eterno e 
imutável.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação34
Aristóteles
Figura 2: Stanza della Segnatura, de Rafael Sanzio. Em relação às figuras centrais, Platão está à esquerda e 
Aristóteles à direita.
Fonte: @pixabay
Aristóteles nasceu em 384 a.C. na cidade de Estagira, na 
Calcídica, que se encontrava sob a dependência da Macedônia. 
Mas sua relação com este reino – que logo mais seria um grande 
império, subjugando a Grécia e, depois, a Pérsia – não se limita 
ao local de nascimento. Nicômaco, seu pai, era médico da corte 
de Filipe, rei da Macedônia. O filho deste, o célebre Alexandre 
Magno, teve o próprio Aristóteles como preceptor, entre 343 
e 340 a.C. (ABRÃO, 1999, p. 53).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 35
SAIBA MAIS
Aristóteles tem na história da Filosofia uma influência decisiva. 
No período final da Idade Média, a versão cristã de seu pensamento 
torna-se praticamente a doutrina oficial da Igreja. A ciência 
moderna que nasce no Renascimento desenvolvese em meio ao 
acirrado combate contra o aristotelismo (ou às imagens que se 
criaram a seu respeito). Pensadores como Kant, Hegel, Marx fazem 
de Aristóteles uma fonte de inspiração, e até hoje se discutem as 
questões lógicas por ele propostas. Tamanha influência presta-se 
a equívocos: muitos, simplificadamente, opõem Aristóteles a seu 
mestre Platão, e outros ainda continuam a considerá-lo grande 
inimigo do desenvolvimento científico, ignorando as marcas que 
ele deixou na ciência.
Aristóteles tinha apenas dezessete anos quando chegou a 
Atenas para estudar na Academia de Platão, que na época, com 
sessenta anos, já tinha desenvolvido suas teorias. Estudioso e 
comprometido com os ensinamentos da Academia, Aristóteles 
tinha um temperamento muito diferente se comparado com 
Platão. Se Platão era brilhante e intuitivo, Aristóteles era erudito 
e metódico. Contudo, havia um respeito mútuo e Aristóteles 
permaneceu na Academia, como aluno e posteriormente 
professor, até a morte de Platão, vinte anos depois.
Aristóteles escreveu uma série de trabalhos definitivos, 
com grande preocupação literária e em forma de diálogos, 
da mesma forma que Platão. Essa informação só foi possível 
pelas citações feitas por autores posteriores, como Cícero, 
Plutarco, Diógenes, Laércio, entre outros. O que temos da 
vasta obra aristotélica limita-se praticamente a notas, que o 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação36
filósofo preparava para seus ensinamentos no Liceu. Como tais, 
tinham caráter resumido, apenas indicativo e muitas vezes só 
compreensíveis para o próprio autor. As principais obras de 
Aristóteles são:
 ■ Ética a Nicômano;
 ■ Política;
 ■ Órganon;
 ■ Retórica das paixões;
 ■ A poética clássica;
 ■ Metafísica;
 ■ De anima (da alma);
 ■ O homem de gênio e a melancolia;
 ■ Magna moralia (Grande Moral);
 ■ Ética a Eudemo;
 ■ Física;
 ■ Sobre o céu.
Por se dedicar ao estudo dos seres vivos e de tudo o que 
a natureza contém, Aristóteles não desprezou a observação das 
coisas que se apresentam aos sentidos. Logo, procura integrar 
a percepção do mundo sensível ao conhecimento científico e 
filosófico. Mas isso não significa que ele tenha se submetido 
ao mundo sensível e às suas variações e incertezas. Os sentidos 
que captam as coisas individuais consistem o ponto de partida: 
a percepção dessas coisas produz, no intelecto, imagens a elas 
correspondentes. A atividade do intelecto consiste em separar 
dessas imagens os aspectos acidentais, como o tamanho e a cor, 
para ficar com o que lhes é comum e essencial.
A percepção do mundo sensível mostra que tudo se 
transforma continuamente. Para dar conta disso, Aristóteles 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 37
elabora noções de ato (energeia) e de potência (dynamis). 
O ato refere-se ao estado atual do ser, como existe aqui e agora. 
A potência, por outro lado, indica aquilo em que este ser se 
transforma, sem, no entanto, deixar de sê-lo. Por exemplo: a 
semente de uma árvore, enquanto ato, é semente, mas como 
potência é a árvore que dela vai germinar. As mudanças e o 
movimento são o modo como as potencialidades do ser vão se 
atualizando, passando da potência ao ato (ABRÃO, 1999, p. 56).
Como Platão, Aristóteles preocupou-se em encontrar 
algum fundamento imutável e eterno num mundo caracterizado 
pela mudança. Mas concluiu que não há necessidade de procurar 
por esse lastro num mundo de formas perceptíveis apenas 
à alma. A evidência principal estaria aqui, no mundo à nossa 
volta, perceptível pelos sentidos. Aristóteles acreditava que as 
coisas no mundo material não são cópias imperfeitas de alguma 
forma ideal de si mesmas, mas que a forma essencial de uma 
coisa é, na verdade, inerente a cada exemplo dessa coisa. Por 
exemplo, “o aspecto canino” não é apenas uma característica 
compartilhada pelos cães – é algo inerente a todo e qualquer 
cão. Ao estudar coisas particulares, portanto, conseguimos 
alcançar um pensamento sobre sua natureza universal e imutável 
(ATKINSON, 2012, p. 59-60).
Da mesma forma que Platão, Aristótelestem um 
pensamento sistematizado em relação à cidade (a polis grega), 
mas analisa a articulação do homem com a cidade de maneira 
diferente. O centro do seu parecer está na felicidade (eudaimonia) 
como eixo central das relações virtuosas, permeando todo o agir 
humano. Isto significa dizer que Aristóteles considera que todas 
as ações humanas são motivadas pelo desejo de felicidade.
Do corpus aristotelicum, a Ética a Nicômaco é o mais 
importante dos textos sobre o problema ético na produção de 
Aristóteles, conjuntamente com a Ética a Eudemo, os Magna 
moralia e um pequeno tratado chamado Sobre as virtudes e vícios. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação38
IMPORTANTE
A análise do problema ético em Aristóteles depende de uma 
caracterização nos traços essenciais do seu horizonte específico: 
o horizonte prático. Se a Filosofia na sua dimensão teórica visa à 
constituição de uma situação que permita contemplar a verdade, 
na sua dimensão prática, contudo, a Filosofia tende a expressarse 
no agir.
A virtude é um conceito fundamental na Ética de 
Aristóteles. A virtude é entendida pelo filósofo como meiotermo, 
ou ponto intermediário entre dois extremos ou dois vícios. 
Cultivar ações justas e controlar os apetites e impulsos é, ao 
mesmo tempo, treinar nosso modo da melhor forma possível. 
A razão vai impor o justo-meio entre qualquer dos dois extremos 
(excesso ou seu contrário).
O justo-meio não aparece em Aristóteles como uma ação 
medíocre (média), mas sim como o ponto alto de uma ação 
deliberada e comandada apenas pela razão. A vitória da razão 
sobre os instintos é inevitável no mesmo modo deliberativo de 
viver.
É ainda neste diálogo que Aristóteles disserta sobre a 
conduta humana e sua busca pela felicidade. Isto é, a conduta do 
homem está baseada nisso que entendemos por felicidade, mas a 
natureza da felicidade é o caminho para tentarmos compreender 
como Aristóteles poderia sugerir as regras do bem agir. Em se 
tratando da felicidade, a seguir apresentamos o trecho IV do 
Livro I do tratado Ética a Nicômaco:
Retomando, procuremos compreender, agora – uma 
vez que todo o saber toda a intenção tem um bem 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 39
por que anseiam – o que dissemos sobre a perícia 
política e o que ela visa atingir sobre qual será 
o mais extremo dos bens susceptível de ser obtido 
pela ação humana. Quanto ao nome desse bem, 
parece haver acordo entre a maioria dos homens. 
Tanto a maioria quanto os mais sofisticados dizem 
ser a felicidade, porque supõem que ser feliz 
é o mesmo que viver bem e passar bem. Contudo, 
acerca do que possa ser a felicidade estão em 
desacordo e a maioria não compreende o seu sentido do 
mesmo modo que o compreendem os sábios. Para uns 
é alguma daquelas coisas óbvias e manifestamente 
boas, como o prazer, a riqueza ou a honra; para uns é 
uma coisa, para outros, outra - muitas vezes até para 
o mesmo podem ser coisas diferentes. Para quem 
está doente é a saúde, para quem é pobre, a riqueza. 
(ARISTÓTELES, 2009, p. 20)
Por conseguinte, para Aristóteles, é possível viver feliz na 
medida em que a pessoa cultive a honra, o prazer e o intelecto. 
O filósofo entende que a razão é um dos elementos que constitui 
as capacidades do homem, mas ela não é a única. A alma humana 
pode sofrer alguma interferência da faculdade do desejo ou 
do apetite, por isso não podemos considerá-la absolutamente 
racional. Diante da possibilidade dessa interferência, a virtude 
ética surge como domínio dessa parte da alma que não é racional. 
Sua redução aos limites da razão, segundo as explicações de 
Karen Franklin e Celso Pinheiro, passa a ser o grande trabalho 
da formação do indivíduo. “Essa virtude ética se adquire com a 
repetição de certas ações até que se estabeleçam como hábito” 
(FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 39).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação40
IMPORTANTE
A dialética segundo Platão e Aristóteles
No platonismo, a dialética é um processo de diálogo 
que se baseia no debate entre interlocutores comprometidos 
com a busca da verdade. Nesse debate, a alma (psyché) se 
eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades 
inteligíveis ou ideias.
No aristotelismo, a dialética se constitui pelo raciocínio 
lógico que, apesar de coerente em seu encadeamento interno, 
está ancorado em ideias apenas prováveis, e por esta razão 
traz em seu cerne a possibilidade de ser refutado.
RESUMINDO
Apesar das grandes diferenças, Aristóteles e Platão se aproximam 
pela similaridade de suas preocupações com o ser e com o proceder 
do homem. É relevante assinalar como o pensamento de todos 
os filósofos gregos influencia o pensamento posterior. Sócrates, 
Platão e Aristóteles vivem em um período histórico de decadência 
do Estado Grego, apesar de serem os principais pensadores da 
polis como cidade-estado. “Suas considerações sobre educação, 
cidadania, virtude e conhecimento foram fundamentais para 
a construção da relação entre Filosofia e Educação desde sua 
origem” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 41).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 41
Conhecimento Mítico e Conhecimento 
Filosófico
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de identificar a 
diferença entre conhecimento mítico e conhecimento filosófico, 
destacando suas principais características.
O que é o mito? “Sei bem o que é, desde que ninguém 
me pergunte; mas quando me pedem uma definição, fico 
perplexo”. Assim escreveu Santo Agostinho em suas Confissões, 
abraçando a difícil causa de apreender essa categoria esquiva 
chamada tempo e descrevendo a aflição a dar uma definição 
do mito (apud RUTHVEN, 1997, p. 13). Os mitos têm uma 
qualidade que Wallace Stevens atribui à poesia: conseguem 
resistir à inteligência. Por isso eles atraem os sistematizadores. 
Estes nos “tranquilizam, afirmando que o mito nada mais é que 
ciência primitiva, ou história, ou personificação de fantasias do 
inconsciente” (apud RUTHVEN, 1997, p. 13-14).
Os mitos são, evidentemente, uma série de histórias criadas 
pelos seres humanos. Mas essas histórias foram, durante longos 
séculos, motivo de crença e fé. Elas tiveram, no espírito dos 
gregos e dos latinos, o valor de dogma, condicionadas ao status de 
realidade. Como tal, inspiraram os homens e as mulheres, deram 
esteio a instituições por vezes respeitabilíssimas, sugeriram aos 
artistas, aos poetas, aos literatos a ideia de criações de admiráveis 
obras-primas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação42
A Antiguidade, cujos conhecimentos científicos e 
filosóficos eram praticamente inexistentes, elegeu as divindades 
para suprir a necessidade de compreender os mistérios do 
mundo. No caso da Grécia e Roma, bem como muitos países 
escandinavos, é isso que explica a existência do grande número 
de deuses. Para Pierre Commelin, estudioso da mitologia grega, 
tudo o que provocou a admiração, o espanto, o temor ou o horror 
nos primeiros homens e nas primeiras mulheres adquiriu, aos 
seus olhos, um caráter divino. As virtudes e as paixões mais 
abstratas dos seres humanos, também têm esse status de serem 
marcadas por um cunho sobrenatural, de trazerem a chancela 
divina e revestirem, com uma fisionomia particular, as insígnias 
e os atributos da divindade (COMMELIN, 2011, p. 9).
Estudar a mitologia é iniciar-se na concepção de um mundo 
primitivo, percebido numa penumbra misteriosa. Não ver nela 
mais que a aberração de espíritos rústicos e supersticiosos é, sem 
dúvida, julgá-la apenas de acordo com as aparências; mas, por 
outro lado, ver nela apenas alegorias, procurar a explicação de 
todos esses mitos, de todas essas fábulas, de todas essas lendas 
na observação do mundo físico, é superar os limites da realidade. 
Seguimos na mesma linha de pensamento de Pierre Commelin 
(2011): a imaginação e a fantasia têm um importante papel nessa 
longa enumeração de crenças mitológicas aceitas pelos povos 
antigos. Cada século, cada geração compraz-se emaumentar o 
número de seus deuses, de seus heróis, de suas maravilhas e de 
seus milagres.
Os mitos antigos, em especial a Teogonia de Hesíodo, 
narravam o modo pelo qual o mundo havia emergido do caos, 
como se diferenciaram as suas diversas partes, como se 
constituiu e estabeleceu o conjunto da sua arquitetura. Mas o 
processo de gênese, nessas narrativas, reveste-se da forma de um 
quadro genealógico. Ou seja, como bem argumenta o historiador 
e antropólogo Jean Pierre Vernant, “ele se desenrola seguindo 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 43
a ordem de filiação entre os deuses, no ritmo dos sucessivos 
nascimentos, dos casamentos, das intrigas, misturando e opondo os 
seres divinos de gerações diferentes” (VERNANT, 1990, p. 478).
A deusa Gaia (Terra) engendra sozinha Ouranós 
(Céu) e Póntos (Onda salgada); acasalada a 
Ouranós, que ela acaba de criar, dá à luz os Titãs, 
primeiros mestres do céu, revoltados contra o seu 
pai e cujos filhos, os Olímpicos, vão, por sua vez, 
combater e derrubar, a fim de confiar ao mais jovem 
deles, Zeus, a incumbência de se impor no cosmo, 
como soberano novo, uma ordem enfim definitiva. 
(VERNANT, 1990, p. 478-479)
No mundo grego, o pensamento racional surge no século 
VI a.C., especificamente nas cidades gregas da Ásia menor. 
O nascimento da Filosofia marcaria, assim, o começo do 
pensamento científico – poder-se-ia dizer simplesmente: do 
pensamento. Vernant sugere que na “escola de Mileto, o logos 
teria pela primeira vez libertado do mito, como as escaras caem 
dos olhos do cego” (VERNANT, 1990, p. 411). Mais que uma 
mudança de atitude intelectual, do que uma mutação mental, 
trata-se de uma revelação decisiva e definitiva relacionada ao 
pensamento. O aparecimento do logos, portanto, introduziria na 
história uma descontinuidade radical: “viajante sem bagagem, 
a Filosofia viria ao mundo sem passado, sem pais, sem família; 
seria um começo absoluto” (VERNANT, 1990, p. 442).
Essa nova maneira de pensar, racional e filosófica, 
é considerada oposta ao pensamento mítico. É como se na Grécia 
do século VI a.C., o homem tivesse se libertado das fantasias 
da mitologia e da religião, para se afirmar e se desenvolver 
racionalmente.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação44
IMPORTANTE
RESUMINDO
As principais diferenças entre Mito e Filosofia
Mito: narra os acontecimentos passados, buscando um entendimento 
sobre a origem, as causas sobretudo até o momento presente;
Filosofia: ocupa-se em explicar não somente os acontecimentos 
passados, mas tudo como é no presente e como será no futuro;
Mito: narra a origem do mundo baseando-se em genealogias e 
ação de forças sobrenaturais;
Filosofia: explica a origem do mundo pela combinação de 
elementos naturais;
Mito: não se preocupa com as contradições nem com as coisas 
incompreensíveis;
Filosofia: exige um pensamento coerente, racional, lógico. 
A autoridade sobre o conhecimento não está no filósofo, mas 
fundada na razão que todas as pessoas possuem.
Neste capítulo, estudamos a diferença entre conhecimento 
mítico e conhecimento filosófico, destacando suas principais 
características.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 45
A Questão do Saber: o Conhecimento 
e sua Tipologia
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de classificar a 
tipologia do conhecimento e descrever cada um dos tipos.
Na prática docente, muitas vezes se exercita o ensino sem se 
perguntar o que é o conhecimento, seu sentido e seu significado. 
Para um exercício satisfatório do ensino, entre outros elementos 
fundamentais (como Psicologia e Sociologia da Educação), 
é importante, como aponta Luckesi, possuir uma teoria do 
conhecimento. Teoria do conhecimento nada mais é do que “um 
entendimento do que vem a ser o conhecimento, seu processo, 
seu modo de ser” (LUCKESI, 1993, p. 121).
O que significa “conhecer”? De modo geral, pode-se dizer 
que “conhecer é elaborar um modelo de realidade” e “projetar 
ordem onde havia caos” (CYRINO & PENHA, 1992, p. 13). 
Nesse sentido, três elementos são necessários para que haja 
conhecimento:
 ■ O sujeito, que é o ser que conhece;
 ■ O objeto, aquilo que o sujeito investiga para conhecer;
 ■ A imagem mental em forma de opinião, ideia ou conceito 
que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a 
subjetividade daquele que conhece.
Visto que o ser humano é um sujeito pensante, senciente 
(que percebe o mundo por meio dos sentidos e das impressões) 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação46
REFLITA
O conhecimento pode ser entendido como aquilo que adquirimos 
nos livros, nas aulas e nas conversas, com o objetivo de alcançar 
o entendimento da realidade. O que está em primeiro lugar, o que 
está na raiz do conhecimento, é a elucidação da realidade e não a 
retenção de informações contidas nos livros. Essas informações 
deverão ser auxiliares no entendimento da realidade; contudo, 
elas por si mesmas não são o conhecimento que cada sujeito tem 
da realidade. É preciso utilizar-se das informações de maneira 
intelectualmente ativa para que se transformem em efetivo 
entendimento do mundo exterior. Muitas vezes o conhecimento 
e comunicante, o resultado é a transmissão dessa articulação 
mediante linguagem simbólica, a qual o diferencia dos demais 
seres existentes. Essa linguagem pode ser oral ou escrita, 
verbal ou não verbal. O saber é um conjunto de informações e 
conhecimentos que todo sujeito mobiliza para relacionar-se com 
o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o 
universo e com a vida (CHARLOT, 2000).
Em função da relação sujeito-objeto, da qual resultam 
informações, conhecimentos e saberes, o sujeito busca compreender, 
representar e explicar os objetos com os quais convive em sua vida 
prática e até aqueles que ele imagina que possam existir como 
ideia formal apenas. A isso chamamos conhecimento, produto da 
inteligência simbólica humana por meio da qual o múltiplo ganha 
uma unicidade, a diversidade recebe certa harmonia e o vazio 
é preenchido por um sentido, sendo o principal deles o sentido 
existencial, a razão de ser da vida, o motivo pelo qual o homem e 
a mulher são, pensam, sentem, julgam, valoram, decidem e agem 
no aqui-agora de seu ser estar no mundo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 47
Os Tipos de Conhecimento
Ao tratar sobre a construção do conhecimento e o ensino 
das ciências, Ana Maria Carvalho (1997) define quatro tipos de 
conhecimento, quais sejam: (1) conhecimento popular ou senso 
comum, (2) conhecimento filosófico, (3) conhecimento teológico, 
(4) conhecimento científico.
Conhecimento Popular ou Senso Comum
O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois 
se fundamenta numa seleção operada com base em estados 
de ânimo, conhecimentos prévios, experiência, impressões e 
emoções do sujeito. A característica de assistemático baseia-se na 
“organização” particular das próprias experiências do indivíduo 
cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, isto é, 
na busca de uma formulação geral que explane os fenômenos 
observados. Além disso, é um tipo de conhecimento verificável, 
uma vez que está circunscrito à vida do cotidiano e se relaciona 
ao que se pode perceber na vida diária. Por fim, pode ser falível e 
inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu 
dizer a respeito do objeto.
O conhecimento do senso comum ou popular nada mais 
seria, também, que o resultado das necessidades de resolver os 
problemas do cotidiano. Nele, há uma tendência de manter o 
sujeito que o elabora como um espectador passivo da realidade, 
subjugado pelos fatos e acontecimentos do seu ambiente. 
é confundido com o processo de decorar informações dos 
livros, para a seguir, repeti-las em provas escolares. Isso não é 
conhecimento, pois essa atitude é memorização de informação, 
sem saber o que, de fato, essa informação significa.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação48
 Porisso o conhecimento do senso comum caracteriza-se por ser 
elaborado de forma espontânea e, muitas vezes, intuitiva.
Conhecimento Filosófico
Corpo de conhecimento, em Filosofia, significa um conjunto 
coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. 
Conhecimentos estes que expressam a compreensão, que se tem 
do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Quando 
lemos um texto de Filosofia, nos apropriamos do entendimento, 
que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos 
valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por 
vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se 
possível. O filósofo, conforme assinala Luckesi, sistematiza as 
aspirações dos seres humanos, aspirações essas que dão sentido 
ao dia a dia, à luta, ao trabalho, à ação. (LUCKESI, 1993, p. 22). 
Ninguém vive o cotidiano sem um sentido direcionado ao seu 
trabalho, à sua relação com as pessoas, ao amor, à amizade, à 
ciência, à educação, à política etc.
Segundo Trujillo Ferrari (1982), o conhecimento filosófico 
é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, as 
quais não poderão ser submetidas à observação. “As hipóteses 
filosóficas baseiam-se na experi6encia e não da experimentação” 
(TRUJILLO, 1974, p. 12). Por conseguinte, o conhecimento 
filosófico não é verificável, visto que os enunciados das hipóteses 
filosóficas, ao contrário do que ocorre no âmbito da ciência, 
não podem ser confirmados nem refutados. É ainda um tipo de 
conhecimento racional, em virtude de abarcar um conjunto de 
enunciados logicamente correlacionados. Caracteriza-se por ser 
sistemático, pois seus enunciados visam a uma representação 
coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la 
em sua totalidade. Por último, pode ser infalível, já que seus 
postulados não são submetidos ao teste de experimentos.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 49
Conhecimento Científico
O conhecimento científico é factual (real), porque se 
relaciona com ocorrências e fatos, isto é, com toda “forma de 
existência que se manifesta de algum modo” (TRUJILLO, 1982, 
p. 14). Constitui um tipo de conhecimento dito contingente, 
uma vez que suas proposições têm sua veracidade ou falsidade 
conhecida por meio da experimentação e não apenas da razão, 
como ocorre do pensamento filosófico. É sistemático, pois se trata 
da elaboração de um conjunto de saber ordenado logicamente, 
constituindo um sistema de ideias (teoria) e refutando todo e 
qualquer tipo de conhecimento disperso, desconexo e que não 
passou por experimentos verificáveis. É nesse sentido que possui 
a característica de verificabilidade; caso as hipóteses não possam 
ser comprovadas, não pertencem ao campo da ciência.
Constitui um conhecimento falível, em virtude de não ser 
definitivo, absoluto ou final. Por isso, novas proposições são aceitas 
e o desenvolvimento de técnicas, procedimentos e metodologias 
podem reformular o corpo teórico existente.
Um dos filósofos que se dedicou à Filosofia da ciência, entre 
outros assuntos, foi o francês Gaston Bachelard (1884- 1962). A 
intenção substancial de toda a estrutura dos escritos de Bachelard 
e seu método de reflexão é a análise da produção do conhecimento 
humano sob uma perspectiva histórica. Conforme o estudo dos 
procedimentos e das ideias desenvolvidas em períodos de tempo 
demarcados por ele mesmo, o autor afirma que o estudo crítico 
dessas produções pode ajudar a entender os caminhos trilhados 
para a construção dos conhecimentos. Durante a história de 
construção da ciência ocidental é possível identificar, mesmo 
que de forma geral, três momentos específicos.
 ■ O primeiro é chamado de Pré-Científico e corresponde 
à Antiguidade Clássica e ao Renascimento;
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação50
 ■ O segundo é o Estado Científico propriamente dito, 
que seria o fim do século XVIII e início do XIX;
 ■ O terceiro corresponderia ao período do Novo Espírito 
Científico (depois do início do século XIX até os dias de hoje 
(BACHELARD, 2005, p. 9).
As mudanças de objetivos e métodos que ocorreram nessas 
etapas históricas do pensamento científico são resultado de um 
movimento de estudo crítico do passado, da não repetição de 
‘caminhos errados’ nos processos dessa construção. É necessário 
que se considere a cultura científica em termos de descontinuidade 
com o real, com a experiência imediata e, também, com o seu 
passado. Não seria possível a criação do novo, se essa produção 
fosse linear e previsível, dedutível por uma lógica interna de 
funcionamento, como se um fato novo fosse simplesmente o 
resultado/a soma de fatos anteriores. É contra esse modo de 
interpretação continuísta da cultura científica que Bachelard vai 
sustentar seus argumentos na proposta de uma epistemologia 
histórica do conhecimento que reconhece, no não continuísmo, 
seu funcionamento primordial.
A história humana bem pode, em suas paixões, 
em seus preconceitos, em tudo que releva dos 
impulsos imediatos, ser um eterno recomeço; 
mas há pensamentos que não recomeçam; são os 
pensamentos que foram retificados, alargados, 
completados. Eles não voltam a sua área restrita 
ou cambaleante. Ora, o espírito científico é 
essencialmente uma retificação do saber, um 
alargamento dos quadros do conhecimento. 
Julga seu passado histórico, condenando-o. Sua 
estrutura é a consciência de suas faltas históricas. 
Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como 
retificação histórica de um longo erro, pensa-se a 
experiência como retificação da ilusão comum e 
primeira. (BACHELARD, 1995, p. 147)
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 51
Conhecimento Teológico ou Religioso
O conhecimento religioso baseia-se em um conjunto 
de doutrinas que contém asserções sagradas (valorativas), 
justamente por terem sido reveladas pelo sobrenatural 
(inspiracional) e, assim sendo, tais verdades são consideradas 
infalíveis e indiscutíveis (exatas).
É um conhecimento sistemático do mundo, pois contempla 
temas como origem, significado, finalidade e destino do 
humano. Suas evidências não são verificadas em função de que 
a atitude de fé perante um conhecimento revelado é a base mais 
importante. Nesse sentido, os questionamentos não são trazidos 
para o campo do conhecimento religioso. Parte-se do princípio 
de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por 
consistirem em revelações da divindade.
Nota-se que a adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, 
pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente 
dos atos de um criador divino, cujas evidências não são postas em 
dúvidas nem sequer verificáveis.
REFLITA
A postura do teólogos e cientistas diante da Teoria da Evolução 
das Espécies, de Charles Darwin, particularmente do homem, 
indica as abordagens diversas. De um lado, as posições dos 
teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados. 
De outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos 
concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. 
Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação52
dos fatos observados e experimentalmente controlados, no caso 
do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de 
evidência, mas da causa primeira, ou seja, da revelação divina.
Apesar da separação metodológica entre os tipos 
de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no 
processo de compreensão da realidade, o sujeito pode transitar 
nas diversas áreas. Ao investigar sobre o “homem”, por exemplo, 
pode-se realizar uma série de conclusões sobre sua atuação na 
sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana. 
Pode-se analisá-lo como um ser biológico, com base na 
investigação experimental, as relações existentes entre os órgãos 
e suas funções. Pode-se questionar a sua origem e o seu destino, 
assim como sua liberdade. Finalmente, pode-se observá-lo como 
ser criado pela divindade, a sua imagem

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