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Tipos de desperdícios Dentre as variáveis que compõem a eficiência operacional de uma empresa, uma das mais importantes é certamente a redução de desperdícios. Saber aproveitar adequadamente e de maneira eficaz cada recurso disponível da organização traz inúmeros benefícios, entre eles a vantagem competitiva tão importante atualmente. Empresas que trabalham com foco na redução de desperdício possuem mais condições para otimizar seus investimentos e reduzir seus custos operacionais e, consequentemente, potencializam as chances de sobrevivência e possibilidade de crescimento. A sobrevivência das empresas tornou-se um desafio constante e requer de seus gestores grandes esforços para obter mais produtividade e qualidade de insumos, equipamentos e da gestão e de cada indivíduo envolvido no processo produtivo, mas com o avanço tecnológico, as empresas agora contam com diversas ferramentas que permitem controlar e criar estratégias de solução para problemas de maneira eficiente, antes que estes possam trazer graves consequências para a organização. A falta de eficiência organizacional gera desperdícios que acarretam queda da qualidade e consequentemente problemas financeiros. Para que este cenário não ocorra, as organizações buscam de maneira constante produzir mais com melhor qualidade e com menor quantidade de recursos possíveis, reduzindo, ou ainda eliminando, os desperdícios de produção. Contudo, para compreender sobre como a indústria evoluiu em relação à redução de desperdícios vamos voltar um pouco no tempo. Primeira Revolução Industrial Antes do surgimento da manufatura como conhecemos, o trabalho artesanal era o principal meio de organização do sistema produtivo. Os artesãos fabricavam produtos de maneira manual e tinham conhecimento de todo o processo, desde a escolha de fornecedores até a venda do produto final. O processo produtivo envolvia produtos e utensílios básicos como móveis, vestuário e ferramentas. Esse sistema produtivo era custoso e demorado e não acompanhava a crescente demanda. O ritmo de produção era lento e variável, pois dependia de como cada artesão efetuava o trabalho e de suas habilidades, além disso o trabalho era mais personalizado. 2 - 16 A partir do século 15, houve mudanças no sistema produtivo e criou-se o sistema doméstico. A fabricação ocorria na casa do artesão e em alguns casos envolvia toda a família. Nesse sistema, o artesão trabalhava com encomendas de outros empresários que forneciam os insumos necessários para a produção do produto e posteriormente realizavam a revenda. O artesão não era mais responsável por todo o processo, mas ainda detinha as ferramentas e o know-how da produção em si, controlando inclusive o tempo de execução das tarefas. A intensificação da demanda e o ritmo lento imposto pelo trabalho manual, fez com que os empresários da época buscassem alternativas para aumentar a produtividade sem depender do trabalho artesanal e do conhecimento exclusivo do artesão. Surgiram então as máquinas a vapor movidas a carvão no século 18 e com elas o que chamamos de maquinofatura. Neste momento, houve uma ruptura do controle produtivo por parte dos artesãos. As máquinas executavam o trabalho que antes eram realizados por eles, em etapas diferentes. A função do operador da máquina era alimentá-la com os insumos necessários para aquela etapa do processo produtivo. 3 - 16 A Segunda Revolução Industrial e o fordismo A implantação do sistema de produção em massa criado por Henry Ford em 1914, chamado de fordismo, foi o marco da Segunda Revolução Industrial. Ele instalou a primeira linha de produção não automatizada em sua fábrica de automóveis. A partir de uma linha de produção cujas máquinas eram a principal força de trabalho, e o trabalhador não necessitava de conhecimento a respeito de todo o processo, pois trabalhava de forma padronizada, tornando mais ágil o processo produtivo, fabricando produtos em larga escala. A fabricação de produtos em massa ajudou na redução de custos da indústria e acelerou a produção, além de tornar os produtos mais baratos e acessíveis para os consumidores. Contudo, uma das consequências do fordismo foi a queda na qualidade dos produtos. Minha aposentadoria começa amanhã! Sabe o que eu quero fazer? Vou ir até o final da linha de montagem e finalmente descobrir o que estamos construindo nesses últimos 30 anos! Figura 3 - Linha de montagem no Fordismo Fonte: adaptado de Thaves (1996) MAQUINOFATURA TRABALHO ARTESANAL 4 - 16 Modelo Toyota de produção Apesar da melhora na agilidade do fluxo produtivo, ainda ocorriam desperdícios de recursos valiosos para as organizações. Nesse contexto, em 1950, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão estava destruído pelo conflito e vivenciando uma grande crise, necessitando se reconstruir. É neste cenário caótico e de necessidade de reconstrução de um país com recursos escassos, que surgem muitas ferramentas de qualidade com o intuito de melhorar processos e produtos e evitar o desperdício de recursos. O modelo Toyota de produção conhecido como lean manufacturing, ou manufatura enxuta em português, foi criado nesta época pelo engenheiro Taiichi Ohno, que recebeu a missão de aumentar a produtividade na fábrica de automóveis. Este modelo de gestão é uma filosofia que busca aumento da eficiência e da produtividade com foco na produção limpa e na redução de desperdícios. “O lean manufacturing contribui com um conjunto de medidas e ferramentas adotadas como resposta à necessidade das empresas de todo e qualquer ramo de especificação de se tornarem competitivas ao mercado. Os conceitos inerentes à filosofia regem- se, basicamente, pela eliminação dos desperdícios existentes, tendo como consequência direta o aumento da produtividade e da eficiência nas linhas produtivas.” (BASTOS; CHAVES, 2012, p. 3) A manufatura enxuta não somente visa à redução de desperdícios de recursos e matérias-primas, como também de tempo e força de trabalho. Dessa forma, alcança-se considerável ganho de produtividade ajustando as demandas e os prazos junto aos fornecedores, e também nas etapas de produção, no layout da fábrica e mesmo com a realocação das forças de trabalho no processo produtivo, além da adequação dos estoques de matérias-primas ou produtos acabados (COSTA, 2017). 5 - 16 O lean manufacturing é pautado em quatro pilares, são eles: Melhoria contínua: busca constante por aperfeiçoamento nos processos, produtos e progresso nos resultados por meio da otimização dos recursos. A melhoria contínua foca no desenvolvimento de atividades que realmente agregam valor para o seu cliente, ao mesmo tempo em que busca reduzir ao máximo as atividades que geram desperdício. Compromisso com a qualidade: identificação das causas raízes de um problema para eliminá-lo por completo, reduzindo assim desperdícios e buscando a entrega na melhor qualidade possível ao seu consumidor. Just-in-time: significa na hora certa e utiliza o sistema de produção puxada, ou seja, trabalha com estoque mínimo e produção adequada à demanda. Segundo Ohno (1997), just-in-time em um fluxo produtivo, significa que as partes corretas necessárias à montagem alcançam a linha no momento em que são necessárias e somente na quantidade necessária. Uma empresa que estabeleça o just-in-time busca alcançar estoque zero. O JIT permite a flexibilização da produção, diminuição dos custos com estoque e sincronização dos estágios produtivos. 6 - 16 Eliminação de desperdício: elimina da produção tudo que aumenta o custo sem agregar valor significativo ao produto. A ideia é criar métodos para produzir com zero desperdício melhorando a performance da organização. O modelo produção lean, combina as vantagens da produção artesanal e em massa, evitando a rigidez da produção em massa e os altos custos da produção artesanal. Assim, emprega equipes de trabalhadores qualificados em todos os níveis da organização, além de perseguircustos sempre baixos, nível zero de estoque, e de desenvolver ou adquirir máquinas altamente flexíveis, para produzir uma maior e sempre crescente variedade de produtos, tendo sempre em mente a máxima satisfação do cliente, a qualidade aplicada (WOMACK; JONES; ROOS, 1992). Quer saber ainda mais sobre a história da manufatura enxuta? Confira no link: Quero Saber + https://www.portaldaindustria.com.br/ industria-de-a-z/lean-manufacturing- manufatura-enxuta 7 - 16 https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/lean-manufacturing-manufatura-enxuta Os 3Ms da filosofia lean A filosofia lean utiliza três expressões para definir as formas de desperdícios que podem ocorrer dentro de uma organização. São conhecidas popularmente por 3Ms e representam as palavras japonesas muri, mura e muda. A palavra muri, ou sobrecarga, irracional ou impossível em português, significa que existe uma sobrecarga ou um estresse excessivo sobre um equipamento ou operador. Essa sobrecarga exige que tanto equipamento como operador trabalhem em ritmo mais acelerado, intensificando seus esforços, por um tempo maior do que são capazes de suportar. Já a palavra mura, variabilidade, irregularidade ou inconsistência em português, se refere a uma distribuição irregular de uma atividade que faz com que haja picos de trabalho intensos alternados com momentos de espera. Essas irregularidades no fluxo e ritmo de trabalho não estão relacionadas à demanda, mas sim pela própria produção. O mura pode ser evitado através da aplicação de métodos que veremos neste estudo, como o kanban. Já a última forma de desperdício, muda, futilidade, inutilidade ou desperdício em português, refere-se à utilização de recursos que não agregam valor e não trazem retorno para a empresa. Muda Desperdício Mura Irregularidade Muri Sobrecarga Figura 4 - Os três grandes tipos de desperdício na filosofia lean Fonte: adaptado de Nomus (2021) 8 - 16 Sabe qual é a diferença entre perda e desperdício? Confira o vídeo a seguir para descobrir! Quero Saber + https://www.youtube.com/watch?v=ub8SPBV- MSw Os sete tipos de desperdício Como visto, um dos pilares do modelo Toyota de produção é a redução ou eliminação de desperdícios. Segundo Ohno (1997), o criador do lean manufacturing, a ideia fundamental do sistema para eliminar desperdícios e reduzir custos é produzir o que é necessário, no momento certo e na quantidade necessária. Nesse sentido, o modelo Toyota identifica, define e propõe a redução de sete tipos de desperdícios para a melhora da capacidade produtiva de uma empresa. São eles: Tempo de espera O tempo de espera é a ociosidade da produção por causas variadas. O tempo de espera pode ser de colaboradores aguardando por equipamentos de processamento para finalizar determinada atividade, linhas de produção paradas aguardando por peças e insumos, equipamentos parados esperando troca de matéria-prima ou reparos. O tempo de espera gera custos e aumenta consequentemente o tempo de entrega do produto ao cliente. Possíveis paradas por ausência de materiais, problemas mecânicos, ineficácia humana acarretam a paradas na linha de produção por danos; logo, a manutenção corretiva dada nestas situações faz com 9 - 16 https://www.youtube.com/watch?v=ub8SPBV-MSw que a fabricação atrase. Além disso, uma gestão centralizada, que não preza por um fluxo de informações adequado pode ocasionar demora também no andamento do processo produtivo. TEMPO É DINHEIRO Defeitos Produtos com defeitos ocorrem comumente por falhas no processo, operação ou matéria-prima e resultam em retrabalho, perda de material e em alguns casos sucateamento. Segundo Manfredini e Suski, os “produtos defeituosos implicam em desperdícios com materiais, mão de obra, uso de equipamentos, além da movimentação e armazenagem de materiais defeituosos” (2010, p. 5). 10 - 16 Estoque O desperdício de estoque está relacionado ao excedente de material disponível para fabricação. É o que chamamos de dinheiro parado” no sistema produtivo. Em alguns casos, o excesso de estoque pode ocorrer por problemas de entrega dos fornecedores ou ainda pelo temor por parte da fábrica em ficar sem insumos caso algum imprevisto ocorra. Transporte O desperdício no transporte refere-se à movimentação de materiais desnecessários dentro do sistema produtivo. Este desperdício está presente nas mais diversas operações dentro da empresa e pode acarretar no aumento de custo e de tempo de produção. O modelo Toyota busca economia na movimentação de materiais para redução de desperdício através de estudos de métodos de aprimoramento e tempo de trabalho. A tecnologia é uma grande aliada neste caso, no entanto, deve ser utilizada com cuidado, já que o excesso de automação também pode trazer custos e desperdícios. 11 - 16 Superprodução É a fonte de todos os desperdícios. Acontece quando a empresa produz mais do que o necessário para atender sua demanda. Os produtos excedentes geram excesso de estoque, movimentações desnecessárias, custos aumentados de mão de obra, gastos com armazenamento da fabricação, manutenção de equipamentos em excesso, entre outros. O produto fabricado em excesso pode ficar obsoleto e tornar-se um prejuízo para a empresa. As causas para a superprodução podem estar relacionadas à má gestão, à falha na comunicação ou ainda à falta de coordenação entre demanda e produção. Superprocessamento Este desperdício ocorre quando existem processos ou atividades sendo realizados que não agregam valor algum ao produto ou serviço, não alteram sua funcionalidade, desempenho ou características e que se forem eliminados não farão falta alguma. Além disso, ele pode atrasar ou atrapalhar a produção. Podemos citar como exemplo de superprocessamento, tarefas sendo executadas em duplicidade ou ainda a execução de atividades obsoletas que não foram atualizadas ou eliminadas. Movimentação Assim como o transporte de materiais pode causar desperdício, a movimentação inadequada de pessoas pode ocasionar perdas para a empresa. O excesso de movimento de uma pessoa para realizar uma operação consome um tempo que poderia ser utilizado para produzir e criar valor para a empresa. Esse desperdício ocorre geralmente por falhas no layout, falta de organização, má comunicação ou ainda obstáculos que obriguem as pessoas a desviarem do caminho exigindo que se percorra longas distâncias para realizar determinada atividade, por exemplo, o deslocamento de um operador de uma máquina para procurar um equipamento ou um material no almoxarifado que fica localizado em outro prédio da empresa. No período em que ele está se deslocando, não está produzindo. 12 - 16 É possível utilizar métodos para reduzir ou eliminar movimentos desnecessários, melhorando as operações e otimizando o tempo dos colaboradores tornando-os mais produtivos. Há ainda um oitavo desperdício não citado inicialmente no modelo Toyota de produção: o desperdício de potencial humano. Ele acontece quando as capacidades humanas não são aproveitadas em sua totalidade. Por exemplo, quando operadores que realizam determinado processo são os que possuem maior conhecimento para melhorá- lo. Este desperdício pode ocorrer em razão da cultura organizacional implantada, por ausência de aperfeiçoamento e treinamento de colaboradores entre outros. Perda ou desperdício? Você sabe a diferença? Muitas vezes esses termos são utilizados como sinônimos, no entanto eles têm significados e se manifestam de modo diferente. Qual dessas figuras você classificaria como perda? Qual delas representa um desperdício? Por quê? Reflita 13 - 16 14 - 16 Acesse, na biblioteca, o arquivo Registro de Prática e anote suas reflexões e experiências relacionadas a esta atividade. Hora de Praticar Identifique no seu ambiente de trabalho ou até mesmo em sua casa ou finanças quais são os tipos de desperdícios que ocorrem e que poderiam ser evitados através da aplicação do modelo Toyotade produção. Enumere esses desperdícios e tente reduzi- los ou eliminá-los durante uma semana. Depois contabilize os resultados atingidos. Foram abordados neste material os conceitos de desperdício dentro da filosofia de manufatura enxuta. A partir de agora você já é capaz de identificar e compreender cada um dos tipos de desperdícios elencados pelo modelo Toyota de produção. Você pode observar como cada um deles pode ocorrer dentro das empresas e como eles podem afetar negativamente o andamento de um negócio. Em muitas situações saber aproveitar eficientemente todos os recursos disponíveis é a chave para que uma empresa sobreviva e se mantenha competitiva no mercado. Referências BASTOS, B. C.; CHAVES, C. Aplicação de lean manufacturing em uma linha de produção de uma empresa do setor automotivo. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, IX SEGeT, 2012. HINES, P. Guia para implementação da manufatura enxuta: lean manufacturing. São Paulo: IMAM, 2000. MANFREDINI, M. F.; SUSKI, C. A. Aplicação do lean manufacturing para minimização de desperdícios gerados na produção, 1º Congresso de inovação, tecnologia e sustentabilidade, 2010. Disponível em: https:// ideiasustentavel.com.br/congresso-traz-como-tema-ciencia-e-a- tecnologia-como-vetores-para-a-sustentabilidade/. Acesso em: 22 ago. 2022. OHNO, T. O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a enxergar: mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar desperdício. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2003. RENTES, A.F, Gestão de mudança e sustentabilidade para a jornada lean. Piracicaba, 2007. SCHONBERGER, R. J. Técnicas industriais japonesas. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1993. WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas. 7. ed., Rio de Janeiro: Campus,1998. LEÃO, T. Muda, Mura e Muri: entenda definitivamente os 3Ms do sistema Toyota de produção. NOMUS, Blog Industrial, 2021. Disponível em: https:// www.nomus.com.br/blog-industrial/muda-mura-e-muri-3ms/ Acesso em: 15 de agosto de 2022. THAVES, B.; THAVES, T. Frank & Ernest. 1996. Em: https://www. frankandernest.com/ Acesso em: 15 de agosto de 2022. 15 - 16