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1 2 Jacob Grimm & Wilhelm Grimm João e Maria Data Original da Primeira Edição: 1812 Título original em alemão: Hänsel und Gretel 2024 3 Copyright @2024 Todos os Direitos Reservados Edição e diagramação: Fernando César Morellato Revisão: Vanessa Pedroso Editora: Digilivro 1ª Edição: 2024 Endereço: AV. Saturnino de Brito, nº: 1075 Sala: 101, Bairro: Vila Jardim Cidade: Porto Alegre, Estado: RS, CEP: 91320-000 Telefone: +55 (51) 3230-0900 Email: contato@digilivro.com.br 4 APRESENTAÇÃO Jacob Ludwig Carl Grimm (Hanau, 4 de janeiro de 1785 – Berlim, 20 de setembro de 1863) e Wilhelm Carl Grimm, (Hanau, 24 de fevereiro de 1786 – Berlim, 16 de dezembro de 1859) foram dois irmãos acadêmicos, linguistas, poetas e escritores que nasceram no então Condado de Hesse-Darmstadt, atual Alemanha. Se dedicaram à escrita de várias “fábulas infantis”, ganhando assim muita notoriedade que, paulatinamente, tomou proporções globais. Além disso, deram grandes contribuições para a língua alemã, tendo trabalhado na criação do Dicionário Definitivo da Língua Alemã, que não chegaram a concluir, devido à morte de ambos, entre as décadas de 1850 e 1860. Foram autores de diversos contos que fazem parte do imaginário infantil mundial, como: Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca de Neve, João e Maria, Cinderela, O Ganso de Ouro, O Pequeno Polegar, Rapunzel entre muitos outros. 5 O conto “João e Maria”, em alemão originalmente, recebeu o nome de Hänsel und Gretel, é uma adaptação inspirada em uma história chamada “As Crianças Perdidas”. A versão original se passa na Idade Média, e nada se parece com um conto infantil. 6 Sendo uma abordagem real das dificuldades enfrentadas naquela época devido à escassez de alimentos, parece um total absurdo na atualidade, mas naquela época, era comum que pais matassem os filhos ou mesmo os abandonassem, por não terem condições de sustentar a todos (barbáries da Idade Média). Publicado pela primeira vez no ano de 1812, este conto aborda a narrativa de dois irmãos que foram abandonados na floresta pelo pai e pela madrasta, devido à falta de dinheiro para sustenta-los. Os filhos, ao buscarem o caminho de volta para casa, encontram uma casa feita de doces e acabam sendo capturados por uma velha bruxa cujo o objetivo era "cozinhá-los" e se alimentar com eles. A história de João e Maria é um conto de fadas que ultrapassa gerações. Nas primeiras versões da coleção de contos dos Irmãos Grimm não havia madrasta. A própria mãe era quem persuadia o pai a abandonar os seus filhos. 7 Essa mudança, assim como em Branca de Neve, é uma forma de “atenuação deliberada” da violência contra as crianças, passando a responsabilidade para uma “madrasta malvada”, para as mães modernas que não suportassem o fato de mães ferirem seus próprios filhos. O fato de que a mãe, ou madrasta, e a bruxa são, na verdade, a mesma pessoa, ou, que a personalidade delas esteja fortemente ligada. Elas colocam as crianças em perigo, e têm a mesma preocupação por comida para acabar com a fome. De qualquer forma, temos a conivência do pai das crianças, mas na época era uma prática comum, como foi dito acima. Há ainda uma outra versão em que João e Maria resolveram apenas dar um passeio, e não que a mãe houvesse os expulsado de casa. Assim, dessa forma, pelo fato de a história apresentada nesta edição ser a versão “oficial” e conter contexto sinistro e obscuro, recomendamos fortemente a consideração dos pais e parcimônia ao decidirem apresentá-la para seus filhos. 8 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 4 SUMÁRIO ................................................................................................... 8 CAPÍTULO ÚNICO .................................................................................... 9 FIM............................................................................................................ 38 9 CAPÍTULO ÚNICO m frente a uma grande floresta vivia um pobre lenhador com sua esposa e seus dois filhos. O menino se chamava João e a menina Maria. Tinham pouco para comer e para dividirem, na cidade tudo era muito caro, nem mesmo o pão de cada dia sequer conseguiam comprar. Numa dessas noites, o lenhador estava pensando, atormentado por suas preocupações, não conseguia dormir e ficava se revirando inquieto na cama e, entre um suspiro e outro, perguntou à sua esposa, que era madrasta das crianças: — O que será de nós? Como iremos alimentar nossas pobres crianças quando não tivermos mais nada para comer, nem para nós mesmos? — Escute meu marido, eu te direi como — disse a mulher. — Amanhã de manhã bem cedo, nós levaremos as crianças para o meio da floresta, onde ela é mais densa. 10 11 Lá, vamos acender uma fogueira para elas e daremos um pedaço de pão ou mais para que se alimentem. Depois iremos para o nosso trabalho e as deixaremos lá sozinhas. Elas não encontrarão o caminho de casa novamente e nós ficaremos livres delas. — Não, mulher! — disse o homem. — De forma nenhuma farei isso, como poderia suportar deixar meus filhos sozinhos na floresta?... Os animais selvagens farão eles em pedaços e irão devorá-los, como poderei viver depois? O lenhador não queria nem ouvir falar de um plano tão cruel, mas a mulher, esperta e insistente, conseguiu convencê-lo. — Oh, você é um tolo, isso sim! — disse a mulher. — Então nós quatro iremos morrer de fome, e nada mais nos resta senão ir preparando as tábuas para os nossos caixões — e, então, ela não o deixou em paz até que ele finalmente concordou. — Mas vou sentir muita falta das nossas pobres crianças, de todas elas por igual — disse o homem. 12 As duas crianças, que não tinham ainda conseguido dormir por causa da fome, ouviram tudo o que sua madrasta tinha falado para o seu pai. Maria, chorando lágrimas amargas, disse ao seu irmão João: — Agora está tudo acabado para nós. Estamos perdidos! — Fique quieta, Maria. — disse João. — Não se preocupe, logo encontraremos uma maneira de sair dessa situação, não tenha medo, acho que eu sei o que fazer. E quando os pais adormeceram, João se levantou bem de mansinho, pegou seu casaco, abriu a porta da frente e saiu bem devagarzinho. A lua estava muito brilhante, e as pedrinhas brancas que haviam na entrada da casa brilhavam como pequenas moedinhas de prata. João parou e colocou tantas pedrinhas quanto podia no pequeno bolso do seu casaco. Então ele retornou para dentro e disse a Maria: 13 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 14 — Fique tranquila, querida irmãzinha, e durma sossegada. Deus não nos abandonará! — e deitou em sua cama novamente e dormiu. Quando o dia amanheceu, porém, antes do sol nascer, a mulher veio e acordou as duas crianças, dizendo: — Levantem, seus preguiçosos! Nós iremos à floresta catar madeira. Então ela deu a cada um deles um pedaço de pão e disse: — Aqui está alguma coisa para que vocês comam no almoço, mas não comam antes, ou não terão mais nada para comer depois. Maria guardou o pão em seu avental, pois João estava com os bolsos cheios de pedrinhas. Então, todos saíram juntos pelo caminho da floresta. Quando haviam andado depois de um curto espaço de tempo, João parava e olhava acasa que ficava para trás, e fez isso algumas vezes, até que seu pai, intrigado, tendo visto isso, lhe disse: 15 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 16 — João, o que você está olhando e por que está se atrasando? Preste atenção no que estás fazendo e não te esqueças de como usar as pernas. Vamos, depressa. — Ah, papai! — disse João. — Estou olhando o meu gatinho branco, que está sentado no telhado e está se despedindo de mim. A esposa disse: — Tolo, não é o teu gato. Não vês que é o sol da manhã brilhando na chaminé? Mas João não estava olhando para gato nenhum, era apenas uma distração para, todas as vezes, deixar cair no caminho uma das pedrinhas brilhantes que trazia no bolso. Quando finalmente atingiram o meio da floresta, seu pai lhes disse: — Agora, crianças, vamos juntar um pouco de lenha, enquanto isso eu vou acender uma fogueira para que vocês não fiquem com frio. 17 João e Maria juntaram uma boa quantidade de gravetos, galhos e ramos secos, do tamanho de um pequeno monte, com os quais acenderam a fogueira. Assim que as chamas estavam bem altas, a mulher disse a eles: — Agora, crianças, se sentem perto do fogo e descansem, nós iremos à floresta cortar um pouco de madeira. Quando tivermos acabado nosso trabalho, voltaremos aqui para buscá-los. João e Maria sentaram-se perto do fogo e, ao meio-dia, cada qual comeu o seu pedaço de pão. Ouvindo os golpes do machado, acharam que o pai estivesse ali por perto, mas não era o machado, era simplesmente um galho que ele havia amarrado a uma árvore seca e que balançava para frente e para trás e batia sacudido pelo vento. E ficaram durante muito tempo sentados junto do fogo; depois, por conta do cansaço, adormeceram profundamente. Quando finalmente acordaram já era noite. Maria começou a chorar com medo e disse: 18 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 19 — Como nós vamos sair da floresta agora? — Espere só um pouco — disse João para confortá-la —, até surgir a lua lá no alto do céu, aí nós encontraremos o caminho. Não tardou, a lua apareceu resplandecente. João pegou sua irmãzinha pela mão e juntos foram seguindo as pedrinhas, que brilhavam como moedas de prata novas e lhes indicavam o caminho. Andaram a noite toda e, ao nascer do dia, chegaram à casa do pai. Bateram à porta e, quando a mulher abriu, vendo os dois na sua frente, disse, muito brava: — Suas crianças preguiçosas, por que dormiram tanto na floresta? Até pensamos que não queriam mais voltar para casa. O pai, ao contrário, alegrou-se ao vê-los, pois estava com muito remorso por tê-los abandonado lá sozinhos. Assim, passou-se um certo tempo. Depois a miséria tornou a invadir a casa e, uma noite, 20 quando estavam deitados, as crianças ouviram a madrasta dizer ao pai: — Já comemos tudo o que havia em casa, só nos resta meio pão e depois disto será o fim. É preciso levar as crianças embora de novo. Desta vez, porém, mais para dentro da floresta, para que elas não encontrem o caminho de volta. Não nos resta outra solução. O homem sentiu o seu coração apertar e pensou consigo mesmo: “Seria melhor você dividir teu último pão com teus filhos”, e relutava em concordar. (Code D0) A mulher, porém, não lhe dava atenção, mas o repreendia e o censurava severamente e com aspereza. Mas, como havia cedido da primeira vez, o homem viu-se forçado a ceder novamente. As crianças, que ainda estavam acordadas, ouviram novamente toda a conversa. Assim que os seus pais adormeceram, João levantou-se para sair de mansinho, como da outra vez, para catar as pedrinhas lá fora, mas a madrasta havia 21 trancado a porta. Mesmo assim ele tranquilizou a irmãzinha e disse: — Não chore Maria, durma em paz, o bom Deus nos ajudará. Logo ao raiar do dia, na manhã seguinte, a madrasta tirou as crianças da cama. Cada um deles recebeu um pedaço de pão, ainda menor que o da outra vez. No caminho para a floresta, João esfarelou-o no bolso e, de quando em quando, parava a fim de, cuidadosamente, deixar cair as migalhas. — João, por que você está parando e olhando tanto para trás? — perguntou o pai. — Estou olhando para o meu pombinho que está no telhado e me dando adeus — respondeu João. — Tolo! — disse a madrasta. — Não vês então que aquele não é o teu pombinho, mas sim é o sol da manhã brilhando na chaminé? João, no entanto, pouco a pouco, jogava as migalhas de pão marcando o caminho. 22 Dessa vez a madrasta levou as crianças ainda mais para dentro da floresta, onde nunca tinham ido antes. Então, uma grande fogueira foi acendida novamente e a ela disse: — Sentem apenas um pouquinho, crianças, e quando estiverem cansados, podem deitar e dormir um pouco. Enquanto isso nós iremos rachar lenha, e, de tarde quando tivermos terminado, voltaremos para buscá-los novamente. Quando era já meio-dia, Maria dividiu seu pedaço de pão com João, que havia espalhado o seu pelo caminho. Depois que a tarde veio e ninguém foi buscá- los, anoiteceu e adormeceram. Acordaram quando a noite ia alta, e a menina começou a chorar. João confortou-a, dizendo: — Espera até surgir a lua, aí então nós veremos as migalhinhas de pão que eu espalhei e, a partir delas, encontraremos o caminho de casa. Quando surgiu a lua, levantaram-se, mas não encontraram mais nem uma só migalha. Os 23 passarinhos, que voavam acima nas árvores e nos campos e andavam por toda parte, tinham comido todas. João então disse a Maria: — Não tem importância, vamos encontrar logo o caminho de qualquer maneira — porém não encontraram o caminho e andaram toda a noite e mais um dia inteiro de manhã à tarde sem conseguir sair da floresta. Estavam com uma fome tremenda, pois só tinham comido algumas amoras, e tão cansados que as pernas não se aguentavam mais. Então, deitaram-se debaixo de uma árvore e adormeceram. Três manhãs haviam passado desde que tinham deixado a casa do pai deles. Na manhã do terceiro dia, retornaram a procurar o caminho, mas cada vez se embrenhavam mais pela floresta e, se ninguém os ajudasse, certamente acabariam morrendo de fome ou cansaço. Ao meio-dia, eles viram um lindo passarinho, branco como a neve, pousado sobre um galho. Ele cantava com tanta alegria que eles pararam para escutá-lo. 24 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 25 E quando o pássaro acabou de cantar a melodia, ele estendeu suas asas e voou para longe da presença deles. As crianças o seguiram até eles chegarem a uma pequena casinha, tendo o pássaro pousado no telhado. Quando eles chegaram perto da casinha, viram que era feita de pão de ló e coberta com bolos de chocolate, e as janelinhas eram de açúcar transparente. — Oba! — Exclamou o menino satisfeito. — Vamos nos mexer — disse João — e fazer uma boa refeição. Vou comer um pedaço do telhado, e você, Maria, pode comer um pouco da janela, deve ter um sabor doce delicioso. João subiu no telhado na ponta dos pés e quebrou um pequeno pedaço do telhado para tentar provar. Maria apoiou-se contra a janela, mordiscou as vidraças e começou a lamber os vidros da janela. Então uma voz estridente gritou da sala: — Ouço barulho de mordidas e ruídos! Quem morde, quem são os enxeridos? 26 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 27 As crianças responderam: — O vento, o vento que vem do paraíso. E continuaram comendo sem se preocuparem. João, que achou que o telhado tinha um gosto muito bom, tirou um grande pedaço dele, e Maria arrancou de uma vez só uma parte inteira da janela redonda, se sentou, e deliciou-se com ela. Mas, de repente a porta se abriu e uma mulher muito, muito velha, que andava de muletas, num passo trôpego,saiu devagarinho para fora. João e Maria assustaram-se de tal maneira que deixaram cair o que tinham nas mãos. A velhinha, entretanto, balançou a cabeça e disse: — Oh, minhas queridas crianças, quem os trouxe aqui? Entrai minhas crianças e me façam companhia. Nenhum mal acontecerá a vocês — ela pegou os dois pela mão e os levou para dentro da casinha. Então serviu-lhes uma deliciosa refeição, com leite, bolinhos, maçãs, nozes e panquecas. Depois disso, duas pequenas camas muito limpas e alvas foram cobertas com linho branco, e João e Maria deitaram nelas, pensando que estavam no céu. 28 A velhinha apenas fingia ser boa e gentil; ela era na verdade uma bruxa má, que ficava à espera de crianças, e que tinha construído a pequena casinha de pão de ló somente para atraí- las para lá. Quando as crianças caíam em seu poder, ela as matava, as cozinhava e as comia, e esse era um dia de banquete e de festa para ela. As bruxas geralmente têm olhos vermelhos, e não podem ver bem à distância, porém, têm um olfato apurado como os animais e percebem quando os humanos estão próximos, o que lhes permite sentir o cheio de uma criança de longe. Portanto, quando João e Maria se aproximaram das imediações da casa, ela riu maliciosamente, dizendo com os seus botões: — Estes caíram em meu poder, não me escaparão mais. Eu vou comê-los! Pela manhã, bem cedinho, antes das crianças acordarem, ela já tinha levantado e foi espiá-los, quando viu os dois dormindo, pareciam tão lindos 29 como dois anjinhos, com suas bochechas rechonchudas vermelhas, murmurou para si mesma: — Esta será uma refeição deliciosa! — Então ela, com sua mão enrugada, amarrou João, carregou-o para um pequeno estábulo, e o prendeu com uma porta de grades de ferro. De nada lhe adiantou gritar e espernear. Ele podia gritar o quanto quisesse que não adiantava. Então, depois ela foi até Maria, sacudiu a menina e gritou: — Levante-se, sua coisa preguiçosa! Vai buscar um pouco de água e prepara uma boa comidinha para teu irmão, que está preso no estábulo lá fora, ele deve engordar. Pois quando ele estiver no ponto, bem gordinho, irei comê-lo. Maria começou a chorar copiosamente, mas foi completamente em vão, pois ela foi forçada a fazer o que a bruxa má ordenava. Maria, então, preparava as refeições mais requintadas para o irmão, enquanto ela ficava só com as sobras. 30 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 31 Cada manhã a velha ia até junto da grade e dizia: — João, mostra-me teu dedinho, quero ver se está gordinho! João, porém, mostrava-lhe sempre um ossinho e a velha, que não enxergava nem um palmo diante do nariz, julgava que fosse o dedo do menino e ficava muito admirada por ele nunca engordar. Quatro semanas haviam se passado, visto que João ainda continuava sempre magro, perdeu a paciência e resolveu não esperar mais. — Vamos, Maria — gritou e ordenou para a menina —, seja boazinha e traga um pouco d'água depressa. Estando gordo ou magro não importa, o matarei assim mesmo e amanhã vou cozinhá-lo e o comerei. Ah, como a pobre menina lamentou quando teve que trazer a água, e como as lágrimas escorriam pelo seu rosto! — Ah, querido e bondoso Deus, ajuda-nos! — implorava ela. — Antes nos tivessem devorado as 32 feras no meio da floresta! Pelo menos de alguma forma teríamos morrido juntos! — Guarde toda essa choradeira só para você — disse a velha —, tudo isto não vai servir para nada, de jeito nenhum. De manhã, bem cedinho, Maria teve de ir buscar água, pendurar, encher o caldeirão com água e acender o fogo. — Primeiro vamos assar o pão, já preparei a massa — disse a bruxa — e já acendi o forno. Ela empurrou a pobre Maria para perto do forno do qual saíram grandes labaredas. — Entra aí dentro — disse a velha — e veja se já está bem quente para podermos fechar e assar o pão. E quando Maria estivesse dentro do forno, ela pretendia fechá-lo e deixá-la cozinhar, e então a comeria também. Mas Maria percebeu o que ela tinha em mente e disse: 33 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 34 — Não sei como fazer isto; como faço para entrar? — Sua pata tonta, imbecil e estúpida — disse a velha —, a abertura é grande o suficiente, olha, até eu poderia entrar! Assim dizendo, ela se contorceu com dificuldade e enfiou sua cabeça dentro do forno. Maria, então, com um forte empurrão a fez entrar no forno e fechou rapidamente a porta de ferro com a tranca. Uh! Que berros horríveis soltava a bruxa! Maria, porém, saiu correndo e a velha acabou morrendo, miseravelmente queimada. Maria correu como um raio em direção a João, que estava no estábulo, abriu a portinhola e gritou dizendo ao irmão: — João, corre, estamos a salvo. A bruxa velha morreu. João então saiu pulando, alegremente como se fosse um passarinho, ao lhe abrirem a porta da gaiola. E com muita felicidade se abraçaram e se beijaram, rindo e dançando! E como eles não 35 precisavam mais ter medo da bruxa, eles foram à casa dela, e em todos os cantos havia baús espalhados cheios de pérolas e joias com pedras preciosas. — Estas são bem melhores do que as pedrinhas lá de casa! — disse João, enquanto ia enchendo os bolsos até não poder mais. — Eu também vou levar! — disse Maria, e foi enchendo o avental. — Agora nós vamos embora daqui — disse o irmão —, temos que sair da floresta da bruxa. Depois de terem caminhado durante algumas horas, chegaram à margem de um rio muito largo. — Não vamos conseguir atravessar — disse João —, não vejo nenhuma ponte ou passagem. — E nenhum barco para atravessar também — respondeu a irmã —, mas olha, aí vem uma pata branca nadando. Se eu pedir a ela, talvez possa nos ajudar — então ela gritou: 36 Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 37 — Patinha, patinha, que tudo está vendo, aqui são João e Maria, não podemos passar, não há um caminho ou uma ponte até o outro lado, pode nos ajudar? Leve-nos em seu dorso tão branco e claro. A pata veio em direção a eles, João sentou-se em suas costas e disse a irmã para que se sentasse atrás dele. Mas Maria respondeu: — Vai ficar muito pesado para a patinha. Então é melhor que ela nos leve um de cada vez. Assim fez a boa patinha. E quando felizmente chegaram ao outro lado em segurança, depois de caminharem bastante, a floresta foi-se tornando mais familiar, até que finalmente avistaram a casa do pai. Correram em sua direção e, lá dentro, o abraçaram e o cobriram de beijos. O pobre homem nunca mais tivera uma hora feliz e um momento de sossego com sua consciência desde que abandonara as crianças no meio da floresta. A sua mulher (para o bem de todos) havia morrido. Então Maria sacudiu e esvaziou o avental até 38 que as pérolas, joias e pedras preciosas caíssem, deixando rolar pelo chão. João acrescentou todo o conteúdo de seus bolsos. Então toda ansiedade terminou, todos os sofrimentos e preocupações, e os três viveram felizes pelo resto da vida. “A minha história está acabada, ali vai um rato correndo, aquele que o capturar, pode fazer um grande chapéu com a pele dele”. FIM 39 Editoração de livros 51 99314-1899 contato@digilivro.com.br