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Jacob Grimm & 
Wilhelm Grimm 
 
 
 
João e Maria 
 
 
 
Data Original da Primeira Edição: 1812 
 
 
Título original em alemão: Hänsel und Gretel 
 
 
 
 
2024 
 
 
 
 
 
 
3 
Copyright @2024 
Todos os Direitos Reservados 
Edição e diagramação: Fernando César Morellato 
Revisão: Vanessa Pedroso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editora: Digilivro 
 
1ª Edição: 2024 
Endereço: AV. Saturnino de Brito, nº: 1075 
Sala: 101, Bairro: Vila Jardim 
Cidade: Porto Alegre, Estado: RS, CEP: 91320-000 
Telefone: +55 (51) 3230-0900 Email: contato@digilivro.com.br 
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APRESENTAÇÃO 
 
Jacob Ludwig Carl Grimm (Hanau, 4 de janeiro 
de 1785 – Berlim, 20 de setembro de 1863) e 
Wilhelm Carl Grimm, (Hanau, 24 de fevereiro de 
1786 – Berlim, 16 de dezembro de 1859) foram 
dois irmãos acadêmicos, linguistas, poetas e 
escritores que nasceram no então Condado de 
Hesse-Darmstadt, atual Alemanha. 
Se dedicaram à escrita de várias “fábulas 
infantis”, ganhando assim muita notoriedade que, 
paulatinamente, tomou proporções globais. Além 
disso, deram grandes contribuições para a língua 
alemã, tendo trabalhado na criação do Dicionário 
Definitivo da Língua Alemã, que não chegaram a 
concluir, devido à morte de ambos, entre as 
décadas de 1850 e 1860. 
Foram autores de diversos contos que fazem 
parte do imaginário infantil mundial, como: 
Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca 
de Neve, João e Maria, Cinderela, O Ganso de Ouro, 
O Pequeno Polegar, Rapunzel entre muitos outros. 
 
 
5 
 
 
 
 
O conto “João e Maria”, em alemão originalmente, 
recebeu o nome de Hänsel und Gretel, é uma 
adaptação inspirada em uma história chamada “As 
Crianças Perdidas”. A versão original se passa na 
Idade Média, e nada se parece com um conto infantil. 
 
 
6 
 
 
Sendo uma abordagem real das dificuldades 
enfrentadas naquela época devido à escassez de 
alimentos, parece um total absurdo na atualidade, 
mas naquela época, era comum que pais 
matassem os filhos ou mesmo os abandonassem, 
por não terem condições de sustentar a todos 
(barbáries da Idade Média). 
Publicado pela primeira vez no ano de 1812, 
este conto aborda a narrativa de dois irmãos que 
foram abandonados na floresta pelo pai e pela 
madrasta, devido à falta de dinheiro para 
sustenta-los. Os filhos, ao buscarem o caminho de 
volta para casa, encontram uma casa feita de 
doces e acabam sendo capturados por uma velha 
bruxa cujo o objetivo era "cozinhá-los" e se 
alimentar com eles. 
A história de João e Maria é um conto de fadas 
que ultrapassa gerações. Nas primeiras versões da 
coleção de contos dos Irmãos Grimm não havia 
madrasta. A própria mãe era quem persuadia o pai 
a abandonar os seus filhos. 
 
 
7 
 
 
Essa mudança, assim como em Branca de Neve, 
é uma forma de “atenuação deliberada” da violência 
contra as crianças, passando a responsabilidade para 
uma “madrasta malvada”, para as mães modernas 
que não suportassem o fato de mães ferirem seus 
próprios filhos. 
O fato de que a mãe, ou madrasta, e a bruxa 
são, na verdade, a mesma pessoa, ou, que a 
personalidade delas esteja fortemente ligada. Elas 
colocam as crianças em perigo, e têm a mesma 
preocupação por comida para acabar com a fome. 
 De qualquer forma, temos a conivência do pai 
das crianças, mas na época era uma prática comum, 
como foi dito acima. Há ainda uma outra versão em 
que João e Maria resolveram apenas dar um passeio, 
e não que a mãe houvesse os expulsado de casa. 
Assim, dessa forma, pelo fato de a história 
apresentada nesta edição ser a versão “oficial” e 
conter contexto sinistro e obscuro, recomendamos 
fortemente a consideração dos pais e parcimônia ao 
decidirem apresentá-la para seus filhos. 
 
 
8 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 4 
SUMÁRIO ................................................................................................... 8 
CAPÍTULO ÚNICO .................................................................................... 9 
FIM............................................................................................................ 38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
CAPÍTULO ÚNICO 
 
m frente a uma grande floresta vivia 
um pobre lenhador com sua esposa 
e seus dois filhos. O menino se 
chamava João e a menina Maria. 
Tinham pouco para comer e para 
dividirem, na cidade tudo era muito caro, nem mesmo 
o pão de cada dia sequer conseguiam comprar. 
 
Numa dessas noites, o lenhador estava pensando, 
atormentado por suas preocupações, não conseguia 
dormir e ficava se revirando inquieto na cama e, entre 
um suspiro e outro, perguntou à sua esposa, que era 
madrasta das crianças: 
 
— O que será de nós? Como iremos alimentar 
nossas pobres crianças quando não tivermos mais 
nada para comer, nem para nós mesmos? 
 
— Escute meu marido, eu te direi como — 
disse a mulher. — Amanhã de manhã bem cedo, 
nós levaremos as crianças para o meio da floresta, 
onde ela é mais densa. 
10 
 
11 
Lá, vamos acender uma fogueira para elas e 
daremos um pedaço de pão ou mais para que se 
alimentem. Depois iremos para o nosso trabalho e 
as deixaremos lá sozinhas. Elas não encontrarão o 
caminho de casa novamente e nós ficaremos livres 
delas. 
 
— Não, mulher! — disse o homem. — De 
forma nenhuma farei isso, como poderia suportar 
deixar meus filhos sozinhos na floresta?... Os 
animais selvagens farão eles em pedaços e irão 
devorá-los, como poderei viver depois? 
 
O lenhador não queria nem ouvir falar de um 
plano tão cruel, mas a mulher, esperta e 
insistente, conseguiu convencê-lo. 
 
— Oh, você é um tolo, isso sim! — disse a 
mulher. — Então nós quatro iremos morrer de 
fome, e nada mais nos resta senão ir preparando 
as tábuas para os nossos caixões — e, então, ela 
não o deixou em paz até que ele finalmente 
concordou. 
 
— Mas vou sentir muita falta das nossas pobres 
crianças, de todas elas por igual — disse o homem. 
12 
As duas crianças, que não tinham ainda 
conseguido dormir por causa da fome, ouviram 
tudo o que sua madrasta tinha falado para o seu 
pai. 
 
Maria, chorando lágrimas amargas, disse ao 
seu irmão João: — Agora está tudo acabado para 
nós. Estamos perdidos! 
 
— Fique quieta, Maria. — disse João. — Não 
se preocupe, logo encontraremos uma maneira 
de sair dessa situação, não tenha medo, acho 
que eu sei o que fazer. 
 
E quando os pais adormeceram, João se 
levantou bem de mansinho, pegou seu casaco, 
abriu a porta da frente e saiu bem devagarzinho. 
 
A lua estava muito brilhante, e as pedrinhas 
brancas que haviam na entrada da casa 
brilhavam como pequenas moedinhas de prata. 
 
João parou e colocou tantas pedrinhas 
quanto podia no pequeno bolso do seu casaco. 
Então ele retornou para dentro e disse a Maria: 
 
13 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
14 
— Fique tranquila, querida irmãzinha, e durma 
sossegada. Deus não nos abandonará! — e deitou 
em sua cama novamente e dormiu. 
 
Quando o dia amanheceu, porém, antes do sol 
nascer, a mulher veio e acordou as duas crianças, 
dizendo: 
 
— Levantem, seus preguiçosos! Nós iremos à 
floresta catar madeira. 
 
Então ela deu a cada um deles um pedaço de 
pão e disse: 
 
— Aqui está alguma coisa para que vocês 
comam no almoço, mas não comam antes, ou não 
terão mais nada para comer depois. 
 
Maria guardou o pão em seu avental, pois João 
estava com os bolsos cheios de pedrinhas. 
 
Então, todos saíram juntos pelo caminho da 
floresta. Quando haviam andado depois de um curto 
espaço de tempo, João parava e olhava acasa que 
ficava para trás, e fez isso algumas vezes, até que 
seu pai, intrigado, tendo visto isso, lhe disse: 
15 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
16 
— João, o que você está olhando e por que 
está se atrasando? Preste atenção no que estás 
fazendo e não te esqueças de como usar as 
pernas. Vamos, depressa. 
 
— Ah, papai! — disse João. — Estou olhando 
o meu gatinho branco, que está sentado no 
telhado e está se despedindo de mim. 
 
A esposa disse: 
 
— Tolo, não é o teu gato. Não vês que é o sol 
da manhã brilhando na chaminé? 
 
Mas João não estava olhando para gato 
nenhum, era apenas uma distração para, todas 
as vezes, deixar cair no caminho uma das 
pedrinhas brilhantes que trazia no bolso. 
 
Quando finalmente atingiram o meio da 
floresta, seu pai lhes disse: 
 
— Agora, crianças, vamos juntar um pouco 
de lenha, enquanto isso eu vou acender uma 
fogueira para que vocês não fiquem com frio. 
 
17 
João e Maria juntaram uma boa quantidade 
de gravetos, galhos e ramos secos, do tamanho 
de um pequeno monte, com os quais acenderam 
a fogueira. Assim que as chamas estavam bem 
altas, a mulher disse a eles: 
 
— Agora, crianças, se sentem perto do fogo 
e descansem, nós iremos à floresta cortar um 
pouco de madeira. Quando tivermos acabado 
nosso trabalho, voltaremos aqui para buscá-los. 
 
João e Maria sentaram-se perto do fogo e, ao 
meio-dia, cada qual comeu o seu pedaço de pão. 
Ouvindo os golpes do machado, acharam que o 
pai estivesse ali por perto, mas não era o 
machado, era simplesmente um galho que ele 
havia amarrado a uma árvore seca e que 
balançava para frente e para trás e batia 
sacudido pelo vento. 
 
E ficaram durante muito tempo sentados 
junto do fogo; depois, por conta do cansaço, 
adormeceram profundamente. Quando 
finalmente acordaram já era noite. Maria 
começou a chorar com medo e disse: 
 
18 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
19 
— Como nós vamos sair da floresta agora? 
 
— Espere só um pouco — disse João para 
confortá-la —, até surgir a lua lá no alto do céu, aí 
nós encontraremos o caminho. 
 
Não tardou, a lua apareceu resplandecente. 
João pegou sua irmãzinha pela mão e juntos foram 
seguindo as pedrinhas, que brilhavam como 
moedas de prata novas e lhes indicavam o caminho. 
 
Andaram a noite toda e, ao nascer do dia, 
chegaram à casa do pai. Bateram à porta e, 
quando a mulher abriu, vendo os dois na sua 
frente, disse, muito brava: 
 
— Suas crianças preguiçosas, por que 
dormiram tanto na floresta? Até pensamos que 
não queriam mais voltar para casa. 
 
O pai, ao contrário, alegrou-se ao vê-los, pois 
estava com muito remorso por tê-los abandonado 
lá sozinhos. 
 
Assim, passou-se um certo tempo. Depois a 
miséria tornou a invadir a casa e, uma noite, 
20 
quando estavam deitados, as crianças ouviram a 
madrasta dizer ao pai: 
 
— Já comemos tudo o que havia em casa, só 
nos resta meio pão e depois disto será o fim. É 
preciso levar as crianças embora de novo. Desta 
vez, porém, mais para dentro da floresta, para que 
elas não encontrem o caminho de volta. Não nos 
resta outra solução. 
 
O homem sentiu o seu coração apertar e 
pensou consigo mesmo: “Seria melhor você dividir 
teu último pão com teus filhos”, e relutava em 
concordar. (Code D0) 
 
A mulher, porém, não lhe dava atenção, mas 
o repreendia e o censurava severamente e com 
aspereza. Mas, como havia cedido da primeira vez, 
o homem viu-se forçado a ceder novamente. 
 
As crianças, que ainda estavam acordadas, 
ouviram novamente toda a conversa. Assim que 
os seus pais adormeceram, João levantou-se 
para sair de mansinho, como da outra vez, para 
catar as pedrinhas lá fora, mas a madrasta havia 
21 
trancado a porta. Mesmo assim ele tranquilizou a 
irmãzinha e disse: 
 
— Não chore Maria, durma em paz, o bom 
Deus nos ajudará. 
 
Logo ao raiar do dia, na manhã seguinte, a 
madrasta tirou as crianças da cama. Cada um 
deles recebeu um pedaço de pão, ainda menor 
que o da outra vez. No caminho para a floresta, 
João esfarelou-o no bolso e, de quando em 
quando, parava a fim de, cuidadosamente, deixar 
cair as migalhas. 
 
— João, por que você está parando e olhando 
tanto para trás? — perguntou o pai. 
 
— Estou olhando para o meu pombinho que está 
no telhado e me dando adeus — respondeu João. 
 
— Tolo! — disse a madrasta. — Não vês então 
que aquele não é o teu pombinho, mas sim é o sol 
da manhã brilhando na chaminé? 
 
João, no entanto, pouco a pouco, jogava as 
migalhas de pão marcando o caminho. 
22 
Dessa vez a madrasta levou as crianças ainda 
mais para dentro da floresta, onde nunca tinham ido 
antes. Então, uma grande fogueira foi acendida 
novamente e a ela disse: 
 
— Sentem apenas um pouquinho, crianças, e 
quando estiverem cansados, podem deitar e dormir 
um pouco. Enquanto isso nós iremos rachar lenha, 
e, de tarde quando tivermos terminado, voltaremos 
para buscá-los novamente. 
 
Quando era já meio-dia, Maria dividiu seu 
pedaço de pão com João, que havia espalhado o seu 
pelo caminho. 
 
Depois que a tarde veio e ninguém foi buscá-
los, anoiteceu e adormeceram. Acordaram quando 
a noite ia alta, e a menina começou a chorar. João 
confortou-a, dizendo: 
 
— Espera até surgir a lua, aí então nós 
veremos as migalhinhas de pão que eu espalhei e, 
a partir delas, encontraremos o caminho de casa. 
 
Quando surgiu a lua, levantaram-se, mas não 
encontraram mais nem uma só migalha. Os 
23 
passarinhos, que voavam acima nas árvores e nos 
campos e andavam por toda parte, tinham comido 
todas. João então disse a Maria: 
 
— Não tem importância, vamos encontrar logo 
o caminho de qualquer maneira — porém não 
encontraram o caminho e andaram toda a noite e 
mais um dia inteiro de manhã à tarde sem 
conseguir sair da floresta. 
 
Estavam com uma fome tremenda, pois só 
tinham comido algumas amoras, e tão cansados que 
as pernas não se aguentavam mais. Então, 
deitaram-se debaixo de uma árvore e adormeceram. 
 
Três manhãs haviam passado desde que 
tinham deixado a casa do pai deles. Na manhã do 
terceiro dia, retornaram a procurar o caminho, 
mas cada vez se embrenhavam mais pela floresta 
e, se ninguém os ajudasse, certamente acabariam 
morrendo de fome ou cansaço. 
 
Ao meio-dia, eles viram um lindo passarinho, 
branco como a neve, pousado sobre um galho. Ele 
cantava com tanta alegria que eles pararam para 
escutá-lo. 
24 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
25 
E quando o pássaro acabou de cantar a 
melodia, ele estendeu suas asas e voou para longe 
da presença deles. As crianças o seguiram até eles 
chegarem a uma pequena casinha, tendo o 
pássaro pousado no telhado. 
 
Quando eles chegaram perto da casinha, viram 
que era feita de pão de ló e coberta com bolos de 
chocolate, e as janelinhas eram de açúcar 
transparente. 
 
— Oba! — Exclamou o menino satisfeito. — 
Vamos nos mexer — disse João — e fazer uma boa 
refeição. Vou comer um pedaço do telhado, e você, 
Maria, pode comer um pouco da janela, deve ter um 
sabor doce delicioso. 
 
João subiu no telhado na ponta dos pés e 
quebrou um pequeno pedaço do telhado para tentar 
provar. Maria apoiou-se contra a janela, mordiscou 
as vidraças e começou a lamber os vidros da janela. 
 
Então uma voz estridente gritou da sala: 
 
— Ouço barulho de mordidas e ruídos! 
Quem morde, quem são os enxeridos? 
26 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
27 
As crianças responderam: 
 
— O vento, o vento que vem do paraíso. 
 
E continuaram comendo sem se preocuparem. 
João, que achou que o telhado tinha um gosto 
muito bom, tirou um grande pedaço dele, e Maria 
arrancou de uma vez só uma parte inteira da 
janela redonda, se sentou, e deliciou-se com ela. 
 
Mas, de repente a porta se abriu e uma mulher 
muito, muito velha, que andava de muletas, num 
passo trôpego,saiu devagarinho para fora. João e 
Maria assustaram-se de tal maneira que deixaram 
cair o que tinham nas mãos. A velhinha, 
entretanto, balançou a cabeça e disse: 
 
— Oh, minhas queridas crianças, quem os trouxe 
aqui? Entrai minhas crianças e me façam companhia. 
Nenhum mal acontecerá a vocês — ela pegou os dois 
pela mão e os levou para dentro da casinha. Então 
serviu-lhes uma deliciosa refeição, com leite, 
bolinhos, maçãs, nozes e panquecas. Depois disso, 
duas pequenas camas muito limpas e alvas foram 
cobertas com linho branco, e João e Maria 
deitaram nelas, pensando que estavam no céu. 
28 
A velhinha apenas fingia ser boa e gentil; ela 
era na verdade uma bruxa má, que ficava à 
espera de crianças, e que tinha construído a 
pequena casinha de pão de ló somente para atraí-
las para lá. 
 
Quando as crianças caíam em seu poder, ela 
as matava, as cozinhava e as comia, e esse era 
um dia de banquete e de festa para ela. 
 
As bruxas geralmente têm olhos vermelhos, e 
não podem ver bem à distância, porém, têm um 
olfato apurado como os animais e percebem 
quando os humanos estão próximos, o que lhes 
permite sentir o cheio de uma criança de longe. 
 
Portanto, quando João e Maria se 
aproximaram das imediações da casa, ela riu 
maliciosamente, dizendo com os seus botões: 
 
— Estes caíram em meu poder, não me 
escaparão mais. Eu vou comê-los! 
 
Pela manhã, bem cedinho, antes das crianças 
acordarem, ela já tinha levantado e foi espiá-los, 
quando viu os dois dormindo, pareciam tão lindos 
29 
como dois anjinhos, com suas bochechas 
rechonchudas vermelhas, murmurou para si 
mesma: 
 
— Esta será uma refeição deliciosa! — Então 
ela, com sua mão enrugada, amarrou João, 
carregou-o para um pequeno estábulo, e o 
prendeu com uma porta de grades de ferro. 
 
De nada lhe adiantou gritar e espernear. Ele 
podia gritar o quanto quisesse que não adiantava. 
Então, depois ela foi até Maria, sacudiu a menina 
e gritou: 
 
— Levante-se, sua coisa preguiçosa! Vai 
buscar um pouco de água e prepara uma boa 
comidinha para teu irmão, que está preso no 
estábulo lá fora, ele deve engordar. Pois quando 
ele estiver no ponto, bem gordinho, irei comê-lo. 
 
Maria começou a chorar copiosamente, mas 
foi completamente em vão, pois ela foi forçada a 
fazer o que a bruxa má ordenava. Maria, então, 
preparava as refeições mais requintadas para o 
irmão, enquanto ela ficava só com as sobras. 
 
30 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
31 
Cada manhã a velha ia até junto da grade e dizia: 
 
— João, mostra-me teu dedinho, quero ver se 
está gordinho! 
 
João, porém, mostrava-lhe sempre um ossinho 
e a velha, que não enxergava nem um palmo diante 
do nariz, julgava que fosse o dedo do menino e 
ficava muito admirada por ele nunca engordar. 
 
Quatro semanas haviam se passado, visto que 
João ainda continuava sempre magro, perdeu a 
paciência e resolveu não esperar mais. 
 
— Vamos, Maria — gritou e ordenou para a 
menina —, seja boazinha e traga um pouco d'água 
depressa. Estando gordo ou magro não importa, o 
matarei assim mesmo e amanhã vou cozinhá-lo e o 
comerei. 
 
Ah, como a pobre menina lamentou quando teve 
que trazer a água, e como as lágrimas escorriam 
pelo seu rosto! 
 
— Ah, querido e bondoso Deus, ajuda-nos! — 
implorava ela. — Antes nos tivessem devorado as 
32 
feras no meio da floresta! Pelo menos de alguma 
forma teríamos morrido juntos! 
 
— Guarde toda essa choradeira só para você — 
disse a velha —, tudo isto não vai servir para nada, 
de jeito nenhum. 
 
De manhã, bem cedinho, Maria teve de ir buscar 
água, pendurar, encher o caldeirão com água e 
acender o fogo. 
 
— Primeiro vamos assar o pão, já preparei a 
massa — disse a bruxa — e já acendi o forno. 
 
Ela empurrou a pobre Maria para perto do forno 
do qual saíram grandes labaredas. 
 
— Entra aí dentro — disse a velha — e veja se já 
está bem quente para podermos fechar e assar o 
pão. 
 
E quando Maria estivesse dentro do forno, ela 
pretendia fechá-lo e deixá-la cozinhar, e então a 
comeria também. Mas Maria percebeu o que ela 
tinha em mente e disse: 
 
33 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
34 
— Não sei como fazer isto; como faço para 
entrar? 
 
— Sua pata tonta, imbecil e estúpida — disse 
a velha —, a abertura é grande o suficiente, olha, 
até eu poderia entrar! 
 
Assim dizendo, ela se contorceu com 
dificuldade e enfiou sua cabeça dentro do forno. 
Maria, então, com um forte empurrão a fez entrar 
no forno e fechou rapidamente a porta de ferro 
com a tranca. Uh! Que berros horríveis soltava a 
bruxa! Maria, porém, saiu correndo e a velha 
acabou morrendo, miseravelmente queimada. 
 
Maria correu como um raio em direção a João, 
que estava no estábulo, abriu a portinhola e gritou 
dizendo ao irmão: 
 
— João, corre, estamos a salvo. A bruxa velha 
morreu. 
 
João então saiu pulando, alegremente como se 
fosse um passarinho, ao lhe abrirem a porta da 
gaiola. E com muita felicidade se abraçaram e se 
beijaram, rindo e dançando! E como eles não 
35 
precisavam mais ter medo da bruxa, eles foram à 
casa dela, e em todos os cantos havia baús 
espalhados cheios de pérolas e joias com pedras 
preciosas. 
 
— Estas são bem melhores do que as 
pedrinhas lá de casa! — disse João, enquanto ia 
enchendo os bolsos até não poder mais. 
 
— Eu também vou levar! — disse Maria, e foi 
enchendo o avental. 
 
— Agora nós vamos embora daqui — disse o 
irmão —, temos que sair da floresta da bruxa. 
 
Depois de terem caminhado durante algumas 
horas, chegaram à margem de um rio muito largo. 
 
— Não vamos conseguir atravessar — disse 
João —, não vejo nenhuma ponte ou passagem. 
 
— E nenhum barco para atravessar também — 
respondeu a irmã —, mas olha, aí vem uma pata 
branca nadando. Se eu pedir a ela, talvez possa 
nos ajudar — então ela gritou: 
 
36 
 
Ilustração: Otto Kubel (1868 – 1951) 
37 
— Patinha, patinha, que tudo está vendo, aqui 
são João e Maria, não podemos passar, não há um 
caminho ou uma ponte até o outro lado, pode nos 
ajudar? Leve-nos em seu dorso tão branco e claro. 
 
A pata veio em direção a eles, João sentou-se 
em suas costas e disse a irmã para que se 
sentasse atrás dele. 
 
Mas Maria respondeu: 
 
— Vai ficar muito pesado para a patinha. Então 
é melhor que ela nos leve um de cada vez. 
 
Assim fez a boa patinha. E quando felizmente 
chegaram ao outro lado em segurança, depois de 
caminharem bastante, a floresta foi-se tornando mais 
familiar, até que finalmente avistaram a casa do pai. 
Correram em sua direção e, lá dentro, o abraçaram e 
o cobriram de beijos. 
 
O pobre homem nunca mais tivera uma hora feliz 
e um momento de sossego com sua consciência 
desde que abandonara as crianças no meio da 
floresta. A sua mulher (para o bem de todos) havia 
morrido. Então Maria sacudiu e esvaziou o avental até 
38 
que as pérolas, joias e pedras preciosas caíssem, 
deixando rolar pelo chão. João acrescentou todo o 
conteúdo de seus bolsos. 
 
Então toda ansiedade terminou, todos os 
sofrimentos e preocupações, e os três viveram felizes 
pelo resto da vida. 
 
“A minha história está acabada, ali vai um rato 
correndo, aquele que o capturar, pode fazer um 
grande chapéu com a pele dele”. 
 
 
 
 
FIM 
 
 
39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editoração de livros 
 
 
 51 99314-1899 contato@digilivro.com.br

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