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<p>XUXA APRESENTA Conte outravez AS MAIS BELAS HISTÓRIAS INFANTIS DE TODOS OS TEMPOS CHAPEUZINHO VERMELHO JOÃO E MARIA</p><p>XUXA APRESENTA EDITORA GLOBO</p><p>XUXA Conte outra APRESENTA CHAPEUZINHO VERMELHO pág. 1 Você já pensou o que é ser engolido inteirinho por um lobo? E depois ficar um tempão dentro da barriga dele? Pois foi isso que aconteceu com Chapeuzinho Vermelho e sua vovozinha. Era um lobo muito esperto, que sabia falar e adorava enganar os outros. E era um lobo muito guloso também. Chapeuzinho estava levando uma cesta de biscoitos para a avó, mas não seguiu os conselhos da mãe, que lhe dissera para não entrar no bosque, não parar no caminho nem falar com estranhos. Foi disso que o lobo se aproveitou. E foi por pouco, muito pouco mesmo, que os planos dele não deram certo. JOÃO E MARIA pág. 25 Acho que não existe problema pior do que o enfrentado por João e Maria. Eles eram irmãos, ainda crianças, e foram abandonados no bosque, bem longe de casa. Até que um dia encontraram uma casa toda feita de doces, sorvetes, chocolates. Mesmo as paredes e as chaminés eram de doce. João e Maria ficaram supercontentes e acharam que seus problemas estavam resolvidos. Principalmente quando viram a velhinha que morava na casa, que parecia muito boazinha. Eles mal sabiam o que os esperava. Quando perceberam a verdade, os dois já estavam presos na casa por uma velha bruxa, e João teve que usar toda a sua esperteza para escapar da armadilha. Preste atenção principalmente no truque do dedinho magro que ele inventou.</p><p>EDITORA CONTE OUTRA VEZ - As Mais Belas Histórias Infantis de Todos os Tempos é uma edição extraída da obra Era Uma Vez... Copyright Gruppo Editoriale Fabbri S.p.A. (1966, 1988), Copyright Editora Globo S.A. (1988, 1991) para a língua portuguesa. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em computador ou transmitida de qualquer forma e por quaisquer meios, eletrônicos, mecânicos, por fotocópia, gravação ou outros, sem a permissão expressa e escrita do titular dos direitos Editora Globo S.A. Rua do Curtume, 665, CEP São Paulo - Telex (011) Distribuidor exclusivo para as bancas em todo o território nacional: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, CEP 20563, Rio de Janeiro, RJ. IMPRESSÃO MARPRINT. ISBN 85-250-0907-5 (obra completa) ISBN 85-250-0912-1 (volume 5)</p><p>Chapeuzinho Vermelho Ilustração: Lima</p><p>Numa cidadezinha muito distante daqui, morava uma menina que era um encanto: bonita, e bem-comportada. Ela nunca deixava as lições para o dia seguinte. E tratava as pessoas com tanta delicadeza que todo mundo gostava demais dela. A menina tinha uma avó que vivia dando presentes para ela: uma fita, uma blusa, uma boneca... Um dia a avó fez um chapéu de veludo vermelho, com uma capinha que chegava até os ombros. A menina adorou o presente. Usava o chapéu sempre que saía de casa. De tanto ver a menina com ele, o pessoal começou a chamá-la de "chapeuzinho vermelho". E o apelido pegou de tal jeito que, depois de algum tempo, ninguém mais se lembrava do verdadeiro nome da menina.</p><p>Chapeuzinho Vermelho morava com a mãe numa casa pequena e engraçadinha, que parecia casa de boneca. A mãe dela era muito caprichosa e trabalhava sem parar para manter tudo em ordem. E fazia cada comida tão gostosa que só o cheiro já dava água na boca. Um dia, ela bateu um pouco de manteiga, colocou num pote e tampou. Depois fez um monte de rosquinhas de chocolate e embrulhou tudo num pano. Por fim, pôs tudo dentro de uma cesta bem bonita. Enquanto isso, Chapeuzinho brincava lá no campo, correndo atrás de algumas borboletas amarelas que sempre apareciam perto de sua casa.</p><p>Depois, a mãe da menina foi até a janela e chamou: - Minha filha, venha cá. Preciso falar com você. Chapeuzinho parou de brincar com as borboletas e foi correndo ver o que a mãe queria. - Preparei esta cesta ccm rosquinhas e manteiga - disse a - Vá levar para a que ela anda doente. - Vou sim, mamãe disse a menina. E foi logo buscar seu chapéu. Então, a mãe foi com ela até o jardim e entregou-lhe a cesta. O gato correu atrás das duas, miando, niando, com esperança de ganhar uma rosquinha.</p><p>- Filhinha, tome muito cuidado. Vá pela estrada. Não passe pelo meio da floresta. Não pare no Não converse com gente estranha. - Já sei, mamãe - respondeu a menina. - Toda vez que visitar a a senhora me diz essas coisas. - E você sempre faz como eu digo? - Claro que faço. Pode ficar sossegada. Eu já sei andar sozinha. A mãe sorriu, contente, e despediu-se dela com um gostoso beijo na testa. Logo que se afastou de casa, a menina parou, pensou e tomou uma decisão: - Dizem que o caminho da floresta é mais curto e mais divertido do que a estrada. Acho que eu vou é por lá...</p><p>E Chapeuzinho seguiu pelo caminho da floresta, desobedecendo a mãe pela primeira vez. - Ei, você não devia ter tomado a estrada? - perguntou uma coruja. - Psiu... ei, Chapeuzinho Vermelho, somos as suas amigas borboletas... Tente nos pegar... - Quietas, tagarelas! E você, Chapeuzinho Vermelho, tenha muito cuidado com o lobo - alertou a coruja.</p><p>Distraída, Chapeuzinho nem prestava atenção aos avisos. A coruja nem tinha terminado de falar, quando, de repente, ouviu-se um barulho no meio do mato. o lobo, que saltou rápido de dentro da floresta e veio se aproximando da menina. Era um bicho enorme e mal-encarado. Tinha uns dentões deste tamanho e umas unhas pontudas que nem pregos. Ao vê-lo, todos os animais desapareceram no mesmo instante, apavorados. Até as borboletas, que vinham acompanhando Chapeuzinho, trataram de voar depressa na direção contrária. Mas a menina não sentiu o menor medo. Ficou muito calma e cumprimentou o bichão com delicadeza: - Boa tarde, seu lobo. Está passeando um pouco? - Boa tarde - respondeu ele, com bem mansinha. - Você é muito educada, não é como esse pessoal bobo que nem fala comigo, vai logo fugindo assim que me vê... Não sei por que eles têm tanto medo de mim... Eu nunca fiz mal a ninguém... Chapeuzinho estava tão contente de conversar com o lobo que até lhe ofereceu uma flor. - Obrigado disse ele. - Mas não posso aceitar. Sabe, não fica bem eu andar por aí com uma flor... 8</p><p>O lobo também estava feliz, porque achou que podia pegar Chapeuzinho num abrir e fechar de olhos. Só que não podia ser ali, pois os caçadores andavam por perto e estavam a fim de matá-lo. Aonde você vai? - perguntou. - À casa da vovó - respondeu ela.</p><p>- E onde mora a sua avó? - quis saber o lobo, muito curioso. - Numa casa de pedra, lá do outro lado da floresta. - Mas que coincidência... - disse ele. - Estou indo para lá. Vamos ver quem chega primeiro? E o lobo saiu na carreira, cortando caminho pelos atalhos. 10</p><p>Chapeuzinho não estava nem um pouco interessada em apostar corrida com o lobo. Preferia andar devagar, colhendo flores, batendo papo com os animaizinhos. Rápido como era, num piscar de olhos o lobo atravessou a floresta por um atalho e chegou à casa da avó de Chapeuzinho Vermelho.</p><p>O lobo parou por ali, pensou um pouco e bateu na porta: Toc, toc, toc. A boa velhinha estava doente, na cama, e não podia se levantar. Quem está aí? perguntou ela. O lobo afinou o vozeirão, o mais que pôde, e respondeu: - Sou eu, Chapeuzinho. Vim trazer uns presentes para a senhora. - Que bom que você veio, minha netinha - disse ela. - Entre logo, querida. A porta não está trancada a chave.</p><p>Mal a vovó acabou de falar, o lobo entrou. Sem dar tempo para a coitadinha dizer um ai, ele saltou em cima dela e... nhoct!, devorou-a com roupas e tudo. Estava tão morto de fome que nem teve o cuidado de mastigar. Só não engoliu o xale e a touca porque as rendas e as franjas fizeram cócegas na garganta dele. - Ainda bem - disse, olhando para as duas peças. - Vou usar isso no meu disfarce.</p><p>lobo encostou a porta, colocou a touca na cabeça e ajeitou o xale nos ombros. Depois, deitou-se na cama e esperou. Dali a pouco bateram na porta. - Quem é? - perguntou ele, tentando disfarçar a voz. - É Chapeuzinho, Vim trazer umas coisas que a mamãe mandou para a senhora e umas flores que peguei pelo caminho. - Pois entre, minha querida. A porta está só encostada. Eu não posso me levantar, estou meio adoentada. - Deve ser por isso que a senhora está com a tão esquisita - disse a menina. 15</p><p>Assim que Chapeuzinho abriu a porta, o lobo tratou de se esconder embaixo das cobertas. - que sua mãe mandou para mim? - perguntou ele, sempre tentando mudar a voz. - Um pote de manteiga e umas rosquinhas. - Ponha no armário. E venha conversar comigo. Chapeuzinho fez como o lobo mandou. Depois, foi até bem perto da cama. Só então percebeu que a avó estava diferente. - A senhora está com as mãos tão peludas, vovozinha disse ela. - É para acariciar você melhor, minha netinha respondeu o lobo. E as suas orelhas, parece que cresceram - continuou a menina. - É para escutar você melhor - falou o lobo. Chapeuzinho olhou com mais atenção e disse: - A senhora está com uns olhos enormes... - Assim posso ver você melhor, meu bem...</p><p>17</p><p>- E os dentes da senhora ficaram tão grandes ... - comentou a menina. - É para comer você melhor! O lobo jogou as cobertas para o lado, saltou em cima de Chapeuzinho, e... engoliu-a do mesmo jeito que tinha devorado a avó, com roupa e tudo. Nem as fitas do cabelo se salvaram. - Ah. Agora sim, comi que nem um rei... - suspirou ele, alisando a barriga estufada. - É melhor dormir um pouco para fazer a digestão. Com os olhos já pesados de sono, o lobo voltou para a cama macia da avó e logo caiu num sono profundo.</p><p>19</p><p>Quanto mais dormia, mais o lobo roncava. E roncava tão alto que um caçador que ia passando por ali escutou. - Engraçado... Nunca ouvi a avó de Chapeuzinho roncar. - disse o homem. - Será que ela está com algum problema?</p><p>O caçador resolveu dar uma espiada e abriu a janela. Então viu o lobo, dormindo com o escancarado. - Um lobo! - exclamou o homem. - Com certeza esse maldito comeu a coitada da velhinha.</p><p>Com cuidado para não fazer o menor barulho, o caçador tirou a espingarda do ombro e carregou-a com chumbo grosso. Depois, pé ante pé, chegou mais perto da janela, fez pontaria e apertou o gatilho. Pum! Pum! dois tiros acertaram no meio da testa do lobo. Ele morreu sem nem acordar. - Até que enfim acabei com você, seu danado! exclamou o caçador, todo contente. - Agora vou ver se consigo salvar a pobre vovó que você devorou. O homem entrou na casa e começou a procurar uma tesoura. Foi encontrar uma, do tamanho que ele queria, na caixa de costura, dentro do armário. Então, abriu a barriga do lobo com todo o cuidado e teve a maior surpresa. Encontrou não só a avó, mas também Chapeuzinho! E as duas estavam vivinhas.</p><p>Chapeuzinho saltou para fora e respirou fundo. - Muito obrigada, seu caçador - disse ela. - A gente estava quase morrendo sufocada lá dentro. A avó começou a se levantar, mas, coitada, estava fraquinha e não conseguia. O caçador precisou ajudá-la a sair da barriga escura do lobo. - Agradecida, bom homem - falou a velhinha, com a voz tremida de susto e de falta de ar. - Não precisam me agradecer - respondeu o caçador. - Não fiz mais que minha obrigação.</p><p>Depois que a avó se acalmou e recuperou um pouco as forças, Chapeuzinho falou para ela: - Vamos para a minha casa, vovozinha? Lá a mamãe pode tomar conta da senhora. - Vamos, querida. Mas pela estrada. Claro... Nunca mais vou andar pela floresta. Nem desobedecer à mamãe. 24</p><p>João e Maria Ilustração: Sergio</p><p>Em um país não muito distante, numa época de grande carestia, viviam um lenhador, seus dois filhos e a madrasta deles. A mulher era mandona que só ela e vivia brigando com todo mundo. Casar de novo tinha sido a pior coisa que o homem fizera na vida.</p><p>lenhador ia levando a vida, sem reclamar. Afinal, a mulher cuidava bem da casa e gastava pouco dinheiro. Até que chegou uma época em que o preço das coisas subiu demais. O homem não podia comprar quase nada com o que ganhava cortando lenha. E, em pouco tempo, a comida da casa foi acabando. - que tem na despensa não dá pra encher quatro barrigas - reclamou uma noite a mulher. - Duas vão ter que cair fora daqui. E o mais depressa possível. - De que barrigas você está falando? - perguntou ele, mostrando que não tinha a menor vontade de discutir. As dessas crianças, que não servem pra nada - respondeu ela. - Amanhã mesmo, vamos abandonar as duas no meio da floresta. marido achou ruim e disse que nunca ia fazer tamanha maldade. Mas a mulher insistiu tanto que ele acabou concordando, de coração partido. João e Maria, os filhos do lenhador, estavam escondidos na escada e ouviram toda a conversa. - O que a gente vai fazer? - cochichou a menina. Pode ficar sossegada - respondeu João. - Eu tenho uma idéia que não vai falhar. 27</p><p>Pé ante pé, os dois irmãos foram para o quarto e se deitaram. Maria estava muito cansada e logo dormiu. Mas João ficou de olho aberto, esperando que o pai e a madrasta terminassem de discutir os detalhes do plano. Então, quando a casa ficou em silêncio, o garoto se levantou sem fazer barulho, foi ao quintal e catou várias pedrinhas brancas. De manhã, quando saíram para a floresta, ele foi largando as pedrinhas pelo caminho.</p><p>Nem por um segundo, a madrasta percebeu que o menino estava marcando o caminho. Quando chegaram a um lugar bem distante, ela parou e disse para as crianças: - Agora, fiquem sentados nesta pedra, bem quietinhos. Eu e o seu pai vamos cortar lenha mais pra lá. Se a gente demorar muito, vocês podem comer isso aqui. Ela entregou um pedaço de pão para cada um e se afastou. lenhador ainda demorou um pouco, querendo abraçar os filhos pela última vez. Mas a mulher não deixou e foi embora, arrastando o marido pelo braço. - Será que eles largaram mesmo a gente aqui, no meio da floresta? - perguntou Maria para o irmão. - Não sei - respondeu o menino. - Vamos esperar. Pode ser que a gente não ouviu muito bem a conversa. 30</p><p>As crianças passaram o dia esperando. Comeram todo o pão, sentiram fome de novo, e nada de o pai e a madrasta aparecerem. - Acho que eu entendi a conversa, sim... - suspirou João. - Eles largaram a gente mesmo. Maria começou a chorar, apavorada. - E agora? o que vai acontecer? - Calma, boba! - disse o garoto. - Eu marquei o caminho com pedrinhas. Aí, o menino pegou a pela mão e voltou com ela para casa.</p><p>lenhador recebeu os filhos de braços abertos. A madrasta, ao contrário, esbravejou como uma fera e mandou as crianças para a cama sem jantar. - Mulher, os meninos estão morrendo de fome... - disse o pai. - Pois não tem o que comer em casa - respondeu ela, engolindo a última colherada da sopa que tinha sobrado. - Ai! Eu não sei onde estava com a cabeça quando casei com você... - suspirou o lenhador, muito triste. E teve de ouvir outra vez a mulher dizer que precisavam largar as crianças na floresta, porque não podiam mais sustentar quatro bocas. - Amanhã eu me livro desses capetas de uma vez por todas - garantiu ela.</p><p>Desconfiado das malvadezas da madrasta, João esperou todo mundo dormir para ir de novo pegar pedregulhos. Mas a porta estava trancada a sete chaves e ele não conseguiu sair. - jeito vai ser marcar o caminho com pão - murmurou o menino. - Se ela me der um pra comer.. No dia seguinte, a madrasta tirou as crianças da cama antes da hora. - Acordem, seus preguiçosos! - berrou a malvada. - Vamos trabalhar. Os meninos levantaram, esfregaram os olhos e saíram. Na porta da casa, a mulher deu um pedaço de pão para cada um, dizendo: - Guardem bem isso aqui. Hoje vocês não vão ganhar mais nada pra comer. Em seguida, todos foram para a floresta. E o menino foi jogando migalhas de pão pelo caminho, com cuidado para ninguém perceber. Bem longe de casa, a madrasta e o pai se afastaram como da outra vez. As crianças, cansadas de tanto andar, sentaram na grama e logo caíram no maior sono. 33</p><p>Quando os dois acordaram, a noite já estava chegando. As corujas piavam nas árvores e os lobos uivavam, famintos. Era de dar arrepio! Maria se agarrou ao irmão, - João, eu estou com medo... - Não precisa ficar com medo - respondeu o garoto. - A gente vai voltar pra casa. Eu marquei o caminho com pedaços de pão. Enquanto falava, ele começou a procurar as migalhas que tinha jogado no chão. Mas não encontrou nem sombra delas. - Maninha, estamos perdidos! Acho que os passarinhos comeram tudo. Mas não fique nervosa. Mesmo assim, acho que dá para a gente encontrar o caminho - disse o garoto. Com essa esperança, andou numa direção. Então, viu que estava errado e rumou para o outro lado. Assim, deu voltas e voltas, cada vez se perdendo mais na escuridão. - A gente se perdeu, não é? - perguntou a menina, fazendo força para não chorar. 35</p><p>João não teve saída. Precisou confessar que não podiam mais voltar para casa. - Quem sabe a gente não acha um lugar seguro pra ficar? - disse ele, esperançoso. - É... Pode ser... Vamos procurar - respondeu Maria. E os dois andaram a noite inteira pela floresta escura, sem encontrar um cantinho para servir de abrigo. Então, quando o dia clareou, avistaram ao longe uma casa, numa clareira. E, mais que depressa, correram até lá.</p><p>- É uma casa de doce! - gritaram os dois. As crianças estavam loucas de alegria. Cada pedacinho da casa era de açúcar, chocolate, bala de goma... Elas queriam comer tudo aquilo e não sabiam por onde começar. E correram, apontando para todo lado. - As colunas são de pirulito! - exclamou João. - E a escada, de biscoito! Acho que you comer um degrauzinho agora mesmo - disse Maria. 37</p><p>Famintos como estavam, os irmãos não viam a hora de arrancar e provar todas aquelas gostosuras em forma de pedaços da casinha. Mas antes que pudessem comer algum doce, uma velhinha de xale e bengala os atendeu à porta. 38</p><p>- Vocês estão com fome? perguntou a velhinha. - E como! - responderam as crianças, ao mesmo tempo. - Pois, então, venham comer. A mulher fez os dois entrarem e serviu para eles leite, torta, mingau, rosquinhas e frutas. Depois que os meninos comeram até não poder mais, ela disse: - Vocês parecem cansados. Não querem dormir um pouco? E levou os dois para um quarto todo azul, onde havia duas camas. Os irmãos deitaram correndo e logo caíram num sono de pedra. 39</p><p>Se as crianças tivessem a menor idéia de onde estavam, não teriam dormido tão sossegadas. A velha, na verdade, era uma bruxa malvada que gostava de comer criança. Ela tinha feito a casa de doce só para atrair meninos perdidos. Todos iam bater na sua porta, eram muito bem tratados e depois viravam carne assada. Enquanto eles dormiam, a bruxa foi ver se já estavam no ponto de para o forno. Aí, pegou o braço do menino, examinou bem, e depois olhou para a menina. Então, abanou a cabeça, dizendo: - Como são magros! Vai levar tempo pra engordar esses palitos. E eles nem eram tão magros assim. A velha é que era gulosa. 40</p><p>No outro dia, a bruxa acordou bem cedo e deixou de fingir que era boazinha. Para começar, entrou no quarto das crianças e gritou, batendo a bengala no chão: - Pra fora da cama, andem! Vocês já dormiram demais. Depois, levou João até o porão. E trancou o menino numa gaiola, para ele engordar mais depressa. Por fim, mandou Maria trabalhar na cozinha. - Trate de fazer bastante comida para o seu irmão - disse a velha. - Detesto comer criança magricela. - Hem!? A se-senhora vai comer o me-meu irmão? - gaguejou a menina. - Claro! - respondeu a velha.- E depois será a sua vez. Por que acha que eu recolhi vocês na minha casa? 41</p><p>Maria ficou assustadíssima. E, no primeiro momento de folga, correu até o porão e avisou João: - A velha é uma bruxa e vai comer a gente. Mas ela disse que não gosta de criança magricela. Por isso, veja se come pouco, que é pra não engordar nunca. menino já havia percebido que coisa boa a velha não estava planejando. E, nessa hora, entendeu o que era. - Pode deixar - disse ele, sem perder a calma. - Eu dar um jeito de enganar a bruxa sem passar fome. Neste momento, a malvada desceu até o porão, para ver se o menino já tinha engordado. - Mostre o dedo para a vovó - disse, mansinha. O garoto, então, estendeu um ossinho fino que tinha guardado. E ela apalpou, porque não enxergava quase nada. - Paciência! - suspirou. - Ainda não está no ponto. 42</p><p>Durante a semana inteira, a bruxa empanturrou o menino de quitutes. Mas, quando ia apalpar o dedo dele, topava sempre com aquele e dizia: - Que coisa! moleque come feito um gigante e não engorda nunca. Deve estar com lombriga. A velha esperou mais uns dias e, então, resolveu: - Pois então comer a menina. E foi acender o forno. Depois, chamou Maria, disse que queria cozinhar o pão e ordenou: - Vá ver se o forno já está quente. A garota, que também era esperta, logo percebeu as más intenções da velha e procurou ganhar tempo. - Eu não sei mexer em fogo - disse Maria. - Menina boba! É só subir a escada, abrir a portinhola, enfiar a cabeça e... E não acabou de falar, porque Maria deu um empurrão nela com toda a força, trancando a bruxa dentro do forno. 43</p><p>Depois, a menina correu para o porão e soltou João. - Eu joguei a bruxa dentro do forno quente - contou. - Puxa! Como você é corajosa! - exclamou o irmão. Vamos embora - pediu ela. - Pra que tanta pressa? - perguntou o garoto. - Agora, a bruxa já virou carvão. 44</p><p>- E pra que ficar mais tempo nesta casa horrível? - quis saber Maria, louca para cair fora dali. - Para pegar o tesouro - explicou João. - Toda bruxa de verdade tem um tesouro em casa, você não sabia? E quase sempre escondido no sótão. Vamos até lá. Os dois subiram uma escada e chegaram ao sótão, onde havia três baús cheios de peças de ouro e prata. - Puxa! Esse tesouro vale mais do que imaginei! - gritou o menino. - Vamos levar tudo isso pra casa. Sem perda de tempo, João e Maria encheram os bolsos de moedas, jóias raras e pedras preciosas.</p><p>Com toda aquela riqueza, os dois saíram da casa de doce, onde viveram assustados o tempo todo. E começaram a andar pela floresta, sem saber para que lado ir. Até que encontraram um cisne num rio.</p><p>- Sabe onde fica nossa casa? - perguntou o menino. cisne pensou um pouco e respondeu: - É depois daquele lago. Vocês podem subir nas minhas costas. Eu levo vocês até lá. Os meninos subiram e o cisne foi embora. Assim, atravessaram bem rápido até a outra margem do lago. Os irmãos agradeceram e saíram correndo. 47</p><p>Dali a pouco, chegaram em casa e se jogaram nos braços do pai, chorando de alegria. Depois, ficaram sabendo que a madrasta tinha morrido. E, daquele dia em diante, os três nunca mais se separaram. 48</p>