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Trabalho de Direito Civil II

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1 - DISCORRA SOBRE TRÊS FIGURAS CORRELATAS AO PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA.
I - SUPRESSIO/SURRETCIO: “A supressio (Verwirkung) significa a supressão, por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício com o passar dos tempos.” (TARTUCE, Flávio)
É um termo português para o que os alemães chamam de Verwirkung. Significa a redução do conteúdo obrigacional mediante o fenômeno pelo qual um direito não mais pode ser exercido, posto que não usufruído por determinado período de tempo e a intenção de exercê-lo contrariaria a boa-fé (expectativa) da relação jurídica estabelecida.
Assim, considera-se ocorrida a Supressio quando determinadas relações jurídicas deixam de ser observadas com o passar do tempo e, em decorrência, surge para a outra parte a expectativa de que aquele(a) direito/obrigação originariamente acertado(a) não será exercido/cobrada na sua forma original. Isto é, a supressio consiste no fenômeno da supressão de determinadas relações jurídicas pelo decurso do tempo.
Duarte (2004, p. 427) conceitua supressio como “o fenômeno da supressão de determinadas faculdades jurídicas pelo decurso do tempo”.
Para a doutrina alemã, Surrectio (Erwirkung) consiste exatamente no fenômeno inverso ao da supressio, haja vista decorrer da ampliação do conteúdo obrigacional mediante surgimento de prática de usos e costumes locais. Na surrectio, a atitude de uma parte faz surgir para a outra um direito não pactuado.
Com efeito, se a supressio consiste na perda de um direito, por um dos sujeitos da relação jurídica, pela falta de seu exercício por razoável lapso temporal, a surrectio corresponde ao surgimento de um direito exigível pelo outro sujeito da mesma relação jurídica, como decorrência lógica do comportamento que resultou na supressio.
Ao mesmo tempo em que o credor perde um direito pela supressio, surge o direito para o devedor por meio da surrectio (Erwirkung). (TARTUCE, Flávio).
II - TU QUOQUE: Refere-se a quebra de confiança, ofensa a boa-fé objetiva, um elemento surpresa. Essa expressão utilizada antes de Cristo, tem origem da célebre frase dita por Julio César ao seu filho adotivo Marcus Brutus: "tu quoque Brutus filie mi", que significa, literalmente, você também Brutus meu filho. (Até tu Brutus?) Significando indignidade! No Direito Civil, tem como figura representativa a exceção do contrato não cumprido prevista no art. 476 do Código Civil, in verbis, “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro”.
A pretensão desse dispositivo é evitar que aquele que não cumpre a sua obrigação , violando uma norma jurídica, venha a invocar essa mesma norma em seu favor, com isso atentando contra o princípio da boa-fé objetiva.
Na prática, é muito utilizado em questões contratuais, como por exemplo: quando nenhuma das partes cumprem com a obrigação estipulada, e depois uma delas aciona a outra judicialmente para cumprir. O fato de um cobrar o outro sem ter cumprido com a própria obrigação caracteriza ato abusivo, ilícito, vedado pelo art. 187 CC – segundo o qual todo aquele que ao exercer o seu direito extrapolar os limites, prática ato ilícito.  Dentre as modalidades dos atos ilícitos, insere-se o "tu quoque". 
Segue decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, aplicando essa teoria:
Relator(a): Cesar Ciampolini
Comarca: São José dos Campos
Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 18/06/2013
Data de registro: 04/07/2013
Outros números: 381866420108260577
Ementa: Apelação. Ação de condenação em obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada. Ex-funcionário da General Motors. Obrigação da operadora de manter no plano de saúde, nas mesmas condições de cobertura de que gozava quando empregado, o beneficiário que atenda aos requisitos do art. 31 da Lei 9.656/98. Pretensão, da apelada, de obrigatoriedade de adesão a outra apólice, para gozo de direito que decorre de lei. Inadmissibilidade. Observância do princípio da legalidade que se impõe. Inaplicabilidade da disciplina tradicional dos contratos. Relação entre as partes que se rege por elementos próprios à condição dos sujeitos envolvidos, pelo direito do consumidor e ainda pela norma do art. 196 da Lei Maior -- direito à saúde. Especialidade do objeto dos "produtos" insertos no amplo espectro da Lei 9.656/98. Atipicidade da relação contratual que, ante o contexto da lei em causa, não marginaliza o negócio jurídico sob análise. A plasticidade do Direito Privado permite que um sem número de formas produzam os mesmos efeitos jurídicos. A incidência das normas dos artigos 30 e 31 da Lei dos Planos de Saúde determina uma modificação da relação contratual originária sem extingui-la ou mesmo determinar a sua substituição por relação jurídica nova. O provedor de assistência à saúde se sujeita a comando legal que atribui ao beneficiário o poder de suceder o estipulante, para cumular as condições de estipulante e de beneficiário. Não é possível, no caso sob julgamento, determinar a aceitação forçada de novo contrato estipulado. Aplicação da máxima "tu quoque": a partir dos princípios da boa-fé e da justiça contratual pretende-se evitar não só que o faltoso se beneficie da própria falta, mas, ainda, resguardar o equilíbrio entre as prestações contratuais. Além disso, o "tu quoque" leva a que qualquer atentado a uma das prestações ou deveres de prestar represente, em verdade, um atentado ao próprio sinalagma. Assim, seria a cláusula de boa-fé contrariada, a se obrigar os ex-funcionários a aderir a novo contrato estipulado entre a ex-empregadora e a seguradora. Registre-se, por fim, que a adesão à nova apólice contratada não obsta o direito decorrente dos arts. 30 e 31 da Lei 9.656/98, na medida em que tal adesão não foi livre: ou o ex-funcionário aderia ou ficava sem cobertura. Reforma da sentença que se impõe, inclusive ante a jurisprudência uníssona Colendo STJ no sentido de que o ex-empregado, ao sair da empresa, tem o direito de ver mantido o plano de saúde de que desfrutava, desde que arque com prêmio equivalente à soma do que vinha pagamento, mais a parte que era suportada pela ex-empregadora. Observação no sentido de que seja feita comprovação documental, sob o crivo do contraditório, dos últimos 12 pagamentos antes do desligamento do funcionário, dos quais se extrairá média, definindo-se por esta maneira o valor do prêmio. Enquanto não houver tal comprovação, o prêmio será igual ao último valor que vinha sendo pago pelo empregado antes da demissão. Recurso da ré a que se nega provimento, com observação.
III - VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM: A expressão "venire contra factum proprium" significa vedação do comportamento contraditório, baseando-se na regra da pacta sunt servanda. Postula dois comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si e diferidos no tempo. O primeiro -factum proprium - é, porém, contrariado pelo segundo. Na tradução literal, venire contra factum proprium significa “vir contra um fato próprio”. Ou seja, não é razoável que uma pessoa pratique determinado ato ou conjunto de atos e, em seguida, adote uma conduta diametralmente oposta.
O venire contra factum proprium encontra respaldo nas situações em que uma pessoa, por um certo período de tempo, comporta-se de determinada maneira, gerando expectativas em outra de que seu comportamento permanecerá inalterado.
Em vista desse comportamento, existe um investimento, a confiança de que a conduta será a adotada anteriormente, mas depois de referido lapso temporal, é alterada por comportamento contrário ao inicial, quebrando dessa forma a boa-fé objetiva (confiança).
Em síntese, a vedação do venire contra factum proprium traduz uma regra proibitiva do comportamento contraditório.
E assim como a ninguém é dado agir contraditoriamente no âmbito das relações jurídicas de direito privado, também não é tolerável uma atuação contraditória no campo da relação jurídica processual.
2 - EXPLIQUE RESUMIDAMENTE AS FASES DE FORMAÇÃO DO CONTRATO.
Fasedas negociações preliminares ou da puntuação: Consiste no período de negociações preliminares, anterior à formação do contrato. É neste momento prévio que as partes discutem, ponderam, refletem, fazem cálculos, estudos, redigem a minuta do contrato, enfim, contemporizam interesses antagônicos, para que possam chegar a uma proposta final e definitiva.
Para MARIA HELENA DINIZ, a fase de puntuação refere-se às negociações preliminares que nada mais são do que conversações prévias, sondagens e estudos sobre os interesses de cada contratante, tendo em vista o contrato futuro, sem que haja qualquer vinculação entre os participantes.
Nesta, como as partes ainda não manifestaram a sua vontade, não há nenhuma vinculação ao negócio. Qualquer uma delas pode afastar-se simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim não há vinculação das pessoas. Tal responsabilidade só ocorrerá se ficar demonstrada a deliberada intenção, com a falsa manifestação de interesse, de causar dano ao outro contraente, levando-o, por exemplo, a perder outro negócio ou realizando despesas. O fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada não é, nesse caso, o inadimplemento contratual, mas a prática de um ilícito civil (CC, art. 186).
Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, obrigações para qualquer um dos participantes, elas fazem surgir, entretanto, deveres jurídicos para os contraentes, decorrentes da incidência do princípio da boa-fé, sendo os principais os deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção e cuidado e sigilo.
Fase da proposta, oferta, policitação ou oblação: Pode-se dizer, então, que proposta “é uma declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar um contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar”.
Representa ela o impulso para a celebração do contrato, consistindo em uma declaração de vontade definitiva. Distingue-se nesse ponto das negociações preliminares, que não têm esse caráter e não passam de estudos e sondagens, sem força obrigatória. Aquela, ao contrário, cria no aceitante a convicção do contrato em perspectiva, levando-o à realização de projetos e às vezes de despesas, bem como à cessação de alguma atividade. Por isso, vincula o policitante, que responde por todas essas consequências se injustificadamente retirar-se do negócio.
A proposta deve conter: a) todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento, etc.; b) deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente (CC, art. 427); c) deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio necessários ao esclarecimento do destinatário e representando a vontade inquestionável do proponente.
A oferta é um negócio jurídico receptício, pois a sua eficácia depende da declaração do oblato. Carece, entretanto, de força absoluta, gerando desde logo direito e obrigações. Não se pode assim dizer que equivale ao contrato. Mantém o caráter de negócio jurídico receptício se for endereçada não a uma pessoa determinada, mas assumir a forma de oferta aberta ao público, como nos casos de mercadorias expostas em vitrinas, feitas ou leilões com o preço à mostra, bem como em licitações e tomadas de preços para contratação de serviços e obras.
O art. 429 do novo Código Civil declara que que “a oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. Em geral, entende-se que é limitada ao estoque existente. Acrescenta o parágrafo único que, “pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. A oferta aberta ao público vale como proposta obrigatória, pois, quando contém todos os elementos essenciais do contrato.
Fase da aceitação ou da conclusão do negócio: A aceitação é a concordância com os termos da proposta. É manifestação de vontade imprescindível para que se repute concluído o contrato, pois, somente quando o oblato se converte em aceitante e faz aderir a sua vontade à do proponente, a oferta se transforma em contrato. A aceitação consiste, portanto, “na formulação da vontade concordante do oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta recebida”.
A aceitação pode ser Expressa (decorre da declaração do aceitante, manifestando a sua anuência) e Tácita (decorre de sua conduta, reveladora do consentimento).
O art. 432 do Código Civil menciona duas hipóteses de aceitação tácita, em que se reputa concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa:
Quando “o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa”: se, por exemplo, um fornecedor costuma remeter os seus produtos a determinado comerciante e este, sem confirmar os pedidos, efetua os pagamentos, instaura-se uma praxe comercial. Se o último, em dado momento, quiser interrompê-la, terá de avisar previamente o fornecedor, sob pena de ficar obrigado ao pagamento de nova remessa, nas mesmas bases das anteriores; ou quando “o proponente a tiver dispensado”: costuma-se mencionar, como exemplo, a hipótese do turista que remete um fax a determinado hotel, reservando acomodações e informando que a chegada se dará em tal data, se não receber aviso em contrário. Não chegando a tempo a negativa, reputar-se-á concluído o contrato.
3 - DIFERENCIE A ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO E A PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO.
O que estipula pode resguarda-se no direito de substituir terceiro, independente de sua anuência ou do outro contratante, sendo que essa ação pode ser por ato entre vivos ou por testamento, conforme preconiza o art. 438/CC.
A estipulação em favor de terceiros constitui uma exceção ao princípio da relatividade dos contratos, segundo o qual, somente as partes são alcançadas pelo contrato. Assim, ocorre estipulação em favor de terceiros quando uma pessoa convenciona com outra que esta concederá uma vantagem em favor daquele, que embora não sendo parte do contrato, receberá o benefício.
A promessa é um compromisso bilateral de contrato ou um contrato preliminar. Se uma das partes desistir do negócio, sem justa causa, a outra poderá exigir-lhe, coercitivamente, o seu cumprimento. Mas não aqui nesse dispositivo uma obrigação de outrem interessado, caso venha a ocorrer à jurisprudência prima que tal interesse seja identificado e demonstrado que o terceiro venha a sofrer caso a obrigação não se cumpra.
Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.
A promessa de fato de terceiro é uma obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. Quem promete fato de terceiro, fica obrigado a assegurar o cumprimento, sob pena de responder por perdas e danos. 
Se o terceiro anuir passa ele a responder pelo cumprimento da promessa e o promitente se exime da responsabilidade, exceto se houver solidariedade. 
Se o promitente agir como mandatário não lhe caberá a responsabilidade, pois estaria autorizado a prometer. Neste caso a responsabilidade caberia ao terceiro. 
Art. 439 do Código Civil: “Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar”. 
Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. 
4 - QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS E MECANISMOS QUE O EVICTO PODE REALIZAR NOS CASOS DE UMA EVICÇÃO TOTAL?
Segundo os dispostos nos artigos abaixo elencados do Novo Código Civil, in verbis:
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidadepela evicção.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
Assevera Diniz (2005):
Se houver perda da coisa adquirida em virtude de decisão judicial o evicto terá o direito de demandar pela evicção, movendo ação contra o transmitente, exceto se no contrato se convencionou expressamente a exclusão da responsabilidade pela evicção; entretanto, não obstante haver tal clausula excludente da garantia contra a evicção, se esta se der, como vimos anteriormente, o evicto terá direito de recobrar o prejuízo que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado não o assumiu ou se foi privado da coisa por decisão judicial e ainda por caso fortuito, força maior, roubo ou furto ou apreensão pela autoridade administrativa (art. 449, CC).
Diniz (2005) explica também que:
Reclamar, no caso de evicção total, além da restituição integral do preço ou das quantias pagas, tendo por base o valor da coisa ao tempo em que evenceu, incluídos os juros legais, correção monetária, salvo estipulação em contrário, conforme o art.450, I a III. E para não frustrar a expectativa de ganho, o legislador confere ao adquirente, o direito de receber as despesas de custeio e ao valor dos frutos e os pagamentos que foram feitos em razão das formalidades contratuais, exceto havendo dolo do adquirente.
Obter o valor das benfeitorias necessárias ou úteis que não lhe foram abonadas, pois se é possuidor de boa fé deverá receber do alienante o valor delas, tendo inclusive o direito de reter a coisa até que seja reembolsado das despesas feitas com tais benfeitorias (art.1.219 CC).
Ademais, para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da evicção, na hipótese em que a perda da coisa adquirida tenha sido determinada por decisão judicial, não é necessário o trânsito em julgado da referida decisão. A evicção consiste na perda parcial ou integral do bem, via de regra, em virtude de decisão judicial que atribua seu uso, posse ou propriedade a outrem em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de aquisição. 
5 - EXPLIQUE QUAIS SÃO OS CONTRATOS ALEATÓRIOS POSSÍVEIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.
Os contratos aleatórios estão previstos na Seção VII, a partir do artigo 458 do Código Civil. Coloca o autor MARTINS:
Aleatório é o contrato em que uma prestação pode deixar de existir em virtude de um acontecimento incerto e futuro. É o caso, no mesmo contrato de compra e venda, quando se compra coisa incerta ou futura (compro a colheita de um campo de trigo, que pode existir se o campo produzir o trigo, ou deixar de existir, caso não produza) ou o contrato de seguro, em que a contraprestação do segurador só é devida se ocorrer um evento futuro (no seguro contra incêndio, a indenização só será devida se a coisa se incendiar). (1990:109).
Existem duas modalidades de contratos aleatórios: a) aqueles que se referem a coisas futuras e, b) aqueles que versam sobre coisas já existentes mas que estão sujeitas a riscos futuros.
O artigo 458 do Novo Código Civil trata do risco sobre a “existência” da coisa, retratando, desta forma a “emptio spei”, ou seja, a venda da “esperança”, a “probabilidade da coisa existir”, caso em que o alienante terá direito a todo o preço da coisa que venha a não existir.
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
O artigo 459, por sua vez, trata dos casos de coisas futuras, quando o adquirente assume o risco de virem a existir em qualquer quantidade. Expõe VENOSA: “O preço será devido ao alienante, ainda que a quantidade seja inferior à esperada. Trata-se da emptio rei speratae.” (2003:405).
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Além destas duas características dos contratos “de futuro”, existe ainda outra modalidade de contrato aleatório, que se refere às coisas já existentes, mas que estão sujeitas a se danificaremou que podem se depreciar.
Estes casos estão previstos no artigo 460 do Código Civil, sendo que como exposto por ALVES:
Trata-se de contrato aleatório tendo por objeto coisas existentes mas expostas a risco. O adquirente assume o risco de não receber a coisa adquirida, ou recebê-la parcialmente, ou ainda danificada, deteriorada, ou desvalorizada, pagando, entretanto, ao alienante todo o valor [...] exemplo da mercadoria embarcada, tomando sobre si o adquirente a sorte (álea) de vir ou não a receber, devido a acidente ou naufrágio. (2004:412).
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
6 - QUAIS SÃO OS PRAZOS PARA RECLAMAÇÃO DE VÍCIOS OCULTOS NAS RELAÇÕES CONTRATUAIS PREVISTAS NO CÓDIGO CIVIL?
Os vícios ocultos ou redibitórios, por definição, são defeitos ocultos que diminuem o valor ou prejudicam a utilização da coisa recebida por força de um contrato comutativo, conforme preconiza o art. 441 do Código Civil, ipisis litteris:
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Primeiramente, frise-se que, por se tratar de ações que têm por conteúdo, nitidamente, o exercício de direitos potestativos, os prazos, em questão, são decadenciais, e não prescricionais. Concernente à questão, o dispositivo legal contido no Código Civil de 2002 estabelece:
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
§ 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.
Seguindo essa linha temos os seguintes prazos:
Se o bem for móvel e o vício de fácil constatação, o prazo é de 30 dias para o adquirente reclamar (prazo contado a partir da tradição do bem).
Se o bem for móvel, mas o vício for de difícil constatação, então o prazo será de 180 dias para reclamação.
Se o bem for imóvel (e aqui não há o estabelecimento de fácil ou difícil constatação, então tanto faz essa condição) o prazo será de 1 (um) ano.
Se o adquirente já se encontrava na posse do bem antes da aquisição, o prazo conta-se da alienação, reduzidoà metade (15 dias – bem móvel – ou 6 meses – bem imóvel). É o caso do inquilino que compra o imóvel do locatário. Ou do comodatário que compra o carro do comodante.
7 - NOS CASOS DE EVICÇÃO A RESPONSABILIDADE É DO EXEQUENTE OU DO EXECUTADO?
De acordo com Flávio Tartuce (TARTUCE, 2008), quanto a responsabilidade das partes: a responsabilidade direta é a do executado; a indireta ou subsidiária, do exequente, de modo a não lesar ao adquirente de boa-fé.
Responsabilidade subsidiária: é aquela que reforça a responsabilidade principal (ou direta). Falhando a última, vigora a primeira. Em suma, não sendo possível executar o principal devedor, executa-se os demais devedores (subsidiários).
FREDERICO MARQUES apoiado por LIEBMAN E MICHELI diz que:
Embora não haja compra e venda na arrematação, o executado responde pela evicção porque se o seu patrimônio é garantia comum de todos os credores, seria injusto, caso o bem arrematado não lhe pertencesse, fosse o arrematante obrigado a arcar com todo o peso da execução, beneficiando os credores com um enriquecimento injustificado obtido á custa de algo que não era devido.
Venosa (2004:580) aduz que:
Quem transfere uma coisa por título oneroso (vendedor, cedente, arrendante, etc.) está obrigado a garantir a legitimidade do direito que transfere. Deve ser assegurado ao adquirente que seu título é bom e suficiente e que ninguém mais tem direito sobre o objeto do contrato, vindo a turbá-lo, alegando melhor direito.
O art. 447, do Código Civil estabelece que “nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública”.
Ampliando o exemplo anterior, admitamos que uma pessoa A vendeu e entregou uma coisa para uma pessoa B. Posteriormente uma pessoa C reivindica judicialmente a coisa vendida alegando e provando que lhe pertencia, obtendo sentença favorável.
Neste caso, a pessoa B (executado) que sofreu a evicção, é obrigada a entregar a coisa para a pessoa C (exequente), seu verdadeiro dono.
Nesta hipótese, a pessoa A será responsabilizada pelos prejuízos causados a pessoa B. Assim, a pessoa A responde pela evicção (perda judicial da coisa) sofrida pela pessoa B nesta operação. 
8 - DIFERENCIE AS HIPÓTESES DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS SEM CUMPRIMENTO E COM CUMPRIMENTO.
Em relação a extinção sem cumprimento:
Realizada a prestação, na forma como pactuada, extingue-se, ex nunc, a relação contratual havida entre as partes. Com efeito, cumprida a prestação, muitas vezes já se encontra exaurido o objeto do contrato. Registre-se, porém, que o cumprimento da prestação extingue juridicamente o contrato, independentemente da possibilidade fática de repetição da prestação. 
Uma das hipóteses para a extinção de um contrato, independentemente de seu regular e/ou integral cumprimento, é o advento de um termo. Podem as partes, por exemplo, celebrar contratos sem a prefixação de um prazo. Outros contratos, porém, podem ser celebrados com a estipulação de um termo.
Além de um evento certo quanto à ocorrência, como é o caso do termo, podem as partes estipular, querendo, que a duração do contrato seja limitada à ocorrência de um evento futuro e incerto: a condição. Trata-se, no caso, do implemento de uma condição resolutiva. Assim, caso seja celebrado um contrato, cuja eficácia esteja submetida a uma condição, o implemento de tal evento gerará a sua extinção automática.
Embora não seja tecnicamente uma hipótese de extinção natural do contrato, vale a pena lembrar, que a frustração da condição suspensiva pode também gerar a extinção contratual, a depender da forma como venha inserida no negócio jurídico.
A extinção do contrato sem cumprimento é denominada de extinção anormal, e pode ocorrer por causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, ou ainda por causas supervenientes.
Partindo-se da premissa de que o objetivo almejado pelas partes não foi cumprido (seja realizando a prestação, seja cumprindo os fatores eficaciais do negócio jurídico), toda extinção contratual posterior, nestes termos, deve ser considerada anormal.
Esta “morte não natural”, porém, pode ter sua raiz em causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, o que não lhe retira a caracterização de uma extinção posterior, haja vista que se parte da concepção de existência jurídica da avença. São elas: a) Nulidade ou anulabilidade; b) Redibição; e, c) Direito de arrependimento.
Ao passo que, na extinção com cumprimento os contratos têm um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos e extinguem-se. O meio normal de extinção do contrato, dá-se em regra, pela execução, podendo ser de forma instantânea, diferida ou continuada.
9 - O QUE É EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO E EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE?
A “exceção de contrato não cumprido” é um meio de defesa, pelo qual a parte demandada pela execução de um contrato pode arguir que deixou de cumpri-lo pelo fato da outra ainda também não ter satisfeito a prestação correspondente. Como se infere, a mesma somente pode ser aplicada nos chamados contratos bilaterais, sinalagmáticos ou de prestações correlatas, em que se tem uma produção simultânea de prestações para todos os contratantes, pela dependência recíproca das obrigações.
Trata-se, portanto, de uma exceção substancial, paralisando a pretensão do autor de exigir a prestação pactuada, ante a alegação do réu de não haver percebido a contraprestação devida. Trata-se, também, de um instrumento bastante útil para forçar o devedor a cumprir a sua obrigação, uma vez que a recusa de pagamento da obrigação pode compeli-lo a tal fim; Ao passo que, Exceção de Inseguridade é a situação em que a conduta de uma das partes de um negócio jurídico submete a risco a fiel execução do avençado/combinado em contrato, ocasião em que a parte inocente pode, desde logo, suspender o cumprimento de sua respectiva prestação. É retirada de uma interpretação analógica do artigo 477 do Código Civil, que assim prescreve:
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
10 - EXPLIQUE PELO MENOS UMA HIPÓTESE DE REVISÃO CONTRATUAL.   
A onerosidade excessiva significa um fato que torna difícil o cumprimento da obrigação na forma ajustada, pois impõe uma desproporção entre a prestação e a contraprestação que, por consequência, acabará por provocar uma desvantagem exagerada para um dos contratantes e comprometerá a execução equânime do contrato.
A onerosidade excessiva apresenta-se mais ampla do que a teoria da imprevisão, pois aquela não se restringe apenas ao mundo dos contratos, pelo contrário, a onerosidade excessiva abarca as obrigações em geral. Ao celebrar um contrato, uma obrigação, sempre se deve ter em mente a boa-fé entre as partes. Com isso em vista o ideal é buscar sempre que possível a preservação e o adimplemento da obrigação. Justamente por elas serem um processo dinâmico e cooperativo, que procura a satisfação das legítimas expectativas das partes, há um claro interesse em adaptar a relação jurídica às mudanças repentinas que o passar do tempo pode produzir. (Farias, et al., 2008).
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
A letra do Art. 317 do CCB é deveras salutar, pois existem acontecimentos que, por maior que seja a diligência dos protagonistas, não há como prever. Seu objetivo maior é proteger parte lesada por tal acontecimento evitando - como já falado - uma desproporção manifesta entre as prestações. Esses fatos imprevisíveis podem causar, e causam, grande impacto no valor da obrigação, fazendo com queseu adimplemento se torne sacrificante e muito difícil para uma das partes. Porém, é certa a necessidade de avaliar o caso concreto para se definir se, de fato, houve uma desproporção manifesta - necessária prova dos motivos imprevisíveis - na prestação devido ao fato superveniente. Sendo assim, a parte prejudicada pode entrar em juízo para que o valor da prestação seja então corrigido, para que o juiz estipule o preço justo dela. Importante lembrar que é necessária a prova dos motivos imprevisíveis para que surja o direito à revisão.
O mais importante é que o art. 317 tem em vista a preservação do vínculo obrigacional e as expectativas dos pactuantes, não sua resolução, ou seja, afastar a situação de excessiva onerosidade pela revisão ou modificação de dispositivos contratuais

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