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fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga 2 Apesar de as denominações “fi- lósofos físicos” ou “da natureza” serem muito comuns, o problema básico deles era essencialmente me- tafísico. Essa afirmação se justifica pelo menos de dois modos: em suas investigações, eles perguntaram so- bre o primeiro princípio e de que são feitas as coisas, não “o que” são es- sas coisas; a questão fundamental deles era no que estava para além da mudança, o que permanecia, qual era o substrato, a essência do movi- mento e da mudança. Nesse sentido, procuraram reduzir a multiplicidade dos fenômenos físicos para uma uni- dade, esta consistindo de um princí- pio racional, não mais teológico ou divino. Nas explicações para o fenô- meno da multiplicidade e na busca pela unidade subjacente a todos os outros, o conceito de physis tinha função fundamental, sendo por isso importante ter bem claros seus signifi- cados. Segundo esses filósofos, physis sig- nifica conceito am- plo, abrangente, en- volvendo tudo o que existe, incluindo os deuses; physis refere- se a tudo que é natu- ral, e os deuses não são sobrenaturais, ou seja, mantêm re- lação terrena com os homens. Envolve pro- blemas de política e favores, mas quase nunca questões morais. Implica o fenômeno psíquico, pois a própria consciência faz parte da physis, expressa por esses autores com termos como logos, nous — a consciência e a razão como expressão de forças cósmicas maiores. Physis significa ainda o próprio processo de desenvolver-se, do vir-a-ser, o fenô- meno da mudança e movimento, o Pensadores pré-socráticos Escola dE MilEto Procurando reduzir a multiplicidade percebida à uni- dade exigida pela razão, os pensadores de Mileto propu- seram versões de uma física e de uma cosmologia conce- bidas em termos qualitativos, de opostos, entendendo as qualidades sensíveis como realidades em si (“o quente” e “o frio”) e o universo como um campo ou conjunto de opostos. devir. Posteriormente, filósofos, in- cluindo Platão, usariam termos como geração e corrupção para a questão do devir. Dessa forma, o problema bási- co dos pensadores pré-socráticos é o cosmológico. Apenas a partir do sé- culo V a questão cosmológica e me- tafísica desses pensadores foi subs- tituída por questões relativas ao homem, o chamado problema an- tropológico, tema central do pen- samento de Sócrates e largamente usado para distinguir os pensadores pré-socráticos dos clássicos ou pós- socráticos. Além do conceito de physis, to- dos os filósofos pré-socráticos usa- ram o de arché, entendido como primeiro princípio ou princípio ori- ginário, aquele que deu origem a todas as coisas. Arché é também a razão constitutiva das coisas. Da mes- ma forma que dá origem a todas as coisas, também para arché todas as coisas retornam. É o fim de todas as coisas. Nesse sentido, é revelador da concepção cíclica de tempo, típi- ca do pensamento e da cultura gre- gos. Arché representa assim o princí- pio de tudo e sua razão constitutiva, bem como o fim de todas as coisas. Também eterna, ilimitada, penetra em todas as coisas, e transformável, visto serem suas mutações que dão origem e sustentam a multiplicidade de tudo que nos cerca. O pensamento originário ou pré-so- crático teve vários representantes. Os gregos denominavam o conjunto da realidade, o próprio universo, de physis. IM A g E D J O conjunto dos primeiros filó- sofos gregos denomina-se generi- camente “pré-socrático”, obviamen- te por anteceder cronologicamente a Sócrates. Também são chamados filósofos da natureza ou filósofos fí- sicos, porque refletiam sobre a natu- reza — physis em grego. Ainda filó- sofos originários, não apenas porque representaram o começo da reflexão filosófica, mas antes porque elegeram como seu objeto de estudo a origem de toda a realidade, dando especial atenção ao problema da mudança e da regularidade dos fenômenos. De acordo com uma tradição que remonta aos pró- prios gregos, o primeiro filósofo teria sido Tales de Mileto, considerado um dos sete sábios da grécia, não tanto por sua atuação como matemático ou filósofo, mas sobretudo por seu desempenho político na tentativa de unir as cida- des gregas da Ásia Menor numa confederação para com- bater os persas. Para a história da filosofia, a importância de Tales advém sobretudo de ter afirmado que a água era a introdução 3 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga fi lo so fi a 10 Suposta imagem de Tales de Mileto, considerado o pai da filosofia. origem de todas as coisas. A água se- ria a physis — pa- lavra grega que, no vocabulário da época, significava algo como “fon- te”, mas também “processo originá- rio” de surgimento e desenvolvimen- to, corresponden- do a “gênese”. Ed it o ra C O C Um dos aspectos fundamentais da mentalidade cien- tífico-filosófica inaugurada por Tales consistia na possibi- lidade de reformulação e correção das teses propostas, o que era o contrário da estabilidade apresentada pelos mi- tos arcaicos. Dessa forma, o comando da escola de Mileto, ao passar para Anaximandro, representou também uma mudança na concepção referente à unidade, que deveria existir sob toda a realidade. Para Anaximandro, o primeiro a utilizar o termo arché, que significa princípio originário, sentido bastante próximo ao de physis, o universo teria resultado das modificações ocorridas nessa arché, que ele denominou ápeiron, tradu- zido por infinito/ilimitado. A falta de limites do ápeiron pode ser interpretada como infinitude espacial ou indeter- minação qualitativa ou ambas ao mesmo tempo. Certo é que o ápeiron estaria animado por um movimento eterno, que ocasionaria a separação de pares de opostos, como frio e calor, seco e úmido. O último filósofo de Mileto, Anaxímenes, concebia o universo como resultado das transformações de um ar in- finito (pneuma ápeiron). Para ele, todas as coisas seriam produzidas mediante duplo processo mecânico de rarefa- ção e condensação do ar infinito. Também pensava, como Anaximandro, que a arché era a base para a constituição de inumeráveis mundos, gerados de maneira sucessiva e/ ou simultânea Pitágoras Pitágoras de Samos (530 a.C.) tornou-se figura len- dária já na antiguidade. Matemático, religioso e cientista, sua biografia o identifica não como filósofo, mas como re- formador moral e religioso. Por volta da segunda metade do século VI a.C. teria deixado Samos, na Jônia, fugindo da tirania de Polícrates, para estabelecer-se em Crotona, na Itália, onde fundou uma confraria científico-religiosa à semelhança dos órficos. Deu ênfase à busca de um sen- tido para a vida humana e, no limite, à busca de salvação, revelando claramente uma finalidade religiosa em seu pro- jeto político-filosófico. Órficos — A religiosidade grega compreendia a religião oficial — culto aos deuses olímpicos em templos — e cultos esotéricos ou “mistérios”, dentre os quais parece destacar-se o orfismo, relacionado a Orfeu, personagem mito- lógico que desceu ao inferno em busca de sua amada e dele retornou. O or- fismo considerava a música fundamental, na medida em que proporcionava estados de êxtase e de comunhão com as divindades. Orfeu teria recebido a revelação de certos mistérios que transmitiu a iniciados, sob a forma de poe- mas musicais. Pelo fato de apregoar vantagens e salvação na vida pós-morte, o orfismo pode estar relacionado aos primórdios do cristianismo. Os mistérios de Elêusis também representam outra grande vertente esotérica da grécia Antiga, com as quais o pitagorismo mantém muitos paralelos. Além de filósofo,líder político e religioso, Pitágoras destacou-se na matemática. Desenvolveu o famoso teorema que leva seu nome. Apesar da carên- cia de fontes seguras, pode-se deduzir dos comentários dos auto- res antigos a finalidade maior do projeto pita- górico: libertar a alma do ciclo das reencar- nações, o que se daria por meio de uma prá- tica moral. A morali- dade está subordinada ao elemento religioso e seu pensamento parte da religiosidade órfica. Basicamente, o orfis- mo era um culto popu- lar que acreditava na imortalidade da alma e na metempsicose — transmigração da alma através de vários corpos para atingir a purifica- ção e retornar à pátria celeste, às estrelas. Durante o sécu- lo VI a.C., o culto a Dioniso, originário da Trácia, difundiu-se pela Jônia, tornando-se nú- cleo da religiosidade órfica. Dioniso, deus libertador, auxiliava o iniciado, completando a libertação da alma preparada pelas práti- cas catárticas previstas no ritual órfico. Para os pitagóri- cos, o universo proviria de um pneuma infini- to, donde se originariam as almas — partículas desse pneu- ma que entrariam no corpo pela respiração. Pitagóricos, Platão e o cristianismo, tempos depois, retiveram a ideia da imortalidade da alma. Para orfistas e pitagóricos, essa alma transmigraria de um corpo para outro. As religiões de mistérios infuenciaram a filosofia antiga e a arte, como na representação A Morte de Orfeu, obra de Albrecht Dürer. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga 4 grande novidade introduzida por Pitágoras na con- dição de reformador religioso: substituição do culto a Dioniso pela matemática, ou seja, Pitágoras transformou o processo de libertação da alma em algo puramente sub- jetivo e humano, e não mais dependente dos rituais. A ma- temática, o científico, passou a instrumento de uma prática moral, mas subordinada a objetivos religiosos. Ao lado da matemática, a contribuição no processo de purificar a alma vinha da música, na medida em que ela aquieta as paixões e permite sua composição. Em resumo, a purificação da alma resultaria do trabalho intelectual que descobre a estrutura numérica das coisas, transformando a alma em algo semelhante ao cosmo quanto à harmonia, proporção e beleza. A da alma seria acompanhada da pu- rificação do corpo, mediante uma dieta especial e outras práticas. A arché de Pitágoras repousa por isso na ideia de que todas as coisas são números. A harmonia surge do embate entre opostos, como limitado/ilimitado, perfeito/ imperfeito, cheio/vazio. Conforme a harmonia do universo, também ao homem cabe buscar a harmonia. Essa concepção harmônica teria derivado da observa- ção, por Pitágoras, de inúmeros eventos naturais reduzí- veis a relações matemáticas. Ele percebeu a relação entre a extensão da corda sonora e o som produzido, entre a regularidade das estações e dos fenômenos astronômicos. Depois da generalização dessas constatações de ordem in- dutiva, Pitágoras passou a ver toda a realidade como es- trutura numérica. Cabe aqui uma observação: o número pitagórico não equivale ao nosso número abstrato, mero símbolo que representa valores e quantidades. É uma entidade real e corpórea que corresponde a dada quantidade e organiza- ção de matéria. As diferenças entre as coisas resultariam de suas distintas organizações numéricas, das diferentes distribuições da matéria de conformidade com essas or- ganizações. Seguindo essa ideia, por exemplo, os pitagó- ricos afirmavam que os primeiros números representariam as organizações de matéria mais simples: 1 = ponto ( . ); 2 = linha ( - - ); 3 = superfície; 4 = volume... Em função das complexas deduções matemáticas, os pi- tagóricos também acreditavam no universo como um cam- po de opostos. Cada número representaria uma oposição derivada da oposição fundamental — o par mesmo/outro. O número 1 manifestaria o finito/infinito; o 2, o par/ímpar; o 3, unidade/multiplicidade; o 4, direita/esquerda... Os impasses que essa concepção de número gerou e também a destruição da escola de Crotona fizeram o pi- tagorismo evoluir e expandir-se, influenciando todo o de- senvolvimento da ciência e da filosofia gregas. Principais ideias pitagóricas posteriormente encontra- das em outros autores e crenças religiosas: ideia dos nú- meros como essência das coisas; crença na imortalidade da alma; purificação do corpo (práticas ascéticas) e da alma (ciência, música); conceito de cosmos como ordem univer- sal, harmonia entre contrários, conciliação entre unidade e pluralidade. sEr ou não sEr – ParMênidEs, HEráclito E a unidadE do divino Os milesianos escreveram as primeiras reflexões filosó- ficas sobre a estrutura e o movimento do cosmos e da na- tureza, denominadas cosmogonias — representavam varia- ções de uma concepção monista, pois identificavam apenas uma physis ou elemento básico (água, ar, unidade numérica) e uma corporalista (corpórea). A própria divergência entre esses pensadores deslocou a discussão acerca do binômio unidade/pluralidade do campo cosmogônico para o do co- nhecimento, buscando-se um caminho de certeza que su- perasse as opiniões divergentes. Tratava-se de contrapor uma verdade única a uma multiplicidade de opiniões. Esse problema filosófico apareceu com Heráclito de Éfeso, mas foi abordado sobretudo pela escola de Eleia. O eleatismo teria marcado o início da problemática lógica e ontológica, ou seja, os problemas sobre o conhecer e o ser. Para Heráclito, o filósofo do devir, cuja ideia se expres- sa por “Tudo flui”, a arché é o fogo. Ele buscou também explicação para o movimento da arché, encontrando-a no logos — razão. Dessa forma, o movimento que se verifica na realidade não ocorre por acaso nem tampouco corres- ponde a movimento caótico, mas obedece a certa razão natural, que o orienta, bem como ao devir. Em Heráclito, a primeira referência ao homem, ao problema antropológico, apareceu quando ele disse “Procurei-me a mim mesmo”. Heráclito acreditava que a base da realidade era o movimento, que não ocorria de forma desordenada, mas segundo uma razão, o logos. A concepção da realidade como movimento, confor- me Heráclito, é bastante radical, pois ele não afirmou que a realidade estava em movimento, mas sim que ela era 5 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga fi lo so fi a 10 Parmênides de Eleia, um dos principais representantes da filosofia pré-socrática, defendeu a ideia de que o movimento é aparente e que o ser sempre mantém sua identidade. movimento. Todas as coisas que compõem a realidade, es- tando em perpétuo movimento, vivem em transformação incessante, ou seja, abandonando características antigas e adquirindo novas, o que lhe permitiu afirmar que o ser e o não ser existem, considerando que, na mesma medi- da em que uma coisa é, deixa de ser no instante seguinte, para transformar-se em algo novo. Com relação ao eleatismo, muitos autores considera- ram Xenófanes de Colofão, colônia grega da Ásia Menor, como o fundador da escola, mas a crítica moderna lhe atribui apenas a autoria de poemas satíricos, os silloi, nos quais ele critica a mentalidade vulgar, em particular quanto à concepção do divino. Xenófanes combatia a visão antro- pomórfica dos gregos herdada de Homero, dizendo que deveria haver apenas um deus acima de tudo, certamente algo distinto dos homens, não podendo, portanto, ter sua forma. Segundo Xenófanes, se fosse dado aos asnos ou a qualquer outro animal a possibilidade de cultuar divinda- des, certamente elas teriam a forma de asnos. Legítimos representantes do eleatismo: Parmênides, Zenão e Melisso. Pa rmên ides — fundadorda escola, viveu entre o final do século VI e come- ço do V a.C. Além de legislador em sua ci- dade natal, Eleia, es- creveu um poema em três partes: intro- dução — narra uma experiência de ascese e revelação; primeira parte — apresenta o conteúdo dessa reve- lação, que seria a “via da verdade”, ou seja, a percepção racional da unidade e da iden- tidade do real; segun- da parte — caracteri- za a “via da opinião”, relacionada ao teste- munho dos sentidos sobre a mudança e o devir, que são ilusó- rios e conduzem ao engano. Em relação ao ser, contrariamente a seus antecessores, como Pitágoras (o não ser existe) e Heráclito (ser e não ser existem), Parmênides afirmou: “só o ser existe, o não ser não existe”. Dessa formulação metafísica derivou o prin- cípio lógico da identidade segundo o qual “o ser é, o não ser não é”. Além disso, como a existência do homem e de sua consciência faz parte do ser, Parmênides disse que apenas o ser pode ser pensado, e pensar sobre o não-ser (o movimento e a mudança) resulta num caminho enga- noso, porque existe uma identidade entre o pensamento e a realidade do ser. Para Parmênides, o ser é uno, compacto, homogê- neo, diferente da concepção pitagórica de maior ou me- nor densidade de ser, de maior condensação e rarefação. Ele não admite o não ser, portanto não admite o espaço vazio, a mudança e o movimento. O ser de Parmênides é também eterno e imóvel. outros autorEs Pré-socráticos Os demais pensadores pré-socráticos procuraram a causa última das coisas não num único princípio, mas numa reunião de elementos. Empédocles O ecletismo marcou o pensamento e a obra de Empédocles, que escreveu o poema Sobre a Natureza, reu- nindo as várias tendências do seu tempo. Para ele, quatro raízes em conjunto resultariam na physis: ar, água, terra e fogo. Haveria também duas forças cósmicas, identificadas por ele como amor e ódio, para levar esses elementos a se agregar ou dispersar, formando todo o resto. A realidade passaria por ciclos em que se alternariam essas duas for- ças. Em outro poema de Empédocles, Purificações, cons- tam elementos comuns ao orfismo e ao pitagorismo, re- presentando os primeiros indícios de uma filosofia moral. De qualquer forma, a concepção de Empédocles a respeito da realidade como composta por certos elementos agrega- dos ou separados por forças está muito próxima da moder- na concepção do universo de acordo com a Física. Para Empédocles, toda a realidade resultava da composição de quatro elementos: terra, água, ar e fogo. A R T EX PL O SI O N IO FO TO / D R A M ST IM E. C O M M C C A R TH y ST U D IO / D R EA M ST IM E. C O M M Ik 12 2 / D R EA M ST IM E. C O M 7 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga fi lo so fi a 10 b) Qual o termo empregado pelos gregos para sustentar a tese de que as almas migram de um corpo a outro? c) Além do conceito de alma, quais outros temas do pitagorismo influenciariam pensadores e religiões posteriores? d) Estabeleça a principal diferença entre pitagorismo e orfismo, apresentando também uma semelhança. 4. Segundo Heráclito “Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas”. Relacione essa afirmação com a ideia desse filósofo sobre a realidade, enfatizando também o papel do conceito de logos. 5. O fragmento seguinte, de autoria de Parmênides de Eleia, fundador da escola eleática, serve de base para responder às questões propostas. a) Parmênides é um autor que defende o imobilismo da realidade. Tendo isso em vista, explique o significado da expressão “múltipla experiência do hábito”. b) Explique o significado das expressões “olho sem visão” e “ouvido ensurdecedor”. c) Segundo Parmênides, qual o único caminho de investigação que pode ser percorrido acerca da realidade? E como o homem deve proceder para alcançá-lo? Jamais se conseguirá provar que o não-ser é; afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investi- gação, e nem te deixes arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem governar pelo olho sem vi- são, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a razão decide da muito controvertida tese, que te revelou minha palavra. testes 1. UFMA — O homem sempre buscou explicações sobre os aspectos essenciais da realidade que o cerca e sobre sua própria existência. Na grécia antiga, antes de a filosofia sur- gir, essas explicações eram dadas pela mitologia e tinham, portanto, um forte caráter religioso. Historicamente, consi- dera-se que a filosofia tem início com Tales de Mileto, em razão de ele ter afirmado que “a água é a origem e a matriz de todas as coisas”. Nesse sentido, pode-se dizer que a frase de Tales tem caráter filosófico pelas seguintes razões: a) Porque destaca a importância da água para a vida; porque faz referência aos deuses como causa da realidade e porque nela, embora apenas suben- tendido, está contido o pensamento “tudo é ma- téria”. Metempsicose. ideia de purificação da alma e do corpo, além da eternidade da alma; ideia do cosmos como harmônico e baseado em relações matemáticas. Principal diferença: substituição do culto a Dioniso pela matemática. Uma semelhança: a música como instrumento para a ascese da alma. Para Heráclito, a realidade é movimento constante, por isso nem o rio nem o homem que entra nele são os mesmos em dois momentos distintos, apesar de o rio correr numa calha, seguir uma direção, o que pode ser identificado com o logos, traduzido por razão ou discurso. o movimento não é caótico, mas segue uma razão, como o rio segue seu curso. a frase refere-se ao movimento aparente da realidade. se a experiência é múltipla, e não uma só, isso se refere à mudança e ao movimento. Trata-se de uma condenação dos sentidos, cujo testemunho não é confiável e dos quais resulta exatamente a ideia de movimento. o caminho do ser, apenas atingido por intermédio da razão. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia g re ga 8 b) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o faz sem imagem e fabulação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento “tudo é um”. c) Porque narra uma lenda; porque narra essa len- da através de imagens e fabulação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pen- samento “tudo é movimento”. d) Porque enuncia uma verdade revelada por Deus; porque o faz através da imaginação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento “o homem é a medida de todas as coisas”. e) Porque enuncia algo sobre a origem das coisas; porque o faz recorrendo a deuses e à imaginação e porque nela, embora apenas subentendido, está contido o pensamento “conhece-te a ti mesmo”. 2. UFU-MG …Princípio dos seres… ele [Anaximandro] disse (que era) o ilimitado… Pois donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção se gera segun- do o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a or- denação do tempo. PRÉ-SOCRÁTICOS. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os pensadores). A partir da análise do texto de Anaximandro, é cor- reto afirmar que a filosofia, em contraposição ao mito, se caracteriza por a) conceber o tempo como um passado imemorial sem relação com o presente. b) os seres divinos concedem, por alianças ou rom- pimentos, justiça e deferência uns aos outros. c) o mundo ser explicado por um processo constante e eterno de geração e corrupção, cujo princípio é o ilimitado. d) narrar a origem do mundo por meio de alianças e forças geradoras divinas.3. UFU-MG – O pensamento de Parmênides constitui uma das mais profundas doutrinas dos filósofos da physis. Seu poema possui uma estrutura bem definida em três par- tes: prólogo, caminho da verdade e caminho da opinião. Acerca desse poema, responda às seguintes questões: a) O poema de Parmênides pertence a qual período da história da filosofia? b) Em qual dos temas seguintes o poema de Parmênides melhor se encaixa: política, ética, lógica, metafísica ou estética? Justifique sua resposta. c) A que parte do poema se refere o fragmento em destaque a seguir: prólogo, caminho da verdade ou caminho da opinião? Justifique sua resposta. Fragmento 7 (...) afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investigação, e nem te deixe arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem governar pelo olho sem visão, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a razão decide da muito controver- tida tese, que te revelou minha palavra. BORNHEIM, g. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1993, p. 55. 4. UFU-MG — Parmênides (c. 515-440 a.C.) deixou seus pensamentos registrados no poema Sobre a Natureza, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filóso- fos do mundo antigo. Uma das passagens célebres preser- vadas é a seguinte: Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro desta via de inquérito eu te afas- to, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; (...) ARMÊNIDES. Sobre a natureza. Tradução de: SOUZA, José Cavalcante. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 88. (Os pensadores). Analise as assertivas seguintes. I. A opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (ser). II. O mundo dos sentidos é (ser), portanto o único digno de ser conhecido. III. Não se pode dizer “não-ser é”, porque “não-ser” é impensável. IV. Dizer “não-ser é não não-ser” é o mesmo que afirmar “não-ser não é”. Assinale a alternativa que contém as assertivas cor- retas. a) I e III b) II e III c) II e IV d) I e IV À parte do caminho da verdade, pois recusa os dados sensíveis como forma de alcançar o conhecimento e reduz essa possibilidade à razão. ao da filosofia pré-socrática. Na metafísica, na medida em que caracteriza uma reflexão so- bre os fundamentos da realidade. 11 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s fi lo so fi a 10 Com base na leitura do texto, responda às questões propostas. a) Ao pedir uma definição de coragem, qual a resposta de Laques? Ela pode ser considerada uma definição ou ape- nas um exemplo? b) Como Sócrates reage à resposta de Laques? c) O que Sócrates exige de Laques? d) Qual o objetivo de Sócrates ao enumerar exemplos de atos corajosos em diferentes atividades ou problemas hu- manos? Sócrates: E eu também. Mas, por outro lado, que dizer daquele que combate o inimigo recuando e não per- manecendo no seu posto? Laques: Recuando? Como? Sócrates: Como os citas, provavelmente, os quais, segundo se diz, na retirada, não combatem menos do que no ataque. (...) Laques: É verdade o que dizes. Sócrates: Pois aí tens o que eu estava a dizer há pouco: que eu era o culpado por tu não teres dado uma boa resposta. E que eu não tinha feito bem a pergunta. Eu procurava saber de ti quais são os corajosos, não apenas entre os hoplitas {soldados gregos], mas também na cavalaria e em todas as outras formas de guerra, e não ape- nas os corajosos na guerra, mas também os que são corajosos nos perigos do mar e aqueles que são corajosos nas doenças ou na pobreza ou na política. E mais ainda: não apenas os que são corajosos nas aflições e temo- res, mas também os que são intrépidos no combate aos desejos e prazeres, ora enfrentando-os, ora evitando-os. Também nisso, ó Laques, há quem seja corajoso. Laques: E muito, ó Sócrates. Sócrates: Portanto todos esses são corajosos. Só que uns conquistam a coragem nos prazeres, outros, na aflições, outros, nos desejos, outros, nos temores; outros, porém, suponho, nessas mesmas circunstâncias reve- lam covardia. Laques: Precisamente. Sócrates: O que é, enfim, cada uma dessas duas coisas [a coragem e a covardia]? Eis o que eu perguntava. Experimenta, pois, mais uma vez, em relação à coragem, dizer o que existe de idêntico em todas essas circuns- tâncias. PLATÃO. Laques. Tradução de: OLIVEIRA, Francisco de. Lisboa: Edições 70, 2007. p. 62-65. Exemplo, porque laques oferece resposta acerca de uma manifestação da coragem, mas não define o que seja a coragem em si mesma. oferece outros exemplos de atos corajosos. Que identifique a essência do ato corajoso, a essência comum da coragem, presente em exemplos de diferentes tipos. a definição da coragem em si mesma, o conceito de coragem. 13 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s fi lo so fi a 10 Nascido de família aristocrática, Platão vivenciou a decadência de Atenas e assumiu posição política avessa à democracia. Em geral os diálogos socráticos desenvolvem discussões sobre ética, definindo determinada virtude: cora- gem — Laques; piedade — Eutífron; amizade — Lísis; autocontrole — Cármides. São diálogos aporéticos — fazem levantamento de diferen- tes modos de conceituar as virtudes, denunciam a fragilidade dessas con- ceituações e deixam a questão aber- ta, inconclusa. Isso ligado ao objetivo do próprio Sócrates, que se preocu- pava antes com o desencadeamento do conhecimento de si mesmo e não propriamente com conceitos. De qualquer modo, algumas te- ses socráticas básicas estão presentes nesses diálogos, como a da identifica- ção da virtude com certo tipo de co- nhecimento e a da unidade de todas as virtudes. Alguns diálogos dessa fase manifestam duas preocupações constantes na obra platônica: o pro- blema político (como no Cármides) “diálogos socráticos”, visto ter Sócrates como personagem central. Dentre os diálogos, a Apologia de Sócrates pre- tendeu reproduzir a própria defesa diante da Assembleia que o julgou e condenou. Nos primeiros diálogos in- cluem-se ainda Hípias Menor, talvez Hípias Maior, Protágoras, Górgias (nos quais aparecem os grandes sofistas) e Ion. e o papel que a retórica pode de- sempenhar na ética e na educação (Górgias, Protágoras, os dois Hípias). Outros diálogos dessa fase cons- tituem-se também em defesas de Sócrates por Platão: Críton, Laques, Lísis, Cármides e Eutífron. São do período da Academia os “diálogos de transição”, nos quais aparecem o progressivo desligamento das posições originariamente socráti- cas e a formulação de uma filosofia própria, com forte influência pitagó- rica e baseada na nova solução para o problema do conhecimento, re- presentada pela doutrina das ideias: formas incorpóreas e transcendentes que seriam modelos dos objetos sen- síveis. Essas novas formulações estão em vários diálogos: Ménon, Fédon, Banquete, República, Fedro. Os últimos diálogos de Platão repre- sentam sua plena maturidade intelectu- al, quando começou a rever as primeiras formulações da “doutrina das ideias” e as reestruturou conforme bases epis- temológicas mais exigentes e segu- ras. Compõe essa fase a série de di- álogos constituída por Parmênides, Teeteto, Sofista e Político. No Timeu, vasto mito cosmogônico, Platão des- creveu a origem do universo; no Crítias, apresentou um estado seme- lhante ao descrito em A República, ambos do último período. Também Filebo aí se enquadra, abordando o tema da felicidade humana. Ao mor- rer, Platão deixouinacabada uma no- tável obra, Leis, na qual retomou o problema político e alterou teses ex- pressas em A República, propondo a conciliação entre a monarquia consti- tucional e a democracia. Teve interesse pela política desde a juventude até o fim da vida. O aprofundamento da consci- ência política significou longo itinerário que permitiu a construção da primeira grande síntese filosófica do pensamen- to antigo e abriu horizontes de pesquisa ainda hoje explorados, servindo de ins- piração e estímulo a grandiosas aventu- ras do espírito. Fédon E tEoria das idEias O diálogo Fédon insere-se nos trabalhos intermediários de Platão, no período da Academia, quando suas principais teses já haviam adquiri- do boa consistência. Pela boca de Sócrates, Platão expôs nova linha de resolu- ção de antigos problemas filosóficos e científicos, re- presentada pela doutrina das ideias. As afirmações de que existe um belo em si e por si, um bom, um grande e assim por diante surgiram quando a filoso- fia platônica mostrou que se distinguia do socratis- mo e assumia fisionomia própria. Essa separação teria ocorrido quando a noção de ideia, como essência existente em si e por si, portanto independente das coi- sas e do intelecto humano, seguiu um método de pesquisa de índo- le matemática. Ainda nesse diálogo Sócrates afirma que, para chegar às ideias, adotou um caminho de in- vestigação, que consistia em colocar em cada passo um princípio, aquele que julgasse o mais seguro, admitin- do como verdadeiro ou falso tudo o que parecesse estar, respectivamen- te, em concordância ou discordância com esse princípio. Na Academia, Platão ensinava segundo o método dialético de discussão — argumentação expressa na forma de diálogos. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 14 Agir dessa maneira significa pen- sar como os matemáticos e os geô- metras, que propõem hipóteses das quais extraem consequências lógi- cas. Platão propôs, por intermédio de Sócrates, remontar do condicio- nado (problemas a resolver ou coisas a explicar) à condição (hipótese ex- plicativa), visando a estabelecer uma relação de consequência lógica entre as duas proposições — a que expri- me o problema e a que exprime sua hipotética resolução. Provisoriamente se deixa de lado a questão de saber se a condição é ela própria autossustentável ou se exi- ge recursos mais amplos ou básicos que a condicionem, importando ve- rificar o que concorda com o princí- pio ou a hipótese admitidos. O pla- tonismo, entretanto, não se detém apenas no exame da primeira hipóte- se que esse método “dos geômetras” lhe proporciona — existência de enti- dades em si, as ideias, causas inteli- gíveis do que os sentidos apreendem —, mas se remete a outras hipóteses que a condicionam. Seu pensamen- to se constrói assim como um jogo de hipóteses interligadas. Ao con- trário do relativismo dos sofistas, a busca de uma condição incondicio- nada para o conhecimento, a busca do fundamento último da ver- dade, é para Platão não o pon- to de partida, mas a meta a al- cançar. Nos diálogos da fase so- crática, Platão já buscava algo de idêntico e uno por trás das múltiplas maneiras de entender conceitos como “temperança” ou “coragem”. O método dia- lético empregado limitava-se a encontrar o mesmo no nível da significação das palavras, jamais chegando a qualquer conclusão acerca do funda- mento desse mesmo. A par- tir do Fédon, a dialética con- verteu-se, cada vez com mais apoio em recursos matemáti- cos, num método impessoal e teórico, que visava aos próprios problemas e não apenas à son- dagem da consciência dos in- terlocutores. Nos diálogos, Platão foi caracte- rizando as causas inteligíveis dos ob- jetos físicos, que chamou de ideias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis, o que significa dizer que não está na matéria a razão de sua inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas, esca- pando ao tempo que torna perecíveis os objetos físicos. Por isso, merecem o qualificativo de “divinas”. Perfeitas e imutáveis, as ideias comporiam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Tal hipótese explicativa não bas- ta a si mesma, pois resta saber de que maneira se podem conhecer es- sas realidades invisíveis e incorpóreas. Resposta de Platão: o intelecto pode apreender as ideias porque também ele é, como as ideias, incorpóreo. A alma humana, antes do nascimento — antes de prender-se ao cárcere do corpo —, teria contemplado as ideias enquanto seguia o cortejo dos deu- ses. Encarnada, perde a possibilida- de de contato direto com as ideias, mas diante de suas cópias — obje- tos sensíveis — pode gradativamen- te recuperar o conhecimento delas. Conhecer seria então lembrar, reco- nhecer. A hipótese da reminiscência vem, assim, explicar e sustentar a hi- pótese da existência do mundo das formas. A segunda hipótese, porém, necessita de outra que a condiciona: a da preexistência da alma em rela- ção ao corpo, a da incorruptibilidade dessa alma incorpórea e, portanto, da sua imortalidade. Essa imortali- dade converte-se, na construção do platonismo, numa condição para a ci- ência, para a explicação inteligível do mundo físico. Se a doutrina da reminiscência liga a alma às ideias e justifica que o homem as conheça, como explicar o relacionamento entre as formas e os objetos físicos, entre o incorpóreo e seu oposto, o corpóreo? Platão pre- tendeu resolvê-la através de duas no- ções fundamentais: a de participação e a de imitação. A doutrina platôni- ca de imitação (mímesis) baseia-se numa acepção metafísica da imita- ção, o que seria decorrente do dis- tanciamento entre o plano sensível e o inteligível. Os objetos físicos apa- recem como cópias imperfeitas dos arquétipos ideais. O mundo sensível seria uma imi- tação do mundo inteligível, havendo graus intermediários de imitação: o objeto natural imita a ideia que lhe é correspondente e a arte imita, por sua vez, aquela imitação. É por isso que a noção de imitação, usada me- tafisicamente por Platão para expli- car a relação sensível-inteligível, tem influências profundas na sua con- cepção estética e explica sua restri- ção aos artistas, considerados por ele como fazedores de “simulacros com simulacros, afastados da verda- de”. Já pela noção de participação, julga as ideias como padrão absoluto ou “justa medida” (o belo, o grande, o bom), segundo a maneira se dê a variação percebida no mundo sensí- vel, onde os objetos individuais par- ticipam com maior ou menor intensi- dade dessa medida, tornando-se por isso mais ou menos belos, grandes, bons e assim por diante. Conforme Platão, ideias ou formas correspondem a entidades reais e existentes, das quais os objetos sensíveis seriam meras cópias. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 16 a rEPública dE Platão Num de seus diálogos mais importantes, A República, Platão traça uma série de considerações sobre a cidade ideal, cujos chefes deveriam ser reis-filósofos. Um dos aspectos fundamentais para a escolha deles seria a educação, que lhes possibilitaria atingir a ciência, ou seja, o conhecimen- to das ideias, elevando-se até seu fundamento supremo: a ideia do bem. A discussão em torno da cidade ideal cede lugar então, em A República, a duas apresentações de como se desdobraria o conhecimento humano ao ascen- der à contemplação do mundo das essências: esquema da linhadividida e alegoria da caverna. Segundo muitos autores, esse livro marca a bifurcação entre o método de Sócrates e o de Platão. O Livro I evi- dencia a falência do método socrático e a continuação do texto mostra os novos caminhos a seguir, não cabendo a cada um organizar sua busca do bem, mas a ordem social é que há de tirar o melhor de cada um. Da mesma forma que outros discípulos de Sócrates, Platão escreveu A República na forma de diálogo, como de resto toda sua obra. Apesar de não ser uma novidade, Platão elevou o diálogo filosófico a gênero literário. Estrutura da obra resumo de a república Livro I — aparentemente escrito de maneira indepen- dente, possivelmente apenas mais tarde serviu de introdu- ção à obra A República, considerando ser muito parecido aos diálogos aporéticos (aporia = sem saída), atribuídos à primeira fase do filósofo. O esquema do Livro I (justiça) e daqueles diálogos é fundamentalmente o mesmo: pro- põe-se a definir uma virtude, que vai sendo substituída por outra, à medida que Sócrates demonstra sua insuficiência, de modo que a discussão termina com uma conclusão ne- gativa. Constata-se fracasso na tentativa de definir as vir- tudes nos dois casos. A coragem, a temperança, a piedade formavam com a justiça o grupo das virtudes cardeais, já esboçadas des- de Ésquilo e Píndaro, pelo menos. Além disso, cita a sa- bedoria como outra virtude indispensável. Dessa forma, A República analisa exatamente as quatro virtudes — co- ragem, temperança, sabedoria e justiça — como base para a constituição de um estado perfeito e equilibrado, defi- nindo-as numa perspectiva social e não individual, como se fazia no método socrático. De qualquer forma, o Livro I corresponde à parte da obra que apresenta as figuras, situa a discussão e o tema — o que é justiça — sob diversas concepções e re- futa as definições propostas Livro II — busca encontrar os alicerces morais da justiça, indagando sobre sua natureza, bem como a da injustiça. No discurso sobre a injustiça, glauco de- fine três espécies de bens: bens que buscamos por eles mesmos; bens que buscamos por eles e por suas vantagens; bens que buscamos só por suas vantagens. O primeiro parágrafo define a justiça como conven- ção para possibilitar a convivência social. O segundo diz que o justo e o injusto possuem objetivos comuns: buscar sempre mais. O terceiro parágrafo afirma não haver diferença entre justo e injusto — o justo só o é por coerção, e a injustiça possui valor independente. O quarto parágrafo analisa o injusto perfeito, quando se pratica a injustiça ao extremo de modo a aparentar justiça, pois ser injusto e parecer justo é o cúmulo da injustiça. O justo perfeito deve permanecer fiel à jus- tiça, mesmo que tenha fama de injusto. É mais impor- tante parecer um homem de bem que o ser. O sexto parágrafo mostra que a existência do injusto é mais afável que a do justo. Para solucionar o problema da justiça, Sócrates pro- põe analisar a justiça “em grande escala”, ou seja, trans- fere a análise do indivíduo para a cidade. O texto então descreve as transformações de uma cidade, que se tor- na luxuosa e precisa de especialização de tarefas cada vez maior. Começa a carecer de guardiões com treino próprio, ponto em que introduz o tema da educação, que deve ser feita pela música e ginástica, à moda gre- ga. A música implica poesias e fábulas, repletas de falsi- dades sobre os deuses, em vez de revelarem a divinda- de na perfeição de seus atributos. Dessa forma, declara abertamente que os poetas não servem para instruir a juventude. Livro III — prossegue o libelo acusatório e, depois de mandar embora os que imitam o mal, os poetas, retoma o tema da educação regulamentada pela música e ginás- tica, que deve ser pública, fornecida pelo estado, o que revela clara inspiração no modelo praticado em Esparta. O livro termina com a discussão da justiça envolvendo o homem e a cidade. Livro IV — definido o problema da educação, regu- lamenta outros aspectos da vida na comunidade. Depois de relegar as questões religiosas ao oráculo de Delfos, Sócrates declara que, fundada a cidade, está apta a pro- curar “onde possam estar a justiça e a injustiça”. A cida- de perfeita possuiria as quatro virtudes — sabedoria, co- ragem, temperança e justiça. Definidas as três primeiras, atinge-se a quarta por exclusão das partes. Se a primeira se encontra nos guardiões, a segunda, nos guerreiros, e a terceira, na harmonia geral de todas as classes, justiça é cada um exercer uma só função na sociedade, aquela para a qual, por natureza, é mais dotado. Resta verificar se essas conclusões são aplicáveis ao indivíduo. A cidade tinha três classes: dos guardiões, mi- litares e artífices. Também a alma do indivíduo encerra três elementos: apetitivo, espiritual e racional. Aos apetites cabe obedecer; às emoções, assistir; à razão, governar. “E assim assentamos suficientemente em que existem na ci- dade e na alma dos indivíduos os mesmos elementos e no mesmo número. Seu equilíbrio ou desequilíbrio conduzem à justiça ou à injustiça.” (p. 201) 17 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s fi lo so fi a 10 Teoria das virtudes e sua divisão em A República Quatro virtu- des cardeais Partes da alma Divisão do estado Prudência/sabe- doria Racional governantes (administrar a cidade) Fortaleza/ coragem Irascível (volitiva) guardiões (defe- sa, segurança) Temperança Concupiscível (apetitiva) Trabalho físico Justiça — virtu- de geral Livro V — seu início marca uma digressão, um retorno no texto. Polemarco e Adimanto obrigam Sócrates a reto- mar o problema sobre a comunidade de mulheres e filhos, abordado no Livro IV. Assim, ele demonstra o papel das mulheres na direção do estado, questão exposta na forma da metáfora das vagas marinhas: a primeira propõe que as mulheres podem ter a mesma capacidade dos homens e, portanto, tomar parte no governo da cidade; a segun- da expõe o complicado sistema de casamentos e procria- ção da classe dos guardiões para obter o mais alto grau de eugenia; a terceira, a mais temível das vagas, consiste em proclamar a condição necessária para tal estado se tornar realizável: ser governado por filósofos. Isso conduz à definição de filósofo, encerrando-se o li- vro com a distinção entre o “amigo do saber” (philosophos) e o “amigo da opinião” (philodoxos). Livro VI — ocupa-se da preparação do filósofo. Depois de enumerar as qualidades que o recomendam para ocu- par a chefia, esboça a maneira de formar os guardiões, a fim de eles procurarem alcançar o saber mais elevado, cujo objetivo é o bem, a ideia suprema que torna inteli- gível o mundo. Trata-se de um grande “ensaio sobre o bem”, enten- dido da seguinte maneira: em primeiro lugar, como a fina- lidade ou alvo da vida, o objeto supremo de todo desígnio e toda aspiração; em segundo lugar, como a condição do conhecimento, o que torna o espírito inteligível e o espírito inteligente; em terceiro lugar, como a causa criadora que sustenta todo o mundo e tudo o que ele contém, aquilo que dá existência a tudo. Platão expôs o pensamento por meio de metáforas. A primeira, metáfora do Sol, mostra que esse astro está para o mundo visível como o bem para o mundo inteligível. A segunda metáfora consiste em imaginar uma linha para dividir em duas partes desiguais, cada qual seccionada na mesma proporção. Dessa forma haveria uma linha AB, separada em dois segmentos por C, cada qual dividido ain- da outra vez. De todo modo, disso resultaria os segmentos AC e CB, com AC representando o mundo sensível (horata ou doxasta) e CB, o mundo inteligível (noeta). O mundo sensível compõe-se em primeiro lugarpor uma zona de imagens (eikones), conhecida pela suposição ou ilusão (eikasia). Segue-se uma dimensão onde se encon- tram os seres vivos e objetos do mundo (zoa), percebidos por intermédio da pistis (fé). A linha prossegue para o mundo inteligível (noeta), formado também de dois setores: noeta inferior, conheci- do pela razão ou conhecimento discursivo (dianoia), típico das ciências; noeta superior, apreendido pela inteligência ou razão intuitiva (noesis), própria da filosofia. A alegoria da linha indica ainda a oposição básica entre opinião e saber, entre doxa e sophia. De qualquer modo, as alegorias do sol e da linha dividida tomam for- ma mais nítida na alegoria da caverna. A linha dividida é um dos recursos metafóricos utilizados por Platão para expor sua teoria das ideias. Mundo inteligível Mundo sensível Ciência Opinião Ideias Objectos matemáticos Objetos sensíveis Imagens Inteligência Entendimento Fé Suposição B E C D A Livro VII — o início descreve o mito da caverna. Antes de iniciar a alegoria, Platão diz expressamente que se trata de conhecer o comportamento da natureza humana con- forme ela seja ou não submetida à educação, cujo modo como se processa constitui o tema central desse livro, apa- recendo logo depois do mito. Mito da Caverna: mundo sensível X mundo inteligível. O currículo proposto visa “à disciplina mental e ao desenvolvimento do poder do pensamento abstrato”. Por isso se sucedem os vários ramos então conhecidos da ma- temática, desligados de suas aplicações práticas. A base JO SÉ M A R íA P ÉR EZ N U ñ EZ 19 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s fi lo so fi a 10 2. Cite duas propostas de Platão em A República que chocariam Atenas. 3. Qual o motivo prático para o filósofo ser o governante? 4. Aporias não significam ceticismo? Justifique sua resposta. 5. Analisando a obra de Platão, quais elementos poderiam estar relacionados à dificuldade de ascese da alma ao mun- do inteligível? 6. “Lógica e cognitivamente, o mundo inteligível é anterior ao sensível.” Justifique essa afirmação. 7. Leia o texto e faça o que se pede. SÓCRATES — Reflete agora sobre o que te vou dizer. Qual é o objeto da pintura? O de representar o que é, tal qual é, ou o que parece, tal qual parece? Imita a aparência ou a realidade? GLAUCO — A aparência. SÓCRATES — Logo, a arte de imitar está muito afastada do verdadeiro; e a razão por que faz tantas coisas é que só toma uma pequena parte de cada uma, e esta mesma não passa de simulacro ou fantasma. Um pintor, por exemplo, pinta um sapateiro, um carpinteiro ou outro artesão qualquer, sem ter nenhum conhecimento de suas respectivas artes. Isso não impede, se é bom pintor, de iludir às crianças e aos ignorantes, mostrando-lhes de longe um carpinteiro por ele representado e que tomem por imitação da verdade. GLAUCO — Sem dúvida. SÓCRATES — O mesmo se deve entender, meu caro amigo, de todos os que fazem como o pintor. Sempre que alguém nos vier dizer ter encontrado um homem que sabe todos os ofícios e reúne em si, em elevado grau, todos os conhecimentos que se acham repartidos entre muitos, é preciso desenganá-lo, mostrando-lhe que não passa de um tolo por se ter deixado lograr por um imitador ou mágico a quem tomou por sábio, simplesmente porque não sabe discernir a ciência da ignorância, a realidade da imitação. GLAUCO — É a pura verdade. (...) PLATÃO. A República. Livro X, p. 457. Menosprezo pela atividade comercial, condenação da arte, crítica à democracia. Quem tem o poder (conhecimento das ideias) não pode estar interessado pessoalmente no poder (oposição a Maquiavel). os diálogos da juventude, socráticos ou aporéticos, demonstram posição bastante cética de sócrates. sabe-se que essa postura cética está relacionada com a busca da definição, do imutável. o desejo e a satisfação em excesso dos prazeres do corpo, o apego às opiniões comuns, a perspectiva utilitária no dia a dia, o apreço pelas artes imitativas. Do ponto de vista lógico, Platão adotou o método dedutivo, o que pressupõe a teoria das ideias como hipótese explicativa para a existência do mundo sen- sível. Do ponto de vista epistemológico e cognitivo, o conhecimento das ideias é superior ao empírico e corresponde à verdade. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 20 Explique o trecho da fala de Sócrates — “... simplesmente porque não sabe discernir a ciência da ignorância, a rea- lidade da imitação” — apresentando a crítica social implícita. 8. Sócrates — E há alguma estranheza em que, ao passar um homem das contemplações divinas às misérias humanas, pareça desajeitado e sumamente ridículo porque, ainda a pestanejar e enxergando mal nas trevas que o rodeiam, se vê obrigado a discutir, nos tribunais e em outro lugar qualquer, a respeito das imagens e das sombras de imagens da justiça, enfrentando as concepções que dessas coisas fazem aqueles que jamais viram a justiça em si? PLATÃO. A República. Livro VII, p. 322. Dê exemplo de uma situação em que o indivíduo, “enxergando mal nas trevas que o rodeiam”, se defronta com a (in)justiça. 9. Por que as formas ou as ideias não significam em Platão nem a figura, como quando dizemos “forma triangular”, nem conteúdos mentais, como quando dizemos “tive uma boa ideia”? aristóteles Fi lho de Nicômaco, médico da corte da Macedônia, amigo de Amintas II, pai de Filipe II, por sua vez pai do futuro Alexandre III ou Alexandre o grande. Nascido em Estagira em 384 a.C., cidade grega da Calcídica sob domi- nação da Macedônia, Aristóteles, com 18 anos, foi para Atenas, onde ingressou na Academia. Em 347, com a morte de Platão e decepcionado com a escolha de Espeusipo para go- vernar a Academia, dirigiu-se a Assos, pólis governada por Hérmias. Esteve em Mitilene, na Ilha de Lesbos, e vol- tou à Macedônia, tornando-se pre- ceptor de Alexandre. Aristóteles, fundador do Liceu de Atenas, negou a doutrina das ideias, de Platão. De volta a Atenas, fundou o Liceu, escola onde predominou cer- to biologismo, marca central da sua visão científica e filosófica, caracte- rizada pela transposição de catego- rias pertencentes ao domínio da vida para toda a natureza, como a noção de espécies fixas, presente em sua fí- sica, metafísica e doutrina do movi- mento. Parte de sua obra classifica-se como exotérica — destinada ao gran- de público, da qual pouco restou. Desses diálogos destacam-se Eudemo, Protético e Sobre a Natureza. O últi- mo, de conformidade com Platão no Timeu, apresenta uma concepção ED IT O R A C O C a ignorância faz as pessoas, de modo geral, acreditarem em discursos criteriosamente elaborados e provas bem construídas, sem análise mais profunda dos fatos. assim, a manipulação social por meio de “falsos sábios” facilita a corrupção e os desvios de conduta. Resposta do aluno. 1 - Um pai desempregado que rouba uma lata de leite do supermercado para alimentar o filho doente precisa defender-se da acusação de furto. 2 - Um indivíduo que mata outro em defesa da própria vida ou da família precisa defender-se da acusação de homicídio. Percebe-se a figura, pois as ideias remetem às entidades. são realidades que existem por si mesmas, de maneira autônoma. Platão era um realista. a for- ma não pode ser figura porque deve ser apreendida pelo intelecto. Orientação ao professor 3: induza os alunos a comentar casos como os seguintes: 21 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s ócra te s, P la tã o e a ris tó te le s fi lo so fi a 10 cosmológica de cunho finalista e te- ológico e, contrariamente a Platão, não explica o universo à semelhan- ça de uma obra de arte — resultado da ação de um artesão divino, o de- miurgo — e, sim, como um organis- mo que se desenvolve graças a um dinamismo interior, um princípio ima- nente que Aristóteles chamou de na- tureza (physis). Já as obras esotéricas ou acroa- máticas, destinadas ao auditório de discípulos, únicas que se conserva- ram, apresentam-se sob a forma de pequenos tratados, muitos reunidos sob um título comum, como no caso da Física. No século I d.C., Andrônico de Rodes organizou as obras do fi- lósofo, dando origem ao Corpus Aristotelicum e sua célebre divisão: ¬ Organon (instrumento) ¬ tratados de lógica ¬ Estudos da natureza ¬ mundo físico ¬ mundo sideral e sublunar ¬ mundo vivo – história dos ani- mais ¬ Obras de filosofia teórica ou es- peculativa ¬ Obras de metafísica —14 livros (filosofia primeira) ¬ Obras de filosofia prática ¬ ética e política (18 livros) ¬ retórica ¬ Poética — estética O caráter sistemático da obra con- feriu grande autoridade a Aristóteles, especialmente na Idade Média, quan- do pareceu ser uma doutrina de âmbi- to universal e de validade permanen- te, pelo menos na aparência. Primeiro historiador da filosofia, Aristóteles procurou encadear as di- versas doutrinas anteriores, assumin- do-se como ponto terminal desse processo. Sob a perspectiva aristoté- lica, as doutrinas anteriores consti- tuíam-se numa explicação particu- lar do movimento, da transformação e, consequentemente, das mudan- ças históricas. Dessa forma, fundou a doxografia, que recuperou signifi- cativa parte da doutrina dos pré-so- cráticos. Aristóteles sempre partia do pas- sado para fazer a história dos pro- blemas que investigava. Ele deseja- va fundar sua filosofia por consenso geral, sem pretensão de ser original, mas de dar forma acabada dos con- ceitos que vinham sendo desenvolvi- dos ao longo da história, de maneira que não fosse estranha ao homem comum e à tradição. Para Platão, a compreensão do mundo físico e, portanto, a verdade e a certeza da ciência e da filosofia de- pendiam das ideias, apreendidas pela dialética. Seguidores dele que forma- riam a Nova Academia desenvolveram teses relativistas e céticas pela supres- são da ideia de bem. Aristóteles já te- ria percebido que a dialética platônica só se comprometia com a certeza em última instância — o que lhe confe- ria inquietação permanente e flexibi- lidade, mas a deixava sob constante ameaça do relativismo. Conforme Aristóteles, a verdade e a certeza dependem de normas do pensamento que permitam demons- trações corretas e irrefutáveis. Sua intenção era forjar um instrumento mais seguro para a constituição da ciência, projeto que está na base do Organon —, conjunto de textos so- bre lógica. PrinciPais asPEctos da FilosoFia aristotélica Física Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles estabeleceu diversas for- mas de saber: arte, ciência, prudên- cia, discrição, sabedoria e inteligência, a última considerada única forma de saber que pode atingir os princípios. Segundo esse autor, existem três degraus no conhecimento: conheci- mento da física — estuda o movimen- to, a passagem da potência ao ato; saber matemático — apresenta maior abstração relativamente à física; co- nhecimento metafísico — capaz de al- cançar as bases da própria realidade. Aristóteles considerava os seres físicos, metafísicos e matemáticos, estes existindo apenas em nossa in- teligência. O matemático é um ser de razão, com fundamento nas coisas. Estreitamente ligada a essa concep- ção, as ciências classificam-se em teó- ricas, práticas e produtivas, mas o es- tilo geral do pensamento aristotélico é sempre começar do fenômeno, da realidade física dos corpos. O objeto da física é, pois, os seres da natureza e seu movimento. Vê-se a natureza (physis) como a causa em si, por isso não demonstrável, mas en- volvendo dois aspectos distintos da realidade: matéria e forma. Entende- se forma (morphé) como eidos, aqui- lo que representa a coisa na ideia, na inteligência, mas a forma também ca- racteriza determinada classe de ob- jetos, correspondendo à ideia de es- pécie, na medida em que as várias espécies de objetos se diferenciam entre si pelo aspecto geral. O con- ceito de matéria, bastante variado e abrangente, corresponde à matéria geral e indeterminada, presente em todos os corpos, os quais se diferen- ciam apenas pela forma. Morphé diz respeito à forma sensí- vel, àquilo que aparece aos sentidos e é captado pela razão como ideia (eidos), esta representando ou traduzindo a estrutura inteligível da coisa. Na me- dida em que a forma é que diferencia os seres entre si, corresponde também a uma causa. Forma diz respeito a ob- jetos particulares; eidos, a um objeto geral, universal. Normalmente, a natu- reza compõe-se de seres materiais que possuem forma e figura, mas também é aquilo que tem em seus princípios o próprio movimento. Central na física aristotélica: doutrina do ato-potência — todo ser contém em si mesmo certas po- tencialidades que determinam aquilo que ele virá a ser. Essas potenciali- dades predeterminadas e fixas preci- sam vir à tona, ser atualizadas, caso contrário permanecem apenas como possibilidades não efetivadas. Dessa forma, quando uma potência é exer- cida, passa a ser “um ato”, incor- porando-se à forma do ser. Apenas quando todas as potencialidades fo- rem atualizadas, se isso for possível, o ser atinge a plenitude e realiza Orientação ao professor 4 : Em função da es- treita relação en- tre o pensamen- to aristotélico e a lógica formal, op- tamos por descre- ver a constituição da lógica segundo aristóteles no ma- terial do primeiro bimestre, que abor- da esse tema. fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 22 completamente sua natureza, atin- gindo o bem maior desse ser— sua felicidade. ética Já nas primeiras linhas dessa obra, Aristóteles afirmou que o bem é o fim a que tendem todas as coisas que faze- mos. Os fins podem ser uma atividade (um exercício ou um treinamento, como a equitação, por exemplo, que não tem outro fim a não ser a excelência na exe- cução dessa atividade) ou o resultado dessa atividade (as práticas artesanais, por exemplo, como o sapateiro, cujo fim é a produção de sapatos, os quais trans- cendem a atividade e subsistem após sua finalização). Tal fim será o bem ou, antes, o sumo bem. De qual ciência ou faculdade o bem é o objeto? Para Aristóteles, da ciência política, porque abrange outras ciências, de modo que sua finalidade é o bem humano, pois ela busca a finalidade do estado, maior e mais completa que a dos indivíduos. O fim que se tem em vista na política não é o conhecimento, mas as ações belas e justas. O mais alto e superior de todos os bens é a felicidade. O bem não é uma espécie de ele- mento comum que corresponda a uma só ideia. Trata-se de algo atin- gível. Sendo diferente em cada ciên- cia, arte ou ação, inicialmente ele é a finalidade. Nem todos os fins são absolutos, mas o sumo bem é algo de absoluto. E esse fim absoluto, o sumo bem, é que todos os homens procuram. O bem absoluto ou incon- dicional é aquilo sempre desejável em si mesmo, nunca no interesse de ou- tra coisa. O bem absoluto é autossu- ficiente. Das três classes de bens, os mais verdadeiros relacionam-se com a alma e compreendem ações e ati- vidades psíquicas. A felicidade é o supremo bem, o fim maisgeral em prol do qual se diri- gem todos os outros. Alguns identifi- cam o bem viver e o bem agir com ser feliz. As pessoas em geral pensam que a felicidade é uma coisa simples e ób- via, como o prazer, a riqueza e as hon- ras, mas suas opiniões diferem. Outras consideram que há um bem em es- pecial que é autossubsistente, corres- pondendo aos primeiros princípios. Ao contrário da vida comum das pessoas, que associam o bem maior ou felicida- de com o prazer, na vida política, a fe- licidade seria a honra, finalidade desta vida. Ainda melhor que a honra a ad- quirir na vida política, está a virtude. Como felicidade é o sumo bem, corresponde a um fim absoluto, de- sejável em si mesmo e não no inte- resse de outra coisa. Nesse sentido, é autossuficiente, pois torna a vida desejável e carente de nada, corres- pondendo também à finalidade geral da ação. Levando em conta a função do homem, quando o bem é o ben- feito, essa função seria uma ativida- de da alma que segue ou implica um princípio racional, de acordo com a excelência que lhe seja própria. Assim, o bem do homem é uma atividade da alma em consonância com a virtude, para atingir a excelên- cia. A identificação da felicidade com a virtude é apropriada, pois à virtude pertence a atividade virtuosa, deven- do esta ser boa, nobre e aprazível em si mesma, pois o homem virtuoso só pode comprazer-se em agir virtuosa- mente. A felicidade é então a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coi- sa do mundo. O homem feliz, no en- tanto, parece necessitar também de bens exteriores, prosperidade. Meros acréscimos, pois a felicidade se cons- titui de atividades virtuosas. Para Aristóteles, o homem políti- co também deve ter estudado a virtu- de, para que os cidadãos sejam bons e obedientes às leis. Trata-se de virtu- de humana, portanto não do corpo, mas da alma, pois também a felicida- de é uma ação da alma. A alma tem uma parte racional e outra privada de razão. Uma subdivisão do elemento racional: alma vegetativa ou nutriti- va. Outro elemento irracional: aquele que no homem pode enfraquecer a razão, correspondendo aos elemen- tos apetitivo e desiderativo. A virtude também se divide de acordo com essa diferença de par- ticipação no racional, pois há vir- tudes intelectuais e outras morais, compreendendo uma distinção de gênero, ou seja, relacionada à dispo- sição de caráter. No que diz respeito à essência ou ao conteúdo, a virtude é uma mediania, havendo nesse sen- tido três disposições: as do excesso e da falta são vícios; apenas a mediania corresponde realmente à virtude. Quanto ao gênero, há duas es- pécies de virtude: a intelectual — ad- quirida pelo ensino; a virtude moral — adquirida pelo hábito. As virtudes morais não surgem em nós por natu- reza, mas somos adaptados por natu- reza a recebê-las e tornamo-nos per- feitos pelo hábito. Então, como não nos vêm pela natureza, não estão em nós como potência para depois se ex- teriorizarem em ato, mas sim pelos atos que praticamos adquirimos justi- ça ou injustiça, ou seja, o caráter nas- ce dessas atividades ou hábitos. As virtudes não são paixões, que têm a ver com prazer ou dor, nem fa- culdades, que permitem a ocorrên- cia das paixões, mas são disposições da alma, por isso se referem à nossa posição diante das paixões — se nos comportamos de forma boa ou má. A virtude do homem é a disposição de caráter que o torna bom e o faz de- sempenhar bem sua função. A virtude moral, disposição de caráter relaciona- da com a escolha, consiste de uma me- diania relativa a nós — um meio-termo entre dois vícios. Há paixões que não admitem meio-termo, mas a virtude diz respeito às que o admitem. Ao surgir na realidade, todo ser guarda certas potencialidades que podem ser atualizadas, tornando o ser um ato e completando sua natureza, estado em que o ser atinge o mais alto grau de felicidade. D Ig IT A L V IS IO N / g ET Ty IM A g ES fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 24 O mundo hoje é A filosofia estóica é Conformismo/quietismo político Revolta crítical Particularidade/individua- lismo Busca de universalidade Interesse/voluntarismo/in- coerência Lógica coesão Avesso ao risco e à aposta Engajamento/compro- misso Para os estoicos, o testemunho dos sentidos é verda- deiro. Nesse sentido, admitem o erro de julgamento, não das sensações, ou seja, o erro não pode ser derivado das sensações, mas do julgamento que se faz delas. EPicurisMo Fundador da tendência: Epicuro Fundamento: tudo é formado por matéria e vácuo, pois se há movimento, tem que haver vazio para ele ocorrer. Princípios de Epicuro: marcadamente materialistas e mecanicistas, baseiam-se na física: do nada, nada se cria; nada é completamente destruído; o universo é sempre o mesmo. Estão excluídas todas as causas espirituais; o univer- so não tem um fim predeterminado, não tende a nada. Decorrente dessa posição, a alma não pode ser incorpó- rea, mas existente apenas dentro do corpo, o que contraria frontalmente as teses platônicas. A desconsideração com a física e a metafísica conduzia naturalmente os epicuristas a refletir sobre questões éticas, o que explica em parte o para- digma levantado por Epicuro acerca da existência dos males (por que eles existem?) e do porquê de a divindade não os eliminar, uma vez que ela quer e pode fazer isso. Resposta dos epicuristas: a divindade não se envolve com os assuntos humanos, porque se localiza nos “intermundos” e não interfere neles, pois esse tipo de perturbação não lhe diz respeito, na medida em que é imperturbável. Com relação à ética, a felicidade consiste no prazer, o que implica uma subjetividade, considerando que o prazero- so pode ser variável. Para alcançar o prazer, que é o princí- pio e o fim da vida, bem como a felicidade, são necessárias três coisas: ataraxia (serenidade da alma em decorrência do domínio das paixões) contraposta à eutimia (ausência de temores,superstições e emoções); afobia (ausência de medo) contraposta ao chara (alegria); aponia (ausência de dor) em oposição a euphrosýne (alegria da alma). Para Epicuro, não se pode abolir a dor, mas relativa- mente a ela se deve fazer uma opção inteligente: se o pra- zer for maior que a dor, a coisa deve ser feita. Princípio básico da vida para o epicurismo: eudaimo- nismo — busca constante da filosofia. Isso exige cumprir as três necessidades naturais: saúde do corpo, saúde do espírito e felicidade. Meios para alcançar o prazer: phrónesis — uso da prudên- cia e da inteligência; logismos — calculismo; sophrousýne,— autodomínio; dike — justiça. Para tanto, Epicuro recomen- dou os tetraphármakos — os quatro remédios: nenhum temor dos deuses; nenhum temor da morte; crença de que é possível atingir a felicidade; crença de que é possí- vel suportar a dor. nEoPlatonisMo Doutrina correspondente à interpretação da obra de Platão por Plotino (205-270 ou 284 d.C.), discípulo de Amônio Sacas, considerado fundador da escola neoplatônica. Plotino começou a escrever tardiamente, por volta dos 49 anos, em Alexandria. De sua obra restaram apenas as Enéadas, livro escrito em nove partes. Duas questões básicas em Plotino: criação do universo e teoria do intelecto uno. Primeiro existe o uno (que não pode de modo algum ser dividido), e o chora (matéria sem forma e também eter- na), um receptáculo. No uno supremo existe a bondade e o bem, que tendem a ser irradiados pela própria natureza. Do uno, por emanação, resulta o nous, que é uma cópia do uno e também contém o bem e a inteligência. O nous, por cascata, emana a alma do mundo, que produz todoo co- nhecimento existente no mundo. A distancia do uno já tor- na essa alma sujeita à fragmentação. Dessa lama, por ema- nação, surgem miríades de outras almas, as psyches. Estas, depois de constituídas no modo mais simples, como cristais, passam a formas mais comple - xas até chegar ao homem, que l ibera a alma quando morre. Trata-se de um movimento de retorno ao uno. Para o neoplatonismo, Deus é a luz da qual irradia toda a criação, e o mal é apenas a ausência de Deus, correspondendo em síntese ao nada. O estoicismo ensina a dominar a dor, a angústia, o desespero, e procura tornar o ócio produtivo. Havia uma espécie de fatalidade nele, pois as coisas tinham que acon- tecer conforme o desenrolar da natureza, conforme o des- tino. Sua norma: seguir as leis da natureza, aceitar sua na- tureza e o modo como as coisas ocorrem no mundo. Seus seguidores eram materialistas e monistas. Onde fica então a liberdade? A liberdade do sábio, se- gundo os estoicos, é acomodar sua vontade ao que está contido no destino (moira). A liberdade é a aceitação pes- soal e racional do fado (fatum) ou moira. O destino é o logos, a razão ou a lei, portanto ser li- vre é viver de acordo com o logos, com a razão. Do pon- to de vista da política, os estoicos são ativos, pois não se trata de acomodação ao destino, mas de um exercício de conformação a ele. O quadro a seguir ajuda a compreender a filosofia dos estoicos, na medida em que reflete algumas de suas posi- ções básicas comparadas às do mundo atual. C O R EL P R O FE SS IO N A L PH O TO S fi lo so fi a 10 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ s óc ra te s, P la tã o e a ris tó te le s 26 testes 1. UEM-PR — Os filósofos pré-socráticos tentaram expli- car a diversidade e a transitoriedade das coisas do univer- so, reduzindo tudo a um ou mais princípios elementares, os quais seriam a verdadeira natureza ou ser de todas as coisas. Assinale o que for correto. 01) Tales de Mileto, o primeiro filósofo segundo Aristóteles, teria afirmado “tudo é água”, indi- cando, assim, um princípio material elementar, fundamento de toda a realidade. 02) Heráclito de Éfeso interessou-se pelo dinamismo do universo. Afirmou que nada permanece o mes- mo, tudo muda; que a mudança é a passagem de um contrário ao outro e que a luta e a harmonia dos contrários são o que gera e mantém todas as coisas. 04) Parmênides de Eleia afirmou que o ser não muda. Deduziu a imobilidade e a unidade do ser do prin- cípio de que “o ser é” e “o não-ser não é”, ela- borando uma primeira formulação dos princípios lógicos da identidade e da não contradição. 08) As teorias dos filósofos pré-socráticos foram pou- co significativas para o desenvolvimento da filo- sofia e da ciência, uma vez que os pré-socráticos sofreram influência do pensamento mítico, e de suas obras apenas restaram fragmentos e comen- tários de autores posteriores. 16) Para Demócrito de Abdera, todo o cosmo se cons- titui de átomos, isto é, partículas indivisíveis e in- visíveis que, movendo-se e agregando-se no vá- cuo, formam todas as coisas; geração e corrupção consistiriam, respectivamente, na agregação e na desagregação dos átomos. 2. UEL-PR Desde suas origens entre os filósofos da antiga Grécia, a ética é um tipo de saber normativo, isto é, um saber que pretende orientar as ações dos seres humanos. CORTINA, A.; MARTíNEZ, E. Ética. Tradução de: LEITE, Silvana Cobucci. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 9. Com base no texto e na compreensão da ética aristo- télica, é correto afirmar que a ética a) se orienta pelo procedimento formal de regras universalizáveis, como meio de verificar a corre- ção ética das normas de ação. b) adota a situação ideal de fala como condição para a fixação de princípios éticos básicos, a partir da negociação discursiva de regras a serem seguidas pelos envolvidos. c) se pauta pela teleologia, indicando que o bem supremo do homem consiste em atividades que lhe sejam peculiares, buscando a sua realização de maneira excelente. d) contempla o hedonismo, indicando que o bem supremo a ser alcançado pelo homem reside na felicidade, e esta consiste na realização plena dos prazeres. e) baseada no emotivismo busca justificar a atitude ou o juízo ético mediante o recurso dos próprios sentimentos dos agentes, de forma a influir nas demais pessoas. 3. UEL-PR A filosofia grega parece começar com uma ideia ab- surda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lu- gar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, em- bora apenas em estado de crisálida, está contido o pen- samento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtu- de da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego. NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. Tradução de: TORRES FILHO, Rubens Rodrigues. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 43. Com base no texto e nos conhecimentos sobre Tales e o surgimento da filosofia, considere as afirmativas a seguir. I. Com a proposição sobre a água, Tales reduz a multiplicidade das coisas e fenômenos a um úni- co princípio do qual todas as coisas e fenômenos derivam. II. A proposição de Tales sobre a água compreende a proposição ‘Tudo é um’. III. A segunda razão pela qual a proposição sobre a água merece ser levada a sério mostra o aspecto filosófico do pensamento de Tales. IV. O Pensamento de Tales gira em torno do proble- ma fundamental da origem da virtude. A alternativa que contém todas as afirmativas corre- tas é: a) I e II b) II e III c) I e IV d) I, II e IV e) II, III e IV 22 (02+04+16) 27 Fi lo so fi a gr eg a e m ed ie va l ∙ f ilo so fia m ed ie va l fi lo so fi a 10 Filosofia cristã Patrística genericamente, pode-se dividir a filosofia medieval em dois grandes momentos: a patrística e a escolástica. O termo patrística deriva de “padres”, na medida em que seus au- tores eram religiosos cristãos que procuraram aliar filosofia e religião cristã, embora reconhecendo que a razão fosse completamente subordinada à fé, e apenas esta última pu- desse conduzir o homem ao conhecimento da verdade e a Deus. Apesar de a patrística poder subdividir-se em grega e latina, não se levará em conta essa distinção nem os pro- blemas que envolve — apenas se lançará um olhar abran- gente sobre o início da filosofia cristã. ProblEMas doutrinários E FilosóFicos coM a bíblia O primeiro grande problema a respeito da Bíblia foi o es- tabelecimento do cânon — conjunto de textos sagrados —, em razão dos inúmeros escritos produzidos depois de Cristo, sendo preciso selecionar os autênticos. O cânon do Novo Testamento foi fixado em 367, através de uma carta de Atanásio. Textos excluídos desse cânon ou produzidos depois dele denomi- nam-se apócrifos do Novo Testamento. A segunda questão diz respeito ao Antigo Testamento, que os cristãos tiveram que acatar, uma vez que Cristo o havia acei- tado. Debates sobre o cânon bíblico, para definir os textos sagrados, foram constantes entre os primeiros pensadores cristãos. Filosofia medievalFilosofia medieval Os ensinamentos dos mestres do saber continuam motivando e provocando a reflexão. O contraste entre cultura grega antiga e nossa sociedade tecnológica
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