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<p>HISTÓRIA MODERNA</p><p>AULA 5</p><p>Profª Lorena Zomer</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta aula, abordaremos conteúdos relativos à Idade Moderna,</p><p>especialmente as revoluções políticas e econômicas que transformaram a</p><p>Inglaterra e a França durante os séculos XVII e XVIII. Elas foram responsáveis</p><p>pela destituição do absolutismo e, ao mesmo tempo, instituíram governos de</p><p>cunho mais liberal.</p><p>Para entendermos melhor essa problematização, é preciso considerar o</p><p>que é um Estado Absoluto e porque este deixou de ser do interesse da</p><p>burguesia, especialmente no que diz respeito às medidas e ações econômicas</p><p>por parte de reis e rainhas. A organização social no mundo medieval e em parte</p><p>do tempo moderno na Europa era estamental, em que sobrenomes e locais de</p><p>nascimentos importavam mais que atitudes tomadas durante a vida de alguém.</p><p>Essa sociedade era dividida em três segmentos: nobreza, clero e servos</p><p>e, embora, o dinheiro adquirido pelo comércio pudesse comprar novos lugares</p><p>sociais e políticos, ele não era uma garantia disso. O absolutismo, nesse</p><p>contexto, pode ser definido como o poder político em que o rei – e sua nobreza</p><p>– controla tudo ao seu redor, instituindo uma estrutura que mantenha seus</p><p>privilégios e de acordo com os interesses daqueles que o apoiam, ou seja, da</p><p>sociedade de corte, a qual formava o Antigo Regime. Essas relações são</p><p>resolvidas por meio de quem e o quanto paga de impostos.</p><p>Neste sentido, se no tempo medieval, reis e rainhas, tinham pouco poder</p><p>fora dos feudos ou dependiam da vontade da Igreja Católica, na transição para</p><p>o período moderno eles fazem alianças e distribuem cargos dentro das novas</p><p>vilas, a fim de manter o seu poder. Essa nova configuração social, que estimulou</p><p>novas ações também na burguesia é entendida da seguinte forma:</p><p>O cargo existe em virtude de um édito ou de “cartas de provisão”. Só</p><p>pode ser criado pelo rei ou por seus agentes devidamente autorizados</p><p>[...] O cargo confere honra e privilégios, aí incluídas eventualmente a</p><p>nobreza e a isenção de impostos. O cargo é estável: o rei só pode</p><p>destituir o funcionário muito dificilmente, e isso limita na mesma</p><p>proporção a arbitrariedade da monarquia dita absoluta [...] Luís XIII a</p><p>Luís XIV, ele cria e liquida sem cessar novos fragmentos de poder</p><p>público. Lotei-os a candidatos compradores, a fim de encher seus</p><p>cofres. (Ladurie, 1994, p. 26)</p><p>O que se percebe é diretamente uma troca de favores por cargos, cujos</p><p>títulos representam ainda os privilégios como os de ter terras ou de pagar menos</p><p>impostos. Os cargos eram públicos, novos ou mesmo antigos, ou seja, que</p><p>3</p><p>remetiam à parte da organização ainda do mundo medieval, em que o</p><p>Absolutismo era a ordem máxima junto à Igreja Católica. Essa organização</p><p>costumava dar ordem e os sentidos desejados ao reinado e, em parte, satisfazia</p><p>os grupos que se submetiam a ele. Porém, segundo Norbert Elias:</p><p>[...] o poder social efetivo que as funções sociais conferem na</p><p>sequência do predomínio crescente da economia monetária aos</p><p>grupos burgueses e aos grupos aristocráticos [impede] que qualquer</p><p>deles ganhe a luta pela preponderância absoluta. O príncipe governa,</p><p>seu governo é absoluto porque qualquer das camadas rivais precisa</p><p>dele, porque se pode servir de qualquer delas contra a outra [...]. (Elias,</p><p>1990, p. 141)</p><p>Assim, é possível entender que o corpo social formado pela burguesia,</p><p>nobreza e os reis davam sentido ao poder absolutista, mesmo em um contexto</p><p>em que este já era questionado. E foi dessa forma que a burguesia começou a</p><p>fazer parte da nobreza palaciana, seja pela compra de títulos (burguesia togada),</p><p>seja por indicações e raramente por reconhecimento de seus pares. A Câmara</p><p>dos Comuns e a dos Lordes na Inglaterra viram vários de seus cargos serem</p><p>comprados.</p><p>Com o tempo, ações como esta permitiram que pensamentos e</p><p>organizações sociais novas fizessem parte das pautas de votações, bem como</p><p>dos embates políticos nas câmaras. Deste modo, as revoluções, mesmo que</p><p>pareçam acontecimentos que irrompem, na realidade, tiveram suas condições</p><p>estruturadas muito anos das datas revolucionárias. Assim, não foram apenas</p><p>compras e direcionamento de cargos que colocaram a burguesia dentro das</p><p>câmaras, nem mesmo suas imposições e conquistas econômicas, mas uma</p><p>mudança social dentro das relações de poder permitidas pelo próprio</p><p>Absolutismo para que este se mantivesse.</p><p>A partir de 1600, essa nova configuração se tornou mais comum e mais</p><p>potente, em especial porque na economia quem mais produzia era a burguesia</p><p>e não a nobreza ou a aristocracia. Apesar disso, é importante considerar que</p><p>muitas das ideias que ainda sustentavam o absolutismo tinham apoio em</p><p>filósofos como Thomas Hobbes, Nicolau Maquiavel, entre outros, na mesma</p><p>proporção em que a burguesia e o liberalismo também encontravam novos</p><p>teóricos que os representavam.</p><p>Sendo assim, após as primeiras condições que levaram às revoluções</p><p>burguesas, entre elas, as inglesas, a burguesia passou a inquirir mais os</p><p>princípios estamentais absolutistas. O que percebemos é que o tipo de poder</p><p>4</p><p>absolutista perdeu seu poder e influência dentro do meio burguês, para o qual</p><p>um governo representativo mostrou-se mais promissor.</p><p>TEMA 1 – REVOLUÇÃO INGLESA: ANTECEDENTES</p><p>Se perguntarmos por que o absolutismo, um sistema forte e estruturado,</p><p>precisou atender a anseios burgueses, quais seriam as respostas? Uma</p><p>burguesia que já tinha poder econômico e social, mas desejava ter influência</p><p>política na mesma proporção da econômica. Esse é o princípio norteador de</p><p>nosso tema, a Revolução Inglesa, que se desdobrou em dois acontecimentos: a</p><p>Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa.</p><p>O contexto em que elas ocorreram era permeado pelo autoritarismo dos</p><p>reis da Dinastia Stuart, pelas relações tensas para com o Parlamento,</p><p>especialmente para com os burgueses que ocupavam cargos na Câmara dos</p><p>Comuns e até menos na Câmara dos Lordes. Ainda, havia o conflito religioso e</p><p>social que se dava também em âmbito político, o das diferenças para com os</p><p>calvinistas ingleses, chamados de puritanos, que eram perseguidos pela sua fé</p><p>e ações políticas e que, por muitas décadas, foram obrigados a emigrarem para</p><p>a América a fim de preservarem suas vidas.</p><p>Com essas considerações, é preciso lembrar que em meados do século</p><p>XVII, a burguesia ascendente passou a questionar o absolutismo dos reis da</p><p>dinastia Stuart, ou seja, de Jaime I e, em especial, de Charles I, ou Carlos I</p><p>(1600-1649). O primeiro quis impor o anglicanismo como a religião oficial, o que</p><p>causou estranhamento e perseguições à católicos e calvinistas (ou puritanos).</p><p>Devido a essas decisões extremamente autoritárias, Jaime I e Charles I tiveram</p><p>embates com o Parlamento, isto é, este não concordava com as ações dos reis</p><p>e se recusava a aprovar medidas.</p><p>Essa relação desgastada fez com que ambos os lados também</p><p>negociassem trocas de apoio. Foi o que ocorreu quando a Inglaterra se envolveu</p><p>na Guerra dos 30 anos e precisou da aprovação de verbas do Parlamento para</p><p>seguir com a sua participação no conflito, o que foi negado. Ao mesmo tempo,</p><p>foi obrigado a assinar a Petição dos Direitos, em 1628. A seguir, apresentamos</p><p>um dos itens dessa Petição.</p><p>5</p><p>II.Por todas estas razões, os lordes espirituais e temporais e os comuns</p><p>humildemente imploram a Vossa Majestade que, a partir de agora,</p><p>ninguém seja obrigado a contribuir com qualquer dádiva, empréstimo</p><p>ou benevolence e a pagar qualquer taxa ou imposto, sem o</p><p>consentimento de todos, manifestado por ato do Parlamento; e</p><p>que ninguém seja chamado a responder ou prestar juramento, ou a</p><p>executar algum serviço, ou encarcerado, ou, de uma forma ou de outra</p><p>molestado ou inquietado, por causa destes tributos ou da recusa em</p><p>os pagar; e que nenhum homem livre fique sob prisão ou detido</p><p>por qualquer das formas acima</p><p>indicadas; e que Vossa Majestade</p><p>haja por bem retirar os soldados e marinheiros e que, para futuro, o</p><p>vosso povo não volte a ser sobrecarregado; e que as comissões para</p><p>aplicação da lei marcial sejam revogadas e anuladas e que, doravante,</p><p>ninguém mais possa ser incumbido de outras comissões semelhantes,</p><p>a fim de nenhum súdito de Vossa Majestade sofrer ou ser morto,</p><p>contrariamente às leis e franquias do país. (grifos nossos)</p><p>Nos elementos grifados, é possível perceber que as câmaras pediam</p><p>medidas que diminuíam o poder do rei, para que o caráter absolutista não fosse</p><p>mais a regra. Independente desses lordes e/ou burgueses estarem mais</p><p>preocupados com debates de interesse classista e próprios, é importante</p><p>ressaltar que essas medidas geravam um ideal de igualdade, mesmo que esta</p><p>não fosse universal. As petições, que eram várias, causaram tanta estranheza</p><p>ao rei, que um depois de sua assinatura, elas foram revogadas e o Parlamento</p><p>fechado, por ordem dele mesmo.</p><p>E foi nesse contexto que puritanos, já perseguidos, marcados pela</p><p>migração ou pela dificuldade em manter seus cargos nas câmaras, começaram</p><p>a agir diretamente contra o governo. Eles eram mais conhecidos como cabeças</p><p>redondas e representavam em geral os interesses da burguesia mercantil, porém</p><p>também os de empresários rurais. Entre eles, estava o nobre, convertido em</p><p>puritano, ou seja, à prática religiosa puritana, Oliver Cromwell. Ela era nobre e</p><p>colaborou para a formação de um exército de mercenários contra a Irlanda,</p><p>quando esta esteve em conflito contra a Inglaterra.</p><p>Figura 1 – Oliver Cromwell</p><p>Crédito: National Portrait Gallery - CC/PD.</p><p>https://en.wikipedia.org/wiki/National_Portrait_Gallery,_London</p><p>6</p><p>E foi a partir disso que Oliver Cromwell passou a ser conhecido e</p><p>respeitado, isto é, como um nobre convertido ao puritanismo. Importante</p><p>ressaltar o quanto esse contexto religioso era também político. Nas palavras de</p><p>Chistopher Hill:</p><p>A senhora Hutchinson, mulher de um dos coronéis de Cromwell, disse</p><p>que eram considerados puritanos todos os que se opunham aos pontos</p><p>de vista dos cortesãos indigentes, dos sacerdotes orgulhosos e</p><p>usurpadores, dos visionários desonestos, da alta e da pequena</p><p>nobreza lascivas... quem quer que pudesse tolerar um sermão, hábitos</p><p>ou conversação modestos, ou qualquer coisa boa. (Hill, 1983, p. 22)</p><p>Com as ideias da senhora Hutchinson, percebemos o quanto noções de</p><p>classe, de economia e de política estavam imbricadas. Isso vinha desde quando</p><p>Elizabeth I faleceu, visto que Jaime I, rei da Escócia, assumiu. Com esse</p><p>acontecimento, católicos do reino inglês acreditavam que o catolicismo também</p><p>deveria ser institucionalizado novamente, bem como a devolução das</p><p>propriedades católicas que Henrique VI havia tomado para a igreja anglicana.</p><p>Para acirrar os ânimos, Jaime I estabeleceu diversos acordo com a alta nobreza,</p><p>por meio de privilégios e da redução de impostos. Mas, era uma questão de</p><p>tempo para que todos ficassem insatisfeitos com a política.</p><p>TEMA 2 – A REVOLUÇÃO PURITANA</p><p>A primeira revolução inglesa é, portanto, também conhecida como a</p><p>Revolução Puritana. Seu principal líder foi Oliver Cromwell e o seu exército</p><p>formado por homens chamados de cabeças redondas. O que analisamos é que</p><p>nas representações desse líder convergiam em uma relação entre parte da</p><p>nobreza e, especialmente, da burguesia que buscava ascender politicamente.</p><p>Desde Jaime I havia dificuldades em este dialogar com a câmara dos</p><p>Comuns ou dos Lordes, visto que o primeiro era formado por muitos burgueses</p><p>e o segundo, pela nobreza Católica. Ainda antes da discussão referente à</p><p>Petição de Direitos, Jaime I fechou o Parlamento por 7 anos, por este se recusar</p><p>a aceitar a aprovação de impostos. Essas diferenças se acirraram no pedido de</p><p>verbas supracitado, já pelo seu filho Charles I (Carlos). Após a negativa, além de</p><p>deste ameaçar o fechamento novamente do Parlamento, passou a perseguir</p><p>com mais ênfase os puritanos.</p><p>Essa situação conturbada se manteve por cerca de 20 anos. Um dos</p><p>agravantes foi o fato de ser casado com uma mulher católica e se obrigado a</p><p>7</p><p>impor, como rei, o anglicanismo na Escócia, país majoritariamente católico. Por</p><p>isso, perdeu apoio frente aos conflitos que enfrentava. E foi nesse contexto que</p><p>Oliver Cromwell, líder das gentrys e dos burgueses, aliado aos líderes</p><p>camponeses e das plebes, passou a divulgar vários ideais contra as práticas</p><p>absolutistas. Isso se deu especialmente por meio de pequenos livros e panfletos,</p><p>que eram transformados em discursos e propagados por muitos no dia a dia</p><p>londrino. Apesar do pouco reconhecimento da liderança plebeia, foi através</p><p>desse processo que suas reivindicações passaram a serem ouvidas e, talvez,</p><p>reconhecidas.</p><p>2.1 Da formação do exército de cabeças redondas à decapitação do Rei</p><p>(1649)</p><p>Nesse contexto, Cromwell iniciou sua organização do Exército, conhecido</p><p>como do Novo Tipo (New Model Army), isto é, o exército de cabeças redondas</p><p>era formado por soldados pagos pelo seu trabalho em tempo integral, com</p><p>autonomia e lideranças próprias. De civis, gentrys, burguesia a plebeus, o</p><p>Exército tinha interesses comuns sociais e políticos, apesar de serem de classes</p><p>diferentes. Por isso, não é possível afirmar que representavam apenas um grupo</p><p>ou mesmo facção.</p><p>No ano de 1647, o Exército também tinha dois líderes que representavam</p><p>regimentos diferentes, um Conselho próprio e a editora responsável pela</p><p>propagação de seus ideais. Esta pertencia a John Harris, conhecido como um</p><p>leveller ou nivelador. Um grupo formado por camponeses cujo objetivo era ser</p><p>reconhecido como classe e detentor de direitos. O grupo de Harris aliou-se em</p><p>1649 a trabalhadores também rurais, chamados de diggers ou escavadores.</p><p>Embora esse segundo grupo não tenha adquirido força em sua luta social e</p><p>política, ambos demonstram a insatisfação popular para com o Absolutismo e o</p><p>motivo pelo qual lutaram junto aos puritanos, apesar das diferenças sociais entre</p><p>eles.</p><p>Nesse contexto, Charles I precisou enviar tropas à Escócia, justamente</p><p>porque aquele povo não havia aceitado sua imposição de conversão à religião</p><p>anglicana. Com a sua vitória, Charles I novamente tomou atitudes arbitrárias</p><p>contra o Parlamento. Apenas a alta aristocracia, ou os nobres mais antigos e</p><p>favorecidos pelo Absolutismo apoiaram o rei, ao tempo em que camponeses,</p><p>8</p><p>pequenos e médios proprietários rurais, comerciantes e liberais e a burguesia</p><p>tanto rural, quanto mercantil permaneceram ao lado de Cromwell.</p><p>Charles I recusou-se a negociar com qualquer grupo e fugiu para a</p><p>Escócia, que revoltada com os acontecimentos recentes entregou o mesmo para</p><p>Oliver Cromwell. Os grupos liderados por Cromwell tomaram o poder em 1649,</p><p>aprovaram a sentença de execução do rei e leis para o início de um governo</p><p>republicano, no entanto, a liderança seria de Oliver Cromwell, apontada como</p><p>um protetorado. Cromwell, ao fim da revolução e já como líder do Parlamento</p><p>assinou a carta de condenação à morte de Charles I, bem como retirou direitos</p><p>e anulou qualquer tipo de participação popular camponesa, os mesmos</p><p>camponeses que haviam lutado pelas pautas de Oliver Cromwell na revolução.</p><p>TEMA 3 – A REPÚBLICA DO CROMWELL</p><p>Cromwell liderou o governo inglês por cerca de nove anos após a morte</p><p>de Charles I, como o Lorde Protetor da República Inglesa. Nesse período institui</p><p>leis desconhecidas na Inglaterra, como também promoveu represálias a vários</p><p>de seus apoiadores e, por isso, é também conhecido esse período como a</p><p>Ditadura de Oliver Cromwell (1649-1658).</p><p>Apesar do tom autoritário, Oliver Cromwell foi reconhecido por uma</p><p>política internacional polêmica, embora benéfica para a Inglaterra, ou seja, nesse</p><p>contexto, os Atos de Navegação de Cromwell determinaram que apenas navios</p><p>ingleses poderiam fazer uso dos portos ingleses, tanto para carregar, quanto</p><p>para descarregar</p><p>mercadorias. Com isso, o país pode ganhar mais impostos com</p><p>aqueles que enviavam mercadorias, bem como fortaleceu o setor no país. Era o</p><p>que faltava para a Inglaterra, de caráter forte no comércio marítimo desde o</p><p>tempo de Elisabeth I, se tornasse conhecida como rainha dos mares. Isso</p><p>também evidencia o porquê de a Inglaterra estar em parte pronta para a</p><p>Revolução Industrial, nosso tema mais abaixo.</p><p>Como afirmado, desde o princípio o grupo de Cromwell reuniu setores</p><p>diversos em sua formação. No entanto, as gentrys não desejavam grandes</p><p>mudanças sociais e, por isso, alguns setores mais radicais dos puritanos</p><p>começaram a questionar as ações políticas de Cromwell.</p><p>Nesse sentido, considerando o lugar de liderança de Cromwell e de sua</p><p>importância no processo revolucionário, é que cabem alguns paradoxos do</p><p>movimento no que diz respeito à ideia de revolução. Cromwell chegou a fechar</p><p>9</p><p>o Parlamento e até mesmo a elaborar uma constituição que defendia o ensino</p><p>gratuito, o voto censitário e a união dos países da Irlanda, Escócia e Inglaterra.</p><p>Nesses mesmos anos, Cromwell também foi o responsável pela perseguição ao</p><p>que resistia dos grupos Diggers e dos Levellers. Estes últimos, em especial,</p><p>durante toda luta revolucionária defenderam uma melhor distribuição de terras</p><p>com um caráter e sistema comunal, isto é, geraria mais igualdade e acessos às</p><p>propriedades privadas.</p><p>Ainda, o governo de Cromwell foi um período de perseguições religiosas,</p><p>especialmente direcionadas a católicos, que também tinham cunho político, já</p><p>que muitos desses grupos defendiam o retorno da monarquia ou se colocavam</p><p>ao lado dos nobres. Essas diferenças religiosas se mostraram mais intensas a</p><p>partir da morte de Oliver em 1958, visto que seu filho, Ricardo, assumiu o seu</p><p>lugar, porém não manteve a estabilidade política frente a tantos conflitos e</p><p>acabou deposto um ano depois.</p><p>Assim, a restauração da monarquia Stuart representou tanto um</p><p>acirramento das diferenças entre favoráveis à monarquia e os contrários a ela</p><p>quanto um período de questionamento das ações ditas de caráter mais</p><p>republicano.</p><p>TEMA 4 – REVOLUÇÃO INGLESA: RESTAURAÇÃO E A REVOLUÇÃO</p><p>GLORIOSA</p><p>Com a deposição do filho de Oliver Cromwell, a monarquia passou</p><p>novamente a ser a forma de governo. É característica desse tempo, entre 1660</p><p>e 1688, a aproximação da Inglaterra com o absolutismo francês e o envolvimento</p><p>na guerra contra a Holanda.</p><p>É também desse período a oposição entre Whigs e Tories, que resultou</p><p>em uma guerra civil. Os primeiros eram aqueles que eram contrários ao rei e, os</p><p>Tories, os que defendiam a manutenção da monarquia. Charlles II, filho de</p><p>Charles I executado por Oliver Cromwell, retornou ao poder, permanecendo até</p><p>1985.</p><p>Em geral, Charlles II governou de acordo com os interesses e pautas de</p><p>ambas as Câmaras, o que permitiu uma sobrevida após um período conflituoso.</p><p>Porém, após sua morte, quem assumiu foi Jaime II, que era absolutista,</p><p>extremamente católico e, ainda, apoiado pelas gentrys (nobres presbiterianos),</p><p>ou seja, pelas alas mais conservadoras inglesas.</p><p>10</p><p>Na linha absolutista, o que pretendia Jaime II era reestabelecer princípios</p><p>políticos, econômicos e até sociais que pouco respeitavam a liberdade comercial</p><p>e política que cresceu nos últimos cinquenta anos na Inglaterra, especialmente</p><p>para os burgueses. Ressaltamos que lideranças das reivindicações camponesas</p><p>ou das plebes foram esvaziadas ainda por Oliver Cromwell, ou seja, Jaime II não</p><p>enfrentou tantas resistências porque naquele contexto esses setores estavam</p><p>enfraquecidos. No entanto, esses grupos estavam habituados ao diálogo, o que</p><p>causou estranheza e inconformidade a eles.</p><p>Com resistência de tantos setores os interesses dos Whigs e dos Tories</p><p>acabaram se unindo. Estes escolheram Mary como a sucessora ideal, cuja</p><p>representação monárquica de fato era o de seu esposo, Guilherme de Orange</p><p>ou também conhecido como William III. Assim, uma linha política mais burguesa</p><p>se mostrou como a opção para esses grupos, que não enfrentaram resistência</p><p>por parte de Jaime II e, por isso, o nome de Revolução Gloriosa. Jaime II que</p><p>tinha diversos embates com o Parlamento pouco teria apoio desse.</p><p>Figura 2 – Petição dos Direitos</p><p>Crédito: Parlamento do Reino Unido - CC/PD.</p><p>Posteriormente, William III assinou a Petição dos Direitos (Figura 2) que</p><p>é considerado o marco da implementação da monarquia constitucional na</p><p>Inglaterra, em que os poderes do rei passaram a serem limitados pelo próprio</p><p>Parlamento e pelo Primeiro Ministro. Na Declaração de Direitos, compromisso</p><p>assumido por William III, a Câmara dos Comuns passa a ser responsável pelos</p><p>assuntos governamentais, demonstrando mais uma vez como a burguesia</p><p>11</p><p>conseguiu em longo processo, ou seja, em mais de 100 anos, se tornar um dos</p><p>principais grupos detentores das medidas políticas.</p><p>TEMA 5 – A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA</p><p>Da mesma forma que a Revolução Inglesa não é algo apenas político, a</p><p>industrial também não é apenas econômica ou comercial. E são processos</p><p>interligados, a Revolução Industrial e a Inglesa. Um dos principais elementos que</p><p>impulsionou a indústria foi a instituição de um governo parlamentar</p><p>representativo burguês. É da ação puritana também as consequências dos Atos</p><p>de Navegação, visto que a Inglaterra conquistou sua supremacia nos mares</p><p>frente a inúmeras companhias marítimas.</p><p>Não menos importante para fazer com que a economia se tornasse um</p><p>sinônimo de indústria é a Lei dos Cercamentos. Uma prática que resulta da ideia</p><p>de que as terras eram coletivas/comunais, aquelas terras utilizadas por direito</p><p>ou licença pelos servos do período medieval. O principal objetivo para essa ação</p><p>era de dar espaço à criação de ovelhas de uma forma contundente para que a</p><p>matéria-prima básica também fosse produzida na Ilha, visto que os principais</p><p>fornecedores vinham da América Latina, escravocrata e baseada na</p><p>monocultura. Segundo Raymond Williams sobre esse processo:</p><p>[...] não se pode isolar completamente o processo de cercamento de</p><p>melhoramentos que vão ocorrendo rotineiramente no campo, as</p><p>transformações no método de produção, a oscilação dos preços e</p><p>aquelas mudanças nas relações de propriedade de caráter mais geral</p><p>que estavam todas caminhando na mesma direção: o aumento da</p><p>extensão de terras cultivadas, porém, ao mesmo tempo a concentração</p><p>da propriedade nas mãos de uma minoria A importância social dos</p><p>Cercamentos, pois, não é eles terem introduzido na estrutura social um</p><p>elemento inteiramente novo, e sim o fato de, abolirem as últimas</p><p>aldeias onde vigorava o sistema de campo aberto e os direitos comuns,</p><p>em algumas das regiões mais populosas e mais prósperas do país,</p><p>complementarem a pressão econômica geral sentida pelos pequenos</p><p>proprietários e, especialmente, pelos pequenos arrendatários; em</p><p>muitos casos, os cercamentos até foram causados por tais pressões.</p><p>(Williams, 1990, p. 138-139)</p><p>Essa lei se tornou mais forte no reinado de Jaime I, o que valorizou</p><p>bastante terras antes pouco produtivas em uma lógica capitalista industrial, ou</p><p>seja, muitas terras antes serviam para economia de subsistência e eram por</p><p>tradição herdadas por e entre os grupos de camponeses. Dentro das relações</p><p>de poder do período e pela força da burguesia na política daquela época, muitos</p><p>12</p><p>desses grupos foram expulsos ou perderam legalmente (pelo uso do judiciário</p><p>pela burguesia) o direito à terra.</p><p>Podemos perceber qualquer ausência de reconhecimento de terras</p><p>coletivas nesse período, mesmo sendo uma prática comum e de</p><p>representatividade. A plebe ou o camponês perdeu sua terra coletiva</p><p>especialmente para a burguesia e para as gentrys e passaram a fazer parte dos</p><p>excluídos das cidades.</p><p>Assim, é preciso considerar que a expulsão dos camponeses tirou da terra</p><p>pessoas simples, com práticas tradicionais, que poucas chances tinham</p><p>de</p><p>sobreviver sem seres explorados. Esses formaram as grandes massas que</p><p>migraram do campo para a cidade, não apenas porque perderam o direito à terra</p><p>ou não encontraram empregos, mas também iludidos por uma ideia de que o</p><p>mundo moderno, capitalista, repleto de manufaturados e urbano, ofereceria</p><p>novas oportunidades de uma vida menos desigual a todos.</p><p>Esses grupos, ao chegarem às cidades, precisavam acatar o que lhes era</p><p>imposto como alternativa de trabalho, independentemente de valor salarial ou de</p><p>direitos. Outro ponto a destacar é o custo de vida, pois esses grupos sempre</p><p>sobreviveram de economias de subsistência, cuja característica é precisar</p><p>comprar poucos manufaturados e menos ainda o alimento simples do cotidiano,</p><p>como batata (elemento central da mesa inglesa naqueles séculos da revolução</p><p>industrial). A seguir temos duas pinturas que representam esse contexto:</p><p>Figura 3 – Mineiro em Leeds, de William Bell Scott (1855-1860)</p><p>Crédito: George Walker - CC/PD.</p><p>13</p><p>Figura 4 – Ferro e Carvão, de William Bell Scott (1855-1860)</p><p>Crédito: William Bell Scott - CC/PD.</p><p>Desses grupos nasce a classe operária inglesa no período industrial, por</p><p>volta de meados do século XVII até meados do XVIII, que nos séculos seguintes</p><p>conheceremos como proletariados no sistema fabril que se formava.</p><p>Reforçamos que a Lei dos Cercamentos se tornou mais forte durante o</p><p>século XVIII e, além, de causar a expulsão de uma massa de camponeses,</p><p>também transformou a terra em mercadoria. Não obstante, aqueles produtores</p><p>ou detentores de terras maiores também foram privilegiados, visto que a terra</p><p>que outrora (no mundo medieval) era uma concessão passa a ser um bem.</p><p>O historiador inglês Edward Palmer Thompson ressalta, acerca desse</p><p>contexto, a característica de que apenas no século XVIII, em maio de 1723, foi</p><p>aprovado na Câmara dos Comuns um código que incluía as terras coletivas e</p><p>públicas. Ficou conhecido como a Lei Negra de Waltman, segundo a qual “negra”</p><p>designa os caçadores ou mesmo moradores que em geral estavam cobertos de</p><p>fuligem das queimadas internas da floresta. Para estes, o código gerou cerca de</p><p>50 crimes, com 250 interpretações possíveis, a depender do juiz ou do contexto.</p><p>Os caçadores permaneciam nas florestas como forma de contestação, buscando</p><p>ao mesmo tempo sua sobrevivência.</p><p>Com o tempo, vigias e centrais de controle entre as divisões dessas</p><p>florestas foram criadas e essa lei foi utilizada em diversos processos de disputa</p><p>pela terra, em geral privilegiando grupos mais abastados. Sobre isso, o</p><p>https://en.wikipedia.org/wiki/William_Bell_Scott</p><p>14</p><p>historiador afirma que se o fidalgo ou grande agricultor que cercava suas terras</p><p>contra os cervos e derrubava grande número de árvores sem autorização – podia</p><p>se dar o luxo, sem grandes dificuldades, de pagar a caução e de prosseguir</p><p>impunemente com seus delitos (Thompson, 1987, p. 43).</p><p>Assim, entendemos que quem poderia pagar por multas, pelos processos</p><p>ou por compras de sentenças é o que acabava se tornando proprietário das</p><p>terras. Desse modo, não se trata apenas do camponês que tinha terras</p><p>comunais, mas também de caçadores que perderam o seu direito de caçar ou</p><p>de pescar.</p><p>Ao chegarem as cidades, as condições encontradas, considerando que</p><p>não se trata de um Estado que é responsável por seus habitantes como</p><p>entendemos em nosso contexto, era deplorável. Operários que conseguiam</p><p>empregos em geral moravam perto das fábricas a fim de não perderem tempo</p><p>para deslocamento e de cumprirem as 16 ou 18 horas de jornada de trabalho</p><p>diárias. Muitos desses prédios pertenciam a burgueses ou até mesmo aos donos</p><p>das indústrias. Eram espaços muito pequenos, especialmente porque operários</p><p>residiam com suas famílias, sem acesso a água potável ou próximos aos</p><p>esgotos. Caso sobrasse dinheiro após pagar o aluguel, o mesmo não era</p><p>suficiente para se alimentar adequadamente e, por isso, a base alimentar</p><p>também desse período é a batata. Anteriormente, faziam uso do trigo, pouco</p><p>conseguiam consumir no que diz respeito às hortaliças ou carnes (Thompson,</p><p>1987).</p><p>Esses operários também estavam sujeitos a diversos acidentes de</p><p>trabalho, visto que não havia uma preocupação com a segurança dos mesmos.</p><p>A maquinofatura era algo novo, em que diversas formas de acelerar a produção,</p><p>bem como de fazer uso da matéria-prima eram estimuladas, sem que as</p><p>condições ambientais ou humanas fossem consideradas.</p><p>O governo distribuía prêmios por meio de concursos, ao tempo em que</p><p>não havia um respaldo legal de proteção desse mesmo estado. O mundo a vapor</p><p>era a norma da vez, porque além de a Inglaterra ter um fornecimento natural de</p><p>carvão de hulha, também tinha uma malha fluvial e ferroviária considerável, o</p><p>que permitia a distribuição de mercadorias e de envio de matérias-primas. Com</p><p>esses incentivos as invenções como a da máquina a vapor (James Watt, 1765),</p><p>a do tear mecânico (John Kay, 1733), a fiandeira mecânica (J. Hargreaves,</p><p>15</p><p>1733), entre outras explicam o porquê de a Inglaterra ser o berço da Revolução</p><p>Industrial capitalista na Europa, bem como suas consequências.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Como são as relações de trabalho em seu contexto social? Em um dia</p><p>comum de trabalho da maioria das pessoas, a que horas se começa a trabalhar</p><p>e em que momento ele finaliza? Em outras palavras, como é a jornada de</p><p>trabalho atual, seja em horas diárias ou semanais, seja de uma atividade</p><p>bancária, comercial, industrial ou liberal? Faça uma pesquisa em duas etapas</p><p>sobre esses dados. A primeira trata de compreender o seu contexto de acordo</p><p>com as relações de trabalho dos operários ingleses dos primeiros tempos da</p><p>Revolução Industrial. Após estabelecer esse quadro comparativo, busque fazer</p><p>uma nova comparação com os avanços obtidos pela ação e movimento sindical.</p><p>Esses culminaram em conquistas trabalhistas, que passamos a entender como</p><p>direitos adquiridos e legitimados com base na exploração e na desigualdade</p><p>social do contexto.</p><p>Em seguida, busque entender como as relações trabalhistas atuais,</p><p>submetidas ao termo flexibilizadas, estão sendo transformadas pelo Estado.</p><p>Esse novo olhar sobre as leis trabalhistas, que antes eram direitos adquiridos,</p><p>representa perdas em quais segmentos? Pelo tempo de trabalho do trabalhador,</p><p>pela forma como altera seu ambiente social e suas relações familiares ou</p><p>sociais? Em que sentido elas foram flexibilizadas?</p><p>FINALIZANDO</p><p>Buscamos discutir como de um mundo medieval e absolutista passamos</p><p>a ver na Europa um movimento transformador não apenas social, mas também</p><p>política e culturalmente. Retome agora os principais tópicos abordados na aula:</p><p>• A crise do absolutismo inglês.</p><p>• A Revolução Puritana.</p><p>• A Revolução Gloriosa.</p><p>• A Revolução Industrial na Inglaterra.</p><p>16</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro:</p><p>J. Zahar, 1990.</p><p>HILL, C. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a revolução inglesa</p><p>de 1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.</p><p>HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e</p><p>Terra, 2003.</p><p>LADURIE, E. O Estado monárquico: França 1460-1610. São Paulo: Cia das</p><p>Letras, 1994.</p><p>THOMPSON, E. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz</p><p>e Terra, 1987</p><p>WILLIAMS, R. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo:</p><p>Companhia das Letras, 1990.</p>

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