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HISTÓRIA MODERNA - AULA 3

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HISTÓRIA MODERNA 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Lorena Zomer 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, o nosso objetivo é debater sobre a expansão europeia a partir 
do século XV, no início do Período Moderno. Tanto Portugal quanto a Espanha 
tiveram proeminência nesse processo, seguindo até os séculos XVI ao XVIII, 
porém, já acompanhadas pela incursão de outros países. Entre as diversas 
condições que permitiram que esses países mantivessem ações de exploração 
e de colonialidade (como é o caso da América) em outras regiões, estão o 
desenvolvimento de uma economia mercantil, um sistema capitalista 
potencializado com a ocupação das colônias e um mercado consumidor adepto 
de novas formas de consumo devido às mudanças burguesas. 
Com isso, também, aconteceram o fortalecimento do Estado Moderno e 
Absolutista, bem como uma nova distribuição de poder por meio da 
institucionalização de novas religiões e da própria reformulação da Igreja 
Católica. 
Assim, vamos refletir sobre como o fortalecimento desse novo Estado 
Moderno permitiu a concentração de capitais, consequência e mantenedor das 
navegações e ocupações de novas regiões. Dentre tantas características, vamos 
começar pela difusão das ideias do período, isto é, como os estados com 
populações em geral analfabetas viveram divulgações de novos princípios 
políticos, econômicos e intelectuais. 
TEMA 1 – EXPANSÃO DAS LETRAS 
1.1 Entre o século XVI a XVIII 
O historiador inglês Peter Burke nos faz pensar sobre a configuração 
social de parte da Europa desse período. Ele aponta que o continente era de 
aspecto em geral rural, com cerca de 80 milhões de habitantes, chegando a 190 
milhões por volta de 1800. E é esse crescimento exponencial que permitiu a sua 
urbanização, embora apenas depois de 1900 (até 1800 apenas 3% da população 
era urbana). Antes disso, eram quatro (4) as cidades com mais de 100 mil 
habitantes (Nápoles, Paris, Istambul e Veneza). Já em 1800, eram vinte e três 
(23) as cidades com mais de 100 mil habitantes e Londres, já com mais de um 
milhão (Burke, 1989, p. 266-267). 
 
 
3 
Ainda, os processos de fabricação da maioria dos produtos até meados 
do século XVIII eram próprios de pequenas produções, muito semelhantes a 
oficinas medievais. A partir disso, as fábricas começaram a se tornar mais 
comuns e mecanizadas. 
No entanto, se as produções fabris no XVIII ainda não eram tão normais 
e mecanizadas, a transformação social já era notória e significativa. E isso se 
deve pela propagação dos princípios da Reforma Protestante, da leitura 
individualizada, do processo de alfabetização em parte da Europa e de algumas 
camadas sociais, mesmo que pequeno, e a difusão da escrita, incluindo os novos 
princípios iluministas. 
O que se questiona, desse modo, é: como os princípios reformistas 
luteranos – que não são de uma maioria – colaboraram para o aumento da 
alfabetização e da leitura individualizada a partir dos séculos XVII e XVIII? Além 
disso, como essa mudança ocasionou a construção de novos olhares sobre a 
concepção de ser humano em relação à postura medieval? 
1.2 Escrita individualizada 
A difusão da escrita, da alfabetização e das práticas de leitura 
contribuíram para a construção de uma nova ideia do homem europeu acerca de 
si mesmo e do imaginário do mundo ocidental que estava sendo construída, sob 
o prisma europeu. Se compararmos as duas imagens a seguir vemos um abismo 
entre elas, não como comparativo de “atrasado ou moderno”, mas como 
perspectivas culturais amplas e diversas. 
Figura 1 – Iluminura Medieval 
 
Crédito: Acervo da biblioteca de Aberdeen-Escócia/CC/PD. 
 
 
4 
Figura 2 – Capa de um livro de Rosseau 
 
Crédito: Jean-Jacques Rousseau-CC/PD. 
O que percebemos é que os valores medievais eram passados por meio 
de códigos e representações em imagens, visto que a alfabetização era irrisória 
entre a sociedade camponesa do período. Além disso, dos códices (como 
podemos entender esses suportes de escrita) ao livro de Rosseau não é apenas 
a forma de escrita que se transforma, mas de uma leitura coletiva para uma 
leitura autônoma com os livros impressos. Ressaltamos que a transição dos 
códices para esses favoreceu a alfabetização de países protestantes e propiciou 
a formação de uma consciência de si. 
Um dos fatores cruciais para que ocorresse a difusão de tantas ideias 
novas no Período Moderno foi a invenção da imprensa na Europa. O responsável 
se chamava Johannes Guttenberg, sobre o qual Peter Burke afirma que esse 
causou receios da comunidade eclesiástica porque a população teria mais 
acesso aos escritos, o que poderia causar confrontos em relação às afirmações 
da própria Igreja. Além disso, Burke dá outros exemplos sobre o espanto que tal 
criação gerou: 
No século XVI, na Itália por exemplo, sapateiros, tintureiros, pedreiros 
e donas-de-casa, todos reivindicavam o direito de interpretar as 
escrituras [...] Na alta Idade Média o problema fora a escassez, a falta 
de livros. No século XVI o problema era o da superfluidade. Anton 
Francesco Doni, escritor italiano, em 1550 já se queixava da existência 
de “tantos livros que não temos tempo para sequer ler os títulos” 
(Burke, 2002). 
A difusão da imprensa se acentua ao fim do século XV, justamente 
quando os primeiros ideais da Reforma Protestante começavam a ser debatidos 
e mesmo que confrontados, divulgados por meio de panfletos. A partir desses 
https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
 
 
5 
primeiros passos também foram reorganizadas ou se tornaram públicas as 
bibliotecas, isso porque boa parte delas estava sob controle da Igreja Católica. 
Assim, surgiram os primeiros catálogos que reuniam os títulos publicados, bem 
como os sumários e as enciclopédias (por volta de 1600-1650). Burke reafirma 
que esse receio de leitura de leigos pela Igreja Católica, assim como as reações 
populares frente à possibilidade de ler e conhecer algo novo, foi semelhante a 
uma explosão, em que muitos mal tinham reação diante do que vislumbravam. 
Além disso, outras reações se mostravam mais preocupantes: 
O astrônomo humanista Johann Regiomontanus observou, por volta de 
1464, que os tipógrafos negligentes multiplicariam os erros. Outro 
humanista, Niccolò Perotti, propôs em 1470 um projeto defendendo a 
censura erudita (Burke, 2002, p.174). 
Assim, a censura não era esperada mais ou somente da Igreja Católica, 
mas de qualquer instituição/autoridade que se colocava de maneira 
hierarquizada e engessada. É interessante observar que um humanista tinha 
essa mesma preocupação, o que demonstra que a concepção de conhecimento 
naquele período não é apenas no sentido de dar liberdade de pensamento. 
Portanto, com base no excerto de Peter Burke e das argumentações 
historiográficas desta aula, é possível entender a relação que há entre a 
expansão do protestantismo (e, consequentemente, de princípios burgueses), as 
práticas de leituras individuais e privadas e como tal invenção despertava 
reações negativas da sociedade do período. 
TEMA 2 – FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL 
A ideia de estado é algo recorrente para nós, cidadãos. Seja para pensar 
em políticas públicas ou mesmo para direitos e deveres. Mas, essa é uma 
palavra que tem sua própria historicidade. Na antiguidade, época que passou a 
ser pensada, significava “estar firme”. Foi no início do século XVI e na obra do 
teórico Nicolau Maquiavel (discutido mais adiante) que ela passou a ser sinônimo 
de “governo”. Assim, há uma relação direta entre a formação das monarquias 
nacionais durante o período moderno e o que se passou a entender como 
“estado” nessa época. Uma das mais antigas dessas monarquias foi Portugal, 
formada no fim do período medieval, embora a unificação de todas as regiões, 
tais como conhecemos atualmente, apenas se deu no fim do século XV. 
 
 
6 
Com essas formações vieram as atribuições do estado a fimde que sua 
prosperidade econômica e estabilidade política se mantivessem. Para tanto, foi 
necessário passar a pensar em aspectos ligados à segurança e à defesa (que 
nem sempre significavam integridade física aos seus cidadãos), definição de 
códigos de leis relacionados aos direitos, aos deveres e à justiça, à designação 
de impostos e à própria estrutura de estados, com suas funções distribuídas em 
cargos em geral indicados naquela época. 
Assim, o Estado Moderno é a formação e a centralização de instituições 
estatais com bases administrativas, com prestação de serviços entendidos como 
públicos. Mais que isso, é a formação de um imaginário social e cultural, cuja 
origem está nas práticas de linguagens, em um grupo étnico e em uma memória 
nacional comuns. 
Ressaltamos que parte da formação dos Estados Nacionais europeus, 
tais como conhecemos hoje, deu-se ao mesmo tempo que o poder da Igreja 
Católica foi contestado, tanto pelo caráter reformista, quanto pelos abusos de 
autoridade da própria Igreja. A Guerra dos 30 anos (1618-1648) acirrou as 
diferenças entre protestantes e católicos e potencializou as divergências 
territoriais e de formação de estados que já existiam, a partir dessas. 
Assim, quando o acordo de Paz de Vestfália foi assinado, em 1648, a 
configuração da Europa estava bastante diversa, com a apresentação de limites 
territoriais novos e com a ideia de absolutismo e Estado-Nação como formas de 
governo e de organização recorrentes àquele período. 
TEMA 3 – ALGUNS TEÓRICOS DO ESTADO MODERNO 
Uma discussão política em geral é permeada por argumentos e teorias de 
intelectuais que compactuam ou não com a mesma ideia. A formação do Estado 
Moderno se deu com base também em teorias, estas discutidas entre os séculos 
XVI e XVII, cuja centralidade estava em como deveria ser distribuído o poder do 
estado, bem como como suas competências e especificidades. Um dos mais 
conhecidos teóricos nasceu em Florença (1513) e seu nome é Nicolau 
Maquiavel. Por vezes interpretado e representado como alguém autoritário, o 
que lhe rendeu o sinônimo vulgar de “maquiavélico”. 
Para Maquiavel, a moralidade que regia o governo central deveria frisar o 
uso da razão para qualquer decisão a fim de manter o estado. Sua principal obra 
é O Príncipe, de 1513. Este era apontado por Maquiavel como um manual com 
 
 
7 
práticas e ações políticas esperadas do príncipe, cujo objetivo central em sua 
atuação como líder político era a manutenção do estado com o seu poder, 
utilizando a razão e a moral própria do estado. 
Importante ressaltar que Nicolau Maquiavel frisou sua preferência pela 
República como forma de governo. Entretanto, essa mesma instituição, que é a 
república, ao manter ou defender ideais como o de liberdade, permite que ações 
que não priorizam o bem-estar do estado se mantenham no poder, mesmo 
quando criticadas. 
É nesse sentido que está o “tom” maquiavélico do teórico, de que a melhor 
escolha nem sempre é a de um regime livre (Bignotto, 2003, p. 22), pois, se o 
soberano tiver um caráter mais autoritário, a ordem será mantida. O sistema 
político e seus preceitos morais não deveriam ser alvo de constante discussão, 
a fim de que a autoridade e, consequentemente, a soberania fossem 
respeitadas. 
Para o filósofo Jean Bodin, os príncipes eram soberanos e representavam 
a Deus (Bodin, 1986) e, por isso, a autoridade deles sobre o povo era 
inquestionável e legítima. O filósofo também frisava que o desprezo à vontade 
dos príncipes significava a desonra a Deus. Assim, para Bodin, o absolutismo 
era também um sinônimo de hierarquia social, que não tolerava opiniões ou 
contestações. Soberania, portanto, para Bodin, era o mesmo que um poder 
perpétuo e indivisível. Em outras palavras, o poder real é soberano e somente 
ele pode legislar como estado a fim de manter a paz e não a igualdade de direitos 
ou um ideal de justiça. Em um de seus escritos, a obra Os Seis Livros da 
República (1576), o filósofo deixa evidente a aproximação que fez do termo 
República e da representação soberana do estado por meio dos príncipes: 
Eu disse que esse poder [soberano] é perpétuo porque pode 
acontecer que se dê poder absoluto a um ou a vários por um certo 
tempo que, uma vez expirado, faz com que estes não sejam mais do 
que súditos. Enquanto estão no poder, não podem chamar-se príncipes 
soberanos, visto que são apenas depositários e guardas desse poder 
até que preze ao povo ou ao príncipe revogá-los, pois estes continuam 
seus detentores. Pois assim como aqueles que emprestam seus bens 
a outrem permanecem seus senhores e possuidores, assim também 
aqueles que dão poder e autoridade de julgar ou de comandar – seja 
por um tempo certo e limitado, seja por um tempo tão longo quanto lhes 
aprouver – permanecem, contudo, investidos do poder e jurisdição que 
outros exercem sob forma emprestada ou precária (Bodin, I, VIII, grifos 
nossos). 
A partir do exposto, percebemos que, para Bodin, os príncipes são 
aqueles que tem o poder legítimo, que não é algo emprestado, ao tempo em que 
 
 
8 
há uma ideia do que é um governo centralizado, bem como de divisões internas 
do que é privado e do que é público. Suas ideias estiveram muito próximas do 
que viria a ser o movimento iluminista do século XVII. 
Outro filósofo, Thomas Hobbes, escreveu O Leviatã. Para ele, a liberdade 
só era um alvo a alcançar e a defender para todos se ela não estremecesse a 
paz de um governo centralizado, que poderia estar tanto nas mãos de um só 
homem, como de uma Assembleia. Para o filósofo, o poder absoluto do estado 
era o que se deveria defender, mesmo que fosse preciso usar a espada. 
Assim, a liberdade deveria ser definida, conduzida e determinada por um 
representante maior. Se isso fosse obedecido, as invasões estrangeiras não 
aconteceriam ou qualquer ato que desequilibrasse a ordem social e política. É 
preciso frisar que a necessidade de se ter um poder centralizador não é 
entendido nesse período como autoritário, mas absoluto, especialmente a fim de 
garantir a segurança em um contexto de conflitos, invasões e a formação de 
novas nações na Europa. O que Hobbes ressalta é que, em um contexto em que 
o estado natural da humanidade é de guerra, a centralização do estado na figura 
do poder absoluto do rei é a racionalidade necessária para manter um estado 
civil. 
TEMA 4 – EUROPA EM EXPANSÃO 
Portugal e Espanha foram os dois primeiros países protagonistas do 
processo de colonização de outras regiões, incluindo a América. Entre os 
séculos XV e XVI, os ibéricos estiveram envolvidos com a exploração e 
dominação da América e de suas sociedades originárias, em geral, de forma 
violenta. Na mesma proporção em que instituíram seus atos com violência, 
também despontaram como potências europeias, especialmente a Espanha, 
que, entre 1580 a 1630, foi considerada o império mais poderoso do mundo 
ocidental, tendo colônias no Oceano Pacífico, Índico e Atlântico. 
Importante considerar ainda que Portugal também foi considerada parte 
do reino da Espanha entre 1580 a 1640, sob a dominação de União Ibérica. 
Consequência disso foi a invasão holandesa em Pernambuco, visto que eram 
inimigos da Espanha, assim como os conflitos ocorridos no interior do Brasil 
pelos limites disputados com Portugal. 
 
 
 
9 
4.1 Expansionismo ibérico 
As Guerras de Reconquista tiveram início nos séculos X e XI, a partir do 
que era conhecido como Condado Portucalense. Uma das principais fases do 
expansionismo se deu a partir das navegações pela Costa do continente africano 
ao longo do século XV, antecedendo a chegada dos portugueses na América. 
São marcos desse período a chegada à Calicute em 1498, e logo em 
seguida à Goa, ambas localizadas na atual Índia. Posterior a essas incursões 
são as passagens pelos territórios da China, da Indonésia e do Japão ao longo 
do século XVI. 
Com Portugal, nesse período, a Espanhateve a sua maior expansão. 
Com a junção dos governos de Isabel da região de Castela e de Fernando da 
região de Aragão, os mouros foram expulsos de Granada. Isso se deu em 1492, 
exatamente no mesmo ano em que Cristóvão Colombo fez sua primeira viagem 
à América, patrocinado pelos reis católicos, como ambos eram conhecidos. 
A União Ibérica, ou seja, entre Portugal e Espanha, deu-se em 1516, 
quando a filha de Isabel de Castela e de Fernando de Aragão, Joana I, casou-
se em 1516 com Felipe de Habsburgo. Lembramos que o reino da Espanha 
incluía até as regiões de Flandres. Com a morte de Felipe de Habsburgo e Joana 
I sendo considerada incapacitada mentalmente, apenas com Carlos V a dinastia 
de Habsburgo centralizou em suas mãos os reinos da Espanha, dos países 
baixos e os territórios na América. Tornou-se, assim, o maior império do Ocidente 
conhecido até então. A União Ibérica durou até 1640. 
TEMA 5 – ABSOLUTISMO NA FRANÇA E NA INGLATERRA 
O fortalecimento do Estado Nacional na França e na Inglaterra tem 
características absolutistas. No caso francês, há a configuração do que 
chamamos de “sociedade de corte”, expressão de Norbert Elias, cuja definição 
mais explícita é a interdependência entre a monarquia que se fortaleceu a partir 
do século XV, a nobreza palaciana (do que restou do período medieval) e a 
burguesia em ascensão. Já na Inglaterra, o que mudou a configuração social e 
política foi a Reforma Protestante ocorrida na primeira metade do século XVI. 
Sobre a sociedade de corte, é importante entender que havia resquícios 
de uma sociedade estamental (clero, nobreza e servos), ou seja, medieval, em 
que o “sangue azul” ou o nascimento e a descendência, portanto, o sobrenome 
 
 
10 
ainda demarcava lugares e funções a serem desempenhadas. O maior 
diferencial do Período Moderno que causou mudanças nesse sistema medieval 
foi a ascensão da burguesia, em que a compra de títulos e o acúmulo de capital 
permitiu que arranjos sociais ocorressem, bem como o acesso a cargos políticos 
que antes apenas a nobreza detinha. 
Emanuel Le Roy afirma sobre esse contexto que o absolutismo é um 
estado centralizado e não existe sem ele. Para tanto, é necessário que as 
classes participantes colaborem entre si, trocando influência e privilégios. Uma 
hierarquia estabelecida, com a representação máxima na figura do rei, porém 
que só resiste se também obedece a rituais com os seus administradores, tanto 
em nível regional quanto local. É uma sociedade mista, em que duas entidades 
coexistem, a estatal e a citadina (Ladurie, 1994, p. 22). 
Norbert Alias define a sociedade de corte como uma forma particular de 
sociabilidade, em que a interdependência intraclasses tinha base na nova 
monarquia absolutista que se estruturava, com a nobreza palaciana que resistia 
a mudanças. Lembramos que é desse período a acentuação e a formação das 
vilas, o que destitui o caráter essencialmente rural dos líderes, ou seja, grupos 
novos se instalavam nessas vilas, e entre eles os burgueses que passaram a se 
aliar ao rei e à nobreza. 
Assim, há uma relação direta entre o Antigo Regime, a burguesia e o 
caráter absolutista, formando o que chamamos de Sociedade de Corte. 
Para que o regime absolutista se configurasse como um sistema 
moderno, diversos rituais e sociabilidades eram incentivadas e teatralizadas 
entre costumes, tradições, e muitos desses novos e instituídos pelas revoluções 
liberais, como as da Guerras de Trinta Anos. 
A fim de conformar a nova configuração moderna, cargos e funções 
administrativas eram destinados, impostos eram direcionados em especial a 
burgueses, porém os novos títulos comprados em geral pertenciam a esses 
também. 
Em suma, a institucionalização de um cerimonial de sociabilidade era 
pautada em gestos e rituais, como analisaremos a seguir. 
5.1 Centralização do poder e sociabilidade de corte 
O absolutismo na França é um dos mais centralizados. O historiador 
Emanuel Le Roy Ladurie debate sobre a subdivisão extensa do poder de uma 
 
 
11 
maneira vertical, ou seja, do soberano para a nobreza até condes, barões etc. 
Segundo ele, uma das compras comuns de títulos era da “nobreza togada”, cujas 
funções eram ligadas às jurisdições da própria classe (Ladurie, 1994, p. 26-28). 
Para que se gerassem esses cargos que normalmente eram novos, recém-
criados, o rei emitia o que chamavam de “Cartas de Provisão”, ocasionando 
privilégios e até mesmo a isenção de impostos em alguns casos. Ao escolher 
seus privilegiados, o rei mantinha um apoio político para suas decisões, de 
acordo com a sua própria organização (entre cargos novos e velhos), ao mesmo 
tempo que também precisava sustentar esse apoio que ocorria não sem 
conflitos, considerando as relações delicadas entre burgueses e nobres. Ladurie 
afirma que isso ocorreu do reinado de Luís XIII ao de Luís XIV. 
É possível resumir tal perspectiva como uma troca de favores. Norbert 
Elias define do seguinte modo: 
[...] as vantagens do príncipe aumentam num campo social organizado 
[...] em que qualquer deles [burgueses e nobres] ganhe a luta pela 
preponderância absoluta. O príncipe governa, seu governo é absoluto 
porque qualquer das camadas rivais precisa dele, porque se pode 
servir de qualquer delas contra a outra [...] (Elias, 1987, p. 141-142). 
As distinções desse grupo se davam de várias formas, como no ato de 
comer, de vestir e em relação aos comportamentos e às alianças entre as 
classes. Para Norbert Elias, a sociedade de corte criou um padrão moral de 
costumes, entre eles e dentro do movimento reformista, o que era civilizado. 
É nesse sentido, por exemplo, que no ato de comer passou a ter um novo 
ritual, com o uso de talheres, uma ordem a seguir tanto dos pratos quanto de 
quem começava a comer e quando terminava (Elias, 1990, p. 62-66). A 
civilização do estado está relacionada ainda à constituição e à educação no que 
se refere aos costumes vistos como bárbaros e medievais para o período e, 
ainda, às relações de poder entre burguesia e nobreza, as quais em disputa 
definiam como seria a “civilização europeia”. 
5.2 Absolutismo inglês 
Na Inglaterra, esse novo sistema político e econômico centralizado teve 
na imagem de Henrique VIII (1491-1547, dinastia Tudor) o seu início e o ápice 
no reinado de Elizabeth I (1558-1603). Ambos instituíram os Atos de 
Supremacia, em que se autodeclaravam chefes da Igreja Anglicana e da 
 
 
12 
Inglaterra. Elizabeth I precisou reafirmar o ato, depois que sua meia-irmã restituiu 
o catolicismo como religião oficial. 
A Reforma Anglicana, que primeiramente foi um acontecimento mais 
político a religioso, não apenas criticou alguns dogmas católicas ou inaugurou a 
novos, mas deu poder e autonomia a Henrique VIII. Intromissões e propriedades 
católicas passaram a ser quase inexistentes naquele país. O Rei mantinha seu 
próprio conselho, mas, após as reformas e revoltas, a Câmara dos Lordes e a 
Câmara dos Comuns sofreram transformações. 
Essas se deram pela entrada da burguesia. É um novo grupo que precisou 
adquirir consciência como tal para que conquistasse o seu lugar, visto que ter 
centralidade nas relações comerciais não era o suficiente para adquirir poder e 
lugar político. Para isso, ocupou primeiramente a Câmara dos Comuns e, anos 
mais tarde, a Câmara dos Lordes. 
Isso foi possível a partir das revoluções burguesas: a Puritana (1644) e a 
Revolução Gloriosa (1688). Importante ressaltar que é a burguesia que alcançou 
mais poder político, mesmo com a participação da plebe (quakers, levellers e 
anabatistas) nos processos de luta. 
No entanto, essa apenas terá representação política potencializada a 
partir de meados do século XVIII, com a formação do operariado. Os problemas 
se iniciam no século XVII com a resistência de católicos e camponeses 
conservadores. 
Nesse processo, anabatistas e anglicanos defendiam uma agricultura 
mais moderna voltadaà indústria, consequência especialmente da Lei dos 
Cercamentos. Esta havia destituído diversas terras antes comunais (com a 
expulsão de seus proprietários tradicionais), as quais passaram a produzir lã 
voltada à fabricação têxtil e ao mercado consumidor interno e externo que 
começava a despontar. 
A Lei de Cercamentos foi criada no governo de Elizabeth I, com 
crescimento no reinado de Jaime I (início em 1603 e da dinastia Stuart). É 
também essa lei – e sua expropriação – que originou o que chamamos de 
gentrys (mercadores/burgueses), classe social que reunia a maior proporção das 
terras adquiridas após a expulsão da Igreja Católica. 
Portanto, sendo essa a classe que ficou com boa parte das propriedades 
que eram da Igreja Católica, o poder da nobreza mais conservadora diminuiu, o 
que estreitou as relações de Elizabeth com a burguesia. Além disso, é preciso 
 
 
13 
observar que essas transações comerciais e de propriedade renderam altos 
lucros à Elizabeth I, capitalizando-a para fortalecer suas navegações e a 
instituição do sistema fabril têxtil. 
Sobre a relação próxima da rainha com as gentrys, que também 
assegurou paz no seu governo, é preciso considerar que após a sua morte, 
Jaime I, que assumiu o trono em 1603, enfrentou a fúria de católicos que 
acreditavam que a morte da rainha permitiria o retorno do catolicismo como 
religião oficial da Inglaterra. 
Para evitar os problemas civis, Jaime I realizou acordos com a alta 
nobreza. No entanto, não foi suficiente, obrigando-o a se direcionar à Câmara 
dos Comuns, que era formada em uma maioria por gentrys puritanas e à Câmara 
dos Lordes, que era de católicos quase em sua totalidade. Pela resistência do 
Parlamento em se submeter aos interesses de Jaime I, este foi dissolvido por ele 
por sete anos. 
Todo esse processo se inicia com a dinastia Tudor, em que Elizabeth deu 
prosseguimento às ações de seu pai, o rei Henrique VIII. Desde meados do 
século XVI, o rei e, depois, sua filha, diminuíram o poder dos católicos 
categoricamente ao perseguirem e fiscalizarem qualquer ato que lembrasse 
ações católicas, contando desde então com o apoio de puritanos. 
A influência católica também diminuiu com o tempo pela própria 
percepção popular sobre ela, visto que a sociedade passou a ter mais acesso à 
Bíblia, ou leituras variadas e, ainda, pela propagação da teoria do direito divino 
dos reis. Entre o governo de Elizabeth I e o de Carlos I, a reforma anglicana 
atingiu todos os segmentos, com exceção de países como a Escócia, a qual no 
governo de Jaime I havia se unificado à Inglaterra. 
Após a morte de Jaime I, em 1625, quem assumiu foi seu filho Carlos I 
que, por gastos com guerras, entre outros, decretou novos impostos que não 
foram aprovados pelo Parlamento. Os puritanos, da Câmara dos Comuns, 
também passaram a ser perseguidos por Carlos I. Antes de ser interpelado pela 
Câmara dos Comuns em 1642, Carlos, em uma postura absolutista, também 
tentou obrigar a Escócia a se tornar anglicana. 
O principal inimigo ou líder de oposição a Carlos I nesse contexto foi Oliver 
Cromwell. Tanto as gentrys quanto as plebes passaram a se organizar para 
contestar o poder de Carlos I, divulgando seus ideais por meio de panfletos e 
discursos distribuídos pelas ruas londrinas. Com repercussão positiva e apoio de 
 
 
14 
parte da população, Oliver Cromwell conduziu um exército de civis, plebeus, 
nobres e burgueses puritanos chamado Novo Tipo ou em nome original New 
Model Army. 
NA PRÁTICA 
Consulte o Atlas histórico mundial, do historiador francês Georges Duby 
(p. 69 a 67). Ao acessar esse material, você terá acesso a mais informações 
sobre as monarquias nacionais, como a de Carlos V (p. 69) e informações sobre 
a Europa dos séculos XVII e XVIII (p. 75-78). 
Faça um levantamento de quais países ou reinos do período você 
reconhece, qual a forma de governo, bem como os hábitos culturais e as práticas 
econômicas perceptíveis. 
A partir dessa lista, estabeleça uma comparação sobre como ela 
representa a Europa Moderna, com o poder absolutista centralizador. 
Disponível em: <https://pt.slideshare.net/noeliamdq/atlas-histrico-
mundial-georges-duby>. Acesso em: 1 set. 2021. 
FINALIZANDO 
Os principais tópicos abordados nesta aula foram: 
• a difusão da escrita, da alfabetização e da leitura; 
• o Estado Moderno e sua expansão; e 
• o poder absolutista e seus teóricos. 
Dessa forma, pudemos perceber como uma noção de estado centralizado 
nasceu e está relacionado com as reformas religiosas, com a ascensão da 
burguesia ao poder econômico e político. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BIGNOTTO, N. Maquiavel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. 
BODIN, J. Os seis livros da república. Tradução de José Carlos Orsi Morel. v. 
1. José Ignacio Coelho Mendes Neto (vs. 2-6). Rev. José Ignacio Coelho Mendes 
Neto. São Paulo: Ícone, 2011. 6 v. 
BURKE, P. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. 
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994. 
________. Problemas causados por Gutenberg: a explosão da informação nos 
primórdios da Europa Moderna. Estudos avançados, São Paulo: jan./abr. 2002, 
v. 16. n. 44. 
ELIAS, N. A sociedade de corte. Tradução de Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2001. 
ELIAS, N. O processo civilizador, uma história dos costumes. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1990. 
LADURIE, E. L. R. O estado monárquico: França – 1460-1610. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1994.

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