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Medicina	Laboratorial	-	O	laboratório	para	o	clínico	
Rita	Elizabeth	Mascarenhas	&	Marta	Menezes,	2017.	MEDICINA	LABORATORIAL	–	EBMSP.	
	
1	
	
• Hemograma	
O	 HEMOGRAMA	 avalia	 quantitativa	 e	
qualitativamente	 os	 elementos	 do	 sangue	
periférico.	 É	 um	 exame	 que	 compreende	 o	
estudo	 da	 série	 eritrocítica,	 leucocitária	 e	 o	
estudo	das	plaquetas.	Para	realizar	esta	análise,	
é	 necessária	 a	 coleta	 de	 uma	 amostra	 de	
sangue,	 obtida	 por	 punção	 venosa,	 colhida	 em	
tubo	 contendo	 o	 anticoagulante	 EDTA.	 Um	
jejum	de	4	horas	é	recomendado	para	a	coleta	
da	amostra	sanguínea.	São	realizadas	contagens	
celulares,	 dosagens	 da	 hemoglobina	 (Hb)	 e	
avaliação	da	morfologia	das	células	e	plaquetas.		
Atualmente	 o	 hemograma	 é	 realizado	 por	
métodos	 automatizados	 utilizando	 pequenos	
volumes	 de	 sangue.	 A	 automação	 agregou	
elevada	 sensibilidade	 e	 maior	 precisão	 nas	
contagens	das	células	e	plaquetas.	
																									 	
Tubo	 para	 coleta	 de	 sangue	 com	 anticoagulante	 EDTA	
(tampa	lilás)	
	
O	estudo	da	série	eritrocítica	(hemácias)	é	denominado	ERITROGRAMA.	O	estudo	da	série	leucocitária	é	
denominado	 LEUCOGRAMA.	 A	 contagem	 e	 a	morfologia	 das	 plaquetas	 fazem	 parte	 do	 hemograma,	
bem	 como	 do	 coagulograma.	 As	 análises	 que	 compõem	 o	 hemograma	 também	 podem	 ser	 feitas	
separadamente.	 Assim,	 conforme	 a	 necessidade	 e	 avaliação	 custo/benefício,	 o	médico	 pode	 solicitar	
apenas	a	dosagem	de	hemoglobina	ou	o	hematócrito,	ou	apenas	o	leucograma.		
	
O	ERITROGRAMA	é	útil	 no	 diagnóstico	 no	 acompanhamento	 das	 anemias	 e	 poliglobulias.	Na	anemia	
ocorre	uma	diminuição	do	número	 absoluto	de	 eritrócitos	 saudáveis	 na	 circulação,	 com	 consequente	
diminuição	da	capacidade	e	transporte	de	oxigênio	para	os	tecidos.	As	anemias		decorrem	do	excesso	de	
perda	sanguínea	(sangramento),	aumento	da	destruição	dos	eritrócitos	(hemólise),	ou	falta	de	produção	
medular	 (anemias	 carenciais,	 por	 doença	 crônica,	 aplasias	 ou	 hipoplasias).	 Na	 poliglobulia,	 ocorre	 o	
contrario,	 há	 um	 aumento	 exagerado	 na	 quantidade	 de	 eritrócitos	 no	 sangue.	 A	 dosagem	 da	
hemoglobina	 é	 superior	 ao	 limite	 da	 normalidade	 para	 idade	 e	 sexo.	 A	 policitemia	 vera,	 uma	
poliglobulia,	uma	doença	mieloproliferativa	que	cursa	com	eritrocitose,	podendo	também	ter	aumento	
das	 séries	 leucocitária	 e	 plaquetaria.	 Na	 policitemia	 secundária	 ocorre	 eritrocitose	 por	 aumento	 da	
eritropetina	 devido	 à	 hipoxemia	 provocada	 por	 doença	 pulmonar,	 bem	 como	 a	 elevada	 altitude.	 A	
hemoconcentração	 promove	 uma	 policitemia	 relativa,	 devido	 à	 diminuição	 do	 volume	 de	 plasma.	 O	
eritrograma	 compreende	 a	 contagem	 dos	 eritrócitos,	 a	 dosagem	 da	 Hb	 e	 a	 determinação	 do	
hematócrito	(HT)	que	permitem	o	cálculo	dos	Índices	Hematimétricos,	também	informados	no	exame.	
Os	índices	são	úteis	na	avaliação	do	tamanho	da	hemácia	e	na	concentração	da	hemoglobina	no	sangue	
e	por	hemácia.	A	contagem	dos	eritrócitos	(106células/µl	de	sangue)	varia	especialmente	em	função	do	
sexo.	 Há	 também	 variação	 em	 função	 da	 população	 estudada.	 A	 dosagem	 da	 hemoglobina	 é	
considerada	 o	 índice	 mais	 fidedigno	 para	 o	 diagnóstico	 e	 a	 avaliação	 das	 anemias.	 A	 Organização	
mundial	 da	 Saúde	 (OMS)	 recomenda	 que	 sejam	 considerados	 como	 valores	 de	 normalidade	 as	
concentrações	de	hemoglobina	de	13g/dL	e	12g/dL	para	adultos,	respectivamente	do	sexo	masculino	e	
feminino.	Neste	teste	um	volume	específico	de	sangue	é	adicionado	a	uma	solução	que	lisa	as	hemácias	
e	permite	a	dosagem	da	hemoglobina.	O	hematócrito	corresponde	ao	volume	ocupado	pelas	hemácias	
em	 determinado	 volume	 de	 sangue	 (os	 valores	 são	 apresentados	 em	 percentual).	 Diminuiçāo	 do	
numero	e/ou	tamanho	dos	eritrócitos	pode	reduzir	o	valor	do	hematócrito.	Por	outro	lado,	a	perda	de	
liquido	do	vaso	para	os	tecidos	(hemoconcentraçāo),	bem	como	um	aumento	exarcerbado	do	número	
(Policitemia	Vera)	e/ou	do	tamanho	dos	eritrócitos	leva	a	um	aumento	do	hematócrito.		
	
		 	 	 Medicina	Laboratorial	-	O	laboratório	para	o	clínico	
Rita	Elizabeth	Mascarenhas	&	Marta	Menezes,	2017.	MEDICINA	LABORATORIAL	–	EBMSP.	 2	
	
Os	 índices	hematimétricos	são	VCM	 (volume	corpuscular	médio)	–	 índice	que	avalia	o	tamanho	médio	
das	hemácias;	HCM	 (hemoglobina	corpuscular	média)	–	expressa	a	quantidade	média	de	hemoglobina	
que	 existe	 dentro	 de	 uma	 hemácia;	 CHCM	 (concentração	 de	 hemoglobina	 corpuscular	 média)	 –	 é	 a	
relação	entre	a	concentração	da	hemoglobina	contida	em	determinado	volume	de	sangue.	O	RDW	(red	
cell	distribution	width)	–	 indicador	de	anisocitose	 (avalia	a	heterogeneidade	das	hemácias	em	relação	
ao	tamanho).	
	
VCM=	(HT/no	eritrócitos)	x	10	 											HCM=(Hb/	no	eritrócitos)	x	10								 CHCM=(Hb/HT)	x	100	
	
No	 contexto	 do	 hemograma,	 a	 dosagem	 da	 hemoglobina,	 o	 VCM	 e	 a	 morfologia	 das	 hemácias	
representam	dados	valiosos	na	avaliação	das	anemias.	Por	exemplo,	um	VCM	maior	que	os	valores	de	
referência	e	dosagem	de	hemoglobina	diminuída	sugerem	anemia	macrocítica.	Já	um	VCM	menor	que	
os	valores	de	referência	e	dosagem	de	hemoglobina	diminuída	sugerem	anemia	microcítica.	As	anemias	
macrocíticas	por	deficiência	de	Vitamina	B12	e/ou	folatos	tem	denominação	de	anemia	megaloblástica.	
Como	fundamentais	na	síntese	do	DNA,	a	carência	destes	compostos	resultam	em	hipersegmentação	do	
núcleo	de	neutrófilos	(achado	adicional	alem	da	macrocitose	das	hemácias).	Anemias	macrocíticas	não	
megaloblásticas	 podem	 ter	 causas	 diversas	 como	 eritropoese	 acelerada	 (quadros	 pós-hemólise	 ou	
hemorragia),	alcoolismo,	doença	hepática,	entre	outras.	As	anemias	microcíticas	 geralmente	ocorrem	
por	 deficiência	 na	 síntese	 da	 hemoglobina	 (talassemias,	 hemoglobinopatias,	 deficiência	 de	 ferro).	 As	
anemias	normocíticas	ocorrem	por	doença	crônica,	insuficiência	renal	e	aplasia,	entre	outras	causas.	O	
diagnóstico	das	anemias	requer	um	estudo	mais	detalhado	e	outros	exames	podem	ser	necessários,	a	
exemplo	 da	 dosagem	 de	 ferritina;	 saturação	 da	 transferrina;	 dosagen	 de	 ácido	 fólico	 e	 Vitamina	 B12;	
eletroforese	de	Hb,	contagem	de	reticulócitos,	entre	outros.		
	
RDW	 com	valor	 fora	do	 intervalo	de	referência	
indica	 anisocitose.	 A	 análise	 da	morfologia	 das	
células	 no	 esfregaço	 do	 sangue	 periférico	
descreve	 a	 forma,	 o	 tamanho	 e	 a	 coloração	
(concentraçāo	 da	 Hb).	 Diversas	 condições	
clínicas	 podem	 influenciar	 na	 morfologia	 das	
hemácias.	Os	esferócitos	 (hemácias	 esféricas	 e	
sem	 a	 palidez	 central)	 indicam	 alteração	 no	
citoesqueleto	 e	 são	 encontrados	 na	
esferocitose	hereditária,		
	
anemia	hemolítica	autoimune,	entre	outros.	Os	
drepanócitos	 (hemácias	 em	 forma	 de	 foice)	
ocorrem	 em	 presença	 da	 hemoglobina	 S,	 na	
anemia	 falciforme.	 Outras	 variações	 na	 forma	
das	 hemácias	 podem	 decorrer	 de	 condições	
clínicas	específicas.		
Drepanócitos	(hemácias	em	foice)	
Além	 dos	 eritrócitos,	 circulam	 normalmente	 no	 sangue	 periférico	 os	 leucócitos,	 os	 quais	 incluem	 os	
granulócitos	ou	polimorfonucleares	 (granulações	citoplasmática	e	núcleo	segmentado/lobulado)	como	
neutrófilos,	eosinófilos	e	basófilos,	bem	como	as	células	mononucleares	(os	linfócitos	e	os	monócitos).	
O	 LEUCOGRAMA	oferece	 as	 informações	 sobre	 o	 numero	 absoluto	 de	 leucócitos/µl	 de	 sangue,	 bem	
como	descreve	os	valores	absolutos	e	relativos	(percentuais)	das	diferentes	células	nucleadas	presentes	
no	 sangue	 periférico.	 Este	 exame	 é	 útil	 na	 avaliação	 de	 condições	 onde	 ocorra	 o	 aumento	 ou	 a	
diminuição	 destas	 populações	 celulares,	 bem	 como	 na	 alteração	 da	 proporção	 das	mesmas,	 quando	
este	 reconhecimento	 auxilie	 no	 diagnóstico	 ou	 represente	 alguma	 conduta	 específica.	 Atualmente	
considera-se	 como	 normais	 contagens	 que	 variam	 de	 4	 a	 10x103leucócitos/µl	 de	 sangue.	 Abaixo	 um	
exemplo	da	proporção	mediadas	células	sanguíneas	em	indivíduo	saudável.		
	
Bastão.................................0-1%	
Segmentado	neutrófilo....40-70%	
Eosinófilo............................1-3%	
Basófilo...............................0-1%	
Linfócito..........................20-40%	
Linfócito	atípico.....................0%	
Monócito..........................3-10%		
					 	
São	 visualizadas	 na	 figura	 ao	
lado	 as	 células:	 1	 bastão,	 1	
segmentado	 neutrófilo,	 1	
linfócito,	1	eosinófilo,	1	basófilo	
e	1	monócito.	
	
		 	 	 Medicina	Laboratorial	-	O	laboratório	para	o	clínico	
Rita	Elizabeth	Mascarenhas	&	Marta	Menezes,	2017.	MEDICINA	LABORATORIAL	–	EBMSP.	 3	
	
Algumas	 condições	 promovem	 alteraçāo	 no	 número	 total	 de	 leucócitos.	 Processos	 infecciosos	 e	
inflamatórios	 agudos,	 alem	 dos	 proliferativos,	 promovem	 leucocitose	 (aumento	 do	 número	 de	
leucócitos).	 Exercício	 físico	 e	 estresse	 (descarga	 de	 adrenalina)	 causam	 um	 aumento	 neste	 valores	
representando	 uma	 condição	 imediata	 (pool	 marginal	 de	 leucócitos),	 daí	 a	 importância	 de	 repouso	
antes	do	momento	da	coleta	das	amostras	de	sangue.	Por	outro	lado,	algumas	condições	podem	causar	
a	 reduçāo	do	numero	de	 leucócitos	 (leucopenia).	 Tanto	o	 valor	 relativo	 como	o	absoluto	de	algumas	
populações	 leucocitárias	 podem	 aumentar	 anormalmente	 ou	 apresentar-se	 diminuídas	 e	 o	
conhecimento	 destas	 alterações	 são	 úteis	 para	 o	 clínico	 em	 sua	 prática.	 Pode	 ocorrer	 neutropenia	
(diminuiçāo)	ou	neutrofilia	(aumento),	neste	caso	se	referindo	ao	numero	de	neutrófilos.	Os	neutrófilos	
representam	células	da	defesa	inata,	 importantes	na	resposta	contra	infecções	bacterianas	(fagocitose	
dos	agentes	bacterianos),	ou	para	qualquer	processo	inflamatório	agudo.	Por	vezes	pode	haver	grande	
demanda	para	a	produção	e	maturação	destas	células	pela	medula	óssea,	e	assim	ocorrer	a	circulaçāo	
de	células	 imaturas	desta	 linhagem	celular	no	sangue	periférico.	Bastão,	metamieolócito,	mielócito	ou	
outras	 células	 ainda	 mais	 jovens	 podem	 ser	 observadas	 em	 um	 esfregaço	 do	 sangue	 periférico	 em	
condições	 de	 grande	 produçāo	 desta	 linhagem	 pela	 medula	 óssea.	 O	 predomínio	 da	 linhagem	
neutrofílica	 (acima	 dos	 valores	 de	 referencia)	 com	 presença	 de	 células	 imaturas	 é	 conhecido	 como	
desvio	 para	 a	 esquerda.	 Um	 aumento	 do	 numero	 de	 eosinófilos	 (eosinofilia)	 e	 basófilos	 (basofilia)	
representam	 achados	 relevantes.	 Helmintíases	 e	 processos	 alérgicos	 podem	 promover	 eosinofilia.	 A	
basofilia	 também	 pode	 estar	 presente	 nos	 processos	 alérgicos,	mas	 ainda	 será	 uma	 populaçāo	 rara.	
Desordem	mieloproliferativas	 podem	 ser	 acompanhadas	 do	 aumento	 do	 numero	 de	 basófilos	 e,	 por	
vezes,	também	por	eosinófilos	no	sangue	periférico.		
O	 aumento	 do	 numero	 absoluto	 e	 percentual	 de	 linfócitos	 (linfocitose)	 ou	 reduçāo	 desta	 populaçāo	
(linfopenia),	podem	igualmente	ocorrer.	Muitas	 infecções	virais	 induzem	 linfocitose,	algumas	também	
causam	leucopenia	e	presença	de	linfócitos	atípicos.	A	atipia,	identificada	por	alterações	no	tamanho	e	
coloração	 dos	 linfócitos,	 representam	 um	 estado	 de	 ativaçāo	 celular	 e	 produção	 de	 proteínas	 que	
podem	 ser	 citocinas,	 granulosimas	 ou	 anticorpos,	 entre	 outras.	 Na	mononucleose	 infecciosa	 a	 atipia	
linfocitária	 apresenta	 elevado	 percentual,	 e	 assim,	 associada	 aos	 achados	 clínicos	 pode	 ser	 sugestiva	
desta	infecção.		O	hemograma	pode	auxiliar	ainda	no	diagnóstico	de	condições	proliferativas	a	exemplo	
das	 leucemias.	 Números	 extremamente	 elevados	 de	 leucócitos	 e	 a	 presença	 de	 células	 imaturas	 na	
circulação,	das	diversas	linhagens	celulares,	são	indicações	fortes	deste	tipo	de	alteração.			
	
Para	entender	melhor	 sobre	estes	assuntos	consulte	a	bibliografia	 sugerida	ou	outros	 livros	 textos	na	
área	de	hematologia	e	medicina	laboratorial.	
	
Referencia	básica:	
• XAVIER,	RM	et	al.	Laboratório	na	prática	clínica	–	consulta	rápida.	2016.	3a	edição.	Ed	Artmed	
S.A.	
• ADAGMAR	ANDRIOLO.	Medicina	Laboratorial	–	Guias	de	medicina	ambulatorial	e	hospitalar	na	
UNIFESP-EPM.	2008.		2a	ediçāo.	Ed	Manole	Ltda.		
• MARIA	LUCIA	G.	FERRAZ.	Medicina	Diagnóstica	–	Algoritimos	diagnósticos	em	medicina	interna.	
–	Grupo	Fleury.	2011.		2a	ediçāo.	Ed	Manole	Ltda.		
Referencia	complementar:	
• www.guiasdemedicinaunifesp.com.br	
• www.sbpc.com.br

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