Prévia do material em texto
BIOQUÍMICA AULA 6 Prof. Benisio Ferreira da Silva Filho 2 CONVERSA INICIAL Enquanto isso no núcleo celular... A análise da bioquímica celular, que abrange a compreensão dos mecanismos de replicação do material genético e da manifestação dos genes, revela-se imprescindível em diversas esferas da biologia e das ciências da saúde. A replicação do material genético, por exemplo, garante a proliferação celular, tanto durante a mitose (processo de divisão celular que resulta em células descendentes geneticamente idênticas) quanto na meiose (processo de divisão celular que leva à formação de células sexuais haploides). A compreensão desse fenômeno é crucial para apreender o crescimento e desenvolvimento dos seres vivos, sendo esses mecanismos realizados por processos bioquímicos, dependentes de proteínas. Além disso, a replicação do material genético constitui um mecanismo preciso para preservar a informação genética durante a divisão celular. Falhas nesse procedimento podem ocasionar mutações, que, por sua vez, podem estar relacionadas ao surgimento de patologias genéticas e câncer. A compreensão da replicação do material genético é relevante na investigação de tratamentos contra o câncer, visto que muitas terapias buscam interromper a reprodução descontrolada das células, uma característica essencial nas células cancerosas. A manifestação dos genes, por sua vez, é o processo pelo qual a informação genética contida no material genético é empregada para a síntese de proteínas, e todo esse processo é uma dinâmica bioquímica. Essas macromoléculas são essenciais para a estrutura e função celular, desempenhando funções cruciais em processos metabólicos, sinalização e estruturais. A manifestação dos genes é de grande importância para o desenvolvimento e a especialização celular. As células do organismo humano compartilham um conjunto idêntico de genes, mas sua manifestação específica determina suas características e funções particulares. Diversas patologias têm suas raízes em modificações na manifestação dos genes, portanto, é importante saber como ocorrem os processos de duplicação do DNA (replicação) e expressão gênica. A compreensão da regulação genética pode propiciar o desenvolvimento de terapias para corrigir ou modular essas alterações, apresentando novas perspectivas para o tratamento 3 de enfermidades genéticas e outras condições. O entendimento da manifestação dos genes, do mesmo modo, é essencial para a engenharia genética, visto que possibilita a manipulação controlada de genes para variados propósitos, incluindo a produção de proteínas terapêuticas, a alteração de organismos para fins industriais e agrícolas, entre outros. Em síntese, a investigação da bioquímica celular, notadamente no que se refere à replicação do material genético e à manifestação dos genes, revela-se crucial para compreender os processos fundamentais que regem a vida, contribuindo para avanços significativos na saúde humana e na biotecnologia que irá servir a humanidade. TEMA 1 – QUAL A IMPORTÂNCIA BIOQUÍMICA DA REPLICAÇÃO DO DNA? Nas células do organismo humano, o núcleo celular possui 46 cromossomos, constituídos por material genético composto por DNA e proteínas. Nos filamentos de DNA, encontram-se os genes, que representam as unidades fundamentais da hereditariedade e contêm as instruções para a produção de proteínas. É amplamente reconhecido que as enzimas catalisam todas as reações vitais, sendo que os ácidos nucleicos orientam essas enzimas. Desse modo, é plausível afirmar que os ácidos nucleicos possuem a instrução (nos genes) para que a célula possa sintetizar as proteínas responsáveis por todas as operações celulares nos organismos vivos. Agora que temos a compreensão de que os ácidos nucleicos desempenham uma função na preservação da informação genética e na produção de proteínas, é relevante explorar a estrutura dessas moléculas: tanto o DNA quanto o RNA (Figura 1) são macromoléculas compostas por uma extensa sequência de nucleotídeos interligados, sendo que cada nucleotídeo é composto por um açúcar, um fosfato e uma base nitrogenada. Considerando que os ácidos nucleicos são polímeros, cada elemento monomérico presente nesse polímero é um nucleotídeo. Um componente nucleotídico representa a unidade primordial dos ácidos genéticos (RNA e DNA). Cada bloco nucleotídico compreende uma estrutura de açúcar (ribose no RNA ou desoxirribose no DNA) unida a um grupo fosfatado e uma base formada por nitrogênio. As bases utilizadas no DNA são: adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T). No RNA, a base uracila (U) preenche o espaço designado à timina. 4 A construção de moléculas de DNA e RNA resulta na agregação de amplas cadeias de elementos nucleotídicos. Estes, constituindo as sequências, decodificam o conteúdo informacional contido no RNA e no DNA. O ácido desoxirribonucleico (DNA, para abreviar) representa a estrutura transportadora de informações genéticas para o desenvolvimento e a operação de um organismo. O DNA consiste em duas correntes associadas que se torcem, formando um padrão semelhante a uma espiral dupla – uma configuração chamada de dupla hélice. Cada corrente possui uma espinha dorsal composta por aglomerados alternados de açúcar (desoxirribose) e fosfato. Cada açúcar está ligado a uma das quatro bases: adenina (A), citosina (C), guanina (G) ou timina (T). As duas correntes são conectadas por vínculos químicos entre as bases: adenina se conecta à timina, e citosina se conecta à guanina. A sequência das bases ao longo da espinha dorsal do DNA codifica informações biológicas, como instruções para gerar uma proteína ou molécula de RNA. Figura 1 – Comparando DNA e RNA Crédito: DiBtv/Shutterstock. TEMA 2 – A CONSTRUÇÃO BIOQUÍMICA DO DNA E DO RNA A unidade que irá construir a molécula de DNA e de RNA é o monômero nucleotídeo. Todos os nucleotídeos possuem uma estrutura-base igual entre eles, porém a base nitrogenada é que irá caracterizar cada um deles (Figura 2). Outro pequeno detalhe é o fato de a hidroxila do carbono 2 não existir no DNA, mas apenas no RNA. 5 Figura 2 – O que vai diferenciar os nucleotídeos são as bases nitrogenadas Crédito: Zizou7/Shutterstock. Se os nucleotídeos estiverem no DNA, o carbono 2 possui apenas um H, e no RNA uma OH. A adenina (A) está entre as quatro bases nucleotídicas do DNA, sendo as restantes: citosina (C), guanina (G) e timina (T). Dentro de uma molécula dupla de DNA, as bases adenina em uma sequência combinam-se com as bases de timina na sequência oposta. A disposição das quatro bases nucleotídicas codifica as orientações do DNA. A timina (T) é uma das quatro bases nucleotídicas do DNA, sendo as restantes: adenina (A), citosina (C) e guanina (G). Dentro de uma molécula de DNA dupla, as bases timina em uma sequência combinam-se com as bases adenina na sequência oposta. A sequência das quatro bases nucleotídicas codifica as orientações do DNA. A citosina (C) é uma das quatro bases nucleotídicas do DNA, sendo as outras: adenina (A), guanina (G) e timina (T). Dentro de uma molécula dupla de DNA, as bases citosina em uma sequência associam-se às bases guanina na sequência oposta. A sequência das quatro bases nucleotídicas codifica as orientações do DNA. Guanina (G) faz parte das quatro bases nucleotídicas do DNA, sendo as demais: adenina (A), citosina (C) e timina (T). Dentro de uma molécula de DNA dupla, as bases guanina em uma sequência unem-se às bases citosina na sequência oposta. A disposição das quatro bases nucleotídicas codifica as orientações do DNA. A Figura 3, a seguir, apresenta uma forma monofosfatada dos nucleotídeos e as bases nitrogenadas caracterizando os diferentes nucleotídeos do DNA. 6 Figura 3 – As bases nitrogenadas diferenciamos nucleotídeos Crédito: Ali DM/Shutterstock. Um nucleotídeo é ligado ao outro na mesma fita pela ligação fosfodiéster (Figura 4). 7 Figura 4 – A ligação entre os nucleotídeos – ligação fosfodiéster – é realizada pela enzima DNA polimerase Crédito: Jaya Bharathi A./Shutterstock. Um par de bases consiste em duas bases nucleotídicas de DNA compatíveis que se unem para formar um “degrau da escada do DNA”. O DNA é formado por duas sequências associadas que se enrolam, adotando a configuração de uma hélice dupla – um arranjo denominado dupla espiral. Cada sequência possui uma espinha dorsal composta por agrupamentos alternados de açúcar (desoxirribose) e fosfato. Cada açúcar está vinculado a uma das quatro bases: adenina (A), citosina (C), guanina (G) ou timina (T). As duas sequências permanecem conectadas por meio de ligações de hidrogênio entre pares de bases: adenina combina-se com timina, e citosina combina-se com guanina (Figura 5). 8 Figura 5 – Para montar a molécula de DNA, ocorrem duas ligações: fosfodiéster entre os nucleotídeos da mesma fita e entre as bases nitrogenadas de fitas complementares Crédito: Dee-sign/Shutterstock. Por fim, vamos falar da Uracila (U), que faz parte das quatro bases nucleotídicas do RNA e emparelha-se com a adenina. Em uma molécula de DNA, o nucleotídeo timina (T) substitui a uracila. O fato de a uracila estar presente no RNA, e não no DNA, contribui para a propensão do RNA à rápida degradação. Isso possibilita à célula alterar quais genes estão ativos, já que os RNAs mais antigos não permanecem por muito tempo (Figura 6). Figura 6 – Nucleotídeo exclusivo do RNA Uracila Crédito: A Step BioMed/Shutterstock. 9 Tudo isso está devidamente organizado no núcleo das células eucariontes juntamente com proteínas estruturais, as histonas, que começam a se organizar e formam a estrutura do cromossomo (Figura 7). Figura 7 – Como é armazenado o DNA no núcleo das células Crédito: Dee-sign/Shutterstock. TEMA 3 – COMO O DNA É DUPLICADO? A replicação ou duplicação é um trabalho proteico (enzimas específicas). A duplicação do DNA do código hereditário implica na expansão da disposição de DNA. Nesse procedimento, ocorrem a segregação das duas sequências nucleotídicas e a geração de sequências complementares. A reprodução antecede a segregação celular, mitose, acontecendo durante a fase S do ciclo celular. O processo de duplicação tem início com a desvinculação das duas tiras que compõem o código genético. Imediatamente após, há a associação dos nucleotídeos desligados no núcleo a um nucleotídeo correspondente em uma das tiras. Nesse momento, surgem duas configurações de DNA, compostas por uma tira original, pertencente à estrutura precursora, e uma tira recém-formada. Esse método é reconhecido como semiconservador. 10 Figura 8 – Replicação é um processo semiconservativo em que parte da molécula anterior faz parte da nova molécula Crédito: Designua/Shutterstock. As duas moléculas geradas serão constituídas por uma tira que pertencia à molécula precursora e por uma tira recentemente sintetizada. Devido ao fato de as novas moléculas serem formadas por uma tira “antiga” e uma “nova”, esse procedimento é chamado de semiconservador. A duplicação é orientada pela ação de certas enzimas, como a helicase, responsável por desenrolar a hélice de DNA e separar as correntes nucleotídicas. A etapa inicial da replicação envolve a separação das duas tiras que compõem a molécula de DNA, graças à atuação de enzimas, como a helicase. Isso ocorre em locais onde existem sequências específicas de nucleotídeos, denominados pontos de origem da replicação. As enzimas envolvidas nesse processo identificam esses pontos e unem-se ao DNA, gerando as chamadas forquilhas de replicação. Em células procarióticas, cujo DNA possui disposição circular, esse processo começa em um único ponto. Em células eucarióticas, como nas células humanas, ele tem início em diversos pontos. Posteriormente, as várias forquilhas 11 formadas se juntam, acelerando a replicação. O processo ocorre em ambas as direções da tira de DNA. As helicases movimentam-se ao longo das tiras de DNA, dissociando as correntes. As áreas onde as correntes se separam assumem a configuração de Y e são conhecidas como garfos de replicação. Para evitar a reunificação das correntes, as proteínas ligantes ao DNA de cadeia única (SSB) se aderem às correntes simples, mas o fazem de forma a manter as bases livres para a união dos nucleotídeos. À medida que essas uniões ocorrem e a nova tira, chamada tira complementar, é produzida, essas proteínas se desprendem do DNA. É vital recordar que, nas moléculas de DNA, as bases nitrogenadas se associam da seguinte maneira: Timina (T) – Adenina (A). A tira que será formada inicia-se com uma porção de RNA. Essa tira inicial de RNA, produzida por meio da ação da enzima primase, é denominada oligonucleotídeo inicial (primer, em inglês). O oligonucleotídeo inicial é elaborado a partir de um nucleotídeo de RNA, e posteriormente, os demais são adicionados, utilizando a tira de DNA como modelo. O oligonucleotídeo inicial completo é, então, emparelhado com a tira-modelo, e a nova tira de DNA é iniciada. O oligonucleotídeo inicial, quando completo, apresenta entre cinco e 10 nucleotídeos. A origem da produção da nova tira de DNA ocorrerá na extremidade 3' do oligonucleotídeo inicial. Enzimas, chamadas DNA-polimerases, começam a unir os nucleotídeos desligados no núcleo ao oligonucleotídeo inicial e, em seguida, adicionam os nucleotídeos complementares aos da tira-modelo. Devido à configuração do DNA, os nucleotídeos só podem ser adicionados na extremidade 3' do oligonucleotídeo inicial ou da tira de DNA que está sendo sintetizada. Dessa forma, a nova tira poderá ser prolongada apenas no sentido do lado do carbono da pentose ligado ao fosfato (carbono 5') em direção ao carbono 3' da pentose (5'→3'). À medida que o garfo vai sendo aberto, a adição de nucleotídeos em uma das tiras ocorre de maneira contínua; essa tira é denominada tira principal ou tira contínua. No entanto, para que a outra tira seja ampliada nesse sentido, a adição de nucleotídeos ocorrerá no sentido oposto ao da progressão do garfo, por meio de fragmentos, chamados de fragmentos de Okazaki (em células eucarióticas, eles possuem entre 100 e 200 nucleotídeos). Essa tira é chamada de tira 12 retardada ou tira descontínua. Ao contrário da tira principal, que requer apenas um oligonucleotídeo inicial, cada fragmento dessa tira deve ser iniciado separadamente. Ao final, a enzima DNA ligase une os fragmentos, formando uma tira única de DNA. Agora, existem duas moléculas de DNA, exatamente idênticas quanto à sequência de nucleotídeos, sendo que essas moléculas são formadas por uma tira antiga, pertencente à molécula precursora, e uma tira nova. O procedimento efetuado com duas tiras-modelo visa evitar erros de multiplicação. Quando isso ocorre, diversos mecanismos podem atuar na correção do erro. Por exemplo, quando uma base se associa erroneamente à tira, enzimas identificam o erro e substituem a base. Contudo, dependendo do tipo de erro, o ciclo celular pode ser interrompido temporária ou permanentemente, ou até mesmo a morte programada da célula, por apoptose, pode ser provocada. Figura 9 – Dinâmica da replicação ou duplicação do DNA Crédito: Dee-sign/Shutterstock. TEMA 4 – COMO A INFORMAÇÃO SAI DO DNA? O ácido ribonucleico (RNA) representa uma molécula polimérica crucial para a maioria das operações biológicas, quer seja executando a função em si (RNA não codificante) ou servindo como um modelo para a produção de proteínas (RNA mensageiro). O RNA é constituído de uma cadeia de nucleotídeos. As células empregam o RNA mensageiro (mRNA) comoforma de transmissão das informações genéticas (utilizando as bases nitrogenadas guanina, uracila, adenina e citosina, indicadas pelas letras G, U, A e C) que 13 guiam a síntese de proteínas específicas. Vários vírus codificam sua informação genética utilizando um genoma de RNA. Algumas moléculas de RNA desempenham um papel ativo nas células, catalisando reações biológicas, controlando a expressão genética ou percebendo e transmitindo respostas a sinais celulares. Um desses processos ativos é a formação de proteínas, uma função generalizada em que as moléculas de RNA direcionam a síntese de proteínas nos ribossomos. Esse procedimento faz uso de moléculas de RNA de transferência (tRNA ou RNA transportador) para transportar aminoácidos ao ribossomo, onde o RNA ribossômico (rRNA) então conecta os aminoácidos para criar proteínas codificadas. A síntese de RNA é intermediada pela enzima RNA Polimerase, utilizando o DNA como molde, um processo identificado como transcrição. O início da transcrição se origina na ligação da enzima a uma sequência promotora no DNA (geralmente situada “a jusante” de um gene). A dupla hélice do DNA é desenovelada pela ação da helicase da enzima. A enzima então avança ao longo da fita-modelo na direção 3' para 5', formando uma molécula de RNA complementar com o alongamento ocorrendo na direção 5' para 3'. A sequência de DNA também determina o local onde a síntese de RNA será terminada. Os RNAs iniciais transcritos frequentemente passam por modificações por enzimas após o processo de transcrição. Por exemplo, uma cauda poli(A) e um cap 5' são adicionados ao pré-mRNA eucariótico, enquanto os íntrons são removidos pelo spliceossomo. Existem também várias polimerases de RNA dependentes de RNA que usam o RNA como modelo para a produção de uma nova fita de RNA. Diversos vírus de RNA (como o poliovírus), por exemplo, utilizam esse tipo de enzima para replicar seu material genético. Além disso, a polimerase de RNA dependente de RNA participa da via de interferência do RNA em muitos organismos. 14 Figura 10 – Dinâmica da transcrição de RNA Crédito: Dee-sign/Shutterstock. O RNA transportador (tRNA) comunica informações sobre uma sequência de proteínas aos ribossomos e carrega aminoácido até os ribossomos, que são as unidades de produção de proteínas na célula. É codificado de forma que cada trinômio de nucleotídeos (um códon) corresponda a um aminoácido. Em células eucarióticas, após a transcrição do precursor de RNA mensageiro (pré-mRNA) do DNA, ele é processado para amadurecer o mRNA. Esse processo exclui os íntrons – seções não codificantes do pré-mRNA. Os íntrons são removidos do pré-mRNA por spliceossomos, que incluem vários pequenos RNAs nucleares (snRNA), ou os íntrons podem ser ribozimas que se ligam autonomamente. O RNA também pode ser alterado, com seus nucleotídeos sendo substituídos por nucleotídeos diferentes de A, C, G e U. Nos eucariotos, as modificações nos nucleotídeos do RNA são frequentemente coordenadas por pequenos RNAs nucleolares (snoRNA; 60-300 nt), encontrados no nucléolo e nos corpos de Cajal. Os snoRNAs se emparelham com enzimas e as direcionam para um ponto em um RNA, onde essas enzimas realizam a modificação do nucleotídeo. Os rRNAs e tRNAs são extensivamente modificados, mas snRNAs e mRNAs podem ser alvos de modificações de bases, assim como o RNA pode ser metilado. O mRNA é então transportado do núcleo para o citoplasma, onde se associa aos ribossomos e é traduzido em sua forma proteica correspondente com a ajuda do tRNA. Em células procarióticas, que não têm compartimentos no núcleo e no citoplasma, o mRNA pode se associar aos ribossomos enquanto está sendo transcrito do DNA. Após um período específico, a mensagem se 15 decompõe em seus nucleotídeos constituintes com a assistência de ribonucleases. O RNA de transferência (tRNA) é uma cadeia pequena de RNA composta por, aproximadamente, 80 nucleotídeos, que transfere um aminoácido específico para uma cadeia polipeptídica em crescimento no local ribossômico da síntese proteica durante a tradução. Possui sítios de ligação de aminoácidos e uma região anticódon para o reconhecimento de códons, que se associa a uma sequência específica na cadeia de RNA mensageiro por meio de ligações de hidrogênio. O RNA ribossômico (rRNA) serve como o componente catalítico dos ribossomos. O rRNA constitui a parte do ribossomo que abriga o processo de tradução. Os ribossomos eucarióticos contêm quatro moléculas distintas de rRNA: 18S, 5,8S, 28S e 5S rRNA. Três dessas moléculas de rRNA são sintetizadas no nucléolo, enquanto uma é produzida em outra localização. No citoplasma, o RNA ribossômico e as proteínas se unem para criar uma nucleoproteína denominada ribossomo. O ribossomo se associa ao mRNA e realiza a síntese de proteínas. Múltiplos ribossomos podem estar conectados a um único mRNA em qualquer instante. Quase todo o RNA encontrado em uma célula eucariótica convencional é rRNA. Figura 11 – Ribossomo realizando processo de tradução da informação do RNA para sequência de aminoácidos (síntese proteica) Crédito: Ali DM/Shutterstock. 16 TEMA 5 – PROTEÍNAS PARA O FUNCIONAMENTO CELULAR As proteínas, quando comparadas aos carboidratos e aos lipídios, realizam de fato todo o trabalho, a ação das atividades celulares. Carboidratos são importantíssimos, e lipídios também. Não existe uma célula, seja ela eucarionte ou procarionte, sem a presença de lipídios e carboidratos. Sem a participação direta deles, as células não seriam construídas (lipídios) nem haveria os ácidos nucleicos (carboidratos). Sem as proteínas não haveria o trabalho, o transporte, a quebra ou a montagem de outras moléculas que fazem da unidade celular algo ativo. Seguem alguns exemplos. • Como que uma célula recebe um sinal, uma comunicação? Existem proteínas que realizam esse trabalho de “recepção” de sinal. A membrana plasmática possui muitas proteínas com a capacidade de interpretar diferentes sinais. Essas proteínas receptoras de sinal também podem estar dentro da célula, alguns hormônios entram na célula e seus receptores são “intracelulares”. • Como ocorrem a organização e o posicionamento das organelas dentro das células? Ocorrem por intermédio do citoesqueleto, que é basicamente o conjunto de 3 tipos de feixes proteicos (microtúbulos, feixes intermediários e filamentos de actina). • Como se dão o movimento e o transporte dentro da célula? Com a formação de vesículas envolvendo esse conteúdo, que será carregado por proteínas motoras por meio dos microtúbulos. Ou não precisa ser criada uma vesícula (isso depende do que será transportado), e essa proteína motora se liga e levará até o destino “por meio dos microtúbulos”. As coisas não voam nem ficam nadando dentro da célula. E tudo isso é organizado pelas proteínas. • Como o DNA é duplicado? Proteínas fazem esse trabalho. • Como ocorre a síntese de RNA? Proteína RNA Polimerase. • Como as reações metabólicas aqui estudadas acontecem? Proteínas realizam o reconhecimento de uma molécula e modificam, são as enzimas. O trabalho das enzimas garante as atividades aqui estudadas. • Como que uma célula permite a entrada ou saída de moléculas ou íons da célula? Proteínas na membrana. 17 Sempre que existir a necessidade de energia (calor) para permitir o trabalho proteico, uma molécula de ATP deverá ser quebrada para liberar esse calor e permitir a realização do trabalho por parte da proteína. Ao longo do nosso estudo, vocês viram a importância de a célula produzir bastante ATP, mas será esta a única forma de viabilizar a vida? 5.1 Diferentes formas de produção de energia a partir de diferentes fontes O que estudamos até aqui diz respeito ao metabolismo de células animais. Para os cursos da área da saúde, esses ensinamentosbioquímicos são essenciais para o desenvolvimento dos futuros profissionais. No entanto, essas vias não são as únicas, pois existem outras fontes e formas de realização do metabolismo. É viável categorizar os seres vivos de acordo com a maneira pela qual adquirem a energia e o carbono essenciais para a síntese do material celular. Eles se dividem em duas amplas categorias conforme as fontes de energia: aqueles que são fotossintetizantes, captando e utilizando a luz solar, e os que são quimiossintetizantes, que obtêm sua energia pela oxidação de um combustível químico. Combustível químico? Carboidrato ou ácido graxo, conforme vimos em nosso estudo, porém esses combustíveis foram produzidos por outros organismos. Obtemos eles pela alimentação, uma vez que não conseguimos produzir nosso próprio alimento celularmente como as plantas, por exemplo, pois somos heterotróficos. No entanto, esses não são os únicos. Alguns seres quimiossintetizantes oxidam combustíveis inorgânicos, como SO4, NO2 a NO3 a Fe2. Tanto os fotossintetizantes quanto os quimiossintetizantes podem ser subdivididos com base na capacidade de sintetizar todas suas biomoléculas diretamente a partir do CO2 (autotróficos) ou na necessidade de nutrientes orgânicos formados por outros organismos (heterotróficos). A descrição do modo de nutrição de um organismo pode ser feita pela combinação desses termos. Por exemplo, cianobactérias são fotoautotróficas, enquanto seres humanos são quimio-heterotróficos. Distinções mais sutis podem ser estabelecidas, visto que muitos organismos podem obter energia e carbono de mais de uma fonte em diferentes condições ambientais ou estágios de desenvolvimento. 18 NA PRÁTICA Dicas para estudar Bioquímica: • estabeleça uma dinâmica de interação entre os elementos, desenhando a célula ou o tecido e posicionando os elementos envolvidos; • identifique as interações entre os elementos, compreendendo quem interage com quem, os produtos gerados e as consequências; • crie uma “sequência de eventos” visualmente compreensível, destacando o início, as reações e o fim com o produto desejado ou sua eliminação; • priorize a compreensão da dinâmica de interações antes de se preocupar com os nomes complicados, memorizando-os posteriormente. Utilize exemplos dados pelo professor em videoaulas como referência para seus estudos. FINALIZANDO As vias e atividades metabólicas estudadas não representam uma forma única de atividade celular. Você deve aprofundar seus estudos em bioquímica com a leitura dos livros. Este estudo apresentou os conceitos dos principais livros de bioquímica, porém há muito mais a ser visto. Lembre-se de o que determinará que você seja um bom profissional na área da saúde é o quanto que você irá estudar, se aprofundar e se esforçar ao longo dos anos para entender com os professores e campos de estágio como aplicar isso profissionalmente. Achar que apenas este material e as videoaulas sejam suficientes para sua formação é pensar pequeno. Pense grande! Bons estudos e boa sorte! 19 REFERÊNCIAS ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. LAURALEE, S. Fisiologia humana: das células aos sistemas. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. NELSON, D. D.; COX M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 7. ed. São Paulo: Sarvier, 2019. CONVERSA INICIAL Enquanto isso no núcleo celular... TEMA 1 – QUAL A IMPORTÂNCIA BIOQUÍMICA DA REPLICAÇÃO DO DNA? TEMA 2 – A CONSTRUÇÃO BIOQUÍMICA DO DNA E DO RNA TEMA 3 – COMO O DNA É DUPLICADO? TEMA 4 – COMO A INFORMAÇÃO SAI DO DNA? TEMA 5 – PROTEÍNAS PARA O FUNCIONAMENTO CELULAR Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS