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02_Conhecimento - A ideologia

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Filosofia e Ética
Conhecimento – A ideologia e consciência mítica
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Conhecimento - A ideologia
Senso comum e bom senso:
Senso comum é o conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados ao qual acrescentamos nossas experiências de vida;
Não é refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos;
É um conhecimento ingênuo (não crítico), fragmentário (porque assistemático) e conservador (resistente a mudanças);
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Conhecimento - A ideologia
É importante como primeiro nível de conhecimento, porém, precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente;
Em outras palavras, o senso comum precisa ser transformado em bom senso (elaboração coerente do saber);
Renunciamos ao exercício do bom senso quando nos submetemos ao poder dos tecnocratas, seduzidos pelo “saber do especialista”; 
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Conhecimento - A ideologia
Todos têm o direito, por exemplo, de informar-se ativamente a respeito do tratamento médico a que se acha submetido;
Qualquer individuo, se não foi ferido em sua liberdade e dignidade, será capaz de elaborar criticamente o próprio pensamento e de analisar a situação em que vive. É nesse aspecto que o bom senso se aproxima da filosofia, da filosofia de vida;
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Conhecimento - A ideologia
2. Ideologia:
Em sentido amplo, é o conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão;
A ideologia de um pensador, é a doutrina, o corpo sistemático de idéias e o seu posicionamento interpretativo diante de certos fatos;
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Conhecimento - A ideologia
 A ideologia é apresentada com as seguintes características fundamentais:
Constitui um corpo sistemático de representações que nos “ensinam” a pensar e de normas que nos “ensinam” a agir;
Assegura determinada relação dos indivíduos entre si e com suas condições de existência, adaptando-os às tarefas prefixadas pela sociedade;
As diferenças de classe e os conflitos sociais são camuflados, ora com a descrição da “sociedade uma e harmônica”, ora com a justificação das diferenças existentes;
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Conhecimento - A ideologia
4. Assegura a coesão social e aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade de Deus” ou do “dever moral” ou simplesmente como decorrência da “ordem natural das coisas”;
Mantém a manutenção de uma classe sobre outra.
É importante observar que a ideologia não é uma mentira que os indivíduos da classe dominante inventam para subjugar a classe dominada, porque também os que se beneficiam dos privilégios sofrem influência da ideologia. São consideradas naturais situações que na verdade resultam da ação humana.
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Conhecimento - A ideologia
Outros espaços de ação ideológica:
A ideologia se faz presente nos mais diversos campos de atuação. Um deles é a propaganda. Vivemos em uma época de consumismo explícito, em que as pessoas são levadas a comprar muito mais do que necessitam pressionadas por desejos artificialmente estimulados;
A propaganda não vende apenas produtos, mas também idéias. Compramos o “sonho americano”, o desejo de “subir na vida”, os estilos de vida, as convicções políticas e éticas que ali são veiculadas;
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Conhecimento - A ideologia
O impacto do “mundo dos produtos” em nossas vidas tem se acelerado, na medida em que vem se acentuando o processo de globalização modelando uma cultura calcada na produção e no consumo;
Essa padronização na produção, que torna o mundo cada vez mais idêntico, corresponde um esforço de propaganda para tingir o público em todos os lugares.
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Conhecimento - A ideologia
Outro espaço possível de ação da ideologia é o da mídia, pela qual tomamos conhecimento do noticiário;
É preciso lembrar que quando temos acesso a uma notícia já estamos diante de uma escolha que fizeram por nós, porque outros acontecimentos são descartados como não tão importantes (ou convenientes) para serem divulgados.
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Conhecimento - A ideologia
A diferença entre a informação ideológica e a não-ideológica é que a primeira impede o pluralismo, veicula interesses e se transforma em instrumento de poder;
Já a informação não-ideológica está aberta à discussão e dispõe de espaços para opiniões diversificadas. 
Nas maioria das histórias em quadrinhos a sociedade aparece como uma ordem estática e harmônica e a “ordem natural” do mundo é quebrada apenas pelos vilões;
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Conhecimento - A ideologia
Os produtos culturais, os bens e os serviços à nossa disposição, as instituições como escolas, hospitais, fábricas, centros de cultura, imprensa etc., podem ser um forma de alienação do mundo real ao nos passarem a ilusão de que as desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais são naturais e que não nos caberia mudá-las;
Mas também podem ser instrumentos para aguçar a sensibilidade, para desenvolver a capacidade de aprender, refletir e mudar.
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Conhecimento – A Consciência mítica
A perspectiva dos “civilizados”:
Segundo o etnólogo francês Pierre Clastres, se explicamos esses povos pelo que lhes falta, tendo como ponto de referência a nossa sociedade, deixamos de compreender a sua realidade;
Por isso passamos a ter para com eles uma atitude paternalista e missionária de “levar o progresso, a cultura e a verdadeira fé” ao povo “atrasado.
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Conhecimento – A Consciência mítica
O mito entre os “primitivos”:
Entre os povos indígenas, habitantes das terras brasileiras, encontramos várias versões sobre a origem do dia e da noite;
Os gregos dos tempos homéricos narram o mito de Pandora que deixa escapar todos os males da humanidade;
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Conhecimento – A Consciência mítica
São dois relatos com situações diferentes mas com fortes semelhanças, porque ambos contam a origem de algo;
O mito, como processo de compreensão da realidade não é lenda, mas verdade;
A verdade do mito, porém, é intuída, e, como tal, não necessita de comprovações, porque o critério de adesão do mito é a crença, fé;
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Conhecimento – A Consciência mítica
O mito é portanto uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam nas emoções e na afetividade;
Nesse sentido, o mito, antes de interpretar o mundo, interpreta o que desejamos ou tememos;
Este “falar sobre o mundo” simbolizado pelo mito está impregnado do desejo humano de dominá-lo, afugentando a insegurança, os temores e angústia diante do desconhecido e da morte;
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Conhecimento – A Consciência mítica
Funções do mito:
Embora o mito também seja uma forma de compreensão da realidade, sua função é, primordialmente, acomodar e tranqüilizar o ser humano em um mundo assustador;
Uma das funções do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos. Assim, os “primitivos” imitam os gestos exemplares dos deuses, repetindo nos rituais as ações deles;
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Conhecimento – A Consciência mítica
O “primitivo” e a consciência de si:
A consciência mítica é ingênua (no sentido de não-crítica), e supõe a aceitação tácita dos mitos e das prescrições dos rituais;
No universo cuja consciência é coletiva, a transgressão da norma ultrapassa quem a violou. Estigmatiza a família, os amigos e, as vezes, toda a tribo. Daí os “ritos de purificação” e os rituais do “bode expiatório”;
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Conhecimento – A Consciência mítica
Mito e religião:
Em todo o curso de sua história a religião apresenta ligações a elementos míticos e repassadas deles;
Pode-se distinguir três fases na formação dos conceitos de deuses:
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Conhecimento – A Consciência mítica
A primeira fase é caracterizada pela multiplicidade de deuses momentâneos. 
Esses deuses não representam nem forças da natureza nem aspectos especiais da vida humana. Às vezes, trata-se de um conteúdo mental, como a Alegria, a Decisão, a Inteligência etc.
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Conhecimento – A Consciência mítica
Na segunda fase, há a descoberta do sentimento
da individualidade do divino, dos elementos pessoais do sagrado. Essa etapa coincide com a maior complexidade da ação humana, caracterizada pela divisão do trabalho.
Cada ato, por mais especializado que seja, adquire significado religioso: entre os gregos Demeter preside o ritmo das estações e das colheitas; Afrodite regula o amor; e assim por diante. 
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Conhecimento – A Consciência mítica
O caráter existencial do mito conduz à prática de rituais mágicos, e a fé na magia constitui o despertar da confiança em si mesmo;
O ser humano não se sente mais à mercê das forças naturais e sobrenaturais e desempenha o seu papel, convicto de que no mundo natural tudo depende, em parte, dos seus atos. Por exemplo, os ritos mágicos da fertilidade, sem os quais se acreditava que nem a terra frutificaria nem a mulher conceberia;
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Conhecimento – A Consciência mítica
A terceira fase caracteriza-se pelo aparecimento do deus pessoal, fruto do processo histórico que inclui o desenvolvimento lingüístico.
O deus pessoal caracteriza-se por ser capaz de sofrer e agir como as pessoas; 
Como desenvolvimento da terceira fase, surgem as religiões monoteístas, que privilegiam as forças morais do indivíduo e se concentram no problema do bem e do mal;
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Conhecimento – A Consciência mítica
A interpretação da natureza adquire um caráter mais racional, e não predominantemente emocional;
O divino deixa de ser concebido pelos poderes mágicos e passa a ser enfocado pelo poder de justiça;
“O sentido ético substituiu e suplantou o sentido mágico. A vida inteira do homem se converte numa luta constante pelo amor da justiça” (Cassirer);
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Conhecimento – A Consciência mítica
O mito hoje:
Com o advento da escrita a humanidade deixa de ser ingênua, não-crítica. 
A nova forma de compreensão do mundo dessacraliza o pensamento e a ação, isto é, retira dele o caráter de sobrenaturalidade, fazendo surgir a filosofia, a ciência, a técnica.
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Conhecimento – A Consciência mítica
O desenvolvimento do pensamento reflexivo decretou a morte da consciência mítica?
August Comte, filósofo francês do século XIX, fundador do positivismo, diz que sim;
Porém, ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo faz nascer o mito do cientificismo, ou seja, a crença na ciência como única forma de saber possível;
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Conhecimento – A Consciência mítica
Ora, sabe-se que o mito é o ponto de partida para compreensão do ser, logo, o positivismo torna-se reducionista;
Em outras palavras, tudo que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão;
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Conhecimento – A Consciência mítica
O mito é nossa primeira leitura do mundo;
A função fabulador persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas: casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte;
Não por acaso, os psicanalistas aproveitam a riqueza do mito e descobrem nele as raízes do desejo humano. A pedra angular da psicanálise se encontra na interpretação feita por Freud do mito de Édipo.
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Conhecimento – A Consciência mítica
O mesmo sucede com personalidades como artistas, políticos, esportistas que os meios de comunicação se incumbem de transformar em imagens exemplares;
Isto, no imaginário das pessoas, representam todo tipo de anseios: sucesso, poder, liderança, atração sexual etc.
Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo exprime o arquétipo da luta entre o bem e o mal.
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Conhecimento – A Consciência mítica
No campo da política, quando alguém diz que o socialismo é um mito, pode estar dizendo que se trata de algo inatingível;
Porém, outros verão positivamente o mito do socialismo como utopia, o lugar do “ainda - não”, cuja força mobiliza a construção daquilo que um dia poderá “vir-a-ser”.
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Conhecimento – A Consciência mítica
O nosso comportamento também é permeado de “rituais”, mesmo que secularizados: as comemorações de nascimentos, casamentos, aniversários etc.
Examinando as manifestações coletivas no cotidiano do brasileiro, descobrimos componentes míticos no carnaval e no futebol, ambos como manifestações delirantes do imaginário nacional e da expansão de forças inconscientes.
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Conhecimento – A Consciência mítica
Conclusão:
O mito não resulta de delírio nem se reduz a simples mentira, mas faz parte da nossa vida cotidiana, como uma das formas indispensáveis do existir humano;
Mito e razão se complementam mutuamente. O aprimoramento da reflexão, que propicia o exercício da crítica racional, permite a rejeição dos mitos prejudiciais, legitimando alguns e negando aqueles que podem levar à desumanização;
O mito propõe, mas cabe à consciência dispor. Nossa época conheceu o horror, do desencadeamento dos mitos do poder e da raça, quando o fascínio se exercia sem controle (Gusdorf).

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