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DIREITOS REPRODUTIVOS COMO DIREITOS HUMANOS Flavia Piovesan Professora doutora da Faculdade de Direito da PUC/SP de Direitos Humanos e Direito Constitucional Membro do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher Visiting fellow do Human Rights Programs da Harvard Law School (1995 e 2000) Procuradora do Estado de São Paulo Sumário 1. Introdução. 2. O que são direitos humanos? Qual é a concepção contemporânea de direitos humanos. 3. Como relacionar os direitos humanos com os direitos reprodutivos? 4. Como compreender os direitos reprodutivos sob a perspectiva dos direitos humanos? Quais são os principais desafios e perspectivas? 5. Bibliografia. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é enfocar os direitos reprodutivos como direitos humanos. Serão destacadas três indagações centrais a esta reflexão: 1) O que são direitos humanos? Qual é a concepção contemporânea de direitos humanos?; 2) Como relacionar os direitos humanos com os direitos reprodutivos? e 3) Como compreender os direitos reprodutivos sob a perspectiva dos direitos humanos? Quais são os principais desafios e perspectivas? 2. O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS? QUAL É A CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE DIREITOS HUMANOS? No dizer de Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução1. Considerando a historicidade destes direitos, pode-se afirmar que a 1Cf.ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Trad. de Roberto Raposo, Rio de Janeiro, 1979. A respeito, ver também: LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p.134. No mesmo sentido, afirma Ignacy Sachs: “Não se insistirá nunca o bastante sobre o fato de que a ascensão dos direitos é fruto de lutas, que os direitos são conquistados, às vezes, com barricadas, em um processo histórico cheio de vicissitudes, por meio do qual as necessidades e as aspirações se articulam em reivindicações e em estandartes de luta antes de serem reconhecidos como direitos”. (SACHS, Ignacy. Desenvolvimento, Direitos Humanos e Cidadania. In: Direitos Humanos no Século XXI, 1998, p.156). Para Allan Rosas: “O conceito de direitos humanos é sempre progressivo. (…) O debate a respeito do que são os direitos humanos e como devem ser definidos é parte e parcela de nossa história, de nosso passado e de nosso presente.” (ROSAS, Allan. So-Called Rights of the Third Generation. In: Asbjorn Eide; Catarina Krause; e Allan Rosas. Economic, Social and Cultural Rights, Boston e Londres: Martinus Nijhoff Publishers, 1995, p. 243). definição de direitos humanos aponta a uma pluralidade de significados. Tendo em vista tal pluralidade, destaca-se, neste estudo, a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, que veio a ser introduzida com o advento da Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. Esta concepção é fruto do movimento de internacionalização dos direitos humanos, que constitui um movimento extremamente recente na história, surgindo, a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a campos de concentração, com a morte de 11 milhões, sendo 6 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais, ciganos,… O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça – a raça pura ariana. No dizer de Ignacy Sachs, o século XX foi marcado por duas guerras mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto político e industrial2. É neste cenário que se desenha o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea. Se a 2a Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o Pós- Guerra deveria significar a sua reconstrução. Neste sentido, em 10 de dezembro de 1948, é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como marco maior do processo de reconstrução dos direitos humanos. Introduz ela a concepção contemporânea de direitos humanos, caracterizada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos. Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade de direitos. Indivisibilidade porque a garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são. Os direitos humanos compõem assim uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais. Ao examinar a indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos, leciona Hector Gros Espiell: “Só o reconhecimento integral de todos estes direitos pode assegurar a existência real de cada um deles, já que sem a efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais. Inversamente, sem a realidade dos direitos civis e políticos, sem a efetividade da liberdade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem, por sua vez, de verdadeira significação. Esta idéia da necessária integralidade, interdependência e indivisibilidade quanto ao conceito e à realidade do conteúdo dos direitos humanos, que de certa forma está implícita na Carta das Nações Unidas, se compila, se amplia e se sistematiza em 1948, na Declaração Universal de Direitos Humanos, e se reafirma definitivamente nos Pactos Universais de Direitos Humanos, aprovados pela Assembléia Geral em 1966, e em vigência desde 1976, na Proclamação de Teerã de 1968 e na Resolução da Assembléia Geral, adotada em 16 de dezembro de 1977, sobre os critérios e meios para melhorar o gozo 2Cf.SACHS, Ignacy. O Desenvolvimento enquanto apropriaçao dos direitos humanos. In: Estudos Avançados 12, (33), 1998, p.149. efetivo dos direitos e das liberdades fundamentais (Resolução n. 32/130)”.3 A Declaração Universal de 1948, na qualidade de marco maior do movimento de internacionalização dos direitos humanos, fomentou a conversão destes direitos em tema de legítimo interesse da comunidade internacional. Como observa Kathryn Sikkink: “O Direito Internacional dos Direitos Humanos pressupõe como legítima e necessária a preocupação de atores estatais e não estatais a respeito do modo pelo qual os habitantes de outros Estados são tratados. A rede de proteção dos direitos humanos internacionais busca redefinir o que é matéria de exclusiva jurisdição doméstica dos Estados.”4 Fortalece-se, assim, a idéia de que a proteção dos direitos humanos não deve se reduzir ao domínio reservado do Estado, isto é, não se deve restringir à competência nacional exclusiva ou à jurisdição doméstica exclusiva, porque revela tema de legítimo interesse internacional. Por sua vez, esta concepção inovadora aponta a duas importantes conseqüências: 1a) a revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado, que passa a sofrer um processo de relativização, na medida em que são admitidas intervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos humanos; isto é, permitem-se formasde monitoramento e responsabilização internacional, quando os direitos humanos forem violados;5 2a) a cristalização da idéia de que o indivíduo deve ter direitos protegidos na esfera internacional, na condição de sujeito de Direito. Prenuncia-se, deste modo, o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, decorrência de sua soberania. O processo de universalização dos direitos humanos permitiu, por sua vez, a formação de um sistema normativo internacional de proteção destes direitos. Na lição de André Gonçalves Pereira e Fausto de Quadros: 3ESPIELL, Hector Gros. Los derechos económicos, sociales y culturales en el sistema interamericano. San José: Libro Libre, 1986, p. 16-17. 4SIKKINK, Kathryn. Human Rights, Principled issue-networks, and Sovereignty in Latin America. In: International Organizations. Massachusetts: IO Foundation e Massachusetts Institute of Technology, 1993, p.413. Acrescenta a mesma autora: “Os direitos individuais básicos não são do domínio exclusivo do Estado, mas constituem uma legítima preocupação da comunidade internacional.” (op. cit. p. 441). 5Destaque-se a afirmação do Secretário Geral das Nações Unidas, no final de 1992: “Ainda que o respeito pela soberania e integridade do Estado seja uma questão central, é inegável que a antiga doutrina da soberania exclusiva e absoluta não mais se aplica e que esta soberania jamais foi absoluta, como era então concebida teoricamente. Uma das maiores exigências intelectuais de nosso tempo é a de repensar a questão da soberania (...). Enfatizar os direitos dos indivíduos e os direitos dos povos é uma dimensão da soberania universal, que reside em toda a humanidade e que permite aos povos um envolvimento legítimo em questões que afetam o mundo como um todo. É um movimento que, cada vez mais, encontra expressão na gradual expansão do Direito Internacional.” (BOUTROS-GHALI. Empowering the United Nations. In: Foreign Affairs, vol.89, 1992/1993, p.98-99, apud Henkin [et alii]., International Law – Cases and Materials, p.18). “Em termos de Ciência Política, tratou-se apenas de transpor e adaptar ao Direito Internacional a evolução que no Direito Interno já se dera, no início do século, do Estado-Polícia para o Estado- Providência. Mas foi o suficiente para o Direito Internacional abandonar a fase clássica, como o Direito da Paz e da Guerra, para passar à era nova ou moderna da sua evolução, como Direito Internacional da Cooperação e da Solidariedade”.6 A partir da aprovação da Declaração Universal de 1948 e a partir da concepção contemporânea de direitos humanos por ela introduzida, começa a se desenvolver o Direito Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à proteção de direitos fundamentais. Como leciona Norberto Bobbio, os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declarações de Direito), para finalmente encontrarem sua plena realização como direitos positivos universais7. Em face da crescente consolidação deste positivismo universal concernente aos direitos humanos, pode-se afirmar que os tratados internacionais de proteção aos direitos humanos refletem, sobretudo, a consciência ética contemporânea compartilhada pelos Estados, na medida em que invocam o consenso internacional acerca de temas como os direitos civis e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais, a proibição da tortura, o combate à discriminação racial, a eliminação da discriminação contra a mulher e a proteção aos direitos da criança, dentre outros temas. Neste sentido, cabe destacar que, até junho de 2000, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos contava com 144 Estados-partes; o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais contava com 142 Estados-partes; a Convenção contra a Tortura contava com 119 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação Racial contava com 155 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher contava com 165 Estados-partes e a Convenção sobre os Direitos da Criança apresentava a mais ampla adesão, com 191 Estados-partes8. O elevado número de Estados-partes destes tratados simboliza o grau de consenso internacional a respeito de temas centrais voltados aos direitos humanos. A concepção contemporânea de direitos humanos caracteriza-se pelos processos de universalização e internacionalização destes direitos, compreendidos sob o prisma de sua indivisibilidade9. Ressalte-se que a Declaração de Direitos Humanos de 6PEREIRA, André Gonçalves; QUADROS, Fausto. Manual de Direito Internacional Público. 3aed., Coimbra: Livraria Almedina, 1993, p.661. Acrescentam os autores: “As novas matérias que o Direito Internacional tem vindo a absorver, nas condições referidas, são de índole variada: política, econômica, social, cultural, científica, técnica, etc. Mas dentre elas o livro mostrou que há que se destacar três: a proteção e a garantia dos Direitos do Homem, o desenvolvimento e a integração econômica e política". (op. cit. p.661). Na visão de Hector Fix-Zamudio: “(...) o estabelecimento de organismos internacionais de tutela dos direitos humanos, que o destacado tratadista italiano Mauro Cappelleti tem qualificado como jurisdição constitucional transnacional, enquanto controle judicial da constitucionalidade das disposições legislativas e de atos concretos de autoridade, tem alcançado o Direito interno, particularmente a esfera dos direitos humanos e tem se projetado no âmbito internacional e inclusive comunitário.” (Proteccion Juridica de los Derechos Humanos, México, Comision Nacional de Derechos Humanos, 1991, p.184) 7Cf.BOBBIO, Norberto. Era dos Direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Campus, 1988, p.30. 8A respeito, consultar Human Development Report 2000, UNDP, New York/Oxford, Oxford University Press, 2000, p.51. 9Note-se que a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher e a Convenção sobre os Direitos da Criança contemplam não apenas direitos civis e políticos, mas também direitos sociais, econômicos e culturais, o que vem a endossar a idéia da indivisibilidade dos direitos humanos. Viena, de 1993, reitera a concepção da Declaração de 1948, quando, em seu parágrafo 5o, afirma: “Todos os direitos humanos são universais, interdependentes e inter- relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase.” Logo, a Declaração de Viena de 1993, subscrita por 171 Estados, endossa a universalidade e a indivisibilidade dos direitos humanos, revigorando o lastro de legitimidade da chamada concepção contemporânea de direitos humanos, introduzida pela Declaração de 1948. Note-se que, enquanto consenso do “pós Guerra”, a Declaração de 1948 foi adotada por 48 Estados, com 8 abstenções. Assim, a Declaração de Viena de 1993 estende, renova e amplia o consenso sobre a universalidade e indivisibilidade dos direitos humanos. Acrescente-se ainda que a Declaração de Direitos Humanos de Viena, em seu parágrafo 18, afirma que os direitos humanos das mulheres e das meninas são parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais. Esta concepção foi reiterada pela Plataforma de Ação de Pequim, de 1995. Feitas essas considerações a respeito do alcance da concepção contemporânea de direitos humanos, passa-se à reflexão do modo pelo qual se relaciona com os direitos reprodutivos.3. COMO RELACIONAR OS DIREITOS HUMANOS COM OS DIREITOS REPRODUTIVOS? Para responder a esta questão, é necessário avaliar de que modo a agenda de proteção dos direitos humanos foi, gradativamente, ampliando-se e incorporando novos direitos, sob a perspectiva de gênero.10 Como já mencionado, a partir da Declaração Universal de 1948, começa a se desenvolver o Direito Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à proteção de direitos fundamentais. A primeira fase de proteção dos direitos humanos foi marcada pela tônica da proteção geral, que expressava o temor da diferença (que no nazismo havia sido orientada para o extermínio), com base na igualdade formal. A título de exemplo, basta avaliar quem é o destinatário da Declaração de 1948, bem como basta atentar para a Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio, também de 1948, que pune a lógica da intolerância pautada na destruição do “outro”, em razão de sua nacionalidade, etnia, raça ou religião. Torna-se, contudo, insuficiente tratar o indivíduo de forma genérica, geral e abstrata. Faz-se necessária a especificação do sujeito de direito, que passa a ser visto em sua peculiaridade e particularidade. Nesta ótica, determinados sujeitos de direitos, ou determinadas violações de direitos, exigem uma resposta específica e diferenciada. Transita-se do paradigma do homem, ocidental, adulto, heterossexual e dono de um patrimônio para a visibilidade de novos sujeitos de direitos. 10Gênero, aqui, concebido como uma relação entre sujeitos socialmente construídos em determinados contextos históricos, atravessando e construindo a identidade de homens e mulheres. O gênero é também um dos pilares fundantes das relações sociais, pois regula as relações homem-mulher, homem-homem e mulher-mulher. Socialmente construído, o gênero corporifica a sexualidade (não o inverso), que é exercida como uma forma de poder. Logo, as relações de gênero são atravessadas pelo poder e a sexualidade, portanto, é o ponto de apoio da desigualdade de gênero.(Saffioti e Almeida, 1995). Neste cenário as mulheres devem ser vistas nas especificidades e peculiaridades de sua condição social. Ao lado do direito à igualdade, surge, também, como direito fundamental, o direito à diferença. Importa o respeito à diferença e à diversidade, o que lhes assegura um tratamento especial. Firma-se, assim, no âmbito do sistema global, a coexistência dos sistemas geral e especial de proteção dos direitos humanos, como sistemas de proteção complementares. O sistema especial de proteção realça o processo da especificação do sujeito de direito, no qual o sujeito passa a ser visto em sua especificidade e concreticidade (ex: protege-se as mulheres, as crianças, os grupos étnicos minoritários, os povos indígenas, os refugiados...). Já o sistema geral de proteção (ex: Pactos da ONU de 1966) tem por endereçado toda e qualquer pessoa, concebida em sua abstração e generalidade. Os sistemas geral e especial não são dicotômicos, mas complementares. Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal, compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos, no plano internacional. Ante este complexo universo de instrumentos internacionais, cabe ao indivíduo, que sofreu violação de direito, a escolha do aparato mais favorável, tendo em vista que, eventualmente, direitos idênticos são tutelados por dois ou mais instrumentos de alcance global ou regional, ou ainda, de alcance geral ou especial. Nesta ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. É neste cenário que as Nações Unidas aprovam, em 1979, a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher. A Convenção conta hoje com 165 Estados-partes, o que inclui o Brasil, que a ratificou em 1984. Foi resultado de reivindicação do movimento de mulheres, a partir da primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada no México, em 1975. A Convenção se fundamenta na dupla obrigação de eliminar a discriminação e de assegurar a igualdade. Logo, a Convenção consagra duas vertentes diversas: a) a vertente repressiva-punitiva (proibição da discriminação) e b) a vertente positiva-promocional (promoção da igualdade). A Convenção objetiva não só erradicar a discriminação contra a mulher e suas causas, como também estimular estratégias de promoção da igualdade. Combina a proibição da discriminação com políticas compensatórias que acelerem a igualdade enquanto processo, mediante a adoção de medidas afirmativas, enquanto medidas especiais e temporárias voltadas a aliviar e remediar o padrão discriminatório que alcança as mulheres. Isto é, para garantir a igualdade não basta apenas proibir a discriminação, mediante legislação repressiva. São essenciais estratégias capazes de incentivar a inserção e inclusão social de grupos historicamente vulneráveis. Alia-se à vertente repressiva-punitiva a vertente positiva- promocional. Para a Convenção, a discriminação contra a mulher significa “toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo, exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.” (art.1º). Isto é, a discriminação significa toda distinção, exclusão, restrição ou preferência que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Dentre suas previsões, a Convenção consagra a urgência em se erradicar todas as formas de discriminação contra as mulheres, a fim de que se garanta o pleno exercício de seus direitos civis e políticos, como também de seus direitos sociais, econômicos e culturais. Acolhe-se, assim, a tônica da Declaração Universal, com relação à indivisibilidade dos direitos humanos. Ao ratificar a Convenção, os Estados- partes assumem o compromisso de, progressivamente, eliminar todas as formas de discriminação, no que tange ao gênero, assegurando efetiva igualdade entre eles. No dizer de Andrew Byrnes: “A Convenção em si mesma contém diferentes perspectivas sobre as causas de opressão contra as mulheres e as medidas necessárias para enfrentá-las. Ela impõe a obrigação de assegurar que as mulheres tenham uma igualdade formal perante a lei e ela reconhece que medidas temporárias de ação afirmativa são necessárias em muitos casos, se as garantias de igualdade formal devem se transformar em realidade. Inúmeras previsões da Convenção também incorporam uma preocupação de que os direitos reprodutivos das mulheres devem estar sob o controle delas próprias, e que o Estado deve assegurar que as escolhas das mulheres não sejam feitas sob coerção e não sejam a elas prejudiciais, no que se refere ao acesso às oportunidades sociais e econômicas. A Convenção também reconhece que há violações, às quais mulheres são submetidas, que necessitam ser eliminadas (como estupro, assédio sexual, exploração sexual e outras formas de violência contra as mulheres). Em suma, a Convenção reflete a visão de que as mulheres são titulares de todos os direitos e oportunidades que os homens podem exercer; adicionalmente, as habilidades e necessidades que decorrem de diferenças biológicas entre os gêneros devem também ser reconhecidas e ajustadas, mas sem eliminar da titularidade das mulheres a igualdade de direitos e oportunidades.”11 Dentre suas previsões, o artigo 12 da Convenção determina que “Os Estados-partesadotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher nas esfera dos cuidados médicos, a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços médicos, inclusive referentes ao planejamento familiar”. Para ilustrar, cabe citar, como exemplo da discriminação contra a mulher no campo da saúde, estudo de Amartya Sen, “Missing women”, que evidencia como a omissão de políticas públicas na área da saúde, endereçadas às mulheres, resultou na morte evitável de milhões de mulheres. Isto significa que pertencer ao gênero feminino interfere no modo pelo qual os direitos humanos são exercidos, respeitados ou violados. A respeito, merece destaque a problemática da mortalidade materna como violação aos direitos humanos (direito à maternidade segura), considerando que é um dos fatores de mortalidade mais evitáveis e preveníveis – estima-se que 98% dos óbitos maternos que ocorrem no Brasil sejam evitáveis12. 11BYRNES, Andrew. The "other" human rights treaty body: the work of the Committee on the Elimination of Discrimination against Women. In: Yale Journal of International Law, v. 14, 1989, p. 1. 12A taxa de mortalidade materna no Brasil é cerca de 110 mortes por 100.000, contra 3,6 no Canadá. Conforme conclusões da CPI da Mortalidade Materna, o Brasil apresenta um índice de mortalidade materna de cerca de 10 a 20 vezes da considerada aceitável. Observe-se que a distribuição do óbito materno não é homogênea no país, sendo mais alta na região Norte, e mais baixa na região Sudeste. O aborto é a terceira causa de óbito materno no país como um todo. Estudo realizado em 15 municípios do país apontam a eclampsia, as síndromes hemorrágicas e a cardiopatia como as principais causas de óbitos maternos nos municípios considerados. À luz do disposto no artigo 12 da Convenção, já surgem os delineamentos iniciais dos direitos reprodutivos, como direitos que exigem um duplo papel do Estado: a) eliminar a discriminação contra a mulher nas esfera da saúde (vertente repressiva/punitiva) e b) assegurar o acesso a serviços de saúde, inclusive referentes ao planejamento familiar (vertente promocional). Percebe-se aqui a semente de todo um desenvolvimento normativo posterior no tocante à construção conceitual dos direitos reprodutivos, como direitos que demandam do Estado um duplo papel (de um lado negativo, por outro positivo e promocional). Daí a complexidade dos direitos reprodutivos, que não pode ser confinada à tradicional dicotomia dos direitos civis x direitos sociais, na medida em que apresentam uma dimensão própria dos direitos civis (a não discriminação; o espaço da autonomia e da autodeterminação no exercício da sexualidade e reprodução) e dos direitos sociais (o direito à saúde, mediante a implementação de políticas públicas positivas pelo Estado). Observe-se, contudo, que embora esta Convenção signifique um grande avanço para a proteção internacional dos direitos humanos das mulheres, ela apenas apresenta como mecanismo de implementação a sistemática de relatórios. Vale dizer, cabéra aos Estados-partes enviar relatórios sobre as medidas legislativas, administrativas e judiciais adotadas para a implementação dos direitos enunciados na Convenção. Tais relatórios são encaminhados ao Comitê para Eliminação da Discriminação contra a Mulher. Ainda assim, esta foi a Convenção que mais recebeu reservas por parte dos Estados signatários.13 Diversamente da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial ou da Convenção contra a Tortura, a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher se restringe a conter a sistemática dos relatórios, não prevendo, a exemplo das mencionadas convenções, a sistemática de petição individual ou comunicação inter-estatal, nem tampouco sistemática que permita a investigação “in loco”. Tais mecanismos permitem um maior e mais eficaz monitoramento internacional do modo pelo qual o Estado-parte está implementando os direitos internacionais, que se comprometeu a respeitar. 13Trata-se do instrumento internacional que mais fortemente recebeu reservas, dentre as Convenções internacionais de Direitos Humanos, considerando que ao menos 23 dos mais de 100 Estados-partes fizeram, no total, 88 reservas substanciais. A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação da Mulher pode enfrentar o paradoxo de ter maximizado sua aplicação universal ao custo de ter comprometido sua integridade. Por vezes, a questão legal acerca das reservas feitas à Convenção atinge a essência dos valores da universalidade e integridade. A título de exemplo, quando da ratificação da Convenção, em 1984, o Estado brasileiro apresentou reservas ao artigo 15, parágrafo 4º e ao artigo 16, parágrafo 1º (a), (c), (g), e (h), da Convenção. O artigo 15 assegura a homens e mulheres o direito de, livremente, escolher seu domicílio e residência. Já o artigo 16 estabelece a igualdade de direitos entre homens e mulheres, no âmbito do casamento e das relações familiares. Em 20 de dezembro de 1994, o Governo brasileiro notificou o Secretário Geral das Nações Unidas acerca da eliminação das aludidas reservas. Cabe acrescentar que a Conferência de Direitos Humanos de Viena, em 1993, reafirmou a importância do reconhecimento universal do direito à igualdade relativa ao gênero, clamando pela ratificação universal da Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher. Nos termos do artigo 39 da Declaração de Viena, fica estabelecido que: "A Conferência Mundial de Direitos Humanos clama pela erradicação de todas as formas de discriminação contra a mulher, tanto explícitas como implícitas. As Nações Unidas devem encorajar a ratificação universal por todos os Estados da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher até o ano 2000. Ações e medidas para reduzir o particularmente amplo número de reservas à Convenção devem ser encorajadas. Dentre outras medidas, o Comitê de Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher deve continuar a revisão das reservas à Convenção. Estados são convidados a eliminar as reservas que sejam contrárias ao objeto e ao propósito da Convenção ou que sejam incompatíveis com os tratados internacionais." Considerando a frágil sistemática de monitoramento dos relatórios (que pode ganhar maior relevância com a adoção dos “relatórios paralelos” ou “relatório sombra”, elaborados pela sociedade civil), no sentido de aprimorar os mecanismos de monitoramento da Convenção, proclamou o Programa de Ação de Viena de 1993: “40. Os órgãos de monitoramento dos tratados devem disseminar informações necessárias que permitam às mulheres fazerem um uso mais efetivo dos procedimentos de implementação existentes, com o objetivo do pleno e equânime exercício dos direitos humanos e da não-discriminação. Novos procedimentos devem também ser adotados para fortalecer a implementação da igualdade das mulheres, bem como de seus direitos humanos. A Comissão relativa ao Status da Mulher e o Comitê de Eliminação da Discriminação contra a Mulher devem rapidamente examinar a possibilidade de introduzir o direito de petição, mediante a preparação de um Protocolo Optativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher.” Desde 1993, portanto, a comunidade internacional, refletindo reivindicação do movimento de mulheres, assumia a importância da criação do mecanismo de petição, mediante a elaboração de um Protocolo Facultativo à Convenção, na medida em que tal mecanismo constitui o sistema mais eficiente de monitoramento dos direitos humanos internacionalmente enunciados.14 Finalmente, em 1999, no 20o aniversário daConvenção, foi adotado o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher. O Protocolo institui dois mecanismos de monitoramento: a) o mecanismo da petição, que permite o encaminhamento de denúncias de violação de direitos enunciados na Convenção à apreciação do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher e b) um procedimento investigativo, que habilita o Comitê a investigar a existência de grave e sistemática violação aos direitos humanos das mulheres. Para acionar estes mecanismos de monitoramento, é necessário que o Estado tenha ratificado o Protocolo Facultativo. Note-se que o Protocolo entrou em vigor quando do depósito do 10o instrumento de ratificação, o que ocorreu em 22 de dezembro de 2000. Com o Protocolo Facultativo, potencializam-se as formas de fiscalização e monitoramento internacional dos direitos humanos das mulheres. São asseguradas garantias para a efetiva proteção a estes direitos, o que permite, ineditamente, a qualquer pessoa ou grupos de pessoas submeter casos de violação de direitos ao Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, bem como habilita o mesmo Comitê a 14A respeito da introdução da sistemática das petições individuais, afirma Theodor Meron: “Um procedimento para a consideração de petições individuais deve ser estabelecido através de um Protocolo Facultativo, ao qual os Estados-partes da Convenção poderiam aderir. Esta inovação não seria tecnicamente difícil e não haveria a necessidade de se criar órgãos adicionais para sua implementação; o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, já existente, apenas seria autorizado a acumular funções adicionais em conformidade com o Protocolo.” (MERON, Theodor. Enhancing the effectiveness of the prohibition of discrimination against women. In: American Journal of International Law, v. 84, 1990, p.213). Reitera o mesmo autor: "(...) a Convenção deve também prever um procedimento que permita o Comitê a considerar comunicações individuais, de forma similar aos procedimentos criados pelo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e pelo artigo 14 da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial." (MERON, Theodor. Human rights law-making in the United Nations: a critique of instruments and process. Oxford: Claredon Press, 1986, p. 82). deflagrar um procedimento investigativo, em situações de grave ou sistemática violação aos direitos humanos das mulheres. É, assim, revitalizada e revigorada a gramática internacional de proteção aos direitos humanos das mulheres, direitos estes que constituem parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais.15 Uma medida fundamental para a efetiva proteção dos direitos humanos das mulheres é demandar do Brasil a ratificação do Protocolo e, a partir dele, elaborar uma estratégia para a apresentação de casos de violação de direitos reprodutivos, com fundamento na violação ao artigo 12 da Convenção. O segundo tratado de fundamental importância para a proteção dos direitos humanos das mulheres não é de âmbito global, mas de âmbito regional interamericano. Trata-se da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”). É ela o primeiro instrumento internacional voltado à prevenção, erradicação e punição da violência contra a mulher. Há que se observar que a Convenção da ONU sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher não enfoca expressamente o tema da violência contra a mulher, com esta gramática (embora o padrão discriminatório seja uma forma de violência). A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher foi aprovada, no âmbito da OEA, em 1994 e ratificada pelo Brasil em 1995. A Convenção afirma que a violência contra a mulher, no âmbito público ou privado, constitui grave violação aos direitos humanos e limita total ou parcialmente o exercício dos demais direitos fundamentais. Observe-se que a violência sexual contra as mulheres e meninas, somada à pobreza e ao analfabetismo, implica a precariedade de sua vida sexual e reprodutiva, com a violação a direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas. Para a Convenção, a violência contra a mulher é definida como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública, como na privada”. Vale dizer, a violência baseada no gênero ocorre quando um ato é dirigido contra uma mulher, porque é mulher, ou quando atos afetam as mulheres de forma desproprocional. Este padrão específico de violência, que tem as mulheres como alvo preferencial, pode ser compreendido a partir de diversos estudos acerca da violência doméstica, dentre os quais destacam-se: a) pesquisa feita pela Human Rights Watch (“Injustiça Criminal x Violência contra a Mulher no Brasil”, 1993), que aponta que de cada 100 mulheres assassinadas 70 o são no âmbito de suas relações domésticas; b) pesquisa realizada pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (“Primavera já Partiu”, 1998), que demonstra que 66,3% dos acusados em homicídios contra mulheres são seus parceiros; c) dados da ONU que demonstram que a violência doméstica é a principal causa de lesões em mulheres entre 15 e 44 anos no mundo. A violência baseada no gênero, que reflete relações de poder historicamente desiguais e assimétricas entre homens e mulheres, constitui grave violação aos direitos humanos e limita o exercício dos demais direitos fundamentais de que são titulares as mulheres. Em conformidade com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), uma em cada cinco mulheres que faltam ao trabalho o fazem por terem sofrido agressões físicas. A violência doméstica agrava o processo de feminização 15Neste sentido, ver a Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993 e a Declaração e Plataforma de Ação de Pequim de 1995, ao enfatizarem que os direitos das mulheres são parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais. da probreza, na medida em que empobrece as mulheres e, por sua vez, a mulher com dependência econômica torna-se mais vulnerável à violência doméstica, o que, por seu turno, ainda agrava o empobrecimento das mulheres. Deflagra-se, assim, um perverso ciclo vicioso, em que a violação de direitos civis leva à violação de direitos sociais e vice-versa. A Convenção elenca um importante catálogo de direitos a serem assegurados às mulheres, para que tenham uma vida livre de violência, tanto na esfera pública, como na esfera privada. Consagra ainda, a Convenção, deveres aos Estados- partes, para que adotem políticas destinadas a prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher. A partir da Convenção de Belém do Pará surgem também valiosas estratégias para a proteção internacional dos direitos humanos das mulheres, merecendo destaque o mecanismo das petições à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Considerando este cenário, marcado pelo destaque a dois grandes temas relativos aos direitos humanos das mulheres – a discriminação e a violência – indaga-se: De que modo esta sistemática internacional protege os direitos reprodutivos? Reitere-se que a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, em seu artigo 12, trouxe os primeiros delineamentos internacionais acerca dos direitos reprodutivos. Estes delineamentos foram aprimorados e consolidados a partir do Plano de Ação da Conferência sobre População e Desenvolvimento do Cairo de 1994 e pela Declaração e Plataforma de Ação de Pequim de 1995. Embora não sejam tratados internacionais,mas declarações, ambos apresentam valor jurídico, na medida em que deles extraem-se princípios internacionais, que constituem importante fonte do Direito Internacional, a nortear e orientar a interpretação e a aplicação do Direito. Em 1994, na Conferência do Cairo, ineditamente 184 Estados reconheceram os direitos reprodutivos como direitos humanos. Em 1995, as Conferências internacionais de Copenhaguem e Pequim reafirmaram esta concepção. Com efeito, a Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento de 1994 estabeleceu relevantes princípios éticos concernentes aos direitos reprodutivos16, afirmando o direito a ter controle sobre as questões relativas à sexualidade e à saúde sexual e reprodutiva, assim como a decisão livre de coerção, discriminação e violência, como um direito fundamental. Nesse sentido, merece destaque o princípio 4 da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, do Cairo, de 1994: “Promover a eqüidade e a igualdade dos sexos e os direitos da mulher, eliminar todo tipo de violência contra a mulher e garantir que seja ela quem controle sua própria fecundidade são a pedra angular dos programas de população e desenvolvimento. Os direitos humanos da mulher, das meninas e jovens fazem parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais. A plena participação da mulher, em igualdade de condições na vida civil, cultural, econômica, política e social em nível nacional, regional e internacional e a erradicação de todas as formas de discriminação por razões do sexo são objetivos prioritários da comunidade internacional.” 16Note-se que o Plano de Ação do Cairo recomenda à comunidade internacional uma série de objetivos e metas, tais como: a) o crescimento econômico sustentado como marco do desenvolvimento sustentável; b) a educação, em particular das meninas; c) a igualdade entre os sexos; d) a redução da mortalidade neo- natal, infantil e materna e e) o acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva, em particular de planificação familiar e de saúde sexual. A Conferência do Cairo realça ainda que as mulheres têm o direito individual e a responsabilidade social de decidir sobre o exercício da maternidade, assim como o direito à informação e acesso aos serviços para exercer seus direitos e responsabilidades reprodutivas, enquanto que os homens têm uma responsabilidade pessoal e social, a partir de seu próprio comportamento sexual e fertilidade, pelos efeitos desse comportamento na saúde e bem-estar de suas companheiras e filhos. Como explica Leila Linhares: “No Cairo, em 1994, a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento introduziu um novo paradigma à temática do desenvolvimento populacional, deslocando a questão demográfica para o âmbito das questões relativas aos direitos reprodutivos e ao desenvolvimento. Nessa Conferência, ficou firmado o princípio que as políticas relacionadas à população devem ser orientadas pelo respeito aos direitos humanos universais e afirmou-se a necessidade dos países considerarem as grandes massas como detentoras de direitos e merecedoras de políticas públicas de combate à pobreza. A ativa participação do movimento internacional de mulheres nas fases preparatórias e durante a própria Conferência permitiram a legitimação da noção de direitos reprodutivos, apontando para a necessidade de amplos programas de saúde reprodutiva e reconhecendo o aborto como um grave problema de saúde pública. A Conferência do Cairo deu grande ênfase à necessidade de estimular a responsabilidade masculina para com a procriação e com a contracepção. Em 1995, a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Social, realizada em Copenhage, deu ênfase à necessidade de erradicação da pobreza, incluindo iniciativas destinadas a medir e a reduzir os impactos sociais do ajuste econômico, especialmente sobre as mulheres e crianças. Ainda em 1995, em Beijing, foi realizada a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, Desenvolvimento e Paz, que incorporou as agendas das Conferências de Direitos Humanos (1993), de População e Desenvolvimento (1994) e da Cúpula de Desenvolvimento Social (1995), avançando e firmando, de modo definitivo, a noção de que os direitos das mulheres são direitos humanos; a noção de saúde e direitos reprodutivos, bem como o reconhecimento de direitos sexuais, com a recomendação de que sejam revistas as legislações punitivas em relação ao aborto, considerado, tal como na Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (1994), um problema de saúde pública.”17 Sob a perspectiva de relações equitativas entre os gêneros e na ótica de direitos humanos, o conceito de direitos sexuais e reprodutivos aponta a duas vertentes diversas e complementares. De um lado, aponta a um campo da liberdade e da autodeterminação individual, o que compreende o livre exercício da sexualidade e da reprodução humana, sem discriminação, coerção e violência. Eis um terreno em que é fundamental o poder de decisão no controle da fecundidade. Consagra-se o direito de mulheres e homens tomar decisões no campo da reprodução (o que compreende o direito de decidir livre e responsavelmente acerca da reprodução, do número de filhos e do intervalo entre seus nascimentos). Trata-se de direito de auto-determinação, privacidade, intimidade, 17LINHARES, Leila. As Conferências das Nações Unidas influenciando a mudança legislativa e as decisões do Poder Judiciário. In: Seminário “Direitos Humanos: Rumo a uma jurisprudência da igualdade”, Belo Horizonte, de 14 a 17 de maio de 1998. liberdade e autonomia individual, em que se clama pela não-interferência do Estado, pela não-discriminação, pela não-coerção e não-violência (dimensão típica dos direitos civis). Por outro lado, o efetivo exercício dos direitos reprodutivos demanda políticas públicas, que assegurem a saúde sexual e reprodutiva. Nesta ótica, fundamental é o direito ao acesso a informações, meios e recursos seguros, disponíveis e acessíveis. Fundamental também é o direito ao mais elevado padrão de saúde reprodutiva e sexual, tendo em vista a saúde não como mera ausência de enfermidades e doenças, mas como a capacidade de desfrutar de uma vida sexual segura e satisfatória e reproduzir-se com a liberdade de fazê-lo ou não, quando e com que frequência. Inclui-se ainda o direito ao acesso ao progresso científico e o direito de receber educação sexual. Portanto, aqui é essencial a interferência do Estado, no sentido de que implemente políticas públicas garantidoras do direito à saúde sexual e reprodutiva (dimensão típica dos direitos sociais). A Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim de 1995 endossam esta concepção, adicionando a idéia da interdependência e indivisibilidade dos direitos humanos, ao afirmar: “na maior parte dos países, a violação aos direitos reprodutivos das mulheres limita dramaticamente suas oportunidades na vida pública e privada, suas oportunidades de acesso à educação e o pleno exercício dos demais direitos”. A privação dos direitos reprodutivos tem implicado a morte de milhões de mulheres, além de doenças e impedimentos evitáveis. Note-se que ambos os instrumentos internacionais afirmam que a temática do aborto deve ser considerada sob o prisma da saúde pública, encorajando os Estados a revisar as legislações que estabelecem medidas punitivas a tal prática.18 Há que se observar que a Carta de 1988, em seu artigo 226, parágrafo 7o, está afinada com os parâmetros internacionais, na medida em que afirma o planejamento familiar como livre decisão do casal (e dos indivíduos), cabendo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício deste direito (prestação estatal positiva,típica dos direitos sociais), vedada qualquer coerção (prestação estatal negativa, típica dos direitos civis). A Lei 9.263, de 12 de janeiro de 1996, veio a regulamentar o aludido preceito constitucional, tratando do planejamento 18Segundo o Alan Gutmacher Institute, em 1994, teriam ocorrido 1.400.000 abortos clandestinos no país. Correa e Freitas (1997), estimam a ocorrência de 728.100 abortos provocados no país para o ano de 1996. Oficialmente, o aborto figura como a quinta causa de internação hospitalar de mulheres no Sistema Único de Saúde, contribuindo com 9% dos óbitos maternos e com 25% dos casos de esterilidade por causa tubária. Outros estudos apontam a ocorrência de 37,5 abortos para cada 1000 mulheres ou 31,0 para 100 gravidezes (Costa, 1998). Vale ressaltar a implantação pelo país de serviços que realizam abortos nos casos previstos por lei. Embora o número ainda reduzido destes serviços (cerca de trinta e cinco em todo o território nacional, com estruturas variadas e diferentes graus de implantação), não permita que haja um impacto quantitativo na magnitude do problema do aborto inseguro no país, a importância política e sanitária destas iniciativas têm sido incontestáveis. A respeito, consultar “Diagnóstico sobre a situação dos direitos sexuais e reprodutivos na América Latina”, elaborado pelo CLADEM (Comitê Latino- Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) e Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, julho de 2001. Ainda em relação ao direito ao aborto, deve ser assinalada a importante e bem sucedida articulação entre feministas, sindicalistas e profissionais de saúde que conseguiram aprovar na Conferência Nacional de Saúde, instância máxima do Sistema Nacional de Saúde, uma moção de apoio à realização do aborto previsto por lei, direito constantemente ameaçado por projetos apresentados por parlamentares ligados à CNBB, que pretendem suprimir todo e qualquer direito à interrupção da gravidez. (“Diagnóstico sobre a situação dos direitos sexuais e reprodutivos na América Latina”, elaborado pelo CLADEM e Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, julho de 2001). familiar, no âmbito do atendimento global e integral à saúde.19 Em seu artigo 2º, a Lei define o planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. O parágrafo único deste artigo proíbe a utilização de tais ações para qualquer tipo de controle demográfico. 4. COMO COMPREENDER OS DIREITOS REPRODUTIVOS SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS? QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS E PERSPECTIVAS? Um primeiro desafio à proteção dos direitos reprodutivos refere-se à exigência de transpor e implementar, no plano local, os recentes avanços obtidos na esfera internacional, conferindo prevalência aos parâmetros internacionais e constitucionais para a efetiva proteção dos direitos reprodutivos, enquanto direitos nacional e internacionalmente assegurados. No Brasil, vive-se um momento de redefinição e reformulação da agenda de direitos humanos, em que são incorporados temas como os direitos econômicos, sociais e culturais, ao lado dos tradicionais direitos civis e políticos. Neste cenário, há que se incorporar os direitos reprodutivos como direitos humanos, com base nos parâmetros internacionais e constitucionais. Para tanto, faz-se ainda necessário dar maior visibilidade à construção conceitual de direitos reprodutivos, que, em sua complexidade, envolvem a concepção, 19Adicionem-se outras iniciativas relevantes adotadas para se lograr a normatização de temas afetos aos direitos sexuais e reprodutivos: a) a recente tipificação do crime de tortura no âmbito nacional, o qual pode ter implicações quanto à violência sexual contra as mulheres; b) a busca de se incluir a educação sexual nos currículos escolares, inclusive no que se refere a não discriminação de orientação sexual; c) a regulamentação do planejamento familiar na legislação infraconstitucional, conforme já mencionado; d) a regulamentação, através de lei federal, do dispositivo constitucional que reconhece a união estável como entidade familiar; e) o esforço do Executivo federal e, em alguns casos, estadual e municipal, em regulamentar procedimentos de atendimento para mulheres que sofrem violência sexual, incluindo-se os serviços de aborto legal; f) a proibição, em todo país, de exigência de atestados de gravidez e esterilização, para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho; g) a inserção de regras sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho nas leis trabalhistas, de âmbito federal; h) a crescente relevância do tema da paternidade responsável na legislação infraconstitucional, ainda que de forma incipiente; i) os projetos de lei federais referentes à reprodução assistida, assim como o Projeto de Reforma do Código Civil e o Anteprojeto de Reforma da Parte Especial do Código Penal brasileiro; j) a tipificação da conduta de submeter criança ou adolescente à prostituição ou à exploração sexual, como crime; k) as leis federais e estaduais referentes aos portadores de HIV/AIDS; l) a aprovação da Lei 9099/95, que instaurou os juizados especiais civis e criminais, estes últimos destinados aos delitos de menor potencial ofensivo, alcançando – na prática, de forma polêmica e, em nosso entender, também inadequada – os crimes de ameaça e lesão corporal praticados contra a mulher no âmbito doméstico- familiar; m) a instalação dos comitês de morte materna; n) a regulamentação dos direitos das presas a estabelecimentos adequados para amamentação de seus filhos; o) a obrigatoriedade de cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde (público), nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer; p) as portarias do Ministério da Saúde sobre tratamento de mulheres vítimas de violência sexual e de mulheres com gravidez de alto risco, e a portaria do Ministério da Educação acerca dos parâmetros curriculares e, por fim, a regulamentação e busca de implementação dos Programas Nacional, Estadual e Municipal de Direitos Humanos, com algum enfoque de gênero. Todas as medidas mencionadas revelam – com maior ou menor êxito - os esforços dos Poderes Executivo e Legislativo, bem como da sociedade civil organizada, nos últimos anos, em buscar regulamentar, de uma forma ou de outra, aspectos relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos no país. A respeito, consultar “Diagnóstico sobre a situação dos direitos sexuais e reprodutivos na América Latina”, elaborado pelo CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) e Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos, julho de 2001. o parto, a contracepção e o aborto, como elementos interligados “onde a impossibilidade de acesso a qualquer um deles remete a mulher para um lugar de submissão”20. Há que se enfrentar a cultura que, permeada por elementos de cunho cultural, moral e religioso (vide a forte influência da Igreja católica no país), resiste em aceitar os direitos reprodutivos como direitos, insistindo na idéia de deveres reprodutivos e não de direitos reprodutivos. Faz-se emergencial promover avanços normativos que incluam e garantam, efetivamente, o exercício – e não o controle – da sexualidade e reprodução, na perspectiva de gênero, em todos os âmbitos da produção legiferante no país. Neste contexto, é também fundamental identificar estratégias de proteção judicial dos direitos reprodutivos, tendo como referência, por exemplo, os avanços judiciais relacionados à proteção do direito à saúde. Cite-se, a respeito, a crescentejurisprudência afirmativa dos direitos das pessoas portadoras do vírus HIV, que contempla ganhos judiciais no tocante à não-discriminação, bem como ganhos judiciais referentes à saúde, como decisões que exigem o fornencimento de medicamentos. Cite- se ainda uma ação civil pública, recentemente ajuizada no Rio de Janeiro (agosto de 2000), que teve por objeto denunciar o alto índice de mortalidade materna em determinado hospital da rede pública de saúde, solicitando as medidas cabíveis no campo da saúde pública. Propõe-se, assim, à luz da experiência em outras áreas ligadas à saúde pública, a “judicialização” dos direitos reprodutivos, a partir de “test cases”, que invoquem a prestação jurisdicional para a proteção a estes direitos. Além de estratégias no âmbito nacional, são necessárias estratégias no plano internacional, como a campanha para ratificar o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação da Discrminação contra a Mulher, que permitirá o encaminhamento de casos ao Comitê de Eliminação da Discriminação contra a Mulher.21 No âmbito do sistema interamericano, há que se potencializar o uso da Convenção de Belém do Pará, mediante casos que denunciem a violação de direitos reprodutivos, como forma de violência contra a mulher. Além disso, a partir das Plataformas do Cairo, Copenhaguem e Pequim, há que se avaliar a proposta de elaboração de uma Convenção Interamericana de Proteção de Direitos Sexuais e Reprodutivos. Todas estas estratégias revelam a necessidade de potencializar a via internacional, como especial arena para a proteção dos direitos reprodutivos. Estas estratégias parecem fundamentais para assegurar o pleno exercício dos direitos reprodutivos como efetivos direitos humanos, que, em sua complexidade, parafraseando Ronald Dworkin, invocam “assunto de vida e morte, de grande satisfação e profundo sofrimento, de paixão e frios cálculos, de intimidade e políticas sociais.” Por fim, a efetiva implementação dos direitos sexuais e reprodutivos, sob a perspectiva dos direitos humanos, demanda uma ação político-jurídica emancipatória, criativa e transformadora que, enfrentando tabus, assegure aos indivíduos o exercício de sua sexualidade e de sua capacidade reprodutiva, com plena autonomia e dignidade.22 20ÁVILA, Maria Betânia de Melo. Modernidade e cidadania reprodutiva. In: ÁVILA, Maria Betânia de Melo; BERQUÓ, Elza. Direitos reprodutivos: uma questão de cidadania. Brasília: Centro Feminista de Estudos e Assessoria - CFEMEA, 1994. p. 9. A respeito, acrescenta a mesma autora: “Por muito tempo, as questões referentes às mulheres foram postas como pontos separados de uma agenda que privilegiava a luta pela descriminalização do aborto e o acesso à contracepção. A concepção e o exercício da maternidade eram possibilidades que, do ponto de vista moral, já estavam dadas, inclusive como prerrogativas fundamentais ou essenciais da existência das mulheres”. (op. cit., p. 9). 21Note-se que, com fundamento no artigo 12 da Convenção, será possível encaminhar casos de violaçåo a direitos reprodutivos. 22Cf.PIMENTEL, Silvia. Direitos Reprodutivos e Ordenamento Jurídico Brasileiro: subsídios a uma ação político-jurídica transformadora. In: Cadernos CCR 2, Comissão de Cidadania e Reprodução, São Paulo, 1993 (mimeo), p. 94. 5. BIBLIOGRAFIA ÁVILA, Maria Betânia de Melo. Modernidade e cidadania reprodutiva. In: ÁVILA, Maria Betânia de Melo; BERQUÓ, Elza. Direitos reprodutivos: uma questão de cidadania. Brasília: Centro Feminista de Estudos e Assessoria - CFEMEA, 1994. BOBBIO, Norberto. Era dos Direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Campus, 1988. BYRNES, Andrew. The "other" human rights treaty body: the work of the Committee on the Elimination of Discrimination against Women. In: Yale Journal of International Law, v. 14, 1989. ESPIELL, Hector Gros. Los derechos económicos, sociales y culturales en el sistema interamericano. San José: Libro Libre, 1986. LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia das Letras, 1988. LINHARES, Leila. As Conferências das Nações Unidas influenciando a mudança legislativa e as decisões do Poder Judiciário. In: Seminário “Direitos Humanos: Rumo a uma jurisprudência da igualdade”, Belo Horizonte, de 14 a 17 de maio de 1998. MERON, Theodor. Enhancing the effectiveness of the prohibition of discrimination against women. In: American Journal of International Law, v. 84, 1990. 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