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Direitos Humanos
Direitos Humanos e saúde 
mental - Curso permanente 
Damião Ximenes Lopes
Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
Conteudista/s 
Ana Raquel Torres Menezes (Conteudista, 2023).
Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO
3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sumário
Módulo 1 – Introdução ao Direito Internacional dos Direitos 
Humanos
1. Direitos humanos ................................................................................................ 6
1.1. Conceito de direitos humanos ................................................................................ 6
1.2. Histórico dos direitos humanos ............................................................................ 13
1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais ......................................................... 21
2. Dimensões dos direitos humanos .................................................................... 26
2.1. Direitos civis e políticos ........................................................................................... 27
2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais ............................................................... 30
3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de 
Direitos Humanos .................................................................................................. 36
3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .............................................. 36
3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos ..................................................................... 41
3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos ................................................... 48
3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos ............................................................... 58
3.5. Conclusão ................................................................................................................. 61
Módulo 2 – Saúde e Direitos Humanos
1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde ...................63
1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde ........ 65
1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos 
direitos humanos ............................................................................................................ 69
1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde .................... 72
2. Direito à saúde ................................................................................................... 77
2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento .................................. 77
2.2. Direito à saúde mental ........................................................................................... 87
3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde ................92
3.1. Direito à privacidade .............................................................................................. 92
3.2. Direito de não ser discriminado ............................................................................ 97
4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel, 
desumano ou degradante ............................................................................................. 99
3.4. Direito à liberdade ................................................................................................. 103
3.5. Conclusão ............................................................................................................... 107
Módulo 3 – Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados 
em saúde
1. Direitos humanos no contexto da saúde mental.........................................108
1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e 
para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU ........................... 109
1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no contexto 
da saúde mental ........................................................................................................... 121
1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 
e saúde mental .............................................................................................................. 124
1.4. Quality Rights .......................................................................................................... 131
Módulo 4 – Jurisprudência internacional sobre direitos humanos e 
saúde mental
1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de 
Direitos Humanos ................................................................................................ 141
1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU .............................................................. 141
1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos ..... 156
1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos ................. 159
1.4. Conclusão ............................................................................................................... 168
2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .......170
2.1. Caso Ximenes Lopes ............................................................................................ 170
2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental ....................................................... 179
2.3. Conclusão ............................................................................................................... 184
Referências ........................................................................................................... 185
Glossário ............................................................................................................... 196
5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Direitos Humanos e saúde mental – Curso 
permanente Damião Ximenes Lopes.
Este curso tem o objetivo de apresentar os princípios e as normas de direitos humanos 
que devem reger os cuidados em saúde das pessoas com transtorno mental, bem 
como a sua aplicação, de modo a alcançar as melhores práticas estabelecidas com 
base nos padrões internacionais sobre a matéria.
Desejamos um excelente estudo!
6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 Módulo
Introdução ao Direito Internacional 
dos Direitos Humanos1
Olá, estudante!
Neste primeiro módulo, abordaremos os conceitos de direitos humanos e sua 
perspectiva histórica e reconheceremos as dimensões dos direitos humanos, que 
englobam os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Por fim, vamos 
conhecer o Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos.
1. Direitos humanos
Compreender o conceito de direitos humanos. 
1.1. Conceito de direitos humanos 
1.1.1. O que são direitos humanos?
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os direitos 
humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres 
humanos. 
Os direitos humanos orientam o modo como os seres humanos vivem em sociedade 
e entre si, assim como a relação deles com o Estado. Além disso, esses direitos 
determinam obrigações do Estado em relação aos indivíduos. Os direitos humanos 
são direitos que temos simplesmente por existirmos enquanto seres humanos. Eles 
são inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua origem nacional ou 
étnica, nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, idioma ou qualquer outro “status”. 
7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os direitos à vida, à alimentação adequada, à educação, ao trabalho, à saúde e à 
liberdade são alguns exemplos de direitos humanos.
Figura 1 - Direito 
à vida
Figura 2 - Direitoà 
alimentação adequada
Figura 3 - Direito 
à educação
Figura 4 - Direito 
ao trabalho
Figura 5 - Direito 
à saúde
Figura 6 - Direito 
à liberdade
Fonte: https://www.flaticon.com/br
Uma característica importante dos direitos humanos é a sua essência ética. Além 
desse aspecto, esses direitos são normas jurídicas estabelecidas em diferentes 
fontes de direito internacional. 
Assim, pode dizer que os direitos em questão são demandas sociais que buscam 
realizar bens éticos que permitem que os indivíduos desfrutem de uma vida digna, 
e que sejam reconhecidos pela sociedade. Os direitos humanos desempenham 
a função de concretizar a dignidade humana para que todos os seres humanos 
possam desenvolver suas capacidades pessoais.
1.1.2. Quais são as características dos direitos humanos?
O conceito amplamente adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) atribui 
aos direitos humanos as seguintes características: 
https://www.flaticon.com/br
8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 7 - Características dos direitos humanos
Fonte: elaborada pela autora.
O conceito de direitos humanos pode ser aplicado ao âmbito da saúde da seguinte 
forma:
Na esfera da saúde, todos os pacientes, 
independentemente do status pessoal e da relação 
travada com o profissional de saúde ou o provedor 
privado de saúde, ou seja, se de consumo ou de 
usuário de serviço público, são detentores de direitos 
humanos, o que, obviamente, os diferencia dos 
direitos do consumidor, que pressupõe a existência 
de uma relação de consumo (ALBUQUERQUE, 2016, p. 
27).
9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 8 - Direitos humanos e saúde
Fonte: “A young patient has his vital signs checked” by World Bank Photo 
Collection is licensed under CC BY-NC-ND 2.0. To view a copy of this license, visit 
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse.
1.1.3. Conteúdo dos direitos humanos
Conforme você viu anteriormente, os direitos humanos consistem em normas 
jurídicas com essência ética que se encontram em diferentes fontes de direito 
internacional. Assim, entendemos que esses direitos possuem duplo conteúdo: 
ético e jurídico. Se não estiverem presentes em dispositivos legais internacionais, os 
enunciados serão apenas exigências éticas, sem configurar direitos. 
Sobre isso, é importante destacar que apenas fontes de direito internacional podem 
originar direitos humanos: normas constitucionais ou leis nacionais não geram 
direitos humanos.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse
10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 9 –Duplo conteúdo dos direitos humanos
Fonte: elaborada pela autora.
Conforme falamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em 
documentos jurídicos internacionais. Porém, no que diz respeito ao texto, a forma 
como esses direitos estão descritos nos referidos documentos é relativamente 
vaga. Por esse motivo, é necessário pormenorizar o conteúdo dos direitos humanos 
para que possam ser aplicados. A jurisprudência internacional é quem explora e 
demarca esse conteúdo.
1.1.4. Titulares e sujeitos de direitos humanos
Os titulares de direitos humanos são os indivíduos (ou grupos de indivíduos) 
que podem exigir do Estado e de seus agentes que seus direitos humanos sejam 
respeitados, protegidos e colocados em prática. Quando um titular do direito 
humano tem uma demanda, existe do outro lado o sujeito responsável por atender 
a essa exigência, que é o Estado. 
O Estado é o sujeito que tem obrigações para com os indivíduos no plano do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Por esse motivo, a relação de direitos humanos 
se estabelece exclusivamente entre o Estado e os indivíduos. 
11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 10 - Titulares e sujeitos de direitos humanos 
Fonte: elaborada pela autora.
Como exemplo, temos a importante situação da primeira condenação do Brasil no 
âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no caso Ximenes Lopes vs. 
Brasil (2006):
O Sr. Damião Ximenes Lopes foi internado na Casa de Repouso 
Guararapes em outubro de 1999. A Casa era um centro de 
atendimento psiquiátrico privado que operava no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (SUS), em Sobral, Ceará. O Sr. Ximenes 
Lopes veio a falecer na Casa de Repouso três dias após a sua 
internação. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) 
entendeu que o Sr. Damião Ximenes Lopes foi submetido a 
condições desumanas e degradantes durante sua hospitalização, 
tendo sofrido violação da sua integridade pessoal por parte dos 
funcionários da Casa de Repouso Guararapes. 
Como falamos acima, no âmbito do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, o Estado é quem tem obrigações para com 
os indivíduos. Sendo assim, a Corte IDH estabeleceu, no caso 
Ximenes Lopes vs. Brasil, que os Estados têm o dever de garantir 
atendimento médico eficaz aos pacientes com transtorno 
mental. Ademais, ressaltou, entre outros aspectos, que o lugar e 
as condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem 
estar de acordo com o respeito à dignidade humana. 
Segundo a Corte, o Estado brasileiro violou, com relação ao 
Sr. Damião Ximenes Lopes, o direito de não ser torturado ou 
submetido a pena ou tratamento desumano ou degradante, 
que é um direito absoluto. O Estado é o sujeito da obrigação 
12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de atender à demanda de direitos humanos e, portanto, é ele 
quem tem o dever de alocar recursos suficientes para satisfazer 
às necessidades básicas dos pacientes e de mover a máquina 
administrativa no sentido de implantar políticas, programas e 
legislações que evitem a prática de tais condutas por parte dos 
profissionais da saúde.
Por esse motivo, o Estado (e não os profissionais da saúde 
envolvidos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil) foi punido no âmbito 
internacional: ele é o responsável por assegurar o cumprimento 
dos direitos humanos com relação aos seus indivíduos. 
Sobre isso, citamos o seguinte trecho do livro “Direitos Humanos dos Pacientes”, da 
especialista e pós-doutora em Direitos Humanos Aline Albuquerque: 
Na esfera dos cuidados em saúde, a responsabilização 
internacional pela violação dos direitos humanos 
recairá sobre o Estado e não sobre os profissionais da 
saúde, embora a prática do ato violador possa ter sido 
efetivada pelos últimos. Sendo assim, o Estado tem o 
dever de adotar medidas legislativas, administrativas 
ou de outra natureza que impeçam a violação dos 
direitos humanos dos pacientes. Contudo, se a 
despeito de tais medidas, houver o desrespeito a 
determinado direito humano, o Estado não pode 
permanecer passivo, pois tem o dever de prover os 
remédios legais efetivos ao paciente para reparar a 
violação ocorrida, assegurando a reparação do dano e 
a responsabilização dos agentes violadores com base 
na legislação nacional. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 27)
É importante esclarecer que as relações entre os indivíduos, entre estes e entidades 
privadas e as relações entre Estados não constituem relações de direitos humanos:
13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 11 - Não são relações de direitos humanos
Fonte: elaborado pela autora
1.2. Histórico dos direitos humanos 
1.2.1. Introdução 
Estudaremos a seguir alguns fatos relevantes na história dos direitos humanos e 
como se deu a evolução desses direitos ao longo do tempo por meio de diferentes 
documentos. O estudo da história está dividido por séculos, para facilitar a 
compreensão do todo.
1.2.2. Antes do século XVIII
Durante a idade média, a concepção sobre a igualdade dos seres humanos era 
fundada em concepções religiosas. A nobreza possuía maior status moral do que o 
chamado Terceiro Estado, o poder político era ilimitado e a relação política da época 
era desigual, pois um dos sujeitos da relação se encontrava “no alto”, enquanto o 
outro estava “em baixo”. 
Os seguintes documentos desse períodosão considerados importantes para os 
direitos humanos.
 + Carta Magna da Inglaterra (1215)
A assinatura da Carta Magna da Inglaterra, em 1215, trouxe importantes avanços 
no que diz respeito à limitação do poder político. A Carta foi uma reação aos 
excessos cometidos pelo Rei João no exercício dos seus direitos feudais e 
estabeleceu limitações à sua autoridade. 
 + Bill of Rights britânica (Carta de Direitos de 1689)
Ainda no sentido de limitação do poder, a Bill of Rights, de 1689, estabeleceu 
importantes direitos e liberdades. Entre eles, os princípios de eleições livres e de 
14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
liberdade de expressão no parlamento, bem como a proibição de tributar sem a 
aprovação do parlamento, o tratamento justo perante as cortes e os direitos de 
petição. 
Porém, é preciso observar que os avanços promovidos pela Carta de Direitos, 
embora representassem importante evolução de direitos humanos, ainda 
precisariam ser aprimorados ao longo do tempo:
Embora a Bill of Rights britânica de 1989 proibisse 
expressamente o castigo cruel, os juízes ainda 
sentenciavam os criminosos ao pode dos açoites, ao 
banco dos afogamentos, ao tronco, ao pelourinho, 
ao ferro de marcar, a execução por arrastamento 
e esquartejamento [...] ou, para as mulheres, 
arrastamento, esquartejamento e morte na fogueira 
(HUNT, 2009, p. 77).
1.2.3. Século XVIII 
No século XVIII, surgem as primeiras declarações que estabelecem direitos que 
posteriormente seriam reconhecidos como direitos humanos. Foi a primeira vez 
que as ideias liberais foram afirmadas na história, e isso permitiu que os direitos 
humanos fossem reconhecidos em instrumentos normativos dos Estados Unidos 
da América e da França, que podem ser considerados marcos jurídicos.
 
Nesse ponto, é importante que você entenda que os direitos humanos surgiram 
com base em uma teoria de direitos naturais. 
A teoria dos direitos naturais é uma ideia central da filosofia 
política e ética que sustenta que certos direitos são inerentes 
à natureza humana e, portanto, são universais, inalienáveis e 
inerentes a todas as pessoas. Essa teoria foi fundamental para 
a formulação dos direitos humanos, uma vez que os direitos 
humanos são considerados como direitos naturais que todas as 
pessoas possuem simplesmente por serem humanas. 
A teoria dos direitos naturais sustenta que todos os seres 
humanos possuem direitos fundamentais, como o direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à dignidade. Esses direitos 
são considerados universais, ou seja, são aplicáveis a todas as 
pessoas, independentemente de nacionalidade, raça, gênero, 
15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
orientação sexual, religião ou de qualquer outra característica 
individual. Os direitos humanos são uma aplicação prática dessa 
teoria, buscando garantir a dignidade e a liberdade de todos os 
seres humanos.
Os direitos previstos nos documentos de direitos humanos do século XVIII previam 
a existência de direitos baseados em preceitos não religiosos.
A ideia mais revolucionária do século XVIII para os 
direitos humanos é a de que todas as pessoas possuem 
direitos inatos, ou seja, nascem com direitos que 
devem ser reconhecidos pela associação política ou 
Estado. [...] Sendo assim, o século XVIII caracterizou-
se pelo reconhecimento de uma esfera de liberdade 
pessoal na qual a associação política ou o Estado não 
poderia adentrar, logo, o indivíduo passa não apenas 
a ter deveres para com a autoridade, mas também 
a ter direitos, que devem ser por esses respeitados. 
(ALBUQUERQUE, 2021, p. 11)
Na era moderna, verifica-se a ascensão dos ideais de liberdade, de direito à 
propriedade privada e de rejeição do poder total e centralizador. Esses ideais 
influenciaram revoluções como a inglesa, a francesa e a haitiana. 
É importante destacar que, embora tenha havido grande avanço em prol dos 
direitos humanos no século XVIII, a afirmação de direitos inatos não abrangeu 
todas as pessoas: mulheres, escravos, minorias religiosas, crianças, pessoas com 
deficiência e privadas de liberdade não foram abarcados. Esse progresso somente 
seria alcançado nos séculos seguintes. 
A seguir, você verá os principais documentos relacionados aos direitos humanos 
que foram implementados no século XVIII, bem como as inovações trazidas por eles.
 + Documentos dos Estados Unidos da América (1776) 
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) foi o 
primeiro documento que declarou a liberdade de todos os cidadãos. Esse 
documento rechaçou a monarquia, reconhecendo a proteção dos direitos à 
liberdade, à vida e à busca pela liberdade. Veja um trecho da declaração a seguir: 
16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
“Nós consideramos essas verdades como auto evidentes, que todos 
os homens foram criados iguais, que eles são dotados de Direitos 
inalienáveis pelo Criador, dentre eles a vida, a liberdade e a busca pela 
felicidade. Para assegurar esses direitos, os Governos são instituídos 
pelos homens, derivando seu justo poder do consentimento dos 
governados.” (OS TREZE ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,1776, p. 2) 
Essa Declaração foi profundamente influenciada pela Declaração de Direitos 
da Virgínia (1776), que contemplava uma série de direitos considerados inatos, 
como o direito à vida, à segurança, à liberdade, à liberdade de imprensa e de 
religião, e o direito a instituir um novo governo no caso de o governo vigente 
fracassar em seu dever de garantir a segurança pessoal. 
Com relação às Declarações de Independência e de Direitos da Virgínia (ambas de 
1776), é importante mencionar ainda a Constituição dos Estados Unidos (1787), 
em que foi introduzida a teoria de Montesquieu sobre a separação dos Poderes 
Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa divisão de Poderes é essencial para que 
sejam asseguradas as liberdades políticas e alguns direitos humanos.
 + Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
A independência dos Estados Unidos exerceu grande influência sobre os 
membros do Terceiro Estado francês. Cansados dos abusos e da corrupção 
do regime político vigente, esse setor da sociedade passou a reivindicar seus 
direitos. Assim, podemos afirmar que existe inegável influência da Declaração 
de Independência dos Estados Unidos sobre a Declaração francesa, aprovada 
em 1789.
É importante destacar que, nesse período, ocorreu a Revolução Francesa. 
Considerada a mais importante das revoluções liberais, a Revolução Francesa teve 
como lema os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Com acontecimentos 
anteriores, como as expedições marítimas e a emergência de uma classe média 
revolucionária, criou-se um ambiente propício para que se contestasse a divisão 
da sociedade. À época, esta se dividia entre indivíduos com título de nobreza 
e pessoas que não os possuíam, sendo a ideia dominante a de que nobres 
detinham um status moral superior. A Revolução Francesa culminou na criação 
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
“A Declaração consiste em um dos documentos de direitos humanos 
mais relevantes do século XVIII, abarcando conceitos de lei universal, 
igualdade entre cidadãos e a soberania coletiva dos indivíduos. A 
Declaração francesa desencadeou um movimento forte em torno 
17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
das ideias liberais que sustentavam os direitos do indivíduo e 
impulsionou a utilização da linguagem dos direitos.” (ALBUQUERQUE, 
2021, p. 11)
Assim, algumas das principais inovações trazidas pela Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão são:
- atribuição da soberania aos indivíduos, e não ao rei;
- rechaço à ideia de privilégios para a ocupação de cargos públicos; e 
- introdução da meritocracia, na medida em que estabelecia que “todos são 
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, 
segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes 
e dos seus talentos”.1.2.4. Direitos humanos no século XIX
Alguns acontecimentos importantes no século XIX foram:
• a queda de Napoleão na batalha de Waterloo;
• o clima repressivo do Congresso de Viena;
• a Revolução Industrial; e
• a escravidão. 
Em termos de direitos humanos, o século XIX foi marcado pela busca por direitos no 
trabalho, acesso universal à educação, abolição da escravidão e maior expansão 
do direito ao voto. Vamos agora falar sobre os movimentos sociais que aconteceram 
na Europa nesse século e que foram fundamentais para o reconhecimento de novos 
direitos humanos.
Entre os movimentos sociais do século XIX, destacam-se o socialista e o antiescravagista. 
Esses movimentos apoiaram a luta das mulheres por direitos sociais e políticos, 
denunciaram a situação das crianças nas fábricas e reivindicaram o direito de todas 
as crianças à educação pública e o direito de trabalhar em condições seguras, além 
da redução das horas diárias de trabalho. 
Nesse sentido, cabe mencionar a Comuna de Paris, que consistiu em um levante 
popular ocorrido na cidade francesa durante um período de dois meses, entre 18 
de março e 21 de maio de 1871. Cidadãos provenientes das classes mais baixas de 
Paris se uniram em uma mobilização política para manifestar-se contra a crise social 
e política que afetava a França naquele momento. Em 1871, a Comuna liderou uma 
reivindicação por melhores condições de trabalho e desafiou o poderio econômico 
e político dos burgueses, aristocratas e clérigos. Embora tenha sido derrotada, a 
Comuna de Paris inspirou a luta por direitos relacionados ao trabalho em toda a 
Europa e nos Estados Unidos.
18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Ainda no século XIX, a Revolução Industrial provocou o deslocamento de pessoas 
do meio rural para as cidades, gerando condições desumanas de habitação e 
trabalho. As lutas dos trabalhadores por direitos levaram à promulgação de leis 
que proibiram o trabalho infantil e limitaram as horas trabalhadas. A conquista 
de direitos trabalhistas e de seguridade social foi criticada por defensores do livre 
mercado, mas a questão da pobreza tornou-se central no final do século XIX, o que 
levou ao reconhecimento de direitos sociais e ao entendimento de que o Estado 
deveria atuar em prol da proteção dos trabalhadores.
Nesse ponto, podemos destacar o reconhecimento do direito à saúde, que teve 
origem no liberalismo social da América Latina e de lutas políticas locais. O direito 
à saúde tem suas raízes na perspectiva latino-americana de direitos humanos, que 
se baseia em ideias católicas que enfatizam a dignidade humana. A Constituição 
do México, de 1917, foi a primeira a incluir os direitos sociais, inclusive o direito 
das mulheres à atenção médica e obstétrica, assim como a obrigação do Estado de 
adotar medidas preventivas de saúde. Embora essa experiência latino-americana 
seja significativa, o reconhecimento do direito à saúde como um direito humano 
no plano internacional se deve à Primeira Guerra Mundial e ao papel da saúde na 
manutenção da paz global.
Durante o século XIX, a abolição da escravatura foi uma das questões mais importantes 
dos direitos humanos. Portugal aboliu a escravatura, em 1761, apenas na Metrópole 
e em suas colônias nas Índias. A Grã-Bretanha proibiu o tráfico de escravos em 
suas colônias, em 1807, e aprovou a Lei da Abolição, em 1833. A lei britânica teve 
impacto na América Latina, onde a escravidão foi abolida em vários países, como: 
Venezuela, em 1810; Argentina, em 1812; Chile, em 1823; México, em 1829; Peru, 
em 1854; Cuba, em 1880; e Brasil, em 1888. Nos Estados Unidos, a escravidão foi 
mantida na Constituição, em razão dos interesses dos proprietários de fazendas 
do sul. Um tribunal na Carolina do Sul decidiu que as escravas não tinham direitos 
legais sobre seus filhos, o que permitia que as crianças fossem vendidas e separadas 
de suas mães a qualquer momento. Organizações internacionais, como a Sociedade 
Contra Escravidão, empreenderam esforços para obstruir o comércio de escravos 
no Atlântico e proibir a escravidão nas colônias europeias e nos Estados Unidos. A 
Declaração Universal da Abolição do Comércio de Escravos, de 1815, foi o primeiro 
documento internacional contra a escravidão. Acordos bilaterais e multilaterais 
entre países também passaram a proibir o comércio de escravos e a escravidão. 
É importante destacar que o direito ao voto, conquistado no século anterior, era 
restrito ao homem branco proprietário ou detentor de determinada renda.
 
No século XIX, a França foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal para homens, 
mas depois retomou os requisitos referentes à propriedade para o voto. Os socialistas 
defendiam a educação pública para todos como um direito social dos cidadãos e, 
no final do século XIX, acreditava-se que a educação pública seria importante para 
formar um eleitorado educado e mão de obra qualificada. O século XIX apresentou 
19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
avanços em termos de direitos humanos, como a ampliação do direito ao voto, a 
abolição da escravatura e o reconhecimento de direitos trabalhistas e à educação 
pública.
 
Entre os avanços relacionados aos direitos humanos no século XIX, inclui-se o 
surgimento do direito humanitário, com o objetivo de proteger a pessoa durante 
conflitos armados. Em 1859, Henri Dunant fundou o Comitê da Cruz Vermelha e, em 
1864, foi adotada a Convenção para Aliviar a Condição dos Feridos das Forças Armadas 
em Campo, estabelecendo princípios como o auxílio aos feridos sem distinção de 
nacionalidade, a neutralidade do pessoal médico e dos estabelecimentos médicos, 
e o uso do símbolo da cruz vermelha sobre fundo branco.
A partir do estudo de fatos históricos e de movimentos sociais do século XIX, podemos 
compreender o desenvolvimento dos direitos humanos ao longo do tempo. 
No final do século XVIII, a visão predominante dos direitos humanos enfatizava 
principalmente os direitos inatos das pessoas, sem levar em consideração as 
condições sociais e econômicas em que viviam. No entanto, o século XIX trouxe a 
ampliação dessa concepção de direitos humanos para incluir demandas por uma 
rede de proteção social para os mais vulneráveis, como trabalhadores, crianças 
e mulheres. Essa nova forma de liberalismo social propunha uma restrição da 
liberdade dos mais fortes para proteger os mais fracos. A seguir, você estudará 
importantes acontecimentos que provocaram o surgimento de novas perspectivas 
em direitos humanos no século XX.
1.2.5. Direitos humanos no século XX
Veja, na animação a seguir, fatos e documentos do século XX que são considerados 
importantes para a história dos direitos humanos.
Animação 1: Histórico dos direitos humanos – Século XX
1.2.6. Direitos humanos no século XXI
A partir do século XX, verifica-se um movimento de limitação dos direitos humanos 
(ou até mesmo de supressão destes). Essa tendência pode ter sido causada por três 
fatores:
 + A guerra contra o terrorismo
A partir de 11 de setembro de 2001, percebe-se um movimento negativo com 
relação aos direitos humanos e à democracia. Nesse sentido, pode-se dizer que 
https://youtu.be/12C7B-L_axQ
20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
os direitos humanos foram marginalizados por meio da aceitação de restrições 
de algumas liberdades individuais e do emprego de meios condenáveis por 
agentes estatais. 
Como exemplo, o Ato para Prover Instrumentos Exigidos para Interceptar e 
Obstruir o Ato Terrorista, assinado pelos Estados Unidos em 2001 (Ato Patriota), 
ampliou os poderes do Estado para que este pudesse realizar vigilâncias a pessoas 
suspeitas de praticar terrorismo. Esse Ato é questionado sob a perspectiva do 
direito à privacidade.
 + O avanço do neoliberalismo e a contestação do bem-estar social
Nas últimas décadas do século XIX, a visão do Estado como violador dos direitos 
humanos ganhou ênfase. No século XXI, porém, passa-se a focar no papel do 
Estado como garantidore protetor dos direitos humanos. 
“O desmantelamento do estado do bem-estar social por meio de 
políticas liberais-econômicas coloca em risco os direitos à educação, 
saúde, trabalho e seguridade social. A realização de tais direitos 
pressupõe uma ambiência política especifica, de modo que o estado 
assegure para todos os indivíduos certos bens econômicos e sociais, 
serviços e oportunidades, independentemente do valor que o 
mercado confere ao seu trabalho.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 30)
 + A revolução digital
A tecnologia digital pode gerar diversos benefícios para o avanço dos direitos 
humanos. Alguns desses benefícios são o empoderamento e a informação de 
grupos vulneráveis e a visibilidade dada a violações de direitos humanos. 
“Nesse sentido, a rede social pode promover o acesso à informação 
e facilitar debates globais, de modo a fomentar a democracia 
participativa. No entanto, o lado obscuro da rede social e sua 
potencialidade de causar graves danos aos indivíduos tem sido objeto 
dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.” (ALBUQUERQUE, 
2021, p. 31)
No que diz respeito ao direito à privacidade, a Assembleia Geral da ONU adotou, 
em 2013, a Resolução 68/167, em que expressa sua apreensão com o impacto 
negativo da vigilância e interceptação de comunicações. Nessa Resolução, a 
Assembleia encoraja os Estados a proteger e respeitar o direito à privacidade, 
inclusive no contexto da comunicação digital.
21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Outros desafios ao avanço dos direitos humanos no século XXI são os persistentes 
conflitos armados, o aumento e envelhecimento da população global, as questões 
ambientais e a questão dos refugiados. 
Para saber mais sobre a questão dos refugiados, você pode acessar 
o sítio eletrônico da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR): 
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/.
Conforme discutido, a evolução dos direitos humanos consiste em um caminho de 
conquistas que combina o reconhecimento gradativo de direitos com os movimentos 
sociais que ocorreram paralelamente a estes.
Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos últimos séculos, ainda há um 
longo caminho a ser percorrido até que todas as pessoas tenham acesso a uma vida 
digna nos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais 
Conforme estudamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em 
fontes de direito internacional, porém com certa imprecisão textual, de forma 
abrangente e abstrata. Assim, o conteúdo desses direitos é explorado e definido 
pela jurisprudência internacional. 
Os direitos fundamentais, que conhecemos por estarem preceituados nas 
Constituições dos países, têm relação com os direitos humanos. Isso vale 
especialmente no que diz respeito à redação desses dois tipos de direitos, que 
muitas vezes é semelhante. Existem, porém, algumas diferenças entre os direitos 
humanos e os direitos fundamentais, conforme pode ser visualizado no Quadro 1:
Quadro 1 - Direitos Humanos e Direitos Fundamentais
Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF)
Órgão criador da norma
Tratados e declarações 
de organismos 
internacionais
Constituições dos Estados 
Demarcação de conceito 
(concretização da norma)
Jurisprudência 
internacional – decisões 
de órgãos judiciais, quase 
judiciais e políticos 
Tribunais nacionais 
(jurisprudência nacional)
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/
22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF)
Órgãos de 
monitoramento do 
cumprimento do direito
Sistemas de Direitos 
Humanos
 
Não há órgãos específicos 
para o monitoramento, 
e sim instrumentos 
jurídicos. No Brasil, esse 
instrumento é a Arguição 
de Descumprimento 
de Preceito 
Fundamental (ADPF).
Mecanismos de 
monitoramento do 
cumprimento do direito
Relatórios, inquéritos, 
comunicações entre 
Estados e comunicações 
individuais. 
Não há meios de 
monitoramento próprios.
Medidas de reparação 
Medidas de reparação 
na íntegra, garantias de 
não repetição, satisfação, 
compensatórias 
e reabilitação. 
Não há medidas 
específicas. 
Impacto social 
Linguagem dos ativismos 
sociais, dos órgãos 
governamentais e das 
políticas públicas. 
Linguagem restrita 
à esfera jurídica. 
Fonte: Adaptado de Albuquerque, 2021, p. 79.
No sistema jurídico brasileiro, os direitos fundamentais estão definidos nos artigos 5º 
a 17 da Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns exemplos de direitos fundamentais 
são os destacados a seguir: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: [...]
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, 
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na 
forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)
23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
No Quadro 2, visualizaremos algumas diferenças entre os direitos humanos e os 
direitos fundamentais, utilizando o direito à saúde como exemplo:
Quadro 2 - Direito à saúde
Direito à Saúde
Enquanto direito 
humano
Enquanto direito 
fundamental
Nome do direito
Direito de toda pessoa 
de desfrutar o mais 
elevado nível de saúde 
física e mental
Direito fundamental 
à saúde
Em que norma está 
disposto esse direito?
Pacto Internacional 
sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais (Art. 12)
Constituição Federal 
(Arts. 6º e 196)
Quem concretiza o 
conceito e as obrigações 
que esse direito gera?
Comentário Geral nº 
14, produzido pelo 
Comitê sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais da ONU
Supremo Tribunal Federal
Quem monitora 
o cumprimento 
desse direito?
Sistema ONU de 
Direitos Humanos ADPF
Fonte: elaborado pela autora.
A própria CF diferencia os direitos humanos dos direitos fundamentais quando, ao 
se referir aos direitos humanos, trata-os como direitos conectados com a esfera 
internacional:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais 
pelos seguintes princípios:
[...]
II - Prevalência dos direitos humanos; (BRASIL, 1988, art. 4º)
Ainda, ao abordar obrigações decorrentes de tratados (documentos internacionais), 
a CF faz referência aos direitos humanos, não aos direitos fundamentais:
24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
[...]
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;   
[...]
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral 
da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações 
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais 
o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, 
em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de 
competência para a Justiça Federal.   (BRASIL, 1988, art. 109)
Sendo assim, qual é a relação entre os direitos humanos e os direitos fundamentais? 
No âmbito nacional, os tribunais têm cada vez mais utilizado normas de direitos 
humanos como base para suas decisões. No contexto das Américas, a Corte IDH, 
corte suprema em termos de direitos humanos, definiu que suas decisões podem 
guiar as autoridades nacionais nas decisões de casos relacionados a direitos 
fundamentais. 
Ainda, a Corte IDH tem a autoridade para emitir pareceres consultivos sobre questões 
relacionadas aos direitos humanos que são protegidos pelo Sistema Interamericano 
de Direitos Humanos, bem como para avaliar a conformidade das leis nacionais dos 
Estados com esses mesmos direitos.
Por outro lado, os Estados devem colocar em prática as decisões vinculantes da 
Corte que interpretareme definirem as normas de proteção dos direitos humanos. 
25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 12 - Relação entre direitos humanos e direitos fundamentais
Fonte: elaborada pela autora.
Sendo assim, pode-se dizer que as jurisdições internas e externas dialogam para 
que se possa conferir significado e conteúdo concreto aos enunciados de direitos 
humanos. 
26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. Dimensões dos direitos humanos
Reconhecer as dimensões dos direitos humanos (direitos civis, 
políticos, econômicos, sociais e culturais). 
Os direitos humanos podem ser classificados em dimensões, para fins didáticos: 
primeira, segunda e terceira dimensão. 
Esta unidade irá tratar apenas dos direitos de primeira e de segunda dimensão, pois 
os chamados direitos de terceira dimensão não estão estabelecidos de forma sólida 
nas normas dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos. 
Os direitos humanos passaram por um processo de amplo reconhecimento ao 
longo dos séculos. Para o autor Norberto Bobbio, esse processo de proliferação se 
deu de três maneiras: 
a. O aumento da quantidade de bens considerados merecedores da tutela 
jurídica. 
b. O reconhecimento de outros sujeitos de direitos humanos. Por exemplo, 
as mulheres, as pessoas com deficiência e as crianças só passaram a ser 
sujeitos de direitos humanos no século XX. Com o avanço dos direitos 
humanos, outros sujeitos foram reconhecidos, como pessoas com 
deficiência e pessoas privadas de liberdade.
c. A atribuição de direitos humanos que derivam de outros existentes a 
sujeitos jurídicos particulares. Um exemplo dessa hipótese é o direito da 
criança de ser ouvida em decisões que lhe são afetas.
Assim, percebemos que os direitos humanos que são atualmente reconhecidos nas 
normas internacionais apresentam características de grupos distintos. Eles derivam 
de um longo processo de lutas sociais e avanços nas sociedades e na comunidade 
internacional. 
Para saber mais sobre a história dos direitos humanos, acesse: 
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-
direitos-humanos/. 
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/
27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2.1. Direitos civis e políticos
Os direitos civis e políticos são fruto desse contexto de desenvolvimento das 
burguesias europeias e da luta contra o Antigo Regime. Esses direitos se 
fundamentam em uma perspectiva individualista e liberal política de sociedade, que 
defende a limitação do poder estatal com base nos direitos do indivíduo. 
Alguns dos valores adotados pela perspectiva liberal política são as liberdades de:
Figura 13 - Circulação Figura 14 - Crença Figura 15 - Expressão
Figura 16 - Autodeterminação 
da própria vida
Figura 17 - Autodeterminação 
do próprio corpo
Fonte: https://www.flaticon.com
Os direitos civis e políticos são também chamados de “direitos humanos clássicos” 
e de “direitos de liberdade”. Eles abarcam as chamadas liberdades negativas de 
religião, de opinião, de imprensa, de não ser torturado e de ter sua vida privada 
respeitada, ou seja, a liberdade de não sofrer interferência estatal nessas áreas.
https://www.flaticon.com
28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 18 - Limite às liberdades individuais
Fonte: Elaborada pela autora
Os direitos civis e políticos possuem aplicação imediata. Isso quer dizer que, uma 
vez ratificada a normativa que prevê esses direitos, os Estados são obrigados a 
aplicá-los. Por exemplo, uma vez que o Brasil se comprometeu, por meio do Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos adotado pela ONU em 1966, a não 
prender um indivíduo arbitrariamente, ele se torna imediatamente obrigado a 
cumprir essa determinação. 
Nesse ponto, os direitos civis e políticos se diferenciam dos direitos econômicos, 
sociais e culturais, pois estes demandam gastos públicos maiores para que possam 
ser implementados. Falaremos mais sobre esse assunto mais adiante. 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) estabelece, no Artigo 2.1, 
a aplicação imediata de todos os direitos nele previstos:
Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir 
a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a 
sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação 
alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de 
outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou 
qualquer condição. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1966, Art. 2.1)
29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A obrigação que esse artigo impõe tem, ao mesmo tempo, caráter positivo e negativo:
O caráter positivo consiste na obrigação estatal de 
adotar medidas legislativas, judiciais, administrativas 
e outras para cumprir todas as obrigações 
decorrentes dos direitos civis e políticos previstos 
no Pacto. O negativo implica o dever de abster-se de 
violar qualquer um desses direitos, por exemplo, de 
impedir que alguma pessoa manifeste sua opinião 
sobre o governo, ou de prendê-la arbitrariamente. 
(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 110) 
O Quadro 3 apresenta exemplos de direitos civis e de direitos políticos:
Quadro 3 - Exemplos de direitos civis e políticos
Direitos Civis Direitos Políticos
Direito à vida
Direito de tomar parte na direção dos 
negócios públicos do seu país, quer 
diretamente ou por intermédio de 
representantes livremente escolhidos
Direito à liberdade Direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país
Direito à segurança pessoal
Direito a não ser mantido em 
escravatura ou em servidão
Proibição à escravatura e trato dos 
escravos, sob todas as formas
Direito ao reconhecimento, 
em todos os lugares, da sua 
personalidade jurídica
Direito a ter uma nacionalidade
Direito à propriedade
Fonte: Elaborado pela autora.
30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A seguir, estudaremos os direitos econômicos, sociais e culturais.
2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais
Os direitos econômicos, sociais e culturais frequentemente demandam a atuação 
do Estado para serem implementados. Essa ação se materializa mediante políticas 
públicas e o fornecimento de bens e serviços.
O documento das Nações Unidas que aborda os direitos econômicos, sociais e 
culturais é conhecido como Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais, datado de 1966. O Pacto apresenta vários trechos que ressaltam a 
importância de os Estados tomarem medidas para garantir a implementação desses 
direitos. Abaixo estão alguns exemplos desses trechos:
ARTIGO 2º
1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, 
tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, 
principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos 
disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios 
apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, 
incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
ARTIGO 6º
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que 
compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida 
mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas 
apropriadas para salvaguardar esse direito.
2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar 
o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica 
e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para 
assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno 
emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das 
liberdades políticas e econômicas fundamentais.
ARTIGO 12
1. Os EstadosPartes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de 
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.
31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim 
de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam 
necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o 
desenvolvimento são das crianças;
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais 
e outras, bem como a luta contra essas doenças;
 d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços 
médicos em caso de enfermidade. 
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966, arts. 2º, 6º e 12)
Diferentemente dos direitos civis e políticos, que são normas de aplicação imediata, 
os direitos econômicos, sociais e culturais são normas de realização progressiva.
Esses direitos são garantidos pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, adotado pela ONU em 1966. Esse documento estabelece que o 
Estado se compromete a adotar medidas para o pleno exercício dos direitos neles 
reconhecidos. Nesse sentido:
• As medidas devem ser adotadas por esforço próprio ou pela 
assistência e cooperação internacionais, principalmente 
nos planos econômico e técnico, até o máximo dos recursos 
disponíveis. 
• Tais medidas visam assegurar, progressivamente, e por 
todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos 
reconhecidos no pacto. 
• A adoção de medidas legislativas é particularmente 
importante nesse contexto.
Os Princípios de Limburg são diretrizes interpretativas especificamente relacionadas 
ao artigo 2º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
Eles preceituam que compete aos Estados dar início imediato à adoção de medidas 
para a plena realização dos direitos sociais, econômicos e culturais. 
Ou seja, diferentemente dos direitos civis e políticos, cuja própria 
aplicação é imediata, no caso dos direitos econômicos, sociais e 
32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
culturais, o que deve ser imediato é a adoção das medidas para a 
aplicação dos direitos. 
Os Estados deverão, assim, fazer uso dos meios apropriados, incluindo medidas 
legislativas, administrativas, judiciais, econômicas, sociais e educacionais, 
consistentes com a natureza dos direitos, a fim de realizá-los. Ainda no que diz 
respeito aos recursos, os Princípios de Limburg preceituam que os Estados devem 
prever recursos efetivos, e que é esse mesmo Estado parte quem avalia a adequação 
dos meios a serem aplicados por ele. 
A obrigação de realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais 
existe independentemente do aumento de recursos, pois o que é imposto aos 
Estados é que utilizem de forma eficaz os recursos disponíveis. Assim, para verificar 
se o Estado cumpre suas obrigações relacionadas à realização progressiva desses 
direitos, deve-se observar se os recursos disponíveis estão sendo utilizados de 
forma eficiente. 
Existem, porém, algumas obrigações derivadas dos direitos econômicos, sociais e 
culturais que não se sujeitam à realização progressiva. Elas se chamam obrigações 
essenciais. 
Nesse sentido, o Comentário Geral nº 3 do Comitê sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais da ONU trata da natureza das obrigações dos Estados partes 
constantes no artigo 2º, parágrafo 1º, do Pacto Internacional sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. 
De acordo com o Comentário nº 3, os Estados têm a obrigação fundamental 
de assegurar como mínimo a satisfação de níveis essenciais de cada um dos 
direitos enunciados no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais. É por esse motivo que existem algumas obrigações derivadas dos direitos 
econômicos, sociais e culturais que são classificadas como obrigações essenciais e 
que possuem caráter imediato.
Assim, veja alguns trechos do Comentário Geral nº14/2000 sobre a obrigação 
essencial derivada do direito à saúde, que é um direito social:
19. No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade de acesso 
aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm uma obrigação 
especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes, o necessário seguro 
médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer descriminação com base 
em motivos internacionalmente proibidos na prestação de cuidados de saúde e 
33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de serviços de saúde, em especial no que respeita às obrigações fundamentais 
do direito à saúde.
22. O artigo 12º, n.º 2 alínea a) descreve a necessidade de adotar medidas para 
reduzir a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento saudável de bebés 
e crianças. Em subsequentes instrumentos internacionais de direitos humanos é 
reconhecido que crianças e adolescentes têm o direito de gozar o melhor estado 
de saúde possível e o acesso a centros de tratamento de doenças. Uma atribuição 
inapropriada de recursos de saúde pode dar lugar a uma discriminação que 
poderá não ser manifesta. Por exemplo, os investimentos não devem favorecer 
desproporcionadamente os serviços curativos caros que muitas vezes são apenas 
acessíveis a uma pequena fração privilegiada da população, em detrimento 
da atenção primária e preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da 
população. 
(COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 2000, p. 8)
Um aspecto importante relacionado aos direitos econômicos, sociais e culturais é 
a vedação ao seu retrocesso. Conforme a jurisprudência internacional, a adoção 
de medidas que possam limitar os recursos destinados a gastos sociais podem ser 
ou não, por si só, violadoras dos direitos humanos. Sobre isso, o Comitê sobre os 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU entende que: 
O fato de que até em tempos de severas restrições de recursos disponíveis, se 
causadas por um processo de ajustamento, de recessão econômica ou por 
outros fatores, os membros vulneráveis da sociedade podem e de fato devem 
ser protegidos pela adoção de programas relativamente de baixo custo para o 
alcance das metas almejadas. 
(COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 1990, 
p. 12)
Isso quer dizer que, se o Estado limitar os recursos com gastos sociais, ele pode 
ser responsabilizado internacionalmente por violar direitos humanos. 
As medidas que retroagem em termos de direitos sociais são aquelas que fazem 
com que os Estados abandonem políticas e programas destinados a assegurar os 
direitos sociais. Além disso, as restrições causadas por essas medidas repercutem 
34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
negativamente sobre a fruição desses direitos. Um exemplo disso seria o corte de 
gastos públicos com cuidados em saúde materno-infantil e o aumento considerável 
da mortalidade materna e infantil. 
Conforme afirmado anteriormente, os direitos humanos são universais, indivisíveis, 
interdependentes, inter-relacionados e de igual importância. À luz dessa afirmação, 
verifique no Quadro 4 a diferenciação entre os direitos civis e políticos, e os direitos 
econômicos, sociais e culturais:
Quadro 4 - Diferenças entre as dimensões de direitos
Critério de distinção Direitos civis e políticos Direitos econômicos, 
sociais e culturais
Fundamento 
teórico-filosófico
Burguesia e 
liberalismo político
Movimentos sindicalistas, 
socialistas e contestação 
do liberalismo político 
e econômico
Tipo de obrigação Ênfase na obrigação 
de respeitar
Ênfase na obrigação 
de realizar
Aplicação do direito Aplicação imediata Realização progressiva
Exigibilidade 
perante Cortes
Exigibilidade 
jurisdicional ampla
Exigibilidade 
jurisdicional restrita
Estado Estado democrático Estado do bem-
estar social
Finalidade primordialAutonomia Proteção do Estado
Fonte: Adaptado de Albuquerque, Barroso. 2021, p. 118. 
O direito à saúde é considerado um direito de segunda dimensão porque sua 
realização depende de ações positivas por parte do Estado para garantir o acesso a 
serviços e recursos de saúde adequados para toda a população. Ou seja, é um direito 
que exige uma intervenção ativa do Estado para ser efetivado, diferentemente dos 
direitos de primeira dimensão, como a liberdade de expressão e de associação, que 
são direitos negativos e que não requerem ações estatais para sua proteção.
Alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, além do direito à saúde, incluem:
• Direito à educação: este direito exige que o Estado providencie educação 
gratuita e de qualidade para todos os cidadãos, além de garantir 
igualdade de acesso e oportunidades educacionais.
• Direito à previdência social: este direito implica que o Estado forneça 
proteção social aos cidadãos em situações de desemprego, velhice, 
35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
doença, acidente, entre outras.
• Direito ao trabalho: este direito implica que o Estado tome medidas para 
garantir o pleno emprego e para proteger os direitos trabalhistas dos 
cidadãos, incluindo salário justo, condições de trabalho adequadas e 
proteção contra discriminação no local de trabalho.
Para compreender como funcionam as obrigações geradas pelos direitos de 
primeira e de segunda geração, bem como as violações a esses direitos no âmbito 
internacional, ouça o podcast a seguir:
Podcast 1 - Dimensões dos Direitos Humanos
Como vimos, nosso estudo não aborda os chamados direitos humanos de terceira 
dimensão, visto que esta classificação não apresenta significativa relevância. Isso 
acontece porque esses direitos não são usualmente objeto de peticionamento e 
monitoramento dos órgãos internacionais de direitos humanos, ou seja: não é 
comum que se denuncie a violação desses direitos aos sistemas de direitos humanos 
e nem que esses sistemas possuam mecanismos para acompanhar o cumprimento 
de tais direitos.
Nesse contexto, é importante destacar que os direitos humanos 
não são meramente ideias morais ou defesas de alguns grupos. A 
força desses direitos se baseia em dois pilares:
- São direitos de todas as pessoas, independentemente de 
qualquer fator ou característica pessoal.
- Os direitos humanos geram obrigações jurídicas para os Estados: 
são práticos, concretos e jurídicos.
Sobre isso, Albuquerque e Barroso (2021) acreditam que a proliferação de dimensões 
de direitos humanos deve ser vista com preocupação, pois, em muitos casos, 
dimensões de direitos são criadas sem o amparo da comunidade internacional e 
sem a possibilidade de que sejam tornados exigíveis aos Estados. 
As autoras explicam que “os direitos humanos não são uma mera ideia ou discurso, 
são direitos que acarretam obrigações para os Estados”. Nesse sentido, “se o mundo 
conseguir assegurar os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais para 
todas as pessoas, não se vislumbra a utilidade de se lançar novos catálogos de 
direitos” (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 119).
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu
36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas 
Regionais de Direitos Humanos
Entender os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos 
com enfoque nos Sistemas ONU e Interamericano de Direitos 
Humanos. 
3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos 
Humanos
Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos (Sistemas Internacionais de DH) 
são os conjuntos de normas, órgãos e mecanismos internacionais que surgiram, 
a partir de 1945, com o intuito de promover a proteção dos direitos humanos no 
mundo. 
Assim, eles se caracterizam por apresentar três elementos: 
• Normas
• Órgãos 
• Mecanismos
Para que uma região do planeta possa contar com um Sistema Internacional de DH, 
esses três elementos precisam estar presentes. 
As normas dos Sistemas Internacionais de DH compreendem o conjunto de tratados, 
declarações, princípios e outras normativas que integram esses Sistemas. Alguns 
exemplos de normas, nesse contexto, são os tratados, acordos, pactos, convenções, 
declarações, princípios, diretrizes, entre outros. 
Os órgãos são as instâncias e os organismos criados para monitorar o cumprimento 
dos tratados pelos Estados e aplicar as disposições desses tratados nos casos 
concretos específicos ou nas situações de graves violações de direitos humanos. Os 
órgãos de direitos humanos podem ser classificados como políticos, quase judiciais 
ou judiciais: 
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Quadro 5 - Tipos de órgãos de Direitos Humanos
Políticos Quase judiciais Órgãos judiciais
Não recebem 
comunicações e 
petições individuais e, 
portanto, não expedem 
recomendações 
destinadas a casos 
específicos e assim 
não responsabilizam 
o Estado por violação 
de direitos humanos.
Processam petições e 
comunicações individuais, 
e desse processamento 
resulta uma decisão 
que serve de base 
para recomendações 
que ensejam a 
responsabilização 
internacional do Estado.
Detêm o poder 
jurisdicional, logo, 
proferem sentenças 
internacionais.
Fonte: Elaborado pela autora.
Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o monitoramento da 
aplicação dos tratados pelos Estados.
Quadro 6 - Tipos de mecanismos
Tipo de mecanismo Definição
Procedimento iniciado por 
comunicação interestatal 
(entre Estados)
Comunicação feita por um Estado contra outro 
Estado perante órgão de direitos humanos
Procedimento iniciado por 
petição/comunicação individual
Petição ou comunicação feita pela 
vítima/representante ou peticionário 
ao órgão de direitos humanos
Procedimento iniciado por 
comunicação coletiva
Comunicação feita por uma 
organização não governamental a 
um órgão de direitos humanos
Relatório
Documento que contempla a situação 
de direitos humanos referente a 
um Estado, grupo ou temática
Visita in loco
Visita realizada em qualquer lugar da jurisdição 
de determinado Estado com o intuito de 
analisar a situação de direitos humanos
Inquérito
Averiguação confidencial de denúncia de 
sistemática violação de direitos humanos, 
que pode abranger visita ao Estado
Medidas Cautelares Medida requerida ao Estado a fim de prevenir dano irreparável à vítima em determinado caso
38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Fonte: Elaborado com base em Albuquerque; Barroso. 2021, p. 178.
Outro ponto relevante que deve ser mencionado refere-se à jurisprudência 
em direitos humanos. Para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, a 
jurisprudência é constituída pelas decisões reiteradas das Cortes de Direitos 
Humanos, mas não somente delas: também estão incluídos nesse conjunto os 
documentos produzidos pelos diversos mecanismos de direitos humanos 
aprovados pelos Estados que integram a comunidade internacional.
Atualmente, há quatro Sistemas de Direitos Humanos. Um deles tem abrangência 
global, pois envolve todos os países membros da ONU (Sistema ONU de Direitos 
Humanos). Além desse sistema, que é universal, há três Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos, abarcando, cada um deles, um continente: Sistema Interamericano de 
Direitos Humanos, Sistema Europeu de Direitos Humanos e Sistema Africano de 
Direitos Humanos. Nesta unidade, abordaremos os Sistemas ONU, Interamericano 
e Europeu de Direitos Humanos. 
Para saber mais sobre o Sistema Africano de Direitos Humanos, 
acesse: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/
sistema_africano.asp
É importante destacar que as experiências em direitos humanos 
de outras regiões do planeta, como a da Liga Árabe ou da Ásia, não 
podem ser categorizadas como Sistemas, pois não compreendem 
os três elementos necessários para a classificação em Sistema de 
Direitos Humanos. 
A ONU tem incentivado os Estados a criarem Sistemas Regionais de DireitosHumanos, visto que estes muitas vezes se mostram mais eficazes por três motivos 
principais: 
1) São mais próximos das realidades dos Estados que os integram; 
2) Possuem maior capacidade de lidar com questões de direitos específicas da 
região; 
3) Esses sistemas contam com Cortes de Direitos Humanos e, portanto, têm 
maior poder de constrangimento e persuasão jurídica. Nesse sentido, a Corte 
Interamericana e a Corte Europeia são consideradas exemplos da maturidade dos 
sistemas judiciais de proteção dos direitos humanos em nível regional.
Assim, a ONU enfatiza o papel dos sistemas regionais na promoção e proteção 
desses direitos. Não existe, porém, hierarquia entre os Sistemas Global e Regionais 
https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp
https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp
39Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de Direitos Humanos. 
É importante esclarecer que diferentes órgãos de direitos humanos proferem 
diferentes tipos de decisões, que são elaboradas após o trâmite de comunicação 
ou petição relacionada a um caso específico de violação de direitos humanos. Como 
dito anteriormente, os órgãos judiciais e quase judiciais são os órgãos capazes 
de proferir decisões. As decisões tomadas por cada um desses órgãos possuem 
diferentes naturezas jurídicas: 
Figura 19 - Natureza das decisões de órgãos de direitos humanos
Fonte: Elaborada pela autora.
Assim, você pode perceber que os Estados devem cumprir tanto as sentenças 
quanto as recomendações dos relatórios, porque ambos derivam da ratificação de 
tratados, não importando se a decisão é proveniente de órgão judicial ou quase 
judicial. Ou seja:
Os Estados que aderem aos tratados e demais normas de 
direitos humanos têm o dever de adimplir suas obrigações e, 
conseguintemente, executar espontaneamente os preceitos 
contidos na sentença e nos relatórios dos órgãos quase judiciais. 
(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 181).
3.1.1. Princípios que regem os Sistemas Internacionais de Direitos 
Humanos 
Os Sistemas Internacionais de Direitos humanos são guiados por alguns princípios. 
Vejamos a seguir. 
40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.1.1.1. Princípio da subsidiariedade ou complementaridade
Os Sistemas de DH atuam de forma subsidiária com relação aos órgãos e remédios 
domésticos. Assim, os órgãos de direitos humanos serão acionados pelas vítimas 
e peticionários somente após o Estado não ter respondido adequadamente às 
violações (conforme as normas de direitos humanos). 
Assim, perceba que o primeiro responsável pela observância dos direitos humanos é 
o Estado, e os próprios tratados de direitos humanos atribuem importantes funções 
de proteção aos órgãos dos Estados. Quando os Estados ratificam esses tratados, 
passam a ter a obrigação geral de adequar o seu ordenamento jurídico interno às 
diretrizes de proteção dos direitos humanos estabelecidas no instrumento que 
ratificaram. 
Para compreender como se dá a aplicação do princípio da subsidiariedade a um 
caso concreto, veja o vídeo a seguir, que demonstra esse princípio aplicado ao caso 
Ximenes Lopes vs. Brasil (2006), o primeiro caso de condenação do Estado brasileiro 
no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. 
Vídeo 1 - O princípio da subsidiariedade aplicado ao caso Ximenes 
Lopes vs. Brasil
3.1.1.2. Princípio da livre escolha 
Graças ao princípio da livre escolha, a vítima de violação de direitos humanos pode 
escolher para qual Sistema de Direitos Humanos deseja apresentar o seu caso, 
depois que os mecanismos internos do Estado não tiverem funcionado. A vítima 
deve, porém, escolher um Sistema ao qual o Estado que ela pretende denunciar 
seja subordinado. Por exemplo, uma vítima de violação de direitos humanos no 
Brasil não pode apresentar uma petição contra o Estado perante a Corte Europeia 
de Direitos Humanos, pois o Estado brasileiro não está submetido a essa jurisdição. 
3.1.1.3. Princípio da boa-fé e princípio da cooperação e do diálogo
Os princípios da boa-fé e da cooperação e do diálogo serão apresentados juntos 
devido à concordância desses temas. 
Nesse sentido, é importante frisar que os Órgãos de Tratados do Sistema ONU 
de DH adotam o chamado “diálogo construtivo” como metodologia de trabalho, 
especialmente quando examinam os relatórios dos Estados. 
https://youtu.be/i_p9y65PzfQ
https://youtu.be/i_p9y65PzfQ
41Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos 
O Sistema ONU é o sistema global de direitos humanos e possui diversos órgãos 
e normas. A seguir, vamos falar um pouco sobre a ONU e sobre esse Sistema, 
apresentando os pontos mais relevantes no âmbito da unidade estudada.
A ONU passou a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após ter sido 
ratificada a sua Carta pelos países membros originários, entre eles: China, Estados 
Unidos, França, Reino Unido, União Soviética e Brasil. Os propósitos da ONU são, de 
acordo com a Carta das Nações Unidas: 
• Manter a paz e a segurança internacionais
• Desenvolver relações amistosas entre as nações
• Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas 
internacionais de caráter 
 ° Econômico 
 ° Social 
 ° Cultural
 ° Humanitário
• Promover e estimular o respeito aos direitos humanos 
• Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações
3.2.1. Normativas de direitos humanos
O sistema ONU de Direitos Humanos é composto por diversos instrumentos 
normativos. Entre eles está a Carta Internacional de Direitos Humanos, que é 
composta por: 
• Declaração Universal dos Direitos Humanos 
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
• Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Além disso o Sistema ONU conta com sete Convenções Temáticas que incluem:
1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação Racial (1965)
2. Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação 
contra as Mulheres (1979)
3. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)
4. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)
Falaremos a seguir sobre algumas normativas de direitos humanos. Para melhor 
compreensão, consulte a imagem a seguir sempre que precisar, durante a leitura 
sobre os instrumentos normativos do Sistema ONU.
42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 20 - Normativas do Sistema ONU
Fonte: Elaborada pela autora.
Veja a seguir os instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos 
Humanos, os principais direitos protegidos por eles e sua relevância universal.
Quadro 7 - Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos
Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos 
e principais direitos protegidos por eles
Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos
Pacto Internacional sobre Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Direito à vida Direito ao trabalho
Liberdade de pensamento, 
consciência e religião Direito à educação
Direito à igualdade perante a lei Direito à saúde
Proibição da tortura e tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes Direito à alimentação adequada
Direito à liberdade e à 
segurança pessoal Direito à moradia adequada
Liberdade de expressão Direito à segurança social
Direito à privacidade Direito à cultura
Direito à participação política Direito ao meio ambiente saudável
Fonte: Elaborado pela autora.
43Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 8 - Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos
Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos
Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos 
Pacto Internacional sobre Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Protege os direitos civis e 
políticos dos indivíduos, como 
a liberdade de expressão, 
de reunião pacífica e de 
participação política
Protege os direitos econômicos, sociais 
e culturais dos indivíduos, como 
o direito aotrabalho, à educação, 
à saúde e à segurança social.
Visa à garantia da liberdade 
e dignidade humana, 
incluindo o direito à vida e 
a proibição da tortura.
Visa à garantia da igualdade social e à 
eliminação das desigualdades econômicas, 
promovendo a distribuição justa dos 
recursos sociais e econômicos.
A aplicação dos seus princípios 
é fundamental para a 
promoção da democracia 
e do Estado de direito.
A aplicação dos seus princípios é 
fundamental para a promoção da 
justiça social e da dignidade humana
É um instrumento essencial 
na proteção dos direitos 
humanos e na luta contra a 
discriminação e a violência.
É um instrumento essencial na promoção 
da justiça social, na luta contra a pobreza 
e na garantia da igualdade social.
Fonte: Elaborado pela autora.
Além dos instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos Humanos, 
o conjunto normativo da ONU também contém sete Convenções Temáticas. São 
elas:
• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial (1965)
• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres (1979)
• Convenção contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes (1984)
• Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)
• Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os 
Trabalhadores Migrantes (1990)
• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)
• Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os 
Desaparecimentos Forçados (2006)
44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Cada uma dessas convenções possui um órgão de monitoramento, que supervisiona 
seu cumprimento pelos Estados que ratificaram o tratado correspondente. Por 
exemplo, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência é o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 
constituído por doze peritos. 
Veja, a seguir, mais algumas informações acerca das duas Convenções mais 
relevantes para o escopo desta unidade: a Convenção contra a Tortura e Outras 
Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Convenção 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:
 + Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes 
Há diversas normativas no âmbito da ONU sobre o tema da tortura e de outras 
penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A Convenção contra a 
Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi 
adotada em 1984. 
De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou 
sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma 
pessoa, a fim de: 
• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões; 
• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou 
seja suspeita de ter cometido; 
• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas por qualquer motivo 
baseado em discriminação de qualquer natureza.
A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um 
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou 
por sua instigação, ou com seu consentimento e aquiescência. 
 + Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
Assim como a tortura, o assunto dos direitos das pessoas com deficiência também 
foi abordado em outros instrumentos normativos da ONU, como a Declaração 
dos Direitos das Pessoas com Retardo Mental de 1971.
A definição de pessoa com deficiência, para essa Convenção, compreende as 
pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza:
• Física 
• Mental 
• Intelectual
• Sensorial 
45Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Em interação com diversas barreiras, esses impedimentos podem obstruir 
a participação plena e efetiva dessa pessoa na sociedade em igualdade de 
condições com as demais pessoas. 
A Convenção defende o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver 
na comunidade com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas. 
Estes são os princípios da Convenção:
a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a 
Liberdade de fazer as próprias escolhas, e a Independência das pessoas
b) A não discriminação
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência 
como parte da diversidade humana e da humanidade
e) A igualdade de oportunidades
f) A Acessibilidade
g) A igualdade entre o homem e a mulher 
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com 
deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua 
identidade
Ainda, a Convenção trata do reconhecimento igual perante a lei, ou seja, as 
pessoas com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em qualquer lugar 
como pessoas perante a lei. Isso quer dizer que elas têm capacidade legal e 
igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida.
A Convenção pede que os Estados adotem as medidas apropriadas e efetivas 
para assegurar às pessoas com deficiência o direito de, como as demais pessoas: 
• possuir ou herdar bens; 
• controlar as próprias finanças; 
• ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de 
crédito financeiro; 
• não serem arbitrariamente destituídas de seus bens.
Como afirmado anteriormente, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência monitora essa Convenção.
3.2.2. Os sistemas de direitos humanos da ONU
O Sistema ONU de Direitos Humanos é estruturado em dois outros sistemas: o 
Sistema Baseado na Carta da ONU e o Sistema Baseado nos Tratados. Veja a 
seguir uma ilustração dos dois sistemas de direitos humanos da ONU posicionados 
lado a lado, para a melhor compreensão, e consulte-a sempre que necessário:
46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 21 - Os dois sistemas de direitos humanos da ONU
Fonte: Elaborada pela autora.
3.2.2.1. O Sistema Baseado na Carta 
O Sistema Baseado na Carta é relacionado aos direitos protegidos pela Carta da 
ONU. Esse sistema é composto pelo Conselho de Direitos Humanos, que é um 
órgão da Carta. O Conselho é de natureza política, por isso não recebe comunicação 
ou petição relacionada a caso singular de violação de direitos humanos, e é composto 
por representantes dos Estados. Como o Conselho de Direitos Humanos se baseia na 
Carta das Nações Unidas, todos os Estados membros se encontram submetidos a ele. 
Na figura a seguir, observe como está estruturado o Sistema Baseado na Carta da 
ONU: 
Figura 22 - Sistema Baseado na Carta da ONU
Veja, a seguir, um resumo das atribuições de cada um desses mecanismos:
47Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 9 – Atribuições dos mecanismos do Sistema Baseado na Carta da ONU
Mecanismos Funções
Revisão 
Periódica 
Universal
A proposta é realizar revisões periódicas universais baseadas 
em informações objetivas e confiáveis sobre o cumprimento 
das obrigações e compromissos de direitos humanos de 
cada Estado, garantindo a universalidade e igualdade de 
tratamento para todos os Estados membros da ONU. 
Os Estados avaliam mutuamente a situação de direitos 
humanos em seus respectivos países e têm a oportunidade 
de demonstrar as ações desenvolvidas para melhorar essa 
situação. O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos 
47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos.
Procedimento 
de Queixa
Qualquer pessoa, grupo ou organização pode apresentar 
uma comunicação confidencial sobre violações graves e 
sistemáticas de direitos humanos em qualquer parte do 
mundo. Um grupo de trabalho verifica se a queixa preenche 
os requisitos necessários para prosseguir e, em seguida, 
um outro grupo analisa a comunicação e a resposta do 
Estado denunciado, apresentando um relatório com 
recomendações ao Conselho de Direitos Humanos.
Procedimentos 
Especiais
Os procedimentos especiais consistemem especialistas 
independentes que elaboram relatórios e orientações sobre 
direitos humanos, seja a partir de uma perspectiva temática 
ou de um país específico. Eles monitoram e informam sobre 
violações de direitos humanos, recomendando soluções e 
realizando missões para avaliar a situação em um país e 
apresentando relatórios ao Conselho de Direitos Humanos.
Fonte: Elaborado pela autora.
A seguir, veremos como é estruturado o Sistema Baseado nos Tratados.
3.2.2.2. O Sistema Baseado nos Tratados
Esse Sistema é composto por órgãos criados pelos tratados temáticos específicos 
para monitorar o cumprimento desses tratados pelos Estados. O primeiro tratado 
temático foi a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial, adotado em 1965. 
Os Órgãos dos Tratados foram criados para monitorar as Convenções Temáticas a 
que se referem. Esses Órgãos monitoram apenas os países que ratificaram aquele 
tratado específico. 
48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os Órgãos são compostos por especialistas independentes que não são escolhidos 
como representantes de Estados, mas sim pela sua expertise. Para realizar suas 
atividades de monitoramento, eles empregam os meios elencados a seguir, 
chamados de mecanismos. 
Além das atividades de monitoramento realizadas, os Órgãos de 
Tratados emitem Comentários Gerais que consistem em estudos 
aprofundados sobre determinados direitos humanos. Esses 
Comentários orientam os Estados sobre como cumprir o tratado 
correlato.
 + Relatórios
Os relatórios são enviados dentro de um ou dois anos após o tratado entrar em 
vigor e, depois, seguem a periodicidade de quatro ou cinco anos, a depender do 
tratado.
Nos relatórios, os Estados informam as medidas, em particular, legislativas, 
judiciais e administrativas adotadas para assegurar a fruição dos direitos 
constantes do tratado, bem como os fatores e as dificuldades que influenciam a 
efetivação dos direitos humanos em seu território.
 + Comunicações Individuais
Os órgãos dos tratados podem também receber comunicações de indivíduos 
que aleguem ter sofrido violações de direitos humanos. Para que a comunicação 
seja aceita, alguns requisitos precisam ser atendidos:
3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos está constituído no âmbito da 
Organização dos Estados Americanos (OEA). A OEA é o organismo Internacional 
mais antigo do mundo. Sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional 
Americana realizada em Washington, Estados Unidos (1889-1890).
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos é formado, fundamentalmente, 
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) e pela Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). O Sistema apresenta duas sistemáticas: 
uma baseada na Carta da OEA e outra baseada na Convenção Americana (daqui em 
diante, esta será chamada de “Convenção”). 
A Convenção Americana de Direitos Humanos entrou em vigor 
em 1978 e estabelece as obrigações dos Estados de respeitar e 
proteger os direitos humanos. Esse documento será detalhado 
mais adiante.
49Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos está dividido em duas partes: 
1. Mecanismos aplicáveis aos Estados membros da OEA: aplicáveis aos 
Estados que se submetem à Carta da OEA. 
2. Mecanismos concernentes aos Estados que fazem parte da Convenção: 
aplicáveis aos Estados que ratificaram a Convenção Americana e 
reconheceram a jurisdição da Corte IDH. 
3.3.1. Normas do Sistema Interamericano de Direitos Humanos
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos possui dois tipos de instrumentos: 
os gerais e os temáticos.
Os instrumentos gerais são:
• Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem 
• Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da 
Costa Rica)
• Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San 
Salvador) 
Veja, a seguir, algumas informações relevantes sobre esses instrumentos: 
Quadro 10 – Instrumentos gerais do Sistema Interamericano de Direitos Humanos
Instrumento Ano Escopo Pontos principais
Declaração Americana 
de Direitos e Deveres 
do Homem 
1948
Direitos civis, 
políticos, 
econômicos, 
sociais e culturais
Proclamou o direito à 
saúde. Embora não seja 
legalmente vinculante, 
suas disposições geram 
obrigações legais 
para os Estados
Convenção Americana 
sobre Direitos 
Humanos (Pacto de 
San José da Costa Rica)
1969 Direitos civis e políticos
Estabeleceu obrigações 
para os Estados 
respeitarem e protegerem 
os direitos humanos, criou 
a Corte Interamericana 
de Direitos Humanos e 
detalhou as funções da 
Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos. 
Também afirma o direito à 
vida, à integridade pessoal 
e à proteção judicial
50Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Instrumento Ano Escopo Pontos principais
Protocolo Adicional 
à Convenção 
Americana sobre 
Direitos Humanos em 
Matéria de Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais (Protocolo 
de San Salvador)
1988
Direitos 
econômicos, 
sociais e culturais 
Define os direitos à 
educação, saúde, trabalho, 
seguridade social, 
alimentação, cultura 
e ambiente saudável, 
entre outros. Estabelece 
obrigações para os Estados 
garantirem esses direitos 
a todas as pessoas, 
sem discriminação.
Fonte: Elaborado pela autora.
Os instrumentos temáticos são os listados a seguir:
• Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1987).
• Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à. 
Abolição da Pena de Morte (1990).
• Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Contra a Mulher (“Convenção de Belém Do Pará”) (1994).
• Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas 
de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999)
• Carta Democrática Interamericana.
• Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e 
Formas Conexas de Intolerância (2013).
• Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das 
Pessoas Idosas (2015).
3.3.2. Órgãos do Sistema Interamericano de Direitos Humanos
Conforme vimos anteriormente, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos 
é formado essencialmente por dois órgãos: a CIDH e a Corte IDH. Veja, a seguir, 
importantes informações sobre cada um desses órgãos.
3.3.2.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos - CIDH
A CIDH é um órgão principal e autônomo da OEA. Ela está sediada em Washington 
e sua principal competência é a de promover e proteger os direitos humanos 
no continente americano. Para isso, a CIDH conta com o mecanismo de petição 
individual e o monitoramento da situação de direitos humanos nos Estados 
membros da OEA. A Comissão é composta por sete especialistas independentes, ou 
seja, eles não são representantes dos Estados. Os especialistas são escolhidos pela 
Assembleia Geral da OEA.
51Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A CIDH possui diversos mecanismos para cumprir o seu papel de monitoramento 
dos direitos humanos pelos Estados membros da OEA. Esses mecanismos são: as 
Visitas in loco, as Relatorias Temáticas, os Relatórios de País e Relatórios Temáticos, 
as Comunicações Interestatais e o Mecanismo de Petição. 
3.3.2.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH
A Corte IDH está sediada em São José, Costa Rica, e é o órgão judicial do Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos e autônomo da OEA. A Corte possui duas 
competências: 
• Competência contenciosa
• Competência consultiva
A competência contenciosa da Corte precisa ser reconhecida pelo Estado, no 
momento da ratificação à Convenção Americana ou de adesão a ela, ou em qualquer 
momento posterior. Os Estados que reconheceram a competência contenciosa da 
Corte IDH são: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, 
Equador, El Salvador,Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, 
Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Trinidade e Tobago, Uruguai e 
Venezuela. Note que os Estados Unidos e o Canadá não se submetem à jurisdição 
contenciosa da Corte IDH.
É importante notar que os Estados possuem liberdade para se 
submeterem ou não aos pactos internacionais. O Estado brasileiro 
escolheu reconhecer a competência contenciosa da Corte IDH ao 
ratificar a Convenção Americana de Direitos Humanos. Por causa 
desse compromisso assumido internacionalmente, o Brasil 
deverá se submeter às decisões e sentenças proferidas por essa 
Corte.
A Corte IDH é composta por sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA, 
eleitos pela Assembleia Geral da OEA a título pessoal para um período de seis anos, 
e que só podem ser reeleitos uma vez. As audiências da Corte IDH são, geralmente, 
públicas e podem ocorrer em qualquer Estado membro da OEA, se assim for 
decidido.
52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 23 - Corte Interamericana de Direitos Humanos
Fonte: https://www.flickr.com/photos/65759046@N07/39665090455
Na competência consultiva da Corte IDH não há partes ou caso a ser solucionado: 
seu propósito é conferir uma interpretação à Convenção Americana ou outro tratado 
Interamericano de direitos humanos. Sobre a competência consultiva da Corte IDH, 
leia o trecho a seguir.
No que diz respeito à relação entre a CIDH e a Corte IDH, perceba 
os pontos a seguir: 
• A Corte IDH é a intérprete última da Convenção 
Americana, pois é o único órgão judicial do Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos. 
• A Corte IDH não é limitada pelas decisões que a CIDH 
tenha adotado em determinado caso que lhe tenha sido 
submetido anteriormente. 
• A CIDH não é uma primeira instância da Corte IDH, 
logo, a Corte não pode ser considerada uma corte de 
apelação. 
• A Corte IDH pode rever o procedimento adotado pela 
CIDH quando a parte alega que houve grave erro da 
CIDH que comprometeu o direito de defesa da parte.
https://www.flickr.com/photos/65759046@N07/39665090455
53Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.3.3. Processo Interamericano de Direitos Humanos
Para que uma demanda de violação de direitos humanos seja apreciada pelos órgãos 
do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, é necessário que esta percorra 
um caminho processual. 
A petição ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos pode ser apresentada 
por: 
• Pessoa 
• Grupo de pessoas 
• Entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais 
Estados membros da OEA
O peticionário, ou seja, quem denuncia a violação de direitos humanos ao Sistema, 
não precisa ser a mesma pessoa que sofreu a violação. Em outras palavras, o 
peticionário não precisa ser a vítima. 
Considerando que apenas pessoas ou grupos de pessoas podem 
ser titulares de direitos humanos, somente estas duas categorias 
podem ser consideradas vítimas no processo perante o Sistema. 
Entidades não governamentais, como organizações da sociedade 
civil, podem ser peticionárias perante o Sistema, porém não 
podem ser vítimas.
Além disso, ressalta-se que não é necessário ser representado por um advogado 
para apresentar petição ao Sistema. 
O processo perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos será apresentado 
a seguir de forma geral, com vistas a atender às necessidades deste estudo. 
3.3.3.1. O Processo perante a CIDH
Veja, a seguir, uma tabela com as fases do processo perante a CIDH:
Quadro 11 - O processo perante a CIDH
Fase do Processo Descrição
Apresentação da petição O peticionário apresenta a petição perante a CIDH.
Análise da petição A CIDH analisa a petição e solicita informações ao Estado envolvido.
54Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Fase do Processo Descrição
Avaliação dos requisitos 
de admissibilidade
A CIDH avalia se a petição atende aos 
requisitos de admissibilidade e o Estado 
apresenta suas exceções preliminares.
Relatório de Admissibilidade/
Inadmissibilidade
A CIDH produz um relatório sobre a 
admissibilidade ou inadmissibilidade 
da petição, que é público.
Abertura do caso
Se a petição for admitida, o caso é aberto 
e as partes apresentam observações 
adicionais sobre as questões de conteúdo.
Solução amistosa
Se possível, os Estados e os peticionários 
chegam a uma solução amistosa, que 
é transmitida às partes e publicada.
Deliberação sobre o mérito
A CIDH deliberará sobre o mérito do 
caso e elaborará um relatório com os 
fatos alegados, as provas apresentadas, 
as informações obtidas nas audiências 
e nas investigações in loco.
Decisão sobre a violação
Se a CIDH decidir que houve violação, ela 
elaborará um relatório preliminar com 
recomendações ao Estado envolvido.
Implementação das 
recomendações
O Estado deve informar as medidas adotadas 
para cumprir as recomendações da CIDH.
Fonte: Elaborado pela autora.
É importante lembrar que o processo perante a CIDH pode variar de acordo com o 
caso e as circunstâncias específicas envolvidas. As fases apresentadas na tabela são 
uma síntese geral do processo.
3.3.3.2. O Processo perante a Corte IDH
A tramitação do caso na Corte IDH se divide em três fases: 
1. Procedimento Escrito
2. Procedimento Oral 
3. Procedimento Escrito Final
 
A CIDH submeterá um caso à Corte IDH por meio de relatório que contenha todos 
os fatos supostamente violadores dos direitos humanos, inclusive a identificação 
das supostas vítimas. Um Estado parte também poderá submeter um caso à Corte, 
55Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
conforme disposto no artigo 61 da Convenção Americana. 
A apresentação do caso será notificada à presidência da Corte e aos juízes, ao Estado 
demandado, à suposta vítima e seus representantes, e à CIDH (se não tiver sido ela 
quem apresentou o caso). 
Na fase do procedimento escrito, uma vez notificada a vítima ou seus representantes, 
esta deverá apresentar à Corte IDH, no prazo definido, seu escrito de petições, 
argumentos e provas, também chamado de EPAP. 
Na fase do procedimento final escrito, as vítimas (ou seus representantes) e o 
Estado demandado (e, se for o caso, o Estado demandante) têm a oportunidade de 
apresentar à Corte as alegações finais escritas, ou seja, suas observações quanto 
ao conteúdo do processo, antes de ser proferida a sentença. A CIDH também pode, 
se entender conveniente, apresentar as suas observações finais escritas. 
A Corte irá, então, deliberar privadamente e aprovar a sentença, que será notificada 
às partes. 
Um ponto de destaque é que, em caso de extrema gravidade e urgência, quando for 
necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte IDH poderá, nos assuntos de 
que estiver conhecendo, tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. 
As medidas provisórias podem ser adotadas pela Corte por iniciativa própria ou a 
pedido da suposta vítima ou de seus representantes. A Corte pode, ainda, atuar a 
pedido da CIDH, quando se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos 
ao seu conhecimento. A supervisão do cumprimento dessas medidas será feita com 
base nos relatórios do Estado e nas observações correlatas apresentadas pelos 
representantes dos beneficiários, bem como nas observações da CIDH.
Uma vez proferida a sentença, cabe à Corte IDH assegurar que os 
direitos proferidos na decisão se tornem realidade. Assim, a Corte 
é competente para supervisionar o cumprimento da sentença. 
A supervisão do cumprimento da sentença é feita por meio de:
• Relatórios elaborados pelo Estado indicando as medidas adotadas para 
cumprir a sentença 
• Observações apresentadas pelos representantes dos beneficiários às 
medidas que o Estado afirme ter adotado 
• Observações da CIDH aos Relatórios do Estado e aos apontamentos dos 
beneficiários 
A Corte IDH pode, quando entender conveniente, convocar as partes para uma 
audiência de supervisão da sentença. A Corte IDH apontará à Assembleia Geral da 
OEA os casos em que o Estado não tenhadado cumprimento à sua sentença com 
as recomendações correlatas.
56Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quando a Corte IDH decidir na sentença que houve violação de direitos humanos, 
fará três determinações:
1. Que se assegure à vítima a fruição do direito ou da liberdade que foi 
violado;
2. Que sejam reparadas as consequências da situação que tenha 
configurado a violação de seus direitos, quando couber;
3. O pagamento de indenização justa à parte lesada.
Sobre isso, veja a seguir trechos da sentença do caso Ximenes Lopes vs. Brasil, de 
2006. Na sentença, a Corte dispõe que:
6. O Estado deve garantir, em um prazo razoável, que o processo interno destinado 
a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso surta seus devidos 
efeitos, nos termos dos parágrafos 245 a 248 da presente Sentença. (CORTE IDH, 
2006, p. 84)
No ponto nº 6, a Corte exige que o estado investigue os responsáveis pela violação 
e os puna de acordo com a lei interna brasileira.
7. O Estado deve publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em outro 
jornal de ampla circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII relativo aos fatos 
provados desta Sentença, sem as respectivas notas de pé de página, bem como 
sua parte resolutiva, nos termos do parágrafo 249 da presente Sentença. (CORTE 
IDH, 2006, p. 84)
Nesse ponto resolutivo, a Corte exige que o Estado publique no Diário Oficial da 
União e em outro jornal trechos da sentença, visando dar publicidade ao caso.
8. O Estado deve continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação 
para o pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares 
de enfermagem e para todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúde 
57Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
mental, em especial sobre os princípios que devem reger o trato das pessoas 
portadoras de deficiência mental, conforme os padrões internacionais sobre a 
matéria e aqueles dispostos nesta Sentença, nos termos do parágrafo 250 da 
presente Sentença. (CORTE IDH, 2006, p. 84)
O ponto nº 8 da sentença estabelece uma garantia de não 
repetição, ou seja, a Corte exige do Estado uma medida que 
contribua para que as violações ocorridas no caso não voltem a 
ocorrer no futuro. No caso do ponto nº 8, a medida exigida é a 
capacitação dos profissionais da área da saúde sobre os princípios 
e padrões internacionais que devem nortear os cuidados em 
saúde das pessoas com transtornos mentais.
9. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes 
e Irene Ximenes Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título de indenização 
por dano material, a quantia fixada nos parágrafos 225 e 226, nos termos dos 
parágrafos 224 a 226 da presente Sentença. 
10. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes 
e Irene Ximenes Lopes Miranda e para os senhores Francisco Leopoldino Lopes 
e Cosme Ximenes Lopes, no prazo de um ano, a título de indenização por dano 
imaterial, a quantia fixada no parágrafo 238, nos termos dos parágrafos 237 a 
239 da presente Sentença. (CORTE IDH, 2006, p. 84)
Os pontos nº 9 e nº 10 ordenam o pagamento das indenizações devidas aos familiares 
da vítima.
12. Supervisionará o cumprimento íntegro desta Sentença e dará por concluído 
este caso uma vez que o Estado tenha dado cabal cumprimento ao disposto nesta 
Sentença. No prazo de um ano, contado a partir da notificação desta Sentença, 
o Estado deverá apresentar à Corte relatório sobre as medidas adotadas para o 
seu cumprimento. (CORTE IDH, 2006, p. 84)
Nesse ponto, a Corte informa que irá supervisionar o cumprimento da sentença, e 
que só considerará o caso como concluído quando todos os dispositivos tiverem sido 
cumpridos. O ponto também exige que o Estado apresente um relatório informando 
as atividades que realizou no sentido de cumprir a sentença.
58Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A obrigação do Estado de cumprir imediatamente as decisões 
judiciais da Corte é parte intrínseca da sua obrigação de cumprir 
de boa-fé as disposições da Convenção Americana, e vincula 
todos os Poderes e órgãos desse Estado, incluindo os membros 
do Poder Legislativo, seus juízes e os órgãos vinculados à 
administração de justiça. Por isso, não cabe a tais agentes 
públicos invocar disposições do direito interno (as leis do país) 
para se esquivar de cumprir as sentenças da Corte IDH, conforme 
falamos anteriormente.
O Estado brasileiro executa a sentença da Corte IDH espontaneamente, ou seja, 
sem a necessidade de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça ou de que seja 
proposta qualquer medida judicial. 
3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos
O Sistema Europeu de Direitos Humanos iniciou-se por meio da adoção da 
Convenção para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, 
no ano de 1950, pelo Conselho da Europa. O Conselho da Europa é uma organização 
internacional com sede em Estrasburgo.
3.4.1. Órgãos do Sistema Europeu
A disposição dos órgãos de direitos humanos do Conselho da Europa se baseia em 
três temas. A cada um desses temas estão vinculados órgãos do Sistema Europeu 
de Direitos Humanos:
1. Proteção dos Direitos Humanos
• Corte Europeia de Direitos Humanos
• Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou 
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
2. Promoção dos Direitos Humanos
• Comissário para os Direitos Humanos
• Grupo de Peritos sobre a Luta contra o Tráfico de Seres Humanos
• Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância
• Comitê de Peritos da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias
• Comitê Consultivo da Convenção Quadro para a Proteção das Minorias 
Nacionais
3. Garantia dos Direitos Sociais
• Comitê Europeu dos Direitos Sociais
59Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O Sistema Europeu possui um órgão judicial: a Corte Europeia de Direitos Humanos. 
Os demais órgãos são políticos, porque não solucionam casos por meios alternativos 
ao julgamento, e a eles cabe avaliar a situação dos direitos humanos nos Estados 
membros do Conselho da Europa. 
A Corte Europeia de Direitos Humanos foi instituída em 1959. O órgão funciona 
de forma permanente e possui competência para decidir todas as questões 
relacionadas à interpretação e à aplicação da Convenção Europeia e dos seus 
respectivos protocolos.
A Corte possui competência contenciosa e consultiva, pois pode emitir pareceres 
sobre questões jurídicas relacionadas à interpretação da Convenção e de seus 
protocolos. O número de juízes da Corte Europeia é igual ao número de Estados 
partes: 47 juízes.
3.4.2. Normas do Sistema Europeu
O Sistema Europeu de Direitos Humanos possui instrumentos gerais e instrumentos 
temáticos.
Instrumentos gerais:
• Convenção Europeia de Direitos Humanos
• Carta Social Europeia de Direitos Humanos
Instrumentos Temáticos:
• Convenção Europeia sobre o Status Legal dos Trabalhadores Migrantes 
(1977)
• Convenção para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos 
Desumanos ou Degradantes (1987)
• Convenção sobre a Participação de Estrangeiros na Vida Pública (1992)
• Convenção Quadro para a Proteção das Minorias Nacionais (1994)
• Convenção de Oviedo (Convenção para a Proteção dos Direitos 
Humanos e Dignidade do Ser Humano em Relação à Aplicação na 
Biologia e Medicina) (1997)
• Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos das Crianças (2000)
• Convenção Europeia sobre Nacionalidade (2000)
• Convenção sobre o Cibercrime (2001) e seu Protocolo sobre Xenofobia e 
Racismo (2003)
• Convenção sobre a Ação Contra o Tráfico de Pessoas (2005)
• Convenção do Conselho da Europa para a Proteção da Criança Contra a 
Exploração Sexual e Abuso Sexual (Convenção Lanzarote) (2007)
• Convenção sobre a Prevenção e Combate à Violência Contra a Mulher e 
Violência Doméstica (Convenção de Istambul) (2011)
60Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Veja a seguir informações sobre os instrumentos normativos gerais doSistema 
Europeu.
 + Convenção Europeia de Direitos Humanos
A Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH), de 1950, foi o primeiro 
tratado de direitos humanos adotado no mundo. A CEDH, adotada por 
doze Estados membros do Conselho da Europa foi o primeiro instrumento a 
possibilitar que os indivíduos usassem instrumentos de petição individual para 
responsabilizar os Estados no plano Internacional.
Entre os direitos e liberdades protegidos pela CEDH, podemos citar o direito à 
vida (art. 2º) e a proibição de discriminação (art. 14).
 + Carta Social Europeia de Direitos Humanos
A Carta Social Europeia de Direitos Humanos foi adotada em 1961 e revista em 
1996. Por meio desse instrumento, o Conselho da Europa proclamou os direitos 
econômicos e sociais. 
3.4.3. Processo perante a Corte Europeia de Direitos Humanos
A petição perante a Corte pode ser apresentada por qualquer pessoa singular, 
organização não governamental ou grupo de pessoas que se considere vítima de 
violação dos direitos reconhecidos na Convenção ou nos seus protocolos, que tenha 
sido cometida por qualquer Estado parte. Os Estados também podem submeter à 
Corte Europeia violações das disposições da Convenção que acreditem que outro 
Estado tenha cometido. 
Em resposta, a Corte pode conceder medidas provisórias, decidir sobre a 
admissibilidade da petição e proferir sentenças, que geralmente ordenam uma 
reparação razoável ou “satisfação equitativa”. Os Estados, por sua vez, deverão 
respeitar as sentenças definitivas da Corte Europeia.
3.4.4. Mecanismos do Sistema Europeu de Direitos Humanos
O Sistema Europeu adota, de modo similar aos Sistemas ONU e Interamericano, 
mecanismos para monitorar o cumprimento das normas de direitos humanos pelos 
Estados. Entre eles, destacam-se, além do mecanismo judicial executado pela Corte 
Europeia:
 + Mecanismos no âmbito do Comitê Europeu de Direitos Sociais
O Comitê de Direitos Sociais monitora o cumprimento da Carta Social Europeia 
por meio dos mecanismos de petições coletivas, que são apresentadas por 
61Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
parceiros sociais e organizações não governamentais (procedimento de petição 
coletiva), e através de relatórios nacionais elaborados pelos Estados (sistema 
de relatórios).
 + Mecanismos no âmbito do Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e 
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
O Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas 
Cruéis, Desumanos ou Degradantes “realiza visitas a lugares de detenção de 
pessoas para verificar como estão sendo tratadas. Após a visita, o Comitê elabora 
relatório detalhado ao estado envolvido com recomendações, comentários e 
pedidos de informação” (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p 315).
3.5. Conclusão
Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos são responsáveis por promover a 
proteção dos direitos humanos em todo o globo. Esses Sistemas são formados por 
normas, que os conduzem; órgãos, que monitoram o cumprimento das normas; e 
mecanismos, que são as ferramentas usadas pelos órgãos no monitoramento. 
Estudamos três Sistemas de Direitos Humanos, o sistema global (ONU) e os sistemas 
regionais (Interamericano e Europeu). Esses sistemas são independentes entre si 
e atuam de forma não hierárquica. Cada um desses órgãos possui seus próprios 
elementos e estruturas de funcionamento. 
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos conta com a Convenção Americana 
de Direitos Humanos, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos julga as petições 
individuais que denunciam descumprimentos aos dispositivos da Convenção. 
Nesse contexto, o caso Ximenes Lopes vs. Brasil consistiu em uma demanda 
apresentada à Corte IDH contra o Estado brasileiro pela violação aos artigos 4 (Direito 
à Vida), 5 (Direito à Integridade Pessoal), 8 (Garantias Judiciais) e 25 (Proteção Judicial) 
da Convenção Americana. O Estado brasileiro foi condenado, em 2006, pela violação 
desses artigos e vem desde então adotando medidas para cumprir o disposto na 
sentença. Uma dessas medidas é o desenvolvimento de:
(...) um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, de psiquiatria 
e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas 
vinculadas ao atendimento de saúde mental, em especial sobre os princípios que 
devem reger o trato das pessoas portadoras de deficiência mental, conforme os 
62Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
padrões internacionais sobre a matéria. (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS, 2006, p. 84)
O estudo dos Sistemas de Direitos Humanos é relevante para que possamos 
compreender o caminho percorrido pelas demandas de direitos humanos até que 
os Estados sejam internacionalmente compelidos a tomar medidas para a promoção 
desses direitos. 
63Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá, estudante! 
Neste módulo, trabalharemos os três campos de interação entre direitos humanos 
e saúde. A seguir, trataremos do direito à saúde e, particularmente, do direito à 
saúde mental. Por fim, entenderemos de que forma os direitos humanos se aplicam 
às pessoas sob cuidados em saúde. 
1. Os três campos de interação entre direitos 
humanos e saúde
Identificar a aplicação dos direitos humanos no contexto da 
saúde mental.
Os direitos humanos são universais. Eles foram criados com a finalidade de proteger 
a dignidade e o inerente e igual valor de todas as pessoas. Esses direitos são 
inalienáveis, interdependentes e se relacionam entre si.
Para fins didáticos, os direitos humanos foram divididos em direitos civis, culturais, 
econômicos, políticos e sociais.
Os direitos humanos se definem e são garantidos por meio do direito estabelecido 
pelos instrumentos internacionais. Com base no Direito Internacional, os Estados 
assumem a obrigação de respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos:
• A obrigação de respeitar esses direitos quer dizer que os Estados 
precisam se abster de interferir ou limitar o seu usufruto.
• A obrigação de proteger os direitos humanos exige dos Estados que 
protejam os indivíduos e grupos contra uma interferência indevida no 
gozo dos direitos humanos por parte de outras pessoas ou entidades.
• A obrigação de cumprir significa que os Estados precisam adotar 
medidas positivas para garantir a fruição dos direitos humanos.
 Módulo
Saúde e Direitos Humanos2
64Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Entre os direitos humanos reconhecidos em diversos instrumentos normativos está 
o direito à saúde. Esse direito está afirmado diretamente em documentos de direitos 
humanos internacionais e regionais, como a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, entre 
outros documentos.
Alguns direitos humanos estão relacionados à saúde de forma indireta, o que nos 
mostra que há um relacionamento complexo entre a saúde e o campo dos direitos 
humanos. Para ilustrar essa ligação, as conexões entre saúde e direitos humanos 
são muitas vezes descritas como os três campos de interação entre direitos 
humanos e saúde, que compreendem: 
• Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde;
• Redução da vulnerabilidade relacionada a problemas de saúde por 
meio dos direitos humanos; e
• Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde.
 Figura 24 - Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde
Fonte: Elaborada pela autora, com base em ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Direitos 
humanos e saúde. [S.l.]: OMS, 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/
fact-sheets/detail/human-rights-and-health#:~:text=The%20right%20to%20health%2C%20
as,consensual%20medical%20treatment%20and%20experimentation). Acesso em: 17 mar. 2023.
Você verá, a seguir, o detalhamento de cada um desses campos. 
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-rights-and-health#
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-rights-and-health#65Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1. Violações dos direitos humanos que resultam 
em problemas de saúde
Violações de direitos humanos como práticas tradicionais prejudiciais, tortura, 
escravidão ou violência contra mulheres e crianças podem resultar em sérios 
problemas de saúde.
Figura 25 - Violações de direitos humanos e problemas de saúde
Fonte: Elaborada pela autora. 
 + Práticas tradicionais prejudiciais 
São procedimentos persistentes e formas de comportamento fundamentados 
na discriminação com base em sexo, gênero e idade, entre outros aspectos, 
além de múltiplas formas de discriminação que comumente envolvem violência 
e causam sofrimento e dano físico e/ou psicológico. Essas práticas tradicionais 
podem ser novas ou regressas, e são prescritas e/ou mantidas por normas sociais 
que perpetuam a dominação masculina e a desigualdade de mulheres e crianças 
com base em sexo, gênero, idade e outros fatores.
Um exemplo de prática tradicional prejudicial é a mutilação genital feminina, 
que consiste em qualquer procedimento que implique a remoção, parcial 
ou total, dos órgãos genitais das mulheres, ou qualquer dano provocado aos 
órgãos genitais, seja por razões culturais ou por outras razões não terapêuticas. 
66Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Entre os danos à saúde causados pela mutilação genital feminina, incluem-se 
a maior vulnerabilidade a diferentes tipos de infecções, como as sexualmente 
transmissíveis e ao HIV, visto que o procedimento é normalmente feito sem 
condições de higiene, com instrumentos rudimentares e não esterilizados. 
A mutilação genital feminina é praticada em mais de 40 países, o que inclui regiões 
na América do Sul, no continente Africano, Arábia Saudita, Paquistão e Índia. 
A proibição de práticas tradicionais nocivas contra as mulheres está articulada 
na Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e na 
Recomendação Geral 24 sobre Mulheres e Saúde do Comitê para a Eliminação 
de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1999).
 + Tortura
Há diversas normativas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) 
sobre o tema da tortura e de outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos 
ou degradantes. A Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos 
Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi adotada em 1984. 
De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou 
sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma 
pessoa a fim de: 
• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões; 
• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou 
seja suspeita de ter cometido; 
• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas ou por qualquer 
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza. 
A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um 
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua 
instigação, ou com o consentimento e aquiescência desses agentes. 
É importante destacar que não se consideram tortura as dores ou sofrimentos 
que são consequência unicamente de sanções legítimas ou que são inerentes a 
tais sanções, ou delas decorram. Além da Convenção contra a Tortura e Outras 
Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a proibição contra 
a tortura está articulada em outros instrumentos de direitos humanos, incluindo 
o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos: o artigo sétimo afirma 
que ninguém deve ser submetido a tortura ou a outros tratamentos ou penas 
cruéis desumanos ou degradantes. Em particular, ninguém pode ser submetido 
sem seu livre consentimento a experimentos médicos ou científicos. 
A tortura provoca severas consequências na saúde da vítima. É comum que 
sobreviventes de tortura apresentem estresse pós-traumático, comorbidades 
psicológicas e deficiências físicas. As respostas à experiência de tortura podem 
67Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
ser complexas, envolvendo alterações na capacidade de regular as emoções, 
prejuízo no processamento das relações interpessoais, percepção reduzida 
de controle e perda de identidade. Ademais, sobreviventes de tortura podem 
enfrentar desafios no ajuste pós-trauma, como conflito interno contínuo e, no 
caso de pessoas deslocadas e migrantes, estresse pós-migração, incluindo as 
questões relacionadas à separação familiar, preocupações socioeconômicas, 
incerteza de visto e discriminação.
Assim, as necessidades dos sobreviventes de tortura apresentam desafios 
substanciais às abordagens tradicionais de tratamento. O conhecimento 
relacionado a outros grupos afetados por traumas não pode ser generalizado 
para essa população. 
De acordo com a Convenção sobre a Escravatura ou Convenção sobre a Escravidão 
de 1926, a escravidão é o estado ou condição de uma pessoa sobre a qual são 
exercidos todos ou alguns dos poderes inerentes ao direito de propriedade. 
O artigo 1.2 da Convenção afirma que:
O tráfico de escravos inclui todos os atos que envolvam a captura, 
aquisição ou alienação de uma pessoa com a intenção de reduzi-la à 
escravidão; todos os atos que envolvam a aquisição de um escravo 
com vistas a vendê-lo ou trocá-lo; todos os atos de alienação por 
venda ou troca de um escravo adquirido com o objetivo de ser 
vendido ou trocado e, em geral, todo ato de comércio ou transporte 
de escravos. (CONVENÇÃO SOBRE A ESCRAVATURA, 1926, Art. 2.1, 
tradução nossa) 
Sobre esse assunto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que 
“ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de 
escravos serão proibidos em todas as suas formas” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL 
DOS DIREITOS HUMANOS, 1948). 
Em alguns países, o estigma associado ao tráfico sexual pode ser reforçado por 
sistemas legais que criminalizam a prostituição. O tráfico sexual pode também 
levar a consequências em saúde, como HIV/AIDS, e ao abuso de substâncias, 
que estão associados a mais estigma. É importante perceber que fatores gerais 
de risco de estresse pós-traumático incluem condições da vítima, como ser 
do sexo feminino, ter baixo nível educacional e transtornos de saúde mental 
preexistentes, que são fatores comumente percebidos em vítimas de tráfico.
No que diz respeito às crianças, formas de trabalho infantil, como a servidão 
doméstica, constituem formas contemporâneas de escravidão. As crianças 
submetidas a essas violações normalmente não têm acesso efetivo à educação e 
a serviços básicos de saúde.
68Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
No caso de trabalhadores migrantes, sua vulnerabilidade à escravidão aumenta, 
já que ficam relegados à economia informal para contornar as vias legais de 
trabalho e estão sujeitos ao pagamento de taxas de contratação e a práticas 
fraudulentas de intermediários de mão de obra. Isso os leva à baixa participação 
na sociedade, à saúde precária e à falta de rede de segurança, fatores condutores 
da escravidão.
 + Violência contra as mulheres
A Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres (1993) define a 
violência contra as mulheres como: 
Qualquer ato de violência baseado no gênero do qual resulte, ou 
possa resultar, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para 
as mulheres, incluindo as ameaças de tais atos, a coação ou a privação 
arbitrária de liberdade, que ocorra, quer na vida pública, quer na 
vida privada”. (DECLARAÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DA VIOLÊNCIA 
CONTRA AS MULHERES, 1993, Art. 1)
Além dessa Declaração, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher (1979) também se refere ao assunto, pois afirma 
que os Estados partes devem tomar todas as medidas apropriadas para eliminar 
a discriminação contra as mulheres no campo dos cuidados em saúde e para 
assegurar, com base na igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços 
de cuidado em saúde, incluindo aqueles relacionados ao planejamentofamiliar. 
A violência contra as mulheres se manifesta de diversas formas, entre as quais 
podemos citar a violência obstétrica. De acordo com a Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos (CIDH), a violência obstétrica é definida como:
“Apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres 
pelos profissionais de saúde, através do tratamento desumanizado, 
abusivo, intervencionista, discriminatório e sem base em evidências 
científicas, e inclui a recusa de atenção obstétrica e neonatal” (CIDH, 
2019, p. 1).
As consequências desse tipo de violência afetam a saúde física e mental da vítima. 
No quesito da saúde mental, são consequências o aparecimento de quadros 
de tristeza, episódios psicóticos e probabilidade de surgimento de transtornos 
psiquiátricos durante o período pós-parto, o que interfere na formação de um 
vínculo afetivo saudável entre a mãe e o bebê.
69Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-
doença por meio dos direitos humanos
A observância de diversos direitos tem o potencial de reduzir a vulnerabilidade a 
problemas de saúde. Alguns desses direitos são: o direito à informação, à educação, 
à comida e à nutrição, e à água. 
A vulnerabilidade e o impacto dos problemas de saúde podem ser reduzidos se 
forem tomadas medidas para proteger, respeitar e cumprir os direitos humanos.
Figura 26 - Direitos humanos e vulnerabilidade em relação a problemas de saúde
Fonte: Elaborada pela autora.
O direito à informação é protegido pelo artigo 19 do Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos, e pode ser definido como a liberdade de buscar, receber 
e difundir informações de qualquer natureza. A informação é importante 
ferramenta no desenvolvimento de uma cultura de responsabilização e realização 
dos direitos humanos.
No âmbito da saúde, o respeito ao direito à informação afeta diretamente a saúde 
das pessoas sob cuidados em saúde, na medida em que a falta de conhecimento da 
população sobre informações em saúde as torna mais vulneráveis em relação à sua 
própria condição. Sobre isso, assista ao vídeo a seguir, que explica a vulnerabilidade 
da pessoa sob cuidados em saúde internada:
70Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Vídeo 2 - A vulnerabilidade da pessoa sob cuidados em saúde na 
internação hospitalar
Nesse sentido, ganha importância o conceito do consentimento informado, que 
pode ser definido como: 
Uma decisão voluntária e suficientemente informada 
capaz de promover autodeterminação, integridade 
física e bem-estar da pessoa sob cuidados em saúde 
(ALBUQUERQUE, 2016).
Desse modo, o consentimento informado é a 
concretização do respeito da autonomia da pessoa 
sob cuidados em saúde para decidir sobre aquilo que 
lhes é mais íntimo: o corpo. (ELER; ALBUQUERQUE, 
2020, p. 121)
Por meio do direito à informação, é possível reduzir a vulnerabilidade em relação a 
problemas de saúde, como pode ser observado no exemplo a seguir: 
[...] em 2015, no Caso Montgomery versus Lanarkshire 
Health Board no qual uma mulher diabética sofreu 
complicações obstétricas ao optar pelo parto normal, 
que gerou redução severa da oxigenação no cérebro 
do feto. Esse problema, frequente em mulheres 
diabéticas que têm fetos maiores, ocorreu em razão da 
dificuldade de passagem do feto pelo canal vaginal. A 
pessoa sob cuidados em saúde alegou que se soubesse 
do risco, teria optado por fazer uma cesárea. A médica 
obstetra, por sua vez, defendeu-se dizendo que não 
havia informado tal risco por ser a probabilidade de 
ocorrência pequena (ELER; ALBUQUERQUE, 2020, p. 
120).
O direito à educação é protegido pelo artigo 13 do Pacto Internacional sobre 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). Esse direito inclui o acesso à 
educação em apoio aos conhecimentos básicos de saúde e nutrição infantil, as 
https://youtu.be/s_z9JxBgErg
https://youtu.be/s_z9JxBgErg
71Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
vantagens do aleitamento materno, higiene e saneamento ambiental e prevenção 
de acidentes. A adoção de medidas relacionadas a esses conhecimentos diminui a 
vulnerabilidade a problemas de saúde: diversos estudos e pesquisas demonstram 
a relação entre a escolaridade materna e a mortalidade infantil. De acordo com 
um estudo realizado por Victora et al. (2003), o aumento do nível de escolaridade 
das mães está associado à redução na mortalidade infantil. Os autores afirmam 
que a educação e a informação para as mães são fundamentais para promover a 
equidade social e reduzir as desigualdades na saúde infantil.
O direito à alimentação adequada está previsto no artigo 11 do Pacto Internacional 
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. De acordo com a Organização 
Mundial da Saúde (OMS), o direito à informação em saúde é fundamental para 
prevenir doenças relacionadas à nutrição, tais como a desnutrição e a obesidade. 
Por exemplo, o acesso à informação sobre os benefícios de uma dieta equilibrada e 
variada pode ajudar a prevenir o diabetes, o colesterol elevado e o câncer causado 
por práticas alimentares inadequadas (OMS, 2021). Além disso, a falta de informação 
também pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares, como 
a anorexia nervosa e a bulimia.
A Resolução das Nações Unidas A/RES/64/292 declarou que a água limpa e segura, 
bem como o saneamento, são direitos humanos essenciais para que se possa gozar 
plenamente a vida e todos os outros direitos humanos. O respeito ao direito à água 
reduz a vulnerabilidade a diversos problemas de saúde:
São vários os problemas relacionados à desigualdade e 
à precariedade no acesso à água potável, dentre estes 
estão as doenças ligadas à falta de higiene pessoal 
e doméstica, em decorrência do déficit no acesso; 
as causadas pela ingestão de água com qualidade 
sanitária insatisfatória; as relacionadas ao contato 
com a água contaminada; e as transmitidas por meio 
de transmissores aquáticos. Nessa conjuntura, está 
a pandemia da Covid-19, que surgiu em 2020, com 
uma significativa desigualdade social, onde pessoas 
sobrevivem em condições precárias de habitação ou 
não a tem, e sem acesso a serviço de abastecimento 
de água adequado, o que intensifica os problemas e 
dificulta o enfrentamento da crise sanitária. (SILVA et 
al., 2022, p. 115)
Assim, verifica-se que respeitar os direitos humanos é uma forma de diminuir a 
vulnerabilidade dos indivíduos a problemas de saúde. Nesse sentido, cabe aos 
72Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Estados promover o cumprimento desses direitos como medida de saúde para os 
seus jurisdicionados. 
1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos 
por meio da saúde
Políticas e programas em saúde podem promover os direitos humanos ou violá-
los, a depender da forma como são formulados ou implementados. Alguns dos 
direitos humanos que podem ser afetados pelos programas e políticas em saúde 
são o direito à participação, o direito a não discriminação, o direito à privacidade e o 
direito à liberdade de movimento. 
Por exemplo, se uma prática ou política em saúde discriminar um grupo de pessoas, 
isso constitui uma violação de direitos humanos. Por outro lado, assegurar o direito 
a não discriminação por meio de uma política em saúde promoveria os direitos 
humanos. 
Nesse sentido, é importante ter em mente que grupos vulneráveis e marginalizados 
em sociedades costumam sofrer com problemas de saúde de forma desproporcional 
com relação à maioria. A discriminação aberta ou implícita é comumente a causadora 
de Estados de saúde deficitários. Na prática, a discriminação pode se manifestar por 
meio de programas de saúde direcionados inadequadamente e do acesso restrito 
aos serviços de saúde.
Assim, de acordo com a OMS: 
A proibição da discriminação não significa que as diferenças não devam ser 
reconhecidas, mas apenas que o tratamento diferenciado – e a falta de tratamento 
igualitário de casos iguais – deve ser baseado em critérios objetivose razoáveis 
destinados a corrigir os desequilíbrios dentro de uma sociedade. Em relação 
à saúde e aos cuidados de saúde, os fundamentos para a não discriminação 
evoluíram e podem agora ser resumidos na proibição de “qualquer discriminação 
no acesso aos cuidados de saúde e aos determinantes subjacentes da saúde, 
bem como aos meios e direitos para a sua aquisição, motivos de raça, cor, sexo, 
idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, 
riqueza, nascimento, deficiência física ou mental, estado de saúde (incluindo HIV/
AIDS), orientação sexual, orientação civil, política, social ou outro status, que 
tenha a intenção ou o efeito de anular ou prejudicar o igual gozo ou exercício do 
direito à saúde”. (OMS, 2002, p. 11, tradução nossa) 
73Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Nesse ponto, é relevante destacar o tema do racismo estrutural e institucional. 
Essas são formas de discriminação que estão enraizadas nas estruturas e instituições 
da sociedade, afetando negativamente grupos específicos, especialmente as pessoas 
negras. O jurista e professor Silvio Almeida, atual Ministro de Estado dos Direitos 
Humanos e da Cidadania, é um dos principais pesquisadores e teóricos brasileiros 
sobre o tema. 
Segundo Almeida, o racismo estrutural é um tipo de racismo que está presente nas 
estruturas e instituições da sociedade, perpetuando a desigualdade racial. Essas 
desigualdades não são resultado de ações individuais, mas sim de uma estrutura 
social que perpetua o racismo e a exclusão. No que diz respeito à saúde mental, 
o racismo estrutural se manifesta, por exemplo, na falta de acesso equitativo a 
serviços de saúde mental para grupos raciais historicamente marginalizados: a 
falta de recursos para tratamentos em áreas de baixa renda, a falta de profissionais 
de saúde mental em comunidades negras e a estigmatização da saúde mental em 
algumas comunidades.
O racismo institucional é uma forma de discriminação que ocorre em instituições 
sociais, prejudicando ou favorecendo grupos raciais de forma indireta: “O racismo 
institucional, por sua vez, é resultado do funcionamento das instituições, que passam 
a atuar em uma dinâmica que confere, ainda que indiretamente, desvantagens e 
privilégios com base na raça” (ALMEIDA, 2019, p. 26).
O racismo institucional pode ser relacionado à saúde mental quando há falta de 
acesso a serviços de saúde mental de qualidade para grupos raciais marginalizados. 
Isso pode se manifestar através de políticas e práticas de saúde que desconsideram 
as necessidades e experiências desses grupos, além de perpetuar estereótipos e 
preconceitos em relação a eles.
É importante reconhecer a existência do racismo institucional na área da saúde 
mental para que se possa agir para combatê-lo, promovendo a diversidade e a 
inclusão na equipe de saúde mental e desenvolvendo políticas que garantam o 
acesso equitativo a serviços de saúde mental de qualidade para todos.
Você pode saber mais sobre o tema racismo institucional e 
estrutural por meio da leitura da obra “Racismo Estrutural”, de 
Silvio Luiz de Almeida (ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. 
São Paulo: Editora Polen, 2010). 
No que diz respeito ao direito à participação, a abordagem de direitos humanos 
aplicada à saúde envolve o exercício desse direito, na medida em que os beneficiários 
das políticas de saúde devem participar de forma livre, significativa e efetiva dos 
74Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
processos que os afetam. O direito à participação está previsto na Declaração 
sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986, e em outros instrumentos de direitos 
humanos. Nesse sentido, destaca-se a disposição presente no Pacto Internacional 
sobre os Direitos Civis e Políticos:
Art. 25. Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas 
de discriminação mencionadas no artigo 2 e sem restrições infundadas:
a) De participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de 
representantes livremente escolhidos;
(PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, 1966, Art. 25)
Assim, quando a formulação e implementação políticas públicas e práticas em 
saúde envolvem a contribuição da população afetada, pode-se dizer que acontece a 
promoção do direito à participação. Por outro lado, tais políticas podem violar o direito 
à participação quando excluem de seu processo de formulação e implementação os 
beneficiários dessas medidas.
Por outro lado, um Estado que encarcera ou restringe os movimentos de pessoas 
com HIV/AIDS, se recusa a permitir que médicos tratem pessoas que se acredita 
serem opostas a um governo, ou deixa de fornecer imunização contra as principais 
doenças infecciosas da comunidade por motivos como segurança nacional ou 
a preservação da ordem pública, tem o ônus de justificar medidas tão graves. 
(OMS, 2002, p. 19, tradução nossa) 
Essas medidas podem violar o direito humano à liberdade de movimento. 
O direito à privacidade é protegido pelo artigo 17 do Pacto Internacional sobre os 
Direitos Civis e Políticos:
ARTIGO 17
1. Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida 
privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de 
ofensas ilegais às suas honra e reputação.
75Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas. 
(PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, 1966, Art. 17)
Em respeito a esse direito, os dados pessoais de saúde devem ser tratados com 
confidencialidade: 
A coleta de informações pessoais de indivíduos sobre seu estado de saúde (por 
exemplo, infecção por HIV, câncer ou distúrbios genéticos) ou comportamento 
(por exemplo, orientação sexual ou uso de álcool ou outras substâncias 
potencialmente nocivas) têm o potencial de uso indevido pelo Estado, seja 
diretamente ou porque esta informação é intencionalmente ou inadvertidamente 
disponibilizada a outros. (OMS, 2002, p. 19, tradução nossa)
Ainda, a existência de normas e padrões de direitos humanos deve estimular 
a coleta de evidências indicando os dados que são necessários para enfrentar 
complexos desafios de saúde: 
Mais amplamente aceita é a noção de que os direitos humanos são relevantes 
para a maneira como os dados de saúde devem ser coletados. Isso inclui a 
escolha dos métodos de coleta de dados que devem incluir considerações sobre 
como garantir o respeito aos direitos humanos, como privacidade, participação 
e não discriminação. Em segundo lugar, os instrumentos internacionais podem 
ser úteis na definição de vários grupos populacionais. Por exemplo, a Convenção 
da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais fornece uma base oficial para identificar 
e diferenciar os povos indígenas e tribais de outros grupos populacionais. (OMS, 
2002, p. 19, tradução nossa)
Embora saibamos que os direitos humanos são muitas vezes violados por políticas e 
medidas de saúde, alguns direitos humanos não podem ser restritos em nenhuma 
circunstância, como o direito a não ser torturado e a não ser escravizado, e a 
liberdade de pensamento, de consciência e de religião. As cláusulas de limitação e 
de derrogação nos instrumentos de direitos humanos reconhecem a necessidade 
de limitar direitos humanos em algumas situações. A saúde pública é, muitas vezes, 
usada pelos Estados como base para limitar o exercício de direitos humanos.
76Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Um fator chave para determinar se as proteções necessárias existem quando os 
direitos são restringidos é que cada um dos cinco critérios dos Princípios de Siracusa 
deve ser atendido. Mesmo em circunstâncias em que as limitações por motivos de 
proteção da saúde pública são basicamente permitidas, elas devem ser de duração 
limitada e sujeitas a revisão. 
Somente como último recurso é que os direitos humanos podem sofrer 
interferências para atingir uma metade saúde pública. Tal interferência só 
pode ser justificada quando todas as circunstâncias estritamente definidas 
estabelecidas na lei de direitos humanos, conhecidas como Princípios de Siracusa, 
forem atendidas. (OMS, 2002, p. 18, tradução nossa) 
São os critérios dos princípios de Siracusa:
• A restrição ao direito é prevista e realizada de acordo com a lei; 
• A restrição atende a um objetivo legítimo de interesse geral;
• A restrição é estritamente necessária, em uma sociedade 
democrática, para atingir o objetivo;
• Não existem meios menos intrusivos e restritivos disponíveis 
para atingir o mesmo objetivo;
• A restrição não é redigida ou imposta arbitrariamente, ou seja, 
de forma irracional ou discriminatória. 
Assim, percebemos que, a depender da forma como políticas e programas em saúde 
são implementados, eles podem causar a promoção dos direitos humanos ou a sua 
violação. Sendo assim, cabe aos Estados verificar seus compromissos internacionais 
de direitos humanos ao formular medidas em saúde, com vistas a evitar práticas 
violadoras de direitos humanos. 
Nesse sentido, cabe destacar que a implementação de políticas de saúde para 
combater a propagação do vírus da Covid-19 e tratar seus efeitos tem impacto 
significativo nos direitos humanos. Por exemplo, medidas como quarentenas e 
lockdowns limitam o direito de liberdade de movimento, enquanto a falta de acesso 
a tratamentos e equipamentos de proteção individual pode afetar o direito à saúde 
e à vida. Dessa forma, é fundamental que os Estados garantam que suas medidas de 
saúde durante a pandemia estejam em conformidade com os padrões internacionais 
de direitos humanos e evitem violações desses direitos.
77Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. Direito à saúde
 
Reconhecer a saúde e a saúde mental enquanto direitos.
O direito à saúde é um direito humano. Sendo assim, ele está protegido em diversos 
documentos, como o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais, no artigo 12:
ARTIGO 12
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de 
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim 
de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam 
necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o 
desenvolvimento são das crianças;
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais 
e outras, bem como a luta contra essas doenças;
d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços 
médicos em caso de enfermidade.
(Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 1966, art. 
12). 
A seguir, estudaremos o direito à saúde, abordando o seu conteúdo, os seus 
elementos e as formas de monitoramento desse direito. Por fim, trataremos do 
direito à saúde mental.
2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e 
monitoramento
Para compreender o direito à saúde, é necessário estudar o seu conteúdo, os seus 
elementos e as formas de monitoramento pelos órgãos internacionais de direitos 
humanos. Vejamos a seguir esses fatores. 
78Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2.1.1. Conteúdo do direito à saúde
Conforme disposto no artigo 12 do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, mencionado anteriormente, toda pessoa tem o direito de 
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental, ou seja, o direito à 
saúde. Esse direito é definido pelo Comitê da ONU sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais como o direito ao desfrute de:
• Bens
• Serviços
Determinantes sociais da saúde
Para que se possa alcançar o mais alto nível possível de saúde física e mental.
Para o Comitê, o direito à saúde não consiste somente no cuidado em saúde 
oportuno e apropriado, mas também envolve os principais fatores determinantes 
da saúde, como:
• O acesso à água potável
• Condições sanitárias e habitação adequada
• Condições sadias de trabalho e meio ambiente
• Acesso à educação e à informação sobre questões relacionadas à saúde
O direito à saúde inclui, ainda, serviços de proteção e prevenção no campo da 
saúde.
Assim, é importante compreender que o direito à saúde não 
consiste no direito de estar saudável. Ele consiste no direito a 
um conjunto de bens, serviços e instalações que devem estar 
disponíveis, acessíveis e ser aceitáveis e de qualidade.
79Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 27 - Direito à saúde
Fonte: Elaborada pela autora. 
O direito à saúde é guiado por cinco princípios:
1. Igualdade
2. Não discriminação
3. Accountability
4. Participação
5. Proteção dos vulneráveis
Os princípios da igualdade e da não discriminação demandam dos Estados que 
abordem a discriminação em leis políticas e práticas, assim como na distribuição e 
provisão de recursos e serviços de saúde. 
A discriminação pode ser indireta e ocorrer, por exemplo, por 
meio de políticas e ações que ignorem questões de gênero, e que 
por isso levem a desigualdades no acesso e usufruto de direitos a 
bens e serviços de saúde. 
O funcionamento dos sistemas nacionais de informação sanitária e a disponibilidade 
de dados são essenciais para que se possa identificar os grupos mais vulneráveis e 
suas diversas necessidades. Grupos comumente marginalizados incluem: crianças 
e adolescentes; mulheres; pessoas com deficiências; povos indígenas, minorias 
80Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
étnicas, religiosas ou linguísticas; deslocados internos e refugiados; migrantes, 
particularmente indocumentados; e pessoas vivendo com HIV ou AIDS.
A seguir, observe alguns trechos do Comentário Geral número 14 de 2000, do Comitê 
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, que tratam dos princípios da 
igualdade e da não discriminação:
12 b (i) Não discriminação: os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de 
ser acessíveis a todos, em especial os sectores mais vulneráveis e marginalizados 
da população, nos termos da lei e de facto, sem discriminação alguma por 
quaisquer dos motivos proibidos – p 152
(iii) Os pagamentos por serviços de cuidados de saúde, bem como serviços 
relacionados com os factores determinantes subjacentes à saúde, têm de se basear 
no princípio da equidade, a fim de assegurar que esses serviços, sejam públicos 
ou privados, estejam ao alcance de todos, incluindo dos grupos socialmente 
desfavorecidos. A equidade exige que não recaia uma carga desproporcionada 
nos lares mais pobres, no que se refere a gastos de saúde, em comparação com 
os lares mais ricos. (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 
2000)
19. [...] No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade 
de acesso aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm 
uma obrigação especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes, 
o necessário seguro médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer 
discriminação com base em motivos internacional respeita às obrigações 
fundamentais do direito à saúde. Uma atribuição inapropriada de recursos de 
saúde pode dar lugar a uma discriminação que poderá não ser manifesta. Por 
exemplo, os investimentos não devem favorecer desproporcionadamente os 
serviços curativos caros que muitas vezes são apenas acessíveis a uma pequena 
fracção privilegiada da população, em detrimento da atenção primária e 
preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da população. (COMITÊ DE 
DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000).
Sobre o princípio da participação, o Comitê estabelece que os Estados precisam 
respeitar o direito dos indivíduos e grupos de participar nos processos de tomada 
de decisão que possam lhes afetar. Para o Comitê, o respeito a esse direito precisa 
ser um fatorintegrante de toda estratégia, política ou programa desenvolvido 
com o objetivo de cumprir as obrigações estatais que foram estabelecidas no Pacto 
Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. “Uma prestação 
81Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
efetiva de serviços de saúde pode apenas ser garantida se a participação das pessoas 
for assegurada pelos Estados” (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E 
CULTURAIS, 2000).
O Comentário Geral nº 14 de 2000 possui vários trechos relacionados ao princípio 
da proteção dos vulneráveis:
12 b) Acessibilidade. Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de se 
encontrar num alcance geográfico seguro por parte de todos os setores da 
população, em especial os grupos vulneráveis ou marginalizados da população, 
como as minorias étnicas e populações indígenas, as mulheres, as crianças, os 
adolescentes, os idosos, pessoas com incapacidades e pessoas com VIH/ SIDA. 
37. [...] A obrigação de realizar (promover) o direito à saúde requer que os 
Estados Partes realizem ações que criem, mantenham e restabeleçam a saúde da 
população. Entre essas obrigações figuram as seguintes: (...) (ii) assegurar que os 
serviços de saúde sejam culturalmente apropriados e que o pessoal responsável 
pelos cuidados de saúde receba formação de modo a reconhecer e a dar resposta 
às necessidades concretas dos grupos vulneráveis ou marginalizados. 
65. O papel da OMS, do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os 
Refugiados, do Comité Internacional da Cruz Vermelha/Crescente Vermelho e do 
UNICEF, bem como de organizações não governamentais e associações médicas 
nacionais, é de particular importância no que respeita à prestação de auxílio 
em casos de desastre e de assistência humanitária em casos de emergência, 
incluindo assistência a refugiados e a deslocados internos. Ao proporcionar 
ajuda médica internacional e ao distribuir e gerir recursos como água limpa e 
potável, alimentos e equipamento médico, bem como ajuda financeira, há que 
dar prioridade aos grupos mais vulneráveis ou marginalizados da população. 
19. O Comitê recorda o nº 12 do Comentário Geral nº 3, que afirma que mesmo 
em alturas de limitações graves de recursos é preciso proteger os membros 
vulneráveis da sociedade mediante a adoção de programas especiais de relativo 
baixo custo. (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000).
Pelo princípio da accountability, os Estados devem ser transparentes sobre seus 
processos de tomada de decisão, suas ações ou omissões, e devem implementar 
mecanismos de reparação de falhas. Existem muitas formas de aplicar o princípio 
da accountability do Estado, por exemplo: 
82Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• Quando o Estado ratifica tratados e incorpora as normas internacionais 
na legislação nacional; 
• Por meio de mecanismos judiciais e quase judiciais, como decisões 
judiciais, revisões constitucionais, comissões nacionais de direitos 
humanos;
• Por meio de mecanismos administrativos e de política, como revisões de 
políticas e estratégias de saúde, auditorias e avaliações de impacto sobre 
direitos humanos; 
• Por mecanismos políticos, por exemplo, processos parlamentares, 
monitoramento e advocacia por ONGs.
Você pode saber mais sobre os princípios norteadores do direito 
à saúde por meio da leitura do Comentário Geral nº 14 de 2000, 
do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU. 
O documento, que possui linguagem simples e acessível, é a 
referência internacional do conteúdo do direito à saúde. Para isso, 
acesse o link https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/
Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-
PDHJTimor-Leste-portugues.pdf e inicie sua leitura na página 150 
do documento. 
2.1.2. Elementos do direito à saúde
Considerando que os conteúdos do direito à saúde (serviços, bens e instalações de 
saúde) devem ser disponíveis, acessíveis, de qualidade e aceitáveis, podemos dizer 
que o direito à saúde compreende quatro elementos:
• Disponibilidade
• Acessibilidade
• Qualidade
• Aceitabilidade
Esses elementos são essenciais e inter-relacionados, e sua aplicação dependerá 
das condições predominantes no Estado. Os elementos possuem uma função 
diagnóstica, pois direcionam a atenção para o que ainda precisa ser feito, à medida 
que os governos nacionais avançam para a cobertura de saúde. Os governos podem 
proteger o direito à saúde por meio do aumento da capacidade e da qualidade de 
saúde, assegurando que esses serviços permaneçam acessíveis a todos. 
A seguir, veja o detalhamento de cada um dos elementos do direito à saúde, definidos 
pelo Comentário Geral nº 14/2000 no parágrafo nº 12.
https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf
https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf
https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf
83Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 + Disponibilidade 
Para que seja identificado o elemento da disponibilidade, os bens, os serviços e 
as instalações de saúde precisam existir em número suficiente e incluir fatores 
determinantes de saúde: 
Cada Estado Parte tem de ter disponível um número suficiente 
de estabelecimentos, bens e serviços públicos de saúde e centros 
de atendimento de cuidados de saúde, assim como programas. A 
natureza precisa dos estabelecimentos, bens e serviços irá depender 
de inúmeros fatores, incluindo o nível de desenvolvimento do Estado 
Parte. Estes serviços irão, no entanto, incluir os fatores determinantes 
básicos da saúde, como água limpa e potável e condições sanitárias 
adequadas, hospitais, clínicas e outros estabelecimentos relacionados 
com a saúde, pessoal médico e profissional capacitado e com 
salários competitivos a nível doméstico, assim como medicamentos 
essenciais definidos no Programa de Acção sobre Medicamentos 
Essenciais da OMS [Organização Mundial da Saúde]. (COMITÊ DE 
DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000)
 + Acessibilidade
Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de ser acessíveis a todos, 
sem discriminação, no âmbito do Estado parte. A acessibilidade consta de quatro 
dimensões sobrepostas:
 
(i) Não discriminação: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de ser 
acessíveis a todos, em especial os sectores mais vulneráveis e marginalizados da 
população, nos termos da lei e de facto. 
(ii) Acessibilidade física: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de 
se encontrar num alcance geográfico seguro por parte de todos os setores da 
população, em especial os grupos vulneráveis ou marginalizados, como as minorias 
étnicas e populações indígenas, as mulheres, as crianças, os adolescentes, os 
idosos, pessoas com incapacidades e pessoas com VIH/ SIDA. A acessibilidade 
também implica que os serviços médicos e os determinantes sociais da saúde, 
como a água limpa e potável e os serviços sanitários adequados, se encontrem 
a uma distância geográfica segura e razoável, inclusive no que se refere a zonas 
rurais. Além disso, a acessibilidade também inclui acesso adequado aos edifícios 
por parte de pessoas com deficiência. 
(iii) Acessibilidade econômica: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde 
devem estar ao alcance de todos. Os pagamentos por serviços de cuidados de 
saúde, bem como serviços relacionados com os fatores determinantes subjacentes 
à saúde, têm de se basear no princípio da equidade, a fim de assegurar que esses 
serviços, sejam públicos ou privados, estejam ao alcance de todos, incluindo dos 
84Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
grupos socialmente desfavorecidos. A equidade exige que não recaia uma carga 
desproporcionada sobre a camada mais pobre da população, no que se refere a 
gastosde saúde, em comparação com as mais ricas.
(iv) Acesso à informação: Este acesso inclui o direito de solicitar, receber e difundir 
informações e ideias relativas a questões de saúde. No entanto, o acesso à 
informação não deve comprometer o direito de que os dados pessoais relativos 
à saúde sejam tratados com confidencialidade. 
 + Qualidade e Aceitabilidade
A qualidade dos cuidados em saúde impacta diretamente no gozo dos outros 
direitos humanos, como o direito à vida e o direito ao respeito pela vida privada, 
pois cuidados em saúde sem qualidade, como os providos por profissionais de 
saúde e peritos, baseados em tecnologia insegura ou não centrados na pessoa 
sob cuidados em saúde podem causar danos à pessoa sob cuidados em saúde e 
desrespeitar seus valores e crenças privadas. (ALBUQUERQUE, 2016, p.174) 
A aceitabilidade, por sua vez, pode ser definida como o respeito pela ética 
médica e pelos padrões culturais por parte dos serviços de saúde.
2.1.3. Monitoramento do direito à saúde
Os Estados, ao se comprometerem com instrumentos internacionais de direitos, 
passam a ter obrigações com relação a esses direitos. Nesse sentido, podemos dizer 
que o Estado possui três tipos de obrigações com relação aos direitos humanos:
1. Obrigação de respeitar
A obrigação de respeitar corresponde à chamada obrigação negativa, que é 
a obrigação de deixar de fazer algo. Nesse caso, os Estados devem abster-se 
de negar ou limitar o acesso de todas as pessoas a bens e serviços de saúde. 
Além disso, devem deixar de impor práticas discriminatórias. 
2. Obrigação de proteger
A obrigação de proteger envolve uma atuação do Estado. Essa atuação deve 
acontecer no sentido de evitar que terceiros violem o direito à saúde dos seus 
jurisdicionados. Por exemplo, o Estado deve estabelecer requisitos para a 
formação de profissionais de saúde e controlar a produção, distribuição e 
venda de medicamentos para garantir que o atendimento em saúde e os 
medicamentos ofertados sejam aceitáveis e de qualidade. 
3. Obrigação de realizar
A obrigação de realizar está relacionada a ações de “garantir” por parte 
do Estado. Um status deve garantir os cuidados em saúde, bem como os 
serviços de promoção e a prevenção em saúde.
85Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quanto à obrigação de realizar, indaga se qual é a 
amplitude dessa obrigação, ou seja, qual é a cesta de 
bens e serviços que os Estados devem prover, direta 
ou indiretamente, na medida em que o direito à saúde 
é um direito de realização progressiva, pois depende 
de recursos orçamentários. Quanto a tal aspecto, 
embora se reconheça as implicações financeiras 
concernentes à efetivação do direito à saúde, os 
Estados têm a obrigação de avançar constantemente 
o mais rápido e eficazmente até a plena realização do 
direito. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 172)
O Estado possui, ainda, de acordo com o Comitê sobre os Direitos Econômicos Sociais 
e Culturais da ONU, as chamadas obrigações básicas, que dizem respeito ao mínimo 
de cumprimento do direito à saúde. Algumas dessas obrigações básicas são:
• A atenção à saúde primária
• O acesso a bens e serviços sobre base não discriminatória
• Medicamentos essenciais
• Alimentação essencial mínima
Assim, podemos concluir que, sob a perspectiva do direito à 
saúde, os Estados precisam assegurar a disponibilidade e a 
acessibilidade a bens e serviços de saúde de qualidade, aceitáveis 
sob o ponto de vista ético e cultural. 
 + Quais bens e serviços devem ser proporcionados pelo Estado?
Apesar de haver alguns parâmetros, como os serviços de emergência e a atenção 
primária à saúde, a jurisprudência internacional não define a cesta de bens e 
serviços que os Estados devem prover para todos.
Como foi dito anteriormente, os Estados devem cumprir as obrigações com as 
quais se comprometeram por meio de normas internacionais de direitos humanos. 
Para avaliar se e como os Estados têm cumprido essas obrigações, os órgãos 
internacionais de direitos humanos possuem ferramentas de monitoramento 
chamadas mecanismos.
Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o 
monitoramento da aplicação dos tratados pelos Estados.
86Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
No que diz respeito ao direito à saúde, o cumprimento desse direito pelos Estados é 
monitorado, no âmbito da ONU, por um órgão chamado Comitê sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. Para realizar esse monitoramento, o Comitê usa 
o mecanismo de Procedimentos Especiais. 
O procedimento especial que monitora o direito à saúde se materializa por meio de 
uma pessoa, que é o Relator Especial sobre o Direito à Saúde. É importante destacar 
que os Estados têm a obrigação internacional de cooperar com os Procedimentos 
Especiais.
O Relator Especial sobre o Direito à Saúde é um especialista independente que elabora 
relatórios e orientações sobre o direito à saúde. Além disso, ele pode realizar visitas 
aos Estados, contribuir para a produção de padrões internacionais relacionados 
ao direito à saúde, atuar em casos singulares de violação de direitos humanos e 
pode, ainda, enviar comunicações aos Estados em contextos de sistemática e ampla 
violação do direito à saúde. 
O Relatório do Relator Especial sobre o Direito à Saúde Dainius Pūras, publicado em 
junho e julho de 2020, mencionou o Brasil. Em relação ao tema “modelos alternativos 
de serviços de saúde mental como direitos humanos na prática: conceitos-chave e 
princípios de apoio baseado em direitos”, o relator afirmou que:
Tais práticas alternativas com potencial transformador existem há décadas, com 
muitos se mostrando eficazes. Eles assumem muitos formatos, desde o louvável 
trabalho global da OMS com sua iniciativa Quality Rights para melhorar a qualidade 
dos cuidados e serviços de saúde mental, passando por reformas de saúde 
comunitária em nível de sistemas no Brasil e na Itália, e até inovações altamente 
localizadas em diferentes configurações de recursos ao redor o mundo, como 
Soteria House, Open Dialogue, centros de descanso entre pares desenvolvimento, 
enfermarias livres de medicamentos, comunidades de recuperação e modelos de 
desenvolvimento comunitário. Uma revolução silenciosa vem ocorrendo em bairros 
e comunidades em todo o mundo. Na raiz dessas alternativas está um profundo 
compromisso com os direitos humanos, a dignidade e as práticas não coercitivas, 
que continuam sendo um desafio indescritível nos sistemas tradicionais de saúde 
mental que dependem muito de um paradigma biomédico. (HUMAN RIGHTS 
COUNCIL, 2020, p. 13, tradução nossa). 
O Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais elabora comentários 
gerais, ou seja, estudos aprofundados sobre seus temas, que visam guiar os 
87Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Estados no cumprimento das disposições do Pacto Internacional sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. 
Os Comentários Gerais relacionados ao direito à saúde são:
 + E/C.12/2000/4: Comentário Geral Nº 14 sobre o mais alto padrão de saúde 
alcançável (2000)
Nesse Comentário, o Comitê discorreu sobre questões substanciais decorrentes 
da implementação do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais. O Comentário definiu o conteúdo normativo do artigo 12 do Pacto, 
que trata do direito à saúde, detalhou as obrigações dos Estados e de outros 
atores, mencionou as violações ao direito à saúde e estabeleceu diretrizes para 
a implementação do direito em nível nacional. 
 + Comentário Geral nº 22 (2016) sobre o Direito à Saúde Sexual e 
Reprodutiva (artigo 12 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais) 
Considerando as graves violações do direito à saúde sexual e reprodutiva, o 
Comitê decidiu por emitir um Comentário Geral em separado sobre o tema, já 
que o Comentário Geral anterior, de 2000, havia abordado apenas em parte a 
questão da saúde sexual e reprodutiva.
2.2. Direito à saúde mental
 
Começaremos definindo o queé direito à saúde mental. 
No relatório de 2017 para a Assembleia Geral da ONU (A/HRC/35/21), o então 
Relator Especial sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais Alto Padrão Atingível de 
Saúde Física e Mental, Dainius Pūras, afirmou que há evidências de que não pode 
haver saúde sem saúde mental. Apesar disso, em nenhum lugar do mundo a saúde 
mental tem paridade com a saúde física em termos de orçamento ou educação e 
prática médica.
O Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais reconhece, 
no artigo 12, que a saúde mental é uma parte integral da saúde, e que, portanto, 
a saúde mental é igualmente uma parte integral do direito à saúde.
88Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Nesse sentido, os Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental 
e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde da ONU apresentam importantes 
diretrizes a serem adotadas em prol do direito à saúde mental. 
O parágrafo 1 desse documento afirma que “todas as pessoas têm direito aos 
melhores cuidados de saúde mental disponíveis, que devem fazer parte do sistema 
de saúde e assistência social” (GENERAL ASSEMBLY, 1991, tradução nossa). 
Assim podemos identificar quatro características do direito à 
saúde mental:
• Esse é um direito de todas as pessoas;
• Os cuidados de saúde mental a que os titulares fazem 
jus devem ser os de maior qualidade dentre aqueles 
disponíveis;
• Os cuidados de saúde mental devem fazer parte do 
sistema de saúde e assistência social;
• Todas as pessoas têm direito aos cuidados de saúde 
que forem oferecidos no sistema de saúde e assistência 
social.
Perceba que os direitos à igualdade e a não discriminação, que se encontram 
presentes no direito à saúde, também podem ser identificados no direito à saúde 
mental, na medida em que esse é um direito de todas as pessoas. Sobre isso, o 
relatório de 2019 do Relator Especial sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais 
Alto Padrão Atingível de Saúde Física e Mental afirma que a discriminação por 
qualquer motivo, dentro e fora do contexto da saúde mental, é tanto causa quanto 
consequência de uma saúde mental precária. 
Para que o direito à saúde mental seja atendido, deve haver cuidados e instalações 
de apoio e bens e serviços disponíveis, acessíveis, aceitáveis e de boa qualidade. 
Conforme o parágrafo 1 dos Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno 
Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde da ONU, que mencionamos 
anteriormente, “todas as pessoas têm direito aos melhores cuidados de saúde 
mental disponíveis” (GENERAL ASSEMBLY, 1991 - tradução nossa). Nesse sentido, 
veja, no Quadro a seguir, o que o relatório A/HRC/35/21 de 2017 afirma sobre a 
qualidade e a disponibilidade dos serviços de saúde mental:
89Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 12 - Qualidade e disponibilidade dos serviços de saúde mental
Tema Conteúdo
Serviços de 
saúde mental 
adequados
Devem abranger um amplo pacote de serviços integrados e 
coordenados de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação, 
atenção e recuperação, incluindo serviços de saúde mental 
integrados aos cuidados de saúde primários e gerais. Os 
serviços devem apoiar os direitos das pessoas com deficiência 
intelectual, cognitiva e psicossocial e com autismo a viver de 
forma independente e serem incluídas na comunidade.
Qualidade 
dos serviços
Requer o uso de práticas baseadas em evidências para 
apoiar a prevenção, promoção, tratamento e recuperação. 
A colaboração eficaz entre os diferentes prestadores de 
serviços e as pessoas que utilizam os serviços e suas famílias 
e parceiros de cuidados também promove a melhoria 
da qualidade dos cuidados. O abuso de intervenções 
biomédicas e o uso de coerção e internações forçadas 
comprometem o direito à assistência de qualidade.
Usuários como 
titulares ativos 
de direitos
Os Estados devem repensar a forma como prestam assistência 
e apoio à saúde mental, considerando os usuários como 
titulares ativos de direitos. É necessário acabar com as 
práticas discriminatórias e priorizar a ampliação dos serviços 
psicossociais baseados na comunidade e a mobilização de 
recursos sociais que possam apoiar todos ao longo de sua vida.
Fonte: Elaborado pela autora, com base em HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2017, p. 13-14.
 
A saúde mental, assim como a saúde de forma geral, possui 
estreita relação com os direitos humanos: essa é uma relação 
integral e interdependente. 
A relação entre direitos humanos e saúde mental é fundamental para entendermos 
a importância do acesso universal aos serviços de saúde mental. A violação dos 
direitos humanos pode afetar negativamente a saúde mental das pessoas, causando 
traumas, depressão, ansiedade, entre outros problemas. Por exemplo, em situações 
de conflito armado, as pessoas podem ser submetidas a torturas e violências que 
afetam diretamente sua saúde mental.
Da mesma forma, as práticas de tratamento coercitivo podem violar os direitos 
humanos e prejudicar a saúde mental das pessoas. Por exemplo, quando as pessoas 
são internadas em instituições psiquiátricas sem seu consentimento, isso pode 
causar traumas e aumentar a estigmatização social. 
Por outro lado, a convergência entre direitos humanos e determinantes da saúde é 
90Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
crucial para promover a saúde mental. A pobreza, a desigualdade, a discriminação e a 
violência são determinantes sociais que podem afetar negativamente a saúde mental 
das pessoas. Por exemplo, a falta de acesso à educação e ao emprego pode levar ao 
isolamento social e à exclusão, afetando negativamente a saúde mental das pessoas.
Assim, é essencial que os Estados invistam em políticas públicas que promovam a 
igualdade social, a justiça e a garantia dos direitos humanos. A saúde mental é um 
direito humano, e a promoção da saúde mental é essencial para garantir a dignidade 
e a qualidade de vida das pessoas. Além disso, investir em saúde mental pode trazer 
benefícios clínicos e econômicos para a sociedade, reduzindo o custo do tratamento 
de transtornos mentais e melhorando a produtividade e o bem-estar dos indivíduos.
O direito ao mais alto padrão possível de saúde mental está protegido pelo Pacto 
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Por estar previsto nesse 
documento, o respeito a esse direito é obrigatório pelos Estados partes. Padrões legais 
complementares são estabelecidos em outros instrumentos de direitos humanos, 
como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Convenção para 
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e a Convenção 
sobre os Direitos da Criança. Ainda, os Estados partes têm a obrigação de respeitar, 
proteger e cumprir o direito à saúde mental nas leis, nos regulamentos, nas políticas, 
nas medidas orçamentárias, nos programas e em outras iniciativas nacionais.
Os Estados têm a obrigação tripartida de respeitar, proteger e cumprir o direito 
à saúde mental. Veja, a seguir, como o Relator Especial sobre o Direito de Todos à 
Fruição do Mais Alto Padrão Atingível de Saúde Física e Mental definiu cada tipo de 
obrigação do Estado no Relatório de 2019. 
Podcast 2 - Obrigações dos Estados quanto à saúde mental 
No Brasil, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, é o principal 
instrumento legal de proteção aos direitos das pessoas com 
transtorno mental. Assim, o respeito aos seus direitos pode 
consolidar a efetivação do direito à saúde mental. 
Acesse o texto da lei pelo link: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
Podemos perceber que o direito à saúde e o direito à saúde mental são direitos 
humanos, sendo o segundo parte importante do primeiro. Afinal, aprendemos 
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
91EnapFundação Escola Nacional de Administração Pública
que não há saúde sem saúde mental. Esses direitos não consistem somente no 
alcance do bem-estar físico ou mental, mas também envolvem os principais fatores 
determinantes da saúde, como discriminação, violência, acesso à água potável e 
condições sadias de trabalho e meio ambiente. Para que se possa alcançar os direitos 
à saúde e à saúde mental, é necessário que os bens, os serviços e as instalações 
relacionados a eles sejam disponíveis, acessíveis, aceitáveis e de qualidade. 
Os Estados possuem, com relação aos direitos à saúde e à saúde mental, três 
tipos de obrigações: de respeitar, de proteger e de cumprir esses direitos. Para 
monitorar o comportamento dos Estados com relação ao direito à saúde, a ONU 
usa o mecanismo de Procedimentos Especiais do Comitê sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. Esse mecanismo se materializa na figura de uma 
pessoa, a Relatora sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais Alto Padrão de 
Saúde Física e Mental.
92Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob 
cuidados em saúde
Os direitos humanos são aplicáveis de diversas formas à esfera dos cuidados em 
saúde. Entre esses direitos, destacam-se direito à privacidade, o direito de não 
ser discriminado, o direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento 
cruel, desumano ou degradante e o direito à liberdade.
A seguir, vamos apresentar o conteúdo geral desses direitos de acordo com 
a jurisprudência internacional e com a literatura produzida por especialistas. 
Abordaremos também as definições, as obrigações decorrentes desses direitos e 
sua conexão com o tema dos cuidados em saúde. 
Ademais, você verá a aplicação desses direitos em uma ou mais temáticas relevantes 
na atualidade e, ao final de cada tópico, uma tabela contendo direitos da pessoa sob 
cuidados em saúde decorrentes do direito humano que foi analisado. 
3.1. Direito à privacidade 
O direito ao respeito da vida privada envolve questões relativas à privacidade da 
pessoa sob cuidados em saúde e a confidencialidade de seus dados pessoais, 
sendo largamente aplicado na esfera dos cuidados em saúde. Como consequência 
do direito ao respeito da vida privada, o Estado tem o dever de proteger a pessoa 
sob cuidados em saúde de interferências de profissionais de saúde e provedores 
públicos ou privados de saúde.
Assim, o Estado deve adotar medidas legislativas e outras para 
concretizar a proibição contra essas interferências, garantindo a 
proteção da vida privada da pessoa sob cuidados em saúde.
O direito ao respeito da vida privada designa que a pessoa sob cuidados em saúde 
tem o direito de conduzir a sua própria vida sem interferência:
• Em seu corpo;
• Em suas escolhas pessoais;
Salvo em situações excepcionais e definidas pela lei.
O direito à vida privada é um direito relativo, ou seja, ele pode ser restringido 
(diferentemente do direito de não ser submetido à tortura ou a tratamento desumano 
ou degradante, que é um direito absoluto e, por isso, não pode ser restringido). 
Para que o direito à vida privada seja restringido, é necessário que alguns critérios 
estejam presentes:
93Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1. Quando houver uma lei que preveja a restrição
2. Quando essa limitação tiver fundamento legítimo sob o ponto de vista 
do direito Internacional dos Direitos Humanos
3. Quando a interferência no direito for proporcional
De acordo com a Convenção Europeia, o direito à privacidade envolve:
• A confidencialidade dos dados de saúde
• O direito de recusar cuidados em saúde
Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o direito à vida privada é amplo 
e, portanto, não pode ter a sua abrangência definida de forma rígida. Ele inclui, entre 
outras áreas protegidas, o direito de estabelecer e desenvolver relações com outros 
seres humanos e de definir a maneira com que o indivíduo percebe a si mesmo.
Um exemplo de jurisprudência internacional da aplicação do direito à vida privada 
na esfera da saúde mental é o caso X e Y v. Países Baixos, julgado pela Corte Europeia 
de Direitos Humanos em 1985. Nesse caso, a Corte considerou que a internação 
involuntária em um hospital psiquiátrico sem o consentimento da pessoa viola o 
direito à privacidade.
Os requerentes, um casal, foram internados involuntariamente em um hospital 
psiquiátrico pelos serviços de saúde mental dos Países Baixos. Eles alegaram que 
essa internação foi ilegal e violou seus direitos à liberdade e à privacidade. A Corte 
concordou com os requerentes e afirmou que a internação involuntária constitui 
uma interferência na vida privada e familiar, devendo ser justificada de acordo com 
os princípios do artigo 8 da Convenção Europeia de Direitos Humanos.
A Corte considerou que a internação involuntária só poderia ser justificada se fosse 
feita de acordo com a lei, se fosse necessária para a proteção da saúde física ou 
mental do paciente e se fosse realizada de acordo com procedimentos adequados 
e com a supervisão de um juiz independente. Além disso, a Corte destacou a 
importância do consentimento informado e da participação ativa do paciente na 
tomada de decisões sobre seu tratamento.
Esse caso é um exemplo importante da aplicação do direito à vida privada na esfera 
da saúde mental e reforça a necessidade de garantir a proteção dos direitos das 
pessoas com transtornos mentais.
94Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 13 - Direito de recusar cuidados em saúde
Direito de recusar cuidados em saúde
1. Direito de não realizar exames, testes e 
outros procedimentos terapêuticos.
2. Direito de buscar outra opinião médica.
3. Direito de ter tempo suficiente para tomar 
decisões, salvo em situações de emergência.
4. Direito de ter suas diretivas antecipadas 
respeitadas pela família e pelos médicos. 
Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 130. 
3.1.1. Participação de estudantes de Medicina em tratamentos e 
procedimentos médicos da pessoa sob cuidados em saúde
A pessoa sob cuidados em saúde tem o direito de negar a presença de pessoas 
estranhas ao seu tratamento em seus exames físicos e em outros procedimentos 
médicos. 
No âmbito dos casos clínicos, é preciso seguir as seguintes condutas:
• Preservar a identificação da pessoa sob cuidados em saúde, salvo nas 
hipóteses em que esta consentir com a sua divulgação final.
• Quando a discussão do caso clínico revelar a identidade da pessoa sob 
cuidados em saúde em razão de sua particularidade, o consentimento 
daquela deve ser dado para que o profissional de saúde possa divulgar 
o caso. 
• O direito ao respeito da vida privada da pessoa sob cuidados em saúde 
envolve qualquer informação relativa à sua identidade pessoal e à sua 
imagem, como nome, fotografia, identidade física, e se estende a 
qualquer informação que se possa legitimamente esperar que não seja 
exposta ao público sem o consentimento da pessoa a quem se refere.
Assim, os profissionais de saúde devem se preocupar em não 
identificar a pessoa sob cuidados em saúde quando tornarem 
público o caso clínico, para evitar a ofensa à sua privacidade.
 
95Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 14 - Direito da pessoa sob cuidados em saúde hospitalizada de ter sua vida 
privada respeitada
Direito da pessoa sob cuidados em saúde hospitalizada 
de ter sua vida privada respeitada
1. Direito de não ter estudantes e outros profissionais 
de saúde presentes quando for examinado.
2. Direito de ser examinado em lugar privado, salvo em 
situações de emergência ou de cuidados intensivos.
3. Direito de recusar qualquer visita.
4. Direito de ser informado em momento adequado 
acerca da presença de estudantes de Medicina 
em seu tratamento ou procedimento. 
Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 132. 
3.1.2. Confidencialidade das informações relacionadas à saúde da 
pessoa sob cuidados em saúde
As informações sobre as condições de saúde de uma pessoa são confidenciaisem 
razão da própria natureza da informação. Essa confidencialidade também permeia 
a relação médico-pessoa sob cuidados em saúde.
Confidencialidade quer dizer manter protegida toda informação 
a respeito da pessoa sob cuidados em saúde e não a divulgar para 
terceiros sem que esta consinta. Assim, o direito ao respeito da 
vida privada confere à pessoa sob cuidados em saúde o controle de 
qualquer dado sobre sua condição de saúde. Nenhuma condição 
sobre a pessoa sob cuidados em saúde, inclusive sua condição de 
pessoa sob cuidados em saúde, resultados de exames, história 
de vida ou histórico clínico, podem ser revelados sem o seu 
consentimento.
A quebra da confidencialidade pode ser considerada violação de direitos humanos, 
afinal o acesso à informação sobre a pessoa sob cuidados em saúde precisa ser 
controlado pelo profissional responsável pela sua guarda. Em geral, o acesso aos 
dados só deve ser permitido àqueles profissionais que estiverem diretamente 
envolvidos nos cuidados de saúde e no pagamento de seu tratamento, exames 
e outros procedimentos médicos. Outras pessoas que não estejam legalmente 
autorizadas precisam requerer anuência específica, incluindo familiares, já que 
96Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
as informações sobre o estado de saúde ou qualquer outra informação de cunho 
pessoal só podem ser reveladas aos familiares caso haja o consentimento da pessoa 
sob cuidados em saúde.
Para a Corte Europeia, o respeito à confidencialidade da informação de saúde é 
essencial também por preservar a confiança nos profissionais e nos serviços de 
saúde em geral. O respeito à privacidade da pessoa sob cuidados em saúde e a 
confidencialidade de seus dados impactam a relação e a condução do tratamento, 
já que a falta de confiança no profissional de Medicina pode desmoralizar a prática 
médica e afetar as políticas e os programas de saúde pública.
Assim, de acordo com a jurisprudência internacional, os requisitos que precisam ser 
atendidos para que se possa revelar as informações sobre a saúde de determinada 
pessoa sob cuidados em saúde são:
a) Lei
b) Necessidade de prevenção da ocorrência de crime, a proteção da saúde 
ou da moral ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros, 
entre outros
c) Proporcionalidade da medida
Quadro 15 - Direito de respeito à confidencialidade das informações relacionadas 
à saúde
Direito de respeito à confidencialidade das 
informações relacionadas à saúde
1. Direito de ter seus dados e registros devidamente manuseados 
e arquivados de modo a preservar sua confidencialidade.
2. Direito de consentir ou não com a revelação de informações 
relacionadas à saúde para terceiros não autorizados, 
incluindo familiares, salvo as exceções consentâneas com as 
normas legais e consentâneas com os direitos humanos. 
3. Direito de ser ouvido previamente em procedimento 
que vise à quebra da confidencialidade das 
informações relacionadas à saúde. 
Fonte: ALBUQUERQUE. 2016, p. 137. 
97Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.1.3. Consentimento informado da pessoa sob cuidados em saúde 
no âmbito dos cuidados em saúde
O consentimento informado é um aspecto fundamental do direito à saúde. Ele 
consiste em uma decisão voluntária e suficientemente informada, que deve 
promover a autonomia, a autodeterminação, a integridade física e o bem-estar da 
pessoa sob cuidados em saúde, e se abre para duas dimensões: 
1. Dimensão geradora do direito da pessoa sob cuidados em saúde de 
participar da adoção de decisões
2. Dimensão ensejadora de obrigações aos provedores dos serviços de 
saúde
A informação transmitida à pessoa sob cuidados em saúde precisa abranger os 
benefícios associados ao procedimento, os riscos e as alternativas existentes, e deve 
ser acessível e adequada às circunstâncias em que a pessoa sob cuidados em saúde 
se encontra. Além disso, o consentimento informado deve ser obtido sem coerção 
e influência indevida.
As informações sobre questões de saúde precisam ser acessíveis, de acordo com 
as necessidades de comunicação de cada pessoa, incluindo suas particularidades 
culturais e físicas. A divulgação de informações deve considerar os diferentes níveis 
de compreensão e, dessa forma, a informação não deve ser demasiadamente 
técnica e complexa.
O consentimento informado se conecta com outros direitos humanos:
• O direito a não discriminação
• A liberdade de pensamento e de expressão
• O reconhecimento diante da lei 
Assim, os profissionais e provedores precisam estar conscientes dos níveis de 
desigualdade relacionados ao conhecimento técnico detido por eles e pelas pessoas 
sob cuidados em saúde.
3.2. Direito de não ser discriminado
Entre os elementos do direito à saúde, encontramos a acessibilidade. Nesse sentido, 
é importante destacar que a não discriminação é uma dimensão da assessibilidade, 
daí a sua importância na esfera dos cuidados em saúde.
Todos têm direito de acesso a bens e serviços de saúde sobre 
bases não discriminatórias. 
98Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Cabe aos Estados adotar medidas em prol da igualdade para impedir a discriminação 
vedada pelas normas de direitos humanos. Essas medidas podem conferir, durante 
certo tempo, a determinados grupos, o trato preferencial em questões concretas 
para corrigir a discriminação. Nesse aspecto, é importante compreender que nem 
toda diferenciação de trato constitui discriminação:
[...] se os critérios para tanto, são razoáveis, objetivos 
e se pretende-se com eles alcançar uma finalidade 
legítima perante as normas de direitos humanos. A 
Corte Europeia de direitos humanos, similarmente, 
assentou que a proibição da discriminação não 
impede qualquer diferença de tratamento baseada 
em características ou status pessoais, pois a 
diferença de tratamento pode ser justificada, ou seja, 
apresentar objetivo legítimo e proporcionalidade 
quanto aos meios empregados e o alvo que se almeja. 
(ALBUQUERQUE, 2016, p. 165)
Assim, existe uma margem de discricionariedade para se estabelecer distinções entre 
pessoas. Porém, quando a distinção envolve grupos historicamente vulneráveis, 
essa margem se mostra mais restrita e os Estados devem fundamentar solidamente 
o tratamento diferenciado. A avaliação da distinção será feita caso a caso. 
O direito da pessoa sob cuidados em saúde de não ser discriminada 
quer dizer que, em situações similares, esta não deve ser tratada 
distintamente, a não ser que o trato diferenciado se justifique 
pelas exceções citadas anteriormente.
Um exemplo de jurisprudência internacional da aplicação do direito de não ser 
discriminado na esfera da saúde mental é o caso Stanev vs. Bulgária, julgado pela 
Corte Europeia de Direitos Humanos em 2012.
Nesse caso, o Sr. Stanev, que sofria de esquizofrenia e outras doenças mentais, 
foi mantido em instituições psiquiátricas pelo governo da Bulgária por mais de dez 
anos, sem nenhuma perspectiva de ser libertado. Ele argumentou que sua detenção 
prolongada e a falta de medidas alternativas violavam seus direitos à liberdade e a 
não discriminação.
99Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A Corte Europeia de Direitos Humanos considerou que a detenção prolongada de 
Stanev em instituições psiquiátricas sem nenhuma perspectiva de libertação violou 
seus direitos à liberdade e a não discriminação. A Corte também destacou que as 
autoridades búlgaras não haviam fornecido a Stanev uma avaliação e um tratamento 
adequados às suas condições de saúde mental, o que também representava uma 
forma de discriminação.
Portanto, o caso Stanev vs. Bulgária é um exemplo de jurisprudência internacional 
que destaca a importância do direito a não discriminação na esfera da saúde mental 
e a necessidade de tratamento e avaliação adequados às as pessoas com transtornos 
mentais.
Quadro 16 – Direito de não ser discriminado
Direito de não ser discriminado
1. Direito de não ser tratado com distinção, exclusão, restrição 
ou preferênciabaseadas em raça, orientação sexual, religião, 
deficiência, identidade de gênero, origem nacional ou 
étnica, renda, de modo que provoque restrições em seus 
direitos humanos na esfera dos cuidados em saúde.
2. Direito de não ser tratado com distinção, exclusão, restrição 
ou preferência nos serviços de saúde em razão de sua 
enfermidade ou deficiência, de modo que provoque restrições 
em seus direitos humanos na esfera dos cuidados em saúde.
3. Direito de ser chamado pelo nome de sua preferência. 
4. Direito de ter suas especificidades consideradas quando fizer 
parte de grupos vulneráveis, como mulheres, pessoas idosas, 
pessoas com deficiência, crianças e povos indígenas.
Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 169. 
3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a 
tratamento cruel, desumano ou degradante
O direito de não ser submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis 
desumanos ou degradantes é um direito absoluto da pessoa sob cuidados em 
saúde. Isso significa que esse direito não pode ser derrogado ou restringido em 
nenhuma situação.
100Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Esse direito impõe ao Estado o dever de proteger as pessoas sob cuidados em 
saúde de atos dessa natureza praticados por profissionais ou provedores de saúde, 
públicos ou privados, o que deve ser feito por meio de medidas legislativas, entre 
outras. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da ONU, os profissionais de 
saúde devem receber formação e instrução adequadas sobre a proibição da tortura 
e de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, segundo os padrões 
de direitos humanos. 
Ainda nesse sentido, a Corte Interamericana afirmou, na sentença do Caso Ximenes 
Lopes vs. Brasil, que:
Nos ambientes institucionais em hospitais públicos ou 
privados, o pessoal médico encarregado do cuidado da 
pessoa sob cuidados em saúde exerce forte controle 
ou domínio sobre as pessoas que se encontram 
sujeitas à sua custódia. Este desequilíbrio intrínseco 
de poder entre uma pessoa internada e as pessoas 
que detêm a autoridade se multiplica muitas vezes nas 
instituições psiquiátricas. A tortura e outras formas de 
tratamento cruel, desumano ou degradante, quando 
infringidas a essas pessoas, afetam sua integridade 
psíquica, física e moral, supõem uma afronta a sua 
dignidade e restringem gravemente sua autonomia, 
o que poderia ter como consequência o agravamento 
da doença. (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS 
HUMANOS, apud Albuquerque, 2016, p. 108)
A tortura é definida com base na intenção específica de quem a pratica:
• Obter da vítima ou de uma terceira pessoa informações ou confissões
• Castigar, intimidar ou coagir a vítima ou outras pessoas
O tratamento considerado desumano é aquele que causa intenso sofrimento 
físico ou psíquico, e o tratamento degradante provoca na vítima sentimentos de 
medo, angústia e humilhação ou retira-lhe a possibilidade de resistir moral ou 
fisicamente a uma situação adversa. 
No caso dos cuidados em saúde, a classificação de um tratamento como desumano 
ou degradante depende de alguns fatores:
101Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
a) Natureza, gravidade e duração do tratamento;
b) Se o tratamento afeta a vítima, física e mentalmente;
c) Idade, sexo e estado de saúde da pessoa com transtorno mental.
Também pode-se dizer que há tratamento desumano quando ocorre uma falha em 
prover cuidados em saúde, por meio da negativa desses cuidados ou da demora 
em fazê-lo, ou na sua supressão, quando a pessoa sob cuidados em saúde vem 
recebendo determinado tratamento e este é interrompido.
O tratamento degradante pode também ser caracterizado 
quando uma pessoa sob cuidados em saúde é internada em um 
hospital e medicada de forma ultrajante, ou seja, sem respeito 
às suas decisões, à sua higiene pessoal e ao seu direito de visita, 
situação que não é incomum em hospitais psiquiátricos.
Sobre isso, vejamos o que diz a Corte Europeia de Direitos Humanos em um caso 
concreto.
 + Caso Herczegfalvy vs. Áustria (Sistema Europeu)
[A Corte] entendeu que a pessoa com transtorno mental poderia 
ser forçada a receber cuidados em saúde, incluindo o emprego 
de contenção física, se presente a necessidade terapêutica, não 
se caracterizando a violação do direito de não ser submetido a 
tratamento desumano ou degradante. Importante ressaltar que a 
necessidade terapêutica deve estar fartamente provada, as condições 
do procedimento médico não devem ser degradantes ou desumanas, 
bem como a intervenção médica não pode se fundamentar apenas 
em atitude paternalista do médico, ou seja, que desconsidere os 
direitos do paciente sob cuidados em saúde mesmo acreditando 
que lhe está fazendo o bem. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 109)
Como dito anteriormente, o direito de não ser torturado ou submetido a pena ou 
tratamento desumano ou degradante é absoluto, o que significa que os Estados 
devem agir no sentido de implantar políticas, programas e legislações que evitem 
a prática dessas condutas por profissionais de saúde. A submissão de uma pessoa 
indefesa, que é a situação da pessoa sob cuidados em saúde, a esse tipo de 
condição, tem efeitos arrasadores na vida da pessoa sob cuidados em saúde e de 
seus familiares. Por isso, é importante frisar que:
• A escassez de recursos humanos e financeiros não justifica qualquer 
tratamento desumano ou degradante;
102Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• Os Estados têm a obrigação de destinar recursos suficientes para 
satisfazer as necessidades básicas das pessoas sob cuidados em saúde;
• É dever do Estado proteger as pessoas sob cuidados em saúde contra o 
sofrimento causado pela falta de alimentos, roupas, recursos humanos, 
higiene e outras condições desumanas ou degradantes.
Vamos ver, no vídeo a seguir, como se deu a violação do direito de não ser submetido 
à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante no caso Ximenes Lopes 
vs. Brasil.
Vídeo 3 - Identificando a violação ao direito de não ser submetido 
à tortura ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes 
no Caso Ximenes Lopes vs. Brasil
Além do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil, um exemplo de jurisprudência internacional 
da aplicação do direito de não ser submetido à tortura na esfera da saúde mental 
é o caso Aggerholm vs. Dinamarca, julgado perante a Corte Europeia de Direitos 
Humanos em 2020.
Nesse caso, a Corte Europeia de Direitos Humanos decidiu que o direito do 
demandante de não ser submetido a tratamento desumano ou degradante foi 
violado. Niels Lund Aggerholm, pessoa com transtorno psiquiátrico (esquizofrenia), 
foi condenado em 2005 a ser internado em um hospital psiquiátrico após ter 
cometido cinco episódios de violência contra funcionários públicos. 
Durante sua internação, Aggerholm ficou amarrado a uma cama de contenção 
em um hospital psiquiátrico por quase 23 horas, um dos períodos mais longos 
de imobilização já examinados pelo Tribunal Europeu. O tribunal considerou que 
a contenção física prolongada do demandante foi desnecessária e não justificada, 
apesar do histórico de violência contra os funcionários. 
Embora o tribunal reconhecesse a necessidade de restringir o paciente para evitar 
danos imediatos à equipe e aos pacientes, criticou a equipe médica e os tribunais 
domésticos por não abordarem a continuidade e a duração da medida de contenção 
física. Essa medida foi considerada uma violação do artigo 3 da Convenção Europeia 
dos Direitos Humanos, que proíbe tortura e tratamento desumano ou degradante.
A decisão destaca a importância de garantir que as restrições físicas sejam usadas 
apenas quando estritamente necessárias e que sua duração e continuidade sejam 
cuidadosamente monitoradas, para garantir que não haja violação dos direitos 
humanos dos pacientes.
https://youtu.be/q8GYfts4KNA
https://youtu.be/q8GYfts4KNA
https://youtu.be/q8GYfts4KNA
103Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Quadro 17 – Direito de Pessoas com transtorno mental
Direito dePessoas com transtorno mental
1. Direito a cuidados em saúde individualizados que 
considerem os bens particulares da pessoa sob cuidados 
em saúde, como crenças, valores e cultura.
2. Direito a tratamentos menos restritivos o possível e 
menos alteradores de sua capacidade mental.
3. Direito a ser submetido a qualquer terapia apenas 
após seu consentimento informado. 
4. Direito a receber cuidados em saúde mental em locais 
salubres e de ter sua higiene pessoal assegurada.
Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 115. 
3.4. Direito à liberdade
O direito à liberdade se refere à restrição física, não abarcando uma liberdade 
geral de ação. Esse direito engloba todas as formas de privação de liberdade, o que 
envolve a severa restrição de mobilidade dentro de um espaço restrito. 
Para o Comitê de Direitos Humanos da ONU, a hospitalização 
involuntária é uma das hipóteses de restrição da liberdade 
individual.
O Estado tem a obrigação de garantir que nenhuma pessoa seja privada de 
sua liberdade, exceto nas hipóteses legais, conforme padrões substantivos e 
procedimentais que assegurem os direitos humanos. Assim, quando a lei nacional 
concede a pessoas ou a entidades privadas a autorização para a restrição da 
liberdade individual, o Estado permanece sendo responsável por assegurar que 
esse procedimento se dê em conformidade com as normas de direitos humanos.
Sobre isso, é importante destacar que o direito à liberdade não 
é um direito absoluto, o que quer dizer que, atendidos alguns 
critérios, esse direito pode ser restringido, diferentemente do 
direito de não ser submetido à tortura ou a tratamento cruel, 
desumano ou degradante, que é absoluto.
104Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os critérios para que o Estado possa restringir a liberdade de alguém são:
• a medida restritiva de liberdade deve estar prevista na lei; e
• nessa previsão deve constar a adequada proteção contra a interferência 
arbitrária ou ilegal.
A detenção arbitrária é aquela desproporcional, não razoável ou desnecessária em 
relação ao seu objetivo. Na esfera dos cuidados em saúde da pessoa sob cuidados 
em saúde, o direito à liberdade se aplica principalmente com relação à restrição de 
liberdade de pessoa sob cuidados em saúde mental.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU pede que os Estados revejam suas legislações 
sobre saúde mental para evitar detenções arbitrárias. Para o Comitê, a privação 
de liberdade é, em si, um ato gravoso e, por esse motivo, medidas alternativas que 
sejam menos restritivas devem ser implementadas mediante políticas e programas 
estatais de forma permanente.
A presença de transtorno mental ou deficiência intelectual não 
justifica, por si só, a adoção de medidas de privação de liberdade. 
A adoção dessas medidas precisa:
• Ser necessária
• Ser proporcional
• Ter o propósito de proteger a pessoa sob cuidados em 
saúde de sério dano ou de impedir dano a outros 
Na esfera dos cuidados em saúde, o direito à liberdade normalmente é mencionado 
nas situações de admissão e retenção involuntárias de pessoas com transtorno 
mental, de quarentena e outras formas de restrição da liberdade individual. 
A temática da admissão e retenção involuntária também pode dizer respeito à 
pessoa sob cuidados em saúde com deficiência intelectual. A institucionalização 
dessas pessoas também as afeta tanto quanto as pessoas sob cuidados em saúde 
com transtornos mentais.
A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 
demanda dos Estados que exijam de seus profissionais de saúde que obtenham o 
consentimento livre e esclarecido das pessoas com deficiência. Assim, a Convenção 
dispõe que os Estados devem realizar atividades de formação e definir regras éticas 
para os setores de saúde pública e privada, com o objetivo de conscientizar os 
profissionais de saúde sobre os direitos humanos, a dignidade, a autonomia e as 
necessidades das pessoas com deficiência.
105Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sobre isso, é importante destacar que a admissão e a retenção 
involuntárias se caracterizam como restrições de direitos 
humanos da pessoa sob cuidados em saúde e, por esse motivo, 
devem ser adotadas com muita cautela pelos profissionais de 
saúde e pelas autoridades estatais. Todos os esforços devem ser 
empreendidos pelos profissionais e pelas autoridades estatais 
para evitar o emprego dessas medidas.
Os princípios para a proteção das pessoas com transtorno mental e a melhoria da 
atenção à saúde mental estabelecem que a admissão e a retenção involuntárias 
devem seguir diversos requisitos legais, por exemplo a presença de um documento 
subscrito por médico qualificado e legalmente autorizado que afirme que:
a) A pessoa sob cuidados em saúde padece de transtorno mental;
b) Em razão do transtorno mental, há sério risco de dano imediato ou 
iminente à pessoa sob cuidados em saúde ou a terceiros;
c) No caso de pessoa cujo transtorno mental seja grave e sua capacidade 
de julgamento esteja afetada, deixar de admiti-la ou retê-la provavelmente 
levará a uma séria deterioração de sua condição, ou impedirá a oferta de 
tratamento adequado, o qual somente será possível por meio da 
admissão em estabelecimento de saúde mental de acordo com o 
princípio da alternativa menos restritiva. Nesse caso, deve ser consultado, 
sempre que possível, um segundo profissional que seja independente 
do primeiro. Quando a consulta ocorrer, a admissão e a retenção 
involuntárias não poderão ser efetivadas, a menos que o segundo 
profissional concorde com a medida.
Ainda, é importante ressaltar que a pessoa sob cuidados em saúde tem o direito de 
ser internada em unidade de saúde apropriada. Se isso não ocorrer, o objetivo da 
sua admissão ou retenção involuntária não será cumprido, o que atinge a legalidade 
da medida restritiva de liberdade do paciente.
Vejamos, a seguir, um exemplo. 
 + Caso H.L. vs. Reino Unido (Sistema Europeu):
No caso H.L. vs. Reino Unido, da Corte Europeia sob cuidados em saúde 
autista sem possibilidade de se comunicar oralmente e com um certo 
nível de deficiência intelectual foi transferido para hospital psiquiátrico 
como um “informal”. A transferência se deu pelo fato de se automutilar, 
segundo alega o Estado. A corte entendeu que o direito à liberdade do 
requerente foi violado depois, em razão da ausência de previsão legislativa 
para o caso específico dos profissionais de saúde exerceram o completo 
controle sobre vulnerável e incapaz fundamentados apenas em sua 
106Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
própria avaliação médica. De acordo com a corte a falta de salvaguardas 
legais conduziu a falha na proteção contra a privação de sua liberdade 
com base na necessidade médica. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 149)
Quadro 18 – Direito de não ter a liberdade restringida arbitrariamente.
Direito de não ter a liberdade restringida arbitrariamente
1. Direito de ser informado acerca da natureza do tratamento e de 
todas as alternativas possíveis e de ser envolvido tanto quanto 
seja possível no desenvolvimento do plano de tratamento.
2. Direito de ser sempre submetido à alternativa menos restritiva.
3. Direito de ser internado em unidade de saúde 
apropriada para a sua condição de saúde, nas hipóteses 
aceitas pelas normas de direitos humanos. 
4. Direito de ter sua admissão ou retenção involuntárias 
revistas por um corpo de revisão independente e 
imparcial e que conte com assistência de profissionais 
de saúde mental, qualificados e independentes.
5. Direito de ter sua admissão ou retenção involuntária determinada 
por um período curto, para observação e tratamento preliminar.
Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 151. 
Assim, percebe-se que a proteção do direito à liberdade de pessoas com transtorno 
mental e de pessoas com deficiência intelectual permanece um desafio. Por um 
lado, deve-se reconhecer que, em algumas situações, a admissão e a retenção 
involuntárias se fazem necessárias. Por outro lado, a jurisprudênciainternacional 
demonstra que ainda há falhas nas legislações dos Estados em assegurar os 
procedimentos que formalizam as medidas de garantia dos direitos humanos.
107Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.5. Conclusão
Conforme vimos anteriormente, a jurisprudência internacional vem aplicando 
dispositivos de direitos humanos para proteger a pessoa sob cuidados em saúde. 
Para detalhar essa aplicação, de cada direito humano apresentado foram extraídos 
outros direitos mais específicos, que podem ser aplicados na esfera dos cuidados 
em saúde.
Embora o foco da obrigação recaia sobre autoridades estatais, os profissionais 
de saúde possuem papel fundamental na materialização dos direitos humanos 
aplicados aos cuidados em saúde. Afinal, são estes que convivem diariamente com 
a pessoa sob cuidados em saúde e, portanto, cabe a eles, em última instância, a 
observância concreta dos direitos humanos dessas pessoas. Por fim, é importante 
lembrar que os profissionais de saúde também são titulares de direitos humanos.
108Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá, estudante!
Neste módulo, abordaremos os Princípios para a Proteção das Pessoas com 
Transtorno Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU. 
Em seguida, observaremos os desdobramentos da tortura, tratamento desumano e 
degradante no contexto da saúde mental, e os principais dispositivos da Convenção 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no que diz respeito à saúde mental. 
Por fim, conheceremos os chamados Quality Rights.
Identificar a aplicação dos direitos humanos no contexto da 
saúde mental. 
1. Direitos humanos no contexto da saúde 
mental
A relação entre os direitos humanos e a saúde pode ser explicada de três formas:
Figura 28 - Direitos Humanos e Saúde
Fonte: Elaborada pela autora. 
 Módulo
Direitos humanos aplicados às 
pessoas sob cuidados em saúde3
109Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conforme demonstrado na Figura 28, percebemos que os direitos humanos possuem 
grande influência sobre a saúde e, por consequência, sobre os cuidados em saúde. 
No que diz respeito à saúde mental, sabemos que esta é um campo fundamental da 
saúde e que, por conseguinte, o direito à saúde mental é um componente essencial 
do direito à saúde. Vamos, agora, identificar a aplicação dos direitos humanos no 
contexto da saúde mental. 
1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com 
Transtorno Mental e para o Melhoramento dos 
Cuidados em Saúde Mental da ONU
O documento “Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para 
o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU”, adotado pela Assembleia 
Geral da ONU em 1991, é um instrumento internacional que tem o objetivo específico 
de proteger as pessoas com transtornos mentais que se encontram sob cuidados 
em saúde.
Os Princípios se aplicam a todas as pessoas com transtornos mentais sob cuidados 
em saúde, sem discriminação de qualquer tipo, como por motivos de deficiência, 
raça, cor, sexo, língua e outros fatores. 
No âmbito dos Princípios, os cuidados em saúde mental incluem a análise e o 
diagnóstico da condição mental de uma pessoa, o tratamento, o cuidado e a 
reabilitação para uma doença mental ou suspeita de doença mental. O documento 
também define os conceitos de “estabelecimento de saúde mental”, “profissional de 
saúde mental” e “paciente”.
Para os Princípios, “estabelecimento de saúde mental” é qualquer estabelecimento, 
ou unidade de um estabelecimento, que tenha como função principal a prestação 
de cuidados de saúde mental. “Profissional de saúde mental” é o médico, psicólogo 
clínico, enfermeiro, assistente social ou outra pessoa adequadamente treinada 
e qualificada com habilidades específicas relevantes para os cuidados de saúde 
mental. Por fim, “paciente” é quem recebe cuidados de saúde mental, o que inclui 
todas as pessoas que estão internadas em estabelecimentos de saúde mental.
É importante ressaltar que os direitos estabelecidos nesses 
Princípios somente podem ser limitados por determinações 
prescritas por lei e que sejam necessárias para proteger a saúde 
ou a segurança da pessoa em questão ou de terceiros, ou para 
proteger a segurança, ordem, saúde ou moral, ou os direitos e 
liberdades fundamentais de outras pessoas.
110Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Liberdades Fundamentais e Direitos Fundamentais 
Os Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o 
Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU protegem uma série de 
liberdades e direitos fundamentais (Princípio 1). De acordo com o documento, todas 
as pessoas têm direito aos melhores cuidados de saúde mental disponíveis, que 
devem fazer parte do sistema de saúde e assistência social. Além disso, todas as 
pessoas com transtorno mental, ou que sejam tratadas como tal, devem ser tratadas 
com humanidade e respeito pela dignidade inerente à pessoa humana. Ainda, todas 
têm direito a ser protegidas contra: 
• Exploração econômica, sexual e outras formas de exploração 
• Abuso físico e outros tipos de abuso
• Tratamento degradante 
No que diz respeito à discriminação com base em transtorno mental, os Princípios 
definem o termo discriminação como:
[...] qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito anular ou 
prejudicar o gozo igualitário de direitos. Medidas especiais exclusivamente para 
proteger os direitos ou garantir o progresso de pessoas com doença mental não 
devem ser consideradas discriminatórias. A discriminação não inclui qualquer 
distinção, exclusão ou preferência realizada de acordo com as disposições destes 
Princípios e necessária para proteger os direitos humanos de uma pessoa com 
doença mental ou de outros indivíduos. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, 
Princípio 1.4, tradução nossa)
É garantido, ainda, a toda pessoa com transtorno mental, o direito de exercer todos 
os direitos civis políticos, econômicos, sociais e culturais reconhecidos nos seguintes 
documentos, bem como em outros instrumentos relevantes (Princípio 1.5): 
• Declaração Universal dos Direitos Humanos;
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos;
• Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; e
• Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer 
Forma de Detenção ou Prisão.
Quando um tribunal competente considerar que uma pessoa com doença mental é 
incapaz de administrar seus próprios assuntos, medidas serão tomadas, na medida 
do necessário e apropriado à condição dessa pessoa, para garantir a sua proteção 
ou o seu interesse (Princípio 1.7). 
111Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Ainda, deve ser respeitado o direito à confidencialidade da informação relativa a 
todas as pessoas a quem se aplicam esses Princípios (Princípio 6).
Os Princípios da ONU afirmam a importância da vida em comunidade para o 
desenvolvimento dos cuidados em saúde mental. Sobre isso, o documento defende 
que toda pessoa com transtorno mental deve ter o direito de viver, trabalhar na 
comunidade (Princípio 3), bem como de receber tratamento e cuidado na comunidade 
em que vive (Princípio 7.1). Essas disposições serão aplicáveis na medida do possível. 
Ademais, os Princípios definem que:
2. Quando o tratamento for realizado em um estabelecimento de saúde mental, o 
paciente terá o direito, sempre que possível, de ser tratado perto de seus parentes 
ou amigos e terá o direito de retornar à comunidade o mais rápido possível. 
3. Todo paciente tem direito a um tratamento adequado à sua origem cultural. 
(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípios 7.2 e 7.3, tradução nossa)
A determinação de que uma pessoa tem um transtorno mental precisa ser feita 
de acordo com os padrões de saúde internacionalmente aceitos (Princípio 4). Isso 
quer dizer que jamais se pode determinar um transtorno mental com base em 
status político, econômico ou social, ou em pertencimento a grupo cultural racial 
ou religioso,ou em qualquer outra razão que não seja diretamente relevante para 
o estado de saúde mental da pessoa. Nesse sentido, nunca serão determinantes no 
diagnóstico de transtorno mental de uma pessoa:
• Conflitos familiares ou profissionais 
• Inconformidade com os valores morais, sociais, culturais ou políticos
• Crenças religiosas vigentes na comunidade 
Além disso, o histórico de tratamento ou hospitalização anterior 
na condição de paciente não deve vir por si só a justificar qualquer 
determinação presente ou futura de transtorno mental. 
Nenhuma pessoa ou autoridade deve classificar uma pessoa como tendo transtorno 
mental, ou de qualquer outra forma indicar que uma pessoa tem um transtorno 
mental, exceto para fins relacionados diretamente ao transtorno mental ou às 
consequências do transtorno mental. Ainda nesse sentido, os Princípios afirmam que 
nenhuma pessoa será obrigada a submeter-se a exame de saúde com o objetivo de 
determinar se tem ou não um transtorno mental. A obrigatoriedade só pode ocorrer 
se houver procedimento autorizado pela legislação interna do país (Princípio 5).
112Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os Princípios para a Proteção das Pessoas Com Transtorno Mental e para o 
Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU trazem importantes 
disposições sobre a forma como as pessoas com transtornos mentais devem ser 
tratadas no âmbito dos cuidados em saúde, especialmente no que diz respeito a: 
• Padrões de atendimento (Princípio 8)
• Tratamento (Princípio 9)
• Medicamento (Princípio 10)
• Consentimento para tratamento (Princípio 11)
Sobre isso, veja o texto dos Princípios da ONU com relação a alguns desses fatores:
 + Padrões de atendimento (Princípio 8)
1. Todo paciente tem direito a receber os cuidados de saúde e 
sociais adequados às suas necessidades de saúde, e tem direito 
a cuidados e tratamento de acordo com os mesmos padrões que 
os demais doentes (sic). 2. Todo paciente deve ser protegido contra 
danos, incluindo medicação injustificada, abuso por parte de outros 
pacientes, funcionários ou outros ou outros atos que causem 
sofrimento mental ou desconforto físico. (ASSEMBLEIA GERAL DA 
ONU, 1991, Princípio 8, tradução nossa)
 + Tratamento (Princípio 9)
1. Todo paciente deve ter o direito de ser tratado no ambiente 
menos restritivo e com o tratamento menos restritivo ou intrusivo 
adequado às necessidades de saúde do paciente e à necessidade de 
proteger a segurança física de outras pessoas.
2. O tratamento e os cuidados de cada paciente devem ser baseados 
em um plano prescrito individualmente, discutido com o paciente, 
revisado regularmente, revisado conforme necessário e fornecido 
por profissionais qualificados.
3. Os cuidados de saúde mental serão sempre prestados de acordo 
com as normas de ética aplicáveis aos profissionais de saúde 
mental, incluindo as normas internacionalmente aceites, tais como 
os Princípios de Ética Médica adoptados pela Assembleia Geral das 
Nações Unidas. O conhecimento e as habilidades de saúde mental 
nunca devem ser abusados.
4. O tratamento de cada doente deve ser orientado para a preservação 
e reforço da autonomia pessoal. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, 
Princípio 9, tradução nossa)
113Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 + Medicamento (Princípio 10)
1. A medicação deve atender às melhores necessidades de saúde do 
paciente, deve ser dada a um paciente apenas para fins terapêuticos 
ou diagnósticos e nunca deve ser administrada como punição ou para 
conveniência de terceiros. Sujeito às disposições do parágrafo 15 do 
Princípio 11, os profissionais de saúde mental devem administrar 
apenas medicamentos de eficácia conhecida ou comprovada. 
2. Todos os medicamentos devem ser prescritos por um profissional 
de saúde mental autorizado por lei e devem ser registrados no 
prontuário do paciente. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 
10, tradução nossa)
Ainda sobre esse assunto, deve ser dada atenção especial às disposições sobre o 
consentimento para tratamento (Princípio 11):
1. Nenhum tratamento deve ser dado a um paciente sem o seu consentimento 
informado, exceto conforme previsto nos parágrafos 6, 7, 8, 13 e 15 abaixo. 
2. Consentimento informado é o consentimento obtido livremente, sem ameaças 
ou incentivos impróprios, após divulgação apropriada ao paciente de informações 
adequadas e compreensíveis em forma e linguagem compreendidas pelo paciente 
em: 
(a) A avaliação diagnóstica; 
(b) A finalidade, método, duração provável e benefício esperado do tratamento 
proposto; 
(c) Modos alternativos de tratamento, incluindo os menos invasivos; e 
(d) Possível dor ou desconforto, riscos e efeitos colaterais do tratamento proposto. 
(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 11, tradução nossa)
Assim, de acordo com os Princípios da Assembleia Geral da ONU (1991), um 
tratamento pode ser dado a um paciente sem o seu consentimento informado se:
• O paciente estiver, no momento do tratamento, sendo mantido como 
paciente involuntário (Parágrafo 6.a);
• Uma autoridade independente, estando de posse de todas as informações 
relevantes, inclusive da informação especificada no parágrafo 2 acima, 
114Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
estiver convencida de que, no momento relevante, o usuário está 
incapacitado para dar ou recusar o consentimento informado ao plano 
de tratamento proposto ou, se a legislação nacional permitir, e 
considerando a sua própria segurança ou a de outros, o usuário tenha 
recusado irracionalmente tal consentimento (Parágrafo 6.b);
• A autoridade independente estiver convencida de que o plano de 
tratamento proposto é do melhor interesse para as necessidades de 
saúde do paciente (Parágrafo 6.c);
• O representante pessoal do paciente, tendo recebido as informações 
descritas no parágrafo 2 acima, consentir no lugar do paciente (Parágrafo 
7);
• Um profissional de saúde mental qualificado autorizado por lei 
determinar que é urgentemente necessário para prevenir dano imediato 
ou iminente ao paciente ou a outras pessoas. Esse tratamento não deve 
ser prolongado além do período estritamente necessário para esse fim 
(Parágrafo 8);
• No que diz respeito a grandes procedimentos de saúde ou cirúrgicos, 
estes podem ser realizados após revisão independente (Parágrafo 13);
• No caso de ensaios clínicos e tratamentos experimentais, um paciente 
incapaz de dar consentimento informado pode ser admitido em um 
ensaio clínico ou receber tratamento experimental com a aprovação de 
um órgão de revisão independente e competente especificamente 
constituído para este fim (Parágrafo 15).
O tratamento também pode ser dado a qualquer paciente sem seu consentimento 
informado se um profissional de saúde mental qualificado autorizado por 
lei determinar que é urgentemente necessário para prevenir dano imediato 
ou iminente ao paciente ou a outras pessoas. Esse tratamento não deve ser 
prolongado além do período estritamente necessário para esse fim. Porém, essa 
disposição não se aplica nos seguintes casos (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991), 
ou seja, é necessário que haja o consentimento do paciente, além da determinação 
do profissional de saúde, se:
• No que diz respeito a grandes procedimentos de saúde ou cirúrgicos, 
estes podem ser realizados após revisão independente (Parágrafo 13);
• No caso de psicocirurgia e outros tratamentos intrusivos e irreversíveis 
para doenças mentais, que, além de necessitar da determinação do 
profissional de saúde e do consentimento informado do paciente, só 
podem ser realizados se um órgão externo independente tiver se 
certificado de que há consentimento informado genuíno e de que o 
tratamento atende melhor às necessidades de saúde do paciente 
(Parágrafo 14);
• No caso de ensaios clínicos e tratamentos experimentais, um paciente 
incapaz de dar consentimento informado pode ser admitido em um 
ensaio clínico ou receber tratamento experimental com a aprovação de 
115Enap Fundação EscolaNacional de Administração Pública
um órgão de revisão independente e competente especificamente 
constituído para este fim (Parágrafo 15).
Além disso, o procedimento não pode consistir em esterilização, pois esta não pode 
ser realizada como tratamento para transtornos mentais (Parágrafo 12).
Sobre a autorização de tratamento sem o consentimento 
informado do paciente, é importante destacar que toda vez que 
esta ocorrer, todos os esforços devem ser feitos para informar o 
paciente sobre a natureza do tratamento e quaisquer alternativas 
possíveis a este, e para envolver o paciente tanto quanto possível 
no desenvolvimento do plano de tratamento (ASSEMBLEIA GERAL 
DA ONU, 1991, Parágrafo 9).
O paciente tem o direito de solicitar que pessoas de sua escolha estejam presentes 
durante o procedimento de consentimento e pode recusar ou interromper o 
tratamento, recebendo as informações sobre as consequências da recusa ou 
interrupção de seu tratamento. As exceções à possibilidade de recusa estão listadas 
nos parágrafos de números 6, 7, 8, 13 e 15, acima descritos. Ainda nesse sentido, 
um paciente nunca pode ser convidado ou induzido a renunciar ao direito de 
consentimento informado. Se o paciente tentar fazê-lo, deve ser explicado a ele que 
o tratamento não pode ser administrado sem consentimento informado.
No que diz respeito à contenção física ou ao isolamento involuntário, estes não 
devem ser empregados (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Parágrafo 11). Porém, 
podem ser adotados: 
• De acordo com os procedimentos oficialmente aprovados do 
estabelecimento de saúde mental; 
• Somente quando forem os únicos meios disponíveis para evitar danos 
imediatos ou iminentes ao paciente ou a outros. 
Além disso, no caso de adoção desses procedimentos, as seguintes condutas devem 
ser adotadas (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991): 
• Não podem ser prorrogados para além do período estritamente 
necessário para o efeito pretendido. 
• Todos os casos de contenção física ou isolamento involuntário, as razões 
para eles e sua natureza e extensão devem ser registrados no prontuário 
do paciente. O princípio nº 10 determina que todo tratamento deve 
ser imediatamente registrado no prontuário do paciente, com a indicação 
se involuntário ou voluntário. 
• Um paciente contido ou isolado deve ser mantido em condições 
humanas e estar sob os cuidados e supervisão estreita e regular de 
membros qualificados da equipe. Um representante pessoal, se houver 
116Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
e se for relevante, deve ser notificado imediatamente sobre qualquer 
restrição física ou isolamento involuntário do paciente. 
Com relação às condições e condutas adotadas nos estabelecimentos de saúde 
mental, destacam-se os seguintes aspectos determinados pelos Princípios da ONU 
(1991):
• Direitos e condições em estabelecimentos de saúde mental 
• Recursos para instalações de saúde mental 
• Princípios de admissão 
• Admissão involuntária 
Sobre isso, veja o texto original dos Princípios da ONU (1991) com relação a alguns 
desses fatores:
 + Direitos e condições em estabelecimentos de saúde mental
Princípio 13
1. Todo paciente em um estabelecimento de saúde mental deve, em 
particular, ter direito ao pleno respeito a: 
(a) O reconhecimento em todos os lugares como pessoa perante a 
lei; 
(b) Privacidade; 
(c) Liberdade de comunicação, que inclui a liberdade de se comunicar 
com outras pessoas na instalação; liberdade de enviar e receber 
comunicações privadas sem censura; liberdade de receber, em 
privado, visitas de um advogado ou representante pessoal e, em todos 
os momentos razoáveis, de outros visitantes; e liberdade de acesso 
aos serviços postais e telefónicos e aos jornais, rádio e televisão; 
(d) Liberdade de religião ou crença. 
2. O ambiente e as condições de vida nos estabelecimentos de saúde 
mental devem ser tão próximos quanto possível da vida normal de 
pessoas da mesma idade e, em particular, devem incluir: 
(a) Instalações para atividades recreativas e de lazer; 
(b) Instalações para educação; 
(c) Instalações para comprar ou receber itens para a vida diária, 
recreação e comunicação; 
(d) Instalações e encorajamento para usar tais instalações, para o 
envolvimento de um paciente em ocupação ativa adequada ao seu 
contexto social e cultural, e para medidas apropriadas de reabilitação 
vocacional para promover a reintegração na comunidade. Essas 
medidas devem incluir orientação vocacional, treinamento vocacional 
e serviços de colocação para permitir que os pacientes assegurem 
ou mantenham um emprego na comunidade. 
117Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3. Em nenhuma circunstância um paciente será submetido a trabalhos 
forçados. Dentro dos limites compatíveis com as necessidades 
do paciente e com as exigências da administração institucional, o 
paciente poderá escolher o tipo de trabalho que deseja realizar. 
4. O trabalho de um paciente em um estabelecimento de saúde mental 
não deve ser explorado. Cada paciente terá o direito de receber a 
mesma remuneração por qualquer trabalho que ele ou ela fizer, de 
acordo com a lei ou costume doméstico, seria pago por tal trabalho a 
um não paciente. Cada um desses pacientes deve, em qualquer caso, 
ter o direito de receber uma parte justa de qualquer remuneração paga 
ao estabelecimento de saúde mental por seu trabalho. (ASSEMBLEIA 
GERAL DA ONU, 1991, Princípio 13, tradução nossa)
 + Recursos para instalações de saúde mental
Princípio 14
1. Um estabelecimento de saúde mental deve ter acesso ao mesmo 
nível de recursos que qualquer outro estabelecimento de saúde e, 
em particular: 
(a) Pessoal médico qualificado e outros profissionais apropriados 
em número suficiente e com espaço adequado para proporcionar 
privacidade a cada paciente e um programa de terapia ativa e 
apropriada; 
(b) Equipamento diagnóstico e terapêutico para o paciente; 
(c) Cuidado profissional apropriado; e 
(d) Tratamento adequado, regular e abrangente, incluindo 
fornecimento de medicamentos. 
2. Todos os estabelecimentos de saúde mental devem ser 
inspecionados pelas autoridades competentes com a frequência 
necessária para assegurar que as condições, o tratamento e 
os cuidados prestados aos doentes cumprem estes Princípios. 
(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 14, tradução nossa)
 + Princípios de admissão
Princípio 15
1. Quando uma pessoa necessitar de tratamento em um 
estabelecimento de saúde mental, todos os esforços devem ser 
feitos para evitar a internação involuntária.
2. O acesso a um estabelecimento de saúde mental será administrado 
da mesma forma que o acesso a qualquer outro estabelecimento 
para qualquer outra doença.
3. Todo paciente não admitido involuntariamente terá o direito de 
deixar o estabelecimento de saúde mental a qualquer momento, a 
menos que se apliquem os critérios para sua retenção como paciente 
118Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
involuntário, conforme estabelecido no Princípio 16, e ele ou ela 
deve ser informado sobre este direito. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 
1991, Princípio 15, tradução nossa)
 + Admissão involuntária
Princípio 16
1. Uma pessoa pode (a) ser internada involuntariamente em um 
estabelecimento de saúde mental como paciente; ou (b) já tendo sido 
admitido voluntariamente como paciente, ser retido como paciente 
involuntário no estabelecimento de saúde mental se, e somente se, 
um profissional de saúde mental qualificado e autorizado por lei para 
esse fim determinar, de acordo com o Princípio 4, que essa pessoa 
tem uma doença mental e considera: 
(a) Que, por causa dessa doença mental, existe uma probabilidade 
séria de dano imediato ou iminente para essa pessoa ou para outras 
pessoas; ou 
(b) Que, no caso de uma pessoa cuja doença mental é grave e cujo 
julgamento é prejudicado, a falha em admitir ou reter essa pessoa 
provavelmente levará a uma deterioração séria em sua condição 
ou impedirá a administração de tratamento adequado que só podeser dada por admissão em um estabelecimento de saúde mental de 
acordo com o princípio da alternativa menos restritiva. 
No caso referido no subparágrafo (b), um segundo profissional 
de saúde mental, independente do primeiro, deve ser consultado 
sempre que possível. Se tal consulta ocorrer, a admissão ou retenção 
involuntária não poderá ocorrer, a menos que o segundo profissional 
de saúde mental concorde. 
2. A admissão ou retenção involuntária será inicialmente por um 
curto período, conforme especificado pela legislação nacional, 
para observação e tratamento preliminar enquanto se aguarda a 
revisão da admissão ou retenção pelo órgão de revisão. Os motivos 
da admissão devem ser comunicados ao paciente sem demora 
e o fato da admissão e os motivos da mesma também devem ser 
prontamente e detalhadamente comunicados à comissão de revisão, 
ao representante pessoal do paciente, se houver, e, a menos que 
haja objeção do paciente, à sua família. 
3. Um estabelecimento de saúde mental pode receber pacientes 
admitidos involuntariamente somente se o estabelecimento tiver 
sido designado para fazê-lo por uma autoridade competente 
prescrita pela legislação nacional. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 
1991, Princípio 16, tradução nossa) 
119Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Com relação às garantias processuais do paciente, o Princípio 18 estabelece 
alguns padrões. Entre eles, podemos destacar:
• O paciente terá o direito de escolher e nomear um advogado para 
representá-lo como tal, bem como um intérprete. Se o paciente não 
conseguir tais serviços, um profissional será disponibilizado. O paciente 
será dispensado do pagamento, na medida em que não tenha meios 
suficientes para pagar (Parágrafos 1 e 2).
• O paciente e seu representante pessoal e advogado terão o direito de 
comparecer, participar e ser ouvidos pessoalmente em qualquer 
audiência (Parágrafo 5).
• A decisão resultante da audiência e os seus fundamentos devem ser 
expressos por escrito. Cópias devem ser entregues ao paciente, a seu 
representante pessoal e a seu advogado (Parágrafo 8). 
• Ao decidir se a decisão deve ser publicada no todo ou em parte, deve-se 
levar em consideração a vontade do próprio paciente, a necessidade de 
respeitar a sua privacidade e a de outras pessoas, o interesse público na 
administração aberta da justiça e a necessidade de prevenir danos 
graves à saúde do paciente ou evitar colocar em risco a segurança de 
terceiros.
Sobre o prontuário do paciente, o Parágrafo 4 dispõe que:
4. Cópias do prontuário do paciente e quaisquer relatórios e documentos a 
serem apresentados devem ser entregues ao paciente e ao advogado do paciente, 
exceto em casos especiais em que seja determinado que uma revelação específica 
ao paciente causaria sérios danos à saúde do paciente ou colocaria em risco a 
segurança de terceiros. Conforme estabelecido pela legislação nacional, qualquer 
documento não entregue ao paciente deve, quando isso puder ser feito em sigilo, 
ser entregue ao representante e advogado pessoal do paciente. Quando qualquer 
parte de um documento for retida de um paciente, o paciente ou o advogado do 
paciente, se houver, receberá notificação da retenção e dos motivos para isso e 
estará sujeito a revisão judicial. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 18, 
tradução nossa)
Ainda nesse sentido, o Princípio nº 11 determina que “o paciente ou seu representante 
pessoal, ou qualquer pessoa interessada, terá o direito de apelar para uma autoridade 
judicial ou outra autoridade independente em relação a qualquer tratamento dado 
a ele ou a ela”. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 11, tradução nossa)
120Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O direito à informação é essencial para reduzir a vulnerabilidade 
da pessoa com transtorno mental sob cuidados em saúde. 
Nesse sentido, o Princípio nº 19 garante ao paciente ou ex-
paciente o direito a ter acesso às suas informações de saúde 
e aos seus registros pessoais que estejam sendo mantidos por 
estabelecimento de saúde mental. 
Qualquer informação não fornecida ao paciente deve ser fornecida ao representante 
e ao advogado pessoal do paciente, quando isso puder ser feito em sigilo e conforme 
estabelecido pela legislação nacional.
Quando qualquer informação for obtida de um paciente, a decisão da retenção e os 
motivos que a fundamentaram serão informadas ao paciente ou ao seu advogado, 
e estarão sujeitas a revisão judicial. 
Monitoramento de Soluções e Implementação 
Quanto aos deveres dos Estados, cabe a estes implementar os princípios por meio 
de medidas legislativas, judiciais e administrativas e de outras medidas apropriadas. 
Os Estados devem revisar essas medidas periodicamente. Além disso, é dever dos 
Estados tornar esses princípios amplamente conhecidos pelos meios apropriados 
(Princípio 23). É dever dos Estados, também, assegurar a existência de mecanismos 
para promover o cumprimento desses princípios, bem como de mecanismos para:
A inspeção de estabelecimentos de saúde mental, para a apresentação, 
investigação e resolução de denúncias e para a instituição de procedimentos 
disciplinares ou judiciais apropriados por má conduta profissional ou violação 
dos direitos de um paciente. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 22)
Sabemos que, idealmente, todos esses princípios seriam amplamente adotados 
e eficientemente aplicados. Porém, a prática clínica pode apresentar desafios à 
adoção dessas diretrizes. Sobre isso, ouça o podcast a seguir.
121Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Podcast 3 – Desafios à aplicação dos Princípios para a Proteção 
das Pessoas com Transtorno Mental e para o Melhoramento dos 
Cuidados em Saúde Mental da ONU à prática clínica
Assim, podemos perceber que a Assembleia Geral da ONU estabeleceu importantes 
princípios para proteger as pessoas com transtornos mentais que estão sob cuidados 
em saúde. A concretização desses princípios beneficia não somente o paciente e 
a instituição, mas também os profissionais de saúde envolvidos, que também são 
titulares de direitos humanos.
1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no 
contexto da saúde mental
O tratamento desumano e degradante de pessoas com transtorno mental traduz 
uma violação aos seus direitos humanos que, apesar de ser uma clara forma de 
desrespeito ao direito, é uma situação que ocorre com frequência em diversas 
partes do mundo. 
O Relator Especial da ONU sobre o Direito à Saúde (2002-2008) relatou ter recebido 
muitas denúncias de institucionalização inadequada de pessoas com transtorno 
mental, bem como de casos em que essas pessoas foram vítimas de violações de 
direitos humanos, incluindo:
• Pacientes amarrados a camas por longos períodos sem justificativa 
terapêutica
• Violência e tortura
• Eletroconvulsoterapia sem anestesia ou relaxantes musculares
• Pacientes alojados em ambulatórios com saneamento totalmente 
inadequado
• Privação de comida 
• Hipotermia
As pessoas com transtorno mental que estão sob cuidados em 
saúde são protegidas, na esfera da ONU, pelos Princípios para 
a Proteção das Pessoas com Transtornos Mentais e a Melhoria 
da Atenção à Saúde Mental, adotados pela Assembleia Geral da 
ONU em 1991.
No que diz respeito especificamente ao tratamento desumano e degradante, os 
Princípios definem que as pessoas com transtorno mental, ou que estão sendo 
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Desafios--aplicao-dos-Princpios-para-a-Proteo-das-Pessoas-com-Transtorno-Mental-e21r06b
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Desafios--aplicao-dos-Princpios-para-a-Proteo-das-Pessoas-com-Transtorno-Mental-e21r06b
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122Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
atendidas por quaisquer transtornos mentais, têm direito a ser protegidas contra os 
maus tratos físicos e deoutra natureza, bem como contra o tratamento degradante.
Ainda no âmbito da ONU, a Declaração de Caracas, que foi adotada pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS) em 1990, trata da reestruturação da atenção psiquiátrica 
nos sistemas locais de saúde. A Declaração determina que o cuidado e o tratamento 
da pessoa com transtorno mental devem proteger a sua dignidade pessoal e os 
seus direitos.
Para que um procedimento terapêutico seja considerado tratamento desumano ou 
degradante, um nível mínimo de severidade deve estar presente. A avaliação acerca 
do que seja esse nível mínimo dependerá: 
• Das circunstâncias do caso concreto
• De seus efeitos físicos e mentais
• Em alguns casos, do sexo, da idade e do estado de saúde do paciente
Sobre as condições de tratamento das pessoas com transtorno mental em instituições 
psiquiátricas, estas devem envolver o alojamento em ambiente seguro e limpo, que 
lhes assegure higiene pessoal adequada.
A garantia de um ambiente seguro e higiênico não é apenas 
essencial para a a saúde física, mas também é crucial para a 
saúde mental e o bem-estar.
Alguns pacientes institucionalizados são obrigados a viver em condições insalubres, 
com falta de alimentos e de investimentos. Ainda, muitas vezes constata-se a 
ausência de medidas de segurança para evitar a propagação de doenças infecciosas 
nas instalações em que se encontram. Registra-se, ainda, que, devido ao número 
reduzido de funcionários em algumas unidades de saúde mental, os pacientes 
são muitas vezes obrigados a realizar tarefas de manutenção e limpeza das suas 
instalações sem receber qualquer remuneração.
Sobre isso, tem-se como referência a decisão da Corte Interamericana de Direitos 
Humanos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil, que é a primeira condenação do Estado 
brasileiro:
O Sr. Ximenes Lopes foi internado na Casa de 
Repouso Guararapes em outubro de 1999, um 
centro de atendimento psiquiátrico privado que 
operava no âmbito do sistema único de saúde, no 
município de Sobral, estado do Ceará. O Sr. Ximenes 
Lopes faleceu em 4 de outubro de 1999, na Casa de 
123Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Repouso citada, após três dias de internação. De 
acordo com a decisão da Corte, o Sr. Ximenes Lopes 
foi submetido a condições desumanas e degradantes 
em sua hospitalização, tendo sofrido violação de sua 
integridade pessoal por parte dos funcionários da 
Casa de Repouso Guararapes. Segundo o relato de 
Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã do Sr. Ximenes 
Lopes, o corpo apresentava marcas de tortura. 
(ALBUQUERQUE, 2016, p. 113-114)
A Corte entendeu, nesse caso, que os cuidados de saúde para pacientes com 
transtorno mental devem ter como finalidade principal o bem-estar do paciente e o 
respeito à sua dignidade como ser humano. Essa finalidade se concretiza por meio 
do dever do Estado de adotar o respeito à intimidade e a autonomia das pessoas 
como princípios orientadores do tratamento psiquiátrico. Sendo assim, o lugar e as 
condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem estar de acordo com o 
respeito à dignidade humana. 
A Corte considera que as precárias condições de funcionamento da Casa de 
Repouso Guararapes, tanto as condições gerais do lugar, quanto o atendimento 
médico, se distanciavam de forma significativa das adequadas à prestação de 
um tratamento de saúde digno, particularmente em razão de que afetavam 
pessoas de grande vulnerabilidade por sua deficiência mental, e eram per se 
incompatíveis com uma proteção adequada da integridade pessoal e da vida. 
(CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006, apud ALBUQUERQUE, 
2016, p. 114-115)
O direito de não ser torturado ou submetido a pena ou tratamento desumano ou 
degradante é absoluto, o que significa que os Estados devem agir no sentido de 
implantar políticas, programas e legislações que evitem a prática dessas condutas 
por profissionais de saúde. A submissão de uma pessoa indefesa, que é a situação 
do paciente, a esse tipo de condição, tem efeitos arrasadores na vida do paciente e 
de seus familiares. Por isso, é importante frisar que:
• A escassez de recursos humanos e financeiros não justifica qualquer 
tratamento desumano ou degradante;
• Os Estados têm a obrigação de destinar recursos suficientes para 
satisfazer às necessidades básicas dos pacientes.
124Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• É dever do Estado proteger os pacientes contra o sofrimento causado 
pela falta de alimentos, roupas, recursos humanos, higiene e outras 
condições desumanas ou degradantes.
Assim, podemos observar que as violações aos direitos humanos das pessoas 
com transtornos mentais são recorrentes nas próprias instituições que deveriam 
prestar-lhes cuidados. Por esse motivo, as disposições da Convenção Contra a 
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes devem 
ser aplicadas aos serviços em saúde mental por meio de políticas, programas e 
legislações elaboradas pelos Estados. 
1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência e saúde mental
A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CIDPD) é 
um instrumento internacional de  direitos humanos  elaborado no âmbito da 
ONU. O texto da Convenção foi aprovado pela  Assembleia Geral das Nações 
Unidas, em 2006, e passou a fazer parte do ordenamento jurídico do Brasil em 25 
de agosto de 2009, por meio do Decreto nº 6.949. 
A CIDPD tem como objetivo proteger os direitos e a dignidade das pessoas 
com  deficiência (PcD). Os países que se comprometeram com a Convenção são 
obrigados a promover, proteger e assegurar o exercício pleno dos direitos 
humanos das pessoas com deficiência e garantir que usufruam de plena igualdade 
perante a lei.
• Os princípios gerais da CIDPD são:
• O respeito à dignidade humana
• A autonomia individual, incluindo a liberdade de tomar as próprias 
decisões e a independência das pessoas
• A participação e a inclusão plena e efetiva na sociedade
• O respeito à diferença e a aceitação das PcD como parte da diversidade 
e da condição humanas
• A igualdade de oportunidades
• A acessibilidade
• A igualdade entre o homem e a mulher 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas
https://pt.wikipedia.org/wiki/2006
https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_agosto
https://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_agosto
https://pt.wikipedia.org/wiki/2009
https://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igualdade_perante_a_lei
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igualdade_perante_a_lei
125Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sobre a Convenção, pode-se dizer que:
Esse documento é um marco histórico dos deveres do 
Estado para suplantar os obstáculos que atravancam 
o pleno exercício de direitos pelas PD [pessoas com 
deficiência], viabilizando o crescimento de suas 
potencialidades, e passando a serem contempladas 
como verdadeiros sujeitos, titulares de direitos. 
(CANDIDO, Mariluce et al., 2020, p. 224) 
O artigo 1º da CIDPD estabelece que pessoas com deficiência são aquelas que têm 
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, 
os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação 
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.
Assim, há um entendimento (Candido et al., 2020) no sentido de 
que é possível dizer que a pessoa com transtorno mental (PTM) 
deve ser caracterizada como pessoa com deficiência, já que pode 
desenvolver e apresentar tal condição, encaixando-se, assim, na 
definição do artigo 1º da CIDPD. 
Sobre o reconhecimento da pessoa com transtorno mental como pessoa com 
deficiência, os autores explicam:
Entretanto, não há o seu reconhecimento expresso. 
Também se percorre um longo caminho para fazer 
valer tais direitos no contextonacional, onde a PTM 
não recebe o mesmo tratamento jurídico dispensado 
à PD. Um exemplo disso é o Brasil, em seu Decreto 
Legislativo Nº 186, de 2008, que aprova o texto da 
CRPR e seu Protocolo Facultativo. (CANDIDO et al., 
2020, p. 227)
Embora, no contexto internacional, alguns 
instrumentos especiais de deficiência incorporem o 
TM [Transtorno Mental], o único do tipo mandatório, 
a CIDPD e seu Protocolo Facultativo não fazem 
nenhuma menção à PTM [Pessoa com Transtorno 
Mental]. Essa situação a torna significativamente 
exposta às violações de seus DHs, impedindo que 
tenham uma vida digna. Diante do exposto, pode-
126Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
se inferir que o avanço dos direitos da PTM requer a 
criação de instrumentos internacionais especiais do 
tipo mandatório, pois podem significar uma maior 
carga obrigatória, além de servir de parâmetro para 
o legislador, quando no exercício da sua atividade 
legiferante, bem como para o judiciário na aplicação 
de suas decisões. Do mesmo modo, ao executivo, na 
elaboração e implementação de políticas. É possível 
dizer que não basta só o reconhecimento internacional 
da deficiência na PTM, mas se faz emergencial a 
sua aplicação efetiva no âmbito regional, nacional, 
estadual e municipal para o fortalecimento da 
criação, expansão, vigilância e avaliação da eficácia 
dos DHs, e assim serem alcançados no exercício de 
direitos dessas pessoas. (CANDIDO et al., 2020, p. 227, 
tradução nossa)
O artigo 12 da CIDPD reconhece o direito das pessoas com deficiência de serem 
reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei. Essa afirmação 
reconhece que as PcD possuem capacidade para usufruir e exercer seus direitos 
em todos os aspectos da vida: 
Artigo 12
Reconhecimento igual perante a lei
1.Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com deficiência têm o direito de 
ser reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei.
2.Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam de 
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas em todos os 
aspectos da vida.
3.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para prover o acesso 
de pessoas com deficiência ao apoio que necessitarem no exercício de sua 
capacidade legal. 
127Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
4.Os Estados Partes assegurarão que todas as medidas relativas ao exercício 
da capacidade legal incluam salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir 
abusos, em conformidade com o direito internacional dos direitos humanos. Essas 
salvaguardas assegurarão que as medidas relativas ao exercício da capacidade 
legal respeitem os direitos, a vontade e as preferências da pessoa, sejam isentas de 
conflito de interesses e de influência indevida, sejam proporcionais e apropriadas 
às circunstâncias da pessoa, se apliquem pelo período mais curto possível e 
sejam submetidas à revisão regular por uma autoridade ou órgão judiciário 
competente, independente e imparcial. As salvaguardas serão proporcionais ao 
grau em que tais medidas afetarem os direitos e interesses da pessoa. 
5. Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Artigo, tomarão todas as medidas 
apropriadas e efetivas para assegurar às pessoas com deficiência o igual direito 
de possuir ou herdar bens, de controlar as próprias finanças e de ter igual acesso 
a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro, 
e assegurarão que as pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente 
destituídas de seus bens. (CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, art. 17) 
Nesse sentido, a Presidência da República elaborou um documento com comentários 
à CIDPD, em que se afirma, sobre o artigo 12:
Com isso, [a CIDPD] provoca uma ruptura na clássica 
separação que reconhecia a todos os seres humanos 
a capacidade de direito, consistente em usufruir de 
todos os direitos e liberdades fundamentais, ao passo 
que limitava a capacidade de exercício desses direitos 
em razão da condição de deficiência (usualmente 
mental ou auditiva, como ainda ocorre no código civil 
brasileiro). (BRASIL, 2008, p. 4) 
No que diz respeito à abordagem da Convenção ao tratamento involuntário em 
saúde mental, há uma discussão em torno do assunto. A introdução da CIDPD e o 
Comentário Geral 1 do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência sobre 
o Artigo 12 da Convenção geraram um debate considerável sobre a afirmação de 
que pessoas com transtornos mentais sempre possuem capacidade de decisão.
Nesse sentido, há uma série de questões importantes não resolvidas relacionadas 
a casos mais complexos e se o direito garantido pela CIDPD é absoluto e imediato 
ou sujeito a limitações.
128Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
No Dia Mundial da Saúde Mental de 2015, os Relatores Especiais das Nações Unidas 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Catalina Devandas-Aguilar, e sobre o 
Direito à Saúde, Dainius Pûras, exortaram os Estados a erradicar todas as formas de 
tratamento psiquiátrico não consensual.
O Dia Mundial da Saúde Mental, apoiado pelas Nações Unidas, 
é celebrado anualmente em 10 de outubro para aumentar a 
conscientização pública sobre problemas de saúde mental em 
todo o mundo. O tema de 2015 foi “Dignidade na Saúde Mental” 
e, em 2022, foi “Fazer da saúde mental e do bem-estar para todos 
uma prioridade global”. 
Os especialistas independentes instaram os governos a acabar com a detenção 
arbitrária, a institucionalização forçada e o tratamento forçado, a fim de garantir 
que as pessoas com transtornos mentais sejam tratadas com dignidade e tenham 
seus direitos humanos respeitados:
Trancados em instituições, amarrados com restrições, muitas vezes em 
confinamento solitário, injetados à força com drogas e supermedicados, são 
apenas algumas ilustrações das maneiras pelas quais pessoas com deficiência, 
ou aquelas percebidas como assim, são tratadas sem seu consentimento, com 
severas consequências para a sua integridade física e mental.
[...]
Com muita frequência, pessoas com deficiências psicossociais e de 
desenvolvimento são formal ou informalmente destituídas de sua capacidade 
legal e arbitrariamente privadas de sua liberdade em hospitais psiquiátricos, 
outras instituições especializadas e outros locais semelhantes.
A dignidade não pode ser compatível com práticas de tratamento forçado que 
podem constituir tortura.  Os Estados devem interromper esta situação com 
urgência e respeitar a autonomia de cada pessoa, incluindo seu direito de 
escolher ou recusar tratamento e cuidados.
[...]
O conceito de ‘necessidade médica’ por trás da colocação e tratamento não 
consensuais fica aquém das evidências científicas e dos critérios sólidos.  O 
legado do uso da força na psiquiatria vai contra o princípio ‘ primum non nocere ‘ 
(primeiro não fazer mal) e não deve mais ser aceito.
129Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
[...]
Apelamos aos Estados para que ponham fim a todas as instâncias de detenção 
arbitrária, institucionalização forçada e tratamento forçado, para garantir que 
as pessoas com deficiências de desenvolvimento e psicossociais sejam tratadas 
com dignidade e tenham o direito de ter suas decisões respeitadas em todos os 
momentos e de ter acesso a o apoio e acomodação necessários para comunicar 
efetivamente tais decisões”. (NAÇÕES UNIDAS, 2015, n.p., tradução nossa)
Especificamente sobre a CIDPD, os Relatores Especiais afirmaram:
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência oferece uma ocasião 
promissora para uma mudança de paradigma nas políticas e práticas de saúde 
mental. O Dia Mundial da Saúde Mental deste ano enfatiza mais do que nunca a 
necessidade de elaborar novos modelos e práticas de serviços comunitários que 
respeitem a dignidade e a integridade da pessoa.
É um bom momento para fazer um balanço da recente entrada em vigor da 
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência para abrir um diálogoentre todas as partes interessadas, incluindo usuários de serviços, formuladores 
de políticas e profissionais de saúde mental para trabalhar em soluções baseadas 
em direitos humanos que podem fornecer respostas às questões trazidas pelas 
normas da Convenção. (NAÇÕES UNIDAS, 2015, n.p., tradução nossa)
Assim, prossigamos no estudo dos dispositivos da CIDPD que podem ser aplicados 
ao âmbito da saúde mental. O artigo 17 assim dispõe:
Artigo 17
Proteção da integridade da pessoa 
Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua integridade física e mental 
seja respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas. (CONVENÇÃO 
INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, art. 
17) 
130Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Nesse sentido, percebe-se a preocupação da ONU em proteger as condições físicas 
e mentais das PcD:
A princípio, o referido artigo sendo lido num país 
desenvolvido ou onde o ordenamento jurídico tenha 
alcançado algum status de justiça, fica sem sentido, 
pois pode parecer que a norma trata do óbvio. No 
entanto, temos que ter em mente que a Convenção é 
internacional, busca ratificação e reconhecimento por 
todos os países do planeta. Dentro dessa premissa, 
devemos ter em conta que em muitos destes países 
ainda é comum a prática de abusos físicos e mentais 
contra pessoas com deficiência, até por acreditarem 
que pessoas na condição de “deficientes” são impuras 
e vítimas de sua própria sorte. (BRASIL, 2008, p. 69-70) 
Ainda com relação ao artigo 17, podemos observar que a Convenção diferencia a 
integridade física da integridade mental. No que diz respeito à integridade física, a 
norma objetiva garantir que as pessoas com deficiência tenham os mesmos direitos 
das demais pessoas quanto à preservação e utilização física de partes do seu 
corpo, independentemente de sua condição física. Quanto à integridade mental, 
visa proteger a pessoa com deficiência de danos morais ou intelectuais que possam 
atingi-la na condição de pessoa com deficiência.
A CIDPD é um instrumento de direitos humanos de grande relevância por definir o 
conceito de “pessoa com deficiência” e por contemplar as pessoas com deficiência 
como titulares de direitos. Embora haja posições no sentido de considerar a pessoa 
com transtorno mental sob o prisma da deficiência mental, não há reconhecimento 
expresso nesse sentido. A CIDPD e o seu Protocolo não mencionam especificamente 
a pessoa com transtorno mental, mas a Convenção possui importantes artigos que 
se aplicam a esse grupo, como o artigo 12, que determina a capacidade legal das 
pessoas com deficiência, e o artigo 17, que protege sua integridade física e mental.
Observando que existe uma divisão entre os direitos das pessoas com deficiência 
e a prática clínica, a OMS desenvolveu diretrizes de melhores práticas, por meio 
da iniciativa Quality Rights, incentivando os profissionais de saúde a participar da 
implementação da CIDPD. A iniciativa Quality Rights será estudada a seguir. 
131Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.4. Quality Rights
Tendo observado que existe uma disparidade entre os direitos das pessoas com 
deficiência e a prática clínica, a OMS desenvolveu diretrizes de melhores práticas 
por meio da iniciativa Quality Rights, incentivando os profissionais de saúde a 
participar da implementação da CIDPD, inclusive por meio da aplicação de tomadas 
de decisão apoiadas, e oferecendo suportes, como materiais de treinamento, para 
avançar nesse novo paradigma. 
O chamado kit de ferramentas Quality Rights fornece materiais 
de treinamento para capacitar profissionais de saúde sobre as 
disposições da CIDPD e o uso de instrumentos como diretivas 
antecipadas.  Em português, esse kit é chamado de kit de 
ferramentas Direito é Qualidade da OMS.
O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS tem como objetivo apoiar os países 
na avaliação e na melhoria da qualidade e no respeito aos direitos humanos nos 
serviços de saúde mental e de assistência social. Ele baseia-se em uma revisão 
internacional extensa realizada por pessoas com transtornos mentais e organizações 
formadas por elas ou organizações que as protegem. O kit destina-se a ser aplicado 
em países de baixa, média e alta renda, tendo sido testado de maneira experimental 
em todos esses contextos.
Aqui, é necessário delimitar o conceito do termo “serviços” para aplicação do kit de 
ferramentas: 
O termo “serviços” refere-se a qualquer lugar onde 
pessoas com desabilidades mentais vivem ou 
recebem atendimento, tratamento e/ou reabilitação. 
Estes incluem: hospitais psiquiátricos, enfermarias 
psiquiátricas em hospitais gerais, serviços 
ambulatoriais (incluindo centros comunitários de 
saúde mental ou de substâncias psicoativas, clínicas 
de atenção primária e atendimento ambulatorial 
realizado por hospitais gerais), centros de cuidados 
diurnos para pessoas com transtornos mentais e 
serviços de acolhimento institucional e assistência 
social (incluindo serviços de acolhimento institucional 
para idosos, crianças com deficiências e para outros 
“grupos” de pessoas). (BRASIL, 2015, p. 3)
Serviços psiquiátricos de internação e de estadia prolongada são comumente 
associados ao atendimento de baixa qualidade e a violações de direitos humanos. 
132Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Por isso, a OMS recomenda aos países que desativem progressivamente esse tipo 
de instituição, estabelecendo, em seu lugar, serviços de base comunitária, e que a 
saúde mental seja integrada aos serviços de atenção primária e aos hospitais gerais.
Embora essa ferramenta não endosse instituições de 
longa permanência como ambiente apropriado para 
tratamento e cuidado, enquanto esse tipo de serviço 
continuar a existir em países de todo o mundo é 
necessário impedir violações e promover os direitos 
daqueles que residem nessas instituições. (BRASIL, 
2015, p. 3)
A CIDPD consiste na base que define os padrões dos direitos 
humanos que precisam ser respeitados, protegidos e cumpridos 
nos serviços que atendem a essa população. 
O kit de ferramentas aborda cinco temas extraídos da CIDPD:
1. O direito a um padrão de vida e proteção social adequado (Artigo 28 da 
CIDPD)
2. O direito a usufruir o padrão mais elevado possível de saúde física e 
mental (Artigo 25)
3. O direito a exercer capacidade legal e o direito à liberdade pessoal e à 
segurança da pessoa (Artigos 12 e 14)
4. Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis, desumanos 
ou degradantes e contra a exploração, violência e abuso (Artigos 15 e 16)
5. O direito de viver de forma independente e de ser incluído na comunidade 
(Artigo 19) 
Cada um desses “temas” ou “direitos” é decomposto em uma série de “padrões”, os 
quais são ainda repartidos em uma série de “critérios”:
É em relação a esses critérios que os serviços serão 
avaliados, mediante entrevistas, observação e 
revisões de documentação. A avaliação de cada 
critério possibilita aos avaliadores determinar se um 
determinado padrão foi cumprido. Os padrões, por 
sua vez, ajudam a determinar se o tema global foi 
cumprido. (BRASIL, 2015, p. 3)
133Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sobre isso, veja a figura a seguir:
Figura 29 - Exemplo de divisão de cada tema em padrões e critérios 
a serem cumpridos em uma avaliação da qualidade e direitos 
humanos de serviços de saúde mental e de assistência social
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Direito é qualidade: kit de ferramentas de 
avaliação e melhoria da qualidade e dos direitos humanos em serviços de 
saúde mental e de assistência social. Brasília, 2015, página 7. Disponível em: 
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.
pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53. Acesso em: 25 nov. 2022. 
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53134Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
É importante destacar que o kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS oferece 
instruções detalhadas sobre como uma avaliação deve ser conduzida e os seus 
resultados, relatados e utilizados. Ele inclui, ainda, alguns tipos de ferramentas, 
como:
• Ferramentas de avaliação, como a ferramenta de entrevista, que fornece 
orientação sobre como conduzir entrevistas com usuários do serviço, 
membros das famílias (ou amigos ou cuidadores) e profissionais do 
serviço. 
• Formulários para relatórios, como o relatório de avaliação de serviço, 
que se destina a auxiliar as equipes de avaliação na consolidação e 
apresentação de seus resultados, conclusões e recomendações para 
cada serviço. 
O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS pode ser adotado e usado por 
diversos grupos e organizações, tanto nacionais como internacionais. Ele pode ser 
usado para uma única avaliação ou como parte de um programa de nível nacional 
para melhorar os serviços no país. Assim, alguns dos grupos e organizações que 
podem usar o kit de ferramentas são:
• Órgãos internacionais de direitos humanos e organizações não 
governamentais 
• Órgãos e mecanismos nacionais 
• Instituições nacionais de direitos humanos
• Comissões nacionais de saúde ou de saúde mental 
• Órgãos de acreditação de serviços de saúde 
• Organizações nacionais não governamentais 
• Comitê ou órgão “dedicado” à avaliação 
Para implementar o projeto Direito é Qualidade da OMS, a primeira etapa é estabelecer 
uma equipe de gerenciamento. Essa equipe central de pessoas será responsável 
por:
• Supervisionar o projeto
• Fornecer orientação ao comitê que realizará a avaliação
• Gerenciar e coordenar a avaliação
• Relatar os resultados e dar seguimento às ações
A equipe de gerenciamento do projeto poderia 
compreender representantes do Ministério da Saúde, 
de outros ministérios apropriados (por exemplo, do 
bem-estar social), representantes de organizações 
de pessoas com desabilidades, organizações de 
familiares, comissões ou órgãos nacionais de direitos 
135Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
humanos ou de saúde, profissionais de saúde mental 
e da área jurídica. 
[...] 
A equipe de gerenciamento deve determinar os 
objetivos da avaliação. O objetivo principal é avaliar 
e melhorar todos os serviços ambulatoriais e de 
internação, ou o projeto se limitará a serviços de 
internação? Sua finalidade é subsidiar a política 
e a legislação ou, quando estas já estão em vigor, 
fortalecer a sua implementação? A determinação 
dos objetivos da avaliação esclarecerá a estrutura do 
projeto e o modo como os resultados serão relatados. 
(BRASIL, 2015, p. 14)
Uma vez determinada a finalidade da avaliação, algumas questões serão consideradas 
pela equipe de gerenciamento antes de que aquela seja iniciada. É necessário:
1. Determinar o escopo da avaliação
2. Entender a organização de serviços no país
3. Selecionar serviços para avaliação 
4. Selecionar temas para a avaliação 
5. Determinar quais e quantas pessoas de cada serviço entrevistar 
Quando o escopo da avaliação e o número de serviços 
a serem avaliados tiverem sido definidos, a equipe de 
gerenciamento deverá determinar quantos comitês 
de avaliação serão necessários. “Em alguns contextos 
(por exemplo, em países pequenos ou quando 
somente um ou dois serviços estão sendo avaliados), 
somente um comitê pode ser necessário. Em outros 
contextos (por exemplo, avaliações em nível nacional 
ou distrital), serão necessários diversos comitês” 
(BRASIL, 2015, p. 22).
Assim, a equipe de gerenciamento irá selecionar membros dos comitês de avaliação, 
determinar as diferentes funções dos membros do comitê, treinar esses membros, 
estabelecer a autoridade do(s) comitê(s) e preparar termos de consentimento (dos 
profissionais, dos usuários dos serviços e de membros da família que participam na 
avaliação) antes que as entrevistas sejam conduzidas, e buscar aprovação ética.
136Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A avaliação deve ser conduzida de forma a seguir algumas orientações. Por exemplo: 
Quando possível, o comitê de avaliação deve efetuar 
visitas não anunciadas aos serviços. Se souberem a 
data e a hora de uma visita, os profissionais de um 
serviço podem preparar-se para a visita, “limpando” 
o serviço de modo que os membros do comitê vejam 
uma versão “higienizada” do serviço, em vez das 
condições reais. As visitas não anunciadas asseguram 
que os membros do comitê vejam as condições que 
são realmente vivenciadas pelos usuários do serviço 
todos os dias. (BRASIL, 2015, p. 27).
Ainda, as visitas devem, se possível, ser realizadas ao mesmo serviço em 
diferentes horários do dia. Antes de iniciada a visita, o comitê deve se reunir com 
os profissionais e os usuários do serviço e, quando possível, com membros das 
famílias dos usuários para explicar a finalidade da avaliação e para descrever o 
que farão e o que esperam alcançar. 
O comitê deve tentar estabelecer um sentido de 
parceria e cooperação com os profissionais, os usuários 
do serviço e seus familiares. Os profissionais podem 
sentir-se desconfortáveis em relação à avaliação, 
temendo que seu trabalho esteja sendo monitorado 
e julgado. Os usuários do serviço e familiares também 
podem ficar desconfiados da avaliação e temerem 
represálias se participarem em entrevistas. O comitê 
deve, portanto, empenhar-se em promover um 
espírito de colaboração, enfatizando que todos os 
envolvidos possuem um objetivo comum – melhorar 
as condições do serviço – e que esse objetivo pode ser 
alcançado somente com as informações recebidas e 
a participação ativa de todos. A equipe de avaliação 
não deverá, contudo, levantar expectativas irrealistas 
sobre o resultado que a avaliação alcançará, e deve 
esclarecer que as condições provavelmente não 
melhorarão imediatamente, mas somente com o 
passar do tempo. (BRASIL, 2015, p. 27)
137Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
As ferramentas do Direito é Qualidade para revisão da documentação e observação dos 
serviços servem de guia para os membros do comitê sobre o que devem observar 
durante suas visitas, com espaço para registrar seus achados. A observação é uma 
atividade central na avaliação das condições dos serviços. Assim, 
A observação não deve se restringir a um exame das 
condições físicas; deve incluir também o que acontece 
no serviço. Por exemplo, quando visita serviços 
ambulatoriais e de internação, o comitê de avaliação 
deve observar as interações entre profissionais e 
usuários dos serviços para determinar se os usuários 
estão sendo atendidos com dignidade e respeito e se 
os seus direitos e sua capacidade legal são respeitados. 
Por conseguinte, como parte da observação, os 
membros do comitê devem acompanhar atividades/
atendimentos envolvendo profissionais e usuários 
dos serviços, incluindo: 
• Consultas entre profissionais e usuários 
dos serviços: Os usuários do serviço estão 
participando na elaboração de seu projeto 
terapêutico? Os usuários podem expressar 
suas opiniões e escolhas referentes ao seu 
tratamento, e estas são respeitadas? Ou estas 
decisões são tomadas sem sua participação? 
Ações de reabilitação: Os profissionais estão 
simplesmente fazendo palestras para os 
usuários do serviço, ou os usuários estão 
participando ativamente no processo de 
reabilitação psicossocial para aquisição de 
habilidades? (BRASIL, 2015, p. 28)
O kit Direito é Qualidade da OMS também fornece a ferramenta de observação e 
documentação, que serve de guia para os membros do comitê sobre os tipos de 
documentação a serem revisados na avaliação. De acordo com a ferramenta, a 
documentação pode ser dividida em quatro grandes categorias: 
• Projetos técnicos, diretrizes, normas e outras diretivas oficiais do serviço; 
• Registros administrativos (por exemplo, número e categorias de 
profissionais, número, idade e sexo de usuários do serviço, registros de 
internaçãoe alta); 
• Registros de eventos específicos (por exemplo, queixas, petições contra 
138Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
internação e tratamento involuntários, incidentes de roubo, abuso, 
óbitos); e 
• Prontuários ou arquivos de usuários do serviço.
Outra ferramenta no âmbito do kit Direito é Qualidade da OMS é a ferramenta de 
entrevista. 
Entrevistar usuários, familiares e profissionais de um serviço e 
ouvir suas visões e perspectivas é fundamental para a avaliação. 
Essa ferramenta descreve os temas, os padrões e os critérios em relação aos quais 
as condições dos serviços devem ser avaliadas. A ferramenta também contém 
perguntas associadas a cada critério para auxiliar o entrevistador. Alguns dos 
aspectos que devem ser considerados com relação à entrevista são: 
• A seleção dos entrevistados
• O procedimento de entrevista
• O conteúdo da entrevista: relatos de casos de abuso
Com relação à forma de relatar os resultados da avaliação, o formulário de relatório 
do Direito é Qualidade da OMS por serviço fornece uma estrutura para que o comitê 
de avaliação documente sistematicamente a extensão em que cada um dos cinco 
temas da ferramenta Direito é Qualidade da OMS foi aplicada em um serviço específico 
de saúde mental ou de assistência social. Todas as sessões devem ser preenchidas. 
São elas:
1. Resumo executivo
2. Método utilizado para a avaliação
3. Resultados da avaliação (inclusive a pontuação quantitativa e os achados 
qualitativos)
4. Discussão
5. Conclusões e recomendações
No caso de mais de um serviço ter sido avaliado (por exemplo, uma avaliação 
nacional ou distrital), “todos os comitês que conduzem avaliações deverão se reunir 
para discutir, integrar e compilar seus resultados de cada serviço e preparar uma 
avaliação global em nível nacional ou distrital” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015, p. 
37). Nessa hipótese, o formulário de relatório do Direito é Qualidade da OMS para 
avaliações nacionais fornece uma estrutura para consolidação das avaliações locais:
O formulário do relatório nacional possui as mesmas 
seções que aqueles voltados para cada serviço 
individualmente, fornece as mesmas categorias para 
classificação (embora as classi- ficações para cada 
139Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
serviço sejam listadas e apresentadas por tema no 
formulário do relatório nacional ou por distrito) e 
inclui um modelo para integrar achados quantitativos 
e qualitativos em um único relatório em nível nacional 
ou de distrito. (BRASIL, 2015, p. 37)
Quanto ao uso dos resultados obtidos na avaliação, “as avaliações da qualidade e 
direitos humanos em serviços de saúde mental e de assistência social podem servir 
para diversas finalidades, e os resultados podem ser utilizados de muitas maneiras 
diferentes” (BRASIL, 2015, p. 37). 
É essencial que todos os envolvidos em uma avaliação entendam 
claramente e concordem sobre a sua finalidade e o modo como 
os resultados serão utilizados. 
Os resultados de uma avaliação podem:
• No nível macro, ser utilizados para orientar políticas, planos e legislação 
sobre saúde mental e abuso de substâncias. 
• Ser utilizados para entender a extensão e o tipo de violações de direitos 
humanos que ocorrem em serviços, e para aumentar a conscientização 
sobre essas questões entre as autoridades competentes e as partes 
envolvidas, quando apropriado. 
• (E devem) ser utilizados como base para formular um plano de melhoria 
da qualidade, o qual deve ser integrado na gestão e prestação de 
cuidados do serviço avaliado. 
• Ser utilizados para identificar lacunas no conhecimento em relação a 
questões sobre direitos humanos e qualidade. 
Para conhecer mais sobre o kit de ferramentas 
Quality Rights, clique no link https://apps.who.int/iris/
bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf e acesse o 
documento “Kit de ferramentas de avaliação e melhoria da 
qualidade e dos direitos humanos em serviços de saúde mental 
e de assistência social”, produzido pelo Ministério da Saúde em 
2015. 
https://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf
https://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf
140Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 30 – Manual Direito é Qualidade
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Direito é qualidade: kit de ferramentas de 
avaliação e melhoria da qualidade e dos direitos humanos em serviços de 
saúde mental e de assistência social. Brasília, 2015, capa. Disponível em: 
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.
pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53. Acesso em: 25 nov. 2022. 
Assim, os Quality Rights ou, em português, kit de ferramentas Direito é Qualidade da 
OMS, são importantes instrumentos de orientação para profissionais de saúde 
que visam à aplicação das disposições da CIDPD à prática clínica. Nesse sentido, o 
kit fornece materiais de treinamento para capacitar médicos sobre as disposições 
da CIDPD e o uso de instrumentos, como diretivas antecipadas. 
O kit de ferramentas busca identificar problemas nas práticas existentes de 
atendimento à saúde e, a partir disso, planejar meios para que os serviços prestados 
sejam de boa qualidade. Para atingir esse fim, o kit oferece uma série de ferramentas 
para que se possa realizar uma avaliação completa, abrangente e efetiva dos serviços 
em saúde, e para que a utilização dos dados obtidos nessas avaliações seja feita 
de modo a promover a mudança necessária nos serviços de cuidados em saúde 
destinados a pessoas com transtornos mentais.
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53
141Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá, estudante!
Neste módulo, trabalharemos os principais relatórios, casos e decisões dos Sistemas 
Internacionais de Direitos Humanos que se relacionam com o tema “saúde mental”. 
1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, 
Interamericano e Europeu de Direitos Humanos
Reconhecer a Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos 
e os casos analisados pelo sistema interamericano sobre saúde 
mental.
Os Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos possuem diversos 
relatórios e decisões interessantes relacionados ao tema “saúde mental e direitos 
humanos”. Esses documentos constituem a principal fonte de conhecimento sobre 
os padrões internacionais de tratamento das pessoas com transtorno mental sob 
cuidados em saúde. A seguir, vamos estudar os documentos relacionados a cada 
um desses sistemas. 
1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU 
Para facilitar a compreensão, observe a figura a seguir, que mostra um organograma 
dos órgãos de monitoramento de direitos humanos da ONU. Na última fileira, 
encontram-se os nomes dos mecanismos de monitoramento utilizados por cada 
um desses órgãos. Os tipos de documentos utilizados nessa pesquisa (Relatórios 
de Relatores Especiais; Relatórios e Comentários Gerais das Convenções temáticas) 
encontram-se destacados em amarelo na figura.
 Módulo
Jurisprudência internacional sobre 
direitos humanos e saúde mental4
142Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 31 - Sistema ONU de Direitos Humanos - Mecanismos de monitoramento
Fonte: Elaborada pela autora. 
Assim, passamos a apresentar as recomendações expedidas por órgãos de direitos 
humanos da ONU sobre o tratamento que deve ser dado a pessoas com transtorno 
mental. 
Os órgãos cujos documentos foram considerados para a pesquisa 
são os organismos responsáveis por monitorar a proibição da 
tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes e os 
direitos da pessoa com deficiência.
No que diz respeito à proibição da tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes, a pesquisa se baseou nos relatórios temáticosdo Relator Especial 
da ONU sobre Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, 
bem como nos comentários gerais e recomendações. Assim, são enfocados três 
documentos:
• Relatório temático A/HRC/22/53 (2013) 
• Recomendação Geral nº 2 de 2011
• Nota do Relator Especial “Maus tratos em ambientes de saúde: quando 
um cuidador se torna um torturador”, de 13 de março de 2013 
A pesquisa também levou em consideração os documentos emitidos pelo Comitê 
contra a Tortura (CAT), órgão de monitoramento da Convenção Contra a Tortura e 
Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Os documentos 
utilizados na pesquisa foram aqueles classificados como “comentários gerais” e 
“relatórios”. O documento encontrado sob esses parâmetros foi o Relatório do CAT 
A/64/44, de 2009. 
No que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência, foram considerados 
para a pesquisa os relatórios e relatórios temáticos publicados pelo Relator Especial 
143Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Relatórios temáticos A/
HRC/40/54 (2019), A/74/186 (2019), A/73/161 (2018) e A/HRC/37/56 (2018).
• Comentários Gerais CRPD/C/5 (2022), CRPD/C/GC/6 (2018) e CRPD/C/
GC/1 (2014)
• Relatório A/72/55 (2017)
Nos documentos pesquisados, foram encontradas importantes 
recomendações feitas pelos órgãos da ONU aos Estados com 
relação a padrões internacionais de tratamento de pessoas com 
transtornos mentais sob cuidados em saúde. 
As recomendações foram sistematizadas por temas, conforme demonstrado nos 
quadros a seguir.
1.1.1. Consentimento informado
Quadro 19 - Recomendações sobre consentimento informado
Recomendação Comitê/Relatoria
Documento 
fonte e ano
Garantir que a prestação de serviços de 
saúde, incluindo serviços de saúde mental, 
seja baseada no consentimento livre e 
informado da pessoa em questão. 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Relatório 
A/72/55 (2017)
Os Estados Partes têm a obrigação de 
não permitir que tomadores de decisão 
substitutos forneçam consentimento em 
nome de pessoas com deficiência. 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Relatório 
A/72/55 (2017)
Os regimes de decisão substituída devem 
ser trocados por regimes de decisões 
assistidas, que respeitem a autonomia, a 
vontade e as preferências da pessoa. 
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Na transmissão de informações, os 
profissionais de saúde devem estar 
cientes e se adaptar às necessidades 
específicas de pessoas lésbicas, gays, 
bissexuais, transgêneros e intersexuais.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
144Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação Comitê/Relatoria
Documento 
fonte e ano
Os Estados devem assegurar-se de que a 
informação sobre saúde esteja totalmente 
disponível, aceitável, acessível e de boa 
qualidade; e que seja transmitida e 
compreendida por meio de medidas de 
apoio e proteção, como, por exemplo, uma 
ampla gama de serviços e apoios baseados 
na comunidade, como aconselhamento e 
envolvimento em redes comunitárias.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Fonte: Elaborado pela autora. 
1.1.2. Grupos vulneráveis
Quadro 20 - Recomendações sobre grupos vulneráveis
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
Assegurar a proteção especial de grupos e 
indivíduos minoritários e marginalizados 
como um componente crítico da obrigação de 
prevenir a tortura e os maus-tratos, investindo 
e oferecendo aos indivíduos marginalizados 
uma ampla gama de apoios voluntários 
que lhes permitam exercer sua capacidade 
legal e que respeitem sua autonomia, sua 
vontade e suas preferências individuais.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Os Estados devem revogar qualquer lei 
que permita tratamentos intrusivos e 
irreversíveis, incluindo cirurgia forçada 
de normalização genital, esterilização 
involuntária, experimentação antiética, 
exibição médica, “terapias reparadoras” ou 
“terapias de conversão”, quando aplicadas 
ou administradas sem o consentimento 
livre e informado da pessoa em questão. 
Devem, ainda, proibir a esterilização forçada 
ou coagida em todas as circunstâncias e 
fornecer proteção especial a indivíduos 
pertencentes a grupos marginalizados. 
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
145Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
Integrar os direitos dos idosos com deficiência 
em todas as políticas e programas para idosos 
e pessoas com deficiência. Por exemplo, 
a situação dos idosos com deficiência é 
abordada nos planos de ação nacionais sobre 
deficiência da Alemanha e da Eslovênia. As 
estratégias nacionais e os planos de ação 
sobre envelhecimento e deficiência devem 
se complementar e garantir que as pessoas 
idosas com deficiência, independentemente 
de sua idade ou deficiência, não caiam 
no esquecimento. As pessoas idosas 
com deficiência psicossocial devem ser 
totalmente incluídas nessas políticas e não 
devem ser abandonadas ou abordadas 
apenas por meio de estratégias de saúde 
mental que carecem de uma abordagem 
baseada em direitos para a deficiência e 
que podem violar seus direitos humanos.
Relator Especial 
sobre os Direitos 
da Pessoa com 
Deficiência
Relatório 
temático 
A/74/186 
(2019)
Fonte: Elaborado pela autora. 
1.1.3. Medicação e cuidados paliativos
Quadro 21 - Recomendações sobre medicação e cuidados paliativos
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
Adotar uma abordagem baseada em 
direitos humanos para o controle de 
medicamentos como questão prioritária 
para prevenir as contínuas violações de 
direitos decorrentes das abordagens atuais 
de redução da oferta e da demanda. 
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
146Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Assegurar que as leis nacionais de 
controle de medicamentos reconheçam 
a natureza indispensável dos narcóticos 
e psicotrópicos para o alívio da dor e do 
sofrimento, e revisar a legislação nacional 
e os procedimentos administrativos para 
garantir a disponibilidade adequada desses 
medicamentos para usos médicos legítimos.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Garantir medicamentos essenciais – 
que incluem, entre outros, analgésicos 
opioides – como parte de obrigações 
básicas mínimas decorrentes do direito 
à saúde e tomar medidas para proteger 
as pessoas sob sua jurisdição de 
tratamento desumano e degradante.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Garantir o acesso total aos cuidados 
paliativos e superar os atuais obstáculos 
regulatórios, educacionais e atitudinais 
que restringem a disponibilidade de 
medicamentos essenciais para cuidados 
paliativos, especialmente a morfina oral.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Elaborar e implementar políticas que 
promovam a compreensão generalizada 
sobre a utilidade terapêutica de substâncias 
controladas e seu uso racional.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Desenvolver e integraros cuidados 
paliativos no sistema público de saúde, 
incluindo-os em todos os planos e em 
todas as políticas nacionais de saúde, nos 
currículos e nos programas de treinamento, 
e desenvolvendo os padrões, as diretrizes 
e os protocolos clínicos necessários.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Fonte: Elaborado pela autora. 
147Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1.4. Institucionalização e intervenções forçadas
Quadro 22 - Recomendações sobre institucionalização e intervenções forçadas
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
A proibição absoluta de todas as medidas 
coercitivas e não consensuais, incluindo 
contenção e confinamento solitário de pessoas 
com deficiências psicológicas ou intelectuais, 
deve ser aplicada em todos os locais de 
privação de liberdade, inclusive em instituições 
psiquiátricas e de assistência social.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes; 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
Os critérios que determinam os fundamentos 
pelos quais o tratamento pode ser 
administrado na ausência de consentimento 
livre e informado devem ser esclarecidos 
na lei, e nenhuma distinção entre pessoas 
com ou sem deficiência deve ser feita. 
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Somente em emergência com risco de 
vida, em que não há desacordo quanto 
à ausência de capacidade legal, pode um 
prestador de cuidados de saúde proceder 
sem consentimento informado para realizar 
um procedimento de salvamento.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
A legislação que autoriza a institucionalização 
de pessoas com deficiência com base em 
sua deficiência, sem seu consentimento 
livre e informado, deve ser abolida. 
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
148Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
Impor a proibição absoluta de todas as 
intervenções médicas forçadas e não 
consensuais contra pessoas com deficiência, 
incluindo a administração não consensual 
de psicocirurgia, eletrochoque e drogas que 
alteram a mente, como neurolépticos, o uso 
de contenção e confinamento solitário, tanto 
para períodos longos como para aplicação de 
curto prazo. A obrigação de acabar com as 
intervenções psiquiátricas forçadas baseadas 
apenas na deficiência é de aplicação imediata 
e a escassez de recursos financeiros não pode 
justificar o adiamento da sua implementação.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Substituir tratamento forçado por serviços 
na comunidade. Esses serviços devem 
atender às necessidades expressas por 
pessoas com deficiência e respeitar a 
autonomia, as escolhas, a dignidade e 
a privacidade da pessoa em questão, 
com ênfase em alternativas ao modelo 
biomédico de saúde mental, incluindo 
apoio de pares, conscientização e 
treinamento em saúde mental.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Revisar e abolir as disposições 
legais que permitem: 
A detenção por motivos de saúde mental ou 
em estabelecimentos de saúde mental; e
Quaisquer intervenções ou tratamentos 
coercivos no ambiente de saúde 
mental sem o consentimento livre e 
informado da pessoa em questão. 
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes; 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD); CRPD 
; CRPD
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Comentário 
Geral CRPD/C/
GC/1 (2014); 
Comentário 
Geral CRPD/C/
GC/6 (2018); 
Relatório 
A/72/55 (2017)
149Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
Fechar sem demora os centros de 
detenção compulsória e de “reabilitação” 
de drogas e implementar serviços sociais 
e de saúde voluntários, baseados em 
evidências e direitos na comunidade. 
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Usuários de drogas ilícitas detidos em 
centros de reabilitação compulsórios, 
geralmente administrados por militares 
ou paramilitares, forças policiais ou de 
segurança, ou por empresas privadas, sofrem 
uma dolorosa retirada da dependência de 
drogas sem assistência médica, ou sofrem 
abuso físico ou sexual. Os Estados devem 
fechar esses centros e implementar serviços 
sociais e de saúde na comunidade.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Nota “Maus 
tratos em 
ambientes de 
saúde: quando 
um cuidador 
se torna um 
torturador”, 
(2013)
A reforma da legislação sobre capacidade 
jurídica deve ser realizada de forma imediata e 
em simultâneo com a desinstitucionalização.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
Iniciar reformas sociais e sistemas 
alternativos de apoio comunitário 
em paralelo com o processo em 
andamento de desinstitucionalização 
de pessoas com deficiência.
Comitê contra 
a Tortura (CAT); 
Relator Especial 
dos Direitos 
das Pessoas 
com Deficiência 
da ONU
Relatório 
A/64/44 
(2009); 
Relatório 
temático A/
HRC/40/54 
Fornecer imediatamente aos indivíduos 
oportunidades de deixar as instituições, 
revogar qualquer detenção autorizada por 
disposições legislativas que não estejam 
em conformidade com o artigo 14 da 
Convenção, seja sob leis de saúde mental 
ou de outra forma, e proibir a detenção 
involuntária com base na deficiência.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
150Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação Órgão recomendante
Documento 
fonte
O exercício da tomada de decisão 
pelas pessoas com deficiência que se 
encontram atualmente institucionalizadas 
deve ser respeitado no processo 
de desinstitucionalização. 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
Suspender imediatamente novas colocações 
em instituições, adotar moratórias sobre 
novas admissões e sobre a construção 
de novas instituições e alas, e abster-se 
de reformar instituições existentes. 
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
As pessoas que deixam as instituições 
requerem uma ampla gama de possibilidades 
para a vida diária, experiências de vida 
e oportunidades para prosperar na 
comunidade. Os Estados partes devem 
cumprir suas obrigações gerais de defender 
os direitos dessas pessoas, em igualdade 
de condições com os demais, no que diz 
respeito à acessibilidade, à mobilidade 
pessoal, à privacidade, à integridade física 
e mental, à capacidade legal, à liberdade, à 
isenção de violência, abuso e exploração, 
tortura e outros maus-tratos, à educação, 
à participação na vida cultural e recreação 
e à participação na vida política.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
Fonte: Elaborado pela autora
151Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1.5. Capacidade 
Quadro 23 - Recomendações sobre capacidade
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
Deficiências reais ou percebidas na capacidade 
mental não devem ser usadas como 
justificativa para negar a capacidade legal.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral CRPD/C/
GC/1 (2014)
O apoio ao exercícioda capacidade 
legal deve continuar, se necessário, 
depois que as pessoas com deficiência 
se estabelecerem na comunidade.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral 
CRPD/C/5 
(2022)
Fonte: Elaborado pela autora
1.1.6. Legislação
Quadro 24 - Recomendações sobre legislação
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
A legislação de saúde mental, desde que 
autorize e regule a privação involuntária 
da liberdade e o tratamento forçado de 
pessoas com base em uma deficiência 
real ou percebida (ou seja, diagnóstico de 
“condição de saúde mental” ou “distúrbio 
mental”), deve ser abolida. Para tanto, os 
Estados devem iniciar um processo de revisão 
legal abrangente, que abarque diferentes 
áreas do direito, com a participação 
ativa das pessoas com deficiência e de 
suas organizações representativas.
Relator Especial 
dos Direitos das 
Pessoas com 
Deficiência da 
ONU; Comitê 
das Pessoas 
com Deficiência 
(CRPD)
Relatório 
temático A/
HRC/40/54 
(2019); Relatório 
temático A/
HRC/37/56 
(2018); 
Comentário 
Geral CRPD/C/5 
(2022); Relatório 
A/72/55 (2017)
152Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
Promover a responsabilização por tortura 
e maus-tratos em ambientes de saúde, 
identificando leis, políticas e práticas 
que levam ao abuso; e permitir que os 
mecanismos preventivos nacionais realizem 
monitoramento sistemático, recebam 
reclamações e iniciem ações judiciais.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Proteger o consentimento livre e informado 
de forma igualitária para todos os indivíduos, 
sem exceção, por meio de estrutura legal e 
de mecanismos judiciais e administrativos, 
inclusive por meio de políticas e práticas de 
proteção contra abusos. Adotar políticas e 
protocolos que defendam a autonomia, a 
autodeterminação e a dignidade humana.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013)
Garantir que a legislação anti-discriminação 
se estenda às esferas pública e privada, 
abranja áreas como educação, emprego, bens 
e serviços e aborde a institucionalização.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral CRPD/C/
GC/6 (2018) 
A legislação de saúde mental, tal como 
existe hoje, deve ser revogada, pois cria 
um regime jurídico separado para pessoas 
com deficiência psicossocial, contrário às 
obrigações dos Estados sob a Convenção.
Relator Especial 
dos Direitos 
das Pessoas 
com Deficiência 
da ONU
Relatório 
temático A/
HRC/37/56 
(2018)
A regulamentação da prática de serviços 
de saúde mental deve centrar-se na 
aceitabilidade e qualidade, enquanto os 
direitos e liberdades das pessoas com 
deficiência psicossocial devem ser iguais 
aos de outras pessoas em todas as áreas 
do direito, incluindo capacidade legal 
e liberdade e segurança da pessoa.
Relator Especial 
dos Direitos 
das Pessoas 
com Deficiência 
da ONU
Relatório 
temático A/
HRC/37/56 
(2018)
Os Estados partes devem examinar de 
forma holística todas as áreas do direito, 
para garantir que o direito das pessoas 
com deficiência à capacidade legal não 
seja restringido de forma desigual.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral CRPD/C/
GC/1 (2014)
Fonte: Elaborado pela autora
153Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1.7. Capacitação de profissionais
Quadro 25 - Recomendações sobre capacitação de profissionais 
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
Fornecer educação e informações 
adequadas sobre direitos humanos aos 
profissionais de saúde sobre a proibição 
de tortura e maus-tratos e a existência, 
extensão, gravidade e consequências 
de várias situações que equivalem 
a tortura e tratamento ou punição 
cruel, desumana ou degradante
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Crueis, Desumanos 
ou Degradantes; 
Relator Especial 
sobre os Direitos 
da Pessoa com 
Deficiência
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Relatório 
temático 
A/73/161 
(2018)
Promover uma cultura de respeito à 
integridade e à dignidade humana, o 
respeito à diversidade e a eliminação de 
atitudes de patologização e homofobia.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes; 
Relator Especial 
sobre os Direitos 
da Pessoa com 
Deficiência
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Relatório 
temático 
A/73/161 
(2018) 
Capacitar profissionais de saúde, 
juízes, promotores e policiais 
sobre as normas relativas ao 
consentimento livre e informado.
Relator Especial 
da ONU sobre 
Tortura e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes; 
Relator Especial 
sobre os Direitos 
da Pessoa com 
Deficiência
Relatório 
temático A/
HRC/22/53 
(2013); 
Relatório 
temático 
A/73/161 
(2018) 
Fortalecer a formação profissional 
tanto em instituições de proteção social 
para pessoas com deficiência mental 
como em hospitais psiquiátricos.
Comitê contra a 
Tortura (CAT)
Relatório 
A/64/44 (2009)
Fonte: Elaborado pela autora. 
154Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1.8. Controle e monitoramento 
Quadro 26 - Recomendações sobre controle e monitoramento
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
As organizações não governamentais e 
outros órgãos de monitoramento também 
devem ter acesso a instituições estatais não 
penais que cuidam de idosos, pessoas com 
transtornos mentais e órfãos, bem como 
centros de detenção para estrangeiros, 
incluindo requerentes de asilo e migrantes.
Relator Especial 
da ONU 
sobre Tortura 
e Outros 
Tratamentos 
Cruéis, 
Desumanos ou 
Degradantes
Recomendação 
Geral nº 2 
(2011)
Investigar denúncias de tortura 
ou tratamento ou punição cruel, 
desumana ou degradante de pessoas 
com deficiência em instituições.
Comitê contra 
a Tortura (CAT)
Relatório 
A/64/44 (2009)
Os dados coletados pelos Estados Partes 
devem ser desagregados de acordo com raça, 
origem étnica, idade, gênero, sexo, orientação 
sexual, situação socioeconômica, tipo de 
deficiência, motivo da institucionalização, 
data de admissão, data prevista ou real de 
liberação e outros atributos. Isso inclui a 
coleta de registros confiáveis, acessíveis 
e atualizados dos números e dados 
demográficos de pessoas em ambientes 
psiquiátricos ou de saúde mental, registros 
sobre se o dever de permitir que pessoas 
com deficiência deixem as instituições 
foi cumprido, registros do número de 
pessoas que já exerceram a opção de 
desligamento, e outras informações 
referentes ao planejamento para os que 
ainda não saíram das instituições.
Comitê das 
Pessoas com 
Deficiência 
(CRPD)
Comentário 
Geral CRPD/C/5 
(2022)
155Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão recomendante
Documento 
fonte
Garantir que todas as pessoas com 
deficiência que sofreram qualquer forma 
de exploração, violência ou abuso no 
contexto de regimes de tomada de decisão 
substituídos ou apoiados, incluindo 
detenção arbitrária ou violações da 
integridade pessoal, de acordo com a 
legislação de saúde mental, tenham acesso 
à justiça e a remédios eficazes. Esses 
recursos devem incluir compensação e 
reparações adequadas, inclusive restituição, 
compensação, satisfação e garantias de 
não repetição, conforme apropriado.
Relator Especial 
dos Direitos 
das Pessoas 
com Deficiência 
da ONU
Relatório 
temático A/
HRC/37/56 
(2018)
Instituições nacionais de direitos humanos 
e mecanismos independentes para a 
promoção, a proteção e o monitoramento 
da implementação da Convenção devem 
ser mandatados para realizar inquéritos e 
investigações em relação ao gozo do direito à 
capacidade legal de pessoas com deficiência 
e para prestar assistência a pessoas com 
deficiência no acesso arecursos legais.
Relator Especial 
dos Direitos 
das Pessoas 
com Deficiência 
da ONU
Relatório 
temático A/
HRC/37/56 
(2018)
Fonte: Elaborado pela autora. 
1.1.9. Outras recomendações
O CRPD recomenda, por meio do Comentário Geral CRPD/C/5 (2022), que haja uma 
coordenação internacional de esforços para apoiar a desinstitucionalização, já que 
essa cooperação é importante para evitar a replicação de más práticas, como a 
promoção do modelo biomédico de deficiência e leis coercitivas de saúde mental.
Nesse sentido, o Comitê insta os Estados a estabelecerem uma plataforma 
internacional para boas práticas de desinstitucionalização, em estreita consulta a 
pessoas com deficiência, especialmente sobreviventes de institucionalização e suas 
organizações representativas. 
Sendo assim, podemos observar que os órgãos de monitoramento de direitos 
humanos da ONU – em particular os que monitoram os direitos a não ser torturado 
ou submetido a tratamento cruel, desumano ou degradante, e os direitos das 
pessoas com deficiência – recomendam padrões internacionais de direitos humanos 
que devem ser adotados pelos Estados nos cuidados em saúde a pessoas com 
transtornos mentais. 
156Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A adoção desses padrões beneficia não somente as pessoas sob cuidados em 
saúde, mas também seus familiares, os profissionais da saúde e o próprio Estado, 
na medida em que promove uma cultura de direitos humanos. 
1.2. Relatórios e decisões do Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos 
Nos casos julgados pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos, podemos 
encontrar importantes determinações relacionadas aos cuidados em saúde de 
pessoas com transtorno mental. 
As tabelas a seguir apresentam as disposições de sentenças da Corte Interamericana 
de Direitos Humanos (Corte IDH) relacionadas ao tratamento de pessoas com 
transtornos mentais, relativas aos seguintes casos: 
• Ximenes Lopes vs. Brasil (2006)
• Dacosta Cardogan vs. Barbados (2009)
• Furlan e Familiares vs. Argentina (2012)
• Guachalá Chimbo e Outros vs. Ecuador (2021)
• Guevara Dias vs. Costa Rica (2022)
1.2.1. Informação
Quadro 27 - Informação
Disposição da sentença Caso da Corte IDH
O Estado deve assegurar que todas as pessoas acusadas 
de um crime, punível com a pena de morte obrigatória, 
sejam devidamente informadas, no início do processo 
penal contra elas, do seu direito a obter uma avaliação 
psiquiátrica por um psiquiatra contratado pelo Estado 
(de acordo com o parágrafo 105 da Sentença).
Dacosta Cardogan 
vs. Barbados (2009)
O Estado deve adotar as medidas necessárias para 
que, quando uma pessoa for diagnosticada com 
problemas graves ou sequelas relacionadas à sua 
deficiência, seja entregue à pessoa ou seu grupo 
familiar uma declaração de direitos que resuma 
de forma sintética, clara e acessível os benefícios 
contemplados pela regulamentação argentina, (conforme 
o disposto nos parágrafos 294 e 295 da Sentença).
Furlan e Familiares 
vs. Argentina (2012)
157Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Disposição da sentença Caso da Corte IDH
O Estado elaborará uma publicação ou brochura que 
desenvolva de forma sintética, clara, acessível e de 
fácil leitura os direitos das pessoas com deficiência na 
prestação de cuidados em saúde na qual deverá ser 
feita menção específica à assistência prévia, gratuita e 
integral informados e a obrigação de prestar o apoio 
necessário às pessoas com deficiência (de acordo 
com o disposto no parágrafo 251 da Sentença).
Guachalá Chimbo 
e Outros vs. 
Ecuador (2021)
O Estado realizará um vídeo informativo sobre os direitos 
das pessoas com deficiência ao receber cuidados de 
saúde, bem como as obrigações dos profissionais de 
saúde na atenção às pessoas com deficiência, no qual 
deve ser feita menção específica ao consentimento 
prévio, gratuito, pleno e informado e à obrigação de 
prestar o apoio necessário às pessoas com deficiência (de 
acordo com o disposto no parágrafo 251 da Sentença).
Guachalá Chimbo 
e Outros vs. 
Ecuador (2021)
Fonte: Elaborado pela autora. 
1.2.2. Cuidados em saúde
Quadro 28 - Atenção e assistência médica/psicológica
Disposição da sentença Caso da Corte IDH
O Estado deve prestar cuidado em saúde, incluindo 
o cuidado psicológico ou psiquiátrico gratuito de 
forma imediata, adequada e eficaz, por meio de 
suas instituições especializadas de saúde pública, às 
vítimas que o solicitarem (em conformidade com o 
disposto nos parágrafos 282 e 284 da Sentença).
Furlan e Familiares 
vs. Argentina (2012)
O Estado deve formar um grupo interdisciplinar que, 
levando em consideração a opinião de Sebastián 
Furlan (vítima), determinará as medidas de proteção e 
assistência mais adequadas para sua inclusão social, 
educacional, profissional e laboral (de acordo com o 
disposto nos parágrafos 285 e 288 da Sentença).
Furlan e Familiares 
vs. Argentina (2012)
O Estado regulará a obrigação internacional de prestar 
apoio às pessoas com deficiência para que possam 
dar seu consentimento informado ao tratamento de 
saúde (nos termos do parágrafo 245 da Sentença).
Guachalá Chimbo 
e Outros vs. 
Ecuador (2021)
Fonte: Elaborado pela autora. 
158Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.2.3. Capacitação de profissionais 
Quadro 29 - Capacitação de profissionais
Disposição da sentença Caso da Corte IDH
O Estado elaborará e implementará um curso de 
capacitação sobre consentimento informado e obrigação 
de apoio às pessoas com deficiência para o pessoal médico 
e de saúde do Hospital Júlio Endara (em conformidade 
com o disposto no parágrafo 250 da Sentença).
Guachalá Chimbo 
e Outros vs. 
Ecuador (2021)
O Estado deve continuar a desenvolver um programa 
de educação e formação para médicos, psiquiatras, 
psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e 
todas as pessoas ligadas à saúde mental, em particular, 
sobre os princípios que devem reger o tratamento de 
pessoas com deficiência mental, de acordo com as normas 
internacionais sobre a matéria e as estabelecidas na 
Sentença do caso (nos termos do parágrafo 250 da mesma).
Ximenes Lopes 
vs. Brasil (2006)
Fonte: Elaborado pela autora
1.2.4 Medidas de regulamentação
Quadro 30 - Medidas de regulamentação
Disposição da sentença Caso da Corte IDH
O Estado elaborará um protocolo de atuação em 
casos de desaparecimento de pessoas internadas 
em centros públicos de saúde (de acordo com 
o disposto no parágrafo 253 da Sentença).
Guachalá Chimbo 
e Outros vs. 
Ecuador (2021)
O Estado deve estabelecer expressamente a obrigação 
de prestar apoio às pessoas com deficiência, a fim 
de garantir o direito à saúde sem discriminação.
Guevara Dias vs. 
Costa Rica (2022)
Fonte: Elaborado pela autora. 
Assim, verificamos que a Corte IDH emitiu diversas disposições sobre os cuidados 
em saúde a pessoas acometidas de transtornos mentais, e que as disposições são 
compatíveis, em seu conteúdo, com as recomendações propostas pela ONU sobre a 
matéria. Nesse sentido, é interessante observar as disposições do Sistema Europeu 
de Direitos Humanos sobre o assunto.
159Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de 
Direitos Humanos 
Assim como os Sistemas ONU e Interamericano de Direitos Humanos, o Sistema 
Europeu apresenta uma série de determinações que estabelecem os padrões 
internacionais de tratamento das pessoas com transtornos mentais sob cuidados 
em saúde. 
Devido à grande quantidade de casos envolvendo cuidados em saúde a pessoas 
com transtorno mental, foram selecionados aqueles em que o órgão julgador 
emitia determinação geral, direcionada a todos os Estados, e não só ao Estado sob 
julgamento. Assim, os casos selecionados foram:
• Sy vs. Itália (2022)
• Blokhin vs. Rússia (2016)
• Murray vs. Holanda (2016)
• Claes vs. Bélgica (2013)
• Ţicu vs. Romênia (2013)
• DD vs. Lituânia (2012)
• Stanev vs. Bulgária (2012)
• Shtukaturov vs. Rússia (2008)
• Rivière vs. França (2006)As determinações foram divididas por temas, para facilitar a compreensão. 
160Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.3.1. Direito à liberdade e à segurança (artigo 5º da Convenção) 
Quadro 31 - Direito à liberdade e à segurança
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Shtukaturov 
vs. Rússia 
(2008)
O requerente tem um 
histórico de doença mental 
e foi declarado oficialmente 
inválido em 2003.
Após um pedido apresentado 
por sua mãe, os tribunais 
russos o declararam 
legalmente incapaz em 
dezembro de 2004. Sua 
mãe foi posteriormente 
nomeada sua tutora e, em 
novembro de 2005, ela o 
internou em um hospital 
psiquiátrico. O recorrente 
alegou, em particular, que 
tinha sido privado da sua 
capacidade jurídica sem 
o seu conhecimento.
Nos casos de 
internação 
compulsória, o 
doente mental 
deve ser ouvido 
pessoalmente ou, se 
for o caso, através 
de qualquer forma 
de representação.
Factsheet 
Pessoas 
com 
Deficiência 
e a 
Convenção 
Europeia 
dos Direitos 
Humanos 
(2022)
161Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Stanev vs. 
Bulgária 
(2012)
Colocado sob tutela parcial 
contra a sua vontade e 
internado em um lar de 
assistência social para 
pessoas com transtornos 
mentais, o requerente 
queixou-se, nomeadamente, 
de não poder recorrer a 
um tribunal para obter a 
libertação da tutela parcial.
A Grande Secção 
observou que há 
agora uma tendência 
em nível europeu 
no sentido de 
conceder às pessoas 
legalmente incapazes 
acesso direto aos 
tribunais para buscar 
a restauração de 
sua capacidade. 
Instrumentos 
internacionais 
para a proteção 
de pessoas com 
transtornos mentais 
também atribuem 
importância 
crescente a
conceder-lhes 
o máximo de 
autonomia jurídica 
possível. 
O artigo 6º, § 1º, da 
Convenção deve 
ser interpretado no 
sentido de garantir, 
em princípio, que 
qualquer pessoa que 
tenha sido declarada 
parcialmente 
incapaz, como foi o 
caso do requerente, 
tenha acesso direto 
a um tribunal 
para buscar a 
restauração de sua 
capacidade jurídica.
Factsheet 
Pessoas 
com 
Deficiência 
e a 
Convenção 
Europeia 
dos Direitos 
Humanos 
(2022)
162Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Blokhin 
vs. Rússia 
(2016)
Este caso dizia respeito à 
detenção, por 30 dias, de 
um menino de 12 anos, que 
sofria de transtorno mental 
e neurocomportamental, 
em um centro de detenção 
temporária para menores 
infratores. O demandante 
sustentou, em particular, 
que o processo contra ele 
havia sido injusto, porque 
ele teria sido interrogado 
pela polícia na ausência de 
seu tutor, de um advogado 
ou de um professor.
Neste julgamento, 
a Grande Câmara 
sublinhou em 
particular que 
era essencial que 
salvaguardas 
processuais 
adequadas 
estivessem em vigor 
para proteger o 
melhor interesse e 
bem-estar de uma 
criança quando 
sua liberdade 
estava em jogo. 
Além disso, crianças 
com deficiência 
podem exigir 
salvaguardas 
adicionais para 
garantir que estejam 
suficientemente 
protegidas.
Factsheet 
Pessoas 
com 
Deficiência 
e a 
Convenção 
Europeia 
dos Direitos 
Humanos 
(2022)
Fonte: Elaborado pela autora. 
163Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.3.2. Direito a um julgamento justo (Artigo 6º da Convenção 
Europeia de Direitos Humanos)
Quadro 32 - Direito a um julgamento justo
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados Documento fonte
DD vs. 
Lituânia 
(2012)
Sofrendo de 
esquizofrenia, a 
requerente foi 
legalmente incapacitada 
em 2000. 
Seu pai adotivo foi 
posteriormente 
nomeado seu tutor 
legal e, a pedido deste, 
ela foi internada em 
junho de 2004. 
Em seguida, ela foi 
colocada em uma 
casa de repouso, onde 
permaneceu até 2012. 
A recorrente queixou-
se, nomeadamente, 
de ter sido internada 
neste lar sem o seu 
consentimento e 
sem possibilidade 
de revisão judicial.
Quando uma 
pessoa capaz de 
se manifestar, 
apesar de privada 
de capacidade 
jurídica, também 
for privada de 
liberdade a pedido 
de seu tutor, deve 
ser concedida a 
ela a oportunidade 
de contestar essa 
detenção perante 
um tribunal com 
representação 
legal separada.
Factsheet Pessoas 
com Deficiência 
e a Convenção 
Europeia dos 
Direitos Humanos 
(2022)
Fonte: Elaborado pela autora. 
164Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.3.3. Saúde mental e detenção
Quadro 33 - Saúde mental e detenção
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Claes vs. 
Bélgica 
(2013)
Este caso diz respeito 
ao confinamento de um 
agressor sexual com 
doença mental, que 
havia sido considerado 
não responsável 
criminalmente, na ala 
psiquiátrica de uma prisão 
comum, sem cuidados de 
saúde apropriados, por 
mais de quinze anos.
Neste acórdão, o Tribunal 
sublinhou que a situação 
do requerente resultava, 
na realidade, de um 
problema estrutural: por 
um lado, o apoio prestado 
às pessoas detidas nas alas 
psiquiátricas prisionais era 
insuficiente e, por outro 
lado, a sua colocação em 
instalações fora da prisão 
revelou-se muitas vezes 
impossível, quer devido 
à escassez de vagas em 
hospitais psiquiátricos, 
ou porque a legislação 
pertinente não permite 
que as autoridades de 
saúde mental ordenem 
sua internação em 
unidades externas.
Factsheet 
Saúde 
Mental e 
Detenção 
(2022) 
165Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Ţicu vs. 
Romênia 
(2013)
O requerente estava 
cumprindo uma 
sentença de vinte 
anos por participação 
em assalto à mão 
armada que ocasionou 
a morte da vítima.
Na infância, ele sofreu de 
uma doença que levou 
a atrasos consideráveis 
em seu desenvolvimento 
físico e mental. 
Ele queixou-se, em 
particular, das más 
condições de detenção 
nas várias prisões onde 
cumpria a sua pena 
e, especialmente, da 
superlotação e das 
deficiências na prestação 
de cuidados de saúde.
O Tribunal notou que as 
recomendações relevantes 
do Comitê de Ministros 
do Conselho da Europa 
aos Estados membros, ou 
seja, a Recomendação No. 
R(98)7 sobre os aspectos 
éticos e organizacionais 
dos cuidados de saúde na 
prisão e a Recomendação 
Rec(2006)2 sobre as Regras 
Penitenciárias Europeias, 
defenderam que os 
prisioneiros que sofrem 
de graves problemas de 
saúde mental devem ser 
mantidos e tratados em 
instalações hospitalares 
adequadamente 
equipadas e com pessoal 
devidamente formado.
Factsheet 
Saúde 
Mental e 
Detenção 
(2022) 
166Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Murray vs. 
Holanda 
(2016)
Este caso diz respeito 
à denúncia de um 
homem condenado por 
assassinato em 1980, 
sobre sua sentença de 
prisão perpétua sem 
qualquer perspectiva 
realista de libertação.
O recorrente cumpriu 
consecutivamente sua 
sentença de prisão 
perpétua nas ilhas de 
Curaçao e Aruba (parte 
do Reino dos Países 
Baixos), até ser perdoado 
em 2014, devido à 
deterioração de sua saúde. 
O recorrente, que 
entretanto faleceu, 
sustentou designadamente 
que não dispunha de 
regime prisional especial 
para reclusos com 
problemas psiquiátricos. 
Neste caso, o Tribunal 
sublinhou que os Estados 
tinham a obrigação de 
fornecer cuidados de 
saúde adequados aos 
detidos que sofriam de 
problemas de saúde 
– incluindo problemas 
de saúde mental.
Factsheet 
Saúde 
Mental e 
Detenção 
(2022) 
167Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Sy vs. 
Itália 
(2022)
Este caso refere-se ao 
fato de o requerente, que 
sofria de perturbação 
da personalidade e 
perturbação bipolar, 
ter permanecido detido 
em uma prisão comum, 
apesar de decisões 
judiciais nacionais 
declararem que a 
sua saúde mental era 
incompatível com tal 
detenção e ordenarem 
a sua transferência para 
um Centro Residencialpara a aplicação de 
medidas preventivas 
(REMS) e, posteriormente, 
a um serviço 
psiquiátrico prisional. 
O requerente alegou, 
em particular, que sua 
detenção contínua numa 
prisão comum o impediu 
de beneficiar-se de 
cuidados terapêuticos.
Os governos devem 
organizar seus sistemas 
penitenciários de forma 
a garantir o respeito à 
dignidade dos detentos, 
independentemente 
de suas dificuldades 
financeiras ou logísticas.
Factsheet 
Saúde 
Mental e 
Detenção 
(2022) 
Fonte: Elaborado pela autora
168Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.3.4. Detentos com tendências suicidas
Quadro 34 - Detentos com tendências suicidas
Caso Resumo do caso Determinação aos Estados
Documento 
fonte
Rivière 
vs. 
França 
(2006)
O requerente queixou-se da sua 
prisão continuada apesar dos 
seus problemas psiquiátricos. 
Este havia sido diagnosticado 
com um distúrbio psiquiátrico 
envolvendo tendências suicidas, e 
os peritos estavam preocupados 
com certos aspectos do seu 
comportamento, em particular 
uma compulsão para o 
autoestrangulamento, que exigia 
tratamento fora da prisão.
 Os presos com graves 
transtornos mentais 
e tendências suicidas 
requerem medidas 
especiais adaptadas 
à sua condição, 
independentemente 
da gravidade do 
delito pelo qual 
foram condenados.
Factsheet 
Saúde 
Mental e 
Detenção 
(2022) 
Fonte: Elaborado pela autora. 
1.4. Conclusão
Com base nos relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu 
de Direitos Humanos sobre o tema de saúde mental e direitos humanos, é evidente 
que as pessoas com transtornos mentais têm direitos fundamentais que devem ser 
respeitados. Os profissionais de saúde devem tratar essas pessoas com dignidade 
e respeito, garantindo que seus direitos humanos sejam protegidos em todos os 
momentos.
Os tratamentos fundamentados em direitos humanos são baseados em evidências, 
voluntários e fornecidos com consentimento informado. Eles devem ser projetados 
para serem menos invasivos e menos restritivos, garantindo que a autonomia e a 
privacidade das pessoas sejam preservadas. O acesso a serviços de saúde mental 
de qualidade e a um sistema de justiça eficaz também deve ser garantido. Os 
profissionais de saúde devem garantir que as pessoas com transtornos mentais 
tenham acesso a serviços de saúde mental de qualidade e que os sistemas de justiça 
garantam a proteção e a promoção dos direitos humanos.
Assim, os profissionais de saúde devem sempre lembrar que as pessoas com 
transtornos mentais são detentoras de direitos humanos fundamentais e que esses 
direitos devem ser protegidos em todos os momentos. O tratamento baseado em 
direitos humanos é um conceito-chave que deve ser sempre aplicado na prática 
169Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
clínica e assistencial, garantindo que o cuidado com a saúde mental respeite e 
promova a dignidade humana.
No que diz respeito à importância de tratar as pessoas sob 
cuidados em saúde mental com respeito, dignidade e humanidade, 
recomendamos a obra “Nise: O Coração da Loucura”, de 2016. 
O filme conta a história da luta da psiquiatra Nise da Silveira 
contra as práticas abusivas de tratamento psiquiátrico no 
Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, na década de 1940. 
Através de seu trabalho, Nise aplicou uma abordagem 
revolucionária para o tratamento de pacientes com transtornos 
mentais, baseada na arte e na criatividade. “Nise: O Coração da 
Loucura” é um filme emocionante e inspirador que destaca a 
importância do tratamento humanizado e baseado na arte para 
o cuidado com a saúde mental.
Você pode assistir o trailer do filme através do link: https://youtu.
be/UeAUNvcM_xk 
https://youtu.be/UeAUNvcM_xk
https://youtu.be/UeAUNvcM_xk
170Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais 
de Direitos Humanos
Reconhecer os casos judiciais sobre direitos humanos e saúde 
mental.
Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos apresentam diversas decisões 
acerca dos direitos humanos das pessoas com transtorno mental e sobre como 
essas pessoas devem ser tratadas quando sob cuidados em saúde. 
Esse conjunto de decisões revela os padrões internacionais de tratamento, que 
devem ser seguidos pelos Estados membros dos Sistemas de Direitos Humanos. 
Assim, por meio do avanço da jurisprudência em direitos humanos e saúde mental, 
promove-se o desenvolvimento das práticas domésticas de tratamento a pessoas 
com transtorno mental. 
Veja, a seguir, alguns dos principais julgamentos do Sistema Interamericano de 
Direitos Humanos e do Sistema Europeu de Direitos Humanos.
2.1. Caso Ximenes Lopes 
O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil trata da morte do senhor Damião Ximenes Lopes, 
pessoa com transtornos mentais que se encontrava internada em instituição 
psiquiátrica ligada ao SUS, e da impossibilidade de seus familiares alcançarem a 
justiça no âmbito doméstico. O falecimento ocorreu devido a maus-tratos sofridos 
durante a internação. 
O Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos 
Humanos por ter violado o direito à vida, o direito à integridade pessoal, o direito 
às garantias judiciais e o direito à proteção judicial, tendo sido responsabilizado 
internacionalmente. A sentença do caso foi cumprida parcialmente e a Corte 
permanece supervisionando o seu cumprimento.
2.1.1. Relevância do caso no estudo de direitos humanos das pessoas 
com transtornos mentais
O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil possui ampla relevância no estudo dos direitos 
humanos, especificamente no que diz respeito às pessoas com transtorno mental. 
Sobre isso, ouça o áudio a seguir.
171Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Podcast 4 - A relevância do Caso Ximenes Lopes no estudo dos 
direitos humanos das pessoas com transtornos mentais
2.1.2. O caso
A sentença do caso descreve, em detalhes, as circunstâncias da morte do senhor 
Damião Ximenes Lopes:
112.9. Em 4 de outubro de 1999, aproximadamente às 9h, a mãe do senhor 
Damião Ximenes Lopes chegou à Casa de Repouso Guararapes para visitá-
lo e o encontrou sangrando, com hematomas, com a roupa rasgada, sujo e 
cheirando a excremento, com as mãos amarradas para trás, com dificuldade 
para respirar, agonizante e gritando e pedindo socorro à polícia. Continuava 
submetido à contenção física que lhe havia sido aplicada desde a noite anterior, já 
apresentava escoriações e feridas e pôde caminhar sem a adequada supervisão. 
Posteriormente, um auxiliar de enfermagem o deitou em uma cama, da qual 
caiu. Então o deitaram num colchonete no chão. 
[...]
112.11. O senhor Damião Ximenes Lopes faleceu em 4 de outubro de 1999, 
às 11h30, na Casa de Repouso Guararapes, em circunstâncias violentas, 
aproximadamente duas horas depois de haver sido medicado pelo Diretor Clínico 
do hospital, sem ser assistido por médico algum no momento de sua morte, já 
que a unidade pública de saúde em que se encontrava internado para receber 
cuidados psiquiátricos não dispunha de nenhum médico naquele momento. [...] 
Posteriormente à morte do senhor Damião Ximenes Lopes, o médico Francisco 
Ivo de Vasconcelos foi chamado e regressou à Casa de Repouso Guararapes. 
Examinou o corpo da suposta vítima, declarou sua morte e fez constar que o 
cadáver não apresentava lesões externas e que a causa da morte havia sido uma 
“parada cardio-respiratória”. O médico não ordenou a realização de necropsia 
no corpo do senhor Damião Ximenes Lopes. Albertina Viana Lopes se inteirou 
da morte de seu filho ao chegar a sua casa, no Município de Varjota. (CORTE 
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006, p. 31-32)
A irmã do Sr. Damião Ximenes Lopes, Irene Ximenes Lopes, apresentou a petição 
contra o Estado brasileiro em novembro de 1999 à Comissão Interamericana de 
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-A-relevncia-do-Caso-Ximenes-Lopes-no-estudo-dos-direitos-humanos-das-pessoas-com-transtornos-mentais-e21r0se
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-A-relevncia-do-Caso-Ximenes-Lopes-no-estudo-dos-direitos-humanos-das-pessoas-com-transtornos-mentais-e21r0se172Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Direitos Humanos (CIDH). A Comissão, por sua vez, ofereceu a demanda à Corte em 
1º de outubro de 2004, originando a denúncia contra o Estado brasileiro.
O Estado foi acusado de violar os direitos a seguir, previstos nos seguintes artigos 
da Convenção Americana de Direitos Humanos, ferindo a obrigação de respeitar 
os direitos, estabelecida no artigo 1.1 da Convenção.
• Artigo 4 (Direito à Vida)
 ° Morte da vítima enquanto se encontrava submetida ao tratamento 
psiquiátrico.
• Artigo 5 (Direito à Integridade Pessoal)
 ° Condições desumanas e degradantes da hospitalização
 ° Golpes e ataques contra a integridade pessoal de que foi vítima 
por parte dos funcionários da Casa de Repouso Guararapes 
• Artigo 8 (Garantias Judiciais) e Artigo 25 (Proteção Judicial)
 ° A falta de investigação e garantias judiciais que caracteriza o caso.
Veja, a seguir, os quadros que apresentam alguns dos posicionamentos dos 
representantes das vítimas, do Estado, da CIDH e da Corte IDH sobre cada uma das 
violações cometidas pelo Estado: 
173Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Artigo 4º (Direito à Vida)
Quadro 35 – Direito à vida
Representantes 
das vítimas
Estado CIDH Corte IDH
O Estado falhou 
em sua obrigação 
de preservar 
e proteger a 
vida do senhor 
Damião Ximenes 
Lopes, já que não 
adotou medidas 
de prevenção 
para impedir 
sua morte, não 
fiscalizou nem 
monitorou o 
funcionamento da 
Casa de Repouso 
Guararapes. 
Além disso, a falta 
de investigação 
séria e efetiva e 
de sanção dos 
responsáveis pela 
morte da suposta 
vítima constitui 
violação do Estado 
de sua obrigação 
de garantir o 
direito à vida.
O Estado 
reconhece sua 
responsabilidade 
internacional 
pela violação 
dos artigos 4 e 
5 da Convenção 
Americana, em 
demonstração de 
seu compromisso 
com a proteção 
dos direitos 
humanos.
O Estado não 
cumpriu sua 
obrigação de 
proteger e 
preservar a vida 
do senhor Damião 
Ximenes Lopes. 
Esta violação pode 
ser percebida 
não somente 
porque seus 
agentes causaram 
sua morte, mas 
porque o Estado 
não exerceu 
devidamente a 
fiscalização da 
Casa de Repouso 
Guararapes. 
Além disso, a falta 
de investigação 
séria e punição 
dos responsáveis 
pela morte de 
Ximenes Lopes 
constitui uma 
violação por 
parte do Estado 
de sua obrigação 
de garantir o 
direito à vida.
A Corte reitera que 
o reconhecimento 
de responsabilidade 
efetuado pelo 
Estado pela violação 
dos artigos 4 e 5 
da Convenção, 
em detrimento do 
senhor Damião 
Ximenes Lopes, 
constitui uma 
contribuição 
positiva para o 
desenvolvimento 
desse processo e 
reveste fundamental 
importância 
para a vigência 
dos princípios 
que inspiram 
a Convenção 
Americana 
no Estado.
Fonte: Elaborado pela autora. 
174Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Artigo 5º (Direito à Integridade Pessoal)
Quadro 36 - Direito à Integridade Pessoal
Representantes 
das vítimas
Estado CIDH Corte IDH
O senhor Damião 
Ximenes Lopes 
foi submetido 
a tratamentos 
cruéis, desumanos 
e degradantes na 
Casa de Repouso 
Guararapes. 
As agressões 
foram realizadas 
pelos indivíduos 
que detinham a 
custódia do senhor 
Damião Ximenes 
Lopes e que 
deviam dele cuidar 
e resguardar 
sua saúde e 
sua integridade 
pessoal. 
As condições 
de internação 
e os cuidados 
oferecidos por esse 
hospital autorizado 
pelo Sistema 
Único de Saúde 
(SUS) eram, por si 
sós, atentatórios 
ao direito à 
integridade 
pessoal.
O Estado 
reconhece sua 
responsabilidade 
internacional 
pela violação 
dos artigos 4 e 
5 da Convenção 
Americana, em 
demonstração 
de seu 
compromisso 
com a proteção 
dos direitos 
humanos.
As condições de 
hospitalização na 
Casa de Repouso 
Guararapes 
eram por si sós 
incompatíveis com o 
respeito à dignidade 
da pessoa humana. 
Pelo simples fato de 
haver sido internado 
nesta instituição 
como paciente 
do SUS, o senhor 
Damião Ximenes 
Lopes foi submetido 
a tratamento 
desumano ou 
degradante.
A contenção física 
aplicada ao senhor 
Damião Ximenes 
Lopes não levou em 
conta as normas 
internacionais 
sobre a matéria. 
A suposta vítima 
não foi mantida 
em condições 
dignas, nem sob 
o cuidado e a 
supervisão imediata 
e regular de pessoal 
qualificado em 
saúde mental.
A Corte 
reitera que o 
reconhecimento de 
responsabilidade 
efetuado pelo 
Estado pela 
violação dos 
artigos 4 e 5 da 
Convenção, em 
detrimento do 
senhor Damião 
Ximenes Lopes, 
constitui uma 
contribuição 
positiva para o 
desenvolvimento 
desse processo 
e reveste 
fundamental 
importância 
para a vigência 
dos princípios 
que inspiram 
a Convenção 
Americana 
no Estado.
Fonte: Elaborado pela autora. 
175Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Artigo 8º (Garantias Judiciais) e Artigo 25 (Proteção Judicial)
Quadro 37 - Garantias Judiciais e Proteção Judicial
Representantes 
das vítimas
Estado CIDH Corte IDH
A investigação 
policial 
apresenta 
uma série de 
irregularidades 
que 
comprometem 
a elucidação 
da morte do 
senhor Damião 
Ximenes Lopes. 
Transcorridos 
mais de seis 
anos da morte 
do senhor 
Damião 
Ximenes Lopes, 
o procedimento 
judicial contra 
os responsáveis 
por sua morte 
ainda não 
havia sido 
concluído, em 
consequência 
dos atrasos 
indevidos, 
atribuídos 
exclusivamente 
ao Estado.
O Estado não violou 
o direito à proteção e 
às garantias judiciais, 
uma vez que respeitou 
os princípios do 
devido processo legal, 
do contraditório e 
da ampla defesa. 
Segundo o Estado, sua 
seriedade em busca de 
justiça foi devidamente 
demonstrada na 
tramitação do caso na 
jurisdição interna, bem 
como nos argumentos 
apresentados à Corte 
na contestação da 
demanda, em que 
se fez uma descrição 
histórica de todas 
as medidas por ele 
adotadas com a 
finalidade de investigar 
as circunstâncias do 
falecimento do senhor 
Damião Ximenes 
Lopes e sancionar os 
responsáveis pelos 
maus-tratos a ele 
infligidos e por sua 
morte na Casa de 
Repouso Guararapes.
O processo 
interno não foi 
efetivo, já que 
as autoridades 
foram omissas em 
recolher provas e 
que a investigação 
apresentava erros. 
A investigação 
policial só foi 
instaurada 35 
dias depois 
da prestação 
da queixa. A 
inexistência de 
uma sentença de 
primeira instância 
depois de seis 
anos da morte 
violenta do senhor 
Damião Ximenes 
Lopes e a situação 
do processo 
penal interno em 
2006, ainda na 
fase de instrução, 
mostram que 
os familiares da 
suposta vítima 
se encontram 
em situação de 
denegação de 
justiça por parte 
das autoridades 
estatais.
A Corte conclui 
que o Estado não 
proporcionou 
às familiares de 
Ximenes Lopes 
um recurso efetivo 
para garantir o 
acesso à justiça, a 
determinação da 
verdade dos fatos, 
a investigação, a 
identificação, o 
processo e, se for 
o caso, a punição 
dos responsáveis 
e a reparação das 
consequências 
das violações. 
O Estado tem, 
por conseguinte, 
responsabilidade 
pela violação 
dos direitos às 
garantias judiciais e 
à proteção judicial 
consagrados nos 
artigos 8.1 e 25.1 
da Convenção 
Americana, em 
relação com o 
artigo 1.1 desse 
mesmo tratado, 
em detrimento das 
senhoras Albertina 
Viana Lopes e 
Irene Ximenes 
Lopes Miranda.
Fonte: Elaborado pela autora. 
176Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Na sentença, a Corte apresenta interessantes considerações sobre os deveres do 
Estado com relação às pessoas com transtorno mental. Assista a seguir o vídeo 
sobre esses deveres. 
Vídeo 4 - Os deveres do Estado com relação às pessoas com 
transtorno mental.
Se desejar ler o conteúdo completo da Sentença, acesse o link 
a seguir: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/
seriec_149_por.pdf.
2.1.3. A decisão da Corte
Com base nos fatos provados e nas alegações das partes e da CIDH, a Corte entendeu 
que:
• O Estado descumpriu os artigos 4.1, 5.1 e 5.2 da Convenção Americana: 
violou os direitos à vida e à integridade pessoal do senhor Damião 
Ximenes Lopes.
• O Estado descumpriuo artigo 5 da Convenção Americana: em detrimento 
das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda 
e dos senhores Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes, 
em virtude do sofrimento adicional por que passaram, em consequência 
das circunstâncias especiais das violações praticadas contra seus seres 
queridos e das posteriores ações ou omissões das autoridades estatais 
frente aos fatos. 
• O Estado violou os artigos 8.1 e 25.1 da Convenção: em detrimento das 
senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, já 
que o Estado não lhes proporcionou um recurso efetivo para garantir o 
acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos, a investigação, a 
identificação, o processo e a punição dos responsáveis e a reparação das 
consequências das violações.
• Todos esses artigos foram violados com relação ao artigo 1.1 da 
Convenção, que estabelece o dever de respeitar os direitos e as liberdades 
nela reconhecidos.
Sendo assim, a Corte determinou que o Estado deverá cumprir as medidas descritas 
no Quadro seguir, que também apresenta o estado de cumprimento dos pontos 
dispositivos da sentença. A situação de cumprimento de cada ponto dispositivo a 
https://youtu.be/_e8QNEK1_ls
https://youtu.be/_e8QNEK1_ls
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf
https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf
177Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
seguir baseia-se no que a Corte afirmou em suas resoluções de cumprimento de 
sentença, documentos que visam esclarecer o estado de cumprimento de cada 
ponto.
Quadro 38 – Sentença e cumprimento
Ponto 
dispositivo Conteúdo
Estado de 
cumprimento
6
Garantir, em um prazo razoável, que o 
processo interno destinado a investigar e 
sancionar os responsáveis pelos fatos do caso 
alcance seus devidos efeitos, nos termos dos 
parágrafos 245 a 248 da presente Sentença. 
Descumprido
7
O Estado deve publicar, no prazo de seis meses, 
no Diário Oficial e em outro jornal de ampla 
circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII 
relativo aos fatos provados desta Sentença, 
sem as respectivas notas de pé de página, 
bem como sua parte resolutiva, nos termos 
do parágrafo 249 da presente Sentença. 
Cumprido
8
O Estado deve continuar a desenvolver um 
programa de formação e capacitação para o 
pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de 
enfermagem e auxiliares de enfermagem e para 
todas as pessoas vinculadas ao atendimento de 
saúde mental, em especial sobre os princípios que 
devem reger o trato das pessoas com deficiência 
mental, conforme os padrões internacionais sobre 
a matéria e aqueles dispostos nesta Sentença, nos 
termos do parágrafo 250 da presente Sentença.
Pendente de 
cumprimento
9
O Estado deve pagar em dinheiro para as 
senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes 
Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título 
de indenização por dano material, a quantia 
fixada nos parágrafos 225 (US$10.000,00) e 
226 (US$1.500,00), nos termos dos parágrafos 
224 a 226 da presente Sentença.
Cumprido
178Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Ponto 
dispositivo Conteúdo
Estado de 
cumprimento
10
O Estado deve pagar em dinheiro para as 
senhoras Albertina Viana Lopes (US$ 12500 + 
US$30.000,00) e Irene Ximenes Lopes Miranda 
(US$ 12500 + US$25.000,00) e para os senhores 
Francisco Leopoldino Lopes (US$ 12500 + 
US$10.000,00) e Cosme Ximenes Lopes (US$ 
12500 + US$10.000,00), no prazo de um ano, 
a título de indenização por dano imaterial, a 
quantia fixada no parágrafo 238, nos termos dos 
parágrafos 237 a 239 da presente Sentença.
Cumprido
11
O Estado deve pagar em dinheiro, no prazo 
de um ano, a título de custas e gastos gerados 
no âmbito interno e no processo internacional 
perante o sistema interamericano de proteção dos 
direitos humanos, a quantia fixada no parágrafo 
253 (US$10.000.00), a qual deverá ser entregue 
à senhora Albertina Viana Lopes, nos termos dos 
parágrafos 252 e 253 da presente Sentença. 
Cumprido
12
No prazo de um ano, contado a partir da 
notificação desta Sentença, o Estado deverá 
apresentar à Corte relatório sobre as medidas 
adotadas para o seu cumprimento.
Cumprido
Fonte: elaborado pela autora. 
Você pode assistir à audiência de 23 de abril de 2021, que 
supervisionou o cumprimento da sentença, acessando o seguinte 
link: https://www.youtube.com/watch?v=3jb6u-M2NJE 
Assim, verifica-se que o ponto dispositivo nº 8 é o último pendente de cumprimento 
na sentença do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. A Corte decidiu encerrar a supervisão 
de cumprimento sobre o ponto nº 6, considerando-o descumprido. 
Nesse sentido, é importante destacar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 
aprovou, em fevereiro de 2023, a Resolução 487 de 2023, que institui a Política 
Antimanicomial do Poder Judiciário. O objetivo da medida é adequar a atuação do 
Judiciário às normas nacionais e internacionais de respeito aos direitos fundamentais 
das pessoas em sofrimento mental ou com deficiência psicossocial em conflito com a 
https://www.youtube.com/watch?v=3jb6u-M2NJE
179Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
lei. Para a elaboração da Resolução, foram observadas as determinações constantes 
na sentença proferida no Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.
A Resolução 487/2023 reflete a evolução das normas jurídicas que buscam reconhecer 
e proteger os direitos das pessoas com transtornos mentais ou deficiências 
psicossociais. Ela contribui para a expansão do projeto de desinstitucionalização ao 
longo do sistema de justiça criminal, fornecendo diretrizes para que juízes lidem com 
o tema de acordo com as normas do Direito Internacional e da legislação vigente. 
A aprovação dessa Resolução mostra que o Poder Judiciário está se engajando 
na política de tratamento diferenciado para pessoas com transtornos mentais e 
convidando outros profissionais da justiça a participarem desse processo, a fim de 
garantir o respeito aos direitos humanos e construir uma sociedade mais justa e 
democrática.
Você pode acessar o texto completo da Resolução 
por meio desse link: https://atos.cnj.jus.br/files/
original2015232023022863fe60db44835.pdf 
O Estado brasileiro vem empenhando esforços no sentido de aperfeiçoar os cuidados 
em saúde a pessoas com transtorno mental, mas ainda tem um longo caminho a 
percorrer. O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil impulsionou os avanços no sistema de 
assistência em saúde mental no Brasil e seguirá exercendo influência sobre este, 
por meio do programa de capacitação a ser ministrado em cumprimento ao ponto 
dispositivo nº 8 da sentença. 
2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental 
Além do importante Caso Ximenes Lopes vs. Brasil, alguns casos do Sistema Europeu 
também apresentam importantes diretivas de tratamento a pessoas com transtorno 
mental sob cuidados em saúde.
Nesse sentido, apresentamos o Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental, da 
Corte Europeia de Direitos Humanos, um relatório não exaustivo que apresenta 
diversos casos da Corte Europeia sobre o tema de seu título. 
Em várias ocasiões, a Corte Europeia de Direitos Humanos afirmou que a detenção 
de uma pessoa com transtorno mental pode gerar questões sob o artigo 3º da 
Convenção Europeia de Direitos Humanos, que afirma que “Ninguém pode ser 
submetido a torturas, nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantes” 
(Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, 1950, 
Art. 3º).
https://atos.cnj.jus.br/files/original2015232023022863fe60db44835.pdf
https://atos.cnj.jus.br/files/original2015232023022863fe60db44835.pdf
180Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A Corte considera que a falta de cuidados de saúde adequados pode constituir 
um tratamento contrário ao disposto nesse artigo. Para avaliar se as condições de 
detenção de pessoas com transtornos mentais são compatíveis com os padrões 
estabelecidos no artigo 3º, é preciso levar em consideração sua vulnerabilidade e 
sua possibilidade(ou impossibilidade) de informar sobre como estão sendo afetadas 
por determinado tratamento. 
Nesse sentido, é preciso considerar três elementos na avaliação da compatibilidade 
entre a saúde de uma pessoa e a sua permanência em detenção:
Figura 32 – Elementos 
Fonte: Elaborada pela autora. 
Sendo assim, vamos falar sobre alguns casos encontrados no Factsheet. O 
documento apresenta 35 casos, a maioria dos quais se refere a violações ao artigo 
3º da Convenção (proibição da tortura). Também há casos de alegada violação aos 
artigos 2º (direito à vida, 9 casos), 5º (direito à liberdade e à segurança, 6 casos) e 13 
(direito a um recurso efetivo, 3 casos).
Assim, podemos concluir que, no âmbito do Sistema Europeu de 
Direitos Humanos, a detenção de pessoas com transtorno mental 
está comumente relacionada à violação de alguns desses quatro 
direitos. 
A seguir, você verá como a Corte Europeia decidiu sobre violações a cada um desses 
direitos no que diz respeito a pessoas com transtorno mental no contexto de sua 
detenção. 
181Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2.2.1. Violação do direito à vida (Artigo 2º)
O caso De Donder e De Clippel vs. Bélgica, de 2011, apresenta a violação do direito 
à vida, previsto no artigo 2º da Convenção Europeia. 
A demanda foi apresentada por meio dos pais da vítima, que era um jovem em 
tratamento psiquiátrico que cometeu suicídio enquanto estava internado na seção 
comum de uma prisão.
Os requerentes reclamaram, em particular, sobre a detenção de seu filho e sobre 
sua colocação em isolamento. Eles ainda afirmaram que, em tais circunstâncias, 
era previsível que o filho perderia o autocontrole e tentaria tirar a própria vida.
A Corte alegou estar consciente dos esforços do Estado belga para assistir o filho dos 
requerentes, que teve, por exemplo, acesso a clínicas especializadas, onde recebeu 
apoio e terapia adequados à sua condição. Além disso, o Tribunal reconheceu as 
graves dificuldades enfrentadas diariamente pelas autoridades penitenciárias e 
da equipe médica. A Corte, no entanto, concluiu que houve violação do artigo 2º 
(direito à vida) da Convenção em seu aspecto substantivo, ou seja, com relação ao 
seu conteúdo. 
A Corte observou, em particular, que a vítima tinha sido detida com base na Lei 
da Proteção Social, que previa que as pessoas a quem essa lei se aplicava não 
estavam sujeitas às regras da detenção ordinária, mas sim às regras da admissão 
compulsória. Por meio desta última, poderiam receber o apoio psicológico e 
médico que a sua condição exigia. Além disso, a decisão do procurador-adjunto 
de reconduzir o jovem à prisão especificava que ele deveria ser internado na ala 
psiquiátrica. Consequentemente, o filho dos requerentes nunca deveria ter sido 
mantido na seção comum de uma prisão. 
Além disso, a Corte não encontrou nenhuma prova que sugerisse que a investigação 
realizada no presente caso não cumpriu os requisitos de uma investigação efetiva 
e, portanto, considerou que não houve violação do artigo 2º da Convenção em seu 
aspecto processual.
2.2.2. Proibição da tortura (Artigo 3º)
O caso G. vs. França, de 2012, apresenta a violação da proibição da tortura, prevista 
no artigo 3º da Convenção Europeia. 
O requerente, que sofre de um transtorno psiquiátrico crônico do tipo esquizofrênico, 
foi detido e posteriormente condenado a dez anos de prisão. Porém, o Tribunal de 
Apelação de Assize decidiu que o requerente não tinha responsabilidade criminal, 
ou seja, não podia ser responsabilizado criminalmente pelos seus atos. 
182Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O requerente alegou que não havia recebido tratamento adequado entre 2005 
e 2009, embora seu transtorno mental exigisse tratamento próprio em hospital 
psiquiátrico. Ele argumentou, ainda, que seu retorno à prisão, cada vez que sua 
condição melhorava, equivalia a um tratamento desumano e degradante.
A Corte considerou que houve violação do artigo 3º (proibição de tratamento 
desumano ou degradante) da Convenção, considerando que a detenção contínua 
do requerente por um período de quatro anos tornou mais difícil o fornecimento da 
assistência médica que sua condição exigia. Além disso, o Tribunal considerou que a 
prática o havia submetido a privações que excediam o inevitável nível de sofrimento 
inerente à detenção.
A Corte também observou que o tratamento alternado do demandante (na 
prisão e em uma instituição psiquiátrica), somado ao seu período de detenção na 
prisão, claramente impediu a estabilização de sua condição. Isso demonstrou que 
o requerente era inapto para ser detido, sob o ponto de vista do artigo 3º da 
Convenção. 
Além disso, a Corte observou que as condições físicas de detenção na unidade 
psiquiátrica da prisão, onde o requerente foi mantido em várias ocasiões, foram 
descritas pelas próprias autoridades nacionais como humilhantes e só poderiam 
ter exacerbado seus sentimentos de angústia, ansiedade e medo.
2.2.3. Direito à liberdade e à segurança (Artigo 5º)
O caso L.B. vs. Bélgica, de 2012, apresenta a violação do direito à liberdade e à 
segurança, previsto no artigo 5º da Convenção Europeia. 
Esse caso diz respeito à detenção praticamente contínua, entre 2004 e 2011, de um 
homem com transtorno mental. O demandante foi mantido em alas psiquiátricas 
de duas prisões, apesar da insistência das autoridades na necessidade de colocação 
em uma estrutura adaptada à sua patologia. 
O recorrente queixou-se principalmente de que a instituição onde estava internado 
não estava adaptada à situação de pessoas com transtornos mentais.
A Corte considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade e 
segurança) da Convenção. A decisão afirmou que as condições da detenção foram 
incompatíveis com o propósito desta, visto que o demandante foi mantido por 
sete anos em uma instituição prisional, apesar de todos os médicos, os pareceres 
dos assistentes psiquiátricos e sociais, e as autoridades competentes concordarem 
que o local era mal adaptado à sua condição e readaptação. 
183Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O Tribunal enfatizou, em particular, que a permanência em ala psiquiátrica deveria 
ter sido temporária, ocorrendo somente durante o período em que as autoridades 
procuravam uma instituição que melhor se adaptasse à condição e readaptação 
do requerente. De fato, uma internação foi sugerida pelas autoridades já em 2005. 
Além disso, a Corte concluiu que o local de detenção era inapropriado e notou, em 
particular, que os cuidados terapêuticos do requerente eram muito limitados na 
prisão.
2.2.4. Direito a um recurso efetivo (Artigo 13)
O caso W.D. vs. Bélgica, de 2016, apresenta a violação do direito a um recurso 
efetivo, previsto no artigo 13 da Convenção Europeia. 
Esse caso diz respeito a um agressor sexual que sofria de transtornos mentais e 
estava detido indefinidamente em uma ala psiquiátrica da prisão. O requerente 
queixou-se de ter estado detido em ambiente prisional durante mais de nove anos, 
sem qualquer tratamento adequado ao seu estado mental ou qualquer perspectiva 
realista de reintegração na sociedade. O demandante também reclamou que sua 
privação de liberdade e detenção contínua eram ilegais. Por fim, alegou que não 
havia recurso efetivo para reclamar das condições de sua detenção.
O Tribunal considerou que houve violação do artigo 3º (proibição de tratamento 
desumano ou degradante) da Convenção, uma vez que o requerente foi submetido 
a tratamento degradante por ter estado detido em ambiente prisional por mais 
de nove anos, sem tratamento para seu transtorno mental e sem perspectiva de 
reintegração à sociedade. Essas condições lhe causaram dificuldades e sofrimento 
particularmente agudos, de uma intensidade que excedeu o inevitável nível de 
sofrimento inerente à detenção. 
A Corte também considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade 
e segurança) da Convenção, observando que a detenção do requerente,desde 2006, 
em uma instalação inadequada à sua condição havia rompido o vínculo exigido pelo 
artigo 5º, § 1º, alínea “e”, entre a finalidade e as condições práticas da detenção, 
e que o motivo da internação do requerente em ala psiquiátrica prisional foi a falta 
estrutural de alternativas.
O Tribunal considerou, ainda, que houve uma violação do artigo 5º, § 4º, (direito a 
revisão rápida da legalidade da detenção) e uma violação do artigo 13 (direito 
a um recurso efetivo) da Convenção, em conjunto com o artigo 3º, declarando 
que o sistema belga, tal como estava em vigor na altura dos fatos, não tinha 
proporcionado ao requerente uma solução efetiva na prática relativamente 
às suas queixas à Convenção. Em outras palavras, o sistema não proporcionou 
um recurso capaz de compensar a situação de que era vítima e de impedir a 
continuação das supostas violações. 
184Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Por fim, constatando que a situação do requerente teve origem em uma deficiência 
estrutural específica do sistema de internação psiquiátrica belga, a Corte, de 
acordo com o artigo 46 (força obrigatória e execução de sentenças) da Convenção, 
considerou que a Bélgica era obrigada a organizar seu sistema para a detenção 
psiquiátrica de infratores de forma que a dignidade dos detidos fosse respeitada.
2.3. Conclusão
A partir da análise dos casos apresentados, podemos concluir que a jurisprudência 
internacional sobre os direitos humanos de pessoas com transtorno mental tem 
se desenvolvido no sentido de promover o tratamento dessas pessoas em locais 
adequados para tal. Quando o tratamento ocorre em instalação imprópria ou 
de forma inadequada, o Estado pode até mesmo ter que responder pela vida do 
paciente, caso este venha a falecer. Além disso, as decisões têm responsabilizado 
o Estado por não prover os recursos efetivos para que as pessoas com transtornos 
mentais possam ter acesso a meios de interromper tratamentos degradantes e de 
receber a devida reparação pelas violações ocorridas. Por fim, podemos notar que 
as decisões dos órgãos de direitos humanos exigem dos Estados que reparem as 
vítimas por violações à sua integridade física e pessoal. 
185Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
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https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/download/129/170
https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/download/129/170
196Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Glossário
N°: Termo: Definição / significado:
1
Fontes De 
Direito 
Internacional
As normas jurídicas de direito internacional 
são encontradas nas diferentes fontes de 
direito internacional. Alguns exemplos dessas 
fontes são: tratados, direito costumeiro 
internacional, princípios gerais.
2 Dignidade Humana
Para o Direito Internacional, a dignidade 
humana é o princípio basilar dos Direitos 
Humanos. Seu comando central é o igual 
respeito a todos os seres humanos.
3 Jurisprudência Internacional
Conjunto das decisões e interpretações dadas 
pelas Cortes Internacionais. A jurisprudência 
internacional também compreende as decisões 
adotadas em comunicações individuais, 
comentários gerais e observações gerais 
elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas 
ONU e Regionais de Direitos Humanos. 
4
Corte 
Interamericana 
de Direitos 
Humanos
É um dos três tribunais regionais de proteção 
dos direitos humanos. A Corte IDH tem como 
objetivo aplicar e interpretar a Convenção 
Americana e está inserida no Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos.
5 Terceiro Estado
O Terceiro Estado era a Plebe, que constituía 
a maioria da população francesa (por volta de 
98%), havendo assim cortesãos, burgueses e 
camponeses. A função do Terceiro Estado era 
sustentar a sociedade e o Estado. Ao contrário do 
Clero e da Nobreza, pagavam impostos ao Estado.
197Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
N°: Termo: Definição / significado:
6
Sistemas 
de Direitos 
Humanos
São os conjuntos de normas, órgãos e 
mecanismos internacionais surgidos a partir 
de 1945 com o intuito de promover a proteção 
dos direitos humanos em todo o mundo. Na 
atualidade, existem três sistemas regionais de 
proteção (Interamericano, Europeu e Africano) 
e um sistema universal (Nações Unidas).
7 Decisões Vinculantes
São decisões que precisam ser cumpridas 
obrigatoriamente. Nesse caso, as decisões das 
Cortes internacionais vinculam os Estados, pois 
eles escolheram se submeter à sua jurisdição 
por meio da assinatura de tratados.
8 Jurisdições
Jurisdição é o poder atribuído a uma autoridade 
para fazer cumprir determinada categoria de lei e 
punir quem as infrinja em uma área predefinida. 
9 Órgãos Internacionais
Entende-se por organizações ou organismos 
internacionais as instituições internacionais e 
agregam em si ações de vários países sob um 
objetivo ou bem comum. (ROSA, 2022, p. 640)
10 Burguesia
A burguesia consiste na classe social dominante 
dentro do sistema capitalista. Trata-se, na prática, 
daquele grupo de pessoas que detém os bens 
de produção ou o capital. (MORAES, 2019)
11 Meios de Produção
Referem-se aos meios de trabalho que 
significam tudo aquilo de que se vale o homem 
para trabalhar (instrumentos, ferramentas, 
instalações etc.) bem como a terra, que é um 
meio universal de trabalho, e aos objetos 
do trabalho. (NETTO; BRAZ. 2006, p. 58).
12 Estado Absolutista
Foi um regime político que surgiu na transição 
entre a Idade Média e a Idade Moderna. Sua 
principal característica era a concentração do 
poder nas mãos do rei, que podia tomar decisões 
e emitir ordens sem precisar justificar suas ações. 
198Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
N°: Termo: Definição / significado:
13 Antigo Regime A expressão Antigo Regime se refere ao período absolutista.
14 Liberdades Negativas
Liberdade negativa é a liberdade de impedir 
ou conter a intervenção externa.
15
Comitê sobre 
os Direitos 
Econômicos, 
Sociais e 
Culturais 
da ONU
É o órgão da ONU responsável por monitorar 
o cumprimento do Pacto Internacional 
sobre os sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais pelos Estados.
16 Jurisprudência Internacional
Conjunto das decisões e interpretações dadas 
pelas CortesInternacionais. A jurisprudência 
internacional também compreende as decisões 
adotadas em comunicações individuais, 
comentários gerais e observações gerais 
elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas 
ONU e Regionais de Direitos Humanos.
17 Tratado 
É um acordo Internacional concluído por escrito 
entre Estados e regido pelo direito internacional. 
Ele pode ser um instrumento único, ou ser 
constituído por dois ou mais instrumentos conexos, 
qualquer que seja sua denominação específica.
18 Peticionário A pessoa ou grupo de pessoas que apresenta a petição, ou seja, a demanda.
19 Jurisdição
Jurisdição é o poder atribuído a uma autoridade 
para fazer cumprir determinada categoria de lei e 
punir quem as infrinja em uma área predefinida. 
20 Ratificação
É o ato internacional pelo qual um Estado 
demonstra o seu comprometimento com 
as disposições de um tratado. A partir 
desse momento, ele se torna obrigado a 
esse tratado na esfera internacional.
199Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
N°: Termo: Definição / significado:
21 Vinculante
É a decisão que precisa ser cumprida 
obrigatoriamente. Nesse caso, as decisões das 
Cortes internacionais vinculam os Estados, pois 
eles escolheram se submeter à sua jurisdição 
por meio da assinatura de tratados.
22 Medidas Cautelares
Uma medida cautelar é um mecanismo de proteção, 
um ato de precaução. Esse mecanismo permite 
que seja realizada uma ação para proteger o direito 
que está sob ameaça de ser violado. A medida 
cautelar é empregada quando há situação grave 
e urgente que possa gerar danos irreparáveis.
23 Tipificados Tipificar significa fazer com que uma conduta seja considerada um crime. 
24 Denunciar 
Quando um Estado denuncia um tratado, 
ele declara formalmente que está se 
desobrigando desse instrumento. 
25 Contencioso Contencioso é o que envolve o conflito de interesses. 
26 Primeira Instância
É o primeiro nível de decisão. Quando a parte 
discordar da decisão, poderá recorrer à segunda 
instância, ou seja, a um segundo nível de decisão.
27 Corte de Apelação
Nesse contexto, “Corte de apelação” é o nível 
judicial que irá decidir sobre o recurso que a parte 
apresentou contra a decisão da qual discorda.
28
Exceções 
em Razão da 
Competência
São argumentos que afirmam que aquele 
órgão não tem competência legal para julgar 
o processo, ou seja: legalmente, outro órgão 
deveria decidir sobre essa demanda. 
29 Execução de Sentenças
A execução da sentença é a fase do processo 
que tem como objetivo transformar a decisão 
do juiz em fato concreto. Exemplo: o pagamento 
da indenização definida na sentença.
200Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
N°: Termo: Definição / significado:
30
Comitê da ONU 
sobre os Direitos 
Econômicos, 
Sociais e 
Culturais
É o órgão da ONU responsável por 
monitorar o cumprimento do Pacto 
Internacional sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais pelos Estados.
31 Jurisdicionados
Jurisdição é o poder atribuído a uma autoridade 
para fazer cumprir determinada categoria 
de lei e punir quem as infrinja em uma 
área predefinida. Assim, os jurisdicionados 
são as pessoas que se encontram 
submetidas à jurisdição naquela área.
32 Jurisprudência internacional
Conjunto das decisões e interpretações dadas 
pelas Cortes Internacionais. A jurisprudência 
internacional também compreende as decisões 
adotadas em comunicações individuais, 
comentários gerais e observações gerais 
elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas 
ONU e Regionais de Direitos Humanos.
	1. Direitos humanos
	1.1. Conceito de direitos humanos 
	1.2. Histórico dos direitos humanos 
	1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais 
	2. Dimensões dos direitos humanos
	2.1. Direitos civis e políticos
	2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais
	3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos Humanos
	3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
	3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos 
	3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos
	3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos
	3.5. Conclusão
	1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde
	1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde
	1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos direitos humanos
	1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde
	2. Direito à saúde
	2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento
	2.2. Direito à saúde mental
	3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde
	3.1. Direito à privacidade 
	3.2. Direito de não ser discriminado
	3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante
	3.4. Direito à liberdade
	3.5. Conclusão
	1. Direitos humanos no contexto da saúde mental
	1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU
	1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no contexto da saúde mental
	1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e saúde mental
	1.4. Quality Rights
	1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos
	1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU 
	1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos 
	1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos 
	1.4. Conclusão
	2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
	2.1. Caso Ximenes Lopes 
	2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental 
	2.3. Conclusão
	Referências
	Glossário

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