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1 AEE E O ENSINO DA MATEMÁTICA E DA LÍNGUA PORTUGUESA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA 2 AEE E O ENSINO DA MATEMÁTICA E DA LÍNGUA PORTUGUESA 3 Introdução 3 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO • AEE 5 O que é uma Sala de Recursos Multifuncionais - SRMF? 5 O que é o atendimento educacional especializado (AEE)? 6 Congresso Brasileiro de Educação Especial (CBEE) 6 Educação especial no Brasil: breve contextualização e algumas reflexões 8 A formação do professor que ensina matemática no contexto de inclusão 13 LÍNGUA PORTUGUESA NO AEE: ALGUNS 19 APONTAMENTOS 19 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E HIPÓTESE 21 RESULTADOS E DISCUSSÃO 22 REFERÊNCIAS 34 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 AEE E O ENSINO DA MATEMÁTICA E DA LÍNGUA PORTUGUESA Introdução Compreende-se a Matemática como uma área de conhecimento específica, mas que se articula com as demais quando se tem uma postura interdisciplinar. Essa integração entre áreas do conhecimento está tão presente e se faz tão necessária que D'Ambrosio (1999) já denunciava sobre “[...] o risco do desaparecimento da Matemática como disciplina autônoma dos sistemas escolares [...]” frente às condições de ser ensinada da maneira inútil e desinteressante, com testes padronizados, listas de exercícios descontextualizadas em seu desenvolvimento histórico e da realidade social do aluno. No entanto, a citação vai além da interdisciplinaridade e do desinteresse dos alunos pela matemática. Aliada a essa realidade, outra situação aparece gradativamente nas escolas regulares: a inclusão de alunos que necessitam de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Com o processo de inclusão, como fica o ensino das áreas do conhecimento? É proposta aos professores formação continuada para essa realidade? Como são as relações entre alunos e professor e entre alunos? O que isso modifica e contribui na educação de uma sociedade? A Educação Matemática como área de investigação constitui-se em um importante campo a ser explorado, no qual se caracteriza um processo educativo como os demais, cuja finalidade, naquilo que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Nº 9.394 de 1996 – em seu Artigo 2º, é “[...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. No tocante à psicopedagogia, esta é uma área que busca pelo processo de aprendizagem significativa, e acima de tudo pelo sujeito desse processo que é aprendente (o ser cognoscente). De acordo com Bersch (apud MANTOAN, 2009, p. 132), “a Educação Especial sai de uma prática substitutiva, à parte, e se transforma em 4 uma prática complementar e interligada à escolaridade comum e a todos os desafios que a inclusão impõe ao aluno com deficiência”. 5 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO • AEE O que é uma Sala de Recursos Multifuncionais - SRMF? São espaços físicos localizados nas escolas públicas onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE. As SRMF possuem mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento dos alunos que são público alvo da Educação Especial e que necessitam do AEE no contraturno escolar. A organização e a administração deste espaço são de responsabilidade da gestão escolar e o professor que atua neste serviço educacional deve ter formação para o exercício do magistério de nível básico e conhecimentos específicos de Educação Especial, adquiridos em cursos de aperfeiçoamento e de especialização. 6 O que é o atendimento educacional especializado (AEE)? O atendimento educacional especializado (AEE) é um serviço da educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas" (SEESP/MEC, 2008). O ensino oferecido no atendimento educacional especializado é necessariamente diferente do ensino escolar e não pode caracterizar-se como um espaço de reforço escolar ou complementação das atividades escolares. São exemplos práticos de atendimento educacional especializado: o ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e do código BRAILLE, a introdução e formação do aluno na utilização de recursos de tecnologia assistiva, como a comunicação alternativa e os recursos de acessibilidade ao computador, a orientação e mobilidade, a preparação e disponibilização ao aluno de material pedagógico acessível, entre outros. Congresso Brasileiro de Educação Especial (CBEE) O CBEE evento que ocorre a cada dois anos, consiste numa proposta conjunta da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial (ABPEE), do Programa de Pós-graduação em Educação Especial (PPGEEs) e da UFSCar, que consideram a ação importante para estimular a produção cientifica na área, divulgar o conhecimento que vem sendo produzido, promover o intercâmbio entre pesquisadores, bem como atender à demanda emergente por novas práticas. O IV CBEE aconteceu de 2 a 5 de novembro de 2010, e na edição foram publicados sete trabalhos relacionados à educação matemática no contexto de inclusão. A partir de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o aumento do número de matrículas de alunos com deficiência em escolas regulares. As autoras caracterizaram o processo de inclusão, a importância da 7 formação dos professores que ensinam matemática nesse contexto, e citaram a criação de um espaço de formação que envolveu acadêmicos, professores formadores e professores dos anos iniciais de escola pública. O grupo de estudos foi caracterizado como um espaço de formação inicial e continuada, enriquecedor, em que foram realizados estudos teóricos e também construídos materiais didático-pedagógicos com base em questionários respondidos pelos professores dos anos iniciais participantes, analisados com os professores e futuros professores em oficinas. Por fim, concluíram que esses espaços apresentam um grande potencial, possibilitando a construção de conhecimentos e favorecendo a prática do docente. Assim, com base na pesquisa bibliográfica realizada em anais dos eventos IV e V SIPEM, X e XI ENEM, 33ª, 34ª e 36ª Reunião da ANPEd e IV e V CBEE, considerando o período de 2009 a 2013, apresentamos a tabela 1. Tabela 1 – Publicações em anais de eventos Salienta-se que o processo de ensino e aprendizagem, as metodologias de ensino, os recursos didáticos, as práticas pedagógicas, as políticas públicas que versam sobre a inclusão e a formação de professores, a prática reflexiva e o paradigmada inclusão são aspectos que vêm sendo investigados sobre a formação de professores que ensinam matemática no contexto de inclusão. No entanto, constata-se a necessidade de ampliar os estudos que seguem essa perspectiva. Sendo assim, inicialmente é essencial verificar as políticas públicas que versam sobre a inclusão escolar do aluno com deficiência, a fim de refletir sobre seus aspectos principais, o que se busca realizar a seguir. Educação matemática no contexto de inclusão Formação de professores que ensinam matemática no contexto de inclusão IV e V SIPEM 05 00 X e XI ENEM 44 05 33 ª, 34ª e 36ª ANPEd 03 00 IV e V CBEE 16 01 8 Educação especial no Brasil: breve contextualização e algumas reflexões A concepção acerca da diferença da pessoa com deficiência se modificou no percorrer da história da humanidade. Segundo Sassaki (1997), a educação especial, no Brasil, é marcada por diversas fases: exclusão, segregação institucional, integração e inclusão (Figura 1). Figura 1 – Fases da educação especial no Brasil Inicialmente, prevaleceu a exclusão. Nessa fase, as pessoas com deficiência foram abandonadas, perseguidas e eliminadas, pois suas características eram 9 concebidas pela sociedade como atípicas, e, em virtude dessa concepção, eram também excluídas do sistema escolar de ensino. Com o desenvolvimento de estudos, com a mudança de alguns entendimentos e com a reorganização na política educacional brasileira, gradualmente foram criadas instituições e escolas para o atendimento às pessoas com deficiência, estabelecendo- se a segregação. Nessa perspectiva, destacam-se o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, fundado em 1854, atual Instituto Benjamin Constant (IBC), e o Instituto dos Surdos Mudos, de 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES), ambos localizados no Rio de Janeiro/RJ. A partir dessas instituições, fundaram-se outros espaços destinados ao atendimento às pessoas com deficiências. Além disso, a educação especial passou a ser debatida em eventos, gerando novas discussões e possibilidades. Dessa forma, a busca por preencher as lacunas ainda existentes produziu um período de crise, em que surgiu a integração. De acordo com Sassaki (2005, p. 22): O mérito da proposta da integração está no seu forte apelo contra a exclusão e a segregação de pessoas com deficiência. Todo um esforço é envolvido no sentido de promover a aproximação entre a pessoa deficiente e a escola comum, entre a pessoa deficiente e a empresa comum e, assim por diante. Mas sempre com a tônica da responsabilidade colocada sobre as pessoas com deficiência, no sentido de se prepararem para serem integradas à sociedade (às escolas comuns, às empresas etc.). Neste caso, a sociedade é chamada a deixar de lado seus preconceitos e aceitar as pessoas com deficiência que realmente estejam preparadas para conviver nos sistemas sociais comuns. 10 A integração representa um avanço importante para o contexto social e educacional, permitindo à pessoa com deficiência novos espaços de circulação e colegas de convívio, socialização e aprendizagem, porém implica que esse aluno se adapte ao sistema de ensino, contornando obstáculos existentes e desempenhando suas funções com autonomia. No cenário brasileiro, o movimento pela inclusão tomou forma entre o final de 1980 e, principalmente, 1990. A Constituição Federal, promulgada em 1988, especifica, no artigo 3º, inciso IV, como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil ―promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação‖ (BRASIL, 1999, p. 5). Nesse sentido, estabelece a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (art. 206, inciso I), bem como assegura o atendimento educacional especializado (AEE), que deve ser ofertado preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, inciso III). Consoante a Constituição Federal, no ano de 1996 foi publicada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), que preconiza e certifica 11 direitos ao aluno com deficiência. No artigo 59, inciso I, afirma-se que os sistemas de ensino assegurarão a esses alunos ―currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicas, para atender às suas necessidades‖ (BRASIL, 1996, p. 44), já no inciso III é referenciada a necessidade de professores capacitados na rede regular de ensino. Dessa forma, foram publicadas leis, diretrizes e decretos sobre a escolarização do aluno com deficiência de acordo com os pressupostos da inclusão. Diante das concepções estabelecidas, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008b, p. 15) definiu a educação especial como: [...] uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado [AEE], disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. Nesse sentido, destaca-se a transversalidade da educação especial como modalidade de ensino que atua tanto na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) como no Ensino Superior, com o intuito de complementar e/ou suplementar o ensino regular, e não de o substituir. Também faz parte de sua atuação realizar o AEE, que se constitui em oferta obrigatória dos sistemas de ensino no turno inverso ao da classe regular, a fim de apoiar o desenvolvimento dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2008b), considerados público-alvo do AEE, conforme a figura 2. PÚBLICO-ALVO DO AEE Alunos com deficiência Alunos com transtornos globais do desenvolvimento Alunos com altas habilidades/superdotação 12 ―[...] àqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade.‖ ―[...] aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo.‖ ―[...] aqueles que demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes‖, bem como elevada criatividade e envolvimento ao realizar atividades em áreas de seu interesse. Figura 2 – Público-alvo do AEE O AEE ofertado a esses alunos é realizado em sala de recursos ou em salas de recursos multifuncionais - ―ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos‖ (BRASIL, 2008a), conforme define o Decreto nº 6.571 de 20081, que gradativamente estão sendo implementadas por uma ação apoiada pelo Ministério da Educação (MEC). Esse atendimento, que ocorre nas salas de recursos, ―tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas‖ (BRASIL, 2008b, p. 15). Isto é, o professor necessita organizar atividades, recursos pedagógicos e de acessibilidade que facilitem e estimulem o processo de aprendizagem, principalmente nas áreas em que o aluno encontra maiores dificuldades, sendo que as diferentes ações necessitam estar articuladas com a proposta pedagógica que é desenvolvida no ensino regular. Dessa forma, a inclusão dos alunos com deficiência na rederegular de ensino não deve consistir apenas no acesso à escola e na sua permanência com os demais alunos, ela implica fornecer meios para que os alunos possam participar do proposto, 13 garantindo uma educação de qualidade para todos. Ropoli et al. (2010, p. 9) afirmam que: A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas [...]. Para que essa escola possa se concretizar, é patente a necessidade e desenvolvimento de novos conceitos, assim como a redefinição e a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e educacionais compatíveis com a inclusão. Sendo assim, destaca-se que a inserção de alunos com deficiência em instituições de ensino regular, em decorrência do processo/política de inclusão, requer maior atenção quanto à formação de professores nessa perspectiva, inclusive em relação à formação do professor que ensina matemática no contexto de inclusão, aspecto contemplado no item seguinte. A formação do professor que ensina matemática no contexto de inclusão A matemática é um conhecimento organizado ao longo do desenvolvimento da humanidade, e todo o conhecimento matemático surge para satisfazer alguma necessidade do homem. Nesse sentido, se a matemática integra o mundo do aluno, deve-se priorizar sua aprendizagem como parte do ―seu equipamento cultural, para que possa intervir com instrumentos capazes de auxiliá-lo na construção da sua vida. (MOURA, 2007, p. 60). No entanto, a matemática, normalmente, é compreendida como um componente curricular que reflete as dificuldades quanto ao processo de ensino e aprendizagem para professores e alunos. Autores tais como Fonseca (1995), Vitti (1999) e Sadovsky (2007) referem o baixo desempenho e o insucesso escolar nessa área do conhecimento. Assim, a qualidade de ensino tende a ser um desafio, principalmente quando ocorre a inclusão de alunos com deficiência, visto como, por vezes, é ministrado o ensino para 14 esse alunado e devido às peculiaridades que eles apresentam em relação ao processo de aprendizagem. O número de matrículas desse alunado na rede regular de ensino cresce continuamente em decorrência, também, de políticas públicas que visam o processo de inclusão. Dados do Censo Escolar evidenciam que o número de matrículas de alunos com deficiência na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Educação Profissional totalizava 306.136 no ano de 2007, já em 2012 o número de matrículas ampliou-se para 620.777 (INEP, 2012), como demonstra a tabela a seguir. Tabela 2 – Dados do Censo Escolar/Matrículas de educação especial Ano Classes comuns (alunos incluídos) Total Ed. infantil Funda- mental Médio EJA Ed. profis- sional 2007 306.136 24.634 239.506 13.306 28.295 395 2008 375.775 27.603 297.986 17.344 32.296 546 2009 387.031 27.031 303.383 21.465 34.434 718 2010 484.332 34.044 380.112 27.695 41.385 1.096 2011 558.423 39.367 437.132 33.138 47.425 1.361 2012 620.777 40.456 485.965 42.499 50.198 1.659 Fonte: Inep (2012). Incluir significa mais do que apenas possibilitar o acesso e a permanência num mesmo espaço físico (ABENHAIM, 2005): implica proporcionar uma educação de qualidade e eficaz para todos, viabilizando a participação e as condições favoráveis para a aprendizagem. Isso envolve recursos materiais/físicos, pedagógicos e humanos adequados, sendo relevante a atuação e a formação dos professores para atender à perspectiva de inclusão. Martins, Pires e Melo (2006, p. 20) estabelecem que: O processo educativo inclusivo traz sérias implicações para os docentes e para as escolas, que devem centrar-se na busca de rever concepções, estratégias de ensino, 15 de orientação e de apoio para todos os alunos, a fim de que possam ter suas necessidades reconhecidas e atendidas, desenvolvendo ao máximo as suas potencialidades. Desse modo, enfatiza-se a importância do processo formativo do professor, que deve proporcionar a construção de conhecimentos de forma crítica e desenvolver a capacidade de refletir sobre a própria prática docente, interpretando-a. É um elemento importante, incidindo também no desenvolvimento profissional do professor, que ―pode ser concebido como qualquer intenção sistemática de melhorar a prática profissional, crenças e conhecimentos profissionais, com objetivo de aumentar a qualidade docente, de pesquisa e de gestão‖ (IMBERNÓN, 2011, p. 47). Compreende-se que a formação perpassa a profissão de ser professor, pois os saberes intrínsecos são adquiridos em diferentes momentos, sendo imprescindível considerar a constituição como pessoa. Isto é, a formação envolve um processo contínuo, em que o ritmo e o sentido variam, visto que cada sujeito é singular e está imerso em práticas sociais, culturais, num contexto de experiências coletivas e individuais. Isaia (2009, p. 95) relata que: [...] o professor é um ser unitário, entretecido tanto pelo percurso pessoal (ciclo vital), quanto pelo profissional (os diversos caminhos construídos ao longo da profissão). Vale entender que ele se forma a partir das relações que estabelece com os outros que lhe são significativos e, ainda, com a história sociocultural, geracional e pessoal. Nessa perspectiva, a formação do professor que ensina matemática no contexto de inclusão abrange os conhecimentos construídos antes do ingresso no espaço acadêmico da universidade e prossegue durante a vida profissional. Engloba um movimento de constituição influenciado pela trajetória de vida, pelas experiências consideradas significativas. No constituir-se professor, ou seja, no trajeto como indivíduos e como grupos também são percorridos caminhos conflitantes. Concebendo esse aspecto, Abrahan desenvolve a ideia de labirinto, instituindo-o como ―símbolo de um caminho difícil a percorrer antes de alcançar o objetivo‖ (ABRAHAM, 1986, p. 21, tradução nossa). Ao discorrer sobre a metáfora de Abrahan, Isaia (2009, p. 101) afirma que o labirinto ―evoca, simultaneamente, a certeza e a incerteza, o buscado e o encontrado, sendo 16 sua essência o movimento pela busca, ambos responsáveis pelo desenvolvimento pessoal e profissional desses profissionais‖. É possível relacionar a ideia de labirinto ao processo de ensino da matemática para alunos com deficiência incluídos em classe regular. Alguns professores, diante da inclusão, sentem-se inseguros e necessitam rever e conhecer novas metodologias de ensino, buscando o aperfeiçoamento profissional perante as incertezas que surgem. Mas, conforme declara Isaia (2009), o professor necessita vivenciar o labirinto, percebendo que pode tomar outras decisões e experimentar novos caminhos. Sendo assim, compreender que todos os alunos possuem capacidades, independente de condições físicas e cognitivas, acolher diferenças e possibilitar aprendizagens pressupõe que o professor perpassou pela vivência/experiência e teve uma formação adequada ao contexto de atuação, sendo ela significativa. Nóvoa (2009, p. 28), considerando as relações entre as dimensões pessoais e profissionais na produção de identidade dos professores, defende a necessidade de uma formação ―construída dentro da profissão‖, isto é, articulada com as dinâmicas da escola e com o cotidiano dos professores, e atenta a cinco disposições essenciais para a definição desse profissional: o conhecimento, a cultura profissional, o tato pedagógico, o trabalho em equipe e o compromisso social, conforme figura 3. Figura 3 – Disposições para a definição de professor 17 Nóvoa (2009) define que o ―conhecimento‖se refere ao fato do professor conhecer o que ensina, e, nesse sentido, seu trabalho está vinculado à construção de práticas docentes que irão viabilizar aos alunos a aprendizagem. A ―cultura profissional‖ implica compreender os sentidos da escola, sendo que nesse espaço e na relação com outros professores se aprende a profissão. O ―tato pedagógico‖ destaca a capacidade de relação, a comunicação e a seriedade como aspectos importantes no ato de educar. Já o ―trabalho em equipe‖ ressalta a dimensão coletiva e colaborativa, a intervenção conjunta nos projetos educativos da escola. E, por fim, o ―compromisso social‖ se concentra no sentido dos princípios, dos valores, da inclusão social e da diversidade cultural. Nesse contexto, ao abordar a disposição ―cultura profissional‖, o autor expõe que ―o registro das práticas, a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos centrais para o aperfeiçoamento e a inovação‖ (NÓVOA, 2009, p. 30). A prática deve ser considerada como eixo central da formação de professores, pois ―o pensamento prático do professor não pode ser ensinado, mas pode ser aprendido. Aprende-se fazendo e refletindo na e sobre a ação‖ (GÓMEZ, 1992, p. 111-112). Portanto, deve haver o desejo do professor em aprender, pois ele é um profissional que aprende continuamente e também é responsável por sua formação. Segundo Moura et al. (2010b), que desenvolve seus estudos com base na THC e na teoria da atividade de Leontiev (1978,2001), a atividade principal do professor é a de ensino. Moretti (2009, p. 9, grifo da autora) considera que ―o conceito de atividade pode trazer contribuições para o trabalho pedagógico tanto no que diz respeito à aprendizagem do aluno quanto ao que se refere ao trabalho e à formação contínua do professor‖. Em consonância, Libâneo (2004, p. 137) afirma que: A teoria histórico-cultural da atividade, em suas várias interpretações, também traz importantes contribuições na configuração dos elementos necessários à atividade profissional dos professores. Com base nessa teoria, o princípio dominante na formação não seria em primeiro lugar a reflexão em si mesma, mas a atividade de aprendizagem, ou melhor, a atividade pensada de aprender, com todos os desdobramentos que isso 18 implica, em termos de teorias do ensino e da aprendizagem. O tornar-se professor é uma atividade de aprendizagem. Nessa perspectiva, destaca-se a organização do ensino, sendo ela importante para o professor (sua atividade principal) e também para a aprendizagem do aluno. Ela ―passa a ser um elemento importante na atividade de aprendizagem, porque viabiliza a apreensão de conhecimentos tanto para o professor, ao desenvolvê-la, quanto para o aluno‖ (LOPES, 2009, p. 94). Assim, a organização do ensino deve acontecer no intuito de gerar e promover a aprendizagem, pois o processo de educação escolar justifica a sua importância, ocorrendo a apropriação de conhecimentos aliados à intencionalidade social. Isso implica que ―entender a escola como lugar social privilegiado para a apropriação de conhecimentos produzidos historicamente é necessariamente assumir que a ação do professor deve estar organizada intencionalmente para esse fim‖ (MOURA et al., 2010b, p. 89). De acordo com os autores: O ensino realizado nas escolas pelos professores deve ter a finalidade de aproximar os estudantes de um determinado conhecimento. Daí a importância de que os professores tenham compreensão sobre seu objeto de ensino, que deverá se transformar em objeto de aprendizagem para os estudantes. Além disso, é fundamental que no processo de ensino, o objeto a ser ensinado seja compreendido pelos estudantes como objeto de aprendizagem (MOURA et al., 2010b, p. 92). Dessa forma, dependendo do modo como é conduzido o processo de ensino, pode-se viabilizar ou restringir o processo de aprendizagem, possibilitar ou não o desenvolvimento, a criação, a autonomia. Salienta-se que o desenvolvimento de cada sujeito sofre influências do contexto no qual está inserido, e as relações estabelecidas também são consideradas relevantes nesse processo. Seguindo o delineamento, os pressupostos teóricos em que se pauta a pesquisa estão vinculados à THC, que tem Vygotsky como seu principal expoente, bem como são considerados estudos de autores que seguem essa mesma perspectiva. Portanto, a seguir, apresentam-se os pressupostos teóricos norteadores, considerando que ―o 19 conhecimento das leis é necessário ao homem para uma atividade prática bem- sucedida‖ (KOPNIN, 1978, p. 203). LÍNGUA PORTUGUESA NO AEE: ALGUNS APONTAMENTOS O presente texto tem como objetivo apresentar reflexões sobre o ensino de Língua Portuguesa e Matemática para surdos entrelaçados ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), visto que este atendimento acontece em três momentos distintos, AEE em Língua Brasileira de Sinais (Libras), AEE para o ensino de Libras e o AEE para o ensino de Língua Portuguesa (DAMÁZIO, 2007). Sabemos que estes momentos no AEE são importantes para o desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdo, porém o foco neste texto é dar ênfase ao terceiro momento para compreender os principais métodos e práticas no ensino de Língua Portuguesa, como Segunda Língua (L2), visando à autonomia do discente surdo nos momentos de leitura, de tradução e de interpretação de textos matemáticos. Entendemos que estudar esse assunto propicia reflexões para possíveis considerações na educação de surdos, a qual ocorreu historicamente com vários 20 impasses educacionais que acabaram por determinar as ações educativas, adotadas no seu percurso fundamentados a partir de três abordagens: a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo. Adotamos assim a abordagem bilíngue2 como proposta por Quadros e Schmiedt (2006) necessária para atender a educação de surdos. Segundo Silveira (2014) O texto matemático pode ser escrito em linguagem matemática que contém símbolos, gráficos e expressões algébricas, como também pode ser escrito em linguagem natural com expressões do vocabulário matemático [...]. A interpretação de textos matemáticos em linguagem matemática e em linguagem natural requer o conhecimento do vocabulário matemático que está ligado ao conhecimento de conceitos, bem como requer a prática de seguir regras matemáticas (SILVEIRA, 2014, p. 48). 21 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E HIPÓTESE No sentido de ampliar o conhecimento sobre a educação de surdos e o AEE consideramos pertinente estudar as principais dificuldades da prática de ensino dos professores na sala de recursos multifuncionais para o ensino de Língua Portuguesa, como L2 na modalidade escrita, para o discente com surdez. Pretendemos verificar os principais métodos e práticas para reconhecer que o canal visual é uma estratégia importante para o ensino ao discente surdo, pois é pela visão que têm acesso ao mundo. A utilização de experiências visuais no ensino é uma forma de respeitar a identidade cultural do surdo, a qual se desenvolve pela comunicação visual, mas, deve-se tomar o cuidado para não utilizar a imagem como uma mera representação simples, ilustrativa sem criticidade. Lebedeff (2014) enfatiza da necessidade de os docentes refletirem sobre o uso imagético e da necessidade de problematizarem a imagem adequadamente como recurso que permeia todos 22 os campos de conhecimento e que traz consigo uma estrutura capaz de instrumentalizar o pensamento. Normalmente, os discentes surdos são meros copistas no espaço escolar e dependentes dos Tradutores-Intérpretes de Libras em situações matemáticas. Assim, no espaço da sala do AEE, o docente tem um momento para tentar mudar essa realidade, porém geralmente seu trabalho é a relação imagem versus palavra escrita, isolada e descontextualizada sem nenhumaproblematização, criticidade para o aluno surdo e que visa à autonomia linguística bilíngue no seu dia a dia. Assim, este texto foi desenvolvido nos pressupostos bibliográficos. De acordo com Severino (2007, p, 127), “a pesquisa bibliográfica é aquela na qual o pesquisador busca informações em documentos impressos e em obras de fontes confiáveis, que darão subsidio para fundamentar o objeto da pesquisa”. Assim, acreditamos que este texto bibliográfico que surge a partir de diversas reconhecendo-as de fato atentando-se para as diferentes funções que apresentam no dia-a-dia da pessoa surda que se está formando (QUADROS, SCHMIEDT, 2006, p.13). Leituras, poderá ser futuramente uma nova fonte de pesquisa para novos pesquisadores. RESULTADOS E DISCUSSÃO A história da educação de surdos no Brasil foi marcada por diferentes ações pedagógicas sobre qual a melhor forma de educá-los (SOARES, 1999; MAZZOTTA, 2005). Adentrarmos por essa história, trouxe-nos reflexões e questionamentos referentes aos impactos marcantes de cada época sobre os métodos de ensino aos surdos. Também nos ajudou a entender o porquê de apesar da existência de políticas que especificam seus direitos educacionais, os surdos ainda continuam excluídos no cenário educacional. 23 Mazzotta (2005) aborda a história da educação especial entre o período de 1854 a 1993. Analisa e comenta acerca de algumas políticas, sejam ela da esfera federal, estadual e municipal da educação especial. O sentido atribuído à educação especial desde o final da década de 50 do século XX, período em que incluiu educação especial na política educacional no Brasil, é de “assistência aos deficientes e não o de educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais” (MAZZOTTA, p. 2005, 11). Desse modo, surge o atendimento educacional aos surdos no Brasil em 26 de setembro de 1857 no Rio de Janeiro, com a criação do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos e cem anos após sua fundação, no ano de 1957, passou a ser conhecido por Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). O francês Ernest Huet iniciou seu trabalho no INES alfabetizando crianças surdas utilizando a Língua de Sinais. Mas a partir do Congresso em Milão, no ano de 1880, a filosofia educacional mudou na Europa e, consequentemente, em todo mundo. O INES em 1911 passou a adotar o oralismo, obedecendo à determinação do Congresso Internacional de Surdos Mudos de Milão que proibia o uso da Língua de Sinais. Dessa forma, o ensino e a aprendizagem do aluno surdo aconteciam por meio da Língua Portuguesa na modalidade oral e as dificuldades dos discentes eram atribuídas à surdez. De acordo com Sperb (2016, p. 4), os autores que defendiam a visão oralista afirmavam que “só através da fala, o indivíduo surdo poderá ter seu desenvolvimento pleno e uma perfeita integração social. Assim, o domínio da língua oral torna-se condição básica para sua aceitação em uma comunidade majoritária”. Nessa época o uso de sinais era proibido e a comunicação se dava pela tentativa de leituras labiais. Assim, podemos inferir que os surdos tiveram muitas perdas, se compararmos aos surdos no desenvolvimento da sua língua natural, em nosso contexto brasileiro, a Libras. Soares (1999) discute a história da educação de surdos quando da substituição do método pedagógico pelo método clínico-terapêutico e com questionamentos sobre o porquê do saber escolar ficar em segundo plano. A autora traz reflexões das propostas educacionais europeias da educação de surdos, mas centra-se no INES na década de 50. Relata sobre o eixo propulsor dessa educação o viés da caridade e de atividades manuais simples. De acordo 24 com Soares (1999, p. 7), percebe-se a “sobreposição do trabalho clínico em relação ao trabalho pedagógico, na educação de surdos, no Brasil”. Neste contexto, o surdo foi privado do conhecimento sistematizado pela escola, havendo uma inversão de prioridade, dando ênfase às atividades clínicas ao conhecimento proposto no currículo escolar (SOARES, 1999). Dessa forma, verificamos o movimento histórico de certas ações na educação de surdos, de acordo com a autora “são norteadas por determinadas verdades, que não foram construídas a partir de conhecimentos já produzidos em épocas anteriores, e isso, talvez, se deva necessariamente, por uma atitude de negação, mas, possivelmente, pela ignorância desses conhecimentos” (SOARES, 1999, p. 11). Com o aumento de pesquisas sobre as Línguas de Sinais e as investigações sobre as famílias em que pais e filhos são surdos, comprovaram um melhor desempenho escolar dessas crianças em relação às crianças surdas, filhas de pais ouvintes. Assim, iniciou outra proposta, conhecida como comunicação total. Para Sperb (2016, p. 5), “A comunicação total adere a todas as formas seja por leitura labial, por oralização, por gestos, sinais ou alfabeto manual, o que importa neste contexto é que houvesse um entendimento entre os surdos e seus educadores”. Nessa abordagem acreditavam que o uso dos sinais ao mesmo tempo em que a fala, ajudaria o surdo a superar suas dificuldades linguísticas. Contudo, o resultado foi a predominância da língua majoritária na estrutura gramatical das línguas utilizadas e para os surdos essa abordagem era complexa e exaustiva (SPERB, 2016). 25 Guia do Educador inclusivo Notamos que a história da educação dos surdos aconteceu sob vários impasses educacionais, discussões ideológicas, condicionamentos históricos que acabaram por determinar as ações educativas adotadas. Assim, como em outros países, a educação de surdos no Brasil passou por fases distintas sendo fundamentadas em três abordagens diferentes: a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo. Diante dessas raízes históricas, Perlin e Strobel (2008) fazem a seguinte indagação, Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas para adicionarmos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas, por exemplo, por que atualmente apesar de se ter uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído? (STROBEL, 2008, p.48) Entre as abordagens referidas, a bilíngue é necessária para atender a educação de surdos, conforme Lebedeff (2014), Sperb (2016, 2012), Alberton (2015), Neves; Quadros (2015), Quadros, (2006a, 2006b), Campello (2008) e Albres (2005). A abordagem bilíngue aconteceu por uma reivindicação dos 26 próprios surdos e para essas autoras, quando se refere ao bilinguismo na educação dos surdos, é quando “os estudos voltam-se para a Libras e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita” (NEVES; QUADROS, 2015, p. 138). No Brasil, os avanços na prática educacional, aconteceram a partir da Lei Federal n. 10.436, de 24 de abril de 2002 que oficializou a Libras como forma de comunicação e expressão das comunidades surdas brasileiras. Contudo, a mais importante contribuição foi o Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005 que institui o ensino aos surdos na Língua de Sinais, como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa como L2, inclusive tornando obrigatório o uso de Língua de Sinais em vários espaços públicos e motivando a presença de intérprete de Libras. Alguns documentos internacionais defendem discursos pela inclusão, tais como: a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, assinada em Jomtien, na Tailândia (UNICEF, 1990), a Declaração de Salamanca, na Espanha (UNESCO, 1994), a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos de 1996 (BRASIL, 2010). Contudo, faz-se um recorte cronológico das políticas para a educação de surdos e conceituar o AEE com base na literatura nacional entre os anos2001 - 2015, período em que intensificam documentos legais voltados para as pessoas surdas. Em 2015 a Lei n. 13.146 se torna também um marco legal para as pessoas com deficiência. Nesse contexto, Bezerra (2012), Lima (2015), Nascimento e Santos (2017) propõem reflexões sobre a educação de surdos em documentos como a Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001, a qual instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. A Lei n.10.436/2002 e o Decreto n. 5.626/2005 que tratam da Libras e da educação de surdos. Em 2008 com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, a qual se enfatizou o ensino para o surdo nas escolas comuns deveria acontecer numa abordagem bilíngue (Libras e Língua Portuguesa) e no contra turno o AEE. Outro documento, também de relevância é a Resolução n. 4, de 2 de outubro de 2009, instituindo Diretrizes Operacionais para o AEE na Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades (LIMA, 2015). 27 O Decreto n. 7.611, de 7 de novembro de 2011 que dispõe sobre a educação especial, o AEE e dá outras providências e o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) aprovado pela Lei nº 13.005/2014 e o estatuto da pessoa com deficiência sancionado pela Lei nº 13.146/2015, as quais representam um marco para a efetivação da educação bilíngue para surdos em escolas ou classes bilíngues (NASCIMENTO e SANTOS, 2017). A Resolução n. 4, de 2 de outubro de 2009 apresenta as atribuições do professor no atendimento especializado, bem como ações que promovam o acesso, a permanência e o sucesso para atender as necessidades específicas dos discentes no espaço escolar. Silva, Lacerda e Souza (2013) definem o AEE como: Aquele que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade. As atividades desenvolvidas no AEE diferenciam-se das realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização e esse atendimento complemente e/ou suplementa a formação dos alunos para autonomia e independência na escola e fora dela. (SOUZA, 2013, p.80 e 81) No entanto, apesar da legislação avançar, muito tem que se fazer para efetivar o bilinguismo, e pesquisas mostram que essa abordagem não tem se efetivado realmente e os surdos enfrentam uma desigualdade no contexto escolar em relação aos ouvintes. Geralmente, a maioria das crianças surdas inicia sua vida escolar sem uma língua constituída e na escola todo conteúdo ocorre exclusivamente em Língua Portuguesa como L1, causando prejuízo para a formação cidadã do discente surdo. Perlin e Strobel (2008) escrevem que a presença do aluno na sala de aula, como forma de assistencialismo, faz com que a maioria dos sujeitos surdos conclui a educação básica sem saber escrever um bilhete. Desse modo, é preciso questionar às políticas públicas de inclusão, a qual é importante, mas é necessário negá-la dialeticamente e problematizá-la para que se efetive uma pedagogia crítica e emancipadora superando as vozes silenciadas de alunos e de educadores sobre as condições que lhes são dadas. 28 De acordo com Bezerra (2012): [...]analisar o fenômeno inclusão escolar dialeticamente não significa apenas condená-lo in totum, mas avançar rumo à sua superação, com a percepção dos limites inerentes à ação pedagógica inclusiva em uma sociedade excludente, para que sejam vislumbradas, a partir das condições atuais, alternativas educacionais emancipadoras. (BEZERRA, 2012, p.45) Percebemos, assim, a escola como um espaço social importante para a formação de sujeitos críticos. Isto implica ainda o pensar em como abordar as contradições representadas no processo educacional inclusivo, possibilitando uma ressignificação nas práticas de ensino do professor do AEE e propor um curso de formação continuada para atender as peculiaridades do sujeito surdo. De acordo com Perlin e Strobel (2008), existem dificuldades pedagógicas em relação ao tratamento dos alunos surdos. Segundo as autoras, os governantes não respeitam os surdos tratando-os como os demais alunos. No artigo 59 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as condições para os educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação terem acesso à educação com equidade (BRASIL, 2010), porém o resultado na prática não condiz com os mecanismos oferecidos para esses alunados (PERLIN, STROBEL, 2008). De fato, o AEE é um local de apoio para os discentes surdos complementarem sua aprendizagem e esse atendimento é oferecido com diferentes momentos, sendo um Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola comum, em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo. Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras na escola comum, no qual os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. 29 Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez (DAMÁZIO, 2007, p. 25). Falar em um atendimento educacional para o ensino da Língua Portuguesa, como L2 e em uma modalidade escrita para pessoas surdas é um dilema, pois essa língua tem uma estrutura gramatical diferente da língua natural do surdo, o qual compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, no entanto, “a aquisição do português escrito por crianças surdas ainda é baseada no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o português falado” (QUADROS, SCHMIEDT, 2006, p.23). Albres (2005), pesquisadora sobre a educação de surdos, analisa em as publicações do Ministério da Educação (MEC) nos anos de 1979, 1997 e 2005 referente às propostas curriculares e orientações metodológicas para o aluno surdo. A autora verifica se há propostas no ensino de Língua Portuguesa aos surdos e teve como objetivo refletir acerca desse ensino no período da década de 1970 a 2005. Segundo essa autora em relação ao ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos “[...] nos leva a considerar, como pertinente, a escassa orientação ao professor, para desenvolver os procedimentos didáticos, para que o aluno desenvolva habilidades necessárias para realização pessoal e ingresso no mundo do trabalho” (ALBRES, 2005, p.114). Conforme essa autora, mesmo com a criação de diferentes professores (professor da sala de recurso, professor instrutor de Libras e tradutor intérprete de Libras / Língua Portuguesa), “a educação dos surdos ainda permanece alicerçada nas mãos do apoio da educação especial” (ALBRES, 2005, p. 116). Apesar da legislação reconhecer a Libras como Língua das comunidades surdas no Brasil, observamos ainda poucos resultados significativos no ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa como L2 para o aluno com surdez. Assim, predominando uma ideia que é por motivo da surdez que o aluno não aprende o português escrito (SPERB, 2012, 2016). Sabemos o quanto a Libras como L1 é fundamental para a criança surda desenvolver seu intelecto, como afirma Sperb (2012, 2016). A Língua 30 Portuguesa também se torna necessária em uma sociedade predominantemente ouvinte, “aprender português também é importante, é preciso ter em mente que o sujeito surdo possui uma cultura e uma língua, mas este mundo surdo está dentro de um contexto e realidade ouvinte, e de alguma forma ele precisa estar preparado para conhecer e conviver no mundo ouvinte” (SPERB, 2016, p.4). Os surdos não vivem em espaços fechados próprios, eles precisam conhecer a língua dominante e oficial de seu país como meta de bem- estar social,além da escolarização. Nesse caso, a onipresença da leitura e da escrita da Língua Portuguesa favorece indiretamente a inserção dos surdos na sociedade brasileira. Compreendemos também que nos espaços sociais há números e letras, assim, é necessário dialogar com a disciplina de Língua Portuguesa e a disciplina de Matemática. Sabendo da complexidade que envolve a interdisciplinaridade dessas disciplinas, vemos o desafio de propor uma reflexão ao atendimento especializado para o surdo, de modo, que atenda uma perspectiva bilíngue na educação de surdos. De acordo com Alberton (2015), No caso de pessoas surdas, aprender a Matemática alicerçada na língua de sinais e no português escrito, em uma perspectiva bilíngue, é fundamental para que essas pessoas possam apropriar-se dos conhecimentos, compreendendo conceitos, resolvendo problemas, fazendo cálculos nas questões do cotidiano, da escola e do trabalho. (ALBERTON, 2015, p. 29) Dessa forma, pensar nos métodos e nas práticas para o ensino no AEE visando à autonomia do surdo na leitura, na tradução e na interpretação de textos matemáticos implica reconhecer esse aluno no seu modo de viver como sujeito visual. Borges e Nogueira (2013) escrevem sobre a dificuldade de compreensão pelos surdos da Língua Portuguesa em enunciados matemáticos. Para os autores: 31 É comum ouvirmos alunos surdos inclusos demonstrando um desinteresse por atividades de leitura e interpretação, conforme constatamos em nossas observações. Há que se ponderar que as atitudes de professores que contam com a presença desses alunos nem sempre considerem as diferenças linguísticas, propondo atividades que aumentam as dificuldades de compreensão dos textos escritos [...], tal desânimo é compreensivo, considerando que o Português não é uma língua natural para alunos surdos e tampouco é a primeira língua em uma proposta bilíngue (BORGES; NOGUEIRA, 2013, p. 61). Assim, para dar significações às experiências dos alunos surdos, a Pedagogia Visual3 é compreendida por Campello (2008) como meio mais eficaz por aliar as imagens às propostas educacionais ao sujeito surdo, pois este concebe o mundo por representações visuais com muitas possibilidades de expressarem tanto conceitos simples como conceitos complexos. Segundo Campello (2008), essa pedagogia é um novo campo que precisa ser explorado para atender as experiências visuais da comunidade surda, A Pedagogia Visual ou da diferença já existia desde nos tempos da criação do alfabeto manual realizado por Bonet e outros seguidores que já entendiam que a pedagogia não pode ser a mesma para todos. Cada pedagogia tem a sua especificidade. A pedagogia para cegos, elaborara vários currículos para cegos; a pedagogia que leva em consideração as especificidades culturais dos índios elaborara propostas pedagógicas de acordo com a língua indígena, por exemplo; a pedagogia dos surdos já existiu, mas com a concepção ouvintista, tornou-se uma pedagogia geral, para a elevação da capacidade de ‘oralizar’ como os demais. A Pedagogia Visual está mais relacionada à visualidade como na ‘datilologia’ de Bonet, das instruções dos abades l`Epée, Sicard, como mostram os currículos trazidos ao Brasil (CAMPELLO, 2008, p.137). 32 É um novo campo de estudos com uma demanda importante da sociedade que pressiona a educação formal a modificar ou criar propostas pedagógicas pautadas na visualidade a fim de reorientar os processos de ensinar e aprender como um todo e, particularmente, daqueles que incluem os sujeitos Surdos- Mudos. Este movimento de estudos da visualidade precisa ser considerado, portanto, quando se fala de Pedagogia Visual e Educação de sujeitos Surdos- Mudos (CAMPELLO, 2008, p. 13). Deste modo, refletir sobre o visual e sua contribuição para o ensino de Língua Portuguesa compreende produzir significações por imagens e pelas línguas (Libras e Língua Portuguesa) permitindo uma reflexão a respeito da metodologia de ensino para o processo de ensinar e de aprender abrangendo uma prática educativa inclusiva. Nessa perspectiva, para uma educação escolar, que garanta aos surdos à igualdade de direitos e às condições diferenciadas, com um currículo que embase suas especificidades culturais e linguísticas numa proposta inclusiva e bilíngue é preciso pensar dialeticamente nas contradições dessas estratégias. Com isso, pensando em uma educação de qualidade para o aluno surdo, surge um trabalho crítico, para ser transformador e para possibilitar essa transformação propõe-se uma formação continuada ao professor do AEE para compreensão do processo de ensino dos alunos com surdez. Tem-se como proposta o reconhecimento da pessoa com surdez na sua diferença, quando a diferença “é um processo e um produto de conflitos e movimentos sociais, de resistências às assimetrias de poder e de saber, de uma outra interpretação sobre a alteridade e sobre o significado dos outros no discurso dominante” (SKLIAR, 2010, p. 6). Costa e Silveira (2016) destacam a fala de Silveira (2014), onde a autora aponta que: A linguagem matemática é vista como uma língua estrangeira para os estudantes e que muitas vezes estes não conhecem o vocabulário matemático, o que faz com que seja necessária uma tradução em linguagem natural dos alunos. E isso é fato, pois os símbolos, códigos que constituem a linguagem 33 matemática apontam para um vocabulário próprio que acaba sendo hermético para quem não o domina. E se levarmos em consideração a educação de surdos, percebemos que as barreiras comunicativas podem ser mais um empecilho para o aprendizado dos conceitos matemáticos que envolvem tal vocabulário. (COSTA E SILVEIRA, 2016, p. 10) Mediante o contexto exposto, ressalta-se a necessidade de compreender os principais métodos e práticas no ensino de Língua Portuguesa, como L2, para o aluno com surdez no AEE constituindo uma oportunidade de ensino de qualidade. 34 REFERÊNCIAS ______. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008a. Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007. Disponível em: . Acesso em: 8 maio de 2015. 35 ARAÚJO, E. S.; MOURA, M. O. de. Contribuições da teoria histórico-cultural à pesquisa qualitativa sobre a formação docente. In: PIMENTA, S. G.; FRANCO, M. A. S. (Org.). Pesquisa qualitativa sobre formação docente. 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