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Atendimento Educacional de Alunos com Surdez Professora Mestre Greicy Juliana Moreira AUTORA Professora Mestre Greicy Juliana Moreira ● Mestre em Letras (UEM). ● Especialista em Língua Portuguesa - Teoria e Prática (América do Sul). ● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Faculdade Maringá). ● Especialista em Educação Especial com Ênfase em Libras (Bom Bosco). ● Especialista em Educação Empreendedora (PUC - RJ). ● Especialista em Gestão de Pessoas (Faculdade Maringá). ● Licenciatura em Letras - Português. ● Segunda Licenciatura (Pedagogia - UniCesumar - em andamento). ● Professora da Pós-Graduação (UniFCV). ● Tutora Pedagógica e de Pós-Graduação da (UniFCV). ● Professora conteudista na área de Educação (UniFCV/UNIFATECIE). ● Instrutora de cursos Técnicos e Profissionalizantes (SENAC - PR). ● Experiência na área de Educação há 12 anos. ● Experiência no Ensino Técnico e Superior e Pós-Graduação (presencial e a distância): desde 2010 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8929294723407914 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=B8DA4EF97D4AE655B42127C955EE8B8E APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, aluno(a)!!! Seja muito bem-vindo à disciplina ATENDIMENTO EDUCACIONAL DE ALUNO COM SURDEZ!!! Esta apostila é de extrema importância para a sua jornada acadêmica. Ela é com- posta por uma introdução, quatro unidades e conclusão. Ao final de cada unidade, você en- contrará as seções #saiba mais# e #reflita#, que foram pensadas e preparadas objetivando ampliar seus horizontes e somar novos conhecimentos à sua prática profissional. Aqui, todos os conteúdos apresentados foram criteriosamente selecionados e ana- lisados, pois você merece ter acesso a um material de alta qualidade. Estruturalmente, este material traz, na primeira unidade, intitulada de História da Educação de Surdos no Brasil, um panorama histórico sobre a educação do surdo desde a Antiguidade até a Contemporaneidade. Além disso, apresenta também uma discussão sobre as legislações e decretos vigentes, em âmbito nacional. Na sequência, na unidade II, denominada de Interlocução Do Atendimento Especializado Com O Ensino Regular Para Alunos Surdos, teceremos diálogos sobre os fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Nesse sentido, vamos verificar como acontece a institucionalização do atendimento especializado no projeto político pedagógico e, por fim, conhecer quais são as atividades de vida diária do aluno com deficiência auditiva Mais adiante, na unidade III, intitulada de Comunicação dos Alunos com Surdez, saberemos quais são as proposições relacionadas às metodologias de ensino direcionadas ao aluno surdo e/ou deficiente auditivo: Língua Brasileira de Sinais, enquanto comunicação oficial, Bilinguismo e a Oralização. Para finalizar, entendemos de que forma acontecem os processos de escolarização, no contexto nacional. Por fim, na unidade IV, denominada de Aluno com Surdez na Escola, nossa reflexão será sobre o ensino-aprendizagem desse público. Nesse sentido, conheceremos quais são as orientações oficiais para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua, como também os posicionamentos dos especialistas sobre o assunto: essa é ou não a me- lhor forma de ensino para o público-alvo. Por fim, você conhecerá quais são as orientações oficiais à escola para receber o aluno com deficiência auditiva e/ou surdez. Caro(a) graduando(a), os conteúdos aqui apresentados vão corroborar para sua formação acadêmica, contudo, para uma prática pedagógica de excelência, faz-se neces- sária constante atualização profissional, ou seja, a busca incessante por novos saberes. Então, venha, embarque comigo nessa trilha de conhecimentos!!! SUMÁRIO UNIDADE I ......................................................................................................6 História da Educação de Surdos no Brasil UNIDADE II ................................................................................................... 27 Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos UNIDADE III .................................................................................................. 52 Comunicação dos Alunos com Surdez UNIDADE IV .................................................................................................. 76 Aluno com Surdez na Escola 6 Plano de Estudo: - Antiguidade à idade moderna - Idade Contemporânea - Legislação nacional e estadual, acessibilidade e a era da inclusão Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar a história da educação de surdos no Brasil. • Refletir sobre os períodos históricos relacionados à educação de surdos no Brasil, desde a Antiguidade até a idade contemporânea. • Compreender as acepções da Legislação nacional e estadual, acessibilidade e a era da inclusão. UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 7UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil INTRODUÇÃO Olá, aluno(a)! Vamos iniciar a primeira unidade da disciplina de “Atendimento Educacional de Aluno com surdez”. Esta unidade será composta por três tópicos, nos quais teceremos diálogos sobre o universo da pessoa surda. No primeiro tópico, intitulado de “Antiguidade à idade moderna”, conheceremos como era o tratamento com as pessoas surdas nesse tempo, em diversos países. Você perceberá que muitas atrocidades foram praticadas e que os surdos não possuíam direitos civis, porque eram considerados pessoas totalmente incapazes. Depois, no segundo tópico, denominado “Idade Contemporânea”, nosso dialógico será mais especificamente sobre os acontecimentos relacionados à comunidade surda no Brasil. Assim, entenderemos como iniciou-se a educação de surdos e quais foram os caminhos trilhados até os dias atuais. Para finalizar, no terceiro e último tópico, “Legislação nacional e estadual, aces- sibilidade e a era da inclusão”, estudaremos as diretrizes propostas nas leis e decretos, bem como a ausência de cumprimento de tais determinações pela sociedade. Além de todos os conteúdos trabalhados nos tópicos, no final desta unidade você encontrará novas sugestões de leituras, filmes e sites que ampliarão seus conhecimentos. Então, vamos lá!!! 8UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil 1 ANTIGUIDADE À IDADE MODERNA Caro(a) acadêmico(a), neste primeiro tópico da Unidade I, nosso diálogo será sobre os importantes acontecimentos históricos relacionados à Educação de Surdos. Para tanto, apresentaremos, inicialmente, informações sobre os acontecimentos no mundo, entre os períodos da Antiguidade até a Idade Moderna. Conhecer os acontecimentos relacionado à educação de surdos, em diferentes momentos históricos, colabora para um melhor enten- dimento sobre o passado, nos faz refletir sobre o presente e ainda possibilita um diálogo sobre as futuras prospecções relacionadas ao assunto. Para iniciarmos nossa jornada por esses momentos tão interessantes precisamos, primeiramente, entender a diferença entre “povo surdo” e “comunidade surda”: ● Povo surdo: é um grupo de pessoas surdas que têm costumes, história, e tradições em comuns, constrói sua concepção de mundo através da mesma visão, ligados por um código de formação visual, independentemente do nível linguístico (STROBEL, 2008). ● Comunidade surda: não é composta apenas de surdos, mas também de ouvintes, como, por exemplo, as pessoas da família, intérpretes, professores, amigos, dentre outros que participam e compartilham os mesmos interesses comuns em uma determinada localização (STROBEL, 2008). 9UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil Aluno(a), você conseguiu entender a diferença entre esses dois conceitos? Isso é muito importante, porque conhecer o que significa cada termo facilitará a compreensãodos aspectos educacionais, sociais, políticos, culturais e linguísticos relacionados a esse público. Agora, após esse entendimento, vamos nos debruçar mais especificamente sobre os fatos históricos relacionados à história oficial da educação de surdos no mundo, porque é a partir desses eventos, que foram criados os documentos oficiais vigentes. Para tanto, selecionamos os momentos considerados pelos historiadores mais importantes, marcados por muitos embates e diversas discussões em prol dos direitos relacionados à convivência e a comunicação eficaz dos surdos na sociedade. De acordo com Pereira (2008), na era da Antiguidade Clássica, mais especifica- mente entre 4.000 a.C. até 476 d.C., em Roma, os deuses defendiam que os surdos eram pessoas enfeitiçadas, por isso, deveriam ser abandonados ou sacrificados. Na Grécia, as pessoas surdas eram consideradas como incapazes, ou seja, não conseguiam desenvolver nenhuma atividade, muitas vezes, eram comparadas, até mesmo, com os animais irracio- nais. Além disso, não podiam utilizar gestos para estabelecer comunicações e, quando tentavam realizar tal ação, tinham suas mãos amarradas e/ou eram penalizados por tal feito. Dentre muitos autores que compartilham dos relatos sobre os maus tratos com os surdos, na Antiguidade, Berthier (1984, p 165) chama a atenção para as atrocidades realizadas pelos espartanos: “A infortunada criança era prontamente asfixiada ou tinha sua garganta cortada ou era lançada de um precipício para dentro das ondas. Era uma traição poupar uma criatura de quem a nação nada poderia esperar”. Diferentemente, no Egito e na Pérsia os Surdos eram considerados como criatu- ras mágicas, enviadas como mensageiras pelos deuses, por isso, eram protegidos pela sociedade. Contudo, viviam sem ter maiores funções, não eram alfabetizados, pois, na visão da sociedade, eram consideradas pessoas incapazes de realizar qualquer atividade, desprovidos de inteligência, então, apenas comiam e dormiam. Na Idade Média (476-1453), não houve muita mudança com relação ao tratamento destinados aos surdos. Nesse período, eles eram considerados estranhos e, também, mui- tas vezes eram jogados na fogueira. Nessa época, outra situação que merece ser lembrada como atrocidade cometida contra a pessoa surda é a ausência de o direito legal, ou seja, ela não podia receber heranças, porque não era alfabetizada. Relatos históricos também revelam que o surdo era impedido, pela igreja católica, de frequentar missas, porque não 10UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil tinha alma, era um pecador, porque não conseguia realizar o ato da confissão como os demais cidadãos (BERTHIER, 1984). Já na Idade Moderna, entre os séculos XV e XVIII, foi um período em que aconte- ceram muitas modificações políticas, econômicas, sociais e culturais, como, por exemplo, a Expansão Marítima, o Renascimento e a Reforma Protestante, devido a todas essas modificações, a sociedade começou a olhar a situação do surdo com outros olhos. Foi a partir desse momento, de desenvolvimento cultural e científico mais especificamente, que se iniciou os estudos direcionados à anatomia humana, que as situações clínicas e edu- cacionais referentes ao surdo tiveram destaque e começaram a ser estudadas. Precursor dessas investigações, o italiano, médico e filósofo, Gerolamo Cardano (1501-1576) defen- dia que a surdo-mudez estava relacionada à fala e à audição, porém a inteligência estava preservada, então, a pessoa com essa deficiência poderia aprender a escrita. Portanto, de acordo com as acepções do referido autor, não alfabetizar esse público seria um crime social (STROBEL, 2009). Caro(a) aluno(a), a partir desses levantamentos, cabe-nos, então, salientar que es- ses fatores históricos contribuíram efetivamente para os avanços relacionados à condição do surdo no mundo. No entanto, nessa época, apenas os filhos dos nobres (pessoas que possuíam condições financeiras muito favoráveis) tinham direito à educação. Vale ressaltar que foi por esses motivos que o espanhol Pedro Ponce de Leon (1510-1584), monge, alfabetizou muitos filhos da corte espanhola e abriu a primeira escola para surdos em um monastério de Valladolid, utilizando métodos de datilografia, escrita e oralização. Posterior- mente, ele fundou uma escola para professores de surdos, contudo, não fez publicações, consequentemente seus métodos foram esquecidos. De acordo com estudos publicados sobre o assunto em questão, nesse momento os surdos que foram alfabetizados, conquis- taram o direito de receber heranças, diferentemente do que acontecia no período histórico anterior. Nas revisões de literatura sobre o assunto, Strobel (2009) constatou que, logo após tais acontecimentos, surgiram, pelos diversos cantos do mundo, outros métodos e técnicas, os quais objetivavam alfabetizar os surdos, como, por exemplo: ● 1613 - (Espanha), o Fray de Melchor Yebra publicou um manual do alfabeto denominado Refugium Infirmorum. ● 1620 - (Espanha), Juan Pablo Bonet escreveu o primeiro livro sobre a educação de surdos Reduccion de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos, com intuito de divulgar seu método oral. 11UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil ● 1644 – (Inglaterra), John Bulwer lançou Chirologia e Natural Language of the Hand (A Linguagem Natural da Mão) no qual defendeu a importância de utilizar o alfabeto manual, língua de sinais e leitura labial com os surdos. ● 1648 - (Inglaterra), John Bulwer publicou Philocopus (o Amigo do Homem Surdo e Mudo), seu objetivo foi mostrar que a língua de sinais era capaz de expressar os mesmos conceitos que a língua oral. ● 1700 - (Suíça), Johan Conrad Ammon, médico, desenvolveu e publicou método pedagógico da fala e da leitura labial: “Surdus Laquens”. ● 1741- (França), Jacob Rodrigues Pereire foi o primeiro professor de surdos no país, oralizou a sua irmã surda, utilizando o ensino de fala e de exercícios auditivos. ● 1755 - (Alemanha), Samuel Heinicke primeiro educador a desenvolver uma instrução sistemática para os surdos na Alemanha. ● 1760 (Inglaterra), Thomas Braidwood fundou a primeira escola para surdos, por meio do método orofacial, ele ensinava os significados das palavras e sua pronúncia aos surdos. Caro(a) aluno(a), neste tópico você teve acesso às informações relacionadas à história da educação de surdos nos períodos correspondentes à Idade Antiga até a Idade Média, no contexto mundial. No próximo tópico nossos olhares estarão direcionados para os fatos históricos que aconteceram desde a Idade Contemporânea, mais especificamente, a partir do século XVIII, em meados de 1789 até os dias atuais. Então, venha comigo desvendar os momentos mais relevantes, que fizeram a dife- rença para a vida das pessoas surdas!!!!! 12UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil 2 IDADE CONTEMPORÂNEA Olá, aluno(a)!!!! Neste segundo tópico da Unidade I vamos dialogar sobre os dados históricos re- lacionados à Educação de Surdos, a partir da Idade Contemporânea até os dias atuais, enfatizando os acontecimentos no Brasil, porque, no tópico anterior, nossos olhares esta- vam direcionados para os movimentos em prol da pessoa surda em outras épocas e outros lugares. Para o estudioso sobre o tema, Zeni (2005), no Brasil, foi a partir de 1835 que tiveram início os movimentos em prol do povo surdo, quando o deputado Cornélio Ferreira França apresentou à Assembleia Legislativa um projeto que tinha como objetivo disponibi- lizar um professor de ensino primário para surdos, em cada província da nação, porém sem sucesso na época. Contudo, foi somente em 1855 que houve oficialmente um movimento de ações direcionadas à educação de surdos. Nessa época, segundo reinado brasileiro, o então imperador Dom Pedro II (1825-1891)conheceu a história de José Álvares de Azevedo, por meio do médico da Câmara Imperial, o francês José Francisco Xavier Sigaud. Nas revisões de literatura sobre o assunto, Zeni (2005) revela que Azevedo, brasileiro, ficou cego com três anos e logo após mudou-se para Paris. Lá, foi alfabetizado no Institut National des Jeunes Aveugles, por meio do sistema Braille. Mais tarde, já adulto, por volta de 1850, retornou ao país de origem, Brasil, e alfabetizou a filha de José Francisco Xavier Sigaud, a Adélia. Por 13UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil conta disso, o médico imperial apresentou o professor da filha ao imperador com intuito de criar no país um instituto baseado no método francês. Então, com autorização do imperador foi criado o “Imperial Instituto dos Meninos Cegos”, o qual começou a funcionar oficial- mente, no Rio de Janeiro, a partir de 1854, por meio do Decreto nº 1.428/1854. Seguindo a linha de iniciar os trabalhos com educação para deficientes, depois da publicação da Lei nº 939/1856, em 26 de setembro, foi criado o Instituto Imperial dos Sur- dos-Mudos (BRASIL, 1857, p. 70). O início dos trabalhos nessa escola especializada foi de responsabilidade do surdo de nascença, Eduardo Huet, mestre francês, que trabalhou como professor e diretor do Instituto de Surdos-Mudos de Bourges. O educador propôs ao imperador utilizar, no Brasil, o mesmo modelo utilizado no Instituto Nacional de Paris para educar os surdos e convenceu Dom Pedro II ao revelar que o tal modelo francês proporcio- nava excelentes resultados com o público-alvo. Foi a partir disso que teve início o entrelaço entre língua de sinais francesa, utilizada na época em algumas regiões brasileiras, e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) (ZENI, 2005). Esse foi o marco inicial da educação de surdos no país. A escola funcionava em regime de internato para meninos surdos de todo o país, após alfabetizados e formados, os estudantes voltavam para suas casas e isso disseminou a língua de sinais por diversas regiões brasileiras. O sistema de ensino era composto pela língua de sinais utilizada no país juntamente com a língua de sinais francesa, uma vez que o professor Huet era francês. Além do ensino destinado aos meninos surdos, o instituto ainda tinha um programa de formação de professores, o qual ensinava a educação de surdos e a língua de sinais para que eles pudessem reproduzi-las. Atualmente, o local de ensino em questão funciona como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), um órgão do Ministério da Educação que atende alunos surdos da Educação Infantil até o Ensino Médio, além de oferecer ensino profissionalizante e estágios remunerados. Mais tarde, em 1861, o fundador do instituto voltou para sua cidade de origem. Assim, tomou posse o Frei do Carmo, o qual ficou responsável pela direção da escola. Porém, não demorou muito para ele abandonar o cargo e, então, foi substituído por Ernesto do Prado Seixa. Logo depois, em 1862, uma nova pessoa entrou para a direção, Dr. Manoel Magalhães Couto, porém, sem ter nenhuma experiência relacionada à educação de surdos, fez do então instituto apenas um asilo para surdos. Como podemos constatar, nessa época, a alfabetização dos surdos foi deixada de lado, por isso, em 1868, após denúncias, o governo demitiu o diretor oficial e colocou 14UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil outra pessoa para ficar à frente do instituto, o Sr. Tobias Leite, que assumiu a direção com a incumbência de retomar os trabalhos e direcioná-los mais especificamente à educação dos surdos. Em 1873, a partir da publicação do decreto n. 5.435, foi regulamentado o instituto até o período republicano. Ainda nesse período, o método Huet era utilizado e tinha como corpo docente dois professores de linguagem escrita, um de linguagem articulada e leitura dos lábios, um de matemática, geografia e história do Brasil, um de desenho, um médico, além de outros profissionais que cuidavam das estruturas e organizações. Mas foi somente em 1901 que o colégio foi reconhecido como Instituto Nacional de Surdos-Mudos, por meio do Decreto n. 3.964. Caro(a) aluno(a), você sabia que, como consequência dos estudos propostos pelo instituto, um ex-aluno, Flausino José da Gama, com 18 anos, publicou, em 1875, a Icono- grafia dos Signaes dos Surdos-Mudos, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil (GAMA, 1875). Um fato bastante relevante e de efeito totalmente devastador para a área edu- cacional de surdos aconteceu em 1880, em Milão – Itália. Esse evento internacional, O Congresso de Milão, marcou negativamente a educação de surdos, por todo o mundo. Nesse congresso, representantes e educadores ouvintes de 27 países participaram, exceto o Brasil, tinham como objetivo primordial extinguir definitivamente a língua de sinais e inserir a metodologia oralista na educação de surdos. De acordo com alguns historiadores, eles defendiam o oralismo, porque, segundo eles, apenas a minoria se comunicava por sinais, então o mais viável seria alfabetizar os surdos por meio da oralização, método comunicati- vo universal da época. Assim, por meio de oito resoluções, conseguiram autorização para proibir a utilização da língua de sinais em instituições educacionais. Aluno(a), vamos conhecer melhor quais são as oito resoluções do Congresso de Milão? (EIJI, s.d.): ● 1ª - Atestou a superioridade da articulação, declarando ser esta a melhor forma de reinserção das pessoas surdas à sociedade e ser o método oral o melhor na educação de pessoas surdas. ● 2ª - Afirmou que o uso simultâneo dos gestos e da oralidade prejudica a leitura labial e a articulação das pessoas surdas, declarando que um método puramen- te oral deveria ser adotado. ● 3ª - Considerou o enorme número de pessoas surdas não instruídas e que nem sempre as famílias e instituições eram capazes de suprir essa necessidade, 15UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil estabelecendo, então, que é dever do governo assegurar que essas pessoas sejam educadas. A resolução foi aprovada por unanimidade. ● 4ª - Definiu que a melhor maneira de ensinar as pessoas surdas seria através de um método intuitivo, usando a associação da fala com palavras escritas, expondo as crianças desde cedo a livros e à gramática da língua escrita. ● 5ª - Alegou falta de livros didáticos suficientes para esses propósitos, declarando que é dever dos professores do sistema oral desenvolver e publicar os materiais necessários. ● 6ª - Baseou-se nos resultados de estudos com pessoas surdas que já não estavam mais na escola e declarou que essas pessoas não perderam suas habilidades de fala e leitura labial, mas sim as aprimoraram através da prática e leitura. Sendo assim, ficou definido que pessoas surdas devem comunicar-se usando apenas a fala. ● 7ª - Levou em consideração as necessidades especiais do ensino de pessoas surdas e recomendou a idade dos oito a dez anos como a melhor época para que as crianças surdas comecem sua vida escolar. Estabelece também que a educação dessas crianças deve durar de sete a oito anos, e que as classes devem ter até dez alunos. ● 8ª - Estabeleceu uma mudança gradual no método de ensino de instituições que faziam uso da língua de sinais, eliminando pouco a pouco o ensino por meio das línguas de sinais e implementando o método oral. Após tal determinação, o oralismo passou a ser a língua oficial para educar os surdos em todos os países europeus e também nos Estados Unidos, durante o século XIX e um bom período do século XX. Consequentemente, o Brasil também aderiu à determinação do Congresso de Milão (ZENI, 2005). De acordo com a proposta educacional vigente na época, aqueles surdos que eram educadores e se comunicavam pela língua de sinais, não poderiam mais desenvolvertal prática, como também era terminantemente proibida a comunicação por meio de gestos por qualquer aluno e/ou funcionário da escola. Além disso, sugeriram que as famílias também não praticassem esse tipo de comunicação no ambiente familiar. Esse decreto perdurou por muitos e muitos anos. Em 1929, no estado de São Paulo, foi fundado o Instituto Santa Terezinha, dire- cionado apenas para meninas, em regime de internato. Após alguns anos, foi concedida a 16UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil participação de ambos os sexos. Inicialmente, o método francês era utilizado para o ensino, após o congresso de Milão, o Brasil aderiu ao movimento do oralismo (CAMPELLO, 2008). Mais tarde, já em 1930, no Rio de Janeiro, ex-alunos do INES fundaram a As- sociação Brasileira de Surdos-Mudos, porém não obteve muito sucesso e foi desativada posteriormente. Muito tempo depois, em 1957, a partir da promulgação da Lei nº 3.198, houve mu- dança de nome e o referido instituto passou a chamar-se “Instituto Nacional de Educação dos Surdos” (INES) e estava sob direção de Ana Rímola de Faria Daoria, que tinha como assessora a professora Alpia Couto. Nesse momento, elas ainda determinavam a proibição da língua de sinais, oficialmente, nas salas de aula. No entanto, os alunos descumpriam as regras e utilizavam a LIBRAS para estabelecer comunicação entre eles, dentro da escola, pelos corredores e pátios, mas fora da sala de aula (CAMPELLO, 2008). Já em 1961, houve, no Rio de Janeiro, o lançamento do interessante livro Até onde vai o Surdo, pelo autor Jorge Sérgio L. Guimarães. A obra relatou, em forma de crônicas, as experiências diárias do autor como cidadão surdo. Alguns anos mais tarde, em 1977, tiveram início as atividades da Federação Na- cional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA), que era dirigida por pessoas ouvintes envolvidas com a problemática da surdez, como por exemplo, a professora Álpia Couto e a professora Rosita Edler, mas não durou muito e foi fechada. No final da década de 80, em 1987, na mesma cidade, houve uma reestruturação da já extinta FENEIDA e, então, foi fundada a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), uma instituição educacional, não-governamental, filantrópica, sem fins lucrativos, que atua até os dias atuais em prol dos surdos brasileiros. Dentre muitos trabalhos desenvolvidos, o destaque vai para ações relacionadas ao direito à inclusão de profissionais surdos no mercado de trabalho (CAMPELLO, 2008). O Rio de Janeiro, até hoje, é considerado o berço da educação de surdos no Brasil, isso se justifica porque, por muito tempo, o estado foi a capital do país e muito do que foi conquistado teve início lá. Ainda na década de 80, na Federal do RJ, foi criado o primeiro grupo de estudo linguísticos da LIBRAS, liderado pela linguista Lucinda Ferreira de Brito. No país, entre as décadas de 1980 até meados dos anos 90, houve a volta do uso dos sinais, uma metodologia educacional que foi denominada de Comunicação Total (CAMPELLO, 2008). Já em 1994, no mês setembro, como a LIBRAS estava em ascensão como meio de comunicação do surdo, aconteceu um evento muito importante – Marcha Surdos Vencere- 17UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil mos – em reivindicação ao reconhecimento da língua brasileira de sinais e o provimento de intérpretes em espaços públicos. As reivindicações desse movimento foram conquistadas posteriormente por meio da Lei. 10.436/2002 (CAMPELLO, 2008). Então, de acordo com o exposto, foi somente no final do século XX, início dos anos 2000, que se iniciaram as conquistas com as publicações dos instrumentos legais mais relevantes para a educação de surdos, no Brasil. Acadêmico(a), espero que tenha conseguido entender a história da educação de surdos por meio desse breve panorama histórico apresentado. Com o intuito de adquirirmos mais conhecimentos sobre o assunto em questão na contemporaneidade, no tópico posterior vamos entender melhor quais são as leis federais que regem a educação de surdos, acessibilidade e inclusão social. Vamos lá!!!!! 18UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil 3 LEGISLAÇÃO NACIONAL E ESTADUAL, ACESSIBILIDADE E A ERA DA INCLUSÃO Caro(a) aluno(a), neste tópico 3, da Unidade I, lanço inicialmente uma pergunta: Como seria para você uma vida sem sons? Som nenhum!!! Essa é a realidade de diversas pessoas surdas. Segundo os dados estatísticos divulgado pelo Instituto Locomotiva (2019), a população brasileira é composta por mais de 10 milhões de pessoas surdas, que enfrentam todos os dias barreiras e desa- fios para serem incluídas efetivamente nos meios sociais. Para conhecermos melhor as conquistas da comunidade surda no Brasil, bem como os obstáculos que ainda precisam enfrentar, faz-se necessário tecer um diálogo sobre os documentos oficiais vigentes. Então, vamos nos debruçar nas acepções das Leis e Decretos Federais sobre LIBRAS, acessibilidade e a era da inclusão. Acadêmico(a), conforme mencionado anteriormente, foi somente a partir do ano 2000 que tivemos o início das publicações oficiais em prol da comunidade surda brasileira. Então, para um melhor entendimento dos fatos, vamos apresentá-los em uma sequência cronológica: 19UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil 2000 - Lei nº 10.098 - Janela de libras na televisão: uma conquista de acessibi- lidade na comunicação - Capítulo VII - Da Acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização (BRASIL, 2000). Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. Art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sen- sorial e com dificuldade de comunicação. Art. 19. Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo previstos em regulamento. 2002 – Lei nº 10.436 - Reconhecimento da Libras: dispõe sobre a Língua Brasi- leira de Sinais - Libras e dá outras providências (BRASIL, 2002): Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natu- reza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comuni- cação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursosde formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Li- bras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. 2005 - Decreto nº 5.626 - Regulamenta a Lei nº 10.436: Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras: Cap. I, Art. 2º: Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (BRASIL, 2005). Cap. II - da inclusão da Libras como disciplina curricular - Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de 20UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2005). 2008 – Lei nº 11.796 - Institui o Dia Nacional dos Surdos: “Art. 1º Fica instituído o dia 26 de setembro de cada ano como o Dia Nacional dos Surdos” (BRASIL, 2008). 2010 - Lei nº 12.319 - Profissão de Tradutor e Intérprete Libras: Profissão de Tradutor e Intérprete Libras: Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa (BRASIL, 2010). 2013 - Lei nº 5016 - Estabelece diretrizes e parâmetros para o desenvolvimento de políticas públicas educacionais voltadas à educação bilíngue para surdos: Art. 1º Parágrafo único. Para a educação bilíngue para surdos são utilizadas a Língua Brasileira de Sinais – Libras, como primeira língua, e a língua portu- guesa escrita, como segunda língua, sendo estas as línguas de comunicação e de instrução das atividades escolares para o ensino de todas as disciplinas curriculares, em todos os níveis da educação básica. Art. 2º O desenvolvimento das políticas públicas educacionais de que trata o art. 1º deve ser realizado por meio de escola pública bilíngue de Libras e língua portuguesa escrita, em que devem ser ministradas todas as disciplinas curriculares, em todos os níveis da educação básica, e é assegurado de acordo com as seguintes diretrizes: I – garantir a criação da Escola Pública Integral Bilíngue Libras e Português Escrito no Distrito Federal; II – oferecer comunicação em Libras e ensino de Libras, como primeira língua, e comu- nicação em português escrito e ensino de português escrito, como segunda língua (BRASIL, 2013). 2014 - Lei nº 13.055- Institui o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS): Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência: “Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a ser comemorado no dia 24 de abril de cada ano” (BRASIL, 2014). 2018 - Decreto nº 9.656 - Altera o Decreto nº 5.626 que regulamenta a Lei nº 10.436: sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras. Art. 1º O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 26. O Poder Público, as empresas concessioná- rias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, deverão garantir às pessoas surdas ou com deficiência auditiva o seu efetivo e amplo atendimento, por meio do uso e da difusão da Libras e da tradução e da interpretação de Libras - Língua Portuguesa. 21UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil § 1º Para garantir a difusão da Libras, as instituições de que trata o caput de- verão dispor de, no mínimo, cinco por cento de servidores, funcionários ou empregados com capacitação básica em Libras. § 2º Para garantir o efetivo e amplo atendimento das pessoas surdas ou com deficiência auditiva, o Poder Público, as empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos e os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, poderão utilizar intérpretes contratados especifica- mente para essa função ou central de intermediação de comunicação que garanta a oferta de atendimento presencial ou remoto, com intermediação por meio de recursos de videoconferência on-line e webchat, à pessoa surda ou com deficiência auditiva (BRASIL, 2018). Caro(a) aluno(a), de acordo com o que foi exposto, no Brasil, nas últimas décadas, diversas leis foram criadas em prol dos deficientes auditivos. Com o intuito de auxiliar a construção do seu conhecimento sobre o assunto, vamos dialogar sobre a importância de tais conquistas: ● LIBRAS: reconhecida como língua oficial da comunidade surda do Brasil - um verdadeiro empoderamento. Dentre muitos favorecimentos, possibilitou a inser- ção no mercado de trabalho; ● Acessibilidade comunicativa para os surdos: acessibilidade em sites; Janelas de Libras em programas de TV; Acessibilidade no teatro – um grande avanço de acesso aos diversos meios de comunicação, o que promoveu a possibilidade de maior participação social; ● Obrigatoriedade da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores de nível médio e superior – valorização da LIBRAS no contexto educacional; ● Cursos de LIBRAS de até 180 horas – possibilitou a disseminação da língua; ● Obrigatoriedade de tradutores e intérpretes para professores de instituições fe- derais e locais públicos – fortaleceu a língua e favoreceu a prática comunicativa por meio da LIBRAS; ● Aumento do número de universidades que oferecem vagas ao surdo – aumento desse público em diversas áreas do conhecimento e nos mais diversos seg- mentos mercadológicos; ● Professores surdos (mestres, doutores e pós-doutores) atuando efetivamente nas faculdades, isso corrobora para disseminação de pesquisas e o rompimento de barreiras preconceituosas que perpetuaram por longos anos. ● Aplicativos de tecnologia assistiva que faz a tradução da língua portuguesa para LIBRAS – otimiza os processos de comunicação e acesso à qualificação profissional de pessoas com deficiência auditiva/surdas. ● A prova do Enem traduzida para a Língua de Sinais – isso reafirma o compro- misso social de disseminação da LIBRAS. 22UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil Contudo, muitas dessas diretrizes propostas nas Políticas Públicas não são pra- ticadas pela população e, consequentemente, as pessoas que necessitam de tais ações ficam à margem. Elas almejam que as pessoas realizem o cumprimento dessas leis vi- gentes, colocando em prática as ações propostas para que a inclusão social aconteça de maneira efetiva. Além disso, é válido ressaltar que os profissionais que atuam em escolas, como também nos mais diversos setores, não possuem qualificação para exercer essa comu- nicação, ou seja, não sabem lidar com a inclusão de surdos efetivamente, por falta de preparo, leia-se, falta de conhecimento para praticar a LIBRAS. As diretrizes apontam que, nas repartições públicas, pelo menos 75% dos colaboradores precisam ter feito o curso de libras e ainda, 5% desses funcionários têm que ter habilidade para atender o público em questão por meio da comunicação em LIBRAS. Porém essa não é uma realidade e sim uma deficiência social. Nesse sentido, para que haja profissionaishabilitados, entende-se que o professor de LIBRAS precisa estar inserido efetivamente em outros cursos superiores além dos cursos de licenciatura, como, por exemplo, nas áreas de exatas, tecnológicas e saúde, ensinando os futuros profissionais, para que eles consigam exercer sua profissão de maneira bilíngue, sem excluir a comunidade surda. Então, para conhecermos melhor os caminhos trilhados pela educação de surdos no Brasil, na próxima Unidade conversaremos mais sobre as interlocuções do atendimento especializado com o ensino regular para alunos surdos. REFLITA Caro(a) aluno(a), A partir da leitura dos textos propostos, reflita sobre: O efeito do “EVENTO DE MILÃO” para educação de surdos no Brasil. 23UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil SAIBA MAIS ● Congresso de Milão: essa HQ bilíngue para surdos retrata a opressão sofrida mun- dialmente pela comunidade surda desde que o “Congresso de Milão” (1880) proibiu as línguas de sinais. Na história, o personagem Marcelo, surdo sinalizante de língua brasileira de sinais (LIBRAS), demonstra que a forma de conceber o mundo está nos olhos de quem vê e evidencia a dificuldade de comunicação pela modalidade oral e suas línguas dominantes. Marcelo encontra em um shopping uma colega ouvinte que se comunica em LIBRAS. Ela o leva para uma palestra que irá contar sobre esse período de opressão vivido pelos surdos. O personagem Marcelo perpassa as principais épocas históricas até retornar aos tempos atuais. Ao final, ele destaca a importância de se comunicar pela língua de sinais, visto que é por meio dela que a comunidade surda tem o conhecimento em suas mãos. Dê um click para saber mais: CEZAR, K. P. L.; ALMEIDA, L. G. P. de. O congresso de Milão. Araraquara: Letraria, 2018. Disponível em: https://www.letraria.net/o-congresso-de-milao/. ● Impacto do Congresso de Milão sobre a Língua dos Sinais: o Congresso de Milão aconteceu em 1880. Reunia os intelectuais da época em um evento que teria consequências terríveis para as comunidades surdas do mundo todo. Nessa oca- sião, ficou demonstrado que os surdos não tinham problemas fisiológicos em relação ao aparelho fonador e emissão de voz, fato esse que derivou a premissa básica: os surdos não têm problemas para falar. Baseando-se nessa premissa, a comunidade científica da época impôs que as línguas de sinais ou linguagem gestual, conforme eram conhecidas, fossem definitivamente banidas das práticas educacionais e so- ciais dos surdos. Adotou-se o método de oralização. Dê um click para saber mais: BAALBAKI, A.; CALDAS, B. Impacto do Congresso de Milão Sobre a Língua dos Sinais. Cadernos do CNLF, Rio de Janeiro: CiFEFiL, v. XV, n. 5, t. 2., 2011, p. 1885- 1895. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/156.pdf. https://www.letraria.net/o-congresso-de-milao/ http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/156.pdf 24UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil CONSIDERAÇÕES FINAIS Acadêmico(a), Chegamos ao final da primeira unidade desta disciplina, na qual dialogamos sobre o percurso histórico da educação de surdos e, ainda, sobre as legislações relacionadas à acessibilidade e a era da inclusão. Nesse momento, desejo ressaltar que vivemos em uma sociedade 4.0, totalmente tecnológica e a disseminação de conteúdos informativos de maneira quase que imediata proporcionou mudanças de paradigmas sociais. Consequentemente, tivemos um aumento de publicação de Políticas Públicas nos últimos anos, que favorecem os deficientes auditi- vos e surdos. O reconhecimento da LIBRAS como segunda língua oficial do país foi um avanço importantíssimo, pois ela é essencial para todos aqueles que possuem tal limitação, mas desejam viver em sociedade. Além do público-alvo, aqueles que atuam como educadores, as famílias de pessoas surdas também foram favorecidas, uma vez que isso possibilita a comunicação entre pessoas deficientes e ouvintes em diversos contextos sociais, minimi- zando as dificuldades comunicativas. Contudo, sabemos que muitas diretrizes não são praticadas, como exemplo po- demos destacar a falta de acessibilidade aos diversos serviços públicos, o que gera uma insatisfação à sociedade surda, pois é direito de todos os cidadãos a comunicação social. Vale ressaltar, nesse período de pandemia, a dificuldade encontrada pelos surdos nos hospitais, porque não há profissionais preparados para atendê-los, situação essa que está na contramão das diretrizes propostas pelo Governo Federal. Para finalizar, saliento que os conteúdos aqui apresentados foram disponibilizados com o intuito de oportunizar novos conhecimentos, além de favorecer o entendimento sobre as questões sociais e políticas relacionadas à comunidade surda. Nos encontraremos na Unidade II para ampliarmos nossos diálogos sobre o assun- to em questão: “Atendimento Educacional de Aluno com surdez”. Um abraço!!!!! 25UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil LEITURA COMPLEMENTAR Ambiente de Ensino-Aprendizagem da LIBRAS: o AEE para alunos surdos Nesse artigo científico, o autor objetivou sumarizar a concepção teórica do Bilinguis- mo sobre o ensino da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no Atendimento Educacional Especializado (AEE), problematizando a maneira como esse atendimento torna-se linguís- tico e pedagogicamente adequado ao ensino de LIBRAS para alunos surdos, segundo os documentos oficiais e a literatura da área. O autor justificou a escolha de tal temática pela urgente necessidade de propostas linguístico-pedagógicas que garantam a aprendizagem da língua de sinais para aqueles que nasceram em um ambiente desfavorável à aquisição da LIBRAS como primeira língua. O estudo foi dividido em quatro seções: a apresentação da LIBRAS; o processo de aquisição de linguagem por crianças surdas; a natureza e as características do AEE; e o ensino da LIBRAS no AEE. Segundo o autor, os resultados obtidos da pesquisa bibliográfica apontam para o ensino de LIBRAS e em LIBRAS como momentos didático-pedagógicos diferentes, emba- sados na abordagem da educação bilíngue ou bilinguismo. Dê um click para ler o texto na íntegra: SANTOS, W. de J. Ambiente de Ensino-Aprendizagem da LIBRAS: o AEE para alunos surdos. Revista Vir- tual de Cultura Surda, ed. 11, jun. 2013. Disponível em: http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/ userfiles/files/3)%20Santos%20REVISTA%2011.pdf http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/3)%20Santos%20REVISTA%2011.pdf http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/3)%20Santos%20REVISTA%2011.pdf 26UNIDADE I História da Educação de Surdos no Brasil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer? • Autor: Maria Teresa Mantoan • Editora: Sumus Editorial • Sinopse: De maneira clara e didática, a autora, uma das maiores especialistas em inclusão escolar no país, explica o que é educa- ção inclusiva, discute os passos necessários para implantá-la e ressalta o que a sociedade ganha com esse processo. Uma obra essencial para os pais e educadores. FILME/VÍDEO • Título. Sou surda e não sabia • Ano. 2009 • Sinopse. Sandrine, por muito tempo, não sabia que era surda, era é filha de pais ouvintes, porém surda de nascença. Frequentou a escola regular, e somente depois foi diagnosticada. Esse docu- mentário olha para a questão a partir de dentro, pela perspectiva de Sandrine e sua história verídica. Paralelamente ao relato da autonomia conquistada com a Língua de Sinais, o filme levanta a discussão sobre a conveniência do implante coclear e da oralização de crianças surdas (retirado do site do festival Assim Vivemos). O filme documental Sou surda e não sabia traz interessantes refle- xões sobre temas atuais, como educação de surdos, inclusão e luta por direitos. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc WEB • A primeira webTVem Libras, com legendas e locução, uma par- ceria do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP). • Link do site. http://tvines.org.br/ https://www.youtube.com/watch?v=Vw364_Oi4xc http://tvines.org.br/ 27 Plano de Estudo: - Fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do atendimento especializado. - Institucionalização do atendimento especializado no projeto político pedagógico. - Atividades de Vida Diária do aluno com deficiência auditiva. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar os Fundamentos Teóricos, Legais e Pedagógicos do Atendimento Especializado. • Compreender a efetivação do atendimento educacional especializado no ensino regular. • Estabelecer a importância do bilinguismo no contexto educacional para a comunidade surda. UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 28UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos INTRODUÇÃO Olá, aluno(a)! Estamos iniciando a Unidade II, denominada de “Interlocução do atendimento especializado com o ensino regular para surdos”, que estruturalmente está organizada em três tópicos que dialogam entre si. Estudar sobre a educação escolar do aluno com surdez faz-se necessário, uma vez que é uma realidade que todos os educadores estão vivenciando, e um enorme desafio. Entende-se, segundo as diretrizes oficiais vigentes, que todos os profissionais inseridos no contexto educacional, precisam abraçar a inclusão, sem restrições e ainda incondicionalmente. No entanto, muitos desses profissionais não possuem conhecimen- tos, nem mesmo habilidades para desenvolver tal prática. Então, é primordial a busca incessante por novos conhecimentos que proporcionem o desenvolvimento de trabalhos pedagógicos de excelência, que realmente incluíam o surdo e/ou o deficiente auditivo no contexto educacional e não apenas no espaço físico da sala de aula comum. Para auxiliá-lo nessa seara, no primeiro tópico, “Fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do atendimento especializado”, vamos averiguar quais são as acepções dos aspectos legais, como, por exemplo, leis e decretos relacionados à Educação Especial e ao Atendimento Educacional Especializado. Na sequência, no segundo tópico, “Institucionalização do atendimento especia- lizado no projeto político pedagógico”, nosso diálogo permeará mais especificamente as orientações oficiais sobre como deve ser organizado e estruturado o Atendimento Edu- cacional Especializado para uma pessoa com surdez, como também o deficiente auditivo. No terceiro e último tópico, “Atividades de Vida Diária do aluno com deficiência auditiva”, entenderemos que a educação não está relacionada apenas aos conteúdos estruturantes e acadêmicos, vai muito além disso, associa-se aos mais diversos contextos sociais. Para finalizar e ampliar seus conhecimentos, no final dos tópicos você encontrará a seção #saiba mais#, com sugestões de leituras, além de dicas de filmes e livros! Encontro você, lá!!! 29UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos 1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS, LEGAIS E PEDAGÓGICOS DO ATENDIMENTO ESPE- CIALIZADO Olá, aluno(a)! Neste primeiro tópico da Unidade II, nosso diálogo será sobre os “Fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do atendimento especializado”. Nosso objetivo, primeiramente, será apresentar o conceito de aprendizagem e de dificuldades de aprendizagem para ilustrar o quão importante é o Atendimento Educacional Especializado para que o aluno aprenda, sem que haja maiores problemas oriundos da falta de habilidade profissional e também estrutural. Na sequência, nosso objetivo será entender quais foram os marcos históricos e as legislações publicadas referentes ao Atendimento Educacional Especializado. Para finalizar esse tópico vamos refletir sobre a efetivação desse atendimento na escola regular de ensino. Caro(a) acadêmico(a), você sabe o que é dificuldades de aprendizagem? Refletir sobre esse assunto vem ao encontro da necessidade de ter um profis- sional especializado para a mediação com alunos que necessitam de apoio pedagógico especializado, com intuito de combater o fracasso escolar. Além disso, dialogar sobre as dificuldades de aprendizagem justifica-se por ser um tema que preocupa todos os profissio- nais envolvidos num processo de educação com alunos que possuem alguma deficiência, como, por exemplo, a auditiva e/ou surdez propriamente dita. 30UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos Nesse sentido, saber como o aluno aprende e constrói seu conhecimento e, ainda, compreender as relações dele com a escola contribui para o esclarecimento dos processos da aprendizagem, proporcionado condições para superação das dificuldades quando iden- tificadas, favorecendo uma melhora no rendimento escolar. É válido ressaltar que o resultado do aproveitamento escolar é influenciado por diversos aspectos, como, por exemplo, os afetivos, os cognitivos e os relacionados ao funcionamento da instituição escolar. Em particular, no caso de alunos com deficiência auditiva, as adaptações pedagógicas e estruturais são de extrema necessidade para con- quista de resultados positivos. Especialistas no assunto, por exemplo, Fonseca (1995), defendem que há diferen- ças entre dificuldade de aprendizagem “sintoma” e dificuldade de aprendizagem “reativa”. A primeira é causada por problemas afetivos e/ou cognitivo do aluno. Já a segun- da tem sua origem em problemas relacionados à instituição escolar, como, por exemplo, desadaptação, dificuldades na relação com o professor ou com a metodologia utilizada para ensinar. Em particular, no caso do aluno, público-alvo dessa disciplina, a exclusão social, como também o preconceito linguístico, favorece o desenvolvimento de tal dificul- dade. Muitas vezes, o aluno não entende o conteúdo ministrado, porque não consegue estabelecer uma comunicação eficaz com o professor, por isso não faz perguntas, o que gera problemas no aprendizado, leia-se, também dificuldade de aprendizagem. Por isso, justifica-se a necessidade de atendimento educacional especializado e personalizado para atender aos alunos com deficiências. As acepções de Feuerstein (1980) corroboram com o diálogo anterior, porque, para ele, a aprendizagem é um processo que inclui a construção do aprendiz e a interação, entendida como a participação de um mediador humano, que se interpõe entre o sujeito e o conhecimento. Aluno(a), para avançarmos no conteúdo proposto para esse tópico, vamos enten- der o que é aprendizagem? Várias teorias têm sido discutidas para esclarecer sobre o que vem a ser, ou mesmo o que se entende por “aprendizagem”. Mas, neste momento, o enfoque teórico abordado será de acordo com a teoria de Feuerstein, todavia, essa assemelha-se aos pensamentos de Vygotsky. Caro(a) aluno(a), para que haja melhor entendimento sobre o assunto, é importante relembrar alguns conceitos do psicólogo russo Vygotsky. O referido autor defendeu a impor- 31UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos tância da função mediadora no processo de aquisição do conhecimento. Segundo Vygotsky (1989), os processos cognitivos podem ser divididos em dois níveis: ● Processos cognitivos inferiores ou no plano natural: tipos de conhecimento que ocorrem de uma forma imediata, sem mediação. Esses processos naturais seguem o ritmo da maturação; ● Processos cognitivos superiores ou mediados: formas de conhecimentos que indicam ocorrência de interações sociais e culturais entre indivíduos em desen- volvimento e indivíduos mediadores. De acordo com o que foiexposto, é possível traçar conceitos paralelos entre a teoria de Vygotsky (1989) e de Feuerstein (1980), pois ambos defendem a teoria da inter- nalização, somando-se a isso o processo mediador na construção da inteligência. Feuerstein é um psicólogo-pesquisador israelita que vem se destacando mundial- mente pelo método desenvolvido para o trabalho com crianças deficientes. Ele acrescentou algo a mais à teoria de Vygotsky, uma vez que, para ele, a mediação representa a cultura. Porém, não é somente a sociedade que automaticamente veicula os conceitos, eles pre- cisam ser transmitidos por instituições formais ou informais: por formais entende-se que sejam a igreja, a escola etc. Por outro lado, como instituições informais temos os pais, irmãos, amigos etc. Assim, infere-se que toda a aprendizagem deve ser coerente com o nível de de- senvolvimento da criança, ou seja, existe uma relação entre determinado nível de desen- volvimento e a capacidade potencial de aprendizagem. Dessa forma, para Vygotsky (1989), existem dois níveis no desenvolvimento da criança: ● O nível do desenvolvimento atual da criança: nível de desenvolvimento das funções psicointelectuais da criança que se conseguiu como resultado de um processo específico de desenvolvimento já realizado. Ou seja, é aquilo que a criança realiza com autonomia; sem ajuda de um ser mais desenvolvido; ● A zona do desenvolvimento potencial: a diferença entre o nível das tarefas realizáveis com o auxílio dos adultos e o nível das tarefas que podem desen- volver-se com uma atividade independente, define a área de desenvolvimento potencial da criança. Na visão de Feuerstein (1980), o desenvolvimento cognitivo é decorrente de duas formas de interação da criança com o seu meio, pois ela aprende e se desenvolve com 32UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos assimilação e processamento direto dos estímulos existentes, como também, aprende através de mediação cognitiva significativa. Esta, por sua vez, tem ênfase na teoria do autor, porque, para ele, caso a mediação seja feita de forma errônea, ou ainda não exista na vida de uma criança com grau representativo, pode causar sérios danos, gerando, assim, dificuldades de aprendizagem. Por isso, novamente, a importância do atendimento educacional especializado é maximizada. Contudo, há de se destacar que o profissional responsável, nesse espaço especializado, precisa ter habilidade e competências, pois, do contrário, causará diversos problemas que aumentarão o fracasso escolar desse público. Consoante a esse diálogo, é possível verificar a acentuação do papel mediador, no espaço especializado para o desenvolvimento cognitivo da criança. Mas, novamente, é ressaltada a ideia de que a “aprendizagem adequada” depende extremamente da qualidade da “aprendizagem mediada”, do contrário, um resultado negativo acontecerá, oriundo de tal mediação. Portanto, Feuerstein (1980) diferencia causas determinantes diretas e indiretas dos problemas de aprendizagem. As indiretas são influências do meio, normas sociais etc. Já as determinantes diretas são as estratégias de mediação intencional no processo de aprendizagem, uma vez que, quando mal mediada ou a escassez dessa mediação, resulta em desempenho insatisfatório. Acadêmico(a), você conseguiu compreender o quão necessário se faz um atendi- mento especializado proporcionando por um profissional realmente qualificado e preparado para exercer tal função? E as dificuldades de aprendizagem, o que são? São muitos os alunos que apre- sentam tais sintomas? Como sabemos, os dados estatísticos apontam para muitos alunos, os quais pos- suem características que requerem atenção educacional diferenciada e especializadas, porque foram diagnosticados com algum tipo de dificuldade de aprendizagem, muitas vezes resultantes de alguma deficiência apresentada. No Brasil, as Políticas de Educação Inclusiva entendem como público inclusivo, segundo a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), ratificada no Brasil em forma de Emenda Constitucional, por meio do Decreto Legislativo nº 186/2008 e do Decreto nº 6.949/2009,: ● Necessidades Educacionais Especiais (NEES): ● Transtornos Globais do desenvolvimento; 33UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos ● Transtornos Específicos do Desenvolvimento ● Distúrbios de aprendizagem; ● Altas Habilidades/Superdotação. No processo de educação escolar há inúmeras situações problemáticas, muitas vezes por falta de adequação e propostas pedagógicas personalizadas para atender às crianças com necessidades especiais, o que, consequentemente, ocasiona certos tipos de Dificuldades de Aprendizagem (DA). Elas manifestam-se nas crianças sob várias formas, ocasionando baixo desempenho e fracasso escolar. Portanto, refletir sobre esse assunto vem ao encontro a necessidade de se ter um profissional especializado para a mediação com esses alunos, combatendo o fracasso escolar, conforme comentado anteriormente. Mas, o que vem a ser Dificuldades de Aprendizagem? O termo dificuldades de aprendizagem engloba um grupo heterogêneo de transtornos, manifestando-se por meio de atrasos ou dificuldades em leitura, escrita, soletração e cálculo, em pessoas com inteligência potencialmente normal ou superior e sem deficiências visuais, auditivas, motoras, ou desvan- tagens culturais (SISTO, 2002. p. 33). Assunção e Coelho (1990) também ressaltam a existência de inúmeros fatores como desencadeadores dos problemas ou distúrbios de aprendizagem, entre eles: or- gânicos, psicológicos e fatores ambientais. Para as autoras podem ocorrer distúrbios no processo de aprendizagem, destacando quatro situações: = condicionados pela escola: pelo professor, pela relação professor-aluno, pela relação entre alunos e pelos métodos didáticos; = condicionados pela situação familiar; = condicionados por características da personalidade; = condicionados por dificuldades de educação. Nesse sentido, Assunção e Coelho (1990) defendem um atendimento especializado que auxilie as crianças, professores e familiares no sistema educacional brasileiro privile- giando currículos coerentes, instalando orientação educacional, psicológica e pedagógica, de forma a adequar o programa e os métodos. As discussões apresentadas sobre o proces- so de aprendizagem com ênfase nas DAs apontam para a necessidade de iniciativas que enfatizem novas metodologias de ensino, com intuito de evitarem o fracasso educacional com crianças que necessitam de atendimento educacional especializado. Visto isso, faz-se 34UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos necessário conhecer e dialogar sobre as legislações vigentes referentes ao atendimento educacional especializado. Caro(a) Acadêmico(a), até agora dialogamos sobre o processo de aprendizagem e as dificuldades de aprendizagem apresentadas, com o objetivo de ilustrar a importância do atendimento especializado de excelência no contexto escolar. A partir de agora, vamos dialogar sobre os marcos históricos e normativos referen- tes ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). Para tanto, vamos apresentá-los em ordem cronológica: ● Em 1973, o MEC criou o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação. ● Em 1988, segundo a Constituição Federal, no Art.3º, inciso IV, todos têm di- reito à educação e ao acesso à escola. Nesse sentido, toda escola precisa atender aos princípiosconstitucionais, portanto, não podendo haver nenhum tipo de exclusão por razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou ausência dela. Já no seu artigo 206, inciso I, estabeleceu a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208) (BRASIL, 1988). ● Em 1990, foi publicada a Lei nº 8.069, sobre o Estatuto da Criança e do Adoles- cente (ECA). O artigo 5º reforçou os dispositivos legais supracitados ao deter- minar a obrigatoriedade dos pais e/ou responsáveis matricularem seus filhos na rede regular de ensino (BRASIL, 1990). ● Ainda na década de 90, a Declaração Mundial de Educação para Todos e a Declaração de Salamanca (1994) influenciaram a formulação das políticas pú- blicas da educação inclusiva (MENEZES; SANTOS, 2001). ● Em 1994, a UNESCO realizou a Conferência Mundial de Necessidades Educati- vas Especiais: Acesso e Qualidade, na qual propôs a discussão, problematizando as causas da exclusão escolar. Assim, o documento Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais proclamaram que as escolas comuns representam o meio mais eficaz para combater as atitudes discriminatórias. (BRASIL, 1994). 35UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos ● Em 1994, o Brasil publicou a Política Nacional de Educação Especial, orientan- do o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “[...] possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os estudantes ditos normais”, mas mantém a responsabili- dade da educação desses estudantes exclusivamente no âmbito da educação especial (BRASIL, 1994). ● Em 1996, a LDB nº 9.394, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade es- pecífica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências (BRASIL, 1996). ● Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a qual define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino e enfatiza a atuação complementar da educação es- pecial ao ensino regular (BRASIL, 1989). ● Em, 2001, acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB nº 2, no artigo 2º, determina que: “Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos edu- candos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, 2001)” (BRASIL, 2001a). ● Em 2001, O PNE, Lei nº 10.172, estabeleceu objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2001). ● Em 2004, o Ministério Público Federal publicou o documento O Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, objetivando disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, rea- firmando o direito e os benefícios da escolarização de estudantes com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular (BRASIL, 2004b). 36UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos ● Em 2005, o Decreto nº 5.626, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando o acesso à escola aos estudantes surdos, dispõe sobre a inclusão da LIBRAS como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor de LIBRAS, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para estudantes surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular (BRASIL, 2005). ● Em 2006, o MEC implementou o Programa Educação Inclusiva: direito à diversi- dade, com vistas a apoiar a transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos (BRASIL, 2006b). ● Em 2007, pelo Decreto nº 6.094 foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), implementado e tendo como eixos a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, dentre outros objetivos. Estabeleceu também as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do de- senvolvimento e altas habilidades/superdotação, fortalecendo seu ingresso nas escolas públicas (BRASIL, 2007). ● A Resolução CNE/CEB nº 4/2009, institui Diretrizes Operacionais para o Aten- dimento Educacional Especializado na Educação Básica, dispondo, no art. 3º, que a educação especial se realiza em todos os níveis, etapas e modalidades, tendo esse atendimento como parte integrante do processo educacional (BRA- SIL, 2009). ● Em 2010, foi lançado o Decreto n° 7.084, o qual dispõe sobre os programas nacionais de materiais didáticos. No artigo 28 salienta que o Ministério da Edu- cação (MEC) adotará mecanismos para promoção da acessibilidade nos pro- gramas de material didático destinados aos estudantes da educação especial e professores das escolas de educação básica públicas (BRASIL, 2010a). ● Em 2014, a Lei nº 13.005, subsidiada nas deliberações da Conferência Nacio- nal de Educação, instituiu o Plano Nacional de Educação (PNE). No inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, determinou que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios garantam o atendimento às necessidades específicas na educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades. O AEE é ofertado preferencialmente na rede regular de ensino, podendo ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, sem prejuízo do sistema educacional inclusivo (BRASIL, 2014). 37UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos Aluno(a), após entendermos, em ordem cronológica, como foram constituídas as leis e decretos relacionados ao Atendimento Educacional Especializado, faz-se necessário, na sequência, refletirmos sobre a diferença entre Educação Especial para Educação Inclusiva. Os movimentos em prol da inclusão escolar defendem que a Educação Especial não deve acontecer separadamente, mas sim de forma tal que os alunos que apresentam alguma deficiência estejam inseridos no mesmo contexto escolar, ou seja, devem frequen- tar o mesmo espaço escolar de outros alunos que não apresentam necessidade especiais. De acordo com o exposto anteriormente, a Educação Especial funcionava como uma modalidade que substituía o sistema regular de ensino para as crianças que possuíam algum tipo de deficiência. Dessa forma, elas não podiam frequentar a sala comum, sendo excluídas, participando de um contexto educacional de segregação. Porém, desde 2008, a partir da publicação do Decreto n° 6.571 e incorporado pelo Decreto n° 7.611/2011, tivemos a publicação da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Essa política reorienta o papel da Educação Especial, ou seja, ela deixa de substituir a escola regular e passa a ser uma modalidade que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades para apoiar o processo de inclusão. Nesse sentido, hoje, a Educação Especial é um dispositivo fundamental para apoiar a inclusãoescolar, sem segregação, mas sim com interação social. Segundo o Censo Escolar, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) é a mediação pedagógica que tem por objetivo veicular toda forma de acesso ao currículo pelo atendimento às necessidades educacionais específicas dos alunos com deficiência, trans- torno do espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação, público da Educação Especial, sendo ofertado em todas as etapas e modalidades da educação básica e, sobretudo, deve constar no Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP) (BRASIL, 2020). As atividades realizadas no AEE são diferenciadas das propostas na sala comum, porque o objetivo delas é eliminar as barreiras dos alunos, funcionando como um com- plemento e também suplemento, visando o desenvolvimento de atitudes autônomas que favoreçam a inclusão social. De acordo com o Censo Escolar, as atividades aplicadas que são comuns a todos os tipos de deficiências são (BRASIL, 2020): ● Desenvolvimento de funções cognitivas: trabalhar a independência do aluno diante de diferentes situações no contexto escolar, promovendo a interação e descoberta de novos saberes; 38UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos ● Desenvolvimento de vida autônoma: desenvolver autonomia para realização de tarefas cotidianas por meio de diversos recursos, sejam eles de Tecnologias Assistivas (TA) ou não; ● Enriquecimento curricular: aplicar projetos interdisciplinares, que contemplem temas diversificados, conectando-os com os outros contextos, extrapolando os muros escolares, ou seja, conectando-os com a realidade. Estudante, existem também outras atividades direcionadas e personalizadas para cada tipo de deficiência, que são praticadas no AEE, mas esse será um assunto que vamos conhecer mais tarde, lá na Unidade IV. Em suma, o AEE deve ser entendido como apoio e complemento, destinado a ofe- recer especificidade na formação de um aluno com deficiência, sem impedi-lo de frequentar ambientes comuns e oficiais de ensino. É importante destacar que esse atendimento é praticado prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais (SRM) da própria escola, em outra escola de ensino regular ou em centros de atendimento educacional especializado (CAEE) (BRASIL, 2020). Aluno(a), no próximo tópico iremos refletir sobre a Institucionalização do atendi- mento especializado no projeto político pedagógico. Até mais!!! 39UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos 2 INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ESPECIALIZADO NO PROJETO POLÍ- TICO PEDAGÓGICO Olá, aluno(a)! Chegamos ao segundo tópico da Unidade II, denominado de “Institucionalização do atendimento especializado no projeto político pedagógico”. Nosso foco agora é dialogar sobre a interlocução entre o ensino educacional especializado regular e o atendi- mento ao aluno com surdez, uma vez que há a necessidade de obter mais conhecimento sobre como educar crianças e jovens com diferentes deficiências num contexto educacional inclusivo. Na área da educação especial, muito tem se falado sobre o processo ensino-apren- dizagem de alunos com surdez e o atendimento especializado em sala de ensino regular. Com intuito de entendermos melhor essa conexão, primeiramente, vamos rever e acres- centar conhecimentos sobre as especificidades do AEE. Caro(a) acadêmico(a), você sabe o que significa a sigla AEE? O Ministério da Educação (MEC) reviu a maneira como era oferecido o atendimen- to proporcionado pela Educação Especial. Após análises e revisões, por meio da Política de Educação Inclusiva e do Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, implementou diretrizes e ações que efetivaram o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para os alunos deficientes, sem segregação. Esse é um serviço da Educação Especial, o qual objetiva identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que 40UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos eliminem as barreiras para a efetiva participação dos alunos, considerando suas necessi- dades específicas (BRASIL, 2011). Nesse sentido, a intenção foi realizar um complemento para a formação desse aluno deficiente, diferentemente do que era realizado antes, porque na antiga Educação Especial, que funcionava como uma substituição do ensino regular, existia a segregação, o que impossibilitava a interação por meio da convivência diária com os demais alunos. De acordo com as acepções do MEC, no Brasil, o ensino básico compreende etapas e modalidades de ensino, desde a Educação Infantil até o final do Ensino Fundamental II e possui duração de nove anos. É, portanto, obrigatória a matrícula de todas as crianças com idade entre 6 e 14 anos na escola regular de ensino. Assim, o Atendimento Educacional Especializado deve ser ofertado nas salas de recursos multifuncionais (SRM), em turno diferente, ou seja, o aluno frequenta em um período as séries correspondentes ao ensino básico, em sala comum e participa do complemento, proposto pelo AEE, em período oposto ao de escolarização (BRASIL, 2004b). Dessa forma, esse aluno aprende e interage com os demais alunos no contexto educacional da escola regular, contudo tem um apoio subsidiado pelo Atendimento Educa- cional Especializado (AEE), em turno diferente, minimizando, de certa forma, as barreiras linguísticas e pedagógicas que dificultam a inclusão escolar dos alunos com surdez. Con- tudo, há a possibilidade de ser ofertado também em centro de atendimento educacional especializado público ou privado, sem fins lucrativos, conveniado com a Secretaria de Educação (BRASIL, 2004b). Especificamente para o atendimento aos alunos com surdez, a escola deve promo- ver um ambiente bilíngue, no qual seja utilizada a Língua de Sinais (LIBRAS) e a Língua Portuguesa. Aluno(a), você sabe qual é a função primordial do AEE? De acordo com as acepções do MEC, o atendimento educacional especializado (AEE) tem como principais objetivos: identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que excluam as barreiras que dificultam a efetiva interação dos alunos com necessidades específicas ao processo de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2004b). Além disso, conforme mencionado anteriormente, esse atendimento deve complementar e/ ou suplementar a aprendizagem promovida na sala comum, favorecendo o desenvolvimen- to de ações autônomas e independentes desses alunos dentro e fora da escola. 41UNIDADE II Interlocução do Atendimento Especializado com o Ensino Regular para Alunos Surdos No AEE, em período adicional, oposto ao ensino comum, essas ações devem acontecer em três momentos pedagógicos distintos, por meio do Atendimento Educacional Especializado em LIBRAS: 1. Ensino dos conteúdos curriculares: todos os dias, um professor surdo deve ensinar os conteúdos abordados em sala comum; 2. Aulas de LIBRAS: todos os dias, um professor e/ou instrutor de LIBRAS (surdo) dará aula de LIBRAS para os alunos com surdez, com o objetivo de desenvolver aprendizagem de termos técnicos e científicos. Sugere-se que seja realizado sempre um diagnóstico do conhecimento do aluno para elaboração do plano de ensino; 3. Aulas de Língua Portuguesa: ministrada por um profissional da área, com o intuito de trabalhar as especificidades da língua portuguesa. Sugere-se que seja realizado sempre um diagnóstico do conhecimento do aluno para elaboração do plano de ensino. Aluno(a), para que haja excelência no trabalho desenvolvido no AEE, é necessário um planejamento prévio elaborado e desenvolvido a partir do plano de ensino por uma equipe pedagógica: professor da classe comum das diversas disciplinas, de Língua Portu- guesa, de LIBRAS e coordenador. Acadêmico(a),
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