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Aula 06 Delegado de Polícia - Direito Penal 2022 (Curso Regular) Autor Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar 22 de Setembro de 2022 Delegado de Polícia - Direito Penal 2022 (Curso Regular) Aula 06 Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar Sumário Delegado de Polícia - Direito Penal 3 PUNIBILIDADE Sumário PUNIBILIDADE ........................................................................................................................................... 2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................................................. 4 CONCEITO DE PUNIBILIDADE .......................................................................................................................... 4 CAUSAS DE EXCLUSÃO DA PUNIBILIDADE ........................................................................................................... 6 1 - IMUNIDADES ABSOLUTAS OU ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS .......................................................................................... 6 2 - IMUNIDADES PARLAMENTARES, DIPLOMÁTICAS E DOS ADVOGADOS ........................................................................ 8 CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE .......................................................................................................... 8 1 - CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO DÉBITO NOS CRIMES TRIBUTÁRIOS ........................................................................... 9 2 - SENTENÇA DE FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU EXTRAJUDICIAL E CRIMES FALIMENTARES: .................................. 10 3 - CONDIÇÕES PARA A EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA ............................................................................. 10 CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ......................................................................................................... 12 1 - MORTE DO AGENTE .................................................................................................................................... 17 2 - ANISTIA, GRAÇA E INDULTO ......................................................................................................................... 19 3 - ABOLITIO CRIMINIS ..................................................................................................................................... 26 4 - DECADÊNCIA ............................................................................................................................................. 27 5 - PEREMPÇÃO .............................................................................................................................................. 31 6 - RENÚNCIA ................................................................................................................................................ 33 7 - PERDÃO DO OFENDIDO ................................................................................................................................ 35 8 - RETRATAÇÃO ............................................................................................................................................. 36 9 - PERDÃO JUDICIAL ....................................................................................................................................... 38 10 - PRESCRIÇÃO ............................................................................................................................................ 41 QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................... 41 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 3 LISTA DE QUESTÕES .................................................................................................................................. 72 GABARITO .............................................................................................................................................. 87 DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................... 88 RESUMO .............................................................................................................................................. 100 Conceito de punibilidade ......................................................................................................................... 100 Causas de exclusão da punibilidade ........................................................................................................ 100 Condições objetivas de punibilidade ....................................................................................................... 101 Causas de extinção da punibilidade ........................................................................................................ 102 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................... 114 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 4 PUNIBILIDADE CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nas aulas passadas, estudamos os elementos do crime, segundo a teoria tripartida. Vimos, então, o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade. Adentraremos, nesta aula, no conceito de punibilidade, nas suas causas de exclusão, nas suas condições objetivas e nas causas de sua extinção. A punibilidade é, para a teoria tripartida, pressuposto de pena, não sendo parte do conceito analítico de crime. Portanto, a punibilidade é importante apenas para a definição da possibilidade de efetiva aplicação da sanção penal, e não da configuração ou não do crime. A presente aula será composta pelos seguintes capítulos: Com esses estudos, será possível ter uma visão ampla sobre a punibilidade, bem como sobre as hipóteses de o Estado não ter direito de punir, seja por sua perda ou pela sua não incidência. Entretanto, dada sua extensão, uma causa de extinção da punibilidade não será estudada nesta aula, a prescrição. A próxima aula terá a prescrição como tema, com uma análise mais detalhada. Deixo meu desejo de sempre de que a aula seja produtiva. Estudaremos a fundo o tema da culpabilidade. Lembrem-se: para que a prova seja leve, nosso treino deve ser pesado! Pesado no sentido de estudo com afinco, mas de forma que os temas sejam interessantes. Espero que gostem desta aula e absorvam bem o tema da punibilidade. CONCEITO DE PUNIBILIDADE A punibilidade é a possibilidade de o Estado aplicar a sanção penal, seja pena ou a medida de segurança, ao sujeito ativo da infração penal. Portanto, a punibilidade é a perspectiva de aplicação da sanção penal, surgida a partir da prática de um crime ou uma contravenção. Dito de outra forma, a punibilidade é o próprio ius puniendi, isto é, o direito de punir que pertence ao Estado. Este direito surge quando é praticado uma infração penal, permitindo que se aplique a sanção penal prevista em lei. Sua natureza jurídica, segundo a teoria tripartida, é de mero pressuposto para aplicação da sanção penal. Portanto, é uma consequência do crime, não fazendo parte do seu conceito. Conceito de punibilidade Causas de exclusão da punibilidade Condições objetivas de punibilidade Causas de extinção da punibilidade Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 5 Em razão de se adotar a teoria tripartida, ser ou não punível a conduta não lhe tira a natureza de crime. Isto porque a punibilidade, como dito acima, não faz parte dos elementos ou substratos da infração penal. Portanto, é possível que haja crime e que não seja possível a aplicação da sanção penal. Basta imaginar um serialformal que deixa de prever a conduta como crime. Por isso, a responsabilização criminal não pode subsistir, desaparecendo os efeitos penais principais e secundários. Os efeitos extrapenais permanecem. No caso da responsabilidade civil decorrente da prática delitiva, o direito de reparação a que faz jus a vítima ou seus sucessores restará inalterado. Referido instituto foi abordado, de forma aprofundada, na aula inaugural deste Curso, ao tratarmos da Lei Penal no Tempo. Vimos que há controvérsia quanto à a natureza jurídica do instituto, sendo que Flávio Monteiro de Barros defende se tratar de causa extintiva da tipicidade. Aqui fica nítida a opção do legislador, pois o Código Penal elencou a abolitio criminis dentre as hipóteses de extinção da punibilidade no seu artigo 107. Portanto, a legislação vigente considera que sua natureza é de causa de extinção da punibilidade. Cumpre relembrar, ainda, o princípio da continuidade normativo-típica, que esclarece não haver abolitio criminis no caso de o legislador passar a prever o mesmo tipo penal em outro dispositivo. A mera modificação da localização ou da forma de previsão da conduta como infração penal não gera a extinção da punibilidade. Por fim, vale destacar que, se já houve o trânsito em julgado, compete ao juízo da execução decretar a extinção da punibilidade, se sobrevier lei que não mais considera o fato criminosa. É o que se compreende a partir do enunciado da Súmula nº 611 do STF, já que a abolitio criminis não deixa de ser lei mais benéfica para o condenado: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. 4 - DECADÊNCIA Decadência é a causa de extinção da punibilidade que consiste na perda do direito de oferecer queixa crime (em penal de iniciativa privada) ou de oferecer representação (nas ações penais públicas condicionadas), em razão da inércia do titular durante determinado intervalo de tempo. A decadência envolve, então, duas hipóteses: Primeiro, abrange a perda do direito de oferecer queixa-crime, que é a peça inicial acusatória nos casos de crimes de ação penal privada (exclusiva e personalíssima). Referida peça também pode ser oferecida nos casos de ação penal privada subsidiária da pública, que o ofendido ou seus familiares podem intentar em razão da inércia do Ministério Público. Em segundo lugar, a decadência também constitui a perda do direito de oferecer representação, que é condição imprescindível para a atuação do Ministério Público nos casos de ação penal pública condicionada. Vejamos o esquema sobre a decadência e as situações possíveis, sendo que nem todas elas implicam na extinção da punibilidade: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 28 Há doutrinadores que defendem não se tratar de causa extintiva da punibilidade, mas de extinção do direito de promover a ação ou de oferecer representação, o que impede o exercício do direito de punir. Entretanto, o Código Penal foi expresso ao prever a decadência como uma das causas extintivas da punibilidade. A decadência está prevista no artigo 103 do Código Penal: Decadência do direito de queixa ou de representação Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. A princípio, devemos destacar que o artigo acima transcrito excepciona o caso de haver disposição expressa em sentido contrário, determinando o início da contagem do prazo de forma diferente. Neste caso, prevalecerá a norma especial sobre a geral, esta última a extraída do artigo 103 do CP. A referência que o artigo 103 faz ao parágrafo terceiro do art. 100 do Código Penal diz respeito à ação penal privada subsidiária da pública. Neste caso, o ofendido ou, no caso de sua morte, seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, pode oferecer queixa, se o Ministério Público não agir no prazo legal. O prazo começa a correr do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia pelo Ministério Público. Nos demais casos, o prazo começa a correr do dia em que a autoria do delito se torna conhecida. Assim, se, desde o dia da prática do crime, a vítima já sabia quem era o sujeito ativo, começa de tal data o prazo de seis meses para oferecimento de queixa ou da representação. No caso de pluralidade de agentes, o prazo começa a correr do conhecimento da identidade do primeiro autor. Segue um esquema com o início dos prazos para o oferecimento da queixa e da representação: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 29 Notem que, no caso de ação penal privada (exclusiva ou personalíssima), se não for oferecida a queixa no prazo legal, haverá a extinção da punibilidade. De igual modo, o não oferecimento da representação, no caso de ação penal pública condicionada, levará à extinção da punibilidade do agente. Entretanto, no caso de ação penal privada subsidiária da pública, o não oferecimento da queixa-crime no prazo não acarreta a extinção da punibilidade. Nesta hipótese, a decadência não é causa de extinção da punibilidade, mas apenas acarreta a perda do direito do ofendido de propor a ação penal. Isto porque o Ministério Público mantém sua legitimidade, podendo (e devendo) oferecer denúncia, mesmo após a decadência do direito de queixa. Portanto, o agente não terá sua punibilidade extinta, conservando o Estado seu ius puniendi. O prazo para o órgão acusatório é impróprio e, portanto, ele pode oferecer a denúncia fora do prazo, sem que isso impeça o seu recebimento pelo juiz e o prosseguimento da ação penal. A decadência, por implicar a extinção da punibilidade, tem natureza penal e, portanto, deve ser contada nos termos do artigo 10 do CP. Como vimos, ainda que tenha também natureza de norma processual, seu caráter de norma material (de Direito Penal) atrai a contagem nos termos do Código Penal. Isto, é, inclui-se no cômputo do prazo o dia do começo. Além disso, ele não se interrompe em domingos, férias ou feriados. Cumpre anotar a posição do professor Fernando Capez, minoritária, de que o prazo decadencial deve ser contado como prazo processual em uma única hipótese: no caso de ação penal privada subsidiária da pública. Isto porque, como não há extinção da punibilidade no caso de fruição do prazo sem iniciativa do ofendido, não haveria influência no Direito Penal. Entretanto, não parece estar com a razão, já que o decurso do prazo limita a legitimidade para a ação penal e, assim, implica a abrangência do ius puniendi. Por isso, o instituto, mesmo em tais casos, possui natureza híbrida e deve ser contado como prazo penal. De todo modo, prevalece que todo prazo decadencial (implique ou não na extinção da punibilidade) deve ser computado como um prazo penal, conforme determina o artigo 10 do Código Penal: Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. O prazo não se interrompe por pedido de explicações em juízo nem por instauração de inquérito policial. Mesmo que as investigações estejam tramitando na delegacia, o conhecimento da autoria já é suficiente para iniciar a contagem do prazo, devendo a vítima oferecer a queixa ou a representação dentro de seis meses da data da ciência. Há alguns crimes que possuem regramento específico acerca do início da contagem do prazo, por suas peculiaridades: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 30 • Crime permanente:é aquele cuja consumação se protrai no tempo. Deste modo, o prazo de decadência só se inicia após cessada a permanência. • Crime continuado: é a ficção jurídica que considera como um crime a prática de vários delitos da mesma espécie, por serem os subsequentes tidos como continuação do primeiro pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. Para esses crimes, o prazo flui de cada delito considerado de forma isolada, já que na verdade são vários crimes tratados como se fossem um só por razões de política criminal. • Crime habitual: é aquele cuja configuração exige uma habitualidade, um conjunto de condutas que se amolda ao tipo penal. Para os crimes habituais, o prazo de decadência é contado do último ato praticado pelo agente. Quanto à titularidade do direito de queixa e de representação e a ocorrência da decadência, vejamos as seguintes situações: • Ofendido menor de 18 anos: neste caso, a titularidade do direito de queixa e de representação pertence ao representante legal do menor. Se o representante legal não oferecer representação ou queixa no prazo, o menor poderá oferecê-la ao atingir a maioridade. É o que prescreve a Súmula 594 do STF: Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal. Assim tem entendido o Supremo Tribunal Federal, aplicando o seu enunciado10: EMENTA Habeas corpus. Penal. Atentado violento ao pudor (CP, art. 214 na redação anterior à Lei nº 12.015/09). Ofendida menor de 18 anos. Representação. Prazo. Contagem. Dualidade. Súmula nº 594 da Suprema Corte. Decadência. Não ocorrência. Ordem denegada. 1. Na ocorrência do delito descrito no art. 214 do Código Penal – antes da revogação pela Lei nº 12.015/2009 –, o prazo decadencial para a apresentação de queixa ou de representação era de 6 meses após a vítima completar a maioridade, em decorrência da dupla titularidade. 2. Esta Suprema Corte tem reconhecido a dualidade de titulares do direito de representar ou oferecer queixa, cada um com o respectivo prazo: um para o ofendido e outro para seu representante legal. Súmula nº 594 do STF. Precedentes. 3. Ordem denegada. (STF, HC 115341/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, Julgamento em 14/10/2014). O STJ tem precedente no mesmo sentido: I - Os prazos para o exercício do direito de queixa ou representação correm separadamente para o ofendido e seu representante legal (Súmula nº 594/STF). II - Escoado o prazo para o representante de uma das vítimas, conserva-se o direito de representação da ofendida, a ser contado a partir da sua maioridade (Precedentes). (STJ, RHC n. 39.141/SP, relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 25/11/2014, DJe de 10/12/2014.) Entretanto, importante setor da doutrina de Direito Processual Penal tem defendido o prazo único, a contar apenas para o representante legal. É a posição de Renato Brasileiro de Lima11. 10 No mesmo sentido: STF, HC 75697, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 03/02/1998. 11 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8 ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2020, p. 337. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 31 • Ofendido maior de 18 anos: somente o ofendido pode ofertar a queixa ou a representação. Se for incapaz, como no caso de doença mental, a titularidade passa para o representante legal. Havendo conflito de interesses, o juiz nomeia curador especial. No caso de morte da vítima, o direito passa para o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. É o que dispõem os artigos 31, 33 e 36 do Código de Processo Penal: Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (...) Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal. (...) Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone. • Ofendido maior de 18 anos e menor de 21 anos de idade: somente o ofendido pode ofertar a queixa ou a representação. A dúvida pode surgir em razão do teor do artigo 34 do Código de Processo Penal: Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal. Apesar de referida previsão, a doutrina entente que não há mais referida diferenciação. Isto porque, à época em que entrou em vigor referida norma, a maioridade civil era atingida aos 21 anos. Com o advento do Código Civil de 2002, houve a unificação da maioridade civil aos 18 anos, não havendo mais que falar em representação no processo penal até que o indivíduo complete a idade de 21 anos. Apesar de tratar de hipótese diferente, a unificação da maioridade civil e penal para o marco dos 18 anos de idade pode ser percebido do seguinte trecho de acórdão do STJ: “ (...) 2. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que, "após a edição do Código Civil de 2002, quando a maioridade foi estabelecida em 18 (dezoito) anos, não é mais necessária a nomeação de curador especial, no processo penal, para os acusados com idade entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos" (AgRg no AREsp n. 404.293/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., DJe 7/4/2014). (...)” (STJ, REsp 1493485/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 06/11/2017). 5 - PEREMPÇÃO A perempção é a causa de extinção da punibilidade que representa uma sanção processual ao querelante negligente ou inerte. Só é cabível na ação penal privada exclusiva ou personalíssima, ou, nos termos da lei, nos casos em que se procede mediante queixa. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 32 Apesar de ser uma sanção processual, a perempção gera efeitos para o Direito Penal, pois implica a perda do direito de punir pelo Estado. As hipóteses estão previstas no artigo 60 do Código de Processo Penal: Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. A hipótese de falta de andamento ao processo pressupõe notificação do querelante para agir, como aponta a doutrina. Ademais, não se exige o comparecimento do querelante para atos em que sua presença não seja indispensável, como oitiva de testemunhas. É o que decidiu o STJ no julgamento do RHC 26530/SC, em 08/11/2011. A falta de pedido final de condenação, como visto no dispositivo normativo acima, implica a perempção. Se houver pedido de justiça e as alegações finais demostrarem que se pede a condenação, não há perempção. Tem-se entendido, ainda,que a apresentação das alegações finais, na forma de memorial, fora do prazo não induz perempção. Configura-se a perempção quando não apresentadas contrarrazões ao recurso do querelado contra a sentença condenatória. Por outro lado, não se configura perempção se a apresentação das razões recursais for intempestiva. No precedente abaixo transcrito, o STJ também entendeu que não há perempção no caso de as contrarrazões serem apresentadas fora do prazo: “1. De acordo com o artigo 60, inciso I, do Código de Processo Penal, "nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal" quando, "iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo por 30 dias seguidos". 2. No caso dos autos, a querelante deu regular andamento ao processo, que culminou com a condenação do paciente pela prática dos crimes de injúria e difamação, sendo certo que o só fato de haver apresentado contrarrazões à apelação da defesa fora do prazo legal não tem o condão de caracterizar a perempção, pois tal peça processual sequer é obrigatória, sendo plenamente possível o julgamento do recurso sem a sua presença nos autos, desde que a parte tenha sido intimada para ofertá-la, exatamente como ocorreu na espécie. Precedentes do STJ e do STF. 3. Habeas corpus não conhecido. (STJ, HC 355205/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 01/08/2016) Em razão da impossibilidade de comparecer alguma pessoa para substituição, a morte do querelante na ação penal privada personalíssima acarreta a extinção da punibilidade. Haverá hipótese análoga à do artigo 60, inciso II, do CPP, em que não haverá quem prossiga no processo, dada a impossibilidade. Isto porque somente o ofendido, no caso de ação penal privada personalíssima, pode figurar no polo ativo do processo. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 33 O STJ entende possível a intimação do querelante, no caso de falta de recolhimento das custas ou sua insuficiência, para suprir a falta (EDcl no HC 156230/PE12). 6 - RENÚNCIA Renúncia é a causa de extinção da punibilidade, que consiste em ato unilateral, do ofendido ou de seu representante legal, de abdicação do direito de promover a ação penal privada. Na renúncia, o ofendido ou seu representante legal abre mão de intentar a ação penal, o que implica a extinção do ius puniendi. Esta causa extintiva da punibilidade é cabível nos casos de ação penal privada exclusiva ou personalíssima, pois a punição, nestas hipóteses, depende de que o ofendido ou seu representante oferte a queixa crime. A disposição de referido direito, com sua renúncia, impossibilita a imposição de sanção penal ao agente, extinguindo sua punibilidade. Na ação penal pública condicionada à representação, há a possibilidade de renúncia apenas em relação aos crimes de menor potencial ofensivo. Quanto a tais crimes, a composição entre o sujeito ativo e o passivo sobre os danos causados implica a renúncia ao direito de queixa e de representação. Deste modo, o indivíduo que celebrar acordo com seu ofensor, que seja homologado pelo juiz, não poderá mais oferecer representação, no caso de crime de ação penal pública condicionada. É o que prevê o artigo 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95: Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação. Só cabe a renúncia antes de iniciada a ação penal, pois é pré-processual. Só se renuncia ao direito ainda não exercido, pois a propositura da ação somente permite o perdão, não mais a renúncia. O ato é unilateral, o que significa que independe da aceitação ou não do agente. Se o indivíduo não quer oferecer queixa-crime, dispondo deste direito, não se pode obrigá-lo a fazê-lo. A renúncia pode ser expressa ou tácita: • Expressa: ocorre quando o ofendido declara, de forma explícita, que não intentará a ação penal privada, abrindo mão do seu direito. Pode ser feita pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais, nos termos do artigo 50, caput, do Código de Processo Penal. Consiste de declaração escrita, assinada por um dos indivíduos que podem oferecer a renúncia. • Tácita: decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de oferecer queixa contra o agente. É o caso do indivíduo que, após ser vítima do crime, aceita ser padrinho de casamento do seu ofensor. A renúncia tácita admite qualquer meio de prova, nos termos do artigo 57 do Código de Processo Penal. 12 Os acórdãos apenas mencionados neste tópico estão transcritos no tópico “Destaques da Legislação e da Jurisprudência”. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 34 Não é renúncia tácita o recebimento, pelo ofendido, de indenização do dano causado pelo crime, salvo nos casos de crime de menor potencial ofensivo. No caso de morte do ofendido, o direito de oferecer queixa passa para alguns familiares, nos termos do artigo 31 do Código de Processo Penal: Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Legitimados para o oferecimento de queixa no caso de morte do ofendido: ônjuge; scendente; escendente; rmão. No caso de morte do ofendido, o direito de queixa passa ao seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. A renúncia de um dos legitimados não impede que os outros ofertem a queixa-crime. Também no caso de haver dois ou mais ofendidos, a renúncia de um não impede o outro de oferecer queixa-crime. Se houver concurso de agentes, a renúncia em relação a um deles se estende aos demais. É uma decorrência do princípio da indivisibilidade: ou o ofendido oferece queixa em relação a todos os agentes ou renuncia em relação a todos. É o teor do artigo 49 do CPP: Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. ✓ Caso o querelante ofereça queixa contra apenas um dos agentes, pode o MP aditar para inclusão dos demais? A doutrina diverge sobre essa possibilidade, sendo que parte entende que é possível, pois o Ministério Público deve velar pela indivisibilidade da ação penal e deve impedir que um dos agentes seja deixado de fora pelo querelante. A doutrina majoritária entende que, tendo sido oferecida queixa contra apenas parte dos agentes, entender- se-á que houve renúncia em relação ao não incluído. Não caberia, assim, inclusão dos demais pelo Ministério Público, já que a ação é privada. A única solução seria a extensão da renúncia a todos, com a extinção da punibilidade. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 35 7 - PERDÃO DO OFENDIDO O perdão do ofendido é a causa de extinção da punibilidade que consiste em ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal manifesta seu desejo de desistir da ação penal privada exclusiva ou personalíssima. Este ato exige a concordância do querelado, com a qual o direito de punir se extingue. É cabível desde o oferecimento da queixa até o trânsito em julgado, ou seja, a oportunidade para o seu exercício é no curso do processo penal. Refere-se aos casos de ação penal privada exclusiva ou personalíssima, não sendo admissível na ação penal privada subsidiária da pública. Esta causa está prevista no artigo 105 do Código Penal:Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. Cuida-se de ato bilateral, de forma diferente da renúncia, que é unilateral. Por conseguinte, a aceitação do querelado é imprescindível. Querelado é o termo pelo qual se denomina o réu nas ações penais privadas. Assim como a renúncia, o perdão pode ser tácito ou expresso: • Expresso: ocorre quando o ofendido declara, de forma explícita, que não deseja prosseguir com a ação penal privada, desistindo do seu prosseguimento. Pode ser feita pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais, nos termos do artigo 56, em conjunto com o 50, caput, do Código de Processo Penal. • Tácita: decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de prosseguir com a ação penal contra o agente. Se o agente e a ofendida, por exemplo, iniciam um relacionamento amoroso, haverá perdão tácito em relação à ação penal privada em curso. • Judicial: ocorre quando o ofendido se manifesta nos próprios autos, declarando seu desejo de desistir do prosseguimento do feito. • Extrajudicial: oferecida fora dos autos. Nos termos do artigo 56, combinado com o artigo 50, ambos do Código de Processo Penal, se o perdão for expresso, deverá ser materializado por meio de declaração escrita, assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais. O artigo 106 do Código Penal prevê algumas regras sobre o perdão: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; III - se o querelado o recusa, não produz efeito. § 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação. § 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. Quanto a quem pode oferecer o perdão: • No caso de ofendido menor de 18 anos: o representante legal pode oferecer o perdão. • Se o ofendido for maior ou com idade igual a 18 anos: ele mesmo pode conceder o perdão. Aqui se inclui o caso do maior de 18 anos e menor de 21, aplicando-se o que foi dito quanto à renúncia. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 36 No que se refere ao procedimento para aceitação do perdão, o artigo 58 do Código de Processo Penal prevê o seguinte: Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Portanto, é possível a aceitação do perdão por decurso de prazo. O perdão é cabível nas ações penais privadas, sejam exclusivas ou personalíssimas, em razão do princípio da disponibilidade. Assim, o querelante pode desistir de seu prosseguimento. Se o fizer, haverá a extinção da punibilidade. Não cabe o perdão em ação penal privada subsidiária da pública. Estudamos que a renúncia é pré-processual, enquanto o perdão é cabível desde o oferecimento da queixa até o trânsito em julgado. A renúncia é unilateral, já o perdão é bilateral. As diferenças estão destacadas no esquema abaixo: 8 - RETRATAÇÃO A retratação é a causa de extinção da punibilidade consistente no ato do agente de retirar totalmente o que disse anteriormente. Seu cabimento é restrito aos seguintes casos: • Calúnia e difamação; • Falso testemunho e falsa perícia. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 37 Sua previsão, com relação aos crimes contra a honra, está no artigo 143 do Código Penal: Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando- se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. Não cabe a retratação na injúria, com a qual se atinge a honra subjetiva do ofendido. É cabível apenas nos casos da calúnia e da difamação, que ferem a honra objetiva da vítima, sua honra e reputação no meio social. Neste caso, deve ser oferecida pelo próprio sujeito ativo até a prolação de sentença pelo juiz. A retratação não se comunica aos demais agentes, extinguindo a punibilidade apenas daquele que se retratou. Com relação ao falso testemunha e à falsa perícia, a retratação é possível nos termos do artigo 342, § 2º, do Código Penal: § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Nesta hipótese, a retratação pode ser oferecida até a sentença de primeira instância, mas não do processo penal em que o sujeito é acusado do próprio crime de falsa perícia ou falso testemunho. O termo final do prazo é ser proferida sentença, de primeiro grau, no processo em cujo curso o acusado prestou falso testemunho ou elaborou falsa perícia. O Código Penal prevê que a retratação do falso testemunho ou da falsa perícia tem como consequência a extinção da punibilidade do fato. Ora, se o fato deixa de ser punido, esta causa de extinção da punibilidade se estende aos demais agentes, coautores ou partícipes. Essas diferenças estão retratadas no esquema abaixo: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 38 9 - PERDÃO JUDICIAL É o instituto, cuja natureza é de causa de extinção da punibilidade, pelo qual o juiz deixa de aplicar a sanção penal, em virtude de circunstâncias específicas do caso. Ocorre nos casos de bagatela imprópria, em que incide o princípio da desnecessidade da pena. O perdão judicial, que não deve ser confundido com o perdão do ofendido, independe de aceitação. É direito público subjetivo do acusado. Deste modo, satisfeitos os requisitos, o juiz deve conceder o benefício, que extinguirá a punibilidade independentemente de concordância do acusado. Sua admissibilidade depende de previsão na lei. Quando concedido, o perdão judicial extingue os efeitos penais, nos termos da Súmula 18 do STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Esse enunciado também esclarece que a natureza jurídica desta causa extintiva da punibilidade é declaratória, ou seja, o juiz declara que estão satisfeitos os requisitos e que não há punibilidade no caso. Deste modo, não torna certa a obrigação de reparar o dano. Na doutrina, a classificação da sentença concessiva do perdão judicial como declaratória da extinção da punibilidade é controversa. Parte entende que é sentença condenatória, com todos os efeitos secundários da condenação, sendo que outra parte entende que é condenatória, mas sem a incidência de tais efeitos. Há doutrinadores que entendem que é absolutória e outra corrente defende que sua natureza é de exclusão facultativa da punibilidade. Por fim, há a corrente de que se trata de sentença declaratória de extinção da punibilidade, entendimento que foi adotado pelo STJ, como vimos pelo enunciado nº 18 da sua Súmula. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 39 Sobre o perdão judicial e a reincidência, que é efeito penal secundário da condenação, o Código Penal foi claro ao afastar este efeito em seu artigo 120: Perdão judicial Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. O perdão judicial deve ser concedido no curso do processo penal, pelo juiz.Logicamente, não é cabível seu reconhecimento na investigação, muito menos sua declaração pela autoridade policial. Este instituto alcança todos os crimes praticados no mesmo contexto. O juiz considera as circunstâncias do crime e as consequências que sobrevieram ao agente. Há precedentes considerando as seguintes consequências da infração: as de ordem física e moral, o aleijamento de uma perna, as que atingem a concubina do autor, um amigo íntimo, a noiva, os familiares, etc. O quadro abaixo traz previsões de aplicação do perdão judicial no nosso ordenamento jurídico: Previsões Legais Art.121, §5º, CP §5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Art. 129, §1º., I e II, CP §8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º do art. 121. Art.176, par. ún., CP Tomar refeição ou se hospedar sem recursos. Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Art. 180, §5º, CP §5º - Na hipótese do §3º {receptação culposa, se o criminoso é primário, pode o juiz tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena (...) Art.249, §2º, CP Subtração de incapazes §2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar a pena. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 40 Art.8º da LCP No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada. (FEPESE/DPE-SC/Defensor Público/2012) As escusas absolutórias ou causas de isenção de pena, as condições objetivas de punibilidade e as causas de extinção da punibilidade são categorias importantes do Direito Penal. Sobre essas categorias, é correto afirmar: a) Segundo o Código Penal, o direito de representação, sob pena de decadência, deve ser exercido no prazo de 6 meses, contado do dia em que o ofendido veio a saber quem é o autor do crime, mas poderá haver retratação da representação, desde que esta ocorra antes do recebimento da denúncia. b) O perdão do ofendido e a retratação do agente, desde que realizados no curso da ação penal, implicam a extinção da punibilidade deste somente quando houver a concordância, expressa ou tácita, da parte contrária, comunicando-se aos demais agentes. c) A prescrição penal é causa extintiva da punibilidade que se opera quando o Estado deixa de exercer a sua pretensão punitiva ou executória nos prazos estipulados, que aumentam em um terço, em qualquer caso, se o condenado é reincidente, e diminuem pela metade, se o agente era, ao tempo do crime, menor de 21 anos ou maior de 70 anos. d) A perempção é uma causa de extinção de punibilidade que somente pode se operar em relação aos crimes de ação penal privada, como, por exemplo, quando o querelante deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais. e) A sentença que decreta a falência é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas na Lei de Recuperação Judicial e Falências e as relações familiares constituem causa de isenção de pena ou escusa absolutória em relação aos crimes patrimoniais, se estes forem praticados contra cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Comentários É correta a alternativa D. Já ressalto que a questão trata do tema prescrição, que será estudado na próxima aula. Entretanto, o uso dessa questão se justifica devido à cobrança dos temas principais analisados acima, sendo que seu conhecimento já seria suficiente para solucionar a questão. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 41 A questão aborda as causas de extinção da punibilidade, as condições objetivas de punibilidade e as causas de exclusão da punibilidade, denominando estas últimas de escusas absolutórias ou causas de isenção de pena. A alternativa A está incorreta. Segundo o Código Penal, a representação se torna irretratável com o oferecimento da denúncia, e não na data do seu recebimento pelo juiz. A alternativa B está incorreta. Ao contrário do perdão do ofendido, a retratação do agente não exige a concordância, expressa ou tácita, da parte contrária. Além disso, a retratação não se comunica aos demais agentes nos casos dos crimes contra a honra (calúnia e difamação). A alternativa C está incorreta. A prescrição penal aumenta em um terço, se o condenado é reincidente, apenas após transitar em julgado a sentença condenatória. A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. Realmente, a perempção é uma causa de extinção de punibilidade. O Código Penal só prevê seu cabimento nos casos em que se procede mediante queixa, ou seja, nos crimes de ação penal privada. Uma das hipóteses é a falta de pedido de condenação nas alegações finais. A alternativa E está incorreta. A sentença que decreta a falência, conforme o texto da própria Lei de Recuperação Judicial e Falências, é sim condição objetiva de punibilidade das infrações penais nela descritas. Entretanto, as escusas abrangem as hipóteses de crimes patrimoniais praticados contra cônjuge, ascendente ou descendente, mas não envolve os casos em que a vítima seja irmã ou irmão do sujeito ativo. 10 - PRESCRIÇÃO A última das causas de exclusão da punibilidade enumerada no artigo 107 do Código Penal é a prescrição. Entretanto, dada a extensão da matéria, o tema será objeto da próxima aula. Com isso, encerramos o programa de mais uma aula do nosso Curso. QUESTÕES COMENTADAS Chegou a hora de praticamos o que estudamos durante a aula. Q1. CESPE/Polícia Federal/Delegado de Polícia/2013 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 42 Item 26 A respeito da pena pecuniária, julgue o item abaixo. 26 A multa aplicada cumulativamente com a pena de reclusão pode ser executada em face do espólio, quando o réu vem a óbito no curso da execução da pena, respeitando-se o limite das forças da herança. Comentários O princípio da intranscendência da pena impede que ela se estenda a outras pessoas além do sujeito ativo do delito. Está previsto no artigo 5º, XLV, da CF: XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; Como se percebe da leitura do dispositivo, as únicas exceções à intranscendência da pena são a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens, devendo ambas respeitar o limite do patrimônio transferido quando estendidas aos sucessores. O item está incorreto. A pena de multa não é exceção à instranscendência da pena. Portanto, a morte do autor acarreta a extinção da punibilidade. Q2. FUMARC/DPE-MG/Defensor Público/2009 No crime de peculato culposo, a reparação do dano antes do trânsito em julgado da sentença, deve ser considerada como: a) Causa especial de diminuição de pena. b) Circunstância atenuante. c) Excludente de ilicitude. d) Excludente de imputabilidade. e) Causa de extinção de punibilidade. Comentários A alternativa E está correta, haja vista que a extinção da punibilidade, neste caso, está expressamente prevista no art. 312, § 3º do Código Penal transcrito abaixo: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: (...) Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamentepara o crime de outrem: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 43 Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Q3. VUNESP/TJ-SP/Juiz Substituto/2015 Em matéria de ação penal, a decadência apresenta diferentes efeitos. Sobre isso, é correto afirmar que a) condiciona o agir do Ministério Público à condição de procedibilidade do ofendido em face do ofensor. b) na ação penal pública condicionada à representação, impede que a vítima apresente queixa-crime. c) sendo ação penal privada, ataca imediatamente o direito de agir do ofendido, e o Estado perde a pretensão punitiva. d) na ação privada, atinge o direito de o ofendido representar, e este não pode mais agir. Comentários A alternativa A está incorreta. Na verdade, a decadência não condiciona o agir do Ministério Público, uma vez que é causa de extinção da punibilidade. É a representação que é condição de procedibilidade. A alternativa B está incorreta. A decadência na ação penal pública condicionada à representação impede que a vítima apresente representação. A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. A alternativa D está incorreta. Na ação privada, a decadência atinge o direto do ofendido de apresentar queixa-crime. Q4. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2013 Anistia decorre de lei e é causa de extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de punir por parte do Estado que, assim, promove o “esquecimento" da prática da infração penal, em prol da pacificação social ou política. Qual dos itens abaixo NÃO representa classificação de anistia para a doutrina? a) Própria ou imprópria. b) Geral ou parcial. c) Condicional ou incondicional. d) Restrita ou irrestrita. e) Obrigatória ou facultativa. Comentários: Como visto na aula, dependendo do momento da sua concessão, a anistia pode ser: • Própria: concedida antes da condenação transitada em julgado. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 44 • Imprópria: concedida após a condenação transitada em julgado. Quanto aos crimes que abrange, a anistia pode ser: • Comum: concedida para os delitos comuns. • Especial: concedida para os crimes políticos. Por fim, podemos, ainda, classificar a anistia conforme a previsão ou não de requisitos para usufruir do benefício: • Irrestrita ou incondicionada: não impõe qualquer requisito para sua concessão. • Restrita ou condicionada: exige a prática de algum ato como condição para sua concessão. Como exemplos de requisitos, podemos citar a obrigatoriedade de ressarcimento do dano ou a deposição das armas. Vale ressaltar que a anistia irrestrita também é denominada de plena ou geral e que a anistia restrita é também denominada de parcial. Desse modo, a alternativa E é a correta e gabarito da questão. Q5. FCC/MPE-CE/Promotor de Justiça/2011 O rol do art. 107 do Código Penal (extinção de punibilidade) é exemplificativo. Há outras causas previstas na Parte Especial e leis penais especiais, entre elas: a) o ressarcimento do dano no peculato culposo; o pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia nos crimes de sonegação fiscal e a retratação no crime de falso testemunho. b) a retratação no crime de falso testemunho; o aborto quando não há outro meio de salvar a vida da gestante e o furto contra cônjuge, na constância do casamento. c) o furto e o roubo impróprio contra cônjuge na constância do casamento; o ressarcimento do dano no peculato culposo e o pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia no crime de sonegação fiscal. d) o ressarcimento integral do prejuízo no caso de estelionato; a retratação no crime de falso testemunho e a retratação do querelado na calúnia ou difamação. e) em todos os casos de crimes cometidos sem violência ou grave ameaça contra a pessoa em que haja reparação do dano. Comentário Primeiramente, analisemos as causas de extinção da punibilidade mencionadas nas assertivas, haja vista que se repetem. O ressarcimento do dano no peculato culposo exclui a punibilidade de acordo com o art. 312, § 3º do Código Penal: Art. 312 (...) Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 45 Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. O pagamento integral dos débitos tributários e seus acessórios implica a extinção da punibilidade dos crimes previstos nos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal. É o que prevê o artigo 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003, que dispõe sobre parcelamento de débitos tributários: Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. § 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. Com relação ao falso testemunha e à falsa perícia, a retratação é possível nos termos do artigo 342, § 2º, do Código Penal: § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Com relação aos crimes contra a honra, de acordo com o artigo 143 do Código Penal, também cabe a retratação: Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando- se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. Entretanto, não cabe a retratação na injúria, com a qual se atinge a honra subjetiva do ofendido. A retratação nesses crimes extingue a punibilidade do agente. Quanto aos delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família existe previsão de escusas absolutórias, que estão elencadas no artigo 181 do Código Penal: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Quanto à prática do aborto, quando não há outro meio de salvar a vida da gestante, previsto no art. 128, I, CP, trata-se de uma hipótese específica de estado de necessidade. Quanto ao crime de estelionato, não há previsão legal específica de causa de exclusão da punibilidade. Dessa forma, a alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 46 Q6. CESPE/DPE-PE/Defensor Público/2018 Com relação à punibilidade e às causas de sua extinção, julgue os itens a seguir. I A morte do agente extingue todos os efeitos penais, exceto a cobrança da pena de multae da pena alternativa pecuniária, que poderão ser cobradas dos herdeiros. II O instrumento normativo para instrumentalizar o indulto e a anistia é o decreto presidencial; enquanto a graça é concedida por lei. III De acordo com o Código Penal, o recebimento de indenização pelo dano resultante do crime caracteriza renúncia tácita ao direito de prestar queixa. IV A retratação, prevista no Código Penal, é admitida nos casos de crimes contra a honra, mas apenas se tratar-se de calúnia e difamação, sendo inadmissível na injúria. V Em se tratando de crimes contra honra, o Código Penal prevê a possibilidade de retratação exclusivamente pessoal, ou seja, ela não se comunica aos demais ofensores. Estão certos apenas os itens a) I e II. b) I e III. c) II e V. d) III e IV. e) IV e V. Comentários O item I está errado. De acordo com o art. 5º, inciso XLV da Constituição Federal Art. 5° (...) XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; O item II está errado pelo fato de que o instrumento normativo para instrumentalizar o indulto e a graça é o decreto presidencial; enquanto a anistia é concedida por lei. O item III está incorreto. De acordo com o art. 104, parágrafo único: Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente. Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime O itens IV e V estão corretos. O item IV está correto pois, tratando-se de injúria, a ofensa atinge a honra subjetiva do ofendido, não cabendo, assim, a retratação. Quanto ao item V, vale destacar que a regra é que a retratação é pessoal, ou seja, incomunicável aos demais ofensores. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 47 Portanto, a alternativa E está correta e é o gabarito da questão. Q7. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2017 Assinale a opção que apresenta causa que acarreta a extinção da punibilidade, extensível aos coautores e partícipes. a) morte do agente b) perempção c) perdão judicial d) retração do querelado na calúnia e) prescrição ao agente menor de vinte e um anos Comentários A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. São causas que NÃO se comunicam: ➢ a morte do agente; ➢ o perdão judicial; ➢ a graça, o indulto e a anistia; ➢ a retratação do querelado na calúnia ou difamação; ➢ a prescrição. Dada a indivisibilidade da ação penal, a perempção atinge a todos. Q8. MPE-RS/MPE-RS/Promotor de Justiça/2017 Deoclécio foi vítima de furto de um par de tênis, em 15 de janeiro de 2016, data em que tomou conhecimento que o autor do crime era Hermenegildo. O Promotor de Justiça teve vista do inquérito policial em 1º de março de 2016, uma terça-feira. Tratando-se de indiciado solto, o prazo para o Promotor de Justiça manifestar-se encerrou em 16 de março de 2016, uma quarta-feira. Como o Promotor de Justiça permanecia sem manifestar-se nos autos do inquérito, em 08 de setembro de 2016, 6 meses e sete dias após o fato, Deoclécio ajuíza Queixa-Crime (ação penal privada subsidiária da pública) contra Hermenegildo, imputando-lhe a prática de furto. No curso da instrução são indiscutivelmente provadas a materialidade e a autoria do crime que recai sobre Hermenegildo. Em alegações finais, Deoclécio, por seu advogado munido de procuração com poderes especiais para tanto, concede perdão ao querelado, invocando o art. 58 do Código de Processo Penal que diz: “Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.”. Também em alegações finais, Hermenegildo aceita o perdão oferecido. Com base nesses dados fáticos, assinale a alternativa correta. a) Hermenegildo decaiu do direito de queixa, eis que entre a data do fato, momento que tomou conhecimento da autoria, e o oferecimento da queixa-crime transcorreram mais de 6 meses. b) Hermenegildo decaiu do direito de queixa, eis que entre a data da vista ao Promotor de Justiça e o oferecimento da queixa-crime transcorreram mais de 6 meses. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 48 c) Como a ação é privada, aceito o perdão o juiz julgará extinta a punibilidade. d) Não é admissível o perdão dada a natureza do crime. e) O perdão é ato personalíssimo e, portanto, não pode ser concedido através de advogado, mesmo com procuração. Comentários: A alternativa A está incorreta. Inicialmente, em razão do fato de que Deoclécio foi a vítima e a ele cabe o direito de queixa. Em segundo lugar, verifica-se que não houve a decadência. Vejamos: Decadência do direito de queixa ou de representação Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. No caso de ação penal privada subsidiária da pública, o ofendido poderá oferecer queixa-crime no prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia. A alternativa B está incorreta. Deoclécio não decaiu do direito de queixa, uma vez que não transcorreram mais de 6 meses entre o fim do prazo para o oferecimento da denúncia e oferecimento da queixa crime. A alternativa C está incorreta. O perdão é cabível nas ações penais privadas, sejam exclusivas ou personalíssimas, em razão do princípio da disponibilidade. Entretanto, o caso em tela retrata uma ação penal privada subsidiária da pública. A alternativa D está correta, tendo em vista que não é admissível o perdão dada a natureza do crime. Vejamos: Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. A alternativa E está incorreta. O advogado pode representá-lo nas alegações finais, posto que se encontrava munido de procuração com poderes especiais para tanto. Desse modo, a alternativa D é a correta e gabarito da questão. Q9. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2016 Quanto ao indulto, é correto afirmar que: a) É vedada a concessão de indulto ao condenado pela prática de crime de tráfico de drogas privilegiado; b) Na hipótese de indulto individual, o parecer do Conselho Penitenciário vincula o Presidente da República; c) O indulto extingue a pena e seus efeitos secundários (penais e extrapenais); d) O indulto coletivo é forma de indulgência concedida espontaneamente pelo Presidente da República atribuição esta indelegável a qualquer outra autoridade; Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 49 e) O indulto individual ou graça pode ser recusado pelo beneficiário, caso estabelecidas condições para a sua concessão. Comentários: A alternativa A está incorreta. Nem todos os crimes podem ter sua punibilidade extinta por meio da anistia, da graça e do indulto. A Constituição Federal impõe limites a referidos atos de renúncia ao ius puniendi, em seu artigo 5º, inciso XLIII: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos comocrimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Entretanto, referidas vedações não se estendem ao chamado tráfico de entorpecentes privilegiado. É o que decidiu o pleno do STF no HC 118533, em 23 de junho de 2016. A alternativa B está incorreta, pois, de acordo com o art. 84, inciso XII da Constituição Federal, a concessão de indulto compete privativamente ao Presidente da República, podendo ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. A alternativa C está incorreta, uma vez que no caso do indulto, permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. A alternativa D está incorreta. O indulto é ato privativo do Presidente mas pode ser delegado de acordo com o art. 84, parágrafo único da Constituição: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; (...) Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. A alternativa E está correta e é o gabarito da questão, pois o acusado pode não atender as condições que lhes foram impostas, o que importa na recusa do benefício. Q10. CESPE/DPE-RN/Defensor Público/2015 No que se refere à extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento integral do débito tributário após o trânsito em julgado da condenação é causa de extinção da punibilidade. b) Na compreensão do STF, a decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu não pode ser revogada, dado que gera coisa julgada material. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 50 c) O indulto, ato privativo do presidente da República, tem por escopo extinguir os efeitos primários da condenação, isto é, a pena, de forma plena ou parcial. Todavia, persistem os efeitos secundários, tais como a reincidência. d) O recebimento de queixa-crime pelo juiz não é condição para o reconhecimento da perempção. e) O ajuizamento da queixa-crime perante juízo incompetente ratione loci, no prazo fixado para o seu exercício, não obsta o decurso do prazo decadencial. Comentários: Atenção, esta questão está desatualizada com relação à alternativa A, pois o entendimento do STJ mudou. Usei para demonstrar que houve a alteração e a sua cobrança nos concursos: A alternativa A estava incorreta. Como visto na aula, o pagamento integral dos débitos tributários e seus acessórios implica a extinção da punibilidade dos crimes previstos nos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal. Em razão desta previsão legal, o STJ passou a entender que é possível a extinção da punibilidade, pelo pagamento dos tributos e seus acessórios, mesmo após o trânsito em julgado da condenação, no que se refere aos crimes dos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e artigos 168-A e 337-A do Código Penal. Como antes o entendimento era diverso, em 2015 a assertiva era considerada errada. A alternativa B está incorreta. O STF entende que, nestes casos, a decisão é inexistente, pois baseada em uma premissa falsa. Como a verdadeira causa da extinção da punibilidade é a morte do agente, sem a efetiva ocorrência do efeito a decisão fica sem conteúdo. A alternativa C está correta. O indulto apaga os efeitos penais principais. Entretanto, permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. Portanto, penas pecuniárias não são proibidas pela Constituição Federal. A alternativa D está incorreta. Na verdade, perempção é a causa de extinção da punibilidade que representa uma sanção penal ao querelante negligente ou inerte. A alternativa E está incorreta. De acordo com precedentes do STJ, o ajuizamento da queixa-crime perante juízo incompetente ratione loci, no prazo fixado para o seu exercício, obsta o decurso do prazo decadencial. Desse modo, a alternativa C é a correta e gabarito da questão. Q.11. FCC/TRT 3ª Região/Juiz do Trabalho Substituto/2015 O perdão do ofendido a) é admissível mesmo depois que passa em julgado a sentença condenatória. b) prejudica o direito dos outros, se concedido por um dos ofendidos. c) não aproveita a todos, se concedido apenas a um dos querelados. d) só é admissível se expresso. e) exige aceitação do querelado para produzir efeito. Comentários: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 51 A alternativa E é a correta e gabarito da questão. O perdão do ofendido é a causa de extinção da punibilidade que consiste em ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal manifesta seu desejo de desistir da ação penal privada exclusiva ou personalíssima. Este ato exige a concordância do querelado, com a qual o direito de punir se extingue. É um ato bilateral. É cabível desde o oferecimento da queixa até o trânsito em julgado, ou seja, a oportunidade para o seu exercício é no curso do processo penal. Q.12. VUNESP/TJ-SP/Juiz/2014 Analise estas quatro assertivas atinentes a certas formas de clemência do Estado: I. A Primeira é concedida pelo Congresso Nacional, por lei, voltada ao esquecimento de certos fatos, fazendo desaparecer suas consequências penais, consistindo em medida de política criminal. II. A Segunda é concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto, voltada a condenados, dirigindo-se a determinada categoria de sentenciados. Configura expectativa de direito, eis que sua aplicação depende de decisão do Juízo das Execuções, que verifica o preenchimento dos requisitos exigidos para identificar quais daqueles condenados são alcançados pelo benefício presidencial, que, destarte, terão extintas suas penas. III. A Terceira se dirige a um determinado condenado, condicionada à prévia solicitação, concedida em razão de alguma especial situação ou mérito que apresente ou, simplesmente, pela vontade discricionária do Presidente da República, podendo ter caráter humanitário. IV. A Quarta é modalidade concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto, voltada a condenados e dirigida a um número indeterminado de reeducandos, desde que preencham os requisitos do decreto concessivo, podendo ajustar a execução, diminuindo ou substituindo a pena, devendo ser retificada a conta de liquidação para ajustá-la à nova realidade no tocan- te ao quantum, nos termos do decreto que a concedeu. A partir da análise destes quatro conceitos, conclui-se que estamos tratando, respectivamente, de: a) Graça, Comutação, Anistia, Indulto coletivo pleno. b) Anistia, Indulto coletivo pleno, Graça, Comutação. c) Anistia, Comutação, Graça, Indulto coletivo pleno. d) Graça, Indulto coletivo pleno, Anistia, Comutação. Comentários: A alternativa B é a alternativa correta. Anistia é a causa de extinção da punibilidade, formalizada por ato legislativo, de renúncia estatal ao direito de punir. A anistia apaga todos os efeitos penais, tanto os principais quanto secundários. Permanecem, entretanto, os efeitos extrapenais. Seus efeitos são ex tunc. A competência exclusiva pertence à União, sendo privativa do Congresso Nacional. A lei de anistia não pode ser revogada por lei posterior, em razão do princípio da irretroatividade. Graça em sentido estrito é um benefício individual. Depende de provocação do interessado para sua concessão e, com isso, ensejar a extinção da punibilidade. Indulto é um benefício coletivo. Sua concessãoatinge todos aqueles aos quais o decreto se destina, não dependendo de nenhuma provocação. A graça e o Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 52 indulto são causas de extinção da punibilidade, formalizadas por Decreto Presidencial, que representam uma renúncia do Estado ao seu direito de punir, por razões de política criminal ou clemência. Referido ato, de competência do Presidente da República, pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador- Geral da República e ao Advogado-Geral da União. Tal qual a anistia, a graça e o indulto apagam os efeitos penais principais. Entretanto, no caso da graça e do indulto, permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. A previsão desta causa de extinção da punibilidade está no artigo 84, inciso XII e parágrafo único, da Constituição. Comutação é a denominação dada a graça e ao indulto quando parciais, ou seja, quando concedem apenas uma diminuição da pena, tornando a situação do condenado ou executado mais benéfica. Q13. NC-UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014 O perdão do ofendido a) nos crimes em que somente se procede mediante queixa não impede o prosseguimento da ação. b) se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita. c) produz a exclusão da culpabilidade, mesmo que o querelado o recuse. d) se concedido por um dos ofendidos, prejudica o direito dos outros. e) não produz efeitos se for tácito. Comentários: A alternativa A está incorreta. O perdão do ofendido é causa de extinção da punibilidade que obsta o prosseguimento da ação penal privada exclusiva ou personalíssima, conforme o art. 105 do Código Penal: Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. A alternativa B está correta, pois, o artigo 106 do Código Penal prevê: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; A alternativa C está incorreta. Cuida-se de ato bilateral. Por conseguinte, a aceitação do querelado é imprescindível para extinguir a punibilidade. Abaixo, segue a fundamentação jurídica: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: III - se o querelado o recusa, não produz efeito. A alternativa D está incorreta. Vejamos: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 106, § 1º do Código Penal, o perdão tácito produz efeitos: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 53 § 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação. Desse modo, a alternativa B é a correta e gabarito da questão. Q14. VUNESP/TJ-RJ/Juiz/2014 Márcio e Rodrigo, vizinhos, divulgaram comunicado no condomínio onde residem, em que narram que a síndica, Tatiana, apropriou-se de valores em detrimento dos condôminos. Estão sendo processados por Tatiana, em ação penal privada, pelo crime de calúnia. No curso do processo e antes da sentença de primeiro grau, Márcio e Tatiana ficam noivos. Diante da notícia desse fato no processo, trazida pelo Ministério Público, o Juiz deve considerar que a) o fato comunicado não traz qualquer consequência à punibilidade dos querelados e deve dar seguimento ao processo. b) Márcio foi perdoado, estendendo tal benesse a Rodrigo, e deve intimá-los para que aceitem ou não o perdão. c) Márcio foi perdoado, extinguindo imediatamente sua punibilidade e deve intimar Rodrigo para que aceite ou não o perdão. d) Márcio foi perdoado, estendendo tal benesse a Rodrigo, e deve, imediatamente, extinguir a punibilidade de ambos. Comentários: A alternativa B é a alternativa correta. O Perdão tácito decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de prosseguir com a ação penal contra o agente. Se o agente e a ofendida, por exemplo, iniciaram um relacionamento amoroso, haverá perdão tácito em relação à ação penal privada em curso. Quanto ao Rodrigo, o perdão se aproveita conforme dispõe o dispositivo do Código Penal abaixo transcrito: Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; Com relação a ambos, devem ser intimados, pois o perdão é bilateral. Q15. Aroeira/PC-TO/Delegado de Polícia/2014 Extingue-se a punibilidade pela retratação do agente, no caso de: a) injúria real. b) denunciação caluniosa. c) autoacusação falsa. d) falso testemunho. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 54 Comentários: A alternativa D está correta. Com relação ao falso testemunho e à falsa perícia, a retratação é possível nos termos do artigo 342, § 2º, do Código Penal: § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Q16. MPE-MG/MPE-MG/Promotor de Justiça/2014 Não se pode deduzir o seguinte efeito da anistia: a) Pode ser revogada. b) Por não ser pessoal, a anistia do delito cometido pelo autor beneficia também os eventuais partícipes. c) A parte da pena cumprida até a descriminalização é considerada ao abrigo do direito vigente à época de sua execução, de modo que não se pode pedir a restituição da multa paga. d) Não pode ser repudiada pelo beneficiário. Comentários: A alternativa A é a alternativa incorreta. A lei de anistia não pode ser revogada por lei posterior, em razão do princípio da irretroatividade. Tendo sido extinta a punibilidade, não pode ela ser reinstituída por lei posterior mais gravosa, ou seja, lex gravior. Q17. MPE-MG/MPE-MG/Promotor de Justiça/2013 São situações especificamente previstas em lei que permitem o perdão judicial, EXCETO: a) “Lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, caso o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. b) Guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, considerando as circunstâncias do caso. c) Receptação imprópria, caso seja o autor primário e conforme as circunstâncias do caso. d) Injúria, quando o ofendido, de forma reprovável, provocou-a diretamente. Comentários: Alguns dos crimes tratados nesta questão são parte da disciplina Direito Penal Especial, por não estarem previstos no Código Penal. A alternativa A está correta. De acordo com o do art. 1º da Lei nº 12.683/2012, o juiz poderá beneficiar o delator com o perdão judicial: § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 55 esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. A alternativa B está correta. Vejamos o dispositivo da Lei 9.605/98: Dos Crimes contra a Fauna Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devidapermissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. A alternativa C está incorreta, haja vista inexistir previsão de perdão judicial para a receptação imprópria. Só é possível o perdão judicial no caso de receptação culposa. A alternativa D está correta. Em relação à injúria: Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria Portanto, o gabarito da questão é a alternativa C. Q18. COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013 Quanto à anistia, à graça e ao indulto, considere as afirmativas a seguir. I. A anistia e o indulto são atos privativos do Presidente da República, enquanto a graça é concedida pelo Congresso Nacional. II. A anistia pode ser recusada pelo destinatário, admitindo inclusive revogação, enquanto a graça e o indulto não podem ser recusados, inadmitindo revogação. III. A anistia tem natureza objetiva, dirigindo-se aos fatos, enquanto a graça em sentido estrito e o indulto destinam-se a determinados indivíduos, particular ou coletivamente considerados. IV. A graça e o indulto pressupõem o trânsito em julgado da sentença penal condenatória e não extinguem os seus efeitos penais. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 56 e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Comentários: O item I está incorreto. A anistia é concedida por meio de lei formal, elaborada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República (ou com veto derrubado pelos parlamentares). Enquanto a graça e indulto são concedidos por decreto do Presidente da República, ato que pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. O item II está incorreto. Primeiro, porque a lei de anistia não pode ser revogada por lei posterior, em razão do princípio da irretroatividade. Em segundo lugar, apenas se admite recusa quando a graça e o indulto são parciais, nos termos do artigo 739 do Código de Processo Penal: Art. 739. O condenado poderá recusar a comutação da pena. Os itens III e IV estão corretos. A alternativa C está correta e constitui o gabarito da questão. Q19. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2013 Analise o enunciado da questão abaixo e assinale "Certo" (C) ou "Errado" (E) Acerca da extinção da punibilidade, na hipótese da causa de extinção da punibilidade ocorrer depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em regra, o sujeito, vindo a cometer novo delito, será considerado reincidente, à exceção apenas do abolitio criminis e do indulto. o Certo o Errado Comentários: A assertiva está errada. A reincidência é efeito secundário penal, sendo afastada no caso de abolitio criminis, perdão judicial, prescrição da pretensão punitiva e anistia. No caso de indulto e de prescrição da pretensão executória, a reincidência permanece. Q20. FCC/TJ-PE/Juiz/2013 Em relação às causas de extinção da punibilidade, correto afirmar que: a) não a configuram a concessão de indulto parcial ou comutação, de competência privativa do Presidente da República. b) cabível o perdão judicial no caso de qualquer infração penal. c) a concessão de anistia é de competência privativa do Presidente da República, excluindo o crime e fazendo desaparecer suas consequências penais. d) a concessão de indulto faz com que o beneficiado retorne à condição de primário. e) não são previstas, em qualquer situação, para casos de reparação do dano pelo agente. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 57 Comentários: A alternativa A está correta, pois o indulto parcial concede apenas uma diminuição da pena, tornando a situação do condenado ou executado mais benéfica. Quando parciais, a graça e o indulto são denominados de comutação. A alternativa B está incorreta, pois o enunciado do art. 107, inciso IX do Código Penal é enfático no sentido de restringir a extinção da punibilidade apenas nos casos previstos em lei. A alternativa C está incorreta. A anistia é concedida por meio de lei formal, elaborada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República (ou com veto derrubado pelos parlamentares). A alternativa D está incorreta. O indulto apaga os efeitos penais principais. Entretanto, permanecem os efeitos penais secundários (como a reincidência) e os efeitos extrapenais. A alternativa E está incorreta. Pelo contrário, são previstas causas de extinção da punibilidade, em algumas situações, para casos de reparação do dano pelo agente. À título de exemplo, podemos citar a reparação do dano, antes de sentença irrecorrível, no peculato culposo, prevista no artigo 312, § 2º, do Código Penal. Q21. TRT-3ª Região/TRT-3ª Região/Juiz do Trabalho/2013 Na sistemática do Código Penal, são causas de extinção de punibilidade, exceto: a) Morte do agente b) Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso c) Perdão aceito nos crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada. d) Anistia, graça ou indulto e) Prescrição, decadência ou perempção Comentários: A alternativa C é o gabarito da questão. O perdão do ofendido é causa de extinção da punibilidade apenas na ação penal privada exclusiva ou personalíssima, em razão do princípio da disponibilidade. Q22. CESPE/DPE-TO/Defensor Público/2013 No que diz respeito ao indulto e à comutação de penas, assinale a opção correta. a) Admite-se a aplicação do indulto humanitário aos condenados por qualquer espécie de crimes, salvo os crimes hediondos, desde que comprovadas as condições para a concessão do benefício, por meio de laudo médico oficial ou por médico designado pelo juízo da execução. b) A concessão do indulto é ato privativo do presidente da República e tem por escopo extinguir os efeitos primários da condenação, de forma plena ou parcial, persistindo, contudo, os efeitos secundários, tais como reincidência, inclusão do nome do réu no rol dos culpados e obrigação de indenizar a vítima. c) Admite-se a concessão do benefício de comutação da pena aos condenados por crimes hediondos ou equiparados ante a ausência de vedação expressa na CF ou na lei de regência. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 58 d) É vedada a concessão de indulto à pena de multa, ainda que aplicada cumulativamente com pena privativa de liberdade. e) A extinção da punibilidade é efeito da aplicação do indulto e da comutação da pena, permanecendo o registro da condenação na folha de antecedentes do beneficiário, para fins de prova de reincidência e análise de antecedentes criminais. Comentários: A alternativa A está incorreta, pois o STJ tem aceitado o indulto humanitário nos casos de crimes hediondos e equiparados. A alternativa B está correta. A alternativa C está incorreta, pois, a Constituição Federal prevê em seu artigo 5º, inciso XLIII: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecenteskiller que, tendo completado 18 anos de idade, invada uma escola, mate vários colegas de sala e se mate logo em seguida. Crime houve. Entretanto, a morte do sujeito impede sua punição. É um caso de infração penal sem punibilidade. A punibilidade pode não estar presente por diversas causas, que costumam ser classificadas pela doutrina da seguinte forma: ➢ Causas de exclusão da punibilidade: são hipóteses que impedem o surgimento do direito de punir do Estado. Em razão de condições pessoais do agente, há hipóteses em que a prática de uma infração penal não implica o direito do Estado de aplicar uma punição, por motivos de política criminal. Nem todos os doutrinadores utilizam essa nomenclatura, sendo que muitos tratam como causas de isenção de pena, imunidades dos crimes contra o patrimônio ou escusas absolutórias. ➢ Condições objetivas de punibilidade: é a condição, externa ao delito, de que depende a imposição da sanção penal pela prática de um crime. As condições objetivas de punibilidade a condicionam, não dependendo da vontade do agente. O direito de punir fica suspenso até o advento dessa condição. ➢ Causas de extinção da punibilidade: são as situações que, após o surgimento do direito de punir do Estado, causam sua extinção. O direito de punir surge, mas deixa de existir por um motivo superveniente. As causas de extinção da punibilidade podem ser comuns ou gerais, referentes a todos os delitos, e especiais ou particulares, quando se limitam a determinadas infrações penais. Segue um esquema com a diferenciação entre as hipóteses, tratando de alguns exemplos desses casos: Os exemplos e as hipóteses de cada uma das modalidades de não incidência da punibilidade serão estudados separadamente. As causas de exclusão da punibilidade devem ser estudadas de forma mais detida no estudo dos crimes patrimoniais, por exemplo. Por sua vez, a condições objetivas de punibilidade serão estudadas ao longo de todo o curso, envolvendo também a disciplina de Direito Penal Especial, pois se referem a determinados crimes, com peculiaridades próprias. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 6 As causas extintivas da punibilidade devem ser estudadas aqui, especialmente aquelas listadas no artigo 107 do Código Penal. Entretanto, também existem as causas não elencadas em referido dispositivo, que serão tratadas ao longo do curso. De todo modo, o mais relevante é entender a diferença entre as causas de exclusão da punibilidade, as condições objetivas de punibilidade e as causas extintivas de punibilidade, em uma abordagem que busca o entendimento majoritário, considerando que há divergências doutrinárias. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA PUNIBILIDADE Em relação às situações em que há um delito, mas não há punibilidade, encontram-se as chamadas causas de exclusão da punibilidade. A causa de exclusão da punibilidade impede o surgimento do direito de punir do Estado. Portanto, apesar de haver a prática de um fato típico, ilícito e culpável, não haverá a punibilidade. As causas de exclusão da punibilidade delimitam o direito de punir do Estado, determinando que a prática de delitos por algumas pessoas, em certas circunstâncias, não implica a imposição de sanção penal. Os motivos são de política criminal, conforme escolha feita pelo legislador e expressa no ordenamento jurídico. As causas de exclusão da punibilidade são consideradas, por parte da doutrina, como imunidades absolutas ou escusas absolutórias. São hipóteses em que, apesar de configurado o delito, não há imposição de pena em razão de condição pessoal do agente, por política criminal. Também podem ser denominadas de causas de isenção de pena. Segundo Luiz Regis Prado, são condições objetivas de punibilidade negativamente formuladas, ou seja, se estiverem presentes não se impõe pena ao agente1. São, assim como as condições objetivas (que suspendem a prescrição) e como o próprio nome diz, de natureza objetiva, não sendo necessário que o dolo ou culpa do agente as alcance. Devem já estar presentes à época do delito, como condição pessoal do agente que impede que surja o direito de punir do Estado. No caso das imunidades relativas, que serão estudadas quando da análise dos crimes patrimoniais, o que se tem é a imposição de uma condição objetiva de punibilidade, consistente na exigência de representação do ofendido em razão de determinada condição pessoal do agente. Portanto, as imunidades relativas não implicam na exclusão da punibilidade e, por isso, não fazem parte do rol de causas de isenção de pena. 1 - IMUNIDADES ABSOLUTAS OU ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS As imunidades absolutas ou escusas absolutórias são hipóteses de exclusão da punibilidade em razão da relação existente entre o sujeito ativo e o passivo do delito. O Estado fica impedido de exercer seu direito de punir em determinadas hipóteses, mesmo que tenha havido crime, por opção legislativa de política criminal. 1 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Parte Geral e Parte Especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 352. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 7 Quando determinados delitos são cometidos no seio familiar, não há interesse social na repressão penal. Isto porque se entende que essa responsabilização representaria uma ingerência grande do Estado na família, ou seja, o poder de punir interferiria nas relações familiares de forma gravosa sem necessidade, por se tratar de tema meramente patrimonial. O Código prevê escusas absolutórias para delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família. As hipóteses estão elencadas no artigo 181 do Código Penal: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. O artigo transcrito acima faz referência ao Título II, denominado “Dos Crimes Contra o Patrimônio”. Sua incidência é limitada pelo artigo 183 do Código Penal, que exclui de sua incidência determinadas hipóteses: Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Essas hipóteses devem ser estudadas de forma mais detalhada na análise dos crimes contra o patrimônio. Entretanto, cumpre aqui entender como essas escusas absolutórias impedem que surja o ius puniendi. Se a esposa subtrair dois mil reais da carteira do seu marido, sua conduta será típica. Digamos que não haja nenhuma excludente de ilicitude e, por isso, seja antijurídica. Por fim, a culpabilidade está presente, pois ele tinha consciência da ilicitude do que fez, era capaz de querer e entender o que fez, o que torna sua conduta reprovável. Temos, portanto, a prática de um crime (fato típico, ilícito e culpável). Entretanto, a causa de exclusão da punibilidade impede que o direito de punir do Estado nasça. O artigo 181, inciso I, do Código Penal impede que se imponha sanção penal ao agente, razão pela qual o marido não deve ser processado nem denunciado pelo delito cometido. O exemplo demonstra que a causa de exclusão da punibilidade, chamada escusa absolutória, não se confunde com a causa de extinção da punibilidade. A escusa absolutória não permite sequer o nascimento da pretensão estatal de aplicação da sanção, de modo que o agente não pode ser condenado e ter contra si imposta uma pena em razão da conduta que praticou. Pensemos em outro exemplo. A prática do crime de furto por João em relação à Maria,e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Ademais, a Lei 8072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos, trata do tema no seu artigo 2º, inciso I: Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. A comutação é o indulto parcial e, portanto, também está vedada. A alternativa D está incorreta. Não há previsão para a vedação de concessão de indulto à pena de multa. A alternativa E está incorreta. A extinção da punibilidade é efeito da aplicação do indulto geral, não de comutação. No indulto geral, permanece o registro da condenação na folha de antecedentes do beneficiário, para fins de prova de reincidência e análise de antecedentes criminais. Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B. Q23. FGV/PC-MA/Delegado de Polícia/2012 Paulo dirigia seu veículo em que estavam sua filha Juliana e uma amiga desta de nome Janaína. Na ocasião, em excessiva velocidade, perde a direção do veículo e invade a mão contrária, colidindo com um caminhão que vinha em sua mão correta de direção. Do acidente, resultaram as mortes de Juliana e Janaína, sem que Paulo sofresse qualquer lesão. Paulo foi denunciado pela prática do injusto do Art. 302, da Lei n. 9.503/97 (homicídio culposo no trânsito), por duas vezes, na forma do Art. 70, do CP (concurso formal). No curso da instrução, a culpa de Paulo foi demonstrada, ficando comprovada a sua primariedade, bons antecedentes, excelente comportamento social, sendo o fato dos autos um caso isolado, nunca tendo se envolvido em outro acidente, apesar de possuir carteira de habilitação há mais de 20 anos. A defesa requereu ao final a extinção da punibilidade pelo perdão judicial, eis que uma das vítimas era sua própria filha. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 59 Diante desse quadro a) Paulo não faz jus ao perdão (Art. 107, IX, do CP), eis que tal causa de extinção da punibilidade não se aplica aos crimes da Lei n. 9.503/97, porquanto o artigo que dispunha de tal regra na referida lei especial foi vetado. b) Paulo terá direito ao perdão somente com relação à morte de sua filha, devendo ser condenado com relação à morte de Janaína. c) Paulo terá direito ao perdão judicial com relação a ambos os crimes. d) Paulo somente terá direito ao perdão se houver a concordância dos pais de Janaína. e) Paulo não terá direito ao perdão judicial, sob pena de tal decisão impedir a reparação civil respectiva. A alternativa C estava correta e era o gabarito da questão. Neste caso, o crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor abrange a concessão do perdão judicial, sendo permitida a analogia in bonam partem. Entretanto, o entendimento do STJ se fixou, atualmente, em sentido contrário à extensão do perdão, não sendo possível, atualmente, a extensão do perdão judicial a vítimas sem relação com o agente. Por isso, atualmente, a alternativa correta é a letra B. A questão foi mantida para demonstrar a oscilação da jurisprudência, com indicação, já no gabarito, da alternativa apontada pela banca em 2012 e qual a resposta é a correta no entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça. O tema deve ser estudado de forma mais detida no tema do homicídio culposo. Q24. TJ-DFT/ TJ-DFT/Juiz/2012 Julgue os itens a seguir: I – De acordo com o Código Penal, o indulto, a perempção e a retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso são causas extintivas da punibilidade. II – De acordo com o Código Penal e o entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça, o Juiz deve considerar a sentença que conceder perdão judicial exclusivamente para efeitos de reincidência. III – De acordo com o Código Penal, o Juiz poderá conceder perdão judicial em algumas hipóteses relacionadas aos crimes de injúria, outras fraudes e receptação culposa. IV – A Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/41) não prevê qualquer hipótese de concessão de perdão judicial. Estão corretos apenas os itens: a) I e II b) I e III c) II e IV d) III e IV Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 60 Os itens I está correto. Todas estas causas extintivas da punibilidade estão previstas no art. 107 do Código Penal: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. O item II está incorreto. O Código Penal foi claro ao afastar o efeito da reincidência nos casos em que há o perdão judicial, conforme o art. 20, abaixo transcrito: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Ademais, a Súmula nº 18, STJ dispõe que: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade. O item III está correto. O fundamento legal a respeito da possibilidade de concessão de perdão judicial nos crimes de injúria, outras fraudes e receptação culposa, estão, respectivamente nos seguintes dispositivos: Injúria Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. Outras fraudes Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena Receptação Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 61 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11106.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11106.htm#art5 Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (...) § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155 O item IV está incorreto, pois, no art. 8º e no art. 39 § 2º da Lei de Contravenções Penais há a previsão de duas hipóteses de aplicação do perdão judicial: Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusaveis, a pena pode deixar de ser aplicada. Art. 39. Participar de associação de mais de cinco pessoas, que se reunam periodicamente, sob compromisso de ocultar à autoridade a existência, objetivo, organização ou administração da associação: § 2º O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar de aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação. Portanto, o gabarito da questão é a alternativa B. Q25. TRF - 4ª Região/TRF - 4ª Região/Juiz Federal/2010 Dadas as assertivas abaixo,assinale a alternativa correta. I. A Lei 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro) não admite perdão judicial em nenhuma hipótese. II. É admitido o perdão judicial nos casos dos artigos 168-A do Código Penal (apropriação indébita previdenciária) e 337-A do Código Penal (sonegação previdenciária), em certas circunstâncias. III. É admitido perdão judicial nos casos de homicídio culposo e lesão corporal culposa, em certas circunstâncias. IV. Admite-se, conforme as circunstâncias, o perdão judicial no caso do delito previsto no artigo 176 do Código Penal, isto é, utilizar-se de serviço público de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento. V. Conforme as circunstâncias, a Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) admite perdão judicial no caso de guarda doméstica de animal silvestre não ameaçado de extinção. a) Está correta apenas a assertiva I. b) Estão corretas apenas as assertivas I, II, III e V. c) Estão corretas apenas as assertivas II, III, IV e V. d) Estão corretas todas as assertivas. e) Nenhuma assertiva está correta. Comentários: O item I está incorreto. A Lei 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro), recentemente alterada pela Lei 12.683/2012 prevê o perdão judicial no § 5º do art. 1º: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 62 Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. O item II está correto. É admitido o perdão judicial nos casos dos artigos 168-A do Código Penal e 337-A do Código Penal. Vejamos: Apropriação indébita previdenciária Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. Sonegação de contribuição previdenciária Sonegação de contribuição previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – (VETADO) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. O item III está correto. É admitido perdão judicial nos casos de homicídio culposo: Art. 121. Matar alguém: § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. E lesão corporal culposa: Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. O Item IV está correto. Admite-se o perdão judicial no caso do delito previsto no artigo 176 do Código Penal: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 63 Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. O Item V também está correto. A Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) admite perdão judicial: Dos Crimes contra a Fauna Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Por fim, a alternativa C está correta. Q26. FGV/PC-AP/Delegado de Polícia/2010 Relativamente à extinção da punibilidade, analise as afirmativas a seguir: I. Extingue-se a punibilidade, dentre outros motivos, pela morte do agente; pela anistia, graça ou indulto; pela prescrição, decadência ou perempção; e pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos capítulos I, II e III, do Título IV do Código Penal. II. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. III. A renúncia do direito de queixa, ou o oferecimento de perdão pelo querelante, nos crimes de ação privada, acarreta a extinção da punibilidade. Assinale: a) se somente a afirmativa I estiver correta. b) se somente a afirmativa II estiver correta. c) se somente a afirmativa III estiver correta. d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. e) se nenhuma afirmativa estiver correta. Comentários O item I está incorreto. A causa extintiva pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos capítulos I, II e III, do Título IV do Código Penal, foi revogada pela Lei nº 11.106 em 2005. Por isso, sequer foi mencionada na aula. O item II está incorreto. Vejamos o art. 108 do Código Penal: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 64 Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. O item III está incorreto, haja vista que acarreta a extinção da punibilidade, a renúncia do direito de queixa ou o perdão aceito, nos termos do art. 107, inciso V, do Código Penal: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; O item foi considerado incorreto porque menciona apenas o perdão. O perdão, por ser bilateral, não importa por si só na extinção da punibilidade, que só ocorre se houver sua aceitação pelo querelado. Por fim, a alternativa E está correta. Q27. FCC/TJ-MS/Juiz/2010 No que concerne aos crimes contra o patrimônio, possível assegurar que a) admitem, em alguns casos expressos, o perdão judicial. b) a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena no crime de roubo, consoante entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça. c) cabível a suspensão condicional do processo no estelionato,ainda que cometido contra entidade de assistência social. d) não há previsão legal de infração culposa. e) a ação penal é sempre pública incondicionada. Comentários: A alternativa A é a correta. Admite-se o perdão judicial na receptação culposa, na apropriação indébita previdenciária e em outras fraudes, nas circunstâncias peculiares previstas em cada caso. Q28. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2009 A respeito das nulidades e dos recursos em geral, julgue os itens subsequentes. Considere a seguinte situação hipotética. Antônio assassinou sua esposa e fugiu logo em seguida. Reunidos os elementos necessários ao início da persecução criminal, Antônio foi denunciado dois meses após o fato. O advogado contratado pela família do foragido apresentou certidão de óbito falsa ao juízo processante, que, sem perceber a falsidade, extinguiu a punibilidade do réu, tendo o decisum transitado em julgado. Nessa situação, como não há revisão criminal pro societate, não há como ser desconstituída a decisão judicial, restando às autoridades públicas apenas a punição dos responsáveis pela falsificação. o Certo Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 65 o Errado Comentários: O item está incorreto. De acordo com o entendimento do STF, a decisão é inexistente, pois baseada em uma premissa falsa. Como a verdadeira causa da extinção da punibilidade é a morte do agente, sem a efetiva ocorrência do efeito a decisão fica sem conteúdo. Q29. FCC/TJ-AP/Juiz/2009 É incabível o perdão judicial na a) injúria. b) fraude de refeição, alojamento ou uso de transporte sem dispor de recursos. c) receptação culposa. d) subtração de incapaz. e) lesão corporal simples dolosa. Comentários: A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. Como visto, é cabível o perdão judicial na injúria, em outras fraudes, na receptação culposa e na subtração de incapaz. A previsão de perdão judicial no caso de subtração de incapaz está no art. 249, § 2º do Código Penal: Subtração de incapazes Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. Q30. CESPE/TJ-SE/Juiz/2008 No que se refere à extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) Na ação penal privada, admite-se o perdão do ofendido após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em face do princípio da disponibilidade. b) A renúncia e a preclusão extinguem a punibilidade do agente nos crimes em que se procede mediante ação penal privada, exceto no caso de ação penal privada subsidiária da pública. c) A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto ou elemento constitutivo de outro crime a este se estende. d) A decisão que julga extinta a punibilidade do agente não impede a propositura da ação civil reparatória. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 66 e) A concessão de indulto é de competência do presidente da República, pode ocorrer antes ou depois da sentença penal condenatória e sempre retroage em benefício do agente. Comentários: A alternativa A está incorreta. Na verdade, na ação penal privada, admite-se o perdão do ofendido até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em face do princípio da disponibilidade. A alternativa B está incorreta. Apenas a renúncia extingue a punibilidade do agente nos crimes em que se procede mediante ação penal privada, exceto no caso de ação penal privada subsidiária da pública. A alternativa C está incorreta. Nets caso não há extensão de causa de extinção da punibilidade. Vejamos o art. 108 do Código Penal: Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. A alternativa D está correta e constitui o gabarito da questão. Por fim, a alternativa E está incorreta. Em regra, o indulto só é concedido após o trânsito em julgado. Tal qual a anistia, a graça e o indulto apagam os efeitos penais principais. Q31. FGV/TJ-AP/Juiz/2008 José da Silva é um viúvo que possui dois filhos, Maria e Manoel. Passados três anos da morte de sua mulher, José decide casar-se novamente com a advogada Messalina, mulher mal afamada na cidade, que contava vinte e cinco anos de idade, trinta a menos do que José. Informados de que o casamento ocorreria dentro de dois meses e inconformados com a decisão de seu pai, Maria e Manoel ofendem seu pai publicamente, na presença de várias testemunhas, com expressões como "otário", "burro" e "tarado", entre outras. José decide processar criminalmente os filhos, mas somente após a celebração de sua boda. Ocorre que Maria comparece ao casamento e se reconcilia com o pai, que lhe perdoa. Quatro meses depois do dia em que sofreu as ofensas, José da Silva ajuíza então a queixa-crime unicamente contra Manoel. A advogada que assina a petição é Messalina. A inicial é rejeitada pelo Juiz de Direito. Qual fundamento jurídico o juiz poderia ter alegado para justificar sua decisão? a) Manoel tinha razão ao xingar o pai, já que estava clara a estupidez de seu genitor, razão pela qual a conduta é atípica. b) Houve a extinção da punibilidade de Manoel, em virtude do perdão concedido por José a Maria. c) Houve decadência do direito de queixa, porque se passaram mais de três meses entre a data do fato e a data do oferecimento da inicial por José da Silva. d) Houve perempção, porque José da Silva não poderia constituir Messalina como advogada no processo que moveria contra o filho. e) Nenhum fundamento. A decisão está errada e a queixa deveria ter sido recebida. Comentários: A alternativa B está correta é o gabarito da questão. Neste caso, vale relembrar que a renúncia é a causa de extinção da punibilidade, que consiste em ato unilateral, do ofendido ou de seu representante legal, de Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 67 abdicação do direito de promover a ação penal privada. Como no caso, houve o concurso de agentes, a renúncia em relação a Maria se estende a Manoel. É o teor do artigo 49 do CPP: Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Q32. EJEF/TJ-MG/Juiz/2007 A abolitio criminis, também chamada novatio legis, faz cessar: a) os efeitos secundários da sentença condenatória, mas não a sua execução. b) a execução da pena e também os efeitos secundários da sentença condenatória. c) somente a execução da pena. d) a execução da pena em relação ao autor do crime. Entretanto, tratando-se de benefício pessoal, não se estende aos co-autores do delito. Comentários: A alternativa B é a certa, uma vez que a lei que revoga a previsão da norma penal incriminadora, seja de forma expressa ou tática, provoca a extinção da sanção penal imposta, bem como os efeitos penais da condenação. Q33. VUNESP/DPE-MS/Defensor Público/2014 Concedido perdão pelo ofendido/querelante, em ação privada, o juiz intima o ofensor/querelado para dizer se o aceita. O silêncio do intimado a) não produz nenhum efeito, devendo o procedimento seguir sua marcha. b) não produz nenhum efeito, devendo o juiz determinar que o Ministério Público assuma a ação penal. c) será interpretado como aceitação, devendo o juiz julgar extinta a punibilidade. d) será interpretado como aceitação, devendo o juiz proferir sentença de absolvição. Comentários:A alternativa C está correta. Quanto ao procedimento para aceitação do perdão, o artigo 58 do Código de Processo Penal prevê o seguinte: Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Q34. PUC-PR/TJ-RO /Juiz/2011 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 68 Se o querelante, nos crimes de ação penal privada, deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais, o juiz deverá: a) Extinguir desde logo o processo, em face da renúncia tácita. b) Extinguir desde logo o processo, em face do perdão tácito. c) Absolver desde logo o querelado. d) Julgar extinta a punibilidade pela decadência. e) Julgar extinta a punibilidade pela perempção. Comentários: A alternativa E está correta, pois a perempção é a causa de extinção da punibilidade que representa uma sanção processual ao querelante negligente ou inerte. Uma das hipóteses é a falta de pedido de condenação nas alegações finais. Q35. FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009 A extinção da punibilidade pela perempção a) pode ocorrer na ação penal privada exclusiva e na subsidiária da pública. b) pode ocorrer antes da instauração da ação penal. c) só pode ocorrer na ação penal privada exclusiva. d) só pode ocorrer na ação penal privada subsidiária da pública. e) aplica-se à ação penal pública. Comentários: A alternativa C está correta. A perempção só é cabível na ação penal privada exclusiva ou personalíssima, ou, nos termos da lei, nos casos em que se procede mediante queixa. Q36. FUMARC/DPE-MG/Defensor Público/2009 Nas hipóteses abaixo, só NÃO deve ser considerada como causa de extinção da punibilidade: a) Nos crimes contra os costumes, o casamento da vítima com o réu. b) Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento do tributo e acessórios antes do recebimento da denúncia. c) A renúncia ao direito de queixa ou representação. d) A graça. e) O indulto Comentários: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 69 A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. O casamento da vítima contra o réu não é mais causa de extinção da punibilidade nos crimes contra os costumes, atualmente denominados crimes contra a dignidade sexual. Q37. CESPE/DP-DF/Defensor Público/2019 Enunciado da questão: Acerca da ação penal, das causas extintivas da punibilidade e da prescrição, julgue o seguinte item. A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, não subsistindo qualquer efeito condenatório, salvo para fins de reincidência. Comentários: O STJ entende que não subsiste nenhum efeito condenatório, nem o de gerar a reincidência. Neste sentido, sua Súmula 18: “A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.” Deste modo, o item está incorreto. Q38. CESPE/TJ-PA/Juiz de Direito/2019 Pedro, imputável, praticou crime de homicídio culposo enquanto dirigia veículo automotor. Morreram Fátima, sua mãe, e Paulo, pessoa que conhecera minutos antes do delito. Pedro foi criminalmente processado, e a instrução probatória demonstrou que a morte de Fátima atingiu Pedro de forma tão grave que a sanção penal se tornou desnecessária. Também ficou demonstrada a inexistência de qualquer vínculo afetivo entre Pedro e Paulo. Assim, o juiz concedeu o perdão judicial a Pedro em relação ao crime que vitimou Fátima, mas não em relação ao que vitimou Paulo, em razão da ausência de vínculo afetivo anterior entre e Pedro. Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta, de acordo com a atual jurisprudência do STJ. a) Os delitos foram cometidos em concurso formal impróprio, logo é perfeitamente possível a concessão do perdão judicial ao homicídio de apenas uma das vítimas. b) É incabível perdão judicial para crime de homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor. c) Como houve concurso formal de crimes, o perdão judicial concedido pelo homicídio que vitimou Fátima deveria ter sido estendido para o que vitimou Paulo. d) Como houve concurso formal de crimes, o afastamento do perdão judicial para o homicídio de Paulo torna impossível o perdão judicial para o homicídio que vitimou Fátima. e) O fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza, por si só, a extensão dos efeitos do perdão judicial por um dos crimes se não comprovada, quanto ao outro, a existência de vínculo afetivo entre autor e vítima. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 70 Comentários: A alternativa A está incorreta. O perdão judicial é o instituto, cuja natureza é de causa de extinção da punibilidade, pelo qual o juiz deixa de aplicar a sanção penal, em virtude de circunstâncias específicas do caso. Em relação ao fato exposto na questão, a desnecessidade da pena ocorreu pelo fato de que a genitora do agente faleceu no acidente e, por isso, deve haver a concessão do perdão ao homicídio de Fátima. A alternativa B está incorreta. É permitida a concessão do perdão judicial no crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor em razão da analogia in bonam partem. A alternativa C está incorreta. Neste caso, o perdão judicial concedido pelo homicídio que vitimou Fátima não se estende a Paulo, em razão da ausência de uma relação afetiva entre eles, que justificaria a não aplicação de sanção penal. A alternativa D está incorreta. Esse não é o entendimento firmado pelo STJ, que determinou por se tratar de uma causa excepcional de extinção da punibilidade, no caso de concurso formal, o perdão judicial deve ser concedido após a análise de cada delito, se apenas forem preenchidos os requisitos indispensáveis para a sua concessão. A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. No REsp nº 1444699-RS, o STJ firmou o seguinte entendimento: RECURSO ESPECIAL. DUPLO HOMICÍDIO CULPOSO NO TRÂNSITO. CONCURSO FORMAL. ART. 302, CAPUT, DA LEI N. 9.503/1997, C/C ART. 70 DO CP. MORTE DE NAMORADO E DO AMIGO. PERDÃO JUDICIAL. ART. 121, § 5º, DO CÓDIGO PENAL. CONCESSÃO. VÍNCULO AFETIVO ENTRE RÉU E VÍTIMAS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. SÚMULA N. 7 DO STJ. EXTENSÃO DOS EFEITOS PELO CONCURSO FORMAL. INVIABILIDADE. SISTEMA DE EXASPERAÇÃO DA PENA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. CAUSA EXCEPCIONAL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (...) 6. Malgrado a instituição do concurso formal de crimes tenha intensão de beneficiar o acusado, estabelecendo o legislador um sistema de exasperação da pena que fixa a punição com base em apenas um dos crimes, não se deixou de acrescentar a previsão de imposição de uma cota-parte, apta a representar a correção também pelos demais delitos. Ainda assim, não há referência à hipótese de extensão da absolvição, da extinção da punibilidade, ou mesmo, da redução da pena pela prática de nenhum dos delitos, tanto que dispõe, o art. 108 do Código Penal, in fine, que, "nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão" . 7. Tratando-se o perdão judicial de uma causa de extinção da punibilidade de índole excepcional, somente pode ser concedido quando presentes os seus requisitos, devendo-se analisar cada delito de per si, e não de forma generalizada, como quando ocorre a pluralidade de delitos decorrentes do concurso formal de crimes. 8. Recurso especial não provido. (REsp 1444699/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em01/06/2017, DJe 09/06/2017) Assim, o fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza, por si só, a extensão dos efeitos do perdão judicial por um dos crimes. Q39. CESPE/TJDFT/Juiz de Direito/2016 A respeito da extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) A superveniência de causa relativamente independente não exclui a imputação, quando, por si só, produziu o resultado, mas os fatos anteriores são imputados a quem os praticou. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 71 b) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui a culpa, mas permite a punição por crime doloso, caso previsto em lei. c) A conduta será culposa quando o agente der causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia e só poderá ser considerada crime se houver previsão do tipo penal na modalidade culposa. d) A extinção da punibilidade de um dos agentes, nos crimes conexos, impede, quanto aos demais agentes, a agravação da pena resultante da conexão. e) O agente deixa de responder pelos atos praticados caso desista voluntariamente de prosseguir na execução ou impeça que o resultado se produza. Comentários: A alternativa A está incorreta. A causa superveniente, que seja relativamente independente afasta a imputação quando por si só produz o resultado. A alternativa B está incorreta. De acordo com o artigo 20 do Código Penal, o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. De acordo com o inciso II do artigo 18 do Código Penal, o crime é culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. De acordo com o parágrafo único do artigo, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente, ou seja, os crimes culposos devem ser previstos de forma expressa. A alternativa D está incorreta. O artigo 108 do Código Penal dispõe que, nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 15 do Código Penal, o agente que desiste de prosseguir na execução só responde pelos atos já praticados. Q40. FUMARC/PC-MG/Delegado Federal/2021 Com relação às causas de extinção da punibilidade, é CORRETO afirmar: a) A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, subsistindo, porém, o efeito condenatório da reincidência. b) Havendo a extinção da punibilidade de um crime de furto, se estende ela ao consequente crime de receptação da coisa subtraída em razão do princípio da indivisibilidade da ação penal. c) Na hipótese de crime de peculato doloso, o ressarcimento do dano precedente à sentença irrecorrível exclui a punibilidade. d) Nos casos de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela prescrição regula-se pela pena imposta a cada um dos crimes, isoladamente, afastando-se o acréscimo decorrente da continuação. Comentários A assertiva A está incorreta. Nos termos do artigo 120 do Código Penal, a sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 72 A assertiva B está incorreta. Nos termos do artigo 108 do Código Penal, a extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este A assertiva C está incorreta. O ressarcimento do dano precedente à sentença irrecorrível extingue a punibilidade do delito de peculato culposo, nos termos do artigo 312, §3º do Código Penal. A assertiva D está correta. Trata-se do disposto no artigo 119 do Código Penal: no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. Q41. VUNESP/PC-SP/Delegado Federal/2018 No que concerne ao art. 107 do CP, que enumera as causas extintivas da punibilidade, trata-se de rol a) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, a incapacidade mental superveniente ao crime. b) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, o cumprimento da suspensão condicional do processo. c) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, o indulto. d) taxativo, já que não admite exceção. e) taxativo, uma vez que as causas supralegais de extinção da punibilidade não são reconhecidas pela jurisprudência. Comentários A assertiva A está incorreta. Nos termos do artigo 41 do Código Penal, o condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado. A assertiva B está correta. Nos termos do artigo 89, §5ºda Lei nº 9.099/95, expirado o prazo da suspensão condicional do processo sem que haja revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade. A assertiva C está incorreta. O indulto é causa de extinção de punibilidade do próprio rol do artigo 107. Assim, não se trata-se de exemplo de hipótese de extinção da punibilidade não contida no referido artigo. As assertivas D e E estão incorretas. O rol não é taxativo, a exemplo da hipótese do artigo 89, §5ºda Lei nº 9.099/95. LISTA DE QUESTÕES Q1. CESPE/Polícia Federal/Delegado de Polícia/2013 Item 26 A respeito da pena pecuniária, julgue o item abaixo. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 73 26 A multa aplicada cumulativamente com a pena de reclusão pode ser executada em face do espólio, quando o réu vem a óbito no curso da execução da pena, respeitando-se o limite das forças da herança. Q2. FUMARC/DPE-MG/Defensor Público/2009 No crime de peculato culposo, a reparação do dano antes do trânsito em julgado da sentença, deve ser considerada como: a) Causa especial de diminuição de pena. b) Circunstância atenuante. c) Excludente de ilicitude. d) Excludente de imputabilidade. e) Causa de extinção de punibilidade. Q3. VUNESP/TJ-SP/Juiz Substituto/2015 Em matéria de ação penal, a decadência apresenta diferentes efeitos. Sobre isso, é correto afirmar que a) condiciona o agir do Ministério Público à condição de procedibilidade do ofendido em face do ofensor. b) na ação penal pública condicionada à representação, impede que a vítima apresente queixa-crime. c) sendo ação penal privada, ataca imediatamente o direito de agir do ofendido, e o Estado perde a pretensão punitiva. d) na ação privada, atinge o direito de o ofendido representar, e este não pode mais agir. Q4. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2013 Anistia decorre de lei e é causa de extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de punir por parte do Estado que, assim, promove o “esquecimento" da prática da infração penal, em prol da pacificação social ou política. Qual dos itens abaixo NÃO representa classificação de anistia para a doutrina? a) Própria ou imprópria. b) Geral ou parcial. c) Condicional ou incondicional. d) Restrita ou irrestrita. e) Obrigatória ou facultativa. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 74 Q5. FCC/MPE-CE/Promotor de Justiça/2011 O rol do art. 107 do Código Penal (extinção de punibilidade) é exemplificativo. Há outras causas previstas na Parte Especial e leis penais especiais, entre elas: a) o ressarcimento do danono peculato culposo; o pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia nos crimes de sonegação fiscal e a retratação no crime de falso testemunho. b) a retratação no crime de falso testemunho; o aborto quando não há outro meio de salvar a vida da gestante e o furto contra cônjuge, na constância do casamento. c) o furto e o roubo impróprio contra cônjuge na constância do casamento; o ressarcimento do dano no peculato culposo e o pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia no crime de sonegação fiscal. d) o ressarcimento integral do prejuízo no caso de estelionato; a retratação no crime de falso testemunho e a retratação do querelado na calúnia ou difamação. e) em todos os casos de crimes cometidos sem violência ou grave ameaça contra a pessoa em que haja reparação do dano. Q6. CESPE/DPE-PE/Defensor Público/2018 Com relação à punibilidade e às causas de sua extinção, julgue os itens a seguir. I A morte do agente extingue todos os efeitos penais, exceto a cobrança da pena de multa e da pena alternativa pecuniária, que poderão ser cobradas dos herdeiros. II O instrumento normativo para instrumentalizar o indulto e a anistia é o decreto presidencial; enquanto a graça é concedida por lei. III De acordo com o Código Penal, o recebimento de indenização pelo dano resultante do crime caracteriza renúncia tácita ao direito de prestar queixa. IV A retratação, prevista no Código Penal, é admitida nos casos de crimes contra a honra, mas apenas se tratar-se de calúnia e difamação, sendo inadmissível na injúria. V Em se tratando de crimes contra honra, o Código Penal prevê a possibilidade de retratação exclusivamente pessoal, ou seja, ela não se comunica aos demais ofensores. Estão certos apenas os itens a) I e II. b) I e III. c) II e V. d) III e IV. e) IV e V. Q7. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2017 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 75 Assinale a opção que apresenta causa que acarreta a extinção da punibilidade, extensível aos coautores e partícipes. a) morte do agente b) perempção c) perdão judicial d) retração do querelado na calúnia e) prescrição ao agente menor de vinte e um anos Q8. MPE-RS/MPE-RS/Promotor de Justiça/2017 Deoclécio foi vítima de furto de um par de tênis, em 15 de janeiro de 2016, data em que tomou conhecimento que o autor do crime era Hermenegildo. O Promotor de Justiça teve vista do inquérito policial em 1º de março de 2016, uma terça-feira. Tratando-se de indiciado solto, o prazo para o Promotor de Justiça manifestar-se encerrou em 16 de março de 2016, uma quarta-feira. Como o Promotor de Justiça permanecia sem manifestar-se nos autos do inquérito, em 08 de setembro de 2016, 6 meses e sete dias após o fato, Deoclécio ajuíza Queixa-Crime (ação penal privada subsidiária da pública) contra Hermenegildo, imputando-lhe a prática de furto. No curso da instrução são indiscutivelmente provadas a materialidade e a autoria do crime que recai sobre Hermenegildo. Em alegações finais, Deoclécio, por seu advogado munido de procuração com poderes especiais para tanto, concede perdão ao querelado, invocando o art. 58 do Código de Processo Penal que diz: “Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.”. Também em alegações finais, Hermenegildo aceita o perdão oferecido. Com base nesses dados fáticos, assinale a alternativa correta. a) Hermenegildo decaiu do direito de queixa, eis que entre a data do fato, momento que tomou conhecimento da autoria, e o oferecimento da queixa-crime transcorreram mais de 6 meses. b) Hermenegildo decaiu do direito de queixa, eis que entre a data da vista ao Promotor de Justiça e o oferecimento da queixa-crime transcorreram mais de 6 meses. c) Como a ação é privada, aceito o perdão o juiz julgará extinta a punibilidade. d) Não é admissível o perdão dada a natureza do crime. e) O perdão é ato personalíssimo e, portanto, não pode ser concedido através de advogado, mesmo com procuração. Q9. MPE-PR/MPE-PR/Promotor de Justiça/2016 Quanto ao indulto, é correto afirmar que: a) É vedada a concessão de indulto ao condenado pela prática de crime de tráfico de drogas privilegiado; Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 76 b) Na hipótese de indulto individual, o parecer do Conselho Penitenciário vincula o Presidente da República; c) O indulto extingue a pena e seus efeitos secundários (penais e extrapenais); d) O indulto coletivo é forma de indulgência concedida espontaneamente pelo Presidente da República atribuição esta indelegável a qualquer outra autoridade; e) O indulto individual ou graça pode ser recusado pelo beneficiário, caso estabelecidas condições para a sua concessão. Q10. CESPE/DPE-RN/Defensor Público/2015 No que se refere à extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento integral do débito tributário após o trânsito em julgado da condenação é causa de extinção da punibilidade. b) Na compreensão do STF, a decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu não pode ser revogada, dado que gera coisa julgada material. c) O indulto, ato privativo do presidente da República, tem por escopo extinguir os efeitos primários da condenação, isto é, a pena, de forma plena ou parcial. Todavia, persistem os efeitos secundários, tais como a reincidência. d) O recebimento de queixa-crime pelo juiz não é condição para o reconhecimento da perempção. e) O ajuizamento da queixa-crime perante juízo incompetente ratione loci, no prazo fixado para o seu exercício, não obsta o decurso do prazo decadencial. Q.11. FCC/TRT 3ª Região/Juiz do Trabalho Substituto/2015 O perdão do ofendido a) é admissível mesmo depois que passa em julgado a sentença condenatória. b) prejudica o direito dos outros, se concedido por um dos ofendidos. c) não aproveita a todos, se concedido apenas a um dos querelados. d) só é admissível se expresso. e) exige aceitação do querelado para produzir efeito. Q.12. VUNESP/TJ-SP/Juiz/2014 Analise estas quatro assertivas atinentes a certas formas de clemência do Estado: I. A Primeira é concedida pelo Congresso Nacional, por lei, voltada ao esquecimento de certos fatos, fazendo desaparecer suas consequências penais, consistindo em medida de política criminal. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 77 II. A Segunda é concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto, voltada a condenados, dirigindo-se a determinada categoria de sentenciados. Configura expectativa de direito, eis que sua aplicação depende de decisão do Juízo das Execuções, que verifica o preenchimento dos requisitos exigidos para identificar quais daqueles condenados são alcançados pelo benefício presidencial, que, destarte, terão extintas suas penas. III. A Terceira se dirige a um determinado condenado, condicionada à prévia solicitação, concedida em razão de alguma especial situação ou mérito que apresente ou, simplesmente, pela vontade discricionária do Presidente da República, podendo ter caráter humanitário. IV. A Quarta é modalidade concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto, voltada a condenados e dirigida a um número indeterminado de reeducandos, desde que preencham os requisitos do decreto concessivo, podendo ajustar a execução, diminuindo ou substituindo a pena, devendo ser retificada a conta de liquidação para ajustá-la à nova realidade no tocan- te aoquantum, nos termos do decreto que a concedeu. A partir da análise destes quatro conceitos, conclui-se que estamos tratando, respectivamente, de: a) Graça, Comutação, Anistia, Indulto coletivo pleno. b) Anistia, Indulto coletivo pleno, Graça, Comutação. c) Anistia, Comutação, Graça, Indulto coletivo pleno. d) Graça, Indulto coletivo pleno, Anistia, Comutação. Q13. NC-UFPR/DPE-PR/Defensor Público/2014 O perdão do ofendido a) nos crimes em que somente se procede mediante queixa não impede o prosseguimento da ação. b) se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita. c) produz a exclusão da culpabilidade, mesmo que o querelado o recuse. d) se concedido por um dos ofendidos, prejudica o direito dos outros. e) não produz efeitos se for tácito. Q14. VUNESP/TJ-RJ/Juiz/2014 Márcio e Rodrigo, vizinhos, divulgaram comunicado no condomínio onde residem, em que narram que a síndica, Tatiana, apropriou-se de valores em detrimento dos condôminos. Estão sendo processados por Tatiana, em ação penal privada, pelo crime de calúnia. No curso do processo e antes da sentença de primeiro grau, Márcio e Tatiana ficam noivos. Diante da notícia desse fato no processo, trazida pelo Ministério Público, o Juiz deve considerar que a) o fato comunicado não traz qualquer consequência à punibilidade dos querelados e deve dar seguimento ao processo. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 78 b) Márcio foi perdoado, estendendo tal benesse a Rodrigo, e deve intimá-los para que aceitem ou não o perdão. c) Márcio foi perdoado, extinguindo imediatamente sua punibilidade e deve intimar Rodrigo para que aceite ou não o perdão. d) Márcio foi perdoado, estendendo tal benesse a Rodrigo, e deve, imediatamente, extinguir a punibilidade de ambos. Q15. Aroeira/PC-TO/Delegado de Polícia/2014 Extingue-se a punibilidade pela retratação do agente, no caso de: a) injúria real. b) denunciação caluniosa. c) autoacusação falsa. d) falso testemunho. Q16. MPE-MG/MPE-MG/Promotor de Justiça/2014 Não se pode deduzir o seguinte efeito da anistia: a) Pode ser revogada. b) Por não ser pessoal, a anistia do delito cometido pelo autor beneficia também os eventuais partícipes. c) A parte da pena cumprida até a descriminalização é considerada ao abrigo do direito vigente à época de sua execução, de modo que não se pode pedir a restituição da multa paga. d) Não pode ser repudiada pelo beneficiário. Q17. MPE-MG/MPE-MG/Promotor de Justiça/2013 São situações especificamente previstas em lei que permitem o perdão judicial, EXCETO: a) “Lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, caso o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. b) Guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, considerando as circunstâncias do caso. c) Receptação imprópria, caso seja o autor primário e conforme as circunstâncias do caso. d) Injúria, quando o ofendido, de forma reprovável, provocou-a diretamente. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 79 Q18. COPS-UEL/PC-PR/Delegado de Polícia/2013 Quanto à anistia, à graça e ao indulto, considere as afirmativas a seguir. I. A anistia e o indulto são atos privativos do Presidente da República, enquanto a graça é concedida pelo Congresso Nacional. II. A anistia pode ser recusada pelo destinatário, admitindo inclusive revogação, enquanto a graça e o indulto não podem ser recusados, inadmitindo revogação. III. A anistia tem natureza objetiva, dirigindo-se aos fatos, enquanto a graça em sentido estrito e o indulto destinam-se a determinados indivíduos, particular ou coletivamente considerados. IV. A graça e o indulto pressupõem o trânsito em julgado da sentença penal condenatória e não extinguem os seus efeitos penais. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. Q19. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2013 Analise o enunciado da questão abaixo e assinale "Certo" (C) ou "Errado" (E) Acerca da extinção da punibilidade, na hipótese da causa de extinção da punibilidade ocorrer depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em regra, o sujeito, vindo a cometer novo delito, será considerado reincidente, à exceção apenas do abolitio criminis e do indulto. o Certo o Errado Q20. FCC/TJ-PE/Juiz/2013 Em relação às causas de extinção da punibilidade, correto afirmar que: a) não a configuram a concessão de indulto parcial ou comutação, de competência privativa do Presidente da República. b) cabível o perdão judicial no caso de qualquer infração penal. c) a concessão de anistia é de competência privativa do Presidente da República, excluindo o crime e fazendo desaparecer suas consequências penais. d) a concessão de indulto faz com que o beneficiado retorne à condição de primário. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 80 e) não são previstas, em qualquer situação, para casos de reparação do dano pelo agente. Q21. TRT-3ª Região/TRT-3ª Região/Juiz do Trabalho/2013 Na sistemática do Código Penal, são causas de extinção de punibilidade, exceto: a) Morte do agente b) Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso c) Perdão aceito nos crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada. d) Anistia, graça ou indulto e) Prescrição, decadência ou perempção Q22. CESPE/DPE-TO/Defensor Público/2013 No que diz respeito ao indulto e à comutação de penas, assinale a opção correta. a) Admite-se a aplicação do indulto humanitário aos condenados por qualquer espécie de crimes, salvo os crimes hediondos, desde que comprovadas as condições para a concessão do benefício, por meio de laudo médico oficial ou por médico designado pelo juízo da execução. b) A concessão do indulto é ato privativo do presidente da República e tem por escopo extinguir os efeitos primários da condenação, de forma plena ou parcial, persistindo, contudo, os efeitos secundários, tais como reincidência, inclusão do nome do réu no rol dos culpados e obrigação de indenizar a vítima. c) Admite-se a concessão do benefício de comutação da pena aos condenados por crimes hediondos ou equiparados ante a ausência de vedação expressa na CF ou na lei de regência. d) É vedada a concessão de indulto à pena de multa, ainda que aplicada cumulativamente com pena privativa de liberdade. e) A extinção da punibilidade é efeito da aplicação do indulto e da comutação da pena, permanecendo o registro da condenação na folha de antecedentes do beneficiário, para fins de prova de reincidência e análise de antecedentes criminais. Q23. FGV/PC-MA/Delegado de Polícia/2012 Paulo dirigia seu veículo em que estavam sua filha Juliana e uma amiga desta de nome Janaína. Na ocasião, em excessiva velocidade, perde a direção do veículo e invade a mão contrária, colidindo com um caminhão que vinha em sua mão correta de direção. Do acidente, resultaram as mortes de Juliana e Janaína, sem que Paulo sofresse qualquer lesão. Paulo foi denunciado pela prática do injusto do Art. 302, da Lei n. 9.503/97 (homicídio culposo no trânsito), por duas vezes, na forma do Art. 70, do CP (concurso formal). Estratégia Carreira Jurídica Delegadode Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 81 No curso da instrução, a culpa de Paulo foi demonstrada, ficando comprovada a sua primariedade, bons antecedentes, excelente comportamento social, sendo o fato dos autos um caso isolado, nunca tendo se envolvido em outro acidente, apesar de possuir carteira de habilitação há mais de 20 anos. A defesa requereu ao final a extinção da punibilidade pelo perdão judicial, eis que uma das vítimas era sua própria filha. Diante desse quadro a) Paulo não faz jus ao perdão (Art. 107, IX, do CP), eis que tal causa de extinção da punibilidade não se aplica aos crimes da Lei n. 9.503/97, porquanto o artigo que dispunha de tal regra na referida lei especial foi vetado. b) Paulo terá direito ao perdão somente com relação à morte de sua filha, devendo ser condenado com relação à morte de Janaína. c) Paulo terá direito ao perdão judicial com relação a ambos os crimes. d) Paulo somente terá direito ao perdão se houver a concordância dos pais de Janaína. e) Paulo não terá direito ao perdão judicial, sob pena de tal decisão impedir a reparação civil respectiva. Q24. TJ-DFT/ TJ-DFT/Juiz/2012 Julgue os itens a seguir: I – De acordo com o Código Penal, o indulto, a perempção e a retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso são causas extintivas da punibilidade. II – De acordo com o Código Penal e o entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça, o Juiz deve considerar a sentença que conceder perdão judicial exclusivamente para efeitos de reincidência. III – De acordo com o Código Penal, o Juiz poderá conceder perdão judicial em algumas hipóteses relacionadas aos crimes de injúria, outras fraudes e receptação culposa. IV – A Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/41) não prevê qualquer hipótese de concessão de perdão judicial. Estão corretos apenas os itens: a) I e II b) I e III c) II e IV d) III e IV Q25. TRF - 4ª Região/TRF - 4ª Região/Juiz Federal/2010 Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta. I. A Lei 9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro) não admite perdão judicial em nenhuma hipótese. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 82 II. É admitido o perdão judicial nos casos dos artigos 168-A do Código Penal (apropriação indébita previdenciária) e 337-A do Código Penal (sonegação previdenciária), em certas circunstâncias. III. É admitido perdão judicial nos casos de homicídio culposo e lesão corporal culposa, em certas circunstâncias. IV. Admite-se, conforme as circunstâncias, o perdão judicial no caso do delito previsto no artigo 176 do Código Penal, isto é, utilizar-se de serviço público de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento. V. Conforme as circunstâncias, a Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) admite perdão judicial no caso de guarda doméstica de animal silvestre não ameaçado de extinção. a) Está correta apenas a assertiva I. b) Estão corretas apenas as assertivas I, II, III e V. c) Estão corretas apenas as assertivas II, III, IV e V. d) Estão corretas todas as assertivas. e) Nenhuma assertiva está correta. Q26. FGV/PC-AP/Delegado de Polícia/2010 Relativamente à extinção da punibilidade, analise as afirmativas a seguir: I. Extingue-se a punibilidade, dentre outros motivos, pela morte do agente; pela anistia, graça ou indulto; pela prescrição, decadência ou perempção; e pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos capítulos I, II e III, do Título IV do Código Penal. II. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. III. A renúncia do direito de queixa, ou o oferecimento de perdão pelo querelante, nos crimes de ação privada, acarreta a extinção da punibilidade. Assinale: a) se somente a afirmativa I estiver correta. b) se somente a afirmativa II estiver correta. c) se somente a afirmativa III estiver correta. d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. e) se nenhuma afirmativa estiver correta. Q27. FCC/TJ-MS/Juiz/2010 No que concerne aos crimes contra o patrimônio, possível assegurar que a) admitem, em alguns casos expressos, o perdão judicial. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 83 b) a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento da pena no crime de roubo, consoante entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça. c) cabível a suspensão condicional do processo no estelionato, ainda que cometido contra entidade de assistência social. d) não há previsão legal de infração culposa. e) a ação penal é sempre pública incondicionada. Q28. CESPE/DPE-AL/Defensor Público/2009 A respeito das nulidades e dos recursos em geral, julgue os itens subsequentes. Considere a seguinte situação hipotética. Antônio assassinou sua esposa e fugiu logo em seguida. Reunidos os elementos necessários ao início da persecução criminal, Antônio foi denunciado dois meses após o fato. O advogado contratado pela família do foragido apresentou certidão de óbito falsa ao juízo processante, que, sem perceber a falsidade, extinguiu a punibilidade do réu, tendo o decisum transitado em julgado. Nessa situação, como não há revisão criminal pro societate, não há como ser desconstituída a decisão judicial, restando às autoridades públicas apenas a punição dos responsáveis pela falsificação. o Certo o Errado Q29. FCC/TJ-AP/Juiz/2009 É incabível o perdão judicial na a) injúria. b) fraude de refeiçãoo, alojamento ou uso de transporte sem dispor de recursos. c) receptação culposa. d) subtração de incapaz. e) lesão corporal simples dolosa. Q30. CESPE/TJ-SE/Juiz/2008 No que se refere à extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) Na ação penal privada, admite-se o perdão do ofendido após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, em face do princípio da disponibilidade. b) A renúncia e a preclusão extinguem a punibilidade do agente nos crimes em que se procede mediante ação penal privada, exceto no caso de ação penal privada subsidiária da pública. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 84 c) A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto ou elemento constitutivo de outro crime a este se estende. d) A decisão que julga extinta a punibilidade do agente não impede a propositura da ação civil reparatória. e) A concessão de indulto é de competência do presidente da República, pode ocorrer antes ou depois da sentença penal condenatória e sempre retroage em benefício do agente. Q31. FGV/TJ-AP/Juiz/2008 José da Silva é um viúvo que possui dois filhos, Maria e Manoel. Passados três anos da morte de sua mulher, José decide casar-se novamente com a advogada Messalina, mulher mal afamada na cidade, que contava vinte e cinco anos de idade, trinta a menos do que José. Informados de que o casamento ocorreria dentro de dois meses e inconformados com a decisão de seu pai, Maria e Manoel ofendem seu pai publicamente, na presença de várias testemunhas, com expressões como "otário", "burro" e "tarado", entre outras. José decide processar criminalmente os filhos, mas somente após a celebração de sua boda. Ocorre que Maria comparece ao casamento e se reconcilia com o pai, que lhe perdoa. Quatro meses depois do dia em que sofreu as ofensas, José da Silva ajuíza então a queixa-crime unicamente contra Manoel. A advogada que assina a petição é Messalina. A inicial é rejeitada pelo Juiz de Direito. Qual fundamento jurídicoo juiz poderia ter alegado para justificar sua decisão? a) Manoel tinha razão ao xingar o pai, já que estava clara a estupidez de seu genitor, razão pela qual a conduta é atípica. b) Houve a extinção da punibilidade de Manoel, em virtude do perdão concedido por José a Maria. c) Houve decadência do direito de queixa, porque se passaram mais de três meses entre a data do fato e a data do oferecimento da inicial por José da Silva. d) Houve perempção, porque José da Silva não poderia constituir Messalina como advogada no processo que moveria contra o filho. e) Nenhum fundamento. A decisão está errada e a queixa deveria ter sido recebida. Q32. EJEF/TJ-MG/Juiz/2007 A abolitio criminis, também chamada novatio legis, faz cessar: a) os efeitos secundários da sentença condenatória, mas não a sua execução. b) a execução da pena e também os efeitos secundários da sentença condenatória. c) somente a execução da pena. d) a execução da pena em relação ao autor do crime. Entretanto, tratando-se de benefício pessoal, não se estende aos co-autores do delito. Q33. VUNESP/DPE-MS/Defensor Público/2014 Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 85 Concedido perdão pelo ofendido/querelante, em ação privada, o juiz intima o ofensor/querelado para dizer se o aceita. O silêncio do intimado a) não produz nenhum efeito, devendo o procedimento seguir sua marcha. b) não produz nenhum efeito, devendo o juiz determinar que o Ministério Público assuma a ação penal. c) será interpretado como aceitação, devendo o juiz julgar extinta a punibilidade. d) será interpretado como aceitação, devendo o juiz proferir sentença de absolvição. Q34. PUC-PR/TJ-RO /Juiz/2011 Se o querelante, nos crimes de ação penal privada, deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais, o juiz deverá: a) Extinguir desde logo o processo, em face da renúncia tácita. b) Extinguir desde logo o processo, em face do perdão tácito. c) Absolver desde logo o querelado. d) Julgar extinta a punibilidade pela decadência. e) Julgar extinta a punibilidade pela perempção. Q35. FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009 A extinção da punibilidade pela perempção a) pode ocorrer na ação penal privada exclusiva e na subsidiária da pública. b) pode ocorrer antes da instauração da ação penal. c) só pode ocorrer na ação penal privada exclusiva. d) só pode ocorrer na ação penal privada subsidiária da pública. e) aplica-se à ação penal pública. Q36. FUMARC/DPE-MG/Defensor Público/2009 Nas hipóteses abaixo, só NÃO deve ser considerada como causa de extinção da punibilidade: a) Nos crimes contra os costumes, o casamento da vítima com o réu. b) Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento do tributo e acessórios antes do recebimento da denúncia. c) A renúncia ao direito de queixa ou representação. d) A graça. e) O indulto Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 86 Q37. CESPE/DP-DF/Defensor Público/2019 Enunciado da questão: Acerca da ação penal, das causas extintivas da punibilidade e da prescrição, julgue o seguinte item. A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, não subsistindo qualquer efeito condenatório, salvo para fins de reincidência. Q38. CESPE/TJ-PA/Juiz de Direito/2019 Pedro, imputável, praticou crime de homicídio culposo enquanto dirigia veículo automotor. Morreram Fátima, sua mãe, e Paulo, pessoa que conhecera minutos antes do delito. Pedro foi criminalmente processado, e a instrução probatória demonstrou que a morte de Fátima atingiu Pedro de forma tão grave que a sanção penal se tornou desnecessária. Também ficou demonstrada a inexistência de qualquer vínculo afetivo entre Pedro e Paulo. Assim, o juiz concedeu o perdão judicial a Pedro em relação ao crime que vitimou Fátima, mas não em relação ao que vitimou Paulo, em razão da ausência de vínculo afetivo anterior entre e Pedro. Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta, de acordo com a atual jurisprudência do STJ. a) Os delitos foram cometidos em concurso formal impróprio, logo é perfeitamente possível a concessão do perdão judicial ao homicídio de apenas uma das vítimas. b) É incabível perdão judicial para crime de homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor. c) Como houve concurso formal de crimes, o perdão judicial concedido pelo homicídio que vitimou Fátima deveria ter sido estendido para o que vitimou Paulo. d) Como houve concurso formal de crimes, o afastamento do perdão judicial para o homicídio de Paulo torna impossível o perdão judicial para o homicídio que vitimou Fátima. e) O fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza, por si só, a extensão dos efeitos do perdão judicial por um dos crimes se não comprovada, quanto ao outro, a existência de vínculo afetivo entre autor e vítima. Q39. CESPE/TJDFT/Juiz de Direito/2016 A respeito da extinção da punibilidade, assinale a opção correta. a) A superveniência de causa relativamente independente não exclui a imputação, quando, por si só, produziu o resultado, mas os fatos anteriores são imputados a quem os praticou. b) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui a culpa, mas permite a punição por crime doloso, caso previsto em lei. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 87 c) A conduta será culposa quando o agente der causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia e só poderá ser considerada crime se houver previsão do tipo penal na modalidade culposa. d) A extinção da punibilidade de um dos agentes, nos crimes conexos, impede, quanto aos demais agentes, a agravação da pena resultante da conexão. e) O agente deixa de responder pelos atos praticados caso desista voluntariamente de prosseguir na execução ou impeça que o resultado se produza. Q40. FUMARC/PC-MG/Delegado Federal/2021 Com relação às causas de extinção da punibilidade, é CORRETO afirmar: a) A concessão do perdão judicial nos casos previstos em lei é causa extintiva da punibilidade do crime, subsistindo, porém, o efeito condenatório da reincidência. b) Havendo a extinção da punibilidade de um crime de furto, se estende ela ao consequente crime de receptação da coisa subtraída em razão do princípio da indivisibilidade da ação penal. c) Na hipótese de crime de peculato doloso, o ressarcimento do dano precedente à sentença irrecorrível exclui a punibilidade. d) Nos casos de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela prescrição regula-se pela pena imposta a cada um dos crimes, isoladamente, afastando-se o acréscimo decorrente da continuação. Q41. VUNESP/PC-SP/Delegado Federal/2018 No que concerne ao art. 107 do CP, que enumera as causas extintivas da punibilidade, trata-se de rol a) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, a incapacidade mental superveniente ao crime. b) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, o cumprimento da suspensão condicional do processo. c) exemplificativo, já que são admitidas pela legislação causas ali não contidas, como, por exemplo, o indulto. d) taxativo, já que não admite exceção. e) taxativo, uma vez que as causas supralegais de extinção da punibilidade não são reconhecidas pela jurisprudência. GABARITO Q1. Errada Q2. E Q3. C Q4. E Q5. A Q6. E Q7. B Q8. D Q9. E Q10. C Q11. E Q12. B Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 88Q13. B Q14. B Q15. D Q16. A Q17. C Q18. C Q19. Errada Q20. A Q21. C Q22. B Q23. Oficial: C Atual: B Q24. B Q25. C Q26. E Q27. A Q28. ERRADO Q29. E Q30. D Q31. B Q32. B Q33. C Q34. E Q35. C Q36. A Q37. ERRADO Q38. E Q39. C Q40. D Q41. B DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA Neste ponto da aula, citamos, para fins de revisão, os principais dispositivos de lei e entendimentos jurisprudenciais que podem fazer a diferença na hora da prova. Lembre-se de revisá-los! Art. 181 do Código Penal: hipóteses de escusas absolutórias para delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família. Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Art. 183 do Código Penal: limita a incidência de escusas absolutórias para delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família, em determinadas hipóteses. Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 348, § 2º, do Código Penal: escusa absolutória defendida por Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini. Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 89 § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Súmula Vinculante nº 24: condição objetiva de punibilidade dos crimes tributários. Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. Art. 180 da Lei 11.101/2005: condição de punibilidade dos crimes tributários nos casos de sentença de falência, concessão de recuperação judicial ou homologação da recuperação extrajudicial. Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei. Art. 7º, inciso II e §§ 2º e 3º, do Código Penal: extraterritorialidade condicionada. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (...) § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Art. 107 do Código Penal: causas de extinção da punibilidade Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 90 II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Art. 312, § 2º, do Código Penal: reparação do dano, antes de sentença irrecorrível, no peculato culposo como causa de extinção da punibilidade. Art. 312 (...) Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Art. 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003: pagamento do débito em relação aos crimes tributários como causa de extinção da punibilidade Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. § 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. RHC 91237/STJ: possibilidade da extinção da punibilidade, pelo pagamento dos tributos e seus acessórios, mesmo após o trânsito em julgado da condenação. “PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE EXCEPCIONALIDADE. 2. CRIME TRIBUTÁRIO. CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO. SÚMULA VINCULANTE 24/STF. JUSTA CAUSA. 3. DISCUSSÃO NA SEARA CÍVEL. IRRELEVÂNCIA. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS. 4. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. DESNECESSIDADE DE SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL. POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO MESMO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. 5. RECURSO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 91 1. O trancamento da ação penal na via estreita do habeas corpus somente é possível, em caráter excepcional, quando se comprovar, de plano, a inépcia da denúncia, a atipicidade da conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito. 2. Somente há justa causa para a persecução penal pela prática do crime previsto no art. 1º da Lei n. 8.137/1990, com o advento do lançamento definitivo do crédito tributário. Nesse sentido, é o teor da Súmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal: "Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo". 3. Ocorrido o lançamento definitivo do crédito tributário, eventual discussão na esfera cível não obsta o prosseguimento da ação penal que apura a ocorrência de crime contra a ordem tributária, haja vista a independência das esferas cível e penal. 4. Não tendo havidosua vizinha, com quem namorou, não está acobertada por nenhuma escusa absolutória. Portanto, com a configuração do delito, o direito de punir do Estado surge. Se a investigação demorar e houver o reconhecimento da prescrição, durante o curso do processo penal, o direito de punir terá nascido, mas será extinto em razão de um evento superveniente. Na causa de exclusão de punibilidade, não nasce o direito de punir. Já a causa de extinção da punibilidade põe fim ao direito de punir em razão de um fator superveniente. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 8 Por fim, Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini defendem que também há escusa absolutória no caso do artigo 348, § 2º, do Código Penal2. Se adotada a denominação de causa de exclusão de punibilidade, teremos outro caso de referida hipótese: Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Portanto, a hipótese de isenção de pena no crime de favorecimento pessoal constitui outro exemplo de exclusão da punibilidade. No caso de o crime ser praticado para favorecer um ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do sujeito ativo, não nascerá o direito de punir do Estado. Teremos um fato típico, ilícito e culpável, mas desde a sua configuração não haverá a punibilidade. Como a punibilidade é pressuposto da aplicação de pena, não será possível sua imposição. 2 - IMUNIDADES PARLAMENTARES, DIPLOMÁTICAS E DOS ADVOGADOS Entendemos que as imunidades materiais dos parlamentares, dos agentes diplomáticos e dos advogados também podem ser denominadas causas de exclusão da punibilidade, já que prevalece na doutrina que elas têm natureza de causa pessoal de isenção de pena. Entretanto, cuida-se de assunto já estudado neste curso e de classificação não unânime na doutrina, razão pela qual não o abordaremos aqui. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE Condições objetivas de punibilidade são requisitos para a imposição da pena que não integram o tipo penal. Tipo penal, como estudaremos adiante, é a previsão da conduta que configura o crime, sendo que, no caso de homicídio, é “matar alguém”. A adequação da conduta praticada ao tipo penal (tipicidade) é necessária para que o agente possa ser punido pela conduta (ação ou omissão) que praticou. 2 Mirabete, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 32 ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016, p. 376. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 9 Atuam de forma objetiva, sem necessidade de que o agente atue com elemento subjetivo com relação a tais condições3. Condicionam a aplicação da pena, apesar de o delito estar configurado, com os seus elementos presentes. A punibilidade depende de uma condição futura simplesmente por razões de política criminal. Para alguns, apesar de se referir à punibilidade, haveria impedimento à própria configuração do delito, já que não haveria sequer sanção penal atrelada à conduta. É o que se nota da Súmula Vinculante 24 do STJ (“não se tipifica”). A matéria, portanto, é controversa. Referidas condições são denominadas objetivas por não dependerem do dolo ou culpa do agente. Na verdade, são condições cuja ocorrência não está sujeita ao arbítrio do sujeito ativo, mas depende de fatores externos. São baseadas em política criminal, ou seja, em juízo de oportunidade, conveniência e necessidade ou não de imposição de sanção penal. Sem que se constate a condição objetiva de punibilidade, não se pode intentar a ação penal, pois o fato não é punível. Em conjunto com as escusas absolutórias, são condições para a imposição da pena de acordo com a política criminal vigente, permitindo que o legislador adeque eventual necessidade de punição à realidade social do momento. São exemplos de condições objetivas de punibilidade: 1 - CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO DÉBITO NOS CRIMES TRIBUTÁRIOS Ainda que haja divergências, tem prevalecido na doutrina que a constituição definitiva do débito tributário é condição objetiva de punibilidade dos respectivos crimes. Entretanto, prevê a Súmula Vinculante nº 24 que o crime não se tipifica, o que não se compatibiliza perfeitamente com a noção de condição de punibilidade: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. Deste modo, ainda que não haja essa previsão no próprio tipo penal de cada um dos crimes tributários, só se pode punir a conduta formalmente típica após o lançamento definitivo do tributo. A punibilidade dos delitos previstos no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90 depende da constituição definitiva do crédito tributário, ficando suspensa até o advento desta condição. 3 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Parte Geral e Parte Especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 351. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 10 2 - SENTENÇA DE FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU EXTRAJUDICIAL E CRIMES FALIMENTARES: A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação extrajudicial é condição objetiva de punibilidade nos crimes falimentares. Neste caso, a própria lei prevê a natureza jurídica desta condição de punibilidade: para aplicação de sanção penal no caso dos crimes falimentares, é necessário que haja decretação da falência, concessão de recuperação judicial ou homologação da recuperação extrajudicial. É o que prevê o artigo 180 da Lei 11.101/2005: Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei. Deste modo, ainda que praticado um crime falimentar, com todos os seus elementos (fato típico, ilícito e culpável), o direito de punir do Estado ficará sob a condição suspensiva da prolação de sentença que decrete a falência, homologue a recuperação extrajudicial ou conceda a recuperação judicial. 3 - CONDIÇÕES PARA A EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA A extraterritorialidade representa a aplicação excepcional da lei penal brasileira em casos ocorridos fora do território nacional. Pode ser condicionada ou incondicionada. A extraterritorialidade condicionada diz respeito às hipóteses de aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos no exterior, quando submetida a aplicação a determinadas condições. Está prevista no artigo 7º, inciso II e §§ 2º e 3º, do Código Penal: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (...) § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michaelo pagamento, não há se falar em extinção da punibilidade. Igualmente, mostra-se despicienda a suspensão da ação penal, porquanto, mesmo após o trânsito em julgado da condenação, é possível a extinção da punibilidade pelo efetivo pagamento do tributo. 5. Recurso em habeas corpus improvido.” (STJ, RHC 91237/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 28/02/2018). Art. 59, parágrafo único, da Lei das Contravenções Penais: aquisição posterior de renda, em relação ao condenado pela contravenção penal de vadiagem como causa de extinção da punibilidade. Art. 59. Entregar-se alguem habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a pena. Art. 522 do CPP: conciliação nos casos dos crimes contra a honra como causa de extinção da punibilidade. Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será arquivada. Art. 60, § 2º, do Código Florestal: a regularização de imóvel ou posse rural, perante o órgão competente, em relação aos crimes ambientais como causa de extinção da punibilidade. Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido. § 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 92 § 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei. Artigo 87, caput e parágrafo único da Lei n 12.529/2011: cumprimento do acordo de leniência, nos casos de crimes contra a ordem econômica e os relacionados à prática de cartel como causa de extinção da punibilidade. Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência. Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo. Art. 171, § 2º, inciso VI do Código Penal: causa supralegal de extinção da punibilidade Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (...) § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. Súmula nº 554 do STF: interpretação a contrario sensu da causa supralegal de extinção da punibilidade prevista no art. 171, § 2º, inciso VI do Código Penal. O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. Art. 5º, inciso XLV, Constituição da República: duas exceções do princípio da intranscendência da pena. XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; Art. 3º, caput, da Lei 9.434/97: critério para a definição de quando ocorre a morte do agente. Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. Art. 62 do Código de Processo Penal: a morte deve ser provada com a certidão de óbito. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 93 Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade. HC 104998 STF: entendimento de que em caso de sentença que extingue a punibilidade baseada em certidão de óbito falsa é inexistente. “EMENTA "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. PRONÚNCIA. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS OU INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA EM RELAÇÃO A CORRÉU. INVIABILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO WRIT CONSTITUCIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. 2. Não é o habeas corpus meio idôneo para o reexame aprofundado dos fatos e da prova, necessário, no caso, para a verificação da existência ou não de provas ou indícios suficientes à pronúncia do paciente por crimes de homicídios que lhe são imputados na denúncia. 3. Habeas corpus denegado.” (STF, HC 104998/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, Julgamento em 14/12/2010) Art. 7º do Código Civil: decretação da extinção da punibilidade em casos de morte presumida do agente. Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Art. 88, caput e parágrafo único, da Lei de Registros Públicos: desaparecimento do indivíduo em determinas situações calamitosas. Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. Parágrafo único. Será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que convençam da ocorrência do óbito. Art. 84, inciso XII e parágrafo único, da Constituição: competência para conceder o indulto. Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 94 XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; (...) Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuiçõesmencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. Art. 5º, inciso XLIII da Constituição Federal: casos de vedação. XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá- los, se omitirem; Art. 2º, inciso I da Lei 8072/90: anistia, graça e indulto na Lei de crimes hediondos. Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. HC 115099, STF: a constitucionalidade do art. 2º, inciso I da Lei 8072/90. “EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. LATROCÍNIO. CRIME HEDIONDO. COMUTAÇÃO DE PENA. DECRETO N. 7.046/2009. VEDAÇÃO LEGAL EXPRESSA. IMPOSSIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o instituto da graça, previsto no art. 5.º, inc. XLIII, da Constituição Federal, engloba o indulto e a comutação da pena, estando a competência privativa do Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no referido dispositivo constitucional. Precedentes. 2. O Decreto n. 7.046/2009 dispõe que a concessão dos benefícios de indulto e comutação da pena não alcança as pessoas condenadas por crime hediondo, praticado após a edição das Leis ns. 8.072/1990, 8.930/1994, 9.695/1998, 11.464/2007 e 12.015/2009. 3. Ordem denegada.” (STF, HC 115099/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia, Segunda Turma, Julgamento em 19/02/2013) HC 117938 STF: entendimento que a hediondez ou não do delito deve ser aferida no momento da concessão da anistia, da graça ou do indulto: “EMENTA HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL. NÃO ESGOTAMENTO DA JURISDIÇÃO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CRIME COMETIDO ANTES DA VIGÊNCIA DAS LEIS 8.072/1990 e 8.930/1994. INDULTO. COMUTAÇÃO DE PENA. DECRETO N.º 2.838/1998. 1. Há óbice ao conhecimento de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática de Ministro Relator do Superior Tribunal de Justiça, em que dado provimento ao recurso especial do Parquet interposto naquela Corte, cuja jurisdição não se esgotou. 2. Tratando-se o indulto de ato discricionário do Presidente da República, restrito, portanto, às condições estabelecidas em decreto presidencial, a vedação de sua concessão aos apenados por crimes hediondos, ainda Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 95 que cometidos antes da vigência das Leis 8.072/1990 e 8.930/1994, não configura violação do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Precedentes. 3. A aferição da natureza do crime, para concessão do indulto, há de se fazer na data da edição do decreto presidencial respectivo, não na do cometimento do delito. Precedentes. 4. Habeas corpus extinto sem resolução de mérito.” (STF, HC 117938/SP, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento em 10/12/2013). HC 118533 STF: não proibição de anistia, graça e indulto para o tráfico privilegiado. EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. APLICAÇÃO DA LEI N. 8.072/90 AO TRÁFICO DE ENTORPECENTES PRIVILEGIADO: INVIABILIDADE. HEDIONDEZ NÃO CARACTERIZADA. ORDEM CONCEDIDA. 1. O tráfico de entorpecentes privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.313/2006) não se harmoniza com a hediondez do tráfico de entorpecentes definido no caput e § 1º do art. 33 da Lei de Tóxicos. 2. O tratamento penal dirigido ao delito cometido sob o manto do privilégio apresenta contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente porque são relevados o envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa. 3. Há evidente constrangimento ilegal ao se estipular ao tráfico de entorpecentes privilegiado os rigores da Lei n. 8.072/90. 4. Ordem concedida. (STF, HC 118533/MS, Rel. Min. Carmen Lúcia) Súmula nº 611 do STF: juiz competente no caso de abolitio criminis depois de transitado em julgada a sentença. Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. Art. 103 do Código Penal: decadência Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. Súmula 594 do STF: titularidade do direito de queixa e de representaação Os direitos de queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal. HC 115341 STF: dualidade de titulares do direito de queixa e de representação. EMENTA Habeas corpus. Penal. Atentado violento ao pudor (CP, art. 214 na redação anterior à Lei nº 12.015/09). Ofendida menor de 18 anos. Representação. Prazo. Contagem. Dualidade. Súmula nº 594 da Suprema Corte. Decadência. Não ocorrência. Ordem denegada. 1. Na ocorrência do delito descrito no art. 214 do Código Penal – antes da revogação pela Lei nº 12.015/2009 –, o prazo decadencial para a apresentação de queixa ou de representação era de 6 meses após a vítima completar a maioridade, em decorrência da dupla titularidade. 2. Esta Suprema Corte tem reconhecido a dualidade de titulares do direito de representar ou Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 96 oferecer queixa, cada um com o respectivo prazo: um para o ofendido e outro para seu representante legal. Súmula nº 594 do STF. Precedentes. 3. Ordem denegada. (STF, HC 115341/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, Julgamento em 14/10/2014). Art. 31, 33 e 36 do Código de Processo Penal: o direito de queixa do ofendido maior de 18 anos Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (...) Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal. (...) Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone. REsp 1493485 STJ: unificação da maioridade civil e penal. “PENAL. RECURSO ESPECIAL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. COMPROVAÇÃO DE MISERABILIDADE DA VÍTIMA. SÚMULA N. 7 DO STJ. RÉU MENOR DE 21 ANOS. NOMEAÇÃO DE CURADOR. DESNECESSIDADE. LEI N. 12.015/2009. APLICAÇÃO. PREJUÍZO. INEXISTÊNCIA. COMBINAÇÃO DE LEIS. IMPOSSIBILIDADE. REGIME FECHADO. CABIMENTO. QUANTIDADE DE PENA E CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. EXECUÇÃO IMEDIATA DA PENA DETERMINADA. 1. A desconstituição das conclusões adotadas pelas instâncias antecedentes - a família aufere renda insuficiente para afastar a condiçãode pobreza processual - demandaria profundo reexame de matéria fático-probatória, o que é vedado pela Súmula n. 7 desta Corte Superior. 2. O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que, "após a edição do Código Civil de 2002, quando a maioridade foi estabelecida em 18 (dezoito) anos, não é mais necessária a nomeação de curador especial, no processo penal, para os acusados com idade entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos" (AgRg no AREsp n. 404.293/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., DJe 7/4/2014). 3. Os preceitos da Lei n. 12.015/2009 não são prejudiciais ao recorrente, uma vez que, conquanto a norma penal secundária seja fixada em patamares superiores (de 8 a 15 anos), não mais incide a causa especial de aumento de pena positivada no art. 9º da Lei 8.072/1990, que acrescia de metade as penas fixadas in concreto. 4. A Terceira Seção desta Corte Nacional consolidou que é vedada a combinação de leis, em face do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (art. 5º, XL, da Constituição da República), "que impõe o exame, no caso concreto, de qual diploma legal, em sua integralidade, é mais favorável" (EREsp n. 1.094.499/MG, Rel. Ministro Felix Fischer, 3ª S., DJe 18/8/2010). 5. Pela quantidade de pena final imposta (8 anos e 4 meses de reclusão) - além de haverem sido consideradas desfavoráveis circunstâncias judiciais Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 97 na primeira fase da dosimetria - o regime fechado é o devido, nos termos do art. 33, § 2º, "a", e § 3º, do CP. 6. Agravo em recurso especial não conhecido. Recurso especial não provido. Execução da pena determinada.” (STJ, REsp 1493485/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 06/11/2017). Art. 60 do Código de Processo Penal: hipóteses de perempção. Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. HC 355205 STJ: não há perempção no caso das contrarrazões serem apresentadas fora do prazo. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. 1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência contra o ato apontado como coator, pois o ordenamento jurídico prevê recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu formal conhecimento. Precedentes. 2. O alegado constrangimento ilegal será analisado para a verificação da eventual possibilidade de atuação ex officio, nos termos do artigo 654, § 2º, do Código de Processo Penal. INJÚRIA E DIFAMAÇÃO. QUERELANTE QUE APRESENTOU CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO FORA DO PRAZO LEGAL. PEÇA DESNECESSÁRIA AO JULGAMENTO DO RECURSO. INEXISTÊNCIA DE DESÍDIA OU NEGLIGÊNCIA DA AUTORA. PROCESSO QUE TEVE REGULAR SEGUIMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA PEREMPÇÃO. COAÇÃO ILEGAL INEXISTENTE. 1. De acordo com o artigo 60, inciso I, do Código de Processo Penal, "nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal" quando, "iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo por 30 dias seguidos". 2. No caso dos autos, a querelante deu regular andamento ao processo, que culminou com a condenação do paciente pela prática dos crimes de injúria e difamação, sendo certo que o só fato de haver apresentado contrarrazões à apelação da defesa fora do prazo legal não tem o condão de caracterizar a perempção, pois tal peça processual sequer é obrigatória, sendo plenamente possível o julgamento do recurso sem a sua presença nos autos, desde que a parte tenha sido intimada para ofertá-la, exatamente como ocorreu na espécie. Precedentes do STJ e do STF. 3. Habeas corpus não conhecido. (STJ, HC 355205/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 01/08/2016) Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 98 AREsp 1079273 STJ: não se exige o comparecimento do querelante para atos em que sua presença não seja indispensável. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ALEGADA NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DESNECESSIDADE DE COMPARECIMENTO DO QUERELANTE EM AUDIÊNCIA NO JUÍZO DEPRECADO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Consoante o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, "Não é obrigatória a presença do querelante ou seu procurador em audiência realizada no juízo deprecado ou para oitiva de testemunhas de defesa" (RHC n. 26.530/SC, Rel. Ministra Laurita Vaz, 5ª T., DJe 21/11/2011). 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 1079273/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017) EDcl no HC 156.230 STJ: entendimento de que é possível a intimação do querelante, no caso de falta de recolhimento das custas ou sua insuficiência. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS. CALÚNIA. PEREMPÇÃO. FALTA DO RECOLHIMENTO DAS CUSTAS. OMISSÃO. EXISTÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS EM PARTE. 1. O art. 619 do Código de Processo Penal determina que "aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão", sendo que a jurisprudência desta Corte têm os admitido, também, com a finalidade de sanar eventual erro material existente na decisão embargada. 2. No caso, o acórdão embargado deixou de analisar a alegação de perempção, tendo em vista a ausência do recolhimento das custas processuais. 3. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a perempção, como perda do direito de prosseguir na ação penal de iniciativa privada, é uma sanção jurídica, imposta ao querelante por sua inércia, negligência ou contumácia. No entanto, verificada a falta ou insuficiência do recolhimento das custas processuais, é possível a posterior intimação do interessado a fim que que proceda ao pagamento. 4. Embargos de declaração acolhidos em parte para sanar a omissão e denegar a ordem de habeas corpus. (EDcl no HC 156.230/PE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 26/03/2012) Art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95: composição civil como renúncia ao direito de queixa e de representação. Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 99 Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação. Art. 31 do Código de Processo Penal: no caso de morte do agente, o direito de oferecer queixa passa para alguns familiares. Art.31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Art. 49 do CPP: no concurso de agentes, a renúncia em relação a um deles se estende aos demais. Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Esta causa está prevista no artigo 105 do Código Penal: perdão do ofendido como causa de extinção da punibilidade. Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação. O artigo 106 do Código Penal: regras sobre o perdão do ofendido. Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros; III - se o querelado o recusa, não produz efeito. § 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação. § 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. Art. 58 do Código de Processo Penal: procedimento para aceitação do perdão. Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Art. 143 do Código Penal: retratação nos crimes contra a honra. Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. Art. 342, § 2º, do Código Penal: retratação no crime de falso testemunha e falsa perícia. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 100 Súmula 18 do STJ: o perdão judicial extingue os efeitos penais. A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Art. 120 do Código Penal: o efeito do perdão judicial na reincidência. Perdão judicial Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência. RESUMO Como de costume, ao final da aula há o resumo para revisões. A sugestão é que esse resumo seja estudado sempre previamente ao início da aula seguinte, como forma de consolidar o estudo realizado. Segundo seu próprio cronograma de estudo, é necessário retomar o estudo das matérias já vistas para melhor aprendizado e memorização. Caso encontrem dificuldade em compreender alguma informação, não deixem de retornar à aula. Conceito de punibilidade É a possibilidade de o Estado aplicar a sanção penal, seja pena ou a medida de segurança, ao sujeito ativo da infração penal. Dito de outra forma, a punibilidade é o próprio ius puniendi. Sua natureza jurídica, segundo a teoria tripartida, é de mero pressuposto para aplicação da sanção penal. A punibilidade pode não estar presente por diversas causas, que costumam ser classificadas pela doutrina da seguinte forma: o Causas de exclusão da punibilidade: o Condições objetivas de punibilidade o Causas de extinção da punibilidade Causas de exclusão da punibilidade São hipóteses que impedem o surgimento do direito de punir do Estado. Em razão de condições pessoais do agente, há hipóteses em que a prática de uma infração penal não implica o direito do Estado em aplicar uma punição, por motivos de política criminal. Nem todos os doutrinadores utilizam essa nomenclatura, sendo que muitos tratam como causas de isenção de pena, imunidades Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 101 dos crimes contra o patrimônio, imunidades absolutas ou escusas absolutórias. No caso das imunidades relativas, o que se tem é a imposição de uma condição objetiva de punibilidade, consistente na exigência de representação do ofendido em razão de determinada condição pessoal do agente. Portanto, não implicam na exclusão da punibilidade, razão pela qual não fazem parte do rol de causas de isenção de pena. o Imunidades absolutas ou escusas absolutórias: são hipóteses de exclusão da punibilidade em razão da relação existente entre o sujeito ativo e o passivo do delito. Existe previsão de escusas absolutórias para delitos patrimoniais, cometidos sem violência, envolvendo membros da mesma família. As hipóteses estão elencadas no artigo 181 do Código Penal, cuja incidência é limitada pelo artigo 183 do Código Penal. Por fim, Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini defendem que também há escusa absolutória no crime de favorecimento pessoal previsto no artigo 348, § 2º, do Código Penal. o Imunidades parlamentares, diplomáticas e dos advogados. Entendemos que as imunidades materiais dos parlamentares, dos agentes diplomáticos e dos advogados também podem ser denominadas causas de exclusão da punibilidade, já que prevalece na doutrina que elas têm natureza de causa pessoal de isenção de pena. Condições objetivas de punibilidade É a condição, externa ao delito, de que depende a imposição da sanção penal pela prática de um crime. As condições objetivas de punibilidade condicionam a punibilidade, não dependendo da vontade do agente. O direito de punir fica suspenso até o advento dessa condição. Referidas condições são denominadas objetivas por não dependerem do dolo ou culpa do agente. São baseadas em política criminal. Em conjunto com as escusas absolutórias, são condições para a imposição da pena de acordo com a política criminal vigente, permitindo que o legislador adeque eventual necessidade de punição à realidade social do momento. São exemplos de condições objetivas de punibilidade: o Constituição definitiva do débito nos crimes tributário: ainda que haja divergências, tem prevalecido na jurisprudência que a constituição definitiva do débito tributário é condição objetiva de punibilidade dos respectivos crimes. A punibilidade dos delitos previstos no artigo Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 102 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90 depende da constituição definitiva do crédito tributário, ficando suspensa até o advento desta condição. o Sentença de falência, recuperação judicial ou extrajudicial e crimes falimentares: é condição objetiva de punibilidade nos crimes falimentares. É o que prevê o artigo 180 da Lei 11.101/2005. o Condições para a extraterritorialidade condicionada: diz respeito às hipóteses de aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos no exterior, quando submetida a aplicação a determinadas condições. No caso de prática de algum dos crimes previstos no artigo 7º, inciso II, do Código Penal, só haverá a aplicação da lei penal brasileira se implementadas as condições previstas no parágrafo segundo do referido artigo. Enquanto não implementadas todas as condições, o direito de punir fica suspenso. Caso as condições sejam satisfeitas, o ius puniendi surge e será possível a imposição da pena ao sujeito, após o devido processo legal. Causas de extinção da punibilidade São as situações que, após o surgimento do direito de punir do Estado, causam sua extinção. O direito de punir surge, mas deixa de existir por um motivo superveniente. Entretanto, há fatosou eventos cujo advento determina a extinção deste direito de punir, que podem ser: o Gerais ou comuns: são as causas extintivas da punibilidade que se aplicam a todas as infrações penais. o Especiais ou particulares: são as causas extintivas da punibilidade que se relacionam a infrações penais determinadas. O Código Penal traz várias causas de extinção da punibilidade em seu artigo 107. Este elenco constitui um rol exemplificativo, ou seja, numerus apertus. Como já dito, existem outras causas de extinção da punibilidade previstas em outros dispositivos do Código Penal, assim como em leis diversas. Vejamos alguns exemplos: o Reparação do dano, antes de sentença irrecorrível, no peculato culposo: esta causa de extinção da punibilidade foi utilizada como exemplo de causa especial, por se referir a um crime específico. Está prevista no artigo 312, § 2º, do Código Penal. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 103 o Pagamento do débito em relação aos crimes tributários: o pagamento integral dos débitos tributários e seus acessórios implica a extinção da punibilidade dos crimes previstos nos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal. É o que prevê o artigo 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003. Em razão desta previsão legal, o STJ tem entendido que é possível a extinção da punibilidade, pelo pagamento dos tributos e seus acessórios, mesmo após o trânsito em julgado da condenação, no que se refere aos crimes dos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e artigos 168-A e 337-A do Código Penal. o Aquisição posterior de renda, em relação ao condenado pela contravenção penal de vadiagem: a aquisição superveniente de renda extingue o direito de punir do Estado em relação à contravenção penal de vadiagem, nos termos do artigo 59, parágrafo único, da Lei das Contravenções Penais. o Conciliação nos casos dos crimes contra a honra: no caso de injúria, calúnia e difamação, o Código de Processo Penal prevê rito especial em que, antes do recebimento da queixa, o juiz ouve as partes sobre a possibilidade de reconciliação. Havendo reconciliação, a queixa deve ser arquivada, o que implica a extinção da punibilidade. É o que prevê o artigo 522 do CPP. o A regularização de imóvel ou posse rural, perante o órgão competente, em relação aos crimes ambientais: O Código Florestal, no seu artigo 59, prevê a implantação de Programas de Regularização Ambiental. Caso o agente assine termo de compromisso para regularização do imóvel ou posse rural, perante o órgão ambiental competente, a punibilidade dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98 ficará suspensa. Cumprida efetivamente a regularização, a punibilidade será extinta, nos termos do art. 60, § 2º, do Código Florestal. o Cumprimento do acordo de leniência, nos casos de crimes contra a ordem econômica e os relacionados à prática de cartel: Cumprido o acordo de leniência, há extinção da punibilidade dos crimes contra a ordem econômica e dos diretamente relacionados à prática do cartel, como o de associação criminosa. É o que prevê o artigo 87, caput e parágrafo único, da Lei 12.529/2011. ✓ É possível a existência de causa supralegal de extinção da punibilidade? Parte da doutrina aponta que sim, apontando como exemplo o entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito do crime de fraude no pagamento por meio de cheque de que, após recebida a Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 104 denúncia, o pagamento do cheque não é obstáculo ao trâmite da ação penal. Interpretando a contrario sensu, podemos extrair do enunciado que o pagamento do cheque, antes do recebimento da denúncia pelo juiz, impede o prosseguimento do processo penal. o Hipóteses principais de extinção da punibilidade do rol do artigo 107 do Código Penal. Morte do agente: a morte do sujeito ativo do crime implica a extinção da punibilidade. Conforme a expressão latina, mors omnia solvit, ou seja, a morte solve tudo. Ou seja, a morte apaga tudo que havia, não havendo mais o que se solver, obrigações a serem adimplidas. Segundo o princípio da pessoalidade, a pena não pode passar da pessoa do condenado. Deste modo, os efeitos penais da condenação se extinguem com a morte do agente, permanecendo apenas os extrapenais. Entretanto, o princípio da intranscendência da pena, previsto na Constituição da República, no seu artigo 5º, inciso XLV, comporta duas exceções que permitem a extensão dos efeitos penais aos sucessores são as seguintes: - Obrigação de reparar o dano; - Decretação de perdimento de bens. Em ambos os casos, é necessário que se observe o limite do valor do patrimônio transferido ao sucessor. Não é demais destacar que a pena de multa, que não está citada como uma das exceções constitucionais, não pode ser executada contra os herdeiros ou legatários. Também vale ressaltar que a morte deve ser provada, judicialmente, por meio de certidão de óbito. A morte de um dos corréus, por óbvio, não acarretará o fim do ius puniendi em relação aos demais, pois sua causa não se comunica a todos. ✓ E se a extinção da punibilidade for decretada com base em certidão de óbito falsa? - 1ª posição: a decisão extintiva da punibilidade não pode ser revista, pois não existe revisão criminal pro societate. É a posição do professor Damásio de Jesus. - 2ª posição: a decisão é inexistente, pois baseada em uma premissa falsa. Essa posição foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal em alguns precedentes. Por fim, cumpre analisar a possibilidade de decretação da extinção da punibilidade em caso de declaração de ausência. Há diferentes posicionamentos na doutrina: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 105 - Não é possível decretar a extinção da punibilidade com base decretação de ausência, pois há a exigência da certidão de óbito e a declaração de ausência só tem efeitos civis. É o que defende Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini. - É possível decretar a extinção da punibilidade com base na decretação de ausência, pois, a morte presumida produz os efeitos jurídicos da morte. Posição defendida por Nelson Hungria. - É possível decretar a extinção da punibilidade apenas nos casos de morte presumida sem decretação de ausência. Há casos de extrema probabilidade de morte do agente, previstas no artigo 7º do Código Civil, em que é possível a decretação da morte por sentença, com fixação da data provável da morte. Há, ainda, a previsão do artigo 88, caput e parágrafo único, da Lei de Registros Públicos, a respeito de desaparecimento do indivíduo em determinas situações calamitosas. Nestas hipóteses de catástrofes, o desaparecimento pode ensejar o processo de justificação, se provada a presença do desaparecido no local dos referidos eventos e não for encontrado o seu corpo. Como há o assento do óbito e a expedição da respectiva certidão, é possível a extinção da punibilidade por decisão judicial. Esta é a posição defendida por Fernando Capez. Anistia, Graça e Indulto: são formas de renúncia do Estado ao direito de punir, configurando-se como causas de extinção da punibilidade. Fundamentam-se em razões de política criminal, como na diminuição do encarceramento, e de clemência. Anistia Anistia é a causa de extinção da punibilidade, formalizada por ato legislativo, de renúncia estatal ao direito de punir. A anistia apaga todos os efeitos penais, tanto os principais quanto secundários. Permanecem, entretanto, os efeitos extrapenais. Seus efeitos são ex tunc. A competência exclusiva pertence à União, sendo privativa do Congresso Nacional. A lei de anistia não pode ser revogadapor lei posterior, em razão do princípio da irretroatividade. o Dependendo do momento da sua concessão, a anistia pode ser: - Própria: concedida antes da condenação transitada em julgado. - Imprópria: concedida após a condenação transitada em julgado. o Quanto aos crimes que abrange, a anistia pode ser: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 106 - Comum: concedida para os delitos comuns. - Especial: concedida para os crimes políticos. o Por fim, podemos, ainda, classificar a anistia conforme a previsão ou não de requisitos para usufruir do benefício: - Irrestrita ou incondicionada: não impõe qualquer requisito para sua concessão. - Restrita ou condicionada: exige a prática de algum ato como condição para sua concessão. Como exemplos de requisitos, podemos citar a obrigatoriedade de ressarcimento do dano ou a deposição das armas. Graça e indulto A graça e o indulto são causas de extinção da punibilidade, formalizadas por Decreto Presidencial, que representam uma renúncia do Estado ao seu direito de punir, por razões de política criminal ou clemência. Referido ato, de competência do Presidente da República, pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República e ao Advogado-Geral da União. Tal qual a anistia, a graça e o indulto apagam os efeitos penais principais. Entretanto, no caso da graça e do indulto, permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. A previsão desta causa de extinção da punibilidade está no artigo 84, inciso XII e parágrafo único, da Constituição. A doutrina costuma tratar dos dois institutos conjuntamente, dada sua proximidade e em razão de a graça em sentido amplo ser o gênero, o qual abarca o indulto e a graça em sentido estrito. Enumeradas as semelhanças, cabe, agora, diferenciarmos os dois institutos: - Graça em sentido estrito: é um benefício individual. Depende de provocação do interessado para sua concessão e, com isso, ensejar a extinção da punibilidade. - Indulto: é um benefício coletivo. Sua concessão atinge todos aqueles aos quais o decreto se destina, não dependendo de nenhuma provocação. A graça e o indulto podem ser classificados conforme seus efeitos: - Plenos: são assim chamados a graça e o indulto que extinguem totalmente a pena, causando a extinção da punibilidade. - Parciais: concedem apenas uma diminuição da pena, tornando a situação do condenado ou executado mais benéfica. Quando parciais, a graça e o indulto são denominados de Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 107 comutação. Neste caso, admite-se a recusa, nos termos do artigo 739 do Código de Processo Penal. ✓ Quanto aos crimes de ação penal privada, é possível a concessão de graça, indulto ou anistia? Sim, pois, nos casos em que somente de procede mediante queixa, o direito de punir continua pertencendo ao Estado. Apenas a iniciativa da ação penal é delegada ao particular nos crimes de ação penal privada exclusiva ou personalíssima. Casos de vedação A Constituição Federal impõe limites a referidos atos de renúncia ao ius puniendi, em seu artigo 5º, inciso XLII, dispondo ser insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. A Lei 8072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos, dispõe em seu artigo 2º, inciso I, que os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça e indulto. Ao contrário da Constituição, que não menciona a vedação do indulto, a lei é expressa ao proibir sua concessão aos delitos hediondos e aos equiparados. ✓ A previsão do artigo 2º, caput e inciso II, da Lei 8.072/90 é constitucional, ao incluir o indulto na proibição? Há divergências. Entretanto, o STF entende que o indulto é modalidade de graça (em sentido amplo). Logo, está abrangido pela vedação constitucional, pois, ao mencionar graça, o constituinte já se referiu a graça e indulto. ✓ É possível que delitos que, ao tempo da sua prática, eram considerados comuns, submetam-se à vedação do artigo 2º, II, da Lei 8.072/90? O Supremo Tribunal tem entendido que sim. Entende-se que a hediondez ou não do delito deve ser aferida no momento da concessão da anistia, da graça ou do indulto, e não ao tempo do crime (quando ocorreu a conduta do agente). Cumpre destacar que essas vedações não se estendem ao chamado tráfico de entorpecentes privilegiado, previsto no artigo 33, § 4º, da Lei 11.313/2006. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 108 Abolitio Criminis A abolitio criminis é a causa de extinção da punibilidade que consiste na descriminalização da conduta, em decorrência da superveniência de lei que deixa de prever aquela infração penal. A lei que revoga a previsão da norma penal incriminadora, seja de forma expressa ou tática, provoca a extinção da sanção penal imposta, bem como os efeitos penais da condenação. Os efeitos extrapenais permanecem. A doutrina discute a natureza jurídica da abolitio criminis. O artigo 109 do Código Penal prevê, dentre as causas extintivas da punibilidade, a abolitio criminis, razão pela qual, ao menos no plano legal, a discussão possui uma solução: a natureza jurídica é de causa extintiva da punibilidade. Decadência Decadência é a causa de extinção da punibilidade que consiste na perda do direito de oferecer queixa crime (ação penal de iniciativa privada ou ação penal privada subsidiária da pública) ou de oferecer representação (nas ações penais públicas condicionadas), em razão da inércia do titular durante determinado intervalo de tempo. A decadência envolve, então, duas hipóteses. Primeiro, abrange a perda do direito de oferecer queixa-crime. Em segundo lugar, a decadência também constitui a perda do direito de oferecer representação. A decadência está prevista no artigo 103 do Código Penal, que prevê o prazo de seis meses para o oferecimento de queixa ou de representação, contado do dia em que a autoria do delito se torna conhecida. No caso de ação penal privada subsidiária da pública prevê o dispositivo que o início da contagem do prazo começa no dia em que esgota o prazo para o oferecimento da denúncia. No caso de pluralidade de agentes, o prazo começa a correr do conhecimento da identidade do primeiro autor. Entretanto, no caso de ação penal privada subsidiária da pública, o não oferecimento da queixa- crime no prazo não acarreta a extinção da punibilidade. Nesta hipótese, a decadência não é causa de extinção da punibilidade, mas apenas acarreta a perda do direito do ofendido de propor a ação penal. Isto porque o Ministério Público mantém sua legitimidade, podendo (e devendo) oferecer denúncia, mesmo após a decadência do direito de queixa. O prazo para o órgão acusatório é Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 109 impróprio. A decadência, por implicar na extinção da punibilidade, tem natureza penal e, portanto, deve ser contada nos termos do artigo 10 do CP. O prazo não se interrompe por pedido de explicações em juízo nem por instauração de inquérito policial. Há alguns crimes que possuem regramento específico: - Crime permanente: só se inicia após cessada a permanência. - Crime continuado: o prazo flui de cada delito considerado de forma isolada. - Crime habitual: é contado do último ato praticado pelo agente. Quanto à titularidade do direito de queixa e de representação e a ocorrência da decadência, vejamos as seguintes situações: - Ofendido menor de 18 anos: neste caso, a titularidadedo direito pertente ao representante legal do menor. Se o representante legal não oferecer representação ou queixa no prazo, o menor poderá oferecer ao atingir a maioridade. - Ofendido maior de 18 anos: somente o ofendido pode ofertar a queixa ou a representação. Se for incapaz, como no caso de doença mental, a titularidade passa para o representante legal. Havendo conflito de interesses, o juiz nomeia curador especial. No caso de morte da vítima, o direito passa para o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. - Ofendido maior de 18 anos e menor de 21 anos de idade: somente o ofendido pode ofertar a queixa ou a representação. Com o advento do Código Civil de 2002, houve a unificação da maioridade civil aos 18 anos. Perempção A perempção é a causa de extinção da punibilidade que representa uma sanção penal ao querelante negligente ou inerte. Só é cabível na ação penal privada exclusiva ou personalíssima, ou, nos termos da lei, nos casos em que se procede mediante queixa. As hipóteses estão previstas no artigo 60 do Código de Processo Penal. A hipótese de falta de andamento ao processo pressupõe notificação do querelante para agir, como aponta a doutrina. Ademais, não se exige o comparecimento do querelante para atos em que sua presença não seja indispensável. Se houver pedido de justiça e as alegações finais demostrarem que Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 110 se pede a condenação, não há perempção. Tem-se entendido, todavia, que a apresentação das alegações finais, na forma de memorial, fora do prazo não induz perempção. Configura-se a perempção quando não apresentadas contrarrazões ao recurso do querelado contra a sentença condenatória. Por outro lado, não se configura perempção se a apresentação das razões recursais for intempestiva. O STJ também entendeu que não há perempção no caso das contrarrazões serem apresentadas fora do prazo. Em razão da impossibilidade de comparecer alguma pessoa para substituição, a morte do querelante na ação penal privada personalíssima acarreta a extinção da punibilidade. Haverá hipótese análoga à do artigo 60, inciso II, do CPP, em que não haverá quem prossiga no processo, dada a impossibilidade, pois somente o ofendido, no caso de ação penal privada personalíssima, pode figurar no polo ativo do processo. O STJ entende possível a intimação do querelante, no caso de falta de recolhimento das custas ou sua insuficiência, para suprir a falta (EDcl no HC 156230/PE). Renúncia Renúncia é a causa de extinção da punibilidade, que consiste em ato unilateral, do ofendido ou de seu representante legal, de abdicação do direito de promover a ação penal privada. É cabível nos casos de ação penal privada exclusiva ou personalíssima, pois a punição, nestas hipóteses, depende de que o ofendido ou seu representante oferte a queixa crime. Na ação penal pública condicionada à representação, há a possibilidade de renúncia apenas em relação aos crimes de menor potencial ofensivo. Só cabe a renúncia antes de iniciada a ação penal, pois é pré-processual. O ato é unilateral. A renúncia pode ser expressa ou tácita: - Expressa: ocorre quando o ofendido declara, de forma explícita, que não intentará a ação penal privada, abrindo mão do seu direito. Pode ser feita pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais, nos termos do artigo 50, caput, do Código de Processo Penal. Consiste de declaração escrita, assinada por um dos indivíduos que podem oferecer a renúncia. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 111 - Tácita: decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de oferecer queixa contra o agente. A renúncia tácita admite qualquer meio de prova, nos termos do artigo 57 do Código de Processo Penal. Não é renúncia tácita o recebimento, pelo ofendido, de indenização do dano causado pelo crime, salvo nos casos de crime de menor potencial ofensivo. No caso de morte do ofendido, o direito de queixa passa ao seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. A renúncia de um dos legitimados não impede que os outros ofertem a queixa-crime. Também no caso de haver dois ou mais ofendidos, a renúncia de um não impede o outro de oferecer queixa-crime. No caso de concurso de agentes, a renúncia em relação a um deles se estende aos demais. É o teor do artigo 49 do CPP. ✓ Caso o querelante ofereça queixa contra apenas um dos agentes, pode o MP aditar para inclusão dos demais? A doutrina diverge sobre essa possibilidade, sendo que parte entende que é possível, pois o Ministério Público deve velar pela indivisibilidade da ação penal e deve impedir que um dos agentes seja deixado de fora pelo querelante. Outra parte da doutrina entende que, tendo sido oferecida queixa contra apenas parte dos agentes, entender-se-á que houve renúncia em relação ao não incluído. Não caberia, assim, inclusão dos demais pelo Ministério Público, já que a ação é privada. A única solução seria a extensão da renúncia a todos, com a extinção da punibilidade. Perdão do ofendido O perdão do ofendido é a causa de extinção da punibilidade que consiste em ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal manifesta seu desejo de desistir da ação penal privada exclusiva ou personalíssima. É cabível desde o oferecimento da queixa até o trânsito em julgado. Refere-se aos casos de ação penal privada exclusiva ou personalíssima, não sendo admissível na ação penal privada subsidiária da pública. Esta causa está prevista no artigo 105 do Código Penal. Cuida-se de ato bilateral. Por conseguinte, a aceitação do querelado é imprescindível. Assim como a renúncia, o perdão pode ser tácito ou expresso: - Expresso: ocorre quando o ofendido declara, de forma explícita, que não deseja prosseguir com a ação penal privada, desistindo do seu prosseguimento. Pode ser feita pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 112 - Tácita: decorre de conduta do ofendido que seja incompatível com o desejo de prosseguir com a ação penal contra o agente. - Judicial: ocorre quando o ofendido se manifesta nos próprios autos. - Extrajudicial: oferecida fora dos autos. É materializado por meio de declaração escrita, assinada pelo ofendido, seu representante legal ou procurador com poderes especiais. O artigo 106 do Código Penal prevê algumas regras sobre o perdão. Quanto a quem pode oferecer o perdão: - No caso de ofendido menor de 18 anos: o representante legal pode oferecer o perdão. - Se o ofendido for maior ou com idade igual a 18 anos: ele mesmo pode conceder o perdão. Quanto ao procedimento para aceitação do perdão, o artigo 58 do Código de Processo Penal prevê o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, no mesmo tempo, sendo cientificado que o seu silêncio importará aceitação. Portanto, é possível a aceitação do perdão ocorrer por decurso de prazo. O perdão é cabível nas ações penais privadas, sejam exclusivas ou personalíssimas, em razão do princípio da disponibilidade. Retratação Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 113 A retratação é a causa de extinção da punibilidade consistente no ato do agente de retirar totalmente o que disse anteriormente. Seu cabimento é restrito aos seguintes casos: calúnia e difamação; falso testemunho e falsa perícia. Não cabe a retratação na injúria, com a qual se atinge a honra subjetiva do ofendido. No caso de crimes contra ahonra, a retratação deve ser oferecida pelo próprio sujeito ativo até a prolação de sentença pelo juiz. A retratação não se comunica aos demais agentes, extinguindo a punibilidade apenas daquele que se retratou. Com relação ao falso testemunha e à falsa perícia, a retratação é possível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. O termo final do prazo é ser proferida sentença, de primeiro grau, no processo em cujo curso o acusado prestou falso testemunho ou elaborou falsa perícia. Se o fato deixa de ser punido, esta causa de extinção da punibilidade se estende aos demais agentes, coautores ou partícipes. Perdão judicial É o instituto, cuja natureza é de causa de extinção da punibilidade, pelo qual o juiz deixa de aplicar a sanção penal, em virtude de circunstâncias específicas do caso. Ocorre nos casos de bagatela imprópria, em que incide o princípio da desnecessidade da pena. O perdão judicial independe de Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 114 aceitação. É direito público subjetivo do acusado. Deste modo, satisfeitos os requisitos, o juiz deve conceder o benefício. Sua admissibilidade depende de previsão na lei. Quando concedido, o perdão judicial extingue os efeitos penais, nos termos da Súmula 18 do STJ. Referido enunciado também esclarece que a natureza jurídica desta causa extintiva da punibilidade é declaratória. Deste modo, não torna certa a obrigação de reparar o dano. O perdão judicial deve ser concedido no curso do processo penal, pelo juiz. O juiz considera as circunstâncias do crime e as consequências que sobrevieram ao agente. Na doutrina, a classificação da sentença concessiva do perdão judicial como declaratória da extinção da punibilidade é controversa. Parte entende que é sentença condenatória, com todos os efeitos secundários da condenação, sendo que outra parte entende que é condenatória, mas sem a incidência de tais efeitos. Há doutrinadores que entendem que é absolutória e outra corrente defende que sua natureza é de exclusão facultativa da punibilidade. Por fim, há a corrente de que se trata de sentença declaratória de extinção da punibilidade, entendimento que foi adotado pelo STJ. Sobre o perdão judicial e a reincidência, que é efeito penal secundário da condenação, o Código Penal foi claro ao afastar este efeito em seu artigo 120. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este é o fim de uma importante aula, em que iniciamos o estudo da punibilidade. Das causas extintivas, ficou pendente a prescrição, que terá uma aula própria, a próxima, para sua análise mais aprofundada. Os conceitos básicos referentes à configuração do crime e da possibilidade de aplicação da sanção penal estão sendo estudados, temas que serão muito relevantes para a compreensão de toda a Ciência do Direito Penal. Reforço que quaisquer sugestões são bem-vindas e, apesar de elaborada com muito rigor, toda aula pode ser aperfeiçoada a partir de contribuições. Toda crítica é bem-vinda, sendo que o contato pode ser feito pelo fórum, por e-mail ou pelo Instagram. Até a próxima aula. Forte abraço e meus mais sinceros votos de sucesso! Michael Procopio. michael.avelar@estrategia.com Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 115 professor.procopio Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 116 https://www.facebook.com/eleitoralparaconcursoProcopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 11 e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. No caso de prática de algum dos crimes previstos no artigo 7º, inciso II, do Código Penal, só haverá a aplicação da lei penal brasileira se implementadas as condições previstas no parágrafo segundo do referido artigo. Deste modo, se um brasileiro, visitando Londres, pratica o crime de dano, depredando um museu antigo, ele só será punido no Brasil se preenchidas as condições da extraterritorialidade. Deste modo, será necessário que ele retorne ao território nacional, que haja a dupla punibilidade da conduta segundo as leis brasileiras e britânicas, que o crime praticado seja um daqueles que autoriza a extradição, que o turista não tenha sido absolvido ou cumprido a pena no Reino Unido, que não tenha sido lá perdoado e que sua punibilidade não tenha sido extinta, seja conforme a lei brasileira ou a britânica, a que lhe for mais favorável. Enquanto não implementadas todas as condições, o direito de punir fica suspenso. Caso as condições sejam satisfeitas, o ius puniendi surge e será possível a imposição da pena ao sujeito, após o devido processo legal. Se não satisfeitas as condições, o Estado não poderá puni-lo. Por fim, ressalto que as condições objetivas de punibilidade serão estudadas ao longo do curso, quando for necessário para compreensão de algum tipo penal. Abordamos aqui o conceito e alguns exemplos para demonstrar que a punibilidade pode restar afastada nesses casos. O direito de punir fica sob a condição objetiva, dependendo do seu implemento. A condição objetiva é um elemento de que depende a punição do agente, sem estar diretamente previsto no tipo penal como elementar, como componente da própria definição da infração penal. (CESPE/Câmara dos Deputados/Analista Legislativo/2014) Julgue o item, relativo aos crimes falimentares. Para a que se consume um crime falimentar, é necessário que haja sentença que decrete falência, conceda recuperação judicial ou conceda recuperação extrajudicial, ou seja, tal sentença é condição objetiva de punibilidade para esse tipo de crime. ( ) Certo ( ) Errado Comentários Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 12 O item está correto. É exatamente o que prevê o artigo 180 da Lei 11.101/2005: Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE As causas de extinção da punibilidade são as que sobrevêm após o nascimento do direito de punir do Estado. Após a prática de uma infração penal, surge para o Estado o ius puniendi, que lhe permite, após o devido processo legal, a imposição da sanção penal prevista em lei. Entretanto, há fatos ou eventos cujo advento determina a extinção deste direito de punir. São justamente as chamadas causas extintivas da punibilidade. As causas extintivas da punibilidade podem ser: ➢ Gerais ou comuns: são as causas extintivas da punibilidade que se aplicam a todas as infrações penais. É o caso da morte do agente, que determina o desaparecimento do direito de punir do Estado em relação a qualquer crime ou contravenção penal que o falecido tenha cometido em vida. ➢ Especiais ou particulares: são as causas extintivas da punibilidade que se relacionam a infrações penais determinadas. É o caso da reparação do dano antes da prolação da sentença irrecorrível, o que extingue a punibilidade no caso do crime de peculato culposo (artigo 312, § 3º, CP). Sobre a extinção da punibilidade, é muito relevante estudarmos o artigo 108 do Código Penal: Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. O dispositivo deixa claro que a extinção de punibilidade de um crime não afeta outros eventualmente praticados pelo agente. Se o homicídio, por exemplo, for praticado contra o vizinho, que viu que o agente estava com sacos de dinheiro do banco assaltado no dia anterior, incide uma qualificadora, denominada de conexão consequencial. Ainda que tenha havido prescrição quanto ao crime de roubo, isso não impede que se qualifique o homicídio por causa de sua conexão com o roubo. São delitos diversos e, conforme destaca o artigo 108 do CP, a extinção da punibilidade de um não afeta a pena do outro. O Código Penal traz várias causas de extinção da punibilidade em seu artigo 107. Este elenco constitui um rol exemplificativo, ou seja, numerus apertus. Isto significa que há outras causas de extinção da punibilidade não referidas no mencionado dispositivo. Vejamos o que ele prevê: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 13 V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Estudaremos nesta aula, de forma individualizada, cada uma das causas acima elencadas, à exceção da prescrição, que será tratada na aula seguinte, dada a extensão do tema. Vale anotar que a anistia e a abolitio criminis eliminam a punibilidade e, por serem causas extintivas decorrentes de lei formal específica, ensejam o desaparecimento da própria infração penal. Como já dito, existem outras causas de extinção da punibilidade previstas em outros dispositivos do Código Penal, assim como em leis diversas. Vejamos alguns exemplos: ➢ Reparação do dano, antes de sentença irrecorrível, no peculato culposo: esta causa de extinção já foi utilizada como exemplo de causa especial, por se referir a um crime específico. Está prevista no artigo 312, § 2º, do Código Penal: Art. 312 (...) Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Portanto, reparado o dano antes do trânsito em julgado, há a extinção da punibilidade do crime de peculato culposo, previsto no artigo 312, § 2º, do Código Penal. ➢ Pagamento do débito em relação aos crimes tributários: o pagamento integral dos débitos tributários e seus acessórios implica a extinção da punibilidade dos crimes previstos nos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e nos artigos 168-A e 337-A do Código Penal. É o que prevê o artigo 9º, § 2º, da Lei 10.684/2003, que dispõe sobre parcelamento de débitos tributários: Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionadacom o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. § 1o A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 14 Em razão desta previsão legal, o STJ tem entendido que é possível a extinção da punibilidade, pelo pagamento dos tributos e seus acessórios, mesmo após o trânsito em julgado da condenação, no que se refere aos crimes dos artigos 1º e 2º da Lei 8.137/90 e artigos 168-A e 337-A do Código Penal: “PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE EXCEPCIONALIDADE. 2. CRIME TRIBUTÁRIO. CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO. SÚMULA VINCULANTE 24/STF. JUSTA CAUSA. 3. DISCUSSÃO NA SEARA CÍVEL. IRRELEVÂNCIA. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS. 4. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. DESNECESSIDADE DE SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL. POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO MESMO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. 5. RECURSO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO. 1. O trancamento da ação penal na via estreita do habeas corpus somente é possível, em caráter excepcional, quando se comprovar, de plano, a inépcia da denúncia, a atipicidade da conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito. 2. Somente há justa causa para a persecução penal pela prática do crime previsto no art. 1º da Lei n. 8.137/1990, com o advento do lançamento definitivo do crédito tributário. Nesse sentido, é o teor da Súmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal: "Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo". 3. Ocorrido o lançamento definitivo do crédito tributário, eventual discussão na esfera cível não obsta o prosseguimento da ação penal que apura a ocorrência de crime contra a ordem tributária, haja vista a independência das esferas cível e penal. 4. Não tendo havido o pagamento, não há se falar em extinção da punibilidade. Igualmente, mostra- se despicienda a suspensão da ação penal, porquanto, mesmo após o trânsito em julgado da condenação, é possível a extinção da punibilidade pelo efetivo pagamento do tributo. 5. Recurso em habeas corpus improvido.” (STJ, RHC 91237/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 28/02/2018). ➢ Aquisição posterior de renda, em relação ao condenado pela contravenção penal de vadiagem: a aquisição superveniente de renda extingue o direito de punir do Estado em relação à contravenção penal de vadiagem, nos termos do artigo 59, parágrafo único, da Lei das Contravenções Penais: Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita: Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses. Parágrafo único. A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a pena. Portanto, a aquisição de renda pelo acusado, após a prática da infração penal de vadiagem, causa a extinção da punibilidade, impedindo a aplicação de pena ao agente. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 15 ➢ Conciliação nos casos dos crimes contra a honra: no caso de injúria, calúnia e difamação, o Código de Processo Penal prevê rito especial em que, antes do recebimento da queixa, o juiz ouve as partes sobre a possibilidade de reconciliação. Havendo reconciliação, a queixa deve ser arquivada, o que implica a extinção da punibilidade. É o que prevê o artigo 522 do CPP: Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será arquivada. ➢ A regularização de imóvel ou posse rural, perante o órgão competente, em relação aos crimes ambientais: O Código Florestal, no seu artigo 59, prevê a implantação de Programas de Regularização Ambiental. Caso o agente assine termo de compromisso para regularização do imóvel ou posse rural, perante o órgão ambiental competente, a punibilidade dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98 ficará suspensa. Cumprida efetivamente a regularização, a punibilidade será extinta, nos termos do art. 60, § 2º, do Código Florestal: Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido. § 1o A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva. § 2o Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei. Cumpre mencionar que o STF entendeu, com relação à suspensão da punibilidade, que se deve aplicar extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”. Deste modo, não corre o prazo prescricional “no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental” (ADC 42/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Julgamento: 28/02/2018). ➢ Cumprimento do acordo de leniência, nos casos de crimes contra a ordem econômica e os relacionados à prática de cartel: a Lei 12.529/2011 estruturou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, dispondo sobre a possibilidade de celebração de acordo de leniência entre o CADE e as pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica. Exige-se efetiva colaboração dos autores das infrações, com a identificação dos demais envolvidos e a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação. Cumprido o acordo de leniência, há extinção da punibilidade dos crimes contra a ordem econômica e dos diretamente relacionados à prática do cartel, como o de associação criminosa. É o que prevê o artigo 87, caput e parágrafo único, de referida lei: Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência. Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 16 Vistas as causas elencadas no artigo 107 do Código Penal e outras previstas em dispositivos legais diversos, a dúvida que surge é a possibilidade de existência de causas extintivas da punibilidade não previstas expressamente em lei. ✓ É possível a existência de causa supralegal de extinção da punibilidade? Parte da doutrina aponta que sim, usando como exemplo o entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito do crime de fraude no pagamento por meio de cheque. Vejamos, a princípio, o tipo legal dareferida infração: Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (...) § 2º - Nas mesmas penas incorre quem: Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. Com relação a esta figura equiparada ao estelionato, o STF editou o seguinte enunciado da sua súmula, de nº 554: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. O STF pacificou o entendimento jurisprudencial de que, após recebida a denúncia, o pagamento do cheque não é obstáculo ao trâmite da ação penal. Interpretando a contrario sensu, podemos extrair do enunciado que o pagamento do cheque, antes do recebimento da denúncia pelo juiz, impede o prosseguimento do processo penal. Qual seria o motivo? Ora, pelo entendimento da Suprema Corte, o pagamento do débito, no caso de fraude por meio de cheque, extingue a punibilidade. Só a extinção da punibilidade justifica que o processo penal não possa prosseguir, já que não há nenhuma previsão legal neste sentido. Portanto, a Súmula 554 consubstancia, por decorrência da sua interpretação, uma causa supralegal de extinção da punibilidade, já que sua consagração surge de entendimento jurisprudencial, e não de previsão normativa. Por fim, as causas de extinção da punibilidade podem estar previstas no Código Penal e em leis esparsas, além de ser possível que sua origem seja supralegal, ou seja, sem disposição expressa de lei. Cabe, agora, estudar as hipóteses principais de extinção da punibilidade, conforme o rol do artigo 107 do Código Penal: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 17 1 - MORTE DO AGENTE A morte do sujeito ativo do crime implica a extinção da punibilidade. Conforme a expressão latina, mors omnia solvit, ou seja, a morte tudo resolve. Ou seja, a morte apaga tudo que havia, não havendo mais o que se solver e não restando obrigações a serem adimplidas. Na aula sobre princípios, foi visto o princípio da pessoalidade ou da intranscendência da pena. Segundo esta norma, a pena não pode passar da pessoa do condenado. Deste modo, os efeitos penais da condenação se extinguem com a morte do agente, permanecendo apenas os extrapenais. Entretanto, o princípio da intranscendência da pena, previsto na Constituição da República, no seu artigo 5º, inciso XLV, comporta duas exceções: XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; As exceções que permitem a extensão dos efeitos penais aos sucessores são as seguintes: • Obrigação de reparar o dano; • Decretação de perdimento de bens. Em ambos os casos, é necessário que se observe o limite do valor do patrimônio transferido ao sucessor. Se as sanções tiverem valor superior ao quinhão recebido pelo sucessor, serão extintas naquilo que ultrapassarem as forças da herança, sendo executadas dentro do limite. Não é demais destacar que a pena de multa, que não está citada como uma das exceções constitucionais, não pode ser executada contra os herdeiros ou legatários. Deste modo, a pena de multa sempre se extingue com a morte do condenado. Sobre o critério para a definição de quando ocorre a morte do agente, tem-se adotado o estabelecido pela lei 9.434/97, que trata da remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para transplante e tratamento. Em seu artigo 3º, caput, referido diploma legal traz o critério da morte encefálica para a definição de morte, nos seguintes termos: Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. A morte do agente, abrangidos neste conceito o investigado, o réu e o condenado, é causa personalíssima de extinção da punibilidade. A morte de um dos corréus, por óbvio, não acarretará o fim do ius puniendi em relação aos demais, pois sua causa não se comunica a todos. A morte deve ser provada, judicialmente, por meio de certidão de óbito. Apesar de adotado o sistema do livre convencimento motivado no Código de Processo Penal, há resquícios do sistema das provas legais ou das provas tarifadas em questões específicas. Uma dessas questões é a morte, que deve ser provada necessariamente com a certidão de óbito, não admitindo outros meios de prova, conforme prevê o artigo 62 do referido Estatuto: Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 18 Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade. Um problema que surge é o caso de falsificação da certidão de óbito, com a decretação da extinção da punibilidade sem que o agente efetivamente tenha morrido. ✓ E se a extinção da punibilidade for decretada com base em certidão de óbito falsa? Há duas posições a respeito da possibilidade ou não de se reverter ou não a extinção da punibilidade do agente com base em certidão de óbito falsificada. A certidão de óbito pode ter sido objeto de falsificação material ou ideológica. O que importa é que o agente continua vivo, tendo sido o juiz induzido a erro para decretar a extinção da punibilidade: ➢ 1ª posição: a decisão extintiva da punibilidade não pode ser revista, pois não existe revisão criminal pro societate. Logo, só resta ao Estado processar e punir os autores da falsificação da certidão de óbito. É a posição do professor Damásio de Jesus. ➢ 2ª posição: a decisão é inexistente, pois baseada em uma premissa falsa. Como a verdadeira causa da extinção da punibilidade é a morte do agente, sem a efetiva ocorrência do seu pressuposto fático a decisão fica sem conteúdo. A segunda posição, de que a decisão baseada no documento falso é inexistente, foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal em alguns precedentes, como no seguinte: “EMENTA "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. PRONÚNCIA. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS OU INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA EM RELAÇÃO A CORRÉU. INVIABILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO WRIT CONSTITUCIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. 2. Não é o habeas corpus meio idôneo para o reexame aprofundado dos fatos e da prova, necessário, no caso, para a verificação da existência ou não de provas ou indícios suficientes à pronúncia do paciente por crimes de homicídios que lhe são imputados na denúncia. 3. Habeas corpus denegado.” (STF, HC 104998/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, Julgamento em 14/12/2010) Por fim, cumpre analisar a possibilidade de decretação da extinção da punibilidade em caso de declaração de ausência. Há diferentes posicionamentos na doutrina: ➢ Não é possível decretar a extinção da punibilidade com base decretação de ausência:não é possível a decisão de extinção da punibilidade com base em morte presumida, pois há a exigência da certidão de óbito e a declaração de ausência só tem efeitos civis. É o que defendem Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini4. ➢ É possível decretar a extinção da punibilidade com base na decretação de ausência: a morte presumida produz os efeitos jurídicos da morte, podendo servir de fundamento para a extinção da punibilidade. Posição defendida por Nelson Hungria. 4 Mirabete, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 32 ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016, p. 379. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 19 ➢ É possível decretar a extinção da punibilidade apenas nos casos de morte presumida sem decretação de ausência: há casos de extrema probabilidade de morte do agente, previstas no artigo 7º do Código Civil, em que é possível a decretação da morte por sentença, com fixação da data provável da morte. São as hipóteses de ser extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, bem como de uma pessoa, desaparecida em campanha ou feita prisioneira, não ser encontrada até dois anos após o fim da guerra. Vejamos o teor da norma: Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Há, ainda, a previsão do artigo 88, caput e parágrafo único, da Lei de Registros Públicos, a respeito de desaparecimento do indivíduo em determinas situações calamitosas: Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. Parágrafo único. Será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que convençam da ocorrência do óbito. Nestas hipóteses de catástrofes, como de naufrágio e inundação, o desaparecimento pode ensejar o processo de justificação, se provada a presença do desaparecido no local dos referidos eventos e não for encontrado o seu corpo. Como há o assento do óbito e a expedição da respectiva certidão, é possível a extinção da punibilidade por decisão judicial. Esta é a posição defendida por Fernando Capez5. 2 - ANISTIA, GRAÇA E INDULTO A anistia, a graça e o indulto são formas de renúncia do Estado ao direito de punir, configurando-se como causas de extinção da punibilidade. Fundamentam-se em razões de política criminal, como na diminuição do encarceramento, e de clemência. Segundo Kant, o “direito de perdoar o culpado (aggratiandi), de mitigar sua pena ou de perdoá-lo inteiramente, é, de todos os direitos do soberano, aquele que dá mais brilho a sua grandeza e em cujo exercício pode também cometer uma grande injustiça”6. Voltando à análise dos institutos, a anistia se diferencia da graça e do indulto, apesar de serem formas de clemência do Estado, vejamos: 5 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 598-599. 6 KANT, Emmanuel. Doutrina do direito. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Ícone, 1993, p. 184. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 20 ➢ Anistia: é concedida por meio de lei formal, elaborada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República (ou com veto derrubado pelos parlamentares). ➢ Graça e indulto: concedidos por decreto do Presidente da República, ato que pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. Vistas as diferenças entre os institutos, cabe estudá-los de forma separada. Anistia Anistia é a causa de extinção da punibilidade, formalizada por ato legislativo, de renúncia estatal ao direito de punir. É a lei que prevê a anulação dos efeitos penais de uma conduta criminosa. A anistia apaga todos os efeitos penais, tanto os principais quanto secundários. Isto é possível porque sua concessão se dá por meio de lei formal, assim como a própria previsão do crime. Permanecem, entretanto, os efeitos extrapenais, como o dever de reparar os danos decorrentes da responsabilidade civil ex delicto. Seus efeitos são ex tunc, ou seja, retroativos, voltados para o passado, para delitos que já foram cometidos. A competência exclusiva pertence à União, sendo privativa do Congresso Nacional. Deste modo, cabe ao Congresso a aprovação da lei que concede anistia, nos termos do artigo 48, VIII, da Constituição da República. A lei de anistia não pode ser revogada por lei posterior, em razão do princípio da irretroatividade. Tendo sido extinta a punibilidade, não pode ela ser reinstituída por lei posterior mais gravosa, ou seja, lex gravior. Dependendo do momento da sua concessão, a anistia pode ser: • Própria: concedida antes da condenação transitada em julgado. • Imprópria: concedida após a condenação transitada em julgado. Quanto aos crimes que abrange, a anistia pode ser: • Comum: concedida para os delitos comuns. • Especial: concedida para os crimes políticos. ANISTIA PRÓPRIA Concedida antes do trânsito em julgado. ANISTIA IMPRÓPRIA Concedida após o trânsito em julgado Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 21 Podemos, ainda, classificar a anistia conforme a previsão ou não de requisitos para usufruir do benefício: • Irrestrita ou incondicionada: não impõe qualquer requisito para sua concessão. • Restrita ou condicionada: exige a prática de algum ato como condição para sua concessão. Como exemplos de requisitos, podemos citar a obrigatoriedade de ressarcimento do dano ou a deposição das armas. Como exemplo de anistia, temos a Lei n. 6.683, de 28 de agosto de 1979. Chama de Lei de Anistia, foi aprovada após o fim da ditatura militar, como forma de conciliação dos dois lados dos conflitos armados que ocorreram em tal período. Graça e indulto A graça e o indulto são causas de extinção da punibilidade, formalizadas por Decreto Presidencial, que representam uma renúncia do Estado ao seu direito de punir, por razões de política criminal ou clemência. Referido ato, de competência do Presidente da República, pode ser delegado aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República e ao Advogado-Geral da União. Tal qual a anistia, a graça e o indulto apagam os efeitos penais principais. Entretanto, no caso da graça e do indulto, permanecem os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. Um exemplo de efeito penal secundário é a reincidência. Mesmo que o crime anterior tenha sido indultado, a prática de um novo, dentro do período do trânsito em julgado do fato anterior até cinco anos após a extinção da pena, fará com que o sujeito seja considerado reincidente. O STJ, inclusive, aprovou o enunciado 631 da sua Súmula sobre o assunto: ANISTIA COMUM Concedida para os crimes comuns. ANISTIA ESPECIAL Concedida para os crimes políticos. ANISTIA IRRESTRITA Concedida sem qualquer requisito. ANISTIA RESTRITA Há requisitos que condicionam sua concessão. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 22O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou extrapenais. Como vimos acima, exemplo de efeito extrapenal é a obrigação de reparar os danos. A responsabilidade civil decorrente da prática da infração penal permanece incólume, não sendo afetada pela concessão da graça ou do indulto. A previsão desta causa de extinção da punibilidade está no artigo 84, inciso XII e parágrafo único, da Constituição: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; (...) Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. Como se nota do teor das normas constitucionais acima transcritas, não há previsão expressa de graça como ato de competência do Presidente da República. Entretanto, a Constituição menciona a graça ao vedar sua concessão a determinados delitos, como estudaremos adiante, no seu artigo 5º, XLIII. Com isso, conclui-se forçosamente que as normas constitucionais reconhecem a existência do instituto em nosso ordenamento jurídico, permitindo sua concessão. A doutrina costuma tratar dos dois institutos conjuntamente, dada sua proximidade e em razão de a graça – em sentido amplo – ser o gênero, o qual abarca o indulto e a graça em sentido estrito. Visualizemos essa relação de gênero e espécie no seguinte esquema: Enumeradas as semelhanças, cabe, agora, diferenciarmos os dois institutos: • Graça em sentido estrito: é um benefício individual. Depende de provocação do interessado para sua concessão e, com isso, enseja a extinção da punibilidade. • Indulto: é um benefício coletivo. Sua concessão atinge todos aqueles aos quais o decreto se destina, não dependendo de nenhuma provocação. A graça e o indulto podem ser classificados conforme seus efeitos, sejam eles de extinguir totalmente a pena ou de apenas causar sua diminuição: • Plenos: são assim chamados a graça e o indulto que extinguem totalmente a pena, causando a extinção da punibilidade. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 23 • Parciais: concedem apenas uma diminuição da pena, tornando a situação do condenado ou executado mais benéfica. Quando parciais, a graça e o indulto são denominados de comutação. Neste caso, não há extinção da punibilidade, mas diminuição da pena. Neste caso, admite-se a recusa, nos termos do artigo 739 do Código de Processo Penal: Art. 739. O condenado poderá recusar a comutação da pena. ✓ Quanto aos crimes de ação penal privada, é possível a concessão de graça, indulto ou anistia? Sim, pois, nos casos em que somente se procede mediante queixa, o direito de punir (ius puniendi) continua pertencendo ao Estado. Apenas a iniciativa da ação penal (ius persequendi) é delegada ao particular nos crimes de ação penal privada exclusiva ou personalíssima. O Estado continua detendo o ius puniendi, razão pela qual pode dele dispor conforme lhe aprouver, por meio dos instrumentos de renúncia, consistentes na concessão de graça, indulto ou anistia. Um exemplo de indulto é o Decreto 9.246, de 21 de dezembro de 2017, que foi questionado no Supremo Tribunal Federal, por meio da ADI 58747. Seu artigo 1º, inciso I, por exemplo, traz uma hipótese de concessão do indulto: Art. 1º O indulto natalino coletivo será concedido às pessoas nacionais e estrangeiras que, até 25 de dezembro de 2017, tenham cumprido: I - um quinto da pena, se não reincidentes, e um terço da pena, se reincidentes, nos crimes praticados sem grave ameaça ou violência a pessoa; (...) Casos de vedação Nem todos os crimes podem ter sua punibilidade extinta por meio da anistia, da graça e do indulto. A Constituição Federal impõe limites a referidos atos de renúncia ao ius puniendi, em seu artigo 5º, inciso XLIII: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Percebam que, apesar de termos dito que a vedação constitucional abrange a anistia, a graça e o indulto, o dispositivo constitucional somente menciona a graça e a anistia. 7 Referida ação direta de inconstitucionalidade teve sua pretensão julgada improcedente em 9 de maio de 2019. Disponível em: . Acesso em: 19/08/2020. GRAÇA E INDULTO PLENOS Exinguem totalmente a pena. GRAÇA E INDULTO PARCIAIS Concedem uma diminuição na pena. Denominam-se COMUTAÇÃO. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 24 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5336271 A Lei 8072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos, trata do tema no seu artigo 2º, inciso I, fazendo menção aos três institutos: Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. Ao contrário da Constituição, que não menciona a vedação do indulto, a lei é expressa ao proibir sua concessão aos delitos hediondos e aos equiparados (tortura, tráfico de drogas e terrorismo – percebam que os três delitos equiparados têm seu nome iniciado com a letra “T”). Surge, então, a controvérsia se a lei inovou, impondo restrição não prevista na Constituição, ou se apenas especificou institutos previstos explícita ou implicitamente na norma constitucional. ✓ A previsão do artigo 2º, caput e inciso II, da Lei 8.072/90 é constitucional, ao incluir o indulto na proibição? Há duas posições a respeito: • 1ª posição: não pode lei ampliar o rol, criando limitação não prevista na Constituição e diminuindo atribuições do Presidente da República. Se o texto constitucional menciona apenas graça e anistia, o indulto não deve ser compreendido na vedação. Por isso, a Lei 8.072/90 é materialmente inconstitucional, por limitar a abrangência de institutos previstos na Constituição sem previsão expressa. É o que defende o jurista Alberto Silva Franco; • 2ª posição: o indulto é modalidade de graça (em sentido amplo). Logo, está abrangido pela vedação constitucional, pois, ao mencionar graça, o constituinte já se referiu a graça e indulto. Ademais, argumenta-se que o legislador infraconstitucional pode sim limitar a abrangência do indulto, já que não há vedação expressa. Possui referido posicionamento o professor Fernando Capez8. O Supremo Tribunal Federal tem adotado a segunda posição, como se nota do seguinte precedente: “1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o instituto da graça, previsto no art. 5.º, inc. XLIII, da Constituição Federal, engloba o indulto e a comutação da pena, estando a competência privativa do Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no referido dispositivo constitucional. Precedentes. 2. O Decreto n. 7.046/2009 dispõe que a concessão dos benefícios de indulto e comutação da pena não alcança as pessoas condenadas por crime hediondo, praticado após a edição das Leis ns. 8.072/1990, 8.930/1994, 9.695/1998, 11.464/2007 e 12.015/2009. 3. Ordem denegada.” (STF, HC 115099/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia, Segunda Turma, Julgamento em 19/02/2013) O Superior Tribunal de Justiça possui a mesma posição: “Há previsão expressa no art. 5º, inciso XLIII, da Constituição da República nosentido de que os crimes definidos em lei como hediondos serão insuscetíveis de graça, assim também compreendido o indulto.” (STJ, AgRg no HC 486603/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 30/08/2019). 8 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume I, parte geral: (art. 1º ao 120). 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 604. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 25 Outro tema divergente diz respeito aos crimes cometidos antes da sua previsão como hediondos ou equiparados. É possível que delitos que, ao tempo da sua prática, eram considerados comuns, submetam- se à vedação do artigo 2º, II, da Lei 8.072/90? O Supremo Tribunal tem entendido que sim, que é possível estender a vedação à concessão de indulto, graça e anistia aos crimes praticados antes da vigência da Lei 8.072/90. Entende-se que a hediondez ou não do delito deve ser aferida no momento da concessão da anistia, da graça ou do indulto, e não ao tempo do crime (quando ocorreu a conduta do agente)9. Deste modo, se o decreto presidencial já exclui o indulto dos crimes hediondos, são aqueles assim considerados àquela época. Podemos conferir este entendimento em acórdão relativamente recente, da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal: “EMENTA HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL. NÃO ESGOTAMENTO DA JURISDIÇÃO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CRIME COMETIDO ANTES DA VIGÊNCIA DAS LEIS 8.072/1990 e 8.930/1994. INDULTO. COMUTAÇÃO DE PENA. DECRETO N.º 2.838/1998. 1. Há óbice ao conhecimento de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática de Ministro Relator do Superior Tribunal de Justiça, em que dado provimento ao recurso especial do Parquet interposto naquela Corte, cuja jurisdição não se esgotou. 2. Tratando-se o indulto de ato discricionário do Presidente da República, restrito, portanto, às condições estabelecidas em decreto presidencial, a vedação de sua concessão aos apenados por crimes hediondos, ainda que cometidos antes da vigência das Leis 8.072/1990 e 8.930/1994, não configura violação do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Precedentes. 3. A aferição da natureza do crime, para concessão do indulto, há de se fazer na data da edição do decreto presidencial respectivo, não na do cometimento do delito. Precedentes. 4. Habeas corpus extinto sem resolução de mérito.” (STF, HC 117938/SP, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Julgamento em 10/12/2013). Por outro lado, pode-se argumentar, o que me parece mais correto, que se trata de matéria penal, já que há efeitos nitidamente penais ao se classificar o crime como hediondo. De todo modo, devemos nos atentar à posição tomada no precedente do STF, já seguido em julgados do STJ (por exemplo, HC 50342/SP e HC 276024/SP, este último publicado no DJe de 04/09/2015). O argumento das Cortes Superiores repousa no fato de que o próprio Presidente, nos casos analisados, exclui a concessão do indulto aos hediondos no próprio texto do indulto, o que, a rigor, ocorre não por mera opção política, mas em decorrência da vedação constitucional. Cabe destacar que referidas vedações (ao indulto, à graça e à anistia) não se estendem ao chamado tráfico de entorpecentes privilegiado, previsto no artigo 33, § 4º, da Lei 11.313/2006. É o que decidiu o Pleno do STF no HC 118533, em 23 de junho de 2016. Por fim, o Superior Tribunal de Justiça vinha entendendo cabível o indulto humanitário, mesmo nos casos de crimes hediondos e equiparáveis, se assim dispuser o decreto do Presidente da República. O indulto humanitário é dado àqueles que possuem doenças graves, como ato de clemência. Vejamos um precedente neste sentido: “HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO APROPRIADO. DESCABIMENTO. EXECUÇÃO DA PENA. PLEITO PELO INDULTO HUMANITÁRIO DO DECRETO Nº 7.648/11. CEGUEIRA. COMPROVAÇÃO POR 9 Cleber Masson em sentido contrário (Direito Penal, Parte Geral (arts. 1º a 120). 13 ed. São Paulo: Método, 2019, p. 757. O autor cita, no STF, o julgado do RE 274.265/DF, julgado em 2001, e, no STJ, o HC 276.686/SP, de 18/06/2014. Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 26 LAUDO MÉDICO. PACIENTE CONDENADA POR TRÁFICO DE DROGAS. POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. 1. Nos termos do art. 1.º, inciso X, alínea a, do Decreto Presidencial n.º 7.648/11, foi concedido indulto aos apenados acometidos com paraplegia, tetraplegia ou cegueira, desde que tais condições não sejam anteriores à prática do delito e se comprovem por laudo médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juízo da execução. 2. A restrição contida no art. 8º do mencionado Decreto, que afasta a possibilidade de se conceder indulto aos condenados pela prática de tráfico de drogas, não atinge aqueles que, assim como a paciente, se enquadram na hipótese do art. 1º, inciso X, conforme ressalva contida no próprio art. 8º, § 1º. 3. Habeas corpus concedido de ofício para cassar o acórdão impugnado e deferir à paciente o benefício do indulto humanitário, nos termos do Decreto Presidencial nº 7.648/11.” (STJ, HC 291275/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Quinta Turma, DJe 14/08/2014). Entretanto, o STJ possui recente precedente que contraria a jurisprudência até então firmada: “Trata-se, no caso, de condenação por crime hediondo – homicídio qualificado -, o qual, por expressa vedação constitucional (art. 5.º, inciso XLIII, da Constituição Federal), não pode ser objeto de indulto (até mesmo o humanitário).” (STJ, AgRg no HC 538.858/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, DJe 02/06/2020). Tornando a matéria mais controversa, o STF também decidiu contrariamente à concessão: “Habeas corpus. 2. Tráfico e associação para o tráfico ilícito de entorpecentes (arts. 33 e 35 da Lei 11.343/2006). Condenação. Execução penal. 3. Sentenciada com deficiência visual. Pedido de concessão de indulto humanitário, com fundamento no art. 1º, inciso VII, alínea a, do Decreto Presidencial n. 6.706/2008. 4. O Supremo Tribunal Federal já declarou a inconstitucionalidade da concessão de indulto a condenado por tráfico de drogas, independentemente da quantidade da pena imposta [ADI n. 2.795 (MC), Rel. Min. Maurício Corrêa, Pleno, DJ 20.6.2003]. 5. Vedação constitucional (art. 5º, inciso XLIII, da CF) e legal (art. 8º, inciso I, do Decreto n. 6.706/2008) à concessão do benefício. 6. Ausência de constrangimento ilegal. Ordem denegada.” (STF, HC 118213/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julgamento em 06/05/2014). 3 - ABOLITIO CRIMINIS A abolitio criminis é a causa de extinção da punibilidade que consiste na descriminalização da conduta, em decorrência da superveniência de lei que deixa de prever aquela conduta como infração penal. Está prevista no artigo 2º do Código Penal: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. A lei que revoga a previsão da norma penal incriminadora, seja de forma expressa ou tática, provoca a extinção da sanção penal imposta, bem como os efeitos penais da condenação. A coisa julgada não impede os efeitos desta causa extintiva da punibilidade, que deve abranger quem está sendo investigado ou Estratégia Carreira Jurídica Delegado de Polícia - Direito Penal - Prof.: Michael Procopio Ribeiro Alves Avelar cj.estrategia.com | 27 processado, bem como aquelas que estão cumprindo pena, com imediata cessação de todos os efeitos penais, trancamento do inquérito policial e absolvição do réu. Notem que, assim como o crime é previsto em lei formal, a abolitio criminis ocorre quando surge lei