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Índice
Introdução
O estudo do crescimento e desenvolvimento econômico de Moçambique ao longo da sua história revela transformações profundas e contrastantes entre dois períodos cruciais: o período colonial português e o período pós-independência. Durante o domínio colonial, a economia moçambicana foi moldada por um sistema de exploração intensiva, centrado na extração de recursos naturais e na utilização de mão-de-obra barata e forçada. Esta fase foi caracterizada por uma relação de dependência quase total em relação à metrópole, Portugal, com impactos profundos e duradouros na estrutura econômica e social do país.
Com a conquista da independência em 1975, Moçambique enfrentou o desafio monumental de reconstruir uma economia devastada pela guerra de libertação e pela saída abrupta dos colonos portugueses. Sob a liderança da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o país adotou inicialmente um modelo socialista, com políticas de nacionalização e economia planificada. Entretanto, a guerra civil subsequente, que durou até 1992, trouxe uma nova onda de destruição e deslocamento populacional, complicando ainda mais os esforços de desenvolvimento.
A partir dos anos 1990, Moçambique iniciou um processo de transição para uma economia de mercado, implementando reformas estruturais sob a orientação de instituições internacionais. Este período tem sido marcado por um crescimento econômico significativo, impulsionado por investimentos em recursos naturais, particularmente gás natural e carvão. No entanto, o país ainda enfrenta desafios persistentes, como altos níveis de pobreza, desigualdade, corrupção e deficiências na infraestrutura.
Este trabalho explora as linhas e ideias principais de crescimento e desenvolvimento econômico em Moçambique, comparando os períodos colonial e pós-independência. Ao analisar as estratégias econômicas adotadas, os impactos sociais e as dinâmicas de poder em cada era, busca-se entender como o passado colonial moldou os caminhos de desenvolvimento do país e como as políticas contemporâneas estão moldando seu futuro
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DESAFIOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO DE MOCAMBIQUE 1975-2025
Após a independência em 1975, Moçambique enfrentou uma série de desafios económicos e políticos significativos, enquanto buscava construir uma nação independente e desenvolvida.
Em 1976 surgiram os primeiros indícios de desestabilização em Moçambique, cujo desenvolvimento atinge a forma de uma guerra civil alargada a todo o país, sobretudo na década de 80, opondo o governo e a RENAMO - Resistência Nacional de Moçambique. A desestabilização provocada por estes conflitos internos é agravada por agressões militares que a Rodésia faz a Moçambique, mais tarde transferidas para o regime de apartheid da África do Sul. Apenas em 1992, com a assinatura do ‘Acordo Geral de Paz’ entre a FRELIMO e a RENAMO, cessam as hostilidades e inicia-se um processo de paz e reconciliação.
A década de 80 marca a transição de uma economia centralmente planificada para uma economia aberta, de mercado. Nos anos 90, concretiza-se a transição política anteriormente iniciada, onde se destaca a introdução de uma constituição pluralista e a emergência de um processo de descentralização política e administrativa.
1. Guerra Civil: Logo após a independência, Moçambique mergulhou em uma guerra civil prolongada entre o governo liderado pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), apoiada por forças externas. A guerra civil durou até 1992 e teve um impacto devastador na infra-estrutura, na economia e na população do país.
2. Economia Planejada: Após a independência, o governo adoptou políticas de economia planejada e nacionalização de sectores chave, incluindo agricultura, mineração e indústria. O objectivo era promover o desenvolvimento nacional e reduzir a dependência das estruturas económicas coloniais.
3. Colectivização Agrícola: Uma das políticas implementadas foi a colectivização da agricultura, que visava aumentar a produtividade e melhorar a distribuição de terras. No
Entanto, essa política enfrentou desafios significativos e resultou em problemas de produtividade e resistência por parte dos agricultores.
4. Impacto da Guerra Civil: A guerra civil teve um custo humano e económico enorme, com infraestruturas destruídas, deslocamento de populações rurais e urbanas, e interrupção das atividades econômicas em muitas partes do país.
5. Reformas Econômicas: Na década de 1980, Moçambique iniciou um processo de reformas econômicas e liberalização, movendo-se gradualmente para uma economia de mercado. Isso incluiu a privatização de empresas estatais, reforma agrária e atração de investimentos estrangeiros.
6. Desenvolvimento Pós-Guerra: Após o fim da guerra civil em 1992, Moçambique começou a se reconstruir com apoio internacional significativo. Houve um crescimento econômico notável, impulsionado principalmente pelos setores de recursos naturais, agricultura, turismo e infraestrutura.
7. Desafios Persistentes: Moçambique ainda enfrenta desafios significativos, como pobreza generalizada, desigualdades sociais, vulnerabilidade a desastres naturais, e problemas de infraestrutura e desenvolvimento humano. A gestão da riqueza dos recursos naturais, como gás natural e minerais, também é um desafio importante para o país.
Período Colonial Português
O crescimento e desenvolvimento económico de Moçambique durante o período colonial português e após a independência são marcados por mudanças significativas e desafios persistentes.
Colonização e Estrutura Económica: A colonização portuguesa em Moçambique começou em 1505 e foi caracterizada por uma estrutura económica baseada no comércio de ouro, marfim, escravos e outros metais e peles. A presença colonial portuguesa e o controle de empresas privadas, muitas vezes estrangeiras, tiveram consequências importantes para o país.
Legado Colonial: O legado colonial português incluiu a construção de infra-estruturas básicas, como estradas e ferrovias, que funcionavam principalmente no sentido este-oeste, beneficiando a
exploração mineira e a agricultura nas economias maiores da África do Sul e da Rodésia. Isso contribuiu para a assimetria entre o Norte e o Sul do país e entre a cidade e o campo.
Estrutura Económica Colonial: A estrutura económica colonial caracterizava-se por uma assimetria entre o Norte e o Sul do país e entre a cidade e o campo. O Sul era mais desenvolvido que o Norte, e a cidade mais desenvolvida que o campo. A ausência de integração económica e a opressão extrema da mão-de-obra eram características dominantes dessa assimetria.
Independência e Pós-Colonialismo
Estratégia de Desenvolvimento Socialista: A independência em 1975 trouxe uma estratégia de desenvolvimento socialista centralmente planificada, que visava inverter a assimetria económica. No entanto, conjunturas regionais e internacionais desfavoráveis, calamidades naturais e um conflito militar interno de 16 anos inviabilizaram essa estratégia.
Endividamento Externo e Ajustamento Estrutural: O endividamento externo de cerca de 5,5 bilhões em 1995 levou o país a uma mudança radical para uma estratégia de desenvolvimento do mercado, filiando-se às Instituições de Bretton Woods e a consequente adopção de um Programa de Ajustamento Estrutural a partir de 1987.
Crescimento Económico e Reformas: Desde então, Moçambique tem registado um notável crescimento económico, com um PIB que cresce a uma média acima de 7-8% ao ano e uma inflação abaixo de 10%. As reformas jurídicas e a política orçamental contribuem para um ambiente de negócios favorável ao desenvolvimento da iniciativa privada.
Desafios Atuais: Embora o país tenha alcançado um crescimento económico significativo, muitos moçambicanos continuam vivendo abaixo da linha da pobreza. O combate à pobreza absoluta é uma das principais prioridades do Governo, e projectos como o da Mozal, Barragem de Cahora Bassa e Corredores Ferro-Portuários contribuem para a atracção de investimentos regionais e internacionais.Legado Colonial e Impactos Atuais: O legado colonial português e as experiências de desenvolvimento pós-independência, incluindo a transformação drástica das relações entre certos
grupos étnicos devido à guerra de libertação e à experiência pós-colonial, continuam a influenciar o país. A fraccionação regional e étnica é um factor subjacente que explica as diferenças no acesso ao poder político
Crescimento e Desenvolvimento Económico no Período Colonial Português Exploração e Mercantilismo:
· Objectivo: A principal motivação dos colonizadores portugueses era a exploração económica. Moçambique foi utilizado como ponto estratégico para o comércio de escravos, marfim, ouro e outros recursos naturais.
· Mercantilismo: As colónias serviam para fornecer matérias-primas para a metrópole, que depois exportava produtos manufacturados de volta para as colónias.
Economia Extrativista:
· Recursos Naturais: Extracção de recursos como ouro, marfim e a comercialização de escravos. O foco era na exploração de recursos sem preocupação com o desenvolvimento local sustentável.
· Agricultura: Introdução de plantações de culturas como cana-de-açúcar e algodão, utilizando trabalho escravo e, posteriormente, trabalhadores contratados à força.
Infraestrutura e Administração:
· Infraestrutura: Desenvolvimento limitado de infraestrutura, voltada principalmente para facilitar a extração e o transporte de recursos.
· Administração Colonial: Estabelecimento de uma administração colonial para controlar e regular as actividades económicas e manter a ordem.
Ideias Principais
· Exploração Económica: O desenvolvimento económico durante o período colonial português foi caracterizado pela exploração intensiva dos recursos naturais e pela mão-de- obra barata ou forçada.
· Dependência da Metrópole: A economia colonial era altamente dependente de Portugal, com pouca diversificação económica e um foco na exportação de matérias-primas.
· Desigualdade e Pobreza: O modelo económico colonial criou e manteve profundas desigualdades sociais e económicas, beneficiando a minoria colonial e prejudicando a população nativa.
O desenvolvimento do colonialismo Português em Moçambique
O desenvolvimento do colonialismo Português em Moçambique, pode ser grosseiramente dividido em três períodos:
1885-1926: com uma economia dominada por grandes plantações exploradas por companhias majestásticas não portuguesas onde se praticava a monocultura de produtos de exportação (sisal, açucar e copra), no centro e norte do país, com base em mão de obra barata. As companhias, por sua vez, também controlavam o mercado da venda de força de trabalho para países como a Rodésia, Malawi (Niassalândia), Tanganhica, Congo Belga e em alguns casos a África do Sul (WUYTS, 1980:12-13).
No sul, predominava a exportação de mão de obra para alimentar o capital mineiro da África do Sul. Os acordos assinados entre Portugal e a África do Sul para a exportação da mão-de-obra, traziam rendimentos específicos ao Estado colonial, quer através de impostos, quer da utilização dos caminhos de ferro que ligavam o porto de Lourenço Marques à África do Sul, quer ainda através da utilização do próprio porto, para o trânsito de mercadorias;
1926-1960: sob influência da construção do nacionalismo económico, este período é marcado por uma intensificação do trabalho forçado e integração crescente da economia de Moçambique numa economia regional dominada pela África do Sul. O princípio do trabalho forçado e da introdução de culturas forçadas marcam este período, como uma forma de proteger a burguesia portuguesa, incapaz de concorrer com o capital mineiro e com as plantações, no acesso à mão de obra.
1960-1973: As mudanças políticas mundiais e a crise do regime de Salazar durante este período levaram a diversas reformas políticas e económicas, que conduziram, entre outras medidas, à abolição do trabalho e das culturas forçadas e ao traçar de novas estratégias de desenvolvimento para as colónias. Algumas das consequências das reformas políticas levaram à modernização do
capital, com a abertura da economia ao investimento estrangeiro. É neste período e neste contexto de modernização do capital que se fazem investimentos na indústria manufactureira.
A economia colonial sobreviveu durante muitos anos na base de uma dependência de dois sistemas, o trabalho migratório e o trabalho e agricultura coercivos, mesmo depois da abolição formal das culturas e do trabalho forçado. O colonialismo português introduziu mecanismos impeditivos do crescimento de uma burguesia negra, agrícola ou comercial. Assim, embora houvesse uma diferenciação de classe e até mesmo alguns ‘koulaks’ e pequenos comerciantes, o sistema de produção agrícola e industrial manteve-se nas mãos da burguesia portuguesa (FIRST, R., MANGHEZI, A., et al ,1983; CEA,1998; WUYTS, M. & O’LAUGHLIN, B.,1981).
Um olhar sobre a rede de estradas e caminhos-de-ferro de Moçambique, no período colonial, facilmente nos ajudará a avaliar a orientação destes para uma economia de serviços, que ligava os países do ‘hinterland’ ao exterior, através dos portos moçambicanos. Cerca de metade das divisas de Moçambique eram geradas pelos serviços de transportes e portos para os países vizinhos.
A reacção à dominação colonial havia sido marcada por vários tipos de contestação, através da literatura, arte e greves de trabalhadores, movimentos esses que assumiram aspectos mais radicais com o desenvolvimento dos movimentos nacionalistas em finais da década de 50 e inícios da década de 60.
Nos anos 60, a FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, fundada no exílio, inicia a luta armada de libertação nacional (1964), que só veio a culminar 10 anos depois.
No processo de luta, a FRELIMO criou as ‘zonas libertadas’, áreas no interior do território moçambicano fora do controle da administração portuguesa, funcionando como um ‘Estado dentro de um Estado’, com um sistema próprio de administração. À medida que a guerra avançava, as ‘zonas libertadas’ foram nascendo sucessivamente nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Tete. A sua forma de organização é uma ilustração dos esforços tentativos feitos pela Frente de Libertação de Moçambique para criar uma alternativa à sociedade colonial, com uma economia sem ‘exploração do homem pelo homem’, com formas colectivas de produção e de comercialização e a implantação de bases democráticas (ADAM, 1997: 4).
Transição e consolidação da independência nacional (1974-1977)
Com o cessar-fogo e a assinatura dos ‘Acordos de Lusaka’ em Setembro de 1974, sucede-se a criação de um governo de transição, composto por representantes da FRELIMO e do governo português, cuja duração se estende até à independência nacional de Moçambique, a 25 de Junho de 1975.
O hiato provocado pela saída massiva dos portugueses que haviam preenchido a maior parte dos lugares do quadro da administração e do aparelho económico, depois da proclamação da independência nacional, teve que ser preenchido e assumido pela FRELIMO. As mudanças operadas em Moçambique pelo sistema de administração portuguesa em finais do período colonial, não foram suficientemente abrangentes de molde a criarem uma élite negra educada.
Na altura da independência, Moçambique tinha uma população com um percentagem de 90% de analfabetos, um número reduzido de técnicos e pessoas com formação superior. No geral, havia poucas pessoas preparadas para preencherem os lugares abruptamente deixados pelos portugueses. É importante registar que o êxodo de portugueses e de alguns indianos neste período entre a transição e o pós-independência, foi acompanhado por uma ‘sabotagem’ da economia de Moçambique, que pode ser caracterizada pelo esvaziamento das contas bancárias, fraudes na importação de mercadorias e exportações ilegais de bens (carros, tractores, maquinaria,etc). Na mesma altura, empresas e bancos portugueses procederam ao repatriamento do activo e dos saldos existentes, criando assim um rombo na economia de Moçambique
Logo após os primeiros anos de independência, a África do Sul iniciou umprocesso de repatriamento de trabalhadores moçambicanos com contratos nas minas, e o fluxo de recrutamento de trabalhadores sofreu uma redução nos anos seguintes (de 120 000 para 40 000 num só ano) (HERMELE, 1998).
Este processo foi acompanhado por um redireccionamento da utilização dos serviços dos portos e caminhos de ferro de Lourenço Marques, pela África do Sul (recorde-se que por altura da independência nacional, mais de 90% dos serviços prestados pelos portos e caminhos de ferro de Moçambique eram direccionados para os países vizinhos). Em 1976, Moçambique adere às sanções das Nações Unidas contra a Rodésia (Zimbabwe) e encerra as suas fronteiras com este país. Recorde-se que a Rodésia era uma importante fonte de captação de divisas para
Moçambique, não só através da utilização do porto e dos caminhos de ferro da Beira, para o transporte de mercadorias de trânsito, mas também através do consumo de derivados do petróleo provenientes da refinaria em Maputo, para suprir os problemas de uma economia embargada. O encerramento das fonteiras com a Rodésia, para além das consequências económicas mencionadas, trouxe também um processo de desestabilização a Moçambique (HANLON, 1997), como será referido mais à frente. Com uma economia largamente dependente dos serviços prestados aos países vizinhos, e na sequência do novo tipo de relações agora existentes com a Rodésia e a África do Sul, Moçambique viu assim drasticamente diminuída a entrada de divisas para o país.
As calamidades naturais que afectaram o país entre 1977 e 1978, os efeitos da depressão sobre a economia moçambicana,de base agrícola, agravados pelos aspectos acima mencionados, levaram o país a um declínio económico em espiral .
O novo governo independente, deveria não só organizar o funcionamento da administração mas também garantir a produção e os mecanismos necessários para manter uma economia operacional.Utilizando a sua experiência das zonas libertadas e guiada por um programa de transformação socialista, a FRELIMO traçou as suas estratégias para mudar a estrutura económica e social do país. As mudanças radicais preconizadas pelo novo governo passavam necessariamente pelo exercício de um controle estatal nas zonas rurais e por uma política de intervenção nos sectores económicos e sociais.
Duas das grandes áreas de investimento na área social, foram a saúde e a educação. Na educação, tentando contrariar as políticas coloniais, criam-se condições para a entrada massiva de crianças nas escolas primárias, e priorizaram-se estratégias para diminuir rapidamente os índices de analfabetismo e promover a educação de adultos. Na área da saúde, criaram-se programas de saúde rural, tentando assim estender a rede sanitária a todo o país e previlegiando a medicina preventiva. Uma leitura pelos dados estatísticos sobre as áreas sociais, mostra-nos que em 7 anos o número de ingressos nas escolas primárias duplicou e que no mesmo período, quadriplicou o número de postos sanitários. No seu processo de intervenção, com vista à massificação dos serviços sociais, o Estado procede à nacionalização da saúde, da educação, da habitação e dos serviços de advocacia privada (1975), e mais tarde a outras intervenções no campo económico.
A estratégia económica preconizada pela FRELIMO assentava na transformação social baseada na modernização do campo através da criação de aldeias comunais com facilidade de acesso a infraestuturas sociais como a saúde e educação, aumento da produditividade através de um programa de introdução de uma agricultura mecanizada nas machambas estatatais, uma tentativa para inverter o processo de exploração colonial dos camponeses, e onde o Estado passava a fazer a acumulação. Caberia também às machambas estatais o fornecimento de alimentos às zonas urbanas, antes abastecidas pelos farmeiros portugueses. Esta estratégia foi aprovada pelo 3o. Congresso da FRELIMO, realizado em Maputo, em Fevereiro de 1977, e era conhecida como a ‘estratégia de socialização do campo’. Neste Congresso, a FRELIMO também declarou a sua passagem de Frente para um ‘Partido de Vanguarda Marxista-Leninista’, com a missão de liderar, organizar, orientar e educar as massas, visando destruir as bases do capitalismo e construir uma sociedade socialista.
As estratégias introduzidas pela FRELIMO depois da independência para manter a produção e a economia em andamento, não conseguiram superar de imediato a crise económica que afectava o país:
‘Entre 1974 e 1976, a produção de colheitas para exportação diminuíu em 40%, o milho cultivado pelos camponeses em 20%, a mandioca em 61% e a produção agrícola dos colonos (produtos hortícolas e alimentares para abastecimento das cidades) em 50%. No mesmo período, a produção industrial baixou em 36%’ (NEWITT, 1997: 473; WUYTS, 1985: 186).
Crescimento e Desenvolvimento Económico de Moçambique na Independência Independência (1975):
· Fim da Colonização: Moçambique se tornou independente de Portugal em 1975 após uma longa guerra de libertação liderada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
· Herança Colonial: A economia estava devastada pela guerra e pela saída abrupta dos colonos portugueses, que levaram consigo conhecimento técnico e capital.
Economia Socialista:
· Modelo Socialista: A FRELIMO adoptou um modelo socialista, com nacionalizações de indústrias e uma economia centralizada.
· Cooperativas e Planificação Central: Formação de cooperativas agrícolas e um esforço para planificar a economia visando a auto-suficiência.
Guerra Civil (1977-1992):
· Impacto Devastador: A guerra civil entre o governo da FRELIMO e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) causou grandes danos à infra-estrutura e ao tecido económico e social do país.
· Deslocamento e Destruição: Deslocamento de milhões de pessoas e destruição de infra- estruturas básicas como escolas, hospitais e estradas.
Ideias Principais
· Reconstrução Pós-Guerra: Após o fim da guerra civil, Moçambique iniciou um processo de reconstrução económica e social, buscando atrair investimentos estrangeiros e assistência internacional.
· Reformas de Mercado: Nos anos 1990, Moçambique começou a liberalizar sua economia, adoptando reformas de mercado e políticas de ajuste estrutural sob orientação de instituições internacionais como o FMI e o Banco Mundial.
· Crescimento Económico: Desde o início dos anos 2000, Moçambique tem experimentado taxas de crescimento económico significativas, impulsionadas por investimentos em recursos naturais, especialmente gás natural e carvão.
· Desafios Persistentes: Apesar do crescimento, Moçambique ainda enfrenta desafios significativos como pobreza generalizada, desigualdade, corrupção e infra-estrutura insuficiente.
Conclusão
A análise do crescimento e desenvolvimento econômico de Moçambique nos períodos colonial português e pós-independência revela uma trajetória marcada por profundas transformações e desafios persistentes. Durante o período colonial, a economia moçambicana foi caracterizada por um modelo extrativista, onde a exploração intensiva dos recursos naturais e a utilização de mão- de-obra barata ou forçada serviram aos interesses econômicos da metrópole, Portugal. Este sistema não apenas criou uma economia dependente e desequilibrada, mas também perpetuou desigualdades sociais e econômicas significativas.
Com a independência em 1975, Moçambique embarcou em um novo caminho, buscando a reconstrução e a autonomia econômica em meio a um contexto de devastação pós-guerra e instabilidade política. A adoção inicial de um modelo socialista pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) representou uma tentativa de redistribuir a riqueza e promover o desenvolvimento equitativo. No entanto, a guerra civil subsequente trouxe novos desafios, destruindo infraestruturas e agravando as condições socioeconômicas.
A transição para uma economia de mercado nos anos 1990, marcada por reformas estruturais e liberalização econômica, trouxe um período de crescimento significativo, especialmente impulsionado por investimentos em recursos naturaiscomo gás natural e carvão. Contudo, os benefícios deste crescimento não foram igualmente distribuídos, e o país continua a enfrentar desafios críticos, incluindo a pobreza generalizada, desigualdade, corrupção e infraestrutura inadequada.
Em suma, a história econômica de Moçambique ilustra a complexidade de transformar uma economia de exploração colonial em uma economia independente e sustentável. Embora o país tenha feito progressos notáveis desde a independência, o legado colonial e os impactos da guerra civil continuam a influenciar suas trajetórias de desenvolvimento. Para o futuro, é crucial que Moçambique adote políticas inclusivas e sustentáveis que não apenas fomentem o crescimento econômico, mas também promovam a justiça social e a redução da pobreza. O aprendizado com o passado e a implementação de estratégias inovadoras e adaptativas serão fundamentais para assegurar um desenvolvimento equitativo e duradouro.
Bibliografia
· ADAM, Yussuf (1997) ‘Evolução das estratégias para o desenvolvimento no Moçambique pós-colonial’. In: SOGGE, D.(1997), ed. Moçambique: perspectivas sobre a ajuda e o sector civil. Amsterdam: Frans Beijaard, pp. 1-14.
· FIRST,R., MANGHEZI, A., at al (1983) Black Gold: the Mozambican miner, proletarian and peasant. Brighton: Harvester Press.
· HANLON, Joseph (1997) Paz sem benefícios: como o FMI bloqueia a reconstrução de Moçambique. Maputo: Centro de Estudos Africanos.
· HERMELE, Kenneth (1988) Country Report Mozambique: war & stabilization. A mid- term review of Mozambique’s economic rehabilitation programme (PRE), with implications for Swedish Development Assistance. SIDA.
· NEWIT, Malyn (1997) História de Moçambique.Lisboa: Publicações Europa-América.
· WUYTS, Marc (1980) ‘Economia Política do Colonialismo’.Estudos Moçambicanos (1).
pp. 9-22.

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