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O Nascimento da Literatura Comparada

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LITERATURA COMPARADA
Aula 2- O nascimento da Literatura Comparada
Está ligada diretamente aos rumos da História do Pensamento, de um modo geral. Nela se refletem sempre tendências importantes das Ciências Humanas, em cada época. Logo, podemos afirmar que a história da Literatura Comparada vem acompanhando os rumos da história social, política e cultural do Ocidente ao longo do tempo.
Literatura comparada surge como disciplina no século XIX e está vinculado à corrente de pensamento cosmopolita que caracterizou o pensamento desse século. Época em que se comparavam estruturas ou fenômenos equivalentes com o intento de extrair leis gerais era o mote nas ciências naturais.
A visão cosmopolita gerou o encontro de intelectuais europeus que buscaram o contato com literaturas estrangeiras. 
 - No  século XIX há amplo desenvolvimento da ciência e todas as áreas do conhecimento registraram avanços. A ciência tornou-se mais popular.
 
Origem das espécies (Charles Darwin) – esgota no primeiro dia de venda.
Usada na Europa para estudos de ciência e linguística, será na França que a expressão “literatura comparada” irá se firmar. “Literatura” – conjunto de obras. - Abel-François Villemain divulgou a expressão nos cursos sobre literatura do século XVIII que ministrou na Sorbonne em 1828 – 1829. - Philarete Chasles formula alguns princípios básicos do que seria o comparativismo na época: 
“Nada vive isolado, todo mundo empresta a todo mundo: este grande esforço de simpatias é universal e constante.” 
“Deixe-nos avaliar a influência de pensamento sobre pensamento, a maneira pela qual povos transformam-se mutuamente, o que cada um deles deu e o que cada um deles recebeu; deixe-nos avaliar também o efeito deste perpétuo intercâmbio entre nacionalidades individuais.” 
O estudo dos textos literários é estabelecido a partir de um método que servirá de base para o pesquisador, permitindo um olhar além das diferenças e semelhanças entre os textos, pois o comparatista estará apto para:
 
Propor questionamentos; 
Formular hipóteses;
Construir argumentos para confirmar ou não as hipóteses levantadas.
Com o domínio de um método o “achismo” e os julgamentos de valor superficiais são afastados e o comparatista pode expor suas conclusões com mais segurança. Este procedimento faz com que Literatura Comparada e Teoria Literária tenham discursos que se complementam. Em consequência disso, vamos lidar com certa diversidade metodológica. Desse modo um mesmo trabalho terá sempre a possibilidade de ser conduzido de várias maneiras, dependendo da escolha teórica que fizermos.
Manifestações ancestrais - a expressão “manifestações primitivas” foi evitada, com o propósito de se prevenir a possibilidade de interpretações errôneas e apressadas. Como no período renascentista que no esforço em compreender os clássicos, levou estudiosos da Europa a realizar estudos comparativos que tendiam a uma avaliação hierarquizante. 
 
Superioridade de uma cultura sobre a outra.
Hoje foi abolido. 
As origens da literatura comparada se confundem com as da própria literatura. Sua pré-história remonta às literaturas grega e romana. Bastou existirem duas literaturas para se começar a compará-las, com o intuito de se apreciar os respectivos méritos, embora ainda se estivesse ainda longe de um projeto de comparatismo elaborado, que fugisse a uma mera inclinação empírica.
 (NITRINI, Sandra. Literatura Comparada. História, Teoria e Crítica. São Paulo Edusp, 2000, pág. 19)
Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito peregrinou, desde que desfez as muralhas sagradas de Tróia [...] (Homero, Odisseia, canto I ) 
Canta-me a cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos e esclarecidos [...] (Homero, Ilíada, canto I)
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,[...]
Por que de vossas águas Febo ordene 
Que não tenham enveja às de Hipocrene.[...] (Camões, Os Lusíadas -1572, canto I)
Cessem do sábio Grego e do Troiano – (Ulisses/Enéias)
As navegações grandes que fizeram; 
Cale-se de Alexandro e de Trajano 
A fama das vitórias que tiveram; 
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, 
A quem Neptuno e Marte obedeceram. 
Cesse tudo o que a Musa antiga canta, 
Que outro valor mais alto se alevanta. 
(Camões, Os Lusíadas -1572, canto I)
Eneida, canto I – Virgílio
Eu, que entoava na delgada avena Rudes canções, e egresso das florestas, Fiz que as vizinhas lavras contentassem A avidez do colono, empresa grata
 Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis Armas canto, e o varão que, lá de Tróia Prófugo, à Itália e de Lavino às praias Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra [...]
E os muros vêm da sublimada Roma.
Os Lusíadas, canto I - Camões
As armas e os Barões assinalados 
Que da Ocidental praia Lusitana 
Por mares nunca de antes navegados 
Passaram ainda além da Taprobana, 
Em perigos e guerras esforçados 
Mais do que prometia a força humana, 
E entre gente remota edificaram 
Novo Reino, que tanto sublimaram;
 
Tempos de afirmação – Surgimento de uma nova mentalidade
Já na última década do século XVIII, impunha-se a necessidade de superar a visão de que os modelos consagrados pela tradição eram infalíveis. Poetas e pensadores começavam a alimentar um interesse maior pelo presente e pelo futuro do que pelas glórias do passado. 
Superar a visão de que os modelos consagrados pela tradição eram infalíveis. (Pensamento no fim do século XVIII);
Atenção à contribuição que cada povo dava ao patrimônio cultural de toda a humanidade. (Visão cosmopolita);
A revolução industrial trouxe o triunfo da mentalidade capitalista, com um olhar mais voltado para o agora e o futuro;
O classicismo perdia força, dando espaço ao surgimento do período romântico, no qual o conceito de evolução terá um papel decisivo; 
Um olhar voltado para frente, para o potencial humano de construir um novo destino, passou a dominar as almas a partir de então;
Os burgueses, com sua habilidade de empreendimento e sua busca por ampliar seus negócios e fundando um novo modo de enxergar o mundo, segundo o qual haveria mais liberdade para a criação e a imaginação;
Poetas e pensadores percebem que a lógica burguesa atrelava este liberalismo a seus propósitos de enriquecimento. Daí a visão romântica se articular em torno de uma visão de repulsa à racionalidade do capitalista;
Outro atributo do romantismo que é de extrema importância para a consolidação da Literatura Comparada: o gosto pelo exótico, que levará estudiosos a se interessar pelo estudo da produção literária de povos distantes, para além das fronteiras das nações mais ricas da Europa;
Poetas e pensadores começavam a alimentar um interesse maior pelo presente e pelo futuro do que pelas glórias do passado.
Literatura Comparada iria estudar os fatos literários além das fronteiras políticas ou culturais (Transnacional). Estava aberto o caminho para que o conjunto da produção literária da espécie humana pudesse ser considerado objeto de estudo de uma só disciplina
As limitações ideológicas da época impediam que os estudiosos enxergassem os fatos para além da Europa. 
Ex.: França e Inglaterra
Limitações do comparatismo - XIX 
A tendência a hierarquizar as literaturas, tendo como ponto de honra a superioridade das literaturas europeias sobre as demais e da francesa, em particular, sobre as outras do continente. 
A disciplina era tributária do atraso em que se encontrava a Teoria da Literatura até então. Havia pouca profundidade teórica em tais estudos. 
c)	Além disso, tudo, nas obras, tendia a ser explicado como resultado da influência do meio, da raça ou do clima. É nítida a presença de um ideário marcado pela presença da corrente filosófica positivista no comparatismo francês, e tal situação
perdura até o início do século XX, período em que a disciplina vai se instalar como uma cadeira regular em uma quantidade cada vez maior de universidades. 
Logo, a visão evolucionista esbarrava na visão etnocêntrica, ou mais precisamente eurocêntrica, que apontava a civilização europeia como modelo ideal a ser copiado por todos os demais povos do mundo. 
Críticas e dúvidas no século XX
Os conflitos, contradições e mudanças trazidas pelo advento do novo século marcaram profundamente os estudos comparatistas. Avanços tecnológicos proporcionados por descobertas científicas que já estavam em curso desde o século XIX. 
•	Cinema
•	Fotografia
•	Internet
Os novos tempos se oferecem como um fértil campo de estudos, mas, sempre, é preciso cuidado ao analisar as relações da Literatura, arte que se alimenta na inovação estética e no primado da imaginação, com as novas modalidades.
Outra importante alteração de rumos se dará na medida em que as contribuições das novas correntes de Teoria da Literatura, como o formalismo ou o estruturalismo passam a ser consideradas nos estudos comparatistas.
O confronto entre a produção literária e as outras artes passa, cada vez mais, a ser incorporado como um campo de pesquisas para a Literatura Comparada que avança além do cotejo entre diferentes literaturas nacionais.
Síntese da aula
Conhecemos a história da Literatura Comparada, com ênfase nas etapas iniciais de sua existência, desde os tempos antigos, quando o comparatismo dava seus primeiros passos e as relações necessárias entre a Literatura Comparada e a Teoria da Literatura, de onde são colhidos os instrumentos indispensáveis para as análises comparatistas.
Verificamos que neste período a disciplina sofria da carência de uma maior capacidade de percepção crítica, presa das limitações teóricas do momento, atrelada a uma visão positivista e eurocêntrica do mundo. Somente no século XX, esta maneira de encarar os fatos seria contestada, graças à multiplicação dos estudos comparatistas, ao surgimento de novas perspectivas teóricas nos estudos literários e, mais tarde, ao processo de descolonização, que poria fim ao período de domínio da Europa sobre o resto do mundo.

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