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ÍNDICE 1. Estado e Constituição. Constituição: conceito, conteúdo, objeto e classificação. Poder constituinte originário, derivado e decorrente. Supremacia constitucional e hermenêutica constitucional. ...................................................01 2. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Preâmbulo e princípios fundamentais. Dignidade da pessoa humana e direitos humanos. Dimensões dos direitos humanos no Brasil. .....................................................15 3. Direitos e garantias fundamentais. Direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de na- cionalidade, direitos políticos, partidos políticos. .....................................................................................................................28 4. Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficácia plena, contida e limitada. Normas programáti- cas. Controle de constitucionalidade no Brasil. Controles difuso e concentrado de constitucionalidade: ADI, ADC, ADPF e reclamação constitucional. ......................................................................................................................................53 5. Remédios constitucionais: habeas data, habeas corpus, mandado de segurança, ação popular e mandado de injunção. ....................................................................................................................................................................................................59 6. Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios. ......................................................................................................................................................................64 7. Administração Pública. Disposições Gerais e Servidores Públicos ............................................................................ 74 8. Poder Executivo. Atribuições e responsabilidades do presidente da República. .....................................................87 9. Poder Legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuições. Processo legislativo. ...................................................95 10. Poder Judiciário. Disposições gerais. Órgãos e competências do Poder Judiciário. Supremo Tribunal Federal. Composição, estrutura e competências. Súmulas Vinculantes e Repercussão Geral. Superior Tribunal de Justiça. Composição, estrutura e competências. .......................................................................................................................................112 11. Funções essenciais à Justiça: Advocacia, Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria Pública. .......131 12. Defesa do Estado e das instituições democráticas. Segurança pública. Organização da segurança pública. .......................................................................................................................................................................................................139 13. Da Ordem Econômica e Financeira. Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica. .........................................148 14. Da Ordem Social. Base e objetivos da ordem social. Seguridade social. Meio ambiente. Família, criança, ad- olescente, idoso e índio. ......................................................................................................................................................................152 1 Direito Constitucional sentatividade no Senado Federal e nem possuem, hoje, Tribunais de Contas. Somente os Municípios de São Pau- lo e Rio de Janeiro mantiveram a estrutura dos Tribunais de Contas. O termo constituição deve ser entendido no sentido de criar, de compor elementos, uni-los para dada finali- dade. Portanto, no sentido de constituir, criar, conceber, fundar, enfim, estabelecer um novo Estado e uma nova ordem jurídica. Os componentes estruturais de um Estado são: ter- ritório, povo, governo e ordenamento jurídico soberano. Assim nos expressamos porque a “finalidade” ou objeti- vo do Estado se inclui no próprio ordenamento jurídico constitucional – não olvidamos que nas leis estão os seus fins, e o mesmo ocorre com a Constituição, que possui em seu teor os fins estatais. Quando se cria uma Constituição e ao mesmo tem- po o Estado, determina-se os motivos pelos quais foram instituídos. Esses elementos referidos – povo, território, governo - são unificados pelo resultado da elaboração do Poder Constituinte Originário. Dessa forma, essa jun- ção de elementos por meio da Constituição cria o Estado sob uma concepção jurídica e não material. O Estado precisa de estrutura orgânica para funcio- nar, necessita de pessoas que irão exercer competências específicas para o atingimento dos seus fins, são com- petências políticas e administrativas, instrumentais ou finalísticas. Além disso, indispensável que sob o manto territorial do Estado, este possa exercer a sua soberania. Objeto da Constituição O Direito Constitucional, diferentemente do seu ob- jeto de estudo, que é a Constituição, é uma ciência do dever ser, estruturada por um conjunto de princípios, preceitos e institutos próprios que lhe dão autonomia científica. Todavia, o objeto da Constituição, que é objeto do Di- reito Constitucional, é a estruturação do Estado, ou seja, a junção dos seus elementos fundamentais, caracterizado- res de suas peculiaridades como unidade soberana. A Constituição, como norma posta, escrita, e rígida, dispõe sobre a organização e estrutura do Estado, a for- ma de exercício das competências políticas, a determi- nação dos limites estatais em forma de direitos funda- mentais, os meios e instrumentos de tutela de direitos e da própria defesa do Estado ante ações subversivas da vontade da maioria do povo. Em virtude dos movimentos constitucionalistas, as finalidades do Estado, estabelecidas na Constituição dele fazem parte, como instrumento programático, visionário. Vejamos, como exemplo, a essencialidade da Constitui- ção Financeira como meio para o atingimento dos fins sociais do Estado. Dessa forma, as políticas sociais possuem dados fins, tendo como exemplo, o intuito de reduzir as desigualda- des e tentar alcançar a isonomia entre os componentes da federação e entre as pessoas. Quanto a essas, o prag- matismo de isonomia relaciona-se a promoção dos bens de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Está em voga no Direito Constitucional Contempo- râneo a Dignidade da Pessoa Humana. É a valoração do elemento humano como constitutivo do próprio Estado. Um Estado somente poderá ser assim considerado se 1. ESTADO E CONSTITUIÇÃO. CONSTITUIÇÃO: CONCEITO, CONTEÚDO, OBJETO E CLASSIFI- CAÇÃO. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO, DERIVADO E DECORRENTE. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL E HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL. O Direito Constitucional é o ramo fundamental de um Estado, de onde brota e deságua toda estrutura orgânica e principiológica do ordenamento jurídico de uma sociedade organizada. Destaca-se... A Constituição posta tem força normativa, possuin- do uma supereficácia, pois tem o poder de afastar qual- quer outra norma em sua aplicabilidade, devendo ser- vir de guia para a criação e a interpretação das normas componentes do sistema jurídico. O que devemos ter em mente é: o que o produto do Poder Constituinte Originário constitui ou estabelece? Em resposta podemos afirmar que além de constituir a norma fundamental do Estado, constitui o próprio Es- tado. Isso significa que o Estado em seu sentido jurídico é criado pela Constituição que o rege, como norma fun- damental. Por meio desta se unem os seus componentes substanciais, como o território e o povo, e ao mesmo tempo se cria sua estrutura orgânica e política. Pode-se afirmar, ainda, que, juridicamente, o Esta- do também é obra do denominado Poder Constituinte Originário. Todavia, estamos nos referindo ao aspectoas várias interpretações possíveis, adota-se aquela compatível e conforme a Constituição. “Uma norma não deve ser declarada inconstitucional quando: a) a inva- lidade não seja manifesta e inequívoca; b) entre as in- terpretações plausíveis e alternativas, exista alguma que permita compatibilizá-la com a Constituição”. Princípio da Presunção de Constitucionalidade Os poderes que constituem o Estado situam-se no mesmo plano de igualdade. Os atos oriundos de cada um situam-se no mesmo plano, de forma recíproca, a priori com presunção de validade. Tal presunção pode ser elidida quando a afronta à Constituição mostra-se evidente, como declarado pelo Min. Marco Aurélio, no RE 150.764, j. 16-12-1992: “É certo que somente devemos declarar a inconstitu- cionalidade quando o conflito se mostra realmente fron- tal, evidente (...) ou convertida em presunção absoluta de validade, em decorrência da declaração de inconstitucio- nalidade ou de constitucionalidade”. Inocêncio Mártires Coelho complementa: (...) O princípio da presunção de constitucionalidade das leis, a significar que toda lei, à partida, é compatí- vel com a Constituição e assim deve ser considerada, até judiciosa conclusão em contrário; ou, mais precisamente, que a inconstitucionalidade não deve ser presumida, antes deve ser provada, de modo cabal, irrecusável e incontro- verso (STF Rp 1.417-DF, RTJ 126, p. 48/72,66). Na opinião de Vittorio Cassone, “a presunção de constitucionalidade das leis consiste num elemento sub- jetivo ofertado pela Constituição, a que se deve dar a devida valoração no sentido de prevalecer sobre o ele- mento subjetivo de interpretação das leis, este ao sabor das tendências doutrinárias, por mais respeitáveis que sejam”. Princípio da máxima efetividade Diz o princípio que a qualquer norma ou disposi- tivo da Constituição submetido à hermenêutica deve ser atribuído o sentido que lhe conceda maior eficácia, vedando a interpretação que lhe suprima ou diminua a finalidade. A eficácia é ínclita a todas as normas constitu- cionais. Entretanto, no processo da busca dessa máxima efetividade deve-se considerar os princípios da razoabi- lidade e da proporcionalidade, além daqueles princípios gerais emanados da própria Constituição. Para conclusão, a doutrina alemã de Konrad Hesse, traduzida por Gilmar Mendes: “[...] O Direito Constitucio- nal deve explicitar as condições sob as quais as normas constitucionais podem adquirir a maior eficácia possível, propiciando, assim, o desenvolvimento da dogmática e da interpretação constitucional. Portanto, compete ao Direito Constitucional realçar, despertar e preservar a vontade da Constituição que, indubitavelmente, consti- tui a maior garantia de sua força normativa. Essa orienta- ção torna imperiosa a assunção de uma visão crítica pelo direito Constitucional, pois nada seria mais perigoso do que permitir o surgimento de ilusões sobre questões fundamentais para a vida do Estado”. 14 Direito Constitucional Já a segurança jurídica “cuida de evitar alterações surpreendentes que instabilizem a situação dos adminis- trados e de minorar os efeitos traumáticos que resultem de novas disposições jurídicas que alcançariam situações em curso. O Direito propõe-se a ensejar uma certa es- tabilidade, um mínimo de certeza na regência da vida social. Daí o chamado princípio da ‘segurança jurídica’, indisputavelmente um dos mais importantes entre eles. Os institutos da prescrição, da decadência, da preclusão (na esfera processual), do usucapião, da irretroativida- de da lei, do direito adquirido, são expressões concretas que bem revelam esta profunda aspiração à estabilida- de, à segurança. [...] A ordem jurídica corresponde a um quadro normativo proposto precisamente para que as pessoas possam se orientar (MELLO, p. 74, 77 e 113). Concluindo, ao adotar os princípios como referen- ciais maiores a interpretação constitucional assumiu novas tendências. O novo referencial é a realização dos direitos fundamentais, definidos a partir da dignidade da pessoa humana. A propósito, “fundamental eliminar o preconceito de que as organizações estatais possuem justificativas de existência em si mesmas. O Estado não existe para satisfazer suas estruturas burocráticas inter- nas nem para realizar interesses exclusivos de algumas classes dominantes. [...] Tem um compromisso com a realização dos interesses coletivos e com a produção ati- va dos valores humanos”. Os princípios espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e finalidades. Dito de forma su- mária, são as normas eleitas pelo constituinte como fun- damentos ou qualificação essenciais da ordem jurídica.1 QUESTÕES 01. (PC/ES – Auxiliar de Perícia Médico-Legal – INSTITUTO AOCP/2019) O Poder Constituinte classifica- se em Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado. Assinale a alternativa que apresenta as características do Poder Constituinte Originário. (A) Inicial, ilimitado, subordinado e condicionado. (B) Inicial, ilimitado, autônomo e incondicionado. (C) Inicial, limitado, subordinado e incondicionado. (D) Decorrente, limitado, subordinado e reformador. (E) Limitado, permanente, autônomo e condicionado. 02. (TJ/SP – Juiz – VUNESP/2018) Com relação aos princípios e métodos de interpretação constitucional, pode-se afirmar que 1 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora Jus- PODIVM. / DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. / LENZA, Pedro. Direito Consti- tucional Esquematizado. 11 edição – São Paulo: Editora Método. / MAXIMILIA- NO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 9ª e. – rio de janeiro: Forense, 1981. / BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 6ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2004. / CRETELLA JUNÍOR, José. Introdução à Filosofia do Direito, 10ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2004. / CRETELLA JUNÍOR, José. Primeiras lições de direito, 6ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1995. / REALE, Miguel, Filosofia do Direito, 12ª ed.- São Paulo: Saraiva, 1987. / MARTIRES, Inocêncio Coelho. Métodos e Princípios da Interpretação Constitucional, fórum administrativo, 23, p. 1709-1923. / JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito ad- ministrativo. São Paulo: Saraiva, 2005 / www.jus.com.br/https://www2.camara. leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/copy_of_museu/publica- coes/arquivos-pdf/Constituicoes%20Brasileiras-PDF.pdf/www.jus.com.br/www. silviabertani.files.wordpress.com (A) a interpretação conforme a Constituição, instrumento previsto no artigo 28, parágrafo único, da Lei n° 9.868/1999, permite a interpretação contrária à literalidade da norma (contra legem), desde que necessária à preservação do princípio da supremacia da Constituição. (B) segundo o princípio da concordância prática ou da harmonização, eventual conflito entre bens juridicamente protegidos deve ser solucionado pela coordenação e combinação entre eles, de modo que o estabelecimento de limites recíprocos evite o sacrifício de uns em relação aos outros. (C) por representar ampliação dos poderes do juiz em prejuízo da esfera de opção política do legislador, sem que tenha sido adotado como norma geral pelo texto constitucional, o princípio da proporcionalidade só pode ser aplicado pelos tribunais nas hipóteses específicas previstas em preceitos esparsos da Constituição. (D) segundo o princípio da unidade da Constituição, as normas constitucionais devem ser interpretadas como integrantes de um todo, de modo que, se qualquer delas implica ruptura da unidade, deve ser declarada inconstitucional, conforme já decidiu o Supremo Tribunal na ADIN 815. 03. (TJ/CE – Juiz – CESPE/2018) A interpretação conforme a Constituição (A) é um tipo de situação constitucional imperfeita, pois somente atenua a declaração de nulidadeem caso de inconstitucionalidade. (B) é admitida para ajustar o sentido do texto legal com a Constituição, ainda que o procedimento resulte em regra nova e distinta do objetivo do legislador. (C) é um método cabível mesmo em se tratando de texto normativo inconstitucional que apresenta sentido unívoco. (D) é incompatível com a manutenção de atos jurídicos produzidos com base em lei inconstitucional. (E) é fixada por decisão do STF, mas não se reveste do efeito vinculante próprio das decisões declaratórias de inconstitucionalidade. 04. (CORECON/PE – Assessor Jurídico – QUADRIX/2019) Acerca da classificação das constituições, é correto afirmar que a (A) outorgada, também chamada de democrática, é decorrente do trabalho de uma Assembleia Nacional. (B) costumeira é a que traz as regras em um único texto solene e codificado. (C) sintética é a que aborda todos os assuntos que os representantes do povo entendem como fundamentais. (D) dogmática, sempre escrita, consubstancia os dogmas estruturais e fundamentais do Estado. (E) flexível é a que pode ser alterada, mas que possui um processo legislativo de alteração mais dificultoso que o processo de alteração de normas infraconstitucionais. 05. (UNIFAI – Controlador Interno – VUNESP/2019) Com base na classificação das Constituições, é correto afirmar que (A) quanto à forma, a Constituição Federal de 1988 é consuetudinária, pois suas normas estão em variadas fontes normativas, como jurisprudência, acordos e convenções. 15 Direito Constitucional (B) quanto ao conteúdo, a Constituição Federal de 1988 é considerada formal, pois foi concebida por meio de um documento solene redigido e estabelecido pelo poder constituinte originário. (C) quanto à elaboração, a Constituição Federal de 1988 é considerada histórica, pois foi escrita por um órgão constituído para esta finalidade em um determinado momento da história do país. (D) quanto à estabilidade, a Constituição Federal de 1988 é considerada permanente, pois possui um núcleo de cláusulas pétreas, sendo as demais normas alteráveis por emendas constitucionais. (E) todas as constituições brasileiras, quanto à origem, foram democráticas, com exceção à Carta Imperial de 1824, que foi outorgada pelo Imperador D. Pedro I. GABARITO 01.B / 02.B / 03.A / 04.D / 05.B 2. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. PREÂMBULO E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DIREITOS HUMANOS. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL. Vejamos abaixo, os dispositivos constitucionais correspondentes ao tema supracitado: TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa ( Vide Lei nº 13.874, de 2019) V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Os princípios constitucionais, segundo Canotilho, podem ser de duas espécies: a) Princípios político-constitucionais: representam decisões políticas fundamentais, conformadoras de nossa Constituição. São os chamados princípios fundamentais, que estudaremos a seguir, os quais preveem as características essenciais do Estado brasileiro. Como exemplo de princípios político- constitucionais, citamos o princípio da separação de poderes, a indissolubilidade do vínculo federativo, o pluralismo político e a dignidade da pessoa humana. b) Princípios jurídico-constitucionais: são princípios gerais referentes à ordem jurídica nacional, encontrando-se dispersos pelo texto constitucional. Em regra, derivam dos princípios político constitucionais. Como exemplo de princípios jurídico constitucionais, citamos os princípios do devido processo legal, do juiz natural e da legalidade. Uma vez entendidos esses conceitos, passaremos à análise dos princípios fundamentais (político- constitucionais), responsáveis pela determinação das características essenciais do Estado brasileiro. Princípios Fundamentais são os valores que orientaram o Poder Constituinte Originário na elaboração da Constituição, ou seja, são suas escolhas políticas fundamentais. Segundo Canotilho, são os princípios constitucionais politicamente conformadores do Estado, que explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concepções políticas triunfantes numa Assembleia Constituinte, constituindo-se, assim, no cerne político de uma Constituição política. Na Constituição Federal de 1988, os princípios fundamentais estão dispostos no Título I, o qual é composto por quatro artigos. Cada um desses dispositivos apresenta um tipo de princípio fundamental. O art. 1º trata dos fundamentos da República Federativa do Brasil (RFB); o art. 2º, do princípio da separação de Poderes; o art. 3º, dos objetivos fundamentais; e o art. 4º, dos princípios da RFB nas relações internacionais. Fundamentos da República Federativa Do Brasil Os fundamentos da República Federativa do Brasil estão previstos no art. 1º, da Constituição Federal de 1988. São eles os pilares, a base do ordenamento jurídico brasileiro. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania 16 Direito Constitucional III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. A soberania é um atributo essencial ao Estado, garantindo que sua vontade não se subordine a qualquer outro poder, seja no plano interno ou no plano internacional. A soberania é considerada um poder supremo e independente: supremo porque não está limitado a nenhum outro poder na ordem interna; independente porque, no plano internacional, não se subordina à vontade de outros Estados. Assim, no âmbito interno, as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as emanadas de grupos sociais intermediários como família, escola e igreja, por exemplo. Por sua vez, na órbita internacional, o Estado somente se submete a regras em relação às quais manifestar livremente o seu consentimento. A soberania guarda correlação direta com o princípio da igualdade entre os Estados, que é um dos princípios adotados pela República Federativa do Brasil em suas relações internacionais(art. 4º, V, CF/88). É relevante destacar que a soberania deve ser vista sob uma perspectiva (sentido) democrática, donde surge a expressão “soberania popular”. Com efeito, o art. 1º, parágrafo único, dispõe que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” nos termos da Constituição. A cidadania, por sua vez, é simultaneamente um objeto e um direito fundamental das pessoas; ela representa um verdadeiro status do ser humano: o de ser cidadão e, com isso, ter assegurado o seu direito de participação na vida política do Estado. A previsão da cidadania como fundamento do Estado brasileiro exige que o Poder Público incentive a participação popular nas decisões políticas do Estado. Nesse sentido, está intimamente ligada ao conceito de democracia, pois supõe que o cidadão se sinta responsável pela construção de seu Estado, pelo bom funcionamento das instituições. A dignidade da pessoa humana é outro fundamento da República Federativa do Brasil e consiste no valor-fonte do ordenamento jurídico, a base de todos os direitos fundamentais. Trata-se de princípio que coloca o ser humano como a preocupação central para o Estado brasileiro: a proteção às pessoas deve ser vista como um fim em si mesmo. Segundo o STF, a dignidade da pessoa humana é princípio supremo, “significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo.” O princípio da dignidade da pessoa humana possui elevada densidade normativa e pode ser usado, por si só e independentemente de regulamentação, como fundamento de decisão judicial. Além de possuir eficácia negativa (invalidando qualquer norma com ele conflitante), o princípio da dignidade da pessoa humana vincula o Poder Público, impelindo-o a adotar políticas para sua total implementação. Em razão da importância do princípio da dignidade da pessoa humana, o STF já o utilizou como fundamento de diversas decisões importantes. A seguir, comentaremos os principais entendimentos do STF acerca da dignidade humana: a) O STF considerou legítima a união homoafetiva como entidade familiar, em razão do princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à busca pela felicidade. Segundo a Corte: “a extensão, às uniões homoafetivas, do mesmo regime jurídico aplicável à união estável entre pessoas de gênero distinto justifica-se e legitima-se pela direta incidência, dentre outros, dos princípios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurança jurídica e do postulado constitucional implícito que consagra o direito à busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimensão que privilegia o sentido de inclusão decorrente da própria Constituição da República (art. 1º, III, e art. 3º, IV), fundamentos autônomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador à qualificação das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espécie do gênero entidade familiar”. (E 477554 MG, DJe-164 DIVULG 25-08-2011 PUBLIC 26-08-2011 EMENT VOL-02574-02 PP-00287.) b) O STF considera que não ofende o direito à vida e a dignidade da pessoa humana a pesquisa com células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização “in vitro” e não utilizados neste procedimento. Sobre esse ponto, vale a pena esclarecer que, quando é realizada uma fertilização “in vitro”, são produzidos vários embriões e apenas alguns deles são implantados no útero da futura mãe. Os embriões não utilizados no procedimento (que seriam congelados ou descartados) é que poderão ser objeto de pesquisa com células-tronco. c) O STF entende que não é possível, por violar o princípio da dignidade da pessoa humana, a submissão compulsória do pai ao exame de DNA na ação de investigação de paternidade. Voltando à análise dos fundamentos da República Federativa do Brasil, a elevação dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa a essa condição reforça que o nosso Estado é capitalista, e, simultaneamente, demonstra que o trabalho tem um valor social. É o trabalho, afinal, ferramenta essencial para garantir, em perspectiva menos ampla, a subsistência das pessoas e, em perspectiva mais abrangente, o desenvolvimento e crescimento econômico do País. Observe que o art. 170 da CF/88 reitera esse fundamento, ao determinar que “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”. Por último, o Estado brasileiro também tem como fundamento o pluralismo político. Esse princípio visa garantir a inclusão dos diferentes grupos sociais no processo político nacional, outorgando aos cidadãos liberdade de convicção filosófica e política. Como seu corolário, tem-se a liberdade de criação e funcionamento dos partidos políticos. O STF entende que a crítica jornalística é um direito cujo suporte legitimador é o pluralismo político; o exercício desse direito deve, assim, ser preservado contra ensaios autoritários de repressão penal. 17 Direito Constitucional Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil Os objetivos fundamentais são as finalidades que devem ser perseguida elo Estado brasileiro. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para ajudá-lo na memorização do mesmo, peço que preste atenção nos verbos, sempre no infinitivo: construir, garantir, erradicar e promover. A promoção do bem de todos, sem preconceitos, alçada pela Carta Magna à condição de objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, consagra a igualdade material como um dos objetivos da República Federativa do Brasil. O Estado não pode se contentar com a atribuição de igualdade perante a lei aos indivíduos; ao invés disso, deve buscar reduzir as disparidades econômicas e sociais. Um exemplo da aplicação desse princípio é a reserva de vagas nas Universidades Federais, a serem ocupadas exclusivamente por alunos egressos de escolas públicas (cotas raciais). Busca-se tornar o sistema educacional mais justo, mais igual. Não se trata de preconceito, mas de uma ação afirmativa do Estado. Elucidando esse conceito, o STJ dispôs o seguinte: “ações afirmativas são medidas especiais tomadas com o objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais, sociais ou étnicos ou indivíduos que necessitem de proteção, e que possam ser necessárias e úteis para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais, e não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos” (REsp 1132476/ PR, Rel. Ministro Humberto Martins, 2ª Turma, julgado em 13/10/2009, DJe 21/10/2009) Princípios das Relações Internacionais: Estudaremos, agora, os princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações internacionais, os quais estão relacionados no art. 4º, da Constituição Federal. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relaçõesinternacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperaçãoentre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Cabe destacar que o pluralismo político exclui os discursos de ódio, assim considerada qualquer comunicação que tenha como objetivo inferiorizar uma pessoa com base em raça, gênero, nacionalidade, religião ou orientação sexual. No Brasil, considera-se que os discursos de ódio não estão amparados pela liberdade de manifestação de pensamento. Harmonia e Independência entre os Poderes. A separação de poderes é um princípio cujo objetivo é evitar arbitrariedades e o desrespeito aos direitos fundamentais; ele se baseia na premissa de que quando o poder político está concentrado nas mãos de uma só pessoa, há uma tendência ao abuso do poder. Sob essa perspectiva, a separação de poderes é verdadeira técnica de limitação do poder estatal. As origens da separação de poderes remontam a Aristóteles, com a obra “A Política”. Posteriormente, o tema também foi trabalhado por João Locke e, finalmente, por Montesquieu, em sua célebre obra “O espírito das leis”. Modernamente, a separação de poderes não é vista como algo rígido. Com efeito, o poder político é uno, indivisível; assim, o que pode ser objeto de separação são as funções estatais (e não o poder político). Assim, apesar de a Constituição falar em três Poderes, na verdade ela está se referindo a funções distintas de um mesmo Poder: a legislativa, a executiva e a judiciária. A Constituição Federal de 1988 adotou, assim, uma separação de Poderes flexível. Isso significa que eles não exercem exclusivamente suas funções típicas, mas também outras, denominadas atípicas. Um exemplo disso é o exercício da função administrativa (típica do Executivo) pelo Judiciário e pelo Legislativo, quando dispõem sobre sua organização interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os. Ou, então, quando o Poder Executivo exerce função legislativa (típica do Poder Legislativo), ao editar medidas provisórias ou leis delegadas. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 2º, trata da separação de poderes, dispondo que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Chama-nos a atenção o fato de que a Constituição explicita que os três Poderes são “independentes e harmônicos”. Independência é a ausência de subordinação, de hierarquia entre os Poderes; cada um deles é livre para se organizar e não pode intervir indevidamente (fora dos limites constitucionais) na atuação do outro. Harmonia, por sua vez, significa colaboração, cooperação; visa garantir que os Poderes expressem uniformemente a vontade da União. A independência entre os Poderes não é absoluta. Ela é limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de origem norte-americana. Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. É o que acontece, por exemplo, quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88). Ou, então, quando o Poder Judiciário controla a constitucionalidade de leis elaboradas pelo Poder Legislativo. 18 Direito Constitucional Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. O legislador constituinte se inspirou na Carta da ONU, assinada em 1945, ao escrever o art. 4º da CF/88. Naquela Carta, expressou-se o maior sentimento da humanidade após o início da II Guerra Mundial: busca da paz. Em nossa Constituição, tal sentimento foi registrado nos incisos III, IV, VI, VII e IX. Observe que nela determina- se que a RFB buscará a autodeterminação dos povos, ou seja, respeitar a sua soberania, não intervindo em suas decisões. Isso porque defende a paz e, para tal, a solução pacífica dos conflitos, assumindo que as relações entre os povos, o dever cooperação. Uma das consequências da II Guerra Mundial foi a independência das colônias. Percebeu-se que, para haver paz, é necessário independência nacional, ou seja, ter sua soberania respeitada pelas outras nações. Além disso, verificou-se que a paz somente é possível com a igualdade entre os Estados, pois a existência de colônias e as sanções impostas à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial foram as principais causas para a eclosão da Segunda. A igualdade entre os Estados é uma contrapartida à independência nacional: é o compromisso de que uns respeitem a soberania dos outros. Esses são os motivos pelos quais os incisos I e V do art. 4º foram escolhidos por nosso constituinte como princípios das relações internacionais do Brasil. Finalmente, qual a imagem mais forte da II Guerra Mundial? O massacre dos judeus, nos campos de concentração, promovido pelos nazistas. Uma vergonha para a Humanidade. A Carta da ONU, em consequência, assume como princípio o estímulo aos direitos humanos. Inspirado naquela Carta, nosso constituinte elevou à condição de princípios a serem buscados pela RFB em suas relações internacionais a prevalência dos direitos humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. O parágrafo único do art. 4º da Constituição traz um objetivo a ser buscado pelo Brasil em suas relações internacionais: a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Dimensões dos Direitos Humanos no Brasil Nas palavras de Joel Bakan e David Schneiderman: “A Constituição é mais que um documento legal. É um documento com intenso significado simbólico e ideo- lógico – refletindo tanto o que nós somos enquanto sociedade, como o que nós queremos ser.” É com essa perspectiva que há de se compreender a Carta de 1988. A Constituição de 1988 demarca, no âmbito jurídico, o processo de democratização do Estado brasileiro, ao consolidar a ruptura com o regime autoritário militar ins- talado em 1964. O regime militar foi caracterizado pela supressão de direitos constitucionais, pela hipertrofia do Poder Executivo em relação aos demais Poderes e pelo centralismo federativo na União, em detrimento da auto- nomia dos Estados. As Forças Armadas passaram a exer- cer controle direto das principais funções governamen- tais, consolidando a fusão entre os militares e o poder. Após o longo período de vinte e um anos de auto- ritarismo militar, que perdurou de 1964 a 1985 no país, deflagra-se o processo de democratização no Brasil. Ain- da que esse processo tenha se iniciado, originariamente, pela liberalização política do próprio regime autoritá- rio – em face de dificuldades em solucionar problemas internos –, as forças de oposição da sociedade civil se beneficiaram do processo de abertura, fortalecendo-se mediante formas de organização, mobilização e articu- lação, que permitiram importantes conquistas sociais e políticas. A transição democrática, lenta e gradual, permitiu a formação de um controle civil sob as forças militares. Exi- giu ainda a elaboração de um novo código, que refizesse o pacto político-social. Esse processo culminou, juridica- mente, na promulgação de uma nova ordem constitu- cional. Nascia assim a Constituição de outubro de 1988. A Carta de 1988 pode ser concebida como o marco jurídico da transição democrática e da institucionaliza- ção dos direitos humanos no Brasil. Introduz indiscutí- vel avanço na consolidação legislativa das garantias e direitos fundamentais e na proteção de setores vulne- ráveis da sociedade brasileira. A partir dela, os direitos humanos ganham relevo extraordinário, situando-se a Carta de 1988 como o documento mais abrangente e pormenorizado sobre os direitos humanos jamais ado- tado no Brasil. Como atenta José Afonso da Silva: “É a Constituição cidadã, na expressão de Ulysses Guimarães, Presidente da Assembleia Nacional Constituinte que a produziu, porque teve ampla participação popular em sua elaboraçãoe especialmente porque se volta decidi- damente para a plena realização da cidadania.” Ao alargar consideravelmente o universo dos direi- tos fundamentais, a Carta de 1988 destaca-se como uma das Constituições mais avançadas do mundo, no que respeita à matéria. Desde seu preâmbulo, a Carta de 1988 projeta a construção de um Estado Democrático de Direito “desti- nado a assegurar o exercício dos direitos sociais e indivi- duais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvol- vimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconcei- tos (...)”. Se no entender de José Joaquim Gomes Cano- tilho, a juridicidade, a constitucionalidade e os direitos fundamentais são as três dimensões fundamentais do princípio do Estado de Direito, perceber-se-á que o tex- to consagra amplamente essas dimensões, ao afirmar, em seus primeiros artigos (arts. 1º e 3º), princípios que consagram os fundamentos e os objetivos do Estado De- mocrático de Direito brasileiro. Dentre os fundamentos que alicerçam o Estado De- mocrático de Direito brasileiro, destacam-se a cidadania e dignidade da pessoa humana (art. 1º, incs. II e III). Vê- -se aqui o encontro do princípio do Estado Democrático de Direito e dos direitos fundamentais, fazendo-se claro que os direitos fundamentais são um elemento básico para a realização do princípio democrático, tendo em vista que exercem uma função democratizadora. Como afirma Jorge Miranda: “A Constituição confere uma uni- dade de sentido, de valor e de concordância prática ao sistema dos direitos fundamentais. E ela repousa na dig- nidade da pessoa humana, ou seja, na concepção que faz a pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado.” Por sua vez, construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar 19 Direito Constitucional a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos sem pre- conceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, constituem os objetivos fundamentais do Estado brasileiro, consagrados no ar- tigo 3º da Carta de 1988. No entender de José Afonso da Silva: “É a primeira vez que uma Constituição assina- la, especificamente, objetivos do Estado brasileiro, não todos, que seria despropositado, mas os fundamentais, e entre eles, uns que valem como base das prestações positivas que venham a concretizar a democracia eco- nômica, social e cultural, a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana.” Infere-se desses dispositivos quão acentuada é a preocupação da Constituição em assegurar os valores da dignidade e do bem-estar da pessoa humana, como um imperativo de justiça social. Na lição de Antonio Enrique Pérez Luño: “Los valores constitucionales poseen una triple dimen- sión: a) fundamentadora – núcleo básico e informador de todo el sistema jurídico-político; b) orientadora – metas o fines predeterminados, que hacen ilegítima cualquer disposición normativa que persiga fines distintos o que obstaculice la consecusión de aquellos enunciados en el sistema axiológico constitucional; y c) crítica – para ser- vir de criterio o parámetro de valoración para justipreciar hechos o conductas. (...) Los valores constitucionales su- ponen, por tanto, el contexto axiológico fundamentador o básico para la interpretación de todo el ordenamento jurídico; el postulado-guia para orientar la hermenéutica teleológica y evolutiva de la Constitución; y el critério para medir la legitimidad de las diversas manifestaciones del sistema de legalidad.” Nesse sentido, o valor da dignidade da pessoa hu- mana impõe-se como núcleo básico e informador de todo ordenamento jurídico, como critério e parâmetro de valoração a orientar a interpretação e compreensão do sistema constitucional. Considerando que toda Constituição há de ser com- preendida como uma unidade e como um sistema que privilegia determinados valores sociais, pode-se afirmar que a Carta de 1988 elege o valor da dignidade humana como um valor essencial que lhe doa unidade de senti- do. Isto é, o valor da dignidade humana informa a ordem constitucional de 1988, imprimindo-lhe uma feição par- ticular. Adotando-se a concepção de Ronald Dworkin, acre- dita-se que o ordenamento jurídico é um sistema no qual, ao lado das normas legais, existem princípios que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos. Esses princípios constituem o suporte axiológico que confere coerência interna e estrutura harmônica a todo sistema jurídico. O sistema jurídico define-se, pois, como uma ordem axiológica ou teleológica de princípios ju- rídicos, que apresentam verdadeira função ordenadora, na medida em que salvaguardam valores fundamentais. A interpretação das normas constitucionais advém, des- se modo, de critério valorativo extraído do próprio siste- ma constitucional. À luz dessa concepção, infere-se que o valor da dig- nidade da pessoa humana, bem como o valor dos direi- tos e garantias fundamentais vêm a constituir os prin- cípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológi- co a todo sistema jurídico brasileiro. Com efeito, a busca do texto em resguardar o va- lor da dignidade humana é redimensionada, na medida em que, enfaticamente, privilegia a temática dos direitos fundamentais. Constata-se, assim, uma nova topografia constitucional, na medida em que o texto de 1988, em seus primeiros capítulos, apresenta avançada Carta de direitos e garantias, elevando-os, inclusive, a claúsula pétrea, o que, mais uma vez, revela a vontade constitu- cional de priorizar os direitos e garantias fundamentais. Todavia, a Carta de 1988 não se atém apenas em alterar a topografia constitucional tradicional e elevar a cláusula pétrea os direitos e garantias individuais. O texto de 1988 ainda inova, ao alargar a dimensão dos direitos e garantias, não mais se limitando a assegurar direitos individuais. Passa a Carta de 1988 a incorporar a tutela dos direitos coletivos e difusos, aqueles perti- nentes a determinada classe ou categoria social e estes pertinentes a todos e a cada um, caracterizados que são pela indefinição objetiva e indivisibilidade de seu obje- to. A esse respeito, basta comparar a denominação atri- buída ao Capítulo I do Título II da Constituição de 1988 – “Dos direitos e deveres individuais e coletivos” – com a Constituição anterior, que consagrava tão-somente di- reitos e garantias individuais. Atente-se, ademais, que a Constituição de 1988, no intuito de reforçar a imperatividade das normas que traduzem direitos e garantias fundamentais, institui o princípio da aplicabilidade imediata das normas defini- doras de direitos e garantias fundamentais, nos termos de seu artigo 5º, parágrafo 1º. Inadmissível, por conse- qüência, a inércia do Estado quanto à concretização de direito fundamental, posto que a omissão estatal viola a ordem constitucional, tendo em vista a exigência de ação, o dever de agir no sentido de garantir direito fun- damental. Implanta-se um constitucionalismo concre- tizador dos direitos fundamentais. Vale dizer, cabe aos Poderes Públicos conferir eficácia máxima e imediata a todo e qualquer preceito definidor de direito e garan- tia fundamental. Esse princípio intenta assegurar a força dirigente e vinculante dos direitos e garantias de cunho fundamental, ou seja, objetiva tornar tais direitos prer- rogativas diretamente aplicáveis pelos Poderes Legisla- tivo, Executivo e Judiciário. No entender de Canotilho, o sentido fundamental dessa aplicabilidade direta está em reafirmar que “os direitos, liberdades e garantias são regras e princípios jurídicos, imediatamente eficazes e actuais, por via direta da Constituição e não através da auctoritas interpositio do legislador. Não são simples norma normarum mas norma normata, isto é, não são meras normas para a produção de outras normas,mas sim normas diretamente reguladoras de relações jurídi- co-materiais.” Ao mesmo tempo em que consolida a extensão de titularidade de direitos, acenando à existência de novos sujeitos de direitos, a Carta de 1988 também consolida o aumento da quantidade de bens merecedores de tutela, mediante a ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais. Vale lembrar que, ao longo da história consti- tucional brasileira, as Cartas de 1824 e 1891 foram Cons- tituições Liberais, já a Constituição de 1934 e seguintes (com exceção da Carta de 1937) podem ser classificadas como Constituições Sociais. Ainda que assim o seja, a Carta de 1988 expande, consideravelmente, o universo de direitos sociais, in- tegrando-os na Declaração dos Direitos fundamentais. 20 Direito Constitucional Observe-se, em contrapartida, que a Carta Constitucio- nal de 1967, ao situar alguns preceitos de cunho social no título dedicado à ordem econômica e social, não fazia qualquer alusão explícita aos direitos sociais propria- mente ditos, envolvendo em sua Declaração de Direitos tão-somente os direitos da nacionalidade, os direitos políticos, os partidos políticos, os direitos e garantias in- dividuais e as medidas de emergência, do estado de sítio e do estado de emergência (Capítulos I a V do Título II, dedicado à Declaração de Direitos). Nesse passo, a Constituição de 1988, além de afir- mar no artigo 6º que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assis- tência aos desamparados”, ainda apresenta uma ordem social com um amplo universo de normas que enunciam programas, tarefas, diretrizes e fins a serem perseguidos pelo Estado e pela sociedade. A título de exemplifica- ção, destacam-se determinados dispositivos constitucio- nais constantes da ordem social, que fixam, dentre os deveres do Estado e direitos do cidadão, a saúde (art. 196), a educação (art. 205), a cultura (art. 215), as práticas desportivas (art. 217), a ciência e a tecnologia (art. 218), dentre outros. A essa ordem social conjuga-se uma ordem econô- mica que, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existên- cia digna, conforme os ditames da justiça social, como determina o artigo 170 da Carta de 1988. Trata-se de ordem econômica complexa, porque, como atenta Cel- so Bastos, “nela intervêm não só disposições ou preocu- pações com a geração, circulação e consumo de bens, como também princípios e normas retratadoras de rea- lidades mais atinentes a outros planos. Exemplos: inciso III do artigo 170, função social da propriedade; inciso VI, defesa do meio ambiente; e inciso VII, redução das desi- gualdades regionais e sociais.” É neste sentido que a or- dem econômica da Constituição de 1988 busca combi- nar a livre iniciativa e concorrência (arts. 1º, IV e 170, IV) com a atuação do Estado, seja como agente normativo e regulador da atividade econômica, seja como agente econômico que desenvolve atividades estratégicas para a defesa nacional ou imprescindíveis ao desenvolvimen- to do país (arts. 173 e 174, respectivamente). Comparti- lha-se da interpretação de Eros Roberto Grau, para quem o modelo definido na ordem econômica na Constituição de 1988 é um modelo aberto que, a partir de uma inter- pretação dinâmica, é capaz de instrumentalizar as mu- danças da realidade social, podendo ser descrito como modelo de bem-estar. Saliente-se, ademais, que a ordem econômica na Constituição de 1988 faz opção pelo sistema capitalista, que, todavia, não está em contradição com o modelo de Estado voltado ao bem-estar social, cunhado no título definidor da ordem social dessa mesma Carta. Esclareça- -se: o Estado de bem-estar social não se confunde com o Estado socialista e com o regime da propriedade cole- tiva dos meios de produção, mas implica em modelo de Estado que concretize o direito a prestações positivas, o que resulta no desafio de arquitetar uma estrutura tribu- tária e fiscal condizente com esse modelo – dificultoso desafio que, no entanto, transcende ao objeto desta in- vestigação. À luz da Carta de 1988, reforça-se a idéia de que a participação estatal é imprescindível sob muitos aspec- tos, particularmente no campo social. Em síntese, extrai-se do sistema constitucional de 1988 os delineamentos de um Estado intervencionista, voltado ao bem-estar social. Consagra-se a preeminên- cia ao social. Com o Estado Social, como observa Paulo Bonavides, o Estado-inimigo cede lugar ao Estado-ami- go, o Estado-medo ao Estado-confiança, o Estado-hos- tilidade ao Estado-segurança. As Constituições tendem a se transformar num pacto de garantia social. Assim, o Estado Constitucional Democrático de 1988 não se identifica com um Estado de direito formal, reduzido a simples ordem de organização e processo, mas visa a legitimar-se como um Estado de justiça social, concreta- mente realizável. O texto constitucional de 1988 confirma, nesse sen- tido, o esgotamento do modelo liberal de Estado, em face do aumento de bens merecedores de tutela, que exigem a eficiência de um Estado de Bem-Estar Social, intervencionista e planejador. Ao atestar a insuficiência do paradigma liberal-indi- vidualista, fundado no Estado liberal não-interventor e limitado juridicamente, voltado ao resguardo dos domí- nios da privacidade e à tutela dos direitos e liberdades de cunho individual, a Carta de 1988 busca responder à emergência de um novo padrão de conflituosidade, bem como à exigência de novos direitos fundamentais. Da Constituição de 1988 emerge uma ordem jurídica própria dos Estados intervencionistas, cuja dinâmica está condicionada à eficiência e competência na obtenção de resultados, que se subordinam à concretização de polí- ticas públicas. Nesse sentido, o texto de 1988 não apenas é insti- tuto de proteção das relações existentes, mas é Consti- tuição de uma sociedade em devir. Surge o problema da realidade como tarefa e do Direito como antecipador das mudanças sociais, o que rompe com a função de “Direito-situação”. O desafio do Direito Constitucional contemporâneo refere-se à concretização constitucio- nal, tendo em vista ser a Constituição de 1988 uma Carta aberta, direcionada ao futuro e não conformadora do status quo do presente. Como observa Canotilho, a Constituição tem sempre como tarefa a realidade: juridificar constitucionalmente essa tarefa ou abandoná-la à política, é o grande desafio. À luz do perfil inovador da Carta de 1988 e do cons- titucionalismo de direitos por ela inaugurado, passa-se à análise do modo pelo qual consagra a proteção dos direitos humanos. A Constituição Brasileira de 1988 e a Proteção dos Direitos Humanos Inicialmente, cabe esclarecer que a definição de direitos humanos aponta uma pluralidade de significa- dos. No dizer de Hannah Arendt, a cidadania não é um dado, mas um construído. Considerando a historicidade dos direitos humanos – da qual decorre a pluralidade de concepções –, opta-se pela concepção contemporânea de direitos humanos, introduzida pela Declaração Uni- versal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. A chamada concepção contemporânea de direitos humanos é fundada na universalidade e na indivisibili- dade desses direitos. Universalidade porque a condição de pessoa há de ser o requisito único para a titularidade de direitos, afastada qualquer outra condição. Indivisi- bilidade porque os direitos civis e políticos hão de ser 21 Direito Constitucional 1891 e seguintes), a preocupação se ateve à defesa da paz e à solução pacífica dos conflitos; ou seja, consolida- das as fronteiras nacionais, a preocupação constitucio- nal passa a ser com a vocação pacifista do Brasil. Como explica Celso Lafer: “na experiência brasileira, o Império cuidou da independência e da preservação da unidade nacional e a República, tendo consolidado as fronteiras nacionais, afirmou a vocaçãopacífica do país, reconhe- cendo progressivamente a importância da cooperação internacional para a preservação da paz.” Além das inovações introduzidas pelo artigo 4º, ao consagrar princípios inovadores a reger o Brasil no cená- rio internacional, um outro dispositivo merece destaque, qual seja o artigo 5º, parágrafo 2º. Ao fim da extensa Declaração de Direitos enunciada pelo artigo 5º, a Carta de 1988 estabelece que os direitos e garantias expressos na Constituição “não excluem outros decorrentes do re- gime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. A Constituição de 1988 inova, assim, ao in- cluir, dentre os direitos constitucionalmente protegidos, os direitos enunciados nos tratados internacionais de que o Brasil seja signatário. Ao efetuar tal incorporação, a Carta está a atribuir aos direitos internacionais uma hierarquia especial e diferenciada: a hierarquia de norma constitucional. Conjugando os artigos 1º, III, 4º e 5º, parágrafo 2º, outra conclusão não resta senão a aceitação pelo texto constitucional do alcance universal dos direitos huma- nos. Quanto ao caráter indivisível, interdependente e in- ter-relacionado dos direitos humanos, ressalte-se que a Carta de 1988 é a primeira Constituição que integra ao elenco dos direitos fundamentais, os direitos sociais, que nas Cartas anteriores restavam pulverizados no capítulo pertinente à ordem econômica e social. A opção da Carta é clara ao afirmar que os direitos sociais são direitos fun- damentais, sendo pois inconcebível separar os valores liberdade (direitos civis e políticos) e igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais). Logo, a Constituição Brasileira de 1988 acolhe a con- cepção contemporânea de direitos humanos, ao reforçar a universalidade e a indivisibilidade desses direitos. Importa, assim, investigar a forma pela qual são esses direitos protegidos, ou seja, importa avaliar os mecanis- mos e instrumentos de proteção dos direitos humanos. No campo das garantias fundamentais, a ordem constitucional de 1988 também introduz extraordiná- rias inovações. Ao lado de garantias tradicionais, como o habeas corpus (previsto pela Constituição de 1891), o mandado de segurança e a ação popular (previstos pela Constituição de 1934), a Carta de 1988 estabelece como novas garantias constitucionais o mandado de injunção, o habeas data e o mandado de segurança coletivo. Nos termos do artigo 5º, LXXI, caberá mandado de injunção sempre que a falta da norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades cons- titucionais. A finalidade do mandado de injunção é, pois, concretizar o exercício de um direito ou liberdade cons- titucional que se encontra obstado por falta de regula- mentação. Note-se que a Carta de 1988, quando de sua promulgação (em 5 de outubro de 1988), estava a exigir a elaboração de duzentos e quarenta e duas normas re- gulamentadoras. Passados mais de dez anos da adoção da Constituição, restam ainda inúmeras normas a serem somados aos direitos sociais, econômicos e culturais, já que não há verdadeira liberdade sem igualdade e nem tampouco há verdadeira igualdade sem liberdade. Esta concepção, acolhida pela Declaração Universal em 1948, veio a ser endossada pela Declaração de Viena de 1993, que em seu parágrafo 5º consagrou que os “direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase.» Adotada essa concepção de direitos humanos, há que se avaliar o modo pelo qual a Carta de 1988 assegu- ra a proteção dos direitos humanos, a partir das noções de universalidade e indivisibilidade destes direitos. Com relação à universalidade dos direitos humanos, atenta-se que a Constituição de 1988, ao eleger o va- lor da dignidade humana como princípio fundamental da ordem constitucional, compartilha da visão de que a dignidade é inerente à condição de pessoa, ficando proi- bida qualquer discriminação. O texto enfatiza que todos são essencialmente iguais e assegura a inviolabilidade dos direitos e garantias fundamentais. Além de afirmar o alcance universal dos direitos hu- manos, o texto constitucional ainda reforça essa concep- ção, na medida em que realça que os direitos humanos são tema do legítimo interesse da comunidade interna- cional, transcendendo, por sua universalidade, as fron- teiras do Estado. Essa concepção está embasada na interpretação de dois dispositivos inéditos na história constitucional bra- sileira: o artigo 4º, II e o artigo 5º, parágrafo 2º, da Cons- tituição de 1988. À luz da Carta de 1988, dentre os princípios a reger o Brasil nas relações internacionais, destaca-se inedita- mente o princípio da prevalência dos direitos humanos. Se o Brasil se orientará pela observância desse princípio ao se relacionar com os demais países da ordem inter- nacional, é porque assume que os direitos humanos são um tema global, de legítimo interesse da comunidade internacional. A partir do momento em que o Brasil se propõe a fundamentar suas relações com base na prevalência dos direitos humanos, está ao mesmo tempo reconhecendo a existência de limites e condicionamentos à noção de soberania estatal. Isto é, a soberania do Estado brasileiro fica submetida a regras jurídicas, tendo como parâmetro obrigatório a prevalência dos direitos humanos. Rom- pe-se com a concepção tradicional de soberania estatal absoluta, reforçando o processo de sua flexibilização e relativização em prol da proteção dos direitos humanos. Esse processo é condizente com as exigências do Estado Democrático de Direito constitucionalmente pretendido. Ao lado do princípio da prevalência dos direitos hu- manos, a ênfase na proteção desses direitos vem refor- çada a partir de valores inovadores a guiar o Brasil no contexto internacional, como o princípio do repúdio ao terrorismo e ao racismo, a concessão de asilo político e a cooperação entre os povos para o progresso da humani- dade (vide o art. 4º, incs. VIII, IX, X). Observe-se que, em uma breve síntese da história constitucional brasileira, durante a Constituição imperial de 1824 a preocupação se concentrava na defesa dos va- lores da independência nacional, soberania e não-inter- venção, na medida em que eram consolidadas as fron- teiras nacionais. Já a partir da República (Constituição de 22 Direito Constitucional produzidas. Nesse contexto, o objetivo era evitar que a omissão dos Poderes Públicos inviabilizasse o exercício de direitos constitucionalmente enunciados, de forma a permitir que o Poder Judiciário, ao conceder a injun- ção, tornasse viável o exercício de direito ou a liberdade constitucional. Contudo, não tem sido esse o entendimento ma- joritário do Supremo Tribunal Federal, que não confe- re efeitos concretistas à nova garantia. Para o Supremo Tribunal Federal, a concessão do mandado de injunção implicará apenas na declaração da inconstitucionalidade por omissão e na ciência ao Poder competente para que adote as providências necessárias. Essa interpretação es- vazia de funcionalidade o novo instituto, equiparando- -o à chamada ação direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º da Constituição). Outra relevante garantia constitucional é o habeas data. Trata-se de instrumento que permite o conheci- mento e a retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes em registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter pú- blico. Tutela-se assim o direito à informação, por meio de instrumento de tutela dos direitos da personalidade. De um lado, o habeas data assegura a publicidade e a transparência dos dados constantes de bancos de da- dos governamentais ou de caráter público, que devem estar sob o controle estrito dos titulares dos dados, a fim de que se evitem abusos e o arbítrio.Por outro lado, o habeas data tutela o respeito à intimidade, à vida privada da pessoa a que as informações se referem. Com relação à garantia do mandado de segurança coletivo, também é inovação da Carta de 1988, que am- pliou a legitimidade ativa para a impetração de manda- do de segurança, autorizando-a para partidos políticos, com representação no Congresso Nacional, bem como para organizações sindicais, entidades de classe ou as- sociações, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. No tocante à garantia da ação popular, a Carta de 1988 amplia significativamente seu objeto, para envolver a proteção da moralidade administrativa. Por fim, merece ainda registro o fato da Carta de 1988 ter alargado o objeto da ação civil pública. Prevista pela Lei n. 7.347/85, a ação civil pública objetivava a res- ponsabilidade por dano causado ao meio ambiente, ao consumidor e a bens de valor artístico. A partir da Car- ta de 1988, a ação civil pública torna-se instrumento de proteção de todo e qualquer direito difuso ou coletivo, não mais ficando restrita à tutela do meio ambiente, con- sumidor ou bens de valor artístico. A título de exemplo, passam a ser tuteláveis por meio da ação civil pública os direitos sociais à saúde, à educação, ao transporte, den- tre outros. Desta feita, a ação civil pública transforma-se em um importante mecanismo de proteção de direitos que demandam o cumprimento de tarefas positivas. Tendo em vista esse breve panorama das inova- ções constitucionais relativas às garantias fundamentais, constata-se que o texto de 1988 conjuga garantias típi- cas do modelo liberal, voltadas à proteção das liberdades (como o habeas corpus e o mandado de segurança), com garantias típicas do modelo social, voltadas à proteção da igualdade material e justiça social (como o mandado de injunção e a ação civil pública). Todavia, resta observar que a implementação dessas garantias pelo Poder Judiciário ainda encontra resistên- cias, em especial quanto às garantias de cunho social. Com efeito, no tocante à proteção dos direitos civis – as liberdades públicas no sentido clássico – há farta jurisprudência das Cortes brasileiras, em especial quan- do do julgamento das garantias do habeas corpus e do mandado de segurança. Essas garantias têm marcada inspiração liberal, na medida em que objetivam a con- tenção do abuso e do arbítrio do Poder Público, obje- tivando um não-fazer – ora protegendo a liberdade de locomoção (habeas corpus), ora o direito líquido e certo (mandado de segurança). Nesses casos, o Poder Judi- ciário se vale da chamada “interpretação de bloqueio”, com o fim último de assegurar o respeito ao valor da liberdade, limitando o poder do Estado, de acordo com o princípio da legalidade. A “interpretação de bloqueio”, na definição de Tércio Sampaio Ferraz Jr., é inspirada no princípio da proibição de excessos, sendo a hermenêuti- ca constitucional voltada ao Estado de Direito concebido como Estado mínimo, reduzido em suas funções. Já com relação às garantias de cunho eminentemen- te social – mandado de injunção e ação civil pública – que demandam tarefas positivas do Estado, objetivando um fazer, o Poder Judiciário tem apresentado em geral uma atuação tímida, de forma a obstar tais prestações positivas. Ao apreciar tais garantias, as Cortes Brasilei- ras recorrem à “interpretação de bloqueio”, que, como visto, é consonante com as garantias de cunho liberal, mas não social. Para a implementação de direitos sociais, necessária seria a adoção de uma “interpretação de legi- timação de aspirações sociais à luz da Constituição”, na terminologia de Tércio Sampaio Ferraz Jr. O procedimen- to interpretativo de legitimação de aspirações sociais à luz da Constituição reflete a pretensão de realização dos comandos constitucionais, na qualidade de instrumento de legitimação das tarefas postas ao Estado. Percebe-se que a mentalidade do Judiciário brasi- leiro está demasiada e profundamente dominada pelas tarefas tradicionais da justiça civil e penal, o que encerra dificuldades para uma mudança de postura, necessária para a interpretação e aplicação de leis promocionais, orientadas ao futuro. Aguarda-se uma maior participa- ção do Poder Judiciário para a construção da sociedade de bem-estar, com maior sensibilidade às finalidades so- ciais, tipicamente perseguidas pelo welfare state. Tal mentalidade revela ainda a forte resistência da cultura jurídica nacional em conceber os direitos sociais, econômicos e culturais como verdadeiros direitos fun- damentais. A implementação dos direitos sociais exige do Judiciário uma nova lógica, que afaste o argumen- to de que a “separação dos poderes” não permite um controle jurisdicional da atividade governamental. Essa argumentação traz o perigo de inviabilizar políticas pú- blicas, resguardando o manto da discricionariedade ad- ministrativa. Há portanto que se realçar a imperatividade jurídica dos direitos econômicos, sociais e culturais, com base na doutrina da indivisibilidade dos direitos humanos consa- grada pela Declaração Universal em 1948 e endossada em Viena, em 1993. Há que se propagar a idéia de que os direitos sociais, econômicos e culturais são autênticos e verdadeiros direitos fundamentais e, por isso, devem ser reivindicados e compreendidos como direitos e não como caridade ou generosidade. Observe-se que o próprio Poder Legislativo, em sua tarefa legiferante voltada à regulamentação da Carta de 1988, tem se destacado fundamentalmente pela produ- 23 Direito Constitucional VIDA LIBERDADE SEGURANÇA III. Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distin- ção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade... ESCRAVIDÃO IV. Ninguém será mantido em escravidão ou servi- dão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. TORTURA V. Ninguém será submetido a tortura nem a trata- mento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Art. 5º, III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o ter- rorismo e os crimes definidos como hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, po- dendo evitá-los, se omitirem; Art. 5º, XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; Art. 5º, L - às presidiárias serão asseguradas condi- ções para que possam permanecer com seus filhos du- rante o período de amamentação; PESSOA HUMANA VI. Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa humana, perante a lei.. Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e Dis- trito Federal, constituiu-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... III - a dignidade da pessoa humana. IGUALDADE VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer inci- tamento a tal discriminação. Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. ACESSO À JUSTIÇA VIII. Todo homem tem direito a receber, dos tribu- nais nacionais competentes, remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem senten- ciado senão pela autoridade competente. Art. 5º, LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ouse achar ameaçado de sofrer vio- lência ou coação em sua liberdade de locomoção, pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. ção de normas voltadas à defesa dos direitos civis e po- líticos, sendo pouca a normatividade relativa à proteção dos direitos sociais, econômicos e culturais. A resistência em acolher a indivisibilidade dos di- reitos humanos não é constatada apenas nos Poderes Judiciário e Legislativo, o próprio Poder Executivo tam- bém apresenta a mesma resistência. Basta, a título de exemplo, mencionar o Programa Nacional de Direitos Humanos, que, embora reconheça a indivisibilidade dos direitos humanos, consagra metas voltadas tão-somente à implementação dos direitos civis e políticos. Por fim, no que tange à proteção dos direitos huma- nos no Brasil, há que se adicionar a proposta de federali- zação dos crimes contra os direitos humanos. O objetivo dessa proposta é transferir à Justiça Federal a compe- tência para julgar os crimes contra os direitos humanos. Acredita-se que essa medida é essencial para o combate da impunidade, eis que em muitas regiões do país as instituições locais mostram-se falhas, incapazes e omis- sas quanto ao dever de responder a casos de violação de direitos humanos. Ademais, tendo o Brasil ratificado, a partir do processo de democratização, os principais tra- tados de direitos humanos, a responsabilidade interna- cional quando da afronta a preceitos internacionais recai na pessoa jurídica da União, sem que ela tenha qualquer possibilidade de investigar, processar e punir os agen- tes perpetradores da violação. Seria, pois, mais coerente que a própria União tivesse competência para processar e julgar os crimes contra os direitos humanos, o que con- tribuiria para a criação de uma sistemática constitucional mais sintonizada com a responsabilidade internacional em direitos humanos, bem como para o combate à im- punidade. A seguir, uma correspondência entre os aspectos da Declaração Universal com os artigos na Constitui- ção Brasileira de 1988: DIGNIDADE HUMANA I. Todos os homens nascem livres e iguais em dig- nidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. NÃO DISCRIMINAÇÃO II. Todo homem tem capacidade para gozar os direi- tos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, lín- gua, religião, opinião política ou de outra natureza, ori- gem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. Além disso, não se fará distinção alguma baseada na condição política, jurídica ou internacional, do país ou do território cuja jurisdição dependa uma pessoa, quer se trate de país independente, como de território de ad- ministração fiduciária, não autônomo ou submetido a qualquer outra limitação de soberania. Art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais: Art. 5º, XLII - a prática do racismo constitui crime ina- fiançável imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 24 Direito Constitucional Art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandato de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data quando o responsável por ilegalidade ou abuso de poder Art. 5º, LXXI - conceder-se-á mandato de injunção sempre que a falta da norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitu- cionais, e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Art. 5º, LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante... b) para a retificação de dados... Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Art. 5º, LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data e, na forma da lei, os atos necessá- rios ao exercício da cidadania. HABEAS CORPUS IX. Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Art. 5º, LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de auto- ridade judiciária competente, salvo nos casos de trans- gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Art. 5º, LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem serão comunicados imediatamente ao juiz competente e a família do preso ou a pessoa por ele indicada; Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus di- reitos, entre os quais de permanecer calado, sendo-lhe assegurado a assistência da família e de advogado; Art. 5º, LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; Art. 5º, LXV - a prisão ilegal será imediatamente rela- xada pela autoridade judiciária; Art. 5º, LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. Art. 5º, LXVII - não haverá prisão civil por dívida, sal- vo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. DEVIDO PROCESSO LEGAL X. Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação crimi- nal contra ele. Art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de ex- ceção; Art. 5º, XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude da defesa; b) o sigilo das votações; c) a sobe- rania dos veredictos; d) a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida; INOCÊNCIA XI. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente, até que sua culpa- bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em jul- gamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. Ninguém será condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, não tenham sido delituosos segundo o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta penalidade mais grave do que a aplicável no momento em que foi cometido o delito. Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para be- neficiar o réu; Art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; Art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a seguinte: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; Art. 5º, XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; Art. 5º, LIV - ninguém será privado de liberdade ou de seus bens, sem o devido processo legal; Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com meios e recursos a ele inerentes; Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as pro- vas obtidas por meios ilícitos; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. DIREITO À INTIMIDADE XII. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspon- dência, nem a ataques à sua honra e reputação. Todo homem tem direito àproteção da lei contra tais interfe- rências ou ataques. Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida priva- da, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi- to à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determi- nação judicial; Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados, e das comu- nicações telefônicas, salvo no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução proces- sual penal; LIBERDADE DE IR E VIR XIII. Todo homem tem direito à liberdade de loco- moção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. Todo homem tem direito a sair de qualquer país, inclusi- ve do próprio, e a ele regressar. Art. 5º, XV - é livre a locomoção no território nacio- nal em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dela sair com seus bens; 25 Direito Constitucional XIV. Todo homem, vítima de perseguição, tem o di- reito de procurar e de gozar asilo em outros países. Este direito não poderá ser invocado contra uma ação judi- cial realmente originada em delitos comuns ou em atos opostos aos propósitos e princípios das Nações Unidas. Art. 5º, XLIV - é assegurado a todos o acesso à infor- mação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá- rio ao exercício profissional; Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal- vo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na for- ma da lei; Art. 5º, LII - não será concedida a extradição de es- trangeiro por crime político ou de opinião; NACIONALIDADE XV. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. Não se privará ninguém arbitrariamente da sua naciona- lidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Art. 12, §2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturali-zados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. FAMÍLIA XVI. Os homens e as mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma famí- lia. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e dissolução. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Es- tado assegurar à criança e ao adolescente, com absolu- ta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig- nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda for- ma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. PROPRIEDADE Art. 229 - Os pais têm o dever de assistir, criar e edu- car os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar na velhice, carência ou enfermidade. XVII. Todo homem tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. Ninguém será arbitrariamen- te privado de sua propriedade. Art. 5º, XXII - é garantido o direito de propriedade; Art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na Consti- tuição; Art. 5º, XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulte- rior, se houver dano; Art. 5º, XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos de- correntes de sua atividade produtiva, dispondo a lei os meios de financiar o seu desenvolvimento; Art. 5º, XXX - é garantido o direito de herança; LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA XVIII. Todo homem tem direito à liberdade de pen- samento, consciência e religião. Este direito inclui a li- berdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coleti- vamente, em público ou em particular. Art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção nos locais de culto e as suas liturgias; Art. 5º, VII - é assegurada, nos termos da lei, a pres- tação de assistência religiosa nas entidades civis e milita- res de internação coletiva; LIVRE EXPRESSÃO XIX. Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Este direito inclui a liberdade de, sem inter- ferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independen- te de fronteiras. Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à infor- mação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá- rio ao exercício profissional; Art. 5º, IX - é livre a expressão da atividade intelec- tual, artística, científica e de comunicação, independen- temente de censura ou licença; ASSOCIAÇÃO XX. Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. Ninguém pode ser obrigado a fa- zer parte de uma associação. Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ou públicos, independente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; Art. 5º, XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; Art. 5º, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; Art. 5º, XIX - as associações só poderão ser compul- soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se no primeiro caso o trân- sito em julgado; Art. 1º, § único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou direta- mente, nos termos desta Constituição. Art. 10 - É assegurada a participação dos trabalhado- res e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em seus interesses profissionais ou previdenciários se- jam objeto de discussão ou deliberação. Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo su- frágio universal e pelo voto direto secreto, com valor igual para todos... Art. 15 - É vedada a cassação de direitos políticos ... Art. 16 - A lei que alterar o processo eleitoral só en- trará em vigor um ano após sua promulgação. 26 Direito Constitucional Art. 17 - É livre a criação, fusão, incorporação e extin- ção de partidos políticos, resguardados a soberania na- cional, ...os direitos fundamentais da pessoa humana ... ACESSO AO GOVERNO XXI. Todo homem tem o direito de tomar parte no governo do próprio país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. Todo homem tem o direito de acesso em condições de igualdade, às funções públicas de seu país. A vontade do povo é a base da autoridade do poder público; esta vontade deverá ser expressa mediante eleições autênti- cas que deverão se realizar periodicamente, por sufrágio universal e igual, e por voto secreto ou outro procedi- mento equivalente que garanta a liberdade do voto. Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de empregoformal e jurídico da Constituição, pois substancialmente e sensitivamente uma Constituição que revoga a outra não altera o povo e nem o território. Isso significa que o sentido de criação de um novo Estado em virtude de nova Constituição é formal ou jurídico, portanto. A finalidade da Constituição Estabelecer as principais características, estruturas e objetivos do Estado com base numa vontade contem- porânea ao momento de sua criação, seja por meio da vontade de um povo, seja pela imposição do detentor do poder naquele instante. Vejamos que os órgãos e entidades públicas são criados por lei, ou por ela estão autorizados a sua cria- ção. No caso do Estado, como pessoa jurídica soberana, o instrumento normativo que o institui é a Constituição. O mesmo em relação, nos Estados Federativos, às unida- des políticas pertencentes. As unidades político-federa- tivas também são criadas pela Constituição. Assim, nos Estados caracterizados como federativos – forma de Estado - a Constituição também cria as suas unidades componentes. Importante frisarmos que no Es- tado brasileiro há anomalia, tendo em vista que, apesar de a Constituição estabelecer nos arts. 1º e 18 que os Municípios são componentes da Federação, essa mesma Constituição dispõe que os Municípios são criados por lei do Estado-Membro respectivo. Para nós essa é a fundamentação mais incisiva em desfavor dos Municí- pios, enfraquecendo-os como entidades político-admi- nistrativa. Todavia, para todos os fins, os Municípios, no Brasil, são componentes da Federação. Não podemos olvidar que os Municípios não possuem Poder Judiciário; repre- 2 Direito Constitucional tutelar o ser humano em sua dignidade. Lembremos o preceito da Revolução Francesa que estabelecia que não haveria Constituição se não houvesse a separação dos poderes e se não assegurassem direitos às pessoas. A Constituição brasileira tem a dignidade da pes- soa humana como fundamento da República. Com isso, todo o ordenamento deve estar adjetivado por esse fun- damento, bem como a aplicação e a execução das leis devem também estar regidos por esse princípio prag- mático. A Constituição de 1988, foi publicada em 05 de ou- tubro, dita democrática, rígida, detalhista, eclética, prag- mática, formal, tecida no período pós Governo Militar, ou seja, após a denominada “redemocratização”. A crítica que fazemos à Constituição é que o seu perfil programático dá a ideia de uma Constituição eter- na. Explico. Os fundamentos e objetivos fundamentais da Constituição se perfazem por uma procurar eterna e perene da perfeição de um Estado (ex. impossível pro- mover o bem todos sem qualquer distinção). Pensamos que o Constituinte mandaria melhor se ti- vessem tecido uma Constituição principiológica, ou seja, programaticamente atingível e viável dentro de um certo lapso temporal. As pretensões ou finalidades constitu- cionais, que se confundem com os próprios fins estatais têm por consequência um excesso de ativismo do Poder Judiciário, que deseja a implementação de determina- dos direitos pragmáticos sem a observância da viabili- dade concreta do Estado em resguardá-los. O Judiciário, às vezes, tem preenchido o espaço do legislador, é isso realmente é perigoso em um Estado que se delineia as funções preponderantes de cada qual. Por mais que não vejamos, há definitivamente um certo autoritarismo do judiciário, principalmente dos Tribunais Superiores, que são derivados de uma relação estreita com o detentor do Poder Executivo. O que estamos a dizer é que a nossa Constituição apesar de respeitável em termos de programas e inten- ções peca no sentido de não estar totalmente adequada à realidade substancial do Estado brasileiro. Além disso, o ativismo judicial tem modificado a essência da Consti- tuição negativamente, pois alguns magistrados confun- dem o garantismo com a liberdade total, inclusive via- bilizando o direito de prejudicar bens e pessoas sem a devida punição. Isso traz uma ideia de ilegitimidade ou mesmo de inadequação da Constituição com a realida- de. Volta-se à ideia de mera folha de papel. O conceito de Constituição, portanto, deve se rela- cionar aos princípios e valores maiores de um Estado, que servirão para nortear o ordenamento jurídico ou mesmo uma releitura das normas recepcionadas. O que podemos afirmar com convicção é que o Di- reito Constitucional é uma ciência e a Constituição seu objeto de Estudo. Pela origem etimológica a Constitui- ção é um resultado de um Poder Supremo, Originário, Constituidor. A Constituição é o seu produto. Sob o as- pecto jurídico, sendo a primeira lei do sistema ou a lei magna, se perfaz num conjunto de princípio, valores e normas estruturantes do Estado, dos seus elementos constitutivos, bem como de suas limitações. História Constitucional Brasileira Constituição de 1824 Primeira Constituição brasileira, a Constituição Política do Império do Brasil foi outorgada por Dom Pedro I, em 25 de março de 1824. Instalava-se um governo monárquico, hereditário, constitucional e representativo. Além dos três Poderes, Legislativo, Judiciário e Executivo, havia ainda o Poder Moderador. O Poder Legislativo era exercido pela Assembleia Geral, composta de duas câmaras: a dos senadores, cujos membros eram vitalícios e nomeados pelo Imperador dentre integrantes de uma lista tríplice enviada pela Província, e a dos deputados, eletiva e temporária. Nesta Constituição destacaram-se: o fortalecimento da figura do Imperador com a criação do Poder Moderador acima dos outros Poderes; a indicação pelo Imperador dos presidentes que governariam as províncias; o sistema eletivo indireto e censitário, com o voto restrito aos homens livres e proprietários e subordinado a seu nível de renda. Em 1834 foi promulgado o Ato Adicional, que criava as Assembleias Legislativas provinciais e suprimia o Poder Moderador, só restaurado em 1840, com a Emenda Interpretativa do Ato Adicional. Foi a constituição que vigorou por maior tempo, 65 anos. Constituição de 1891 Foi promulgada pelo Congresso Constitucional, o mesmo que elegeu Deodoro da Fonseca como Presidente. Tinha caráter liberal e federalista, inspirado na tradição republicana dos Estados Unidos. Instituiu o presidencialismo, concedeu grande autonomia aos estados da federação e garantiu a liberdade partidária. Estabeleceu eleições diretas para a Câmara, o Senado e a Presidência da República, com mandato de quatro anos. Estabeleceu o voto universal e não-secreto para homens acima de 21 anos e vetava o mesmo a mulheres, analfabetos, soldados e religiosos; determinou a separação oficial entre o Estado e a Igreja Católica; instituiu o casamento civil e o habeas corpus; aboliu a pena de morte e extinguiu o Poder Moderador. Também nesta Constituição ficou estabelecida, em seu artigo terceiro, uma zona de 14.400 Km² no Planalto Central, para a futura Capital Federal. A Constituição de 1891 vigorou por 39 anos. Constituição de 1934 Foi promulgada pela Assembleia Constituinte no primeiro governo do Presidente Getúlio Vargas e preservou a essência do modelo liberal da Constituição anterior. Garantiu maior poder ao governo federal; instituiu o voto obrigatório e secreto a partir dos 18 anos e o voto feminino, já instituídos pelo Código Eleitoral de 1932; fixou um salário mínimo; introduziu a organização sindical mantida pelo Estado. Criou o mandado de segurança. Sob a rubrica “Da Ordem Econômica e Social”, explicitava que deveria possibilitar “a todos existência digna” e sob a rubrica “Da família, da Educação e da Cultura” proclamava a educação “direito de todos”. 3 Direito Constitucional fechar o Congresso, cassar mandatos e suspender direitos políticos. Permitiu aos governos militares total liberdade de legislar em matéria política, eleitoral, econômica e tributária. Desta forma, o Executivo acabou por substituir, na prática, o Legislativo e o Judiciário. Sofreu algumas reformas como a emenda Constitucional nºprotegida ...; II - seguro-desemprego; III - fundo de garantia; IV - salário mínimo ... Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical ... Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competin- do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. Art. 11 - Nas empresas de mais de duzentos em- pregados é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. SEGURANÇA SOCIAL XXII. Todo homem, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço na- cional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dig- nidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade. Art. 5º, XXXIII - todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado; Art. 5º, XXXIV - são a todos assegurados, indepen- dentemente do paga mento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direi- tos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; XXIII. Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo ho- mem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remu- neração por igual trabalho. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acres- centarão, se necessário, outros meios de proteção social. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus interesses. Art. 5º, XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissio- nais que a lei estabelecer; LAZER XXIV. Todo homem tem direito a repouso e lazer, in- clusive à limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados... BEM-ESTAR XXV. Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família, saúde e bem-es- tar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas de matrimônio ou fora dele, têm direito a igual proteção social.. Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. INSTRUÇÃO XXVI. Todo homem tem direito à instrução. A ins- trução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desen- volvimento da personalidade humana e do fortaleci- mento do respeito pelos direitos do homem e pelas suas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a com- preensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvi- mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cida- dania e a sua qualificação para o trabalho. CULTURA XXVII. Todo homem tem o direito de participar livre- mente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefí- cios. Todo homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor. Art. 5º, XXVII - aos autores pertence o direito ex- clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; Art. 5º, XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações em obras coletivas e à re- produção da imagem e voz humanas, inclusive nas ativi- dades desportivas; b) o direito de fiscalização do apro- veitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respecti- vas representações sindicais e associativas; 27 Direito Constitucional QUESTÕES 01. (TCE/PB – Agente de Documentação – CESPE/2018) De acordo com os princípios fundamentais estabelecidos na CF, assinale a opção que apresenta, respectivamente, as formas de Estado e de governo adotadas no Brasil. (A) Federação e República (B) Federação e presidencialismo (C) presidencialismo e República (D) República e Federação (E) República e presidencialismo 02. (MPE/CE – Promotor – CESPE/2020) Ao tratar dos princípios fundamentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º, (A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, caracterizada pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante. (B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante. (C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, caracterizada pela tripartição dos poderes da União. (D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista de governo. (E) a forma republicana de governo e a forma federativa de Estado, cláusulas pétreas expressas. 03. (Prefeitura de Ita/SC – Fiscal de Tributos – AMAUC/2019) Sobre os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, assinale a alternativa correta: (A) São poderes da União, dependentes entre si, o Legislativo, Executivo e judiciário. (B) Tem como um dos fundamentos a cidadania. (C) Tem como um dos fundamentos o pluralismo sindical. (D) Tem como fundamentos os valores sociais do trabalho e da iniciativa-controlada. (E) É formada pela união dissolúvel dos Estados e Municípios. 04. (Prefeitura de Jataí/GO – Auditor de Controladoria – QUADRIX/2019) Com relação princípios fundamentais da República na Constituição Federal de 1988, assinale a alternativa correta. (A) O princípio federativo define o regime de governo adotado pelo Brasil. (B) O princípio republicano define a forma de Estado adotada pelo Brasil. (C) O princípio da separação de poderes define uma tripartição de funções Estatais, que, bem estabelecidas, definitivamente não se misturam. (D) O princípio do Estado Democrático de Direito define um modelo submetido ao império da lei e à soberania popular. (E) O princípio da soberania popular define que todo poder emana do povo, que o exerce diretamente. 05. (IF Baiano – Administrador – IF/BA/2019) Sobre os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, assinale a alternativa correta. Art. 5º, XXIX - a lei assegurará aos autores de inven- tos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à proprieda- de das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen- volvimento tecnológico e econômicodo País; Art. 5º, XXX - é garantido o direito de herança; Art. 215 - O Estado garantirá a todos o pleno exer- cício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. ORDEM SOCIAL XVIII. Todo homem tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabe- lecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Art. 5º, XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em be- nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus; Art. 193 - A ordem social tem como base o prima- do do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça social. DEVERES SOCIAIS XXIX. Todo homem tem deveres para com a comuni- dade, na qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exercício de seus direitos e li- berdades, todo homem está sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de as- segurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigên- cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contraria- mente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. GARANTIAS XXX. Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qual- quer Estado, grupo ou pessoa do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer direitos e liberdades aqui es- tabelecidos. Art. 5º, LXXVII - § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.2 2 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concur- sos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier./www.douglascr.jusbrasil.com.br/www. pge.sp.gov.br/ www.dedihc.pr.gov.br 28 Direito Constitucional (A) São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e os Tribunais de Contas. (B) O Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (C) Constituem objetivos fundamentais os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. (D) A República Federativa do Brasil tem como um de seus fundamentos a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. (E) O Brasil rege-se nas suas relações internacionais por diversos princípios, dentre eles o pluralismo político. GABARITO 01.A / 02.B / 03.B / 04.D / 05.B 3. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETI- VOS, DIREITOS SOCIAIS, DIREITOS DE NACIO- NALIDADE, DIREITOS POLÍTICOS, PARTIDOS POLÍTICOS. DIREITOS INDIVIDUAIS Os individuais estão elencados no caput do Artigo 5º da CF. Vejamos: TÍTULO II Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: 29 Direito Constitucional a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômicodas obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas; XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; XXX - é garantido o direito de herança; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”; XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; 30 Direito Constitucional LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; LXXVII - são gratuitasas ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. ( § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261, de 2015, DEC 9.522, de 2018) (Vide ADIN 3392) § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022) § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Vide ADIN 3392) (Vide Atos decorrentes do disposto no § 3º do art. 5º da Constituição) § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Alguns aspectos a destacar... Direitos e deveres na legislação brasileira Os direitos e deveres do cidadão estão previstos na Constituição do Brasil, principalmente no Título II, Capítulo I (Dos direitos e deveres individuais e coletivos). Principais direitos e deveres do cidadão brasileiro: DEVERES - Respeitar e cumprir a legislação (leis) do país; - Escolher, através do voto, os governantes do país (presidente da República, deputados federais e estaduais; senadores, prefeitos, governadores de estados e vereadores); - Respeitar os direitos dos outros cidadãos, sejam eles brasileiros ou estrangeiros; - Tratar com respeito e solidariedade todos os cidadãos, principalmente os idosos, as crianças e as pessoas com deficiências físicas; - Proteger e educar, da melhor forma possível, os filhos e outras pessoas que dependem de nós; - Colaborar para a preservação do patrimônio histórico-cultural do Brasil; - Ter atitudes que ajudem na preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. DIREITOS - Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade; - Direito à educação, saúde, moradia, trabalho e lazer; - Proteção à maternidade e à infância; - Liberdade de manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato; - Seguir a crença religiosa que desejar; - Exercer a profissão que quiser, respeitando as exigências relacionadas às qualificações profissionais; - Não ser tratado de forma desumana ou degradante. Não ser submetido a atos de tortura física, psicológica ou de qualquer outra natureza. 31 Direito Constitucional manos de 1948. E trouxe um rol de direitos e garantias considerados fundamentais para a manutenção do orde- namento jurídico. Qual a diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais? Em face dessa estrita relação, é preciso discutir se os direitos e garantias fundamentais são sinônimos de direitos humanos. De fato, pode ser difícil vislumbrar a diferença exata entre eles. E, do mesmo modo, é difícil separá-los enquanto proteções inerentes aos seres hu- manos. Talvez a grande diferenciação esteja na amplitu- de deles. Os direitos humanos, em geral, fazem referência ao conjunto de direitos e garantias inerentes aos seres hu- manos, mas estabelecidos em nível internacional. São aqueles direitos, então, previstos na Declaração de Direi- tos Humanos da ONU. E assimilados, portanto, por todas as nações que assinaram e reconhecem a Declaração. Tratam-se, enfim, de valores essenciais à persecução da dignidade humana. Já os direitos e garantias fundamentais, inspirados nos pactos e acordos de direitos humanos, são aqueles consolidados dentro do ordenamento jurídico brasileiro, com base, sobretudo, no princípio da dignidade huma- na. São, além de garantias materiais, garantias formais. E, como se verá, previstos na Constituição Federal de 1988. Gerações de direitos fundamentais Tanto os direitos humanos quanto os direitos funda- mentais foram conquistas históricas. A doutrina costuma falar, então, de gerações. Ou seja, marcos históricos que destacaram a sucessiva progressão de direitos até a defi- nição hoje entendida por direitos e garantias fundamen- tais e positivada na Constituição. São, portanto, exem- plos de gerações de direitos e garantias fundamentais 1. Direitos civis e políticos: foram os primeiros direitos conquistados e incluem o direito ao voto e as liberdades civis, como a liberdade religiosa; 2. Direitos sociais e coletivos: conquistados pelos movimentos sociais, incluem, sobretudo, o direito à igualdade e a positivação de outros direitos humanos; 3. Direitos transindividuais: referem-se a direitos mais amplos e recentes, como o direito ao meio ambiente e a preocupação crescente com a infância e a juventude; Essa classificação, contudo, varia de acordo com a doutrina. Alguns chegam a incluir uma quarta ou quin- ta geração, embora as três mencionadas sejam as mais clássicas. Não obstante, não são estáticas. Foram con- quistas progressivas que culminaram, na realidade bra- sileira, na positivação pela Constituição Federal de 1988. O que são os direitos fundamentais? O conceito de direitos fundamentais pode ser defi- nido como direitos inerentes à pessoa humana e essen- ciais à vida digna. Ainda, deve-se ressalta que é dever do Estado protegê-los. No entanto, eles também possuem algumas características próprias. São, portanto, as carac- terísticas dos direitos fundamentais: - Inalienabilidade; - Imprescritibilidade; - Irrenunciabilidade; - Universalidade; DEVERES * Votar para escolher seus representantes políticos * Cumprir as leis e colaborar com as autoridades * Respeitar os direitos sociais de outras pessoas * Educar e proteger nossos semelhantes * Proteger o patrimônio público e social do país DIREITOS * A manifestação do pensamento é livre, sendo vendado o anonimato * Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei * Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações * Seguir o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso * Acesso à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, segurança, lazer, vestuário, alimentação e transporte Os direitos e garantias fundamentais são direitos previstos na Constituição Federal e inerentes à pessoa humana. Além disso, cada vez mais ganham relevância, sobretudo no contexto de defesa da dignidade humana. No entanto, eles podem colidir entre si. Consequente- mente, levanta-se um importante debate doutrinário e jurisprudencial acerca do sopesamento de direitos fun- damentais e da sua força no ordenamento jurídico. Portanto, abordam-se aqui os principais conceitos a respeito dos direitos e garantias fundamentais, em uma revisão com os principais questionamentos. O que se entende por direitos fundamentais? Os direitos egarantias fundamentais, como o pró- prio nome já revela, são direitos garantidos, hoje, a to- dos os seres humanos, enquanto indivíduos de direito. Tratam-se, assim, de garantias formalizadas ao longo do tempo, inerentes aos indivíduos. E, em razão disso, cos- tumam andar atrelados às concepções de direitos hu- manos. Historicamente, a Revolução Francesa foi o primeiro grande marco na conquista de direitos e garantias fun- damentais, mas também da elaboração de um plano de direitos humanos. Isto porque dela decorreu a Decla- ração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Embora não se tratasse, ainda, de uma compilação de direitos, de fato, universal, já revelava uma tendência à universalização dos direitos. Com base nisso, em 1948, publicou-se, então, a De- claração dos Direitos Humanos. Completando 70 ano em 2018, esta ainda continua a ser uma definição a impac- tar o Direito de um modo geral. Isto porque estabelece direitos independentemente de diferenciações quanto a raça, gênero ou condição econômica. E apesar de a práti- ca jurídica, ainda hoje, evidenciar que tais diferenciações exercem influência na consolidação e na aplicação dos direitos, era uma medida para, ao menos formalmente, garantir uma igualdade entre os indivíduos. Os direitos e garantias fundamentais, portanto, são entendidos como este conjunto de preceitos conquista- dos com o avanço das sociedades jurídicas e hoje po- sitivados. A Constituição Federal de 1988, desse modo, refletiu o que fora estabelecido na Carta de Direitos Hu- 32 Direito Constitucional - Limitabilidade. - Historicidade; - Inviolabilidade; - Concorrência; - Complementaridade; Os direitos fundamentais, dessa forma, decorrem de uma construção histórica. Além de irrenunciáveis – ou seja, ninguém pode recusá-los, na medida em que são inerentes – também são inalienáveis e invioláveis. Isto é, não podem ser vendidos, trocados, disponibilizados ou violados, sob o risco de punição do Estado. Além dis- so, são imprescritíveis. Ou seja, não são atingidos pela prescrição e podem ser exigidos a qualquer tempo. Do mesmo modo são universais, uma vez que aplicados in- distintamente a todos os indivíduos. Não obstante, diz que são concorrentes, pois po- dem incidir em concomitância a outros direitos funda- mentais, e complementares, pois devem ser interpreta- dos em consonância e em conjunto ao sistema jurídico. Por fim, são limitados, na medida em que se dividem em direitos relativos e direitos absolutos. Classificação dos Direitos Fundamentais Os direitos e garantias fundamentais estão dispostos na Constituição Federal de 1988, em seu Título II. En- quanto os direitos fundamentais se referem aos direitos propriamente ditos constantes na Constituição, as ga- rantias fundamentais se referem a medidas previstas e visam a proteção desses direitos. Assim, são exemplos de direitos fundamentais o direito à vida e à liberdade. E são exemplos de garantias fundamentais o Habeas Cor- pus e o Habeas Data, além de outros remédios jurídicos. Os direitos e garantias fundamentais estabelecidos na Constituição, assim, estão dispostos, de modo geral, nos seguintes artigos: • Direitos Individuais: art. 5o e outros. Eficácia plena e aplicabilidade imediata (regra). • Direitos Coletivos: art. 5o e outros • Direitos Sociais: arts. 69, 193 e seguintes. Pessoa enquanto na sociedade • Direito à nacionalidade: art. 12 • Direitos políticos: art. 14 e 17. Ligados à cidadania como o direito de votar e ser votado Quais são os cinco direitos fundamentais principais? O artigo 5º da Constituição Federal apresenta uma série de direitos e garantias que são fundamentais à vida humana digna. Contudo, o caput do artigo apresenta 5 direitos que possuem ainda mais importância e são ba- silares para o ordenamento jurídico. Desse modo, é a re- dação do artigo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]. Portanto, são direitos fundamentais: - Direito à vida; - Direito à liberdade; - Direito à igualdade; - Direito à segurança; - Direito à propriedade. • Direito à vida O direito à vida engloba não apenas o direito de existir, mas de existir de modo digno, além da integri- dade física e moral. Isto implicada em uma vedação a práticas humilhantes e de tortura, por exemplo. Nesse sentido, dispõe o o inciso III do artigo 5º, CF: III – ninguém será submetido a tortura nem a trata- mento desumano ou degradante; Cabe ressaltar que o Projeto do Novo Código Penal aumenta a punição para os crimes de tortura, visando a inibição dessa violação ao direito à vida. No que concerne à existência digna, o artigo 170 da Constituição Federal também dispõe: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim as- segurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social […] • Direito à liberdade Entre os direitos e garantias fundamentais também é previsto o direito à liberdade. O indivíduo, portanto, possui o direito de ir e vir, além da liberdade de crença e da liberdade de expressão. Assim, dispõem os incisos I, VI, X e XV do artigo 5º da Constituição Federal: I – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; VI – é inviolável a liberdade de consciência e de cren- ça, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religio- sos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; X – é livre a expressão da atividade intelectual, artís- tica, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; • Direito à igualdade O direito à igualdade, por sua vez, trata da vedação à discriminação. Todavia, pode se referir a uma igual- dade formal ou a uma igualdade material. E isto terá diferentes implicações para o ordenamento. No tocante à igualdade formal, ou seja do acesso indistinto dos in- divíduos aos direitos e obrigações, estabelece o inciso I do artigo 5º, CF: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obri- gações, nos termos desta Constituição; De igual modo, dispõem os inciso XLI e XLII do arti 5º, CF: XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançá- vel e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos ter- mos da lei; Já no que se refere à igualdade material, esta se refe- re à necessidade de tratamento diferenciado na medida das desigualdades. Por essa razão, por exemplo, quando o Direito visa a regulação de relações entre desiguais, deverá observar as desigualdades com vista à equipara- ção de oportunidades. • Direito à segurança Entre os direitos e garantias fundamentais, o direito à segurança diz respeito ao poder de punição do Es- tado, visando a proteção dos indivíduos. Mas também 33 Direito Constitucional diz respeito à proteção dos indivíduos em face do poder de punição do Estado. Desse modo, prevê, por exemplo, que ninguém poderá ser punido por fato que não seja previsto em lei. Dessa maneira, por exemplo, prevê o inciso XXXIX do artigo 5º, CF: XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; • Direito à propriedade O direito à propriedade, por fim, também está en- tre os direitos e garantias fundamentais do caput do ar- tigo 5º, CF. Além da previsão da propriedade como um direito de todos, a Constituição prevê que a propriedade deverá atender ao princípio da função social. Assim, dis- põe os incisos XXII e XXIII do artigo 5º da Constituição Federal: XXII – é garantido o direito de propriedade; XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;Não obstante, são previstas medidas de proteção à propriedade, inclusive em âmbitos judiciais. É o caso, por exemplo, das chamadas ações possessórias. O que é colisão de direitos fundamentais? Nem sempre o Direito poderá ser aplicado de for- ma simples. E o mesmo acontece no que é relativo aos direitos e garantias fundamentais. Em muitos casos, será impossível separar se o caso se refere a uma violação de um ou outro direito. E em muitas hipóteses, pode ser que haja um conflito entre os direitos fundamentais de cada uma das partes. A colisão de direitos fundamentais, portanto, se re- fere aos casos em que mais de um direito fundamental será discutido. O exemplo mais conhecido diz respeito à liberdade de expressão versus a dignidade humana. Se um indivíduo ofende outro, incidindo na humilhação vedada constitucionalmente, qual direito prevaleceria sobre o outro? Por essa razão, retoma-se o caráter limitador dos direitos e garantias fundamentais. Na medida em que alguns direitos podem ser relativizados, pode-se ope- rar no sopesamento de direitos e na adequação ao caso concreto. A discussão, sobretudo da hermenêutica jurí- dica, é longa. E procedimentos, como uso da pondera- ção, podem auxiliar na toma de decisão. O que é direito absoluto e relativo? Como mencionado, os direitos e garantias funda- mentais podem ser absolutos ou relativos. Os direitos fundamentais absolutos são aqueles imprescindíveis à vida digna e, portanto, não podem ser sobrepostos. Já os direitos fundamentais relativos não perdem seu caráter de essencialidade ou sua importância. Contudo, podem ser relativizados conforme as circunstâncias. A principal relevância dessa diferenciação estaria na colisão de direitos fundamentais. Uma vez que eles te- nham pesos idênticos, é difícil avaliar qual deve ser pri- vilegiado em detrimento de outro. Por essa razão, con- siderando as exigências para uma vida digna, pode-se atribuir valor absoluto a alguns e relativo a outros. No entanto, como se verá, existem discussões acerca da di- visão. Quais são os direitos fundamentais absolutos? A doutrina e a jurisprudência majoritária compreendem que não existem direitos fundamentais absolutos. Isto em razão da necessidade de relativização já abordada. Nesse sentido, o STF decidiu, em 2017, no Agravo Regimental 0011716-04.2001.4.03.6100/SP, de relatoria do Ministro Edson Fachin. […] Como também ficou consignado nesse mesmo precedente da Suprema Corte, o direito à privacidade não é absoluto, devendo “ceder diante do interesse público, do interesse social e do interesse da Justiça”, o que se dá “na forma e com observância de procedimento estabelecido em lei e com respeito ao principio da razoabilidade”. Tais conclusões deixam entrever uma característica que é própria de quaisquer direitos fundamentais, representada por aquela conhecida norma de hermenêutica constitucional segundo a qual não existem direitos fundamentais absolutos. […] No entanto, algumas análises defendem que a dignidade humana deve operar sobre os direitos e garantias fundamentais, sendo ela, então, fundamento absoluto, uma vez que prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Por esse viés, então, a vida, ou existência, digna teria peso maior em uma eventual colisão de direitos fundamentais. Cabe ressaltar, por fim, que o artigo 60, CF, estabelece as chamadas cláusulas pétreas. Entre elas, estão os direitos e garantias individuais, conforme o § 4º, inciso IV, do artigo 60, CF. Portanto, é dever do Estado a garantia desses direitos e lhe é vedado suprimi-los.3 QUESTÕES 01. (PauliPrev/SP – Agente Previdenciário – VUNESP/2018) Ao tutelar o direito à vida, a Constituição Federal (A) autorizou a pena de morte para os crimes hediondos. (B) autorizou a pena de morte em casos de guerra declarada. (C) proibiu totalmente a pena de morte, sem exceções. (D) autorizou a substituição da pena de morte pela pena de banimento. (E) substituiu a pena de morte pela pena de caráter perpétuo, nos casos de guerra. 02. (Prefeitura de Cachoeira Grande/MA – Agente Administrativo – CRESCER CONSULTORIAS/2018) O “Princípio da igualdade” é expresso em qual direito fundamental da Constituição Federal? (A) Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. (B) Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos da Constituição. (C) É livre a associação sindical. (D) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 3 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concur- sos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. 34 Direito Constitucional 03. (Petrobras – Advogado Junior – CESGRANRIO/2018) Nos termos da Constituição de 1988, o direito de propriedade é um direito (A) social, cabendo ao proprietário respeitar os limites da função social. (B) social, pois não possibilita ao proprietário dispor conforme o seu próprio e exclusivo interesse. (C) individual, que impede qualquer tipo de intervenção do Estado. (D) individual absoluto, que possibilita ao proprietário sempre dispor conforme o seu próprio e exclusivo interesse. (E) individual relativo, cabendo ao proprietário respeitar os limites da função social. 04. (UEPA – Agente Administrativo – FADESP/2019) Ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, a Constituição Federal Brasileira de 1988 estabelece que (A) todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. (B) é livre a manifestação do pensamento, sendo violável o anonimato. (C) são violáveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. (D) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão por vontade própria. 05. (Câmara de Cacoal/RO – Agente Administrativo – IBADE/2018) De acordo com a Constituição Federal de 1988, uns dos princípios fundamentais que consagra nosso Estado como uma organização centrada no ser humano, tais como, dentre outros, o direito à vida, à intimidade e à honra, tem como fundamento a: (A) liberdade de expressão. (B) cidadania (C) livre iniciativa (D) soberania. (E) dignidade da pessoa humana. GABARITO 01.B / 02.B / 03.E / 04.A / 05.E DIREITOS SOCIAIS Os direitos sociais estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos: CAPÍTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária (Incluído pela Emenda Constitucional nº 114, de 2021) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III - fundo de garantia do tempo de serviço; IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; VIII- décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV - aposentadoria; XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; 35 Direito Constitucional Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam- se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê- lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação. Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores. Alguns aspectos a destacar... Direitos Sociais • São os direitos do indivíduo e da coletividade que estão relacionados às prestações positivas do poder pú- blico nas áreas econômica e social, que tenham por ob- jetivo a melhoria das condições de vida e de trabalho da sociedade. • Título II, artigo 6º • Direitos dos trabalhadores: Arts 7o a 11 • Direitos da seguridade social (saúde, previdência e assistência social): arts 193 a 204 • Direitos à educação, cultura e desporto: arts. 205 a 207 • Direito do meio ambiente: art. 225 • Direitos relativos à família, criança, adolescente, idoso e pessoas portadoras de deficiência: arts. 226 a 230 • Direitos dos índios: art. 231. Os direitos sociais buscam a qualidade de vida dos indivíduos assim como os direitos individuais. No entan- to, apesar de estarem interligados, é necessário diferen- ciá-los para uma melhor compreensão: O que a constituição diz sobre os direitos sociais? No Brasil, os Direitos Sociais são uma garantia cons- tante na Constituição Federal de 1988 e são definidos em dois títulos: - direitos e garantias fundamentais: significa que eles são parte essencial daquilo que o Estado deve garantir a seus indivíduos; - ordem social: são uma necessidade para o estabelecimento de uma sociedade capaz de perpetuar- se ao longo do tempo de maneira harmônica. Estão prescritos no Art. 6º da Constituição Federal uma série de direitos sociais mais ou menos abstratos, que precisam ser regulamentados por outras leis, mas que definem a essência daquilo que a nação comprome- te-se a garantir. Entre eles estão o direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, a moradia, ao lazer, a segurança, a previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; a) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 2000) b) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 2000) XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais; VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. 36 Direito Constitucional No direito ao trabalho se encaixam principalmentenormas que amparam e humanizam os trabalhos como: - 13° Salário: valor pago no final do ano, no mesmo valor que a remuneração do trabalhador; - FGTS: depósito pela empresa de 8% do salário bruto do trabalhador com objetivo de garantir uma reserva de dinheiro em momentos em que o trabalhador se encontrar em dificuldade, como demissão, diagnóstico de doenças, ou outras eventualidades; - seguro-desemprego: uma assistência em dinheiro dado ao trabalhador em caso de demissão sem justa causa; - vale Transporte: propiciar a locomoção entre o emprego e a sua casa; - abono salarial: benefício de salário mínimo a cada ano para quem possui uma renda mensal de até dois salários mínimos; - aviso Prévio: em caso de quebra de contrato, a outra parte deve ser avisada com 30 dias de antecedência; - Adicional noturno: a remuneração deve ser 20% maior para pessoas que trabalham entre 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do próximo dia; O Lazer também é reconhecido como direito social, já que após as revoluções industriais o ritmo de trabalho do homem passou a ser estabelecido pela necessida- de de produção cada vez maior e incansáveis horas de trabalho. Com a conquista de direitos trabalhistas essa situação mudou e a jornada de trabalho foi reduzida. No entanto, os salários também e com isso as pessoas começaram a buscar formas alternativas de complemen- tar a renda domiciliar, não utilizando o tempo livre para descanso ou lazer. Por isso hoje em lei está assegurado: - um dia remunerado destinado ao descanso e lazer que seja preferencialmente aos domingos, não podendo ser vendido pelo empregado ao empregador; - férias remuneradas após um período de 12 meses trabalhados, com direito de até 30 dias de férias caso não tenha faltado sem justificativas mais de cinco dias no ano; A Educação ocupa um lugar de destaque nos rol dos direitos humanos por ser essencial e indispensável para o exercício da cidadania, assim como a Segurança que é uma das garantias do exercício pleno dos outros direitos sociais. A Saúde também é um direito humano e passou a ser um direito social de todo indivíduo, seja qual for sua condição social ou econômica, crença religiosa ou polí- tica. Sua garantia deve buscar sempre o equilíbrio entre influências ambientais, modos de vida e vários outros componentes para resguardar o bem-estar físico, mental e consequentemente social, já que uma pessoa saudável é mais participativa na sociedade. A proteção da maternidade sempre foi uma preo- cupação da Organização Internacional do Trabalho. A intenção desde o início foi garantir que as mulheres pudessem combinar seus papéis de trabalhadoras e de mães e prevenir um tratamento desigual por parte do empregador em razão desse papel. Hoje, de acordo com a lei, as mulheres têm direito: - à assistência médica e sanitária; - salário maternidade e licença a maternidade durante 120 dias; O direito à previdência social visa valorizar a vida de pessoas que atingiram determinada idade ou que, por algum motivo, tornaram-se incapazes de trabalhar ou de sustentar sua família. Estão previstas em dois tipos: - adições: pagamentos em dinheiro para aposentadoria por problemas de saúde, por idade e por tempo de colaboração, nos auxílios doenças, funeral, reclusão e maternidade, no seguro-desemprego e na renda por morte; - benefícios: prestações continuadas como benefícios médicos, farmacêuticos, odontológicos, hospitalares, sociais; A assistência social, por sua vez, está ligada ao prin- cípio da solidariedade e, ao mesmo tempo, às garantias constantes em toda a Constituição Federal, fazendo com que mesmo aqueles que não estão em condições de sus- tentar-se de forma plena tenham condições dignas de viver em sociedade. ATENÇÃO: Foi incluído pela Emenda Constitucional nº 114, de 2021, o parágrafo único no artigo 6º, veja: Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de transferên- cia de renda, cujas normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e or- çamentária. Programa Auxílio Brasil virou lei: Entenda os principais pontos Em dezembro/2021, o presidente Jair Bolsonaro sancionou, com alguns vetos, a lei que institui o Auxí- lio Brasil, programa social que substitui o Bolsa Família, criado em 2003. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e institui que novo programa social tenha três benefícios básicos e seis suplementares, que podem ser adicionados caso o beneficiário consiga um emprego ou tenha um filho que se destaque em competições espor- tivas ou em competições científicas e acadêmicas. A Emenda Constitucional n°. 114/2021 instituiu, no texto da Constituição Federal, um dispositivo que ga- rante que todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa permanente de trans- ferência de renda, com os requisitos a serem instituídos por lei. Com isso há, então, uma disposição da Constituição e uma lei, para assegurar que a renda básica seja per- manente, o que confere uma maior segurança jurídica. A previsão da renda básica na Constituição é uma maior segurança para que programas sociais de renda básica sejam permanentes. A instituição do programa Auxílio Brasil por lei pode trazer uma maior definição dos crité- rios para recebimento. Segundo a lei que instituiu o programa, são elegíveis para o Auxílio Brasil as famílias em situação de pobreza, cuja renda familiar per capita mensal se situe entre R$ 105,01 (cento e cinco reais e um centavo) e R$ 210,00 (duzentos e dez reais), e que possuam em sua compo- sição gestantes, nutrizes ou pessoas com idade até 21 (vinte e um) anos incompletos, e as famílias em situação de extrema pobreza, com renda familiar per capita men- sal igual ou inferior a R$ 105,00 (cento e cinco reais). 37 Direito Constitucional Estado. Ou seja, uma vez alcançado determinado grau de concretização de um direito social, fica o legislador proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias compensatórias. → Princípio da reserva do possível: a implementação dos direitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no óbice do financeiramente possível. → Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e direitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna, intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa humana previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo existencial não se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se encontram na estrutura dos serviços púbicos essenciais.4 QUESTÕES 01. (Câmara de São Roque/SP – Procurador – VUNESP/2019) Nos termos da doutrina, Direitos Sociais de defesa (A) consistem no conjunto de ações processuais destinadas a proteger os direitos essenciais dos indivíduos. (B) podem ser utilizados para definir uma forma de organização do Estado ou da sociedade, desde que sua existência seja indispensável para assegurar determinado direito social. (C) são aqueles em que o Estado deve se abster de interferir de modo indevido em determinado direito social. (D) são também considerados como sinônimos de direitos de primeira geração, pois representam os direitos clássicos do indivíduo em face do Estado. (E) são de aplicação imediata, afetam o interesse de um indivíduo, e não esbarram na reserva do possível. 02. (COREN/RS – Analista Enfermeiro – QUADRIX/2018) São direitos sociais elencados no art. 6.º da CF o(a) (A) educação, o trabalho e a propriedade privada. (B) alimentação, a saúde e a previdência privada. (C) pluralismo político e o auxílio aos desamparados. (D) previdência social e o desenvolvimento nacional. (E) lazer, a moradia e a proteção à infância. 03. (SEDUC/SP – Oficial Administrativo – VUNESP/2019) São, entre outros, direitos sociaisprevistos na Constituição Federal: (A) a segurança, a previdência social, a alimentação e a sindicalização. (B) a previdência social, o transporte, a moradia e a reunião. (C) a educação, a saúde, a alimentação e o trabalho. (D) a sindicalização, a greve, a reunião e o trabalho. (E) a greve, a segurança, a saúde e a reunião. 04. (SETRABES – Contador – UERR/2018) São Direitos Sociais expressamente previstos na Constituição Federal, exceto: 4 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concur- sos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier/ https://portal.unit.br – Por Luis Felipe de Jesus Barreto Araújo É importante que o Poder Público garanta, através de políticas públicas, que todas as pessoas tenham condições dignas de vida. Incluem-se nessas políticas públicas os programas de transferência de renda, que possuem importante papel na redução da situação de vulnerabilidade social de milhões de famílias. É preciso garantir os direitos sociais previstos na Constituição através de ações estatais concretas que possibilitem o acesso à saúde, educação, alimentação, dentre outros direitos humanos básicos. Problemas Na Sociedade X Direitos Sociais Mesmo diante da importância dos direitos sociais é evidente que nem todos os aproveitam com plenitude. O desemprego é uma questão preocupante não somente em nosso país mas em todo o mundo. Outro exemplo são os trabalhadores informais – que não possuem car- teira de trabalho. Sabe-se que a população economica- mente ativa no Brasil gira em torno de 72 milhões de pessoas, mas somente 22 milhões têm emprego formal. Assim, aproximadamente 50 milhões de homens e mu- lheres desta população ativa estão sem carteira de tra- balho, vivendo de atividades informais e sem contar com seus direitos sociais. A educação é outro tema problemático. Apesar de todos os compromissos feitos pelos governantes por meio de instrumentos internacionais como a Carta da ONU e declarações de Direitos Humanos e nacionais como as Constituições, preocupadas em promover a educação para todos, especialmente a educação básica de qualidade, milhões de crianças ainda permanecem privadas de oportunidades educacionais, muitas delas devido à pobreza. Assim como a educação, a questão do caos na saúde pública tem grande evidência. A prestação de serviços de qualidade e com eficiência e assistência ao cidadão por parte do Estado brasileiro é muito questionada. Quais políticas asseguram os direitos so- ciais? Existem muitas políticas que asseguram nossos di- reitos sociais. No caso do desemprego, o Estado e suas políticas podem dar amparo e assistência por meio da previdência social de acordo com o artigo 7° da Consti- tuição, e aos não empregados, a qualificação profissional e encaminhamento ao mercado de trabalho. No caso da educação, o artigo 205 da Constituição Federal afirma a educação como um direito de todos e dever do Estado e da família. Assim como o artigo 208, que estabelece as obrigações que o Poder Público tem que percorrer para que assim possa oferecer educação de qualidade a todos os seus cidadãos. A segurança pública é tratada no artigo 144 da Constituição e corresponde a garantia, proteção e es- tabilidade de situações ou pessoas em diversas áreas. Preservando a convivência social de maneira que todos possam gozar e defender seus interesses. Acredita-se que com esses direitos assegurados é possível exercer com qualidade de vida o papel de cida- dão em sociedade já que as desigualdades sociais ten- dem a diminuir. Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo: → Princípio da proibição do retrocesso: qualifica- se pela impossibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais já implementados pelo 38 Direito Constitucional (A) O livre exercício de qualquer trabalho. (B) A assistência aos desamparados. (C) O transporte. (D) A proteção à maternidade. (E) A educação. 05. (UPE – Advogado – UPENET/IAUPE/2019) São direitos sociais dos trabalhadores urbanos e rurais, EXCETO (A) salário mínimo regionalizado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhes preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. (B) piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho. (C) irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo. (D) garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável. (E) remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. GABARITO 01.C / 02.E / 03.C / 04.A / 05.A DIREITOS DA NACIONALIDADE Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Artigos 12 a 13 da CF. Vejamos: CAPÍTULO III DA NACIONALIDADE Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa. § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios. Alguns aspectos a destacar... A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado (o seu povo). Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasileiros natos e naturalizados. 39 Direito Constitucional Espécies de Nacionalidade São duas as espécies de nacionalidade: a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntária ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento. Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado na sua Constituição Federal.Descrita no Artigo 12, I, CF/88. b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato volitivo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88. O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre as duas: Nacionalidade Primária Secundária Nascimento + Requisitos constitucionais Ato de vontade + Requisitos constitucionais Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacionalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de origem territorial (ius solis). O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditariedade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes. O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nascidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a nacionalidade dos genitores. A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibilitando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pautada no ius sanguinis. Portugueses Residentes no Brasil O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de naturalização, mas tão somente forma de atribuição de direitos. Portugueses Equiparados Igual os Direitos dos Brasileiros Naturalizados Se houver 1) Residência permanente no Brasil; 2) Reciprocidade aos brasileiros em Portugal. Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fazer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às seguintes hipóteses: Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF; Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF; Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e Direito de propriedade → Artigo 222, CF. 40 Direito Constitucional Perda da Nacionalidade O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade. Dupla Nacionalidade O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passando o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida). Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade. eimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma nacionalidade. Idioma Oficial e Símbolos Nacionais Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos Nacionais do Brasil.5 QUESTÕES 01. (Câmara Legislativa do Distrito Federal – Consultor Técnico Legislativo – FCC/2018) Acerca da nacionalidade a Constituição Federal dispõe que (A) aos portugueses com residência permanente no país; se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição Federal. (B) não é possível a concessão de nacionalidade brasileira a estrangeiro residente no Brasil, condenado civilmente. (C) somente por lei complementar será possível estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados. (D) é privativo de brasileiro nato o cargo de Governador do Distrito Federal. (E) será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade, em qualquer hipótese. 02. (CRP 2R/PE – Psicólogo Orientador – QUADRIX/2018) Com relação à nacionalidade, assinale a alternativa correta. (A) Com exceção dos casos previstos na CF, a lei não pode estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados. (B) O estrangeiro residente no Brasil há mais de quinze anos, sem condenação penal, adquire automaticamente a nacionalidade brasileira. (C) O brasileiro naturalizado será extraditado somente na hipótese de crime político ou de responsabilidade praticado antes da naturalização. (D) Embora não conste expressamente da CF, considera-se a língua portuguesa como idioma oficial da República Federativa do Brasil. (E) Aos portugueses com residência fixa no País e sem condenação penal serão atribuídos direitos inerentes ao brasileiro nato. 5 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concur- sos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. 03. (DPE/AM – Assistente Técnico Administrativo de Defensoria – FCC/2019) No que diz respeito ao tema “nacionalidade”, (A) jus sanguinis é o critério para fixar-se a nacionalidade primária. (B) heimatlos é o mesmo que apátrida. (C) jus solis é o critério para atribuir-se nacionalidade ao apátrida. (D) jus loci é a polinacionalidade. (E) nacionalidade secundária é o mesmo que nacionalidade involuntária. 04. (DPE/AM – Defensor Público – FCC/2018) Aquele que, dada a circunstância do nascimento, não se vincula a nenhum dos critérios que lhe demandariam uma nacionalidade, (A) é considerado polipátrida. (B) é considerado Heimatlos (C) tem nacionalidade difusa. (D) tem nacionalidade alternativa. (E) tem nacionalidade restritiva. 05. (Prefeitura de Glorinha/RS – Agente Fiscal – LEGALLE CONCURSOS/2019) Acerca da nacionalidade, assinale a alternativa CORRETA. (A) A lei poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados. (B) Não será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade. (C) A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. (D) São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino e o selo nacionais, apenas. (E) Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão ter símbolos próprios. GABARITO 01.A / 02.A / 03.B / 04.B / 05.C DIREITOS POLÍTICOS Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Artigos 14 a 16. Seguem abaixo: CAPÍTULO IV DOS DIREITOS POLÍTICOS Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. § 1° O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2° Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. § 3° São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; 41 Direito Constitucional I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Alguns aspectos a destacar... • “Conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais” (José Afonso da Silva). • Abrangem as diversas formas de participação popular nos destinos da nação: Direito de Votar e ser votado nas eleições, direito de voto nos plebiscitos e referendos, direitos de iniciativa popular de projetos de lei e o direito de organizar e participar de partidos políticos. De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, relacionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais, consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais. São instrumentos previstos na Constituição e em normas infraconstitucionais que permitem o exercício concreto da participação do povo nos negócios políticos do Estado. Quando falamos1, de 1969, outorgada pela Junta Militar. Tal emenda se apresenta como um “complemento” às leis e regulamentações da Constituição de 1967. Embora seja denominada por alguns como Constituição, já que promulgou um texto reformulado a partir da Constituição de 1967, muitos são os que não a veem como tal. A verdade é que, a partir desta emenda, ficam mais claras as características políticas da ditadura militar. Continuava em vigor o Ato Institucional nº 5 e os demais atos institucionais anteriormente baixados. A Constituição de 1967 autorizava a expedição de decretos-lei, a nomeação de senadores pelas Assembleias Legislativas, a prorrogação do mandato presidencial para seis anos e a alteração da proporcionalidade de deputados no Congresso. A Constituição de 1967 vigorou por 21 anos. Constituição de 1988 Atualmente em vigor, a Constituição de 1988 foi promulgada no governo de José Sarney. Foi elaborada por uma Assembleia Constituinte, legalmente convocada e eleita e a primeira a permitir a incorporação de emendas populares. O Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, ao entregá-la à nação, chamou-a de “Constituição Cidadã”. Seus pontos principais são a República representativa, federativa e presidencialista. Os direitos individuais e as liberdades públicas são ampliados e fortalecidos. É garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O Poder Executivo mantém sua forte influência, permitindo a edição de medidas provisórias com força de lei (vigorantes por um mês, passíveis de serem reeditadas enquanto não forem aprovadas ou rejeitadas pelo Congresso). O voto se torna permitido e facultativo a analfabetos e maiores de 16 anos. A educação fundamental é apresentada como obrigatória, universal e gratuita. Também são abordados temas como o dever da defesa do meio ambiente e de preservação de documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, bem como os sítios arqueológicos. Reformas constitucionais começaram a ser votadas pelo Congresso Nacional a partir de 1992. Algumas das principais medidas abrem para a iniciativa privada atividades antes restritas à esfera de ação do Estado, esvaziando, de certa forma, o poder e a influência estatais em determinados setores. A iniciativa privada, nacional ou internacional, recebe autorização para explorar a pesquisa, a lavra e a distribuição dos derivados de petróleo, as telecomunicações e o gás encanado. As empresas estrangeiras adquirem o direito de exploração dos recursos minerais e hídricos. Na esfera política ocorrem mudanças na organização e regras referentes ao sistema eleitoral; o mandato do presidente da República é reduzido de cinco para quatro Mudou também o enfoque da democracia individualista para a democracia social. Estabeleceu os critérios acerca da criação da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral. O Poder Legislativo seria exercido pela Câmara dos Deputados com colaboração do Senado, sendo aquela constituída por representantes eleitos pela população e por organizações de caráter profissional e trabalhista. A Constituição de 1934 vigorou por 3 anos. Constituição de 1937 No início de novembro de 1937, tropas da polícia militar do Distrito Federal cercaram o Congresso e impediram a entrada dos parlamentares. No mesmo dia, Vargas apresentou uma nova fase política e a entrada em vigor de nova Carta Constitucional. Começava oficialmente o “Estado Novo”. Deu-se a supressão dos partidos políticos e a concentração de poder nas mãos do chefe supremo. A Carta de 1937 possuía clara inspiração nos modelos fascistas europeus, institucionalizando o regime ditatorial do Estado Novo. Ficaria conhecida como “Polaca”, devido a certas semelhanças com a Constituição Polonesa de 1935. Extinguiu o cargo de vice-presidente, suprimiu a liberdade político partidária e anulou a independência dos Poderes e a autonomia federativa. Essa Constituição permitiu a cassação da imunidade parlamentar, a prisão e o exílio de opositores. Instituiu a eleição indireta para presidente da República, com mandato de seis anos; a pena de morte e a censura prévia nos meios de comunicação. Manteve os direitos trabalhistas. A Constituição de 1937 vigorou por 8 anos. Constituição de 1946 Promulgada durante o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra, foi elaborada sob os auspícios da derrota dos regimes totalitários na Europa ao término da Segunda Guerra Mundial, refletia a redemocratização do Estado brasileiro. Restabeleceu os direitos individuais, extinguindo a censura e a pena de morte. Devolveu a independência dos três poderes, a autonomia dos estados e municípios e a eleição direta para presidente da República, com mandato de cinco anos. Em 1961 sofreu importante reforma com a adoção do parlamentarismo. Foi posteriormente anulada pelo plebiscito de 1963, que restaurava o regime presidencialista. A Constituição de 1946 vigorou por 21 anos. Constituição de 1967 Foi promulgada pelo Congresso Nacional durante o governo Castelo Branco. Oficializava e institucionalizava a ditadura do Regime Militar de 1964. Foi por muitos denominada de “Super Polaca”. Conservou o bipartidarismo criado pelo Ato Adicional n° 2. Estabeleceu eleições indiretas, por meio do Colégio Eleitoral, para a presidência da República, com quatro anos de mandato. Foram incorporadas nas suas Disposições Transitórias os dispositivos do Ato Institucional n° 5 (AI-5), de 1968, dando permissão ao presidente para, dentre outros, 4 Direito Constitucional anos e, em 1997, é aprovada a emenda que permite a reeleição do presidente da República, de governadores e prefeitos. Os candidatos processados por crime comum não podem ser eleitos, e os parlamentares submetidos a processo que possa levar à perda de mandato e à inelegibilidade não podem renunciar para impedir a punição. Constituições Brasileiras Outorgadas Promulgadas 1824 – Constituição do Brasil-Império 1891 – 1ª Constituição da República 1937 – Imposta por Getúlio Vargas 1934 – Influenciada pela Constituição de Weimar (Alemanha – 1919). Evidenciou os direitos fundamentais de 2ª geração 1967 – Imposta após o Golpe Militar de 1964 1946 – Redemocratização do Brasil após a era Vargas * EC nº1/1969 – Imposta pela ditadura 1988 – Atual Carta Política Classificações da Constituição Os doutrinadores distinguem Constituição de Carta Constitucional. A primeira seria derivada da democracia, pro- mulgada por uma Assembleia Nacional Constituinte; a segunda, por um grupo detentor do poder ou por uma única autoridade, traduzindo-se em uma outorga. Não podemos esquecer várias são concepções sobre Constituição, derivadas de ângulos diversos, mas que ao fundo, não traz alteração prática em relação à sua finalidade. Constituição Formal e Constituição Material Primeiramente, grafam Constituição Formal e Constituição Material. Tal classificação seria quanto ao seu conteúdo. Alguns doutrinadores ainda fazem referência à Constituição Substancial. Vejamo-las. A concepção de Constituição Formal é de uma Lei Maior que tem forma, ou seja, possui um invólucro, este mais re- sistente e rígido. Neste sentido, deve ela obrigatoriamente ser escrita. A sua forma deriva de um processo constitutivo mais rígido que os processos legislativos comuns. Por isso que para perfurar o invólucro é indispensável, também, um processo mais rígido e dificultoso de mudança ou reforma, o que é feito pelas denominadas emendas constitucionais. As Emendas Constitucionais são estruturas normativas que possuem o condão de emendar a Constituição, ou seja, muda-la, modifica-la, conforme a necessidade do Estado e do interesse público. Alguns assuntos não podem ser objeto de deliberação. São as denominadas cláusulas pétreas. Essa super rigidez de nossa Constituição cria obstáculos às necessárias mudanças. Os guardiões da Constituição, arraigados num culturalismo pessoal ou ideologicamente firmadode Direitos Políticos, estamos fa- lando de Direito Constitucional. É a Constituição Federal que nos dá o direito de intervir na coisa pública, de ma- neira direta ou indireta. Num país democrático, como o Brasil, os cidadãos podem intervir na condução das políticas públicas de diversas formas. No nosso caso, isso ocorre através da eleição de representantes para os poderes executivo e legislativo. Os Direitos Políticos no Brasil estão explícitos no Ar- tigo 14 da Constituição, que diz, inicialmente, o seguinte: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá- gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular. Fonte: CF-88 Então começamos com alguns conceitos para des- vendar. . O que é sufrágio universal O conceito de sufrágio universal diz respeito ao di- reito da população adulta do país exercer o voto. No dicionário, sufrágio significa “voto”, e o adjetivo “universal” garante que o voto não considera elementos sociais, religiosos, culturais, econômicos, sexuais e por aí vai. No Brasil, a Constituição garante que todas as pes- soas têm direito a voto (salvo os menores de 16 anos). II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. § 4° São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5°O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. § 6° Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8° O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. § 9° Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. § 10° O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. § 11° A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. § 12. Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) § 13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares nos termos do ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: 42 Direito Constitucional Plebiscito O plebiscito é uma forma dos representantes eleitos pelo povo na Câmara dos Deputados e no Senado Federal consultarem a população sobre um tema específico, para depois criarem uma lei de acordo com a decisão. Talvez você não lembre, mas em 1993 o Brasil realizou um plebiscito para saber duas questões: se o Brasil deveria adotar a monarquia ou a república; e se deveríamos ser um país presidencialista ou parlamentarista. Veja a campanha realizada, à época, a favor da monarquia neste vídeo de 1 minuto: Como você já sabe, que ganhou o plebiscito foi a República presidencialista. Então o Congresso Nacional criou as leis para que a vontade popular fosse obedecida. Referendo Já o referendo é a consulta ao cidadão sobre um projeto de Lei já criado e aprovado pelo Congresso. É como se a população desse a palavra final em relação à implementação ou não da lei. Em 2005 o Brasil teve um referendo que colocou o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (comercialização de arma de fogo) para a aprovação ou rejeição da população. Lembre de uma das campanhas, que era a favor da proibição da comercialização: Para entender melhor sobre Plebiscito e Referendo sugiro que você conheça a Lei 9.709/98, que regulamenta essas duas formas de participação popular. Iniciativa Popular Iniciativa Popular é uma forma da população se reunir para criar uma Lei sem a iniciativa de um representante eleito. Para isso, o projeto de lei precisa ter a assinatura de pelo menos 1% do eleitorado nacional e 0,3% do eleitorado de pelo menos 5 estados. Após conseguir essa adesão, o projeto precisa ser analisado no Congresso Nacional, votado, aprovado e sancio- nado pelo Presidente da República. Quem pode/deve votar no Brasil? O parágrafo primeiro do artigo 14 da Constituição, elenca quem pode e/ou deve votar no Brasil. Primeiramente, sabemos que votar é obrigatório para quem tem mais de 18 anos. O voto só é facultativo para as seguintes pessoas: - Analfabetos; - Maiores de setenta anos; - Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Além disso, um detalhe importante: não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório (Exército, Aeronáutica e Marinha), os conscritos. Quem pode se eleger no Brasil Já falamos sobre os direitos políticos dos eleitores. Agora vamos passar para os candidatos. Quais são os critérios para se eleger num cargo público no Brasil? Primeiro, existem cinco critérios básicos, indispensáveis: 1. Nacionalidade Brasileira 2. O pleno exercício dos Direitos Políticos (há casos de pessoas com direitos políticos cassados, por cometimento de crimes, por exemplo) 3. O alistamento eleitoral (registro do título de eleitor) 4. O domicílio eleitoral na circunscrição (você não pode se candidatar fora da cidade/estado onde você vota) 5. A filiação partidária Além desses elementos básicos, temos a questão da idade, que é muito comum ser cobrada em concursos públi- cos. A idade mínima para se eleger nos diversos cargos públicos é a seguinte: - Trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; - Trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; - Vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; - Dezoito anos para Vereador. No caso do militar, há uma diferença sobre sua elegibilidade. Caso ele queira concorrer a um cargo público, deve considerar o seguinte: - Se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; - Se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pelaautoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. Finalizando, lembre-se que são inelegíveis os inalistáveis (quem não pode votar, por qualquer motivo) e os anal- fabetos. Parentes de políticos podem se eleger? Essa é uma pegadinha muito comum nas questões de Direitos Políticos. Você já ouviu falar em nepotismo? Entenda o conceito: 43 Direito Constitucional A prática pela qual um agente público usa de sua posição de poder para nomear, contratar ou favorecer um ou mais parentes. Fonte: CGU A Constituição Federal, porém, fala de uma prática diferente, mas que pode ser confundida em uma pegadinha. Trata-se da inelegibilidade de parentes de ocupantes de alguns cargos do Poder Executivo: São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Fonte: CF/88 – Art 14 – § 7º Agora você não se confunde mais com essa armadilha. Condição de Militar O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber: I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O quadro abaixo serve como exemplo: Militares – Exceto os Conscritos Menos de 10 anos Registro da candidatura → Inatividade Mais de 10 anos Registro da candidatura → Agregado Na diplomação → Inatividade Privação dos Direitos Políticos De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos dependerá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alistamento eleitoral. Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifestação do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão. Vejamos: Privação dos Direitos Políticos Perda Suspensão Privação por prazo indeterminado Privação por prazo determinado Restabelecimento dos direitos políticos depende de um novo alistamento eleitoral Restabelecimento dos direitos políticos se dá automaticamente Alguns detalhes importantes Chegando ao final do conteúdo de Direitos Políticos propriamente dito, segue alguns detalhes que você deve ficar atento na sua prova. 1. Os ocupantes de cargos no Poder Executivo poderão ser reeleitos para um único período subsequente; 2. Para concorrerem a outros cargos, os chefes do executivo devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito; 3. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de 15 dias contados da diplomação, caso haja provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. 44 Direito Constitucional Memorize... Características do Voto O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre.6 6 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. 45 Direito Constitucional (B) Pode se candidatar a Vice-Presidente da República o brasileiro naturalizado, maior de 35 anos, filiado a partido político e em pleno exercício dos direitos políticos. (C) A perda e a suspensão dos direitos políticos são vedadas pela Constituição Federal. (D) A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, aplicando-se, contudo, apenas às eleições seguintes à sua vigência. (E) O alistamento eleitoral é vedado ao estrangeiro, mas, adquirida a nacionalidade brasileira, o alistamento passa a ser permitido, cumpridas as demais condições. GABARITO 01.D / 02.A / 03.D / 04.D / 05.E PARTIDOS POLÍTICOS A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF. Vejamos: CAPÍTULO V DOS PARTIDOS POLÍTICOS Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1°É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) § 2° Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. § 3°Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) QUESTÕES 01. (TRE/PA – Analista Judiciário – IBFC/2020) A Constituição Federal (CF/88) traz algumas condições de elegibilidade. Assinale a alternativa que não apresenta uma das condições de elegibilidade estabelecidas pela CF: (A) Nacionalidade brasileira (B) Alistamento eleitoral (C) Pleno exercício dos direitos políticos (D) A idade mínima de dezoito anos para deputado estadual 02. (Prefeitura de Mauriti/CE – Advogado – CEV-URCA/2019) Em relação aos direitos políticos, o analfabeto: (A) Vota facultativamente, mas é inelegível. (B) Vota obrigatoriamente e é elegível para cargos municipais. (C) Vota facultativamente e é elegível para cargos municipais. (D) Vota obrigatoriamente, mas é inelegível. (E) Vota facultativamente e é elegível para quaisquer cargos. 03. (Câmara de Curitiba/PR – Analista Legislativo – UFPR/2020) A respeito dos direitos políticos previstos na Constituição, é correto afirmar: (A) O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios a partir dos 16 anos, e facultativos para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os maiores de quatorze e menores de dezesseis anos. (B) Entre as condições de elegibilidade para presidente e vice-presidente da República está a idade mínima de quarenta e cinco anos. (C) São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o quarto grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentrodos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. (D) São inelegíveis, independentemente de outros critérios de elegibilidade, os inalistáveis e os analfabetos. (E) O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de trinta dias contados da eleição, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. 04. (Prefeitura de Aracruz/CE – Auditor de Controle Interno – IBADE/2019) Acerca dos direitos políticos previstos na Constituição, é certo que o voto é: (A) obrigatório para os maiores de 16 (dezesseis) anos. (B) obrigatório para os maiores de 70 (setenta) anos. (C) facultativo para os maiores de 14 (quatorze) anos. (D) facultativo para os analfabetos. (E) proibido para aqueles que não comprovem auferir renda fixa mensal de, pelo menos, um salário-mínimo. 05. (Câmara de Mauá/SP – Procurador Legislativo – VUNESP/2019) Sobre os direitos políticos fundamentais, assinale a alternativa correta. (A) O alistamento eleitoral é obrigatório para as pessoas entre 18 e 60 anos; sendo facultativo para os menores de 18 anos, maiores de 60 e analfabetos. 46 Direito Constitucional § 4° É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. § 5° Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) § 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) § 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) Alguns aspectos a destacar... De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o partido político é uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de governo. Os partidos políticos podem ser conceituados como associações de pessoas com ideologias e interesses co- muns que se propõem a organizar, coordenar e instru- mentalizar a vontade popular com o fim de assumir o poder e realizar seu plano de governo, ou ainda exercer influência sobre a orientação política do país por meio de uma organização estável. Em outras palavras, os partidos políticos são organi- zações de pessoas que se reúnem em torno de um mes- mo programa político com a finalidade de assumir e manter o poder, ou no mínimo influenciar a gestão da coisa pública por meio de oposição. É uma forma de representação de poder político que é orientada pelos valores políticos e sociais de um grupo. Qual a função de um partido político? Além de representar uma forma de pensamento po- lítico, os partidos são formados para garantir o acesso democrático aos cargos políticos e para garantir que o sistema de democracia representativa seja respeitado. A democracia representativa é a forma de exercício políti- co em que os cidadãos votam em políticos que serão os seus representantes. A função de um partido foi definida no art. 1º da Lei dos Partidos Políticos (lei nº 9.096/95). Veja: Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representati- vo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Como funciona um partido político O partido é um grupo organizado, que deve ter re- gras de funcionamento e princípios ideológicos defini- das. O modo de funcionamento e as regras internas de- vem ser definidas em um estatuto, que precisa ser apro- vado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também é preciso fazer um programa, que é é o documento que explica quais são os princípios e objetivos políticos. Liberdade de organização partidária Dentre as regras constitucionais pertinentes aos par- tidos políticos está a liberdade de organização parti- dária. Conforme art. 17 da Constituição, é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos. Essa liberdade, porém, não é absoluta. Devem ser resguardados necessariamente a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana. Além disso, devem ser observados o caráter nacio- nal dos partidos políticos, incluindo a proibição de rece- bimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes; a prestação de contas à Justiça Eleitoral e o funcionamento parla- mentar de acordo com a lei. É vedada também a utiliza- ção pelos partidos políticos de organização paramilitar. Os partidos políticos também contam com autono- mia para definir sua estrutura interna e estabelecer re- gras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento, e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias. Dos estatutos partidários devem constar as normas referente à fidelidade e disciplina partidária, inclusive com a previsão de sanções, como a advertência ou ainda a expulsão do partido, mas nunca a perda do mandato, que ocorre somente em hipóteses constitucionais taxa- tivas (art. 15). O Supremo Tribunal Federal suspendeu, em cará- ter liminar, regra da Lei nº 9.504/1997 conhecida como “candidatura nata”. Essa regra assegurava aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura que estiver em curso, o registro de candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados (art. 8º, § 1º, da Lei). Segundo a Corte, a regra ofende o princípio da au- tonomia dos partidos políticos, bem como a igualdade entre os detentores de mandatos eletivo e os demais membros dos partidos. 47 Direito Constitucional ATENÇÃO: Ao artigo 17 foram incluídos pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022, os parágrafos 7º e 8º. Vejamos do que trata esses parágrafos: § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. § 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas,deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário. A Emenda Constitucional nº 117/202, promulgada em 05/04/2022, versou sobre os seguintes temas: • manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres; • cota de gênero e campanha eleitoral (financiamento e tempo de propaganda); • situação dos partidos que não observaram a cota de gênero até a edição da emenda. Vamos aqui analisar os dois primeiros pontos. MANUTENÇÃO DE PROGRAMAS DE PROMOÇÃO E DIFUSÃO DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES Partidos devem destinar pelo menos 5% dos recursos do Fundo Partidário para participação das mulheres na política Em 2009, foi editada a Lei nº 12.034, que inseriu o inciso V no art. 44 da Lei nº 9.096/95 obrigando os partidos políticos a destinar pelo menos 5% do total de recursos do Fundo Partidário em programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, “o incentivo à presença feminina na política constitui ação afirmativa necessária, legítima e urgente que visa promover e integrar as mulheres na vida político-partidária brasileira, dando-lhes oportunidades de se filiarem às legendas e de se candidatarem, de modo a se garantir a plena observância ao princípio da igualdade de gênero.” (CTA - Consulta nº 060407534 - BRASÍLIA – DF - Acórdão de 19/04/2018 - Relator(a) Min. Jorge Mussi - Publicação: DJE - Diário da justiça eletrônica, Tomo 185, Data 14/09/2018). Importante destacar que essa obrigação legal é atualmente regulamentada pelo art. 22, da Resolução TSE 23.604/2019: Art. 22. Os órgãos partidários devem destinar, no mínimo, 5% (cinco por cento) do total de recursos do Fundo Partidário recebidos no exercício financeiro para criação ou manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. (...) § 3º O partido político que não cumprir o disposto no caput deve transferir o saldo para conta bancária de que trata o inciso IV do art. 6º, sendo vedada sua Constituição e natureza jurídica dos partidos po- líticos A constituição dos partidos políticos consolida-se com a aquisição da personalidade jurídica. Conforme a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973), os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos serão inscritos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A Lei nº 9.096/1995, que dispõe sobre partidos polí- ticos, estabelece que o requerimento do registro de par- tido político deve ser dirigido ao cartório competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas da Capital Federal (Brasília). O art. 7º desta Lei, reproduzindo o que diz o art. 17, § 2º, da Constituição, estabelece que, após adquirir per- sonalidade jurídica na forma da lei civil, o partido político deve registrar seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral. O ato do TSE que analisa pedido de registro parti- dário, conforme STF, não tem caráter jurisdicional, mas natureza meramente administrativa. Logo, não cabe interposição de Recurso Extraordinário contra a decisão daquele Tribunal que negar o registro. Uma vez constituídos e registrados no TSE, os parti- dos políticos passam a fazer jus à imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “c”, da Constituição. Importante ressaltar que o registro do estatuto junto ao TSE não dá ao partido político natureza de pessoa jurídica de direito público, sempre criada por meio de lei. Portanto, os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado. Logo, o início de sua personalidade jurídica e da sua existência legal, conforme determina o Código Civil, ini- cia-se com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro (art. 45 e 985 do Código). Lei dos Partidos Políticos O funcionamento dos partidos políticos é regula- mentado pela lei nº 9.096/95, que define regras sobre: - criação, organização, funcionamento e extinção dos partidos; - definição de programas de governo e do estatuto; - forma de filiação partidária; - contabilidade e prestação de contas partidárias; - Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário). O TSE tem a Resolução nº 23.465/15 que também estabeleceu as normas sobre: - forma de criação e registro dos partidos; - fusão, incorporação e extinção de partidos; - programas e estatutos. A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos, uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização de organização paramilitar. Desligamento de partido Pela disposto no § 6º, o desligamento do partido pelo qual tenha sido eleito provocará a perda do mandato, SALVO, as hipóteses previstas em lei ou em casos que haja a anuência do partido. 48 Direito Constitucional aplicação para finalidade diversa, de modo que o saldo remanescente deve ser aplicado dentro do exercício financeiro subsequente, sob pena de acréscimo de 12,5% (doze inteiros e cinco décimos por cento) do valor previsto no caput, a ser aplicado na mesma finalidade (art. 44, § 5º, da Lei nº 9.096/95). § 4º Na hipótese do § 3º, o partido fica impedido de utilizar qualquer dos valores mencionados para finalidade diversa. § 5º A aplicação de recursos a que se refere este artigo, além da contabilização em rubrica própria do plano de contas aprovado pelo TSE, deve estar comprovada mediante a apresentação de documentos fiscais em que conste expressamente a finalidade da aplicação, vedada a comprovação mediante o rateio de despesas ordinárias, tais como água, luz, telefone, aluguel e similares. (...) E o que fez a Emenda Constitucional nº 117/2022? Embora com uma redação mais sucinta, a Emenda atribuiu status constitucional à previsão legal já existente que obriga os partidos a destinar 5% dos recursos do Fundo Partidário para programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. Vejamos o quadro comparativo: Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) CF/88 com redação dada pela EC 117/2022 Art. 44. Os recursos oriundos do Fundo Partidário serão aplicados: V - na criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, criados e executados pela Secretaria da Mulher ou, a critério da agremiação, por instituto com personalidade jurídica própria presidido pela Secretária da Mulher, em nível nacional, conforme percentual que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por cento) do total; Art. 17 (...) § 7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) O art. 44, V, da Lei nº 9.096/95 continua em vigor? SIM. Nesse caso, o que a EC 117/2022 fez foi apenas constitucionalizar uma obrigação já existente na legislação infraconstitucional. Como decorrência disso, a partir da entrada em vigor da EC 117/2022, a destinação obrigatória de 5% dos recursos do Fundo Partidário para programas de incentivo à participação das mulheres não pode mais ser suprimida pelo legislador infraconstitucional. COTA DE GÊNERO E AS CAMPANHAS ELEITORAIS (FINANCIAMENTO E TEMPO DE PROPAGANDA) Em que consiste a cota de gênero? A cota de gênero está prevista no art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/97, e consiste na obrigação de o partido reservar, pelo menos, 30% de candidaturas para cada sexo. Vejamos: Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 100% (cem por cento) do número de lugares a preenchermais 1 (um). (...) § 3º Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo. É possível que o partido faça o registro de candidaturas apenas do sexo feminino? NÃO. Segundo o dispositivo legal supramencionado, deve haver, no mínimo, 30% de candidatos de cada sexo, masculino ou feminino. Assim, não é possível o registro de candidatos apenas do sexo masculino e o inverso também é verdadeiro, ou seja, não é possível o registro de candidatos somente do sexo feminino. E como é feito o financiamento dessas campanhas eleitorais? É proibido que pessoas jurídicas de direito privado façam doações para partidos e candidatos, de forma que as empresas não podem participar do financiamento de campanhas eleitorais. Logo, o financiamento das campanhas atualmente é feito de dois modos: a) por doações de pessoas naturais; b) com os recursos públicos que são transferidos aos partidos pelo Fundo Partidário e pelo Fundo Especial de Financiamento de Campanha - FEFC. 49 Direito Constitucional Principais diferenças entre FEFC e Fundo Partidário FEFC FUNDO PARTIDÁRIO Fundo Especial de Financiamento de Campanha Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos Previsto nos arts. 16-C e 16-D da Lei nº 9.504/97. Previsto nos arts. 38 a 44-A da Lei nº 9.096/95. Constituído por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente: I - ao definido pelo TSE, a cada eleição, com base nos parâmetros definidos em lei; II - ao percentual do montante total dos recursos da reserva específica a programações decorrentes de emendas de bancada estadual impositiva, que será encaminhado no projeto de lei orçamentária anual. Constituído por: I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas; II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei; III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédio de depósitos bancários diretamente na conta do Fundo Partidário; IV - dotações orçamentárias da União. Destina-se a custear os gastos eleitorais previstos no art. 26 da Lei nº 9.504/97. Embora também possa ser utilizado para campanhas eleitorais, tem por finalidade primordial assegurar a manutenção dos partidos políticos, custeando as despesas previstas no art. 44 da Lei nº 9.096/95. Como é feita a distribuição desses recursos para os candidatos? Cabe à direção do partido deliberar sobre a forma de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do FEFC aos seus candidatos, respeitados os parâmetros estabelecidos em resoluções editadas pelo TSE. Existe alguma regra específica para o financiamento de candidaturas femininas? SIM. Vamos entender com calma. Em 2015, foi editada a Lei nº 13.165, que, em seu art. 9º, exigiu que os partidos políticos destinem, no mínimo 5% e no máximo 15% do total de recursos do Fundo Partidário para o financiamento das campanhas eleitorais de candidatas (candidaturas de mulheres). Veja: Art. 9º Nas três eleições que se seguirem à publicação desta Lei, os partidos reservarão, em contas bancárias específicas para este fim, no mínimo 5% (cinco por cento) e no máximo 15% (quinze por cento) do montante do Fundo Partidário destinado ao financiamento das campanhas eleitorais para aplicação nas campanhas de suas candidatas, incluídos nesse valor os recursos a que se refere o inciso V do art. 44 da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995. A Procuradoria-Geral da República ajuizou ADI contra este art. 9º da Lei nº 13.165/2015. O argumento da PGR foi, em síntese, o seguinte: - o art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/97 (que vimos acima), exige que, pelo menos 30% das candidaturas nas eleições proporcionais, sejam do sexo feminino. - por outro lado, o art. 9º da Lei nº 13.165/2015, de forma menos protetiva, fala que as candidaturas femininas serão financiadas com, no máximo 15% do Fundo Partidário; - o limite máximo de 15% produz mais desigualdade e menos pluralismo da definição das posições de gênero. “Se não há limites máximos para financiamento de campanhas de homens, não se podem fixar limites máximos para as mulheres”, afirma. Quanto ao limite mínimo, enfatiza que o patamar de 5% dos recursos para as candidatas protege de forma deficiente os direitos políticos das mulheres. - na ação, a PGR defendeu que o princípio da proporcionalidade só seria atendido se o percentual de recursos a serem destinados para as candidaturas femininas fosse também de 30% dos recursos do Fundo Partidário. Isso porque, neste caso, haveria uma equiparação com o patamar mínimo de candidaturas femininas do art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/97. O STF concordou com os argumentos. Se o partido adotar o piso de 5% significa que, na prática, a agremiação partidária irá destinar às candidaturas masculinas 95% dos recursos do Fundo Partidário. Por outro lado, mesmo que o partido adote o teto de 15%, nesta hipótese os recursos destinados às candidaturas masculinas será de 85%. Não existem justificativas para essa diferenciação. Os partidos políticos, mesmo gozando de autonomia partidária, devem respeitar os direitos fundamentais a partir da concepção da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Assim, é preciso que, no âmbito dos partidos políticos, sejam asseguradas medidas de igualdade material entre homens e mulheres. O fato de os recursos partidários terem um caráter público reforça a obrigação de que sua distribuição não seja discriminatória. Diante disso, o STF afirmou que esses limites do art. 9º da Lei nº 13.165/2015 são inconstitucionais. Conforme decidiu a Corte, os recursos destinados à campanha eleitoral devem ser distribuídos na exata proporção das candidaturas de ambos os sexos. Ex: se houver 40% de mulheres candidatas, 40% dos recursos devem ser destinados a elas. 50 Direito Constitucional Vale ressaltar, no entanto, que esse percentual é de, no mínimo, 30%, considerando que o percentual de mulheres candidatas em cada partido é de, no mínimo, 30%. Assim, o STF decidiu: Dar interpretação conforme a Constituição ao art. 9º da Lei nº 13.165/2015, de modo a equiparar o patamar legal mínimo de candidaturas femininas (hoje o do art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97, isto é, ao menos 30% de cidadãs), ao mínimo de recursos do Fundo Partidário a lhes serem destinados, que deve ser interpretado como também de 30% do montante do Fundo alocado a cada partido, para as eleições majoritárias e proporcionais, e fixar que, havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o mínimo de recursos globais do partido destinados a campanhas lhe seja alocado na mesma proporção. STF. Plenário. ADI 5617/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 15/3/2018 (Info 894). Outro ponto importante é que o STF declarou a inconstitucionalidade da previsão de que a regra do art. 9º da Lei nº 13.165/2015 iria durar apenas por três anos. Explicando melhor. A redação do art. 9º previa que a regra de destinação de recursos partidários para as campanhas de mulheres iria durar apenas por três eleições. O STF decidiu que isso é inconstitucional. Como o STF afirmou que o percentual mínimo de recursos para as campanhas de mulheres deve seguir a mesma regra do art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97 (no mínimo, 30%), a Corte entendeu que não deveria haver a fixação de um prazo determinado, já que essa regra de 30% também não tem um período certo. Assim, essa previsão mínima de 30% dos recursos para as campanhas de mulheres deverá perdurar enquanto existir a regra do art. 10, § 3º. Desse modo, o STF decidiu: Declarar a inconstitucionalidade da expressão “três”, contida no art. 9º da Lei nº 13.165/2015. STF. Plenário. ADI 5617/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 15/3/2018 (Info 894). A decisão do STF versou apenas sobre o Fundo Partidário. E como ficou o FEFC? Deverá seguir o mesmo raciocínio. A distribuição do FEFC entre os candidatostambém deve guardar proporcionalidade com o número de candidaturas femininas. Foi o que decidiu o TSE (sem grifos no original): (...) 9. Embora circunscrito o objeto da ADI 5617 à distribuição dos recursos partidários que veio a ser fixada por meio da Lei nº 13.165/2015, os fundamentos então esposados transcendem o decidido naquela hipótese, considerada, em especial, a premissa de que “a igualdade entre homens e mulheres exige não apenas que as mulheres tenham garantidas iguais oportunidades, mas também que sejam elas empoderadas por um ambiente que lhes permita alcançar a igualdade de resultados”. Aplicável, sem dúvida, a mesma diretriz hermenêutica; “ubi eadem ratio ibi idem jus”, vale dizer, onde houver o mesmo fundamento, haverá o mesmo direito. (...) 11. Se a distribuição do Fundo Partidário deve resguardar a efetividade do disposto no art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97, no sentido de viabilizar o percentual mínimo de 30% de candidaturas por gênero, consoante decidiu a Suprema Corte ao julgamento da ADI 5617, com maior razão a aplicação dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) - cuja vocação é, exclusivamente, o custeio das eleições - há de seguir a mesma diretriz (CTA 0600252- 18.2018.6.00.0000 - Consulta nº 060025218 - BRASÍLIA – DF - Acórdão de 22/05/2018 - Relator(a) Min. Rosa Weber - Publicação: DJE - Diário da justiça eletrônica, Tomo 163, Data 15/08/2018). A cota de gênero também deve ser observada na distribuição do tempo de propaganda eleitoral entre os candidatos? SIM. O TSE, ao responder a mesma consulta e com idênticas razões de decidir utilizadas pelo STF na ADI 5617, também consignou que o partido, ao fazer a distribuição do tempo de propaganda eleitoral entre seus candidatos, deveria observar essa mesma regra, reservando percentual de tempo proporcional ao número de candidaturas femininas. Vejamos (sem grifos): 12. No tocante ao tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, consabido não haver disposição normativa expressa que balize a sua distribuição em termos de percentual de gênero. A despeito disso, a carência de regramento normativo que imponha a observância dos patamares mínimos previstos no art. 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97 à distribuição do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão não obstaculiza interpretação extraída a partir de preceitos constitucionais que viabilizem a sua implementação. 13. Consoante magistério de Inocêncio Mártires Coelho, com apoio em Niklas Luhmann, Friedrich Müller e Castanheira Neves: “não existe norma jurídica, senão norma jurídica interpretada, vale dizer, preceito formalmente criado e materialmente concretizado por todos quantos integram as estruturas básicas constituintes de qualquer sociedade pluralista. [...] O teor literal de uma disposição é apenas a ‘ponta do iceberg’; todo o resto, talvez o mais importante, é constituído por fatores extralinguísticos, sociais e estatais, que mesmo se o quiséssemos não poderíamos fixar nos textos jurídicos, no sentido da garantia da sua pertinência.” (LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. México: Herder/Universidad Iberoamericana, 2005, p. 425-6; MÜLLER, Friedrich. Métodos de Trabalho do Direito Constitucional. Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 45; e NEVES, A. Castanheira. Metodologia Jurídica. Problemas fundamentais. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1993, p. 166-76.) 51 Direito Constitucional 14. Aplica-se, no ponto, a mesma ratio decidendi adotada pela Suprema Corte na ADI 5617, com prevalência ao direito à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF) e à igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF) (CTA 0600252-18.2018.6.00.0000 - Consulta nº 060025218 - BRASÍLIA – DF - Acórdão de 22/05/2018 - Relator(a) Min. Rosa Weber - Publicação: DJE - Diário da justiça eletrônica, Tomo 163, Data 15/08/2018). E o que fez a Emenda Constitucional nº 117/2022? Incluiu o §8º ao art. 17, da Constituição Federal, que espelha as mesmas regras já definidas pelo STF e pelo TSE para distribuição de recursos públicos e tempo de propaganda para candidaturas femininas. Vejamos: Art. 17 (...) § 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) Ainda de acordo com a redação do novo dispositivo constitucional, é importante ressaltar que a obrigação do partido estará cumprida com a destinação do percentual mínimo de recursos para candidaturas femininas, não se exigindo que esse percentual seja dividido igualitariamente entre as candidatas. Assim, é possível que uma determinada candidata, em relação a qual o partido entende que tem maiores chances, possa receber mais recursos e tempo de propaganda que outra, desde que observados os critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção do partido e pelas normas estatutárias. O novo § 8º do art. 17 da CF/88, acima transcrito, fala em “propaganda”. Qual é o tipo de propaganda a que se refere o dispositivo? A propaganda política é gênero que abrange duas espécies: PROPAGANDA POLÍTICA PROPAGANDA PARTIDÁRIA PROPAGANDA ELEITORAL A propaganda partidária se presta à difusão dos princípios ideológicos, atividades e programas dos partidos políticos. Sua finalidade é a de angariar eleitores e cidadãos que simpatizem com os ideais do partido. Nessa modalidade, é vedada a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos (Art. 50-B, §4º, II, LPP) A propaganda eleitoral é aquela que se realiza antes de certame eleitoral e objetiva, basicamente, a obtenção de votos, tornando-se instrumento de convencimento do eleitor, que pode, por seu intermédio, ampliar seu conhecimento sobre as convicções de cada candidato ou partido, fazendo a escolha que mais lhe convier. É regulada pela Lei nº 9.096/95. É regida pela Lei nº 9.504/97. Veiculada fora do período eleitoral (Art. 50-B, §3º, LPP) Veiculada a partir de 15 de agosto do ano da eleição (Art. 36, LE) Feita essa distinção, vamos agora ler novamente o dispositivo inserido pela EC 117/2022: § 8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse partidário. Observe que o dispositivo faz menção a tempo de propaganda “a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas”, o que nos leva à conclusão de que se trata de propaganda eleitoral, tendo em vista que a propaganda partidária, além de ocorrer fora do período eleitoral, não permite a divulgação de candidatos. E como fica a propaganda partidária? O partido estaria desobrigado de promover a participação política das mulheres? NÃO. Como dito, a propaganda partidária não veicula propaganda de candidatos, mas a difusão das ideias, princípios, atividades e programas partidários, com o objetivo de atrair simpatizantes. Dentre essas finalidades, uma delas é justamente a promoção e a difusão da participação política das mulheres, dos jovens e dos negros, conforme prevê o art. 50-B, da Lei dos Partidos Políticos: Art. 50-B. O partido político com estatuto registrado no Tribunal Superior Eleitoral poderá divulgar propaganda partidária gratuita mediante transmissãono rádio e na televisão, por meio exclusivo de inserções, para: (...) V - promover e difundir a participação política das mulheres, dos jovens e dos negros. A Resolução TSE nº 23.679/2022, que regulamenta a propaganda partidária, prevê, inclusive, destinação mínima de tempo de propaganda para essa finalidade, em percentual idêntico ao mencionado pela Emenda Constitucional: 52 Direito Constitucional Resolução TSE 23.679/2022 Art. 3º (...) § 1º Do tempo total a que, nos termos do art. 2º desta Resolução, o partido político fizer jus, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser destinados à promoção e à difusão da participação política das mulheres. Assim, embora não seja contemplada pela Emenda Constitucional, remanesce a obrigação do partido de destinar 30% do tempo de propaganda partidária para promoção e difusão da participação política das mulheres, com fundamento nos dispositivos legais supracitados.7 QUESTÕES 01. (TCE/MG – Analista Contábil de Controle Externo – CESPE/2018) De acordo com a Constituição Federal de 1988, é assegurada a todos os partidos políticos (A) a utilização de organização paramilitar. (B) a recepção de recursos financeiros de entidade estrangeira, desde que declarados. (C) a obtenção de recursos do fundo partidário para custear o acesso a rádio e televisão. (D) a aquisição de personalidade jurídica na forma da lei civil. (E) a vinculação entre candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. 02. (ALESE – Técnico Legislativo em Taquigrafia – FCC/2018) Consoante às disposições relativas aos partidos políticos, a Constituição Federal estabelece: (A) Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Supremo Tribunal Federal. (B) É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento, devendo, no entanto, seus estatutos estabelecer normas de disciplina partidária. (C) É livre a criação de partidos políticos de caráter regional. (D) É permitido aos partidos políticos o recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros, desde que prestem contas ao Tribunal Superior Eleitoral, na forma da lei. (E) É permitida a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. 03. (Prefeitura de Petrolina - Guarda Civil – IDIB Órgão/2019) De acordo com a Constituição Federal, assinale a alternativa incorreta acerca dos direitos políticos e partidos políticos: (A) São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. (B) A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor no exercício seguinte em que tiver sido publicada. (C) Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. (D) São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. (E) Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. 04. (PGM – João Pessoa/PB – Procurador – CESPE/2018) De acordo com a CF, os partidos políticos são (A) pessoas jurídicas de direito público às quais é vedado o recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros. (B) pessoas jurídicas de direito público às quais é assegurada autonomia para definir sua estrutura interna e para estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios. (C) pessoas jurídicas de direito público às quais é assegurada autonomia para adotar critérios de escolha e regime de suas coligações nas eleições majoritárias, desde que observada vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. (D) pessoas jurídicas de direito privado às quais é assegurada autonomia para adotar critérios de escolha e regime de suas coligações nas eleições majoritárias, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. (E) pessoas jurídicas de direito privado às quais é permitido o recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiro, nos termos da lei. 7 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora JusPODIVM. / DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. / www.direitoconstitucional.blog.br/www.todapolitica. com/ https://www.dizerodireito.com.br – Por Márcio André Lopes Cavalcante - Robério Moreira Borges 53 Direito Constitucional 4. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA. NORMAS PROGRAMÁTICAS. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL. CONTROLES DIFUSO E CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE: ADI, ADC, ADPF E RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. Aplicabilidade das normas constitucionais Não há dúvidas que a Constituição de um Estado deve ser interpretada, função esta atribuída ao exege- ta que buscará o real significado dos termos e normas constitucionais. A relevância de tal mister se revela, principalmente, pelo fato de as normas infraconstitucionais derivarem desta estrutura básica e central que é a norma cons- titucional. Assim, a interpretação deverá levar em consi- deração todo o sistema e, em caso de eventual antino- mia (contradição) de normas, buscar-se-á a conciliação do conflito valendo-se de uma interpretação sistemática orientada pelos princípios constitucionais. Fato é que o processo de interpretação das normas constitucionais é tarefa permanente, exercida precipua- mente pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que busca harmonizar os conceitos da realidade social, política, econômica e ideológica, com os fins efetivamente visa- dos pelo legislador constituinte. Este processo de ade- quação da realidade histórica com a norma constitucio- nal é que permite manter a contemporaneidade das Leis, principalmente a da Lei Maior, que é a nossa Constitui- ção. Enfim, a “renovação de entendimento” promovida através da aplicação da Lei aos casos concretos, como por exemplo, a definição do alcance de competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização de- correntes de acidente de trabalho: instaurado o conflito de competência - definida esta por norma constitucional - coube ao STF definir o alcance da norma, através da percepção do real intento do legislador que promoveu alteração na Carta Magna através da competente Emen- da Constitucional. O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais é essencial à correta interpretação da Constituição Federal. É a compreensão da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitirá entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constituição. Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas são imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jurídicos: o que varia entre elas é o grau de eficácia. A doutrina americana (clássica) distingue duas espécies de normas constitucionais quanto à aplicabilidade: as normas autoexecutáveis (“self executing”) e as normas não-autoexecutáveis. As normas autoexecutáveis são normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementação. São normas completas, bastantes em si mesmas. Já as normas não-autoexecutáveis dependem de complementação legislativaantes de serem aplicadas: 05. (Câmara de Orlândia/SP – Procurador – VUNESP/2018) Sobre os Partidos Políticos, a Constituição Federal estabelece: (A) É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, facultada a sua celebração nas eleições proporcionais, com obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (B) Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral e no Tribunal Regional Eleitoral respectivo. Uma vez registrado, é facultada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar. (C) Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 10% (dez por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 7% (sete por cento) dos votos válidos em cada uma delas. (D) Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que tiverem elegido pelo menos 17 Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (E) Ao eleito por partido que não obteve, nas eleições para a Câmara dos Deputados, o mínimo de 3% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da Federação, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma delas ou não tiver elegido pelo menos 15 Deputados Federais distribuídos em pelo menos 1/3 das unidades da Federação é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. GABARITO 01.D / 02.B / 03.B / 04.D / 05.E 54 Direito Constitucional são as normas incompletas, as normas programáticas (que definem diretrizes para as políticas públicas) e as normas de estruturação (instituem órgãos, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). Embora a doutrina americana seja bastante didática, a classificação das normas quanto à sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. José Afonso da Silva. A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em três grupos: → normas de eficácia plena; → normas de eficácia contida; → normas de eficácia limitada. Normas de eficácia plena, contida e limitada Normas de eficácia plena São aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. É o caso do art. 2º da CF/88, que diz: “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. As normas de eficácia plena possuem as seguintes características: a) são autoaplicáveis, é dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido. Isso não quer dizer que não possa haver lei regulamentadora versando sobre uma norma de eficácia plena; a lei regulamentadora até pode existir, mas a norma de eficácia plena já produz todos os seus efeitos de imediato, independentemente de qualquer tipo de regulamentação; b) são não-restringíveis, ou seja, caso exista uma lei tratando de uma norma de eficácia plena, esta não poderá limitar sua aplicação; c) possuem aplicabilidade direta (não dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é promulgada a Constituição) e integral (não podem sofrer limitações ou restrições em sua aplicação). Normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva São normas que estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulgação da Constituição, mas que podem ser restringidas por parte do Poder Público. Cabe destacar que a atuação do legislador, no caso das normas de eficácia contida, é discricionária: ele não precisa editar a lei, mas poderá fazê-lo. Um exemplo clássico de norma de eficácia contida é o art.5º, inciso XIII, da CF/88, segundo o qual “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Em razão desse dispositivo, é assegurada a liberdade profissional: desde a promulgação da Constituição, todos já podem exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão. No entanto, a lei poderá estabelecer restrições ao exercício de algumas profissões. Citamos, por exemplo, a exigência de aprovação no exame da OAB como pré- requisito para o exercício da advocacia. As normas de eficácia contida possuem as seguintes características: a) são autoaplicáveis, ou seja, estão aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de lei regulamentadora. Em outras palavras, não precisam de lei regulamentadora que lhes complete o alcance ou sentido. Vale destacar que, antes da lei regulamentadora ser publicada, o direito previsto em uma norma de eficácia contida pode ser exercitado de maneira ampla (plena); só depois da regulamentação é que haverá restrições ao exercício do direito; b) são restringíveis, isto é, estão sujeitas a limitações ou restrições, que podem ser impostas por: - uma lei: o direito de greve, na iniciativa privada, é norma de eficácia contida prevista no art. 9º, da CF/88. Desde a promulgação da CF/88, o direito de greve já pode exercido pelos trabalhadores do regime celetista; no entanto, a lei poderá restringi-lo, definindo os “serviços ou atividades essenciais” e dispondo sobre “o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade”. - outra norma constitucional: o art. 139, da CF/88 prevê a possibilidade de que sejam impostas restrições a certos direitos e garantias fundamentais durante o estado de sítio. - conceitos ético-jurídicos indeterminados: o art. 5º, inciso XXV, da CF/88 estabelece que, no caso de “iminente perigo público”, o Estado poderá requisitar propriedade particular. Esse é um conceito ético-jurídico que poderá, então, limitar o direito de propriedade; c) possuem aplicabilidade direta (não dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos), imediata (estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento em que é promulgada a Constituição) e possivelmente não-integral (estão sujeitas a limitações ou restrições). Normas constitucionais de eficácia limitada São aquelas que dependem de regulamentação futura para produzirem todos os seus efeitos. Um exemplo de norma de eficácia limitada é o art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores públicos (“o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica”). Ao ler o dispositivo supracitado, é possível perceber que a Constituição Federal de 1988 outorga aos servidores públicos o direito de greve; no entanto, para que este possa ser exercido, faz-se necessária a edição de lei ordinária que o regulamente. Assim, enquanto não editada essa norma, o direito não pode ser usufruído. As normas constitucionais de eficácia limitada possuem as seguintes características: a) são não-autoaplicáveis, ou seja, dependem de complementação legislativa para que possam produzir os seus efeitos; b) possuem aplicabilidade indireta (dependem de norma regulamentadora para produzir seus efeitos) mediata (a promulgação do textoconstitucional não é suficiente para que possam produzir todos os seus efeitos) e reduzida (possuem um grau de eficácia restrito quando da promulgação da Constituição). 55 Direito Constitucional Normas programáticas José Afonso da Silva subdivide as normas de eficácia limitada em dois grupos: a) normas declaratórias de princípios institutivos ou organizativos: são aquelas que dependem de lei para estruturar e organizar as atribuições de instituições, pessoas e órgãos previstos na Constituição. É o caso, por exemplo, do art. 88, da CF/88, segundo o qual “a lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública.” As normas definidoras de princípios institutivos ou organizativos podem ser impositivas (quando impõem ao legislador uma obrigação de elaborar a lei regulamentadora) ou facultativas (quando estabelecem mera faculdade ao legislador). O art. 88, da CF/88, é exemplo de norma impositiva; como exemplo de norma facultativa citamos o art. 125, § 3º, CF/88, que dispõe que a “lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual”; b) normas declaratórias de princípios programáticos: são aquelas que estabelecem programas a serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional. Um exemplo é o art. 196 da Carta Magna (“a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”). Cabe destacar que a presença de normas programáticas na Constituição Federal é que nos permite classificá-la como uma Constituição-dirigente. É importante destacar que as normas de eficácia limitada, embora tenham aplicabilidade reduzida e não produzam todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição, possuem eficácia jurídica. Guarde bem isso: a eficácia dessas normas é limitada, porém existente! Diz-se que as normas de eficácia limitada possuem eficácia mínima. Diante dessa afirmação, cabe-nos fazer a seguinte pergunta: quais são os efeitos jurídicos produzidos pelas normas de eficácia limitada? As normas de eficácia limitada produzem imediatamente, desde a promulgação da Constituição, dois tipos de efeitos: → efeito negativo; → efeito vinculativo. O efeito negativo consiste na revogação de disposições anteriores em sentido contrário e na proibição de leis posteriores que se oponham a seus comandos. Sobre esse último ponto, vale destacar que as normas de eficácia limitada servem de parâmetro para o controle de constitucionalidade das leis. O efeito vinculativo, por sua vez, se manifesta na obrigação de que o legislador ordinário edite leis regulamentadoras, sob pena de haver omissão inconstitucional, que pode ser combatida por meio de mandado de injunção ou Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão. Ressalte-se que o efeito vinculativo também se manifesta na obrigação de que o Poder Público concretize as normas programáticas previstas no texto constitucional. A Constituição não pode ser uma mera “folha de papel”; as normas constitucionais devem refletir a realidade político- social do Estado e as políticas públicas devem seguir as diretrizes traçadas pelo Poder Constituinte Originário. Controle de Constitucionalidade É a atividade de fiscalização da validade e conformidade das leis e atos do Poder Público à vista de uma Constituição rígida, desenvolvida por um ou vários órgãos constitucionalmente designados. É, em síntese, um conjunto de atos tendentes a garantir a supremacia formal da Constituição. Controle Preventivo: Comissões de Constituição e Justiça e Veto Jurídico Momento do Controle de Constitucionalidade Quanto ao momento, o controle de constitucionalidade pode ser preventivo (a priori) ou repressivo (a posteriori). No Controle Preventivo, fiscaliza-se a validade do projeto de lei com o fim de se evitar que seja inserida no ordenamento jurídico uma norma incompatível com a Constituição. Pode ser realizado por todos os Poderes da República. Controle Repressivo do Poder Legislativo No caso do Controle Repressivo, fiscaliza-se a validade de uma norma já inserida no ordenamento jurídico. Procura-se expurgar do Direito Posto norma que contraria formal e/ou materialmente o texto constitucional, seu fundamento de validade. Pode, também, ser realizado pelos três Poderes da República, bem assim pelo Tribunal de Contas da União. Controle Repressivo do Poder Judiciário: o Controle Difuso ou Aberto A legitimação ativa no controle difuso é ampla, uma vez que qualquer das partes (autor e réu) poderá levantar a questão constitucional, bem assim o membro do Ministério Público que oficie no feito ou, ainda, o próprio magistrado de ofício. Competência do Controle Difuso No âmbito do controle difuso, qualquer juiz ou tribunal do País dispõe de competência para declarar a inconstitucionalidade das leis e dos atos normativos. No entanto, quando o processo chega às instâncias superiores, um órgão fracionário do tribunal não possui esta competência (princípio da reserva de plenário, prescrito no Artigo 97, da CF). Repercussão Geral Efeitos da Decisão A princípio, pode-se afirmar que os efeitos da decisão em controle difuso de constitucionalidade realizado por juízes monocráticos e tribunais, inclusive o próprio STF, são inter partes (alcançando apenas o autor e o réu), e ex tunc (não retroativos). 56 Direito Constitucional Contudo, em se tratando especificamente de julgamento de recurso extraordinário (RE) pelo STF, deve-se observar qual o regime a que se submete, se anterior ou posterior ao requisito da repercussão geral da matéria constitucional guerreada (Artigo 102, § 3º, da CF). Recurso Extraordinário Se o RE é anterior à exigência da repercussão geral, os efeitos da decisão proferida nesta ação seguirão a regra geral, vale dizer, serão inter parte e ex tunc. No entanto, ainda haverá a possibilidade da extensão dos efeitos da decisão a terceiros não integrantes da relação jurídico-processual primitiva, por meio da suspensão da execução da lei pelo Senado Federal, nos termos do Artigo 52, X, da CF. De outra banda, se o julgamento do RE obedece à sistemática trazida pelo regime da repercussão geral, a decisão passa a produzir eficácia erga omnes (alcançando todos que se encontram na mesma situação jurídica). Como a Constituição Federal (Artigo 102, § 3º) passa a exigir do recorrente a demonstração da repercussão geral das questões constitucionais discutidas, vale dizer, que o interesse da demanda transcenda os meros interesses particulares, nada mais razoável que a questão constitucional guerreada, alcance efeitos extra partes. Nesse contexto, as razões de decidir do STF que levaram à declaração de inconstitucionalidade da lei transcendem às partes envolvidas para assumir uma eficácia generalizada – erga omnes, independentemente de Resolução do Senado. É o que se denomina transcendência dos motivos determinantes da decisão no controle difuso de constitucionalidade. Súmula Vinculante As decisões proferidas pelo STF no controle difuso de constitucionalidade não são dotadas de força vinculante em relação ao Poder Judiciário, tampouco perante a Administração Pública. No intuito de conferir autoridade às decisões relevantes do Pretório Excelso, a Emenda Constitucional nº 45/2004 criou a figura da Súmula Vinculante, nos termos do Artigo 103-A, da CF: Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na formaestabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. Requisitos para aprovação de uma Súmula Vinculante Quórum de 2/3 dos membros do STF (mínimo de oito ministros); Reiteradas decisões sobre matéria constitucional; Controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a Administração Pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica - ADI ou ADIN A Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica – ADI, ou, tão somente, Ação Direta de Inconstitucionalidade, tem por fim retirar do ordenamento jurídico uma lei ou ato normativo federal ou estadual que desrespeita a Constituição Federal. Legitimação Ativa Podem propor ADI um dos legitimados pela Constituição Federal enumerados no Artigo 103, I ao IX: Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 57 Direito Constitucional O quadro abaixo traz dicas para memorização de tal legitimação: Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade 3 autoridades → Presidente da República, Governadores, PGR 3 mesas → Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesas das Assembleias Legislativas 3 instituições → Conselho Federal da OAB, partido político com representação no Congresso Nacional, confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional Objeto Por força de determinação constitucional, podem ser objeto de ADI, leis e atos normativos federais e estaduais (Artigo 102, I, a, da CF). Podem ser objeto de ADI Emendas constitucionais de reforma, emendas constitucionais de revisão, tratados internacionais equipados às emendas, leis ordinárias, leis complementares, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções, tratados internacionais não equiparados às emendas, decretos autônomos, regimentos internos dos tribunais, Constituições Estaduais e Lei Orgânica do Distrito Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC A Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC foi criada pela Emenda Constitucional nº 3/1993, no intuito de se outorgar a certos legitimados (Artigo 103, I a IX, da CF), o poder de requerer ao STF o reconhecimento da constitucionalidade de uma norma federal, para encerrar, definitivamente, relevante controvérsia judicial sobre sua validade, haja vista que a decisão do STF nessa ação produzirá eficácia erga omnes e efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Legitimação Ativa Podem propor ADC os mesmos legitimados da ADI (Artigo 103, I ao IX, da CF). Objeto A ADC só se presta para a aferição da constitucionalidade de leis e atos normativos federais (Artigo 102, I, a, da CF). Não se admite, em sede de ADC, a aferição da constitucionalidade de normas estaduais, distritais e municipais. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF Determina a Constituição Federal que a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) será apreciada pelo STF, na forma da lei (Artigo 102, § 1º). A expressão “na forma da lei” demonstra tratar-se de uma norma constitucional de eficácia limitada, no caso, definidora de princípio institutivo, que foi regulamentada pela Lei nº 9.882/99. Legitimação Ativa Poderão impetrar a ADPF os mesmos legitimados para propositura da ADI (Artigo 103, I a IX, da CF). Objeto De acordo com o Artigo 1º, da Lei nº 9.882/99, será cabível a ADPF em três hipóteses distintas, a saber: a) para evitar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público (ADPF autônoma preventiva); b) para reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público (ADPF autônoma repressiva); c) diante de relevante controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição Federal de 1988 (ADPF incidental). Conceito de Preceito Fundamental Apesar de não haver um delineamento objetivo do que sejam preceitos fundamentais, tarefa que cabe à Suprema Corte, a doutrina identifica como preceitos fundamentais na Constituição: a) os princípios fundamentais do Título I (Artigos 1º ao 4º); b) os direitos e garantias fundamentais (espalhados por todo o texto constitucional); c) os princípios constitucionais sensíveis (Artigo 34, VII); d) as cláusulas pétreas (Artigo 60, § 4º); e) as limitações materiais implícitas. 58 Direito Constitucional Modalidades de ADPF Da leitura do Artigo 1º, da Lei nº 9.882/99, percebemos a existência de duas modalidades de ADPF: a) arguição autônoma (com natureza de ação, que tem por fim evitar ou reparar lesão a preceito fundamental); b) arguição incidental (que pressupõe a existência de uma ação original). Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO é medida que tem por fim tornar efetivas, certas normas constitucionais, por meio do reconhecimento da inconstitucionalidade da omissão do legislador infraconstitucional quanto ao seu dever de regulamentar dispositivos constitucionais (Artigo 103, § 2º, da CF). Nessas circunstâncias, um dos legitimados (Artigo 103, I ao IX, da CF) poderá propor ADO perante o STF, para que reconheça a inconstitucionalidade da mora do órgão encarregado de regulamentar determinadas normas constitucionais. A hipótese mais comum de inconstitucionalidade por omissão é a da não edição de ato legislativo necessário à plena eficácia da norma constitucional. Nada obsta, contudo, a possibilidade da própria Constituição exigir direta e imediatamente a tomada de medidas administrativas concretas necessárias à sua inteira efetividade, exigíveis independentemente da edição de leis, o que não impede a impetração da aludida ação em face da ausência do ato administrativo regulamentador. Legitimação Ativa Podem propor a ADO os mesmos legitimados à propositura da ADI (Artigo 103, I a IX, da CF). Objeto De igual forma à ADI, na ADO só poderão ser impugnadas omissões do legislador federal e estadual quanto ao seu dever constitucional de legislar, bem assim do Distrito Federal, desde que referente ao exercício de atribuição estadual. As omissões de órgãos municipais não se sujeitam à impugnação por meio da ADO perante o STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva No Brasil, a regra é o exercício da plena autonomia de um ente federado. No entanto, a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderá ser temporariamente afastada, nas hipóteses excepcionais em que a Constituição Federal admite o processo de intervenção de um ente federativo sobre outro. Atêm dificultado essas reformas indispensáveis para a retira do grilhão partidário. Assuntos que deveriam ser tratados pela legislação ordinária foram colocados na Constituição, recebendo grau de hierarquia superior. Essa falta de bom senso acaba por burocratizar ou obstar mudanças necessárias. É o que ocorre, por exemplo, com a determinação, pela Constituição da inimputabilidade penal (art. 228). A consequência da formalidade da Constituição é a seguinte: passa-se a identificar no ordenamento jurídico a hierarquia; os princípios e preceitos constitucionais se tornam objeto de análise ou paradigma do controle de cons- titucionalidade; o processo de modificação das leis constitucionais é mais rígido que as leis infraconstitucionais; a Constituição passa a ter força normativa, podendo ser aplicada diretamente aos casos concretos; não existe hierarquia interna na Constituição; todas as leis e demais atos normativos e concreto devem reverência aos princípios e preceitos constitucionais; a estrutura do Estado, suas características devem ser nela determinadas. O sentido material de Constituição que realmente se trata de conteúdo. Explico. Ante a sua função estruturante do Estado e de seus fins, determinados princípios e preceitos são indispensáveis, formam um núcleo essencial, esse núcleo essencial que denominamos de Constituição em sentido material. Nem todas regras essenciais de um Estado constam na Constituição Formal. Por isso que se diz que, materialmente, há normas constitucionais fora da Constitui- ção. Todavia, para efeito de controle de constitucionalidade, tal ideia não pode ser levada em conta em sua integrali- dade – somente se estivermos diante do denominado bloco de constitucionalidade. Mesmo que sejam regras essenciais, mas se tiverem fora da Constituição Formal, não poderão ser paradigma para a análise de constitucionalidade das demais leis. No caso, o termo “material” possui sinonímia com o termo “substan- cial”. Alguns doutrinadores fazem a diferente entre esses termos. Consideram que material seria a Constituição que efetivamente rege o Estado, ou seja, os fatores reais de poder. Substancial, todavia, seria o núcleo essencial, o que uma Constituição deveria ter por conteúdo para assim ser considerada. Sentido Político e Sentido Sociológico Nesta relação de Constituição Formal e Constituição Material, podemos seguir com o sentido político de Cons- tituição. Essa concepção teve por precursor Carl Schmitt, que em seu livro Teoria da Constituição dispôs que o que existe como magnitude política é juridicamente considerada digno de existir. Vejamos que a declaração tem total 5 Direito Constitucional relação com a Constituição em sentido material, já que se refere às decisões políticas fundamentais, ou seja, as que determinam a estrutura de um Estado. Por isso que é possível distinguir em uma Constituição Formal quais estão inseridas em seu contexto que podem efetivamen- te ser consideradas “leis constitucionais”, e quais outras possuem apenas esse status. Sob o aspecto ou sentido sociológico, a maior refe- rência foi Ferdinand Lassalle, um teórico socialista, polí- tico e escritor alemão. Teceu o livro denominado “O que é uma Constituição? ”. Extrai-se de sua obra que a verda- deira Constituição deriva dos fatores reais de poder: po- líticos, econômicos, sociais, religiosos, etc. Dessa forma, a Constituição que não tiver relação com esses fatores será uma mera “folha de papel”. Podermos extrair que a denominada “Classificação” dada às Constituições é vista conforme o ângulo es- tudado pelos precursores. Não podemos dizer que há classificação equivocada ou mesmo inútil. Para a Teoria da Constituição, a Classificação Constitucional é assunto inerente ao seu objeto, por isso indispensável para quem se debruça nas fontes criadoras e motivos históricos, po- líticos, formais, ideológicos e econômicos de criação de uma Constituição. Substancialmente as classificações têm nítido teor de desenvolvimento e sedimentação de ideias evolutivas. A classificação ontológica de Constituição, por exemplo, se extrai da relação entre o poder e os di- tames constitucionais, ou seja, da implicação existente entre eles. O precursor foi Karl Loewenstein, filósofo e cientista político alemão, nascido em Munique, em 09 de novembro de 1891, falecendo em 10 de julho de 1973. Ressaltemos, Karl Loewenstein foi um dos principais pre- cursores do Constitucionalismo Moderno. A classificação de constituição por ele desenvolvida foi denominada ontológica justamente para relacionar a implicação en- tre Constituição e o Poder Político. Como explicado, se fundamentava na verificação do uso que os detentores do poder faziam da Constituição Ontologia é o conhe- cimento do ser. Aplicada tal nomenclatura à Teoria da Constituição, o intuito é verificar a verdadeira efetividade da Constituição, ou seja, o seu ser com regra geral fun- damental e efetiva. Assim, buscou-se por essa classificação, sua substan- cialidade enquanto Constituição, a sua força normativa. Indispensável seria fazer uma análise pormenorizada da distancia, ou curto espaço de implicação entre o Poder e os ditames constitucionais. Tal classificação ao fazer tal distanciamento o fez em três tipos: a) Constituição Normativa. Normativo é aquilo que tem força de regra, ou seja, do que é efetivamente obedecido. Entende-se por Constituição Normativa aquela efetiva; ela determina o exercício do poder, obrigando todos a sua submissão. É aquela que efetivamente cumpre o seu papel, tendo uma implicação de encaixe entre o Poder Político e suas re- gras. Assim, vincula todo o processo político do Estado, sendo respeitada, efetivamente, por todos os Poderes de Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário, além dos fato- res reais que em tese comandariam os direcionamentos das políticas estatais. Resumindo: é a Constituição que é efetivamente aceita e aplicada, que normatiza o exercí- cio do poder e obriga realmente a todos; b) Constituição Nominal ou Nominativa. Entende-se por Constituição Nominal aquela igno- rada pela prática do poder. Lassale a chamava de “folha de papel”, que é ignorada pelos governantes, embora tente regular o poder, passa longe disso. Enfim, é aquela que, apesar de jurídica e formalmente existente, não é respeitada, não é efetiva – ocorre quando os poderes constituídos ignoram sua supremacia, não cumprindo seus preceitos; c) Constituição semântica. É aquela que serve para justificar a dominação da- queles que exercem o poder político. Ela sequer tenta regular o poder. Numa visão ontológica, constituição se- mântica seria aquela utilizada pelos dirigentes do Estado para sua permanência no poder, havendo um desvirtua- mento da finalidade constitucional: em vez de a Consti- tuição limitar a ação dos Governantes em benefício dos indivíduos, seu verdadeiro fim, seria utilizada por estes para a manutenção do próprio poder. Classificação quanto à forma Apenas para robustecer o entendimento, faremos breve análise da classificação da Constituição quanto à forma. No que se refere à forma, a Constituição se clas- sifica em: a) Escrita (ou positiva), que é aquela codificada e sistematizada num texto único, escrito, elaborado por um órgão constituinte, encerrando todas as normas ti- das como fundamentais sobre a estrutura do Estado, a organização dos poderes constituídos, seu modo de exercício e limites de atuação, e os direitos fundamentais (políticos, individuais, coletivos, econômicos e sociais). b) Não escrita (ou costumeira, ou consuetudinária), que é aquela Constituição cujas normas não constam de um documento único e solene, mas se baseia principal- mente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos. Classificação quanto à ideologia Alguns autores adotaram a classificação conforme a ideologia, para identificar constituições que se alinha- vam a uma ideologia socioeconômica específica, negan- do outras influências, comorepresentação interventiva, também denominada de Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (Artigo 36, III, da CF), é a ação destinada a aferir legitimidade ao processo de intervenção, que pode ocorrer em duas hipóteses constitucionais: a) ofensa aos princípios constitucionais sensíveis (Artigo 34, VII, da CF); b) recusa à execução de lei federal (Artigo 34, VI, da CF). Nestas duas situações, a intervenção federal dependerá de provimento pelo Supremo Tribunal Federal de representação interventiva proposta pelo procurador-geral da República. A Lei nº 12.562/2011, veio regulamentar o inciso III do Artigo 36 da CF, dispondo sobre o processo e julgamento da representação interventiva perante o Supremo Tribunal Federal. Reclamação Constitucional A fim de garantir a autoridade da decisão proferida pelo STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, a Excelsa Corte admite o ajuizamento de reclamação, nos termos do Artigo 102, I, “l” , da CF (competência originária do STF), desde que o ato judicial que se alega tenha desrespeitado a decisão do STF não tenha sido transitado em julgado Para se ter um exemplo da amplitude da perspectiva do instituto da reclamação, havendo efeito vinculante perante até mesmo a Administração Pública, temos sustentado a possibilidade de ajuizamento de Reclamação em face de ato de Prefeito que contraria decisão proferida pelo STF com caráter vinculante. Nessa linha de ampliação do instituto da reclamação, destacamos o Artigo 103-A, § 3º, da CF (já disposto aqui anteriormente). Natureza Jurídica do Instituto da Reclamação Trata-se a reclamação de verdadeiro exercício constitucional de direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra a ilegalidade ou abuso de poder (Artigo 5º, XXXIV, a, da CF). Assim, a reclamação nada mais é do que um instrumento de caráter mandamental e natureza constitucional.8 QUESTÕES 01. (Prefeitura de São José do Rio Preto/SP – Auditor Fiscal Tributário Municipal – FCC/2019) Acerca do controle de constitucionalidade no direito brasileiro, (A) compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo- lhe processar e julgar, originariamente a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. (B) cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos exclusivamente estaduais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. (C) somente pelo voto de 2/3 de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. (D) não haverá violação da cláusula de reserva de plenário quando a decisão de órgão fracionário de Tribunal afastar a incidência de lei ou ato normativo do poder público, no todo ou em parte, desde que não declare expressamente a sua inconstitucionalidade. 8 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucio- nal e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora JusPODIVM. / DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier./www.tecnolegis.com/www.jus. com.br/www.professorlfg.jusbrasil.com.br/www.tecnolegis.com/www.jus.com. br/www.professorlfg.jusbrasil.com.br/http://webcache.googleusercontent.com/ search?q=cache:j3AAnRpJ4j8J:www.estrategiaconcursos.com.br/curso/main/ downloadPDF/%3Faula%3D188713+&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br 59 Direito Constitucional (E) as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. 02. (TJ/MA – Oficial de Justiça – FCC/2019) No que concerne ao Controle de Constitucionalidade no direito brasileiro, (A) no sistema concentrado de controle se permite a todo e qualquer juiz ou tribunal o reconhecimento da inconstitucionalidade de uma norma e, consequentemente, a sua não aplicação ao caso concreto levado a seu conhecimento. (B) declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente e à Administração Pública para fazê-lo em cento e oitenta dias. (C) quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Procurador-Geral da República, que defenderá o ato ou texto impugnado. (D) o Defensor Público da União deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal. (E) poderá propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade, dentre outros, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. 03. (TRT/6R/PE – Analista Judiciário – FCC/2018) No que tange à disciplina do controle de constitucionalidade no Direito Brasileiro, (A) não é exigida a pertinência temática, como requisito de legitimação, para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. (B) quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de lei ou ato normativo, citará, previamente, o Procurador-Geral da República, que defenderá o ato ou texto impugnado. (C) o autor de uma ação direta de inconstitucionalidade poderá desistir de seu prosseguimento, desde que o faça até a intimação do Procurador-Geral da República. (D) o Ministro da Justiça pode ajuizar ação direta de inconstitucionalidade contra lei que autoriza a prática de eutanásia. (E) não há previsão legal de medida liminar na ação de descumprimento de preceito fundamental. 04. (FAPESP – Procurador – VUNESP/2018) A respeito das ações de controle de constitucionalidade no direito brasileiro, é correto afirmar que (A) a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental pode ser utilizada para o controle preventivo de constitucionalidade e para normas anteriores à Constituição vigente. (B) não cabe a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental para desafiar veto de Prefeito contra projeto de lei municipal que entendeu ser inconstitucional. (C) não é cabível a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão quando houver lei disciplinando a matéria ainda que de forma insuficiente. (D) da decisão que indeferir a petição inicial da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão não caberá recurso. (E) na Ação Direta de Inconstitucionalidade o STF fica vinculado ao pedido inicial, não podendo proclamar a inconstitucionalidade por fundamento diverso do alegado. 05. (MPE/PR – Promotor – MPE/PR/2019) Sobre o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, é correto afirmar: (A) O Supremo Tribunal Federal admite o controle judicial do processo legislativo em nome do direito subjetivo do parlamentar de impedir que a elaboração dos atos normativos incida em desvios constitucionais, exercendo, então, controle preventivo de constitucionalidade. (B) O controle incidental é sempre de natureza concreta. (C) O controle principal é sempre de natureza abstrata. (D) Os órgãos legislativos de qualquer dos níveis de poder têm competência para anular ou declarar a nulidade de atos normativos por eles expedidos, atribuindo caráter retroativo à sua manifestação. (E) O Superior Tribunal de Justiça, a exemplo dos demais órgãos jurisdicionais de qualquer instância, pode declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de lei no julgamento de recurso especial, desde que a questãotenha sido suscitada e resolvida pela instância ordinária. GABARITO 01.E / 02.E / 03.A / 04.B / 05.B 5. REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS: HABEAS DATA, HABEAS CORPUS, MANDADO DE SEGURANÇA, AÇÃO POPULAR E MANDADO DE INJUNÇÃO. As ações constitucionais, também conhecidas por remédios constitucionais, ou remédios jurídicos, são instrumentos previstos no ordenamento jurídico brasileiro que deveriam ser de conhecimento de todos os cidadãos do nosso país. Isso porque são mecanismos que garantem aos cidadãos os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal quando o Estado não cumpre seu dever, seja por despreparo, ilegalidade ou abuso de poder. Como será demonstrado no decorrer deste artigo, cada remédio constitucional tem suas especificidades, tais como legislação e ritos próprios. Vale lembrar que a terminologia “remédios constitu- cionais” é uma construção doutrinária e não legal, pois a legislação contempla cada remédio com nome especí- fico. Dito isso, passaremos à análise de cada um desses remédios, que a saber são: habeas corpus; habeas data; mandado de segurança; mandado de injunção, ação popular e ação civil pública. 60 Direito Constitucional HABEAS CORPUS O habeas corpus — previsto na Constituição de 1988 — trata-se de um dos remédios constitucionais, como são chamados instrumentos que visam a garantir algum direito fundamental do indivíduo. Ele pode ser acionado sempre que alguém sofrer ou se sentir ameaçado de sofrer violência, ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abu- so de poder. É o que diz o inciso LXVIII do artigo 5º da Constituição. Em outras palavras, o habeas corpus é uma forma de prevenir ou anular a prisão arbitrária, feita por motivos outros que não o estrito cumprimento da lei. O Código de Processo Penal, entre os artigos 647 e o 667, estabelece praticamente tudo o que diz respeito a este remédio constitucional. O habeas corpus tem origem na antiga common law inglesa, ainda no século XII. Hoje está presente nos or- denamentos jurídicos de diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, boa parte da Europa, Paquistão e Filipinas. HABEAS CORPUS PREVENTIVO E L IBERATÓ- RIO O habeas corpus pode ter duas formas, concedido em duas situações distintas: Habeas corpus preventivo: quando ainda existe apenas uma ameaça ao direito. Nesse caso, qualquer pessoa física que se achar ameaçada de sofrer lesão a seu direito de locomoção tem direito de fazer um pedido de habeas corpus. Essa pessoa é chamada de “paciente” no processo. O acusado de ferir seu direito é denomina- do “coator”. Habeas corpus liberatório: é o tipo mais comum, usado depois que o cidadão já teve sua liberdade res- tringida, por exemplo, por prisão preventiva. Se o tribu- nal ou juiz considerar que a prisão não tem justificativa, ou possui alguma ilegalidade, a pessoa é solta. QUEM PODE PEDIR HABEAS CORPUS? As leis brasileiras garantem que qualquer cidadão pode impetrar uma petição de habeas corpus. Para fa- zer isso, basta elaborar o documento contendo o nome da pessoa que sofreu a coação ou ameaça, a espécie de constrangimento sofrida ou as razões pelas quais se sen- te ameaçado e a assinatura (tudo isso está no Código de Processo Penal, Art. 654, § 1o). É um direito tão amplamente garantido que até a presença de um advogado é dispensável (ainda que pos- sa ser desejável). O Ministério Público também se encar- rega de elaborar pedidos de habeas corpus em favor de cidadãos. A própria Constituição garante que as ações de habeas corpus são gratuitas. E ainda tem mais: o habeas corpus não é um recurso que protege o cidadão apenas da prisão. Esse recurso pode ser usado em diversas outras situações. Confira quais no vídeo abaixo, produzido pela Advocacia-Geral da União (AGU): QUEM JULGA HABEAS CORPUS? A competência de julgar um habeas corpus é da au- toridade judiciária hierarquicamente superior àque- la que determinou a coação. No caso de Temer, por exemplo, quem determinou sua prisão — ou seja, o coa- tor da ação — foi o Juiz Federal Marcelo Bretas. Superior a um Juiz Federal, na hierarquia do Poder Judiciário, está o Tribunal Regional Federal (TRF). Por isso o habeas cor- pus do ex-presidente foi julgado por um TRF. Quando o coator da ação for Tribunal Superior, por outro lado, compete julgar o habeas corpus o Supremo Tribunal Federal (STF). O STF também julga habeas cor- pus de Presidente e Vice-presidente da República, Minis- tros de Estado e membros do Congresso Nacional, por exemplo. HABEAS DATA O habeas data é uma ação que visa garantir o aces- so de uma pessoa a informações sobre ela que façam parte de arquivos ou bancos de dados de entidades go- vernamentais ou públicas. Também pode pedir a corre- ção de dados incorretos. O habeas data tem o seu fundamento legal no artigo 5º da Constituição Federal e na Lei 9.507, de 12 de no- vembro de 1997. O habeas data é um remédio constitucional, previs- to no artigo 5º, inciso LXXII, destinado a assegurar que um cidadão tenha acesso a dados e informações pes- soais que estejam sob posse do Estado brasileiro, ou de entidades privadas que tenham informações de caráter público. Ou seja, é o direito de saber o que o governo sabe (ou afirma saber) sobre você. Ele também pode ser acionado para corrigir dados pessoais que estejam inexatos. O habeas data surgiu no ordenamento jurídico bra- sileiro com a Constituição de 1988. Foi inspirado pelas legislações de Portugal, Espanha e Estados Unidos, que desde os anos 1970 passaram a incluir o direito de cida- dãos acessarem dados pessoais em bancos de entida- des governamentais. Segundo Arnoldo Wald e Rodrigo Fonseca, a inclusão do habeas data na Constituição foi motivada por um fator político: o Sistema Nacional de Informações (SNI), banco de dados mantido pelo regime militar (1964-1985), reunia diversas informações sobre os cidadãos brasileiros. O remédio facilitou o acesso aos dados do SNI. QUEM PODE IMPETRAR UMA AÇÃO DE HABEAS DATA? É garantido a todo cidadão brasileiro o direito a requerer habeas data. A ação é gratuita, não são cobra- das custas judiciais. Mas o cidadão precisa acionar um advogado. É importante perceber também que o impe- trante pode apenas pedir acesso a seus próprios dados, e não de terceiros. Uma exceção a essa regra ocorre no caso de um cônjuge pedir a liberação de dados do par- ceiro falecido. Além disso, pessoas jurídicas também têm direito de ajuizar ações de habeas data. EM QUE CONDIÇÕES ALGUÉM PODE PEDIR UM HABEAS DATA? Segundo súmula do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o habeas data só é cabível se antes disso o cidadão solicitar o acesso a dados pessoais a um órgão público e esse órgão se negar a disponibilizar os dados. Sem essa recusa prévia, o pedido de habeas data é negado. Por conta disso, o cidadão precisa observar o rito estabelecido pela lei 9.507/97, que regula o habeas data. Antes de mais nada, a pessoa interessada deve apresen- tar um pedido de acesso aos dados para o órgão públi- 61 Direito Constitucional co, que por sua vez tem dois dias para analisar o pedido. Feita a análise, o cidadão é informado em 24 horas da decisão do órgão. Se recusado o requerimento, cabe o habeas data. Em casos de inexatidão de dados, o interessado deve fazer uma petição com documentos que comprovem o problema. Apresentada a petição, o órgão tem 10 dias para corrigir os dados inexatos e comunicar a correção para o requerente. COMO FUNCIONA UM PROCESSO DE HABEAS DATA? Digamos que você tenha pedido seus dados pes- soais a um órgão público e este se recusou a entregá-las. E agora, quais são os próximos passos? A primeira coisa que você deve fazer é elaborar uma petição inicial, que precisa cumprir os requisitos míni- mos (art. 319 do Código de Processo Civil), além de in- cluir provas. Essa petição precisa ser entregue em duas vias ao tribunal. O órgão processado (chamado de coa- tor) recebe uma dessas vias e tem 10 dias para prestaresclarecimentos. Após esse prazo, o Ministério Público deve se ma- nifestar em cinco dias e por fim, o juiz terá outros cin- co dias para proferir a sentença. Se aceito o pedido de habeas data, o juiz marcará uma data para que o órgão coator disponibilize os dados ao cidadão. E é assim que o habeas data garante, em questão de dias, o acesso aos dados solicitados. MANDADO DE SEGURANÇA Acima, aprendemos sobre o habeas corpus, cuja fun- ção é garantir a liberdade de locomoção de um indivíduo preso ou ameaçado de ser preso por alguma autoridade, e o habeas data, que garante o acesso de informações para os indivíduos. E o mandado de segurança? É simples: ele se destina a proteger o indivíduo de violação – ou ameaça de vio- lação – de outros direitos que não sejam protegidos por habeas corpus ou habeas data. Está previsto no artigo 5º, inciso LXIX da Constituição. Quais direitos seriam esses? A Constituição e a Lei 12.016 (que regulamenta o mandado de segurança) não especificam: apenas dizem que o direito deve ser líquido e certo. Segundo juristas como Hely Lopes Meirelles e Maria Helena Diniz, para ser considerado líquido e certo, o direito precisa ser claramente determinado, sem con- trovérsias e de forma que possa ser exercido imediata- mente. Ou seja, se o direito está expresso na lei, é líquido e certo. Pode ser: Mandado de segurança preventivo: O mandado de segurança preventivo é aquele pedido com fins de evitar uma ilegalidade. Para garantir que o direito se cumpra, o indivíduo entra com o mandado. Mandado de segurança repressivo: no caso de o ato ilegal já ter sido cometido pela autoridade pública, entra-se com a ação de mandado de segurança repressi- vo, para reprimir a injustiça cometida. QUEM PODE IMPETRAR UM MANDADO DE SEGURANÇA? Assim como todos os remédios constitucionais, o mandado de segurança pode ser acionado por qualquer cidadão que acredite que algum direito seu foi violado, ou que tenha motivos razoáveis para acreditar que seus direitos serão violados. Por outro lado, não é uma ação gratuita, tal como o habeas corpus e o habeas data. Além disso, o cidadão precisa acionar um advogado. Pessoas jurídicas também têm direito ao mandado de segurança. Outro detalhe do mandado de segurança é que ele pode ser acionado para proteger direitos individuais e coletivos. Por isso, é possível que um grupo de pes- soas entre com mandado de segurança para proteger um direito comum a todos eles que esteja sendo violado por uma autoridade pública – é o mandado de segu- rança coletivo. São exemplos de grupos autorizados a impetrar um mandado de segurança coletivo: partidos políticos; organizações sindicais; entidades de classe; e associações em funcionamento há mais de um ano. QUAIS AUTORIDADES ESTÃO SUJE ITAS A UM MANDADO DE SEGURANÇA? Para mandados de segurança, o conceito de autori- dade pública inclui não apenas os dirigentes de órgãos públicos, mas também os representantes de partidos políticos, administradores de autarquias e dirigentes de pessoas jurídicas que exerçam alguma função pública. Todos eles podem ser coatores (processados) em um mandado de segurança. Também é importante notar que, de acordo com Hely Lopes Meirelles, não é qualquer agente público que pode sofrer o mandado de segurança: é um instrumento voltado apenas àqueles com poder de fazer e desfazer atos dentro da administração pública (por isso o termo “autoridade”). COMO É O PROCESSO DE UM MANDADO DE SEGURANÇA? Caso esteja interessado em criar um mandado de segurança, é essencial saber de alguns detalhes impor- tantes. Primeiro: suponhamos que você soube hoje de um ato de uma autoridade pública que viola um direito líquido e certo seu. A partir de hoje, você terá 120 dias (cerca de quatro meses) para apresentar o mandado. De- pois disso, o direito a esse remédio é extinto. Segundo: é preciso que o impetrante (o cidadão que cria o mandado de segurança) inclua na petição inicial a demonstração de que o direito é realmente líquido e certo. Ou seja, devem ser apresentados documentos que demonstrem que a pessoa está tendo um direito violado. Um exemplo: se uma pessoa com deficiência é des- classificada de um concurso público porque a perícia afirma que ela não possui uma deficiência que lhe ga- rante o direito de concorrer a uma vaga de deficiente, é preciso apresentar no mandado de segurança os docu- mentos que atestem que essa deficiência de fato existe. Apresentado o mandado, o juiz notifica a autoridade coatora e o órgão em que ela trabalha, em um prazo de 10 dias. Nesse momento, se houver motivos razoáveis, o juiz pode conceder uma decisão liminar suspendendo o ato investigado. Os efeitos da liminar duram até o juiz proferir a sentença. Depois disso, o Ministério Público é chamado a se manifestar, novamente dentro de 10 dias. Finalmente, o juiz tem 30 dias para proferir a sentença. Esses prazos estão previstos na Lei 12.016. MANDADO DE INJUNÇÃO O mandado de injunção busca a regulamentação de uma norma da Constituição, quando os poderes competentes não o fizeram. O pedido é feito para ga- rantir o direito de alguém prejudicado pela omissão do poder público. 62 Direito Constitucional Como explica Herzeleide de Oliveira, a criação deste remédio constitucional foi uma tentativa de solucionar um problema de ordem prática. Antes de 1988, diversas normas constitucionais relacionadas à garantia de direi- tos sociais não tinham nenhuma efetividade. Apesar de assegurados com todas as letras em nossas cartas mag- nas, tais direitos não eram de fato implementados – e assim se tornavam letra morta. Em geral, essas normas se caracterizavam por ser genéricas – “programáticas“, no linguajar jurídico. Um exemplo desse tipo de norma é o inciso XX do art. 7º da Constituição que garante a “proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei”. Diante dessa realidade, e constatando-se que não existiam meios disponíveis para os cidadãos de exigir al- guma ação efetiva do Estado nessas questões, os cons- tituintes de 1988 inovaram e instituíram o mandado de injunção, inspirado em instrumentos de outros países, como o “juicio de amparo“, do México, e os “injunctions” ingleses. Esse remédio, portanto, procura garantir a efe- tividade de normas programáticas – e que o Estado não se omita em relação a elas. Na prática, o Supremo Tribunal Federal concede o mandado de injunção quando a pessoa ou grupo recla- mante exige a regulamentação de direitos constitucio- nais ainda não tratados em leis ordinárias, como o direi- to de greve dos servidores públicos. A regulamentação do mandado de injunção foi feita apenas em 2016, com a sanção da lei 13.300, que escla- rece questões como o alcance e a duração dos efeitos do remédio. QUAL O EFEITO PRÁTICO DE UM MANDADO DE INJUNÇÃO? Até 2007, o STF se limitava a declarar a omissão do Poder Legislativo em regulamentar certa norma relacio- nada a um direito garantido na Constituição. Ou seja, na prática não mudava muita coisa. Isso passou a mudar naquele ano, quando os ministros passaram a adotar o entendimento de que eles próprios deveriam dar algu- ma resposta ao caso concreto, passando a conceder à pessoa ou grupo reclamante as condições sob as quais elas poderiam finalmente exercer o direito – sem preci- sar esperar por tempo indeterminado por uma ação do Poder Legislativo. Retomando o exemplo do direito de greve dos servi- dores: até 2007, não havia nenhuma lei que regulamen- tasse as condições para que os servidores pudessem fazer greve. Por isso, vários sindicatos de servidores en- traram com mandado de injunção ao longo do tempo. A resposta do Supremo foi, além de declarar a omissão do Congresso Nacional, aplicar as mesmas regras da greve do setor privado ao setor público. A lei 13.300/2016 limita os efeitos do mandado ape- nas aos seus autores (os chamados impetrantes) e com duração apenas até o momento em que for sancionada uma norma queregulamente o termo. Mas os efeitos do mandado podem ser mais abrangentes se isso for “ine- rente ou indispensável ao exercício do direito”, segundo a lei. Para deixar ainda mais claro: o tribunal que recebe o mandado, constatando que a lei de fato tem uma lacuna em relação a determinado direito, concede uma garantia à pessoa que entrou com o mandado de injunção, que valerá – via de regra – apenas para ela e que deixará de existir quando o Poder Legislativo finalmente criar a lei que regulamenta o direito em questão. MANDADO DE INJUNÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVO Assim como o mandado de segurança, o mandado de injunção pode ser individual ou coletivo. O manda- do individual é feito por qualquer cidadão ou pessoa ju- rídica. Já o coletivo compete a alguns órgãos e entidades públicos: Ministério Público, partidos políticos, organiza- ções sindicais e a Defensoria Pública. O mandado de injunção, ao contrário de outros re- médios, não é gratuito e também precisa da assistência de advogado. AÇÃO POPULAR A ação popular permite ao cidadão recorrer à Justiça na defesa da coletividade para prevenir ou reformar atos lesivos cometidos por agentes públicos ou a eles equi- parados por lei ou delegação. Há também a possibilida- de de uma ação popular ser aberta quando a adminis- tração pública for omissa em relação a atos que deveria praticar. Todos os eleitores brasileiros, incluindo os menores de 18 anos, têm legitimidade para propor uma ação des- se tipo. Há, no entanto, a necessidade de se demonstrar a lesividade ou ameaça ao direito provocada pelo ato da administração pública ou pela omissão desta. Esse instrumento processual é regido pela Lei 4.717, de 29 de junho de 1965, com aplicação do Código de Processo Civil, somente naquilo que não contrarie as dis- posições da referida lei. A ação pode ser proposta para resguardar a moralidade administrativa, o meio ambien- te e o patrimônio público, histórico e cultural. Cabe uma ação popular, por exemplo, quando é considerado abu- sivo o reajuste sobre o salário de vereadores de determi- nada câmara municipal. O QUE É A AÇÃO POPUL AR? O inciso LXXIII do artigo 5º da Constituição descreve a ação popular como instrumento destinado à anulação de atos lesivos ao patrimônio público, à moralidade ad- ministrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó- rico e cultural. Ou seja, os cidadãos brasileiros podem propor uma ação popular sempre que considerarem que uma ação do poder público foi prejudicial a algum des- ses itens. O remédio é regulamentado pela Lei 4.717, de 1965. Segundo doutrinadores como Hely Lopes Meirelles e Alexandre de Moraes, a ação popular visa proteger di- reitos difusos, coletivos. Por isso, o maior beneficiário de uma ação popular não é a pessoa que a criou, e sim a população em geral. Ao contrário de ações como o habeas data e o mandado de injunção, que foram criados apenas na Constituição de 1988, a ação popular está presente no ordenamento jurídico brasileiro há muito tempo, mais precisamente desde 1824, quando foi criada a primeira constituição brasileira. AÇÃO POPUL AR PREVENTIVA Apesar de que a lei se refere à ação popular como um remédio a ser usado para anular atos já tomados, é possível usar esse instrumento de forma preventiva, evitando que o ato lesivo se concretize. Isso é possível no caso de ameaça de dano ao patrimônio cultural. Por exemplo: se algum órgão público determina que um prédio histórico tombado deve ser demolido, um cida- dão pode entrar com uma ação popular pedindo a sus- pensão desse ato, evitando que a demolição aconteça. 63 Direito Constitucional QUEM PODE PROPOR UMA AÇÃO POPU- L AR? A Constituição garante que qualquer cidadão pode ser parte de uma ação popular. Isso inclui todos os elei- tores, até mesmo os que possuem 16 ou 17 anos de ida- de. Além disso, é uma ação gratuita: o reclamante não precisa pagar custas judiciais, a não ser que seja com- provado que agiu de má fé. Também não precisa pagar os chamados honorários de sucumbência – a obrigação da parte vencida do processo em pagar os honorários do advogado da parte vencedora. Por outro lado, é obrigatória a contratação de um advogado, o que, na avaliação de Jeferson Marin e Ailor Brandelli, torna-se um obstáculo para que mais ações populares sejam feitas. QUEM DEVE JULGAR A AÇÃO POPUL AR? Segundo a lei, a ação popular deve ser julgada pelo juiz de primeiro grau do estado onde foi feito o ato questionado. O Supremo Tribunal Federal (STF), que julga outros remédios, tem competência originária ape- nas sobre ações populares cujas decisões possam causar conflitos entre os entes da federação brasileira (estados, municípios, Distrito Federal e União). Se o juiz aceita uma ação popular, o ato que foi ob- jeto da ação é invalidado e a instituição responsável por ele é condenada a pagar uma indenização. Se for com- provado que um ou mais funcionários públicos tiveram dolo ou culpa no ato, o Estado entra com uma ação de regresso para cobrar desses funcionários o pagamento da indenização. AÇÃO CIVIL PÚBLICA Regida pela Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, a Ação Civil Pública pode ser proposta pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, estados, municípios, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações interessadas, desde que constituídas há pelo menos um ano. Conforme a lei, a ação civil pública, da mesma for- ma que a ação popular, busca proteger os interesses da coletividade. Um dos diferenciais é que nela podem figurar como réus não apenas a administração pública, mas qualquer pessoa física ou jurídica que cause da- nos ao meio ambiente, aos consumidores em geral e a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turís- tico e paisagístico. Cabe uma ação pública, por exemplo, quando uma comunidade é atingida pelo rompimento de uma barra- gem. Nesse caso, os responsáveis podem ser condena- dos a reparar financeiramente os danos morais e mate- riais da coletividade atingida. Esse tipo de ação também pode ser movido com o objetivo de obrigar o réu a cor- rigir o ato praticado ou, no caso de omissão, a tomar determinada providência. A ação civil pública também é regida pelo Código de Processo Civil, mas somente naquilo que não contra- rie a Lei 7.347/1985. Em regra, esse instrumento proces- sual deve ser proposto no primeiro grau de jurisdição da Justiça Estadual ou Federal. Após a sentença, as partes poderão apresentar recursos ao segundo grau de juris- dição.9 9 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora JusPO- DIVM./www.politize.com.br QUESTÕES 01. (CGE/RN – Analista Contábil – IBFC/2019) No que se refere aos “remédios constitucionais”, assinale a alternativa incorreta: (A) conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (B) qualquer pessoa é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (C) o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados (D) conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania 02. (Prefeitura de Ji-Paraná/RO – Enfermeiro – IBADE/2018) No que tange aos remédios constitucionais, assinale a assertiva correta. (A) Qualquer cidadão é parte legítima para propor mandado de segurança que vise a anularato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. (B) Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. (C) Conceder-se-á habeas corpus para proteger direito líquido e certo, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública. (D) Conceder-se-á mandado de segurança para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. (E) Conceder-se-á habeas data sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 03. (UNIFAI – Procurador – VUNESP/2019) As ações constitucionais, também conhecidas por construção doutrinária como remédios constitucionais, fazem parte do grupo das garantias constitucionais e são: (A) o mandado de segurança, o mandado de injunção, o habeas data, o habeas corpus, a ação civil pública e a ação declaratória de inconstitucionalidade por omissão. (B) o mandado de segurança, o habeas data, a ação popular, o habeas corpus, a ação civil pública e a ação direta de inconstitucionalidade interventiva. (C) o mandado de segurança, o mandado de injunção, a ação popular, o habeas corpus, a ação civil pública e a ação direta de inconstitucionalidade interventiva. 64 Direito Constitucional (D) o mandado de segurança, o mandado de injunção, o habeas data, a ação popular, o habeas corpus e a ação civil pública. (E) o mandado de segurança, o mandado de injunção, o habeas data, a ação popular, o habeas corpus e a arguição de descumprimento de preceito fundamental. 04. (Prefeitura de Ita/SC- Fiscal de Tributos – AMAUC/2019) Sobre Direitos e Garantias Constitucionais, assinale a alternativa incorreta: (A) É garantido o direito a herança. (B) A propriedade atenderá a sua função social. (C) A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça ao direito. (D) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. (E) São admissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. 05. (Câmara de Aparecida D’ Oeste/SP – Procurador – JBO/2019) Os princípios constitucionais do Processo Civil dividem-se em algumas garantias, podemos definir a garantia de celebridade: (A) inafastabilidade da jurisdição; (B) duração razoável do processo; (C) publicidade dos atos processuais; (D) coisa julgada. GABARITO 01.B / 02.B / 03.D / 04.E / 05.B 6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO. ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS. Formas de Estado - Estado Unitário, Confederação e Federação A forma de Estado relaciona-se com o modo de exercício do poder político em função do território do Estado. Verifica-se no caso concreto se há, ou não, repartição regional do exercício de poderes autônomos, podendo ser criados, a partir dessa lógica, um modelo de Estado unitário ou um Estado Federado. Estado Unitário Também chamado de Estado Simples, é aquele dotado de um único centro com capacidade legislativa, administrativa e judiciária, do qual emanam todos os comandos normativos e no qual se concentram todas as competências constitucionais (exemplos: Uruguai, e Brasil Colônia, com a Constituição de 1824, até a Proclamação da República, com a Constituição de 1891). O Estado Unitário pode ser classificado em: a) Estado unitário puro ou centralizado: casos em que haverá somente um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Judiciário, exercido de forma central; b) Estado unitário descentralizado: casos em que haverá a formação de entes regionais com autonomia para exercer questões administrativas ou judiciárias fruto de delegação, mas não se concede a autonomia legislativa que continua pertencendo exclusivamente ao poder central. Estado Federativo – Federação Também chamados de federados, complexos ou compostos, são aqueles em que as capacidades judiciária, legislativa e administrativa são atribuídas constitucionalmente a entes regionais, que passam a gozar de autonomias próprias (e não soberanias). Nesse caso, as autonomias regionais não são fruto de delegação voluntária, como ocorre nos Estados unitários descentralizados, mas se originam na própria Constituição, o que impede a retirada de competências por ato voluntário do poder central. O quadro abaixo facilita este entendimento. Vejamos: Formas de Estado Unitário Único centro de onde emana o poder estatal Puro Descentralizado 65 Direito Constitucional Não há delegação de competências Há delegação de competências Federado O exercício do poder estatal é atribuído constitucionalmente a entes regionais autônomos Confederação Se caracteriza por uma reunião dissolúvel de Estados soberanos, que se unem por meio de um tratado internacional. Aqui, percebe-se o traço marcante da Confederação, ou seja, a dissolubilidade do pacto internacional pelos Estados soberanos que o integram, a partir de um juízo interno de conveniência. Observe a ilustração das diferenças entre uma Federação e uma Confederação: Federação Confederação Formada por uma Constituição Formada por um trato internacional Os entes regionais gozam de autonomia Os Estados que o integram mantêm sua soberania Indissolubilidade do pacto federativo Dissolubilidade do pacto internacional O Federalismo Brasileiro Nas palavras de Marcus Vasconcellos (2011), o sistema federativo brasileiro apresenta as seguintes características: - Indissolubilidade do pacto federativo: não se admite o direito de secessão, ou seja, uma unidade federada não pode ser desligada das demais formando um Estado independente. - Representação senatorial: o Senado é órgão de representação do Estado na formação da vontade geral da União. - Existência de guardião constitucional: o Supremo Tribunal Federal (STF) tem a missão de impor o respeito à Constituição Federal. A última palavra sobre a constitucionalidade, ou não, de determinado ato é do STF. - Não intervenção: a regra geral é que um ente federal não pode intervir em outro. Por intervenção entenda-se afastar temporariamente a autonomia de um ente federado. A intervenção federal (União intervir nos estados ou no Distrito Federal) ou intervenção estadual (estado intervir no município ou União intervir em município localizado em território) é uma medida extrema. As hipóteses de intervenção estão previstas nos artigos 34 e 36 da CF. - Capacidade de auto-organização dos entes federados por meio de constituição estadual e lei orgânica municipal ou distrital. - Rigidez constitucional. - Repartição constitucional de rendas e competências. Os estados-membros são autônomos porque gozam da autonomia constitucional, legislativa, financeira e admi- nistrativa. Mas dependem do estatuto global, enquanto que o Estado Federal é soberano, porque seu estatuto não depende de poder mais elevado algum. Na concepção de Fábio Tavares Sobreira (2014), no Estado Federal existe uma repartição constitucional de compe- tências, e mais de um centro dotado de capacidade política: O Estado Federal pressupõe duas ordens jurídicas: a ordem central, deferida à União, e as ordens parciais autôno- mas, ou seja, os Estados-membros. O federalismo brasileiro, no entanto, traz uma característica diferente, pois encampa a ideia do Município (posição majoritária atual, no sentido de ser o Município ente federado), além de o Distrito Federal também ser um ente autô- nomo da Federação. Fábio Tavares Sobreira Observe a disposição legal do Artigo 18 da CF: TÍTULO III Da Organização do Estado CAPÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 1º Brasíliaé a Capital Federal. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. 66 Direito Constitucional § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Nos termos do supracitado Artigo 18, a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos (não soberanos). Trata-se de norma que reflete a forma federativa de Estado. Ser ente autônomo dentro de um federalismo significa a possibilidade de implementar uma gestão particularizada, mas sempre respeitando os limites impostos pelos princípios e regras do Estado federal. Daí, têm-se os seguintes elementos: → Auto-organização: permite aos Estados- membros criarem as Constituições Estaduais (Artigo 25 da CF) e aos Municípios firmarem suas Leis Orgânicas (Artigo 29 da CF); → Auto legislação: os entes da federação podem estabelecer normas gerais e abstratas próprias, a exemplos das leis estaduais e municipais (Artigos 22 e 24 da CF); → Auto governo: os Estados membros terão seus Governadores e Deputados estaduais, enquanto os Municípios possuirão Prefeitos e Vereadores, nos termos dos Artigos 27 a 29 da CF; → Auto administração: os membros da federação podem prestar e manter serviços próprios, atendendo às competências administrativas da CF, notadamente de seu Artigo 23. Vedação aos Entes Federados Consoante ao Artigo 19 da CF, destaca-se que a autonomia dos entes da federação não é limitada, e sofre as seguintes vedações: Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná- los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. Repartição de Competências Constitucionais A Repartição de competências é a técnica de distribuição de competências administrativas, legislativas e tributárias aos entes federativos para que não haja conflitos de atribuições dentro do território nacional. Competência é a capacidade para emitir decisões dentro de um campo específico. A Constituição trabalha com três naturezas de competência, a administrativa, legislativa e a tributária. → Competência administrativa ou material: refere-se à execução de alguma atividade estatal, ou seja, é a capacidade para atuar concretamente sobre a matéria; → Competência legislativa: atribui iniciativa para legislar sobre determinada matéria, ou seja, é a capacidade para estabelecer normas gerais e abstratas sobre determinado campo; → Competência tributária: refere-se ao poder de instituir tributos. Técnica da Repartição de Competência Trata-se da predominância do interesse, segundo a qual, à União caberão as matérias de interesse nacional (Artigos 21 e 22 da CF), aos Estados-membros, o interesse regional, e aos municípios, as questões de predominante interesse local (Artigo 30 da CF). Para tanto, a Constituição enumerou expressamente as competências da União e dos municípios, resguardando aos Estados-membros a chamada competência residual, remanescente, não enumerada ou não expressa (Artigo 25, §1º da CF). Acresça-se que, para o Distrito Federal, a Constituição atribuiu as competências previstas para os estados e os municípios, denominada de competência cumulativa (Artigo 32, § 1º da CF). Organização do Estado – União A União Federal é pessoa jurídica de direito público, com capacidade política. Possui capacidade de auto-organização (Constituição Federal), autogoverno, auto legislação (Artigo 22 da CF) e autoadministração (Artigo 20 da CF). Diante do cenário externo, a União exerce a sobera- nia do Estado brasileiro. Já, internamente, a União atua como uma das pessoas jurídicas de direito público que compõem a Federação. A sua organização encontra-se disciplinada na Cons- tituição Federal, tendo como principais vetores os se- guintes elementos: - Poder Legislativo (arts. 44 a 75) – formado pelo Congresso Nacional, que é integrado pela Câmara dos Deputados (513 Deputados Federais) e pelo Senado Federal (81 Senadores). - Poder Executivo (arts. 76 a 91) – integrado pelo Presidente e Vice-Presidente da República. - Poder Judiciário (arts. 101 a 124). - Bens da União (art. 20). - Impostos da União (art. 153). Para Marcus Vasconcellos (2011), a União é uma en- tidade que integra o Estado brasileiro, isto é, a República Federativa do Brasil. É a unidade política central do Estado Federal, for- mada pela reunião de estados, Distrito Federal e municí- pios, por meio de um pacto federativo indissolúvel. O autor nos lembra que a União atua no âmbito interno em nome próprio (por exemplo: quando reali- za uma obra pública) ou em nome da Federação (por exemplo: quando intervém em um estado federado). 67 Direito Constitucional No plano externo, a União sempre agirá em nome do Estado Federal, ou seja, da República Federativa do Brasil. Quanto às competências privativas, comuns e/ou concorrentes da União, recomenda-se a leitura dos arts 22, 23 e 24. Outro ponto a destacar, é o disposto no Art. 20 - § 1º, conforme redação dada pela EC 102/2019, que asse- gura à União, compensação financeira por exploração de petróleo, gás natural, recursos hídricos ou minerais em respectivo território, plataforma continental, mar territo- rial ou zona econômica exclusiva. A União tem previsão legal na CF, dos Artigos 20 a 24. Vejamos: CAPÍTULO II DA UNIÃO Art. 20. São bens da União: I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; VI - o mar territorial; VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; VIII - os potenciais de energia hidráulica; IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. § 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. (Redação dada pela EmendaConstitucional nº 102, de 2019) § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei. Art. 21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II - declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII - emitir moeda; VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada; IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidro energéticos; c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019) XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão; XVII - conceder anistia; XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; 68 Direito Constitucional XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022) c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022) d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX - sistemas de consórcios e sorteios; XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII - seguridade social; XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; XXV - registros públicos; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial. XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; VI - proteger o meio ambiente e combater apoluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019) 69 Direito Constitucional II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) Organização do Estado – Estados Os Estados federados são entes federativos e, por- tanto, dotados de autonomia, com personalidade jurídi- ca de direito público, que se caracteriza pelos seguintes aspectos: - Capacidade de auto-organização - (Artigo 25 da CF) Existência de constituições estaduais elaboradas pelos próprios estados federados, as quais devem obe- decer às normas e princípios previstos na Constituição Federal. - Capacidade de autogoverno - (Artigos 27 e 28 da CF) Os estados elegem os próprios governantes que não se subordinam à União Federal. A eleição para governa- dor segue o mesmo sistema das eleições presidenciais. O Poder Legislativo é unicameral, representado pela Assembleia Legislativa, cujos representantes são eleitos pelo sistema proporcional. - Capacidade de autoadministração - (Artigo 26 da CF) Confere aos estados a prerrogativa para gerir os próprios órgãos e serviços públicos, sem interferência da ordem central. Por exemplo: lei federal não pode criar cargos nas fazendas estaduais. - Capacidade legislativa - (Artigo 25 e parágrafos da CF). Possibilidade de elaborar as próprias leis. Os Estados federados estão disciplinados nos arti- gos 25 a 28 da CF. Conforme explicitado acima, possuem autonomia política e administrativa e, ainda, têm ca- pacidade de se auto organizar por meio de seu poder constituinte derivado decorrente. Conforme Fábio Tavares Sobreira (2014), os princi- pais integrantes são: - O Poder Legislativo (art. 27), que é formado pela Assembleia Legislativa, composta por Deputados Estaduais em número calculado com base no sistema de proporcionalidade (art. 27, caput). - O Poder Executivo (art. 28) integrado por Governador e Vice-Governador. - O Poder Judiciário (arts. 125 e 126). - Os bens estaduais (art. 26). - Impostos dos Estados (art. 155). Por fim, conforme o artigo 18, § 3º da CF: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir- -se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, me- diante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. CF/88 Atenção: alterações recentes regem novas datas para realização de eleições (1° e 2° turno), assim como o dia de posse. (Vide art. 28 abaixo) Os dispositivos constitucionais referentes ao tema vão dos Artigos 25 a 28: CAPÍTULO III DOS ESTADOS FEDERADOS Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. 70 Direito Constitucional Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos. § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual. Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77 desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021) § 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posseem virtude de concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V. § 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. Organização do Estado – Municípios Sobre os Municípios, prevalece o entendimento de que são entes federativos, uma vez que os artigos 1º e 18 da CF, são expressos ao elencar a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios como integrantes da Federação brasileira. Como pessoa política também dotada de autonomia, possuem auto-organização (Artigo 29 da CF), auto legislação (Artigo 30 da CF), autogoverno (Incisos do Artigo 29 da CF) e autoadministração (Artigo 30 da CF). Os Municípios se organizam por meio da Lei Orgâ- nica Municipal. A estrutura dos municípios é a seguinte: - Poder Legislativo (arts. 29 a 31), sendo exercido pela Câmara Municipal, com número de Vereadores proporcional à população do Município, observados o mínimo de 9 e o máximo de 55, segundo o artigo 29, IV, da CF. - Poder Executivo (arts. 29 a 31), exercido pelo Prefeito e Vice-Prefeito, eleitos para um mandato de 4 anos. - Impostos municipais (art. 156). Atente que não existe judiciário no município. Conforme o artigo 18, § 4º da CF: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembra- mento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. CF/88 A previsão legal sobre os Municípios está prevista na CF, dos Artigos 29 a 31. Vejamos: CAPÍTULO IV Dos Municípios Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País; II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores; III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao da eleição; IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite máximo de: a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze mil) habitantes; b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes; d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes; e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habitantes; f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) habitantes; g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezentos mil) habitantes; h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes; i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes; j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos cinquenta mil) habitantes; k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 (novecentos mil) habitantes; 71 Direito Constitucional e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município; VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município; IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa; X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara Municipal; XII - cooperação das associações representativas no planejamento municipal; XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado; XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo único. Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das transferências previstas no § 5 o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício anterior: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) (Vide Emenda Constitucional nº 109, de 2021) (Vigência) I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até 100.000 (cem mil) habitantes; II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes; III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes; IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes; V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) habitantes. § 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores. § 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal: I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo; II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes; m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes; n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantese de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes; r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete milhões) de habitantes; w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; 72 Direito Constitucional III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária. § 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico- cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. § 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. § 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei. § 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais. Organização do Estado - Distrito Federal e Territórios Distrito Federal O Distrito Federal é o ente federativo com competências parcialmente tuteladas pela União, conforme se extrai dos Artigos 21, XIII e XIV, e 22, VII da CF. Por ser considerado um ente político dotado de autonomia, possui capacidade de auto-organização (Artigo 32 da CF), autogoverno (Artigo 32, §§ 2º e 3º da CF), autoadministração (Artigo 32, §§ 1º e 4º da CF) e auto legislação (Artigo 32, § 1º da CF). Encontra-se disciplinado nos arts. 18, § 1º e 32, am- bos da Constituição Federal. É ente federativo autônomo e vedada sua divisão em Municípios. CAPÍTULO V DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Seção I DO DISTRITO FEDERAL Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios. § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual duração. § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27. § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do corpo de bombeiros militar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019) Territórios Os Territórios possuem natureza jurídica de autarquias territoriais integrantes da Administração indireta da União. Por isso, não são dotados de autonomia política. Leia o artigo 18, § 2º da CF: Os Territórios Federais integram a União, e sua cria- ção, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. CF/88 Os Territórios estão dispostos no artigo 33 da CF e seus parágrafos. Atualmente não existem territórios no Brasil, pois os últimos foram extintos pelo Ato das Disposições Consti- tucionais Transitórias (ADCT). O Território do Amapá e Roraima foram transforma- dos em Estados Federados (artigo 14 do ADCT), e o de Fernando de Noronha foi reincorporado pelo estado de Pernambuco (artigo 15 do ADCT). Seção II DOS TERRITÓRIOS Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios. § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título. § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União. § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa. 73 Direito Constitucional Intervenção Federal e Estadual É uma excepcional possibilidade de supressão temporária da autonomia política de um ente federativo. Suas hipóteses integram um rol taxativo previsto na Constituição Federal.10as Constituições socialistas e liberais, que podem ser consideradas ortodoxas, e as Constituições que sofrem influências de mais de uma ideologia ou programa político, social e econômico, as quais são consideradas ecléticas. A Constituição eclética representa, portanto, texto que será fruto das reivindicações e pressões de grupos com interesses diferentes e muitas vezes opostos, dentro do Estado, interesses antagônicos que irão manifestar- -se, com mais intensidade, quanto maior for o grau de participação da sociedade civil, na elaboração constitu- cional. Classificação quanto à extensão Outra classificação bastante disseminada é que tem por objeto a extensão do conteúdo da Constituição. As- sim são: 6 Direito Constitucional a) Constituição concisa ou sintética: É aquela que possui texto enxuto, curto, tratando apenas de regras básicas de organização do sistema político-jurídico do Estado, deixando para a legislação infraconstitucional as demais matérias. b) Constituição prolixa ou analítica: É aquela com conteúdo extenso, minucioso e que contempla regras programáticas e normas formalmente constitucionais (surgiu como forma de combater os regimes ditatoriais). Segundo Conrad Hesse com esses modelos também a dificuldade de governar por conta da necessidade de re- forma e desprestígio da força normativa. Constituição quanto à origem Percebe-se a distinção entre Constituição e Car- ta Constitucional. Referida distinção tem relação com a classificação das Constituições quanto à origem. Quanto à origem as Constituições se classificam em: a) Constituição popular, democrática ou pro- mulgada: São aquelas que derivam do trabalho de um órgão constituinte composto de representantes eleitos pelo povo para esse fim (ex.: constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988) e; b) Constituição outorgada: São aquelas impostas pelos governantes, sem a participação do povo e inde- pendente do sistema ou forma de governo (ex.: consti- tuições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969); c) Constituição pactuada: origina-se de um com- promisso entre duas classes políticas. José Afonso da Sil- va também denomina de constituições cesaristas aquelas elaboradas por um Imperador ou Ditador e submetida a plebiscito popular para sua ratificação. Cita como exem- plos os plebiscitos Napoleônicos e o plebiscito Pinochet no Chile. Classificação quanto à mutabilidade Extremamente importante a classificação referente à mutabilidade da Constituição. Além da necessidade da formalidade constitucional, para consolidar o grau de hierarquia superior é indispensável que as Constituições possuam força normativa. Realmente, é bastante difícil falarmos em hierarquia normativa quando as leis são costumeiras, pois a definição do que se considera de hierarquia superior ou mesmo de essência constitucio- nal ficará ao sabor da discricionariedade, o que levaria uma série de incongruências no sistema e litígios dou- trinários. Dessa forma, consolidou-se o entendimento de que as Constituições consideradas formais e escritas que definitivamente viabilizam o instituto da hierarquia e, por consequência, o controle de constitucionalidade. No sentido exposto, as Constituições podem ser flexíveis, ou seja, as que não exigem para a sua alteração procedi- mento solene ou dificultoso de aprovação no processo de emenda, se valendo de procedimento ordinário, ou seja, assemelhado aos de criação de normas infraconsti- tucionais. Ainda se diz rígida a Constituição que, em res- peito à sua hierarquia normativa, exige processo solene, pormenorizado e dificultoso para a sua alteração. Nesse caso, há uma nítida distinção entre as leis constitucionais e as demais, decorrendo o procedimento da hierarquia formal. A nossa Constituição atual é rígida, pois traça maior solenidade em vista da competência para a alte- ração, bem como do procedimento em si, qualificado. Valemo-nos das Emendas Constitucionais para as altera- ções no texto da Constituição. Nos termos do art. 60 de nossa Constituição, esta poderá ser emendada mediante proposta (iniciativa ou competência) de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; do Presidente da República ou de mais da metade das As- sembleias Legislativas das unidades da Federação, ma- nifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Referimo-nos ao aspecto subjetivo da competência para a alteração constitucional. Trata-se de uma limitação o rol taxativo de órgãos ou autoridades de podem dar início ao processo. Outra limitação é a tem- porária, pois nos termos do § 1º do art. 60, a Constitui- ção não poderá ser emendada na vigência de interven- ção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Quanto ao procedimento, considerado objetivamente, o § 2º do art. 60 dispõe que a proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. Ao final a emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. Com razão parte da doutrina considera a nossa Constituição super-rígida, pois algumas matérias não poderão ser objeto de deliberação no sentido de abo- li-las, tais quais: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Vejamos: a Constituição fala em “abolição” e não alteração. Portan- to, não significa que tais temas não possam ser alterados a sua acessoriedade, mas somente em sua essência. A forma federativa, por exemplo, não poderá ser alterada, mas a relações entre as unidades político-federativas po- derão ser alteradas, desde que não desvirtue a essência do Princípio Federativo. O mesmo em relação à separa- ção dos poderes e os direitos e garantias fundamentais. Por fim, ainda sobre a classificação quanto a muta- bilidade constitucional, existem as denominadas Cons- tituições semirrígidas, em que em seu âmago faz dis- tinções entre leis essencialmente constitucionais e leis assim consideradas por conveniências. Essas últimas poderão sofrer mudanças por procedimento ordinário de alteração. A Constituição do Império de 1824 é um exemplo de constituição semirrígida ou semifléxivel. Revisando, as denominadas cláusulas pétreas se re- ferem ao núcleo ou essência das matérias e não inviabi- liza a alteração positiva. O núcleo é imutável, não os ad- jetivos que o circundam como características acessórias ou decorrentes. O professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em sua obra, Curso de Direito Constitucional (Saraiva) ainda classifica as Constituições em: - Constituição-garantia (não é apenas instrumento do Estado para impor suas vontades, mas também está limitada por ela, inclusive com a delimitação dos direitos e garantias fundamentais, dentre outras limitações); - Constituição-balanço (de compromisso socialista, surgindo em balanceamento dos ideais liberais e capita- listas das primeiras Constituições); 7 Direito Constitucional - Constituição-dirigente (que possui normas pro- gramáticas e instrumentais para atingir os fins ou com- promissos do Estado). A nossa Constituição, de 05 de outubro de 1988, já sofrera 99 (noventa e nove) emendas constitucionais é escrita, rígida, formal, eclética, promulgada, garantista e dirigente. Abaixo, segue a imagem ilustrativa da Pirâmide Normativa: Pirâmide Normativa Como Normas Infraconstitucionais entendem-se as Leis Complementares e Ordinárias; Como Normas Infralegais entendem-se os Decretos, Portarias, Instruções Normativas, Resoluções, etc. Constitucionalismo Canotilho define o constitucionalismo como uma teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade. Neste sentido, o constitucionalismo modernoCAPÍTULO VI DA INTERVENÇÃO Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - manter a integridade nacional; II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; 10 Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora Jus- PODIVM. / DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. / www.segredosdeconcurso.com. br/www.jus.com.br/www.igepp.com.br II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. IV - (Revogado). § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. § 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal. Fontes/Adaptações/Referências Bibliográficas BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Constitucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU. Salvador: Editora JusPODIVM. / DUTRA, Luciano. Direito Constitucional Essencial. Série Provas e Concursos. 2ª edição – Rio de Janeiro: Elsevier. / www.segredosdeconcurso.com.br/www.jus.com.br/www. igepp.com.br QUESTÕES 01. (Prefeitura de Caxias/MA – Guarda Municipal – IMA/2018) A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende: (A) Apenas Estados e Municípios (B) Apenas União e Distrito Federal (C) Apenas União, Estados e Municípios (D) União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 02. (CGE/CE – Conhecimentos Básicos – CESPE/2019) Conforme os dispositivos constitucionais e a jurisprudência do STF com relação à repartição de competências, é correto afirmar que compete (A) aos municípios planejar e promover a defesa permanente contra calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações. (B) aos estados legislar, de forma concorrente, sobre as normas de processo e julgamento dos crimes de responsabilidade praticados por governadores. (C) aos municípios explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (D) aos estados legislar, de forma concorrente, sobre direito econômico, urbanístico e financeiro e sobre orçamento. (E) à União legislar, privativamente, sobre licitações e contratos e sobre previdência social. 74 Direito Constitucional 03. (Ares PCJ/SP – Procurador – VUNESP/2018) No que diz respeito à repartição de competências, é correto afirmar que (A) na competência comum, leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem- -estar em âmbito nacional. (B) a competência comum é legislativa e os entes federativos podem exercê-la em igualdade de condições, mas a atuação de um exclui a atuação do outro ente. (C) a competência exclusiva material da União tem por característica principal a delegabilidade, e assim pode a União delegar seu exercício aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. (D) a competência privativa legislativa da União é indelegável, não permitindo que os Estados e o Distrito Federal venham a dispor sobre essas questões, ainda que específicas. (E) inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados não poderão exercer a competência plena, mas temporariamente atenderão suas peculiaridades, excluindo-se a competência suplementar. 04. (TRT 2R/SP – Técnico Judiciário – FCC/2018) De acordo com o sistema de repartição de competências previsto na Constituição Federal, (A) é vedado aos Municípios suplementar a legislação federal e estadual, ainda que para atender ao interesse local. (B) cabe aos Estados estabelecer os requisitos dos contratos de trabalho firmados em seus territórios. (C) cabe à União, aos Estados e aos Municípios legislar em regime de concorrência sobre todas as matérias. (D) cabe aos Estados legislar, privativamente, sobre normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as empresas públicas e sociedades de economia mista estaduais. (E) cabe aos Estados o exercício das competências que não lhes sejam vedadas, além de outras enumeradas pela Constituição, como a exploração, direta ou mediante concessão, dos serviços locais de gás canalizado, na forma da lei. 05. (MPE/PR – Promotor – MPE/PR/2019) Sobre a intervenção é incorreto afirmar: (A) No sistema constitucional brasileiro, a intervenção é excepcional, limitada e taxativa. (B) Garantir o livre exercício do Poder Legislativo é hipótese que autoriza de intervenção dos Estados nos Municípios. (C) Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em Município. (D) É inconstitucional a atribuição conferida por Constituição Estadual ao Tribunal de Contas, para requerer ao Governador do Estado a intervenção em Município. (E) A União pode intervir nos Estados para reorganizar suas finanças, quando a unidade da federação deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadasrepresentará uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos. O conceito de constitucionalismo transporta, assim, um claro juízo de valor. É, no fundo, uma teoria normativa da política, tal como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo. Partindo, então, da ideia de que o Estado deva possuir uma Constituição, avança-se no sentido de que os textos constitucionais contêm regras de limitação ao poder autoritário e de prevalência dos direitos fundamentais, afastando-se a visão autoritária do antigo regime. Poder Constituinte Originário, Derivado e Decorrente - Reforma (Emendas e Revisão) e Mutação da Constituição O Poder Constituinte é aquele capaz de editar uma Constituição, estabelecendo uma organização jurídica fundamental, dando forma ao Estado, constituindo poderes e criando normas de exercício de governo, tal qual o estabelecimento de seus órgãos fundamentais, os limites da sua ação e as bases do ordenamento econômico e social. O titular desse poder é o Povo, representados por um órgão colegiado (Assembleia Constituinte). A legitimação destes é a representação da democracia de um Estado soberano, onde a premissa do ubi societas e ibi ius encontram-se límpidas na forma de criação de um Estado. O Poder Constituinte causa um rompimento com a ordem jurídica anterior, fazendo com que o Estado precedente à que o povo estava sendo submetido seja substituído por uma nova legitimação maior, através de sua Carta Magna. Quanto à Natureza Jurídica do Poder Constituinte, os positivistas acreditam que é um poder político, que tem a sua força extraída não de normas jurídicas, mas de forças sociais consolidadas, sendo um poder de Fato. Já para os jusnaturalistas, o poder Constituinte está acima do direito positivo, sendo um direito inato do homem, partindo do seu direito natural que é eterno, universal e imutável. Fundamentos Tal poder não surge ao acaso. Indaga-se, então, quais seus fundamentos? Adiantamos que se exterioriza de três possíveis for- mas: ou promana da proclamação de independência de alguma região, alçando-a ao status de Estado sobera- no, que para tanto necessita de uma Constituição para organizar-se; ou promana da ruptura revolucionária em dado Estado já estabelecido, desconstituindo e deslegi- timando o poder a quo para estabelecer-se como for- ça criadora de uma nova organização social; ou surge como resultante de uma ruptura plena com a sociedade anterior, de alguma outra maneira. Com efeito, em qualquer uma das três situações, há verdadeiro abalo no sistema político e social vigen- te, do contrário não haveria ruptura alguma. Se há in- satisfação no seio social, e se em decorrência desta a nação decide no sentido de que uma nova organização social deve entrar em cena, rompendo com a vigente, é justamente esse movimento político que fundamenta a existência do poder aqui estudado. Há toda uma mo- vimentação política em torno do exercício do referido poder. É essa movimentação que lhe dá legitimidade. O mesmo ocorre quando uma dada sociedade questiona os fundamentos da obediência perante o so- berano (ou a entidade que lhe faça as vezes). O que se questiona, então, não é a legitimidade do soberano perante o sistema jurídico, mas o próprio sistema em que tal legitimidade se assenta. Indaga-se a respeito dos valores que sustentam a legitimidade do sistema, reconhecida como tal pelo povo. Os governantes, comandando e postulando obediên- cia em nome dessas regras ou desse sistema de organi- zação, podem, contudo, ter sua autoridade questionada, numa interrogação de legitimidade acerca da licitude ou dos limites da sobredita obediência. Se isso acontece, principia então uma reflexão que obrigatoriamente se inclina para o exame dos valores cuja presença justifica tanto o comando como a obediência. O poder constituin- te deixa de ser visto como um fato, como o poder que é ou que foi, para ser visto como um fato acrescido de um valor; como o poder que deve ser, conforme o título de le- gitimidade que lhe sirva de raiz ou respaldo na consciên- cia dos governados. (...) A grande descoberta ou o grande passo a que a Ciencia deu e a que se reportava o abade 8 Direito Constitucional Sieyès é indubitavelmente o que procede da verificação de que o poder constituinte existe como fato. Mas não como fato apenas, senão também como valor, em cujo nome atuam com legitimidade os poderes constituídos, que não devem ser confundidos com o poder constituin- te, do qual emanam, (...). (BONAVIDES, 2014, p. 162) Em uma construção jurídica democrática, onde a participação política do povo na vida social é uma das bases do sistema, tais valores de que trata Bonavides encontram-se ancorados na consciência dos indivíduos, e são justamente os referidos valores que legitimam a atuação do poder constituinte, tal como legitimam a continuidade ou não de um documento constitucional. Tais valores seriam, então, os fundamentos primei- ros do poder constituinte. Pode-se dizer que são a alma das constituições. Para Quintana: A alma ou espirito da Constituição está conformado pelo complexo, integral e orgânico, dos valores essenciais filosóficos, morais, histporicos, sociais, jurídicos, econô- micos, etc., assim como dos ideiais, finalidades, propó- sitos e, em geral, condições que inspiram, amimam e fundamentam a totalidade ou parte qualquer do texto do corpo da Constituição, enquanto lei funcional, funda- mental e suprema do pais. (TAVARES, apud QUINTANA, 2013, p. 225) Sua “alma ou espírito”, no sentido em que foram utilizados, é que legitimam a atividade constituinte em última instância. E onde residem? Justamente na cons- ciência do povo, como mencionamos. Espécies Existem, para tanto, duas formas de manifestação do Poder Constituinte: o Poder Originário e o Poder Derivado. 1. Poder Constituinte Originário O Poder constituinte originário é aquele responsável pela criação integral de uma nova Constituição, inaugurando uma nova ordem jurídica. Este tem várias características, sendo ele: a) Inicial, porque inicia uma nova ordem jurídica, posto que também é chamado de Poder Constituinte Genuíno ou de Primeiro Grau; b) Ilimitado, porque não sofre qualquer limite anterior, ao passo que pode desconsiderar de maneira absoluta o ordenamento vigente anterior; c) Autônomo, da forma que só cabe a ele estruturar os termos da nova Constituição; d) Incondicionado e Permanente, por conta de não se submeter a nenhum processo predeterminado para sua elaboração, bem como que não se esgota com a realização da nova Constituição, podendo o legislador deliberar a qualquer momento pela criação de uma nova. Sob uma perspectiva subjetiva, o Poder Constituinte Originário é exercido quando o povo é titular do seu poder, conforme preleciona o Art. 1˚ da Constituição Federal de 1988 (visão de Rosseau): TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Para Emmanuel Joseph Sieyès, cuja obra mais importante foi o panfleto Qu’est-ce que le tiers état, o titular do poder é a Nação. Doravante, quando o Poder Constituinte não é exercido pelos seus titulares de Direito, sendo exercido por entes estranhos, como a Igreja, Militares, Grupos econômicos e etc. o poder passa a ser ilegítimo. Sob uma perspectiva objetiva, a Assembleia Constituinte não tem liberdade de criar normas de maneira esparsa, injustificada, mas somente àquelas que correspondam a realidade jurídica e cultural da sociedade à que estão inseridas, sendoum reflexo do seu Povo e da sua ordem natural. Esse é o pensamento de José Joaquim Gomes Canotilho. Atributos Sendo originário (ou revolucionário), tem como principais caracteres os seguintes: a) É inalienável: a sociedade, verdadeira titular do direito de se auto organizar, apenas delega seu exercí- cio. Mesmo depois que o texto constitucional está em vigor, caso a sociedade entenda que não é interessan- te a prevalência deste, pode optar por elaborar texto novo. b) É anterior, no sentido de originário, inicial. Real- mente, quando originariamente constituinte, se torna a verdadeira origem de dada ordem jurídica. c) É livre, uma vez que não se submete a nenhuma regra jurídico-positiva. Como exposto, não se pode di- zer que não haja, em absoluto, limites à sua atuação. Encontra limites e balizas na orientação popular que lhe legitimou a atividade. d) É prevalente, até como decorrência de sua inalie- nabilidade. Pode ficar latente até que se faça novamen- te necessário, mas permanece à disposição da socieda- de durante todo o tempo. Muitos autores ressaltam outras características, mas em geral os traços essenciais foram dispostos aci- ma. Cumpre ressaltar que tais características foram lis- tadas tendo em vista descrever os atributos de poderes genuinamente constituintes, sendo ou originários ou revolucionários. Com efeito, o decorrente (dos Estados e Municípios) e o reformador (exercitado pelo Legisla- tivo) não ostentam vários dos traços que descrevemos acima. Eis a razão da relutância de tantos autores em denomina-los “constituintes”. 2. Poder Constituinte Derivado O Poder Constituinte Derivado é o poder já estabelecido na própria Constituição pelo poder Originário, que está inserido com o objetivo de legitimar a sua alteração quando necessária. Conforme ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho: Embora grupo constituinte algum cuide de preparar a substituição da ideia de direito que incita a agir, a experiência faz prever a necessidade futura de alterações 9 Direito Constitucional Poder Constituinte Derivado Revisor Ou Revisional Encontra normatividade no Art. 3˚ da ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias), que dispõe sobre a necessidade do Congresso Nacional realizar uma “revisão constitucional” após 5 (cinco) anos da promulgação da Constituição Federal. É um poder de revisar a Constituição por um processo legislativo menos dificultoso à forma das emendas constitucionais. Tem eficácia exaurível, ao passo que fora realizada em 1993, originando 6 (seis) emendas de revisão. Logo, este poder não mais poderá ser exercido, sendo que qualquer mudança na Constituição Federal atualmente só poderá ser feito através de emendas, pelo poder Reformador. Poder Constituinte Derivado Decorrente Trata-se do poder de cada Estado-Membro (unidade federativa) em criar a sua própria Constituição estadual, sendo, todavia, respeitada a supremacia da Constituição Federal. Cada Assembleia Legislativa, com os poderes constituintes definidos, deveriam elaborar a sua Constituição do Estado dentro do prazo de 1 (um) ano, à partir da promulgação da Constituição Federal. Difere o Distrito Federal, que, de acordo com o art. 32 da CF/88, se auto-organiza através de leis orgânicas, votadas em 2 (dois) turnos com intervalo mínimo de 10 (dez) dias, aprovada por 2/3 da Câmara Legislativa. Retroatividade e recepção Ao ser criada uma nova Constituição, como já explicitado, existe a quebra da normatividade jurídica maior dentro de um Estado Soberano, a Constituição Federal é o delimitar de todo o ordenamento jurídico, sendo esta a lei mais importante do país. Posto a importância da Constituição, quando está é superada por outra, podem surgir daí diversos problemas decorrentes da sua aplicação na forma retroativa a fatos anteriores. Logo, é de suma importância deleitar-se sobre a problemática da receptividade da nova Constituição quanto a fatos e normas anteriores à sua vigência. Na doutrina existem 3 (três) formas de retroatividade: a retroatividade máxima, média e mínima. a) Retroatividade máxima, é caracterizada pela forma em que as partes eram restituídas ao status quo ante, porque se manifesta sobre os fatos já consumados, da mesma forma da coisa julgada; b) Retroatividade média, age sobre os efeitos pendentes de atos jurídicos produzidos antes da nova Constituição. Exemplo: um contrato pactuado em 20 prestações alguns meses antes da promulgação da nova Constituição, tendo por base o salário mínimo estabelecido na Constituição anterior, as prestações vencidas anteriores ao novo texto constitucional restariam nulas. c) Retroatividade mínima, preleciona que o novo texto constitucional alcança apenas os efeitos futuros dos atos jurídicos. Esta não retroage para eliminar um contrato feito sob a normatividade constitucional anterior, mas alcança os efeitos que serão sentidos após a promulgação do novo texto. Este tipo de retroatividade foi o recepcionado pela Constituição de 1988. ou complementações no texto que edita. Por isso é que dispõe sobre a revisão da Constituição, atribuindo a um poder constituído o direito de emendá-la. Esse poder instituído goza de um Poder Constituinte Derivado do originário. Sua Modalidade principal é o poder de modificar formalmente a Constituição. O Poder Constituinte Derivado tem várias formas, podendo ser reformador, revisor ou decorrente. Poder Constituinte Derivado Reformador É poder responsável pela alteração e ampliação do texto constitucional, que se manifesta através das emendas constitucionais, bem como os tratados de Direitos Humanos com força de emenda constitucional. A titularidade desse poder emana do povo, que, por sua vez, será representado pelo Congresso Nacional (Art. 60, CF/88). Tem por principais características ser: a) Subordinado, porque retira a sua força do poder originário, previamente estabelecido; b) Limitado, porque tem os seus limites definidos pelo poder originário, que estabeleceu o texto base constitucional; c) Condicionado, sendo que o seu exercício deve seguir as regras previamente estabelecidas na Constituição. Esta forma de reforma está subordinada a diversas limitações materiais quando ao seu procedimento, devendo seguir diversos requisitos para a sua legitimidade, sendo estes a: a) Iniciativa: são titulares para apresentarem o projeto de emenda constitucional (Art. 60, I a III, CF/88): o Presidente da República; 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados ou 1/3 dos membros do Senado Federal; mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades dos Estados, cada uma delas, manifestando-se pela maioria relativa dos seus membros. b) Deliberação: a proposta deve ser discutida e votada em cada casa do Congresso Nacional em 2 (dois) turnos, sendo aprovada se obtiver, em ambas, 3/5 dos votos dos respectivos membros, ou seja, a maioria qualificada (Art. 60, §2, CF/88). c) Promulgação: as emendas são promulgadas pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. O Poder constituinte derivado reformador está sujeito a limites, estes que tratam tanto da matéria do conteúdo da emenda, até os procedimentos formais da promulgação, são estes os limites: a) Material, ao passo que é proibido ser matéria de emenda constitucional a abolição das chamadas “cláusulas pétreas” (forma federativa do Estado; voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos Poderes e direitos e garantias individuais - Art. 60, §4, CF/88); b) Circunstancial, é defeso que a Constituição Federal seja alterada durante diversas situações em que o Estado esteja vivendo, como a vigência do estado de sítio, estado de defesa ou intervenção federal (Art. 60, §1, CF/88); c) Temporal, ao passo que uma proposta de emenda constitucional é rejeitada ou prejudicada, a mesma matéria não pode ser tratada através de nova proposta até nova sessão legislativa (Art. 60, §5, CF/88). 10Direito Constitucional Recepção O fenômeno da recepção é aquele que trata sobre a adequação das normas infraconstitucionais anteriores ao novo texto constitucional. À partir da edição de uma nova Constituição, a anterior é revogada, todavia, não obrigatoriamente todas as normas perdem a sua validade. Desta forma, as que forem compatíveis com o novo texto devem ser aproveitadas e ratificadas sob nova validade. Esta é a chamada recepção. A legislação anterior que se adeque ao novo texto jurídico constitucional é recepcionada com as devidas alterações que possam ser necessárias. As normas que não se adequem à nova ótica constitucional devem ser revogadas, posto que não passem pelo crivo material e formal do seu conteúdo. Repristinação É o fenômeno em que a lei que foi revogada e perdeu a sua vigência, volte a ganhar vigência, pelo fato da norma que à revogou ter sido revogada. É, de forma literal, a revalidação de uma norma anteriormente revogada, em que apresenta compatibilidade com a Constituição vigente. Esse fenômeno é possível mediante a previsão expressa em que admite a norma Constitucional ser revalidada. Reforma e mutação constitucional Embora já tenhamos visto acima, algumas considerações a respeito da atuação dos poderes no tocante à alterações na Constituição, é importante compreender melhor o processo de reforma e mutação constitucional. As constituições dos Estados, quando elaboradas, possuem uma pretensão de estabilidade, justificada pelo seu objetivo principal que é o de promover a estruturação fundamental do Estado. Embora possuam um determinado grau de permanência na história, não existem textos constitucionais eternos, já que a própria dinâmica das sociedades exige mudanças ao longo do tempo, tanto do ponto de vista interpretativo da substância de suas normas, quanto da sua redação original. Assim, uma constituição pode ser alterada pela expressa modificação do seu texto ou pela mudança interpretativa do conteúdo das suas disposições. Reforma e mutação constitucional: diferenças A diferença entre reforma e mutação constitucional reside no fato de que, enquanto a reforma compreende todos os métodos de mudança que podem ocorrer, a mutação constitucional designa os processos informais de alteração das constituições, ou seja, aqueles que alteram o sentido de uma constituição sem alterar o seu texto, porque mudam o seu espírito. Reforma Mutação Utiliza processos formais pré-estabelecidos. Não possui formalidade expressas. É realizado por órgãos indicados. É realizado pelos órgãos judiciais ou legislativos. Altera a redação original do texto. Altera o sentido ou conteúdo do texto constitucional, sem modificar a sua redação. Obedece às limitações previstas. Obedece à realidade político-social. Estabelecidas estas diferenças entre reforma e mutação constitucional, estudaremos outros aspectos relacionados à reforma constitucional, como suas modalidades, procedimentos e limitações. Emenda Constitucional Revisão Constitucional É a modificação de certos prontos, cuja estabilidade o legislador constituinte não considerou tão grande como outros mais valiosos, se bem que submetida a obstáculos e formalidades mais difíceis que os exigidos para alteração das leis ordinárias. É uma alteração anexável (ao texto constitucional) exigindo formalidades e processos mais lentos e dificultados que a emenda, a fim de garantir a suprema estabilidade do texto constitucional. Nesse sentido, pode-se falar na existência de um poder de reforma, representado pelo poder constituinte derivado, que tem por objetivo propiciar mudanças no texto constitucional, permitindo a sua adaptação a novas necessidades. Limitações ao poder de reforma constitucional O Poder de Reforma é limitado e tem seus procedimentos estabelecidos pela própria Constituição. A inobservância desses limites acarreta a invalidação dos dispositivos constitucionais emendados. Essas limitações ao poder de reforma podem ser temporais, circunstanciais e materiais. 11 Direito Constitucional Veja o quadro: Supremacia constitucional e hermenêutica constitucional Supremacia Constitucional “Toda interpretação constitucional se assenta no pressuposto da superioridade jurídica da Constituição sobre os demais atos normativos no âmbito do Estado. Por força da supremacia constitucional, nenhum ato jurídico, nenhuma manifestação de vontade pode subsistir validamente se for incompatível com a Lei Fundamental”. A supremacia da Constituição sobre todo o ordenamento decorre da mesma nascer do poder constituinte origi- nário, uno e incontrastável. A interpretação constitucional tem como referencial esse pressuposto de superioridade jurídica da Constituição sobre leis e atos normativos que compõem o ordenamento jurídico. A Lei Maior, hierarquia máxima de um Direito pátrio, vincula as normas inferiores, além de constituir-se, ela própria, fundamento de validade do próprio ordenamento jurídico. A supremacia é dúplice: formal e material. Supremacia formal: A Constituição advém do poder constituinte originário, anterior e superior aos demais, o que lhe concede supre- macia formal inacessível a qualquer outra norma jurídica. Considere-se, ainda, que o processo para modificações na Lei Maior é bem mais dificultoso que os requeridos para modificações de norma comum. Aliás, os procedimentos vêm definidos no próprio constitucional — art. 60. Supremacia material: Reflete a maior importância das normas constitucionais, que estrutura a organização e os fundamentos do Estado. O princípio da supremacia não se confunde com o principio da rigidez da Constituição. Segundo este, as normas cons- titucionais só podem ser modificadas por um processo mais qualificado e dificultoso de reforma. Refere-se exclusiva- 12 Direito Constitucional mente ao processo formal de mudança constitucional. Já a supremacia, advém do fato de ser a Constituição o ápice do ordenamento e fundante da própria ordem jurídica. Aliás, o poder constituinte originário, de onde brotou a Constituição, é que dá legitimidade ao próprio ordenamento. O Min. Celso Melo bem acentuou o caráter de supre- macia da Constituição ao proferir voto na Ação Direta de Inconstitucionalidade ADI 42-0-DF: “O princípio da supremacia da ordem constitucional — de que é consectária a rigidez normativa que osten- tam os preceitos de nossa Constituição — permite reali- zar uma das múltiplas funções inerentes à norma cons- titucional, que consiste na fundamentação do ordena- mento jurídico instituído e positivado pela comunidade estatal. Dentro dessa concepção, reveste-se de nulidade o ato emanado do poder público que vulnerar, formal ou materialmente, os preceitos e princípios inscritos no do- cumento constitucional. Uma lei inconstitucional é uma lei nula, desprovida, consequentemente, no plano jurídi- co, de qualquer validade e conteúdo eficacial”. O Min. Maurício Corrêa, em voto proferido na ADI 1.102-2-DF (DJU 01-12-1995, p. 41684). como relator, trouxe o testemunho de Alfredo Buzaid: “Sempre entendeu entre nós, de conformidade com a lição dos constitucionalistas norte-americanos, que toda lei adversa à Constituição é absolutamente nula; e não simplesmente anulável. A eiva de inconstitucionalidade a atinge no berço, fere ab initio. Ela não chegou a viver. Nasceu morta”. Princípios da Interpretação constitucional São regras de interpretação que ampliam a harmo- nia entre as normas e reduzem contradições. “Usual- mente denominadas ‘princípios’, mas, rigorosamente as- sim não podem ser consideradas, porque não veiculam um valor autônomo”, na opinião de Marçal Justen Filho, para quem as técnicas hermenêuticas são: interpretação conforme à norma superior, principio da razoabilidade e principio da proporcionalidade. Para Luis Roberto Barroso, “o ponto de partida do intérprete há de ser sempre os princípios constitucionais, que são um conjunto de normas que espelham a ideolo- gia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins.Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui. Funcionam como critérios de interpretação e também de integração nas lacunas do texto constitucional, sobretu- do considerando seu caráter abstracionista. A atividade de interpretação da Constituição deve começar pela identificação do princípio maior que rege o tema a ser apreciado, descendo do mais genérico ao mais especí- fico, até chegar à formulação da regra concreta que vai reger a espécie”. Os princípios da interpretação constitucional decor- rem das particularidades do conteúdo e objetivos das normas constitucionais. A maioria dos doutrinadores define-os como princípios da: Supremacia da Constitui- ção; Unidade da Constituição; Interpretação Conforme a Constituição; Presunção de Constitucionalidade; Máxima efetividade; Razoabilidade. Princípios de Interpretação Constitucional Princípio da Unidade da Constituição O papel do princípio da unidade é harmonizar as normas na busca do equilíbrio, sem lhes negar comple- tamente a eficácia. A Constituição atribui caráter siste- mático ao ordenamento jurídico. Revestida de alto grau de abstração, a Lei Maior é fundamento de validade para todas as normas jurídicas. Não há hierarquia normativa, devendo os conflitos (chamados antinomias) entre nor- mas constitucionais serem solucionados através da pon- deração dos valores, com a prevalência da unidade do sistema jurídico, encabeçado pela Constituição. Para Vittorio Cassone, “a doutrina em geral, ao exa- minar a moderna interpretação constitucional, ressalta a unidade da Constituição, no sentido de que o dispositi- vo objeto de interpretação deve ser visto dentro de um ordenamento jurídico que forma a unidade da Consti- tuição”. Na opinião de Luís Roberto Barroso, “o princípio da unidade é uma especificação da interpretação sistemáti- ca, e impõe ao intérprete o dever de harmonizar as ten- sões e contradições entre normas. Deverá fazê-lo guiado pela grande bússola da interpretação constitucional: os princípios fundamentais, gerais e setoriais inscritos ou decorrentes da Lei Maior”. Inocêncio Mártires Coelho é conclusivo:“As normas constitucionais devem ser vistas não como normas iso- ladas, mas como preceitos integrados num sistema uni- tário de regras e princípios, que é instituído na e pela própria Constituição. Em consequência, a Constituição só pode ser compreendida e interpretada corretamente se nós a entendermos como unidade, do que resulta, por outro lado, que em nenhuma hipótese devemos separar uma norma do conjunto em que ela se integra, até por- que — relembre-se o círculo hermenêutico — o sentido da parte e o sentido do todo são interdependentes. [...] A rigor, esse princípio compreende e dá suporte, se não a todos, pelo menos à grande maioria dos cânones da interpretação constitucional, porque ao fim das contas ele otimiza as virtualidades do texto da Constituição, de si naturalmente expansivo, permitindo aos seus aplica- dores construir as soluções exigidas em cada situação hermenêutica”. A unidade do ordenamento jurídico positivado é afirmada no RE 149.992-3-SP, STF, DJU 07-02-1997, da qual transcrevemos parte da Ementa: “Os postulados informam a teoria do ordenamento jurídico e que dão o necessário substrato doutrinário as- sentam-se na premissa fundamental de que o sistema de direito positivo, além de caracterizar uma unidade cons- titucional, constitui um complexo de normas que devem manter entre si um vínculo de essencial coerência”. Princípio da interpretação conforme a Constitui- ção. Na aplicação do direito devem-se rejeitar alternati- vas hermenêuticas incompatíveis com o sistema jurídico, cujo reconhecimento conduziria à necessidade de inva- lidar a disposição interpretada. Utiliza-se para afastar interpretações com procedência jurídica, mas, configu- ram-se inconstitucionais ou ilegais. “Há casos em que o sentido das palavras parece inequívoco, mas cuja adoção resultaria em conflito com norma superior. A técnica da interpretação conforme afasta a invalidação da disposi- 13 Direito Constitucional Princípios decorrentes da evolução político-social Ocorre quando a sociedade, no transcorrer pendular dos tempos, decide por novas formas de organização, exercício do poder e controle político-administrativo. A história do Brasil redesenha-se com a emancipação, re- pública e outros fatos nacionais. Na última metade do século XX (1964) ocorreu ruptura na condução política, que prosseguiu até 1985, finalizando com a redemocra- tização. Em 1988 foi promulgada a chamada Constitui- ção Cidadã, conduzida pelo facho da redemocratização. Os novos valores e referenciais da Carta de 1988 já vêm descritos no preâmbulo quando define ao Estado Demo- crático recém-instituído a responsabilidade constitucio- nal de garantir e “assegurar o exercício dos direitos so- ciais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos”[21]. Por conta dos novos rumos redesenhou- -se nova matriz de direitos, assegurados, sobretudo, por novos princípios constitucionais implícitos ou explícitos, entre os quais o princípio da Justiça. O termo Justiça possui no ordenamento jurídico- -democrático multidimensão, estendendo-se ao direito material e processual. Prima pela proteção e zelo aos di- reitos fundamentais individuais e coletivos, tendo como referencial a dignidade da pessoa humana. É um princí- pio que se esparrama sobre a prática e, principalmente, sobre os resultados finais dos processos jurídicos e ad- ministrativos. É o referencial das instituições no Estado democrático de direito. É nessa concepção que o prin- cipio da Justiça é apresentado no preâmbulo da Consti- tuição Federal como um dos valores supremos “de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceito, funda- da na harmonia social…”. Por outro lado, após a Constituição de 1998, obser- va-se certa relativização do princípio do interesse públi- co e sua indisponibilidade. Por não ser objeto de per- tencimento é indisponível; entretanto, experimenta nova roupagem em decorrência da prevalência da novel com- preensão de que os interesses públicos não existem de forma autônoma, como um fim em si mesmo. Mas, ne- cessariamente, tendo como perspectiva maior a dignida- de da pessoa humana. Compensa conhecer a concepção negativa do interesse público na visão de Marçal Justen Filho: Interesse público não se confunde com interes- se de Estado. “É público porque atribuído ao Estado, é atribuído ao Estado por ser público. Como decorrência, todo interesse público seria estatal, e todo interesse es- tatal seria público. Essa concepção é incompatível com a Constituição; a maior evidência reside na existência de interesse público não estatal (as organizações não go- vernamentais)”. Segundo o autor, não é possível definir interesse público a partir da identidade do seu titular, concluindo que: “É público não por ser titularidade do Estado, mas é atribuído ao Estado por ser público”. As atividades estatais no Estado Democrático de Direito subordina-se a um critério fundamental que é anterior à supremacia do interesse público. Trata-se da indisponibilidade dos direitos fundamentais. Assim, uma decisão produzida por meio de procedimentos satisfató- rios e com respeito aos direito fundamentais e aos inte- resses legítimos poderá ser reputada como traduzindo o “interesse público”. Mas, não legitimará mediante a invo- cação a esse interesse publico, e sim porque compatível com os direitos fundamentais (JUSTEN FILHO, p. 45). ção normativamente inferior por meio de interpretação harmonizada. Em vez de prestigiar o sentido das pala- vras, consagra-se a interpretação compatível com o sis- tema jurídico” (JUSTEN FILHO, p. 57). Na cátedra de Luis Roberto Barroso, quando não se mostra evidente a inconstitucionalidade de uma norma, entre