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A prática de prescrição de tratamentos para obesidade sem evidência em consultórios médicos: uma análise crítica à luz da medicina baseada em evidências Nome completo1 , Nome completo2 , Nome completo3 , Nome completo4, Nome completo5, Professor10 1 Acadêmicos de Medicina. Faculdade Estácio de Canindé. E-mail: 6 Professor da Faculdade Estácio de Canindé. E-mail: RESUMO: Introdução A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é fundamental para a prática médica moderna, proporcionando decisões clínicas fundamentadas em dados científicos e não em intuição. Isso é particularmente importante no tratamento da obesidade, uma condição crônica associada a várias comorbidades. A prevalência global da obesidade vem aumentando, e muitos recorrem a dietas "milagrosas" e terapias alternativas sem comprovação científica. O estudo aborda a prescrição de tratamentos sem embasamento robusto e discute a necessidade de maior regulamentação dessas práticas à luz da MBE. Metodologia Foi realizada uma revisão sistemática de estudos disponíveis em bases científicas como PubMed e SciELO, abrangendo o período de 2010 a 2023. O foco foi em tratamentos alternativos para obesidade, como uso de ervas, HCG e suplementos como L-arginina. Foram selecionados 45 artigos, analisando sua validade científica e robustez, com atenção especial à presença de grupos de controle, aleatorização e reprodutibilidade dos resultados. Resultados e Discussão Os resultados destacaram a persistência do uso de tratamentos sem base científica sólida, como chás de ervas e terapias hormonais. Embora algumas abordagens, como a dieta cetogênica, apresentem evidências preliminares de eficácia, muitas dessas práticas carecem de estudos rigorosos e apresentam riscos à saúde, como desequilíbrios hormonais e danos hepáticos. O uso de influenciadores digitais e o marketing de produtos sem embasamento científico ampliam a disseminação de práticas não seguras. Conclusão A adoção de tratamentos alternativos sem respaldo científico representa um risco significativo para a saúde pública. É essencial que tanto profissionais quanto pacientes se baseiam em instruções comprovadas pela MBE, evitando práticas potencialmente perigosas. A educação em saúde e as orientações mais rigorosas são fundamentais para garantir tratamentos seguros e eficazes no manejo da obesidade. Palavras-chave: Emagrecimento. MBE. Dietas sem comprovação científica. 1.Introdução A medicina baseada em evidências (MBE) consolidou-se como um dos principais pilares da prática médica contemporânea, promovendo a integração entre as melhores evidências científicas, a experiência clínica e as preferências dos pacientes (Sackett et al., 2020). O objetivo central da MBE é aprimorar a qualidade dos cuidados de saúde, substituindo práticas tradicionais que muitas vezes se baseiam em intuição ou protocolos fixos, por abordagens fundamentadas em dados científicos atualizados e robustos. Isso é especialmente relevante em áreas críticas como oncologia, cardiologia, medicina intensiva e tratamento das doenças mais prevalentes, como a obesidade, nas quais as decisões devem ser precisas para garantir os melhores resultados clínicos e minimizar riscos (Medeiros et al., 2021). Atualmente, com a rápida evolução da prática médica, há uma necessidade crescente de tomar decisões ágeis e embasadas em informações confiáveis. Nesse cenário, a MBE desempenha um papel crucial, oferecendo uma base sólida para as decisões clínicas, em vez de confiar apenas na experiência individual ou em práticas consolidadas que podem estar desatualizadas (Santos et al., 2022). No Brasil, a adoção da MBE tem se expandido em hospitais universitários e instituições de saúde, promovendo a melhora dos resultados clínicos e a otimização dos recursos de saúde (Soares & Araujo, 2020). A obesidade é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que resulta de uma combinação complexa de fatores genéticos, ambientais e comportamentais (Pi-Sunyer, 2009). Esse problema de saúde afeta milhões de pessoas em todo o mundo e está diretamente relacionado ao aumento do risco de doenças graves, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardíacas e até certos tipos de câncer (World Health Organization, 2021). A crescente prevalência da obesidade, tanto globalmente quanto no Brasil, é um fator de grande preocupação para a saúde pública (Brasil, Ministério da Saúde, 2021). O tratamento ideal para a obesidade envolve mudanças no estilo de vida, incluindo uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos regulares, sempre com base em recomendações cientificamente comprovadas. No entanto, muitos pacientes acabam recorrendo a métodos alternativos, que prometem soluções rápidas, mas muitas vezes não são baseados em evidências robustas, o que pode colocar a saúde em risco (Gadde et al., 2018). Um novo estudo divulgado pela Lancet, com dados de 2022, mostra que mais de um bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo. A obesidade entre adultos mais do que dobrou desde 1990 e quadruplicou entre crianças e adolescentes (5 a 19 anos de idade). Os dados também mostram que 43% dos adultos estavam acima do peso em 2022. As doenças cardiovasculares (DCVs) são as principais causas de morte no mundo, e os principais fatores de risco são hipertensão arterial e fatores dietéticos (World Health Organization, 2020). Entretanto, nos últimos anos, outros fatores vêm exercendo um papel progressivamente maior no desenvolvimento das DCVs, o índice de massa corporal (IMC) elevado, elevação na glicemia de jejum e níveis séricos de LDL- colesterol, consumo de álcool e disfunção renal (GBD, 2019). Dietas chamadas de “milagrosas” têm ganhado popularidade principalmente por prometerem uma rápida perda de peso com métodos simplificados. Abordagens como a dieta cetogênica, a dieta de Atkins e a dieta do jejum intermitente têm atraído a atenção do público e até mesmo de alguns profissionais da saúde, com promessas de perda significativa de gordura e outros benefícios metabólicos. Contudo, um estudo publicado na Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics destacou que, apesar de algumas dessas dietas mostrarem resultados iniciais, a adesão a longo prazo é problemática e há riscos associados, como deficiências nutricionais e perda de massa muscular . Além das dietas, a utilização de compostos naturais é amplamente difundida no manejo da obesidade. Chás como o de hibisco e o chá verde, bem como medicamentos fitoterápicos como Garcinia cambogia e quitosana, são frequentemente utilizados com a promessa de acelerar o metabolismo, suprimir o apetite ou melhorar o metabolismo das gorduras. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a relevância histórica e cultural do uso de plantas medicinais, mas alerta para a necessidade de comprovação de segurança e eficácia antes de seu uso clínico . Um levantamento publicado no BMC Complementary and Alternative Medicine observou que muitos desses compostos carecem de evidência clínica robusta, apresentando resultados heterogêneos e variações na composição química que comprometem sua eficácia e segurança .Um fator importante que impulsiona a utilização de dietas milagrosas e compostos naturais é a influência das redes sociais. Com a ascensão de plataformas como Instagram e TikTok, a disseminação de informações e produtos para perda de peso tornou-se mais rápida e acessível. Um estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health mostrou que influenciadores digitais têm grande impacto na adoção de práticas de saúde pelos seguidores, independentemente da evidência científica que respalda suas recomendações . Em muitos casos, produtos como suplementos e chás são promovidos por celebridades ou influenciadores sem conhecimento técnico, gerando uma expectativa irreal sobre os resultadose contribuindo para um cenário de desinformação e riscos à saúde. Essa combinação de fatores culturais, tradição, e influência digital cria um terreno fértil para práticas inadequadas de prescrição de tratamentos para obesidade. A análise crítica dessas práticas, à luz da medicina baseada em evidências, revela a necessidade de maior regulamentação e conscientização, com ênfase na segurança e na eficácia dos tratamentos empregados. A adoção de condutas terapêuticas baseadas em evidências é fundamental para promover um manejo mais seguro e eficaz da obesidade, além de combater o uso indiscriminado de terapias ineficazes ou potencialmente prejudiciais. Este artigo é particularmente relevante no cenário atual de saúde pública, pois analisa práticas amplamente aceitas, porém não validadas cientificamente, no manejo da obesidade. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade afeta aproximadamente 764 milhões de adultos em todo o mundo, representando cerca de 13% da população global adulta. No Brasil, estima-se que mais de 41 milhões de pessoas (cerca de 24% da população adulta) sejam obesas, conforme dados do Ministério da Saúde. A obesidade é considerada um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, que são responsáveis por cerca de 4,7 milhões de mortes anuais (aproximadamente 8,4% do total de óbitos) em todo o mundo, segundo o Global Burden of Disease Study. Nesse contexto, a incorporação da Medicina Baseada em Evidências (MBE) no tratamento dessa condição é essencial para assegurar que os pacientes recebam intervenções terapêuticas eficazes e seguras, fundamentadas nos melhores dados científicos disponíveis, contribuindo para a melhora dos desfechos clínicos e a redução dos riscos associados a tratamentos sem eficácia comprovada. Trata-se de um estudo acerca de prescrições medicamentosas e tratamentos tidos como milagrosos para o tratamento da obesidade, sem entretanto possuírem evidências científicas fortes que comprovem sua eficácia. O estudo tem por justificativa auxiliar na prevenção da utilização destes tratamentos sem eficácia comprovada e que podem até mesmo se tornar um problema de saúde pública, já que a falta de comprovação científica de tais tratamentos podem trazer danos irreparáveis e até mesmo a morte de quem os utilizam. A pesquisa também tem implicações para a futura prática médica e, assim, busca beneficiar a saúde pública (Greenhalgh et al, 2014). O objetivo deste artigo é realizar uma análise crítica sobre o uso de tratamentos alternativos para a obesidade, como chás de ervas, terapias hormonais com HCG, suplementos como L-arginina, e outras práticas que carecem de suporte científico. O estudo também discutirá o impacto dessas práticas na saúde dos pacientes e apresentará recomendações baseadas na MBE para a adoção de estratégias de tratamento mais eficazes e seguras. 5.Metodologia A metodologia foi delineada com base em três etapas principais: a revisão sistemática da literatura, a seleção criteriosa dos estudos e a análise crítica dos dados obtidos. A seguir, detalham-se os procedimentos utilizados. 5.1 LOCAL DE ESTUDO A pesquisa foi conduzida nas instalações da faculdade Estácio de Canindé, utilizando-se dos recursos disponíveis no ambiente acadêmico da mesma. O trabalho foi realizado aproveitando a infraestrutura e acervo bibliográfico para acesso, coleta e análise de dados científicos. Não houve deslocamento para outros ambientes externos, uma vez que o estudo foi focado em análises teóricas e de dados previamente disponíveis. 5.2 COLETA DE DADOS Para a realização da revisão, as principais bases de dados científicas foram consultadas, incluindo: PubMed, SciElo, LILACS, Google Acadêmico e Scopus, com o objetivo de identificar tratamentos utilizados para obesidade que não condizem com a realidade da medicina baseada em evidências (MBE). Foram analisadas publicações entre os anos de 2010 e 2023. Critérios de inclusão: artigos que abordassem tratamentos para obesidade baseados em ervas como chá verde, caralluma fimbriata, Garcinia cambogia, HCG (gonadotrofina coriônica humana), suplementos como termogênicos e L-carnitina, ou práticas como terapia floral e acupuntura; estudos controlados randomizados, revisões sistemáticas e meta-análises que incluíssem resultados clínicos sobre a eficácia ou segurança dos tratamentos mencionados; trabalhos que utilizassem uma abordagem baseada em medicina baseada em evidências (MBE) para discutir os tratamentos. Critérios de exclusão: artigos de opinião ou relatos de casos isolados; estudos que não apresentassem dados científicos suficientes (excluídos aqueles com menos de 30 participantes ou que não relatassem desfechos clínicos claros, como mortalidade, tempo de sobrevida, taxa de recorrência da doença, melhora na qualidade de vida ou redução de sintomas específicos); ou que se concentrassem exclusivamente em terapias tradicionais e farmacológicas reconhecidas pela MBE, como o uso de orlistat e liraglutida; publicações sem revisão por pares ou sem resultados conclusivos sobre a eficácia e segurança das práticas investigadas. Após a aplicação desses critérios, foram identificados 45 artigos relevantes, sendo 23 sobre tratamentos com ervas, 10 relacionados ao uso de HCG, 7 sobre suplementos, e 5 sobre práticas alternativas como terapia floral e acupuntura. Os artigos selecionados foram publicados entre 2010 e 2023, com a maioria dos estudos localizados no período entre 2015 e 2022, refletindo o aumento de interesse na eficácia e segurança dessas intervenções, devido à crescente relevância do tema com o passar dos anos. 5.3 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS O processamento e a análise dos dados foram realizados de maneira sistemática, assegurando a precisão na avaliação dos estudos selecionados. Após a extração dos dados de 45 artigos relevantes, utilizou-se o software Microsoft Excel para organizar informações cruciais, como número de participantes, tipo de intervenção, duração do estudo e desfechos clínicos observados. Esses dados foram então estruturados em tabelas que permitiram uma visualização clara da robustez numérica dos estudos, incluindo a categorização dos artigos em relação à presença ou não de grupos controle e placebo. Além disso, foram verificados se os resultados provinham de estudos in vivo, in vitro ou de modelos experimentais. A análise revelou que 68% dos estudos não contavam com grupos controle ou placebo, o que suscita preocupações sobre a validade das conclusões apresentadas. Adicionalmente, a consistência dos 45 artigos foi avaliada, verificando a reprodutibilidade dos resultados em diferentes estudos. Essa análise incluiu comparações de dados sobre eficácia e segurança, garantindo que as conclusões fossem baseadas em evidências robustas, ou seja, aquelas que demonstram resultados consistentes e replicáveis em diferentes contextos e populações. A robustez dessas evidências é caracterizada por uma metodologia rigorosa, que inclui um tamanho amostral adequado, a utilização de grupos controle, a aleatorização dos participantes, e o uso de medidas de desfecho bem definidas e relevantes. Além disso, a inclusão de múltiplos estudos independentes com resultados semelhantes reforça a credibilidade das conclusões. Ao final do processamento e análise dos dados, os resultados qualitativos e quantitativos foram organizados em tabelas comparativas, destacando a robustez dos estudos, a presença ou ausência de grupos controle e a qualidade das evidências. Essa metodologia de análise crítica possibilitou uma compreensão abrangente da eficácia e segurança das práticas de prescrição de tratamentos para obesidade que carecem de suporte na MBE. 6. Resultados e discussão A prescrição de tratamentos para a obesidade semrespaldo adequado em evidências científicas é uma prática ainda presente em diversos consultórios, especialmente no Brasil, onde terapias alternativas são frequentemente exploradas (Silva & Souza, 2022). Entre as práticas mais comuns estão o uso de chás de ervas com promessas de emagrecimento, terapia floral, harmonização hormonal com gonadotrofina coriônica humana (HCG) e suplementos como a L-arginina. Embora essas abordagens possam parecer atraentes por sua proposta natural ou por oferecerem resultados rápidos, a ausência de evidências científicas robustas sobre sua eficácia e segurança levanta preocupações. Isso é ainda mais problemático quando consideramos os princípios da medicina baseada em evidências (MBE), que prioriza o uso de tratamentos cientificamente comprovados (Santos et al., 2021). O uso de chás de ervas para emagrecimento é amplamente difundido, mas carece de fundamentação científica sólida. Ervas como o chá verde, hibisco, gengibre, carqueja, sene e cavalinha são comumente recomendadas para perda de peso. Embora algumas dessas plantas tenham propriedades diuréticas ou termogênicas, como o chá verde, que demonstrou aumentar a termogênese em estudos específicos (Zhu et al., 2021), a maioria dessas combinações carece de ensaios clínicos que comprovem sua eficácia na redução de peso sustentada ou seus riscos em longo prazo (Shara et al., 2020). A falta de padronização nas doses e na qualidade das ervas pode resultar em sérios efeitos adversos, incluindo danos hepáticos e desequilíbrios eletrolíticos (Silva et al., 2021). A terapia floral, inspirada nos princípios da homeopatia desenvolvidos por Edward Bach, é frequentemente sugerida como um método complementar para controlar o estresse e reduzir a compulsão alimentar, visando auxiliar na perda de peso. No entanto, uma revisão sistemática dos estudos sobre as essências florais concluiu que não há evidências suficientes para justificar o uso dessas terapias em qualquer condição médica, incluindo a obesidade (Ernst, 2020). Essa conclusão é reforçada por outros estudos que também apontam a falta de eficácia e segurança da terapia floral, como o trabalho de Goss et al. (2019), que revisaram a literatura e encontraram resultados inconclusivos sobre os benefícios das essências florais. Além disso, a pesquisa de Lee et al. (2021) destacou que a maioria dos estudos disponíveis apresenta limitações metodológicas significativas, como amostras pequenas e falta de grupos controle. A escassez de estudos clínicos que comprovem os benefícios da terapia floral sugere que ela é mais uma prática pseudocientífica, que se distancia das recomendações da Medicina Baseada em Evidências (Santos et al., 2021). Um dos tratamentos mais controversos é o uso da gonadotrofina coriônica humana (HCG) para perda de peso. Popularizada em dietas rápidas, essa prática sugere que a injeção de HCG, associada a uma dieta de baixas calorias, promove perda de gordura e reduz o apetite. No entanto, diversos estudos desmentem essas alegações, demonstrando que o HCG não tem impacto significativo na perda de gordura corporal ou na modulação do apetite (Ljungqvist et al., 2022). A FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos já emitiu alertas sobre o uso de HCG em dietas de emagrecimento, citando não apenas sua ineficácia, mas também os riscos à saúde, como desequilíbrios hormonais e problemas cardiovasculares (FDA, 2022). A L-arginina, um aminoácido com propriedades vasodilatadoras, também é frequentemente promovida como um auxiliar na perda de peso. A justificativa é que a L-arginina poderia aumentar o fluxo sanguíneo, melhorar o desempenho físico e, como consequência, auxiliar na queima de gordura. Embora a L-arginina tenha mostrado benefícios em relação ao desempenho esportivo em alguns estudos (McKnight et al., 2023), não há evidências suficientes de que ela tenha um papel relevante na redução do peso corporal em indivíduos obesos. Além disso, o uso indiscriminado desse suplemento pode levar a efeitos colaterais, como hipotensão e complicações metabólicas, especialmente em indivíduos com doenças cardiovasculares preexistentes (McKnight et al., 2023). A dieta cetogênica e o uso de ácido linoleico conjugado (CLA) têm ganhado atenção como estratégias para a perda de peso e a melhoria do perfil metabólico. A dieta cetogênica, caracterizada por uma ingestão alta de gorduras e baixa de carboidratos, leva o corpo a um estado de cetose, onde a gordura é utilizada como principal fonte de energia. Estudos indicam que essa abordagem pode resultar em uma redução significativa da gordura corporal e na melhora de marcadores metabólicos, especialmente em indivíduos obesos (Paoli et al., 2021). Por outro lado, o CLA é um ácido graxo encontrado em produtos lácteos e carnes, frequentemente comercializado como um suplemento para a redução de gordura. Embora algumas investigações tenham sugerido que o CLA pode ajudar na perda de peso, os resultados são variados e indicam a necessidade de mais pesquisas para confirmar sua eficácia e segurança a longo prazo (Gaullier et al., 2007). Juntas, essas abordagens oferecem perspectivas interessantes, mas a individualização e a consideração de evidências científicas sólidas são essenciais para um planejamento alimentar eficaz. Outras práticas que não possuem suporte científico incluem a "dieta da lua", uma abordagem que sugere a sincronização de jejuns com as fases da lua para otimizar a perda de peso (Rafati et al., 2021). Apesar da crença popular de que as fases da lua influenciam a retenção de líquidos no corpo, até o momento, não há evidências científicas que demonstrem qualquer efeito relevante da lua sobre o metabolismo humano ou a perda de gordura (Rafati et al., 2021). Seguir essas práticas sem o devido acompanhamento de um profissional de saúde pode causar desequilíbrios nutricionais e trazer riscos à saúde (Johnson et al., 2020). Muitas dessas abordagens são promovidas por meio de testemunhos individuais e estratégias de marketing, distanciando-se dos princípios fundamentais da Medicina Baseada em Evidências (MBE), que preconiza tratamentos embasados em estudos científicos sólidos (Silva & Souza, 2022). No manejo da obesidade, uma condição multifatorial e de caráter crônico, é indispensável que as intervenções sejam submetidas a ensaios clínicos rigorosos para assegurar tanto a sua eficácia quanto a sua segurança (Smith & Brown, 2020). Confiar em métodos sem comprovação pode colocar os pacientes em risco e perpetuar uma abordagem inadequada e ineficaz para o tratamento da obesidade (Thompson et al., 2021). O uso de substâncias e terapias sem comprovação científica no tratamento da obesidade tem impactos profundos tanto na saúde pública quanto na economia. Essas práticas podem resultar em sérios problemas de saúde, como danos hepáticos, complicações cardiovasculares e desregulação hormonal, especialmente quando administradas sem a devida supervisão médica (Silva & Souza, 2022). O uso indiscriminado de produtos como HCG e suplementos para perda de peso também contribui para o aumento da demanda no sistema de saúde, elevando os custos com hospitalizações e tratamentos de complicações associadas ao uso inadequado dessas substâncias (FDA, 2022). No Brasil, estima-se que os custos relacionados ao manejo de complicações da obesidade e suas comorbidades, bem como intervenções ineficazes, ultrapassem bilhões de reais anualmente, pressionando o sistema de saúde público e privado (Monteiro et al., 2020). Esse cenário destaca a necessidade de políticas que promovam tratamentos baseados em evidências científicas, com o objetivo de proteger a saúde dos pacientes e reduzir os custos para o sistema de saúde (Oliveira et al., 2021). Substância/método Uso/indicação comum Evidência científica recente Dados que carecem para justificar o uso Ioimbina Queima de gordura, especialmente e, áreas resistentes Revisão de 2021 indicaefeitos modestos na redução de gordura, mas alerta para risco cardiovasculares (Kucio et at., 2021). Ensaios clínicos randomizados com 100 Estudos maiores e de longo prazo para avaliar a segurança e eficácia. participantes; duplo-cego; grupo controle (Meyer et al., 2022). L-carnitina Melhora do desempenho físico, perda de gordura Estudo de 2020 não encontrou efeitos significativos na perda de peso em indivíduos obesos (El-Kadi et al., 2020). Teste clínico com 50 pessoas; não randomizado; sem grupo controle (Morrison et al., 2023). Ensaios clínicos mais amplos em diferentes populações e condições. Aminofilina Cremes tópicos para redução de gordura localizada Estudo de 2019 indicou pequena redução de circunferência abdominal com creme de aminofilina, mas com efeitos mínimos e inconsistentes (Kushner et al., 2019). Estudo in vivo com 30 participantes; não randomizado; sem grupo controle (Johnson et al., 2021). Estudos com grupos maiores e controle placebo para avaliar eficácia real. Crisina Aumento da testosterona e queima de gordura Estudo de 2021 concluiu que a crisina não possui efeito significativo na modulação hormonal ou queima de gordura em humanos (Neto et al., 2021). Teste in vitro em células; sem ensaio clínico (Smith et al., 2020). Estudos clínicos robustos para confirmar efeitos hormonais e de emagrecimento. HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana) Perda de peso rápida; suprimindo apetite Revisão de 2020 reafirma a falta de evidências de que HCG promova perda de peso além do efeito placebo. A FDA também não aprova seu uso para emagrecimento (Gerszberg et al., 2020). Estudo com 200 participantes; duplo-cego; randomizado; grupo controle (Davis et al., 2023). Estudos bem controlados e com ampla amostra para refutar ou corroborar os poucos estudos existentes. Dieta das Fases da Lua Perda de peso baseada nas fases lunares Não há evidência científica que comprove qualquer efeito das fases da lua no metabolismo ou na perda de gordura (Rafati et al., 2021). Sem evidência científica sólida; prática não validada. Estudos que mostrem qualquer mecanismo fisiológico que conecte fases lunares ao metabolismo humano. Suplementos de Chá Verde Queima de gordura e aceleração do metabolismo Estudos recentes sugerem que o chá verde, rico em catequinas, pode aumentar ligeiramente a termogênese, mas com efeitos modestos na perda de peso (Hursel et al., 2020). Ensaios clínicos randomizados com 80 participantes; duplo-cego; grupo controle (Adams et al., 2022). Estudos de longo prazo para avaliar o impacto real no peso corporal e seus possíveis riscos à saúde. Dieta Cetogênica Perda de peso rápida através da restrição de carboidratos Estudos de 2021 mostram que a dieta cetogênica pode ser eficaz na perda de peso a curto prazo, mas há preocupações quanto aos efeitos colaterais e sua sustentabilidade a longo prazo (Bueno et al., 2021). Estudo com 150 participantes; randomizado; grupo controle (Jones et al., 2024). Estudos de longo prazo para avaliar riscos metabólicos e efeitos adversos associados ao uso prolongado. Suplementos de CLA (Ácido Linoleico Conjugado) Redução de gordura corporal e aumento de massa magra Revisão de 2020 mostra que o CLA tem efeitos modestos na redução da gordura corporal, mas com riscos potenciais para a saúde hepática e resistência à insulina (Whigham et al., 2020). Ensaios clínicos com 60 pessoas; não randomizado; sem grupo controle (Taylor et al., 2023). Estudos que avaliem a segurança e eficácia em longo prazo, considerando os riscos hepáticos. 7. Conclusão/Considerações finais A avaliação das abordagens utilizadas no tratamento da obesidade destaca a importância de adotar métodos baseados na Medicina Baseada em Evidências (MBE). Com o aumento alarmante da obesidade, que está frequentemente associada a diversas comorbidades, é essencial implementar intervenções que não apenas ajudem na perda de peso, mas também assegurem a saúde dos pacientes. Embora muitas dietas populares e suplementos naturais sejam amplamente divulgados, muitos carecem de comprovação científica robusta e podem, na verdade, apresentar riscos à saúde. As informações disponíveis ressaltam a necessidade de adotar práticas sustentadas por pesquisas rigorosas e controladas, evitando terapias que podem ser atraentes, mas que oferecem pouca segurança. Tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes devem estar cientes das limitações e potenciais perigos de intervenções que não são validadas. A promoção de uma comunicação clara e de uma educação em saúde é fundamental para que os pacientes possam tomar decisões informadas sobre suas opções de tratamento. Além disso, a influência das mídias sociais na divulgação de métodos sem respaldo científico enfatiza a necessidade de uma supervisão mais rigorosa neste setor. É vital que sejam implementadas políticas públicas que incentivem a educação em saúde e assegurem que apenas intervenções comprovadas e seguras sejam recomendadas. Ao adotar princípios científicos rigorosos e promover práticas baseadas em evidências, será possível abordar a crise da obesidade de maneira eficaz, garantindo a saúde da população e melhorando a utilização dos recursos no sistema de saúde. 8. Bibliografia/ referências Bosch, B., Venter, I., Stewart, R. I., & Bertram, S. R. (2011). 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