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UNIVERSIDADE PAULISTA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CAMPUS PAULISTA RELATÓRIO DE MONOGRAFIA OS IMPACTOS DA CRISE DE COVID-19 NAS ECONOMIAS DOS BRICS GABRIEL CASSIANO GARCIA SÃO PAULO 2024 GABRIEL CASSIANO GARCIA OS IMPACTOS DA CRISE DA COVID-19 NAS ECONOMIAS DOS BRICS Relatório de Monografia apresentado ao Instituto de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Paulista como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientação: Profº. Dr. Marcelo Álvares de Lima Depieri. SÃO PAULO 2024 CIP - Catalogação na Publicação Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Garcia, Gabriel Os Impactos da Crise de Covid-19 nas Economias dos BRICS / Gabriel Garcia. - 2024. 86 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Sociais e Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2024. Área de Concentração: Macroeconomia. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Depieri. 1. Crise de Covid-19. 2. BRICS. 3. Principais ideias de Keynes. I. Depieri, Marcelo (orientador). II. Título. GABRIEL CASSIANO GARCIA OS IMPACTOS DA CRISE DA COVID-19 NAS ECONOMIAS DOS BRICS Relatório de Monografia apresentado ao Instituto de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Paulista como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientação: Profº. Dr. Marcelo Álvares de Lima Depieri. Aprovado em: ____/____/_______ BANCA EXAMINADORA Componente da Banca Examinadora – Universidade Paulista (UNIP) Componente da Banca Examinadora – Universidade Paulista (UNIP) Componente da Banca Examinadora – Universidade Paulista (UNIP) “A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas escapar das antigas”. John Maynard Keynes AGRADECIMENTOS Agradeço ao meus pais por seus ensinamentos e por todo o investimento que tiveram em mim. Sou grato também, por todo o apoio e incentivo em todas as fases da minha vida. Agradeço aos meus colegas que sempre confiaram em mim e no meu potencial, que me ensinaram a trabalhar em equipe, que me ajudaram a enfrentar os desafios diários. Sou grato também por terem tornado nossa jornada de aprendizagem mais alegre e divertida, e por me permitirem a aprender com eles. Agradeço aos meus professores por me ensinarem lições importantes e estimularem minha curiosidade. Especialmente ao professor Marcelo Depieri, o qual me orientou ao longo do desenvolvimento desta pesquisa desde o projeto até o relatório de monografia. Por fim, agradeço a todos os demais que por ventura eu possa ter esquecido de mencionar aqui e que contribuíram de maneira direta ou indireta para o meu desenvolvimento. RESUMO O presente estudo teve como objetivo analisar os impactos da pandemia de Covid-19 nas economias dos BRICS e as mediadas adotadas para combatê-los. Para alcançá- lo foram utilizados os métodos de análise bibliográfica, para analisar artigos e documentos relacionados ao tema, e estatístico descritivo, para analisar os dados dos BRICS referentes aos principais indicadores socioeconômicos. Nesse sentido, incialmente apresentou-se um breve histórico da vida de John Maynard Keynes e em seguida suas principais ideias, as quais contrariavam a economia clássica como é o caso do desemprego involuntário, da não neutralidade da moeda e do papel do Estado frente as flutuações econômicas. Na parte seguinte analisou-se a conjuntura econômica de cada um dos BRICS durante a pandemia, dessa forma foram abordados a atividade econômica, mercado de trabalho e inflação no período, além das medidas tomadas para combater a expansão do vírus e auxiliar trabalhadores e empresas. No capítulo seguinte, analisou-se comparativamente os indicadores socioeconômicos dos BRICS nos últimos quatro anos. Por fim, concluiu-se que a maioria dos BRICS tiveram uma piora nos seus indicadores socioeconômicos durante a pandemia com exceção da China, a qual conseguiu manter seu nível de atividade econômica, apesar de um relativo aumento no desemprego e inflação como os demais países. Além disso, verificou-se que todos os países adotaram como principais medidas a restrição a circulação de pessoas, suspenção de serviços não essenciais, controle de fronteiras e medidas de auxílio a trabalhadores e empresas. Palavras-chave: Covid-19. BRICS. Keynes. Indicadores socioeconômicos. ABSTRACT The present study aimed to analyze the impacts of the Covid-19 pandemic on the BRICS economies and the measures adopted to combat them. To achieve this, the methods of bibliographic analysis, to analyze articles and documents related to the theme, and descriptive statistics, to analyze the BRICS data regarding the main socioeconomic indicators, were used. In this sense, initially a brief history of the life of John Maynard Keynes was presented and then his main ideas, which contradicted classical economics such as involuntary unemployment, the non-neutrality of the currency and the role of the State in the face of economic fluctuations. In the next part, the economic situation of each of the BRICS during the pandemic was analyzed, thus addressing economic activity, labor market and inflation in the period, in addition to the measures taken to combat the expansion of the virus and help workers and companies. In the following chapter, the socioeconomic indicators of the BRICS in the last four years were comparatively analyzed. Finally, it was concluded that most of the BRICS had a worsening in their socioeconomic indicators during the pandemic, with the exception of China, which managed to maintain its level of economic activity, despite a relative increase in unemployment and inflation like the other countries. In addition, it was found that all countries adopted as main measures the restriction of the movement of people, suspension of non-essential services, border control and measures to help workers and companies. Keywords: Covid-19. BRICS. Keynes. Socioeconomic indicators. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Variação trimestral do PIB brasileiro em 2020 com base no quarto trimestre de 2019......................................................................................................23 Gráfico 2 – Taxa de desemprego brasileira por faixa etária em 2020....................25 Gráfico 3 – Comportamento da inflação brasileira ao longo de 2020....................27 Gráfico 4 – Variação trimestral do PIB russo em 2020 com base no quarto trimestre de 2019......................................................................................................30 Gráfico 5 – Taxa de desemprego russa por faixa etária em 2020..........................31 Gráfico 6 – Comportamento da inflação russa ao longo de 2020..........................32 Gráfico 7 – Variação trimestral do PIB indiano em 2020 com base no quarto trimestre de 2019......................................................................................................35 Gráfico 8 – Taxa de desemprego indiana por faixa etária em 2020.......................38 Gráfico 9 – Comportamento da inflação indiana ao longo de 2020.......................39 Gráficoassalariados foi de 68,4 milhões, porém esse número subiu em agosto para 73,8 milhões. Quando os autores analisaram por faixa etária concluíram que o desemprego foi maior entre os indianos de 15 a 39 anos. Por fim, eles ainda explicaram que os impactos da pandemia atingiram de forma mais negativa as micro, pequenas e médias empresas, as quais são aquelas que mais empregam. Os autores estimaram perdas de até 16 bilhões de dólares para essas empresas. Gosh, Nundy e Mallick (2020) apontaram ainda para a desigualdade com que a pandemia afetou o mercado de trabalho. A perda de emprego foi mais sentida pelas classes mais baixas urbanas e pelos trabalhadores rurais, enquanto para as classes mais altas urbanas, a adoção da modalidade do teletrabalho por parte das empresas, assegurou uma boa parte dos empregos, mesmo com rendimentos menores. Dev e Sengupta (2020) lembraram que o setor informal também foi mais impactado do que o setor formal, pois os trabalhadores informais não possuíam nenhum tipo de proteção social e estavam mais vulneráveis as incertezas em relação ao trabalho. Saha e Roychowdhury (2021, p. 371, tradução nossa) chamaram atenção para os migrantes, os quais ficaram presos nas cidades sem acesso a alimentação e abrigo, além disso Diante da incerteza e dos parcos recursos, os trabalhadores migrantes fugiam dos centros urbanos para chegar em casa, situada a milhares de quilômetros de distância, a pé. Isso levou a uma cadeia de eventos, culminando em uma 39 crise, se desenrolando nas ruas da Índia, com muitos perdendo suas vidas no processo.6 Ademais, notou-se uma desigualdade também em relação ao gênero. Segundo Abraham, Basole e Kesar (2022) dos 70% dos homens que estavam empregados antes da pandemia, 88% conseguiram se manter empregados ou voltaram a força de trabalho entre agosto e setembro de 2020. Entretanto, no caso das mulheres, das 10% que estavam empregadas antes da pandemia, apenas 53% conseguiram se manter no emprego ou voltaram para força de trabalho entre agosto e setembro. O Gráfico 8 expos a taxa de desemprego por faixa etária em 2020. Por intermédio dos dados observou-se que o grupo etário menos afetado foi o de trabalhadores com mais de 65 anos em que a taxa chegou a 2,4%. Em seguida os grupos mais jovens apresentaram taxas maiores como visto no grupo de 25 a 34 anos com uma taxa de 10,1% e no grupo de 15 a 24 anos com uma taxa de 24,5%. Gráfico 8 – Taxa de desemprego indiana por faixa etária em 2020 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da OIT (2024). Em relação a inflação observou-se uma alta no preço dos alimentos em 11% devido a problemas na cadeia de abastecimento. Isso levou a uma alta de 7% no índice de inflação geral no varejo. Além disso, houve um aumento 5,2% nos preços de bens e serviços da área de saúde. Também ocorreu um aumento de 8,6% no item 6 “Faced with uncertainty and meagre resources, migrant labourers were fleeing urban centres to reach home, situated thousands of miles away, on foot. This led to a chain of events, eventually culminating into a crisis, unfolding on the streets of India, with many losing their lives in the process”. 24,5% 10,1% 3,3% 3,0% 2,9% 2,4% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 15 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 anos ou mais 40 transporte e comunicação, o que se explicou pelo aumento dos impostos sobre a gasolina (YADAV, JAIN e NARANG, 2021). Ademais, nos itens de segmento pessoal registrou-se um aumento de 12,07% no nível de preços em outubro com aumento nos preços dos adornos de ouro e prata, os quais aumentaram, respectivamente, 33,77% e 36,66% (YADAV, JAIN e NARANG, 2021). O Gráfico 9 mostrou o comportamento da inflação na Índia ao longo do ano de 2020. Observou-se que a inflação se manteve em um patamar maior que 4% durante o ano inteiro. Além disso, ela apresentou uma tendência de queda até março em que fechou em 5,84%. Em abril houve um aumento maior que 7%, porém nos meses seguintes até agosto, ela não ultrapassou esse valor. Em outubro a inflação atingiu seu ponto mais alto durante o período, 7,61%. Posteriormente, ela voltou a apresentar uma tendência de queda e fechou o ano em 4,59%, o ponto mais baixo do período. Ademais, a inflação média do ano foi 6,63%. Gráfico 9 – Comportamento da inflação indiana durante o ano de 2020. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). 3.4 Crise de Covid-19 na China A Covid-19 teve origem na China, na cidade de Wuhan e começou a se espalhar pelos habitantes da cidade entre meados de dezembro de 2019. No dia 1 do mês seguinte havia 381 infectados e no dia 11 registrou-se a primeira morte. Em março foram contabilizados mais de 80 mil casos (NETO, 2020). Jabbour e Rodrigues 7,59% 6,58% 5,84% 7,22% 6,27% 6,23% 6,73% 6,69% 7,27% 7,61% 6,93% 4,59% JAN. FEV. MAR. ABR. MAI . JUN. JUL . AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. 41 (2021) ainda lembraram que, por volta desse período, o número de óbitos chegou 4.643 com uma taxa de letalidade de 5,5%. Em novembro, o número de infectados chegou a mais de 91 mil, porém o número de mortes não teve um aumento significativo, sendo 4.742 mortes (JINGYI et al., 2021). Para fazer frente a essa crise o governo chinês [...] realizou o lockdown da cidade de Wuhan, epicentro da epidemia com mais de 11 milhões de habitantes, com um controle de circulação de pessoas completo e altamente restritivo, cancelando as festividades do Ano Novo chinês, fechando locais turísticos e obstando o transporte público. A partir de então, cada cidade e/ou província foi organizando os níveis de paralisação, a depender dos casos e dos riscos da região (JABBOUR e RODRIGUES, 2021, p. 14) Adicionalmente, Jabbour e Rodrigues (2021) destacaram os principais mecanismos utilizados pelo governo para combater o vírus, entre eles estavam: ampliação do sistema de saúde, aumento do volume de insumos médicos, construção de hospitais de emergência, uso intensivo de tecnologia, comunicação em tempo real com aqueles que tiveram contato com uma pessoa infectada e mobilização de médicos e cientistas para desenvolverem medicamentos e tratamentos contra o vírus. Com a finalidade de minimizar os impactos econômicos, a China utilizou a política monetária e fiscal para garantir o emprego dos trabalhadores, auxiliar as empresas e diminuir os efeitos negativos sobre as cadeias produtivas. Entre as medidas da política monetária destacaram-se a redução do compulsório bancário, da taxa de juros, abertura de linhas de crédito, concessão de empréstimos bancários para as empresas e corte na taxa de recompensa de reserva. Entre as medidas da política fiscal destacaram-se isenção de impostos para as companhias áreas e para as pequenas empresas, suspenção da contribuição a seguridade social, redução das tarifas de energia elétrica e adiamento do pagamento de aluguéis para pequenas empresas (JABBOUR e RODRIGUES, 2021). Diante dessas medidas, Zhao (2020) expos que o PIB caiu 6,8% no primeiro trimestre de 2020 devido a uma queda no investimento em capital fixo e no consumo das famílias. Sendo assim, o PIB da China cresceu apenas 2,3% em 2020 se comparado ao ano anterior (ZHANG et al., 2022). Complementarmente, Xu, Wu e Cao (2020) acrescentaram que as indústrias que foram mais impactadas negativamente pela pandemia foram turismo, indústria de transformação, têxtil e de transportes, 42 enquanto informação, compras online e serviços de entrega tiveram um crescimento durante a pandemia. O Gráfico 10 apresentou a variação trimestral do PIB chinês em 2020 com relação ao quarto trimestre de 2019. Por meio dos dados, observou-se que a economia chinesa teve uma trajetória ascendente ao longo do ano. No primeiro trimestre ocorreu à maior queda do período -26,03%com relação ao trimestre anterior. Porém, nos trimestres seguintes a economia chinesa conseguiu se recuperar e fechou o quarto trimestre de 2020 com uma variação de 6,41% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Ademais, constatou-se que em média o PIB variou -8,11% em relação ao quarto trimestre de 2019. Gráfico 10 – Variação trimestral do PIB chinês em 2020 com base no quarto trimestre de 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). As medidas econômicas implantadas pelo governo também tiveram efeito positivo sobre o comércio exterior. Nesse sentido, em abril [...] as exportações do país somaram 1,41 trilhão de yuans (US$ 198,8 bilhões), ante uma queda de 11,4% no primeiro trimestre. As exportações chinesas de bens subiram 8,2% em termos anuais em abril, adicionando sinais de que o comércio exterior do país vem se estabilizando na medida em que as capacidades estatais, via projetamento, se sobressaem. As importações caíram 10,2%, para 1,09 trilhão de yuans em abril, resultando em um superávit comercial de 318,15 bilhões de yuans. Nos primeiros quatro meses, o comércio exterior de bens totalizou 9,07 trilhões de yuans, uma queda de 4,9% em termos anuais (JABBOUR e RODRIGUES, 2021, p. 21). -26,03% -9,20% -3,60% 6,41% -30,00% -25,00% -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 10,00% 2020.T1 2020.T2 2020.T3 2020.T4 43 Em relação ao mercado de trabalho, em fevereiro de 2020 ocorreu uma queda de 40% na criação de novos empregos se comparado ao mesmo período de 2019 (ZHAO, 2020). Ademais, a taxa de desemprego chegou a 3,66% em março (JABBOUR e RODRIGUES, 2021). Ainda, segundo Zhang et al (2022), a taxa de desemprego na área urbana fechou o ano em 4,2% e entre os setores com as maiores perdas de emprego estavam construção, educação, hotelaria e restaurantes. Jingyi et al. (2021) lembraram que em abril houve uma flexibilização das medidas restritivas e taxa de retorno ao trabalho chegou a 92,1%. O desemprego atingiu de maneira mais grave os trabalhadores migrantes. De acordo com Kemp e Spearritt (2021) esses trabalhadores eram empregados no setor de serviços, o setor mais afetado pela pandemia. Além disso, muitos migrantes, os quais tinham retornado as suas cidades de origem acabaram impossibilitados de retornar para seus empregos nos grandes centros urbanos. Isso levou a um aumento da oferta de mão de obra nas áreas rurais, o que, consequentemente, resultou em uma queda no rendimento per capita. Quanto ao rendimento, o salário anual para trabalhadores do setor não privado cresceu 5,3% e do setor privado cresceu também 5,3%. Esses resultados levaram a um crescimento de apenas 2,1% na renda per capita (ZHANG et al., 2022). No que tange as horas trabalhadas detectou-se uma queda de mais de 30% quando comparado com o ano de 2019 (KEMP e SPEARRITT, 2021). Em relação a inflação, entre janeiro e março de 2020 houve uma queda de 0,7 pontos percentuais no núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (ZHAO, 2020). Porém, quando se analisou o ano como um todo, o Índice de Preços ao Consumidor teve um aumento de 2,5% se comparado ao ano anterior, enquanto o Índice de Preços ao Produtor reduziu 1,8% (CEPR, 2021). Liu (2023) acrescentou ainda que entre os itens que compõe o índice de inflação observou-se que a queda no preço dos alimentos, sobretudo da carne suína, o que levou ao declínio no nível geral de preços em fevereiro. Outro fator que explicou a queda da inflação foi a diminuição da demanda, em fevereiro as vendas de bens de consumo atingiram uma redução de 20,5%. O Gráfico 11 apresentou o comportamento da inflação na China durante o ano de 2020. Com base nos dados apurou-se que até o mês de maio a inflação apresentou uma tendência de queda em que chegou a 2,41%. Esse comportamento também foi 44 observado a partir do mês de agosto em que se destacou o mês de novembro onde a inflação atingiu o ponto mais baixo, –0,45%. Ademias, durante o período a média da inflação ficou em 2,44%. Gráfico 11 – Comportamento da inflação chinesa ao longo de 2020. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). 3.5 Crise de Covid-19 na África do Sul A África do Sul foi duramente afetada pela pandemia do Covid-19, Mateus (2021, p. 98) caracterizou a situação do país da seguinte maneira, UMA QUEBRA CINCO VEZES MAIOR do que a crise de 2009, assim se compara a contração de mais de 50 por cento do produto interno bruto da economia mais industrializada do continente no segundo trimestre de 2020, em agravamento de um quadro de recessão já anterior à pandemia do novo coronavírus. A África do Sul começou a aplicar as medidas para conter o vírus em 27 de março de 2020. No início de maio o governo começou a flexibilizar as medidas. Mesmo assim, em setembro o país contabilizava 13.308 mortes e 613.017 casos. No mês seguinte os casos chegaram a 706.304 (MATEUS, 2021). Entre essas medidas, destacaram-se o lockdown de três semanas, com limitação do tamanho das reuniões públicas, fechamento de escolas, suspensão de viagens e fechamento de portos, e a testagem em massa (SA-TIED, 2020). Além dessas medidas sanitárias o governo organizou um pacote de estímulos para economia, a fim de diminuir os efeitos 5,42% 5,18% 4,27% 3,25% 2,41% 2,51% 1,76% 2,39% 1,73% 0,54% -0,45% 0,27% JAN. FEV. MAR. ABR. MAI . JUN. JUL . AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. 45 negativos causados tanto pelo vírus como pelo lockdown (RANCHHOD e DANIELS, 2021). Somou-se a esse pacote medidas de seguridade social como o Regime de Assistência a Empregados Temporários e Empregados (TERS) e o Subsídio de Apoio à Criança (CSG) (SALDRU, 2020). Destacaram-se também outras medidas fiscais voltadas para ajudar os trabalhadores e as micro e pequenas empresas, entre elas estavam: o uso do seguro- desemprego para ajudar os profissionais afetados pela pandemia, subsídios fiscais para trabalhadores com rendimentos baixos, distribuição de cestas básicas, financiamento de micro e pequenas empresas em dificuldades, assim como concessão de empréstimos para auxiliá-las em suas despesas operacionais, e isenção de IVA para mercadorias consideradas essenciais. Enquanto isso, entre as medidas monetárias destacou-se a redução da taxa repo para que houvesse liquidez suficiente na economia (CHIMERI e OLUWATAYO, 2022). Para garantir a continuidade das medidas econômicas, o governo sul-africano em julho de 2020 recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual liberou um empréstimo de emergência de ZAR 70 bilhões. Além desse empréstimo, a África do Sul também recorreu ao Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e ao Novo Banco de Desenvolvimento (AREN, 2022). Ademais, Mateus (2021, p. 98) pontuou que O maior produtor mundial de platina e crómio (e um dos principais de ouro e diamantes) reduziu a metade a sua produção mineira durante o confinamento, mas já tinha entrado em recessão desde o último quadrimestre de 2019, devido a uma série de factores conjunturais. A pandemia de Covid-19 também trouxe impactos negativos para o governo sul-africano, com o colapso das empresas públicas e quebra nas receitas fiscais, esses fatores contribuíram para a um aumento do déficit orçamental (MATEUS, 2021). A respeito disso, Aren (2022, p. 209) ponderou que “[...] o déficit orçamentário do governo e os empréstimos vencidos aumentaram de ZAR432.7 bilhões em 2019/ 2020 para ZAR670.3 bilhões em 2020/ 2021”. Aren (2020) ainda colocou que o déficit orçamentário chegou a 14% do PIB devido as medidas tomadas para combater a pandemia e a queda na arrecadação em ZAR 40 bilhões, além disso a dívida pública chegou a 77% do PIB nominal em junho de 2020. 46 Setorialmente observou-se que “o sector agrícola (o mais industrializado do continente) foi a única excepção a um quadro recessivo generalizado, coma Construção Civil, Manufatura e Minas a registarem quebras de mais de 70 por cento”. (MATEUS, 2021, p. 98). Destacou-se também que entre os setores mais afetados pelas medidas restritivas estava o turismo (SA-TIED, 2020). Sucheran (2021) apontou que 50.000 empresas ligadas ao setor fecharam temporariamente, enquanto a ocupação nos hotéis caiu 50%. Ainda Mateus (2021) pontuou que a pandemia resultou em uma diminuição do consumo com serviços de hotelaria em 99,9%, enquanto produtos relacionados a comunicação tiveram um ligeiro aumento de 3,6%. Todos os fatores citados anteriormente afetaram a atividade econômica de tal forma que, segundo Chimeri e Oluwatayo (2022, p. 45, tradução nossa) O Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul foi avaliado em R$ 5,5 trilhões em 2020 (a preços correntes), inferior ao PIB de 2019 (avaliado em R$ 5,6 trilhões, a preços correntes). A despesa de consumo final das famílias representou 64% do PIB em 2019 e 62% do PIB em 2020. As despesas das administrações públicas representaram cerca de 20% do PIB nos últimos dois anos, sendo a parte residual do PIB atribuível às despesas de investimento e às exportações líquidas.7 O Gráfico 12 apresentou a variação trimestral do PIB sul-africano em 2020 com relação ao quarto trimestre de 2019. Inicialmente observou-se que a economia sul- africana foi afetada de maneira mais branda no primeiro trimestre quando comparado ao segundo em que teve a maior queda, -16,88%. No entanto, o país demonstrou uma certa recuperação, mesmo que abaixo dos patamares adequados. Nesse sentido, a variação no último trimestre de 2020 com relação ao mesmo trimestre do ano anterior foi -2,84%. Adicionalmente, em média o PIB variou -6,30% em relação ao último trimestre de 2019. 7 “The gross domestic product (GDP) of South Africa was valued at R5.5 trillion in 2020 (at current prices), lower than the GDP in 2019 (valued at R5.6 trillion, in current prices). Final consumption expenditure by households accounted for 64% of the GDP in 2019 and 62% of the GDP in 2020. Expenditure by general government was about 20% of GDP in the last two years, with the residual share of GDP attributable to investment expenditure and net exports”. 47 Gráfico 12 – Variação trimestral do PIB sul-africano em 2020 com base no quarto trimestre de 2019 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do FMI (2024). Em relação ao mercado de trabalho na África do Sul com o fechamento temporário de diversas empresas muitos trabalhadores foram impedidos de voltarem para seus postos de trabalho (RANCHHOD e DANIELS, 2021). A taxa de desemprego no país chegou 30,1% no primeiro trimestre de 2020, enquanto atingiu 32,6% no primeiro trimestre do ano seguinte (AREN, 2022). Ademais, Ranchhod e Daniels (2021) comentaram sobre os resultados do O Estudo Nacional de Dinâmica de Renda – Pesquisa Móvel Rápida de Coronavírus (NIDS-CRAM). Segundo os autores, o estudo analisou uma amostra de 6.000 sul- africanos com idades entre 18 e 59 anos e concluiu que entre fevereiro de 2020, 57% da amostra esteva empregada, porém em abril esse número caiu para 48% devido ao lockdown. Os pesquisadores observaram também que entre os grupos mais afetados estavam os negros, as mulheres, pessoas com baixo nível de escolaridade, trabalhadores que possuíam atividades manuais e trabalhadores informais. Comparativamente, Ranchhod e Daniels (2021, p. 51, tradução nossa) afirmaram que Quando olhamos para os grupos demográficos, observamos um padrão que é comum em todos os inquéritos ao mercado de trabalho na África do Sul: alguns grupos demográficos experimentam o desemprego de forma muito mais severa do que outros. Por exemplo, se compararmos a ampla taxa de desemprego entre os entrevistados africanos/negros e brancos, vemos -0,04% -16,88% -5,44% -2,84% -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 2020.T1 2020.T2 2020.T3 2020.T4 48 estimativas de 45,8% e 16,09%, respectivamente. A taxa de desemprego (ampla) para os entrevistados negros/africanos é, portanto, quase três vezes maior do que para os entrevistados brancos.8 Quando comparada a porcentagem de empregados por gênero perceberam que 58,1% dos homens estavam empregados, já para as mulheres esse percentual atingiu 40,7%. Além disso, 50% dos trabalhadores que realizavam atividades manuais perderam seus empregos (RANCHHOD e DANIELS, 2021). Outro aspecto analisado pelos autores foram as horas trabalhadas. Na amostra daqueles que estavam empregados em fevereiro 85,6% trabalhavam entre 6 e 12 horas. Já em abril esse número caiu para 67,4%. Adicionalmente, em relação aos salários, observou-se que em fevereiro 41,3% daqueles, os quais estavam empregados ganhavam menos de 3.000 rands sul-africanos. Além disso, os trabalhadores que obtiveram uma licença remunerada tiveram uma queda 4,5% no seu salário (RANCHHOD e DANIELS, 2021). Destacou-se que em abril 50% dos trabalhadores receberam algum subsídio, entre eles, apenas 20% receberam o auxílio do TERS e 39% receberam apenas o CSG (SALDRU, 2020). O Gráfico 13 apresentou a taxa de desemprego por faixa etária em 2020. Mediante os dados, apurou-se que o desemprego atingiu mais severamente os grupos mais jovens. Nesse sentido, para o grupo de trabalhadores de 15 a 24 anos, a taxa chegou a um pouco mais de 50% e para o grupo de 25 a 34 anos, a taxa atingiu mais que a metade do grupo anterior, 36,7%. Por outro lado, os dois grupos menos afetados foram os trabalhadores de 55 a 64 anos e com mais de 65 anos, os quais tiveram, respectivamente, uma taxa de desemprego de 11,1% e 5,3%. 8 “When looking across demographic groups, we observe a pattern that is common across all labour market surveys in South Africa: some demographic groups experience unemployment much more severely than others. For exemple, if we compare the broad unemployment rate amongst African/Black and White respondents, we see estimates of 45,8% and 16,09% respectively. The (broad) unemployment rate for Black/African respondents is thus almost three times as high as it for White respondentes”. 49 Gráfico 13 – Taxa de desemprego sul-africana por faixa etária em 2020 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da OIT (2024). Em relação a inflação, ela se manteve moderada conforme as variáveis macroeconômicas se recuperavam, assim como as previsões para a taxa de inflação diminuíram à medida que a economia sul-africana apresentava alguma melhora. Nesse sentido, a meta de inflação foi estabelecida em 4,5%. Incialmente observou-se uma alta no preço dos alimentos e bebidas não alcoólicas, enquanto o preço dos combustíveis apresentou queda (CEPR, 2021). O Gráfico 14 mostrou o comportamento da inflação sul-africana ao longo do ano de 2020. A partir dos dados, observou-se que até março a inflação manteve-se em um patamar superior a 4%. Porém, nos três meses seguintes ela ficou abaixo dos 3% com destaque para o mês de maio em que chegou ao ponto mais baixo do período 2%. No restante do ano a inflação ficou entre 3% e 4% com exceção para o mês de setembro. Além disso, em média a inflação ficou em 3,22%. 59,4% 36,7% 24,4% 17,6% 11,1% 5,3% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 15 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 anos ou mais 50 Gráfico 14 – Comportamento da inflação sul-africana ao longo de 2020. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). 4,32% 4,51% 4,14% 2,89% 2,00% 2,10% 3,19% 3,08% 2,85% 3,29% 3,17% 3,06% JAN. FEV. MAR. ABR. MAI . JUN. JUL . AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. 51 4. ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DOS BRICS NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS O presente capítuloapresenta uma análise comparativa dos principais indicadores socioeconômicos dos BRICS nos últimos quatro anos (2020-2023). Para isso, foram utilizados indicadores como: PIB e seus componentes, sendo considerados os componentes pela ótica da despesa como consumo das famílias, consumo do governo, formação bruta de capital fixo (FBCF), variação de estoques, exportações e importações. Além disso, foram analisados o índice de preços ao consumidor, taxa de desemprego e IDH e seus componentes, sendo eles, a expectativa de vida, média de anos de escolaridade da população, anos esperados de escolaridade e renda nacional bruta per capita ajustada a paridade de poder de compra (ppc). 4.1 PIB dos BRICS nos últimos quatro anos O comportamento do PIB dos BRICS nos últimos quatro anos foi exposto no Gráfico 15. Para auxiliá-lo a Tabela 1 apresentou as variações percentuais do PIB de cada um dos BRICS com base no ano de 2019. Por meio desses instrumentos, constatou-se que, de um modo geral, os BRICS conseguiriam recuperar sua atividade econômica dos efeitos da pandemia. Além disso, observou-se que a economia chinesa foi a que apresentou melhor desempenho durante todo período e foi a menos impactada quando comparada a dos outros países, sendo que em 2023, o PIB chinês foi o que apresentou a maior variação, 20,14%, com relação a 2019. Por outro lado, a economia sul-africana foi a mais impactada visto que a variação do seu PIB em 2020 com relação ao do ano anterior foi -6,17%, o que representou a maior queda de todo o período. 52 Gráfico 15 – Variação percentual do PIB dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). Tabela 1 – Variação percentual do PIB dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -3,28% 1,33% 4,39% 7,42% Rússia -2,65% 3,18% 1,89% 5,61% Índia -5,94% 2,92% 9,64% 18,14% China 2,24% 10,88% 14,15% 20,14% África do Sul -6,17% -1,52% 0,36% 1,06% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). Ainda no que tange a China, de acordo com o Banco de Compensações Internacionais (BIS, 2021), o bom desempenho da economia chinesa em 2020 se deu devido ao forte investimento em ativos fixos e aumento das exportações. Já em 2021, houve uma desaceleração econômica causada pelas medidas anti-Covid tomadas para combater a variante Omicron. Essas medidas interromperam as redes de abastecimento e reduziram o consumo. Também foram adotadas medidas regulatórias para controlar o setor imobiliário, um dos setores chave para o crescimento econômico do país (BIS, 2022). -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 53 Em relação ao demais países, notou-se que a atividade econômica na Índia também teve um bom desempenho uma vez que o país apresentou uma variação média de 6,19%, sendo superado apenas pela China com uma variação média de 11,85%. Apesar do desempenho da atividade econômica indiana ter sido o segundo pior em 2020, ao longo do período ele apresentou melhora de forma que em 2021 a Índia conseguiu superar o desempenho do Brasil e em 2022, o da Rússia. Ainda com base na variação média, o Brasil ficou atrás de China e Índia, com uma variação média 2,47%. Adicionalmente, o Brasil em 2022 conseguiu ter um desempenho melhor o da Rússia. Com relação a Rússia, o país mostrou uma variação média de 2,01%, sendo maior apenas que a da África do Sul, cuja variação média foi -1,57%. Ademais, entre janeiro e junho de 2020, a economia russa se contraiu devido [...] as restrições sanitárias domésticas, a redução da demanda externa e as dificuldades de transporte, a queda dos preços do petróleo e dos volumes de produção sob os acordos da OPEP +, o aumento da incerteza e a deterioração do sentimento empresarial. Isso resultou em uma redução significativa no consumo, investimento e renda real, bem como um aumento no desemprego (EDB, 2020, p. 4, tradução nossa).9 Adicionalmente em 2022, a atividade econômica russa sofreu com as sanções impostas pelo ocidente devido a invasão da Rússia a Ucrânia. Essas sanções afetaram as exportações e importações do país, e levaram a saída de muitas empresas estrangeiras (BANCO DA RÚSSIA, 2023). Por fim, em relação a África do Sul, averiguou-se que a economia do país levou mais tempo para se recuperar se comparada com as dos demais. Nesse sentido, enquanto os outros países apresentaram variações positivas do PIB ainda em 2021, a África do Sul só apresentou variações positivas a partir de 2022 e mesmo assim elas não ultrapassaram 2%. 9 “Among the key factors influencing economic trends were the domestic health restrictions, reduced external demand and difficulties with transportation, falling oil prices and production volumes under the OPEC+ agreements, increased uncertainty and a deterioration in business sentiment. These resulted in a significant reduction in consumption, investment and real income, as well as a rise in unemployment”. 54 4.1.1 Componentes do PIB pela ótica da despesa O Gráfico 16 apresentou o comportamento do consumo das famílias nos últimos quatro anos. A fim de complementá-lo a Tabela 2 expos as variações no consumo das famílias nos últimos quatro anos com base no ano de 2019. A partir dos dados expostos, observou-se que o comportamento do consumo das famílias foi parecido com o do PIB, ou seja, apresentou uma queda em 2020, exceto a China, e se recuperou ao longo do período para todos os BRICS. Ademais, na China o consumo das famílias mostrou melhor desempenho quando comparado aos dos outros países. Nesse país, em 2020, o consumo das famílias se manteve aproximadamente igual ao do ano passado enquanto para os outros países houve queda e em 2023, a variação chegou a 27,4% quando comparado com 2019. Em contrapartida na África do Sul, o consumo das famílias apresentou seu pior desempenho. Nesse sentido, em 2020, o consumo das famílias no país sofreu a maior queda do período, -24%. Gráfico 16 – Variação percentual do consumo das famílias nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). -30,0% -20,0% -10,0% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 55 Tabela 2 – Variação percentual do consumo das famílias nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -4,6% -1,7% 2,3% 5,5% Rússia -5,9% 5,4% 4,2% 10,9% Índia -6,6% 4,5% 13,0% 16,8% China 0,0% 13,1% 16,3% 27,4% África do Sul -24,0% -0,3% 2,1% 2,8% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Em relação aos demais países destacou-se o Brasil, no qual o consumo das famílias teve o segundo pior desempenho com uma variação média de 0,4% no período, sendo melhor apenas do que a África do Sul, no qual a variação média chegou a -4,9%. Adicionalmente, apurou-se que o desempenho do consumo das famílias só se recuperou em 2022. Na Índia, o consumo das famílias apresentou o segundo melhor desempenho com uma variação média de 6,9% e ficou atrás apenas da China, na qual a variação média foi 14,2%. Além disso, novamente observou-se que em 2020, o desempenho do consumo das famílias havia sido o segundo pior, porém se recuperou nos anos seguintes, sendo em 2021 superou o Brasil e em 2022, a Rússia. Por fim, na Rússia a variação média foi de 3,6%, o que levou o país a ficar atrás de China e Índia. Ainda, ressaltou-se que, apesar da Rússia ter um pior desempenho do que o do Brasil em 2020, no ano seguinte o desempenho do consumo das famílias russo conseguiu superar o brasileiro. Aindaem 2020, o desempenho do consumo das famílias foi afetado pelas medidas restritivas, aumento do desemprego e queda dos rendimentos (EDB, 2020). Em relação a formação bruta de capital fixo (FBCF), o Gráfico 17 apresentou o comportamento dela nos últimos quatro anos. Com o objetivo de completá-lo a Tabela 3 mostrou as variações da formação bruta de capital fixo com base em 2019. De acordo com os dados apresentados, constatou-se que a FBCF se recuperou em quase todos os BRICS, exceto a África do Sul. No que tange esse país, notou-se que, embora a FBCF tenha se recuperado ao longo do tempo, ela continuou abaixo do nível pré-pandemia. Isso foi atestado pela variação de -7,66% em 2023. Além disso, 56 o país teve o pior resultado do período em 2021, -15,15%. No sentido oposto, na Índia a FBCF atingiu o maior valor do período, 24,54%, em 2023, sendo que superou a China, onde a FBCF teve o melhor desempenho quando levou-se em consideração a variação média do período. Gráfico 17 – Variação percentual da FBCF nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Tabela 3 – Variação percentual da FBCF nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -1,75% 10,93% 12,14% 8,77% Rússia -4,03% 2,50% 9,39% 19,03% Índia -10,68% 7,10% 15,01% 24,54% China 1,93% 14,12% 19,50% 23,35% África do Sul -14,77% -15,15% -11,09% -7,66% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Ao se analisar a variação média da FBCF observou-se que na China a FBCF se comportou de maneira mais favorável com uma variação média de 15%, além disso observou-se que para esse país não houve queda durante o período da pandemia. -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 57 Em seguida, a Índia apresentou a segunda maior variação média, 9%. Novamente apurou-se que nessa nação o FBCF teve o segundo pior desempenho em 2020, porém, se recuperou ao longo do tempo, de forma que em 2021 superou a Rússia, em 2022, o Brasil, e em 2023 a China. O país com o terceiro melhor desempenho foi o Brasil, no qual a variação média da FBCF chegou a 8%. O Brasil teve o segundo melhor desempenho até 2021, porém ao longo dos anos seguintes foi superado pela Índia e Rússia. Em relação a este último, ele apresentou uma variação média de 7%, sendo melhor apenas do que a África do Sul. Mesmo assim, durante o período a FBCF apresentou um comportamento de crescimento consistente de maneira que superou o Brasil em 2023, com uma variação de 19,03%. Além disso, o Banco de Desenvolvimento Euroasiático (EDB, 2020) afirmou que o desempenho da FBCF russa em 2020 se deu por causa das incertezas dos empresários, queda da demanda externa e do consumo interno. Por último, a África do Sul teve uma variação média de -12% da FBCF com relação a 2019. No que tange a variação de estoques, a Tabela 4 expos a variação de estoques em bilhões de dólares dos BRICS nos últimos quatro anos. A partir dos dados, apurou- se que na China a variação dos estoques foi maior do que a dos outros BRICS durante todo o período, exceto em 2023, no qual os dados não estavam disponíveis. Além disso, destacou-se o ano de 2022, em que a variação de estoques no país atingiu 222,03 bilhões de dólares, sendo a maior do período. Por outro lado, na África do Sul a variação dos estoques teve o pior desempenho. Tabela 4 – Variação de estoques nos BRICS nos últimos quatro anos (em bilhões de dólares) País 2020 2021 2022 2023 Brasil -6,57 26,80 5,62 -9,84 Rússia 28,31 64,79 35,19 77,52 Índia 5,18 28,70 34,48 35,35 China 129,34 211,89 222,03 * África do Sul -4,30 -0,58 4,73 1,78 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Banco Mundial (2024). *Os dados da variação de estoques na China em 2023 não estavam disponíveis. 58 Em relação aos demais países, a Rússia apresentou uma variação média de estoques de 51,45 bilhões de dólares, sendo o segundo país com o melhor desempenho, atrás apenas da China, a qual apresentou uma variação média de US$187,75 bilhões. Em seguida, veio a Índia com uma variação média de 25,93 bilhões. Por fim, Brasil e África do Sul apresentaram os piores desempenhos. O Brasil teve uma variação média de estoques de apenas US$ 4 bilhões, sendo o país mais afetado pela pandemia em 2020. Porém, houve uma recuperação no ano seguinte e uma queda em 2022 e 2023. Para esse último ano especificamente, a variação dos estoques chegou a US$ -9,84 bilhões, sendo a menor do período estudado. Do outro lado, a África do Sul teve uma variação média US$ 0,41 bilhões e durante o período da pandemia suas variações foram negativas. O Gráfico 18 expos o comportamento do consumo dos governos dos BRICS nos últimos quatro anos. Para auxiliá-lo foi desenvolvida a Tabela 5, a qual mostrou as variações percentuais do consumo dos governos dos BRICS nos últimos quatro anos com base no ano de 2019. De acordo com os dados, concluiu-se que o consumo final do governo teve uma tendência de crescimento ao longo do tempo nos BRICS. Adicionalmente, notou-se que na China, Rússia e África do Sul o consumo do governo aumentou quando comparado com 2019. Além disso, constatou-se que o consumo do governo chinês foi o que mais cresceu no período dentre os BRICS, sendo um destaque o ano de 2023 em que o consumo do governo foi 25,76% maior que 2019, o que se caracterizou como a maior variação dentro do período estudado. Também se observou que o consumo do governo chinês apresentou a maior variação média, 14,4%. 59 Gráfico 18 – Variação percentual do consumo dos governos nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Tabela 5 – Variação percentual do consumo dos governos nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -3,69% 0,33% 2,48% 4,19% Rússia 1,95% 3,99% 7,12% 14,62% Índia -4,55% -0,46% 5,86% 12,47% China 4,95% 9,81% 16,87% 25,79% África do Sul 0,93% 1,53% 2,15% 4,06% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Durante o período, o governo russo também manteve seu consumo bem acima dos demais quando comparado a 2019. A variação média do consumo do governo quando comparado com 2019 foi 6,9% e ficou atrás apenas da China. Em sequência o melhor desempenho foi da Índia, onde a variação média chegou a 3,3%. Incialmente, o país mostrou o pior desempenho durante a pandemia e mesmo em 2021, quando em todos os países o consumo do governo aumentou, o governo indiano ainda consumia menos do que em 2019. Nos dois anos que se seguiriam, o governo indiano conseguiu se recuperar da pandemia e aumentou seu consumo, de modo que suas -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 60 variações superaram a de Brasil e África do Sul. Em relação ao segundo, o consumo do governo teve uma variação média de 2,2% e ao longo do período seu desempenho foi bem próximo ao do Brasil, no qual houve o pior desempenho com uma variação média de 0,8% em relação a 2019. Em relação as exportações, o Gráfico 19 exibiu o comportamento das exportações dos BRICS nos últimos quatro anos. A fim de complementá-lo a Tabela 6 apresentou as variações percentuais das exportações nos últimos quatro anos com base em 2019. Segundo os dados, averiguou-se que os BRICS conseguiram recuperar o nível de suas exportações no pós-pandemia. Adicionalmente, notou-se que as exportações em todos os países aumentaram em relação a 2019. Ainda, ressaltou-se que dentre os países do grupo, as exportaçõesda África do Sul foram as mais impactadas pela pandemia, visto que o país apresentou o pior desempenho em 2020 em que a variação chegou a -12% com relação a 2019, sendo a menor variação do período. Por outro lado, a Rússia apresentou a maior variação do período em 2022, 39,55%, de forma que conseguiu superar a China, o qual foi país em que as exportações tiveram o melhor desempenho durante o período. Gráfico 19 – Variação percentual das exportações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI, Banco Mundial e NBS of China (2024). -20,00% -10,00% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 61 Tabela 6 – Variação percentual das exportações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -2,29% 1,99% 7,85% 17,70% Rússia -11,84% 29,70% 39,55% 27,50% Índia -10,67% 11,95% 29,63% 34,17% China 3,73% 26,20% 37,92% 37,03% África do Sul -12,00% -3,51% 3,07% 6,91% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI, Banco Mundial e NBS of China (2024). Quanto aos demais países, a China apresentou a maior variação média do período, 26,22%, e foi o único país em que as exportações foram maiores que no ano anterior a pandemia. Além disso, segundo os dados do International Trade Center (ITC, 2023), dentre os produtos exportados, aqueles que tiveram maior peso para o valor das exportações no período foram máquinas e equipamentos elétricos. Ademais, o país que mais gerou receitas para as exportações chinesas foram os Estado Unidos. Logo depois da China, a Rússia foi o país com o segundo melhor desempenho nas exportações, de modo que a variação média das suas exportações foi 21,23%, e consegui superar o desempenho da China em 2021 e 2022. Dentre os produtos com maior peso para suas exportações estavam produtos de origem mineral como combustíveis e óleos. A China foi o país que mais gerou receitas para as exportações russas durante o período (ITC, 2023). Na Índia, as exportações tiveram o terceiro melhor desempenho com uma variação média de 16,27%. Embora, tenha sido um dos mais impactados pela pandemia com uma queda de -10,67% das suas exportações comparado com o ano anterior, ao longo do período se recuperou e superou o desempenho de Brasil e Rússia. Durante esses quatro anos, o principal parceiro comercial da Índia e responsável pelas maiores receitas das exportações foram os Estados Unidos. Ainda, constatou-se que os produtos de origem mineral como combustíveis e óleos tiveram o maior peso para as exportações (ITC, 2023). O país com o segundo pior desempenho das exportações foi o Brasil com uma variação média de 6,31% em relação a 2019. De acordo com os dados do ITC (2023), os produtos, os quais corresponderam pelos maiores valores das exportações 62 brasileiras foram sementes, grãos e produtos de origem mineral. O maior parceiro comercial do Brasil no período foi a China. Por fim, a África do Sul apresentou o pior desempenho durante o período com uma variação média de – 1,38%. Ademais, observou-se que para esse país a recuperação das exportações ocorreu em 2022, sendo mais devagar que a dos outros países, os quais haviam se recuperado no ano anterior. O principal parceiro comercial da África do Sul foi a China e os principais produtos exportados foram pérolas e pedras preciosas e semipreciosas (ITC, 2023). Em relação as importações, o Gráfico 20 apresentou a comportamento das importações dos BRICS nos últimos quatro anos. Para auxiliá-lo a Tabela 7 exibiu a variação percentual das importações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019. A partir dos dados, observou-se que o comportamento das importações foi diferente entre os países dos BRICS. Dessa forma, enquanto na Rússia as importações oscilaram entre momentos de crescimento e declínio, nos demais países elas tiveram uma tendência de crescimento. Ainda sobre as importações russas, elas chegaram a maior variação do período em 2023 com 41,58%. Por outro lado, na África do Sul houve a menor variação do período, -17,57% em 2020, ano que o país foi atingido pela pandemia. Gráfico 20 – Variação percentual das importações nos BRICS nos últimos quatro anos com base me 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI, Banco Mundial e NBS of China (2024). -30,00% -20,00% -10,00% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 63 Tabela 7 – Variação percentual das importações nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019 País 2020 2021 2022 2023 Brasil -9,48% 2,97% 3,95% 2,71% Rússia -3,44% 21,67% 3,71% 41,58% Índia -16,36% 4,14% 17,34% 27,67% China -4,97% 15,68% 22,68% 28,47% África do Sul -17,57% -9,65% 3,88% 7,99% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados FMI, Banco Mundial e NBS of China (2024). A Rússia apresentou a maior variação média das importações com 15,88%. Durante o período, os principais produtos importados foram baterias, caldeiras, máquinas e aparelhos mecânicos. Além disso, a maior parte do valor das importações correspondeu a produtos vindos da China. No que se refere a China, as importações apresentaram uma variação média de 15,47% em relação a 2019. A maior parte dos valores pagos pelas importações foram para o Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos e a maior parcela do valor pago pelas importações foram por máquinas e equipamentos elétricos (ITC, 2023). Na Índia, a variação média das importações foram 8,20%. Ainda, de acordo com os dados do ITC (2023), os bens com maior valor importados pelo país foram produtos de origem mineral como combustíveis e óleos, e os maiores valores pagos foram para China. As importações no Brasil variaram em média 0,04% em relação a 2019. A maior fração do valor pago pelas importações foram para China. Adicionalmente, baterias, caldeiras, aparelhos mecânicos e produtos de origem mineral, foram os principais bens importados pelo país em termos de valores monetários (ITC, 2023). Por último, na África do Sul, as importações variaram em média -3,84%. Nesse país, os principais bens importados em termos de valores monetários foram produtos de origem mineral e a maior parte do valor pago pelas importações foi para China (ITC, 2023). Em síntese, quando analisados todos os componentes de forma conjunta durante o período, concluiu-se que para o Brasil o componente que apresentou melhor 64 desempenho foi a FBCF. No caso da Rússia, Índia e China foram as exportações. E no caso da África do Sul foi o consumo do governo. 4.2 Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos A inflação nos BRICS demonstrou um comportamento distinto dentre os países. Assim como mostrou o Gráfico 21, o qual expos o comportamento da inflação no BRICS durante 2020 a 2023, e a Tabela 8, a qual trouxe os números da inflação durante o mesmo período. Por meio dos dados, observou-se que na pandemia, a inflação no Brasil e na Rússia aumentou, enquanto na China e Índia, ela diminuiu. Já na África do Sul, ela se manteve estável. Após a pandemia, a inflação teve uma trajetória de queda nos BRICS. Além disso, a Rússia apresentou o maior valor do período estudado, 13,8% em 2022, e a China, apresentou o menor valor, 0,2% em 2023. Gráfico 21 – Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do Banco da Rússia (2024). 0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 65 Tabela 8 – Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos País 2020 2021 2022 2023 Brasil 4,50% 10,10% 5,80% 4,60% Rússia 3,40% 6,70% 13,80% 7,40% Índia 6,60% 5,10% 6,70% 5,70% China 2,50% 0,90% 2,00% 0,20%África do Sul 3,30% 3,30% 6,90% 5,20% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do Banco da Rússia (2024). A Rússia foi o país que demonstrou a maior média do período, 7,83%. No primeiro ano da pandemia, a nação apresentou um dos menores índices, porém ao longo do período a inflação aumentou no país até atingir 13,8% em 2022, de forma que superou a inflação da Índia e do Brasil nesse ano. Além disso, o resultado em 2020 se deve, de acordo com o Banco de Desenvolvimento Euroasiático (EDB, 2020), ao efeito de repasse da taxa de câmbio e aumento do preço dos alimentos. Já em 2021, houve aumento da demanda, o qual não foi acompanhado pela oferta e, portanto, gerou pressões inflacionárias (BANCO DA RÚSSIA, 2022). Segundo dados do FMI (2024), os itens que apresentaram a maior alta no período da pandemia foram alimentos e bebidas não alcoólicas com uma média de 9,92% e transportes com uma média de 7,94%. O Brasil apresentou uma inflação média de 6,25% durante o período estudado. Nesse país, houve uma alta da inflação durante o período da pandemia e nos últimos dois anos, ela mostrou uma tendência de queda. Ademais, de acordo com BIS (2023, p. 31, tradução nossa), “[...] estima-se que os cortes de impostos sobre energia tenham reduzido a inflação em 2,5 pontos percentuais em 2022.”10 Entre os itens que tiveram maior alta no período da pandemia, estavam alimentos e bebidas e combustíveis, os quais tiveram em média um aumento de 11% e 22% respectivamente (BRICS JOINT STATISTICAL PUBLICATION, 2023). A Índia foi o país com a terceira maior média, 6,03%. Em 2020, o país apresentou a maior inflação dentre os BRICS e durante o período como um todo a 10 “For instance, in Brazil energy tax cuts are estimated to have lowered headline inflation by 2.5 percentage points in 2022.” 66 inflação oscilou entre crescimento e queda. Além disso, os itens que mais apresentaram alta em média foram tabaco e outros intoxicantes, 84,9%, e alimentos e bebidas, 59,65% (BRICS JOINT STATISTICAL PUBLICATION, 2023). Na África do Sul a inflação média dos últimos quatro anos foi uma das menores, sendo em média 4,68%. Durante a pandemia a inflação foi de 3,3% em média e nos dois últimos anos a inflação aumentou de maneira que em 2022 superou Índia e Brasil. Nesse período, os itens que mais tiveram aumentos em média em seus preços foram alimentos e bebidas não alcoólicas, 8,1%, e transportes, 7,9% (FMI, 2024). Por fim, a China mostrou a menor inflação média, 1,4%. Além disso, quando se analisou o período como um todo, observou-se que em todos os anos a China obteve os menores índices de inflação quando comparada com os outros BRICS. Em suma, a inflação na maioria dos BRICS foi elevada por uma alta nos preços dos alimentos e bebidas não alcóolicas. Na África do Sul e Rússia, além desse item, também contribuiu para a inflação o aumento no preço dos transportes. Já no Brasil, o aumento dos preços dos combustíveis também contribuiu para a inflação, enquanto na Índia, foi o tabaco e outros intoxicantes. Por fim, em relação a China não foram encontrados dados do FMI. 4.3 Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos O comportamento da taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos foi expresso no Gráfico 22. Para complementá-lo, a Tabela 9 expos valores da taxa de desemprego ao longo dos quatro últimos anos. A partir dos dados, constatou-se que a taxa de desemprego teve um comportamento distinto entre os BRICS. Nesse sentido, enquanto na Rússia, Brasil e África do Sul, a taxa apresentou uma tendência de queda, na China e Índia, ela permaneceu praticamente estável ao longo do período. Ademais, notou-se que a África do Sul apresentou as maiores taxas entre os BRICS, sendo que em 2021 apresentou a maior taxa do período, 34,3%. Por outro lado, a Rússia demonstrou a menor taxa do período em 2023, 3,1%. 67 Gráfico 22 – Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da OIT e do NBS of China (2024). Tabela 9 – Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos País 2020 2021 2022 2023 Brasil 13,70% 14,00% 9,50% 7,90% Rússia 5,80% 4,80% 3,90% 3,10% Índia 4,80% 4,20% 4,10% 4,20% China 5,20% 5,10% 5,50% 5,10% África do Sul 29,40% 34,30% 33,50% 32,10% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI e do NBS of China (2024). Quando se analisou a taxa de desemprego média dos BRICS nos últimos quatro anos, percebeu-se que a África do Sul foi o país com a maior média da taxa de desemprego, 32,33%. Também se notou que ao longo do período o desemprego diminuiu em comparação ao período da pandemia, embora as taxas ainda estivessem altas. Segundo dados da OIT (2024), a população mais atingida pelo desemprego foram os jovens de 15 a 24 anos, os quais tiveram uma média de taxa de desemprego de 61,6% durante os quatro anos. Ademais, um recorte por sexo mostrou que as mulheres foram as mais atingidas pelo desemprego com uma taxa média de 34,3%. O Brasil foi a nação com a segunda maior média de taxa de desemprego, 11,28%. Embora o país tenha se recuperado da pandemia, suas taxas ainda se 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 2020 2021 2022 2023 Brasil Rússia Índia China África do Sul 68 mantiveram altas. Da população desempregada, averiguou-se que o desemprego atingiu mais as mulheres do que os homens. Nesse sentido, enquanto entre os homens a taxa de desemprego atingiu uma média de 9,2% entre as mulheres, ela chegou a ser 13,5% em média. Assim como a África do Sul, os jovens brasileiros que possuíam entre 15 e 24 anos foram os mais afetados pelo desemprego com uma taxa média de 24,3% (OIT, 2024). A China apresentou uma taxa média de desemprego de 5,23%. Além disso, ao longo do período essa taxa se manteve praticamente estável sendo pouco afetada pela pandemia. Em seguida, a Rússia apresentou a segunda menor taxa média de desemprego, 4,4%. Durante o período, observou-se que ela teve uma tendência de queda. Entre os grupos mais afetados pelo desemprego estavam os jovens entre 15 e 24 anos com uma taxa média de 14,7%. Por outro lado, o grupo de trabalhadores com mais de 65 anos apresentaram a menor taxa média, 2,1%. Adicionalmente, o desemprego afetou mais as mulheres em que a taxa média do período foi 4,4%, sendo 0,1% maior que a dos homens. Por fim, a Índia apresentou a menor taxa média de desemprego, 4,33%. Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS, 2020, p. 6, tradução nossa), em 2020 “[...] cerca de 90 milhões de trabalhadores indianos, a maioria deles empregados no setor informal como pequenos comerciantes e trabalhadores assalariados, perderam seus empregos em apenas um mês durante o bloqueio [...].”11 Além disso, ao contrário dos outros BRICS, a população mais atingida pelo desemprego foram os homens, para os quais a taxa média foi 6%, enquanto para as mulheres a taxa média foi 5,2%. Além disso, em relação a faixa etária, os jovens entre 15 e 24 anos foram os mais afetados pelo desemprego com uma taxa média de 19,7%, em seguida vieram o grupo de pessoas entre 25 e 34 anos com uma taxa média de 7,5% (OIT, 2024). Em suma, entre os grupos mais afetados pelo desemprego nos BRICS estavam os jovens entre 15 e 24 anos. Em relação ao gênero, observou-se que as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego, com exceção da Índia onde os homens foram os mais afetados. 11 “In India, a local think tank estimates that some 90 million Indian workers, most of them employed in the informal sector as small traders and wage labourers, lost their jobs in just one month during the lockdown that began in late March.” 69 4.4 IDH dos BRICS de 2020 a 2022 Em relação ao IDHdos BRICS, o Gráfico 23 expos os IDH dos BRICS no período entre 2020 e 2022. Com base nos dados observou-se que o IDH dos BRICS se manteve estável durante o período estudado. Além disso, constatou-se que dentre os BRICS, a Rússia apresentou o maior IDH em todos os anos, com destaque para 2020 em que seu IDH foi o maior do período, 0,826. Já a Índia teve o pior IDH em todos os anos, em que se destacou 2021 com o menor valor do período, 0,633. Adicionalmente, destacou-se que o IDH da Índia estava classificado como médio, enquanto o do Brasil, China e África do Sul foi classificado como alto, e por fim o da Rússia foi classificado como muito alto. Gráfico 23 – IDH dos BRICS de 2020 a 2022 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). A Rússia apresentou um IDH médio de 0,822. Durante o período da pandemia, o IDH do país caiu, mas se recuperou em 2022. Ainda coube ressaltar que o país caiu quatro posições no rank de países por IDH. Nesse sentido, em 2020 e 2021, o país estava ocupava a posição 52, porém em 2023, ele caiu para 56 (PNUD, 2022). A China foi a nação com o segundo maior IDH médio, 0,785, sendo classificado como alto. Ademais, o IDH mostrou uma tendência de alta ao longo do período mesmo no período da pandemia. Além do mais, a nação conseguiu subir 10 posições no rank do IDH. Assim sendo, em 2020 o país ocupava a posição 85, em 2021 subiu para 79 e finalmente chegou a 75 em 2022 (PNUD, 2022). 0 ,7 5 8 0 ,7 5 6 0 ,7 6 0 ,8 2 6 0 ,8 1 8 0 ,8 2 1 0 ,6 3 8 0 ,6 3 3 0 ,6 4 4 0 ,7 8 1 0 ,7 8 5 0 ,7 8 8 0 ,7 2 2 0 ,7 2 1 0 ,7 1 7 2020 2021 2022 TÍTULO DO GRÁFICO Brasil Rússia Índia China África do Sul 70 Depois da China, o Brasil foi o país com o terceiro maior IDH com uma média de 0,758, sendo classificado como alto. O IDH do país apresentou uma queda no período da pandemia, mas conseguiu se recuperar em 2022. Segundo dados da PNUD (2022), o Brasil caiu 5 posições nesse período. Dessa forma, em 2020, o Brasil ocupou a posição 84, em 2021, caiu para 87 e em 2022, o país ocupou a posição 89. Embora o IDH médio da África do Sul de 0,720 seja considerado alto, o país obteve segundo pior IDH dos BRICS. Ademais, quando comparado aos outros países constatou-se que a África do Sul foi o único país que não recuperou seu IDH ao longo do período. Ainda se salientou que de 2020 para 2021, o país subiu 5 posições. Dessa maneira, em 2020 ocupava a posição 114 e em 2021 ocupava a 109. Porém, 2022, caiu uma posição e, portanto, ocupou a posição 110 (PNUD, 2022). Por fim, a Índia obteve o pior IDH dentre os BRICS. Desse jeito, seu IDH médio foi 0,638, sendo classificado como médio. Ademais, observou-se que durante o período da pandemia houve uma queda no IDH, mas no ano seguinte o país conseguiu se recuperar. Além disso, durante o período o país caiu 3 posições. Desse modo, em 2020 ocupou a posição 131, em 2021, a 132, e em 2022, ocupou a 134 (PUNUD, 2022). 4.4.1 Componentes do IDH Em relação a expectativa de vida nos BRICS, o Gráfico 24 mostrou a expetativa de vida nos BRICS de 2020 a 2022. Por meio dos dados, observou-se que a China foi o país com a maior expectativa de vida do período, uma vez que apresentou a maior média de expectativa de vida de 78,3 anos e o maior valor do período em 2022, 78,6 anos. Em contrapartida, a África do Sul demonstrou a menor média do período, 63 anos e a menor expectativa do período, 61,5 anos. 71 Gráfico 24 – Expectativa de vida ao nascer no BRICS de 2020 a 2022 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). Em relação aos demais países, o Brasil obteve a segunda maior média de expectativa de vida do período, 73,4 anos. Ainda se notou que durante a pandemia houve uma queda de 1,2 anos na expectativa de vida, porém no ano seguinte a expectativa de vida aumentou 0,6 anos. A Rússia foi o país com a terceira maior expectativa de vida média, 70,3 anos. Durante a pandemia houve uma queda de 1,9 anos, porém o país se recuperou em 2022, com um aumento de 0,7 anos. Em seguida, a Índia apresentou a segunda pior expectativa média de vida, 68,4 anos. Durante a pandemia, a expectativa de vida na Índia caiu 3 anos e em 2022 houve uma pequena recuperação de 0,5 anos. De volta a África do Sul, constatou-se que no período da pandemia houve uma queda de 3 anos na expectativa de vida e em 2022, o país sofreu uma queda de 0,8 anos. Do lado oposto, a expectativa de vida da China aumentou 0,1 anos na pandemia e em 2022, aumentou mais 0,4 anos. Em relação aos anos esperados de escolaridade, o Gráfico 25 expos seus valores no período de 2020 a 2022. De acordo com os dados, notou-se que a Rússia foi o país com a maior média de anos esperados de escolaridade, 15,7 anos. Adicionalmente, analisou-se que o país manteve esse valor em todos os anos do período. No sentido oposto, a Índia apresentou a menor média, 12,1 anos. Apesar disso, durante o período os anos esperados de escolaridade mostraram uma 7 4 7 2 ,8 7 3 ,4 7 1 ,3 6 9 ,4 7 0 ,1 7 0 ,2 6 7 ,2 6 7 ,77 8 ,1 7 8 ,2 7 8 ,6 6 5 ,3 6 2 ,3 6 1 ,5 2020 2021 2022 TÍTULO DO GRÁFICO Brasil Rússia Índia China África do Sul 72 tendência de crescimento, uma vez que na pandemia houve um acréscimo de 0,3 anos e no ano seguinte, outro acréscimo de 0,6 anos. Gráfico 25 – Anos esperados de escolaridade nos BRICS de 2020 a 2022. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). Com relação aos outros três países, averiguou-se que o Brasil demonstrou a segunda maior valor de anos de escolaridade esperados com uma média de 15,5 anos. No período da pandemia, houve um aumento de 0,2 anos e no ano seguinte os anos esperados de escolaridade se mantiveram. A China foi o país com a terceira maior média de anos esperados de escolaridade, 15,2 anos. O país conseguiu manter esse valor durante todo o período. Em seguida, a África do Sul demonstrou a segunda pior média de anos esperados de escolaridade, 14,2 anos. Nesse país, houve o acréscimo de 0,3 anos durante a pandemia. No que tange a média de anos de escolaridade nos BRICS, o Gráfico 26 demonstrou seus valores de 2020 a 2022. A partir dos dados, concluiu-se que a média de anos de escolaridade se manteve praticamente estável ao longo do período. Dentre os BRICS, a Rússia foi o país com a maior média de anos de escolaridade, 12,4 anos. Em seguida veio a África do Sul, a qual apresentou aumento de 1 ano durante a pandemia e manteve a média de 11,6 anos em 2022. 1 5 ,4 1 5 ,6 1 5 ,6 1 5 ,7 1 5 ,7 1 5 ,7 1 1 ,7 1 2 1 2 ,6 1 5 ,2 1 5 ,2 1 5 ,2 1 4 1 4 ,3 1 4 ,3 2020 2021 2022 TÍTULO DO GRÁFICO Brasil Rússia Índia China África do Sul 73 Gráfico 26 – Média de anos de escolaridade nos BRICS de 2020 a 2022 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). O Brasil foi terceiro país com a melhor média de anos de escolaridade, 8,3 anos, e a China foi o país com a segunda pior média, 8,1 anos. Esses dois países mantiveram sua média ao longo dos anos. Por fim, a Índia mostrou a pior média dentre os BRICS, 6,5 anos durante a pandemia e 6,6 anos em 2022. O Gráfico 27 expos o comportamento da renda nacional bruta per capita ajustada a paridade de poder de compra dos BRICS de 2020 a 2022. Para complementá-lo a Tabela 10 demonstrou a variação percentual com base em 2019. Com base nos dados, constatou-se que renda nacional bruta per capita ppc dos BRICS apresentou uma tendência de crescimento ao longo dos anos, exceto para Rússia, na qual o indicador teve uma queda quando comparado 2021 com 2022. Além disso, percebeu-se que na China, o indicador teve o melhor desempenho dentre os BRICS. Nesse país, houve a maior variação percentual do período em 2023, 13,12%. No sentido oposto, na África do Sul esse indicador teveo pior desempenho do período, embora tenha sido na Índia que ele atingiu seu menor valor em 2021, -7,08%. 8 ,3 8 ,3 8 ,3 1 2 ,4 1 2 ,4 1 2 ,4 6 ,5 6 ,5 6 ,6 8 ,1 8 ,1 8 ,1 1 0 ,6 1 1 ,6 1 1 ,6 2020 2021 2022 TÍTULO DO GRÁFICO Brasil Rússia Índia China África do Sul 74 Gráfico 27 – Variação percentual da Renda nacional bruta per capita ppc dos BRICS de 2020 a 2022, com base em 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). Tabela 10 – Variação percentual da Renda nacional bruta per capita ppc dos BRICS de 2020 a 2022, com base em 2019 País 2020 2021 2022 Brasil -3,33% 0,36% 2,27% Rússia -1,48% 4,23% 2,38% Índia -7,08% -0,18% 6,06% China 1,47% 9,82% 13,12% África do Sul -6,72% -3,39% -2,37% Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do PNUD (2024). Na China, a renda nacional bruta per capita ppc teve uma variação média de 8,14%, a maior do período. Além disso, o país foi o único que não apresentou uma queda em relação a 2019. Pelo contrário, em 2021 a renda nacional per capita teve uma variação de 9,82% em relação ao ano anterior a pandemia e em 2022, ela apresentou novo crescimento. A Rússia foi o país com o segundo melhor desempenho nesse indicador. Em média a renda nacional per capita russa variou 1,71%. Até 2021, a nação apresentava a segunda maior variação, porém no ano seguinte, foi superada pela Índia. Notou-se -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 2020 2021 2022 Brasil Rússia Índia China África do Sul 75 também que o país se recuperou ainda em 2021 quando a variação da renda nacional per capita foi de 4,23%. No entanto, essa variação foi menor em 2022, ano em que o país invadiu a Ucrânia e sofreu diversas sanções econômicas. Em terceiro lugar, encontrou-se a Índia com uma variação média de -0,4%. Em 2020, o país apresentou a menor variação, mas ao longo do período se recuperou de maneira que superou a África do Sul em 2021 e em 2022, superou Brasil e Rússia. Ademais, percebeu-se que o país só voltou a apresentar uma renda per capita maior que o nível pré-pandemia em 2022, com uma variação de 6,06%. Com o segundo pior desempenho ficou o Brasil com uma variação média de - 0,23% em relação a 2019. Ainda em 2021, o país conseguiu se recuperar da pandemia com uma variação da renda per capita de 0,36% em relação a 2019. Porém, quando comparado aos outros países, constatou-se que esse crescimento de se deu de maneira menos intensa. Por fim, a África do Sul apresentou a menor variação média, -4,16%. Embora, o país tenha apresentado uma variação maior que a da Índia em 2020, ao longo dos dois anos que se seguiram, a nação não conseguiu acompanhar o crescimento da renda per capita dos outros BRICS. Dessa maneira, a renda nacional bruta per capita do país não voltou a patamares anteriores a pandemia, embora tenha mostrado uma trajetória de recuperação durante o período estudado. Em suma, a Rússia foi o país com o maior IDH. Quando se analisou os componentes do indicador, percebeu-se que o país apresentou a maior média de anos de escolaridade e a maior expectativa de anos de escolaridade. Por outro lado, a China demonstrou a maior expectativa de vida e o melhor desempenho da renda nacional bruta per capita. 76 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo buscou responder a seguinte problematização: quais foram os impactos da crise da pandemia de Covid-19 nas economias dos BRICS e quais foram as medidas adotadas para combatê-los? A fim de atingir esse objetivo foram utilizados os métodos de análise bibliográfica, para analisar artigos e documentos relacionados ao tema, e estatístico descritivo, para analisar e comparar os indicadores socioeconômicos dos BRICS como PIB e seus componentes pela ótica do dispêndio, a taxa de desemprego, o índice de preços ao consumidor, e, o IDH e seus componentes. Inicialmente apresentou-se a vida e carreira do economista John Maynard Keynes. Nessa parte, constatou-se que Keynes cresceu em um ambiente, tanto familiar como escolar, propicio ao seu desenvolvimento intelectual, além disso durante sua trajetória profissional ocupou importantes funções como, por exemplo, professor de economia em Cambridge, assessor do Tesouro Britânico durante a Primeira Guerra Mundial e representante britânico na conferência do tratado de paz em Paris. Em seguida foram expostas as principais ideias desenvolvidas por Keynes e que contrastavam com a economia clássica como desemprego involuntário, a influência das expectativas para os investimentos, não neutralidade da moeda, a preferência pela liquidez como determinante da demanda por moeda, paradoxo da parcimônia, eficiência marginal do capital e a atuação do Estado frente as flutuações econômicas. No capítulo seguinte abordou-se a conjuntura econômica de cada um dos BRICS durante a pandemia, assim como as medidas adotadas para lidar com o vírus. Nesse sentido, averiguou-se que todos os países foram impactados pela pandemia com queda na atividade econômica, aumento do desemprego e aumento da dívida pública. No entanto, a intensidade e duração desses impactos foram diferentes para cada país, no caso da China, por exemplo, a eficácia das medidas tomadas para combater o vírus e socorrer a economia, tornou o país um dos primeiros a se recuperar. Além disso, no que tange as principais medidas utilizadas para combater o vírus percebeu-se que a maioria dos países adotaram a restrição a circulação de pessoas, suspensão de serviços não essências, controles de fronteiras e medidas de auxílio aos trabalhadores e empresas. Na próxima parte analisou-se comparativamente os principais indicadores socioênomicos dos BRICS nos últimos quatro anos (com exceção do IDH e seus compenetres, os quais tinham dados disponíveis até o ano de 2022). A partir dos 77 dados averiguou-se que, quando comparados o PIB e seus componentes pela ótica do dispêndio, a maioria dos países se recuperou e até mesmo superou os níveis pré- pandemia com exceção da África do Sul, a qual não recuperou a sua FBCF quando comparado com o ano de 2019. Ademais, salientou-se que a China foi o país que apresentou o melhor desempenho na maioria dos indicadores durante o período estudado, enquanto a África do Sul, demonstrou o pior desempenho. Em relação a inflação, a China foi o país que apresentou as menores taxas ao longo de todo o intervalo, por outro lado, a Rússia obteve as maiores taxas a partir de 2022. No que diz respeito a taxa de desemprego, ao final do período a Rússia foi o país com a menor taxa, já a África do Sul teve as maiores taxas durante todo período. Finalmente, no que se refere ao IDH e seus componentes, a Rússia apresentou o melhor desempenho em quase todos os indicadores, sendo superada apenas pela China em expectativa de vida e renda nacional bruta per capita ppc. No entanto, a Índia teve o pior desempenho na maioria dos indicadores, sendo exceções a expectativa de vida e renda nacional bruta per capita ppc, indicadores nos quais a África do Sul demonstrou o pior desempenho quando comparado com os outros BRICS. Por fim, a partir de todas as informações coletadas concluiu-se que a hipótese inicial é parcialmente condizente. Dessa forma, notou-se que para Brasil, Rússia, Índia e África do Sul a hipótese de queda no crescimento econômico devido à queda no consumo das famílias, no investimento das empresas e nas exportações, se mostrou verdadeira. Porém, quando aplicada a China, ela não se mostrou verdadeira. Ademais, apurou-se que para todos os BRICS houve aumento dos gastos do governo para com medidas para combater o vírus, aumento do desemprego e da inflação. Portanto, nesse caso, a hipótese também se mostrou verdadeira. Além disso, quando analisadas as principais medidas tomadas para combater o vírus comprouve-se que os BRICS adotarama restrição de circulação de pessoas, suspenção de serviços não essenciais, controle de fronteiras e medidas de auxílio a trabalhadores e empresas. Nesse sentido, a hipótese se mostrou mais uma vez verdadeira. 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHAM, Rosa.; BASOLE, Amit.; KESAR, Surbhi. Down and out? The gendered impact of the Covid-19 pandemic on India’s labour market. 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2019..................................................................53 Gráfico 17 – Variação percentual da FBCF nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019....................................................................................................55 Gráfico 18 – Variação percentual do consumo dos governos nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019..................................................................58 Gráfico 19 – Variação percentual das exportações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019...........................................................................................59 Gráfico 20 – Variação percentual das importações nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019...........................................................................................61 Gráfico 21 – Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos....................................63 Gráfico 22 – Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos..............66 Gráfico 23 – IDH dos BRICS de 2020 a 2022............................................................68 Gráfico 24 – Expectativa de vida ao nascer nos BRICS de 2020 a 2022................70 Gráfico 25 – Anos esperados de escolaridade nos BRIC de 2020 a 2022.............71 Gráfico 26 – Média de anos de escolaridade nos BRICS de 2020 a 2022..............72 Gráfico 27 – Variação percentual da Renda nacional bruta per capita ppc dos BRICS de 2020 a 2022, com base em 2019..............................................................73 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Variação percentual do PIB dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019.............................................................................................................51 Tabela 2 – Variação percentual do consumo das famílias nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019...............................................................................54 Tabela 3 – Variação percentual da FBCF nos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019....................................................................................................55 Tabela 4 – Variação de estoques nos BRICS nos últimos quatro anos (em bilhões de dólares).................................................................................................................56 Tabela 5 – Variação percentual do consumo dos governos dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019..................................................................58 Tabela 6 – Variação percentual das exportações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019...........................................................................................60 Tabela 7 – Variação percentual das importações dos BRICS nos últimos quatro anos com base em 2019...........................................................................................62 Tabela 8 – Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos.......................................64 Tabela 9 – Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos..................66 Tabela 10 – Variação percentual da Renda nacional bruta per capita ppc dos BRICS de 2020 a 2022, com base em 2019..............................................................73 LISTA DE ABREVIATURAS BAD – Banco Africano de Desenvolvimento BIS – Banco de Compensações Internacionais BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul CSG – Subsídio de Apoio à Criança EDB – Banco de Desenvolvimento Euroasiático FBCF – Formação bruta de capital fixo FMI – Fundo Monetário Internacional IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo IPI – Índice de Produção Industrial ITC – International Trade Center IVA – Imposto sobre Valor Agregado NIDS-CRAM – Estudo Nacional de Dinâmica de Renda – Pesquisa Móvel Rápida de Coronavírus OIT – Organização Internacional do Trabalho OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo PIB – Produto Interno Bruto PMgC – Propensão marginal a consumir PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPC – Paridade de poder de compra RDI – Fundo Russo de Investimento Direto SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TERS – Regime de Assistência a Empregados Temporários e Empregados TQM – Teoria quantitativa da Moeda SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2. KEYNES E SUA TEORIA GERAL ........................................................................ 16 2.1 Vida e Carreira de John Maynard Keynes .................................................... 16 2.2 Teoria Geral Keynesiana ............................................................................... 18 3. CONJUNTURA ECONÔMICA DOS BRICS NA PANDEMIA DE COVID-19 ........ 23 3.1 Crise da Covid-19 no Brasil .......................................................................... 23 3.2 Crise da Covid-19 na Rússia ......................................................................... 28 3.3 Crise de Covid-19 na Índia ............................................................................ 34 3.4 Crise de Covid-19 na China ........................................................................... 40 3.5 Crise de Covid-19 na África do Sul ............................................................... 44 4. ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DOS BRICS NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS . 51 4.1 PIB dos BRICS nos últimos quatro anos ..................................................... 51 4.1.1 Componentes do PIB pela ótica da despesa ............................................. 54 4.2 Inflação nos BRICS nos últimos quatro anos .............................................. 64 4.3 Taxa de desemprego nos BRICS nos últimos quatro anos ....................... 66 4.4 IDH dos BRICS de 2020 a 2022 ..................................................................... 69 4.4.1 Componentes do IDH ................................................................................ 70 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 78 13 1. INTRODUÇÃO A pandemia de Covid-19 se caracterizou como um choque externo para as economias ao redor do mundo. Os países afetados pela pandemia, a fim de conter a disseminação do vírus, adotaram medidas restritivas em relação a circulação de pessoas e mercadorias, além de suspenderem atividades não essências. Ainda que essas medidas tenham sido flexibilizadas, em momentos de baixo número de casos diários, novos surtos obrigaram os governos a voltarem com as restrições. Mesmoentre as prescrições e as propostas do governo. Chapecó, 2020. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Darlan- Kroth/publication/340634459_A_ECONOMIA_BRASILEIRA_FRENTE_A_PANDEMI P_DO_COVID- 19_ENTRE_AS_PRESCRICOES_E_AS_PROPOSTAS_DO_GOVERNO/links/5e961 96f299bf13079980c42/A-ECONOMIA-BRASILEIRA-FRENTE-A-PANDEMIA-DO- COVID-19-ENTRE-AS-PRESCRICOES-E-AS-PROPOSTAS-DO-GOVERNO.pdf. Acesso em: 10 mar. 2024. LIU, Yuqi. Inflation Measurement in China under the Coronavirus Pandemic. Highlights in Business, Economics and Management, v. 5, p. 374-379, 2023. 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(2021, p. 9-10) descreveram os impactos econômicos da crise da seguinte forma “todos os países sofreram profundo recuo de seu nível de atividade, registrando quedas substanciais do Produto Interno Bruto (PIB) (com exceção da China), o que resultou em alta significativa do desemprego, da desigualdade e da pobreza”. Entre o grupo de países impactados pela pandemia de Covid-19 estavam os BRICS. Incialmente o grupo era composto por cinco países emergentes, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e tinha como objetivo influenciar a geopolítica e os mercados globais. Em 2016 Produto Interno Bruto (PIB) do grupo chegou a mais de 16 trilhões de dólares e em 2018, a população dos BRICS correspondia a 41,2% da população mundial e 29,6% da área territorial do planeta (LOBATO, 2018). Quais foram os impactos da crise da pandemia de Covid-19 nas economias dos BRICS e quais foram as medidas adotadas para combatê-los? É a problematização, a qual o presente trabalho procurou responder. Inicialmente, para responder ao problema, levantou-se a hipótese de que entre os impactos da pandemia de Covi-19 nas economias dos BRICS estavam a queda do crescimento econômico devido à queda no consumo das famílias, no investimento das empresas e nas exportações. Também se supôs que houve um aumento nos gastos dos governos, por causa das 14 ações direcionadas ao combate da pandemia. Em relação ao mercado de trabalho acreditou-se que o desemprego tenha aumentado em razão da falência de empresas e das medidas restritivas de circulação de pessoas. Além disso, considerou-se que a inflação aumentou em virtude da escassez de bens e serviços devido a problemas com abastecimento originados das restrições de circulação. Para combater a crise se supôs que os BRICS tenham adotado como principais medidas a restrição da circulação de pessoas, a suspenção de serviços não essenciais, controle de fronteiras e medidas de auxílio a trabalhadores e empresas. Após a definição do problema e da hipótese inicial do presente estudo, traçou- se seu objetivo geral, o qual foi analisar os impactos da Covid-19 nas economias dos BRICS e as medidas adotadas para combatê-los. A partir dele, definiu-se os objetivos específicos que foram: apresentar Keynes e sua Teoria Geral; analisar a conjuntura econômica de cada um dos países que compõe os BRICS e as principais medidas adotadas para combater os efeitos da pandemia; e comparar os principais indicadores socioeconômicos dos BRICS nos últimos quatro anos, tais como Produto Interno Bruto (PIB) e seus componentes pela ótica do dispêndio, Índice de Preços ao Consumidor, Taxa de Desemprego, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e seus componentes referentes a saúde, educação e renda. Para atingir esses objetivos utilizou-se como principais métodos a análise bibliográfica e o método estatístico descritivo. O primeiro permitiu a análise de artigos e livros, os quais abordavam as principais ideias de Keynes e de sua Teoria Geral, além de artigos que descreveram a conjuntura econômica de cada um dos BRICS durante a pandemia. Nesse sentido, a fim de se trazer um maior número de informações a respeito da conjuntura dos BRICS, foram lidos tanto artigos nacionais quanto artigos estrangeiros publicados em língua inglesa. O segundo foi utilizado para analisar os principais dados socioeconômicos de cada um dos BRICS durante o primeiro ano de pandemia e nos últimos quatro anos, com o propósito de compará- los. Sendo assim, foram utilizados os dados disponíveis no Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre PIB e seus componentes, e sobre os índices de preços ao consumidor. Também foram utilizadas as informações disponibilizadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) a respeito da taxa de desemprego. Finalmente, foram usados os dados disponibilizados pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD) referente ao IDH e seus componentes referentes a saúde, educação e renda. 15 Vale lembrar que o presente estudo considerou apenas os cincos países dos BRICS, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sendo assim, os demais países que entraram para o grupo posteriormente não foram levados em conta. O presente trabalho foi dividido em mais quatro capítulos, além desta introdução. No segundo capítulo apresentou-se um breve resumo sobre a vida e carreira de Keynes. Também foram expostos os motivos que, para Keynes, davam origem a um ciclo recessivo e o papel do Estado como promotor de políticas que suplementem o investimento privado em tempos de recessão. Além disso, mostrou- se os principais princípios de sua Teoria Geral, como por exemplo, a demanda efetiva, paradoxo da parcimônia, preferência pela liquidez e a relação entre a taxa de juros e investimento. No terceiro capítulo foi exposto a conjuntura econômica no Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul no primeiro ano de pandemia. Nesse sentido, para cada um desses países foram descritas as principais medidas sanitárias e econômicas para reduzir os impactos negativos do vírus. Adicionalmente, apresentou-se os principais dados referentes a atividade econômica, mercado de trabalho e inflação. No quarto capítulo analisou-se comparativamente os principais indicadores socioeconômicos dos BRICS nos últimos quatro anos. Entre os indicadores abordados estavam: PIB e seus componentes (consumo das famílias, formação bruta de capital fixo, variação de estoques, consumo do governo, exportações e importações), Índice de Preços ao Consumidor, Taxa de Desemprego e IDH e seus componentes (expectativa de vida ao nascer, anos médios de estudo, anos esperados de estudo e a renda nacional per capita ajustada a paridade de poder de compra). Por fim, no quinto capítulo foram expostos os principais pontos abordados em cada capítulo, assim como os resultados obtidos. Nesse sentido, foi recapitulado a problematização e a hipótese inicial, a fim de averiguar se os resultados confirmam ou não a hipótese inicial. 16 2. KEYNES E SUA TEORIA GERAL O presente capítulo apresenta um breve resumo sobre a vida e carreira do economista inglês, John Maynard Keynes, o qual revolucionou o pensamento econômico ao se opor as ideias vigentes da economia clássica. Além disso, este capítulo expos a teoria macroeconômica desenvolvida pelo autor, assim como suas principais ideias sobre o mercado de trabalho, os determinantes do investimento, as crises econômicas e o papel do Estado diante de tais crises. 2.1 Vida e Carreira de John Maynard Keynes John Maynard Keynes (1883 – 1946) nasceu em Cambridge, na Inglaterra, durante o auge do Império Britânico na Era Vitoriana e durante sua vida viu o mesmo império entrar em decadência devido a sucessivas crises econômicas e duas guerras mundiais. Keynes era filho do economista John Neville Keynes, o qual lecionou lógica e economia política, além de ter escrito diversos artigos sobre metodologia econômica. Já sua mãe, Florence Keynes, era autora e pioneira na proposição de reformas sociais, além de ter sido prefeita de Cambridge (FEIJÓ, 2023). Ainda, segundoFeijó (2023, p. 486) O círculo de relacionamentos paternos proporcionou a Keynes, desde cedo, contato estreito com os mais destacados economistas e filósofos da época. Marshall, Herbert Foxwell, Henry Sidgwick, William Ernest Johnson e James Ward eram companheiros de Neville. De fato, em nada a atmosfera em torno do pequeno Keynes era mundana e, como o pai, ele aprendeu precocemente a julgar a vida, sua e dos outros, por critérios intelectuais e estéticos. A excelência acadêmica era cultuada como valor supremo. Keynes pertencia então a essa classe média pensante que se via na obrigação de liderar as massas. Durante sua infância Keynes se destacou nas escolas que frequentou devido ao que aprendia em casa com seus pais, de forma que recebeu, ao longo da sua juventude, diversos prêmios como o melhor aluno da turma. Por meio desses reconhecimentos, Keynes conseguiu em 1897 uma bolsa para Eton, um dos melhores colégios da Inglaterra na época. Aos 19 anos, Keynes foi para o King’s College na Universidade de Cambridge, onde estudou matemática e estudos clássicos, além de ter sido orientado pelo matemático Ernest William Hobson (FEIJÓ, 2023). Em 1905 Keynes conseguiu seu diploma de matemática, embora se interessasse mais por filosofia e lógica. Após isso, ele se voltou ao estudo da economia e passou a frequentar o grupo de leituras de Alfred Marshall em economia. 17 Posteriormente, conseguiu um emprego no Escritório da Índia, após ter ficado em segundo lugar em um concurso público. Em paralelo com o serviço público, Keynes elaborou sua dissertação sobre a teoria da probabilidade em uma época em que o determinismo da física clássica entrou em crise e as novas teorias de probabilidade passaram a se focar na questão da incerteza. A teoria subjetiva ou relacional da probabilidade, lançada por Keynes, buscou compreender a conduta humana afim de influenciá-la (FEIJÓ, 2023). Em 1913 Keynes, como professor de economia em Cambridge, escreveu seu livro Moeda da Índia e finanças em que defendeu o padrão-ouro e a criação de um banco central para Índia e aos 28 anos se tornou editor chefe do The Economic Journal. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), Keynes assessorou o tesouro britânico na questão do financiamento de uma economia em guerra. Após o término da guerra, Keynes se tornou representante britânico na conferência do tratado de paz em Paris. Sua experiência durante a conferência, o levou a escrever seu livro As consequências econômicas da paz em que criticou as imposições do Tratado de Versalhes e defendeu que as reparações manteriam a Alemanha empobrecida (FEIJÓ, 2023). Durante a crise de 1929, Keynes criticou a política econômica liberal e o temor do tesouro britânico aos déficits orçamentários, além disso defendeu a realização de obras públicas para reduzir o desemprego. Em 1936, logo após a recuperação das principais economias capitalistas da crise, o economista lançou seu trabalho mais influente, Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, o qual representou uma ruptura com o pensamento econômico corrente (FEIJÓ, 2023). No pós-Segunda Guerra Mundial, o livro de Keynes, As consequências econômicas da paz, foi revisitado pelos dirigentes dos países vitoriosos. Sobre isso, Feijó (2023, p. 500) apontou que Keynes ajudou a construir a percepção de que o caminho seguro para a paz consistia em ajudar a reerguer a economia destruída dos países derrotados. Foram feitos então investimentos públicos em larga escala, criando-se assim parceiros comerciais que seriam compradores potenciais das exportações dos países vencedores; isso também ajudaria a construir uma sólida classe média com ideais democráticos na Alemanha, no Japão e na Itália. 18 Em 1943 Keynes aceitou o plano White proposto pelos Estado Unidos, no qual os países membros adotariam taxas de câmbio fixas contra o dólar, enquanto o dólar seria mantido em paridade com o ouro. Isso representou para Keynes um rompimento com sua ideia inicial que defendia uma moeda internacional lastreada em reservas e commodities em substituição ao padrão-ouro. Em 1946 Keynes faleceu após negociar um empréstimo dos Estados Unidos a Inglaterra (FEIJÓ, 2023). 2.2 Teoria Geral Keynesiana A Teoria Geral Keynesiana prevê que em uma economia em recessão, em que a baixa atividade econômica se deve à falta de investimento do setor privado, o governo deve gerar déficits orçamentários para manter o pleno emprego (FEIJÓ, 2023). Segundo Chaib e Lima (2019, p. 2), o principal objetivo de Keynes com sua teoria era [...] contrastar a natureza de seus argumentos com os da teoria clássica, na qual se formou e que dominava o pensamento econômico, tanto no meio prático como teórico da geração em que viveu. Argumentou que os postulados da teoria clássica se aplicam apenas a um caso especial (equilíbrio) e não ao geral, uma vez que se limita a possíveis situações de equilíbrio. Tal característica desse caso especial não é a da sociedade econômica em que de fato vivemos, de modo que, os ensinamentos da economia clássica tornam-se ilusórios e desastrosos se suas conclusões fossem aplicadas aos fatos da experiência. O primeiro ponto criticado por Keynes foi a teoria clássica do emprego. Nesse sentido, o economista rejeitou os dois postulados clássicos sobre emprego. O primeiro afirmava que o salário dos trabalhadores seria igual ao valor que se perderia se o emprego fosse reduzido em uma unidade. O segundo afirmava que a utilidade do salário seria exatamente igual à desutilidade marginal do mesmo volume de emprego. Com base nesses dois postulados, os economistas clássicos acreditavam que a economia tendia ao pleno emprego e que o desemprego era um fenômeno voluntário em que os trabalhadores se recusariam a trabalhar pelo salário vigente (CHAIB e LIMA, 2019). Em contraste com os clássicos, para Keynes o fator determinante do emprego era o nível de produção, sendo assim o desemprego era um fenômeno involuntário, já que os indivíduos sempre optam por trabalhar com a finalidade de garantir sua sobrevivência, e ocorria devido à falta de postos de trabalho que absorvessem a mão de obra. Ao seguir essa lógica, Keynes aferiu que o desemprego é determinado pela 19 classe capitalista, pois ela, ao formular suas expectativas de retorno, tomam decisões em relação a produção, as quais afetam o nível de emprego (CHAIB e LIMA, 2019). A partir das ideais expostas anteriormente, Keynes concluiu que o nível de emprego seria determinado pelo investimento e que o investimento, por sua vez, seria determinado pelas expectativas dos capitalistas quanto aos retornos futuros (CHAIB e LIMA, 2019). Feijó (2023) complementou que para a teoria keynesiana quando os empresários percebem que o mercado está saturado eles deixam de investir. Isso gera menos emprego, o que por sua vez diminuiu o consumo. A queda no consumo desestimularia novos investimentos privados. Dessa forma, a economia entraria em um ciclo recessivo e mesmo que atingisse algum equilíbrio, ele viria com aumento do desemprego e da miséria. Nesse cenário, o governo deveria agir antecipadamente para complementar os investimentos privados, quando eles forem insuficientes. Ademais, Chaib e Lima (2019) lembraram que Keynes também criticou a lei de Say, a qual afirmou que a oferta cria sua própria demanda. Para contrariar essa teoria Keynes propôs que a moeda não seria neutra e que, portanto, afetaria as decisões dos agentes econômicos e as variáveis reais da economia. Ao considerar a moeda como sendo não neutra, Keynes, também, contrariou a Teoria Quantitativa da Moeda (TQM). Além disso, Chaib e Lima (2019, p. 3) ponderaram que [...] Keynes, ao rejeitar a hipótese de neutralidade da moeda, considerava que a política monetária poderia ser um importante instrumento de recuperação da atividade econômica. O nívelde moeda poderia se apresentar, portanto, como um estímulo ao investimento. Por outro lado, ao competir com os ativos cujos valores ela representa, poderia ser demandada por si só. Essa demanda por liquidez (por moeda) poderia se apresentar como um obstáculo para o nível de investimento. A moeda era então, ao mesmo tempo, estímulo e obstáculo ao investimento. Adicionalmente, Feijó (2023) lembrou que para Keynes a taxa de juros seria determinada no mercado de moeda e que a demanda por moeda seria determinada pela preferência pela liquidez. Nesse sentido, a preferência pela liquidez mostrou que a demanda por moeda depende da escolha dos estoques de ativos, do fluxo da renda e das despesas. Portanto, os indivíduos demandam moeda como ativo devido à incerteza da taxa de juros. Dessa maneira, quando os agentes esperam um aumento dos juros vendem papéis no mercado, o que reduz os preços dos títulos. Em virtude do risco de se manter aplicações financeiras, os agentes optam por manter parte da sua riqueza em um ativo líquido. Ferrari Filho (2006) acrescentou que no modelo 20 keynesiano quando houvesse a falta de informações as expectativas dos agentes poderiam ser determinadas por seus instintos e não pelo rendimento esperado do ativo. Outro ponto no qual Keynes discordava da TQM era a relação entre poupança e investimento. Para TQM, a poupança determinava o investimento. Entretanto para Keynes era o contrário. Assim como expuseram Chaib e Lima (2019, p. 4) Vale frisar que, para Keynes, a poupança não é determinante do investimento, mas sim o contrário. A poupança é fator determinado de forma expost ao investimento. Quando as decisões de consumir se tornam efetivas, elas restringem o consumo ou ampliam a renda. Assim, nenhum ato de investimento pode deixar de determinar que a poupança aumente em uma quantidade equivalente. Tendo isso em mente, Keynes desenvolveu o conceito de paradoxo da parcimônia. Nele Keynes mostrou que a contenção do consumo e, consequente, aumento da poupança poderia ser fatal para economia, uma vez que a renda poupada deixaria de ser investida e, portanto, deixaria de gerar emprego. Desse modo, caberia ao Estado agir por meio de políticas fiscais e monetárias para estimular o consumo em momentos de crise e promover o crescimento econômico (FEIJÓ, 2023). Chaib e Lima (2019) lembraram que para Keynes, o investimento consistia na aquisição de um ativo fixo que resultasse no aumento da capacidade produtiva. Entre seus determinantes estava a eficiência marginal do capital. A eficiência marginal do capital tratou-se da taxa de rendimento esperada pelos ativos de capital, a qual depende do preço dos ativos de capital e da renda esperada pela venda das mercadorias que serão produzidas por eles. Feijó (2023) completou que a oferta de capital foi relacionada com as expectativas dos investidores. Assim, a teoria estabeleceu uma curva de demanda por investimentos em que o volume e investimentos diminuiu com o aumento da taxa de juros. Conforme explicou Carvalho (2009, p. 97) Na economia de Keynes, o investimento depende dos preços dos ativos reais relativamente aos preços dos ativos financeiros e ao nível de preço dos bens correntemente produzidos. O preço de demanda de um ativo qualquer é o valor presente dos ganhos que se espera obter da sua posse. Maiores preços de demanda significam maiores expectativas de retornos. Se esses preços de demanda forem superiores ao custo corrente de reprodução desses itens, a sua oferta aumentará e o investimento, consequentemente, se expandirá e, com ele, como se sabe, a poupança. 21 Além da eficiência marginal do capital, a Propensão Marginal a Consumir (PMgC) também influenciava o investimento. Quando os empresários tomam suas decisões em relação ao investimento, eles se baseiam na PMgC. Dessa forma, se os capitalistas tiverem uma expectativa positiva em relação ao consumo eles irão ampliar o investimento e se tiverem uma expectativa negativa ocorrerá o contrário, eles reduziram seus investimentos (CHAIB e LIMA, 2019). Por meio dos conceitos apresentados anteriormente, Keynes concluiu que [...] o futuro da economia é incerto, uma vez que não pode ser conhecido com antecedência e nem ser estatisticamente previsto por meio de probabilidade. Quando as expectativas são pessimistas, os agentes demandam por mais segurança no presente para enfrentar a incerteza do futuro. Diante desse cenário, a moeda é o ativo mais seguro, ou seja, é aquele que propicia mais segurança frente ao futuro desconhecido e imprevisível (CHAIB e LIMA, 2019, p. 5). Sendo assim, Keynes reconheceu que a economia capitalista está sujeita a flutuações econômicas. Para explicá-las, o economista utilizou o princípio de demanda efetiva. Por meio desse princípio, o equilíbrio em uma economia passou a ser determinado pela demanda, conforme explicou Feijó (2023, p. 513) Tal princípio insere-se em uma teoria abrangente sobre demanda e oferta agregada que explica que se a demanda estiver abaixo da oferta a produção deve diminuir para que ambas se equilibrem, o que acarreta a possibilidade de equilíbrio estável abaixo do pleno emprego. O esquema de demanda e oferta agregadas de Keynes parecia não apenas explicar a recessão, como também mostrava as formas de se escapar dela. Portanto, as flutuações na demanda efetiva ocorreriam por causa da incerteza dos agentes econômicos em relação ao futuro, os quais iriam preferir reter moeda e postergar o consumo e investimento. Em outras palavras os agentes iriam preferir alocar renda na forma de riqueza não reprodutível ao invés de adquirirem bens e serviços (FILHO, 2006). Chaib e Lima (2019) complementaram que as crises econômicas em Keynes ocorreriam devido a insuficiência da demanda agregada, a qual por sua vez, decorria da queda do investimento dos empresários, do consumo das famílias e dos gastos do governo. Nesse cenário Keynes colocou como responsabilidade do Estado a retomada da atividade econômica. Assim como explicaram Chaib e Lima (2019, p. 7) 22 Diante desse cenário descrito, no qual o capitalismo tende à instabilidade e ao desemprego involuntário, Keynes considera o papel do Estado como de fundamental importância na recuperação da atividade econômica e do emprego. O Estado pode agir incentivando o investimento, ao balizar as expectativas dos capitalistas quanto à rentabilidade dos ativos de capital (aumentando a eficiência marginal do capital), reduzindo a taxa de juros e promovendo gastos com infraestrutura e serviços públicos. Além disso, o Estado deve executar as políticas monetária e fiscal, promovendo um aumento do produto agregado, o aumento do crédito e dos gastos. 23 3. CONJUNTURA ECONÔMICA DOS BRICS NA PANDEMIA DE COVID-19 O presente capítulo apresenta a conjuntura econômica de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul durante o auge da pandemia de Covid-19. Sendo assim, foram trazidos dados a respeito da atividade econômica, mercado de trabalho e inflação, assim como as medidas sanitárias e econômicas adotadas para impedir a circulação do vírus e auxiliar a população e as empresas afetadas pela crise. 3.1 Crise da Covid-19 no Brasil O Brasil começou a sentir os efeitos da crise da pandemia de Covid-19 no início do ano de 2020 com a desaceleração das economias da China e da Europa, seus principais parceiros comerciais, isso impactou negativamente o volume e o preço das exportações brasileiras. Silva e Silva (2020, p.3) ainda complementaram, No mês de março de 2020, foram adotadas medidas de isolamento social implementadas com o intuito de desacelerar a taxa de contaminação da população e, consequentemente, evitar o colapso do sistema de saúde. O governo brasileiro previa que os impactos do COVID-19 naeconomia brasileira seriam redução das exportações, queda no preço de commodities e, consequentemente, piora nos termos de troca, interrupção da cadeia produtiva de alguns setores, queda nos preços de ativos e piora das condições financeiras, e redução no fluxo de pessoas e mercadorias. Costa (2020, p. 970) acrescentou A crise revelou as fragilidades da economia brasileira, que se baseia na austeridade, na desindustrialização, no trabalho informal, na especialização da produção de bens primários para exportação, e que tem como principal comprador de commodities a China, onde se iniciou a epidemia. Inicialmente os setores mais afetados pelas medidas restritivas foram alimentação fora de casa, turismo e transporte. Posteriormente, houve queda na produção industrial, nas vendas do comércio e no volume de serviços, sendo que a atividade econômica foi mantida principalmente pela agricultura e pela pecuária, mesmo com a queda no preço das commodities. O resultado foi uma projeção negativa do Produto Interno Bruto (PIB) em 8% (SILVA e SILVA, 2020). Enquanto o PIB per capita teve uma previsão de queda de 6,5% em 2020 (SILBER, 2020). Silva e Silva (2020, p. 5-6) ainda apontaram que “este período também se destaca pelo aumento da dívida pública, em todos os níveis da federação, seja pela 24 redução da arrecadação, pela queda da atividade econômica, ou seja, pelos gastos assistenciais na saúde e sociais”. O Gráfico 1 apresentou a variação trimestral do PIB brasileiro em 2020 com relação ao quarto trimestre de 2019. Por meio dos dados notou-se que até o segundo trimestre de 2020 a economia brasileira sofreu uma forte desaceleração, sendo mais severa no segundo trimestre com uma queda de -10,94% em relação ao último trimestre de 2019. No entanto, após esse trimestre a economia brasileira se recuperou aos poucos de modo que no quarto trimestre de 2020 o PIB variou -0,25% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Além disso, ressaltou-se que em média o PIB brasileiro variou -4,31% em relação ao quarto trimestre de 2019. Gráfico 1 – Variação trimestral do PIB brasileiro em 2020 com base no quarto trimestre de 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). Nesse ambiente de incerteza, em meio a projeções negativas e com redução da produção, do comércio e da confiança do empresariado industrial, vários trabalhadores foram demitidos ou tiveram sua jornada reduzida e muitas empresas decretaram falência. Além disso, a oferta de crédito foi reduzida devido ao aumento do risco. Todos esses fatores culminaram em uma queda do consumo e do investimento (SILVA e SILVA, 2020). Em relação ao mercado trabalho, Bridi (2020, p. 148) afirmou, -2,18% -10,94% -3,87% -0,25% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 2020.T1 2020.T2 2020.T3 2020.T4 25 No segundo trimestre de 2020, período da pandemia do Covid-19 e da recomendação de distanciamento social, a taxa de desocupação foi a segunda maior da série, e ficou em 13,3%, com uma variação de 1,1% em relação ao primeiro trimestre de 2020, e de 1,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Ainda sobre o mercado de trabalho Silva e Silva (2020, p. 3-4) afirmaram que “os trabalhadores informais foram atingidos primeiramente pela crise, os formais, mantiveram seus empregos por algum período devido aos custos de demissão e de contratação que as empresas teriam que incorrer”. Nesse sentido, Costa (2020) pontuou que a pandemia atingiu de maneira mais severa os trabalhadores informais, os quais não tinham acesso a qualquer tipo de proteção social e que normalmente viviam em áreas mais precárias. Comparativamente, Biridi (2020) expos que a variação do número de pessoas ocupadas com carteira assinada foi de -8,9%, enquanto para os sem carteira assinada essa variação chegou a -21,6%, e para aqueles que estavam ocupados como empregador, houve uma redução de -8,2%. A autora ainda concluiu “ [...] a pandemia desmascara a condição dos trabalhadores que se encontram fora dos estatutos de proteção do trabalho, tais como os entregadores por aplicativos, que durante a pandemia realizaram diversas greves e manifestações” (BRIDI, 2020, p. 153). Em relação aos trabalhadores formais, Costa (2020) acrescentou que o Programa Emergencial do Emprego e da Renda, o qual reduziu a jornada de trabalho e o salário, contribuiu para precarização das relações trabalhistas durante a pandemia. Bridi (2020) levantou alguns dados sobre a população ocupada durante a pandemia, ela concluiu que 10% dos trabalhadores trabalhavam remotamente em julho de 2020, sendo a maior parte deles da região sudeste, enquanto a menor parcela residia na região norte. Além disso, a maior parcela dos que trabalhavam remotamente tinham curso superior e ganhavam menos em comparação ao período anterior a pandemia. O Gráfico 2 mostrou a taxa de desemprego por faixa etária em 2020. A partir dos dados observou-se que o desemprego afetou de maneira mais grave o grupo de trabalhadores entre 15 e 24 anos, no qual a taxa de desemprego foi 30,20%, sendo a mais alta. Por outro lado, o grupo de trabalhadores mais velhos com 65 anos ou mais registrou a menor taxa, 3,30%. 26 Gráfico 2 – Taxa de desemprego brasileira por faixa etária em 2020 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da OIT (2024). O governo brasileiro, com o objetivo de garantir a renda dos trabalhadores que perderam seus empregos, organizou o Auxílio Emergencial, o qual se tratou de um benefício composto, inicialmente, de três parcelas de R$ 600 concedido aos trabalhadores informais, autônomos, desempregados e microempreendedores (SILVA e SILVA, 2020). Kroth (2020) complementou que para as mulheres chefes de família o auxílio chegou a R$ 1.200. Bridi (2020, p. 156) afirmou que o programa “atendeu 65 milhões de pessoas e cerca de 44,1% dos domicílios brasileiros”. Por outro lado, a maior parte as micro e pequenas empresas, as quais correspondiam a 99% do setor privado brasileiro e foram responsáveis por 52% dos empregos formais, não conseguiram obter crédito para quitar seus compromissos financeiros. A fim de combater esse problema o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu uma linha de crédito para empresas com faturamento anual de até R$ 300 milhões e disponibilizou até R$ 40 bilhões para financiar dois meses da folha de pagamento das pequenas e médias empresas. Além do BNDES, a Caixa Econômica Federal e O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) também abriram uma linha de crédito de R$ 12 bilhões para micro e pequenas empresas (SILVA e SILVA, 2020). Sobre os recursos destinados ao combate da pandemia, Silva e Silva (2020, p. 6) afirmaram 30,2% 13,9% 10,0% 8,5% 7,2% 3,3% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 15 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 anos ou mais 27 Apesar do estado de calamidade pública, o qual dispensa o cumprimento dos resultados fiscais até o final de 2020, os recursos destinados ao combate da pandemia são cerca de 5,55% do PIB do país, sendo semelhante aos pacotes adotados em várias economias desenvolvidas. A respeito da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma tendência de queda, apesar do aumento dos preços dos produtos relacionados a alimentação em domicílio (SILVA e SILVA, 2020). Adicionalmente, Baccarin e Oliveira (2021) apontaram para o crescimento da procura por alimentos nos supermercados no primeiro semestre de 2020, como um fator que explicou essa alta. Os autores ainda afirmaram que entre os itens que tiveram uma variação maior estavam outras fontes de proteína animal, pescados, ovos leites e derivados, já o item carnes teve um comportamento mais favorável ao consumidor, devido à queda no preço da carne de vaca, porco ecarneiro. Nippes e Pavan (2021) ainda complementaram que a desvalorização do real levou os produtores a se voltarem para o mercado externo, o que gerou uma escassez no mercado interno e consequentemente aumento no nível de preços, sobretudo das commodities. Ademais, isso afetou também as indústrias que se viram em uma situação de escassez de matérias-primas. Dessa forma, quando houve uma retomada gradual em agosto, essas indústrias estavam incapacitadas de atender a demanda dos comerciantes e varejistas. A Pandemia de Covid-19 também ocasionou um aumento da demanda por produtos de higiene pessoal, o que elevou os preços desses produtos. Entre eles destacou-se o álcool em gel que obteve um aumento de 161% em seu preço, isso gerou uma série de reclamações sobre preços abusivos (NIPPES e PAVAN, 2021). Todos os fatores citados anteriormente contribuíram para que a inflação fechasse o ano de 2020 acima da meta. Nesse sentido, a inflação em 2020 foi de 4,5%, enquanto a meta era de 4% (NIPPES e PAVAN, 2021). O Gráfico 3 apresentou o comportamento da inflação ao longo do ano de 2020. Por intermédio dos dados observou-se que a inflação teve uma tendência de queda até maio em que atingiu o ponto mais baixo do período, 1,88%. Após esse mês houve uma inflexão e a inflação apresentou uma tendência de alta até fechar o ano em 4,52%. Ademais, a média da inflação durante o ano foi 3,21%. 28 Gráfico 3 – Comportamento da inflação brasileira ao longo de 2020. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). 3.2 Crise da Covid-19 na Rússia Os primeiros casos de Covid-19 registrados na Rússia ocorreram no dia 31 de janeiro de 2020 na Sibéria. No mês seguinte, o país implementou uma série de medias como o controle da fronteira, restrição de circulação de pessoas e realizou testes extensivos na população. Em março foi criada uma comissão, a qual reuniu profissionais de diversos setores do governo, para combater o vírus (OXENSTIERNA, 2021). Entre abril e maio houve o fechamento dos estabelecimentos de atividades consideradas não essenciais. Secches e Bernardes (2020, p. 21) ponderaram que O discurso estatal apresentava tom otimista no que diz respeito à capacidade do Estado de conter a crise sanitária. Contudo, a partir do crescimento do número de contaminações e de mortes, o discurso foi endurecido e declarou- se alerta vermelho nacional, com banimento de aglomerações, instituição de aulas online e incentivo ao home office. Kolomak (2020) apontou que as ações adotadas pelo governo afetaram os setores de transporte aéreo, hotelaria, restaurantes, turismo e lazer. Apesar do governo russo adotar as ações recomendadas para conter o vírus, os meios para garanti-las foram polêmicos, entre eles destacou-se o programa Moscow Safe City, o qual, para conter a circulação de pessoas, se utilizou de câmeras de monitoramento e permitiu o uso de drones para monitoramento por parte da guarda russa, além desse programa, o Kremlin passou a ter maior controle sobre a circulação de informações 4,19% 4,01% 3,30% 2,40% 1,88% 2,13% 2,31% 2,44% 3,14% 3,92% 4,31% 4,52% JAN. FEV. MAR. ABR. MAI . JUN. JUL . AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. 29 com intuito de monitorar as notícias falsas sobre o vírus (SECCHES e BERNARDES, 2020). Além dessas medidas sanitárias, o governo anunciou o Plano de Recuperação Econômica que disponibilizou 4 bilhões de dólares para socorrer a economia russa, devolveu integralmente o imposto de renda pago em 2019, reduziu em 6,5% as hipotecas, disponibilizou empréstimos a 2% de juros, pagou um bônus para os trabalhadores que atuaram no enfrentamento da pandemia e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) foi utilizado para desenvolver e testar medicamentos contra o vírus (SECCHES e BERNARDES, 2020). Ademais, a Rússia suspendeu o pagamento de impostos por seis meses, exceto o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) (BECERRA, MOLIN e URREA, 2021). Essas medidas representaram para o governo uma despesa total de 4% do PIB em 2020. Adicionalmente, o Banco Central russo diminuiu a taxa de juros de 8% para 4,25% (OXENSTIERNA, 2021). No entanto, essas medidas surtiram pouco efeito sobre mercado de trabalho em que o nível de ocupação ficou abaixo daquele observado antes da pandemia (QUINTAS, FONA e LIMA, 2020). Ademais, Oxenstierna (2021) afirmou que para superar as restrições do setor externo, o governo iniciou um processo de substituição de importações de produtos considerados essências. Essas políticas econômicas só foram possíveis, segundo Quintas, Fona e Lima (2020, p. 135), pois O governo russo, nos últimos anos, acumulou reservas internacionais, liquidou as dívidas externas e criou o Fundo Nacional de Bem-Estar, consequentemente o país tem mais recursos para realizar políticas econômicas de modo a reduzir os impactos causados pela pandemia. O país ficou em quarentena até junho, quando os casos ficaram abaixo de dez mil por dia, o que levou o governo russo a planejar a flexibilização das medidas sanitárias. Essa flexibilização começou na cidade de Moscou com o fim do isolamento social e abertura das fronteiras. Entretanto, observou-se que houve uma interiorização do vírus, o que impediu que a flexibilização fosse adotada de forma homogênea em todo o país (SECCHES e BERNARDES, 2020). Em 11 de agosto a Rússia se tornou a primeira nação a aprovar uma vacina contra o vírus a Sputnik V, porém em 30 setembro, o número de casos voltou a aumentar, isso obrigou o governo a voltar com as medidas de isolamento e quarentena (OXENSTIERNA, 2021). Secches e Bernardes (2020) levantaram algumas ressalvas sobre os números de contaminados divulgados pelo governo russo. A primeira ressalva se tratou da disparidade entre o alto número de contaminados e baixa taxa de letalidade. A segunda mostrou que as pessoas só entravam na contagem de óbitos quando a causa última de morte era covid, ou seja, o governo não considerava na contagem, mortes por sintomas derivados do vírus. A terceira expos que o governo não realizava teste de Covid após a morte. A quarta ressalva, o Ministério da Saúde não considerava os assintomáticos para contagem do número de casos. Por último, houve uma série de denúncias sobre a manipulação de dados referentes a pandemia. Sendo assim, após todas essas ressalvas, concluiu-se que os números da pandemia no país, muito provavelmente, foram subestimados. Apesar dessas ressalvas, as políticas surtiram efeito e em maio de 2020, mesmo em meio ao isolamento social, houve um aumento de 17% no volume de negócios (RAZUMOVSKAIA et al., 2020). Ademais, em meio a pandemia, a Rússia entrou em uma disputa de preços do petróleo com a Arábia Saudita. Sobre isso, Quintas, Fona e Lima (2020, p. 120) explicaram que O impasse a respeito da decisão pela queda da produção, motivada pela queda na demanda mundial por petróleo por conta da pandemia de COVID- 19, coloca em questão a relação conflituosa entre as duas potências petrolíferas. Ambas disputam o papel central no mercado global de petróleo, que tem se tornado mais acirrado com o surgimento dos exportadores de petróleo de xisto americanos e o fortalecimento da indústria de petróleo da própria Federação Russa, após a reorganização de caráter centralizador da mesma com a entrada de Vladimir Putin na presidência do país em 2000. A disputa começou quando a Rússia se recusou a assinar um acordo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que previa a redução da produção de petróleo com vistas a manter o preço da commodity (QUINTAS, FONA e LIMA, 2020). A disputa com a Arábia Saudita, somada aos impactos da pandemia, trouxe efeitos negativos para economia russa, os quais afetaram o PIB do país que teve queda de 3% em 2020, o resultado só não foi pior, segundo Oxenstierna (2021), pois 31 as políticasmonetária e fiscal geraram um aumento da demanda. Além disso, Quintas, Fona e Lima (2020) complementaram que houve um aumento do risco país. O Gráfico 4 apresentou as variações trimestrais do PIB russo em 2020 com relação ao quarto trimestre de 2019. A partir dos dados observou-se que a economia russa sentiu os efeitos da pandemia logo no primeiro trimestre, porém foi no segundo trimestre que ela atingiu a maior queda em relação ao quarto trimestre de 2019, - 19,41%. Após esse trimestre a economia começou a se recuperar de modo que no último trimestre de 2020 a variação chegou -1,30% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Ademais, quando analisado o período como um todo, apurou-se que em média o PIB russo variou -12,22% em relação quarto trimestre de 2019. Gráfico 4 – Variação trimestral do PIB russo em 2020 com base no quarto trimestre de 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). Em relação ao mercado de trabalho, houve a perde 1,5 milhão de empregos formais entre o segundo trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020, sendo que cada setor da economia perdeu aproximadamente 500.000 empregos. Isso, somado a queda nos salários, levou a diminuição da renda disponível, a qual no terceiro trimestre de 2020 caiu 4,8% mesmo com as medidas de suporte tomadas pelo governo. A queda nos rendimentos também aumentou a taxa de pobreza no país que chegou 13,2% no segundo trimestre de 2020 (OXENSTIERNA, 2021). -18,71% -19,41% -9,46% -1,30% -25,00% -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 2020.T1 2020.T2 2020.T3 2020.T4 32 Por outro lado, houve a perda de 1,9 milhão de empregos informais, além disso, pelo fato de os trabalhadores informais não terem nenhum tipo de proteção social, muitos não conseguiram acessar os benefícios emergenciais. Comparativamente, os imigrantes se encontravam em uma situação ainda pior, pois eles eram normalmente empregados em trabalhos manuais e tinham dificuldades de acessar serviços básicos de saúde, devido a problemas relacionados a documentação (OXENSTIERNA, 2021). Ademais, para se adaptar as restrições muitos setores passaram a adotar o trabalho remoto. Segundo Yemelyanova e Lyalina (2020, p. 63, tradução nossa), Os mais resistentes às restrições foram a indústria das TIC, o setor público, e finanças, que mudaram com sucesso para o trabalho remoto. As mudanças no mercado de trabalho passaram quase despercebidos à agricultura, à administração pública e municipal, à polícia e às grandes organizações.1 O Gráfico 5 apresentou a taxa de desemprego por faixa etária em 2020. Por meio dos dados concluiu-se que o grupo de trabalhadores mais velhos com mais de 65 anos foram os menos afetados com uma taxa de desemprego de 2,4%. Por outro lado, os mais jovens entre 15 e 24 anos foram os mais afetados com 17%. Gráfico 5 – Taxa de desemprego russa por faixa etária em 2020. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da OIT (2024). 1 “The most resistant to the restrictions were the ICT industry, the public sector, and finance, which have successfully switched to remote working. The changes in the labour market have gone almost unnoticed to agriculture, public and municipal administration, the police, and large organisations”. 17,0% 6,5% 4,7% 4,2% 3,6% 2,4% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0% 18,0% 15 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 anos ou mais 33 Para socorrer as empresas, o governo russo tomou algumas medidas, entre elas, ofereceu um auxílio de 15.000 a 100.000 rublos dependendo do número de funcionários da empresa, também ofereceu subsídios as empresas com menos de 15 funcionários, em Moscou, empréstimos de 5 a 30 milhões de rublos foram concedidas as empresas a uma taxa de juros de 8,5% (YEMELYANOVA e LYALINA, 2020). Em relação a inflação, em um primeiro momento, não houve pressão inflacionaria. No entanto, essa situação mudou a partir de setembro com o aumento da demanda, devido as medidas do governo. Como o país ainda sofria com gargalos no abastecimento, a oferta não conseguia acompanhar a demanda. Somou-se a isso, a desvalorização do rublo e o aumento no preço das commodities. Todos esses fatores levaram ao aumento da pressão inflacionária. Diante disso, o Banco da Rússia aumentou a taxa de juros para 4,5% (CEPR, 2021). O Gráfico 6 apresentou o comportamento da inflação russa ao longo de 2020. A partir dele notou-se que a inflação ficou entre 2,4% e 2,5% nos meses de janeiro a março de 2020. Depois desse período a tendência foi de alta da inflação, dessa forma a inflação fechou o ano em 4,91%, o ponto mais alto do período. Adicionalmente, a média da inflação durante o período foi de 3,38%. Gráfico 6 – Comportamento da inflação russa ao longo de 2020 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). 2,42% 2,31% 2,55% 3,10% 3,03% 3,21% 3,37% 3,57% 3,67% 3,98% 4,42% 4,91% JAN. FEV. MAR. ABR. MAI . JUN. JUL . AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. 34 3.3 Crise de Covid-19 na Índia Os primeiros casos registrados de Covid-19 na Índia ocorreram no estado de Querala entre 30 de janeiro e 3 de fevereiro. A pandemia da Covid-19 começou a se agravar no país em 18 de maio de 2020, quando a nação atingiu a marca de 100.000 infectados. Em julho esse número já chegava a 850.000 infectados (GOSH, NUNDY e MALLICK, 2020). Gosh, Nundy e Mallick (2020) explicaram que como, inicialmente, os infectados eram de fora do país, a primeira medida tomada pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar foi impor uma quarentena de 14 dias aqueles que viessem de fora do país. Porém, a situação piorou em março e forçou o ministério a adotar medidas de distanciamento social. Nesse mesmo mês, o primeiro-ministro, Narendra Modi, incentivou as pessoas a obedecerem ao toque de recolher de 14 horas. Além disso, a fim de conter o avanço do vírus o governo indiano adotou um lockdown de 68 dias que foi dividido em quatro fases e durou de 24 de março até 31 de maio e ampliou os testes da população. No entanto, essas medidas não foram suficientes para impedir que o país se tornasse, em julho, o terceiro maior em número de casos de Covid-19 no mundo. Além disso, Dev e Sengupta (2020) detalharam que com o lockdown, os estabelecimentos não essenciais foram fechados e os meios de transporte foram interrompidos. Os autores ainda lembraram que após, o lockdown de 68 dias, algumas medidas foram flexibilizadas no início de junho, porém, com o aumento dos números de casos, o governo voltou atrás e reestabeleceu medidas mais restritivas. Finalmente, Dahr, Jee e Karmakar (2021) lembraram que em janeiro de 2021, a Índia lançou sua vacina, a COVAXIN. Ainda sobre o lockdown, Dev e Sengupta (2020, p. 2-3, tradução nossa) declararam O lockdown teve como principal objetivo ganhar tempo para preparar o sistema de saúde e montar um plano de como lidar com o surto assim que o número de casos começasse a acelerar. O sistema de saúde pública da Índia é relativamente mais fraco do que outros países. O governo gasta apenas 1,5% do PIB total em saúde pública como resultado, o sistema continua extremamente mal preparado para lidar com uma crise de saúde como esta.2 2 “The lock-down was primarily intended to buy time to prepare the health system and to put together a plan of how to deal with the outbreak once the case-load started accelerating. India's public health system is relatively weaker than other countries. The government spends only 1.5% of the total GDP on public health as a result of which the system remains grossly under-prepared to deal with a health crisis such as this”. 35 Além dessas medidas sanitárias, o governo indiano anunciou um pacote de mais de 279 milhões de dólarespara estimular a economia, o que correspondeu a 10% do PIB indiano. Porém, coube ressaltar que esse pacote visava mais o estímulo da oferta do que da demanda agregada (RAMAKUMAR e KANITKAR, 2021). Adicionalmente, o governo anunciou um pacote de 17 milhões de rupias indianas para garantir a segurança alimentar e financeira daqueles que mais sofreram com o lockdown. Além disso, também existiram medidas para socorrer as micro, pequenas e médias empresas como a liberação de 3 bilhões de rupias indianas para empréstimos a essas empresas (DEV e SENGUPTA, 2020). Também foram tomadas medidas especificas para socorrer os migrantes que perderam seus empregos, entre elas destacou-se os esquemas para habitação que envolviam aluguéis acessíveis e o aumento do Fundo Estatual de Resposta a Desastres para criação de abrigos para os migrantes (RAJAN, SIVAKUMAR e SRINIVASAN, 2020). Os impactos dessas medidas sanitárias na economia indiana refletiram em uma queda na demanda por eletricidade, cerca de 30%, e por petróleo, cerca de 70%. Ademais, com o lockdown, houve uma queda de 36% na atividade ferroviária e uma queda de 5% no tráfego dos portos (GOSH, NUNDY e MALLICK, 2020). Adicionalmente, Saha e Roychowdhury (2021, p. 370-371, tradução nossa) analisaram o comportamento da atividade econômica. Segundo os autores, [...] a economia voltou a encolher 7,4% entre julho e setembro de 2020; nos dois trimestres seguintes, ou seja, outubro-dezembro de 2020 e janeiro- março de 2021, o crescimento da produção foi de apenas 0,5% e 1,6%, respectivamente. Assim, para o exercício de 2020-2021, a contração da produção foi de 7,3% (estimativas provisórias). De fato, o profundo impacto da suspensão repentina nas atividades econômicas pode ser atribuído ao fato de que todos os componentes da demanda agregada (despesa de consumo final privada, formação bruta de capital fixo, exportações e importações), exceto a despesa de consumo final do governo, contraíram substancialmente em 2020-2021, quando comparados com 2019-2020.3 3 “For example, economy again shrank by 7.4% between July and September 2020; in the next two quarters, that is, October–December 2020 and January–March 2021, output growth was merely 0.5% and 1.6%, respectively. Hence, for the financial year 2020–2021, output contraction was 7.3% (provisional estimates). Indeed, the deep impact of sudden suspension in economic activities can be traced to the fact that every aggregate demand component (private final consumption expenditure, gross fixed capital formation, export and imports), except government final consumption expenditure, contracted substantially in 2020–2021, when compared with 2019–2020”. 36 O Gráfico 7 mostrou a variação trimestral do PIB indiano em 2020 com relação ao quarto trimestre de 2019. Por meio dos dados notou-se que a economia indiana foi afetada mais severamente no segundo trimestre de 2020 quando a variação em relação ao quarto trimestre de 2019 teve uma queda de -22,51%. Porém, ao longo do ano a economia indiana voltou a crescer e fechou o quarto trimestre com uma variação de 1,25% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Além disso, em média o PIB indiano variou -6,66% em relação ao quarto trimestre de 2019. Gráfico 7 – Variação trimestral do PIB indiano em 2020 com base no quarto trimestre de 2019 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do FMI (2024). Ramakumar e Kanitkar (2021) expuseram os impactos da pandemia e das medidas restritivas para agricultura indiana. Segundo os autores, muitos agricultores foram prejudicados pelas restrições do comércio internacional, as quais resultaram em uma queda na demanda externa por produtos agrícolas vindos da Índia e, consequentemente, uma queda nos preços. Internamente, as restrições impediram que os agricultores comercializassem seus produtos nos grandes centros urbanos. Contudo, como bem lembraram Dev e Sengupta (2020), a agricultura foi menos afetada negativamente pela pandemia, se comparada com a indústria e o setor de serviços. No que diz respeito a pecuária, houve uma queda na demanda por leite, entre 20 e 25%, devido ao bloqueio de funcionamento de confeitarias, restaurantes e hotéis. -0,20% -22,51% -5,18% 1,25% -30,00% -25,00% -20,00% -15,00% -10,00% -5,00% 0,00% 5,00% 2020.T1 2020.T2 2020.T3 2020.T4 37 Isso levou a queda de 19% no preço do leite, entre fevereiro e maio de 2020 (RAMAKUMAR e KANITKAR, 2021). Adicionalmente, as exportações de carne bovina cairiam, assim como explicaram Ramakumar e Kanitkar (2021, p. 12-13, tradução nossa) Entre abril e agosto de 2020, as exportações de todas as carnes e produtos cárneos foi inferior em US$ 336,4 em relação ao correspondente período em 2019. Internamente, do lado da demanda, houve uma forte queda nas vendas de carnes; as pessoas começaram a acreditar que comer carne levaria a infecções por Covid-19.4 Em relação a indústria, Ramakumar e Kanitkar (2021) observaram que o Índice de Produção Industrial (IPI) caiu para 54 em abril de 2020, se recuperou de maio a agosto, porém não chegou ao patamar de fevereiro de 134,2. Os autores ainda ponderaram que essa diminuição na produção levou a uma queda na arrecadação do imposto sobre bens e serviços. Comparativamente, Sidhu et al. (2020) afirmaram que os setores de notícias, finanças e saúde foram os que mais cresceram, enquanto os setores ligados ao turismo, construção civil e manufatura foram os mais impactados negativamente. Os pesquisadores ainda apontaram que as perdas do turismo tiveram um grande impacto sobre o PIB, uma vez que o setor sustenta grande parte do indicador. Outro setor impactado pela pandemia foi o de joias. Por causa da pandemia, muitos indianos direcionaram seu consumo para produtos de higiene e alimentação, e deixaram de consumir produtos de luxo. Tendo em vista as exportações como um todo, Ramakumar e Kanitkar (2021, p. 16, tradução nossa) afirmaram O valor das exportações caiu de US$ 27.742 milhões em fevereiro de 2020 para US$ 10.153 milhões em abril de 2020 antes de melhorar para US$ 27.585 milhões em setembro de 2020. Mas se considerarmos o período entre março e setembro de 2020, o valor acumulado das exportações foi inferior em US$ 45.191 milhões (ou cerca de 24%) em relação a março-setembro de 2019.5 4 “Between April and August of 2020, the exports of all meat and meat products was lower by US$ 336.4 compared to the corresponding period in 2019. Domestically, on the demand side, there was a sharp fall in meat sales; people began to believe that eating meat would lead to Covid-19 infections”. 5 “The value of exports fell from $27,742 million in February 2020 to $10,153 million by April 2020 before improving to $27,585 million by September 2020. But if we consider the period between March and September 2020, the cumulative value of exports was lower by $45,191 million (or about 24%) compared to March-September 2019”. 38 Em relação ao mercado de trabalho, o lockdown impactou muitas empresas que tiveram que demitir seus funcionários, nesse sentido, após o primeiro mês de restrição ocorreu o aumento de 19% da taxa de desemprego no país e no final do mês de abril a taxa alcançou a marca de 26%. Ainda, observou-se que muitos trabalhadores que perderam seus empregos nas grandes cidades passaram a retornar para o campo mesmo com as medidas restritivas (GOSH, NUNDY e MALLICK, 2020). Essa migração para o meio rural levou a um aumento na oferta de mão de obra rural e, consequentemente, a uma queda do salário real dos trabalhadores rurais (SAHA e ROYCHOWDHURY, 2021). Ademais, Dev e Sengupta (2020) indicaram que a taxa de desemprego caiu para 11% em junho com a flexibilização. Ramakumar e Kanitkar (2021), complementaram que em abril o total de empregos