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RESPONSABILIDADE CIVIL 2025 Unidade 1 – IDEIAS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL AS VÁRIAS ACEPÇÕES DA RESPONSABILIDADE Toda atividade que acarreta prejuízo traz em seu bojo, como fato social, o problema da responsabilidade. Destina-se ela a restaurar o equilíbrio MORAL E PATRIMONIAL provocado pelo autor DO DANO. Exatamente o interesse em restabelecer a harmonia e o equilíbrio violados pelo dano constitui a fonte geradora da responsabilidade civil. Pode-se afirmar, portanto, que responsabilidade exprime ideia de restauração de equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano. Sendo múltiplas as atividades humanas, inúmeras são também as espécies de responsabilidade, que abrangem todos os ramos do direito e extravasam os limites da vida jurídica, para se ligar a todos os domínios da vida social. Coloca-se, assim, o responsável na situação de quem, por ter violado determinada norma, vê-se exposto às consequências não desejadas decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a restaurar o statu quo ante. DISTINÇÃO ENTRE OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE Obrigação : vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. A obrigação nasce de diversas fontes e deve ser cumprida livre e espontaneamente. Responsabilidade : Quando tal não ocorre e sobrevém o inadimplemento, surge a responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre espontaneamente a primeira. A responsabilidade é, pois, a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional. Resumão : Obrigação “é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, consequente à violação do primeiro. Se alguém se compromete a prestar serviços profissionais a outrem, assume uma obrigação, um dever jurídico originário. Se não cumprir a obrigação (deixar de prestar os serviços), violará o dever jurídico originário, surgindo daí a responsabilidade, o dever de compor o prejuízo causado pelo não cumprimento da obrigação Suas distinção começou na Alemanha , discriminando-se, na relação obrigacional, dois momentos distintos: · o do débito (Schuld), consistindo na obrigação de realizar a prestação e dependente de ação ou omissão do devedor, e · o da responsabilidade (Haftung), em que se faculta ao credor atacar e executar o patrimônio do devedor a fim de obter o pagamento devido ou indenização pelos prejuízos causados em virtude do inadimplemento da obrigação originária na forma previamente estabelecida. A IMPORTÂNCIA DO TEMA O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois a principal consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para o seu autor, de reparar o dano, obrigação está de natureza pessoal, que se resolve em perdas e danos. As fontes das obrigações previstas no Código Civil são: · a vontade humana (os contratos, as declarações unilaterais da vontade e os atos ilícitos); · a vontade do Estado (a lei). As obrigações derivadas dos atos ilícitos são as que se constituem por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, praticadas com infração a um dever de conduta e das quais resulta dano para outrem. A obrigação que, em consequência, surge é a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado. · Na Parte Geral, nos arts. 186, 187 e 188, consignou a regra geral da responsabilidade aquiliana e algumas excludentes. · Na Parte Especial estabeleceu a regra básica da responsabilidade contratual no art. 389 e dedicou dois capítulos à “obrigação de indenizar” e à “indenização”, sob o título “Da Responsabilidade Civil”. Responsabilidade civil encontra-se a indagação sobre se o prejuízo experimentado pela vítima deve ou não ser reparado por quem o causou e em que condições e de que maneira deve ser estimado e ressarcido. Quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de que resulte dano, deve suportar as consequências do seu procedimento. Trata-se de uma regra elementar de equilíbrio social, na qual se resume, em verdade, o problema da responsabilidade. Vê-se, portanto, que a responsabilidade é um fenômeno social. O dano, ou prejuízo, que acarreta a responsabilidade não é apenas o material. O direito não deve deixar sem proteção as vítimas de ofensas morais. A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS PRIMEIROS TEMPOS E SEU DESENVOLVIMENTO Direito romano A responsabilidade civil se assenta, segundo a teoria clássica, em três pressupostos: · um dano; · a culpa do autor; e · a relação de causalidade entre o fato culposo e o mesmo dano (nexo) No início da humanidade não existia a ideia de culpa. O dano causava reação imediata e violenta da vítima, prevalecendo a vingança privada. Depois, surge o período da composição, em que a vítima percebe as vantagens de substituir a vingança pela compensação econômica. Ainda não havia análise da culpa, mas sim a reparação do dano. Com o avanço da organização social e a presença de uma autoridade, a composição econômica passa a ser obrigatória e tarifada, estabelecendo valores fixos para certos danos (como perda de membro ou morte). Esse modelo aparece no Código de Ur-Nammu, Código de Manu e Lei das XII Tábuas. Entre os romanos surge a distinção entre pena e reparação: nos delitos públicos, a indenização ia para o Estado; nos delitos privados, para a vítima. O Estado assume a função de punir, enquanto a responsabilidade civil passa a existir paralela à penal. Por fim, com a Lei Aquília, aparece o primeiro princípio geral da reparação do dano, considerado o marco da culpa aquiliana, base da moderna responsabilidade civil. Direito francês O direito francês consolidou princípios que influenciaram outros povos, difundindo o princípio aquiliano de que mesmo a culpa levíssima gera obrigação de indenizar. O Código Napoleão introduziu a noção de culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual (fora do contrato) e culpa contratual (descumprimento do contrato), nos arts. 1.382 e 1.383. A partir daí, a responsabilidade civil passou a ter como fundamento a culpa, modelo seguido por legislações em todo o mundo. Os tribunais franceses tiveram papel essencial, atualizando os textos e formando uma jurisprudência de grande importância. Direito brasileiro O Código Civil de 1916 adotou a teoria subjetiva, exigindo prova de culpa ou dolo do causador para obrigar à reparação. Em alguns casos, porém, presumia a culpa (arts. 1.527, 1.528, 1.529 etc.). Com o tempo, ganhou força a teoria do risco, que não substitui a culpa, mas amplia a proteção da vítima. Aqui a responsabilidade é objetiva: o empregador indeniza o acidente de trabalho, haja ou não culpa, porque é o dono da atividade ou da máquina que gerou o dano. Essa teoria se fundamenta no princípio da equidade já presente no direito romano: quem obtém os benefícios deve arcar com os riscos (ubi emolumentum, ibi onus). Segundo Ripert, a tendência do direito moderno é substituir a ideia de culpa pela de risco, e a responsabilidade subjetiva pela objetiva. No Brasil, o Código Civil atual (arts. 186 e 927) ainda segue a teoria subjetiva: é preciso culpa para existir responsabilidade. Contudo, a legislação também prevê hipóteses de responsabilidade objetiva, como: · art. 936: dono do animal; · art. 937: dono do edifício em ruína; · art. 938: habitante de casa que lança ou deixa cair objetos; · art. 927, parágrafo único: quem assume atividade de risco; · art. 933: pais, empregadores e outros; · art. 1.299: proprietários por danos a vizinhos. Além disso, outras leis, como o Código Brasileiro de Aeronáutica e a Lei de Acidentes do Trabalho, também consagram a responsabilidade objetiva. O Código Civil de 2002 mantém o princípio da responsabilidade com base na culpa (art. 927), definindo o ato ilícito no art. 186, verbis: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direitoe causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. No art. 927, depois de estabelecer, no caput, que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo”, dispõe, refletindo a moderna tendência, no parágrafo único, verbis: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. O sistema brasileiro adota solução mais avançada e rigorosa que a italiana (seu modelo): mantém a responsabilidade subjetiva como regra, mas também acolhe a atividade perigosa e a responsabilidade sem culpa nos casos previstos em lei. Não admite que o agente se exonere por inversão do ônus da prova demonstrando ter adotado todas as medidas para evitar o dano. Fundamentação contemporânea da responsabilidade civil: fala-se em risco-proveito, risco criado, risco profissional, risco da empresa e do emprego de mão de obra alheia. Quem cria o risco responde pelos danos causados a usuários/consumidores. Mudança de foco: da conduta do agente para o dano em si (sua ilicitude/injustiça). Segundo Jorge Mosset Iturraspe, a última década do século XX trouxe, junto ao avanço dos critérios objetivos, o desenvolvimento de fórmulas modernas de cobertura do risco, via seguro obrigatório coletivo, com ou sem limites máximos de indenização. CULPA E RESPONSABILIDADE Arts. 186 e 942 do atual, alude à faute como fundamento do dever de reparar o dano Em geral, adota-se o critério objetivo na definição da culpa, comparando o comportamento do agente a um tipo abstrato, o bonus paterfamilias. Se, da comparação entre a conduta do agente causador do dano e o comportamento de um homem médio, fixado como padrão (que seria normal), resultar que o dano derivou de uma imprudência, imperícia ou negligência do primeiro — nos quais não incorreria o homem-padrão, criado in abstracto pelo julgador —, caracteriza-se a culpa. contornando a discussão sobre o vocábulo faute, preferiu valer-se da noção de ato ilícito como causa da responsabilidade civil. Assim, o art. 186 do Código Civil brasileiro define o que se entende por comportamento culposo do agente causador do dano: “ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência”. Em consequência, fica o agente obrigado a reparar o dano. É consenso geral de que não se pode prescindir, para a correta conceituação de culpa, dos elementos “previsibilidade” e comportamento do homo medius. Só se pode, com efeito, cogitar de culpa quando o evento é previsível. Se, ao contrário, é imprevisível, não há cogitar de culpa. O art. 186 do Código Civil pressupõe sempre a existência de culpa lato sensu, que abrange o dolo (pleno conhecimento do mal e perfeita intenção de praticá-lo), e a culpa stricto sensu ou aquiliana (violação de um dever que o agente podia conhecer e observar, segundo os padrões de comportamento médio) A imprevidência(falta de cuidado) do agente, que dá origem ao resultado lesivo, pode apresentar-se, com efeito, sob as seguintes formas: imprudência, negligência ou imperícia. 📌 Em resumo: imprevidência é a falta de previsão e cuidado diante de um risco previsível, configurando culpa por negligência. Imprudência — A conduta imprudente consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias, com açodamento e arrojo, e implica sempre pequena consideração pelos interesses alheios. Negligência — O termo “negligência”, usado no art. 186, é amplo e abrange a ideia de imperícia, pois possui um sentido lato de omissão ao cumprimento de um dever. É a falta de atenção, a ausência de reflexão necessária, uma espécie de preguiça psíquica, em virtude da qual deixa o agente de prever o resultado que podia e devia ser previsto. Imperícia — Consiste sobretudo na inaptidão técnica, na ausência de conhecimentos para a prática de um ato, ou omissão de providência que se fazia necessária; é, em suma, a culpa profissional. O previsível da culpa se mede pelo grau de atenção exigível do homo medius. A obligatio ad diligentiam é aferida pelo padrão médio de comportamento, um grau de diligência considerado normal, de acordo com a sensibilidade ético-social. Impossível, pois, estabelecer um critério apriorístico geral válido. Na verdade, a culpa não se presume e deve ser apurada no exame de cada caso concreto. IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE Pressupõe o art. 186 do Código Civil o elemento imputabilidade, ou seja, a existência, no agente, da livre determinação de vontade. Para que alguém pratique um ato ilícito e seja obrigado a reparar o dano causado, é necessário que tenha capacidade de discernimento. Em outras palavras, aquele que não pode querer e entender não incorre em culpa e, ipso facto, não pratica ato ilícito. Já lembrava Savatier que quem diz culpa diz imputabilidade. E que um dano previsível e evitável para uma pessoa pode não ser para outra, sendo iníquo considerar de maneira idêntica a culpabilidade do menino e a do adulto, do ignorante e do homem instruído, do leigo e do especialista, do homem são e do enfermo, da pessoa normal e da privada da razão. A responsabilidade dos incapazes Concepção clássica: incapaz era considerado inimputável → não respondia civilmente; o dano se equiparava a caso fortuito ou força maior. Se o responsável por sua guarda não pudesse ser responsabilizado, a vítima ficava sem indenização. Injustiça da solução: principalmente quando o incapaz era abastado. O Código Civil de 1916 não tratava do tema, mas havia divergência doutrinária: · Clóvis Beviláqua e Spencer Vampré: incapaz deveria responder, pois o art. 159 não distinguia. · Alvino Lima: só há ato ilícito quando existe discernimento (razão e vontade esclarecida). Previsão no CC/1916: art. 1.521, II → curador respondia pelos atos do incapaz, salvo se provasse ausência de negligência. Se não houvesse responsável, a vítima ficava irressarcida. · Aguiar Dias: defendeu que, se incapaz não tivesse responsável, seus próprios bens deveriam responder, mesmo fora da culpa. Mudança no CC atual (2002): adotou-se a responsabilidade mitigada e subsidiária: · art. 928: incapaz responde se o responsável não tiver obrigação ou não tiver recursos. · Parágrafo único: indenização deve ser equitativa e não pode privar o incapaz do necessário. · O curador não pode mais se exonerar, mesmo sem culpa (art. 933: responsabilidade objetiva). Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015): grande mudança: · Revogou dispositivos que consideravam incapazes os deficientes, enfermos e excepcionais. · Passaram a ser considerados capazes, salvo se não puderem exprimir a vontade (art. 4º, III, CC). · Assim, respondem com seus próprios bens, mesmo que tenham curador. Enunciados da Jornada de Direito Civil: · Enunciado 40: incapaz responde de forma subsidiária ou, excepcionalmente, como devedor principal (ex.: adolescentes que praticam atos infracionais). · Enunciado 41: previa responsabilidade solidária do menor emancipado com os pais, mas foi suprimido pelo Enunciado 660, por contradição com o Enunciado 40. A responsabilidade dos menores O Código Civil fixa a menoridade em 18 anos. Admite-se emancipação a partir dos 16 anos. O art. 928 aplica-se tanto aos incapazes por deficiência de vontade quanto aos menores de 18 anos, que possuem responsabilidade mitigada e subsidiária. Regra: a obrigação de indenizar é dos pais ou responsáveis. · O menor só responde se os responsáveis não tiverem meios para indenizar. · A indenização deve ser equitativa e não pode privar o menor (ou sua família) do necessário. Os pais/tutores não podem mais se exonerar da responsabilidade, mesmo que provem ausência de culpa → responsabilidade é objetiva (art. 933 CC). Enunciado 590 (VII Jornada de Direito Civil): a responsabilidade dos pais pelos atos dos filhos menores é objetiva, mas exige que a conduta do menor, se fosse de um imputável, configurasse ato ilícito. Emancipação: · Se for voluntária, os pais continuamresponsáveis pelos atos ilícitos do filho. · Se for por casamento ou outras hipóteses legais (art. 5º, par. único, CC), os pais não respondem. Enunciado 451 (V Jornada de Direito Civil): a responsabilidade civil por ato de terceiro é objetiva, superando o modelo de culpa presumida. Unidade 2 – ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL E RESPONSABILIDADE PENAL Origem da palavra: “Responsabilidade” vem do latim respondere, significando garantia de restituição ou compensação do bem sacrificado → ideia de ressarcimento/recomposição. Direito romano: não havia distinção entre responsabilidade civil e penal; toda sanção, inclusive a indenização, era considerada pena. · A Lex Aquilia iniciou a diferenciação: para atos lesivos não criminosos, a sanção passou a ser apenas indenização pecuniária. Aguiar Dias: a distinção serve para definir a forma de restauração da ordem social: · Penal: quando a sociedade é atingida. · Civil: quando cabe ao particular buscar recomposição dos prejuízos sofridos. Exemplo prático: colisão de veículos → pode gerar: · Responsabilidade civil: pagamento do conserto e danos. · Responsabilidade penal: se houver ferimentos (art. 129, § 6º, CP) ou morte (art. 121, § 3º, CP). · Uma mesma conduta pode gerar somente civil, somente penal ou ambas as responsabilidades. Principais diferenças RC X RP : Primeira RC : o interesse diretamente lesado é o privado. O prejudicado poderá pleitear ou não a reparação. RP : agente infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o da sociedade Segunda RC : , é patrimonial: é o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. Ninguém pode ser preso por dívida civil, exceto o devedor de pensão oriunda do direito de família. Desse modo, se o causador do dano e obrigado a indenizar não tiver bens que possam ser penhorados, a vítima permanecerá irressarcida. RP : é pessoal. Responde o réu com a privação de sua liberdade. Terceira RC: várias hipóteses de responsabilidade por ato de outrem (o pai responde pelo ato do filho menor, o empregador pelo ato do empregado etc.). RP: intransferível. Somente o autor do crime pode ser responsabilizado. Quarta RC: qualquer ação ou omissão pode gerar a responsabilidade civil, desde que viole direito e cause prejuízo a outrem (CC, art. 186). RP: A tipicidade é um dos requisitos genéricos do crime. É necessário que haja perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal Quinta RC : a culpabilidade é bem mais ampla na área civil, segundo a regra in lege Aquilia et levissima culpa venit (no cível, a culpa, ainda que levíssima, obriga a indenizar). RP : nem toda culpa acarreta a condenação do réu, pois se exige que tenha certo grau ou intensidade. Conceitualmente, a culpa civil e a culpa penal são iguais, pois têm os mesmos elementos. A diferença é apenas de grau ou de critério de aplicação da lei, pois o juiz criminal é mais exigente, não vislumbrando infração em caso de culpa levíssima. Sexta - A imputabilidade também é tratada de modo diverso. Somente os maiores de 18 anos são responsáveis, civil e criminalmente, por seus atos. RC : cível, que os menores de 18 anos sejam também responsabilizados, de modo equitativo, se as pessoas encarregadas de sua guarda ou vigilância não puderem fazê-lo, desde que não fiquem privados do necessário (CC, art. 928, parágrafo único) RP: estão sujeitos apenas às medidas de proteção e socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente A imputabilidade também é tratada de modo diverso. Somente os maiores de 18 anos são responsáveis, civil e criminalmente, por seus atos. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL Responsabilidade contratual: decorre do descumprimento de obrigação prevista em contrato. · Ex.: passageiro ferido em acidente → inadimplemento da empresa de transporte (art. 389 CC); · Ex.: comodatário que não devolve a coisa; ator que não comparece ao espetáculo. Responsabilidade extracontratual (ou aquiliana): ocorre quando não existe contrato entre as partes; deriva de ato ilícito (art. 186 CC). · Agente descumpre um dever legal, causando dano. Diferença central: · Contratual: há vínculo jurídico prévio → inadimplemento. · Extracontratual: não há vínculo anterior → violação direta da lei. Tratamento no Código Civil: · Extracontratual: arts. 186 a 188 e 927 a 954. · Contratual: arts. 389 e seguintes; 395 e seguintes. Tese unitária e tese dualista Tese unitária (monista): não importa a origem (contratual ou extracontratual), pois os efeitos são os mesmos. · Em ambos, exige-se: dano + ato ilícito + nexo causal. · Hoje, é a visão predominante na doutrina. Tese dualista (clássica): distingue as duas espécies, com regulamentação própria. · Ex.: exceção do contrato não cumprido (art. 476 CC), · condição resolutiva tácita (art. 475 CC), · hipóteses de omissões e responsabilidade pelo fato de outrem → típicas da responsabilidade extracontratual. Principais diferenças entre a responsabilidade contratual e a extracontratual Primeira -ônus da prova. Na responsabilidade contratual- o inadimplemento presume-se culposo. O credor lesado encontra-se em posição mais favorável, pois só está obrigado a demonstrar que a prestação foi descumprida, sendo presumida a culpa do inadimplente (caso do passageiro de um ônibus que fica ferido em colisão deste com outro veículo) por ser contratual (contrato de adesão) a responsabilidade do transportador, que assume, ao vender a passagem, a obrigação de transportar o passageiro são e salvo a seu destino (cláusula de incolumidade). Na responsabilidade extracontratual- ao lesado inadimplente incumbe o ônus de provar culpa ou dolo do causador do dano (caso do pedestre que é atropelado por veículo particular e tem o ônus de provar a imprudência do condutor). Segunda —às fontes de que promanam. contratual tem a sua origem na convenção extracontratual a tem na inobservância do dever genérico de não lesar, de não causar dano a ninguém (neminem laedere), estatuído no art. 186 do Código Civil. Terceira —à capacidade do agente causador do dano. Josserand entende que a capacidade sofre limitações no terreno da responsabilidade simplesmente contratual, sendo mais ampla no campo da responsabilidade extracontratual. A convenção exige agentes plenamente capazes ao tempo de sua celebração, sob pena de nulidade e de não produzir efeitos indenizatórios. De acordo com o Código Civil, o menor de 18 anos é, em princípio, irresponsável, mas poderá responder pelos prejuízos que causar. No campo contratual, esse mesmo menor somente se vinculará se celebrar a convenção devidamente representado ou assistido por seu representante legal, salvo se, já tendo 16 anos, maliciosamente declarou-se maior (art. 180). Razão assiste, pois, a Josserand quando considera a capacidade jurídica bem mais restrita na responsabilidade contratual do que na derivada de atos ilícitos, porque estes podem ser perpetrados por amentais e por menores e podem gerar o dano indenizável, ao passo que somente as pessoas plenamente capazes são suscetíveis de celebrar convenções válidas. Quarta — Concerne à gradação da culpa. Em regra, a responsabilidade, seja extracontratual (art. 186), seja contratual (arts. 389 e 392), funda-se na culpa. A obrigação de indenizar, tratando-se de delito, deflui da lei, que vale erga omnes. Consequência disso seria que, na responsabilidade delitual, a falta se apuraria de maneira mais rigorosa, alcançando a culpa leve e a levíssima, responsabilidade contratual ela variaria de intensidade de conformidade com os diferentes casos, sem contudo alcançar aqueles extremos a que se pudesse chegar na hipótese de culpa aquiliana, em que vige o princípio do in lege Aquilia et levissima culpa venit (no cível, a culpa levíssima obriga a indenizar). Decidiu o Superior Tribunal de Justiça que o prazo aplicável à responsabilidadecontratual deve ser o de 10 anos, e não de 3 anos , como na responsabilidade extracontratual, verbis: “Inaplicabilidade do art. 206, § 3.º, V, do Código Civil. Subsunção à regra geral do art. 205, do Código Civil, salvo existência de previsão expressa de prazo diferenciado”. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E RESPONSABILIDADE OBJETIVA Responsabilidade subjetiva Em face da teoria clássica, a culpa era fundamento da responsabilidade. Essa teoria, também chamada de teoria da culpa, ou “subjetiva”, pressupõe a culpa como fundamento da responsabilidade civil. Não havendo culpa, não há responsabilidade. Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. Responsabilidade objetiva A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano cometido, independentemente de culpa. Quando isso acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde da culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Essa teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é indenizável e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo de causalidade, independentemente de culpa. A classificação corrente e tradicional, pois, denomina objetiva a responsabilidade que independe de culpa. Esta pode ou não existir, mas será sempre irrelevante para a configuração do dever de indenizar. Indispensável será a relação de causalidade entre a ação e o dano, uma vez que, mesmo no caso de responsabilidade objetiva, não se pode acusar quem não tenha dado causa ao evento. Nessa classificação, os casos de culpa presumida são considerados hipóteses de responsabilidade subjetiva, pois se fundam ainda na culpa, mesmo que presumida. Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco. Para essa teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros; e deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais genericamente como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo. A responsabilidade civil no Código de 2002 Regra geral: o Código adotou a teoria subjetiva, exigindo dolo ou culpa para a obrigação de reparar (art. 186 CC). Exceção: em alguns casos específicos, há responsabilidade objetiva (independe de culpa). Exemplos de responsabilidade objetiva no CC/2002 · Art. 936: dono do animal responde pelos danos causados. · Art. 937: dono do prédio responde pela ruína (Enunciado 556 da VI Jornada confirma que é objetiva). · Art. 938: habitante da casa responde por coisas que caírem dela. · Arts. 929 e 930: responsabilidade por ato lícito (estado de necessidade). · Arts. 939 e 940: responsabilidade do credor por cobrar dívida antes do vencimento ou já paga. · Art. 933: responsabilidade sem culpa de pais, tutores, curadores, empregadores, donos de hotéis e escolas pelos atos de seus dependentes e prepostos. · Art. 927, parágrafo único: obrigação de reparar independentemente de culpa, nos casos previstos em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida implicar risco para terceiros. A responsabilidade objetiva em diversas leis esparsas Diversas leis adotam expressamente a responsabilidade objetiva: · Lei de Acidentes do Trabalho, · Código Brasileiro de Aeronáutica, · Lei 6.453/77 (instalações nucleares), · Decreto Legislativo 2.681/1912 (estradas de ferro), · Lei 6.938/81 (dano ambiental), · Código de Defesa do Consumidor, entre outras. Responsabilidade subjetiva → regra (fundada em dolo ou culpa). Responsabilidade objetiva → exceção, aplicada a casos específicos. Ambas coexistem no CC/2002: a subjetiva como norma geral, e a objetiva como instrumento de proteção social em situações de risco ou previsão legal. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL POR ATOS ILÍCITOS E LÍCITOS (FUNDADA NO RISCO E DECORRENTE DE FATOS PERMITIDOS POR LEI) Regra : a obrigação de indenizar assenta-se na prática de um fato ilícito. Ex : do motorista que tem de pagar as despesas médico-hospitalares e os lucros cessantes da vítima que atropelou, por ter agido de forma imprudente, praticando um ato ilícito. Outros casos : obrigação pode decorrer, como vimos, do exercício de uma atividade perigosa. O dono da máquina que, em atividade, tenha causado dano a alguém (acidentes de trabalho, p. ex.) responde pela indenização não porque tenha cometido propriamente um ato ilícito ao utilizá-la, mas, sim, por ser quem, utilizando-a em seu proveito, suporta o risco (princípio em que se funda a responsabilidade objetiva). obrigação de indenizar pode nascer de fatos permitidos por lei (lícitos) e não abrangidos pelo chamado risco social. Segue abaixo exemplos : · o dos atos praticados em estado de necessidade, considerados lícitos pelo art. 188, II, do Código Civil, mas que, mesmo assim, obrigam o seu autor a indenizar o dono da coisa, como prevê o art. 929 do mesmo diploma; · o do dono do prédio encravado que exige passagem pelo prédio vizinho, mediante o pagamento de indenização cabal (art. 1.285 do CC); · o do proprietário que penetra no imóvel vizinho para fazer limpeza, reformas e outros serviços considerados necessários (art. 1.313 do CC). PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL O art. 186 cc consagra uma regra universalmente aceita: a de que TODO AQUELE QUE CAUSA DANO A OUTREM É OBRIGADO A REPARÁ-LO. Estabelece o aludido dispositivo legal, informativo da responsabilidade aquiliana( extracontratual) : “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. A análise do artigo supratranscrito evidencia que 4 SÃO OS ELEMENTOS ESSENCIAIS da responsabilidade civil: a) ação ou omissão; b) culpa ou dolo do agente; c) relação de causalidade; d) o dano experimentado pela vítima. Ação ou omissão a lei a qualquer pessoa que, por ação ou omissão, venha a causar dano a outrem. A responsabilidade pode derivar: a) de ato próprio; Cc prevê responsabilidade por ato próprio, dentre outros, nos casos de calúnia, difamação e injúria; de demanda de pagamento de dívida não vencida ou já paga; de abuso de direito. b) de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente responsabilidade por ato de terceiro ocorre nos casos de danos causados pelos filhos, tutelados e curatelados, ficando responsáveis pela reparação os pais, tutores e curadores. Também o empregador responde pelos atos de seus empregados. Os educadores, hoteleiros e estalajadeiros, pelos seus educandos e hóspedes. Os farmacêuticos, por seus prepostos. As pessoas jurídicas de direito privado, por seus empregados, e as de direito público, por seus agentes. E, ainda, aqueles que participam do produto de crime. c) de danos causados por coisas e animais que lhe pertençam. responsabilidade por danos causados por animais e coisas que estejam sob a guarda do agente é, em regra, OBJETIVA: INDEPENDE DE PROVA DE CULPA. Isso se deve ao aumento do número de acidentes e de vítimas, que não devem ficar irressarcidas, decorrente do grande desenvolvimento da indústria de máquinas. Culpa ou dolo do agente Relação de causalidade É a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art. 186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar. Exemplo : Se, verbigratia, o motorista está dirigindo corretamente e a vítima, querendo suicidar-se, atira-se sob as rodas do veículo, não se pode afirmar ter ele “causado” o acidente, pois na verdade foi um mero instrumento da vontade da vítima, está sim responsável exclusiva pelo evento. As excludentes da ilicitude do ato, como a culpa da vítima e o caso fortuito e a força maior (CC, art. 393), rompem o nexo de causalidade, afastando a responsabilidade do agente. Dano – (CORAÇÃO ) SEM A PROVA DO DANO, NINGUÉM PODE SER RESPONSABILIZADO CIVILMENTE. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem repercussão na órbita financeira do ofendido. Cc prevê = LIQUIDAÇÃO DO DANO, ou seja, sobre o modo de se apurarem os prejuízos e a indenização cabível. A inexistência de dano é óbice à pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto. O atual Código aperfeiçoou o conceito de ato ilícito ao dizer que o pratica quem “violar direito e causar dano a outrem” (art. 186), substituindo o “ou” (“violar direito ou causar dano a outrem”) que constava do art. 159 do diploma de 1916. o elemento objetivo da culpa é o dever violado. A responsabilidade é uma reação provocada pela infração de um dever preexistente. No entanto, ainda mesmo que haja violação de um dever jurídico e que tenha havido culpa, e até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha verificado prejuízo. Ex : motorista comete várias infrações de trânsito, mas não atropela nenhuma pessoa nem colide com outro veículo, nenhuma indenização será devida, malgrado a ilicitude de sua conduta. A obrigação de indenizar = existência da VIOLAÇÃO DE DIREITO E DO DANO, concomitantemente. Resumos Unidade 1 – IDEIAS GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Unidade 2 – ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL Questões 1.(TRT/MT/Juiz do Trabalho Substituto/Fundação Carlos Chagas/2015) Carlos foi vítima de golpe por meio do qual fraudadores utilizaram-se de documentos falsos a fim de realizar operações bancárias em seu nome. Procurada por Carlos, a instituição financeira afirmou não ter tido culpa pelo incidente, negando-se a restituir o prejuízo. A negativa é 2.(TJAL/Juiz Substituto/Fundação Carlos Chagas/2015) A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito 3- (TJSP/Delegação de Notas e de Registro/VUNESP/2014) Na teoria do enriquecimento sem causas, como fonte da obrigação, a) o deslocamento patrimonial indevido não implica necessariamente que deverá haver empobrecimento de outrem. “a”. Vide arts. 844 e 856 do CC e Enunciado 35 da I Jornada de Direito Civil. 4.(TRT/4.ª Região/Juiz do Trabalho/2016) Considere as assertivas abaixo sobre responsabilidade civil. I.É possível a responsabilização do incapaz pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. II.O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança, podendo a reparação ser cobrada integralmente do herdeiro. III.A indenização é prestada, preferencialmente, em moeda corrente. Quais são CORRETAS? a) Apenas I. “a”. Vide art. 928 do CC. 5- (TJDFT/Juiz de Direito/CESPE/2016) A respeito da responsabilidade civil, assinale a opção CORRETA. d) Segundo a atual orientação do STJ, a reparação pela lesão extrapatrimonial deve seguir o método denominado bifásico na aferição do valor da indenização. “d”. Vide STJ, REsp 959.780/ES. 6- (Valiprev/SP/Procurador Municipal/VUNESP/2020) De acordo com a doutrina majoritária e jurisprudência atualizada dos tribunais superiores, caracterizam dano moral in re ipsa d) ofensa injusta à dignidade da pessoa “d”. Vide STJ, REsp 1.292.141/SP. 7-(Advogado/EBSERG/VUNESP/2020) Sobre a indenização decorrente da responsabilidade civil, pode-se CORRETAMENTE afirmar: b) havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado que será estimado pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele. “b”. Vide art. 952 do CC. DANO Espécies de dano image4.png image5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png image11.png image12.png image13.png image14.png image1.png image2.png image3.png