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DIREITO CIVIL PROFESSORA: IANA ALUNO: EVILLY FERNANDES SILES 6º PERÍODO HERANÇA DIGITAL O que é? Trata-se do patrimônio sucessível por ocasião da morte, consistente em bens incorpóreos que estão disponíveis no ambiente virtual. No espaço virtual podem-se encontrar livros, músicas, jogos, filmes e diversos outros produtos que ficam armazenados em uma “nuvem’’. Em outras palavras, herança digital é o conjunto de bens digitais transmissíveis com o falecimento do titular para seus sucessores, sejam legítimos ou testamentários. Existe regulamentação no Brasil? A presente temática ainda não é regulamentada pelo Código Civil de 2002 nem pelo Marco Civil da Internet ou pela Lei Geral de Proteção de Dados brasileira. Existem projetos de lei, mas nada que tenha se tornado uma regra ou que traga segurança jurídica para a sociedade. O cenário jurídico atual no Brasil, ainda carente de regulamentação clara sobre a herança digital, muitas vezes deixa os herdeiros à mercê das políticas internas das plataformas digitais. Isso levanta questionamentos sobre até que ponto esses contratos de adesão, geralmente redigidos de forma a proteger os interesses das empresas, podem prevalecer sobre os direitos de herança estabelecidos pelo Código Civil (BRASIL, Lei nº 10.406/2002). Segundo Tartuce (2018), há uma necessidade urgente de adaptação do ordenamento jurídico para acomodar essas novas formas de propriedade. Regulamentação em outros países A nível internacional, alguns países já têm avançado em termos de regulamentação da herança digital. A Alemanha e a Espanha foram os primeiros países a regulamentar a herança digital. A Alemanha por exemplo, trata as contas digitais como bens passíveis de herança, permitindo que os herdeiros acessem as contas do falecido mediante autorização legal (FRITZ, 2021). Nos Estados Unidos, alguns estados, como a Califórnia, possuem leis que regulamentam o acesso de herdeiros a bens digitais mediante decisão judicial, oferecendo um caminho jurídico claro para esses casos. Alguns países europeus, como o Reino Unido e a França, foram propostas e, em alguns casos, implementadas legislações específicas para abordar a herança digital. Essas leis visam definir claramente os direitos dos herdeiros em relação aos bens digitais e estabelecer procedimentos para sua transferência e gestão adequadas. Jurisprudência comentada Autos n° 0001007-27.2013.8.12.0110 Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível Parte Ativa: Dolores Pereira Ribeiro Coutinho Parte Passiva: Facebook Serviços On Line do Brasil Vistos. I - Em razão da especificação constante ao termo de abertura de ação de fl. 1 (insistência da parte), recebo a inicial como obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais. II - Como é cediço, para a concessão liminar torna-se imprescindível que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança das alegações. Exige-se, ainda, a reversibilidade do provimento antecipado. A fumaça do bom direito ou plausibilidade do direito invocado está consubstanciada na existência de procedimento administrativo referente a exclusão da conta de pessoa falecida por pessoa da família, o qual já foi buscado via on line pela autora, mas até o momento não obteve êxito, como se vê pelo documentos de fls.15 e 20/21. O perigo na demora está consubstanciado no direito da personalidade, tanto da pessoa morta quanto da mãe (art. 12, parágrafo único, do CC), sanando o sofrimento decorrente da transformação do perfil em "muro de lamentações", o que ataca diretamente o direito à dignidade da pessoa humana da genitora, que além do enorme sofrimento decorrente da perda prematura de sua única filha, ainda tem que conviver com pessoas que cultivam a morte e o sofrimento. Se não bastasse, os comentários poderão até se transformarem em ofensas à personalidade da pessoa já falecida, pois estão disponíveis livremente aos usuários do Facebook. Assim, a autora possui legitimidade para pleitear o bem da vida consistente na exclusão do perfil de sua falecida filha do Facebook, razão pela qual o pedido liminar deve ser acolhido. Posto isso, DEFIRO o pedido liminar para determinar que seja excluído o perfil URL:http://facebook.com/quadrado!/juliana.ribeirocampos?fref=ts pertencente a Juliana Ribeiro Campos do Facebook Serviços On Line do Brasil Ltda, conforme documento de fl. 12, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), limitada a quinze dias, em caso de descumprimento da medida, que desde já estabeleço. Oficie-se à empresa para cumprimento imediato da tutela antecipada. Designe-se audiência de conciliação e proceda-se à citação e intimação da requerida para comparecer à audiência de conciliação. Intimem-se e cumpra-se. Campo Grande (MS), 19 de março de 2013. A decisão proferida no processo de nº 0001007-27.2013.8.12.0110 no ano de 2013, pela Juíza Vania Paula de Arantes, na 1ª vara do Juizado Especial Central da comarca de Campo Grande/ MS. O processo se trata de uma ação ajuizada por uma mãe em face da plataforma Facebook, com a finalidade de que esta última desativasse a conta de sua filha, que morreu precocemente. Para fundamentar o pedido a requerente alegou que a exclusão do perfil da filha seria uma forma de respeito ao luto da família, haja vista que diversos amigos continuavam enviando mensagens mesmo após a morte da jovem. A demanda foi necessária haja vista que a requerente por diversas vezes contatou requerida para solucionar o empasse consensualmente, porém nenhuma das tentativas obteve resposta. A juíza deu procedência ao pedido liminar em favor da mãe, fundamentando sua decisão no princípio da dignidade humana, pois segundo a magistrada, a posição da empresa Facebook em manter ativa a conta da jovem falecida atacava diretamente os familiares mais próximos, uma vez que a autora já estava em sofrimento pela perda prematura da filha. Ademais, também serviu de base para a decisão o direito da personalidade, juntamente com a possibilidade de tutela pela genitora, previsto no artigo 12 caput e parágrafo único do Código Civil (2002), como o perfil da pessoa falecia possui caráter público, eventualmente alguns comentários poderiam se tornar em ofensas a personalidade da pessoa, pois estão livremente disponíveis aos usuários do Facebook O arrt. 12 do CC diz que ‘’Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau’’. É possível observar que a magistrada responsável pelo caso em pauta, decidiu reconhecer o direito dos herdeiros de gerir a herança digital da falecida de acordo com as necessidades da família. No contexto específico, a decisão foi pela exclusão do perfil nas redes sociais, com a finalidade de mitigar o sofrimento causado pelo memorial online, uma vez que a manutenção desse memorial constantemente reavivava na família a lembrança dolorosa do momento da perda. Referências https://www.migalhas.com.br/depeso/406447/a-heranca-no-mundo-digital https://ojs.focopublicacoes.com.br/foco/article/view/5298/3796 https://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20130424-11.pdf https://www.mprj.mp.br/documents/20184/3978934/Ana+Carolina+Alves+de+Paiva_RMP-88.pdf TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Direito das Sucessões. 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021a. v. 6.