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Ensaio: Os Rótulos e as ‘Verdades’ Absolutas[1: Publicado no Linkedin / Pulse em 04 de mar de 2016. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/ensaio-os-r%C3%B3tulos-e-verdades-absolutas-fernanda-matos?trk=hp-feed-article-title-publish]
Fernanda Matos
Daniela Diniz
O mundo acadêmico, cada vez mais guiado pelo gerencialismo tem admitido o enquadramento do ensino e da pesquisa às lógicas de gestão de empresas. Em um ajustamento de tudo em caixinhas organizadas e nominadas, como que expostas em prateleiras de supermercados organizadas por seções, ou como estoques que adotam o modelo kanban. Permitiu-se, portanto, que as instituições responsáveis pela geração e difusão do conhecimento – atividades complexas, que demandam arte, tempo e reflexão – se submetessem ao modus operandi das organizações produtoras de latas de sardinha, em uma visão linear de processo, onde impera a minimização de inputs e a maximização de outputs. Neste aspecto, igualando o trabalho do professor e pesquisador ao ofício do administrador gerencial.[2: O gerencialismo quando aplicado ao ensino e a pesquisa corrói a essência da produção da produção e a divulgação do conhecimento. O problema da inserção da lógica gerencial no meio educacional é que ela passa a impor um ‘ethos’ corporativo para um tipo de atividade que pouco ou nada tem a ver com o mundo das empresas.][3: Arte no sentido de craft como aponta Mattos (2006)]
Alcadipani (2011) vai além, dizendo que a academia está prestes a virar fast-food, no qual os docentes prestadores de serviços precisam agradar seus alunos clientes. Nesta necessidade de sempre agradar, ou seja, acrescida à arte de animar salas de aula e auditórios, está a participação na ‘Corrida Maluca’ dos pontos de produtividade no âmbito da pós-graduação stricto sensu. Mas, “não é só a pontuação da Capes como meta que desvirtua nossa almejada produção, mas, também, o modo como atingimos esses pontos” (Bertero et al.; 2013). Outros problemas à lógica de produção está a ‘noção de autoria’ que ‘está à beira de ser desvirtuada’, bem como o ‘horror à crítica’ que se estabelece. Ou seja, os pesquisadores não realizam uma leitura aprofundada, crítica e posicionada das teorias e métodos produzidos em outros países. Barros e Carrieri (2013) advertem que é preciso colocar o conhecimento sob análise a partir de um olhar histórico, buscando entender seu aparecimento e seu desenvolvimento. Esse “produtivismo” conduz justamente a problemas de reprodução, de falta de originalidade e baixo aprofundamento nas questões epistemológicas e teóricas, tão caras a uma produção científica de qualidade. [4: Referência aos desenhos de Hanna Barbera (1968)][5: Alcadipani (2011); Bertero et. Al (2013)][6: Produtivismo, para Bertero et al. (2013, p.182) é a atitude desequilibrada na qual a qualidade, a pertinência e os padrões éticos cederiam ao imperativo de pontuações e CVs recheados de títulos. ]
Nesse regime produtivista, pesquisadores subjugados vivem a dicotomia de publicar em maior quantidade. Mas o que interessa mais à ciência: publicar muito ou desenvolver estudos que possam contribuir para o avanço do conhecimento na área e para elucidar fenômenos brasileiros? Estuda-se muito pouco a Administração no Brasil. Uma das razões de falta de originalidade deve-se ao fato de olharmos muito pouco para a realidade local (Paula, 2013).
Os pesquisadores enfrentam, ainda, a ira de outros competidores que defendem outras linhas e/ou métodos. Além do produtivismo é preciso observar o paroquialismo, estrangeirismo e o colonialismo. Isto é, a academia está limitada por posições antagônicas, preconceitos, antagonismos de natureza profissional e pessoal que comprometem a possibilidade de se criar uma agenda construtiva de debates entre diferentes perspectivas. É preciso ter cuidado, ser político. [7: O paroquialismo ou provincialismo, como define Bertero et al. (2013 p.182), é uma atitude desequilibrada na avaliação de autores, de teorias e da produção científica em geral, que acabam sendo sobreapreciados pelo fato de ser nacionais.][8: Colonialismo acadêmico, no qual aqueles que avaliam nossa produção raramente são imparciais. Bertero et al. (2013).]
Nossa comunidade, como observado por Bertero et al. (2013), aplica etiquetas a autores e teorias com frequência, citando algumas delas: neoinstitucionalista, universalita, funcionalistas, estruturalistas, afinal quantos ‘istas’ pode haver!? Quantitativos ou qualitativos. Por que a necessidade de se escolher apenas um caminho ou uma linha? Porque atermos a cercas e terrenos tão demarcados!? E porque classificarmos e definirmos o nosso estudo em um ‘paradigma’ ou ‘posição’? 
A evolução do conhecimento sociológico e organizacional não ocorre por meio de dicotomias e antagonismos, mas com a adoção de uma perspectiva que buscar somar as diversas abordagens e interesses cognitivos. Faz-se necessário superar a mentalidade paradigmática inserida por Burrell e Morgan (1979), com a intenção de tonar os estudos organizacionais um campo mais pluralista e flexível, sem amarras.[9: Citados nos textos de Machado-da-Silva et al. (1990), e Paula (2013)]
Essa imposição dos modelos enlatados e rotulados não é recente, nem exclusivo à academia. O diretor Hector Babenco no filme ‘Brincando nos Campos do Senhor’, baseado em um livro de mesmo nome, faz uma crítica narrativa permeada pela matriz ocidental do pensamento único, os missionários impondo uma visão de mundo, uma origem legitimada pela ortodoxia fundamentalista ou católica. Aborda a dificuldade que as pessoas têm em aceitar o que é diferente e a tentativa incansável de torná-los iguais.  Nessa visão, o outro “indígena, selvagem, pecador, preguiçoso” precisa ser “pacificado, civilizado, disciplinado, convertido, trazido da escuridão à luz, ser um bom cidadão”, tendo ainda, como pano de fundo o interesse pela terra. Ainda nessa linha, da aceitabilidade do outro, apesar de construídas a partir da mesma ‘base’ de crença e os fundamentos do Cristianismo, Católicos, Presbiterianos, e outras denominações, que rotularam Deus em seitas que muitas vezes se agridem, em que se mata e morre em nome de uma ‘verdade’ absoluta, construída do rótulo. 	Rótulos deveriam ser utilizados apenas para produtos, não para pessoas. Mas não somos neutros, enquanto professores e pesquisas, percebemos que é uma mistura de vários rótulos que nos aproxima e nos afasta dos outros que são diferentes. Seriam eles os diferentes ou seriam nós? Quem nos empodera de sermos o modelo ou torna ‘nossa verdade é a verdade universal’?. Mattos (2009, p.356) corrobora com a discussão, ao afirmar que Karl Popper - O filósofo e professor emérito da London School of Economics and Political Science – nos traz fortes ensinamentos. Para Popper é preciso, sobretudo na profissão acadêmica, “ser crítico e criterioso em relação à própria experiência ou aos ‘fatos’ que nos são relatados, e que absorvemos [...] sob o estereótipo do ‘fato, pura realidade’ ou ‘fato, argumento definitivo’”.[10: At Play in the Fields of the Lord é um filme estadunidense-brasileiro de 1991, filmado na Amazônia, do gênero drama, dirigido por Hector Babenco e com roteiro baseado em livro de Peter Matthiessen.]
Misoczky e Vecchio (2006), acrescentam ainda que um dos fatores mais frustrantes no campo da administração é a incapacidade da maioria de seus personagens de aceitar a provocação para pensar a possibilidade de que possam existir arranjos organizacionais e políticos diferentes dos atuais. Uma das causas dessa incapacidade está na aceitação acrítica de discursos e prescrições que compõem a tradição teórica dos estudos organizacionais.
Politicamente, uma teoria ganha novos adeptos quando outros indivíduos e grupos referenciam o trabalho atestando sua concordância ao divulgado. Paula (2013 p.19) adverte que um “ponto crucial para a sustentação e a sobrevivência das perspectivas alternativas” é a integração dos pesquisadores que as sustentam, sem ela o movimento que permanece divididoe perde sua força. Neste caminhar, quanto mais adeptos mais força e repercussão. Nesse sentido, no meio científico-acadêmico, devemos seguir junto com a maioria ou devemos buscar maior pluralidade?
Referências
ALCADIPANI, R. Academia e a fábrica de sardinhas. Organizações & Sociedade, v.18, n.57, p.345-348,2011.
BABENCO, Hector. Brincando nos campos do senhor. Filme, 1991.
BARROS, A. N; CARRIERI, A. P. Ensino superior em Administração entre os anos de 1940 4 1950: uma discussão a partir dos acordos de cooperação Brasil-Estados Unidos. Cadenos EBAPE.BR, v.11, n.1, p.256-273, 2013.
BERTERO, C. O; ALCADIPANI, R.; CABRAL, S.; FARIA, A.; ROSSINI, L. Os desafios da produção de conhecimento em Administração no Brasil. Cadernos EBAPE.BR, v.11, n.1, p.182-196, 2013.
MACHADO-DA-SILVA, C. CUNHA, V.C. DA; AMBON, N. Organizações: o estado da arte da produção acadêmica no Brasil. In: Encontro Nacional de Programas de Pós-Graduação em Administração, 14, 1990, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Anpad, 1990. V.6,p. 11-28.
MATTOS, P. L. C. L. Administração é ciência ou arte? E que podemos aprender com este mal-entendido? RAE, n.3, v.49, São Paula, p. 349-360. Jul./set. 2009.
MISOVSKY, M. C..; CARRIERI, A. P. Notas provisórias sobre o desenvolvimento e a superação dos estudos organizacionais. In: Encontro Nacional dos Programas de Pós-graduação e Pesquisas em Administração, 2009, São Paulo. Enanpad, 2009.
PAULA, A. P. P. Repensando os estudos organizacionais: o circulo das matrizes epistemológicas e a abordagem Freudo-Frankfurtina. Tese Titular. Belo Horizonte: CAD/UFMG, 2013.
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