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Curso de Formação Psicanalítica 
Aluna: Vitória de Siqueira Macedo Rodrigues 
 
 
 
Para que serve a psicanálise? 
 
A psicanálise, teoria e método terpêutico desenvolvidos por Sigmund 
Freud, oferece uma perspectiva única sobre a condição humana, situando-se em 
um ponto de encontro entre a investigação científica e a expressão artística. Sua 
relevância se manifesta em dois eixos principais: como um método terapêutico 
para lidar com dificuldades emocionais e sofrimentos psíquicos, e como um 
instrumento cultural que proporciona novas compreensões sobre a existência e 
funcionamento da estrutura mental humana. 
A origem da psicanálise reside no reconhecimento de que a abordagem 
estritamente objetiva da ciência é insuficiente para capturar a profundidade da 
mente humana. Por essa razão, Freud frequentemente recorreu à literatura, à 
arte e à filosofia para comunicar suas ideias, demonstrando que há aspectos da 
experiência humana que transcendem a linguagem convencional. A psicanálise 
emerge da sensação de "falta", muitas vezes percebida como ausência de afeto 
ou insatisfação em relacionamentos, e busca abordar os impasses que surgem 
desse mal-estar. Ela se propõe como uma estratégia para lidar com o vazio 
existencial, que frequentemente é traduzido como a carência de algo ou alguém. 
No cerne do tratamento psicanalítico, a fala desempenha um papel 
central. Através dela, o indivíduo pode se integrar e se relacionar com o mundo. 
O foco recai sobre o conceito de desejo e a libido, entendida como a energia 
fundamental de Eros, a força que impulsiona a criação de laços e conexões. O 
objetivo da psicanálise não é uma "cura" no sentido de eliminar completamente 
um problema, mas sim um processo de investigação interna, onde os efeitos 
terapêuticos são uma consequência natural. Ela busca encontrar maneiras 
menos dolorosas de conviver com o vazio inerente à condição humana, 
aceitando que não podemos nos "curar" da experiência de ser humano. A 
psicanálise, portanto, visa transformar a forma como vivemos e a maneira como 
nos posicionamos diante daquilo que nos falta. 
Com uma perspectiva ética que acolhe a vida em sua realidade, com suas 
alegrias e desafios, em vez de uma visão idealizada, a psicanálise confronta 
nossa imperfeição, que pode dar origem a dificuldades psicológicas diversas. 
Diferente dos animais, os seres humanos são guiados pela "pulsão" (e não 
apenas pelo instinto), sendo profundamente afetados por símbolos e pela 
linguagem. Nesse contexto, as coisas não são apenas o que parecem, mas o 
que representam para nós. A linguagem, uma invenção engenhosa, serve para 
preencher a lacuna que nos separa do mundo, possibilitando a comunicação por 
meio de recursos simbólicos e imaginários. 
A psicanálise explora as manifestações do inconsciente, como sonhos, 
lapsos de memória, fantasias e sintomas, que não seguem a lógica racional. No 
inconsciente, ideias opostas podem coexistir, criando paradoxos. O sintoma, na 
visão psicanalítica, é um sinal da identidade do sujeito, uma forma complexa de 
obter satisfação, conhecida como "gozo", onde prazer e dor se misturam 
sutilmente. Um sintoma se torna analítico quando o indivíduo o utiliza como ponto 
de partida para questionar a si mesmo, buscando um conhecimento que reside 
no inconsciente. 
O psicanalista, por sua vez, não oferece conselhos, mas apoia o saber 
inconsciente e incentiva o paciente a um trabalho de autoinvestigação, escuta 
de sua própria fala e curiosidade sobre si mesmo. O paciente é o protagonista 
ativo desse processo. Além da clínica, a psicanálise serve como um guia ético e 
teórico para diversas intervenções na sociedade, dialogando com áreas como o 
Direito, a Medicina e a Arte. Ela também desfaz a divisão tradicional entre 
indivíduo e sociedade, reconhecendo que a psicologia de cada pessoa está 
intrinsecamente ligada ao contexto social. 
A ética da psicanálise está intimamente ligada à valorização da vida em 
sua fluidez, transitoriedade e até mesmo efemeridade. Ela encontra beleza no 
movimento constante e naquilo que não se acomoda, aceitando o desassossego 
e os riscos das mudanças como partes essenciais da existência. Em resumo, a 
psicanálise é uma abordagem profunda da condição humana que, em vez de 
buscar a eliminação de conflitos, propõe uma exploração da mente, do desejo e 
das complexidades do inconsciente, permitindo que o indivíduo lide de maneira 
mais autêntica e saudável com o vazio e os desafios inerentes à sua vida. 
Em resumo, a psicanálise serve para permitir que o indivíduo se 
autoconheça profundamente, compreenda as origens de seu sofrimento e 
encontre formas mais autênticas e saudáveis de viver, lidando com a 
complexidade de sua própria existência. 
 
 
Polo São Paulo, 02 de Julho de 2025.

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