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1 Aaa Introdução No final da década de 1950, Abraham Maslow, Carl Rogers e outros psicólogos não acreditavam que o comportamento humano fosse condicionado ou baseado na mente consciente e inconsciente. Para eles, a psicologia precisava de uma abordagem mais humanista e que considerasse a pessoa como um todo — o que inclui sua saúde, criatividade e individualidade. A psicologia humanista, também conhecida como humanismo, surgiu na década de 1950 como uma reação à psicanálise e ao behaviorismo que dominavam a psicologia na época. A psicanálise estava focada na compreensão das motivações inconscientes que conduzem o comportamento enquanto o behaviorismo estudava os processos de condicionamento que produzem comportamento. Alguns psicólogos viam essas características como limitações. Os pensadores humanistas achavam que tanto a psicanálise quanto o behaviorismo eram pessimistas demais, concentrando-se nas emoções mais trágicas ou deixando de levar em conta o papel da escolha pessoal. O humanismo, por exemplo, rejeitou os pressupostos da perspetiva behaviorista, caracterizada como determinística, focada no reforço do comportamento estímulo-resposta e fortemente dependente da pesquisa com animais. Os psicólogos humanistas também rejeitaram a abordagem psicanalítica fundada por Freud, porque também considerarem determinística, com forças irracionais e instintivas inconscientes que determinam o pensamento e o comportamento humanos. Nota: a psicologia humanista critica e considera desadequada as tentativas da psicanalise e do behaviorismo pois acredita que não devemos medir e controlar o comportamento humano, mas sobretudo compreendê-lo – ou seja, é preciso ouvir o ser humano, criar uma relação para a pessoa se conhecer a si mesma. Devemos ver a pessoa como um todo, ter em conta as experiências do individuo em função da sua realidade e contexto. Há assim uma necessidade de retomar a centralidade da pessoa, e de não a ver apenas como um objeto. Nesse contexto a psicologia humanista desenvolveu-se https://saudeinterior.org/psicanalise/ https://saudeinterior.org/behaviorismo/ 2 Essa era uma abordagem nova e mais holística, que se concentrava menos em patologias, experiências passadas e influências ambientais no comportamento de uma pessoa e mais no lado positivo da natureza humana. Os estudos que deram origem a Psicologia Humanista têm origem nos questionamentos de Rogers e Maslow às teorias behavioristas (ou comportamentais), que para os humanistas foram entendidas como formas de desumanizar o aparelho psíquico. A Psicologia Humanista tem base em duas outras abordagens importantes: o Existencialismo e a Fenomenologia. Enquanto o Existencialismo vê o indivíduo como o centro dos processos, a Fenomenologia entende que esse indivíduo tem total consciência do mundo e toda a sua experiência não é de outra maneira que esta: consciente. O que é a psicologia humanista? A Psicologia Humanista é uma abordagem terapêutica que abrange uma visão integral – holística, do ser humano. Compreende que a intervenção psicoterapêutica deve ser feita com foco na perceção dos desejos de autorrealização das pessoas. Trata-se de um sentido contrário ao de outras abordagens, que acabam tendo um foco direto em eliminar determinados padrões tidos como negativos para o indivíduo (como o behaviorismo). A corrente humanista pode ser resumida em cinco princípios: 1. Tratamento a partir de uma visão holística o paciente é tratado integralmente, considerando que cada aspeto da sua vida, incluindo desde o seu bem-estar físico até á sua espiritualidade, possui relação com seu caminho de autodescoberta e evolução. 2. Relevância do contexto interpessoal A corrente humanista não crê que as dificuldades humanas estão exclusivamente ligadas a traumas de infância. Nela, o tratamento parte de uma análise do contexto, do tempo e da realidade em que o paciente vive. 3. Crença na capacidade de autodesenvolvimento da pessoa Os humanistas entendem que todos os seres humanos possuem, em si mesmos, a capacidade de determinarem as suas próprias escolhas e encontrarem os mecanismos necessários para atingirem seu pleno potencial. https://www.sbcoaching.com.br/tudo-sobre-coaching/holistico/ 3 4. Compreensão do psicólogo como ferramenta A Teoria Humanista propõe que o psicólogo deve participar ativamente do processo de evolução do paciente, oferecendo empatia e ajudando a guiá-lo em seu próprio caminho de descobertas, de modo que possa descobrir a sua força para contornar adversidades. 5. Ciência da necessidade de autorrealização Para os pais da Psicologia Humanista, Rogers e Maslow, todas as pessoas têm uma tendência inata de autorrealização e, por isso, devem confiar que no seu interior estão todas as respostas para atingir esse estado de completude. Pressupostos/finalidades • Concentra-se no agora, orientando para o futuro • Introduz a reciprocidade da relação, a terapia é o encontro de pessoa com pessoa => parte da centralidade da pessoa, quem pede ajuda terapêutica é ela mesma • A pessoa está no centro e é responsável pelo seu processo terapêutico, é ativa – o terapeuta não resolve o problema, identifica apenas as tensões emocionais (faz de espelho), é o facilitador • O modelo humanista tenta recuperar a matriz filosófica do pensamento psiquiátrico (fenomenologia) • Não se foca apenas no comportamento, mas sim na experiência humana num contexto específico, os humanistas preocupam-se em compreender a pessoa • Afirma que o ser humano não é só dotado de comportamento, mas também de consciência • Todo o processo terapêutico é único: cada um de nós experiencia uma situação de maneira diferente tendo em conta os seus princípios, aprendizagem e contexto • Tem de se ter em conta a liberdade da pessoa (livre-arbítrio) e os seus valores • Contesta (é contra) ver a pessoa por partes e não como um todo • Não se deve generalizar a experiência de uma pessoa, temos de ter em consideração a unicidade dela • A vulnerabilidade é a ferramenta intrínseca do ser humano • O homem é naturalmente bom e altamente adaptativo (logica filosófica) • A terapia deve visar o desenvolvimento dos seus potenciais, não se focando apenas nos défices (potenciar as forças e não se focar nas dificuldades) 4 • As patologias são uma incapacidade que resulta de o homem não usar plenamente a sua liberdade para evoluir • Recusa do reducionismo dos processos psicológicos (psicologia behaviorista) • Sofrimento psíquico = incapacidade de desenvolver os seus potenciais • É uma perspetiva positiva/construtiva do ser humano: o homem tem a capacidade de evoluir, nasce para se adaptar • Objetivo do terapeuta: identificar mecanismos e facilitar a adaptação do individuo => cabe ao cliente traçar o seu processo ativamente • Recusa da abordagem psicopatológica que se centra nas doenças e nos problemas das pessoas • Introduz uma nova abordagem da psicologia da saúde: foca-se nas potencialidades do individuo e no diagnostico daquilo que corre bem • A terapia é centrada no cliente e não no problema • O individuo tem liberdade subjetiva de ser diferente dos outros • Ao contrário dos modelos psicodinâmicos que fazem uma intervenção no passado (procuram a causa dos problemas atuais no passado) o modelo humanista tem uma intervenção no futuro, pois considera que é importante o que se é agora, mas também o que se pode vir a ser O principal objetivo da terapia é dotar o ser humano de: Capacidade de decisão Responsabilidade para gerir o seu destino/futuro Liberdade de escolha e ação Princípios do modelohumanista: 1. Compromisso com a abordagem fenomenológica Tentativa de compreender as perspetivas subjetivas das pessoas, incluindo os seus sentimentos, perceções, valores e construções 2. Tem uma tendência atualizante para o crescimento e desenvolvimento: visão anti homeostática do ser humano 3. Os indivíduos são capazes de representar simbolicamente a sua experiência e de escolher entre diferentes possibilidades de ação (autodeterminação) a. Capacidade de autorreflexão b. Capacidade de escolher entre diferentes desejos, vontades, necessidades e valores O terapeuta é um facilitador que aceita o cliente tal e qual como ele é ou quer ser 5 4. Centralidade da pessoa a. Há preocupação e respeito por cada pessoa b. Defende o carater único e o valor de cada pessoa e respeita a sua experiência subjetiva c. Defende o desenvolvimento de relações igualitárias e autênticas conceitos da psicologia humanista 1. O livre-arbítrio A psicologia humanista começa com as suposições existenciais (da filosofia existencialista) de que as pessoas têm livre-arbítrio. 2. As pessoas nascem boas De acordo com essa linha, as pessoas nascem boas e têm uma necessidade inata de melhorar a si mesmas e ao mundo. A abordagem humanística enfatiza o valor pessoal do indivíduo, a centralidade dos valores humanos e a natureza criativa e ativa dos seres humanos. 3. As pessoas são motivadas a se autorrealizar A autorrealização diz respeito ao crescimento psicológico, realização e satisfação na vida. Tanto Rogers quanto Maslow consideravam o crescimento pessoal e a realização na vida um motivo humano básico. Isso significa que cada pessoa, de maneiras diferentes, procura crescer psicologicamente e continuamente aprimorar-se. No entanto, Rogers e Maslow descrevem diferentes maneiras de como a autorrealização pode ser alcançada. 4. As experiências do indivíduo são mais importantes Psicólogos humanistas argumentam que a realidade objetiva é menos importante do que a perceção subjetiva e a compreensão do mundo de uma pessoa. Às vezes, a abordagem humanista é chamada fenomenológica. Isso significa que a personalidade é estudada do ponto de vista da experiência subjetiva do indivíduo. Para Rogers, o foco da psicologia não é o comportamento (Skinner), o inconsciente (Freud), o pensamento (Wundt) ou o cérebro humano, mas como os indivíduos percebem e interpretam eventos. Rogers é, portanto, importante porque ele redirecionou a psicologia para o estudo do eu. 6 5. Pouco valor a experimentos estritamente empíricos Rogers e Maslow deram pouco valor à psicologia científica da época, especialmente ao uso do laboratório de psicologia para investigar o comportamento humano e animal. O humanismo rejeita essas experiências científicos estritamente baseadas em evidências e normalmente usa métodos de pesquisa qualitativa. Uma pesquisa qualitativa é aquela que procura compreender as razões, as opiniões e as motivações implícitas nos resultados do indivíduo estudado. Por exemplo, diários pessoais, questionários abertos, entrevistas não estruturadas e observações não estruturadas. A pesquisa qualitativa é útil para estudos em nível individual e para descobrir em profundidade as maneiras pelas quais as pessoas pensam ou sentem (por exemplo, estudos de caso). A maneira de realmente entender as outras pessoas é sentar e conversar com elas, compartilhar as suas experiências e estar aberto aos seus sentimentos. 6. Foco no aqui e no agora A terapia humanista abrange uma abordagem da gestalt terapia, explorando como uma pessoa se sente no aqui e agora, em vez de tentar identificar eventos passados que levaram a esses sentimentos. 7. Psicoterapia não é apenas para doentes Apesar desta escola desenvolver tratamentos para perturbações mentais como a depressão, a psicologia humanista ajudou a remover parte do estigma que associava a terapia apenas a perturbações. Ela tornou mais aceitável que indivíduos normais e saudáveis explorassem suas habilidades e potencial através da terapia. Psicologia Fenomenológica Edmund Husserl, no fim do século XIX e começo do século XX foi o fundador do movimento fenomenológico. Não concordava com a ciência positivista (baseada em factos, mensurações e verificações) e percebeu que a ciência não trazia por si mesma uma resposta que satisfizesse todas as necessidades de conhecimento do ser humano, ela ficava limitada ao que era permitido pelo seu método empírico, do imediatamente verificável e observável. A questão do significado da realidade ou do sentido do mundo ficava fora do método científico. Husserl queria transcender o relativismo. 7 A fenomenologia é a ciência que estuda os fenómenos, que se articula entre a consciência (sujeito) e o objeto (fenómeno) Considerava a experiência em si mesma, independentemente dos juízos de realidade ou de valor que somos levados a fazer – atitude natural Introduz a intencionalidade intencionalidade da ação humana, a nossa consciência é sempre de algo, nunca é vazia. É através dela que percebemos o mundo. Conceito de mundo vivido: é a experiência pré-reflexiva, é o mundo que nos é dado antes de elaborarmos conceitos sobre ele. É do mundo vivido que nascem os nossos pensamentos A psicologia positivista (empírica) estuda os conceitos de psicologia como a imaginação, perceção, linguagem através de um enfoque empírico por meio de mensurações separando o sujeito e objeto enquanto a psicologia fenomenológica considera esses objetos enquanto vivencias A expressão da psicologia fenomenológica é diferente da filosofia por visar um esclarecimento da vida humana A psicologia fenomenológica volta-se para a experiência, para o vivido (enquanto na filosofia ela está mais ligada a experiência comum) A psicologia fenomenológica humanista (segundo Husserl) • Psicologia fenomenológica exercida a partir do interior da psicologia enquanto um saber científico, mas agora concebido numa direção qualitativa (e não quantitativa, como o positivismo) • Existe uma preocupação de aproximação com o mundo científico • A pesquisa fenomenológica: o Deve começar com um encontro com o fenómeno numa situação concreta: corresponde à colheita de dados da pesquisa científica – pode ser feita sob a forma de entrevistas, observação ativa (onde participa), etc… o O investigador sai do gabinete/consultório, vai para o terreno onde se pode encontrar com o fenómeno e de alguma forma anota, grava, regista, para depois transformar em narrativas (transcrever para o papel, descrever tal e qual como ocorreu) – é ativo 8 o No terreno ele pergunta, dialoga, observa e facilita o acesso do entrevistado á própria experiência subjetiva que inclui memorias e significados A intencionalidade é a consciência de alguma coisa e que permite dirigir-se a um fenómeno, que tem por base dois momentos: 1. A intenção de nos voltarmos para alguma coisa, para observar e descrever para ver como essa coisa se manifesta 2. Torna-se necessária uma reflexão da consciência pura para dar sentido ao fenómeno => a consciência pura tem a capacidade de dar sentido e dar conta do fenómeno na sua totalidade, ou seja, dizer aquilo que é fundamental. Como se chega à consciência pura? Tem de haver uma redução ou suspensão do obvio – a epoché, suspender aquilo que já sei sobre o fenómeno e que, no entanto, não permite dar resposta á questão “o que é?”. Esta redução ocorre num 1º momento, e de fora para dentro. Segundo Husserl, “Epoché” significa a suspensão do juízo, do mundo, como que parado no tempo, embora com todas as suas características presentes e, por isso, passíveis de serem analisadas “de fora”, por um observador exterior. O “Epoché” de Husserl que suspende o mundo no tempo e no espaço, permite a quem medita conhecer-se a si próprioe tomar consciência da sua própria essência, e a autoconsciência adquirida desta forma é o “eu puro” de Husserl (ou o “eu transcendental”). No pressuposto humanista: • O ser humano não é visto como simples resultado das múltiplas influências, mas como o iniciador de coisas novas • A pessoa não é vista como efeito de causas anteriores modificáveis, mas como um ser desafiado pela vida e chamado a responder criativamente • O ser humano tem algum poder sobre as determinações que o afetam => o trabalho terapêutico consiste em oferecer um contexto de diálogo para que a libertação desse poder possa ser promovida • A autonomia é entendida como a capacidade que o ser humano tem de orientar a sua vida de forma positiva para si mesmo e para a coletividade (sociedade) • A consulta terapêutica não se baseia num diagnostico, mas em afirmar a tendência inata que a pessoa tem para o crescimento e a criatividade; a 9 consulta não é concebida como uma intervenção direcionada a efeitos específicos, mas sim a toda a globalidade da pessoa o Fenomenologia é o método filosófico fundado por Edmund Husserl, filósofo alemão (1859-1938). Um método para fundar a filosofia como ciência rigorosa, e, por consequência, as Ciências Humanas sobre uma base não positivista. o Fenomenologia poderia definir-se de uma maneira breve, como ciência dos fenómenos. No entanto, a fenomenologia articula-se entre a consciência (sujeito) e o objeto. o O conceito fundamental de Husserl é o conceito de intencionalidade. A fenomenologia estabelece, assim, uma relação entre a consciência e o mundo, enquanto a consciência é consciência de alguma coisa A esta referência a algo, chama Husserl intencionalidade: - O primeiro momento do método fenomenológico é a intenção de nos voltarmos para um determinado fenómeno e o descrevermos. Ex. árvore, casa, mesa etc. - No segundo momento- torna-se necessário a indagação sobre a “consciência pura” para tematizar (constituir) dar sentido; tematizar a totalidade da experiência subjetiva do mundo. O campo da consciência é a subjetividade, mas subjetividade capaz de dar significado (dizer o que é). Husserl chama a esta subjetividade, subjetividade transcendental. Para chegar lá, opera o que chama a redução fenomenológica pela “epoché” isto é: colocar entre parêntesis o óbvio (aquilo que vemos- que temos a pretensão de já conhecer). o Método fenomenológico- é um olhar genuíno sobre as coisas – (por entre parêntesis o óbvio); - constituir a consciência pura transcendental capaz de mostrar o sentido da globalidade (totalidade da experiência); o Capacidade de voltar ao mundo da vida; experiência originária; o Método qualitativo, científico, com outros critérios que não os das ciências exatas e técnicas. o Husserl apresenta a sua fenomenologia como um método de investigação que tem o propósito de apreender o fenômeno, isto é, a aparição das coisas à consciência, de uma maneira rigorosa. É uma matriz teórica de tipo filosófico que se coliga á filosofia fenomenológica. 10 A matriz fenomenológica propõe-se a um processo reflexivo sobre a subjetividade (sujeito) e sobre a maneira como o ser humano se autorrelaciona com as coisas, com o mundo exterior (seja ele físico – natureza, social, mas também e sobretudo o mundo exterior entendido como outros seres- intersujeitos). Pretende compreender o impacto que o que está fora do sujeito tem sobre a sua subjetividade, mas também o oposto => o impacto que a minha presença tem sobre o mundo (entendido em termos físicos e interhumanos- intersubjetividade) que me rodeia. Objetivo do modelo fenomenológico: introduzir a capacidade reflexiva, seja em termos de autorreflexão (compreender como eu sou afetado pela realidade) e também a capacidade reflexiva sobre a dimensão da intersubjetividade (a minha relação com o mundo exterior). A psicologia fenomenológica carateriza-se pela análise da subjetividade desvinculada dos métodos reducionistas (métodos biológicos que eram classificatórios e que partem de uma observação externa sem uma intervenção ativa do sujeito). Assim: (slides da professora) o A psicologia fenomenológica pretende ser uma reflexão sobre a subjetividade, a maneira como o ser humano se relaciona com as coisas o A psiquiatria fenomenológica o Entende o mal-estar psíquico numa continuidade entre normalidade e patologia, e centra o seu interesse sobre a pessoa o Tenciona apreender a globalidade e a especificidade da experiência humana nas suas dimensões subjetiva e intersubjetiva o A psicologia fenomenológica está caraterizada por uma análise da subjetividade desvinculada dos métodos reducionistas o A fenomenologia assume a distinção de Dilthey entre “ciências da natureza” e “ciências do espírito” e insere a psicologia entre estas últimas o Neste sentido, como observa Gadamer, “á psicologia cabe a explicação e a descrição das leis da vida espiritual, que devem servir de fundamento para as diferentes ciências humanas o Husserl o Intencionalidade: “o que existe não é o objeto, mas a intenção, a intenção do objeto, a nossa consciência é sempre consciência de algo” o Epoché: colocar entre parêntesis o que diz respeito à realidade, para constituir “uma temporária distanciação do mundo” para que seja colhido o seu significado originário (subjetividade transcendental) 11 o Merleau-Ponty o Ambiente e organismo: um processo único de estruturação o O corpo como núcleo fundamental da experiência e o veículo do nosso ser-no-mundo, o “corpo vivido” que “pertence ao mundo”, é “ser no mundo”, “abertura para o mundo” o O corpo vivido/experienciado permite uma abertura para o mundo, conhecemos o mundo através das sensações => o corpo é um participante ativo da nossa experiência no mundo (não é matéria inerte) o A dimensão existencial do ser humano é ser consciência e corpo, subjetividade incarnada Investigação fenomenológica O primordial objeto de estudo da investigação fenomenológica é o sentido da experiência vivida das pessoas que estão inevitavelmente ligados ao mundo que, por sua vez, se traduz numa rede social e cultural co-construida (construída juntamente com outrem). Ao contrário de outros modelos faz uso de um aspeto fundamental para poder estudar os fenómenos humanos: o contexto. Fenómeno: tudo o que se mostra, se manifesta, se releva ao sujeito que o interroga. A fenomenologia não pretende seguir uma epistemologia empírica, na qual o modelo de causalidade é considerado como único adequado, para alcançar um conhecimento cientificamente válido. A fenomenologia tem como referencial fundamental a noção de que a consciência é intencional, a consciência é sempre consciência de algo e que o objeto visado transcende sempre o ato de consciência intencional pelo qual é visado. Trata-se de uma visão distinta da perspetiva naturalista da psicologia. Por estas razões, a fenomenologia apresenta-se como uma alternativa qualitativa de investigação, não se centrando na quantificação dos resultados. O investigador é tido como sendo um observador participante/ativo, que procura compreender e explicitar o sentido da experiência dos fenómenos humanos, usando para isso metodologias essencialmente descritivas e hermenêuticas. O investigador fenomenológico não é um técnico distante e independente que analisa e sintetiza repetições determinadas e idênticas. É ainda pacífico considerar-se que, não há uma única forma correta de realizar investigação fenomenológica. 12 Enquanto modalidade de pesquisa qualitativa, a fenomenologia pretende compreender o fenómeno interrogado, não se preocupa com explicações e generalizações. O investigador não parte de um problema específico, mas conduz a sua pesquisa a partir de uma interrogação acerca de um fenómeno, o qual precisa ser situado, ou seja, ser vivenciado pelo sujeito.=> No sentido de desvendar o fenómeno interrogado, o investigador não parte de teorias ou explicações a priori, mas do mundo ou da vida dos sujeitos que vivenciam o fenómeno em questão. Por outras palavras, procura estabelecer um contacto direto com o fenómeno situado. o investigador não parte de um referencial teórico estabelecido previamente. É através das suas experiências que se torna possível ao investigador interrogar o mundo em seu redor, pois, por definição, não pode fazer tábua rasa das suas experiências, despojando-se delas. O que se procura na pesquisa fenomenológica são os significados que os sujeitos atribuem à sua experiência vivida, significados esses que se revelam a partir das descrições desses sujeitos. A descrição tem o significado de descrever, isto é, de algo que é escrito para fora. A descrição de alguma coisa implica diferenciá-la de outra, mencionando os seus atributos => considerando que nem sempre é possível obter as descrições dos sujeitos acerca do fenómeno em estudo, pode-se recorrer à entrevista: Entrevista fenomenológica O momento de entrevista não pode ser visualizado como um procedimento mecânico, mas como um encontro social, uma relação entrevistador-entrevistado caraterizada pela empatia, intuição e imaginação. Esse modo de se conduzir a pesquisa traz em si a questão da subjetividade Este tipo de entrevista separa-se do modelo médico, logo é um modelo de entrevista que se opõe ao conceito de entrevista clínica tradicional. • O pressuposto determinista afirma que o ser humano é pensado como algum tipo de mecanismo e não como um interlocutor, o diagnostico vai na direção de procurar as falhas da causa sendo que toda a responsabilidade está no terapeuta, o cliente é passivo A entrevista fenomenológica não é estruturada, não tem um guião orientador (tem uma série de perguntas introdutórias) => há a ficha de 1º contacto para obter certos dados básicos como o nome, idade, profissão, etc… e que pode ser preenchida por 13 outro que não o psicólogo. Assim, já no contexto de atendimento não há a necessidade de perguntar sobre os dados básicos. O pressuposto humanista é valorizar e libertar, tornar afetiva a autonomia da pessoa que está numa situação de sofrimento O ser humano é visto como o iniciador de experiências novas, como um ser desafiado pela vida e chamado a responder criativamente. O psicólogo humanista supõe que o ser humano tem algum poder sobre a experiência que está a viver, não é uma vítima impotente perante o seu problema, portanto o objetivo é oferecer um contexto de diálogo no qual possa acontecer a libertação deste potencial => atua-se sobre a parte sã e resgata-se possíveis potenciais, e não sobre a parte danificada ou sobre a patologia. O psicólogo devolve a responsabilidade ao utente, não dá conselhos. Objetivo da entrevista: é orientada para que a pessoa tenha uma consciência vista de outro ponto de vista da sua condição/pedido de ajuda, ou seja, não cabe apenas ao terapeuta compreender. O entrevistador encoraja o entrevistado a refletir sobre a sua experiência e detalhá-la o máximo possível. Para tal, no decorrer do relato, destaca-se a atenção ao conteúdo relatado por parte do entrevistador, direcionando a entrevista ao conteúdo procurado e para elucidar possíveis pontos obscuros durante a narrativa. Quer-se o relato detalhado por parte do entrevistado de forma espontânea, possibilitando o acesso primeiro às experiências e perceções do sujeito. Sendo assim, há não somente a liberdade da manifestação deste tipo de conteúdo subjetivo na entrevista, mas a própria intenção de que assim seja para que se garanta o acesso fenomenológico pretendido. As perguntas que surgem durante a entrevista demonstram o interesse e a curiosidade pelo conteúdo narrado, não sendo possível estipulá-las prévia e restritamente. Exemplo de perguntas de entrevista fenomenológica: • as perguntas que podem ser adequadas e podem favorecer tal intento se iniciam pela construção o que é e como é – construções com pronomes assumidas na forma interrogativa –, sempre remetendo à vivência da pessoa (p. ex., “como você vivenciou/vivencia...?”; “como foi/é para você...?”; “o que é essa experiência para você?”). • Além das perguntas estipuladas previamente, as quais constituem o roteiro de entrevista, essas perguntas dirigidas não são pré-determinadas: partem daquilo que aparece durante o relato; a função destas perguntas nesse processo aberto de colheita – próprio da pesquisa qualitativa – é de ir evidenciando o fenômeno 14 e este se evidencia justamente porque a pergunta o solicita. Então, a pergunta se articula ao fenômeno • O relato do sujeito pode se configurar, muitas vezes, em torno do fenômeno, sem aprofundá-lo ou adentrá-lo efetivamente na narrativa; o entrevistador, na sua postura atenta, procura dirigir e solicitar ao sujeito, por meio da pergunta, que aprofunde sua narrativa. A gravação e a posterior transcrição na íntegra da entrevista têm como objetivo fundamental a leitura dos relatos no momento da análise, permitindo ao investigador, num primeiro momento, a leitura atenta sobre o conteúdo e, posteriormente, já durante a análise, tentar apreender e descrever como se manifesta o objeto investigado. Quais são as caraterísticas de uma entrevista fenomenológica? → Qualitativa, não estruturada com perguntas abertas → O terapeuta faz perguntas relacionadas com os objetivos da pessoa, o seu bem- estar, sobre o significado que atribui á sua vida (questões sensoriais) → Há uma epoché- distanciamento da realidade por parte do terapeuta, para poder compreender o utente sem juízos de valor → Há uma aliança terapêutica, reciprocidade, relação íntima e única → O papel do terapeuta é colocar a pessoa como centralidade → Terapeuta como mediador – o utente é ativo no seu processo terapêutico, o terapeuta faz de espelho é o facilitador ao identificar as tensões emocionais → Há uma visão holística da pessoa – o objetivo é perceber a sua experiência e contexto de vida centrada no presente com orientação para o futuro → O paciente mais que algo é alguém, não é a sua doença/perturbação mental → O papel da relação é valorizado → O terapeuta tenta compreender a intencionalidade por detrás da experiência/vivência e comportamento do utente Nota: as entrevistas são gravadas em áudio, transcritas e estudadas numa forma sistémica e sistemática, através de 3 passos: descrição fenomenológica, redução fenomenológica e interpretação fenomenológica. 15 As funções do investigador no método fenomenológico: → O investigador, através da interação verbal, cria a oportunidade de os participantes partilharem a experiência vivida → O investigador transforma o que é visto e ouvido numa compreensão da experiência original, ou seja, a partir dos dados recolhidos, ele tem a possibilidade de desenvolver a sua própria transformação → O investigador transforma o que é compreendido do fenómeno em categorias concetuais que são as essências da experiência original → O investigador transforma essas essências em documentos escritos que refletem as ações e descrições dos participantes → O investigador transforma o documento escrito numa compreensão que pode funcionar para clarificar o fenómeno Abordagem centrada na pessoa – Carl Rogers (1902-1987) Rejeitou as teorias do behaviorismo (que defendia que o comportamento é resultado do condicionamento) e da psicanalise (que se dedicava ao inconsciente e fatores biológicos). Pelo contrário, teorizou que uma pessoa se comporta de determinada maneira devido á forma como apreende a situação, sendo que só cada um de nos pode saber como perceciona as coisas => inicialmente desenvolveu uma proposta de “aconselhamento não diretivo”, que foi posteriormente modificada para “terapia centrada no cliente” e maistardiamente para “abordagem centrada na pessoa”. Define a abordagem centrada na pessoa não como uma teoria ou filosofia, mas como uma “maneira de ser”, que é aplicável não somente na clínica, mas em qualquer espaço em que ocorram as relações humanas. Conceitos fundamentais da teoria: • Não diretividade • Tendência atualizante • Centralidade da pessoa • Olhar incondicionalmente positivo • Compreensão empática • Congruência condições necessárias para a mudança terapêutica 16 → O individuo tem a capacidade de ser organizar, de reorganizar a sua conceção do self → Ao terapeuta cabe apenas criar condições para que o individuo possa reorganizar-se e reencontrar a sua própria direção → Implica não aconselhar, não dar instruções e não interpretar (ações diretivas que acontecem na psicoterapia tradicional) → Não implica a ausência de atividade, até por isso é humanamente impossível, mas sim a ausência de atividade intervencionista → A relação tem que ser controlada e com certa neutralidade do terapeuta (ao expressar-se de forma mais direta, como acontece tradicionalmente, o terapeuta poderia exercer algum tipo de pressão/coerção e colocar o ambiente terapêutico em risco impedindo o cliente de se expressar de forma livre) Apesar da neutralidade, o terapeuta deve reconhecer o seu envolvimento emocional como parte da relação mesmo que não o expresse abertamente (diferenciando-se assim da neutralidade como isenção) Na psicoterapia centrada na pessoa, que Rogers descreveu como “terapia não- diretiva”, o terapeuta assume o papel de um facilitador que ajuda o cliente a encontrar as próprias respostas, partindo da ideia de que é o cliente que melhor se conhece a si mesmo. O cliente identifica os seus problemas e determina a direção que deve tomar a terapia. o Por exemplo, o cliente pode preferir não se centrar na sua infância, mas em assuntos que está a enfrentar no trabalho, e o terapeuta pode ajudá-lo a descobrir que tipo de papel gostaria realmente de assumir Rogers descreve este processo como “de apoio e não de construção”, contudo, o cliente não deve procurar o terapeuta na procura de apoio, deve aprender a confiar o suficiente em si mesmo para ser independente. Resumindo, a não diretividade: A pessoa tem na sua natureza recursos que lhe permitem aceder a uma autocompreensão, cujo impacto se traduz numa maior perceção de si própria e numa gestão de atitudes que expressem comportamentos mais ajustados às suas necessidades e expectativas. Porém, quem pede ajuda e inicia um processo psicoterapêutico encontra-se num estado de vulnerabilidade (isto é, perda de 17 homeostasia psicológica) que dificulta ou impede de pôr em ação os seus recursos internos. O terapeuta tem então como função criar as condições relacionais que ajudem a pessoa, que assume a sua vulnerabilidade, a atualizar ou desbloquear o acesso aos diferentes caminhos (direções) do seu processo de auto-organização. Acredita que existe uma predisposição natural dos seres vivos para evoluírem no sentido da complexificação => ou seja, a ideia de que todos os seres vivos são dotados de uma tendência inerente ao crescimento e à atualização. • O individuo é alguém com potencialidade intrínseca (inata) para se desenvolver de forma satisfatória e construtiva Definição (segundo Rogers) – “todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas potencialidades e para desenvolvê-las de maneira a favorecer a sua conservação e enriquecimento” → Considerava a tendência atualizante uma capacidade do individuo se reorganizar e se reestruturar, uma vez que certas condições facilitadoras deste processo sejam atendidas => a tendência atualizante é inerente ao individuo, sendo uma disposição para que sejam desenvolvidas as suas potencialidades, porém condicionadas às limitações do meio (tem de haver um equilíbrio entre as necessidades do organismo e as necessidades psicológicas para a tendência atualizante ocorrer) → Há no homem uma tendência natural para o desenvolvimento completo → O ser humano tende sempre a evoluir, e não tende para a autodestruição, evolui constantemente, ou seja, tende para o crescimento de forma intrínseca → Dadas certas condições, as pessoas fazem escolhas positivas e construtivas, ou seja, escolhem vias que contribuem para o seu desenvolvimento enquanto pessoa. A motivação para tais opções/escolhas tem origem na tendência atualizante: todas as motivações, necessidades ou impulsos são uma expressão da tendência do organismo para a atualização 18 O principal foco da terapia é reverter o estado de incongruência (distorções de significado acerca de certos valores – ex: associar o sentimento de perda aos pais) e estabelecer certos valores que afastaram o self da realidade. O objetivo da relação terapêutica é assim estabelecer o acordo perdido entre a experiência total da pessoa e a experiência consciente do self levando o cliente a um amadurecimento e um desenvolvimento normal. A atuação do terapeuta deve consistir em três atitudes (que constituem as condições necessárias à criação de uma relação potenciadora de mudança construtiva): a compreensão empática, o olhar positivo incondicional, a congruência O olhar positivo incondicional do terapeuta face ao cliente é a condição básica para a mudança na terapia centrada na pessoa. A perceção desta atitude resulta no enfraquecimento ou dissolução das condições de valor e aumenta o olhar próprio incondicional: as experiências antes ameaçadoras podem então ser abertamente percecionadas, exploradas e integradas no conceito de si (o olhar positivo do terapeuta leva a um olhar positivo do cliente sobre si mesmo) → O olhar positivo incondicional é uma genuína aceitação do outro que se mantém constante independentemente daquilo que o cliente revela sobre si, um respeito pela forma como este conduz o processo terapêutico (temas abordados, ritmo do processo, decisões, etc.), o reconhecimento do seu direito à diferença e à autonomia. A compreensão empática designa "um processo dinâmico que consiste na capacidade de penetrar no universo do outro, sendo sensível à mobilidade e significação das suas vivências. Permite tomar consciência de sentimentos que ainda não lhe são claros, mas respeitando o ritmo das suas descobertas próprias (não as relevando precocemente) e mantendo uma abertura a tudo o que de novo possa surgir” → A procura ativa de uma compreensão cada vez mais precisa e completa do cliente por parte do terapeuta propicia, por sua vez, que cada vez mais experiências possam aceder à consciência do cliente, possibilitando a revisão e o alargamento do autoconceito 19 Refere-se à consistência interna, ao estado de integração psicológica do terapeuta no espaço da relação. Pode ser entendida como a preparação do terapeuta para poder experimentar as atitudes de compreensão empática e olhar positivo incondicional. Se o terapeuta, ele próprio, estiver incongruente, preso à rigidez das suas próprias defesas, como conseguirá promover a fluidez do cliente ou estar aberto à sua diversidade e complexidade? Se tiver medo da dor, como será ele capaz de ouvir e de ajudar o cliente a enfrentar a sua própria dor? Se, na relação terapêutica, o terapeuta for confrontado com experiências que lhe ameaçadoras, como vai manter o seu poder de escuta e de compreensão, ou mesmo a sua capacidade em discernir os seus sentimentos dos do cliente? → O terapeuta tem de mostrar congruência nas suas atitudes e ser também ele próprio congruente, não estar preso nas suas defesas, para poder tratar do outro → Congruente= adequado, apropriado, conveniente Resumindo: A terapia centrada na pessoa assenta numa visão do Homem como um ser essencialmente livre e com o poder de reagir ativamente às situações que o constrangem nasua autodeterminação, que tentam abafar a sua individualidade prendendo-o a esquemas rígidos de comportamento e de pensamento, em suma, que restringem a sua evolução e crescimento pessoais. Tem ainda como hipótese nuclear que a tendência para o crescimento é natural e universal impulsionando o indivíduo no sentido de procurar realizar as suas potencialidades numa existência caracterizada pela autenticidade. A terapia centrada na pessoa propõe-se assim como um meio de criar as condições interpessoais favoráveis à dissolução dos obstáculos que impedem a livre expressão deste potencial construtivo e que conduzem ao desequilíbrio psicológico e ao desajustamento social. Pela sua natureza fenomenológico existencial, elege o ponto de vista fenomenal do cliente como único critério e modo de conhecimento, dando especial ênfase à experiência imediata e pré-reflexiva. A relação terapêutica que se estabelece com base em tal conjunto de premissas implica uma importante redefinição do papel do terapeuta. Mais do que pelas técnicas ou instrumentos que utiliza, o terapeuta define-se pelas atitudes que transporta para a relação e que constituem o verdadeiro 20 fator impulsionador da mudança. Tendo em conta os princípios que justificam e dão sentido a tais atitudes, elas não são concebíveis na ausência de uma participação pessoalizada do terapeuta na relação. O genuíno interesse e valorização da pessoa e da experiência do cliente, a confiança na sua capacidade em superar as incongruências, o respeito pelo seu direito de ser livre em qualquer escolha que faça, não são suscetíveis de serem reduzidas a fórmulas prontas a aplicar de forma mecânica e impessoal. A autenticidade do terapeuta é fundamental numa relação que é, deste modo, sobretudo humana. Comunicação terapêutica Objetivo da terapia: aliar-se com as partes sãs e a intenção de escolher a vida que orienta todo o ser vivo. Como? Através de uma maneira de estar, uma posição não diretiva no processo terapêutico, para ativar a capacidade de autonomia e decisão do paciente e para sustentar o autoconhecimento (a não diretividade) → O terapeuta tem de despertar para a motivação para viver quando a pessoa não a consegue ter => reativar a motivação (é o objetivo do terapeuta) → O objetivo da psicoterapia é auxiliar o desenvolvimento do individuo, visando à sua independência, e não resolver os seus problemas => assim o cliente será capaz de lidar melhor com as futuras experiências a abordagem centrada na pessoa é uma abordagem clínica que propícia a autonomia dos clientes → A comunicação deixa de ser unilateral (com o foco da comunicação do cliente) para uma comunicação centrada na relação A psicoterapia é uma experiência de crescimento e desenvolvimento para o cliente, pois nela o individuo aprende a compreender-se a si mesmo, a optar de uma forma independente e significativa e a estabelecer com êxito relações pessoais de uma forma adulta. → A postura do terapeuta deve ser criar uma relação caraterizada pelo calor, interesse, capacidade de resposta e uma dedicação afetiva num grau limitado com clareza e precisão => a postura do terapeuta é técnica, mantendo um certo distanciamento da relação direta com o cliente → Deve-se dar ao cliente a liberdade de se expressar livremente → O terapeuta é um facilitador da expressão do cliente → O terapeuta tem um papel mais ativo com a sua ação voltada para o cliente => o terapeuta passa a ter um papel mais ativo e afirma-se uma participação intensa dele na terapia, ainda que não exposta 21 → A comunicação terapêutica é bidirecional na medida em que abre espaço para a expressão do terapeuta (o terapeuta mantém um distanciamento da relação e das suas experiências pessoais de modo a ser um aplicador de técnicas consideradas eficazes para o processo do cliente) → O terapeuta passa a expressar-se mais livremente, expondo os seus sentimentos e sensações pertinentes na relação. Ele expressa o que é comunicado (implícita ou explicitamente) a partir da escuta empática (estar aberto ao significado presente das entrelinhas do que foi dito) de si e do cliente. Através de 4 aspetos fundamentais, procurou diferenciar a relação terapêutica dos outros tipos de relações pessoais: - Presença significativa e calorosa do terapeuta => o que faria evoluir o nível afetivo da relação, mas limitada, porque se trata de uma relação controlada com limites definidos - Permissividade para a expressão do cliente => passa a reconhecer que todos os sentimentos e atitudes se podem exprimir - Estabelecimento dos limites da relação terapeuta-cliente => como horário e duração definidos da sessão - Ausência de formas de pressão ou coerção => o terapeuta abstém-se de introduzir nas situações terapêuticas os seus próprios desejos, reações e inclinações Logoterapia (ou terapia existencial) – Viktor Frankl Viktor Emil Frankl nasceu em Viena no dia 26 de março de 1905. Sobreviveu à experiência de quatro campos de concentração, incluindo Auschwitz. Logos é uma palavra grega que denota “sentido”, a logoterapia centra-se no significado da existência humana, bem como na procura desse sentido por parte dos seres humanos. De acordo com a logoterapia, este esforço para encontrar um significado na nossa vida é a principal força motivadora do Homem. A logoterapia, em comparação com a psicanalise, é um método menos retrospetivo e menos introspetivo. A logoterapia centra-se antes no futuro, ou seja, nos significados a serem preenchidos pelo paciente no seu futuro (é uma psicoterapia centrada no sentido). 22 Na logoterapia o paciente é confrontado com o sentido da vida e reorientado para ele. E torná-lo consciente deste sentido pode contribuir muito para a sua capacidade de superar a neurose. A busca/procura pelo sentido é uma atividade natural do ser humano – apenas ele é capaz de se interrogar pela sua existência (o animal irracional não o pode fazer). O homem é o ser que procura sentido por participar da história, e nela construir vida e dar-lhe sentido. → Na tentativa de conceder ao homem a sua dimensão de liberdade, de missão e de transcendência Frankl criou uma logoterapia capaz de levar o homem a interrogar-se pela sua própria pessoa e descobrir o sentido último de cada ação e de toda a sua existência. => por isso ele pode ser conhecido como o “médico da doença do século XX”, a saber: o vazio existencial A logoterapia tem assim como função a cura da alma na tentativa de restituir ao homem a sua condição de sanidade (perdida pelas neuroses introjetadas na sua história de vida). Nota: A sua perspetiva não se concentra apenas sobre os processos neuróticos (como a maior parte da perspetiva psicanalista) mas em situações mais graves como as psicoses, depressões graves e tentativas de suicídio. → A doença mental grave é o fruto de um vazio existencial que ele atribui às condições culturais e sociais nas quais o ser humano do seculo XX vive e atua – o século XX foi o seculo da ação, das duas grandes guerras e destruições a nível planetário experiências de destruição absoluta, de morte (1 metade do seculo) Assinala o “vazio existencial” como a neurose do século XX. Esta neurose está fundamentada no niilismo de cada individuo (que se carateriza pela ausência do sentido de vida: perda das referências e da singularidade da existência do homem). A neurose é um quadro clínico atípico definido por sentimentos e emoções negativas. O agravamento dos sentimentos e emoções negativas que constantemente atingem os neuróticos pode causar transtornos mentais, como depressão, ansiedade e fobias. O vazio existencial nada mais é que uma situação de perda de sentido na vida. O individuo age sem ter presente os seus objetivos e sem mesmo saber o porquê de estar a agir: há uma insatisfação remota, um sentimento de tristeza, uma23 esterilidade existencial e criativa junto com uma perda dos objetivos e metas da existência. Um estado de neurose pode ser identificado pelo tédio, que pode levar o ser humano a desvalorizar a própria vida e o sentido que lhe é atribuído. O estado de agravamento do tédio permite chamá-la de neurose de massa, formada por uma tríade: depressão, agressão e toxicodependência: “Em virtude da autotrancendência da existência humana o homem é um ser em busca de sentido. Ele é dominado pela vontade de sentido. Hoje, contudo, a vontade de sentido está frustrada. Cada vez mais os pacientes voltam a nós psiquiatras queixando-se de sentimentos de falta de sentido e de vazio, de uma sensação de futilidade e de absurdo. São vítimas da neurose de massa hoje” (FRANKL, 1989, p. 82). Para o autor, hoje em dia um número cada vez maior de indivíduos dispõe de recursos para viver, mas não de um sentido pelo qual viver. A falta de sentido acaba por ocasionar a neurose. Uma terapia apenas se poderá desenvolver se for considerada a dimensão noética (espiritual) do individuo, pois, a sua condição humana está para alem da sua dimensão psíquica como também da biológica. → Para Frankl, o ser humano é entendido como uma unidade tridimensional constituída por uma dimensão biológica (ou somática, relativa aos fenómenos corporais e da materialidade), psicológica (ou anímica, contemplando instintos, condicionamentos e cognições) e noética (ou espiritual) sendo esta última o princípio distintivo da espécie, elemento primordial da constituição humana, fonte da liberdade e da responsabilidade. Diante de uma situação de vazio e perda de sentido, a logoterapia surge com a função de ajudar o indivíduo a encontrar sua cura. Ele mesmo é portador de sanidade para a sua vida e somente ele pode desvendar os mistérios que invadem sua pessoa. O terapeuta será um facilitador, amigo confidente que desenvolve a atitude de escuta e oferece meios para que o neurótico tome consciência da sua angústia e encontre a cura. O terapeuta tem a responsabilidade de purificar as aflições que atinge o paciente e conduzi-lo à harmonia do seu espírito. No entanto, o ofício do terapeuta não se presta na transmissão de conteúdos, de forma a convencer o paciente da sua enfermidade e indicá-lo medidas necessárias para sua cura. Ele não pode receitar o sentido da vida, invadir a interioridade do seu paciente para a aquisição de valores e mudanças de atitudes, assim como não pode 24 predizer as incertezas e as aflições que o angustiam. Portanto “o terapeuta não pode dar sentido à vida do paciente. Em última análise, sentido nem pode ser dado, mas precisa ser encontrado” (FRANKL, 2007, p. 82). O sentido, segundo Frankl, deve ser encontrado e não dado à pessoa. Contudo, cabe ao terapeuta interpretar as respostas do paciente, para que também o sentido não seja resultado de análises reduzidas. Isto significa dizer: o terapeuta tem papel fundamental na autodescoberta do seu paciente. Ele deve indicar os meios e não produzir uma nova pessoa. Deve considerar a capacidade do indivíduo de ser portador da sua cura, e não objeto de reflexão. Frankl critica o termo de autorrealização, o qual tenderia a enfatizar a possibilidade da pessoa se realizar em si mesma. Para a logoterapia, esta realização só ocorre após o sentido da vida ser concretizado, o que é possível quando o individuo sai de si, ao encontro de alguém ou de algo que está no mundo. → Por isso, o autor prefere falar de autotranscendência, como pré-requisito para a realização Outra diferença relacionada com o sentido da vida: Alguns autores existencialistas afirmam que a vida necessita de sentido, sendo em si mesma um absurdo que para ser suportado precisa que se invente um sentido para a vida. Já Frankl afirma que a vida tem sempre sentido, o qual está no mundo, sendo simplesmente necessário que este sentido seja descoberto pela pessoa. Enquanto a psicanalise vê o neurótico só de um lado, como dominado pelo principio do prazer, ou seja, a vontade orientada ao prazer, e a psicologia individual como determinado ansia do prestigio, ou seja a vontade de poder, a nova psicoterapia (logo terapia) vê também a vontade orientada ao sentido. • Entra numa comparação/critica constante à psicanalise e as suas vertentes (psicologia analítica e junguiana, etc) considerando que estas perspetivas terapêuticas são limitadas porque atribuem a responsabilidade da própria decisão para a vida ao individuo. Frankl considera que a resposta deve vir através da análise da existência sobre uma profunda reflexão sobre a liberdade e responsabilidade de cada ser humano mesmo nas condições mais adversas – refere que todas as condições de adversidade podem ser um potencial de crescimento. 25 Em 1950, Frankl assinalava a necessidade de agregar à visão do homem uma dimensão mais alem das dimensões física e psíquica, lembrando que apesar do homem ser uma unidade físico-psíquica, esta unidade não constitui o homem total, o espiritual é que institui, funda e garante a totalidade do homem. → Espiritual não significa religioso, é a dimensão noética. → O logoterapeuta não se esquece da condição psíquica e física do homem, a sua estrutura pulsional, a importância da infância, do ambiente e do que aprendeu no passado. Porém completa este esquema antigo ao afirmar no homem uma dimensão espiritual A logoterapia situa-se numa oposição à psicoterapia no que diz respeito à sua doutrina, tal como esta tem sido praticada até hoje (anos 90). Não pretende ser um substituto da psicoterapia, pois é impossível colocar a logoterapia no lugar da psicoterapia, é necessário apenas complementar a psicoterapia com a logoterapia. Não é a logoterapia uma psicoterapia? • É necessário fazer uma diferenciação quanto ao tipo de neurose que apresenta o paciente, segundo Frankl “o que necessita o paciente colhido no desespero existencial do aparente sem sentido da sua vida é logoterapia em vez de psicoterapia” => nos pacientes com neurose noogênica (proposta original de Frankl, dimensão espiritual) na qual a pessoa convive muito tempo com uma sensação de vazio existencial, ou com conflitos de valores, ou com a descrença no sentido da vida, ou com a impossibilidade da sua realização, a logoterapia é diferente de psicoterapia • A finalidade da logoterapia é incluir o logos na psicoterapia, a finalidade do que denominamos analise existencial é incluir a existência na psicoterapia • O logos introduz na psicoterapia uma reflexão sobre o sentido e os valores enquanto a existência traria a este campo de atuação do psicoterapeuta uma reflexão sobre a liberdade e a responsabilidade Logoterapia como psicoterapia • O terapeuta deve ser criativo e capaz de improvisar, alem de se ajustar às diversas situações e casos que estão a ser tratados • A logoterapia é uma psicoterapia de tal ordem propiciadora de um processo de individuação que não é passível de ser ensinada, pelo menos de forma total 26 • “na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente, mas precisa de ouvir certas coisas que as vezes são muito desagradáveis de se ouvir” • O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e alargar o campo visual do paciente de forma que todo o espetro do significado e dos valores se torne consciente e visível para ele • O método psicoterapêutico deve ser modificado de acordo com a individualidade do paciente e a personalidade do terapeuta, tendo em conta a situação especifica que se está a trabalhar no momento => nunca se deve esquematizar o essencial é improvisar e individualizar (recomendação de Frankl) • Nenhum método de psicoterapia (inclusive este) pode pretender ser aplicado a qualquer paciente, obtendo sempre o mesmo grau de sucesso. • A relação EU-TU (Bubber) pode ser vista como o centro da questão • Técnica mais conhecidada logoterapia: técnica da intenção paradoxal • Para ele o que importa na terapia não são as técnicas, mas sim as relações humanas entre o terapeuta e o paciente, e também o encontro pessoal • A logoterapia procura tornar o paciente completamente consciente da sua própria responsabilidade e para isso precisa que ele opte pelo que, para que ou perante quem ele se julga responsável. Psicanalise vs. Logoterapia Já que para a psicanálise os problemas do indivíduo estão muito conectados aos embates entre suas instâncias psíquicas internas e a elementos anteriormente reprimidos por este indivíduo, nada mais lógico que ela ser bastante introspetiva e retrospetiva, ou seja, centrar-se no interior do próprio indivíduo e nos elementos reprimidos no passado, que devem ser re-elaborados, ao serem retornados à consciência. Já a logoterapia, por centrar-se na questão do sentido a ser realizado, o qual está no futuro, tenderia a ser mais prospetiva do que retrospetiva, ou seja, mais focada na dimensão futura. Além disso, ao afirmar que os sentidos a realizar estão no mundo e no encontro com os outros, e não em si mesmo, ressalta que o indivíduo deve ir além de si mesmo para realizar os sentidos - a característica humana de autotranscendência - a logoterapia teria que ser menos introspetiva. Ao buscar conscientizar o indivíduo do valor central que tem o sentido e os valores na sua vida, está-se a orientar o paciente mais para o seu futuro do que para o seu passado. Também, ao combater círculos viciosos derivados de excessiva introspeção – ou em termos logoterapêuticos, de hiperreflexão e hiperatenção – que teriam um papel 27 determinante na gênese de muitas perturbações neuróticos, teria que ser menos introspetiva, menos voltada para um auto-centramento. Logoterapia como técnica A logoterapia utiliza técnicas terapêuticas para tratar do paciente no seu estado de desarmonia. As técnicas logoterapêuticas não consistem num sistema de teorias a serem aplicados, já estabelecidos, no paciente, mas uma via de orientações para ajudar o paciente encontrar a sanidade, a sua verdadeira libertação de espírito. Entre as principais técnicas da logoterapia sublinha-se a “intenção paradoxal”. • A “intenção paradoxal” é uma abordagem que pretende, a partir do problema identificado, propor o seu contrário. O paciente deve adquirir uma maneira diferente de atuação diante da sua problemática. O seu temor se transformará em desejo paradoxal (numa constante ansiedade) e assim superará a angústia que o aflige. Isto quer dizer: “o paciente é instruído a desejar (neurose de angústia) ou a propor-se (neurose compulsiva) exatamente aquilo que sempre tanto temia” (FRANKL, 1976, p. 19). • Para a execução deste método é necessário que o paciente desenvolva a capacidade de auto-distanciamento, que consiste em colocar-se do outro lado da sua pessoa para perceber o diferente. Esta atitude o proporcionará a visibilidade da sua neurose e a olhar para si mesmo como se fosse outro, mas que é ele mesmo percebendo sua real situação existencial. • Explica Frankl que a técnica da “intenção paradoxal” não é um remédio de natureza patológica. É, antes, uma prática terapêutica de alcance imediato, “um instrumento útil no tratamento de condições obsessivo-compulsivas e fóbicas, especialmente em casos com ansiedade antecipatória subjacente” (FRANKL, 2008, p. 150). Esse tratamento pode se perpetuar por um longo período, e não somente às situações breves. • E, diferente do método tradicional da psiquiatria (a psiquiatria fez da mente um objeto de estudo e por muito tempo reduziu a sua compreensão a uma mera funcionalidade, a uma técnica de procedimentos instrumental), a “intenção paradoxal” age independentemente da etiologia. Ela não abrange a sua pesquisa às causas originárias da neurose do paciente. Ela procura abordar a doença no seu real estado. • A terapia não descreve normas morais, nem procura discorrer a sua técnica num raciocínio lógico para compreender o indivíduo ou, ainda mais, incentivar o paciente a seguir suas crenças particulares. Ao contrário, a logoterapia 28 procura agir como um oftalmologista a fim de proporcionar ao paciente uma visão real do mundo, assim como ele é (RODRIGUES, 1991, p. 60). • Frankl é um psiquiatra de origem austríaca – foi internado em campos de concentração e fez uma experiência existencial muito particular como prisioneiro enquanto hebreu (a experiência humana de ser despido da dignidade pessoal, do nome) por causa da origem étnica- esta experiência existencial humana abriu-lhe a possibilidade de ver novas perspetivas perante as frustrações extremas de vida • A Capacidade introspetiva e reflexiva permitiu lhe como individuo de sobreviver a esta experiência e para pôr as bases do método de intervenção (livro “em busca de um sentido”) • Logoterapia: fundamento na palavra logos (significa palavra) e se fundamenta sobre a reflexão verbalizada da própria experiência. • A sua perspetiva concentra se sobre possibilidade do ser humano de autotrancendência (termo que ele usa em contraposição ao conceito de autorrealização proposto pela maioria dos humanistas- considera que o ser humano não se autorrealiza… precisa de ir mais alem – o ser humano precisa de atravessar o sofrimento e não de saltar por cima => autotranscender-se - termo com ligação à importância que dá a espiritualidade dentro do processo de reorganização • Diz que perante condições de dor/perda de sentido extrema o ser humano pode viver para encontrar um sentido para a vida • A finalidade da logoterapia esta na atitude- o terapeuta ajuda o individuo a reassumir a capacidade de escolha livre perante a vida. O logoterapeuta tem a função de interlocutor ativo que permite a própria pessoa ver o mundo de outro ponto de vista – nao para desconfirmar o ponto de vista que o sujeito está a ver, mas para contrapor a ausência de sentido a possibilidade ainda de uma escolha – a logoterapia tem a função de continuar a focar- se sobre o reconhecimento da liberdade intrínseca (valoriza a liberdade Intrínseca da pessoa) 29 • Processo terapêutico concentra se sobre a potencialidade do aqui e do agora da minha vida, o que eu agora tenho a possibilidade de fazer (não do passado, não o posso refazer nem rescrever a minha história) • Toda a reflexão da logoterapia se concentra sobre o “poder ser” do ser humano – quais são as minhas potencialidades ainda não realizadas • Objetivo da psicoterapia- autotranscendência • Dimensão espiritual: na perspetiva de Frankl também o ser humano não religioso tem uma dimensão espiritual que vai para alem do puramente físico e psíquico é intrínseca do ser humano, mesmo do que não se reconhece como sendo religioso – o ser humano encontra aqui razoes para viver, uma vontade de sentido que intencionalmente Frankl opõe a visão de nieztche (visão do sec.20) • Em contraposição com a ideia de neurose desenvolvida por Freud, Frankl dá outra leitura e afirma que a neurose para psicanalise representa uma dimensão do eu enquanto consciência, e para a psicologia individual uma visão do eu enquanto responsabilidade, considera que tanto a psicanálise tanto a psi individual vem de um dos lados do ser humano – aquilo que limita (na psicanalise seria o inconsciente, o desejo que não pode ser realizado e limitado pela realidade, na psi individual de adler a responsabilidade de …) Frankl diz que o ser humano tem potencialidades que deve reconhecer e descobrir que lhe permitem ter ume leitura diferente dos seus próprios limites. A consciência e responsabilidade constituem os 2 fundamentos essenciais do ser humano. • O ser humano é um ser consciente e responsável e deve ser posto em condições de exercer esta consciência e esta responsabilidade • Psicoterapia e visão antropológica (da pessoa humana) não estãoem contraposição – antes pelo contrário • A visão do ser humano que a logoterapia propõe fundamente em 3 pilares fundamentais: o A liberdade da vontade o A vontade de sentido o O sentido da vida 30 • A liberdade da vontade- a liberdade que ele considera que o ser humano deve e pode desenvolver-se – libertação de uma potencialidade que vai para alem do obvio • A visão do ser humano afasta se da visão biologista, psicologista, sociologista – não são o todo do ser humano, apenas dimensões do ser humano • O ser humano pode encontrar e libertar esta capacidade de se controlar no sentido negativo, mais proativa quando eu consigo compreender que a minha verdadeira liberdade se liberta quando eu faço escolhas diferentes (para as fazer preciso de me sentir responsável por mim e pela realidade que me envolve e para isso preciso de ter um sentido para a vida) • Coloca a pessoa no centro (não como na perspetiva de Rogers) mas como pessoa responsável que percebe quais são as suas limitações e potencialidades – o processo nao é mudar o mundo, mas sim a mim mesmo para eu poder mudar a realidade • A logoterapia não é só uma psicoterapia que consistiria na intervenção dos sintomas, em que a responsabilidade é do terapeuta, a logoterapia é um percurso que possa despertar a essência mais intrínseca do próprio ser humano, percurso de recompressão das suas potencialidades adormecidas ou não usadas o A finalidade da logoterapia é incluir o logos (a palavra) e a existência na psicoterapia A logoterapia também é conhecida como a “terceira escola de psicologia de Viena”. A primeira escola de psicologia foi a de Sigmund Freud, a segunda foi a de Adler, e a terceira é a escola fundada por Viktor Frankl. Os três princípios ou pilares básicos da logoterapia são os seguintes: 1. Liberdade de vontade; 2. Vontade de sentido; 3. Sentido de vida. 31 Liberdade de vontade A liberdade de vontade é empregue por meio de uma capacidade específica humana conhecida como “autodistanciamento”. Esta capacidade humana refere-se à possibilidade de se ver a si mesmo, aceitando-se, adaptando e visualizando. De acordo com os ensinamentos de V. Frankl, isso dá-nos liberdade diante de três fontes de influência: • Instintos; • Herança; • Meio ambiente. O indivíduo possui essas três fontes, mas elas não o determinam. Nós não estamos pré-determinados, nem concluídos. Somos livres diante desses três aspetos. O ser humano é livre daquilo que o condiciona e pode exercer a sua liberdade. Sempre que o ser humano se liberta de algo, é por algum motivo. Aqui está o conceito de responsabilidade. O indivíduo é livre para ser responsável e é responsável porque é livre. A partir dessa análise existencial, expõe-se o indivíduo como responsável pela realização do sentido e dos valores. Ele está a convocar à realização do sentido da sua vida e dos valores que lhe dão significado. Diante dessa convocação, ele é o único responsável. Vontade de sentido A vontade de sentido está bastante ligada à autotranscendência que caracteriza o ser humano. O indivíduo aponta sempre para além de si mesmo, para um sentido que, primeiramente, ele tem que descobrir e cuja plenitude deve alcançar. A vontade de prazer e a vontade de poder, de Freud e de Adler, respetivamente, levam o indivíduo à sua imanência. Estes conceitos opõem-se à autotranscendência e frustrariam a nossa existência. Para a logoterapia, o prazer e o poder são consequências de conseguir um objetivo, e não o objetivo em si mesmo. É por isso que as pessoas que perseguem o prazer e o poder chegam a um estado de frustração em que, ao mesmo tempo, se sentem imersas em um grande vazio existencial. A vontade de sentido não procura alcançar o poder nem o prazer, nem sequer a felicidade. O seu foco é o encontro de um propósito, uma razão para ser feliz. https://amenteemaravilhosa.com.br/desafio-voltar-a-viver-trauma/ https://melhorcomsaude.com.br/valores-em-casa-a-chave-para-uma-geracao-de-sucesso/ 32 Sentido da vida Os dois princípios anteriores falam de uma pessoa disposta a assumir uma posição diante das circunstâncias da vida, com total liberdade, a partir de um sentido que a convoca. Este é o perfil do indivíduo na procura de sentido. A vida contém e conserva um sentido. Esse sentido é peculiar e original para cada um de nós. Assim, o nosso dever, como seres conscientes e responsáveis, é descobrir o sentido das nossas vidas. A morte só pode causar pavor a quem não sabe ocupar o tempo que lhe é dado para viver. Isso pode ser conseguido através de três vias fundamentais que fazem referência a três categorias de valores. 1. Às vezes, direciona-nos à realização dos valores de criação. 2. Outras vezes, vai nos impactar com uma vivência, como quando assistimos a um pôr do sol ou alguém nos faz um carinho. 3. Outras vezes, vamos enfrentar as limitações da própria vida (a morte, o sofrimento, etc.) De todas as formas, a vida sempre conservará, até o final, um sentido oculto e uma convocatória indispensável e permanente para que seja descoberto e realizado. Estes são os três princípios fundamentais da logoterapia de Viktor Frankl. Como já vimos, trata-se de uma visão humanística-existencial do ser humano que pode ser difícil de compreender se não estivermos familiarizados com o existencialismo. Resumindo: De acordo com Frankl, a Logoterapia é sustentada por três princípios básicos: a liberdade de vontade, a vontade de sentido e o sentido da vida. O fundamento antropológico que embasa a Logoterapia é a liberdade de vontade. Por meio desta, “O homem não é livre de suas contingências, mas, sim, livre para tomar uma atitude diante de quaisquer que sejam as condições que lhe sejam apresentadas”, através da dimensão noética. Este princípio opõe-se ao determinismo, posto que o homem é um ser livre e responsável pelas suas próprias decisões. Frankl chama de vontade de sentido o interesse contínuo do homem pelo significado para a sua vida; na procura por este sentido da vida, “o desejo de sentido é independente de outras necessidades (tomando por base a escala de necessidades de Maslow), de maneira que a satisfação 33 ou frustração de necessidade podem incentivar o homem a procurar o significado na sua existência”. Assim, a frustração da motivação básica da vontade de sentido leva ao que se chama de “vazio existencial”. Nas palavras do próprio Frankl (2013: 50), “O que chamo de vontade de sentido pode ser definido como o esforço mais básico do homem na direção de encontrar e realizar sentidos e propósitos”. O terceiro pilar da Logoterapia está pautado no sentido da vida, que emprega a procura de um sentido concreto para a vida, com objetivos que, embora estejam em constante modificação, não deixam jamais de existir, ao contrário de uma existência pautada em algo meramente abstrato. Desta forma, Frankl diz que “cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; cada um precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização”. Ainda sobre os fundamentos teóricos da Logoterapia, Dourado et al (2010: 20) apontam que a maior contribuição de Viktor Frankl está na sua conceituação do homem alicerçado sobre três pilares. Estes afirmam que a conceção de Frankl se baseia em uma visão tridimensional do ser humano, formado a partir das dimensões somática, psíquica e noética (ou espiritual/noológica). A primeira é constituída pelos fenômenos corporais do homem, ou seja, sua estrutura orgânica e fisiológica. A segunda dimensão – chamada de dimensão psíquica – inclui os aspetos relacionados às sensações, os impulsos, o intelecto, além dos comportamentos adquiridos, dentre outros. Por fim, a dimensão espiritual/noológica, também chamada de nous (espírito), que diz respeito à dimensão especificamente humana. Conclusão: A humanidade vive um vazioexistencial que o faz interrogar pela sua própria existência e pelo sentido que a vida pode ter. Nada tão agravante se não fosse o grau elevado de neuroses e de perda de sentido existencial que colocam muitas pessoas diante da morte psíquica e da degradação da sua vida. A tentativa de Victor Frankl em construir uma psicoterapia capaz de ajudar o ser humano a descobrir o sentido da vida e de sublinhar o sentido como característica essencial do ser humano, (ao demonstrar que o questionamento é uma coisa natural do homem, pois ele é aquele que pergunta pelo seu próprio ser) marca uma reviravolta na ciência psicológica e direciona a humanidade para o encontro consigo mesmo. Assim, a logoterapia apresenta-se como a ciência do mundo atual, que valoriza o homem na sua unidade, composto pelas dimensões somática (fisiologia), psicológica (instintiva e cognitiva) e noética (do espírito, principal fator de diferenciação dos outros animais). Dessa forma, 34 o ser humano é uma unidade (na diversidade) bio-psico-noética, que tem na última dimensão o seu grau superior. Ao encontrar o sentido da vida, o homem descobre que nada está isento de sentido, nem mesmo as suas experiências de sofrimento e de dor diante das frustrações da vida. O homem será um ser à procura do sentido, porque acredita que o sentido move a vida e direciona o indivíduo ao encontro da liberdade, da responsabilidade e da transcendência. E que, na relação com o outro, ele pode descobrir e encontrar a si mesmo. Toda a prática da logoterapia direciona-se para esta realidade: a procura de sentido. Desejo tal que nasce com o homem e que se manifesta na sua vida, particularmente diante das neuroses que agravam a sua existência. 35
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