Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO E O ACESSO À JUSTIÇA Eloize Ramos da Silva (UEPG) Email: ramos.eloize@gmail.com Isabella Luiza Andrade Scherer (UEPG) :bella.las@hotmail.com Orientadora: Prof. Adriana Timóteo dos Santos Zagurski.(Mestre em Direito PUC/PR) Resumo: Se o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora, a duração do processo,seu elevado custo e a grande demanda jurisdicional configuram-se, como os principais vilões dos institutos jurídicos tradicionais.Logo se enfatiza a importância desses meios para a solução de conflitos, e a necessidade de um afastamento do formalismo processual, para fim de concretizar o direito fundamental de acesso à justiça, consolidado entre os princípios da Constituição Brasileira de 1988.Através do modo de documentação indireta, e dados bibliográficos,com análise em escritos de doutrinadores que enfocam o presente tema, busca-se demonstrar que os Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos (MARCs), são garantias constitucionais e ferramentais úteis à sociedade, pois proporcionam benefícios práticos aos hipossuficientes, incentivando e facilitando a busca pelo seu direito.Dentre esses mecanismos estão a conciliação,mediação e arbitragem. O que se percebe é que junto com os esses meios se proporciona a inclusão social, além de ajudarem o judiciário a se reorganizar, proporcionam resultados rápidos e menos custosos, cujo maior envolvimento das partes possibilita maiores chances de acordos ou reconciliações. A efetividade do acesso a jurisdição é vista sob uma perspectiva mais palpável quando se abstrai o tecnicismo e o formalismo da função de pacificação social. Como instrumentos de ampliação do acesso a justiça, percebemos como esses meios extrajudiciais são essenciais aos valores da cidadania e democracia, uma vez que evitam formas violentas e opressivas nas resoluções dos conflitos. O que justiça a inclusão desses meios em capítulos próprios no Anteprojeto do Novo CPC. Difundir essa idéia é difundir mais uma opção de acesso a justiça. Palavras-chave: Inclusão social, autonomia, conciliação, mediação, arbitragem. Introdução: Entre os temas fundamentais do Processo Civil Moderno segundo Cândido Dinamarco: uma das justificativas de todo esforço sistemático dos processualistas da atualidade,considerando ao mesmo tempo as experiências estrangeiras inovadoras e as mazelas de nossa realidade social, os meios alternativos para a solução de conflitos, configuram-se como um dos elementos merecedores de atenção.Essa situação se justifica devido as dificuldades e falta de eficiência que o sistema jurisdicional brasileiro vem enfrentando.Se o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora,a duração do processo,seu elevado custo e a grande demanda jurisdicional configuram-se, como os principais vilões dos institutos jurídicos tradicionais.É com vistas nesse contexto, que enfatizamos a importância dos novos meios para a solução de conflitos e a necessidade de um afastamento do formalismo processual ,para fim de concretizar o direito fundamental de acesso à justiça consolidado entre os princípios da Constituição Brasileira de 1988. Dentre as vias alternativas, a mediação, conciliação e arbitragem, são apontadas como os meios mais seguros, baratos e desburocratizados, logo a necessidade de maiores incentivos a sua utilização e desenvolvimento de políticas públicas que tornem conhecidos esses métodos aos olhos de toda a população. Objetivos e Técnicas de Pesquisa Com o propósito de demonstrar que os Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos (MARCs) são garantias constitucionais e ferramentais úteis e benéficas à sociedade, pois proporcionam benefícios práticos aos hipossuficientes incentivando e facilitando a busca pelo seu direito, bem como o exercício de sua autonomia na resolução de conflitos,faz-se uma breve análise de cada um desses meios e sua contribuição para o processo de democratização. Para realização desta pesquisa foi utilizada o modo de documentação indireta, através de dados bibliográficos,com análise em escritos de doutrinadores que enfocam o presente tema,bem como, conceitos históricos e documentais.A partir do método indutivo foi possível fazer as considerações necessárias. Resultado e Discussão: Os meios alternativos de resolução de conflitos são mecanismos que obtém a solução da lide (litígio) à margem da via jurisdicional, a origem dos mesmos remonta a antes do surgimento do Estado,uma vez que nas civilizações primitivas os conflitos eram solucionados pelas próprias partes envolvidas.O titular de um direito fazia com que ele valesse pelo uso da força,era a ‘’justiça feita pelas próprias mãos’’,no entanto,nem sempre levava a melhor aquele que tinha razão.Foi a partir do momento em que os Estados se estabeleceram e ganharam força que a solução dos conflitos deixou de ser dada pela autotutela, e foi se desenvolvendo os meios de autocomposição .Atualmente a autotutela é uma exceção ,seu uso somente é permitido quando a lei diz,pois a justiça com as próprias mãos constitui ato ilícito.Em nosso ordenamento jurídico são exemplos de previsões legais da autotutela: a legítima defesa (art.188,I do CC), apreensão do bem com penhor legal (art.1467,I do CC) e desforço imediato no esbulho (art.1210 §1° do CC). A autocomposição ocorre quando as partes decidem o conflito pela autonomia da vontade.Como iniciativa unilateral ,os mecanismos são: desistência ou renuncia (quando uma das partes abre mão de seu direito);e submissão (quando uma parte se submete a pretensão contraria,ainda que legitima fosse sua resistência).A forma bilateral,que é realizada por ambas as partes,pode ser extrajudicial, quando não ocorre a participação de um magistrado e não há processo,ocorre um acordo entre as partes que farão concessões mutuas,podendo ser homologado por um juiz, tal acordo. A conciliação é endoprocessual ou judicial, pois ela é feita em juízo,quando já existe um litígio instaurado perante ao Estado-juiz.Em seu art. 840 o Código Civil faz referencia a esse procedimento ‘’é lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mutuas’’.O código de Processo Civil também traz destaque à função conciliadora do magistrado em seu art. 125,IV,assim o juiz após a análise do acordo dará a sentença Homologatória. Para Dinamarco a autocomposição e suas modalidades é a de maior curso e real utilidade atual. O poder de pacificação é muito grande na conciliação ,pois além de encontrar o ponto de equilíbrio aceito para os termos de dois interesses conflitantes ,geralmente logra também levar a paz ao próprio espírito das pessoas :a idéia até vulgar de que ‘’mais vale um mau acordo que uma boa demanda ‘’é uma realidade no sentimento popular e as soluções concordadas pelas partes mostran-se capazes de eliminar a situação conflituosa e desafogar as incertezas e angústias que caracterizam as insatisfações de efeito anti-social.Por isso é que a conciliação é o substituto generoso da justiça ,ainda quando conduzida por esta ou por seus auxiliares.Pois é ai que,chamando para seu âmbito essa atividade hoje dispersa entre outros pólos conciliadores (estatais ou não) e oferecendo-se como canal de desafogo da litigiosidade contida no espírito dos que não têm quem lhes valha ou não se animam a ir a Justiça,o Poder Judiciário ganha pontos em sua legitimidade e com isso concorre eficientemente para a ampliação da via de acesso aos serviços jurisdicionais .(DINAMARCO,p. 376.2009) Embora não possua lei especifica no momento, a conciliação aparece em leis esparsa no direito brasileiro, como ocorre na CLT, e também nas leis dos juizados especiais cíveis 9.099/95;10.259/2001,essas leis permitemque cada Estado regulem hipóteses de conciliação conduzidas pelo próprio juiz ,por ‘’juiz leigo’’ ou por ‘’conciliador’’,por isso de acordo com a doutrina tradicional são formas alternativas de resolução de conflitos,com um procedimento mais simplificado que se caracteriza conforme art.2° da lei 9.099/95 pela ‘’oralidade,simplicidade,informalidade,economia processual e celeridade,buscando sempre que possível a conciliação ou a transação’’.O que reflete intimamente a busca atual de uma maior efetividade da tutela jurisdicional.’’As reformas por que vem passando o direito Processual civil,entre nós ,refletem uma tomada de posição universal cujo o propósito é abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas,para dedicar-se à busca de mecanismos destinados a conferir à tutela jurisdicional o grau de efetividade que dela se espera’’.(BEDAQUE apud,THEODORO JÚNIOR,p.15,2009). Essa autonomia na resolução de conflitos pode também ser atingida com a participação de terceiros, como ocorre com a arbitragem e mediação, denominamos por heterocomposição,uma vez que surge um terceiro imparcial,eqüidistante designado pelas partes.A arbitragem inaugurou os métodos heterônomos, na antiguidade ela era exercida pelos sacerdotes e anciãos .Muito utilizada nas áreas negociais internacionais a arbitragem vem ganhando força e permanência após a criação da lei federal 9.307/96.Diferente da conciliação e mediação o arbitro fará a imposição de sua decisão e conforme art. 31 da lei ocorre a desnecessidade de homologação judicial da sentença arbitral,uma vez que ela possui ‘’ os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário ‘’ ,ou seja faz obrigação entre as partes,pois estás convencionaram o compromisso arbitral onde escolher o arbitro e se submetem a decisão do mesmo,seja qual for.Conforme dispositivos da lei,a arbitragem limita-se a direitos patrimoniais disponíveis ,entre pessoas capazes (art.1°); a escolha deve ser livre,obedecendo também os bons costumes e à ordem pública (art.2°§1°), e de acordo com o art.13 da mesma lei qualquer pessoa capaz e de confiança das partes pode atuar como mediador ou arbitro.Assim devido ao seu mínimo de formalização e máxima celeridade a arbitragem possui muitas vantagens como aponta Lidia Elizabeth Peñaloza :’’ a)auxiliar o Poder Judiciário,diminuindo o número de processos deste e promovendo uma Justiça rápida e segura; b) expressar a confiança de julgamento técnico mais preciso do que do judiciário; c)ser uma justiça mais barata (por ser mais rápida).(p.106.2005). Na mediação também ocorre a intermediação de um terceiro imparcial (mediador), este que vai conduzir e estimular as partes a chegarem a solução do conflito,assim ele não irá apresentar a solução e sim conduzir as partes à esta, irá facilitar a comunicação e compreensão das propostas entre as partes mas nunca impondo qualquer tipo de solução ou sentença.A figura da mediação ainda carece de regulamentação,mas no próprio preâmbulo constitucional temos a referência da ‘’solução pacifica dos conflitos’’ justificando seu uso,que é regulado pelas regras dos contratos do direito civil.Escolhido o mediador elaborasse o contrato para o termo de acordo,que é extrajudicial .Quando o acordo é homologado ele possui força de sentença,no entanto a homologação não é obrigatória. O mediador, profissional do Estado ou da iniciativa privada, pode ser indicado pelo juiz da causa.Ela pode ser judicial, quando já iniciado o processo jurisdicional e extrajudicial,quando se desenvolve a margem do processo e é conduzida por um terceiro não vinculado a jurisdição.Dentre sua principais características estão:a )confidencialidade,pois tudo é sigiloso e secreto;b)Celeridade e economia,pois o tempo para a solução do conflito é inferior do que se fosse operado dentro dos tribunais ,tornando-se também menos custoso;c)reaproximação das partes e autonomia de suas decisões,pois haverá reciprocidade da vontade solucionadora e d) oralidade,uma vez que o acordo é obtido por meio do diálogo entre as partes. Considerações Finais Podemos relacionar o aumento da utilização desses meios, devido a dificuldade de acesso a justiça aos mais carentes, logo o movimento necessário é o distanciamento do judiciário e aproximação de órgãos alheios a este,meios particulares,informais e mais flexíveis.O que se percebe é que junto com os esses meios se proporciona a inclusão social.A autonomia que é dada as partes, contribui para um processo de democratização e justiça cidadã.Não se nega também que esses meios ajudam o poder judiciário a se reorganizar ,além de apresentarem resultados rápidos e menos custosos, o maior envolvimento das partes possibilita maiores chances de acordos ou reconciliações.Por isso no Anteprojeto do novo Código de Processo Civil que foi elaborado por ato n°379 do Presidente do Senado Federal José Sarney ,temos em capítulo próprio dispositivos que se referem unicamente a conciliadores e mediadores judiciais. É importante ressaltar o impacto social que o incentivo desses meios pode ter, as soluções dadas por meio da conciliação,arbitragem e mediação não só aproximam a população de seu direito à justiça como também contribuem de uma forma geral para o bem estar social.A efetividade do acesso a justiça é vista sob uma perspectiva mais palpável quando se abstrai o tecnicismo e o formalismo da função de pacificação social. O que se percebe atualmente é um maior esforço dos operadores do direito para difundir essas técnicas e viabilizar o acesso à tutela do Estado para maior número da população,no entanto, como não são todos os tipos de litígios que podem ser resolvidos pelos MARCS,faz-se necessário uma devida orientação e informação sobre os mesmo .As cautelas que devem ser tomadas fazem referencia a situação de equilíbrio entre as partes onde tudo deve ocorrer conforme a boa fé,logo é necessário que os condutores da lide o façam com a finalidade de pacificar e nunca prejudicar . Apesar de algumas dificuldades, seja devido ao processo histórico de uma técnica-jurídica mais formalista ou de uma sociedade paternalista mais conservadora, os preconceitos que podem ocorrer em relação a esses meios pode estar ligado a falta de garantias processuais, ou simplesmente a falta de informação em relação ao seu uso .No entanto essas técnicas prometem se difundir cada vez mais.Na exposição de motivos do Anteprojeto do novo CPC a Comissão de juristas organizadora ressalta: Um sistema processual civil que não proporcione à sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que têm cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias constitucionais de um Estado Democrático de Direito. Sendo ineficiente o sistema processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. Criou-se um Código novo, que não significa, todavia, uma ruptura com o passado, mas um passo à frente.(BRASIL,Anteprojeto CPC.p.11-12.2010). Concluímos que a maior difusão e efetivação dos meios alternativos de resolução de conflitos dependem principalmente do rompimento com o formalismo excessivo, pois a maioria dos litígios da sociedade podem ser resolvidos com o mínimo possível de formalidade e muitas vezes extrajudicialmente. Como instrumentos de ampliação do acesso a justiça, percebemos como esses meios extrajudiciais são essenciais aos valores da cidadania e democracia, visto que ampliam o acesso a justiça evitando formas violentas e opressivas nas resoluções dos conflitos.Importante é implantação de políticas públicas que estimulem o uso desses meios e levem a comunidade o conhecimento dos mesmos, de modo a ter maior participação de todos.Essas políticas devem partir dos três poderes e também do Ministério público,pois uma legislação que induza ouso desses meios,sem dúvida nenhuma diminuiria a demanda do judiciário. Difundir essa idéia é difundir mais uma opção de acesso a justiça, aumentando o numero de instituições e procedimentos que permitam prevenir e solucionar a maior parte das controvérsias com o menor custo possível, maior participação e realização dos interesses das partes. O incentivo das esferas do poder estatal para a difusão dos MARCs,representa uma evolução ao acesso a justiça e principalmente uma evolução de uma sociedade cada vez mais pacifica e cidadã. Referências BRASIL.Código Civil.Organização de Silvio de Salvo Venosa.São Pauli:Atlas,1993. ______. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. – Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010.p. 381. ______. Lei nº 9.3º7, de 23 de setembro de 1996. Dispõem sobre a arbitragem. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27834-27841. BUENO,Cassio Scarpinella.Curso Sistematizado de Direito processual civil: teoria geral do direito processual civil.5.ed.São Paulo:Saraiva,2011. CINTRA,Antonio Carlos Araujo;GRINOVER,Ada Pelegrine;DINAMARCO,Cândido Rangel Dinamarco.Teoria Geral do Processo.25.ed.rev.atul.São Paulo:Malheiros Editores,2009. DINAMARCO,Cândido Rangel .A Instrumentalidade do Processo.12.ed.rev.atual.São Paulo:Malheiros Editores,2005. GAMA,Lidia Elizabeth Peñaloza Jaramillo.O Devido Processo Legal.São Paulo: Editora de Direito,2005. HUMBERTO,Theodoro Júnior.Curso de Direito Processual Civil:Teoria Geral do direito processual civil e processo de conhecimento.50.ed.Rio de Janeiro:Forense.2009. MAYER, Larissa Affonso. Métodos alternativos de resolução de conflitos sob a ótica do direito contemporâneo. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2997, 15 set. 2011 . Disponível em: < http://jus.com.br/revista/texto/19994 >. Acesso em: 21 jul. 2013. NETO, Eugênio Fachini. A outra justiça - ensaio de direito comparado sobre os meios alternativos de resolução de conflitos. Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, ano 36, n.º 115, 2009, p. 85-117.
Compartilhar