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Fenomenologia e metodo fenomenologico_Karwowski_241006_152248

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II 	1 	[II 1 II ti V Á 
tSBN 85-87622-94-3 
11 	1 	11111 
9 788587 622945 
o 
56 	 SILVÉRIO KARWOWSKI 
a evolução da Gestalt-terapia". Essas exposições, somadas 
aos vários grupos de estudo realizados por Rehfeld em mui-
to influenciaram vários gestalt-terapeutas que, no reconhe-
cimento da importância do tema na Gestalt-terapia, se dis-
puseram a produzir mais trabalhos vinculando, propondo 
interseções, examinando ou sugerindo mais profundidade 
nas relações entre a Fenomenologia e a Gestalt-terapia. 
Junto a essas elaborações e em termos de produção 
escrita, o primeiro autor brasileiro a focalizar o assunto de 
forma destacada foi Jorge Ponciano Ribeiro (1985), em seu 
já mencionado livro Gestalt-terapia - refazendo um cami-
nho. Nesse livro apresenta a Fenomenologia mais em sua 
perspectiva filosófica, constituída enquanto fundamento da 
abordagem, embora não estabelecendo demoradas correla-
ções entre uma e outra. 
II 
Feviomeviologio e Método 
FevioviieioIógico 
"É em nós mesmos que encontra/nos a unidade dafe-
nomenologia e seu verdadeiro sentido. A questão não 
é tanto a de fixar e objetivar esta fenomenologia para 
nós que faz com que, lendo Husseri ou Heidegger, vá-
rios de nossos contemporâneos tenham tido o senti-
inento inuito menos de encontrar uma filosofia nova 
do que de reconhecer aquilo que eles esperavam ". 
(Merleau-Ponty, 1945/1999) 
BREVE INCURSÃO ETIMOLÓGICA 
\J árias são as formas possíveis de se empreender 
um estudo para se entendera fenomenologia. 
Uma dessas maneiras é através do estudo etimológico do 
termo fenomenologia. 
A etimologia constitui-se em um estudo das origens 
próximas e remotas às palavras e também de sua evolução 
histórica (Cunha, 1992). Por essa forma de estudo acredi-
ta-se proceder a uma ampliação compreensiva do termo es- 
58 	 SILvÉRI0 KARWOWSKI 
	
GrSTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 59 
tudado. É comum encontrar-se trabalhos que empreendem 
um estudo etimológico do termo que designa o estudo a ser 
realizado ou de termos essenciais à compreensão desse es-
tudo, fato que por vezes, como mencionado acima, também 
acontece ao examinar-se a Fenomenologia (por exemplo, 
Dartigues, 1973 e Foulquié, 1977). 
Ao tomar-se a palavra fenomenologia em seu sen-
tido etimológico, nota-se que aparece inicialmente em J. H. 
Lambert (1728-1777), na quarta parte de seu trabalho Novum 
Organum (1764), sob o título Fenomenologia ou teoria da 
aparência. Nesse trabalho, a Fenomenologia aparece com 
uma descrição etimológica que lhe dá uma constituição de teo-
ria acerca de como o fenômeno aparece, ou da forma de 
aparecer do fenômeno. Este sentido etimológico, no entan-
to, não se conserva. É a construção histórica referente às 
idéias filosóficas identificadas pelo termo fenomenologia 
que vai modificar e solidificar seu sentido. 
A palavra "fenomenologia", em sua apreensão eti-
mológica, está constituída por fenômeno e logia, indican-
do a ciência ou o estudo do fenômeno. Por sua vez fenô-
meno, criado a partir do grego phainestai, é literalmente 
entendido como aparecer ou aquilo que se mostra por si 
mesmo, tal como preconizado por Lambert na teoria da apa-
rência referida acima. Assim, é fenômeno tudo aquilo (ma-
terial ou ideal) de que podemos ter consciência, de qual-
quer modo que seja. Por ex., o conhecimento. Se a cons-
trução filosófica posterior modifica seu sentido, a acepção 
etimológica estrita invalida o exato entendimento do que 
hoje se denomina Fenomenologia. Fosse o entendimento 
de Fenomenologia o estudo daquilo que se mostra por si 
mesmo (e que dentro de uma compreensão mais literal do 
termo não está inexato) qualquer abordagem que trabalhe 
com aquilo que aparece se diria fenomenológica (Darti-
gues, 1973). 
Com efeito, desde a criação do termo por Lambert, 
seu uso foi adquirindo sentidos diferenciados em 1. Kant 
(1724-1804), em G. W. Hegel (1770-1831) e em outros 
filósofos. Seu teor filosófico definitivo e atual encontra-
se em Edmund Husserl (1859-1938), considerado o pai 
da Fenomenologia. Neste autor, fenomenologia irá desig-
nar um sistema filosófico que pratica afilosofla como bus-
cafenomenológica, ou seja, eliminando as características 
reais ou empíricas dos fenômenos, elevando-os ao plano 
das generalidades essenciais (Abbagnano, 1982). Dessa 
maneira, a Fenomenologia rigorosa e no sentido hoje en-
tendido consiste emfazerfilosofia buscando aquilo (a es-
sência) que se mostra no que apareçe, indicando um pro-
cedimento mais preciso, em direção a uma verdadeira in-
tuição das essências. 
A Fenomenologia husserliana constituiu-se através 
de diversos outros conceitos que vão especificar ainda mais 
seu entendimento, sendo que algumas de suas idéias funda-
mentais provêm do filósofo e precursor da psicologia Franz 
Clemens Brentano (1838-1917). 
As INFLUÊNCIAS DE F. C. BRENTANO 
Brentano foi um dos precursores da psicologia feno-
menológica e pode ser considerado um de seus fundadores 
60 	 SILvÉRI0 KARwowsKI 	 GESTALT-TERAPIA c FENOMENOLOGIA 	 61 
embora haja pouco reconhecimento na área e tenha produ-
zido muito mais em filosofia (Maciel, 2001). 
Registra-se a dívida que tem para consigo a Psicolo-
gia da Gestalt, tida como impagável (idem), onde se encon-
tra com certeza o ponto mais exato e preciso de ligação ar-
queológica com a Fenomenologia, no fato de terem sido 
alunos de Brentano, tanto Husserl quanto C. Stumpf (1848-
1936) que posteriormente influenciaram os já citados psi-
cólogos da Gestalt Wertheimer, Kõller e Kofka. A evidên-
cia da influência nesses psicólogos precisa-se pela adoção 
da Fenomenologia como seu método, conforme já dito, mas 
também pela proximidade e semelhança de seus conceitos 
aos de Brentano. 
Franz Brentano era um filósofo especialista na tra-
dição aristotélica e no estudo dos textos gregos, sendo tam-
bém constante do seu rol de alunos S. Freud (1856-1939) 
e C. V. Ehrenfels (1859-1932). Opunha-se com veemência 
à psicologia iniciada por Wundt de tradição experimental, 
objetiva, reificante e mensurante. Aela e com intuito de dis-
tinguir a psicologia da filosofia, confrontava uma possibi-
lidade de psicologia empírica, subjetivo-objetiva e rigoro-
sa. Algumas de suas idéias podem ser resumidas em cinco 
pontos, conforme feito por Maciel (2001) em seu trabalho 
Franz Clemens Brentano e a Psicologia. Estes pontos se 
constituem em uma verdadeira prescrição para a psicologia 
da forma como a entendia Brentano: 
1) a descrição deve preceder a explicação(...); 
2) atareft1 da filosofia e da ciência não podem ser se-
paradas ( ... ); 
3) os dados relevantes da realidade atestam a existên-
cia de aspectos gerais, que são verdadeiros 'univer-
sais imanentes' (...); 
4) a descrição adequada da realidade não deve pro-
ceder construindo modelos abstratos, mas 'referin-
do-se diretamente às coisas mesmas'; 
5) a tarefa de elaborar uma descrição apropriada da 
realidade engloba a necessidade de se construir um 
sistema taxonômico dos elementos que a formam, 
dos seus domínios e das relações entre esses domí-
niosj2001, p. 30). 
Pode-se antever nessas prescrições alguns embriões 
dos fundamentos mais caros à Fenomenologia, como por 
exemplo, a primazia da descrição sobre a explicação (item 
1), a intuição das essências (item 3) e a volta às coisas mes-
mas (item, 4), motivo pelo qual pode-se entender Husserl 
quando afirma que, sem Brentano, não teria escrito uma só 
linha sobre Fenomenologia (Maciel, 2001.). 
Foi Brentano quem sugeriu o retorno às fontes pri-
mitivas dos conceitos filosóficos mediante a intuição das 
próprias coisas. É ele também quem vai iniciar o desenvol-
vimento do conceito de intencionalidade, fundamental à 
compreensão da Fenomenologia husserliana. 
Em relação à psicologia, no entanto, suas contribui-
ções se deram de forma muito restrita, prevalecendo a psi-
cologia wundtiana como referência para as teorias que se 
seguiram e se consolidaram, como 6 do conhecimento de 
todo psicólogo. 
62 	 SILvÉRI0 KARWOWSKI 	 GESTALT-TERAPIAE FENOMENOLOGIA 	 63 
O Fiósoio EDMUND Hussui 
Edmund Husseri nasceu em Prosznitz, Morávia, atual 
Checoslováquia, aos 08 de abril de 1859. 
Formou-se primeiramente em matemática, disciplina 
à qual dedicou inicialmente seus estudos, herdando daí o 
rigor que impingiu à sua filosofia. Sua contribuição na área 
da matemática se deu sobretudo com as obras: Contribuição 
à teoria do cálculo das variações (1882, tese de doutora-
mento), Sobre o conceito do número (18 87) e Afilosofia da 
aritmética (1891). A proposta que apresenta para essa área 
será de construção radical das bases da própria matemática, 
podendo-se perceber, já aí, sua tendência à fundamentação. 
Como já mencionado, é Brentano quem atrairá Husserl 
para a filosofia, a princípio por mera curiosidade de Husseri 
por uma área que ele inicialmente considerava imprecisa, 
não entendendo como a sua diversidade de pensamentos 
poderia resultar em algo sério. Este contato com Brentano, 
no entanto, irá modificar a obra de toda sua vida. 
Inicia sua carreira de docência em Halie (1900), em 
1906 leciona em Gottingen e finalmente em Freiburg, 1916, 
onde irá sob os cuidados de Martin Heidegger (1889-1976) 
editar Prolegômenos àfenomenologia da consciência inter-
na do tempo (1928). 
Dentre suas obras citam-se como principais: A filo-
sofia como ciência de rigor (1910), Idéias para uma feno-
menologia pura e uma filosofia fenomenológica (1913), 
Lógica formal e transcendental (1929), Meditações carte-
sianas (1931), A crise das ciências européias e a fenomeno-
logia transcendental (1936). 
Husseri vai encerrar seu trabalho após longos 45 
anos de produção, em que jamais deixou de perseguir o ob-
jetivo estabelecido no inicio de sua carreira: fundamentar 
rigorosamente a filosofia. Partilhava com Descartes a idéia 
de que a filosofia, a partir do estabelecimento de critérios 
rigorosos, poderia oferecer à humanidade cultura suficien-
te para servir-lhe como guia e luz em sua vivência. Seu obje-
tivo será então o de dar consistência científica à filosofia e, 
por meio dela, fundamentar todas as demais ciências. Aca-
ba, no entanto, por apresentar uma forma diferenciada e ri-
gorosa de fazer filosofia, constituindo sim, princípios e fun-
damentos para as ciências denominadas de humanas, caren-
tes de um método afim com seu objeto (Dartigues, 1973). 
Husseri era por demais rigoroso em seu pensamen-
to e exigente quanto ao seu trabalho, chegando a afirmar que 
se a idade de Matusalém lhe fosse concedida, quase que 
ousaria entrever a possibilidade de tornar-se filósofo (id 
ibidem). Mesmo assim, ao rigor de seu pensamento era com-
binada tal flexibilidade que lhe permitia afirmar: 
"Em primeiro lugar, quem quiser realmente tornar-se 
filósofo deverá 'uma vez na vida' voltar-se para si mes-
mo e, dentro de si, procurar inverter todas as ciências ad-
mitidas até aqui e tentar reconstruí-las. Afilosofia - a sa-
bedoria - é de qualquerforma um assunto pessoal dofi-
lósofo. Ela deve constituir-se como algo dele, ser a sua 
sabedoria, seu saber, que, embora se volte para o univer-
sal, seja adquirida por ele e a qual ele possa ter condi-
ções de justificar desde a origem. e em .cada uma de 
suas etapas, apoiando-se em suas intuições absolutas. 
64 	 SIIvR10 KARwowsiu 
	
GCSTAU-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 65 
A partir do momento que tomei a decisão de me vol -
tar para esse objetivo, decisão essa que só pode me 
levar à vida e ao desenvolvimento filosófico, conse-
quentemente fiz dessa forma meu voto de pobreza em 
matéria de conhecimento" (Husser12001/1931, p.20). 
Deve-se também a essa característica do pensamen-
to de Husserl o fato de que, para a Fenomenologia, a cria-
ção de termos e conceitos deve permanecer sempre em aber-
to, em devir, pronta para se modificar, na medida em que 
avança a análise da consciência e o desvelamento de novos 
níveis fenornenológicos. 
distinções entre as ciências naturais e as ciências do espíri-
to e entre os fenômenos físicos e os psíquicos. Como visto, 
para Brentano os fenômenos psíquicos comporÇjLrnain-
tencionalidade podendo ser percebidos, considdQ 
ainda que oprocsso perceptivo desses fenômeno cons-
titutivo de sua forma de conhecimento. Para Dilthey, 
"...a natureza só é acessível indiretamente, a partir 
dos fatos esparsos cuja unidade e coerência não são ja-
mais senão hipotéticos, a vida psíquica é, ao contrário, 
uni dado imediato que não exige nenhuma reconstrução, 
mas somente uma descrição" (Dartigues, 1973, p.l 1). 
COMO SE CONSTITUI A FENOMENOWGIA 
A origem da Fenomenologia enquanto pensamento 
filosófico se deu em um contexto de crise cultural. Existia 
um vácuo deixado pelo declínio da filosofia (principalmente 
Hegel e Schopenhauer) e pensadores importantes como K. 
Marx, S. Freud e W. Nietzsche, embora estivessem produ-
zindo, ainda não tinham adquirido importância. Nesse qua-
dro, a Ciência com seu fundamento positivista ocupou o 
vazio deixado pela filosofia especulativa, destacando-se par-
ticularmente a matemática e a psicologia. Esta última esfor-
çava-se por constituir-se como ciência exata de acordo com 
os modelos das ciências da natureza, tentando eliminar os 
aspectos subjetivos implicados no uso da introspecção, tal 
como em Wundt. É a partir desse contexto que são iflais bem 
situadas, com Brentano e principalmente com Dilthey, as 
Estas distinções, dentre outras idéias já citadas, fomen-
taram o surgimento da Fenomenologia, que desde então tem 
sido utilizada não só pela psicologia, mas por várias ciên-
cias como, por exemplo, o Direito, a Psiquiatria, a Sociolo-
gia - as ciências humanas enfim, que devido à complexida-
de de seu objeto, foram aquelas que no início mais precisa-
ram de renovação em sua metodologia (Dartigues, 1972). 
PERSPECTIVAS DA FEN0MEN0L0GIA 
Ao examinar-se o entendimento que hoje se tem da 
Fenomenologia, nota-se que esta é considerada como filo-
sofia, como epistemologia e como método de investigação. 
Soma-se a isso o importante fato de que algumas áreas ou 
ciências supõem constituir dela ou a partir dela, um méto-
do de intervenção, cada uma em seu respectivo objeto. 
SILVÉRIO KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA 13 FENOMENOLOGIA 	 67 
COMO F1LosorI, 
	 Gadamer, Simone de Beauvoir, Eliade, Binswanger e Me- 
dard Boss. 
.Tomar a fenomenologia como filosofia implica em 
fazer filosofia reduzindo os seres a fenômenos. Neste sen-
tido é necessário operar uma redução fenomenológica: co-
locar "entre parênteses" a atitude natural, ou seja, suspen-
der toda e qualquer afirmação sobre o mundo como se já 
estivesse naturalmente aí e reduzir todos os seres afenô-
menos para, a partir daí apreender seu sentido. Dessa for-
ma, responder o que é o homem ou o conhecimento huma-
no significa reduzi-los a fenômenos. Implica em, conforme 
se explicitará mais adiante, abandonar todas as elaborações 
sobre o que se diz que o homem é para, a partir da relação 
com o humano enquanto fenômeno buscar o seu ser. 
Importante ressaltar que muitos outros filósofos após 
Husseri fizeram fenomenologia e cada um deles possui sua 
especificidade na maneira de fazer fenomenologia. A títu-
lo de exemplo pode-se citar como: 
PRECURSORES DA FENOMENOLOGL4 
Boehn2e, Bergson, Brentano, Dostoyevsky, Dilthey, 
Eckart, Feuerbach, Fichte, Holderlin, Hegel, James, Mel-
viile, Marx, Pascal, Schelling, Schopenhauer, Vico e Kant. 
PENSADORES FENOMENOLÓGICOS - EXISTENCIAIS: 
Kierkegaard, Roilo May, Vitor Frankl, Van den Berg, 
Laing, Straus, Giorgi, Van Kaam, Romanyshyn, Nietzsche, 
Jaspers, Berdyaev, Heidegger, Bube, Scheler, Rilke, Ortega 
y Gassett, Gabriel Marcel, Paul Tillich, Sartre, Albert Ca-
mus, Kafka, Hesse, Merleau-Ponty, Levinas, Paul Ricouer, 
PENSADORES DERIVADOS: 
Marcuse, Horkheimer, Grassi, Habermas, Foucault, 
Derrida, Bataille, Kristeva, Irigaray, Baudrillard e Deleuze 
& Guattari. 
COMO EPISTEMOLOGIA 
Epistemologia é uma área do conhecimento humano 
que estuda o próprio conhecimento, seja na forma mais elemen-
tar (como qualquer ser humano apreende o conhecimento)ou 
na forma mais elaborada (como determinada ciência ou sa-
ber constrói e sistematiza seu conhecimento). A fenome-
nologia enquanto epistemologia é tomada em duplo sentido: 
a) como um estudo ou descrição da forma como o 
homem conhece - e aqui se encerra de vez a dis-
cussão entre empirismo e racionalismo, pois o 
conhecimento se dá na relação., 
b) como um método de investigação acerca do co-
nhecimento sistematizado em saberes quer cien-
tífico, quer não. 
COMO MÉTODO 
A fenomenologia pode ser apreendida como méto-
do não no sentido de um conjunto de prescrições e regras, 
68 	 SILVÉRJO KARWOWSKI 
	
GESTALT-TF3RAPJA E FENOMENOLOOJA 	 69 
mas como uma forma de pensamento ou caminho. Neste 
sentido configura-se: 
a) como um método de investigação do qual se uti-
lizam saberes e ciências tal como antes mencio-
nados (psiquiatria, direito, filosofia, psicanálise, 
gestalt-terapia); 
b) como suporte ou fundamento para os diversos sabe-
res criarem seus métodos de intervenção. Nesse 
sentido podemos falar de atitude fenomenológica. 
Apesar dessas três perspectivas mencionadas acima 
e talvez mesmo em função delas, pode-se notar que ocor-
rem usos de pouco rigor da fenomenologia. Isto acaba por 
implicar em procedimentos que não exploram totalmente 
seus recursos, se afastam do próprio pensamento fenome-
nológico, chegando mesmo a contradizê-lo. Haja vista, por 
exemplo, a confusão realizada quando se faz referência ao 
uso do método A pretens combinação des-
se método com outros, onde se pretende fazer uma análise 
do objeto em questão, ou mesmo a crença que através do 
mesmo essa análise é possível, implica num erro grave. O 
termo análise, utilizado sem prévias ressalvas que o contex-
tualizem dentro de uma perspectiva fenomenológica, remete 
a uma ação orientada pela divisão do objeto estudado (na maio-
ria das vezes o humano) na expectativa de que, a partir do 
entendimento das partes e da relação estabelecida entre elas 
seja possível o entendimento do todo (Feijoo, 2000). 
Em Fenomenologia, inversamente, opera-se com uma 
perspectiva de síntese onde, através de uma apreensão en- 
quanto totalidade compreende-se o sentido do fenômeno. 
Uma leitura fenomenológica, enquanto recurso associado a 
qualquer prática científica, jamais poderá tomar o objeto 
independente daquele que o estuda, pois qualquer fenôme-
no sempre se revela a uma consciência, indicando aí a im-
possibilidade de operar-se uma análise associada a uma lei-
tura fenomenológica. A análise tem como fundamento a 
existência do objeto em si, operando necessariamente em 
sua episteme básica, uma cisão no fenômeno. 
A16rn dessas imprecisões, muita confusão é feita em 
relação às relações entre Fenomenologia e Existencialismo. 
Ou seja, tratam-se com freqüência os dois como sinônimos, 
acreditando-se que qualquer abordagem que se identifique 
com uma dessas filosofias possa ser chamada de fenomeno-
lógica ou existencial, quando não fenomenológico-existen-
cial. Se hoje opera-se uma fusão entre as duas correntes fi-
losóficas, é importante entender em que momento, a partir 
de que e em quem se opera essa fusão. 
AFenomengia e o Existencialismo, embora se 
aproximem em muitos aspectos, são correntes filosóficas 
originariamente diferentes, nascendo a primeira com Edmund 
Husserl e a segunda com Soren A. Kierkegaard: 
"Kierkegaard foi o fundador do existencialismo e difi-
cilmente poderia ser chamado defenomenólogo. Husseri 
lançou a fenomenologia e não é um existencialista. 
Isso significa que houve um tempo em que se tinha de 
distinguir do existencialismo afenomenologia, enquan-
to que agora se fala dafenomenologia existencial ou 
existencialismofenomenológico. " ( Luijpen, 1973, p. 29). 
70 	 SILVÉRIO KARWOWSKI 	1 	GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 71 
Luijpen, em sua obra Introdução àfenomenologia 
existencial (1973), aponta com propriedade o ponto de con-
vergência inicial entre uma e outra, sua diferença fundamen-
tal e o ponto de união estabelecido. Efetivamente, é na re-
cusa ao elementarismo e atomismo do homem no mundo em 
que convergem, sendo que se diferenciam por tratar e for-
necer a temática, em Kierkegaard, do homem como um ser cu-
ja existência "... é um todo original e irrepetível, radical-
mente pessoal e única", (Luijpen, 1973, p. 29) e em Husserl, 
do caráter da consciência humana ou conhecimento como 
intencionalidade. Dessa forma, um estava preocupado com 
a singularidade do humano de tal forma que nenhuma ver-
dade pudesse ser universalizada, opondo-se à exigência im-
posta a qualquer pensamento dito científico, de apresentar-
se como apodíctico. O outro, de maneira divergente, preo-
cupa-se exatamente com o caráter apodíctico do conheci-
mento que fundaria a filosofia como uma ciência de rigor, 
apontando o conhecimento como intencionalidade. É exata-
mente em Martin Heidegger, o filósofo que recusava a al-
cunha de existencialista, que aparecerá a junção entre exis-
tencialismo e Fenomenologia. 
"Em Heidegger encontramos uma filosofia do homem, 
que não mergulha nas ilusões do idealismo ou do po-
sitivismo. Sob o influxo da teoria do conhecimento da 
fenomenologia e do ideal fenomenológico de 'ciên-
cia', o existencialismo abandonou sua posição anti-
cient (fica, e afenomenologia, como teoria do conhe-
cimento, enriqueceu-se por tomar emprestado nume-
rosos temas ao existencialismo de Kierkegaard, afim 
de se desdobrar numa filosofia do homem." (Luijpen, 
1973, pp.3l e 32). 
De acordo com T. R. Giles (1975), a partir de Hei-
degger, pode-se então falar em Fenomenologia existencial 
ou Existencialismo fenomenológico, muito embora o mes-
mo recuse a denominação de existencialista - com efeito, 
Heidegger também não adotará a Fenomenologia como fi-
losofia, mas como possibilidade metodológica. Deve-se a 
ele a fundamentação da Fenomenologia constituída enquan-
to hermenêutica (ciência que caracteriza os objetivos, as 
vias e as regras dapetaã). 
Isto posto, o que é necessário então para que alguém 
se diga fenomenólogo ou para que se identifique uma abor-
dagem como fenomenológica? 
Antes de tudo é necessário frisar que a Fenomeno-
logia era para Husserl uma filosofia cujo ideal era funda-
mentar rigorosamente a própria filosofia como ciência. O 
caráter epistemológico afirmado anteriormente, deve-se ao 
estabelecimento do conceito de intencionalidade que, tor-
nando um verdadeiro axioma a inseparabilidade sujeito-
objeto, ou antes, afirmando-os em sua constituição mútua, 
fecha de uma vez por todas a batalha travada entre racio-
nalistas e empiristas sobre a fonte do conhecimento. 
No entanto, dizer-se fenomenólogo, dentro de uma 
perspectiva filosófica, implica em conhecimento, com-
preensão, compartilhamento e domínio do pensamento de 
algum desses filósofos dito fenomenólogos ou, a partir de-
les, na construção de pensamento próprio e necessariamen-
te afim com o dos mesmos. Neste sentido é que se pode 
72 	 SILVÉRIO KARWOWSKT 	 GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 73 
afirmar, principalmente, a impossibilidade de rompimen-
to com seu conceito de intencionalidade, ponto de união e 
convergência, básico a todos os filósofos da Fenomeno-
logia. 
Dizer-se praticante de abordagem fenomenológica, 
pressupõe, de modo semelhante e não menos rigoroso, a 
ciência mínima dos princípios explicitados por algum des-
ses filósofos e o reconhecimento de que a abordagem se 
utiliza, de forma assumida, do método e dos princípios (tan-
to filosóficos quanto antropológicos) inerentes a esse pensa-
mento filosófico. 
Quanto ao método fenomenológico, ainda que mui-
tas ciências afirmem utilizá-lo, esta possibilidade é contro-
versa, tal como afirma Criteili (1996): 
"afenomenologia não nasceu como um método, tal 
como as ciências e técnicas modernas o supõem (como 
rigorosa prescrição de procedimentos e instrumen-
tais), mas grosso modo: como uni questionaniento da 
dissolução da filosofia no modo cientifico de pensar; 
da lógica inerente às ciências modernas; como críti-
ca à metodologia do conhecimentocientífico que re-
jeita do âmbito real e do próprio conhecimento tudo 
aquilo que não possa estar subordinado à sua estrita 
noção de verdade, de sujeito cognoscente e de objeto 
cognoscível." (1996, p. 7). 
Sua prescrição metodológica aponta, antes de qual-
quer coisa, à questão do conhecimento e não à intervenção 
específica no objeto de estudo. 
Ressalta-se ainda - conforme afirmado em outro tra-
balho por Karwowski (2000), realizado a partir das elabo-
rações e sínteses propostas por Rehfeld, que ométodo feno-
menológico não pode, simplesmente, ser extraído da filo-
sofia e aplicado, por exemplo, na prática terapêutica: não se 
utiliza a redução eidética - um dos recursos do método fe-
nomenológico - como algo a ser feito com o cliente de psi-
coterapia, pois em Fenomenologia o objeto é o conhecimen-
to; em psicologia, o objeto é humano. Há no ser humano 
decorrências necessárias e inerentes à prática da psicote-
rapia, tais como compreensão e mudança - que embora não 
sejam incompatíveis com uma filosofia fenomenológica - 
exigem mudanças na construção de instrumentos de inter- 
o. 
Uma abordg&e fenomenológica, na impossibilida-
de de praticar rigorosamente o método e seus recursos, mas 
ainda considerando-se como tal, terá como condição o re-
conhecimento e inclusão, na sua práxis, de alguns princípios 
inerentes à Fenomenologia. 
Pode-se então citar corno pontos importantes: 
a) a apreensão e entendimento da epistemologia co-
mo perspectiva; 
b) uma leitura do humano enquanto totalidade; 
c) a ciência da dinâmica que circunscreve e perpas-
sa o fenômeno humano; 
d) operação com a temporalidade em urna perspec-
tiva de espiral; 
e) ênfase na práxisidiográfica; 
74 	 SILVÊRIO KARwowsfI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGJA 	 75 
f) abolição da idéia científica de causalidade do com-
portamento; 
g) uso de uma abordagem compreensiva do huma 
no;e 
h) adoção de uma linguagem correspondente ao fe-
nômeno abordado. 
A EPISTEMOLOGIA COMO PERSPECTIVA 
Adotar a epistemologia em perspectiva implica em 
partir do princípio que todo conhecimento parte de um cam-
po específico e que permanecerá limitado, enquanto verda-
de, às circunscrições desse campo. Neste sentido a verda-
de se estabelece como um ponto de vista, como uma limi-
tação e iluminação do olhador, já que inseparável do mun-
do onde se encontra. 
Além disso, a mera afirmação do ser homem traz em 
si um problema de redução ao qual a fenomenologia quer 
rechaçar: dize-lo como biológico é insuficiente, pois não se 
pode considerá-lo meramente em sua biologicidade. Portan-
to diz-se biopsicosocial. Mas também essa denominação é 
insuficiente já que reconhecida e recentemente integrada a 
dimensão religiosa ou espiritual. Precisaríamos então de 
uma outra denominação que abarque todas essas dimensões, 
assim como também a econômica e a política ou a trans-
pessoal. Logo se poderá perceber que todas as denomina- ,, 
 
ções são em si mesmas limitadas por se constituírem em 
perspectivas, não passíveis de serem ignoradas no estudo ou 
referência ao humano, mas enriquecedoras, cada uma por 
sua vez da amplitude do ser homem. 
LEITURA DO HUMANO ENQUANTO TOTALIDADE 
Saber que o conhecimento se dará sempre em pers-
pectiva conduz a uma condição de parcialidade. É nessa 
condição de parcialidade que se deve esforçar para sempre 
ver o homem em totalidade, ou seja, ampliando-se cada vez 
mais suas perspectivas, sabendo-se ainda assim serem ines-
gotáveis. Dessa forma pode-se falar em ver o homem como 
um todo sem jamais abarcar sua totalidade. As implicações 
dessa atitude dizem respeito a não privilegiar em demasia 
determinada perspectiva, por mais que se nos revele atraen-
te, sob o risco de operar uma redução do homem. 
ENFASE NA PRÁXIS IDIOGRÁ FICA 
Afinado com os dois itens anteriores, a prática idio-
gráfica, ou seja a crença de que construção do conhecimento 
pode se dar a partir de um pequeno número de indivíduos e ser, 
tanto restrita a esse pequeno grupo de pessoas, como ter vali-
dade universal estabelece uma regra que se opõe a princí-
pios meramente mensurantes e estatísticos. É a partir desse 
entendimento que se pode dizer, junto com Goldstein, que ca- 
da homem é a medida de sua própria normalidade. Essa ela- 
boração terá conseqüências sérias e significativas na psico-
logia onde se pode falar que a psicopatologia rigorosamente 
fenomenológica é a psicopatologia de um. Esses aspectos 
poderiam ser mais aprofundados e explorados, procedimen-
tos que fogem aos objetivos desse estudo onde se pretende 
apenas menciona-los e fornecer o mínimo de entendimen-
to. Estudos subseqüentes poderão melhor oportunizá-los. 
76 
	
SILvÉRI0 KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 77 
A DINÂMICA DO FENÔMENO HUMANO 
Já é amplamente reconhecido que o humano é dinâ-
mico em sua relação com pelo menos três dimensões mun-
danas: consigo mesmo, com os outros e com as coisas. O 
homem muda, as coisas mudam e as outras pessoas mudam. 
Isso equivale a considerar que o humano estará em mudança 
permanente e que todas as construções prático-teóricas pre-
cisarão estar inseridas nessa dinâmica sem forçar constru-
ções que busquem as categorias invariáveis, ou mesmo tem-
po em que se esforça por delimitar as impermanências. As-
sim o conhecimento construído deve buscar incansavelmen-
te o máximo de permanência possível, sabendo já estar, no 
ato de construção, condenado a perecer na dinâmica que 
pretende apreender. 
A TEMPORALIDADE EM PERSPECTIVA DE ESPIRAL 
O tempo da vivência humana é o tempo da relação. 
Diz respeito à duração da vivência específica estabelecida 
entre um homem e seu objeto. O tempo da relação não é 
meramente linear, mas concernente a vivência, a intensidade 
do envolvimento dos seres humanos. Dessa forma, pessoas 
distintas poderão experienciar o mesmo evento com regis-
tro de tempos diferentes daquele objetivamente marcado 
pelo relógio ou convencionado. Embora a marcação da cro-
nologia seja correlata a movimentos e ciclos naturais, a ex-
periência humana temporal se estabelece de forma a se entre-
cruzarem o passado, o presente e o futuro. Isso implica ser 
possível uma vivência do futuro ou passado no presente, já 
que, passado e futuro não existem senão enquanto feixes de 
significações e sentidos. Dizer sobre uma temporalidade em 
espiral remete a representação esquemática - sempre insu-
ficiente, claro - de uma linha do tempo em espiral, onde 
pontos são aleatoriamente determinados como passado, pre-
sente ou futuro, entrecruzando-se e influenciando-se mu-
tuamente, à medida em que a espiral se movimenta sobre 
seu próprio eixo. Graças a essa experiência de tempora-
lidade enraizada no vivido pode-se falar sobre mudança em 
psicoterapia, pois, através da experiência de aspectos sig-
nificativos sejam passados ou futuros, modifica-se o com-
portamento presente. Tem-se assim a experiência, ao mudar 
o sentido da vivência, de ter mudado a própria vivência. 
Essa experiência espiralada do tempo, enquanto uma 
sucessão de passados, presentes e futuros que se entrecru-
zam mutuamente está intimamente ligada à percepção de 
relações de causalidade de comportamento. 
A IDÉIA DE CAUSALIDADE DO COMPORTAMENTO 
Grande parte do pensamento cientifico está funda-
mentada numa compreensão racionalista do homem e do 
mundo,assim como numa lógica cartesiana, onde o que pre-
cede o evento causa sua existência. Assim para se modifi-
car um estado específico, basta que se conheça as ocorrên-
cias anteriores e suas correlações de forma a, numa concep-
ção mecanicista, interferir naqueles aspectos precedentes ao 
evento e obter as mudanças necessárias. Se isso parece ser 
verdadeiro dentro de construções das ciências clássicas, se 
revela como errôneo ao se ter como referência, por exem- 
78 	 SILVÉRIO KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOQIA 	 79 
pio, a subjetividade. Nesta, jamais passível de ser reduzida 
a nenhum dos aspectos que se lhe interferem, a fórmula "de-
pois disso, logo por causa disso"falha. 
Se a experiência do tempo se dá em uma perspec-
tiva de espiral, pode-se falar em uma influência do futuro 
no passado ou presente, ou ainda, de uma mudança do pas-
sado no presente. Evidente que fala-se aqui não em uma 
ocorrência literal, pois que se, para o humano, a vivência 
do tempo se dá enquanto significação, lembranças, regis-
tros, sentidos, etc., e não em uma ocorrência cronológica 
literal. Assim compreende-se como uma pessoa pode, a 
partir da projeção de seu futuro, daquilo que almeja tornar-
se, modificar seu comportamento atual. Um estudante ima-
gina-se no exercício da conquista dos aspectos referentes 
à profissão escolhida e assim decide-se por todo um com-
portamento peculiar à universidade, como uma vida de 
muito estudo e dedicação, eivada de relativos sacrifícios ou 
adiamentos. 
ABORDAGEM COMPREENSIVA DO HUMANO 
Talvez seja esse um dos temas mais amplamente ela-
borados pela fenomenologia. Em princípio, tanto a perspec-
tiva compreensiva quanto a explicativa se fazem necessá-
rias quando o humano está em questão. No entanto, pelo 
desenvolvimento exacerbado da razão, acaba-se por se ob-
ter construções do conhecimento e da ciência com ênfases 
excessivamente explicativas e pouco compreensivas. 
Dos vários estudos empreendidos em torno do com-
preender, onde se diz que um estudo completo do tema re- 
quereria pelo menos seis volumes para uma obra, pode-se 
ressaltar alguns aspectos em especial. O primeiro deles diz 
respeito a diferença entre uma leitura explicativa e uma lei-
tura compreensiva. O segunto aspecto aponta para a impor -
tância da intenção no ato de compreender. 
Jaspers (ano, p.) se preocupou em delimitar deta-
lhadamente como se daria a compreensão. Dentre os aspec-
tos por eles apontados pode-se assinalar a relação objetivista 
predominante na explicação: o objeto em estudo encontra-
se lá e então; na compreensão o objeto estudado se revela 
àquele que estuda, se revela à sua subjetividade. Diz respei-
to, antes de tudo, a si mesmo. Dessa maneira jamais estará 
livre das condições de existir de quem o estuda, enterran-
do de uma vez por todas a suposição de neutralidade. 
Na perspectiva explicativa opera-se pela análise, 
onde se estabelecem nexos de causa. Na perspectiva com-
preensiva opera-se pela síntese, onde são estabelecidos ne-
xos de sentido. Importa portando saber que nas relações 
compreensivas a subjetividade ou, mais rigorosamente fa-
lando, a intersubjetividade estará diretamente implicada. 
Dartigues (op. cit.) irá apontar que a intenção está no 
fundamento do compreender. Assim demonstra a diferença 
de procedimento de um arqueólogo e de um geólogo dian-
te de um sílex de pedra lascada. Para um interessa determi-
nar de que composição química e a que era geológica diz 
respeito aquele sílex, o que o coloca como mais um dentre 
tantas outras pedras, ou o indiferencia. Para outro, interes-
sa especificamente o que de humano há no mesmo material, 
aspecto que só poderá cabalmente ser apreendido pela com-
preensão da intenção de quem o produziu. Trata-se não mais 
80 
	
SILVÉRIO KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 81 1 
de um objeto físico, mas de um objeto cultural, dotado de 
significação, situado no meio humano. Da mesma forma, 
para o fenomenólogo diante do humano interessa não a sua 
constituição ou as leis físico-químicos inerentes, mas a in-
tenção que revela o sentido do comportamento. Através da 
intenção instaura-se a possibilidade de compreender um 
comportamento a partir daquilo que o anima, distingue-o de 
objetos físicos e outros animais, tornando-o propriamente 
humano. 
Fez-se aqui uma breve exposição de aspectos con-
siderados como constituintes de uma leitura fenomenoló-
gica. Evidente que a fenomenologia caracteriza-se natural-
mente como em construção, pois dinâmica tanto quanto o 
próprio homem. Não se constituem no entanto esses aspec-
tos como regras precritivas devendo se seguidas por aque-
le que se pretende fenomenólogo. Antes, a atitude fenome-
nológica tem como conseqüência natural o desenvolvimen-
to dessas características. Deve-se ainda ressaltar que uma 
abordagem que opere a partir destes ângulos de leitura terá 
necessariamente uma antropologia estabelecida a partir da 
idéia de complexidade e de totalidade. Dizendo-se melhor, 
complexidade por requerer sempre novas perspectivas acer-
ca de si mesmo, por necessitar compreender que o humano 
é irredutível a qualquer uma de suas dimensões e, portan-
to, jamais completamente explicável através daquele aspec-
to tomado inicialmente. Totalidade por requerer sempre um 
olhar abrangente, implicando em reconstrução teórico/téc-
nica constante (Karwowski, 2000), ou, pode-se dizer, cons-
tante abertura e fechamento de gestalten. 
O MÉTODO FENoMENoÓcIco FUUSSERIJANO 
Tendo-se neste trabalho como foco o método feno-
menológico na Gestalt-terapia e devido ainda às nuanças 
acrescentadas pela elaboração de cada filósofo a partir de 
Husserl, pode-se perguntar em que filósofo apoiar-se como 
referência para um estudo do método fenomenológico. 
Opta-se então por Husserl por compreender-se que 
a essência do método foi originariamente construída por ele, 
e que o mínimo para o aceite de seu entendimento e possí -
vel utilização é a compreensão rigorosa e o exato domínio 
de sua construção metodológica. 
Husseri muito escreveu e pouco publicou (Giles, 
1975). Durante toda sua obra, permanece fiel ao ideal de 
tornar a filosofia uma ciência de rigor, a qual tenta transfor-
mar no fundamento de todas as outras ciências, ideal que em 
seu processo de execução origina a Fenomenologia. Esse 
ideal está intimamente ligado a Descartes, considerando-se, 
no entanto, que Husseri se viu obrigado a rejeitar quase todo 
o conteúdo doutrinal cartesiano por pretender imprimir a 
alguns temas um rigor e desenvolvimento mais radical que 
o próprio Descartes (Husserl, 1931/2001) 
Partindo inicialmente das idéias cartesianas, Husseri 
construiu um pensamento filosófico que como já mencio-
nado se constituirá também em um método, cujos princípios 
e etapas podem ser agrupados nos seguintes pontos: 
a) suspensão dos a prioris; 
b) retorno às coisas mesmas; 
n'nu 
82 
	
SILVÉRIO KARwowsKI 	. f 	GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 83 
c) visada de consciência; e 
d) produção de um sentido. 
A exposição dessas etapas se dará aqui de maneira 
didática, sendo claro o reconhecimento de que esses prin-
cípios estão em íntima interdependência, cada um deles tor-
nando-se por vezes condição do outro. Será realizada tam-
bém uma tentativa de expressão simples, utilizando lingua-
gem clara que possibilite a compreensão do método. Nem 
por isso, acredita-se incorrer em um simplismo. 
Antes porém da descrição dessas etapas, impõe-se 
a compreensão de que o uso do termo fenômeno e o desen-
volvimento do conceito de intencionalidade da forma que 
se dá em Husserl, produzirão uma mudança epistemológica 
radical por fugir tanto à ênfase excessiva na racionalidade, 
tal como o queriam os idealistas, quanto a uma ênfase na 
experiência como o queriam os empiristas. Derivado daí 
nasce o princípio de que "consciência é sempre consciên-
cia de alguma coisa". A consciência só será assim quando 
dirigida a um objeto. Da mesma forma, o objeto só pode ser 
definido quando em relação com a consciência: ele será 
sempre objeto-para-um-sujeito (Dartigues, 1973). 
É essa mudança epistemológica que perrsp-
rar a dicotomia cartesiana, colocando-se assim como fun-
damento das ciências humanas e fornecendo a elas a possi-
bilidade de uma construção metodológica diferente daquela 
praticada pelas ciências naturais. Torna-se urna tentativa de 
superação da dicotomia sujeito/objeto, através da apreensão 
das relações do homem com o mundo (Holanda, 1997). Sur-
ge assim a relação como - a fonte de conhecimento. De acor- 
do com essa mudança epistemológica, ficam incompatíveis 
a junção, em psicologia, de práticas que estejam, uma fun- 
damentada na ciência cartesiana e outra na Fenomenologia.A SUSPENSÃO DOS "A PRIOR!" 
E O RETORNO ÀS COISAS MESMAS 
Suspender os a priori significa colocar entre parên-
teses todos os entendimentos e explicações anteriores que 
se possa ter acerca do fenômeno em questão, renunciando 
a qualquer forma prévia explicativa, por mais privilegiada 
que possa parecer. 
Isso implica em dizer que as elaborações e explica-
ções oferecidas pela ciência possuem, quando interpostas 
entre o sujeito cognoscente e o fenômeno, um caráter de 
mediaticidade, impossibilitando a emergência do sentido 
imanente ao fenômeno. 
Uma forma de saber-se a respeito das coisas é ouvir e 
compreender as elaborações e explicações produzidas acer-
ca delas, principalmente em seu caráter de universalidade, 
função da ciência. Outra, é operar a epoché: colocar entre 
parênteses qualquer juízo a respeito do fenômeno em ques-
tão, sem afirmar ou negar nada, deixando emergir o senti-
do a partir da compreensão da correlação estabelecida en-
tre o sujeito e o objeto. 
A epoché irá referir-se a uma suspensão na crença no 
mundo tal como o concebe o senso comum que crê nos ob-
jetos como se existissem em si, independentes de todo ato 
de consciência. Essa atitude, denominada por Husserl como 
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GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 85 
atitude natural, implica um entendimento de que o mundo 
existe por si, que já estava aí antes da existência seja de qual-
quer homem na rua, seja do cientista. Implica no entendimen-
to, por parte dessas pessoas, de que são coisas entre coisas, 
perdidos sobre a terra, sobre o céu, perdidos entre seres vi-
vos e entre idéias que já encontraram aí (Dartigues, 1973). 
É preciso superar essa postura, adotando uma atitu-
de fenomenológica: 
"suspender sua crença na realidade do mundo exte-
rior para se colocar, ela mesma, como consciência 
transcendental, condição de aparição desse mundo e 
doadora de seu sentido" (Dartigues, 1973, p.2 1). 
O mundo não será por si, mas sua existência é co-
originária, concernente à consciência que o desvela em cada 
uma de suas nuances. Trata-se de um mundo co-participa-
do, possível de ser expresso e percebido somente por aquele 
que o expressa e o percebe em sua imediaticidade. Diz-se 
então que essa correlação originária será a raiz de todas as 
coisas (Dartigues, 1973). 
Operando-se a epoché, ou redução fenomenológica, 
nada mais há para ser visto, para além do fenômeno que se 
desvela. Trata-se antes de tudo de um retorno às coisas mes-
mas, deixando então que elas mesmas revelem seu sentido. 
Não será das teorias, sejam elas filosóficas ou psi-
cológicas, que se produzirá o conhecimento, mas das coi-
sas e dos problemas. Fica-se, assim, diante de um recome-
ço que permitirá a permanência dos conceitos em devir, di-
ferenciando-se na medida em que progride o processo de 
análise da consciência, do conhecimento e dos novos níveis 
fenomenológicos (Giles, 1975). 
A VISADA DE CONSCIÊNCIA 
E A PRODUÇÃO DE SENTIDO 
A volta às coisas mesmas aparece como uma alter-
nativa entre a especulação da metafísica e o raciocínio das 
ciências positivas. Apresenta-se como uma terceira via que 
coloca o cientista no mesmo plano da realidade, permitin-
do então o surgimento de verdades inabaláveis ou de intui-
ções originárias, tal como o cogito cartesiano. 
É naelação original estabelecida entre sujeito e ob-
jeto que cumpre compreender que todo fenômeno possui 
um sentido. E é nessa visada de consciência - ou seja, a par-
tir da inseparabilidade sujeito/objeto, onde a consciência 
surge como transcendental, que o sentido do fenômeno deve 
ser revelado ou -Produzido. 
A visada de consciência será nada mais que a in-
tencionalidade, ou o objeto a que se dirige a consciência, o 
qual terá necessariamente um sentido que cabe a essa cons-
ciência revelar. 
Para isso cumpre não explicar o objeto, mas com-
preendê-lo. A busca do sentido se dá através - e necessaria-
mente a partir - da inseparabilidade consciência/objeto que, 
diferentemente das ciências naturais, onde o objetivo é a 
explicação ou o estabelecimento dos nexos causais, prima 
pela compreensão onde se revela tal e qual intenção se dá 
no ato humano, por nexos de significação. 
86 	 SILVÉRIO KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 87 
Trata-se então, de reduzir o objeto a um fenômeno, 
reconhecer que se dá a mim e enquanto tal se constitui em 
um objeto-por-mim-percebido e que, portanto, minha per-
cepção faz parte de sua constituição; descrevê-lo em suas 
mais variadas formas de aparecer e finalmente buscar seu 
sentido ou essência através de nexos de significação, expri-
mindo a vivência em todas as suas nuanças. A tarefa da Fe-
nomenologia será, então, analisar as vivências intencionais 
da consciência para perceber como aí se produz o sentido 
dos fenômenos (Dartigues, 1973). 
Quanto ao procedimento descritivo apontado acima, 
faz-se importante uma observação: operar fenomenologi-
camente não implica em apenas imprimir um caráter descri-
tivo ao objeto em estudo, à maneira que muitas vezes se fa-
zem algumas ciências, como p. ex. a psiquiatria. Para o fe-
nomenólogo, o fim último de seu trabalho é a apreensão de 
um sentido que está imanente naquilo que aparece, passan-
do incondicionalmente pela compreensão do fenômeno. 
Ou seja, a revelação do sentido é o fundamento do 
compreender. Tal como diz Dartigues: 
Observaremos, pois, de início que convémfalar de com-
preensão quando ofenôrneno a compreender é anima-
do por urna intenção. Não diremos de um geólogo que 
ele procura compreender urna pedra; sua tarefa será 
somente a de analisar sua composição e determinar a 
época de sua formação, investigar sua proveniência, 
etc. Bem diferente será a atitude de um arqueólogo ao 
encontrar um sílex lascado da idade paleolítica: o sílex 
não remete somente às leis físico-químicas e geológi- 
cas, como todas as pedras, mas à intenção do homem 
pré-histórico a que serviu de ferramenta. Não temos 
mais a ver, consequentemente, com um objeto natural, 
mas com um objeto cultural dotado de uma significa-
ção, porque aforma que lhe foi dada trai a intenção do 
artesão. Desse objeto diremos que deve ser compreen-
dido, isto é, situado no meio humano que lhe dá seu sen-
tido, que materializa nele a intenção em direção à qual 
procuramos remontar." (1973, p. 50). 
Disso se depreende, falando-se exatamente com Dar-
tigues (1973), que pelo método fenomenológico iniciado pe-
la redução, far-se-á necessariamente uma apreensão do sen-
tido, onde a intenção está no fundamento do compreender. 
A PsicoloGiA FENOMENOLÓGICA 
Diante do exposto, pode-se perguntar: é possível 
uma psicologia fenomenológica, considerando-se toda a espe-
cificidade do método e, ao mesmo tempo, sua riqueza, ema-
ranhamento e familiaridade com a psicologia? A elaboração 
e riqueza percebida na bibliografia que se propõe a abordar 
esse tema aponta em direção a uma resposta afirmativa. 
Com efeito, não se pretende aqui discorrer sobre os 
pressupostos da psicologia fenomenológica, mas apresen-
tar alguns autores, estudiosos da proximidade e interseção 
entre Fenomenologia e psicologia, aos quais o leitor pode-
rá se remeter. 
Efetivamente Foulquiè (1977) ao falar de psicologia 
fenomenológica, descreve as idéias de M. Heidegger e Karl 
88 	 SILvÉRJ0 KARWOWSKI 
	
GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA 	 89 
Jaspers, culminando por apontar Jean-Paul Sartre como quem 
não apenas fez tal proximidade mas pretendia, através de 
suas idéias, agitar não apenas a filosofia como também a 
psicologia. 
Para Foulquiè, a Fenomenologia permitiu à Psico-
logia não perder as estruturas essenciais da existência (o eu, 
o outro, o mundo), como também tomar dela o método des-
critivo e abandonar a preocupação excessiva com causas e 
origens dos fenômenos, observando então: 
"A fenomenologia substitui a ambição de descobrir 
causas e formular leis, pela de conhecer os fatos, em 
sua realidade concreta e contingente. Procura, pois, 
voltar à observação ingênua que, em lugar de preten-
derreconstruir o real, interpretando os dados imedia-
tos com auxílio de idéias preconcebidas, se contenta 
em estudar e descrever esse dado, tal como é dado. Em 
resumo, afenomenologia cinge-se ao fenômeno. Des-
sas observações resultará uma psicologia fenonzeno-
lógica." (Foulquie, 1977, p. 336). 
Enquanto se fala de uma possibilidade de psicolo-
gia fenomenológica, pode-se falar de um emaranhamento 
entre a psicologia e a psiquiatria, para o qual Van den berg 
(1966) utiliza a Fenomenologia numa releitura da psicopa-
tologia, estabelecendo críticas a conceitos empreendidos 
pela psiquiatria e pela psicanálise, tais como os mecanismos 
de defesa e o inconsciente. Dessa releitura a psicologia mui-
to se beneficia, principalmente para a possibilidade de apri-
moramento da psicoterapia. 
Concernentes à possibilidade de uma Psicoterapia 
Existencial, Angerami (1985), no trabalho que leva esse tí-
tulo, apresenta os pressupostos da Fenomenologia e do exis-
tencialismo. Ao realizar essa apresentação, o autor assume 
a associação entre as duas correntes filosóficas, para quem 
o Existencialismo tomou o seu método à Fenomenologia e 
o ponto de convergência entre essas correntes é Heidegger 
e Sartre. Também nesse trabalho, Angerami adverte quan-
to à proximidade entre psicologia e os pressupostos existen-
cialistas ao mesmo tempo que cita, por fim, os autores que 
diz fazerem uma convergência entre o pensamento existen-
çialista e a prática psicoterápica. São eles: Rollo May, Victor 
E. Frankl, Ludwig Biswanger, Medard Boss, J. H. Van den 
berg (já mencionado acima) e Ronald D. Laing. Numa re-
ferência às perspectivas de uma Psicoterapia Existencial, o 
autor diz serem elas "alvissareiras e obscuras". A primei-
ra pela possibilidade de se transformar a psicoterapia em 
uma prática "realmente humana" e a segunda pelo ostracis-
mo acadêmico que acredita serem legados os pressupostos 
existencialistas. Não fica claro se o autor faz referência es-
pecificamente ao Brasil, mas dado o que aqui foi disposto 
nos tópicos anteriores, pode-se afirmar que a leitura deste 
ostracismo no Brasil é perfeitamente possível. 
A esse respeito e como confirmação do que acima 
foi dito, registra-se não haver na maioria dos livros didáticos 
que se propõem ao estudo tanto da história quanto da apre-
sentação da psicologia (pode-se citar Schultz & Schultz, 
1994; Rosa, 1995; Marx & Hillix, 197311963; Bock, 1998; 
Dawidoff, 2001; Wittig, 1981) consideração aprofundada 
ou esclarecedora dos princípios fenomenológicos e de sua 
90 	 SILVÉRIO KARwowsKI 
	1,1 
correta utilização em psicologia. Pode-se conjeturar, a partir 
dessa observação, que isso se pode tributar à primazia da 
corrente psicanalítica que sempre despertou maior interes-
se na psicologia brasileira, e o predomínio do vínculo com 
a psicologia americana - pensamento na maioria das vezes, 
diametralmente oposto à reflexão de tradição européia. 
Feijoo (2000), por outro lado, realiza uma proposta de 
psicoterapia fenomenológico-existencial que se desenvolve 
"a partir dos pressupostos da filosofia da existência, 
do modo fenomenológico de investigação do ser, dos 
aspectos de comunicação envolvidos na psicotera-
pia e das articulações da filosofia com a psicologia." 
(Feijoo, 2000, p. 28). 
Nota-se na autora acima, a referência à Fenomeno-
logia como modo fenomenológico de investigação do ser. 
Essa denominação fundamentada na Fenomenologia hei-
deggeriana aponta em direção ao ultrapassamento realiza-
do pela Fenomenologia do campo psicológico ou psico-
terápico, ao mesmo tempo em que reafirma o aproveitamen-
to de um método fenomenológico. 
Uma leitura acurada dos textos acima, irá revelar 
uma tendência mais sartreana em psicoterapia, como pare-
ce ser o caso de Angerami (1985), e outra mais heidegge-
riana, como pode-se supor tratar-se Feijoo (2000). 
A psicologia fenomenológica no Brasil, a despeito 
do tempo vigente da Fenomenologia, ainda está em seus 
primórdios, e seus principais benefícios talvez ainda não 
tenham sido colhidos pela comunidade científica brasileira. 
III 
A QMe5to do Método 
em e5taIt-ter6Ipia 
D evido à Gestalt-terapia possuir uma tradição 
mais oral que escrita, o surgimento de questões 
referentes ao método fenomenológico na Gestalt-terapia 
está mais ligado a eventos científicos que à escassa biblio-
grafia destinada a discutir as mesmas de forma detalhada e 
aprofundada. 
Para exemplificar essa ocorrência e com o objetivo de 
contextualizar a construção e problematização do tema foca-
lizado, apresenta-se aqui de forma mais detalhada, um re-
lato sobre alguns acontecimentos mencionados na apresen-
tação desse trabalho e que levantaram, neste pesquisador, 
dúvidas suficientes para crer que a prática metodológica da 
Gestalt-terapia necessita uma consideração diferenciada. 
Em outubro de 1999 foi realizado o IV Congresso Na-
cional Da Abordagem Gestáltica, que contou também com um 
pré-congresso, cujo tema foi "1 Seminário Sobre Formação 
Profissional" destinado a coordenadores, supervisores e pro-
fessores na abordagem gestáltica. A intenção desse pré-con-

Mais conteúdos dessa disciplina