Buscar

leonard_schmitz__entre_produzir_provas_e_confirmar_hipoteses

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
ENTRE PRODUZIR PROVAS E CONFIRMAR HIPÓTESES: o risco do argumento 
da “busca da verdade real” na instrução e fundamentação das decisões 
TRA PRODUZIONE DI PROVE E CONRFERMA D’IPOTESI: il rischio nell'argomento della 
"ricerca della verità" nell’istruzione e motivazione delle decisioni 
Leonard Ziesemer Schmitz
1
 
 
Resumo: O presente artigo discorre sobre o pensamento, enraizado na cultura jurídica 
brasileira, de que a finalidade do processo seja a busca pela verdade, e de que o juiz está 
imbuído da tarefa de não se conformar com verdades “formais” para atingir a verdade 
“real” no julgamento de um caso concreto. 
Palvras-chave: Provas – poderes instrutórios – verdade real – ativismo – hermenêutica 
Riassunto: Questo articolo discute il pensiero, radicato nella cultura giuridica brasiliana, 
che lo scopo del processo sia la ricerca della verità, e che il giudice è impregnato con il 
compito di non accontentarsi di verità "formali" per raggiungere la verità "reale" nella 
decisione di un caso. 
Parole Chiavi: Prove – poteri istruttivi – verità reale – attivismo – ermeneutica 
Sumário: 1. Introdução – a verdade como argumento no discurso judicial – 2. Verdade(s) 
– estamos falando de algo com sentido para o direito? – 3. O juiz investigador e a 
impossibilidade de o intérprete se distanciar do Objeto de prova – 4. A falsa relação entre 
demonstração do convencimento e atingimento da verdade – 5. Os ônus de prova são uma 
blindagem contra a hipertrofia do convencimento judicial – 6. O discurso sedutor da busca 
da “verdade real” – 7. Para encerrar – o processo que busca a verdade e result oriented 
judgment – 8. Bibliografia 
 
1. Introdução – a verdade como argumento no discurso judicial 
 
1
 Doutorando em Direito Processual Civil na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). 
Mestre em Direito Processual Civil na PUC/SP. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa 
Catarina – UFSC, com estágios de pesquisa em Washington DC (George Washington University) e Padova 
(UNIPD/Itália). Advogado. 
2 
 
O presente estudo quer fazer considerações sobre o argumento, frequentemente 
presente no discurso jurídico, de que o resultado do processo é algo que deve se aproximar 
da “verdade”, e de que a atividade do juiz é voltada para a “busca da verdade”. Não é o 
intuito determinar filosoficamente qual o papel das várias conceituações de “verdade” no 
contexto do direito; não é também a intenção pensar, como faz a doutrina com muita 
propriedade, a respeito dos graus de verossimilhança que autorizam o juiz a tomar decisões 
ao longo do processo. A ideia deste artigo é mais singela: constatar que em inúmeras 
oportunidades o recurso à busca da verdade pode se constituir de um criptoargumento,
2
 
uma capa de legitimidade argumentativa que dá credibilidade a uma decisão judicial. 
A premissa da qual devemos partir é bastante simples. Trata-se da ideia, bastante 
difundida, de que a cognição exauriente, exercida pelo julgador após a fase instrutória 
suficiente, conduziria a uma certeza judicialmente aceita. Ou bem, não certeza no sentido 
inequívoco, mas a um grau elevadíssimo de proximidade à realidade, graças justamente à 
correta análise do conjunto probatório farto. 
Até aí, a ideia parece de todo acertada. O risco de ruptura sistêmica surge quando a 
comunidade jurídica (em especial a jurisprudência consolidada) confere à figura subjetiva 
do intérprete/juiz o papel de dizer se as provas dos autos conduzem à “certeza” que legitima 
o próprio procedimento. Quer dizer, é o juiz que, não se sentindo “convencido” do que está 
provado, assume a função de investigar os fatos para se certificar de como eles “realmente” 
ocorreram. E aí, sai em busca da “verdade real”, que seria tradutora da “justiça” da decisão. 
O cerne do que precisa ser discutido nos tópicos que se seguem é essa relação entre 
“verdade” e “justiça”, e mais ainda, a pertinência ou não desses conceitos ao ambiente 
processual. O processo não quer, isto é óbvio, ser inverídico ou injusto – e isso deveria ser 
óbvio. No entanto, é saudável dizer que o escopo do processo é a busca da “verdade” e a 
obtenção de “Justiça”? 
 
2
 O termo é utilizado por Friedrich Müller, para descrever o raciocínio que é demonstrativamente legítimo, 
mas pode esconder por trás de si outra espécie de motivação: Criptoargumentos dessa espécie encobrem 
quase sempre a Dezision enérgica, a ponderação irracional de valores ou passos convencionais de 
interpretação, não explicados por razões quaisquer” (MÜLLER, Friedrich. Teoria estruturante do direito. 
São Paulo: RT, 2008, p. 84). 
3 
 
Tendo isso em mente, o intuito do presente estudo é analisar alguns possíveis 
problemas do recurso argumentativo à busca da verdade no processo. Não se trata de 
discutir ou adotar uma ideologia mais “ativa” ou não no que diz respeito à postura dos 
juízes.
3
 Esse debate (ativismo, garantismo, poderes instrutórios amplos ou não) é 
necessário, mas não central ao argumento aqui desenvolvido. O que se quer é discutir se há 
ganho qualitativo e democrático em se admitir que o processo deve ser truth-oriented,
4
 ou 
se o recurso à “verdade”, inclusive atrelada à “justiça”, pode ser pernicioso na 
argumentação judicial. 
 
2. Verdade(s) – estamos falando de algo com sentido para o direito? 
É largamente difundido em direito processual (tanto penal quanto civil) a ideia de 
que “o processo moderno deve refletir a verdade real, a qual condiz com o interesse 
público de efetividade da justiça em detrimento do apego ao formalismo”.5 Instaurou-se, a 
partir dessa concepção, uma corrente de pensamento que acredita que, se os elementos 
constantes dos autos parecem ao julgador não refletirem aquilo que ele acredita ter 
ocorrido no caso, é possível extrapolar o formalismo e ir em busca da “verdade real”. 
O sistema processual (tanto o de 1973 quanto o de 2015) contribui para esse 
pensamento quando faz inúmeras referências à ideia de que as provas servem para 
comprovar a “verdade” dos fatos. Isso é visível, mesmo no CPC/15, nos arts. 319, IV (“A 
petição inicial indicará [...] as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos 
fatos alegados”); 369 (“Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda 
que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se 
funda a ação ou a defesa”); e 378 (“Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder 
Judiciário para o descobrimento da verdade”), dentre outros. 
 
3
 Sobre o incansável e polêmico embate entre ativistas e garantistas, ver: TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e 
Ativismo judicial: limites da atuação do Judiciário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. 
4
 É o que defende, de forma muito precisa e embasada, Vitor de Paula Ramos: “Devem-se desenvolver 
procedimentos que possam não só permitir que o juiz tenha condições de buscar a verdade com poderes 
instrutórios de ofício, mas também de regular a atividade das partes de modo a não permitir que essas 
‘atrapalhem’ ativa ou passivamente esse seu mister” (RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo 
civil: do ônus ao dever de provar. São Paulo: RT, 2015, 96) 
5
 STJ, AgRg nos EDcl no REsp 1374340/RN, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, 
julgado em 01/10/2013, DJe 09/10/2013. 
4 
 
Ademais, há farta doutrina sustentando que a busca da verdade é um dos objetivos 
centrais do próprio processo.
6
 Encontrar a verdade “real” seria algo que conduziria à 
“certeza” e “justeza” da decisão, e conformar-se com as provas dos autos, pelo contrário,levaria o juiz a prolatar uma decisão injusta. Essa concepção – que aqui foi simplificada 
para ser facilmente compreendida, mas é complexa e tem suas razões de ser – parte de uma 
falsa relação entre “verdade” e “justiça”, algo que já desde a primeira metade do século 
XX a teoria do direito busca superar.
7
 
A constatação de que a suposta “verdade” conduz a uma decisão “justa” carrega 
tantos subjetivismos quanto a semântica desses conceitos pode suportar. O que cabe dizer 
aqui sobre o tema é que a ideia de busca da “verdade real” pelo direito processual civil é na 
realidade uma artificialização da compreensão.
8
 O conceito de “verdade” trabalhado pela 
comunidade jurídica é aquele da teoria da correspondência (segundo o qual uma 
proposição é verdadeira se o estado das coisas às quais essa proposição dá sentido existir). 
No imaginário dos juristas, seria ainda possível capturar algo que é verdadeiro em 
essência, que é algo típico do paradigma da filosofia da consciência: “A verdade seria 
decorrência da captação de uma “essência” das coisas. Existiria, assim, um-mundo-em-si, 
cuja estrutura o jurista (no caso o juiz) pode apreender/conhecer através da razão e depois 
comunicar aos outros pela linguagem, via sentença judicial”.9 
 
6
 RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil: do ônus ao dever de provar. São Paulo: RT, 
2015, pp. 42/46. 
7
 A relativização dos conceitos de “verdade” e “Justiça” é, por exemplo, o ponto central da obra de Kelsen. 
Veja-se o seguinte trecho: “Não há nenhuma possibilidade racional de inferir, daquilo que é, aquilo que deve 
ser ou que deve ser feito. Uma vez que a bondade é inconcebível sem a maldade, não apenas o ser e a 
bondade, mas também o ser e a maldade são indissociáveis. Uma vez que, em si, o ser não contém nenhum 
critério que nos permita distinguir o bem do mal – o bem não é mais ou menos ‘ser’ do que o mal –, não é 
possível chegar ao conhecimento daquilo que devemos fazer através daquilo que somos; somos tão bons 
quanto maus” (KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 383). E ainda, Habermas: 
“A maneira de avaliar nossos valores e a maneira de decidir o que “é bom para nós” e o que “há de melhor”, 
caso a caso, tudo isso se altera de um dia paro o outro. Tão logo passássemos a considerar o princípio da 
igualdade jurídica mormente como um bem entre outros, os direitos individuais poderiam ser sacrificados 
caso a caso em favor de fins coletivos” (HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria 
política. São Paulo: Loyola, 2002, p. 356). 
8
 Já no início do século XX, a doutina mais anteta percebia que o respeito ao procedimento não leva à 
verdade: “o mais grave erro atribuído a essa doutrina vem a ser o seu fundamento, isto é, o princípio de que 
constitue finalidade do processo civil determinar a verdade objectiva existente em cada caso, e dahi concluir 
que a sentença quando não consegue attingi-la, deve reputar-se uma ficção dessa verdade, uma verdade ao 
menos para efeitos de direito” (ESTELLITA, Guilherme. Da cousa julgada: fundamento jurídico e extensão 
aos terceiros. Rio de Janeiro: s. ed., 1936, p. 36). 
9
 STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – a verdade real? – uma crítica ao sincretismo filosófico de terrae 
brasilis, cit., p. 367. 
5 
 
Já há mais de um século se sabe que, se todos nós só compreendemos o mundo 
que nos cerca a partir da linguagem, não existem mais Objetos puros à espera de serem 
acessados pelo Sujeito.
10
 Se os fatos (irrepetíveis) de um caso são acessados pelo intérprete 
processual apenas indiretamente, através da documentação dos autos, e já que é 
imprescindível o ato de interpretar essas provas, a reconstrução de uma verdade universal 
passa a ser uma ideia virtual, fictícia, inatingível. No contexto da intersubjetividade e da 
invasão da linguagem no pensamento, o conceito de “verdade” torna-se mais um artifício 
do que uma categoria central das certezas filosóficas. Se somos inevitavelmente permeados 
pela nossa linguagem, só é verdadeiro aquilo que o próprio contexto linguístico nos 
permite afirmar;
11
 não há racionalmente uma verdade no “mundo lá fora” a ser descoberta: 
A teoria da verdade como correspondência tenta inutilmente saltar para fora do 
domínio lógico-linguístico, dentro do qual unicamente a pretensão de validade 
dos actos de linguagem se pode explicar. Se assim é, não interessa que a 
‘verdade’ esteja numa determinada relação com ‘algo’ de que se possa dizer que 
é verdadeiro (aliás, segundo este entendimento, não há no discurso nenhum 
‘algo’). Apenas importa a relação de proposições: eis a teoria da verdade como 
consenso.
12
 
Por outro lado, parte da doutrina tem identificado nessa posição cética uma 
verifobia, capaz de rejeitar qualquer possibilidade de menção ao “real” e ao “falso” no 
campo do discurso jurídico. Por todos, é de se destacar a recente análise de Michele 
Taruffo em obra dedicada a esse tema. Taruffo critica o fato de que a filosofia pós-giro 
linguístico retirou toda credibilidade do conceito de “verdade” das ciências do 
conhecimento. Em contrapartida, defende o retorno do estudo da “verdade” a nível 
apofântico no âmbito do direito processual.
13
 
De toda forma, podemos passar ao largo de definir se isso é ou não é correto, pois 
mesmo que existam essências e verdades universais, muito frequentemente o discurso 
jurídico apela para a “verdade” apenas como elemento legitimador de um raciocínio pré-
fabricado. O compromisso com a “verdade” paira mais no plano argumentativo do que 
efetivamente epistemológico. 
 
10
 Sobre o tema, ver: OLIVEIRA, Manfredo Araújo. Reviravolta linguístico-pragmática na filofosia 
contemporânea. São Paulo: Loyola, 1996. 
11
 GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método, vol. 1. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 356. 
12
 KAUFMANN, Arthur. Filosofia do direito, 3ª ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2009, p. 421. 
13
 A crítica está em TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. São Paulo: 
Marcial Pons, 2012, especialmente pp. 95/104. 
6 
 
Assim, é de se concordar com William Santos Ferreira, quando diz que a verdade 
não é uma meta da sentença, mas dela uma expectativa
14
 – afinal ninguém imagina uma 
sentença que propositadamente foge da verdade. Tanto o é, que no caso de uma presunção 
legal relativa, o juiz julga com base no fato presumido, que nada mais é que uma 
probabilidade (= algo menos que a verdade). 
Para o presente estudo, não cabe exatamente definir a pertinência da “verdade” ao 
processo, mas apenas que não há maneiras objetivas de se determinar se o intérprete se 
aproxima ou se distancia dela. Afinal, se a teoria da argumentação legou ao direito a 
indeterminabilidade de seu conteúdo, e já que não podemos escapar da interpretação, o 
controle sobre a “essência” das coisas deixa de existir.15 A impossibilidade de se saber 
quando (e se) ocorre o atingimento dessa “verdade” faz com que a sua busca deixe de 
significar um objetivo do processo, e assume características retóricas. 
 
 3. O juiz investigador e a impossibilidade de o intérprete se distanciar do Objeto de 
prova 
O sistema processual civil funciona, em relação às alegações das partes, com base 
em ônus; a lei atribui a cada parte a responsabilidade de comprovar determinados fatos (arts 
333, I do CPC/73 e 373, I do CPC/15). O não cumprimento do ônus implica a sujeição a 
uma situação desfavorável a si mesmo.
16
 No caso dos ônus de prova, a situação 
desfavorável é o não reconhecimento de que a alegação é fundada. Cada fato alegado e não 
provado pode conduzir o juiz a relativizar – ou eliminar –sua aceitação em uma narrativa. 
Ocorre que o juiz pode, ele mesmo, determinar provas (arts. 130 do CPC/73 e 370 do 
CPC/15). 
 
14
 FERREIRA, William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: RT, 2014, p. 281. 
15
 A dura crítica ao argumento da “natureza das coisas” é vista em Müller: “Os teores jurídicos materiais nem 
de longe estão “contidos” nos elementos linguísticos das normas jurídicas, por sua natureza necessariamente 
imprecisos, de tal modo que poderiam ser transformados em conclusões lógicas. Conceitos jurídicos não 
reificam os teores normativos e materiais, aos quais eles se referem, e prestam-se, como todos os conceitos de 
línguas naturais, apenas a um exame dos seus respectivos modos de utilização e da delimitação tão confiável 
quanto possível destes últimos. O conceito dogmático tem mero valor de signo. Diante de conteúdos 
“metajurídicos”, regras jurídicas e figuras jurídicas positivas são tudo menos autônomas; como “juízo 
hipotético”, elas são em princípio interpretadas erroneamente” (MÜLLER, Friedrich. Teoria Estruturante do 
Direito, cit., p. 49). 
16
 CARNELUTTI, Francesco. Sistema di diritto processual civile, vol. 2. Padova: Cedam, 1936, p. 73. 
7 
 
A possibilidade da prova de ofício significa que o código quer que decisões de 
mérito sejam adequadamente baseadas nos fatos ocorridos no caso. No entanto, a prova 
determinada pelo juiz precisa ser vista com muitíssimo cuidado. O risco que se corre é a 
autorização de que o juiz, ao ordenar a realização de uma determinada prova, esteja atrás de 
confirmações para hipóteses já formuladas. Vitor de Paula Ramos chama a atenção, 
inclusive, para uma possível comparação entre o direito e outros ramos da ciência: 
Em campos de conhecimento humano afastados do processo judicial, quando não 
há provas suficientemente boas, a saída sugerida pela epistemologia é a busca 
por mais provas; justamente porque algo corroborado por poucas provas confere, 
em geral, um grau de justificação muito pequeno.
17
 
O paralelo é interessante: em qualquer ramo da ciência, o investigador estabelece 
uma hipótese e empiricamente segue à sua confirmação. Mas será mesmo que essa analogia 
– entre o juiz e outros “cientistas” – é saudável e significativa para explicar o fenômeno da 
cognição processual? Aliás, há ganhos qualitativos e democráticos na tentativa de 
relacionar o direito processual civil (e a atividade do juiz) a outros ramos da ciência?
18
 
Pensar o processo como ciência e desbordar esse pensamento para a decisão 
judicial como fruto de constatações empíricas não só transforma o juiz em inequívoco 
buscador da “verdade” como institui que essa tal “verdade”, encontrada pelo Sujeito 
intérprete, conduz a uma “certeza” que corresponderia à decisão legítima de um caso. Aí o 
conhecimento jurídico deixa de ser histórico/interpretativo e passa a ser matemático, nos 
termos da filosofia do conhecimento: 
A expressão ‘o matemático’ tem sempre dois sentidos: significa, em primeiro 
lugar, o que se pode aprender do modo já referido e somente desse modo; em 
segundo lugar, o modo do próprio aprender e do proceder. O matemático é 
aquilo que há de manifesto nas coisas, em que sempre nos movimentamos e de 
acordo com o qual experimentamos como coisas e como coisas de tal gênero.
19
 
É matemático aquilo que é conhecido através de um método, um procedimento de 
regras pré-definidas. O matemático é algo que é dado, cujo conteúdo “verdadeiro” se 
 
17
 RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil, cit., p. 43. 
18
 Veja-se, a título de curiosidade, a metáfora de Beclaute Oliveira Silva. “O aplicador e/ou intérprete do 
direito atua como uma espécie de químico. Se ele toma dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, tem-se a 
fórmula química da água: H2O. Caso se tomem dois átomos de hidrogênio e dois de oxigênio, tem-se a 
fórmula química da água oxigenada: H2O2. Este mesmo processo de aglutinação, mutatis mutandis, se dá 
com as significações e, por conta dele, deve o aplicador explicar como chegou à combinação final mediante a 
fundamentação da decisão (sentença) final” (SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à motivação 
da decisão judicial. Salvador: Juspodivm, 2007, p. 44). 
19
 HEIDEGGER, Martin. Que é uma coisa? Lisboa: 70, 1994, p. 82. 
8 
 
desvela através do procedimento. O método, nesse contexto, é uma estrutura 
autossuficiente, é algo que promete resolver, de forma completa, a interpretação que o 
homem faz para conhecer textos e objetos. Ocorre que o procedimento matemático apenas 
teria sentido se falássemos nas coisas em sua essência, em sua natureza incontestável. E aí 
surge o problema de relacionar a definitividade do juízo da decisão e a “verdade”. 
Se o homem depende da linguagem para compreender o mundo, e a linguagem é 
algo construído intersubjetivamente através do tempo, a compreensão das coisas pelo 
homem dá-se de modo histórico. No entanto, a história não é um método, e tampouco o é a 
linguagem; tratam-se de condições de possibilidade. Quando um intérprete se depara com 
um texto (ou com os fatos e as provas de um caso), ele não procede de maneira teorizada, 
metodologicamente, pois o homem não consegue (mesmo que, em vão, queira) 
desvincular-se de sua própria facticidade e da sua própria história. Quando dizemos que 
algo é, em algum momento já pretendemos compreender como esse algo é, e o homem 
quando acessa algum objeto já o faz antecipando, tentando prever o que ele é: 
Há, em toda ação humana, uma compreensão antecipadora do ser que permite 
que o homem se movimente no mundo para além de um agir no universo 
meramente empírico, ligado a objetos. Nos relacionamos com as coisas, com o 
empírico, porque de algum modo já sabemos o quê e como elas são.
20
 
No campo do direito, a matematização e o racionalismo são herança cartesiana. O 
raciocínio dedutivo, aliás, é de todo modo confortante aos ramos do conhecimento, pois 
externa sempre a aparência de se autolegitimar – a ciência dá resultados plausíveis para 
conclusões dedutivas, o que reduz o espaço de crítica e, mais grave, retira a dimensão 
hermenêutica do fenômeno jurídico. Paul Feyerabend, ao falar sobre as ciências de modo 
geral (mas de forma aplicável à ciência jurídica), conclui algo que em muito se aproxima 
com o que foi exposto nesse tópico: 
A ciência aproxima-se do mito, muito mais do que uma filosofia científica se 
inclinaria a admitir. A ciência é uma das muitas formas de pensamento 
desenvolvidas pelo homem e não necessariamente a melhor. Chama a atenção, é 
ruidosa e imprudente, mas só inerentemente superior aos olhos daqueles que já 
se hajam decidido favoravelmente a certa ideologia ou que já a tenham aceito, 
sem sequer examinar suas conveniências e limitações.
21
 
 
20
 STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise, 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2011, 
p. 241. 
21
 FEYRABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977, p. 447. 
9 
 
O paradigma do racionalismo e da modernidade legou à humanidade esse aspecto 
quase místico da ciência, como ramo de conhecimento superdotado. Vale aqui fazer uso de 
uma passagem cômica para auxiliar a compreender o aspecto confortante que a ciência dá 
ao conhecimento humano. Voltaire, na célebre obra “Cândido ou o otimismo”, conta que o 
protagonista, Cândido, voltou da América do Sul para a Europa com “carneiros de lã 
vermelha” – que na verdade eram lhamas, desconhecidas para os europeus. A certo ponto 
da história, Cândido se vê obrigado a prosseguir viagem sozinho, e “sóficou desgostoso 
por ter de separar-se de seu carneiro, deixado para a Academia de Ciência de Bordéus, que 
propôs como tema do prêmio daquele ano que se descobrisse por que a lã daquele carneiro 
era vermelha. E o prêmio foi atribuído a um sábio do Norte, que demonstrou, por A mais 
B, menos C, dividido por Z, que o carneiro devia ser vermelho”.22 
A comunidade jurídica como um todo, e a processualística em especial, parece ter 
apostado em soluções que transformam o ambiente de diálogo do processo em um jogo de 
demonstrações científicas.
23
 Ocorre que, em todo raciocínio científico/metodológico, o 
Sujeito já antevê (ou imagina, de todo modo) o resultado possível da própria pesquisa. 
Quer dizer, o próprio intérprete não pode determinar os fatos que merecem comprovação 
adicional, por ser impossível que nessa determinação já não resida um juízo sobre o 
resultado da prova. Esse “falseamento ingênuo”24 do raciocínio demonstra que todo e 
qualquer intérprete (aí incluídos os sujeitos do processo e o juiz) já interpreta os fatos de 
um caso imaginando seu possível resultado. Quando o juiz analisa as provas requeridas e 
produzidas pelas partes e não tem condições de dar certeza ao seu julgamento, é pernicioso 
que se sinta na obrigação de ir em busca de mais provas. Afinal o papel do julgador não é 
confirmar hipóteses – e muito menos ir atrás do que ele acredita ser “verdadeiro”. Por 
 
22
 Voltaire. Cândido, ou o otimismo. São Paulo: Abril, 2010, p. 89. 
23
 Ovídio Araújo Baptista da Silva aponta, nesse contexto, a necessidade do “reconhecimento de que o 
Direito não pode submeter-se aos princípios epistemológicos das ciências naturais e menos ainda das 
matemáticas”. Segundo o processualista gaúcho, o modelo cientificista do direito reduz o conhecimento do 
fenômeno jurídico “apenas àquele próprio das ciências de pesar, medir e contar” (SILVA, Ovídio Araújo 
Baptista. Fundamentação das sentenças como garantia constitucional. In: Revista magister de direito civil e 
processual civil, vol. 10. Porto Alegre: Magister, jan/fev. 2006, p. 5) 
24
 “A ideia é prejudicial à ciência, pois leva a ignorar as complexas condições físicas e históricas que 
exercem influência sobre a evolução científica. Torna a ciência menos plástica e mais dogmática: cada qual 
das regras metodológicas se vê associada a pressupostos cosmológicos, de modo que, recorrendo à regra, 
damos por admitido que os pressupostos sejam corretos. O falseamento ingênuo dá por admitido que as leis 
da natureza se apresentem de maneira clara e não oculta por perturbações de magnitude considerável” 
(FEYERABEND, Paul. Contra o método, cit., p. 449). 
10 
 
óbvio, a intenção é louvável, mas o recurso à verdade foge da verificabilidade, pelas partes, 
do raciocínio judicial. 
Nesse ponto, cabe diferenciar as ciências exatas, que operam na dinâmica das 
verificações empíricas e confirmações a posteiori do raciocínio, dos ramos históricos de 
conhecimento como o direito, que se submetem a um funcionamento mais complexo. A 
leitura de Oswaldo Giacóia sobre essa diferenciação é bastante interessante, levando em 
conta uma distinção conceitual entre explicar (Erklären) e compreender (Verstehen): “No 
caso das ciências formais, explicar consiste em deduzir propriedades a partir de definições 
prévias, de acordo com axiomas ou proposições evidentes”.25 Já as “Geisteswissenschaften 
(ciências do espírito, da cultura, ou ciências humanas), por sua vez, têm na compreensão 
sua categoria fundamental e não procedem por explicação nem por dedução de 
consequências a partir de princípios ou definições”.26 Especificamente sobre a observação 
(pesquisa) que o sujeito (cientista) faz do objeto (fatos e provas de um caso), veja-se: 
Na interpretação do sentido, o próprio cientista (sujeito), com seu lastro subjetivo 
de estimativas de valor, nunca pode ser separado inteiramente do objeto a ser 
interpretado, de modo que um teor de subjetividade não pode ser retirado das 
ciências da cultura, ao contrário do que ocorre com as ciências formais 
(matemática) e as ciências da natureza, cujas explicações se pretendem fundadas 
apenas na objetividade dos fatos, sem interferência subjetiva (valorativa) por 
parte do cientista.
27
 
O julgador, nesse caso, mesmo que inconscientemente assume o papel de Sujeito 
destacado do seu Objeto (e por isso se insere em um contexto matemático de conhecimento) 
quando constata que as provas dos autos não representam a “verdade” do caso. Ao abordar 
o fenômeno por esse aspecto, o juiz involuntariamente falseia seu próprio raciocínio. 
 
4. A falsa relação entre demonstração do convencimento e atingimento da verdade 
 
25
 “De modo geral, explicar consiste em identificar relações constantes entre fenômenos ou séries de eventos, 
cuja regra geral tem a forma lógica da ligação entre causa e efeito. Consiste em enquadrar fenômenos nesse 
esquema formal, de modo que, para as ciências naturais, a natureza é concebida como um sistema de relações 
entre fatos, ligados entre si de acordo com certas regras invariáveis, fundadas em princípios universais” 
(GIACÓIA Jr, Oswaldo. Heidegger urgente. São Paulo: Três estrelas, 2013, p. 31) 
26
 Idem, ibidem. 
27
 Idem, ibidem. 
11 
 
É preciso mencionar, nesse ponto, a categoria do convencimento judicial, utilizada 
muitas vezes em situações que vão além do que o próprio conceito suporta. Dizer que algo 
está provado equivaleria a dizer que o juiz está convencido de uma determinada alegação de 
fato? Ainda mais, dizer-se não convencido de determinada alegação importa admitir que as 
provas dos autos não refletem a “verdade” do caso? 
A resposta parece ser negativa. Segundo Vitor de Paula Ramos, relacionar 
convencimento e legitimidade da decisão tem estreita ligação com a clássica ideia de que as 
provas eram produzidas pelas partes para o juiz. “Era o juiz quem deveria estar convencido 
sobre os fatos da causa. A prova tinha uma única direção: das partes para o juiz, seu 
destinatário exclusivo. [...] para a processualística do século XX, e para muitas importantes 
vozes da doutrina atual, o sentido de ‘está provado’ significa ‘o juiz está convencido”.28 
Situando o problema, veja-se o art. 131 do CPC/73, que fala em apreciação “livre” 
da prova e da indicação dos motivos que formaram o “convencimento” do julgador. Daí se 
pode extrair, tão somente, uma ruptura com o antigo e defasado sistema tarifário de provas, 
onde havia regras legais para a valoração de umas e outras espécies probatórias.
29
 
É equivocado retirar desse dispositivo ou do sistema processual a ideia de que 
quem define a completude das provas de uma demanda é o juiz, que diz estar ou não 
convencido das alegações. Quem faz esse alerta é Pontes de Miranda: “o inconveniente do 
princípio da livre apreciação, sem limites claros, é o de aumentar enormemente a 
responsabilidade do juiz, ao mesmo tempo que abre a porta às impressões pessoais, às suas 
convicções de classe ou políticas, às suas tendências de clã ou de clube”.30 
Fala-se aí de um “princípio do livre convencimento motivado”.31 A ideia de que o 
convencimento é “livre” tem consequências práticas, como por exemplo dizer-se que o juiz 
 
28
 RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil, cit., pp. 74/75. E ainda: “A figura do juiz estava 
“colocada como o cerne de toda a apuração dos fatos, como destinatário da prova, fonte imperscrutável do 
que poderia ser considerado provado e ‘metro’ para a análise da ‘suficiência’ do ‘convencimento” (Idem, p. 
74). 
29
 Assim, como diz Giuseppe Chiovenda, “Il diritto moderno há respintoin massima il sistema della prova 
legale, adotando il principio che la convinzione del giudice debba formarsi liberamente” (CHIOVENDA, 
Giuseppe. Istituzioni di diritto processuale civile, vol II. Napoli: Eugenio Jovene, 1936, p. 426). 
30
 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil, tomo II. Rio de 
Janeiro: Forense, 1973, p. 380. 
31
 STJ, AgRg no REsp 1455219/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado 
em 12/08/2014, DJe 19/08/2014. 
12 
 
só estaria obrigado a enfrentar as questões que lhe pareçam mais necessárias em um caso 
concreto: “Nos termos da jurisprudência desta Corte, o órgão julgador não é obrigado a se 
manifestar sobre todos os pontos alegados pelas partes, mas somente sobre aqueles que 
entender necessários para o julgamento do feito, de acordo com seu livre convencimento 
fundamentado, não caracterizando omissão ou ofensa à legislação infraconstitucional o 
resultado diferente do pretendido pela parte”.32 A crítica é bem feita por Robson Godinho: 
O pensamento persiste na antiga crença de que a prova serve unicamente à 
formação do convencimento do juiz e autoriza que a fundamentação indique 
apenas o que lhe formou o convencimento, desobrigando, aparentemente, da 
atividade de um exame completo do material probatório”.33 
Ora, o convencimento formado pelo juiz não tem relação alguma com os 
fundamentos das partes que precisam constar da motivação da sentença. Se assim fosse, 
qualquer das razões constantes do processo (de qualquer uma das partes) poderia ser a 
única analisada, tendo o julgador se convencido do seu cabimento ou não. Se uma das 
tantas razões apresentadas pelo autor não foi suficiente para convencer, o pedido seria 
julgado improcedente – e o mesmo com o réu, em sentido inverso. Por isso o alerta: falar 
de justificativa de convencimento judicial é falar sobre a persuasão sobre o valor das 
provas dos autos. Nada mais que isso. 
Outro reflexo direto da hipertrofia do convencimento como categoria da certeza é 
sobre a maneira como são deferidas ou indeferidas determinadas provas, tendo como base 
somente aquilo que o intérprete crê que possa influenciar seu próprio convencimento sobre 
a matéria: “A orientação da Corte de origem, em princípio, está em consonância com a 
jurisprudência do STJ ao proclamar que o Código de Processo Civil não impõe uma 
obrigação e, sim, faculta ao juiz determinar a realização de provas a qualquer tempo, 
conforme o seu livre convencimento”.34 Teria mesmo o convencimento de um intérprete o 
condão de impor o conteúdo de uma decisão judicial, tendo em vista toda a 
responsabilidade democrática e institucional envolvida no ato de fundamentar essa mesma 
decisão? Veja-se o seguinte trecho de julgado: 
 
32
 STJ, EDcl no AgRg no AREsp 213.200/DF, Rel. Min. CAMPOS MARQUES, Quinta Turma, DJe 
26/04/2013. 
33
 GODINHO, Robson Renault. Reflexões sobre os poderes instrutórios do juiz. In: Revista de Processo, vol. 
235. São Paulo: RT, set/2014. 
34
 STJ, AgRg na MC 21.665/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 
07/08/2014, DJe 19/08/2014. 
13 
 
Conclusões periciais não têm o condão de, em hipótese alguma, excluir do 
julgador a condição de intérprete último dos fatos e de proferir a decisão de 
acordo com a sua convicção íntima, tal como resulta da dicção do art. 436, do 
Código de Processo Civil. [...] Destarte, ostentando os autos prova segura e 
contundente a favor do direito buscado pela parte autora, é dado ao magistrado, 
com fundamento no princípio do livre convencimento motivado, inclinar a sua 
decisão em sentido contrário ao das conclusões técnicas produzidas no 
processo.
35
 
De acordo com o trecho acima, o magistrado estaria livre para rejeitar provas 
periciais (que contêm conhecimentos técnicos que, via de regra, o juiz não possui) em 
nome do seu “livre” convencimento. Está-se diante de um super-argumento de autoridade, 
usado para legitimar uma vontade subjetiva. Muito ao contrário, na realidade “a prova 
serve muito mais à elaboração do discurso justificativo do que propriamente à formação do 
convencimento do juiz”.36 
Quer dizer, o juiz pode, sim, distanciar-se da conclusão do laudo pericial, mas não 
em nome de seu próprio convencimento ou da “verdade”. Por esse motivo, o art. 436 do 
CPC/73
37
 foi substituído, no CPC/15, pelo art. 479: “O juiz apreciará a prova pericial de 
acordo com o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a 
considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método 
utilizado pelo perito”. Apenas as conclusões não técnicas do perito podem ser 
desconsideradas pelo juiz; as demais, se não forem bastantes, dão azo a uma segunda 
perícia (art. 480 do CPC/15), mas não a uma negação da expertise do perito.
38
 
Dito de outra maneira: a categoria do “convencimento judicial” não pode, de 
forma alguma, tornar-se uma pedra-de-toque epistemológica, a ponto de justificar uma 
decisão tomada com base nas convicções de quem julga.
39
 E ainda mais, a controlabilidade 
 
35
 TJSC, Apelação Cível n. 2011.002997-0, Rel. Des. Trindade dos Santos, 2ª Câmara de Direito Civil, 
julgado em 02/08/2012. 
36
 HARTMANN, Érica de Oliveira. A parcialidade do controle jurisdicional da motivação das decisões, cit., 
p. 142. 
37
 “O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos 
provados nos autos”. 
38
 LOPES, João Baptista. Iniciativas probatórias do juiz e os arts. 130 e 333 do CPC. In: Revista dos 
Tribunais, vol. 716. São Paulo: RT, out/2011, pp. 41/47, p. 45. 
39
 É a crítica feita por Gabriel Rangel: “o princípio do ‘livre convencimento’ é uma verdadeira balbúrdia 
jurídica, que vem sendo interpretado como um cheque em branco para o atuar dos juízes em valorar tudo na 
forma com que bem quiser” (RANGEL, Gabriel Dolabela Raemy. A legitimidade do poder judiciário no 
regime democrático. São Paulo: Laços, 2014, p. 81). 
14 
 
da decisão que se baseia no “estou convencido” dito pelo juiz é virtualmente impossível 
pelas partes. 
É nesse momento que o “convencimento” precisa ser bem entendido. Um caso 
concreto levado ao Judiciário não pode ser resolvido de uma ou outra maneira a depender 
do convencimento judicial, como aponta Calmon de Passos: 
O juiz diz o direito, não um direito que ele constrói livre e discricionariamente, 
mas direito que se faz norma particular, específica do caso concreto, construída a 
partir dos enfoques e nos limites oferecidos a ele, magistrado, pelo ordenamento 
jurídico. Diria, para usar colocação menos técnica e mais estética, que o juiz é 
um prisioneiro que dispõe de muito espaço para realizar a sua liberdade.
40
 
Por óbvio, a análise de um caso concreto envolve confrontar os fatos e as provas 
apresentadas com o que determina o ordenamento, e nessa atividade, muitas vezes a 
vontade pessoal do intérprete não coincidirá com o que seja a solução mais adequada; 
deverá, assim, julgar contra as suas preferências pessoais. Arruda Alvim adverte sobre isso 
que “muitas vezes, o magistrado vê-se na contingência de decidir não rigorosamente de 
acordo com o seu pensamento”.41 
 
5. Os ônus de prova são uma blindagem contra a hipertrofia do convencimento 
judicial 
O fato de o intérprete de uma questão jurídica estar convencido de uma 
determinada solução não é suficiente para que ela seja tomada, pois direito não é aquilo 
que o intérprete quer que ele seja.
42
 Nesse contexto, Alfredo Rocco, já no início do século 
XX, faz um questionamento pertinente: “como deverácomportar-se o juiz quando 
 
40
 PASSOS, José Joaquim Calmon de. O devido processo legal e o duplo grau de jurisdição. in: In: Ensaios e 
artigos, vol. 1. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 54. 
41
 ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. São Paulo: RT, 2013, p. 
1135. 
42
 O convencimento, a crença pessoal do juiz a respeito dos fatos deve ser deixada de lado, verificando-se o 
que está realmente provado objetivamente. Afinal, o fato do juiz ‘ser adepto’ de alguma hipótese não a torna 
mais ou menos passível de verdade. (RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil, cit., p. 34). 
15 
 
nenhuma das partes haja provado seu argumento e ele não tenha logrado formar um 
convencimento sobre a existência ou inexistência da relação que se trata de acertar?”43 
Na realidade, essa situação seria problemática apenas se for mantida a crença de 
que é o convencimento judicial que deve informar quando há provas suficientes para 
julgar. Se as partes (e não o juiz) forem percebidas como destinatárias da instrução 
probatória,
44
 ficará claro que a própria lei já prevê, quando distribui os ônus de provar, 
como deve proceder o julgador em relação a fatos não provados. Assim, à exceção das 
hipóteses de inversão legal de ônus de prova, se o autor não comprova fato constitutivo do 
seu direito, o pedido formulado inexoravelmente deve ser julgado improcedente. Da 
mesma forma, uma vez comprovados os fatos constitutivos, se é o réu não comprovar fatos 
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor, é a sua versão fática que deve 
ser rechaçada, de forma que o pedido será julgado procedente. Por mais simplória que essa 
solução possa parecer, encarar a questão de outro modo é temerário. 
São as regras dos ônus de prova que definem quem deve se desincumbir de 
comprovar cada espécie de fato. Quem diverge disso crê em uma postura mais ativa do 
juiz. Veja-se, como exemplo o trecho abaixo: 
Se ele [o juiz] verifica que, por qualquer motivo, provas importantes, necessárias 
ao esclarecimento dos fatos, não foram apresentadas, deve, ex officio, determinar 
sua produção. Com isso não estará beneficiando qualquer das partes, mas 
proporcionando um real equilíbrio entre elas, além de impedir que prevaleça no 
processo apenas o raciocínio dialético, segundo o qual não importam a verdade e 
a justiça, mas a vitória.
45
 
É o retrato do juiz investigador, que sabe dizer o que é a “verdade” e o que é 
“injusto”. Um julgador que, mesmo bem intencionado, não se dá conta da própria 
discricionariedade. O fato de o julgador não se sentir convencido da versão apresentada 
pelo autor dos fatos constitutivos do seu direito não o autoriza a ir em busca de mais 
subsídios, produzindo outras provas oficiosamente. É justamente para estabelecer uma 
regra de julgamento que existe a distribuição legal dos ônus de prova; do contrário, aí sim, 
 
43
 “Ma come dovrà comportarsi il giudice quando nessuna delle parti abbia provato il suo assunto ed edgli 
non abbia potuto formarsi una convizione sulla esistenza o non esistenza del rapporto, che si tratta di 
accertare?” (ROCCO, Alfredo. La sentenza civile. Milano: Griuffrè, 1962, p. 102). 
44
 Sobre o tema, ver: NERY Jr, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Comentários ao código de processo 
civil. São Paulo: RT, 2015, p. 984 
45
 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz, 5a. ed. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2011. p. 75-76. 
16 
 
não haveria controle sobre a discricionariedade e sobre a formação do convencimento em 
relação às provas. 
As provas devem ingressar discursivamente na fundamentação, tendo em vista 
sempre que se prestam a documentar ou atestar determinados fatos controvertidos. O 
porquê da utilização (e da não utilização) de cada prova merece atenção específica. Veja-se 
o que diz Arruda Alvim: “o livre convencimento motivado envolve, imprescindivelmente, 
a ideia de sopesamento das provas, e, para isso, todas elas haverão de ser, necessariamente, 
avaliadas, aceitando-se umas com poder de convicção e outras não, mas necessariamente 
se dizendo por que não são aceitas”.46 É nesse contexto que o Novo CPC, ao reproduzir no 
seu art. 371 o que o CPC de 1973 dispõe no art. 131, diz que o juiz “apreciará a prova 
constante dos autos”, suprimindo propositadamente a palavra livremente. Se há motivação, 
e se há vinculação ao debate e às provas, não há “livre convencimento”. A alteração é 
muito importante. Pois elimina do contexto probatório essa importância dada à convicção, 
e faz retornar ao objeto central da instrução a responsabilidade pelos ônus assumidos pelas 
partes: 
O juiz, repete a lei nossa, julgará segundo o que achar provado de uma e da outra 
parte, ainda que lhe a consciência dite outra coisa, e ele saiba a verdade ser em 
contrário do que no feito fôr provado”.47 
Não se trata de ignorar a verdade e exaltar o brocardo “o que não está nos autos, 
não está no mundo”. O fato é que a verificabilidade de a “consciência” do juiz ter a 
“certeza” de que o fato ocorreu de outra maneira é algo que leva à discricionariedade. A 
menos que na própria fundamentação a insuficiência das provas for demonstrada 
objetivamente, o recurso ao argumento de que o juiz não está convencido por saber não ter 
ocorrido daquela maneira não é legítimo. 
Aí a dimensão acertada do convencimento, que por ser motivado deixa de ser 
“livre”. Para finalizar, vejam-se as precisas palavras de Lenio Streck: “em um direito 
democrático, o juiz não deve “explicar” aquilo que o “convenceu”… Ele deve, sim, 
explicitar os motivos de sua compreensão, oferecendo uma justificação (fundamentação) 
 
46
 ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Nulidade de acórdão e de sentença. In: ______, José Manoel. 
Direito processual civil, vol. 1. São Paulo: RT, 2001, p. 240. 
47
 MONTEIRO, João. Teoria do processo civil, 6ª ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1956, p. 281 
17 
 
de sua interpretação, na perspectiva de demonstrar como a interpretação oferecida por ele é 
a melhor para aquele caso”.48 
 
 
6. O discurso sedutor da busca da “verdade real” 
O argumento de que o juiz não pode se contentar com uma “verdade” meramente 
formal é esteticamente muito atraente. O recurso à busca pela verdade se põe como 
contraposto a uma visão excessivamente formalista na qual não seria dado ao julgador 
decidir além daquilo que esteja comprovado nos autos. Diz-se que, se preso à verdade 
meramente formal, o juiz seria um “convidado de pedra”, imóvel e inerte. Já se partir em 
busca da verdade “real”, assumiria o papel de “diretor material do processo”.49 A doutrina 
de modo geral reproduz essa ideia da seguinte maneira: 
A qualidade da prestação da tutela jurisdicional, em atenção ao ‘modelo 
constitucional do direito processual civil’, não pode tolerar qualquer outro 
comprometimento do magistrado que não a busca da ‘verdade real’, isto é, a 
‘verdade’, que no seu íntimo corresponda àquilo que realmente aconteceu no 
plano exterior ao processo e, por ter acontecido, acabou por motivar a 
necessidade da atuação do Estado-juiz para prestar tutela jurisdicional.
50
 
A verdade “real” é, assim, frequentemente contraposta à verdade “formal”, que 
seria uma noção que confessadamente não refletiria “aquilo que realmente aconteceu”. A 
jurisprudência que se formou a partir disso relaciona a superação do juiz como boca-da-lei 
como o motivo pelo qual o julgador não poderia se conformar com legalidades “injustas” e 
deveria ir em busca da “verdade real”, refletidora do sentido de “justiça”. Veja-seo 
seguinte julgado do STJ: “Antes do compromisso com a lei, o magistrado tem um 
compromisso com a Justiça e com o alcance da função social do processo para que este não 
 
48
 STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – a verdade real? – uma crítica ao sincretismo filosófico de terrae 
brasilis. in: Revista dos Tribunais, vol. 921. São Paulo: RT, jul/2012, p. 379. 
49
 LOPES, João Baptista. Iniciativas probatórias do juiz e os arts. 130 e 333 do CPC. In: Revista dos 
Tribunais, vol. 716. São Paulo: RT, out/2011, pp. 41/47, p. 43. 
50
 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Procedimento comum: 
ordinário e sumário. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. p. 236. Da mesma forma, em comentário ao art. 130, 
do Código de Processo Civil: “O dispositivo em exame, sem a menor distinção, confere ao juiz poderes de 
iniciativa na instrução, pois, no processo moderno, publicístico, o que se objetiva, fundamentalmente, é 
alcançar a verdade” (DALL’AGNOL, Antônio. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. 2. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 131-132). 
18 
 
se torne um instrumento de restrita observância da forma se distanciando da necessária 
busca pela verdade real, coibindo-se o excessivo formalismo”.51 
Parece que a comunidade jurídica tenta contrapor modelos de juiz, separando o 
mero burocrata daquele que se sente capaz de captar o sentimento da comunidade em que 
está inserido.
52
 Nesse sentido, certa parcela da doutrina brasileira escora-se em argumentos 
do tipo: “não é admissível um Judiciário que permaneça encastelado, a decidir, 
comodamente, apenas conflitos privados sem maior expressão, perante a realidade 
sociopolítica dos dias presentes. [...] é preciso um Judiciário que não se abstenha perante 
esses poderes agigantados, mas que tenha condições para enfrentá-los em patamar de 
igualdade”.53 
Posto o problema dessa maneira, sua resposta parece pender para o lado do juiz 
preocupado com a Justiça, em detrimento do burocrata frio que julga conforme os ônus de 
prova. Como vimos nos tópicos acima, no entanto, a mera ideia do “modelo de juiz” 
comprometido com a “verdade” é desde já uma situação de perda de controle 
hermenêutico. 
Ainda nesse aspecto, deixe-se claro que também não se justificaria o argumento 
de que direitos indisponíveis reclamam uma atuação mais árdua em busca da verdade, ao 
passo em que os disponíveis são mera liberalidade probatória das partes.
54
 A 
disponibilidade ou não do direito também não tem a ver com a verdade. Poderia ter a ver 
com a produção de provas de ofício, mas não com a verdade. O interesse público na 
 
51
 STJ, REsp 331550/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/02/2002, 
DJ 25/03/2002, p. 278. 
52
 O discurso que avoca uma postura “ativa” dos juízes parte de um binômio entre o juiz “burocrata”, frio e 
alheio à realidade, e aquele que toma partido e, ativamente, busca um ideal de “justiça”. Veja-se, sobre isso, a 
opinião de João Baptista Herkenhoff, que considera o juiz “um poeta, alguém que morre de dores que não são 
suas, alguém que vive o drama do processo, [...] alguém que capta os sentimentos e aspirações da 
comunidade, alguém que incorpora na sua alma e na própria vida a fome de justiça do povo a que serve”. 
Diferentemente, segundo o mesmo autor, haveria o juiz distante, alheio, tomado pela “carência do idealismo 
e da paixão que tornariam seu ofício uma aventura digna da dedicação de uma existência” (Apud PRATO, 
Lídia Reis de Almeida. O juiz e a emoção. Campinas: Millennium, 2003, p. 93). 
53
 Silvio Dobrowlsky. A necessidade de ativismo judicial no estado contemporâneo, apud SILVA, Ana de 
Lourdes Coutinho. Motivação das decisões judiciais. São Paulo: Atlas, 2012, p. 26 
54
 “Como cabe às partes a disposição das suas relações privadas, dessa estrita perspectiva pareceria natural 
que também toda iniciativa processual deveria depender dessa mesma liberdade” (WAMBIER, Luiz 
Rodrigues; SANTOS, Evaristo Aragão. Sobre o ponto de equilíbrio entre a atividade instrutória do juiz e o 
ônus da parte de provar. In: MEDIN, José Miguel Garcia, et al. (coords). Os poderes do juiz e o controle das 
decisões judiciais. São Paulo: RT, 2008, p, 158). 
19 
 
verdade ocorre mesmo com direitos disponíveis. A justiça não deve ser “maior” para os 
direitos indisponíveis. Por esse mesmo motivo, José Carlos Barbosa Moreira defende que a 
cognição do juiz no processo penal (que cuida de direitos sabidamente indisponíveis ou 
menos próximos à disposição das partes) não pode ser diferente da do processo civil, 
apenas pela natureza do objeto jurídico tutelado.
55
 
A busca da verdade não pode realmente se estruturar como o fim institucional da 
prova, muito menos como o fim do processo em si. O conceito de verdade, e o seu 
atingimento são indisponíveis para o conhecimento humano, principalmente quando o que 
ocorre na investigação judicial é a reconstrução de fatos pretéritos, recriando-os através 
dos sentidos das pessoas, naturalmente falíveis.
 56
 As provas devem ser encaradas como 
meios através dos quais cada parte atestará sua versão de determinados fatos, a fim de 
reforçar os argumentos jurídicos das questões levadas a julgamento. Sobre isso, as precisas 
palavras de Arruda Alvim: 
No sistema de provas adotado pelo Código de Processo Civil brasileiro, elas 
servem como um método retórico de convencimento do Estado-juiz da validade 
de proposições, feitas no processo, a respeito de fatos juridicamente relevantes. 
Por mais que não se possa falar, atualmente, em um “descobrimento da verdade”, 
dentro do processo, a produção de provas tem como finalidade reforçar 
faticamente a veracidade dos argumentos das partes.
 57
 
Na verdade, “os fatos são interpretados, primeiramente, pelas próprias partes; 
reinterpretados pelos advogados e, por fim, pelo juiz, após ouvir deles versões passadas 
pelas testemunhas, documentos, etc. Por isso o juiz opera com a verossimilhança”.58 
Fatos ocorridos e relatados em um processo somente farão sentido para o 
expectador a partir de um acordo linguístico, ou seja, de uma linguagem socialmente 
compartilhada. O expectador, mesmo que mentalmente, só poderá aceitar o sentido do fato 
 
55
 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Processo civil e processo penal: mão e contramão? In: Temas de direito 
processual civil, 7ª série. São Paulo: Saraiva, 2001, pp. 201/2015. 
56
 “La búsqueda de la verdad no puede realmente estructurarse como el fin institucional de la prueba […] 
Resulta inasequible para el conocimiento humano, máxime cuando de lo que se trata en la investigación 
judicial, es de reconstruir (por lo general) hechos pretéritos, recreándolos a través de los sentidos de las 
personas, naturalmente falibles” (KIELMANOVICH, Jorge. Teoría de la prueba y medios probatorios, 4ª ed. 
Buenos Aires: Rubinzal Culzoni, 2010, p. 349). 
57
 ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Provas: descabimento quanto a fatos impertinentes e 
incontroversos. In: ______, Soluções práticas de direito, vol. IV, tomo II. São Paulo: RT, 2014, p. 688. 
58
 “A própria criação da palavra teve por consequência a duplicação da realidade sensível. Uma coisa é o 
objeto; outra, é a noção do objeto que se consegue transmitir por meio da palavra. A realidade do processo 
pode não ser a realidade dos fatos" (MANZI, José Ernesto. A fundamentação das decisões judiciais civis e 
trabalhistas. São Paulo: LTr, 2009, p. 137). 
20 
 
testemunhado se admitir que os limites do pensamento são os limites da sua linguagem. 
Dessa maneira, quando acessamos os fatos, não podemos(nem mesmo que queiramos) 
deixar de interpretá-los, e os fatos, eles mesmos, terão chegado ao processo por meio da 
interpretação necessária à sua documentação. Toda prova é uma transposição ligeiramente 
imperfeita da realidade para os autos. 
Fatos podem ser averiguados somente por meios imperfeitos, dependendo de 
procedimentos imperfeitos – a evidência de outras pessoas, a percepção e 
compreensão subjetivas, e a classificação dessas percepções; ademais, há limites 
no tempo que se pode gastar na busca pela precisão factual. Toda decisão requer 
avaliação e julgamento, tanto na fixação dos métodos de eleição dos fatos quanto 
na decisão de quanta evidência é suficiente.
59
 
O ato de investigar e instruir um caso não pode ter como escopo reconstruir a 
verdade dos fatos. O conceito de “verdade real” torna-se meramente performático. Sobre 
esse ponto, podemos recorrer a John Austin, na análise feita por Georges Abboud: 
Na sua teoria dos atos de fala (speech acts) de JOHN L. AUSTIN, o termo 
performático englobaria as expressões linguísticas que seriam frequentemente 
vazias de sentido nelas próprias (um sem sentido). Os enunciados performáticos 
não descrevem ou registram nada, por consequência, eles não são nem 
verdadeiros nem falsos. Ademais, o ato de expressar a oração é realizar uma 
ação, ou parte dela, ação que, por sua vez não seria normalmente descrita como 
consistente em dizer algo.
60
 
A partir do momento que isso for percebido pela comunidade jurídica, será fácil 
compreender como a referência à suposta “verdade real” é de fato um subterfúgio 
argumentativo, como denuncia: “A “verdade real”, em um modelo inquisidor do “juiz 
presidente da instrução”, tem sido utilizada como um álibi teórico para justificar tanto a 
busca de elementos de “convicção” pelo juiz (a questão do gerenciamento da prova), 
quanto de argumento performático para motivar uma decisão que padece de coerência e 
integridade, vale dizer, de uma decisão que possui pouco - ou nenhum - fundamento 
jurídico”.61 
 
59
 “facts can be ascertained only by imperfect means, relying on imperfect procedures – the evidence of 
others, one’s own perceptions and understandings, and the classification of those perceptions; also, there are 
limits to the time that may be spent in the quest for factual accuracy. Any decision requires assessment and 
judgment, both in fixing the methods for eliciting the facts and in deciding how much evidence is sufficient” 
(GALLIGAN, Denis J. Discretionary powers: a legal study of official discretion. Oxford: Claredon, 1986, 
pp. 34/35). 
60
 ABBOUD, Georges. Discricionariedade administrativa e judicial. São Paulo: RT, 2014, p. 138 
61
 STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – a verdade real? – uma crítica ao sincretismo filosófico de terrae 
brasilis, cit., p. 365. Por conta dessa quase inescapável subjetividade entre requerer e analisar provas, Glauco 
Gumerato Ramos Propõe, com base em modelos ibero-americanos de processo, a divisão de competências 
21 
 
No mesmo sentido, as palavras de Ovídio Baptista são precisas: “O que interessa 
ao intérprete não será uma imaginária verdade dos ‘fatos’. Ao contrário, incumbe-lhe 
encontrar o ‘significado’ que os fatos poderão assumir, no momento e nas circunstâncias 
de sua aplicação”.62 Isso é verdade, especialmente porque há um equívoco em conceber os 
fatos como fragmentos de uma realidade passada que podem ser desconstituídos e 
reconstituídos, individuados entre os diferentes meios de prova disponíveis. Novamente, 
veja-se trecho de Ovídio Baptista: 
Pensamos a prova como se ela fosse composta por uma infinidade de pequenas 
unidades elementares, independentes e desligadas umas das outras. Imagina-se 
que o juiz, para formar o convencimento, perceba cada fato individual em seu 
próprio sentido. Este modo de conceber a prova é duplamente equivocado: 
primeiro, porque não há fato puro, assim como não há um direito concebido 
abstratamente, sem fatos; segundo, é igualmente falso supor que a prova seja 
recebida pelo juiz ‘atomizada’, aos pedaços, como se fosse constituída de 
pequenas unidades independentes.
63
 
Tendemos a imaginar equivocadamente uma noção de verdade que vai sendo 
construída por camadas, até que se forme um conjunto mais ou menos coeso e remendado 
de pequenas verdades que, somadas, são a “verdade real”. O grande problema nessa 
fórmula é possibilitar que o julgador adicione ou imagine versões fáticas que não constam 
dos autos, supostamente em busca de uma verdade mais “real” que aquela comprovada 
processualmente. 
 
7. Para encerrar – o processo que busca a verdade e result oriented judgment 
O juiz, que não é cientista, não sai em busca de comprovações (provas) para 
confirmar seu experimento (decisão). O risco que se corre é o de permitir julgamentos que 
visam a resultados pré-determinados, como bem reconhece Robson Godinho: 
Os poderes instrutórios podem servir para que o processo se amolde a uma 
decisão aprioristicamente engendrada pelo juiz. Ou seja: o poderes instrutórios 
 
entre juízes para um mesmo caso. Juízes diferentes cuidariam da fase de urgência, instrução, e decisão da 
demanda, e dessa maneira evitariam a contaminação dos pré-juízos no momento em que o feito for decidido. 
(RAMOS, Glauco Gumerato. Repensando a prova de ofício. In: Repro, vol. 190. São Paulo: RT, dez/2010, 
pp. 315/337). 
62
 SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Fundamentação das sentenças como garantia constitucional, cit., p. 
11. 
63
 SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Fundamentação das sentenças como garantia constitucional, cit., p. 
10. 
22 
 
podem ser utilizados para coonestar uma decisão já formada, como se o processo 
pudesse ser esticado ou amputado para que caiba no julgamento já formado”.64 
Aí está a dimensão equivocada do tema. Certamente, por vezes, a prova dos autos 
não refletirá aquilo que “realmente ocorreu” em um determinado caso. Disso, não se pode 
discordar. O cerne da questão está na impossibilidade de se tentar identificar quando essa 
não-correspondência terá ocorrido. Há um fechar de olhos para a também inegável 
constatação de que quando o juiz vai, ele mesmo, em busca de uma verdade 
extraprocessual, o relativismo e a vontade do intérprete são inescapáveis. As partes passam 
a depender daquilo que o julgador achar que é mais plausível ter, ou não, ocorrido, e aí a 
construção do conjunto fático depende cada vez menos da instrução probatória em si. 
Como adverte Gabriel Rangel, sobre o processo penal, mas aplicável a este estudo, o 
princípio “da ‘verdade real’ passou a ser interpretado como o que o juiz quer que seja. Em 
outras palavras, a verdade real passou a ser aquela extraída inquisitorialmente pelo juiz”.65 
Pensemos em exemplos práticos. Fixados os pontos controvertidos na decisão de 
saneamento e organização (art. 357 do CPC/15) e produzidas as provas, o juiz ainda não 
tem “certeza” (convencimento) sobre as razões de uma e outra parte. Ao determinar a 
produção de nova prova, esta poderá vir a atestar fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor, que são ônus do réu. Se isto acontecer, o resultado é a 
improcedência do pedido, mas se não ocorrer (pela insuficiência do resultado esperado da 
prova), a dúvida persistirá, e o juiz pode ainda assim dar pela improcedência, dada sua 
dúvida quanto às razões do autor. Quer dizer, apenas se a prova vier a confirmar fato 
constitutivo do direito do autor, a dúvida deixa de existir e o julgamento é pela procedência 
– ou seja, a prova confirma um resultadoesperado pelo juiz. Nesse caso a prova de ofício 
pode auxiliar apenas o autor. 
Indo adiante, pensemos no caso de o autor ter se desincumbido de provar o que 
lhe cabia, mas não o réu. A prova decretada pelo juiz não pode ser relativa a fato 
constitutivo (pois será redundante e merece ser indeferida, segundo o art. 370, p. único, do 
CPC/15). Deve então ser exclusivamente provado o que o réu não logrou. O resultado 
esperado a ser confirmado é somente este, para auxiliar o réu. 
 
64
 GODINHO, Robson Renault. Reflexões sobre os poderes instrutórios do juiz. In: Revista de Processo, vol. 
235. São Paulo: RT, set/2014, p. 92 
65
 RANGEL, Gabriel Dolabela Raemy. A legitimidade do poder judiciário no regime democrático, cit., p. 81. 
23 
 
Por último, se o réu já tiver suficientemente provado qualquer fato impeditivo, 
modificativo ou extintivo do direito do autor, a produção adicional de provas não interessa 
ao feito. Mesmo o fato constitutivo vindo a ser provado, as provas do réu servem para tirar 
razão do autor. Se a regra de ônus de prova for aplicada corretamente, a prova nova 
decretada pelo juiz tende a ser um fator legitimante da sua própria decisão. Quer dizer, as 
partes agem e não logram chegar à verdade, e aí o juiz imprime, ele mesmo, o selo de 
certeza e verdade que faltava ao caso, com sua atuação na fase instrutória. 
Toda reconstrução perfeita da verdade é mera tentativa, e por isso mesmo deve ser 
abandonada. A ideia de ”verdade”, por ser inatingível, acabará sempre sendo reduzida 
àquela “verdade” imaginada pelo próprio intérprete. E esse problema é tanto perceptível 
quanto remediável através da adequada fundamentação das decisões: 
Essa questão refere-se diretamente ao problema da fundamentação das decisões, 
já que esse tipo de seleção artificial pode muito bem ocorrer na matéria fática e 
nada mais perigoso para um Estado de Direito do que juízes que se confundem 
com a Justiça e [...] supõem carregar a verdade.
66
 
Para tentar evitar esse tipo de risco, cada prova que pode influenciar (mesmo que 
negativamente) na maneira como a decisão é tomada precisa constar da fundamentação. A 
rejeição de uma determinada prova precisa ser expressa e contrastada com o acolhimento 
das demais. Michele Taruffo, inclusive, ao relacionar a necessidade de fundamentação com 
a observância do que foi provado nos autos, diz que “a verdade não surge somente das 
provas favoráveis à existência daquele fato, mas também – e sobretudo – do confronto 
entre provas favoráveis e contrárias. Se as provas contrárias não são levadas em 
consideração justamente porque são contrárias a uma hipótese, o acertamento daquele fato 
não é adequadamente justificado, enquanto não resultam as razões pelas quais se exclui 
que tal acertamento pudesse ser diverso”.67 
Conclui-se que enxergar o processo (e não o juiz) como o destinatário das provas 
implica que as decisões façam referência aos fatos de forma discursiva, não se limitando a 
 
66
 GODINHO, Robson Renault. Reflexões sobre os poderes instrutórios do juiz, cit., p. 91 
67
 “La verità non scaturisce solo dele prove favorevoli all’esistenza di quel fato, ma anche – e sopprattuto – 
del confronto tra prove favorevoli e prove contrarie. Se le prove contrarie non vengono prese in 
considerazione proprio perchè sono contrarie ad una determinata ipotesi, l’accertamento di quel fatto non è 
adeguadamente giustificato, in quanto non risultano le ragioni per le quali si esclude che tale accertamento 
potesse essere diverso” (TARUFFO, Michele. La motivazione dela sentenza. In: Revista de Direito 
Processual Civil, vol. 31. Curitiba: Gênesis, jan/mar. 2004, p. 184). 
24 
 
mencionar as provas que corroboram o que o julgador pretende sustentar como tese 
vencedora. Isso, pois o conceito de “verdade” dentro do processo é construído também 
dialeticamente, entre partes, interessados e juiz. E não há como não ser assim, pois a 
tentativa do julgador de fugir dessa versão dos fatos esbarra na sua própria livre atribuição 
de sentidos, e consequentemente na discricionariedade. O mesmo ocorre quando aos olhos 
do juiz singular os fatos não estão devidamente comprovados e há a desconfiança de que 
seria preciso produzir mais provas a respeito de determinado fato. 
Quanto a isso, a doutrina da “verdade real” dirá que a distribuição de ônus de 
provar (arts. 333, do CPC/73 e 373 do Novo CPC) pode ser mitigada e o juiz pode decretar 
provas de ofício, justamente pra ir em busca de um conceito de verdade do qual o 
intérprete intimamente se convenceu. Veja-se o seguinte julgado, do início da década de 
1990: 
Na fase atual da evolução do direito de família, é injustificável o fetichismo de 
normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em 
prejuízo de legítimos interesses de menor. Deve-se ensejar a produção de provas 
sempre que ela se apresentar imprescindível à boa realização da justiça. O 
superior tribunal de justiça, pela relevância da sua missão constitucional, não 
pode deter-se em sutilezas de ordem formal que impeçam a apreciação das 
grandes teses jurídicas que estão a reclamar pronunciamento e orientação 
pretoriana.
68
 
O tribunal coloca-se numa posição de superioridade em relação a quem defenda o 
apego à “mera verdade formal”. O argumento seduz, pelo apelo à “justiça” da decisão, mas 
não convence. E mesmo mais recentemente se percebe que não houve alteração de 
posicionamento, continuando o STJ a entender que “A iniciativa probatória do magistrado, 
em busca da verdade real, com realização de provas de ofício, é amplíssima, porque é feita 
no interesse público de efetividade da Justiça”.69 Não há nessa espécie de fundamentação 
uma discursividade suficiente, porque não há a demonstração de como a verdade 
“encontrada” pelo julgador é “mais real” que aquela apresentada pelas partes. 
 
68
 STJ, REsp 4.987/RJ, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado 
em 04/06/1991, DJ 28/10/1991. 
69
 STJ, AgRg no REsp 738.576/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
18/08/2005, DJ 12/09/2005. 
25 
 
Não se trata de retornar ao clássico conformismo da processualística à verdade 
meramente “formal”,70 mas de eliminar do debate judicial as referências ao que é “real” e 
ao que não é, sob pena de convivermos com esse tipo de artificialidade do discurso: 
Admitindo-se a prova como argumento de discussão, as novidades na valoração 
dos fatos pelo juiz devem ser obrigatoriamente debatidas com as partes. Resgata-
se a humanidade no debate judicial. A ‘verdade’ abandona a perspectiva 
matemática para ser mais acessível e contingente”.71 
 
Se a fundamentação não for completa nesse sentido, será possível que a decisão 
molde a “verdade” como preferir. Aí está a dimensão inadequada da busca pela “verdade 
real” dentro do processo. 
Em uma palavra e para concluir o que foi dito até aqui, a ideia não é abandonar 
qualquer compromisso com a realidade e conduzir o processo sem a preocupação com o 
“mundo real”. Pelo contrário. Ao se fazer referência desmedida à “verdade” é que se perde 
de vista a dialeticidade da argumentação das partes. Tenta-se sobrepor uma suposta visão 
privilegiada de mundo
72
 ao inescapável devir hermenêutico que permeia o raciocínio 
judicial. Se o direito é linguagem, os sujeitos da relação processual constroem 
gradativamente a historicidade do caso concreto, e não cabe ao julgador/intérprete atuar 
por conta própria (fugindo do diálogo com as partes) em nome de um senso de “justiça”. 
Aí não se está mais falando de “verdade”.Passa-se a imprimir um selo de legitimidade a 
um argumento que pode mascarar as preferências de quem julga – e a verificabilidade 
desse argumento é impossível, justamente pelo caráter etéreo e pouco confiável do que seja 
“verdade” dentro do processo judicial. 
 
8. Bibliografia 
 
70
 CARNELUTTI, Francesco. La prova civile. Roma: L’Ateneo, 1947, pp. 62 e ss. 
71
 ZANETI Jr, Hermes. O problema da verdade no processo civil. In: Repro, vol. 116. São Paulo: RT, jul-
ago/2004, pp. 334/371, p. 338 
72
 Crer que o juiz seja munido dessa visão privilegiada é algo ínsito à cultura jurídica herdada pelo Brasil. 
Confira-se o seguinte trecho: “O sentimento de justiça, pelo qual, conhecidos os fatos, se sabe de que lado 
está a razão, é uma virtude inata, que nada tem a ver com a técnica do direito. O mesmo sucede na música, 
em que a maior inteligência não pode suprir a falta de ouvido”” (CALAMANDREI, Piero. Eles os juízes, 
vistos por nós um advogado. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 149). 
26 
 
ABBOUD, Georges. Discricionariedade administrativa e judicial. São Paulo: RT, 2014. 
ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Nulidade de acórdão e de sentença. In: ______, 
José Manoel. Direito processual civil, vol. 1. São Paulo: RT, 2001. 
______. Manual de direito processual civil, 16ª ed. São Paulo: RT, 2013. 
ALVIM NETTO, José Manoel de Arruda. Provas: descabimento quanto a fatos 
impertinentes e incontroversos. In: ______, Soluções práticas de direito, vol. IV, tomo II. 
São Paulo: RT, 2014. 
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz, 5a. ed. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2011. 
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 
Procedimento comum: ordinário e sumário. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. 
CALAMANDREI, Piero. Eles os juízes, vistos por nós um advogado. São Paulo: Martins 
Fontes, 1995 
CARNELUTTI, Francesco. Sistema di diritto processual civile, vol. 2. Padova: Cedam, 
1936. 
______. La prova civile. Roma: L’Ateneo, 1947. 
CHIOVENDA, Giuseppe. Istituzioni di diritto processuale civile, vol II. Napoli: Eugenio 
Jovene, 1936. 
DALL’AGNOL, Antônio. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. 2. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2000. 
ESTELLITA, Guilherme. Da cousa julgada: fundamento jurídico e extensão aos terceiros. 
Rio de Janeiro: s. ed., 1936. 
FERREIRA, William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: RT, 
2014. 
FEYRABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. 
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método, vol. 1. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. 
GALLIGAN, Denis J. Discretionary powers: a legal study of official discretion. Oxford: 
Claredon, 1986. 
GIACÓIA Jr, Oswaldo. Heidegger urgente. São Paulo: Três estrelas, 2013. 
GODINHO, Robson Renault. Reflexões sobre os poderes instrutórios do juiz. In: Revista 
de Processo, vol. 235. São Paulo: RT, set/2014. 
HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 
2002. 
HARTMANN, Érica de Oliveira. A parcialidade do controle jurisdicional da motivação 
das decisões. Florianópolis: Conceito, 2010, p. 142. 
HEIDEGGER, Martin. Que é uma coisa? Lisboa: 70, 1994. 
KAUFMANN, Arthur. Filosofia do direito, 3ª ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2009. 
27 
 
KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
KIELMANOVICH, Jorge. Teoría de la prueba y medios probatorios, 4ª ed. Buenos Aires: 
Rubinzal Culzoni, 2010. 
LOPES, João Baptista. Iniciativas probatórias do juiz e os arts. 130 e 333 do CPC. In: 
Revista dos Tribunais, vol. 716. São Paulo: RT, out/2011, pp. 41/47. 
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil, 
tomo II. Rio de Janeiro: Forense, 1973. 
MONTEIRO, João. Teoria do processo civil, 6ª ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1956. 
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Processo civil e processo penal: mão e contramão? In: 
Temas de direito processual civil, 7ª série. São Paulo: Saraiva, 2001, pp. 201/2015. 
MÜLLER, Friedrich. Teoria estruturante do direito. São Paulo: RT, 2008. 
NERY Jr, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Comentários ao código de processo civil. 
São Paulo: RT, 2015. 
OLIVEIRA, Manfredo Araújo. Reviravolta linguístico-pragmática na filofosia 
contemporânea. São Paulo: Loyola, 1996. 
PASSOS, José Joaquim Calmon de. O devido processo legal e o duplo grau de jurisdição. 
in: In: Ensaios e artigos, vol. 1. Salvador: Juspodivm, 2014. 
PRATO, Lídia Reis de Almeida. O juiz e a emoção. Campinas: Millennium, 2003. 
RAMOS, Glauco Gumerato. Repensando a prova de ofício. In: Repro, vol. 190. São Paulo: 
RT, dez/2010, pp. 315/337. 
RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil: do ônus ao dever de provar. São 
Paulo: RT, 2015. 
RANGEL, Gabriel Dolabela Raemy. A legitimidade do poder judiciário no regime 
democrático. São Paulo: Laços, 2014. 
ROCCO, Alfredo. La sentenza civile. Milano: Griuffrè, 1962. 
SILVA, Ana de Lourdes Coutinho. Motivação das decisões judiciais. São Paulo: Atlas, 
2012. 
SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à motivação da decisão judicial. 
Salvador: Juspodivm, 2007. 
SILVA, Ovídio Araújo Baptista. Fundamentação das sentenças como garantia 
constitucional. In: Revista magister de direito civil e processual civil, vol. 10. Porto 
Alegre: Magister, jan/fev. 2006. 
STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise, 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do 
advogado, 2011. 
______. O que é isto – a verdade real? – uma crítica ao sincretismo filosófico de terrae 
brasilis. in: Revista dos Tribunais, vol. 921. São Paulo: RT, jul/2012. 
TARUFFO, Michele. La motivazione dela sentenza. In: Revista de Direito Processual 
Civil, vol. 31. Curitiba: Gênesis, jan/mar. 2004. 
28 
 
______. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. São Paulo: Marcial Pons, 
2012. 
TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e Ativismo judicial: limites da atuação do Judiciário. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. 
VOLTAIRE. Cândido, ou o otimismo. São Paulo: Abril, 2010. 
WAMBIER, Luiz Rodrigues; SANTOS, Evaristo Aragão. Sobre o ponto de equilíbrio 
entre a atividade instrutória do juiz e o ônus da parte de provar. In: MEDIN, José Miguel 
Garcia, et al. (coords). Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais. São Paulo: 
RT, 2008. 
ZANETI Jr, Hermes. O problema da verdade no processo civil. In: Repro, vol. 116. São 
Paulo: RT, jul-ago/2004, pp. 334/371.

Continue navegando