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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO REGRA: a lei não retroage nem ultra-age. A lei aplicável ao crime é a vigente ao tempo de sua execução. Hipóteses de início de vigência da lei: 1ª) Vigência da lei se inicia após o final da vacatio legis. A própria lei informa seu prazo de vazio legislativo. Na vacatio legis nenhuma lei penal pode ser invocada nem para prejudicar, nem beneficiar. Bittencourt diz que a lei mais benéfica em vacatio pode ser aplicada. 2ª) Vigência se dá na mesma data da publicação, logo, não há vacatio legis. 3ª) A lei não informa o prazo de vacatio legis, então segue a regra da LINDB: - se for uma lei nacional: vacatio legis de 45 dias; - se for uma lei nacionalizada: vacatio legis de 90 dias. VACATIO LEGIS INDIRETA: Hipótese em que a lei, além do prazo normal de Vazio, em seu próprio corpo, prevê outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação. Ex: estatuto do desarmamento. TEMPO DO CRIME: marco necessário ao confronto de lei no tempo. Teoria da atividade/ou da ação: adotada pelo CP no art. 4º. - exteriorização da conduta Exceções a essa teoria: Art. 111 do CP. Teoria do resultado: o tempo do crime será o da ocorrência do resultado da infração penal. Teoria mista ou da ubiquidade: igual relevo aos dois momentos, do fato e do resultado. “O fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações ocorridas durante seu período de vida, isto é, de vigência, denomina-se atividade. A atividade da lei é a regra. Quando a lei regula situações fora de seu período de vigência, ocorre a chamada extra- atividade, que é a exceção” (CAPEZ, 2007. P. 54) EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL capacidade da Lei Penal se movimentar no tempo, regulando fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou retroagir no tempo, regulando situações anteriores à sua vigência, desde que benéficas ao agente. Ultra-atividade: mesmo revogada, a lei continua regulando os fatos ocorridos durante sua vigência. (direito processual - mais benéfica) Retroatividade: retroação da lei no tempo, regulando fatos anteriores à sua vigência por ser mais benéfica. EX: Se o crime ocorreu na vigência da lei A, mas o processo se deu na vigência da lei C, sendo esta mais benéfica, ela vai retroagir para reger o fato ocorrido à época da lei A. - retroatividade: lei revogadora mais benéfica que a lei revogada. - ultra-atividade da lei revogada mais benéfica. LEI INTERMEDIÁRIA A lei mais benéfica está entre a do tempo do fato e a última. A doutrina diverge: - uns dizem que não pode ser aplicada por não estar em vigor em nenhum momento essencial (nem do fato, nem do processo/julgamento); - outros dizem que se deve aplicar a lei mais favorável, já que a lei nova é mais rigorosa que a intermediária. - Então, ela tem dupla extra-atividade (é retroativa e ultra-ativa). EX: Agente comete delito no ano de 2011, quando a conduta era apenada com detenção, de dois a quatro anos. Em 2012, quando corria o processo, nova lei modifica a sanção para um a três anos de detenção. Finalmente, em 2013, dias antes de o juiz proferir a sentença, surge uma terceira lei, aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão. CONJUGAÇÃO DE LEIS Conjugar os aspectos favoráveis da lei anterior com os aspectos favoráveis da lei posterior. 1ª linha teórica: o intérprete estará criando uma terceira lei. O Superior Tribunal de Justiça corrobora com este entendimento (HC 124782 / ES, RHC 22407 / PR). STF 2ª linha teórica: não cria uma terceira lei; o juiz faz uma interpretação integrativa (lacuna – apenas para beneficiar), para atender a norma constitucional, deve-se estar acima da lógica formal. Ex: crime de tráfico de drogas Lei 6.368/76, art. 12 – pena de Reclusão, de 3 a 15 Lei 11.343/2006, art. 33 – pena de reclusão de 5 a 15 anos § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) O Superior Tribunal de Justiça corrobora com este entendimento (HC 124782 / ES, RHC 22407 / PR). Leia mais: http://jus.com.br/artigos/25100/da- lei-penal-no-tempo/2#ixzz3mP7CNm5p LEIS EXCEPCIONAIS E LEIS TEMPORÁRIAS (art. 3º - CP): Lei excepcional ou temporária Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Jescheck as classifica como uma exceção ao Princípios da retroatividade da lei mais favorável, quando a anterior é uma lei temporária, pois é aplicável aos fatos praticados sobre sua vigência, embora não vigore mais. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVE EM CRIMES CONTINUADOS OU PERMANENTES: SÚMULA 711 DO STF (2003) “A lei penal grave aplica-se ao crime continuado ou ao permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” Crime permanente: execução alonga-se no tempo, realizando-se no plano fático (mantendo o dolo); Crime continuado: ficção jurídica que considera os crimes subsequentes devem ser tidos como continuação do primeiro, dando tratamento unitário a uma pluralidade de atos delitivos, determinando uma forma especial de puni-los. Art. 71, CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (CESPE / Curso de Formação de Soldado - PM- DF / 2009) Considere que determinado empresário tenha sido sequestrado em 01/01/2008 e libertado em 01/12/2008, mediante o pagamento do valor do resgate pela família, e que, em agosto de 2008, o Congresso Nacional tenha editado lei ordinária, que dobrou a pena privativa de liberdade do mencionado delito. Nessa situação, a pena do delito de sequestro fixada pela nova lei não poderá ser aplicada aos sequestradores do referido empresário, uma vez que a lei penal mais grave não pode retroagir. CONFLITO INTER-TEMPORAL DAS LEIS: regra - atividade da lei durante sua vigência, exceção - extra-atividade da mais benigna. PRINCÍPIOS NORTEADORES 1º) Abolitio criminis: descriminalização de uma conduta, legislou negativamente. Tem extra-atividade. Art. 2º, caput, CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Efeitos: inquérito policial ou processos são trancados e extintos; cessa a execução de sentença condenatória; apaga o crime dos antecedentes criminais. Ex: art. 217 – sedução (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) art. 250 – adultério (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Abolitio criminis temporalis:suspensão da tipicidade, a aplicação de determinado tipo penal encontra-se, temporariamente, suspensa, não permitindo a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo de suspensão. Ex: porte de arma permitido no período de registro (2008) Princípio da continuidade normativo-típica: tipo penal incriminador é expressamente revogado, mas seus elementos migram para outro tipo penal já existente, ou criado por outra lei. Ex: o 213, - crime de estupro (introdução forçada do pênis na vagina), e o art. 214, que punia o crime de atentado violento ao pudor (qualquer outra forma forçada de sexo) A nova lei eliminou o artigo 214 e estabeleceu que, de agora em diante, considera-se estupro (art. 213) qualquer forma forçada de sexo, seja vaginal ou não. 2º) Novatio legis in mellius ou Lex mittior: lei nova vem para melhorar, diminuir o poder punitivo Estatal, suavizando a lei. Logo é extra-ativa. Art. 2º, p. único, CP: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. OBS: A Lex mittior, seja abolitio criminis ou novatio legis in mellius, retroagem são aplicadas ao processo em andamento, não iniciados ou transitados em julgado. 3º) Novatio legis in pejus ou Lex gravior: fortalece o poder punitivo do Estado para uma conduta já criminalizada. Portanto, não é extra-ativa. Ex: crime de tráfico de drogas Lei 6.368/76, art. 12 – pena de Reclusão, de 3 a 15 anos, e pagamento de 50 a 360 dias-multa Lei 11.343/2006, art. 33 – pena de reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa OBS: A novatio legis in pejus é aplicada nos crimes permanentes ou continuados. 4º) Novatio legis incriminadora: cria um tipo penal, criminaliza uma conduta. Não é extra-ativa. (Carolina Dieckmann) Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. APLICAÇÃO DA LEX MITTIOR DURANTE O PERÍODO DE VACATIO LEGIS: Se a lei nova é mais benéfica ao agente, ela pode ser aplicada ainda estado em vacatio, embora haja divergência nesse sentido, esse é o posicionamento do ministro Vicente Cernicchiaro. COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEX MITTIOR Durante a fase de investigação do MP ao receber os autos do processo do inquérito policial, que já deve oferecer denúncia tomando por base o novo texto da lei. Durante o andamento do processo é do juiz ou do Tribunal. Com trânsito em julgado a sentença penal condenatória do juiz das execuções, apenas se importar num cálculo matemático; se entrar no mérito da ação penal de conhecimento o Tribunal é o competente para apreciar o recurso, via ação de recurso criminal. APURAÇÃO DA MAIOR BENIGNIDADE DA LEI Em caso de dúvida, deverá ser ouvido o réu. IRRETROAVIDADE DA LEX GRAVIOR E MEDIDA DE SEGURANÇA: Para Assis Toledo: A irretroatividade in pejus tem uma exceção - não se aplica às medidas de segurança, pois elas possuem caráter curativo, sendo sua finalidade diferente da pena. “[...] quando presente o estado de perigosidade, ainda que possam apresentar-se mais gravosas, pois os remédios reputados mais eficientes não podem deixar de ser ministrados aos pacientes deles carecedores só pelo fato de serem mais amargos ou mais dolorosos [...]” RETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA: Se vem piorando ele não pode retroagir. Se vier melhorando, retroage. A doutrina diverge quanto a isso. Uns dizem que só súmulas vinculantes e controle concentrado de constitucionalidade, pelo STF, tem possibilidade de retroagir; outros, que qualquer súmula tem esse poder e não somente do STF. Ex: mulher fazer topless, arma de brinquedo (súmula 174 - afastada – que dizia que a arma de brinquedo poderia ser considerada causa especial de aumento de pena do delito de roubo).
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