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5- Lei penal no tempo

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO 
 
 REGRA: a lei não retroage nem ultra-age. A lei 
aplicável ao crime é a vigente ao tempo de sua 
execução. 
 
 Hipóteses de início de vigência da lei: 
 
1ª) Vigência da lei se inicia após o final da vacatio 
legis. A própria lei informa seu prazo de vazio 
legislativo. Na vacatio legis nenhuma lei penal pode 
ser invocada nem para prejudicar, nem beneficiar. 
 
Bittencourt diz que a lei mais benéfica em vacatio 
pode ser aplicada. 
 
 
2ª) Vigência se dá na mesma data da publicação, logo, 
não há vacatio legis. 
 
3ª) A lei não informa o prazo de vacatio legis, então 
segue a regra da LINDB: 
 
 - se for uma lei nacional: vacatio legis de 45 dias; 
 
 - se for uma lei nacionalizada: vacatio legis de 90 
dias. 
 
 
VACATIO LEGIS INDIRETA: 
 
 Hipótese em que a lei, além do prazo normal de 
Vazio, em seu próprio corpo, prevê outro prazo 
para que determinados dispositivos possam ter 
aplicação. 
 
Ex: estatuto do desarmamento. 
 
TEMPO DO CRIME: marco necessário ao 
confronto de lei no tempo. 
Teoria da atividade/ou da ação: adotada pelo CP no art. 4º. 
 - exteriorização da conduta 
 
Exceções a essa teoria: Art. 111 do CP. 
 
Teoria do resultado: o tempo do crime será o da 
ocorrência do resultado da infração penal. 
 
Teoria mista ou da ubiquidade: igual relevo aos dois 
momentos, do fato e do resultado. 
 
 
 “O fenômeno jurídico pelo qual a lei 
regula todas as situações ocorridas 
durante seu período de vida, isto é, de 
vigência, denomina-se atividade. 
 
A atividade da lei é a regra. Quando a lei 
regula situações fora de seu período de 
vigência, ocorre a chamada extra-
atividade, que é a exceção” 
 
(CAPEZ, 2007. P. 54) 
 
 
EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL 
capacidade da Lei Penal se movimentar no tempo, 
regulando fatos ocorridos durante sua vigência, 
mesmo depois de ter sido revogada, ou retroagir 
no tempo, regulando situações anteriores à sua 
vigência, desde que benéficas ao agente. 
 
Ultra-atividade: mesmo revogada, a lei continua 
regulando os fatos ocorridos durante sua vigência. 
(direito processual - mais benéfica) 
 
Retroatividade: retroação da lei no tempo, regulando 
fatos anteriores à sua vigência por ser mais 
benéfica. 
 
EX: 
Se o crime ocorreu na vigência da lei A, mas o 
processo se deu na vigência da lei C, sendo 
esta mais benéfica, ela vai retroagir para 
reger o fato ocorrido à época da lei A. 
 
- retroatividade: lei revogadora mais benéfica 
que a lei revogada. 
 
- ultra-atividade da lei revogada mais benéfica. 
 
LEI INTERMEDIÁRIA 
A lei mais benéfica está entre a do tempo do fato e a última. 
 
A doutrina diverge: 
 
- uns dizem que não pode ser aplicada por não estar em vigor em nenhum 
momento essencial (nem do fato, nem do processo/julgamento); 
 
- outros dizem que se deve aplicar a lei mais favorável, já que a lei nova é 
mais rigorosa que a intermediária. 
 
- Então, ela tem dupla extra-atividade (é retroativa e ultra-ativa). 
 
EX: Agente comete delito no ano de 2011, quando a conduta era apenada 
com detenção, de dois a quatro anos. Em 2012, quando corria o processo, 
nova lei modifica a sanção para um a três anos de detenção. Finalmente, 
em 2013, dias antes de o juiz proferir a sentença, surge uma terceira lei, 
aumentando a pena para dois a cinco anos de reclusão. 
CONJUGAÇÃO DE LEIS 
Conjugar os aspectos favoráveis da lei anterior com os aspectos favoráveis da lei posterior. 
 
1ª linha teórica: o intérprete estará criando uma terceira lei. 
O Superior Tribunal de Justiça corrobora com este entendimento (HC 124782 / ES, RHC 
22407 / PR). STF 
 
2ª linha teórica: não cria uma terceira lei; o juiz faz uma interpretação integrativa (lacuna – 
apenas para beneficiar), para atender a norma constitucional, deve-se estar acima da lógica 
formal. 
 
Ex: crime de tráfico de drogas 
 Lei 6.368/76, art. 12 – pena de Reclusão, de 3 a 15 
 Lei 11.343/2006, art. 33 – pena de reclusão de 5 a 15 anos 
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de 
um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o 
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem 
integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) 
 
 O Superior Tribunal de Justiça corrobora 
com este entendimento (HC 124782 / ES, 
RHC 22407 / PR). 
 
Leia 
mais: http://jus.com.br/artigos/25100/da-
lei-penal-no-tempo/2#ixzz3mP7CNm5p 
LEIS EXCEPCIONAIS E LEIS TEMPORÁRIAS (art. 3º 
- CP): 
Lei excepcional ou temporária 
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora 
decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a determinaram, 
aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
 
Jescheck as classifica como uma exceção ao 
Princípios da retroatividade da lei mais 
favorável, quando a anterior é uma lei 
temporária, pois é aplicável aos fatos praticados 
sobre sua vigência, embora não vigore mais. 
RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVE EM CRIMES 
CONTINUADOS OU PERMANENTES: SÚMULA 711 DO STF (2003) 
“A lei penal grave aplica-se ao crime continuado ou ao permanente, se a 
sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência.” 
 
Crime permanente: execução alonga-se no tempo, realizando-se no 
plano fático (mantendo o dolo); 
 
Crime continuado: ficção jurídica que considera os crimes subsequentes 
devem ser tidos como continuação do primeiro, dando tratamento 
unitário a uma pluralidade de atos delitivos, determinando uma forma 
especial de puni-los. 
 
 Art. 71, CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, 
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, 
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser 
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos 
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, 
de um sexto a dois terços. 
 
(CESPE / Curso de Formação de Soldado - PM-
DF / 2009) 
 
 Considere que determinado empresário tenha 
sido sequestrado em 01/01/2008 e libertado 
em 01/12/2008, mediante o pagamento do 
valor do resgate pela família, e que, em agosto 
de 2008, o Congresso Nacional tenha editado 
lei ordinária, que dobrou a pena privativa de 
liberdade do mencionado delito. Nessa 
situação, a pena do delito de sequestro fixada 
pela nova lei não poderá ser aplicada aos 
sequestradores do referido empresário, uma 
vez que a lei penal mais grave não pode 
retroagir. 
CONFLITO INTER-TEMPORAL DAS LEIS: 
regra - atividade da lei durante sua 
vigência, 
 
exceção - extra-atividade da mais 
benigna. 
 
 
PRINCÍPIOS NORTEADORES 
1º) Abolitio criminis: descriminalização de uma conduta, 
legislou negativamente. Tem extra-atividade. 
 
Art. 2º, caput, CP: Ninguém pode ser punido por fato que lei 
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude 
dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
 
Efeitos: inquérito policial ou processos são trancados e 
extintos; cessa a execução de sentença condenatória; 
apaga o crime dos antecedentes criminais. 
 
Ex: art. 217 – sedução (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 
 art. 250 – adultério (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 
 
Abolitio criminis temporalis:suspensão da tipicidade, a 
aplicação de determinado tipo penal encontra-se, 
temporariamente, suspensa, não permitindo a punição do 
agente que pratica o comportamento típico durante o 
prazo de suspensão. 
 
Ex: porte de arma permitido no período de registro (2008) 
 
Princípio da continuidade normativo-típica: tipo penal 
incriminador é expressamente revogado, mas seus 
elementos migram para outro tipo penal já existente, ou 
criado por outra lei. 
 
 
 Ex: o 213, - crime de estupro (introdução 
forçada do pênis na vagina), e o art. 214, 
que punia o crime de atentado violento 
ao pudor (qualquer outra forma forçada 
de sexo) 
 
 A nova lei eliminou o artigo 214 e 
estabeleceu que, de agora em diante, 
considera-se estupro (art. 213) qualquer 
forma forçada de sexo, seja vaginal ou 
não. 
2º) Novatio legis in mellius ou Lex mittior: lei nova vem 
para melhorar, diminuir o poder punitivo Estatal, 
suavizando a lei. Logo é extra-ativa. 
 
Art. 2º, p. único, CP: A lei posterior, que de qualquer modo 
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda 
que decididos por sentença condenatória transitada em 
julgado. 
 
 
OBS: A Lex mittior, seja abolitio criminis ou novatio legis in 
mellius, retroagem são aplicadas ao processo em 
andamento, não iniciados ou transitados em julgado. 
 
3º) Novatio legis in pejus ou Lex gravior: fortalece o poder punitivo do 
Estado para uma conduta já criminalizada. Portanto, não é extra-ativa. 
 
Ex: crime de tráfico de drogas 
 Lei 6.368/76, art. 12 – pena de Reclusão, de 3 a 15 anos, e pagamento de 50 a 
360 dias-multa 
 Lei 11.343/2006, art. 33 – pena de reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 
500 a 1.500 dias-multa 
 
OBS: A novatio legis in pejus é aplicada nos crimes permanentes ou 
continuados. 
 
4º) Novatio legis incriminadora: cria um tipo penal, criminaliza uma conduta. 
Não é extra-ativa. 
 
 (Carolina Dieckmann) 
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede 
de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de 
segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou 
informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo 
ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela 
Lei nº 12.737, de 2012) 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
APLICAÇÃO DA LEX MITTIOR DURANTE O 
PERÍODO DE VACATIO LEGIS: 
 
Se a lei nova é mais benéfica ao agente, ela 
pode ser aplicada ainda estado em vacatio, 
embora haja divergência nesse sentido, 
esse é o posicionamento do ministro 
Vicente Cernicchiaro. 
 
COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEX MITTIOR 
 
 Durante a fase de investigação do MP ao receber os 
autos do processo do inquérito policial, que já deve oferecer 
denúncia tomando por base o novo texto da lei. 
 
 Durante o andamento do processo é do juiz ou do 
Tribunal. 
 
 Com trânsito em julgado a sentença penal condenatória 
 do juiz das execuções, apenas se importar num cálculo 
matemático; se entrar no mérito da ação penal de 
conhecimento o Tribunal é o competente para apreciar o 
recurso, via ação de recurso criminal. 
APURAÇÃO DA MAIOR BENIGNIDADE DA LEI 
 
 
Em caso de dúvida, deverá ser ouvido o 
réu. 
 
IRRETROAVIDADE DA LEX GRAVIOR E 
MEDIDA DE SEGURANÇA: 
Para Assis Toledo: A irretroatividade in pejus tem 
uma exceção - não se aplica às medidas de 
segurança, pois elas possuem caráter curativo, 
sendo sua finalidade diferente da pena. 
 
“[...] quando presente o estado de perigosidade, 
ainda que possam apresentar-se mais gravosas, 
pois os remédios reputados mais eficientes não 
podem deixar de ser ministrados aos pacientes 
deles carecedores só pelo fato de serem mais 
amargos ou mais dolorosos [...]” 
 
RETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA: 
Se vem piorando ele não pode retroagir. 
Se vier melhorando, retroage. 
 
A doutrina diverge quanto a isso. Uns dizem que só 
súmulas vinculantes e controle concentrado de 
constitucionalidade, pelo STF, tem possibilidade de 
retroagir; outros, que qualquer súmula tem esse 
poder e não somente do STF. 
 
Ex: mulher fazer topless, arma de brinquedo 
(súmula 174 - afastada – que dizia que a arma de 
brinquedo poderia ser considerada causa especial 
de aumento de pena do delito de roubo).

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